v. 6 n. 9 2015
UnivVersidade ESTADUAL DE FEiIRA DE SANTANA
ISSN 2236-3335
Revista Acadêmica da Graduação em Letras
J
Revis
ta
Universidade Estadual de Feira de Santana
v. 6 n. 9 2015
Graduando ENTRE O SER E O SABER
Revista Acadêmica da Graduação em Letras
Graduando Feira de Santana v. 6 n. 9 p. 1-114 2015
ISSN 2236-3335
I n s t i t u c i o n a l R e i t o r
E v a n d r o d o N a s c i m e n t o S i l v a
V i c e - R e i t o r a
N o rma L u c i a F e r n a n d e s d e A l m e i d a
P r ó - R e i t o r d e E n s i n o d e G r a d u a ç ã o
Ama l i d e A ng e l i s Mu s s i
P r ó - R e i t o r d e P e s q u i s a e P ó s - G r a d u a ç ã o
E u r e l i n o T e i x e i r a C o e l h o N e t o
P r ó - R e i t o r d e E x t e n s ã o
M á r c i o C amp o s O l i v e i r a
P r ó - R e i t o r d e Adm i n i s t r a ç ã o e F i n a n ç a s
C a r l o s E d u a r d o C a r d o s o d e O l i v e i r a
P r ó - R e i t o r d e P o l í t i c a s A f i r m a t i v a s e As s u n t o s E s t u d a n t i s
O t t o V i n i c i u s Ag r a F i g u e i r e d o
D i r e t o r a d o D e p a r t a me n t o d e L e t r a s e A r t e s
F l á v i a An i n g e r d e B a r r o s R o c h a
V i c e - D i r e t o r a d o D e p a r t a me n t o d e L e t r a s e A r t e s
R o s a E u g ê n i a V i l a s B o a s M o r e i r a d e S a n t a n a
C o o r d e n a d o r a d o C o l e g i a d o d e L e t r a s e A r t e s
V a l é r i a Ma r t a R i b e i r o S o a r e s
V i c e - Co o r d e n a d o r a d o C o l e g i a d o d e L e t r a s e A r t e s
I r a n i l d e s A l me i d a d e O l i v e i r a
C o o r d e n a d o r a d e A s s u n t o s E s t u d a n t i s
A d r i a n a I s i s C a r n e i r o T r a b u c o
S i s t e ma I n t e g r a d o d e B i b l i o t e c a s
M a r i a d o C a rm o S á B a r r e t o F e r r e i r a
D i r e t ó r i o Ac a d êm i c o d e L e t r a s e A r t e s J o s é J e r ô n i mo d e Mo r a i s
G e s t ã o : L e t r a ç ã o ( 2 0 1 5 - 2 0 1 6 )
G r a d u a n d o ENTRE O SER E O SABER
Revista Acadêmica da Graduação em Letras
v..6 n..9 2015
UEFS / R ev i s t a G r a d u a n do
Av e n i d a T r a n s n o r d e s t i n a , S / N , B a i r r o N o v o H o r i z o n t e . Mó d u l o 2 , MT 2 5 b .
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Exped i e n t e
Comi ssão Ed i t or i a l D r a . A l a n a d e O l i v e i r a F r e i t a s E l F a h l
D r a . C a r l a L u z i a C a r n e i r o B o r g e s
D r a . C e l i n a M á r c i a d e S o u z a A b b a d e
D r . C i d S e i x a s F r a g a F i l h o
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Capa Me . D a n i l o C e r q u e i r a A l m e i d a
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M a . E d n a R i b e i r o M a r q u e s Amo r i m
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M e . J a n C a r l o s D i a s d e S a n t a n a
E s p . L a y a n n a Ma r t h a P i r e s d e A r a ú j o
D r a . M a r i a n a F a g u n d e s d e O l i v e i r a
M a . S h i r l e y C r i s t i n a G u e d e s d o s S a n t o s
M a . S i l v a n i a C á p u a C a r v a l h o
M a . T á r c i a P r i s c i l a L i m a D ó r i a
M a . V a l e r i a R i o s O l i v e i r a A l v e s
Rev i são F i na l Ma . A n d r e i a F e r r e i r a A l v e s C a r n e i r o
E s p . C l a r i s s e B e z e r r a d e S a n t a n a
M e . D a n i l o C e r q u e i r a A l m e i d a
M a . E d i n a g e M a r i a C a r n e i r o d a S i l v a
M e . Em e r s o n S a n t o s d e S o u z a
Ma . J o s e n i l c e R o d r i g u e s d e O l i v e i r a B a r r e t o
M a . M a r i a n a B a r b o s a B a t i s t a
Norma t i za ção B i b l i o g rá f i ca Me . D a n i l o C e r q u e i r a A l m e i d a
Ma . J o s e n i l c e R o d r i g u e s d e O l i v e i r a B a r r e t o
M a . M a r i a n a B a r b o s a B a t i s t a
Co laboração J e s s i c a M i n a d e S o u s a
M a . M a r i a n a B a r b o s a B a t i s t a
V a n e s s a d o s S a n t o s P e r e i r a
Web Des i gn ( s i t e ) Me . D a n i l o C e r q u e i r a A l m e i d a
Web Des i gn ( b l og ) Me . D a n i l o C e r q u e i r a A l m e i d a
R e v i s t a G r a d u a n d o 2 0 1 6
É p e rm i t i d a a r e p r o d u ç ã o , d e s d e q u e c i t a d a a f o n t e .
Sumário
ED I TOR IAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 7
E D UC AÇÃ O A MÚS ICA COMO R ECURSO P EDAGÓG ICO NAS AULAS D E L Í NGUA
I NGLESA : UMA EXPER I Ê NC IA DO P I B I D UE FS I NGLÊS B r u n a S o u z a R o c h a O l i v e i r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 1 3
UN I DAD T EMÁT ICA D E BASE I NT ERCULTURAL : U NA PROPUESTA
PARA LAS CLASES DE E SPAÑOL COMO L ENGUA EXTRANJERA K a t e R a y a n n y d o s A n j o s B o m f i m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 2 5
L I N GU Í S T I C A A L EX IA “MULH ER ” EM GABR I ELA , CRAVO E CANELA E EM DONA FLOR E SEUS DO I S MAR I DOS : UM ESTUDO L ÉX ICO -SEMÂNT ICO N e u s a S i l v e i r a C o r r e i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 4 3
CONS I DERAÇÕES SOBRE O VOCABULÁR IO R EG IONAL NA OBRA
V I DAS SECAS D E GRAC I L IANO RAMOS A d r i e l e C o u t i n h o d e O l i v e i r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 5 9
AQU I S IÇÃO DA L I NGUAGEM : A BORDAGENS G ERAT IV I STAS A PART I R
DO F I LM E O M I LAGRE D E ANNE SULL IVAN R o s a n a C a r v a l h o B r i t o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 7 3
L I T E RAT UR A MEU ARMÁR IO N ’O CORT IÇO : A HOMOSSEXUAL I DADE D E ALB I NO E
SUA I N FLUÊNC IA COM O D ETERM I N I SMO R om á r i o S e n a O l i v e i r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 8 5
T R I ST E F IM D E POL ICAR PO QUARESMA : UMA ANÁL I SE SOBR E O
NAC IONAL I SMO ROMÂNT ICO C a r i s e S u a n e d e J e s u s S a n t o s , V a n e s s a d o s S a n t o s P e r e i r a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 9 7
NORMAS PARA ENV IO DE ART IGOS E R ES ENHAS C o n s e l h o E d i t o r i a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p á g i n a 1 1 1
G
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ED I TOR IAL
Nosso pe r i ód i co – da g raduação em Le t ras da UEFS –
chega à ed i ção de número nove . Depo i s de um bom número e
de um bom tempo de l e i t u ras e esc r i t as em to rno dos
conhec imentos c i en t í f i c os da vas t i dão re l ac i onada à á rea de
Le t ras , c rê -se que nossos ob j e t i vos es t ão sendo a l cançados :
ma i s l e i t u ra , ma i s esc r i t a , ma i s re f l exão , ma is p rá t i c a em nossa
á rea , em nossa un i ve rs i dade fe i r ense , es t adua l , nac i ona l e , por
que não d i ze r , i n te rnac i ona l . Den t re os i números agen tes do
conhec imento em Le t ras p resen tes na UEFS , os nossos
p ro fesso res , po r exemp l o , possuem espec ia l i z ações , mest rado ,
dou to rado e pós -dou to rado em un i ve rs idades nac i ona i s e
i n t e rnac i ona i s ( uma b reve consu l t a em seus cu r r í cu l os , po r
me i o de nosso s i t e , pode comprovar i sso ) . Nossos g raduandos ,
nessa mesma t r i l h a , t êm v i s i t ado pa í ses e pa r t i c i pado de
expe r i ênc i as d i scen tes em a l gumas nações do mundo .
Se os g raduandos podem v i a j a r o mundo , mu i t o ma i s o
podem as suas esc r i t as . Po r me i o da i n te rne t , as l e i t u ras de
mundo , ap l i c adas aos assun tos p ropos tos no con teúdo dos
t r aba l hos subme t i dos a cada ed i ção , quando pub l i c ados , podem
se r l i dos po r qua l que r pessoa do mesmo mundo que os acesse
pe l a i n te rne t . I sso vem acon tecendo e com bas t an te
f requênc i a . Sabe r que há pessoas de ou t ras c i dades , es t ados
e pa í ses do mundo que l eem os t r aba l hos da Graduando é uma
sa t i s f ação e um i ncen t i vo . Sabe r t ambém que nossos t r aba l hos
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
G
não são apenas c i t ados na academ i a a t es t a nossa i n t enção de
con t r i bu i r , em pa r te , pa ra a l e i t u ra dos con tex tos em que nos
cabe a ex i s t ênc i a . Uma b reve consu l t a em nosso s i t e t ambém
pode comprovar i sso . Desse modo , a rev i s ta a l c ança pessoas ,
não apenas es tudan tes . Pode a l cançá - l as no d i a a d i a de suas
a t i v i dades , nas suas v i vênc i as do co t i d i ano , po r t an to , no
conhec imento imposs íve l de se r desv i ncu l ado das a t i v i dades
den t ro e fo ra do amb i en te acadêm ico .
Embora nosso p r i nc i pa l f oco se j a o amb i en t e acadêm ico ,
não se pode negar que as l e i t u ras não se l im i t am aos espaços
em que e l as são rea l i z adas , d i scu t i das e cob radas ,
p r i nc i pa lmente quando se pensa e se es tuda , mu i t as vezes ,
num espaço d i s t an te da sa l a de au l a ou de uma i ns t i t u i ção de
ens i no ( supe r i o r ou não ) . É pensando desse modo que a
Graduando , es t udada , c i t ada e va l o rada no B ras i l e no ex te r i o r ,
v i venc i a pa r t e de suas a t i v i dades fo ra da UEFS . Po r con t a
dessas a t i v i dades , bem como nossa v i são de p rog resso e
i ncen t i vo à á rea e ao cu rso de Le t ras de nossa un i ve rs i dade ,
d i an t e da pa r t i c i pação e ped i dos de mu i tos g raduandos em
Le t ras do B ras i l , dec i d imos , a pa r t i r da 10 ª ed i ção , ace i t a r
t r aba l hos cu jos au tores se j am es tudan tes dos cu rsos de
Le t ras b ras i l e i r os . Embora se j amos mu i t os es tudan tes em uma
g rande á rea do conhec imen to , nossas con f l uênc i as ,
ev i denc i adas numa pub l i c ação co l e t i va , t êm rep resen t ação ,
i nsp i r am ações , i ncen t ivam novos es tudan tes a esco l he r nossa
á rea , a desenvo lve r suas po tenc i a l i d ades na t as , descobr i - l as e ,
en f im , ded ica r -se ao t raba l ho a pa r t i r das Le t ras .
Den t ro e f o ra do amb i en te acadêm ico , es tamos focados
p r i nc i pa lmente no que envo lve as p rá t i c as é t i c as e c i en t í f i c as ,
a l ém de d i scen te e docente , que nossos g raduandos em
Le t ras podem exe rce r em qua i sque r momentos de suas v i das .
Pa ra i sso e po r i sso , p romovemos a ex i s tênc i a des te pe r i ód i co ,
que c resce pe l a i n f o rmação , apa rece pe l a l e i t u ra e es t á sendo
ge r i do em função de um p ro j e to que busca consc i en t i za r as
pessoas a t r aba l ha rem e a conv ive rem sabendo que não es t ão
G
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G G
G G
soz i nhas , que não são as p r ime i r as , que não se rão as ú l t imas . . .
e que o t empo possu i a capac i dade de ap rende r e ens i na r à
med i da que , ao l ongo de nossa g raduação e v i vênc i as ,
ap rox imamo-nos do pe r f i l de p ro fesso r e das ca rac te r í s t i c as
de um pesqu i sado r c r í t i c o e au toc r í t i co em nossas p rá t i c as , em
nossa v i da .
A l gumas mudanças oco r rem em nosso pe r i ód i co a pa r t i r
da 9ª ed i ção : nossa pe r i od i c i dade ago ra é anua l , po i s a
l og í s t i c a pa ra ge renc i a r as e t apas de nossa rev i s t a da
g raduação não compor t a uma pub l i c ação semes t ra l ; ou t r a
mudança impor t an t e é que , a pa r t i r da 10 ª ed i ção — j á em f ase
de f i na l i z ação — , g raduandos em Le t ras de i ns t i t u i ções de
ens i no supe r i o r do B ras i l es t a rão en t re os a r t i cu l i s t as e
resenh i s t as da Graduando : en t re o se r e o sabe r . A ú l t ima
i n f o rmação a tua l i z a e ra t i f i c a o a l cance des te p ro j e to , em
âmb i t o nac i ona l , com a co l abo ração dos com i ssá r i os , au to res ,
co l abo rado res , co l egas da á rea de Le t ras e , p r i nc i pa lmen te ,
dos l e i t o res .
Os l e i t o res va l i d a ram e va l i d a rão o que esc revemos , o
que ava l i amos e o que l hes o fe recemos pa ra l e r . Ass im , o
t empo nos ag rac i a com a necess i dade de faze r mudanças que
me l ho ra rão es te pe r i ód i co , uma rev i s t a acadêm ica que é
resu l t ado de t r aba lho e p raze r , a l ém de é t i c a e
rep resen t a t i v i dade . O que nos o r i en t a é , em suma , o respe i t o
àque l e que se de tém à l e i t u ra ou à cons ide ração de que as
l e t r as ca r regam boa pa r t e de nosso po tenc i a l de comun icação
e conhec imento , de nossa p red i spos i ção ao uso do a rb í t r i o
pa ra ouv i r , f a l a r , l e r , esc reve r , ag i r , r eag i r . . .
Conse l ho Ed i t o r i a l
De d i c amo s e s t e n úme r o d a G r a d u a n d o , e n t r e o s e r e o s a b e r à p r o f e s s o r a
And r é i a C a r i c c h i o C a f é G a l l o , m emb r o d a c om i s s ã o e d i t o r i a l , q u e n o s d e i x o u
n o f i n a l d e 2 0 1 5 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 1 3 - 2 3 , 2 0 1 5
A MÚS I CA COMO R ECUR SO P E DA GÓ G I CO NA S
A ULA S D E L Í N GUA I NG L E SA : UMA
EX P E R I Ê NC I A DO P I B I D U E F S I NG L ÊS
B r u n a S o u z a R o c h a O l i v e i r a ( U E F S ) L i c e n c i a t u r a em L e t r a s c om I n g l ê s
b r u n a b r u u n a@ h o tm a i l . c om L u c i a n a d e J e s u s L e s s a C e n s i ( O r i e n t a d o r a /UNEB )
c e n s i l u c i a n a @ h o tm a i l . c om S i l v a n i a C á p u a C a r v a l h o ( O r i e n t a d o r a /U E F S )
D e p a r t am e n t o d e L e t r a s e A r t e s ( D LA ) s i l c a p u a@ h o tm a i l . c om
Resumo : O p resen te a r t i go re l a t a uma expe r i ê nc i a sob re o uso d a m ú s i c a c o m o u m r e c u r s o p e d a g ó g i c o p a r a o e n s i n o -ap rend i z ado de L í ngua I ng l esa , em uma esco l a púb l i c a pa rce i r a d o P r o g r ama d e I n i c i a ç ã o à D oc ê nc i a ( P I B I D /UE FS ) . O i n t u i t o p r i n c i p a l d as ações p romov i d as po r me i o da mús i c a na esco l a f o i o de p romove r um ma i o r envo l v imento dos a l unos nas au l as d e L í n g u a I n g l e s a , i n t r o d uz i r a mús i c a c omo uma f e r r amen t a pedagóg i c a e con t r i bu i r pa ra a f o rmação docen te dos bo l s i s t as do re fe r i do p rog rama . Tomando como base re fe rênc i as t eó r i c as de L ima ( 2004 ) , R i dd fo r d ( 1 999 apud SANTOS ; PAULUK , 2002 ) e Murphey ( 1 990 ) , f o i e l abo rada uma of i c i na de mús i ca , bem como a t i v i d ade s que abo r da r am as qu a t r o compe t ênc i a s l i n g u í s t i c a s ( l e i t u r a , esc r i t a , f a l a e compreensão aud i t i v a ) , a l ém de aspec tos c u l t u r a i s . A s a t i v i d a d e s p r omov i d a s r e su l t a r am em uma nov a abo rdagem para o ens i no , buscando t r aba l ha r os con teúdos de mane i r a d i f e ren t e e ma i s a t r a t i va pa ra os es tudan tes . P a l a v r a s - c h a v e : E x p e r i ê n c i a . M ú s i c a . E n s i n o - a p r e n d i z a d o . L í ngua I ng l esa . P IB ID .
1 I N T R O D U Ç Ã O
Pa ra que um l i cenc i ando se t o rne um bom pro fesso r , é
pe r t i nen t e que e le possua conhec imento t eó r i co sob re a sua
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
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á rea , um bom desempenho acadêm ico e , a l ém de t udo , uma
p rá t i c a no exe rc í c i o da docênc i a . Pa ra que essa expe r i ênc i a
com a docênc i a se j a poss í ve l , o M i n i s t é r i o da Educação (MEC )
i ns t i t u i u o P rog rama de I n i c i ação à Docênc i a ( P I B ID ) , que
concede bo l sas a a l unos de l i c enc i a t u ra pa r t i c i pan tes de p ro j e -
t os de I n i c i ação à Docênc i a ( I D ) , desenvo lv i dos po r I ns t i t u i ções
de Educação Supe r i o r ( I ES ) em pa rce r i a com esco l as de
educação bás i ca da rede púb l i c a de ens i no . A t ravés dessas
bo l sas , o es tudan te un i ve rs i t á r i o é i nse r i do na rea l i d ade da
esco l a púb l i ca , desde o i n í c i o da sua fo rmação , pa ra que se j a
poss í ve l sua f am i l i a r i zação t an to com o âmb i t o esco l a r quan to
com a rea l i d ade do p ro f esso r da rede púb l i ca .
É nesse con tex to que se p re tende re l a t a r aqu i uma das
expe r i ênc i as v i v i das no Subpro j e to Le t ras/ Ing l ês da Un ive rs i -
dade Es t adua l de Fe i r a de San t ana na esco l a pa rce i r a E l i ana
Boaven tu ra , onde o p ro j e t o a tende a uma méd i a de 250 es tu -
dan tes da rede es t adua l de ens i no .
Com o ob j e t i vo de demons t ra r a impor t ânc i a da f o rmação
de fu t u ros p ro fesso res , sua i n i c i ação em uma p rá t i c a docente
e os mé todos usados , é que f a remos re l a t os sob re nossa
expe r i ênc i a do P IB ID com a mús i ca , v i sando mos t ra r o a l cance
desse p rog rama no campo pedagóg i co e na d i ssem inação dos
conhec imentos d i dá t i cos p rop ic i ados pe l o mesmo . A l ém d i sso ,
l evamos em cons i de ração a f o rmação acadêm ica dos l i c enc i an -
dos e os resu l t ados den t ro da esco l a de educação bás i ca .
2 O S U B P R O J E T O P I B I D L E T R A S / I N G L Ê S
O P IB ID UEFS I ng l ês su rg i u da i nqu ie t ação de uma docen -
t e un i ve rs i t á r i a , a t ua l coo rdenadora do Subpro je t o , S i l v an i a
Cápua , ex -es tudan te da rede púb l i c a de ens i no e mãe de
educando da mesma rede , em con t r i bu i r pa ra a me l ho r i a do
ens i no de l í ngua i ng l esa na esco l a púb l i c a . A p ro fesso ra pa r t i -
c i pou do ed i t a l da CAPES na amp l i ação do P rog rama P IB ID em
março de 20 12 . I n i c i a lmen te , o Subpro j e t o Le t ras/ Ing l ês e ra
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cons t i t u í do de 24 bo ls i s t as de I D e 04 supe rv i so res de á rea
das esco l as pa rce i r as . I n t i t u l ado AL ICE : Aqu i s i ç ão de L í ngua
I ng l esa nos Co lég i os Es t adua i s : ações docentes com pe rspec t i -
va de l e t r amen to , o ed i t a l t eve v i gênc i a de agos to de 20 12 a
dezembro de 20 1 3 . A equ i pe a t ua l f az pa r t e do ed i t a l 6 1 /20 1 3 ,
cu j as a t i v i dades i n i c i a ram em março de 20 14 com a equ i pe de
03 supe rv i so ras e 1 8 bo l s i s t as de I D , e a v igênc i a p rev i s t a de
a tua r a té dezembro de 20 18 .
2 . 1 O P I B I D N O C O L É G I O E L I A N A B O A V E N T U R A
O P IB ID I ng lês , imp lan t ado no Co l ég i o Es t adua l E l i ana
Boaven tu ra , l oca l i z ado no ba i r ro Capuch i nhos , em Fe i r a de
San t ana/BA , t eve o i n í c i o de suas a t i v i dades em ab r i l de 20 14 .
A tua lmen te , con tamos com se i s bo l s i s t as : B runa Souza Rocha
O l i ve i r a , Hé l i o de Souza A l e i xo Campos , Jaque l l e Soa res de
San t ana , José Ra i l son S i l v a da Cos t a , Ma teus Mascarenhas
Soa res e Thays L ima Du l t r a da Cost a , os qua i s a t uam sob a
supe rv i são da p ro f esso ra Luc i ana Cens i e da coo rdenadora
S i l v an i a Cápua .
Nossa p r ime i r a a t uação fo i obse rva r as a t i v i dades desen -
vo l v i das em sa l a pe l a p ro f esso ra supe rv i so ra e conhece r a
d i nâm i ca da nova esco l a pa rce i r a , a ten t ando -se ao número de
a l unos , ma te r i a l d i dá t i co e ao p róp r i o espaço f í s i co da esco l a .
A l ém do pe r í odo de obse rvação , as reun i ões e p l ane j amentos
desenvo lv i dos em equ i pe f o ram de suma impor t ânc i a pa ra que
as i nsegu ranças fossem sanadas , e , ass im , os bo l s i s t as pudes -
sem adap ta r -se à d i nâm ica da esco l a , conhece r os a l unos e
obse rva r os pon tos que se r i am t r aba l hados nas o f i c i nas , a l ém
das i n te rvenções p rev is t as pa ra o segundo semes t re . Segu i ndo as o r i en t ações dadas pe l a supe rv i so ra , os
bo l s i s t as começaram , g radua lmente , a i n t e rag i r com a p rá t i c a docen te du ran t e as au l as . E l e s passa ram de obse rvadores pa ra a t uan tes . O r i en t ados , começaram a i n t e rv i r nas au l as de i ng l ês e a ap l i c a r a t i v i dades que e l evassem o i n t e resse dos a l unos no es tudo da l í ngua i ng l esa .
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Em pouco t empo , os f u t u ros p ro f esso res assum i r am um
pape l s i gn i f i ca t i vo nas au l as . Os a l unos começaram a so l i c i t a r a
a j uda dos bo l s i s t as pa ra dúv i das em re l ação aos assuntos ou
às a t i v i dades ap l i c adas . Dessa fo rma , a docênc i a compar t i l h ada
en t re supe rv i so r e bo l s i s t as f o i sendo , cada vez ma i s , conc re -
t i zada .
Nos p r ime i r os meses de a t uação dos bo l s i s t as de I D na
esco l a , as t u rmas , que a i nda não se encon t ravam fam i l i a r i zadas
com e l es , mos t ravam-se cu r i osas quan to à a t uação de l es e o
mot i vo pe l o qua l aque les ‚p ro fesso res desconhec i dos ‛ es t avam
par t i c i pando das au l as j un t amen te com a p ro f esso ra . Po r esse
mo t i vo , f o i p rec i so desenvo lve r a t i v i dades d i nâm icas e d i ve rs i -
f i c adas , que l evassem aque l es es tudan tes a d im i nu í r em a i n i b i -
ção e se i n te ressa rem pe l o es tudo da l í ngua i ng l esa e suas
compe tênc i as .
Ass im , em uma das sé r i e s ( 6 º ano A ) f o i r ea l i z ado um
t raba l ho d i f e renc i ado . Es t a t u rma fo i esco lh i da pe l a f ac i l i d ade
de se l i d a r com os a l unos , f r en t e à des i n i b i ção do g rupo . D i an -
t e da p ropos t a de f aze r uma homenagem para o d i a das mães ,
f o i p roduz i do um v í deo com os a l unos da t u rma can t ando uma
mús i ca em i ng l ês ( ‚You a re my sunsh i ne ‛ – Tony Crash ) . Com
essa mús i ca , f o i poss í ve l t r aba l ha r con teúdos g rama t i c a i s
( p ronomes pessoa i s , ve rbo t o be ) . O t r aba l ho f o i conc l u í do no
pe r í odo de 6 ( se i s ) au l as e l ogo depo i s apresen t ado pa ra as
mães dos a l unos , os p ro fesso res e os f unc i oná r i os da esco l a
em uma reun i ão de pa i s e mest res .
Logo após o t r aba l ho sup rac i t ado , j á e ra v i s í ve l uma
me l ho ra g radua l na l e i t u ra e na p ronúnc i a dos a l unos da t u rma
do 6 º ano , a l ém de ma is mo t i vação . A a t i v i dade com mús i ca f ez
t an to sucesso que ou t ras t u rmas so l i c i t a r am t raba l hos pa rec i -
dos . As es t ra t ég i as com mús ica se mos t ra ram t ão e f i c azes
que começou a se pensa r em uma o f i c i na de mús ica , envo l -
vendo t odas as sé r i e s a t end i das pe l o P IB ID/ INGLÊS , nas qua i s
se r i am p ropost as a t i v i dades d i dá t i co -pedagóg i cas com o uso
de mús i cas em i ng lês , o r i undas de gêne ros tex tua i s d i ve rsos .
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Ao busca rmos p ressupos tos t eó r i cos de Luc i ano Rod r i -
gues de L ima ( 2004 ) , en tendemos que mús i ca na sa l a de au l a
f az a l usão d i r e t a à i den t i dade cu l t u ra l da l í ngua t r aba l hada ,
a l ém de expor os es tudan tes a exemp l os au t ên t i cos de co l o -
qu i a l i d ade e as qua t ro compe tênc i as bás i cas pa ra aqu i s i ç ão de
uma segunda l í ngua .
3 A O F I C I N A D E M Ú S I CA D O P I B I D L E T R A S / I N G L Ê S
A Of i c i na S i ng i ng and Lea rn i ng t eve a du ração de qua t ro
semanas e t r aba l hou d i f e ren tes gêne ros mus i ca i s em tu rmas
da qu i n t a à o i t ava sé r i e .
A o f i c i na f o i i dea l i z ada pa ra se r ap l i c ada no p róp r i o co l é -
g i o e em todas as t u rmas que a p ro f esso ra supe rv i so ra m i n i s -
t r a au l as ( 6 º ano A , B , C ; 7 º ano A , B ; 8 º ano A ; 9 º ano A ) ,
sendo que cada bo l s i s t a t eve uma sé r i e como responsab i l i d ade
pa ra desenvo lve r e m in i s t r a r a o f i c i na com a a j uda da p ro fes -
so ra supe rv i so ra .
O ob j e t i vo ge ra l f o i o de co l abo ra r pa ra a i n t rodução de
recu rsos me todo l óg icos pa ra a ap rend i zagem de l í ngua i ng l esa ,
con t r i bu i ndo t an to com a fo rmação docen te dos bo l s i s t as
i ng ressos no p rog rama quan to à f am i l i a r i zação dos a l unos com
a l í ngua es t range i r a (MURPHEY , 1 990 ) , a pa r t i r do t r aba l ho com
gêne ros mus i ca i s , com as ques tões i n t e rcu l t u ra i s e soc i o l i n -
gu í s t i c as , g rama t i c a i s e f ono l óg icas . O p r ime i r o passo fo i f aze r
o p l ane j amen to da o f i c i na , nos meses de j unho e j u l ho , que
se r i a m i n i s t r ada em qua t ro sessões . E l abo ramos as a t i v i dades
pensando no g rau de d i f i c u l dade adequado pa ra cada sé r i e , de
aco rdo com a capac i dade de cada uma .
Es t udamos , du ran te o p l ane j amen to , que , segundo
R i dd fo rd ( 1 999 apud SANTOS ; PAULUK , 2002 ) , a mús ica d im i nu i
o n í ve l de es t resse , reduz i ndo o impac to dos e fe i t os ps i co l óg i -
cos que b l oque i am o ap rend i zado , e , dessa fo rma , f ac i l i t a -se a
ap rend i zagem do i d i oma . Murphey ( 1 990 ) t ambém des t aca que a
l i nguagem ap rend i da po r me i o da mús ica pode se r ass im i l ada
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ma i s na tu ra lmente , em ma i o r quan t i dade e com me l ho r f i xação .
As a t i v i dades com mús i ca aumen tam a pe rcepção dos a l unos ,
os qua i s passam a a t en t a r pa ra aspec tos l i ngu í s t i cos e cu l t u -
ra i s das canções . Ao ap rend i z é poss i b i l i t ado , em uma t r adu -
ção de l e t r a mus ica l , po r exemp l o , comparar a sua l í ngua e a
l í ngua-a l vo ; a l ém do que , em um t raba lho com mús ica , pode -se
es t abe lece r re l ações e d i f e renças en t re a p róp r i a cu l t u ra e a
da l í ngua es t range i r a . Con fo rme exp l i c ado po r L ima ( 2004 ) , a
mús i ca na sa l a de au l a de l í ngua i ng l esa pode se r usada com
p ropós i t os d i ve rsos , t a i s como : aqu i s i ção de vocabu l á r i o ,
compreensão da g ramá t i c a , exp ressão o ra l e esc r i t a , e tc . A lém
desses aspec tos l i ngu í s t i cos , a i nda se pode ac rescen t a r o
f a t o r cu l t u ra l r e f l e t i do na mús i ca a t r avés de h i s t ó r i as do co t i d i -
ano , t r ad i ções e exp ressões i d i omá t i c as . O au to r a i nda re fo rça
que a mús ica no ens ino -ap rend izagem de i ng l ês deve , ass im ,
poss i b i l i t a r o desenvo lv imento de compe tênc i as l i ngu í s t i c as e
t ambém despe r t a r pa ra ques tões de na tu reza é t i c a , po l í t i c a ,
i deo l óg i ca , den t re ou t ras .
3 . 1 M E T O D O L O G I A D A O F I C I N A
A o f i c i na f o i d i v i d i da em t rês momen tos . No p r ime i r o
momen to , i n i c i amos uma abo rdagem cu l t u ra l sob re os gêne ros
mus i ca i s ; no segundo , aud i ção , l e i t u ra e compreensão da mús i -
ca de um gêne ro espec í f i c o a pa r t i r de a t i v i dades d i ve rsas ; no
t e rce i r o , a t i v i dades l ex i ca i s , l i ngu í s t i cas e de p ronúnc i a (can to ) .
3 . 2 O B J E T I V O S D A O F I C I N A
✓Gera l :
Co l abo ra r pa ra a i n t rodução de recu rsos metodo l óg i cos
pa ra a ap rend i zagem de l í ngua i ng l esa , con t r i bu i ndo
t an to com a fo rmação docen te dos bo l s i s t as i ng ressos
no p rog rama quan to à f am i l i a r i zação dos a l unos com a
l í ngua es t range i r a .
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✓Espec í f i c os :
Propo rc i ona r um amb i en te l úd i co com a u t i l i z ação da
mús i ca , ‚queb rando o pad rão ‛ do ens i no t r ad i c i ona l ;
I n t roduz i r concepções i n t e rcu l t u ra i s da l í ngua -a l vo e de
seus f a l an tes ;
I ncen t i va r l i s t en i ng e comprehens i on como fo rma de
ass im i l ação da l í ngua ;
Cons t ru i r i n te ração en t re a l unos , t r aba l hando e l emen tos
soc i o l i ngu í s t i cos ;
T raba l ha r o l éx i co e con teúdos g rama t i c a i s o fe rec i dos
pe l a l e t r a da mús ica e po r tex tos de supor te ;
T raba l ha r com p ronúnc i a can t ando a mús ica .
3 . 3 A P L I C A Ç Ã O D A O F I C I N A
As a t i v i dades p rá t i c as f o ram fe i t as segu i ndo es t a o rdem :
Na p r ime i r a sessão : t r aba l ha r gêne ros mus i ca i s i ne ren t es da
l í ngua i ng l esa , conve rsação em i ng l ês en t re os cu rs i s t as da
o f i c i na , en t re ou t ras a t i v i dades de vocabu l á r i o ; segunda
sessão : t r aba l ha r com um gêne ro espec í f i c o e com uma mús i ca
espec í f i c a , focando em aspec tos soc i o l i ngu í s t i cos e i n te rcu l t u -
ra i s , u t i l i z a r um ca r tão i n f o rma t ivo sob re o can to r/banda , t r e i no
de p ronúnc i a pa ra can t a r a mús i ca , f i na l i z a r com a p ropos t a de
a t i v i dade pa ra casa ; t e rce i r a sessão : co r reção da a t i v i dade
p ropost a pa ra casa , a t i v i dade com vocabu lá r i o e rev i são dos
conce i t os ap l i c ados na p r ime i r a mús i ca , u t i l i zando ou t ra mús ica
do mesmo gêne ro .
Fo i ex i b i do um v í deo em todas as t u rmas sob re os gêne -
ros mus i ca i s t í p i cos dos Es t ados Un i dos , e a t i v i dades re l ac i o -
nadas ao v í deo . Cada bo l s i s t a t r aba l hou com um gêne ro
espec í f i c o em cada t urma , ap resen t ando uma b reve i n t rodução
ao gêne ro mus i ca l , e ap l i c ou , em segu i da , um ques t i oná r i o
ace rca des te . As t u rmas do 6 º ano t r aba l ha ram com Pop Mus i c ; as t u rmas do 7 º , Count ry Mus ic ; a do 8 º , Pop Mus ic e a
do 9 º , H i p Hop .
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No deco r re r das a t i v i dades , f o ram t raba l hados pequenos
t ex tos com b reves i n f o rmações sob re os a r t i s t as dos gêne ros ,
a l ém de a t i v i dades com a l e t r a das mús i cas em i ng l ês e po r t u -
guês . Também fo ram ex i b i dos os v i deoc l i pes das mús i cas
t r aba l hadas pa ra a j udar na con tex tua l i z ação do gêne ro mus ica l .
Du ran t e a o f i c i na , f o i p roposto um desa f i o aos a l unos , em
que e les t e r i am que can t a r , i nd i v i dua lmen te , ou em g rupo , uma
mús i ca ou t recho em i ng l ês de um gêne ro mus i ca l de sua
esco l ha . Os a l unos que ace i t assem o desaf i o se r i am ava l i ados
e os que se des t acassem recebe r i am b r i ndes , como choco l a tes
e cane t as co l o r i das .
3 . 4 R E S U L T A D O S D A E X P E R I Ê N C I A CO M M ÚS I CA
No que d i z respe i t o ao ape r fe i çoamen to do vocabu l á r i o , o
p ressuposto t eó r i co de Murphey ( 1 990 ) se comprovou , j á que
a l gumas pa l av ras con t i das na mús i ca f o ram ass im i l adas de
fo rma n i t i d amen te na tura l . Esse resu l t ado fo i c l a ramen te obse r -
vado ao ap l i c a rmos as a t i v i dades , po i s a l guns vocábu l os e ram
compreend i dos pe l o con tex to da mús ica sem que os a l unos
consu l t assem o d ic i oná r i o .
No t ocan te aos aspec tos cu l t u ra i s , os resu l t ados fo ram
compa t íve i s ao p ropos to po r L ima ( 2004 ) . I sso po rque , no
i n í c i o da o f i c i na , os a l unos t i nham pouco ou nenhum conhec i -
mento sob re a o r i gem de d i ve rsos gêne ros , nem mesmo que
e l es hav i am su rg i do f o ra do B ras i l . No decor re r das a t i v i dades ,
os a l unos i den t i f i c a ram , a t r avés da med i ação dos p ro fesso res ,
aspec tos t an to cu l t u ra i s quan to l i ngu í s t i cos , po i s i númeras
mús i cas t r az i am exemp l os v i vos de co l oqu i a l i d ade e exp res -
sões i d i omá t i c as . Ve r i f i c ou -se que essas exp ressões fo ram
ap rend i das de mane i r a na tu ra l , uma vez que os a l unos c r i a ram
re l ações en t re as exp ressões ap resen t adas em i ng l ês com
aque l as que e l es j á conhec i am na l í ngua po r tuguesa .
Fo i poss í ve l no t a r uma mudança pos i t i v a na v i são , bem
como na a t i t ude de mu i t os es tudan tes , pa r t i c i pan tes da o f i c i na ,
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em re l ação às au l as de i ng l ês . A g rande ma i o r i a de l es passou
a se i n t e ressa r ma i s pe l o i ng l ês como l í ngua es t range i r a , a t r a -
vés da pa r t i c i pação ma i s a t i va e e f e t i va nas au l as . A u t i l i z ação
de mús icas nas re fe r i das au l as ge rou uma a tmosfe ra p rop í c i a
ao ap rend i zado e , consequen temen te , os es tudan tes se t o rna -
ram ma i s au toconf i an tes na cons t rução do p róp r i o ap rend i zado .
Cons i de ramos que o en foque dado à mús i ca como um recu rso
que v i ab i l i z a a ap rend i zagem fez t amanha d i f e rença pa ra a
rea l i d ade da esco l a .
A o f i c i na de mús i ca t rouxe es t ímu l o não somen te aos
a l unos do Co lég i o Es tadua l E l i ana Boaventu ra , mas t ambém aos
bo l s i s t as e à p ro f esso ra supe rv i so ra do P IB ID UEFS I ng l ês . A
p rova d i sso é que vá r i os t r aba l hos sob re a expe r i ênc i a v i ven -
c i ada pe l a equ i pe f o ram ap resen t ados em even tos de na tu reza
acadêm ico -c i en t í f i c a , con fo rme l i s t ados aba i xo :
A Mús i ca como Recu rso Pedagóg ico nas Au l as de
L í ngua I ng l esa (O f i c i na ) - XXXV Encon t ro Nac i ona l dos
Es tudan tes de Le t ras ;
Of ic i na S i ng i ng and Lea rn i ng ( Pôs te r ) - IV Sem iná r i o do
P IB ID UEFS ;
A Mús i ca como Recu rso Pedagóg ico nas Au l as de
L í ngua I ng l esa : uma Expe r i ênc i a do P IB ID UEFS I ng l ês
no Co lég i o Es t adua l E l i ana Boaven tu ra (Comun icação
Ora l ) - IV Sem iná r i o do P IB ID UEFS ;
O Ens i no -ap rend i zagem P ropo rc i onado no P IB ID I ng l ês
po r me i o de Mús i cas (Comun i cação Ora l ) - X I I Semana
de Le t ras da UEFS ;
O Cr i a t i vo , o Lúd i co e o Lóg ico : a Mús i ca no Ens i no e
n o A p r e n d i z a d o d e um a L í n g u a E s t r a n g e i r a
(Comun i cação Ora l ) - V Encon t ro de P ro fesso res
L í ngua Es t range i r a – PALLE .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 1 3 - 2 3 , 2 0 1 5
4 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
O P IB ID co l abo ra , a t i vamen te , com i númeras mudanças
den t ro do campo educac i ona l , o que re f l e t e , de f o rma conc re -
t a , não só na qua l i d ade da f o rmação p ro f i ss i ona l dos bo l s i s t as
de I D , mas t ambém no es t ímu l o aos docentes , como bo l s i s t as
supe rv i so res , a re f l e t i r em sob re sua p rá t i c a pedagóg i ca . É
i nques t i onáve l a a t uação do p rog rama na/para me l ho r i a da
educação púb l i c a . As ações dos subpro j e t os do P IB ID poss i b i l i -
t am vár i as t r ans fo rmações nos amb i en tes esco l a res , po i s , a l ém
da v i vênc i a e das i n t e rvenções opo r t un i zadas aos bo l s i s t as
envo lv idos , no t a -se a chance de que un i ve rs i dade e esco l a
c r i em e i n tens i f i quem d i á l ogos em p ro l da o fe r t a de uma edu -
cação púb l i c a cada vez ma i s d i gna ao c i dadão . Essa re l ação
en t re o Ens i no Supe r i o r e a Educação Bás ica é v i áve l e pode
se r exemp l i f i c ada a t r avés da d i f usão de abordagens de ens i no ,
como a expe r i ênc i a aqu i re l a t ada com mús i ca , de p rá t i c as
i novadoras e uso de recu rsos pedagóg i cos d i f e ren tes .
Abs t rac t : Th i s pape r repo r t s an expe r iment on the use of mus ic
a s a n educa t i o n a l r e sou rce f o r Eng l i s h l a n gu age t e ach i ng a nd
l e a r n i n g i n a pub l i c schoo l p a r t ne r o f t h e I n i t i a t i o n P ro g r am t o
T e a c h i n g ( P I B I D / U E F S ) . T h e m a i n i n t e n t i o n o f t h e a c t i o n s
p r om o t e d t h r o u g h m u s i c i n s c h o o l w a s t o p r om o t e g r e a t e r
s t uden t s ´ i nvo lvement i n t he Eng l i sh c l asses , t o i n t roduce mus i c
as a pedagog i ca l t oo l and t o con t r i bu t e f o r the f e l l ow ’ s t eache r
t ra i n i ng o f the p rog ram. Based on theo re t i ca l re fe rences of L ima
( 2 0 0 4 ) , R i d d f o r d ( 1 9 9 9 a p u d S A N T O S ; P AU L U K , 2 0 0 2 ) a n d
Mu r p he y ( 1 9 90 ) , a mus i c wo r k shop was d eve l o p e d a s we l l a s
ac t iv i t i es tha t addressed the four l anguage sk i l l s ( read ing , wr i t i ng ,
s p e a k i n g a n d l i s t e n i n g ) , a n d c u l t u r a l a s p e c t s . T h e p r omo t e d
ac t i v i t i es resu l t ed i n a new approach t o t each i ng t ry i ng t o work
the contents in a d i f ferent and more at t rac t ive way to students .
K e ywo r d s : E x pe r i e nc e . Mus i c . T e ach i n g a nd L e a r n i n g . E n g l i s h
Language . P IB ID .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 1 3 - 2 3 , 2 0 1 5
R E F E R Ê N C I A S
L IMA, Luc i ano . Rod r i gues . O uso de canções no ens i no de
i ng l ês como l í ngua es t range i r a : a ques tão cu l t u ra l . I n : MOTA,
Ká t i a ; SCHEYERL , Den i se . (O rg . ) . Reco r tes i n t e rcu l t u ra i s na sa l a de au l a de l í nguas es t range i r as . v . 1 . Sa lvado r : EDUFBa , 2004 ,
p . 173 - 192 .
MURPHEY , T . Mus i c & Song . Ox fo rd : Oxfo rd Un ive rs i t y P ress ,
1 990 .
SANTOS , Jac i n t a de Fá t ima ; PAULUK , I ve te . P ropos i ções pa ra o ens i no de l í ngua es t range i r a po r me i o de mús i cas . ( FAF IG )
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por t a l s/pde/arqu i vos/752 -4 .pd f > . Acesso em : 1 2 j an . 20 15 .
Env i ado em : 22/03/20 15 .
Aprovado em : 1 5/ 1 1/20 15 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
U N I DA D T EMÁ T I CA D E BA S E I N T E RCULTURA L :
U NA P RO PU E S TA PA RA LA S C LA S ES D E
E S PA ÑO L COMO LE NG UA EX TRA N J E RA
K a t e R a y a n n y d o s A n j o s B om f i m ( U E F S )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s c om E s p a n h o l
k a t e . r a y a n n y@ y a h o o . c om . b r
R e s ume n : E s t e a r t í c u l o t i e n e c omo o b j e t i v o h a c e r a b o r d a j e s
sob re l a i n t e rcu l t u ra l i d ad y l a enseñanza de l enguas . P a ra eso ,
s o n p r e s e n t a d o s c o n c e p t o s d e c u l t u r a e i n t e r c u l t u r a l i d a d ,
c r u z a n d o l o s d o s t e m a s e n b u s c a d e u n a e d u c a c i ó n
i n t e rcu l t u r a l e n l a s c l ases de l engua ex t r an j e r a , e n e spec i a l de
e s p a ñ o l . C o n e s o , s e d e s e ó d e s a r r o l l a r a c e r c a d e l a
c o m p e t e n c i a i n t e r c u l t u r a l y l a c o m u n i c a c i ó n i n t e r c u l t u r a l ,
r e s a l t a n do l a i m po r t a n c i a d e l p r o f e so r e n e s e p r o c e so . T od o
e s o e s a b o r d a d o p a r a q u e p o r f i n s e a p r o p u e s t o e l u s o d e
U n i d a d T em á t i c a d e b a s e i n t e r c u l t u r a l ( U T ) e n l a s c l a s e s d e
españo l , de acue rdo con Pa r aque t t ( 20 1 2 ) , p resen t ando una UT
con e l t ema ‚Gue r ra y V i o l enc i a ‛ .
Pa l ab ras- l l ave : I n t e rcu l t u r a l i d ad . Un i dad t emát i c a . Comun i c ac i ón .
Compe tenc i a i n te rcu l t u ra l . Españo l como l engua ex t ran je ra .
1 I N T R O D U C C I Ó N
Conoce r o t r as l enguas es p r imo rd i a l en l a e ra de
g l oba l i z ac i ón en que v i v imos . Además de eso , es un
i ns t rumen to de g ran impor t anc i a pa ra l a comprens i ón de l as
cos tumbres y c reenc ias de o t ros pueb l os , l o que ayuda en e l
desa r ro l l o de l r espec to y de l a t o l e ranc i a ace rca de l as
cu l t u ras . De esa f o rma , u t i l i z a r l a cu l t u ra en l as c l ases de
lengua ext ran jera (LE ) es una manera ef ic iente para que act i tudes
pos i t ivas acerca de las d i ferentes cu l turas sean desar ro l l adas .
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
26
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Ten iendo conoc im i en t o de ese hecho , muchos p ro feso res
y au to res de l i b ros y mate r i a l e s de LE i n t en t an abo rda r l a
cu l t u ra en sus p royec tos . S i n embargo , e l abo rda j e ocu r re de
mane ra supe r f i c i a l . En l a mayor í a de l as veces , t r aen
i n f o rmac i ones ace rca de l a l i t e r a tu ra , a r t es y f i e s t as de l os
pa í ses que t i enen e l i d i oma es tud i ado como o f i c i a l . En e l caso
de l españo l , en espec i a l , esos aspec tos son gene ra lmen te de
España , y as í , l os o t ros ve i n t e pa í ses en que l a l engua of i c i a l
es l a españo l a son o l v i dados .
De esa f o rma , es necesa r i o p resen t a r e l pape l de cu l t u ra
en l a enseñanza de LE . Pa ra eso , es impor t an te t r aba j a r e l
concepto de cu l t u ra , que no es a l go ce r rado , pues l as cu l t u ras
no son homogéneas , es t án s i empre en evo l uc i ón . Se v i ene
p ropon i endo e l abo rda j e sob re l a compe tenc i a i n t e rcu l t u ra l ,
t ema que t i ene ganado nuevos enfoques en l os ú l t imos años ,
pues t r a t a de l a cu l t u ra , mu l t i cu l t u ra l i d ad y de l a p rop i a
i n t e rcu l t u ra l i d ad .
E l p ro feso r t i ene pape l f undamen ta l en l a p ropues t a de l a
i n t e rcu l t u ra l i d ad en l a enseñanza de LE . ‚ [… ] e l docen te debe
se r i n t e rcu l t u ra lmen te compe ten te , debe en t ende r l a
mu l t i c u l t u ra l i d ad , se r respe tuoso y ab i e r t o con l as cu l t u ras de
l o s pueb l os , en t re o t ras ca rac te r í s t i c as . ‛ (MENDÉZ ; HERNÁNDEZ,
20 10 , p . 96 ) . As í , es necesa r i o que l os p ro f eso res de l engua
ex t ran j e ra se en te ren de l t ema y que es t én d i spues tos a
busca r más i n f o rmac iones pa ra que sea pos i b l e u t i l i z a r l as en
sus c l ases .
En es te a r t í cu l o , se rán p resen t adas a l gunas
cons i de rac i ones ace rca de enseñanza de LE a pa r t i r de l a
p ropues ta i n t e rcu l t u ra l , abo rdando e l pape l de l p ro feso r y
p ropon i endo nuevas fo rmas de t r aba j a r l a cu l t u ra en c l ase ,
espec i a lmen te con e l uso de una un i dad t emá t i ca de base
i n t e rcu l t u ra l , pud i endo as í , con t r i bu i r a l a f o rmac i ón de l
docen te . Pa ra eso , se rá hecho un abo rda je de l concep to de
cu l t u ra e i den t i dad cu l t u ra l , de l a educac i ón i n t e rcu l t u ra l y de l
pape l docen te , pa ra f i na lmen te t r a t a r de l a un i dad t emá t i c a y
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
presen ta r una p ropues t a de UT de p l a t a f o rma i n t e rcu l t u ra l con
l a t emát i c a de l a gue r ra y v i o l enc i a .
2 E L C O N C E P T O D E C U L T U R A
A l o l a rgo de l a h i s t o r i a , su rg i r án muchos concep tos
ace rca de l o que se r í a cu l t u ra , t en i endo en cuent a d i f e ren t es
aspec tos . En e l l i b ro Cu l t u ra : um conce i t o an t ropo l óg i co e l
pro feso r Roque de Ba r ros La ra i a ( 2002 ) t i e ne e l ob j e t i vo de
ac l a ra r e l concepto de cu l t u ra de l pun to de v i s t a an t ropo l óg i co .
E l au t o r p resen t a comenta r i os hechos po r es tud i osos sob re
d i f e ren tes cu l t u ras con e l ob j e t i vo de mos t ra r que l as
d i f e renc i as que ex i s ten en t re e l l a s no son resu l t ados de l as
d i ve rs i dades soma to l óg i cas , aque l l a s de l cuerpo , de l a gené t i c a ,
o meso l óg icas , o sea , de l amb i en te que e l su j e t o es t á i nse r i do .
Esas d i ve rs i dades i n f l uenc i an pa ra que ex is t an l as d i f e ren tes
cu l t u ras .
La ra i a ( 2002 ) hab l a que en t re e l f i na l de l s i g l o XV I I I y e l
i n i c i o de l s i g l o X IX e l t e rmo ge rmán i co ‚ ku l t u r ‛ e ra u t i l i z ado
para s imbo l i za r l os aspec tos esp i r i t ua l es de una comun i dad . Ya
e l vocab l o f r ancés ‚c i v i l i z a t i on ‛ pa ra re fe r i r se a l as
r ea l i z ac i ones ma te r i a l es de un pueb l o . Edward Ty l o r ( 1 87 1 , p . 29
apud SAÉZ , 2005 , p . 26 ) u t i l i z ó e l t é rm i no i ng l és ‚cu l t u ra ‛ pa ra
s i n t e t i za r l os dos o t ros c i t ados an t e r i o rmen te , o sea , ‚ t odo
comp l e j o que i nc l uye conoc im i en t os , c reenc i as , a r te , mora l ,
l e yes , cos tumbres o cua l qu ie r o t r a capac i dad o háb i t os
adqu i r i dos po r e l hombre como m iembro de una soc iedad . ‛ Ese
concepto abo rdaba en un ún i co vocab l o t odas l as pos i b i l i d ades
de rea l i z ac i ones pa ra l os humanos y opon iéndose a l a i dea de
adqu i s i c i ón i nna t a .
Como c i t ado an tes , su rg i e ron cen tenas de o t ros
conceptos sob re cu l t u ra . T ra ta r de e l l o s aqu í se t o rna i nv i ab l e ,
pues no es e l ob j e t i vo de es te a r t í cu l o . As í , se rá abo rdado e l
concepto de cu l t u ra que i n te resa a l a i n t e rcu l t u ra l i d ad .
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La UNESCO ( 20 14 ) , en su Dec l a rac i ón Un iversa l sob re l a
D i ve rs i dad Cu l tu ra l , de f i ne cu l t u ra :
c omo e l c o n j u n t o d e l o s r a s g o s d i s t i n t i v o s , e s p i r i t u a l e s
y m a t e r i a l e s , i n t e l e c t u a l e s y a f e c t i v o s q u e
c a r a c t e r i z a n a u n a s o c i e d a d o a u n g r u p o s o c i a l y
q u e a b a r c a n , a d em á s d e l a s a r t e s y l a s l e t r a s , l o s
m o do s d e v i d a , l a m a n e r a d e v i v i r j u n t o s , l o s s i s t em a s
d e v a l o r e s , l a s t r a d i c i o n e s y l a s c r e e n c i a s .
En l a m i sma dec l a rac ión , l a m i sma en t i dad a t en t a t amb i én
pa ra e l hecho de que l a cu l t u ra es t á en cons t an te camb i o .
Paraque t t ( 20 1 2 , p . 3 ) t r ae l a ‚ [… ] i dea de que cada uno
cons t ruye su cu l t u ra y , consecuen temen te nues t ra i den t i dad
cu l t u ra l . ‛ La au to ra des t aca t amb i én que es necesa r i o en t ende r
que l as d i f e renc i as cu l t u ra l e s que ex i s ten en t re l os d i f e ren tes
pueb l os son no rma les , s i endo ese pensam ien to p r imo rd i a l y
esenc i a l pa ra l a comprens i ón de educac i ón i n t e rcu l t u ra l . De esa
f o rma , es impor t an t e i den t i dad cu l t u ra l , que hace re f e renc i a a l
g rado de l i g ac i ón que una pe rsona t i ene con un g rupo cu l t u ra l
que es t á i nse r i do .
En e l l i b ro A i den t i dade cu l t u ra l na pós -mode rn i dade ,
S tua r t Ha l l ( 2006 ) exp lo t a a l gunas cues t i ones sob re l a i den t i dad
cu l t u ra l en l a mode rn i dad . La concepc i ón de su j e t o
pos tmode rno es con t ra r i a a l a i dea de su j e t o un i f i cado de l
I l um i n i smo . Ha l l ( 2006 ) a f i rma que e l su j e t o an tes un i f i c ado ,
aho ra es t á s i endo f r agmen tado , pues no es compues to
so l amen te po r una i den t i dad , s i no de va r i as , muchas veces
con t rad i c t o r i as o no resue l t as . E l l a s es t án en conf ron to con l as
que aseguraban l a con fo rm idad sub j e t i va y aho ra en t ran en
co l apso , como consecuenc i a de l os camb i os en l as
i ns t i t uc i ones y en l a es t ruc tu ra de l a soc i edad . As í , e l su j e to
pos tmode rno no es cons i de rado como t i endo una i den t i dad f i j a ,
esenc i a l y pe rmanen te , s i no f o rmada y t r ans fo rmada
con t i nuamen te po r l as f o rmas que somos i n t e rpe l ados en l os
s i s t emas cu l t u ra l e s .
29
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Sab iendo aho ra sob re l a i den t i dad cu l t u ra l , es pos i b l e
t r ae r o t ro concep to de i den t i dad cu l t u ra l de Garc í a Mar t i néz y
o t ros ( 2007 apud PARAQUETT , 20 1 2 , p . 3 ) :
L a i d e n t i d a d c u l t u r a l s e r e f i e r e a l g r a d o e n q u e u n a
p e r s o n a s e s i e n t e c o n e c t a d a , p a r t e d e u n g r u p o
c u l t u r a l , a l p r o p i o g r u p o d e r e f e r e n c i a e n e l q u e h a
c r e c i d o : i n c l u y e u n a c omp l e j a c omb i n a c i ó n d e
f a c t o r e s , t a l e s c om o a u t o i d e n t i f i c a c i ó n , s e n t i d o d e
p e r t e n e n c i a o e x c l u s i ó n , d e se o d e p a r t i c i p a r e n
a c t i v i d a d e s d e g r u p o .
A l p resen t a r ese concep to , Pa raque t t ( 20 12 ) i den t i f i c a l a
impor t anc i a suya pa ra l a asoc i ac i ón de l concep to de cu l t u ra e
i den t i dad a l a educac i ón . S i n embargo , l a au to ra t amb i én a t en t a
pa ra e l hecho de que e l t r aba j o de l a educac i ón i n te rcu l t u ra l
puede l l eva r e l a l umno a sen t i r se l i g ado a l a cu l t u ra ex t ran je ra ,
s i endo que l a i dea es que é l sea l l evado ‚ [… ] a pe rc i b i r que e l
conoc im i en t o de l as i den t i dades cu l t u ra l e s ‘ ex t r an j e ras ’ deben
se rv i r l e s pa ra i n t ens i f i c a r su p roceso de pe r t enenc i a cu l t u ra l a l
amb i en te en e l cua l v i ve . ‛ ( PARAQUETT , 20 12 , p . 3 ) . O sea , é l
a l umno va a conoce rse a l conoce r e l ‚ ex t r an j e ro ‛ .
3 I N T E R C UL T U R A L I D A D Y E D U C A C I Ó N
A pa r t i r de l o que fue p resen t ado en l a secc i ón an t e r i o r ,
es pos i b l e de j a r más c l a ro l a i dea de l a i n t e rcu l t u ra l i d ad .
Mar t í nez y o t ros ( 2007 apud PARAQUETT , 20 1 2 , p . 4 ) d i cen
que :
I n t e r c u l t u r a l i d a d s i g n i f i c a [ … ] i n t e r a c c i ó n , s o l i d a r i d a d ,
r e c o n o c im i e n t o m u t u o , c o r r e s p o n d e n c i a , d e r e c h o s
h um an o s y s o c i a l e s , r e s p e t o y d i g n i d a d p a r a t o d a s
l a s c u l t u r a s… P o r t a n t o , p o d emo s e n t e n d e r q u e l a
i n t e r c u l t u r a l i d a d , m á s q u e u n a i d e o l o g í a ( q u e t am b i é n
l o e s ) , e s p e r c i b i d a c omo u n c o n j u n t o d e p r i n c i p i o s
a n t i r r a c i s t a s , a n t i - s e g r e g a d o r e s y c o n u n f u e r t e
p o t e n c i a l d e i g u a l i t a r i sm o . L a p e r s p e c t i v a i n t e r c u l t u r a l
30
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
d e f i e n d e q u e s i c o n o c em o s l a m a n e r a d e v i v i r y
p e n s a r d e o t r a s c u l t u r a s , n o s a c e r c a r em o s m á s a
e l l a s .
Ac tua lmente , e l p r i nc i pa l en foque de l os es tud i os sob re l a
i n t e rcu l t u ra l i d ad es l a enseñanza de LE . As í , su ob j e t i vo
f undamen ta l es que l os es tud i an tes desa r ro l l e n l a compe tenc i a
i n t e rcu l t u ra l , ‚ [… ] y a l m i smo t i empo , es un p roceso que
en fa t i za l as mezc l as , l a comun i cac i ón , l os con f l i c t os y l os
prés t amos en t re l as d i ve rsas cu l t u ras . ‛ (MÉNDEZ ; HERNÁNDEZ ,
20 10 , p . 94 ) .
La compe tenc i a i n t e rcu l t u ra l es l a hab i l i d ad que un
es tud i an te de l engua ex t ran j e ra t i ene de desa r ro l l a r se de
mane ra sa t i s f ac t o r i a en s i t uac i ones de comun icac i ón
i n t e rcu l t u ra l . As í , l a comun i cac i ón i n te rcu l t u ra l es de f i n i da como :
a q u e l l a q u e r e s u l t a d e l a i n t e r a c c i ó n e n t r e h a b l a n t e s
d e l e n g u a s y c u l t u r a s d i f e r e n t e s . L o s i n t e r l o c u t o r e s
q u e p a r t i c i p a n d e e n c u e n t r o s i n t e r c u l t u r a l e s h a n
e x p e r im e n t a d o p r e v i ame n t e p r o c e s o s d e s o c i a l i z a c i ó n
d i s t i n t o s y h a n d e s a r r o l l a d o m a r c o s d e c o n o c i m i e n t o
d i f e r e n t e s ( COMUN I CAC I ÓN… , 2 0 1 4 ) .
De fo rma que , l a comun i cac i ón i n t e rcu l t u ra l só l o puede
ocu r r i r sa t i s f ac to r i amente s i l os par t i c i pan tes f ue ren
compe ten tes i n te rcu l t u ra lmente . As í , además de conoce rse
me jo r a l conoce r e l ‚ ex t r an j e ro ‛ , a l es t ud i a r cu l t u ra a pa r t i r de
l a v i s i ón i n t e rcu l t u ra l , e l a l umno t amb i én pod rá v i v i r l a
expe r i enc i a de l a comun i cac i ón i n t e rcu l t u ra l de mane ra e f i caz .
Como c i t ado an te r i o rmente , l a i n te rcu l t u ra l i d ad no se
impor t a so l amen te con l as d i f e renc i as , e l l a en f a t i za
p r i nc i pa lmente l a re l ac i ón de cu l t u ras y l a i n t e racc i ón en t re
e l l a s . Cuando e l a l umno cons i gue man tene r una comun i cac i ón
i n t e rcu l t u ra l , s i gn i f i c a que además de t ene r conoc im ien to y
comprens i ón ace rca de o t ros s i s t emas cu l t u ra l e s , é l t amb ién
conoce y comprende e l suyo , y as í , no hay e l abandono de l a
su p rop i a cu l t u ra .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Sab iendo de l a impor t anc i a de l a compe tenc i a i n t e rcu l t u ra l ,
¿cómo e l ap rend ien te pod rá t o rnarse compe ten t e
i n t e rcu l t u ra lmente? Pa ra responde r esa p regun t a , es necesa r i o
reco rda rse de o t ro e je impor t an t e en e l p roceso es e l pape l
de l p ro feso r , que d i scu t i r emos en l a secuenc i a .
4 E L P A P E L D E L P R O F E S O R E N L A E D U C A C I Ó N
I N T E R C U L T U R A L
En t odos l os s i s t emas de enseñanza -ap rend i za j e , e l
p ro feso r t i ene un pape l de g ran impor t anc i a . Es t o no se debe
a l a an t i gua c reenc i a de que e l p ro feso r es e l de ten to r de l
conoc im i en t o , s i no po rque es é l qu i en , en l a mayor pa r te , va a
busca r ma te r i a l e s e i n t en t a r p rovocar ac t i t udes i n t e rcu l t u ra l e s
en sus a l umnos . As í , es necesa r i o apun t ar a l gunos aspec tos
impor t an t es pa ra que un p ro feso r pueda se r un educador
i n t e rcu l t u ra l .
Pa raque t t ( 20 1 2 , p . 4 ) t r ae l a i dea de Mar t i néz y o t ros
( 2007 ) de que ‚ l a i n t e rcu l t u ra l i d ad b i en en t end i da com ienza po r
uno m i smo‛ . As í , además de l p ro feso r desea r que e l a l umno
t enga ac t i t udes i n t e rcu l t u ra l e s , é l p rop io t i ene que t ene r l as . E l
docen te t i ene que es ta r hab i l i t ado de fo rma que ‚ [… ] sean más
ab i e r t os y que , en l uga r de ‘ t o l e ra r ’ l a d i f e renc i a , e l i j an ‘ r ec i b i r ’
ese o t ro como se rec ibe a un am igo [… ] ‛ ( PARAQUETT , 20 12 , p .
4 ) . Es exac t amente como un am igo con e l cua l compar t imos
nues t ras emoc i ones e i nsegu r i dades .
T ra t ándose más espec í f i c amen te de LE , Méndez y
He rnández (20 10 , p . 97 ) apun t an que :
[ … ] l o s p r o f e s o r e s d e l e n g u a s d e b e n a s e g u r a r s e d e
d e s a r r o l l a r l a c omp e t e n c i a i n t e r c u l t u r a l p a r a i n t e g r a r
l a s c u l t u r a s , a t r a v é s d e l a r e v a l o r a c i ó n , r e f o rmu l a c i ó n
y e s t u d i o d e l o s v a l o r e s . P o r c o n s i g u i e n t e , d e b e n
r e a l i z a r u n a p r á c t i c a d o c e n t e q u e s e f u n d am en t e e n
e l r e s p e t o y l a t o l e r a n c i a a b o r d a n d o u n e n f o q u e
i n t e r c u l t u r a l q u e p e rm i t a l a a c e p t a c i ó n d e l a s
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
d i f e r e n c i a s e n t r e l o s i n d i v i d u o s . D e l m i sm o m od o ,
d e b e n d e s a r r o l l a r u n e s p í r i t u c r í t i c o y p r om ov e r l a
c om p r e n s i ó n d e l a s d i f e r e n c i a s c u l t u r a l e s c om o
e l em en t o c l a v e p a r a m e j o r a r e l e n t e n d i m i e n t o e n t r e l o s
s e r e s h um an o s .
E l p ro feso r de LE t i e ne t amb ién que sabe r que l os
a l umnos t i enen pape l ac t i vo en l as c l ases , no só l o en e l l a s ,
s i no f ue ra de e l l a s . Po r e l l o , e l docen te no es e l ún i co
conocedor y med i ado r de l p roceso de ap rend i za j e , l os
es tud i an tes t i enen pa r t i c i pado d i r ec t amen te en l as escue l as y
en e l p roceso de l a educac i ón i n t e rcu l t u ra l .
5 U N I D A D T E M Á T I CA ( U T ) D E P L A T A F O R M A
I N T E R C U L T U R A L
Pa ra con t r i bu i r y ayudar e l p ro feso r de LE , Pa raque t t
( 20 12 ) p ropone e l uso de un i dades t emá t i c as de base
i n t e rcu l t u ra l en l as c l ases de españo l . La au to ra de f i ne Un i dad
Temá t i c a (UT ) como ‚ [… ] un con jun to de t ex tos au t én t i cos , de
d i f e ren tes cu l t u ras y géne ros t ex tua l es , pero que t engan una
t emát i c a común , de mane ra que pos i b i l i t en e l ap rend i za je de E/
LE . ‛ ( PARAQUETT , 20 12 , p . 4 ) . Es necesa r i o cons i de ra r que e l
concepto de tex to de Marcusch i ( 2008 , p . 72 , t r aducc i ón
nues t ra ) que d i ce ‚e l t ex t o es un evento comun ica t i vo en que
conve rgen acc i ones l i ngü í s t i cas , soc i a l e s y cogn i t i v as ‛ , o sea ,
t ex t o no es so l o a l go esc r i t o , s i no t odo e l emen to que
comun ica , s i endo pos i b l e d i f e ren tes géne ros t ex tua les .
S i gu i endo l o que p ropone Pa raque t t ( 20 12 ) , p resen to una
UT que o rgan icé con l a t emá t i c a ‚Gue r ra y V i o l enc i a ‛ . Es t á
cons t i t u i da de t res tex tos :
Una canc i ón , F í j a t e b i en , de l can t an te y compos i t o r
co l omb i ano Juanes ; Una p i n t u ra , Gue rn i ca , de l p i n t o r españo l Pab l o P i casso ; Un poema , de l esc r i t o r pa raguayo Lu í s Mar í a Mar t í nez .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
E l eg í es te t ema po rque es un asun to recu r ren te , de modo
que t odos l os d í as son d i vu l gadas no t i c i as sob re l as gue r ras y
l a v i o l enc i a a l r ededor de l mundo , po r d i s t i n t os ‚mo t ivos ‛ ,
i n c l uso l a i n t o l e ranc i a cu l t u ra l . De esa f o rma , es un t ema de
g ran impor t anc i a pa ra se r t r aba j ado con l os a l umnos b ras i l e ños
( que son e l f oco de esa UT ) , pues pod rán conoce r un poco
más sob re pa í ses de l engua españo l a .
5 . 1 F Í J A T E B I E N D E J UA N E S
La e l ecc i ón de es te t ex to se exp l i c a po r e l hecho de se r
una canc i ón , no t i ene só l o l a l e t r a como a t rac t i vo , s i no l a
me l od í a , que mezc l a rock con r i tmos co l omb i anos , s i endo más
f ác i l e l t r aba j o en au l a . Además , se t r a t a de una mús i ca poco
d i f und i da de l can tan te y que enfoca de un t ema muy de l i c ado
v i v i do po r l os co l omb ianos : l as m i nas an t i pe rsonas p roduc i das
e imp l an t adas po r l a gue r r i l l a FARC – Fue rzas Armadas
Revo l uc i ona r i as de Co l omb i a . Es te es un g rupo que t i ene
ac tuado en Co l omb i a de mane ra v i o l en t a , envo l v i endo
d i f e ren tes acc i ones , como e l uso de l as m i nas .
La canc i ón emp ieza hab l ando que es t án sacando t odo de
l as pe rsonas : l a com ida , l as t i e r r as , l a casa . Todos son
a t i ng i dos :
‚ S o n l o s n i ñ o s , s o n l o s v i e j o s ,
s o n l a s m a d r e s , s om o s t o d o s , c am i n a n d o
Y n o t e o l v i d e s d e e s t o , n o , n o , n o ‛ .
E l es t r i b i l l o p i de pa ra que l as pe rsonas t engan a t enc ión
cuando cam ina r , pues es de esa mane ra que se debe ac tua r
en l as reg i ones en l as cua les l as FARC es t án de modo más
e fec t i vo . A l t ene r con t ac to con l a mús ica , l os a l umnos pueden
no en t ende r de que e l l a t r a t a y l o po rque de se r t ema de l a
canc i ón , s i e l l o s no t uv i e ren conoc im ien t o de l as m i nas y de
cómo es t a es des t ruc t iva y t an p resen te en l a rea l i d ad
co l omb i ana . Pe rsonas que no t i enen n i ngún envo lv im ien to con
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
l a s FARC son v í c t imas de l as m i nas an t i pe rsona l es , cuando no
p i e rden l a v i da , quedan mu t i l ados , c i egos o so rdos .
Con l a mús ica , l os a l umnos pod rán ve r que , además de
l as f o rmas más comunes de v i o l enc i a que es t amos expuestos
t odos l os d í as en B ras i l , l o s co l omb i anos t i enen que conv iv i r
con más es t a . Conoce r ace rca de ese t ema es una
opo r tun i dad de d i scu t i r o t r a rea l i d ad , asoc i ándo l a a l a rea l i d ad
b ras i l e ña . Además , podemos t r a t a r de l a mús i ca en s i , e l r i tmo ,
l os i ns t rumen tos que l og ramos i den t i f i c a r , pues , como d i ce
Paraque t t ( 20 13 , p . 7 ) , ‚nad ie neces i t a se r espec i a l i s t a en
mús i ca pa ra pe rc i b i r cosas as í , po rque desde muy t emprano
ap rendemos a i den t i f i c a r s i una canc i ón t r ansm i t e a l eg r í a ,
t r i s t eza o suspense . ‛
5 . 2 G U E R N I C A D E P A B L O P I CA S S O
Como se sabe , se t r a t a de una p i n t u ra muy conoc ida de l
p i n t o r españo l Pab l o P i casso , expues to en 1 936 , y que po r eso ,
no de j a de se r un géne ro t ex tua l que no puede se r t r aba j o en
c l ase . Pa ra t r aba j a r con é l es necesar i o abo rda r va r i os
e l emen tos de a r t e . Pe ro no es necesa r i o se r un c r í t i co o
espec i a l i s t a en a r t e para hace r eso .
E l pa i ne l es una rep resen t ac i ón de P i casso pa ra e l
bombardeo que su f r i ó l a c i udad españo l a de Gue rn i ca . La t e l a
f ue hecha en neg ro y b l anco , l o que de j a l a ob ra muy sombr í a .
Las f i gu ras humanas son des to rc i das , pos i b l emente po r e l
do l o r . Los cue rpos es t án d i l ace rados , sus f i s i onom í as
demues t ran pán i co de l a t r aged i a . Hay una madre con su h i j o
mue r t o en l as manos , o sea , hay bas t an t e su f r im ien to en l a
escena (BERNADAC , 2008 ) . As í como l a canc i ón p resen t ada
an t e r i o rmen te , l a ob ra t i ene un pape l soc i a l .
E l p ro feso r puede i ns t i ga r l os a l umnos con p regun t as
sob re que sensac i ones y sen t im i en t os e l cuad ro p rovocan en
e l l o s . Pe ro t amb ién , es impor t an te que e l docen te d i ga l o que
s i en te de l an te de un pa i ne l t an impac t an t e .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Hay va r i os o t ros aspec tos de l cuad ro que pueden se r
t r aba j os . Eso depende de l a c l ase , l a edad , e l n i ve l y
p r i nc i pa lmente , de l p ro f eso r en pe rc i b i r es t os aspec tos . Es
pos i b l e t r aba j a r con e l con tex to h i s t ó r i co en que l a ob ra f ue
hecha , evocando as í , cues t i ones i n t e rd i sc i p l i n a res . De esa
f o rma , l os a l umnos conocen ese pun to de l a h i s t o r i a españo l a
y pueden l ee r un l engua j e que no es t á f am i l i a r i zado , ya que i r
a museos y t ene r con t ac to con a r t e no es una cosa común
en B ras i l .
5 . 3 E L P O E M A D E L U I S M A R Í A M A R T Í N E Z
Lu i s Mar í a Mar t í nez es un poe t a y esc r i t o r pa raguayo
que esc r i b i ó un l i b ro ace rca de l a poes í a y l a denunc i a soc i a l
en Pa raguay . E l l i b ro t r ae i n f o rmac i ones sob re d i ve rsos
conf l i c tos y gue r ras que ocu r r i e ron en e l pa í s du ran te va r i os
momen tos de su h i s t o r i a , i nc l uso l a Gue r ra de l Chaco ( 1 932 -
1 935 ) , un conf l i c to a rmado en t re e l Pa raguay y l a Bo l i v i a , que
t uvo como mo t ivo e l pe t ró l eo , hecho que ocu r re has t a hoy en
muchas pa r t es de l mundo .
E l poema que e l eg i r no t i ene t í t u l o . E l au t o r exa l t a l os que
l ucha ron po r l a l i be r tad de l pueb l o pa raguayo , l os poe t as que
de l os cua l es é l t r a t a en e l l i b ro . A l os que su f r i e ron con t oda
l a v i o l enc i a y t uv i e ron sus sueños i n te r rump i dos .
‚ A l o s l u c h a d o r e s , v i v o s o mu e r t o s ,
p o r l a l i b e r t a d d e n u e s t r o p u e b l o .
A l o s q u e p o r f i a r o n ,
y s i n v e r l a r e a l i d a d
d e s u s s u e ñ o s ,
s e s i n t i e r o n r e a l i z a d o s .
A l o s q u e c o n f i a d o s
e n l a p r o x i m i d ad d e s u s su e ñ o s ,
q u e d a r o n a l a v e r a d e l c am i n o , ‛
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Más una vez , tenemos un t ex to con una func i ón soc i a l .
Aqu í , es pos i b l e t r a t a r l as consecuenc i as que t r ae una gue r ra
pa ra una comun i dad .
Ten iendo en v i s t a l a h i s t o r i a de l B ras i l , podemos vo l ve r a l
pe r i odo de l a d i c t adu ra m i l i t a r , en e l cua l l os a r t i s t as ,
p r i nc i pa lmente l os can t an tes u t i l i z aban sus mús i cas pa ra
denunc i a r l a v i o l enc i a en que l os b ras i l e ños v i v í an . As í , es
pos i b l e conoce rse a pa r t i r de l o t ro .
6 CO N C L US I Ó N
Pa ra conc l u i r , qu ie ro abo rda r e l hecho de que cuando
t r a t amos de l a gue r ra y l a v i o l enc i a de o t ros pa í ses , u t i l i z ando
d i s t i n t os géne ros t ex tua l es , además de pone r l os a l umnos en
con t ac to con d i ve rs i dad de t ex tos y t emas de l a h i s t o r i a de
o t ros pa í ses , es t amos t amb ién pon iendo en ev i denc i a e l hecho
de que l as i den t i dades cu l t u ra l e s son comp l e j as , mú l t i p l es ,
i nacabadas . Pe rm i t i e ndo t amb ién que podamos conoce rnos a
par t i r de l conoc im i en t o de l ‘ ex t r an j e ro ’ , que es p r i nc i pa l
ob j e t i vo y gano de l a educac i ón i n t e rcu l t u ra l , l o que t r ae l a
compe tenc i a i n te rcu l t u ra l pa ra l os ap rend ien tes .
Las gue r ras son d i s t i n t as y acon tecen en momen tos
d i s t i n t os pues es t án i nse r i das en con tex tos soc i a l e s d i f e ren t es .
Pe ro eso no impos i b i l i t a que en t endamos l os aspec tos
cu l t u ra l e s envue l t os . Es necesa r i o t ene r en v i s t a l o hecho de
que aqu í , l a i n t e rcu l t u ra l i d ad t uvo un foco espec i a l , de acue rdo
con l os ob j e t i vos p ropues tos . Pe ro una c l ase es mucho más
que eso . Pues , como a f i rma Pa raque t t ( 20 12 , p . 1 0 ) , ‚ [… ] en t r an
en j uego l os i n t e reses de l os a l umnos y de l as i ns t i t uc i ones ,
as í como l as o r i en t ac iones educac i ona l es de casa pa í s donde
se enseña E/LE . ‛
Espe ro que l a p ropues t a de l a educac i ón i n t e rcu l t u ra l sea
comprend i da , pues sus benef i c i os son eno rmes e impor t an tes
para e l desarro l lo de los par t ic ipantes no só lo como aprend ientes ,
s ino como seres humanos , personas v iv ientes en ese mundo .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 2 5 - 3 9 , 2 0 1 5
Resumo : Es te a r t i go t em como ob j e t i vo f aze r abo rdagens sob re
a i n t e r c u l t u r a l i d a d e e o e n s i n o d e l í n g u a s . P a r a i s s o , s ã o
a p r e s e n t a d o s c o n c e i t o s d e c u l t u r a e i n t e r c u l t u r a l i d a d e ,
c r u z a n d o o s d o i s t e m a s e m b u s c a d e u m a e d u c a ç ã o
i n t e r c u l t u r a l n a s a u l a s d e l í n g u a e s t r a n g e i r a , em e s pe c i a l d e
e s p a n h o l . C o m i s s o , d e s e j a - s e d e s e n v o l v e r a c e r c a d a
c o m p e t ê n c i a i n t e r c u l t u r a l e a c o m u n i c a ç ã o i n t e r c u l t u r a l ,
r e ss a l t a ndo a impo r t ânc i a do p ro f e sso r nesse p rocesso . Tudo
i s s o é a b o r d a d o p a r a q u e , p o r f i m , s e j a p r o p o s t o o u s o d e
U n i d a d e T em á t i c a d e b a s e i n t e r c u l t u r a l ( U T ) n a s a u l a s d e
e spanho l , d e a co r d o c om P a r aque t t ( 2 0 1 2 ) , a p r e s en t an do uma
UT com o tema ‚Gue r ra e V i o l ênc i a ‛ .
P a l a v r a s - c h a v e : I n t e r c u l t u r a l i d a d e . U n i d a d e t e m á t i c a .
Comun i c ação . Compe tênc i a i n t e r cu l t u r a l . E sp anho l c omo l í n g u a
es t range i r a .
R E F E R E N C I A S
BARNADAC, Mar i e -Laure . P i c asso , o sáb i o e o l ouco .
T raducc i ón de Ada l g i sa Campos da S i l v a . R i o de Jane i r o :
Ob j e t i va , 2008 .
COMUNICAC IÓN i n te rcu l t u ra l . I n : D ICC IONAR IO de té rm i nos
c l ave de ELE . Cen t ro V i r t ua l Ce rvan tes . I ns t i t u t o Ce rvan tes .
D i spon i b l e en : < h t t p : //cvc .ce rvan tes . es/ensenanza/
b i b l i o t eca_e le/d icc i o _e l e/d icc i ona r i o/comp i n te rcu l t . h tm > . Acceso
en : 7 ene . 20 14 .
GUERN ICA , 1 937 by Pab l o P i casso . Pab l o P i casso – Pa i n t i ngs , Quo tes , and B i og raphy . D i spon i b l e em : <h t t p : //
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
A L EX IA “MULH ER ” EM GA BR I E LA , C R AVO E CA N E LA E EM DONA F LOR E S EU S DO I S
MAR I DO S : UM E STUDO L ÉX I CO - S EMÂ NT I CO
Ne u s a S i l v e i r a C o r r e i a ( U E FS )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
s c n e u s a@ y a h o o . c om . b r
R e s umo : O p r e s e n t e t r a b a l h o p r o p õ e um a r e f l e x ã o s o b r e o
t r a t a m e n t o d i s c u r s i v o q u e é d a d o à m u l h e r , r e c o r r e n d o à
aná l i s e l i t e r á r i a dos r omances Gab r i e l a , c r avo e c ane l a e Dona F l o r e s e u s d o i s m a r i d o s , d o e s c r i t o r b a i a n o J o r g e Am a d o .
Ap resen t a - se um e s t u do cen t r ad o n a l e x i a ‚mu l h e r ‛ , con s i d e -
r ando que de t e rm i nados f a t o res soc i ocu l t u ra i s con t r i b uem par a
co l o c a r a mu l he r em uma s i t u ação de i n f e r i o r i d ade em re l a ç ão
ao homem , e na pe r spec t i v a de que uma ob r a l i t e r á r i a con t ém
i n f o rmaçõe s q u e n o s p e rm i t em c omp r e e nde r o modo d e v i d a
de uma de te rm i n ada época , cu j o s dados reve l am a mane i r a de
ag i r numa soc i edade e a sua va r i ação l i ngu í s t i c a .
Pa l av ras-chave : Léx i co . ‚Mu l he r ‛ . Aná l i se l i t e r á r i a .
1 I N T R O D U Ç Ã O
Cons i de rando que a l i t e r a t u ra re f l e te a cu l t u ra de um
povo , o gêne ro l i t e r á r i o ‚ romance ‛ pode reve l a r sen t imen tos ,
a tos e i de i as de uma soc iedade . A t ravés da l e i t u ra dos roman -
ces Gabr i e l a , c ravo e cane l a ( 1 978a ) e Dona F l o r e seus do i s mar i dos ( 1 978b ) , pode-se pe rcebe r o t r a t amento d i f e renc i ado
para a mu l he r , com uma l i nguagem que demons t ra o con f l i t o
en t re d i ve rsos g rupos , o r i g i nados po r vár i os aspec tos que
podem se r : en t re pob res e r i cos , p re t os e b rancos , a l t a e
ba i xa pos i ção soc i a l .
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
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Por t an to , p re tende -se es tuda r as l ex i as empregadas pa ra
a ‚mu l he r ‛ com aná l i ses baseadas na t eo r i a do campo l ex i ca l e
semân t i co . Es te es tudo t o rna -se re l evan te po rque , a t ravés da
l ex i a , podemos conhece r a h i s t ó r i a de um povo , sua f o rma de
pensa r e de ag i r que i den t i f i c am de te rm i nada época da v i da
humana . Nesse sen t i do , Andrade ( 2003 , p . 50 ) nos d i z que : ‚A
l í n gua é um p rodu to da ação humana , é a cond i ção fundamen -
t a l pa ra os t rês aspec tos na v i da soc i a l : i n t eg ração , cons t ru -
ção da h i s t ó r i a e reconhec imen to da i den t i dade cu l t u ra l de um
povo . ‛
Um dos mo t i vos pa ra u t i l i z a r as un i dades l ex i ca i s é o de
t a i s un i dades , a t r avés da l i nguagem ve rba l , de i xa rem marcas
p ro fundas na cu l t u ra de um povo , t r aduz i ndo seu mundo e sua
rea l i d ade soc i a l .
Segundo Que i roz ( 20 1 3 , p . 7 ) ,
O h omem a o n om e a r o s s e r e s e o s o b j e t o s q u e e s t ã o
à s u a v o l t a , o f e z a p a r t i r d o s f l u x o s s o c i a i s , c u l t u r a i s
e h i s t ó r i c o s . Q u a n d o s e e s t u d a a l í n g u a a p a r t i r d e
s e u u s o n o c o n t e x t o p o d e - s e r e c o n s t r u i r a s o c i e d a d e
a t r a v é s d o l é x i c o , o u s e j a , d e a c o r d o c om a q u i l o q u e
d e i x a t r a n sp a r e c e r a a n á l i s e l i n g u í s t i c a .
O co rpus u t i l i z ado pa ra es te es tudo fo i ex t r a í do dos
romances Gabr i e l a , c ravo e cane l a e Dona F l o r e seus do i s mar i dos , l ançados respec t i vamen te em 1 958 e 1 966 . A esco l ha
desses romances se deve ao f a t o de se rem obras com fo r te
c i r cu l ação nac i ona l e i n t e rnac i ona l e com uma l i nguagem d i sc r i -
m i na t ó r i a às mu l he res , em que a rep resen tação da mu l he r se
dá t ambém pe l a subo rd i nação f em in i na a c r i t é r i os mach i s t as . A
l i nguagem nos do i s romances t em um es t i l o s imp les , co l oqu i a l ,
popu l a r , com pe rsonagens das d i ve rsas c l asses soc i a i s e com
var i ações l i ngu í s t i c as nos p l anos d i as t r á t i cos e d i a tóp icos .
Na l e i t u ra desses do i s romances , f i c amos i n t e i r ados de
uma pa r t e da cu l t u ra no rdes t i na com a exp lo ração do vocabu -
l á r i o re t r a tado po r Amado ( 1 978 ) , a t r avés da f a l a e da cons t i t u -
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i ç ão de cada pe rsonagem . Na pe rspec t iva de que o l éx i co é
capaz de ras t rea r a ex i s t ênc i a humana e t odo o seu pe rcu rso
h i s t ó r i co -soc i a l , nes t e t r aba l ho f a r -se-á um l evan t amen to das
l e x i as re f e ren t es à ‚mu l he r ‛ u t i l i z adas nos romances , s i s t ema t i -
zando-as den t ro de um espaço e t empo e a t re l ando -as a uma
pesqu i sa dos s i gn i f i cados de cada l ex i a no d i c i oná r i o de
Fe r re i r a (2009 ) .
2 A L I N G U A G E M E A M U L H E R
Pe rcebemos que um dos e l ementos f o r ta l ecedo res da
re l ação en t re as pessoas é a comun icação , que pode se r
ve rba l ou não ve rba l , exp ressa a t r avés de uma l i nguagem , em
que ex te rna l i z amos nossas asp i r ações , nossas emoções e
nossos con f l i t os . No en t an to , em décadas passadas , em que
p reva l ec i a a soc i edade mach i s t a , a mu l he r não pod i a exp ressa r
t odos os seus sen t imentos , pensamen tos . Bas t ava à mu l he r
conco rda r com o que e ra d i t o pe l o homem, f osse o seu pa i , o
seu mar i do ou seu i rmão . Convém ressa l t a r que as d i f e ren tes
f o rmas de f a l a r en t re homens e mu l he res são co l ocadas pa ra
as pessoas desde a sua p r ime i r a i n f ânc i a .
Um fa t o que causa es t ranheza , a l ém da negação de f a l a
à mu l he r , e ram os t e rmos que e ram empregados pa ra re fe r i r -
se a e l a ou i nvocá - l a : quando es t a gozava de boa pos i ção
soc i a l , os t e rmos e ram d i r ec i onados pa ra uma mu l he r paca ta ,
sem voz , sem von t ades ; quando a mu l he r não gozava de boa
pos i ção soc i a l , e ram usados te rmos dep rec i a t i vos . Po r i sso ,
F i shman ( 20 10 , p . 3 1 ) r econhece que ‚a op ressão das mu l he res
na soc iedade é mo t i vo de p reocupação c rescen te , t an to em
á reas acadêm icas quan to na v i da co t i d i ana ‛ .
Lakof f ( 20 10 ) , ao desenvo lve r es tudos sob re o uso da
l i n guagem e as des igua l dades , adm i te que as mu l he res en f ren -
t am do i s t i pos de d i sc r im i nação l i ngu í s t i c a : no modo como são
ens i nadas a usa r a l i nguagem e no modo como são t r a t adas
no uso ge ra l da l i nguagem . Pa ra esse au tor , es tes do i s t i pos
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de d i sc r im i nação t endem a re l ega r as mu l he res a ce r t as
f unções subse rv i en tes como ob j e t o sexua l ou se rv iça l . Segun -
do Ecke r t e Mcconne l l -G i ne t ( 20 10 , p . 93 ) ,
p o r um l a d o , a l i n g u ag em t em s i d o v i s t a c om o s u p o r t e
d a d om i n â n c i a m a s c u l i n a ; p o r o u t r o l a d o , t em s i d o
c o n s i d e r a d a c omo um r e c u r s o p a r a a s m u l h e r e s q u e
r e s i s t em à o p r e s s ã o o u p e r s e g u em s e u s p r ó p r i o s
p r o j e t o s e i n t e r e s s e s .
2 . 1 A A T UA Ç Ã O D A M U L H E R N O R O M A N C E G A B R I E L A , C R A V O E CA N E L A
O romance Gabr i e l a , c ravo e cane l a é um re t r a t o do pe r í -
odo áu reo do cacau na reg i ão de I l héus -Bah i a . No seu en redo ,
desc revem-se a l t e rações p ro fundas na v i da soc i a l da Bah i a , na
década de 1 920 , com um fa t o no tó r i o : abe r tu ra dos po r tos de
I l héus aos g randes nav i os e o dec l í n i o dos co roné i s . A p ro t a -
gon i s t a Gab r i e l a é -nos ap resen t ada como mu l a t a , coz i nhe i r a ,
sem f am í l i a , sem v i rg i ndade , en t regue à p róp r i a so r t e . Embora
as pe rsonagens f em in i nas apa reçam no cen t ro das na r ra t i vas
como subm i ssas e m i t o sexua l , há mu l he res que se reve l am
como agen tes do p róp r i o dese jo , como Ma lv i na e Gabr i e l a , que
v i vem um con f l i t o en t re as reg ras impos t as pe l a soc iedade e a
âns i a de l i be rdade e t r ansg r i dem os cód i gos de uma soc i edade
pa t r i a rca l , a rca i ca , i n j us t a , au t o r i t á r i a e t rucu l en t a . Também há
um negat i v i smo em re l ação às neg ras e às mes t i ç as que
o fe recem seu co rpo como ob j e to de p raze r .
2 . 2 A A T U A Ç Ã O D A M U L H E R N O R O M A N C E D O N A F L O R E S E U S D O I S M A R I D O S
O romance Dona F l o r e seus do i s mar i dos desc reve os
cos tumes e a v i da no tu rna de Sa l vado r com seus cass i nos ,
ba res , caba rés , a cu l i n á r i a ba i ana , os r i t os do candomb l é e um
l aço a f e t i vo en t re po l í t i c os , dou to res , poe t as , a r t i s t as , p ros t i t u -
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t as e ma l and ros . A p ro t agon i s t a , Dona F l o r , r ep resen t a a
mu l he r rechonchuda , dona de casa e coz inhe i r a , assoc i ada à
cama e coz i nha e subm i ssa ao mar i do . Há pe rsonagens fem in i -
nas rep resen t adas po r neg ras , mu l a t as , p ros t i t u t as , com ca rac -
t e r í s t i c as nega t ivas para a soc i edade da época .
3 E S T U D O L É X I C O - S E M Â N T I C O
O l éx i co e o semânt i co são s i s t emas formadores da
l i ngu í s t i c a de um povo . O l éx i co t o rna -se amp l o , porque es t á
em cons t an te mod i f i c ação , e , pe l a d i nâm i ca da l í ngua , e l e evo l u i
em consequênc i a dos usos e desusos das pa l av ras , i s t o é ,
su rg imen to de novas pa l av ras , a l gumas com novos s i gn i f i ca -
dos .
B réa l ( 1 992 , p . 77 -78 ) p rocu ra i nves t i ga r po r que as pa l a -
v ras o r i g i nadas com ce r t o sen t i do mudam de s i gn i f i c ação com
tendênc i a ao pe j o ra t i vo , ao en f raquec imento , e reconhece que
a t endênc i a pe j o ra t i va ‚é o e fe i t o de uma d i spos i ção humana
que nos l eva a esconde r , a a t enua r , a d i s f a rça r as i de i as
desag radáve i s , o fens ivas ou repu l s i vas ‛ , mas ap resen t a ou t ra
causa : ‚Es t á na na tureza da ma l í c i a humana t e r p raze r em
encon t ra r um v í c i o ou um defe i t o po r de t rás de uma qua l i da -
de ‛ .
O semân t i co es t á i nser i do no l éx i co ge rando os s i gn i f i c a -
dos , a depende r do uso que se f az daque l e . Consequentemen -
t e , não te remos êx i t o em es tuda r a l í ngua num p rocesso d i co -
t ôm i co en t re o l éx i co e o semânt i co . Nesse sen t i do , va le cons i -
de ra r Po t t i e r ( 1 994 apud CARRE IRA , 1 994 ) , que , ao desenvo lve r
a t eo r i a semânt i c a g l oba l i z an te em Séman t i que géné ra l e ( 1 992 ) ,
ap resen t a a re l ação en t re os d i f e ren tes fenômenos e n í ve i s de
p rodução e i n te rp re t ação em l í nguas na tu ra i s , como a va r i ab i l i -
dade do n í ve l d i scu rs i vo p resen te nas ope rações de n í ve l
supe r i o r ( o n í ve l l i ngu í s t i co e o conce i t ua l ) , mos t rando que há
uma i n t e r - re l ação en t re a t eo r i a , a aná l i se l i ngu í s t i c a e os
compor t amen tos d i scurs i vos . Ao desc reve r sob re os s i gnos
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l i n gu í s t i cos , o au to r os ca rac t e r i za pe l a sua p l u r i -un i voc i dade ,
ou se j a , pe l a sua po l i v a l ênc i a , ao a f i rmar que a co r respondên -
c i a b i un í voca en t re um ‚s i gno ‛ e um ‚sen t i do ‛ não ex i s te em
nenhuma l í ngua (POTT IER , 1 994 apud CARRE IRA , 1 994 ) .
3 . 1 C A M P O L É X I C O - S E M Â N T I CO D E “ M U L H E R ” N O S
R O M A N C E S D E J O R G E A M A D O
Podemos adm i t i r que a l í ngua , a l ém de se r impor t an te
pa ra a v i da em soc iedade , é um e l emen to da i den t i dade de um
povo . Depo i s de ana l i s a rmos os romances , es t es f o ram ca tego -
r i zados em c i nco m ic rocampos re l a t i vos ao campo l éx i co -
semân t i co , que são : 1 . p ro f i ssão , 2 . ca rac te r í s t i c as f í s i c as , 3 .
pos i ção soc i a l , 4 . gêne ro e 5 . es t ado c i v i l ; que re t r a t am a
mu l he r em sua a t uação na cama , na coz i nha e na soc i edade .
Todas as l ex i as f o ram re t i r adas de aco rdo com a o rdem
em que apa recem nos romances e c i t adas a depende r do
m ic rocampo ao qua l pe r tencem . Segundo Souza ( 20 1 2 , p . 8 ) , a
p ropost a de es tudo do l éx i co é ana l i s a r o sen t i do que uma
pa l av ra pode adqu i r i r , a depende r de quem a usa e no momen -
to que se usa , po rque a l i nguagem recebe i n f l uênc i a d i r e t a do
me i o soc i a l em que é usada .
Pa ra me l ho r ap resen t ação dos dados ex t ra í dos dos
romances Gabr i e l a , c ravo e cane l a e de Dona F l o r e seus do i s mar i dos , as l ex i as que , sendo subs t an t i vo ou ad j e t i vo , es t a rão
em l e t r as ma i úscu l as e em negr i t o , no s i ngu l a r ; quando fo rem
ve rbo , es ta rão no i n f i n i t i vo , t ambém em l e t ras ma i úscu l as e em
negr i t o .
3 . 1 . 1 M i c r o c a m p o : P r o f i s s ã o
Nes te m i c rocampo es tão as l ex i as que des i gnam o t r a t a -mento d i spensado à mu l he r , a depende r do seu campo de a t uação , da sua a t i v i dade p ro f i ss i ona l , r emune rada ou não .
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COZINHE IRA – S . f . ‘mu l he r que sabe coz inha r , que f az d i sso
p ro f i ssão ’ .
‚ [ . . . ] l he hav i am f a l ado de uma ve l ha que fo ra coz i nhe i r a
ap rec i ada [ . . . ] ‛ (Gabr i e l a 1 , p . 63 ) .
GARÇONETE – s . f . ‘ empregada (ge ra lmente de cafés ) que
se rve à mesa ou ao ba l cão , t a l como os ga rçons ’ .
‚ [ . . . ] se não fossem te rm i na r ga rçone tes de ba res ou ca fés , no
f r e te dos pa t rões e dos f regueses , [ . . . ] pa ra o ho r ro r das ruas
de mu l he res -damas . ‛ (Dona F l o r 2 , p . 52 ) .
PROFESSORA – s . f . ‘mu l he r que ens i na ; mes t ra ’ .
‚ [ . . . ] j ama i s a amarga p ro fesso ra e sua gen te m i r r ada e enca r -
d i da [ . . . ] ( Dona F l o r , p . 79 ) .
3 . 1 . 2 M i c r o c a m p o : C a r a c t e r í s t i c a s F í s i c a s
Esse m i c rocampo re f e re -se às l ex i as u t i l i z adas pa ra qua l i -
f i c a r as mu l he res , se jam e l as boas ou ru i ns , denom inando -as
de aco rdo com a l gum t raço f í s i co ( como de fe i t o nos o l hos , pe l e
de co r escu ra , excesso de peso ) , ca rac te r í s t i c as cons i de radas
ano rma i s pa ra os va l o res da época .
CABOCL INHA – CABOCLO – s .m . ‘Mes t i ço de b ranco com í nd i o ’ ;
‘ de co r acob reada e cabe l os l i sos ’ .
‚ [ . . . ] as caboc l i nhas hum i l des nas pob res casas de rame i r as ,
nos povoados ‛ . (Gabr i e l a , p . 22 ) .
CABROCHA – S . 2 g . ‘Qua l que r mest i ço escu ro , de l áb i os
g rossos e cabe l o p i xa im ’ ; ‘mu l a t a j ovem ’ .
‚ E u h a v i a a p a l a v r a d o d u a s c a b r o c h a s p a r a a j u d a r
F i l omena . . . ‛ (Gabr i e l a , p . 58 ) .
CR IOULA – ad j . ‘ d i z -se de qua l que r i nd iv í duo da co r neg ra ’ .
‚ [ . . . ] And reza e ou t ras rea i s c r i ou l as fan t as i avam -se de damas
da co r te de Mar i a Anton i e t a [ . . . ] ‛ ( Dona F l o r , p . 85 ) .
FRANZINA – Ad j . ‘ F r ág i l ’ ; ‘ de t a l he f i no ’ .
‚As i rmãs Dos Re i s , a ro l i ç a Qu i nqu i na e a f r anz i na F l o rz i nha
[ . . . ] ‛ . (Gabr i e l a , p . 53 ) .
50
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
GORDA – ad j . ‘Que t em mu i t a go rdu ra ; que t em o tec i do ad i po -
so desenvo lv i do ’ .
‚Uma neg ra go rda , um to rso na cabeça , co l a res e pu l se i r as ,
t o rceu o na r i z : [ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 6 1 ) .
‚ [ . . . ] no cas t e lo de Car l a , a ‚go rda Car l a ‛ , compe ten te
[ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 32 ) .
MAGRA – ad j . ‘ f a l t a de t ec i do ad i poso . ’
[ . . . ] Magnó l i a ou de M i r t es , l ogo a magra e sonsa Inês [ . . . ]
(Dona F l o r , p . 297 ) .
MEST IÇA – ad j . ‘ p roven i en te do c ruzamen to de raças
d i f e ren tes ’ .
‚ [ . . . ] que n i nguém nos ouça mest i ç as da ma i s f i na e be l a mu l a -
t a r i a . ( Dona F l o r , p . 54 ) .
NEGR INHAS – S . f . d im i nu t i vo de neg ra – S . f . ‘ P l an t a he rbácea ’ .
NEGRA – mu l he r de raça neg ra .
‚ [ e ra j oga r pôque r e pega r neg r i nhas no mor ro da Conqu i s t a ] ‛ .
(Gabr i e l a , p . 5 1 ) .
‚Es t ão de l u to os j ogado res e as neg ras da Bah i a . ‛ ( Dona F l o r , p . 32 ) .
‚Con te , meu b ranco , não f i que j u ru ru , sua neg ra es t á aqu i pa ra
l he ouv i r e conso l a r . ‛ (Dona F l o r , p . 78 ) .
ROL IÇA - Ad j . ‘Que t em fo rma de ro l o ’ ; go rdo , che i o de
ca rnes ’ .
‚As i rmãs Dos Re i s , a ro l i ç a Qu i nqu i na e a f r anz i na F l o rz i nha
[ . . . ] ‛ . (Gabr i e l a , p . 53 ) .
ZAROLHA – Ad j . ‘Cego de um o l ho ’ ; ‘ e s t r áb ico ’ ; ‘ c ao l ho ’ .
‚ [ . . . ] àque l a za ro l ha nova que sa i u com e le ‛ . (Gab r i e l a , p . 29 ) . 3 . 1 . 3 M i c r o c a m p o : P o s i ç ã o S o c i a l
As l ex i as expos t as nesse m ic rocampo se rvem para qua l i -
f i c a r as mu l he res , a depende r da sua pos i ção soc i a l , desde a mu l he r da a l t a pos i ção soc i a l como as mães de f am í l i a de a l t o pode r aqu i s i t i vo , mu l he res r i c as , a t é aque l as cons i de radas de pos i ção soc i a l i n fe r i o r , como as pob res e as mere t r i zes que so f r i am uma fo r te d i sc r im i nação .
51
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
AMANTE – ad j . ‘Que ama ; pessoa que tem com ou t ra re l ações
ex t rama t r imon i a i s ’ .
‚ [ . . . ] – R e p a r em ne l a s . . . S ã o aman t e s . . . – I n f o rmou
Vad i nho . ‛ (Dona F l o r , p . 1 60 ) .
DESCARADA – ad j . s . f . ‘ desave rgonhada , impuden te , a t rev i da ’ .
‚Mu l he r que se mete a dou to ra é mu l he r desca rada , que que r
se pe rde r . ‛ (Gabr i e l a , p . 2 1 7 ) .
DONZELA – s . f . ‘mu l he r moça nob re ; v i r gem ’ .
‚ [ . . . ] nenhum comparáve l ao caso com a donze l a Noêm i a
[ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 27 ) .
‚ [ . . . ] F l o r de i xa ra de se r moça donze l a e só o ma t r imôn i o l he
res t i t u i r i a a hon ra [ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 93 ) .
MÃES DE FAMÍL IA – s . f . ‘mu l he r casada e com f i l hos ’ .
‚ _ A j uven tude es tud iosa , as fu t u ras mães de f am í l i a , I r acema ,
He l o í sa , Zu l e i c a , Ma l v i na . . . ‛ (Gabr i e l a , p . 1 63 ) .
MANCEBA – s . f . ‘mu l he r nova ; mu l he r amancebada ; aman te ’ .
‚ [ . . . ] En f á t i c a e i nsu l t ada ( em seu reca to , em sua hon ra de
manceba sé r i a ) , [ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 189 ) .
MULHER-DAMA – s . f . ‘me re t r i z ’ .
‚ [ . . . ] você pa rece não en t ende r que esposa não é mu lhe r
dama . (Gab r i e l a , p . 287 ) .
‚ – A senhora f a l a como se eu fosse mu l he r -dama pa ra med i r
os homens pe l o d i nhe i r o . . . ‛ (Dona F l o r , p . 62 ) .
MULHER DA V IDA – s . f . ‘me re t r i z ’ .
‚ [ . . . ] ca r regado res , homens do mar , mu l he res da v i da
[ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 1 6 ) .
‚ – Não sou senhora nenhuma , sou mu l he r -da-v i da e ma i s
nada . ‛ (Dona F l o r , p . 1 24 ) .
MULHER DA ZONA – s . f . ‘me re t r i z ’
‚ [ . . . ] os f i l hos das mu lhe res da zona , sem pa i e sem l a r . ‛ ( Dona F l o r , p . 1 14 ) .
PERD IDA – s . f . ‘me re t r i z ’ .
‚Bas t a ve r qua lque r moça passeando soz i nha com um rapaz e
l ogo d i z que é uma perd i da . . . ‛ ( Dona F l o r , p . 82 ) .
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PUTA – s . f . ‘mu l he r devassa , l i be r t i na ’ .
‚ [ . . . ] pu t as sem pouso , f az i am sua cama de amor na p ra i a
[ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 2 1 5 ) .
‚ [ . . . ] Wa l dom i ro dos San tos Gu imarães , Vad inho pa ra as pu t as
e os am igos? ‛ (Dona F lo r , p . 3 1 ) .
PUT INHA – s . f . ‘ d im i nu t i vo de pu t a ’ .
‚ [ . . . ] Noêm ia , put inha de fam í l i a respe i táve l , [ . . . ] ‛ ( Dona F lor , p . 27 ) .
QUENGA – s . f . ‘ chu l o , me re t r i z ’ .
‚ [ . . . ] consegu i r i a e l e um t roço v i s t oso como uma quenga da
zona? ‛ (Dona F l o r , p . 106 ) .
RAME IRA – s . f . ‘me re t r i z ’
‚ [ . . . ] as caboc l i nhas hum i l des nas pob res casas de rame i r as ,
nos povoados ‛ . (Gabr i e l a , p . 22 ) .
‚ [ . . . ] deboches com sono l en t as rame i r as , em ge ra l mu i t o j ovens
[ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 1 14 ) .
RAPAR IGA – s . f . ‘mu lhe r nova ’ ; ‘ p ros t i t u t a ’ .
‚Rapa r i ga sua e ra t r ancada em casa , [ . . . ] sem d i re i t o a am iza -
des , a v i s i t as ‛ . (Gabr i e l a , p . 107 ) .
‚ [ . . . ] pensa que a gen te , po rque é rapa r i ga e v i ve nessa v i da
a t roz [ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 1 2 3 ) .
SENHORA – s . f . ‘ dona de casa , esposa , mu l he r ’ .
‚Como imag i na r a senhora Saad na f ren t e do t e rno
[ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 296 ) .
SERVA – s . f . ‘ c r i ada , empregada ; mu l he r abso l u t amente su j e i t a
a ou t rem ’ .
‚ [ . . . ] onde a mu l he r não t i nha nenhum d i r e i t o , se rva c i r cunsc r i t a
à von t ade do mar i do , seu senhor , [ . . . ] ‛ ( Dona F l o r , p . 206 ) .
S IR IGA ITA – s . f . ‘mu l he r des i n i b i da e namorade i r a ’ .
‚ [ . . . ] não é dessas s i r i ga i t as que só pensam em c i nema e em
dança . . . ‛ (Gabr i e l a , p . 59 ) .
‚ [ . . . ] desde o caso com a s i r iga i ta da Noêmia [ . . . ] ‛ (Dona F lor , p . 27 ) .
TEÚDA – ad j . ‘Concub i na t eúda e man teúda ; mu l he r que v i ve
com um homem com quem não é l ega lmente casada . ’
‚ [ . . . ] as teúdas e manteúdas e as esco te i r as , os co roné i s do
cacau , do gado , [ . . . ] ‛ (Dona F l o r , p . 1 58 ) .
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VAGABUNDAS – s . f . ‘ v i da e r ran te ; vad i a . ’
‚ [ . . . ] com ce r teza no l e i t o das vagabundas , de an t i gos e reno -
vados xodós ; que rendo vad i a r [ . . . ] ‛ ( Dona F l o r , p . 108 ) .
3 . 1 . 4 M i c r o c a m p o : G ê n e r o
Es te m i c rocampo é compos to pe l as l ex i as re fe ren tes ao gêne ro fem in i no , às vezes com te rmos re f e ren tes a an ima l .
FÊMEA – s . f . ‘Qua l que r an ima l do sexo f em in i no ’ ; ‘mu l he r ’ ;
‘mu l he r sensua l ’ ; ‘ concub i na ’ ; ‘me re t r i z ’ .
‚Os co roné i s do cacau não p r imavam pe l a re l i g i os i dade [ . . . ] ,
de i xando essas f r aquezas pa ra as fêmeas da f am í l i a . ‛ ( Gabr i e l a , p . 15 ) .
‚ [ . . . ] como se e l a [ . . . ] f osse a ma i s be l a e ape tec í ve l fêmea da
Bah i a , ún i ca capaz de sac i a r [ . . . ] ‛ ( Dona F l o r , p . 94 ) .
MULHER IO – s . m . ‘mu l t i d ão de mu l he res . As mu l he res ’ .
‚O mu l he r i o aqu i es t á me l ho rando , não há dúv i da ‛ . ( Gabr i e l a , p .
78 ) .
VACA – s . f . ‘A f êmea do t ou ro ; mu l he r l ev i ana que ace i t a
qua l que r homem ’ .
‚ – Uma vaca . . . Pa ra e l e t odas as mu l he res não passam
d i sso . . . ‛ (Dona F l o r , p . 204 ) .
3 . 1 . 5 M i c r o c a m p o : E s t a d o C i v i l
Nes te m ic rocampo , es t ão as l ex i as re f e ren tes ao es t ado
c i v i l da mu l he r , a qua l f i c ava sendo d i sc r im i nada se não conse -
gu i sse se casa r enquan to j ovem , sendo renegadas ou co l oca -
das em conven to aque l as que não ace i t avam casamen to enco -
mendado (no i vo esco l h i do pe l os pa i s , sem a ap rovação da
no i va ) .
CASADA – ad j . ‘ aque l a que se casou ’ .
‚ [ . . . ] é acha r que mu l he r casada tem o d i re i t o de enganar o
mar i do . ‛ (Gabr i e l a , p . 105 ) .
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CASADOURA – Ad j . ‘ que es t á em idade de casa r ’ ; que p re t en -de casa r ’ . ‚ [ . . . ] sem o l ha r d i r e i t o pa ra moça so l t e i r a , casado i r a . ‛ ( Gabr i e l a , p . 1 89 ) . ESPOSA – s . f . ‘mu l he r ( em re l ação ao mar i do ) ’ . ‚ [ . . . ] as esposas i ndo às f azendas apenas pe l as f é r i as [ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 2 1 ) . SOLTE IRONA – ad j . S . m . ‘mu l he r madura ou ve l ha que a i nda não se casou ’ . ‚As so l t e i r onas numerosas , em to rno à imagem de San ta Mar i a [ . . . ] ‛ (Gabr i e l a , p . 1 6 ) . SOLTE IRA – S . f . ‘mu l he r que a i nda não se casou ’ . ‚Com t an t a moça so l t e i r a na c i dade ‛ . (Gabr i e l a , p . 59 ) . VIÚVA – s . f . ‘mu l he r a que mor reu o mar ido e não vo l t ou a casa r -se ’ . ‚ [ . . . ] as l ág r imas assomaram aos o l hos da jovem v i úva . ‛ ( Dona F l o r , p . 1 8 ) .
4 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
Es te t r aba l ho , ao f undamen ta r -se na t eo r i a dos campos
l ex i ca i s e semân t i cos , poss i b i l i t ou aden t ra r pe l o amb ien te
l i ngu í s t i co de um povo no rdes t i no e de i xou t r anspa rece r a
d i sc r im i nação con t ra a mu l he r , um f a t o que merece rep rova -
ção , po rque a mu l he r , não sendo i n f e r i o r ao homem , tem o
d i r e i t o de v i ve r d i gnamen te em qua l que r soc i edade .
Es t uda r a l i nguagem em Gabr i e l a , c ravo e cane l a é pene -
t r a r em um un i ve rso l i ngu í s t i co d i ve rs i f i c ado da reg i ão cacaue i -
r a , uma d i ve rs i dade resu l t an te da popu l ação de vá r i as camadas
soc i a i s , como os j agunços , os t r aba l hadores de cacau , as
p ros t i t u tas , engenhe i ros , j u í zes , advogados , mascat es , ca i xe i r os
-v i a j an t es en t re ou t ras , e de f a t o res geográ f i cos , com a
chegada de pessoas de vá r i as l oca l i d ades pa ra I l héus na
década de 1 920 como : Cea rá , Se rg i pe , A l agoas , Rec i f e , R i o de
Jane i r o , Bah i a , S í r i a , I ng l a t e r ra , L í bano , Espanha en t re ou t ras
(ANDRADE , 2003 ) .
55
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
Em Dona F l o r e seus do i s mar i dos , é na r rada a v i da
no tu rna de Sa lvado r com seus cass i nos , caba rés , candomb l é e
a re l ação de p rox im i dade en t re po l í t i c os , dou to res , ma l and ros ,
poe t as e p ros t i t u t as e , nesse con tex to , a mu l he r t ambém é
d i sc r im i nada .
Cons i de rando que a t r avés da f a l a podemos pe rcebe r
pa r t e da cu l t u ra de um povo e que a l i nguagem é pessoa l ,
i n t e rsub j e t i va e pa r te da h i s t ó r i a do homem , nosso es tudo
cen t rou -se na l ex i a ‚mu l he r ‛ , na ten t a t i va de en t ende r a d i ve r -
s i dade l i ngu í s t i c a que a l gumas das pe rsonagens dos romances
Gabr i e l a , c ravo e cane l a e Dona F l o r e seus do i s mar i dos u t i l i -
zam ao se comun i ca r com uma mu l he r , nos d i ve rsos momen tos
da v i da co t i d i ana , numa soc iedade e l i t i s t a , mach i s t a e p recon -
ce i t uosa . Pe rcebe -se que a imagem da negra e da mu l a t a , ao
assum i rem o pape l de mucama e a l gumas vezes de ob j e to
sexua l , r eme te a um passado de subm i ssão , re j e i ç ão , hum i l ha -
ção e desva l o r i zação .
R e s u m e n : E s t e t r a b a j o p r o p o n e u n a r e f l e x i ó n s o b r e e l
t r a t am i e n t o d i s c u r s i v o q u e e s d a d o a l a m u j e r a p a r t i r d e l
a n á l i s i s l i t e r a r i o d e l o s r om anc e s G a b r i e l a , c l a v e l y c an e l a y D õ n a F l o r y s u s d o s m a r i d o s d e l e s c r i t o r J o r g e A m a d o .
P r e s e n t a u n e s t u d i o d e sde l a l e x í a ‚mu j e r ‛ c o n s i d e r a n do q ue
de t e rm i n ado s f ac t o r e s soc i o cu l t u r a l e s con t r i b u yen p a r a pone r
l a mu je r en una s i t u ac i ón de i n f e r i o r i d ad en re l ac i ón a l hombre ,
y e n l a p e r s p e c t i v a d e q u e u n a o b r a l i t e r a r i a c o n t i e n e
i n f o rmac i o n e s qu e nos p e rm i t e n c omp re nde r e l modo d e v i d a
de una de t e rm i n ada época cuyos da t os demues t r an l a mane r a
de ac tua r en una soc iedad y su va r i ac i ón l i ngü í s t i c a
Pa l ab ras-c l ave : Léx i co . Mu je r . Aná l i s i s l i t e r a r i o .
R E F E R Ê N C I A S
AMADO, Jo rge . Gab r i e l a , c ravo e cane l a : c rôn i ca de uma
c i dade do i n te r i o r . R i o de Jane i r o : Reco rd , 1 978 .
56
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
_ _ _ _ _ _ . Dona F l o r e seus do i s mar i dos : h i s t ó r i a mora l e de
amor : romance . R i o de Jane i r o : Reco rd , 1 978 .
ANDRADE , Tadeu Luc i ano S i que i r a . As f r ases f e i t as em
Gabr i e l a , um es tudo l éx i co -semân t i co . I n : CONGRESSO
NAC IONAL DE L INGUÍST ICA E F ILOLOGIA , 7 . , 2003 . R i o de
Jane i r o , Ana i s . . . R i o de Jane i r o : UERJ , 2003 , p . 50 -62 .
BRÉAL , M i che l . Ensa i o e semân t i c a : c i ênc i a das s i gn i f i c ações .
T radução de A í da Fe r rás e t a l . São Pau l o : EDUC , 1 992 .
CARRE IRA , Mar i a He l ena Araú jo . Pa ra uma le i t u ra gu i ada de
Sémant i que Géné ra l e de Be rna rd Po t t i e r , com adap t ações ao
po r t uguês . L í nguas e L i t e ra t u ras , Po r to , sé r i e I I , v . X I , 1 994 . p .
1 47 - 1 80 .
ECKERT , Pene l ope ; MCCONNELL -G INET , Sa l l y . Comun i dades de
p rá t i c as : l uga r onde co -hab i t am l i nguagem , gêne ro e pode r . I n :
OSTERMANN , Ana Cr i s t i na ; FONTANA, Bea t r i z . L i nguagem . Gêne ro . Sexua l i dade : c l áss i cos t r aduz i dos . São Pau l o : Pa rábo l a
Ed i t o r i a l , 20 10 . p . 93 - 108 .
FERRE IRA , Auré l i o Bua rque de Ho l anda . Novo d i c i oná r i o Auré l i o da l í ngua po r t uguesa . 4 . ed . Cu r i t i b a : Ed . Pos i t i vo , 2009 .
F I SHMAN , Pame l a . O t raba l ho que as mu l he res rea l i z am nas
i n t e rações . I n : OSTERMANN , Ana Cr i s t i na ; FONTANA , Bea t r i z .
L i nguagem . Gêne ro . Sexua l i dade : c l áss i cos t raduz i dos . São
Pau l o : Pa rábo l a Ed i t o r i a l , 20 10 . p . 3 1 -47 .
LAKOFF , Rob i n . L i nguagem e l uga r da mu l he r . I n : OSTERMANN ,
Ana Cr i s t i na ; FONTANA, Bea t r i z . L i nguagem . Gêne ro . Sexua l i dade : c l áss i cos t r aduz i dos . São Pau lo : Pa rábo l a Ed i t o r i a l ,
20 10 . p . 1 3 -30 .
57
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 4 3 - 5 7 , 2 0 1 5
QUE IROZ , R i t a de Cáss i a R i be i r o de . Au tos de de f l o ramen to : um
es tudo l éx i co -semân t i co de documen tos c í ve i s do i n í c i o do séc .
XX . 2009 . D i spon í ve l em : <www.ue f s .b r/co l p l e t / rev i s t a/
ed0 1 _ 1 02009/ar t i gos/ar t i go _02 . pd f > . Acesso em : 30 ou t . 20 13 .
SOUZA, Môn i ca de O l i ve i r a . O l éx i co de um au to de de f l o ramen to : t en t a t i va de resga t e da cu l t u ra de um povo .
20 12 . Monogra f i a (G raduação em Le t ras – L í ngua Po r t uguesa e
L i t e ra t u ras ) – Un ive rs i dade do Es t ado da Bah i a , Conce ição do
Co i t é , 20 12 .
N O T A S 1 N a s l e x i a s c a t e g o r i z a d a s , i d e n t i f i c a - s e o r o m a n c e G a b r i e l a c r a v o e
c a n e l a po r ‚Gab r i e l a ‛ . 2 N a s l e x i a s c a t e g o r i z a d a s , i d e n t i f i c a - s e o r o m a n c e D o n a F l o r e s e u s
d o i s M a r i d o s po r ‚ Do n a F l o r ‛ .
Env i ado em : 1 1/03/20 14 .
Aprovado em : 22/06/20 15 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
CO NS I D E RA ÇÕ E S SO B R E O VO CA BULÁR I O
R EG IO NA L NA O BRA V I DAS S ECA S D E
G R A C I L I A NO RAMO S
Ad r i e l e C o u t i n h o d e O l i v e i r a 1 ( U E F S )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
o l i v e i r a _ a d r i e l e @ h o tm a i l . c om
R i t a d e C á s s i a R i b e i r o d e Qu e i r o z ² ( O r i e n t a d o r a )
D e p a r t am e n t o d e L e t r a s e A r t e s ( D LA /UE F S )
r c r q u e i r o z @ u o l . c om
R e sumo : A f i n a l i d a d e d e s t e t r a b a l h o é a n a l i s a r o v oc abu l á r i o
r e g i o n a l c o n s t a n t e n a c e n t é s im a dé c im a n on a e d i ç ã o d o l i v r o
V i d as Secas , de G rac i l i a no Ramos . Como embasamen to t e ó r i c o
são u t i l i z ados os pos tu l ados de Cose r i u ( 1 986 [ 1 977 ] ) , B i de rman
( 1 978 , 1 9 98 ) , U l lm ann ( 1 9 64 ) , d en t r e ou t r o s . F o r am se l ec i o nadas
l e x i a s p e r t i n e n t e s a o mac r o c ampo l e x i c a l d a g e o g r a f i a e d a s
p es so as . A an á l i s e d as l e x i a s do voc abu l á r i o r e g i o na l pe rm i t e
c om p r e e n d e r a r e a l i d a d e d o s p e r s o n a g e n s d a o b r a , i s t o é ,
r e v e l a a í n t i m a r e l a ç ã o e n t r e h om em e am b i e n t e . Em V i d a s S e c a s , a p a l a v r a é emp r e g a d a c om j u s t e z a e r i g o r , uma v e z
q u e o a u t o r p o s s u i um a e s c r i t a r í g i d a . R am o s ( 2 0 1 2 [ 1 9 3 8 ] )
t ema t i z a a m i s é r i a s o c i a l d e uma f am í l i a e xp l o r a d a p o r i n d i v í -
du os de d i f e r en t e s g rupos soc i a i s e que ap r e sen t a , no voca -
bu l á r i o , a du reza que o amb ien te as p ropo rc i ona .
Pa l av ras-chave : Lex i co l og i a . Vocabu l á r i o reg i ona l . V idas Secas .
D e ve - s e e s c r e v e r d a m e sm a m an e i r a c omo a s l a v a -
d e i r a s l á d e A l a g o a s f a z em s e u o f í c i o . E l a s c omeç am
c om um a p r i m e i r a l a v a d a , m o l h am a r o u p a s u j a n a
b e i r a d a l a g o a o u d o r i a c h o , t o r c em o p a n o , m o l h am -
n o n ov am en t e , v o l t am a t o r c e r . D e p o i s e n x á g u am , d ã o
m a i s um a m o l h a d a , a g o r a j o g a n d o a á g u a c om a m ã o .
B a t em o p a n o n a l a j e o u n a p e d r a l i m p a , e d ã o m a i s
um a t o r c i d a e m a i s o u t r a , a t é n ã o p i n g a r d o p a n o um a
s ó g o t a . S om en t e d e p o i s d e f e i t o t u d o i s s o é q u e e l a s
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
60
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
p e n d u r am a r o u p a l a v a d a n a c o r d a o u n o v a r a l , p a r a
s e c a r . P o i s q u em s e m e t e a e s c r e v e r d e v i a f a z e r a
m e sm a c o i s a . A p a l a v r a n ã o f o i f e i t a p a r a e n f e i t a r , b r i l h a r c om o o u r o f a l s o ; a p a l a v r a f o i f e i t a p a r a d i z e r . 3
1 I N T R O D U Ç Ã O
A l i nguagem man i fes ta -se na f a l a e na esc r i t a po r me i o
da pa l av ra . É a t r avés de l a que conc re t i zamos nossos pensa -
mentos , exp ressamos a nossa pe rcepção de mundo e d i vu l ga -
mos as espec i f i c i dades p resen tes na rea l i d ade de g rupos
popu l ac i ona i s . Essas pa l av ras que compõem o ace rvo l ex i ca l
de dada comun i dade l i ngu í s t i ca f azem par te da cu l t u ra de seus
u t en tes , uma vez que rep resen t am toda a expe r i ênc i a de v i da
dos usuá r i os da l í ngua . Pa ra B i de rman ( 1 998 , p . 88 , g r i f o do
au to r ) , ‚ é a pa r t i r da pa l av ra que as en t i dades da rea l i d ade
podem se r nomeadas e i den t i f i cadas . A denom inação dessas
rea l idades cr ia um un iverso s ign i f i cat ivo reve lado pe la l i ngua gem. ‛
O l éx i co rep resen ta o conhec imento da soc i edade acumu -
l ado ao l ongo do tempo , e l uc i da a cu l t u ra de um povo . Seu
es tudo , po r me i o da l ex i co l og i a , p ropo rc iona o acesso à rea l i -
dade dos usuá r i os da l í ngua . Ass im , o l éx i co f unc i ona como
uma espéc ie de espe l ho soc i a l sob re o qua l se re f l e te t oda a
h i s t ó r i a humana . B i de rman ( 1 978 , p . 1 55 ) a f i rma que ‚ [ . . . ] o
l é x i co eng l oba t odo o un i ve rso da s i gn i f i c ação , o que i nc l u i
t oda a nomenc l a tu ra e i n t e rp re t ação da Rea l i d ade . ‛
Essa r i queza vocabu l a r é p rese rvada pe l a human i dade na
esc r i t a : seu es tudo a t r avés de ob ras l i t e r á r i as , pe r i ód i cos ,
documentos , den t re ou t ros , exp r ime t oda a cu l t u ra , cos tumes e
háb i t os de uma comun i dade . É po r i sso que , a pa r t i r da esc r i t a ,
o homem pode reg i s t ra r seus f e i t os , l i v r ando -os da obscu r i da -
de . A tua lmen te , f i l ó l ogos e l ex i có l ogos rea l i z am suas pesqu i sas
u t i l i z ando como co rpo ra t ex t os esc r i t os e imp ressos que
r emon tam a d i ve rsas á reas e momen tos h i s tó r i cos .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
Ass im , o estudo lex ico lóg ico em obras l i t e rá r ias de grande
importânc ia para o pa ís demonst ra toda a r iqueza cu l tu ra l e
h is tór ica que o autor preserva em sua escr i ta . Obras como V idas Secas , de Grac i l i ano Ramos, d i l a t am as f ragmentações ocorr idas
em reg iões do pa ís , reve lando a des i gua ldade e as cond ições de
v ida de um povo esquec ido à margem da soc iedade .
2 G R A C I L I A N O R A M O S E A O B R A V I D A S S E C A S
O romance V i das Secas , pub l i c ado pe l a p r ime i r a vez em
1 938 , re t r a t a uma f am í l i a de re t i r an tes que l u t a pe l a sob rev i -
vênc i a em p l eno se r tão . Os cap í t u l os que compõem a ob ra
possuem ce r t a au tonom i a , en f a t i zando cada i n t eg ran te da
f am í l i a ( i nc l us i ve a cachor ra Ba le i a ) em cap í t u l os sepa rados , o
que reaf i rma a sensação de so l i d ão ex i s ten te . O amb ien te rude
e seco se confunde com as ca rac te r í s t i c as desses su j e i t os .
Dessa fo rma , l eva r em cons i de ração o amb i en te no qua l
es t ão s i t uados esses i nd i v í duos é de suma impor t ânc i a pa ra o
en tend imen to do uso do l éx i co reg i ona l na ob ra . Pa ra U l lmann
( 1 964 , p . 1 06 ) , ‚o es tudo de qua l que r l í ngua , f a l ada po r um
povo que v i ve em cond i ções d i f e ren tes das nossas e possu i
uma cu l t u ra d i f e ren te , deve se r conduz i do s imu l t aneamen te
com o es tudo da sua cu l t u ra e do seu me i o amb i en te . ‛
No B ras i l , é poss í ve l obse rva r g randes con t ras tes , os
qua i s reve l am uma popu l ação com cu l t u ras , re l i g i ões e cos tu -
mes d i ve rs i f i c ados , que i n f l uenc i a e recebe a i n f l uênc i a do
me i o a que pe r tence . Em V idas Secas , a f am í l i a de Fab i ano l u t a
pe l a sob rev i vênc i a em uma reg i ão seca , hab i t ada po r an ima i s
de g rande e pequeno po r te e po r uma vege t ação com p l an t as ,
na ma i o r i a das vezes , pe r tencen tes à f am í l i a cac t aceae . Esses
e l emen tos que rode i am o g rupo de re t i r an tes f o ram de l im i t ados
a t r avés do es tudo l ex i co l óg ico que expõe a r i queza vocabu l a r
encon t rada na ob ra de Grac i l i ano Ramos .
O en redo começa com a busca dos re t i ran t es po r um
l uga r pa ra mora r . Após a p rocu ra desespe rada , a qua l resu l t a
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
na mor t e do papaga i o , t endo nes t e a ún i ca f on te de a l imen to ,
os se r t ane j os encon t ram uma f azenda abandonada . Ne l a , veem
um s i na l de espe rança pa ra uma v i da me l ho r . Obse rva -se , ao
l ongo da t r ama , a exp l o ração p ra t i cada por pessoas de d i f e -
ren tes c l asses soc i a i s con t ra essa f am í l i a , que , v í t ima da m i sé -
r i a , vê -se impo ten t e d i an t e das i n j us t i ç as .
Nessa conf i gu ração , o na r rado r assume o pape l de
denunc i ado r das maze l as . Dev i do à pob reza vocabu l a r das
pe rsonagens , e l e passa a desenhar a du ra rea l i d ade v i v i da po r
pessoas que , d i sso l v i das a s imp l es sob rev i vênc i a , ace i t am a
exp l o ração e a des i gua l dade como f ado :
F a b i a n o c a i u d e j o e l h o s , r e p e t i d ame n t e um a l âm i n a d e
f a c ã o b a t e u - l h e n o p e i t o , o u t r a n a s c o s t a s . Em s e g u i -
d a a b r i r am um a p o r t a , d e r am - l h e um s a f a n ã o q u e o
a r r em e s s o u p a r a a s t r e v a s d o c á r c e r e . A c h a v e t i l i n -
t o u n a f e c h a d u r a , e F a b i a n o e r g u e u - se a t o r d o a d o ,
c am b a l e o u , s e n t o u - s e n um c a n t o [ . . . ] . ( R AMOS , 2 0 1 2
[ 1 9 3 8 ] , p . 3 1 ) .
É poss íve l no t a r a cond i ção de op r im i do da pe rsonagem
Fab i ano , que , após se r p reso i n j us t amen te , de ce r t a f o rma ,
ace i t a o abuso de pode r ; e l e se subme te aos maus t r a t os de
seu a l goz . A Fab i ano é negado o d i r e i t o de de fesa . O que l he
res t a é apenas o s i l ê nc i o e um can to no cárce re . Ramos ( 20 12
[ 1 9 38 ] ) exp l o ra , dessa mane i r a , a impotênc i a do pe rsonagem
que nada pode f aze r d i an t e das i n j us t i ç as so f r i das .
A cachor ra Ba l e i a , uma das i n t eg ran tes desse g rupo de
r e t i r an tes , ca r rega em s i as emoções e dese jos que f a l t am ao
res t an t e . Sua imag i nação v i vaz reacende a vont ade em me l ho -
ra r de v i da , escapa r das d i f i c u l dades . A cade l a ressoa em
seus pensamentos a pe rp lex i dade d i an te das ba r re i r as , seus
mov imen tos e i de i as con t ras t am com a s i t uação que l he é o fe -
rec i da . No cap í t u l o que l eva o seu nome , Ba l e i a sonha enquan -
t o agon i za ; e l a t r ansm i te ao l e i t o r emoções que seus donos
não fo ram capazes de exp ressa r :
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
B a l e i a q u e r i a d o rm i r . A c o r d a r i a f e l i z , n um mu nd o c h e i o
d e p r é a s . E l am be r i a a s m ã o s d e F a b i a n o , um F a b i a n o
e n o rme . A s c r i a n ç a s s e e s p o j a r i am c om e l a , r o l a r i am
c om e l a n um p á t i o e n o rme , n um c h i q u e i r o e n o rme . O
m u nd o f i c a r i a t o d o c h e i o d e p r é a s , g o r d o s , e n o rm e s .
( R AMOS , 2 0 1 2 [ 1 9 3 8 ] , p . 9 1 ) .
D i an te de s i t uações adve rsas , a f am í l i a se sen te ob r i gada
a f ug i r da seca . Em busca de uma v i da me l ho r , a ob ra se
ence r ra com o cap í t u l o i n t i t u l ado ‚ Fuga ‛ , o qua l de i xa em abe r -
t o a poss i b i l i d ade de um f i na l f e l i z pa ra os se r t ane j os . Tuf ano
( 1 995 , p . 259 ) ac red i t a que as ob ras de Ramos , ‚a i nda que se
r e f i r am a p rob l emas soc i a i s do No rdes t e b ras i l e i r o , não se
esgo t am nessa pe rspec t i va reg i ona l i s t a , po i s ap resen t am uma
v i são c r í t i c a das re l ações humanas que as to rna un i ve rsa i s . ‛
3 G R A C I L I A N O R A M O S , V I D A S S E C A S E O P O D E R D A
P A L A V R A
As ob ras l i t e r á r i as exp ressam , de ce r t a f o rma , a sub j e t i -
v i dade do au to r , a sua v i são de mundo . A t ravés do l i v ro V i das Secas , G rac i l i ano Ramos reve l a uma soc i edade des i gua l ,
marcada pe l a seca . A du reza do amb ien te , ca rac te r i zado pe la
m i sé r i a e f ome , f unde -se com o ca rá te r das pe rsonagens que
exp ressam em suas f a l as escassas as d i f i c u l dades que o
amb i en te o fe rece . Fab i ano e sua f am í l i a não de têm a hab i l i d ade
de exp ressa r com pa l av ras a sua cond ição de v i da e as i n j us -
t i ç as que so f rem .
A pobreza vocabu l a r i ne ren te a Fab i ano t r anscende a
comun icação e pe rpassa os aspec tos i n t e r i o res , re l a t i vos ao
ca rá te r e es tado de esp í r i t o do su j e i t o , sendo f requen temen te
comparada às d i f i c u l dades que o me i o o fe rece . A i ncapac i dade
de exp ressa r , po r me io da f a l a , os seus anse i os e angúst i as
conf i gu ra uma s i t uação de con fo rm i smo . O vocabu l á r i o de
Fab i ano assoc i a -se ao do papaga i o , des tacando a l im i t ação
desse su j e i t o pe ran te o mundo : ‚T i nha um vocabu l á r i o quase
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t ão m i nguado como o do papaga i o que mor re ra no t empo da
seca . ‛ ( RAMOS , 20 12 [ 1 938 ] , p . 57 ) .
Na ob ra , obse rva -se , de mane i r a v i sce ra l , o pode r da
pa l av ra na const i t u i ç ão das pe rsonagens . A f am í l i a de se r t ane -
j os assume um pape l de su j e i t os pass i vos de t oda op ressão
so f r i da , t endo no na r rado r o g rande de t en tor da capac i dade de
denunc i a r as i n j us t i ç as . Fab i ano , s i nhá V i t ó r i a , o men i no ma i s
ve l ho e o men i no ma i s novo são v í t imas da f a l t a de comun i ca -
ção , dando - l hes uma imagem de i so l amen to e subm i ssão :
A l i n g u ag em d e F a b i a n o e d o s s e u s é t i d a p o r i m p o -t e n t e , l a c u n o s a , t r u n c a d a ; e a e s f e r a d o s e u i m a g i n á -r i o d á - s e em r e t a l h o s d e s o n h o e em d e s e j o s d e um t em po m e l h o r , t e mp o d o f i m d a s s e c a s , c om t r a b a l h o e m o r a d i a e s t á v e l , d e o n d e a f am í l i a n ã o s e j a e x p u l s a p e l o d o n o d o g a d o n em b em f i n d e a e s t a ç ã o d a s á g u a s . ( B O S I , 1 9 8 8 , p . 1 0 ) .
A exc l usão soc i a l a l i ada à pob reza ocas i ona , mu i t as
vezes , o endurec imento do su j e i t o . Esses são e l emen tos que
poss i b i l i t am a p rodução s imbó l i c a de um i nd i v í duo rús t i co e
so l i t á r i o , i ncapaz de exp ressa r com pa lav ras as na tu ra i s
sensações humanas . Grac i l i ano Ramos t r az à t ona uma f am í l i a
marcada pe lo desamparo soc i a l , conf i gu ração es t ru t u ra l t í p i c a
do Mode rn i smo b ras i l e i r o . O au to r t emat i za a m i sé r i a que asso -
l a os re t i r an tes exp l o rados po r i nd i v í duos de d i f e ren t es g rupos
soc i a i s , cu j a ausênc i a da pa l av ra reve l a um contex to de ex t re -
ma des i gua l dade soc i a l .
U l lmann ( 1 964 , p . 1 06 , g r i f o do au to r ) en f a t i za a impor t ân -
c i a f undamen ta l que possu i o con tex to pa ra a de te rm i nação do
s i gn i f i c ado das pa l av ras :
A l ém d o c o n t e x t o v e r b a l , o l i n g u i s t a d e v e t am bém p r e s t a r a t e n ç ão a o c h amad o c o n t e x t o d e s i t u a ç ã o , [ . . . ] S i g n i f i c a , em p r i m e i r o l u g a r , a s i t u a ç ã o e f e t i v a em q u e um a e x p r e s s ã o o c o r r e , m a s l e v a a um a v i s ã o a i n d a m a i s am p l a d o c o n t e x t o q u e a b r a n g e t o d o o f u n d o c u l t u r a l c o n t r a o q u a l é c o l o c a d o um a t o d e f a l a .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
Na ob ra , o pode r da pa l av ra es t á p resen te em d i f e ren tes
momen tos , se j a no ques t i onamen to do men i no ma i s ve l ho d i an -
t e do s i gn i f i cado da pa l av ra i n fe rno , na desc r i ç ão de Fab i ano ,
ou nas i ndagações da f am í l i a , como no f ragmen to a segu i r :
‚Como pod i am os homens gua rda r t an t as pa l av ras? E ra impos -
s í ve l , n i nguém conse rva r i a t ão g rande soma de conhec imen tos .
L i v re dos nomes , as co i sas f i c avam d i s t an tes , m i s t e r i osas . Não
t i nham s i do fe i t as po r gen te . ‛ ( RAMOS , 20 12 [ 1 938 ] , p . 82 ) .
Em V idas Secas , po r t an t o , o l éx i co é ressa l t ado como
f e r r amenta de denúnc i a soc i a l numa época em que a l i t e r a t u ra
demonst ra a rea l s i t uação do B ras i l em p l eno momen to de
mode rn i zação . O vocabu l á r i o reg i ona l em V i das Secas reve l a
uma soc i edade des i gua l , marcada pe l a marg ina l i z ação e desca -
so .
4 O E S T U D O D O V O C A B U L Á R I O R E G I O N A L E M V I D A S S E C A S
O p resen te t r aba l ho fo i f undamen tado nos pos tu l ados de
Eugen io Cose r i u ( 1 986 [ 1 977 ] ) , segundo o qua l a l í ngua es t á
seman t i c amen te es t ru tu rada em mac ro e m i c rocampos . Base -
ando-se nessa pe rspec t i va , o es tudo do vocabu l á r i o reg iona l
encon t rado na ob ra V i das Secas , de Grac i l i ano Ramos , t em o
macrocampo da geogra f i a , subd i v i d i do nos m ic rocampos f l o ra ,
f auna e so l o ; e macrocampo das pessoas , subd iv i d i do nos
m ic rocampos a l imen t ação , peças do ves tuá r i o e compor t amen -
to .
Es t uda r as l ex i as re fe ren tes aos su j e i t os da na r ra t i va de
V i das Secas poss i b i l i t a uma compreensão de t a l hada da rea l i d a -
de v i v i da pe l os mesmos , reve l ando o cená r i o , cos tumes e
háb i t os dessa soc i edade . O au to r Grac i l i ano Ramos ( 20 12 [ 1 938 ] )
exp l o ra o co t i d i ano do se r t ane j o , ap resen ta suas p rá t i c as e
rea l i d ade . Obse rva -se , nos mac rocampos ana l i s ados , um núme -
ro s i gn i f i c a t i vo de l ex i as , o que demons t ra a g rande c r i a t i v i da -
de de Ramos .
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Para B i de rman ( 1 978 , p . 1 49 ) , ‚ a c r i a t i v i dade a r t í s t i c a é
capaz de exp l o ra r a s i gn i f i c ação de mane i r a t ão o r i g i na l e
desusada , que os escr i t o res no rma lmen te es t ão sempre amp l i -
ando o ha l o de s i gn i f i c ação de uma pa l av ra , ou me l ho r , o seu
campo semân t i co . ‛ Nas ob ras l i t e r á r i as , as pa l av ras são do t a -
das de novos s i gn i f i cados a t odo momen to ; o au to r exp l o ra ,
em seus esc r i t os , s i gn i f i c ações que con t r i buem para a r i queza
l i t e r á r i a e l éx i ca do pa í s .
Na ob ra em ques t ão , encon t ram -se l ex i as que desenham
um pa í s com var i ações reg i ona i s . O l i ve i r a ( 200 1 , p . 1 1 0 ) ac red i t a
que i sso acontece não somen te pe l a ‚ [ . . . ] i n t eg ração do po r tu -
guês em t e r ras b ras i l e i r as , mas t ambém de seu conv ív i o com
ou t ros i d i omas como o do í nd i o , o do neg ro e os dos povos
h ispano-amer icanos . ‛ E , como se sabe , o conv ív io ent re d iver sas
l í nguas se deu de modo d ivers i f i cado pe las reg iões do pa ís .
A obra V i das Secas ap resen ta o vocabu l á r i o de dada
comun i dade no rdes t i na . O na r rado r con t a a h i s t ó r i a do co t i d i a -
no de se r t ane j os pob res , que l i d am com os an ima i s , as p l an t as
e t odo amb i en te ru ra l . O l éx i co dessa ob ra i den t i f i c a o va l o r
cu l t u ra l de povos mu i t as vezes marg i na l i z ados e esquec i dos .
5 M E T O D O L O G I A
Fo i ana l i s ada a cen tés ima déc ima nona ed i ção do l i v ro
V i das Secas , de Grac i l i ano Ramos , sendo l evan t adas , pa ra o
presen te t r aba l ho , l ex i as re l a t i vas ao vocabu l á r i o reg i ona l , o
qua l encobre os macrocampos da geogra f i a e das pessoas .
Como fundamen tação t eó r i c a pa ra a pesqu isa , f o ram u t i l i z ados
os p r i nc í p i os de Eugen i o Cose r i u ( 1 986 [ 1 977 ] ) , segundo o qua l
a l í ngua es t á es t ru t u rada em campos l éx i co -semân t i cos .
Pa ra a o rgan i zação do vocabu l á r i o reg i ona l r e fe ren te à
ob ra V i das Secas , f o ram es t abe l ec i dos os segu i n t es c r i t é r i os :
As lex i as es t ão sepa radas em d i f e ren tes mac rocampos
e m ic rocampos ;
67
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
As l ex i as es t ão em ca i xa a l t a e neg r i t o , segu i das da c l asse g ramat i c a l e con tex to ;
As lex i as es t ão des tacadas den t ro do con tex to po r me i o do recu rso neg r i t o ;
Segu i ndo as recomendações de B ron i s l aw Ma l i nowsk i ( apud ULLMANN , 1 964 ) , o s i gn i f i cado da l ex i a ap resen -t ada es t á de aco rdo com o con tex to , po i s somen te a t r avés de le é poss íve l compreende r a cu l t u ra e o me i o no qua l es t á i nser i do o f a l an te .
M a c r o c a m p o : D a g e o g r a f i a
M i c r o c a m p o : F l o r a
CAT INGUEIRA s f . Á rvo re l egum inosa . ‚E ra ma i s f o r te que t udo
i s so , e ra como as ca t i ngue i r as e as ba raúnas . ‛ ( p . 1 9 ) .
FACHE IRO sm . Des i gnação comum a d i ve rsas p l an t as da f am í l i a
das cac táceas . ‚E não l evava o que rosene , i a -se a l um i a r
du ran te a semana com pedaços de f ache i r o . ‛ ( p . 30 ) .
MACAMB IRA [ do t up i ] s f . Bras . NE . P l an t a de f o l has r í g i das e
esp i nhosas , mu i t o d i spe rsa nas reg i ões secas no rdes t i nas . ‚ [ . . . ]
ascendeu as ra í zes de macamb i r a ‛ ( p . 1 5 ) .
MANDACARU sm . Grande cac to . É mu i to reco r ren te na
caa t i nga . ‚A a ragem morna sacud i a os x i quex i ques e os
mandacarus . ‛ ( p . 1 5 ) .
M i c r o c a m p o : F a u n a
BEZERRO sm . Nov i l ho de a té um ano de i dade . ‚ Fab i ano receb i a
na pa r t i l h a a qua r t a pa r t e dos beze r ros e a t e rça dos cab r i -
t os . ‛ ( p . 93 ) .
BODE sm . O macho da cab ra . ‚O bode i a sa l t a r e de r rubá -
l o . ‛ ( p . 50 ) .
CABR ITO sm . Pequeno bode . ‚ Fab i ano receb i a na pa r t i l h a a
quar t a pa r t e dos bezer ros e a t e rça dos cab r i t os . ‛ ( p . 93 ) .
68
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
M i c r o c a m p o : S o l o
SE IXO sm . F ragmentos de rocha ; ped ra so l t a . ‚Ossos e se i xos
t r ans fo rmavam-se às vezes nos en tes que povoavam as mo i -
t as , o mor ro , a se r ra d i s t an te e os bancos de macamb i r a . ‛ ( p .
59 ) .
SERRA s f . Cade i a de mon tanhas com mu i t os p i cos . ‚Ossos e
se i xos t r ans fo rmavam-se às vezes nos en t es que povoavam
as mo i t as , o mor ro , a se r ra d i s tan te e os bancos de macamb i -
r a . ‛ ( p . 59 ) .
TORRÃO sm . So l o de te r ra du ra . ‚Se o r i o chegasse a l i , de r ru -
ba r i a apenas os t o r rões ‛ ( p . 66 ) .
M a c r o c a m p o : D a s p e s s o a s
M i c r o c a m p o : A l i m e n t a ç ã o
FAR INHA s f . B ras . Pó f e i t o da mand i oca . ‚ Foram descansa r sob
os ga r ranchos de uma qu i xabe i r a , mas t i ga ram punhados de
f a r i nha e pedaços de ca rne , bebe ram na cu i a uns go les de
água . ‛ ( p . 1 24 ) .
FE I JÃO sm . Semen te ou vagem do f e i j oe i r o . ‚P rec i sava sa l ,
f a r i nha , f e i j ão e rapadu ras . ‛ ( p . 27 )
RAPADURA sf . B ras . Açúcar mascavo , consum ido em fo rma de
t i j o l o . ‚P rec i sava sa l , f a r i nha , fe i j ão e r apaduras . ‛ ( p . 27 ) .
M i c r o c a m p o : P e ç a s d o v e s t u á r i o
GIBÃO sm . B ras . Casaco de cou ro pa ra pro t ege r as pe rnas .
‚Andar i a no pá t i o ass im t o r to , de pe rne i r as , g i bão , gua rda-pe i t o
e chapéu de cou ro com barb icacho . ‛ ( p . 53 ) .
GUARDA-PE ITO sm . Bras . NE . Pedaço de cou ro cu r t i do com o
que os vaque i r os resgua rdam o pe i t o . ‚Andar i a no pá t i o ass im
t o r t o , de pe rne i r as , g i bão , gua rda-pe i t o e chapéu de cou ro
com barb icacho . ‛ ( p . 53 ) .
PERNE IRAS sf . p l . B ras . Peças de cou ro pa ra p ro tege r as
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
pe rnas . ‚Andar i a no pá t i o ass im t o r to , de pe rne i r as , g i bão ,
guarda-pe i t o e chapéu de cou ro com barb icacho . ‛ ( p . 53 ) .
M i c r o c a m p o : D o c o m p o r t a m e n t o
ARREL IADO ad j . B r i guen to . ‚S i nhá V i t ó r i a ap ron t ava -se e e rgu i a
-se , mas Fab i ano sop rava a r re l i ado . ‛ ( p . 73 ) .
AT ILADO ad j . A ju i zado . ‚E ra a t i l ada , no t a r i a a pabu l agem . ‛ ( p .
29 ) .
BANZE IRO ad j . T r i s te , nos t á l g i co . ‚ Fab i ano t i nha ca í do em pé e
r eco l h i a -se banze i r o e camba i o . ‛ ( p . 48 ) .
A n á l i s e d o c o r p u s
D i an te das l ex i as apresen t adas , obse rva -se a r i queza
vocabu l a r p resen te na ob ra V i das Secas , de Grac i l i ano Ramos .
No l i v ro em ques t ão , o au to r consegue cap t a r , a t r avés das
pa l av ras , o co t i d i ano de se r tane j os que , asso l ados pe l a seca e
pob reza , l u t am pa ra sob rev i ve r em um amb i en t e de poucos
recu rsos . V i das Secas p rese rva em suas pág i nas a rea l i d ade
de mu i t os re t i r an t es do se r tão no rdes t i no . A ob ra gua rda a
cu l t u ra de um povo b ras i l e i r o , mu i t as vezes , esquec i do pe l o
res t an t e da popu l ação . Po r me i o do es tudo l ex i co l óg i co , pode -
se cons t a t a r a rea l i d ade dos se r t ane j os que l u t am pe l a sob re -
v i vênc i a em um amb i en te seco , sem mu i t as pe rspec t i vas de
me l ho ra .
6 CO N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
O estudo do léx ico de uma obra l i t e rá r i a poss ib i l i t a o
conhec imento da rea l idade da soc iedade em questão . Vidas Secas , de Grac i l i ano Ramos, reve la uma comun idade do nordeste
do Bras i l asso lada pe la seca e pobreza , que lu ta para sobrev iver ,
sof rendo por conta da des igua ldade soc ia l e exp lo ração .
A aná l i se l ex i ca l ap resen t a uma l i t e r a tu ra r i c a em vocábu -
l os que demons t ram a va r i edade na nomeação de se res e
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
ob j e tos . Esse es tudo só fo i poss í ve l com a obse rvação do
l éx i co de V i das Secas , sob a l uz da l ex i co l og i a . Ass im , cons t a -
t a -se que Grac i l i ano Ramos , com sua j us teza ao exp ressa r em
pa l av ras a v i da do povo no rdes t i no , consegu i u de l im i t a r um
mundo con t ras t an te com o res t an te do pa í s , mas que pe r tence
a uma pa r te s i gn i f i c a t i va da popu l ação b ras i l e i r a .
O es tudo sob re o vocabu l á r i o reg i ona l de V idas Secas , de
Grac i l i ano Ramos , poss i b i l i t ou o conhec imento de l ex i as re fe -
ren tes à geogra f i a e às pessoas . Po r me i o da aná l i se dessas
l ex i as , de l im i t a -se a cu l t u ra de um povo , a t r avés desse t esou ro
soc i ocu l t u ra l que é o l éx i co , o qua l es tá presen te de mane i r a
i n t r í nseca na rea l i d ade dos u t en tes da l í ngua .
Resumen : Es t e t r aba j o t i ene como f i na l i d ad e l aná l i s i s de l voca -
b u l a r i o r e g i o n a l p r e s e n t e e n l a c e n t é s i m a d é c i m a n o v e n a
ed i c i ó n de l l i b r o V i d as Secas , d e G rac i l i a no Ramos . Como base
t e ó r i c a s on u t i l i z ad o s l o s po s t u l a d o s de Cose r i u ( 1 98 6 [ 1 977 ] ) ,
B i d e r m a n ( 1 9 7 8 , 1 9 9 8 ) , U l l m a n n ( 1 9 6 4 ) , e n t r e o t r o s . F u e r a n
s e l e c c i o n a d a s l e x í a s p e r t i n e n t e s a l m ac r o c ampo l e x i c a l d e l a
g e o g r a f í a y d e l a s p e r s o n a s . E l a n á l i s i s d e l a s l e x í a s d e l
v o c a b u l a r i o r e g i o n a l p e r m i t e e n t e n d e r l a r e a l i d a d d e l o s
p e r s on a j e s de l a ob r a , o se a , b usca r eve l a r l a í n t im a r e l a c i ó n
en t re homb re y med i o amb i en t e . En V i d as Secas , l a pa l ab r a e s
u t i l i z ada con p r ec i s i ó n y r i g o r , una vez que e l au t o r t i e ne una
esc r i t a r í g i d a . R amos ( 20 1 2 [ 1 9 38 ] ) t ema t i z a l a m i se r i a soc i a l d e
u n a f a m i l i a e x p l o r a d a p o r i n d i v i d u o s d e d i f e r e n t e s g r u p o s
soc i a l e s . F am i l i a é s t a que p re sen t a en e l vocabu l a r i o l a du reza
que e l amb i en te o f rece .
Pa l ab ras -C l ave : Lex i co l og í a . Vocabu l a r i o reg iona l . V idas Secas .
R E F E R Ê N C I A S
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quan t i t a t i v a e computac i ona l . R i o de Jane i r o : L i v ros Técn i cos e
C i en t í f i cos , 1 978 .
71
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_ _ _ _ _ _ . D imensões da pa l av ra . F i l o l og i a e l i ngu í s t i c a po r t uguesa ,
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BOS I , A l f r edo . Céu , i n fe rno : ensa i os de c r í t i ca l i t e r á r i a e
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COSER IU , Eugen i o . P r i nc i p i os de semán t i c a es t ruc tu ra l . Ve rs .
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FERRE IRA , Auré l i o Bua rque de Ho l anda . D i c i oná r i o Auré l i o bás ico da l í ngua po r t uguesa . São Pau l o : Nova F ron te i r a , 1 988 .
OL IVE IRA , Ana Mar i a P i n t o P i res . Reg i ona l i smos b ras i l e i r os : a
ques t ão da d i s t r i bu i ção geográ f i c a . I n : OL IVE IRA , Ana Mar i a
P i n t o P i res de ; ISQUERDO, Aparec i da Neg r i (O rg . ) . As c iênc i as do l éx i co : l ex i co l og i a , l ex i cog ra f i a , t e rm i no l og i a . 2 . ed . Campo
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RAMOS , Grac i l i ano . V i das secas . 1 1 9 . ed . R i o de Jane i r o : Reco rd ,
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TUFANO, Doug l as . Es t udos de l i t e r a t u ra b ras i l e i r a . 5 . ed . rev . e
amp l . São Pau l o : Moderna , 1 995 .
ULLMANN , S t ephen . Semân t i ca : uma i n t rodução à c iênc i a do
s i gn i f i c ado . T radução de J . A . Osór i o Ma teus . L i sboa : Fundação
Ca l ous t e Gu l benk i an , 1 964 .
N O T A S
1 E n t ã o a l u n a d o c u r s o d e L e t r a s V e r n ác u l a s d a U n i v e r s i d a d e E s t a d u a l
d e F e i r a d e S a n t a n a – U EF S , b o l s i s t a d e I n i c i a ç ã o C i e n t í f i c a F A P ES B . 2 P ro f e sso r a P l e no d a Un i ve r s i d ade Es t adu a l d e Fe i r a de S an t an a – UEFS ,
c om D o u t o r a d o em F i l o l o g i a e L í n g u a P o r t u g u e s a p e l a U n i v e r s i d a d e d e
S ã o P a u l o – U SP .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 5 9 - 7 2 , 2 0 1 5
3 G r a c i l i a n o R am o s , e m e n t r e v i s t a c o n c e d i d a e m 1 9 4 8 , e p u b l i c a d a o r i -
g i n a l m e n t e n a R e v i s t a G l o b o , n . 4 7 3 , p e l a E d i t o r a C i v i l i z a ç ã o , g r i f o
n o s s o .
Env i ado em : 04/03/20 14 .
Aprovado em : 22/06/20 15 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 7 3 - 8 2 , 2 0 1 5
A QU I S I ÇÃ O DA L I N G UAG EM : A BOR DAG EN S
G E R AT IV I S TA S A PA R T I R DO F I LM E O M I LAG R E D E A NN E SU LL IVA N
R o s a n a C a r v a l h o B r i t o ( U E FS )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
c a r v a l h o . r o s a n a@ h o tm a i l . c om
H u d a d a S i l v a S a n t i a g o ( O r i e n t a d o r a /U E F S )
D e p a r t am e n t o d e L e t r a s e A r t e s ( D LA )
h u d a . s a n t i a g o @ h o tm a i l . c om
R e sumo : A p r e s e n t a - se , n e s t e t r a b a l h o , uma b r e v e an á l i s e d o
p r o c e s s o d e a q u i s i ç ã o d a l i n g u a g em n o f i l m e O m i l a g r e d e A n ne S u l l i v a n ( 1 9 6 2 ) , d e A r t h u r P e n , t e n d o em v i s t a a t e o r i a
ge r a t i v i s t a pa r a aqu i s i ç ão d a l i n g uagem , f ocando os conce i t o s
de f acu l d ade da l i n guagem , g r amá t i c a i n t e rna l i z ada , c ompe tên -
c i a e desempenho e Gramá t i c a Un ive rsa l (GU) . O ob j e t i vo des t e
es tudo é mos t ra r como esse f i lme ra t i f i c a as i de i as ge ra t i v i s t as
ace rca da aqu i s i ç ão l i ngu í s t i c a . As pesqu i sas f o ram desenvo lv i -
d as a pa r t i r d a decupagem de a l g umas cenas do f i l me , obse r -
vando as es t r a t ég i as da p ro f esso ra Anne Su l l i v an pa ra ens i na r
uma l í ngua a uma ga ro t a cega e su rda .
P a l a v r a s - c h a v e : A q u i s i ç ã o d a l i n g u a g em . O m i l a g r e d e A nn e Su l l i v an . Ge ra t i v i smo .
1 I N T R O D U Ç Ã O
O Ge ra t i v i smo é uma das co r ren tes f o rma l i s t as do es tudo
da l i nguagem , que ganhou fo rça na década de 1 950 g raças aos
es tudos desenvo lv i dos pe l o l i ngu i s t a Noam Chomsky , cons i de -
r ado ‚pa i ‛ do ge ra t i v i smo , e a i nda ho j e embasa mu i t os es tudos
l i n gu í s t i cos . Os ge ra t i v i s t as concebem a l í ngua como um
con jun to l im i t ado de cód i gos que podem se r comb i nados pe l os
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
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f a l an tes em um número i n f i n i t o de sen tenças . T ra t a -se de uma
t eo r i a com bases i na t i s t as e que cons i de ra , sob re t udo , aspec -
t os i n te rnos ao s i s tema l i ngu í s t i co nos es tudos da l i nguagem .
Ge ra lmente , o conce i t o de g ramá t i c a es t á assoc i ado a um
con jun to de reg ras pa ra o bem fa l a r e esc reve r , ou se j a , as
normas que p resc revem a mane i r a ‚co r re t a ‛ de usa r a l í ngua .
Longe dessa concepção t r ad i c i ona l , na t eo r i a ge ra t i v i s t a , há o
conce i t o de Gramá t i c a I n t e rna l i z ada – conhec imen to a rmazena -
do na memór i a do f a l an t e e que pe rm i t e a e l e i den t i f i c a r as
sen tenças bem ou ma l f o rmadas na l í ngua . Bem ou ma l fo rmadas
no sen t i do de pe r tence rem ou não à l í ngua e não no sen t i do
de es t a rem ce r t as ou e r radas , como p recon i za a g ramá t i c a
t r ad i c i ona l . Po r exemp l o , f a l an tes do po r t uguês no rma lmen te
reconhecem a f r ase ( a ) como uma f rase bem fo rmada na
l í ngua , da mesma fo rma que reconhecem a f r ase (b ) como uma
f rase ma l f o rmada :
( a ) Amanda e você f i ca ram responsáve i s pe lo bo l o .
( b ) Amanda e ‘ cê ’ f i c aram responsáve i s pe l o bo l o .
Com i sso , na t eo r i a ge ra t i v i s t a , os conce i t os de ce r t o e
e r rado são subs t i t u í dos pe l os conce i t os de g rama t i c a l i d ade e
ag rama t i c a l i d ade . En t ão , uma sen tença se rá grama t i c a l quando
f o r bem fo rmada na l í ngua , ao passo que se rá cons i de rada
ag rama t i c a l quando for ma l fo rmada , con fo rme exp l i c am M io to ,
S i l va e Lopes ( 20 1 3 ) . Ass im , a f r ase ( a ) é cons i de rada g rama t i -ca l , enquan to que a f rase (b ) se r i a uma f rase ag rama t i ca l .
O que pe rm i t e ao fa l an t e d i s t i ngu i r uma f rase en t re
g rama t i ca l a ag rama t i c a l é o conhec imen to que e l e t em da
l í n gua e que a t eo r i a ge ra t i v i s t a denom ina de compe tênc i a l i ngu í s t i c a . Quando o f a l an t e põe em uso sua compe tênc i a pa ra
es t ru t u ra r as sen tenças que f a l a , há o que o Ge ra t i v i smo
denom ina de pe r f o rmance ou desempenho .
Es te es tudo se concen t ra na h i pó tese ge ra t i v i s t a pa ra a
aqu i s i ç ão da l i nguagem , re l ac i onando -a ao f i lme O m i l ag re de
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Anne Su l l i v an ( 1 962 ) , uma ob ra que , den t re ou t ros aspec tos ,
poss i b i l i t a a d i scussão de ques tões re l ac i onadas a essa
con jec t u ra .
2 A S P E C T O S G E R A T I V I S T A S N O F I L M E O M I L A G R E D E A N N E S U L L I V A N
O f i lme O m i l ag re de Anne Su l l i v an ( 1 962 ) , do d i r e t o r
Ar thu r Penn , con t a a h i s t ó r i a da p ro fesso ra Anne Su l l i v an
(Anne Banc ro f t ) na t a re f a de ens i na r uma l í ngua à pequena
He l en (Pa t t y Duke ) , uma ga ro t a que não ouve e não enxe rga . A
na r ra t i va do f i lme g i r a em to rno das t en t a t i vas da p ro fesso ra
em a j uda r a ga ro t a , mesmo com t an t as d i f i c u l dades e a i nda
t endo que l u t a r con t ra o desp repa ro da f am í l i a pa ra t r a t a r a
ques t ão .
No f i lme , a ga ro t a He l en j á nasceu cega e su rda e a f am í -
l i a não sab i a o que f aze r pa ra a j udá - l a dev i damen te . Ass im , a
men i na nunca fo i submet i da a nenhum t i po de educação ,
sempre f ez o que qu i s , sem se r rep reend i da , e à med i da que
fo i c rescendo , passou a desenvo lve r compor t amen tos v i o l en -
t os . Fo i a í que a f am í l i a reso lveu busca r a a j uda na esco l a
Pe rk i ns Schoo l , que a encam inhou à p ro fesso ra Anne Su l l i v an .
Pa ra Anne Su l l i v an , o g rande p rob l ema de He l en não e ra
sua de f i c i ênc i a , mas a pos tu ra da f am í l i a , que sempre a t r a t ou
como uma masco te , ac red i t ando que dessa fo rma es t ava
p ro tegendo-a . Pensando n i sso , a p ro fesso ra p ropõe aos pa i s
de He l en que e l as f i quem soz inhas du ran t e um t empo , sem
cont a t o com e l es , numa cas i nha na p rop r i edade da f am í l i a .
Com a p ropos t a ace i t a , Anne t e r i a apenas duas semanas
pa ra consegu i r qua l que r resu l t ado . A p r i nc í p i o , e l a p re t ende
que He l en ap renda com os es t ímu l os do p róp r i o co rpo . Po r
exemp l o , a ga ro t a só recebe r i a com ida quando demons t rasse
que es t ava com fome , como se a ap rend i zagem de l í ngua
oco r resse a pa r t i r de respos t as bem -suced i das a es t ímu l os ,
f i x adas pe l a repe t i ç ão , que se r i a uma espéc i e de re fo rço .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 7 3 - 8 2 , 2 0 1 5
En t ão , a f ome se r i a o es t ímu l o , o a l imen to receb i do a respos t a
e a repe t i ç ão desse p rocesso f a r i a com que a ga ro t a i n te rna l i -
zasse o s i gno ‚ f ome ‛ , po r exemp l o . Ass im , nessa pe rspec t i va ,
a ap rend i zagem l i ngu í s t i c a se r i a resu l t ado da sequênc i a es t ímu -
l o , r espos t a e re fo rço .
No en t an to , a aqu i s i ç ão da l i nguagem só se i n i c i a quando
He l en pe rcebe a ques tão da a rb i t r a r i edade do s i gno l i ngu í s t i co ,
ou se j a , a pa r t i r do momen to em que e l a compreende que as
co i sas que e l a t oca têm nome e que não ex i s te uma re l ação
d i r e t a en t re o nome e co i sa nomeada , que os nomes dos ob j e -
t os são a rb i t r á r i os e não mot i vados . Dessa fo rma , segundo
Chomsky ( 1 994 , p . 46 ) ,
[ . . . ] q u a n d o d i z emo s q u e um a p e s s o a c o n h e c e um a
l í n g u a , n ã o q u e r em o s d i z e r q u e e l a c o n h e c e um
c o n j u n t o i n f i n i t o d e f r a s e s o u d e p a r e s s om -
s i g n i f i c a d o t om a do s e x t e n s i o n a l m e n t e , o u um c o n j u n t o
d e a ç õ e s o u d e c om po r t am e n t o s . O q u e q u e r em o s
d i z e r é q u e a p e s s o a c o n h e c e a q u i l o q u e a s s o c i a d e
um a f o rm a e s p e c í f i c a o s om a o s i g n i f i c a d o , o q u e o s
f a z ‘ e s t a r j u n t o s ’ , um a c a r a c t e r i z a ç ã o p a r t i c u l a r d e
um a f u n ç ã o , t a l v e z .
A té en t ão , He len repe t i a a l gumas pa l av ras u t i l i z ando a
l í ngua de s i na i s , mas em uma a t i t ude robo t i zada e não consc i -
en te . E l a rep roduz i a a pa l av ra bo l o , po r exemp l o , mas não a
assoc i a à co i sa nomeada . Quando a p ro f esso ra passa a
con tex tua l i z a r a ap rend i zagem l i ngu í s t i ca , a ga ro t a começa a
f aze r as p r ime i r as assoc i ações en t re nome e ob j e t o de fo rma
consc ien te , compreendendo que essa re l ação é a rb i t r á r i a . As
cenas f i na i s da h i s t ó r i a são bas t an te i l u s t r a t i vas nesse sen t i do ,
quando e l a começa a t oca r , de modo bas tan t e en tus i asmado ,
em tudo que es t á a sua vo l t a , a t r i bu i ndo nome e sen t i do às
co i sas , como ‚água ‛ , ‚chão ‛ , ‚ á rvo re ‛ , ‚deg rau ‛ . . . e i sso va i
a l ém do mundo ‚conc re t o ‛ , j á que , nessa par t e , o f i lme , envo l t o
em uma a tmos fe ra meta fó r i c a , mos t ra que os sen t imen tos e as
a t i t udes de He l en t ambém são aguçados , po i s e l a começa a
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 7 3 - 8 2 , 2 0 1 5
ev i denc i a r ce r t a a f e t i v i dade pe l a p ro fesso ra , como se a l i ngua -
gem fosse uma ‚po r t a ‛ (me t a fo r i zada na p resença das chaves ,
ao l ongo do f i lme ) pa ra reve l a r a p resença do ou t ro e do seu
p róp r i o i n te r i o r , seus sen t i dos .
Esse f i lme de Ar t hu r Penn pe rm i t e ao espec t ado r pe rce -
be r que , mesmo em cond i ções quase imposs í ve i s pa ra t an t o ,
He l en ap rendeu uma l í ngua . Ou se j a , essa ob ra mos t ra que , po r
t r ás do p rocesso de aqu i s i ç ão da l i nguagem , ex i s te uma capa -
c i dade i na t a que pe rm i t e exc l us i vamen te aos humanos ap ren -
de r e usa r uma l í ngua , mesmo com o p rob l ema da ‚pob reza de
es t ímu l os ‛ . É nesse pon to que o f i lme se ap rox ima da co r ren t e
ge ra t i v i s t a de es tudos l i ngu í s t i cos : o l onga -me t ragem ra t i f i c a a
t eo r i a ge ra t i v i s t a de ap rend i zagem l i ngu í s t i c a , que p revê a
ex i s tênc i a de uma capac i dade gené t i c a , um componen te cogn i -
t i vo , que t o rna poss í ve l a aqu i s i ç ão de uma l í ngua , mesmo em
cond i ções ex t remamente p recá r i as pa ra t an to .
D e ve r í am o s , p o i s , p e n s a r n o c o n h e c im e n t o d a l í n g u a
c om o um c e r t o e s t a d o d a me n t e / c é r e b r o , c omo um
e l em en t o r e l a t i v am e n t e e s t á v e l em e s t a d o s m en t a i s
t r a n s i t ó r i o s , um a v e z a t i n g i d o . P a r a a l é m d i s s o , d e ve
s e r e n t e n d i d o c om o um e s t a d o d e um a f a c u l d a d e d a
m en t e d i s t i n t a – a f a c u l d a d e d a l i n g u a g em – c om a s
s u a s p r o p r i e d a d e , e s t r u t u r a e o r g a n i z a ç ã o e s p e c í f i c a s
– c omo um ‘m ód u l o ’ d a me n t e . ( C HOMSKY , 1 9 9 4 , p . 3 1 ) .
Ass im , segundo o Gera t i v i smo , ma i s espec i f i c amente de
aco rdo com essas i de i as de Chomsky ( 1 994 ) , t odo se r humano ,
em cond ições no rma i s , nasce com uma p red i spos i ção pa ra a
f a l a , uma f acu l dade da l i nguagem , en t end i da como uma es t ru tu -
ra espec i a l a l ocada no cé reb ro do f a l an te , a l go gene t i c amente
cod i f i c ado que pe rm i t e ao homem adqu i r i r uma l í ngua . Essa
p red i spos i ção o d i f e renc i a dos dema i s an ima is do p l ane t a , a i nda
que t enha s i do expos to a uma expe r i ênc i a l i ngu í s t i ca f r agmen -
t ada , i ncomp l e t a ou a t é mesmo comp l i c ado ra do p rocesso de
aqu i s i ç ão .
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Confo rme comenta Kenedy ( 20 13 ) , de f o rma bas t an t e
d i dá t i c a , essa ques t ão , ace rca da o r i gem do conhec imen to
l i ngu í s t i co humano , conhec i da como o p rob l ema de P l a t ão , r e fe -
r e -se j us t amen te à i nqu i e t ação sob re como se r poss íve l às
c r i anças ap rende rem uma l í ngua de modo t ão ráp i do e na tu ra l ,
se j a qua l f o r a l í ngua (po r t uguês , a l emão , sueco , gua ran i . . . ) e
mesmo em comun i dades b i l í ngues ou mu l t i l í ngues , d i an te de um
i npu t i mpe r fe i t o , sem uma h i pó tese fo r te sobre os con jun tos de
r eg ras a encon t ra r .
Pa ra Chomsky ( 1 994 ) , quan to ma i s i ncomp l e ta e f r agmen -
t ada a expe r i ênc i a l i ngu í s t i c a da c r i ança , ma io r é a capac i dade
i na t a a se p reve r . He l en não ouv i a nem enxe rgava , essa
cond i ção da ga ro t a t o rnava o p rocesso de aqu i s i ç ão p ra t i c a -
mente imposs í ve l , j á que e l a não t eve necessa r i amen te uma
expe r i ênc i a l i ngu í s t i c a , mas , mesmo com toda essa ‚pob reza de
es t ímu l o ‛ , a men i na consegu i u desenvo lver um s i s t ema de
comun icação . Esse é um dos pon tos que co r robo ra a t ese
ge ra t i v i s t a no f i lme .
A i n t e rp re t ação ge ra t i v i s t a pa ra o p rocesso de aqu i s i ç ão
da l i nguagem reco r re a uma cond i ção gené t i c a pa r t i cu l a r dos
humanos , uma capac i dade i na t a , a f acu l dade da l i nguagem . Es t a
pe rm i t e exc l us i vamen te ao se r humano desenvo lve r o s i s tema
l i ngu í s t i co de uma ou ma i s l í nguas , mesmo que as cond ições de
en to rno não aux i l i em tan to no p rocesso .
De aco rdo com essas i de i as , qua l que r c r i ança pode
ap rende r qua l que r l í ngua , bas t ando apenas que se j a expos t a
aos dados , ou se j a , na pe rspec t i va de aqu i s i ç ão , não ex i s t em
l í nguas ma i s f áce i s ou ma i s d i f í ce i s . No f i lme , He len não se
comun icou po r me i o de nenhum s i s t ema l i ngu í s t i co a t é o
momen to em que fo i expost a a um . Con tudo , quando fo i
expos t a a dados da l í ngua de s i na i s , a ga ro t a ap rendeu a se
comun ica r a t r avés dessa l í ngua , o que , de ce r t a f o rma , a f i rma
a h i pó tese ge ra t i v i s t a .
Os ge ra t i v i s t as en t endem que a f acu l dade da l i nguagem
possu i um es t ág i o i n i c i a l , a Gramá t i c a Un ive rsa l (GU ) , compos t a
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de p r i nc í p i os e pa râme t ros . Os p r i nc í p i os são p rop r i edades
ge ra i s das l í nguas , ou se j a , ca ra te r í s t i c as que t odas as l í nguas
ap resen t am , po r tan t o , não p rec i sam se r adqu i r i das ; j á os pa râ -
me t ros são p rop r i edades que uma l í ngua pode ou não ap re -
sen ta r . Po r i sso , os pa râme t ros são responsáve i s pe l a va r i a -
ção en t re as l í nguas , de modo que uma sen tença que v i o l a um
p r i nc í p i o é ag ramat i ca l em qua l que r l í ngua na tu ra l ; j á uma
sen tença que v i o l a um pa râme t ro pode se r g rama t i c a l em uma
l í ngua e ag ramat i c a l em ou t ra (M IOTO ; S ILVA ; LOPES , 20 13 ) .
Os pa râme t ros ap resen t am -se em número reduz i do , mas ,
ass im como os p r i nc íp i os , es t ão p rev i s t os pe l a GU . Con tudo ,
no es tág i o i n i c i a l , os pa râme t ros t êm seus va l o res em abe r t o , a
se rem espec i f i c ados de aco rdo com a l í ngua a que a c r i ança
ouv i r á ao seu redo r . Pa ra cada pa râme t ro , são cons i de rados
do i s va l o res : um pos i t i vo e um nega t i vo . Po r exemp l o , sendo o
su j e i t o nu l o um pa râme t ro , ex i s tem l í nguas , como é o caso do
po r t uguês , que adm i tem su j e i t o nu l o , e l í nguas , como o i ng l ês ,
que não o adm i tem . Uma c r i ança que , em f ase de aqu i s i ç ão , é
expos t a a dados de f a l a do i ng l ês marca rá o va l o r nega t i vo
pa ra pa râme t ro do su j e i t o nu l o ; j á uma cr i ança expos t a ao
i npu t do po r t uguês marca rá o va l o r pos i t i vo pa ra o mesmo
parâme t ro .
À med i da que os pa râme t ros vão sendo f i xados , ou se j a ,
à med i da que a c r i ança va i ac i onando pa ra cada pa râme t ro um
va l o r pos i t i vo ou negat i vo , a pa r t i r dos dados de f a l a que ouve
em seu en to rno , as g ramát i c as das l í nguas vão sendo fo rma -
das . Deve f i c a r c l a ro aqu i que a c r i ança f i xa os pa râme t ros da
l í ngua cu jos dados es t ão d i spon íve i s em seu amb i en t e . Ass im ,
uma c r i ança que é expost a aos dados de f a l a do po r t uguês ,
ac i ona rá os pa râme t ros do po r t uguês , como , po r exemp l o , o
va l o r pos i t i vo pa ra o pa râme t ro do su j e i t o nu l o , j á que a l í ngua
po r t uguesa adm i t e su j e i t o nu l o , ou se j a , a g ramá t i c a nuc lea r
dessa c r i ança se rá a do po r t uguês , l ogo , e l a f a l a rá po r tuguês .
Pa r t e da i n f o rmação necessá r i a ao p rocesso de aqu i s i ç ão
da l i nguagem es tá gene t i c amente cod i f i c ada , mesmo ass im , o
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 7 3 - 8 2 , 2 0 1 5
amb i en te e a expe r i ênc i a l i ngu í s t i c a são essenc i a i s ao p roces -
so . A c r i ança va i f a l a r a l í ngua que ouve ao seu redo r . Se os
adu l t os em vo l t a da c r i ança f a l am po r tuguês , é essa l í ngua que
e l a f a l a rá ; se f a l am j aponês , é esse i d i oma que e l a f a l a rá , e t c .
Em ou t ras pa l av ras , pa ra que a c r i ança ap renda uma l í ngua ,
e l a deve se r expos ta a dados de f a l a dessa l í ngua , pa ra que ,
a t r avés da f i l t r agem do i npu t , e l a ac i one os va l o res dos pa râ -
met ros de aco rdo com as ev i dênc i as dos dados de f a l a d i spo -
n í ve i s no amb ien te . Sendo ass im , embora possua a f acu l dade
da l i nguagem , pa ra que a c r i ança marque os pa râme t ros e use
uma l í ngua , e l a deve t e r con t a t o com os dados de f a l a dessa
l í ngua , de modo que uma c r i ança que c resce sem nenhum t i po
de con t a t o l i ngu í s t i co não desenvo lve rá nenhuma g ramá t i c a
nuc lea r .
No f i lme , He len não ap rendeu a l í ngua u t i l i z ada ao seu
redo r po rque , po r ser su rda , e l a não t eve con t a to com os
dados de f a l a dessa l í ngua , a l ém de t odas as cond i ções adve r -
sas ex i s ten tes em seu conv ív i o f am i l i a r . A impor t ânc i a do amb i -
en te e da expe r i ênc i a l i ngu í s t i ca é ev i denc i ada no f i lme quando
He l en ap rende a se comun ica r a t r avés da l í ngua de s i na i s ,
somen te quando expos t a aos dados dessa l í ngua , comprovan -
do que esses do i s f a t o res são essenc i a i s ao p rocesso de
aqu i s i ç ão l i ngu í s t i c a .
Quando t odos os va lo res pa ramé t r i cos de um s i s t ema
l i ngu í s t i co es t i ve rem dev i damen te marcados , é poss í ve l cons t a -
t a r , en t ão , que a c r i ança possu i o s i s t ema g rama t i c a l de uma
l í ngua pa r t i cu l a r , i s t o é , que a c r i ança adqu i r i u uma l í ngua .
4 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
Esse f i lme de Ar t hu r Penn t r a t a de assun tos de g rande
re l evânc i a e ge ra d i scussões ex tensas em d i ve rsos campos do
conhec imento , como na educação , na ps i co log i a , nas pesqu i sas
sob re l i nguagem , nos es tudos de c i nema , e tc . Aqu i , o f i lme f o i
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brevemen te ana l i s ado na á rea dos es tudos l i ngu í s t i cos , t endo
em v i s t a o p rocesso de aqu i s i ç ão da l i nguagem a pa r t i r da
abo rdagem ge ra t i va .
Pa ra os ob j e t i vos des t e esc r i t o , i n t e ressa que o l e i t o r
re f l i t a sob re como o f i lme O m i l ag re de Anne Su l l i v an ( 1 962 ) ,
a l ém de l evan t a r deba t es em d i ve rsas á reas do conhec imen to ,
rea f i rma a t eo r i a da co r ren t e l i ngu í s t i ca ge ra t i v i s t a pa ra
aqu i s i ç ão da l i nguagem . O exemp l o da ga ro t a He l en ,
rep resen t ada no en redo , f az o l e i t o r pe rceber que , po r t r ás do
a t o de f a l a r e compreende r uma l í ngua , esconde -se t odo um
p rocesso que não pode se r exp l i c ado apenas em t e rmos de
‚ t oda c r i ança f a l a uma l í ngua em uma ce r ta i dade ‛ . Ma i s que
i s so , o f i lme mos t ra que usa r e compreende r uma l í ngua é um
p rocesso comp l exo que envo lve p rop r i edades i na t as .
Embora os es tudos ge ra t i v i s t as tenham t raz i do con t r i bu i -
ções s i gn i f i c a t i vas pa ra exp l i c a r a ap rend i zagem l i ngu í s t i c a ,
a i nda há mu i t o que se d i ze r , po i s f a l a r uma l í ngua não cons i s t e
apenas em te r um apare l ho f onado r sem anoma l i as .
Po r f im , sa l i en t a -se que ou t ros ‚o l ha res ‛ podem se r d i r e -
c i onados a essa ob ra c i nema tog rá f i c a , cons i de rando a t emá t i c a
aqu i abo rdada , com out ras pe rspec t i vas , obse rvando/amp l i ando
a d i scussão em to rno desse assun to e en r i quecendo , com
i sso , a i nda ma i s o ramo dos es tudos l i ngu í s t i cos , no que se
re fe re às ques tões em to rno da aqu i s i ç ão da l i nguagem .
Abs t r ac t : Th i s pape r p r e sen t s a b r i e f ana l ys i s o f t he l a nguage
a c q u i s i t i o n p r o c e s s i n t h e f i l m T h e M i r a c l e o f A n n e S u l l i v a n
( 1 9 62 ) , by A r t hu r Pen , r e ga rd i n g gene r a t i ve t heo ry t o l a nguage
a c q u i s i t i o n , f o c u s i n g o n t h e F a c u l t y o f l a n g u a g e c o n c e p t s ,
i n t e r n a l i z e d g r a m m a r , c o m p e t e n c e a n d p e r f o r m a n c e a n d
Un ive rsa l G rammar . The ob j ec t i ve o f t h i s s t udy i s t o show how
t h i s f i l m c o n f i r m s t h e g e n e r a t i v e i d e a s a b o u t l a n g u a g e
acqu i s i t i o n . The r e sea r ches we re deve l oped f r om t he sc r i p t o f
s ome s ce ne s o f t h e f i l m , o b se r v i n g t h e s t r a t e g i e s o f t e a ch e r
Anne Su l l i v an to teach a l anguage t o a b l i nd and deaf g i r l .
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 7 3 - 8 2 , 2 0 1 5
Keywo rds : L anguage acqu i s i t i o n . T he M i r ac l e o f Anne Su l l i v an .
Gera t iv i sm .
R E F E R Ê N C I A S
CHOMSKY , Noam . O conhec imento da l í ngua : sua na tu reza ,
or i gem e uso . T radução de Anabe l a Gonça l ves e Ana Te resa
A lves . L i sboa : Cam inho , 1 994 .
KENEDY, Edua rdo . Cu rso bás ico de l i ngu í s t i ca ge ra t i va . São
Pau l o : Con tex to , 20 13 .
M IOTO , Car l os ; S ILVA, Mar i a C r i s t i na F i gue i r edo ; LOPES , Ru th .
Novo manua l de s i n t axe . F l o r i anópo l i s : Ed i t o ra I nsu l a r , 20 1 3 .
O MILAGRE de Anne Su l l i v an . P rodução de Ar t hu r Penn . R i o de
Jane i r o : A P l ay f i lms ’ P roduc t i on , 1 962 . 1 DVD .
Env i ado em : 1 1/03/20 15 .
Aprovado em : 29/04/20 15 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 8 5 - 9 5 , 2 0 1 5
MEU ARMÁR I O N ’ O CO RT I ÇO :
A HO MO SS EXUA L I DA D E D E A L B I NO E SUA
I N F LU Ê NC IA COM O D E T E R M I N I SMO
R omá r i o S e n a O l i v e i r a ( U E F S )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
r om a s i n 7 7@ gma i l . c om
Resumo : O p r e sen t e a r t i g o p r e t e nde d i s cu t i r e ana l i s a r ace r c a
d a h omo s se x u a l i d a d e d a p e r s o n a g em A l b i n o , r e l a c i o n a n d o - o
c om a s t e o r i a s e x i s t e n t e s d u r a n t e o s é c u l o X I X , t a i s c omo o
D e t e r m i n i s m o G e o g r á f i c o , o e v o l u c i o n i s m o D a rw i n i a n o e a s
dema i s t eo r i as p resen tes , l evando em con t a o con tex to h i s t ó r i -
c o d o N a t u r a l i s m o v i g e n t e n e s s a é p o c a . C o n s i d e r a - s e a
i n f l uênc i a do De te rm i n i smo Geog r á f i c o e seu pape l no compo r -
t a m e n t o d e a l g u m a s p e r s o n a g e n s , e d e s u a p r e s e n ç a n a
s o c i e d a d e d a q u e l e c o n t e x t o h i s t ó r i c o , r e a l ç a n d o a s m a r c a s
p r o f u n d a s q u e f o rm a s d e r e s i s t ê n c i a c omo , p o r e x emp l o , o
p r e c o n c e i t o s e x u a l , a p r o s t i t u i ç ã o e o r o u b o i m p r i m em n a
n aç ão b r a s i l e i r a a t é os d i a s de ho j e , e mos t r a ndo q ue a l g un s
d o s a s p e c t o s a n t e r i o rm e n t e a b o r d a d o s n o s é c u l o X I X a i n d a
s ã o r e c o r r e n t e s n o s d i a s a t u a i s . O p o r t u n i z a - s e , t am bém , n o
e s t u d o , a r e p r e s e n t a ç ã o d a h om o s s e x u a l i d a d e n o l i v r o O Co r t i ç o e a aná l i se de a l gumas pe r sonagens com es t as ca r ac -
t e r í s t i c as , d ando ma i o r des t aque à pe r sonagem A l b i n o e como
e l e c o n t r i b u i u p a r a e s s a c a r a c t e r i z a ç ão f i g u r a t i v a d a i m agem
do homossexua l .
P a l a v r a s -c have : D e t e rm i n i smo . H omossexu a l i d a d e . S é cu l o X I X .
Na tu ra l i smo .
1 I N T R O D U Ç Ã O
Romance de cunho soc i a l , O Cor t i ço , de A l u í s i o Azevedo ,
é o marco da l i t e r a t u ra rea l i s t a -na tu ra l i s t a b ras i l e i r a . T ra ta -se
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
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de uma ob ra de i nd i scu t í ve l impo r t ânc i a pa ra a nossa l i t e r a tu ra ,
po i s d i scu te impor t an tes aspec tos do sécu lo X IX no âmb i t o da
i n t e l ec tua l i d ade : a conve rgênc i a en t re soc i o l og i a , b i o l og i a , c i en -
t i f i c i smo e evo l uc i on i smo , aspec tos que a t é en t ão não hav i am
receb i do o merec i do des taque po r pa r t e dos i n t e l ec t ua i s , em
espec i a l , dos l i t e r a t os . Pub l i c ado no ano de 1 890 , a ob ra f az o
au to r re t r a t o do B ras i l no f im do Segundo Re i nado , rec r i ando a
rea l i d ade dos co r t i ços da época .
O Na tu ra l i smo é i nse r i do na ob ra com o pape l de mos t ra r
o que acon tece naque l e sécu l o – as t r ans fo rmações , as
descobe r t as das c i ênc i as e o desenvo lv imento das t eo r i as
c i en t í f i c as e soc i a i s – e é u t i l i z ado pa ra t en t a r exp l i c a r os
p rob l emas de o rdem soc i a l . O romance vo l t a -se de mane i r a
con tumaz pa ra as carac te r í s t i c as soc i a i s e c i en t í f i c as de seu
t empo . Podemos percebe r o d i r ec i onamento ps i co l óg i co -
soc i o l óg i co dado ao homem, que passa a se r su j e i t o e p rodu to
da raça , do me i o e do momen to h i s t ó r i co , t a l como ressa l t a , em
ensa i o , A f f onso Romano San t ’Anna ( 1 979 , p . 99 ) : ‚O Cor t i ço se
r ea l i z a ao rea l i z a r ( s i c ) os p ressupostos c i en t í f i c os do séc . X IX
reve r t i dos pa ra a sé r i e l i t e r á r i a a t r avés do que se convenc i o -
nou chamar Na tu ra l i smo ‛ .
Pa ra Cout i nho ( 1 986 , p . 5 ) , não há uma c rono l og i a p rede f i -
n i da pa ra a d i v i são dos mov imen tos l i t e r á r i os do sécu l o X IX :
Os m a r c o s c r o n o l ó g i c o s , q u a n d o a q u i s e i m p õ em , s ã o m e r o s p o n t o s d e r e f e r ê n c i a , a s s i n a l a n d o a m a r c h a d a s i d e i a s e d a s t e n d ê n c i a s . A c i m a d e t u d o , o q u e r e v e l a f i x a r s ã o o s c a r a c t e r e s e s p e c í f i c o s d o s m o v i m e n t o s , s e u e s t i l o , s u a s i d e i a s d i r e t o r a s , s u a s c o n c e p ç õ e s f i l o s ó f i c a s , e s t é t i c a s e p o é t i c a s , s e u s p r o g r am a s , s e u s r e p r e se n t a n t e s m a i s t í p i c o s , s u a s o b r a s .
A par t i r d isso , podemos entender que não há a necess i dade
de d iv isão crono lóg ica das correntes l i t e rá r ias e , quando há o
surg imento de a lguma, i sso se deve a caracter ís t icas comuns às
obras , ou por necess idade d idát ica , como, por exemp lo , em l iv ros
de esco la regu la r , onde há essa necess ida de .
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O Na tu ra l i smo pode se r enca rado como um mov imento
espec í f i c o do sécu l o X IX , po i s , an tes d i sso , não e ra v i s t o como
um mov imen to l i t e r á r i o , e s im como uma ca tego r i a es té t i c a ou
t empe ramen to a r t í s t i co , ou , a i nda , como i nc l i n ação ge ra l da
a lma humana em d iversos t empos , como o Roman t i smo . Pa ra
A f rân i o Cou t i nho ( 1 986 , p . 1 1 ) , o Na tu ra l i smo sempre ex i s t i u
como tendênc i a , mas de fo rma con tundente :
Qu an t o a o N a t u r a l i sm o , é um R e a l i smo a q u e s e
a c r e s c e n t am c e r t o s e l e me n t o s q u e s e d i s t i n g u em e
t o r n am i n c o n f u n d í v e l s u a f i s i o n om i a em r e l a ç ã o a e l e .
N ã o é a p e n a s o e x a g e r o o u um a s i m p l e s f o rm a r e f o r -
ç a d a d o R e a l i smo , p o i s q u e o t e rm o i n c l u i e s c r i t o r e s
q u e n ã o s e c o n f u n d em c om o s r e a l i s t a s . É o R e a l i sm o
f o r t a l e c i d o p o r um a t e o r i a p e c u l i a r , d e c u n h o c i e n t í f i -
c o , um a v i s ã o m a t e r i a l i s t a d o h om em , d a v i d a e d a
s o c i e d a d e .
O sécu l o X IX fo i um dos ma i s i n t ensos no que d i z respe i -
t o às t r ans fo rmações , de t oda o rdem : po l í t i ca , econôm ica , soc i -
a l , f i l o só f i c a e , p r i nc i pa lmen te , c i en t í f i c a . En tão , t eo r i as como o
Pos i t i v i smo , o De te rm in i smo , o Evo l uc i on i smo t êm c l a ra i n f l uên -
c i a na p rodução l i t e rá r i a rea l i s t a -na tu ra l i s t a , sendo O co r t i ço
um impor t an te exemp lo no qua l es t ão p resen tes t odas essas
ca rac te r í s t i c as de que f a l ávamos an t e r i o rmen te . Po r se r uma
ob ra t i p i c amente na tu ra l i s t a , r eve l a t emá t i c as que se vo l t am às
ques tões soc i a i s , t a i s como a pe rcepção de que o me i o i n te r -
f e re nas a t i t udes do homem, na v i são do es t range i r o , na pos i -
ção subm i ssa da mu lhe r , na ava reza e na descons t rução de
va l o res impor t an tes para a época , en t re t an tos ou t ros .
Em meados do sécu l o X IX , quando a ob ra O cor t i ço vem
a l ume , a co r ren te de pensamento de te rm i n i s t a do f i l ó so fo ,
h i s t o r i ado r e c r í t i c o l i t e r á r i o H i ppo l y te Ado l f Ta i ne es t ava em
f ranca ascensão e ace i t ação f e rvo rosa na es fe ra i n t e l ec t ua l , o
que de ixou g randes marcas na soc iedade da época , não só no
que d i z respe i t o ao compor t amen to , mas t ambém à p róp r i a
p rodução da l i t e r a t u ra .
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A teo r i a f i l o só f i c a desenvo lv ida po r Ta i ne segue a o r i en -
t ação de que os compor t amen tos soc i a i s são f ru t o do me i o , da
raça e do momen to h i s t ó r i co . Na ob ra de A l u í s i o Azevedo ,
após um es tudo do pe r í odo h i s t ó r i co e das t eo r i as de te rm i n i s -
t as em voga , no t am-se os pontos des t acados ac ima . A l ém
d i sso , pe rcebemos personagens p ro fundamen te a l t e rados pe l o
me i o , no que d i z respe i t o à ques tão soc i a l e/ou ao momento
h i s t ó r i co , como , po r exemp l o , as pe rsonagens Pomb i nha e D .
I sabe l , sua mãe . D i f e ren temen te de seus an t ecesso res , A l u í s i o
Azevedo usa o c i en t i f i c i smo e as vá r i as t eor i as que o rondam
e comp l emen tam , pa ra mos t ra r os acon tec imen tos e o que
essas t eo r i as i n f l uenc ia ram no âmb i to soc i a l , de i xando de l ado
o sen t iment a l i smo dos pe r í odos que o an t ecede ram , i de i a
de i xada pe l os au to res român t i cos e , em par te , pe los rea l i s t as . A
este respe i to , Cout inho ( 1986 , p . 12 ) d iz :
C omo o s r e a l i s t a s , p o r ém , o s n a t u r a l i s t a s p r o c u r av am
a v e r d a d e , d e s d e n h a r am d o s e n t i m e n t a l i sm o , p r e o c u -
p a r am - se c om a é p o c a c o n t em po r â n e a e c o n s t r u í r am
s e u s l i v r o s s o b r e o f u n d am en t o d o s f a t o s p r e c i s a -
m en t e o b s e r v a d o s e f i e l m e n t e r e c o l h i d o s , a o m e smo
t em po em q u e o s s e u s e n r e d o s e n a r r a t i v a s s e mo v i -
am c om l e n t i d ã o .
D i an te de t odas as ca rac te r í s t i c as na tu ra l i s t as p resen tes
na ob ra , no t amos que há p reocupação em re l a t a r ques tões
emb lemát i c as que são mu i t o rep resen t a t i vas da v i da das cama -
das menos ou nada f avo rec idas do sécu l o X IX , p r i nc i pa lmente
da v i da em um cor t i ço , como , po r exemp lo , a esc rav i dão , o
preconce i to rac ia l , de or ientação sexua l e de c lasse , o adu l té r io ,
o roubo , a prost i tu ição , a exp loração t raba lh is t a , sexua l , e tc .
Todas essas cr í t i cas podem ser perceb idas na obra azeved iana .
Das ques tões c i t adas ac ima , podemos des t aca r uma que ,
no deco r re r da na r ra t i va , passa a se r bas t an te desenvo lv i da
na pe rsonagem de A l b i no : o p reconce i t o de o rdem sexua l , que
apa rece a i nda ve l ado po r ques tões h i s t ó r i c as e que t e rá ma i s
des taque a segu i r nes t e t r aba l ho .
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2 D E S E N V O L V I M E N T O
A t emá t i c a homossexua l sempre es teve p resen te na
H i s t ó r i a da L i t e ra t u ra , se j a de f o rma ma i s ve l ada , se j a de
f o rma ma i s exp l í c i t a . N ’O cor t i ço , há a p resença de t rês pe rso -
nagens homossexua i s : A l b i no , Pomb i nha e Léon ie . A p r ime i r a
pe rsonagem a apa rece r é Pomb i nha , que , a p r i nc í p i o , na h i s t ó -
r i a , su rge como ‚a f l o r do co r t i ço . [ . . . ] Bon i t a , pos to que enfe r -
m iça e ne rvosa ao ú l t imo pon to ; l o i r a , mu i to pá l i d a , com uns
modos de men i na de boa f am í l i a . ‛ (AZEVEDO, 2005 , p . 37 ) .
Pomb i nha , apesa r de ap resen t a r pos tu ra de boa moça , no f im
é i n f l uenc i ada pe l o me i o em que v i ve , e seu con t a t o com a
p ros t i t u ta Léon ie a f az se reve l a r homossexua l e abandonar
seu no ivo e f am í l i a pa ra v i ve r com a aman te . O segundo a
apa rece r na h i s t ó r i a é A l b i no , que a i nda merece rá ma i s des t a -
que nes t a aná l i se , po i s a sua pos tu ra enquan to homem do
sécu l o X IX e a mane i r a como a sua sexua l i dade i n t e r f e re no
seu compor t amen to é impor t an te pa ra o que se p re tende
d i scu t i r no t r aba l ho . A l b i no apa rece na ob ra como ‚ [ . . . ] um
su j e i t o a fem inado , f r aco , co r de espa rgo coz i do e com um
cabe l i nho cas t anho , des l avado e pob re , que l he ca í a , numa só
l i n ha no pescoc i nho mo l e e f i no . ‛ (AZEVEDO, 2005 , p . 39 ) . O
que i l u s t r a uma imagem j á es t e reo t i pada , porém camuf l ada , da
pe rsonagem , pos to que as ca rac t e r í s t i c as de desc r i ç ão dadas
a e l e são sempre f i ncadas em es te reó t i pos que supos t amen te
ca rac te r i zam a homossexua l i dade . Po r f im , a t e rce i r a pe rsona -
gem a apa rece r na h i s t ó r i a é Léon ie , madr i nha de Pomb i nha ,
homossexua l e p ros t i t u t a .
Es t a pe rsonagem é ass im desc r i t a pe l o au to r :
L é on i e , c om a s s u a s r o u p a s e x a g e r a d a s e b a r u l h e n -
t a s d e c o c o t e à f r a n c e s a , l e v a n t a v a r um o r q u a n d o l á
i a e p u n h a e x p r e s s õ e s d e a s s om b r o em t o d a s a s
c a r a s . O s e u v e s t i d o d e s e d a c o r d e a ç o , e n f e i t a d o
d e e n c a r n a d o s a n g u e d e b o i , c u r t o , p e t u l a n t e ,
m o s t r a n d o u n s s a p a t i n h o s à m o d a c om um s a l t o d e
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q u a t r o d e d o s d e a l t u r a ; a s s u a s l a v a s d e v i n t e b o t õ e s
q u e l h e c h e g a v am a t é a o s s o v a c o s ; a s u a s om b r i n h a
v e rm e l h a , s um i d a n um a n u v em d e r e n d a s c o r - d e - r o s a
e c om g r a n d e c a b o c h e i o d e a r a b e s c o s e x t r a v a g a n -
t e s ; [ . . . ] o s s e u s l á b i o s p i n t a d o s d e c a rm im ; s u a s
p á l p e b r a s t i n g i d a s d e v i o l e t a ; o s e u c a b e l o a r t i f i c i a l -
m e n t e l o u r o ; t u d o i s t o c o n t r a s t a v a t a n t o c om a s
v e s t i m e n t a s , o s c o s t ume s e a s m a n e i r a s d a q u e l a
p o b r e g e n t e , q u e d e t o d o s o s l a d o s s u r g i am o l h o s
c u r i o s o s a e s p r e i t á - l a p e l a p o r t a d a c a s i n h a d e
A l e x a n d r e [ . . . ] ( AZ EVEDO , 2 0 0 5 , p . 1 0 5 ) .
Podemos pe rcebe r que a desc r i ç ão dada pe l o na r rado r à
pe rsonagem Léon i e é t o t a lmen te des toan te daque l e hum i l de
amb i en te de gen te pob re e s imp l es . A descr i ç ão espa l ha f a t osa
da pe rsonagem ev i denc i a sua p ros t i t u i ç ão , pos to que as
mu l he res daque l a época não ap resen t avam esse fo r te ape l o
sensua l no ves t i r , o que pode se r pe rceb i do a t r avés da
desc r i ç ão de ou t ras vá r i as pe rsonagens fem in i nas na p róp r i a
obra e em out ras do per íodo . Porém, o nar rador não permane ce
tanto com o foco na prom iscu idade escancarada da perso nagem.
Focando , po r f im , em A lb i no , podemos no t a r t oda a t r ans -
fo rmação que o me i o supost amen te ope ra na pe rsonagem , o
que nos i n f l u i a re f l e t i r ace rca da t eo r i a desenvo lv i da po r
Ta i ne e j á c i t ada an te r i o rmen te nes t e t r aba l ho (De te rm i n i smo
soc i a l ) , que acaba i n f l uenc i ando no compor t amento des t a
pe rsonagem . As ca rac t e r í s t i c as i n i c i a i s dadas a A l b i no j á t r a t am
de ev i denc i a r ce r t a d i f e rença en t re e l e e os dema i s homens do
co r t i ço . Se pensa rmos ace rca do con tex to soc i a l da época , po r
exemp l o , a pe rsonagem suprac i t ada não se enquad ra f unc i o -
na lmen te , po i s t em uma p ro f i ssão que , ge ra lmen te , é exe rc i da
po r mu l he res , a t é mesmo nos d i as de ho j e . Po r se r t ão p róx i -
mo e t ão f am i l i a r i zado com o amb i en t e f em in i no , A l b i no acaba
sendo v i s t o pe l as mu l he res do co r t i ço como uma ‚comadre ‛ ,
com quem e l as não se enve rgonham de t r a t a r de assun to
a l gum . ‚ [ . . . ] v i v i a sempre en t re as mu l he res , com quem j á es t a -
va f am i l i a r i zado , que e l as o t r a t avam como uma pessoa do
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mesmo sexo [ . . . ] em presença de l e f a l avam de co i sas que não
expor i am em p resença de ou t ro homem [ . . . ] ‛ (AZEVEDO , 2005 ,
p . 39 ) . O au to r de i xa i sso ev i denc i ado , po i s asseme l ha o
compor t amen to de A l b i no ao das mu l he res l avade i r as , ma i s
uma vez acen tuando sua homossexua l i dade e des t acando a
i n f l uênc i a do de te rm i n i smo soc i a l e seu pape l no compor t amen -
to da pe rsonagem .
A l b i no é cons t an temen te o fend i do po r ou t ros morado res
do co r t i ço , em sua ma i o r i a homens . Um exemp l o : quando e le
es t á em uma conf ra te rn i zação na casa de R i t a Ba i ana , Po r f i r o
começa a f aze r um jogo só rd i do e enganoso de sedução a f im
de hum i l há - l o , na t en ta t i va de f azê - l o most ra r sua sexua l i dade
e se r expos to ao r i d í cu l o . Em ou t ra passagem desc r i t a pe l o
nar rado r , a zombar i a é a i nda ma i s ac i n t osa : ‚ [ . . . ] o ou t ro d i ve r -
t i a -se a pe rsegu i r o A l b i no , ga l an teando -o a f e tadamente , pa ra
f aze r r i r à soc i edade . O l avande i r o i nd i gnava -se , dava o cava -
co . ‛ (AZEVEDO, 2005 , p . 68 ) . Quando , na ob ra , há re fe rênc i a à
pe rsonagem A lb i no , no t a -se sempre que a zombar i a e ra fe i t a
em to rno da l angu i dez do rapaz ou de seu compor t amento
sexua l , o que reve l a a nega t i v i dade a t r i bu í da à homossexua l i -
dade na época .
A desc r i ç ão da casa de A l b i no é ou t ro f a t o r que j u l ga -
mos de re l evânc i a apon t a r , po i s i nd i ca a d i f e renc i ação com os
dema i s homens do co r t i ço . O na r rado r desc reve :
A c a s a d e l e d e s t a c a v a - s e d a s o u t r a s ; e r a n o a n d a r
d e b a i x o e c á d e f o r a v i a - s e - l h e o p a p e l v e rme l h o d a
s a l a , a m o b í l i a m u i t o b r u n i d a , j a r r a s d e f l o r e s s o b r e a
c ôm o d a , um l a v a t ó r i o c om o e s p e l h o t o d o c e r c a d o d e
r o s a s a r t i f i c i a i s , um o r a t ó r i o g r a n d e , r e s p l a n d e c e n t e
d e p a l m a s d o u r a d a s e p r a t e a d a s , t o a l h a s d e r e n d a
p o r t o d a a p a r t e , n um l u x o d e i g r e j a , c a s q u i l h o e
d e f um ado . ( AZ EVEDO , 2 0 05 , p . 2 1 2 - 1 3 ) .
Um dos ú l t imos momen tos em que a pe rsonagem merece
des taque den t ro da ob ra é quando oco r re um acontec imen to
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i n só l i t o : o apa rec imento de fo rm i gas em sua cama . Podemos
suge r i r uma conc l usão de que esse acontec imen to re f l e te uma
d i s f a rçada mudança ou a f as t amento de sua na tu reza , pos to
que e l e é a l t amente c r i t i c ado e apon t ado pe l as pessoas com
quem tem de conv ive r naque le m í se ro co r t i ço . Na ob ra apa rece
a segu i n te passagem ace rca do apa rec imento de fo rm i gas na
cama de A l b i no :
Os c omp a n h e i r o s d e e s t a l a g em e l o g i a v am - l h e a q u e l a
o r d em e a q u e l e a s s e i o ; p e n a e r a q u e l h e d e s s em a s
f o rm i g a s n a c am a ! Em v e r d a d e , n i n g u ém s a b i a p o r
q u e , m a s a c am a d e A l b i n o e s t a v a s em p r e c o b e r t a d e
f o rm i g a s . E l e a d e s t r u í - l a s e o d em ôn i o d o b i c h i n h o a
m u l t i p l i c a r - s e c a d a v e z m a i s e m a i s t o d o s o s d i a s .
Um a c amp a n h a d e s e s p e r a d o r a , q u e o t r a z i a t r i s t e ,
a b o r r e c i d o d a v i d a . ( AZ EVEDO , 2 0 0 5 , p . 2 1 3 ) .
Podemos en tende r a i ns i s t ênc i a no apa rec imen to das
fo rm i gas na cama de A l b i no como uma mane i r a de rep resen t a r
a d i f i c u l dade da pe rsonagem em re l ação à sua s i t uação amoro -
sa e sexua l , l evando -se em con t a que , numa cama che i a de
f o rm i gas , um encon t ro amoroso se r i a nada menos que imposs í -
ve l , a l ém de chamar a t enção pa ra o f a t o de que , em momen to
a l gum , há i ns i nuação de casos amorosos na v i da da pe rsona -
gem . No t amos que , no caso espec í f i c o de A l b i no , a homosse -
xua l i dade é ap resen t ada de mane i r a i n t e i r amen te es t e reo t i pada ,
ca i ndo mu i t as vezes na ca r i c a tu ra e , poss i ve lmen te , resva l ando
pa ra uma v i são p reconce i t uosa , o que con t r i bu i pa ra o f o r t a l e -
c imen to da ca rga negat i va que se es t abe lece d i an t e da homos -
sexua l i dade – o que pode , a i nda ho j e , se r obse rvado em âmb i -
t o soc i a l , em ma i o r ou menor g rau .
Obra de g rande impor t ânc i a na L i t e ra t u ra B ras i l e i r a , O Cor t i ço , p r i nc i pa l r ep resen t an te do Na tu ra l i smo b ras i l e i r o , é um
l i v ro a tempora l , o que se comprova ao es tudá - l o , e é a í
t ambém que pe rcebemos a a t ua l i d ade das suas pág i nas .
T ra t ando de assun tos que , na época , es t avam no auge , pode -
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mos es t abe l ece r pa ra l e l os com nosso t empo e momento , em
que são bas t an t e comuns a l guns compor tamen tos como os
ap resen t ados na ob ra , em espec i a l o que pode se r bem v i sua -
l i z ado com a pe rsonagem que recebeu ma i o r des t aque no
p resen te t r aba l ho , o l avande i r o A l b i no .
Os resqu í c i os das d i ve rsas t eo r i as , como o de t e rm in i smo
geográ f i co de raça e de me i o , desenvo lv idos pe l a i n t e l ec tu -
a l i d ade de en t ão , a i nda recaem sobre as pessoas ho j e ; a
c rença de que a homossexua l i dade pode ser de te rm i nada pe l o
me i o em que as pessoas v i vem é bas t an t e p resen te no
pensamen to da soc i edade a t ua l . A homossexua l i dade nes t a
ob ra é rep resen t ada de duas mane i r as : a p r ime i r a de l as , no
caso de A l b i no , de modo es te reo t i pado e ob l í quo , onde vemos
que func i ona como ca rac te r i zado r soc i a l ; a segunda , com
Léon ie e Pomb i nha , que t em uma rep resen t ação ma i s v i ncu l ada
com o p raze r sexua l .
3 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
Depo i s de t odas as aná l i ses f e i t as no decor re r do t r aba -
l ho e , em espec i a l , a da pe rsonagem A lb i no , pode -se pe rcebe r
que , desde a época re t r a t ada na na r ra t i va a té os d i as de ho j e ,
o p reconce i t o con t ra o homossexua l es t á p resen te na soc i e -
dade , apesa r de t an tas man i f es t ações de p ro tes t o con t ra as
f o rmas de p reconce i t o de t oda o rdem , e , em espec i a l , no que
d i z respe i t o à o r i en t ação sexua l . A tua l mente , o d i scu rso de
ód i o que reca i sob re os homossexua i s é , mu i tas vezes , a l ar -
mante , e podemos perceber que este mesmo d iscurso vem de
épocas remotas , em que nasce e , com o passar do tempo, se
conso l ida . O estudo dessas ca rac t e r í s t i c as é impor t an te , po i s ,
como num re f l exo , podemos pe rcebe r em nosso t empo os
ca rac te res da soc iedade da época em que es t as ob ras f o ram
esc r i t as e t en t a r en tende r , a l ém da gênese , os mo t ivos de se
t e r conso l i dado o p reconce i t o na men ta l i d ade de nossa soc i e -
dade , apon t ando ass im i n t enção de mudança de compor -
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t amen to e de men ta l i dade e cam inhos que nos possam nor t ea r
num novo modo de perce be r o ou t ro .
A b s t r a c t : T h e s t u d y a i m s t o b r i n g s om e r e f l e c t i o n s o n t h e
p re sence o f homosexua l i t y i n t he wo r k O Co r t i ço , emphas i z i ng
t h e A l b i n o c h a r a c t e r , t h e c u r r e n t s c i e n t i s t i c t h e o r i e s i n t h e
n i n e t e e n t h c e n t u r y a n d i t s r o l e w i t h t h e N a t u r a l i s m . I t i s
c o n s i d e r e d t h e i n f l u e n c e o f d e t e rm i n i s m a n d i t s r o l e i n t h e
b e h av i o r o f s ome c ha r a c t e r s , a n d i t s p r e s e nc e i n s o c i e t y o f
t h a t t i m e . H i g h l i g h t i n g t h e d e e p s c a r s t h a t t h e s e f o r m s o f
r e s i s t ance , such as sex i sm , p r os t i t u t i o n and t he f t t h a t p r i n t t o
t h e B r a z i l i a n n a t i o n u n t i l t o d a y , s h ow i n g t h a t s om e o f t h e
po i n t s ra i sed i n t he n ine teen th cen tu ry a re s t i l l r ecu r ren t t oday .
T h e a n a l y s i s w a s f o c u s e d o n t h e r e p r e s e n t a t i o n o f
h omo s e x u a l i t y i n t h e b o o k O C o r t i ç o a n d t h e d e s c r i p t i o n o f
some cha rac t e r s w i t h t hese f ea t u res , p l ac i ng g rea t e r emphas i s
on t he cha rac te r A l b i no .
Keywords : De te rm i n i sm . Homosexua l i t y . X IX cen tu ry . Na tu ra l i sm .
R E F E R Ê N C I A S
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Env i ado em : 22/03/20 15 .
Aprovado em : 14/09/20 15 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 9 7 - 1 1 0 , 2 0 1 5
T R I S T E F I M D E P OL I CAR P O QUA R E SMA : UMA
A NÁ L I S E SO B R E O NA C IO NA L I SMO
R OMÂ NT I CO
Ca r i s e S u a n e d e J e s u s S a n t o s ( U E F S )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
s u u h . f s a @ h o tm a i l . c om
V a n e s s a d o s S a n t o s P e r e i r a ( U E F S )
L i c e n c i a t u r a em L e t r a s V e r n á c u l a s
n e s s a p e r e i r a . 1 8 @ gma i l . c om
P r o f . ª M e . A n d r é i a A r a ú j o ( O r i e n t a d o r a /U E F S )
D e p a r t am e n t o d e L e t r a s e A r t e s ( D LA )
a n d r e i a . c om . a c e n t o @ gma i l . c om
R e s um o : O p r e s e n t e t r a b a l h o t e m c om o o b j e t i v o a n a l i s a r a
p re sença do Nac i on a l i smo Român t i c o do sécu l o X IX no pe r so -
nagem Po l i c a r po Qua re sma , p r o t agon i s t a do l i v r o T r i s t e F im de P o l i c a r p o Qu a r e sma ( 1 9 9 7 ) , t e n d o c omo b a s e t e ó r i c a a u t o r e s
como E l vya Pe re i r a ( 2004 ) e Fe rd i n and Den i s ( 1 9 68 ) , que f azem
c o n s i d e r a ç õ e s s o b r e a L i t e r a t u r a B r a s i l e i r a , s u a h i s t ó r i a e
t e c e m r e l a ç õ e s e n t r e a s c a r a c t e r í s t i c a s d a o b r a d e L i m a
Ba r re t o e de ou t ros au to res . Nessa ob ra , L ima Ba r re t o c r i t i c a o
m o de l o n a c i o n a l i s t a r om â n t i c o a t r a v é s d a s a ç õ e s d o p e r s o -
n agem p r i n c i p a l , a p r e s e n t a n do - o c om um p r o j e t o n a c i o n a l i s t a
q u e r e sg a t a a s o r i g en s i n d í g e n a s , n uma t e n t a t i v a d e r e con s -
t r u i r a i den t i d ade b r as i l e i r a , com uma f o r t e c r í t i c a aos mode l o s
e u r o p e u s , d e m o n s t r a n d o c om o o u f a n i s m o e r a v i s í v e l n o
p e r s o n a g em . A o b r a s e t r a d u z , s o b o s o l h o s d o a u t o r p r é -
mode rn i s t a b ras i l e i r o , numa c r í t i c a soc i a l em re l ação a Po l i c a r po
e sua f aná t i c a ado ração nac i ona l .
P a l a v r a s - c h a v e : N a c i o n a l i s m o . L i m a B a r r e t o . T r i s t e F i m d e Po l i c a rpo Quaresma . I den t i dade .
E l e e r a um b r a s i l e i r o p o r i n t e i r o .
L i m a B a r r e t o , T r i s t e F i m d e P o l i c a r p o Qu a r e sm a
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
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1 I N T R O D U Ç Ã O
O mov imen to român t i co p r i nc i p i ou uma f ase de mudanças
s i gn i f i c a t i vas e p ro fundas no âmb i to cu l t u ra l da Eu ropa e , ma i s
t a rde , em ou t ros pa í ses . Ca rac te r i zado pe l a va l o r i zação da
sub j e t i v i dade , a i dea l i z ação f em in i na , o sen t iment a l i smo exace r -
bado , o f o r te dese jo de an i qu i l ação e a busca pe l a f i rmação da
nac i ona l i d ade , o mov imento poss i b i l i t ou a ‚ f o rmação ‛ da i den t i -
dade l i t e r á r i a de pa í ses que fo ram co l ôn i as da f amosa un i ão
i bé r i c a e marcou o sécu l o X IX com seus fo r t es i dea i s i nd i v i du -
a l i s t as . As ca rac t e r í s t i c as desse mov imen to f o ram , de f a to ,
pe r t i nen t es pa ra os re f l exos que es te causava ao nac i o -
na l i smo . A va l o r i zação quase u tóp i ca da f auna , da f l o ra e de
t udo que aqu i hav i a conso l i dava as i n f l uênc ias que o roman t i s -
mo t i nha sob re o pensamen to do homem nac i ona l .
O B ras i l , uma das impor t an tes co l ôn i as de Por t uga l , t eve a
i ncumbênc i a de recebe r a f am í l i a rea l po r tuguesa , que fug i a
das t ropas napo leôn icas , em 1808 . Dessa fo rma , ab r i u -se o
cam inho pa ra que a emanc i pação po l í t i c a da co l ôn i a f osse
dec l a rada em 1822 . A i ndependênc i a do B ras i l co i nc i d i u j us t a -
mente com a fo rça do roman t i smo , po i s no se i o b ras i l e i r o j á
hab i t avam jovens esc r i t o res que t omavam as i de i as românt i c as
pa ra suas ob ras e buscavam a va l o r i zação da i den t i dade
b ras i l e i r a . É nessa pe rspec t iva que esses mancebos t endem a
t omar pa ra s i a m i ssão de reconhece r e va l o r i za r o passado
b ras i l e i r o , ou se j a , es fo rçando -se pa ra c r i a r uma l i t e r a tu ra l eg i -
t imamen te b ras i l e i r a .
Ass im fo i marcada a p r ime i r a ge ração român t i ca – a
conqu i s t a de uma f ace pa ra um novo pa í s – , vo l t ando ao
passado pa ra c r i a r seus he ró i s e t en tando a f i rmar -se como
nação . No en t an to , t odas as t en t a t i vas co i nc i d i am com o mode -
l o eu ropeu . Es te , po r sua vez , buscava na I dade Méd i a seus
pa râme t ros , enquanto no B ras i l a imagem do í nd i o e ra o modo
de i den t i f i ca r esse pa í s a i nda em cons t rução po l í t i c a e , p r i nc i -
pa lmen te , cu l t u ra l .
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Porém , e ra imposs íve l da r i den t i dade a um l oca l onde as
i n f l uênc i as f r ancesas , po r t uguesas e espanho l as f e rv i l h avam
nas men tes desses que a lme j avam l i be r t a r -se das he ranças
l us i t anas . D i ve rsos moços sa i am pa ra es tuda r nas un i ve rs i da -
des f r ancesas e po r t uguesas , e vo l t avam com i de i as e ca rac -
t e r í s t i c as que impr im i am em suas ob ras , mas que e ram u t i l i z a -
das como pa râmet ro pa ra e l abo ração da i den t i dade e nac i ona l i -
dade b ras i l e i r as . Ma i s t a rde , as pub l i c ações desses j ovens ,
adv i ndas de suas formações i n te l ec tua i s , con t r i bu í r am como
mode l os pa ra a e l abo ração da nac i ona l i d ade b ras i l e i r a .
2 C O N S I D E R A Ç Õ E S S O B R E A O B R A E O A UT O R O T r i s te F im de Po l i ca rpo Quaresma f o i pub l i c ado i n i c i a l -
mente em fo l he t i ns do Jo rna l do Comérc i o , do R i o de Jane i r o ,
em 1 9 1 1 , e pos te r i o rmen te em l i v ro , em 1 9 1 6 . Cons i de rada a ob ra
ma i s f amosa de L ima Ba r re t o , o l i v ro cen t ra -se na t emá t i ca do
nac i ona l i smo ca r i c a tu rado , numa t en t a t i va de descons t ru i r essa
nac i ona l i d ade pau t ada em mo l des eu ropeus , co l ocando -a como
um va l o r a se r rev i s to . A re fe r i da ob ra é uma rep resen t ação
ve ross ím i l da popu l ação b ras i l e i r a , em espec i a l do povo ca r i oca
e de sua reg i ão suburbana , a qua l most ra a rea l i d ade em duas
f aces : a p r ime i r a , o so f r imen to e a op ressão so f r i dos pe l a
popu l ação pob re dessa reg i ão ; a segunda , o mundo vago da
bu rgues i a med í oc re e a Repúb l i ca com o m i l i t a r i smo exage rado .
L ima Ba r re t o f oge dos mode l os l i t e r á r i os an t i gos e do
p rec i os i smo re t ó r i co , e ap resen t a uma nova t endênc i a l i t e r á r i a
com sua fo rma de esc reve r , expondo e c r i t i c ando a rea l i d ade
soc i a l b ras i l e i r a de f o rma s imp l es e com tom sa t í r i c o e i r ôn i co .
O au to r enca i xa -se , po r t an to , no p ré -mode rn i smo , pe r í odo
ca rac te r i zado pe l a u t i l i z ação da l i nguagem i n f o rma l e po r abo r -
da r ques tões de cunho h i s t ó r i co , po l í t i c o -soc i a l e que v i am na
l i t e r a t u ra a mane i r a de denunc i a r a h i poc r i s i a da época . No t a -
se , po r t an to , na ob ra , t r aços na tu ra l i s t as , uma l i nguagem ma i s
nova e a re j ada .
100
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O romance desc reve a v i da soc i a l e po l í t i c a no pa í s após
a P roc l amação da Repúb l i c a , ma i s p rec i samen te no gove rno de
F l o r i ano Pe ixo to , most rando e c r i t i c ando o nac i ona l i smo f aná t i co
e i ngênuo do Ma jo r Po l i c a rpo Quaresma , ap resen t ado como um pa t r i o t a u t óp i co com a l gumas a t i t udes i ncomuns e d i sco rdan tes
com a rea l i d ade . I n i c i a t i v as es t as que não são l evadas a sé r i o
e são , po r t an t o , r i d i cu l a r i zadas pe l a v i z i nhança e pe l os co l egas
de t r aba l ho . O p ro t agon i s t a , i ncon fo rmado com a des f i gu ração
da cu l t u ra e soc i edade b ras i l e i r as , f o rmada a pa r t i r de va l o res
eu ropeus , t en t a o f i c i a l i z a r a l í ngua Tup i nambá e ado ta cos tu -
mes i nd í genas , t a i s como chora r quando chega uma v i s i t a em
casa .
3 O N A C I O N A L I S M O R O M Â N T I C O E M T R I S T E F I M D E P O L I CA R P O QU A R E S M A
A obra é o rgan i zada em t rês pa r tes . Na p r ime i r a , Po l i c a r -
po Quaresma se ded ica a um p ro j e to cu l t u ra l ; na segun da , a
um p ro j e to ag r í co l a ; e , na t e rce i r a , a um p ro j e t o po l í t i c o . A
p r ime i r a pa r t e desc reve o Ma jo r Quaresma : um func i oná r i o
púb l i co que v i ve i so l ado com sua i rmã Ade l a i de , man tendo os
mesmos cos tumes há ma i s de v i n t e anos . Levado po r um imenso amor à pá t r i a , Quaresma começa a va l o r i za r o v i o l ão –
i ns t rumen to que acompanhava as mod i nhas e dava ma i s
exp ressão à poes i a nac i ona l , po rém desp rezado po r se r s i nô -
n imo de ma l and ragem – e passa a t e r au l as com R ica rdo Cora -
ção dos Ou t ros , a t i t ude que i n t r i ga a v i z i nhança , po i s o v i o l ão
naque l a época remet i a à boem i a e não e ra ace i t áve l em ‚casas
de f am í l i a s respe i t áve i s ‛ . Após sabe r que t a l i ns t rumen t o não
e ra ‚genu i namen te ‛ nac i ona l , o Ma jo r de i xa de l ado o v i o l ão e
vo l t a -se pa ra o maracá e a i núb i a , i ns t rumen tos i nd í genas .
Quaresma t i nha um i dea l de pá t r i a , e ra es tud i oso das co i sas nac i ona i s e possu í a uma vas t a gama de l i v ros em sua b i b l i o te -
ca pessoa l , p r i nc i pa lmen te os c l áss i cos nac i ona i s como José
de A l enca r e Gonça lves D i as comp le t os . Podemos pe rcebe r t a l
ca rac te r í s t i c a no t recho aba i xo :
101
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 9 7 - 1 1 0 , 2 0 1 5
N a f i c ç ã o , h a v i a u n i c am en t e a u t o r e s n a c i o n a i s o u t i d o s
c om o t a i s : o B e n t o T e i x e i r a , d a P r o s o p o p é i a ; o G r e g ó -
r i o d e M a t o s , o B a s í l i o d a G am a , o S a n t a n a R i t a D u r ã o ,
o J o s é d e A l e n c a r ( t o d o ) , o M a c e d o , o G o n ç a l v e s D i a s
( t o d o ) , a l é m d e m u i t o s o u t r o s . P o d i a - s e a f i a n ç a r q u e
n em um d o s a u t o r e s n a c i o n a i s o u n a c i o n a l i z a d o s d e
o i t e n t a p r a l á f a l t a v a n a s e s t a n t e s d o ma j o r .
( B A R R ETO , 1 9 9 7 , p . 2 1 ) .
Obse rva-se , nesse f r agmen to , e l emen tos que de f i n i am o
nac i ona l i smo i ngênuo de Po l i c a rpo , e que e l e se baseou em
a rau tos do nac i ona l i smo român t i co e em seus pa res , como
au to res do a rcad i smo va l o r i zados pe l os român t i cos .
Po l i c a rpo most ra -se fasc i nado com as espec i a l i d ades do
pa í s du ran t e t oda a ob ra . Conhec i a o B ras i l a t r avés dos esc r i -
t os , dos re l a t os , dos o l hos daque l es que es t avam mergu l hados
no cânone român t i co . O ma jo r Quaresma t i nha o dese jo de
f aze r essa nação conhec i da e , sob re t udo , mos t ra r que ex i s t i am
pecu l i a r i dades que a t o rnavam ún ica . Mu i t os poemas , mús i cas ,
l i v ros , l ouvavam as t e r ras b ras i l e i r as , exa l t ando -as , exp ressan -
do a i de i a de que e ram as ma i s f é r te i s e ma i s be l as . Ma i s uma
vez a v i são do po r t uguês , desse que não t i nha o cos tume de
ve r d i f e ren tes á rvo res , r i os , f l o res t as e a vas t a d i ve rs i dade
b ras i l e i r a , como re t r a ta Gonça lves D i as ( 1 847 ) em Canção do Ex í l i o : ‚M i nha t e r ra t em p r imo res , / Que t a i s não encon t ro eu
cá ; / Em c i smar – soz i nho , à no i t e - / Ma is p raze r eu encon -
t r o l á ; / M inha te r ra tem pa lme i r as , / Onde can ta o Sab i á ‛ .
Esse pensamento do Ma jo r Po l i c a rpo é t o t a lmente
compreens í ve l , cons i de rando a base de conhec imento que
t i nha . As exa l t ações às t e r ras b ras i l e i r as podem se r obse rva -
das desde o ‚descobr imento ‛ do B ras i l . D i an te da imensa fon te
de r i quezas na tu ra i s , os esc r i t o res na r ra ram o que seus o l hos
a i nda não t i nham v i s t o . A pa r t i r dessa pe rspec t i va , a va l o r i za -
ção da na tu reza t o rnou -se ca rac te r í s t i c a imp resc ind í ve l ao
nac i ona l i smo românt i co ; é uma das fo r t es p rem i ssas que o
Roman t i smo encon t ra no B ras i l .
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O que l evava Po l i c a rpo a adqu i r i r e co lec i ona r t an tos
l i v ros? O p róp r i o au tor responde : ‚ [ . . . ] A razão t i nha que se r
encon t rada numa d i spos i ção pa r t i cu l a r de seu esp í r i t o , no f o r t e
sen t imen to que gu i ava sua v i da . Po l i c a rpo era pa t r i o t a . Desde
moço , a í pe l os v i n te anos , o amor da Pá t r i a t omou -o t odo i n te i -
ro . ‛ ( BARRETO , 1 997 , p . 22 ) . Ace rca do e l emen to que dom inava
a co l eção de l i v ros da pe rsonagem , E l vya Pere i r a ( 2004 , p . 15 2 )
a f i rma :
O ‘ p a t r i o t i sm o ’ é , p o i s , o e l e me n t o q u e p r e s i d e a
r e u n i ã o d o s n ome s p r e s e n t e s n o a c e r v o b i b l i o g r á f i c o .
A v i s u a l i z a ç ã o p a n o r âm i c a d e s s e a c e r v o r e e n q u ad r a
n um g r a n d e p a i n e l v á r i a s c e n a s c om a s q u a i s , d e s d e
o s é c u l o XV I , s e t e n t o u t e x t u a l i z a r o q u e e r a e o q u e
é o B r a s i l .
Encon t ramos o e l emen to que j us t i f i c a e de te rm i na as
ações e i dea i s da personagem : o U fan i smo , que se re fe re à
a t i t ude de ena l t ece r o po t enc i a l b ras i l e i r o . Esse e ra o pad rão
que de te rm i nava a esco l ha dos l i v ros que o pe rsonagem l i a .
I den t i f i camos que , em T r i s t e F im de Po l i c a rpo Quaresma ( 1 997 ) , há uma d i scussão c r í t i c a sob re a nac i ona l i d ade , que se
f az p resen te não só na pe rsonagem pr i nc i pa l da ob ra , mas
t ambém na l i t e r a t u ra b ras i l e i r a do pe r í odo român t i co , na qua l os
au to res se empenhavam na cons t rução de uma i den t i dade
nac i ona l . Machado de Ass i s , em ‚ I ns t i n to de Nac i ona l i d a -
de ‛ ( 1 959 ) , ensa i o de 1 873 , apon t a esse i ns t i n t o como um
i mpu l so , uma busca po r um fo rmato p róp r i o pa ra a l i t e r a t u ra
b ras i l e i r a . A nac i ona l i dade é um e l emen to que assume um ca rá -
t e r de re f l exão c r í t i ca , ev i denc i ando , na f i gu ra de Po l i c a rpo
Quaresma , ca rac te r í s t i c as nac i ona l i s t as , numa t en ta t i va de
re f aze r a i den t i dade nac i ona l e descons t ru i r o mode l o nac i ona -
l i s t a român t i co sa t i r i z ando as a t i t udes u f an i s t as do pe rsonagem
pr i nc i pa l .
Machado de Ass i s comenta sob re essa fo rma a r reba t ado -
ra dos esc r i t o res de na r ra rem o pa í s de uma fo rma apa i xonada
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e da rem- l he ca rac te r í s t i c as que o f açam s i ngu l a r d i an t e de
ou t ras nações . Ass im como Quaresma , mu i t os p res t i g i osos
au to res buscavam i den t i f i c a r o B ras i l , f azê - lo i ndependente , em
todos os aspec tos . Po l i c a rpo t ambém t i nha um p ro j e to pa ra
i sso , po rém é f adado ao i nsucesso .
E s t a o u t r a i n d e p e n d ê n c i a n ã o t em S e t e d e S e t emb r o
n em c amp o d e I p i r a n g a ; n ã o s e f a r á n um d i a , m a s
p a u s a d am en t e , p a r a s a i r m a i s d u r a d o u r a ; n ã o s e r á
o b r a d e um a g e r a ç ã o n em d u a s ; mu i t a s t r a b a l h a r ã o
p a r a e l a a t é p e r f a z ê - l a d e t o d o . ( A S S I S , 1 9 5 9 , p . 2 9 ) .
Contudo , como fo i d i t o po r Ass i s , essa i ndependênc i a não
se rá conqu i s t ada imed i a t amen te , é p rocessua l e t r aba l hosa .
L ima Ba r re t o nos t r az uma pe rsonagem que a lme j ava um pa í s
i ndependen te . Quando Po l i c a rpo a lme j a que o B ras i l não se
ap rop r i e nem da l í ngua nem dos cos tumes do seu co l on i zado r ,
e l e ac red i t a que consegu i r i a ce r t a i ndependênc i a , a i nda que
es t i vesse sob i n f l uênc i a eu rope i a . A pe rsonagem usava , como
respa l do pa ra sua von t ade , os re l a t os apa i xonados dos esc r i -
t o res que f az i am pa r te do seu ace rvo b i b l i og rá f i co . Po l i c a rpo
Quaresma é , sem dúv ida , a imagem dos re f l exos dessa ten t a t i -
va de t o rna r o pa í s i ndependen te , no que se re fe re à l í ngua e
à cu l t u ra .
L ima Ba r re t o consegue conc re t i za r a i de i a de Machado de
Ass i s ( 1 959 ) , most rando Po l i c a rpo i n t e i r amen te seduz i do po r um
pa í s que não e ra t ão rea l quan to o que es t ava exp resso nos
l i v ros . Es te homem é t i do como l ouco pe los am igos , a t é pe l o
p res i den te F l o r i ano Pe ixo t o . O au to r reve l a , usando esse mé to -
do na e l abo ração da sua ob ra , como é imposs í ve l des l i g a r o
B ras i l da sua gênese , da compos i ção i n t r í nseca que o fo rma .
Tomado pe l o i ns t i n t o u f an i s t a , o p ro t agon i s t a env i a um
documento ao Congresso Nac i ona l p ropondo a subs t i t u i ç ão do
po r t uguês pe l o t up i -gua ran i , cons i de rando es t a ú l t ima como a
l eg í t ima l í ngua do B ras i l e a rgumen tando que não podemos
dom ina r uma l í ngua que não é nossa . Após o oco r r i do , t o rna -
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se mo t i vo de chaco t a e i r on i a . Mas , o Ma jo r chega ao cúmu l o
do r i d í cu l o quando esc reve , po r engano , um o f í c i o em tup i e o
env i a ao M in i s t ro de Gue r ra , f a t o que o l eva à suspensão do
ca rgo . T i do como i nsano , a pe rsonagem é i n t e rnada num
hosp íc i o po r se i s meses .
A busca de rea l i z ação de um i dea l aca r re ta num conf l i t o
en t re o mundo rea l e o mundo imag i nado . É nes t e pon to que
Po l i c a rpo Quaresma asseme l ha -se a Dom Qu i xo te , como re f e -
rênc i a à l i t e r a t u ra i n te rnac i ona l . Sob re t a l seme l hança , t r a t a a
p ro fesso ra E l vya Pe re i r a ( 2004 , p . 150 ) :
Co n f u n d i n d o f i c ç ão e r e a l i d a d e n a b u s c a d a r e a l i z a ç ã o
d e um i d e a l , D om Qu i x o t e t o r n o u - se um a d a s g r a n d e s
r e f e r ê n c i a s d a l i t e r a t u r a u n i v e r s a l . S eme l h a n t e a o
‘ c a v a l e i r o a n d a n t e ’ d e C e r v a n t e s , a p e r s o n a g em
P o l i c a r p o Q u a r e sm a d i r e c i o n a s u a a t u a ç ã o ‚ n a v i d a
r e a l ‛ t e n d o p o r m o d e l o um i d e a l d e P á t r i a , d e c o r r e n t e
d o s e u c o n t a t o d i r e t o , s em m ed i a ç ã o c r í t i c a , c om o s
l i v r o s p r e s e n t e s em s u a b r a s i l i a n a , o q u e d e s e n c ad e i a
um d e s c omp a s s o e n t r e o m u nd o p o r e l e i m a g i n a d o e
a s c i r c u n s t â n c i a s q u e o d e s a f i a v am .
Na segunda pa r t e da ob ra , depo i s de te r se recupe rado
da l oucu ra , Quaresma dec i de ded ica r -se à ag r i cu l t u ra : compra
um s í t io no in ter ior do R io de Jane i ro e para e le se muda,
chamado de Sossego, com sua i rmã Ade la ide e o pre to
Anastác io , onde se empenha na reforma da agr icu l tura bras i l e i ra .
An imado em t i r a r seu sus ten to da t e r ra b ras i l e i r a ,
Quaresma começa a es tuda r t udo o que se re fe re à ag r i cu l t u -
ra e ac red i t a que o so l o b ras i l e i r o é o ma i s f é r t i l do mundo .
I sso evoca um dos t ex tos ma i s s i gn i f i c a t i vos sob re o B ras i l : A Car t a de Pe ro Vaz de Cam inha ( 1 999 ) , que ap resen t a a t e r ra
sob o o l ha r es t r ange i r o . Quaresma compra d i ve rsos l i v ros ,
ap rende a usa r a enxada e d i spensa adubos . Ana l i s ando a
abo rdagem do nac i ona l i smo u f an i s t a no romance de L ima
Ba r re t o , pudemos pe rcebe r que o au to r f az uma c r í t i c a ao
mode l o român t i co , co locando a pe rsonagem como um mode l o
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i l u só r i o e que p rovoca o r i so po r me i o de sua p reocupação e
de suas ações ag r í co l as , f azendo de le um pe r fe i t o exemp l o de
nac i ona l i smo exage rado e u tóp i co .
O p ro j e t o ag r í co l a de Quaresma não dá ce r t o po r t r ês
mo t i vos : os po l í t i c os , que começaram a mu l t á - l o i ndev i damen te
po r não ace i t a r a f r aude da po l í t i c a l oca l ; a f a l t a de es t ru t u ra
da ag r i cu l t u ra , que o imped i u de t e r boas saf ras ; e a p raga de
fo rm i gas saúvas , que devora ram a l avou ra . Tudo i sso o
decepc i ona e desan ima . Ao l ongo do romance , Quaresma
começa a ve r o descaso do gove rno pa ra com a popu l ação
ru ra l e acha necessá r i o que se j a imp l an tada uma adm in i s t r ação
d i f e ren te . Pa ra exemp l i f i c a r o quan to e ra u rgen te uma re fo rma
ag rá r i a , ap resen t amos , a segu i r , um t recho no qua l a l avou ra
de Quaresma é t omada po r saúvas .
[ . . . ] P a s s a r am - s e d i a s ; o s i n i m i g o s p a r e c i am d e r r o t a -
d o s ; m a s , c e r t a n o i t e , i n d o a o p om a r p a r a m e l h o r
a p r e c i a r a n o i t e e s t r e l a d a , Q u a r e sm a o u v i u um a b u l h a
e s q u i s i t a , c omo s e a l g u ém e sm ag a s s e a s f o l h a s
m o r t a s d a s á r v o r e s . . . Um e s t a l i d o . . . E e r a p e r t o . . .
A c e n d e u um f ó s f o r o e o q u e v i u , M e u D e u s ! Q u a s e
t o d a s a s l a r a n j e i r a s e s t a v am n e g r a s d e i m e n s a s
s a ú v a s . H a v i a d e l a s à s c e n t e n a s , p e l o s t r o n c o s e
p e l o s g a l h o s a c i m a e a g i t a v am - se , m ov i am - se , a n d a -
v am c omo em r u a s t r a n s i t a d a s e v i g i a d a s a p o p u l a ç ã o
d e um a g r a n d e c i d a d e : um a s s u b i am , o u t r a s d e sc i am ;
n a d a d e a t r o p e l o s , d e c o n f u s ã o , d e d e s o r d em .
( B A R R ETO , 1 9 9 7 , p . 1 1 0 ) .
Na t e rce i r a pa r t e , es t ou ra a Revo l t a da Armada , uma
i nsu r re i ç ão dos mar inhe i r os con t ra o gove rno de F l o r i ano
Pe i xo t o . Quaresma , f azendo j us à sua pá t r i a , de ixa o s í t i o e
a l i s t a -se na f ren te de comba te em p ro l do Marecha l F l o r i ano ,
t o rna-se comandante e es tuda a r t i l h a r i a , ba l í s t i c a e mecân i ca .
Em uma v i s i t a ao qua r t e l , o Marecha l F l o r i ano , após t e r l i do o
pro j e t o ag r í co l a de Quaresma , d i z com voz p l ác i da : ‚Você ,
Quaresma , é um v i s i oná r i o . . . ‛ Ta l a f i rmação é ca r regada de
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i r on i a , no t a -se a i nd i f e rença do Marecha l em re l ação ao p ro j e to
do Ma jo r , que p ropunha uma amp l a re fo rma ag rá r i a com t raba -
l hado res assa l a r i ados .
Depo i s de qua t ro meses de revo l t a , Quaresma passa a
ques t i ona r -se se va l e a pena l u t a r pe l a pá t r i a e pe l o p res i den -
t e , que ag i u com i nd i f e rença em re l ação a seu p ro j e to . E l e
con t i nua na l u t a , porém desan imado . No f i na l , o mesmo é
des i gnado ca rce re i r o em uma i l h a , con t ra sua von t ade , e i sso
aumen ta sua decepção : ‚Po l i c a rpo ace i t ou com repugnânc i a o
pape l de ca rce re i r o , po i s na i l h a das enxadas es t avam depos i -
t ados os mar i nhe i r os p r i s i one i r os . Os seus t o rmen tos d ’ a lma
ma i s c resce ram com o exe rc í c i o de t a l f unção . ‛ ( BARRETO ,
1 997 , p . 1 7 1 ) .
Obse rvamos , no l i v ro , duas noções d i s t i n t as de pa t r i o t i s -
mo : a de Po l i c a rpo e a do t enen te -co rone l Bus t aman te .
Enquan to Po l i c a rpo t i nha o dese jo de acabar com a co r rupção
e se p reocupava com o pa í s , Bus t aman te e ra i n t e resse i r o ,
cons i de rava a Repúb l i c a um me io de se promove r e vend i a
pa ten tes pa ra ‚hon ra r a pá t r i a ‛ . A f i gu ra do o f i c i a l co r rup to
f i c a ma i s ev i den t e quando es te cob ra qua t rocen tos m i l r é i s a
Po l i c a rpo pe l a pa t en te de ma jo r . Lembramos que Po l i c a rpo
Quaresma e ra chamado de Ma jo r , po rém não t i nha pa ten te . A
exp l i c ação pa ra t a l denom inação é dada pe l a pe rsonagem numa
conve rsa com o o f i c i a l Bus t aman te , como obse rvamos no
t recho aba i xo :
Qu a r e sm a e n t ã o e x p l i c o u p o r q u e o t r a t a v am p o r
M a j o r . Um am i g o , i n f l u ê n c i a d o M i n i s t é r i o d o I n t e r i o r ,
l h e t i n h a m e t i d o o n om e um a l i s t a d e g u a r d a s -
n a c i o n a i s , c om e s s e p o s t o . N u n c a t e n d o p a g o o s
emo l ume n t o s , v i u - s e , e n t r e t a n t o , s em p r e t r a t a d o
m a j o r , e a c o i s a p e g o u . A p r i n c í p i o , p r o t e s t o u , m a s
c om o t e im a s s em d e i x o u .
– B em , f e z B u s t am a n t e . O s e n h o r f i c a m e smo s e n d o
m a j o r . ( B A RR ETO , 1 9 9 7 , p . 1 3 4 ) .
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Ma i s uma vez Quaresma decepc i ona -se , des t a vez com a
dec i são de um em i ssá r i o que esco l he doze p r i s i one i r os pa ra
se rem fuz i l ados . Revo l t ado e i nd i gnado com t a l a t i t ude esc reve
uma ca r t a ao p res i den t e F l o r i ano Pe i xo to , denunc i ando a ação
come t i da pe l o gove rno , o que resu l t a em uma pun i ção : Quares -
ma é condenado à mor t e . O au to r t r az uma re f l exão do pe rso -
nagem an tes da mor t e , seus ques t i onamen tos , suas decep -
ções :
D e s d e d e z o i t o a n o s q u e o t a l p a t r i o t i sm o l h e a b s o r v i a
e p o r e l e f i z e r a a t o l i c e d e e s t u d a r i n u t i l i d a d e s . [ . . . ]
e m q u e c o n t r i b u i r i a p a r a a f e l i c i d a d e s a b e r o n ome
d o s h e r ó i s d o B r a s i l ? Em n a d a . . . O i m p o r t a n t e é q u e
e l e t i v e s s e s i d o f e l i z . F o i ? N ã o . [ . . . ] R e s t a v a d i s s o t u d o
em s u a a l m a um a s a t i s f a ç ã o ? N e n h um a ! N e n h um a !
( B A R R ETO , 1 9 9 7 , p . 1 7 5 ) .
O auge da c r í t i c a ao nac i ona l i smo român t i co encon t ra -se
no t r i s t e f im da pe rsonagem . Po l i c a rpo Quaresma é condenado
como um t ra i do r , mesmo t endo se ded i cado à pá t r i a e l u t ado
po r e l a . A descons t rução do nac i ona l i smo românt i co é f e i t a
pe l o p róp r i o pe rsonagem quando t oma consc i ênc i a de que a
pá t r i a i dea l i z ada po r e l e e ra um m i t o , ‚ [ . . . ] e ra um f an t asma
c r i ado po r e l e no s i l ê nc i o do seu gab i ne te . ‛Essa a f i rmação
mos t ra como a l i t e r a tu ra do B ras i l f o i cons t i t u í da a pa r t i r dos
mo l des eu ropeus . Fe rd i nand Den i s ( 1 968 , p . 38 ) conco rda com a
i n f l uênc i a eu rope i a , o o rgu l ho dos b ras i l e i r os e suge re uma
nova pe rspec t i va l i t e r á r i a , como des tacado aba i xo :
O r g u l h am - se e s t e s d o s a u t o r e s q u e f i x a r am a s u a
l í n g u a ; m a s l ê em o s p o e t a s f r a n c e s e s , c o n h e c e n d o - o s
a q u a s e t o d o s . O p a p e l q u e n o s c a b e d e s em pen h a r
n e s s e p a í s é a i n d a m u i t o s i g n i f i c a t i v o , e s e o s i n g l e -
s e s t êm , m a i s d o q u e n ó s , a i n f l u ê n c i a c om e r c i a l q u e
em t o d a a p a r t e l h e s c a r a c t e r i z a a a t i v i d a d e , d e vem o s
c o n t e n t a r - n o s c om v e r um a a ç ã o e s p l e n d e n t e d e
j u v e n t u d e e d e e n g e n h o a f e i ç o a r - s e à s n o s s a s
p r o d u ç õ e s l i t e r á r i a s , p o r c a u s a d e s t a s m o d i f i c a r s u a s
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G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 9 7 - 1 1 0 , 2 0 1 5
p r ó p r i a s p r o d u ç õ e s , e e s t r e i t a r a t r a v é s d o s l i am e s
e s p i r i t u a i s o s q u e d e v em e x i s t i r n a o r d em p o l í t i c a .
Mesmo sendo uma ob ra do sécu l o XX , T r i s te F im de Po l i c a rpo Quaresma ( 1 997 ) imp r ime em seu pe rsonagem essa
o j e r i za em re l ação ao que é do ou t ro , co l on izado r . Mesmo
numa nação ex -co l ôn i a , é f o r te o p redom ín io da me t rópo le , e a
vont ade de desv i ncu l a r -se da mesma sob ressa i de t a l f o rma
que L ima Ba r re t o p rec i sou ‚co l oca r pa ra f o ra ‛ a equ ivocada
mane i r a do pensa r dos d i ve rsos Po l i c a rpos que a i nda ex i s t i am .
É impor t an te sa l i e n t a r a f o rça que uma me t rópo l e t em sob re
sua co l ôn i a , os resqu íc i os que a co l on i zação de i xa , as marcas ,
as ca rac t e r í s t i c as . Contudo , a pe rsonagem de L ima Ba r re to não
ace i t a que o B ras i l pe rmaneça com t raços do co l on i zado r .
4 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S
L ima Ba r re t o ques t i ona o nac i ona l i smo no i deá r i o român t i -
co po r me i o de uma ap resen t ação i r ôn i ca da pe rsonagem
u fan i s t a que i dea l i z a sua pá t r i a , co l ocando em ev i dênc i a o que
é ‚o r i g i na lmen te l oca l ‛ . Sabemos que i sso é imposs í ve l em
qua l que r pa í s que t enha s i do co l on i zado , po i s gua rda rá pa ra
sempre resqu íc i os do co l on i zado r . Podemos i n fe r i r que a
pe rsonagem Po l i c a rpo Quaresma e ra t omado pe l o u f an i smo e ,
po r con t a d i sso , sua l u t a i ncessan te pe l o desenvo lv imento da
pá t r i a não passou de uma u top i a , de uma i l u são da pe rsona -
gem , a l i ce rçada no mode l o românt i co .
Abst rac t : Th i s paper a ims to ana lyze the Romant i c Na t i ona l i sm of
the 19 th cen tury i n Po l i ca rpo Quaresma , p ro t agon i s t o f the nove l
so -ca l l e d T r i s t e F im de Po l i c a rpoQuaresma ( 1 9 97 ) , i n t he l i g h t o f
t heo re t i c a l a ssump t i ons o f au tho r s as E l vya Pe re i r a ( 2004 ) and
Fe rd i nand Den i s ( 1 968 ) , who commen t abou t B r az i l i an L i t e ra t u re ,
i t s h i s t o r y a n d s e t u p r e l a t i o n s amo n g t h e a s p e c t s o f L i m a
Ba r r e t o ’ s wo r k a nd t ho se p ro duc ed b y o t he r a u t ho r s . I n t h a t
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wo r k , L i m a B a r r e t o c r i t i c i z e s t h e r om an t i c n a t i o n a l i s t m o d e l
t h r o u g h t h e p r o t a g o n i s t ' s a c t i o n s , i n t r o d u c i n g h i m w i t h i n a
n a t i o n a l i s t p r o j e c t t h a t r e s c u e s t h e i n d i g e n o u s o r i g i n s i n a n
a t tempt to rebu i l d t he Braz i l i an i den t i t y , w i th a s t rong cr i t i c i sm of
t he Eu ropean mode l s , demons t ra t i ng how v i s i b l e t he na t i ona l i sm
was in th i s ma in charac te r . F rom the perspect ive o f th i s Braz i l i an
pre-modern is t au thor , the work is summar ized in a soc ia l c r i t i c ism
in re la t ion to Po l i carpo and h is fanat ica l nat iona l i sm .
K e ywo r d s : N a t i o n a l i sm . L im a B a r r e t o . T r i s t e F i m d e P o l i c a r p o Quaresma . I den t i t y .
R E F E R Ê N C I A S
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BARRETO , L ima . T r i s te f im de Po l i c a rpo Quaresma . São Pau l o :
Át i ca , 1 997 .
CAMINHA , Pe ro Vaz de . A ca r t a de Pe ro Vaz de Cam inha . São
Pau l o : Human i t as , 1 999 .
DEN IS , Fe rd i nand . Cons i de rações sob re o ca rá t e r que a poes i a
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Acesso em : 1 5 se t . 20 14 .
Env i ado em : 22/03/20 15 .
Aprovado em : 17/08/20 1 6 .
G r a d u a n d o , F e i r a d e S a n t a n a , v . 6 , n . 9 , p . 1 1 1 - 1 1 4 , 2 0 1 5
NO RMA S P ARA E NV IO D E
A R T I GO S E R E S E NHA S
R e s e n h a s e a r t i g o s , e l a b o r a d o s p o r g r a d u a n d o ( s ) e m
L e t r a s d o B r a s i l – a u t o r ( e s ) e c o a u t o r ( e s ) – , d e v e r ã o s e r
e n c am i n h a d o s p a r a a v a l i a ç ã o p o r e - m a i l p a r a o e n d e r e ç o
r ev i s t ag r ad uando@gma i l . c om . S omen t e se r ão ace i t o s t r ab a l h o s
n a s á r e a s d e L i n g u í s t i c a , L i t e r a t u r a , A r t e s e E d u c a ç ã o , em
f o r m a t o e l e t r ô n i c o e i n é d i t o s , o u s e j a , n ã o p u b l i c a d o s n o
gêne ro de t ex to so l i c i t ado em qua i sque r ou t ras pub l i c ações . As
l í n g u a s n a s q u a i s e l e s p o d e r ã o s e r e s c r i t o s s e r ã o t o d a s a s
e x i s t e n t e s n a g r a d e c u r r i c u l a r d o C u r s o d e G r a d u a ç ã o em
Le t ras da UEFS (Po r t uguês , Ing l ês , F rancês e Espanho l ) .
O R I E N T A Ç Õ E S G E R A I S
Os t r aba l h os env i ados à r ev i s t a G r aduando , d i g i t a dos em
f o rma to . doc ou . docx , deve rão con te r a segu i n t e f o rma t ação :
1 Fon t e T imes New Roman ;
2 Tamanho 12 ( t í t u l o , sub t í t u l o ( se houve r ) , t óp i co e co rpo do
t ex t o ) ; Pa l av r as es t r ange i r a s e t í t u l o s de ob ras devem se r
e s c r i t o s e m i t á l i c o ( i t á l i c o ) ; p a r t e s d e o b r a ( a r t i g o s ,
c a p í t u l o s , p o em a s e s i m i l a r e s ) d e v em se r e s c r i t o s e n t r e
aspas , sem i t á l i c o ;
3 E s p a ç am e n t o e n t r e l i n h a s d e 1 , 5 ; m a r g e n s e s q u e r d a e
supe r i o r de 3 cm , d i r e i t a e i n f e r i o r de 2 cm ;
4 C i t a ç ões com a t é 3 l i n h as devem ap a rece r r e f e r enc i a das
no co rpo do tex to e con te r aspas ;
5 C i t a çõe s c om ma i s d e 3 l i n h a s deve r ã o se r e sc r i t a s sem
aspas e t e r recuo de 4 cm da ma rgem esque rda , a l ém de
n ã o a p r e s e n t a r r e c u o n a m a r g e m d i r e i t a e t e r
espaçamen to s imp l es ;
I S S N 2 2 3 6 - 3 3 3 5
J
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5 . 1 O t am an ho d a f o n t e d a c i t a ç ã o d ev e s e r men o r q u e o
c o r p o d o t e x t o ( t a m a n h o 1 0 o u 1 1 ) e o e s p a ç am e n t o
en t re as l i nhas deve se r s imp les ;
6 O núme ro de pág i n a s com anexo s n ão deve p as sa r de 2
( do i s ) ;
7 D e v e r á s e r e n v i a d o , a l é m d o ( s ) t r a b a l h o ( s ) , a g u i a d e
ma t r í c u l a d o s a u t o r e s e c o au t o r e s r e f e r e n t e a o a n o d e
20 15 ou 20 16 .
O R I E N T A Ç Õ E S E S P E C Í F I CA S
R E S E N H A C R Í T I CA
Se rão ace i t as resenhas c r í t i c as com m ín imo de 4 e máx i -
mo de 7 pág i nas , i nc l u i ndo re fe rênc i as e exc l u i ndo anexos . A
es t ru t u ra deve con te r , ob r i ga t o r i amen te , a segu i n t e sequênc i a :
1 T í t u l o e/ou sub t í t u l o ;
2 Nome comp l e t o do (s ) au to r ( es ) , an t eced i dos pe l a pa l av ra
‚Po r ‛ , e b reve cu r r í cu lo ;
3 Apresen t ação e ava l i ação i n i c i a l do ob j e to da resenha ;
4 Desc r i ç ão e ava l i ação de pa r tes do ob j e to da resenha ;
5 R e c ome n d a ç ã o / c o n s i d e r a ç ã o f i n a l s o b r e o o b j e t o d a
r esenha ;
6 Re fe rênc i as .
Após o nome do au to r na f o rma d i r e t a , no pa rág ra fo
segu i n te , o b reve cu r r í cu l o deve con te r : cu rso , i ns t i t u i ção e e -
ma i l . Os dados au tora i s são ob r i ga t ó r i os pa ra au to r ( es )
( ob r i ga t ó r i o ) e o r i en tado r ( opc i ona l ) . O número de pessoas
r esponsáve i s pe l a f e i t u ra da resenha não deve passa r de 2
( do i s ) . I n f o rmações ad i c i ona i s devem se r esc r i t as em no t a de
rodapé .
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A R T I G O
Se rão ace i t os a r t i gos com m ín imo de 7 e máx imo de 10
pág i nas , i nc l u i ndo re f e rênc i as e exc l u i ndo anexos . A es t ru tu ra
deve con te r , ob r i ga to r i amen te , a segu i n te sequênc i a :
1 T í t u l o e/ou sub t í t u l o ;
2 Nome comp l e to do (s ) au to r (es ) e b reve cu r r í cu l o ;
3 Resumo ( l í ngua do t raba l ho ) ;
4 Pa l av ras -chave ( l í ngua do t r aba l ho ) ;
5 I n t rodução ;
6 Corpo do a r t i go ;
7 Conc l usão/cons i de rações f i na i s ;
8 Resumo ( l í ngua es t range i r a ) ;
9 Pa l av ras -chave ( l í ngua es t range i r a ) ;
1 0 Re fe rênc i as ;
1 1 Anexos ( se houve r ) .
Após o nome do (s ) au to r ( es ) , no pa rág ra fo segu i n t e , o
b reve cu r r í cu l o deve con te r : nome da i ns t i t u i ç ão , cu rso (ou
depa r t amen to , no caso do o r i en t ado r ) e e -ma i l . Os dados
au to ra i s são ob r i ga tó r i os pa ra au to r ( es ) , coau to r ( es ) ( opc i ona l )
e o r i en t ado r (es ) ( opc i ona l ) . O número de pessoas responsáve i s
pe l a f e i t u ra do a r t i go não deve passar de 4 (qua t ro ) .
I n f o rmações ad i c i ona i s devem se r esc r i t as em no ta de rodapé .
O resumo na l í ngua do t ex to deve ap resen t a r , de f o rma
conc i sa , os ob j e t i vos , a metodo l og i a e os resu l t ados
a l cançados , não devendo u l t r apassa r 150 pa l av ras nem conte r
c i t ações . A l ém d i sso , deve rá ap resen t a r o resumo p r i nc i pa l ,
esc r i t o na l í ngua do a r t i go , e o resumo secundár i o em um
i d i oma da p róp r i a esco l ha ( Po r t uguês , Espanho l , F rancês e
i ng l ês ) . No caso de o a r t i go se r esc r i t o em l í ngua es t range i r a ,
o a r t i cu l i s t a f i c a o r i en tado a esc reve r o resumo secundár i o em
L í ngua Po r t uguesa .
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Pa l av ras-chave como e l emen to ob r i ga t ó r i o , f i gu rando l ogo
aba i xo de cada resumo (na l í ngua do a r t i go e es t r ange i r a ) , cu j o
número de pa lavras não deve exceder a 5 e não ser in fer io r a 3 .
O R I E N T A Ç Õ E S F I N A I S
1 Os pa rece r i s t a s e rev i so r es pode r ão f aze r a l t e r ações nos
t r a b a l h o s , n o s e n t i d o d e me l h o r a r s u a t e x t u a l i d a d e , s em
a l t e r a ç ã o d e s e n t i d o e a u t o r i a , a p r o x i m a n d o - o s d a s
c a r a c t e r í s t i c a s t e x t u a i s e c i e n t í f i c a s r e f e r e n t e s a um a
pub l i c ação acadêm ica ;
2 N ã o é v e t a d o o e n v i o d e t r a b a l h o s c u j o s a u t o r e s e / o u
c o au t o r e s se j am memb r o s e f e t i v o s do conse l h o e d i t o r i a l
( a n t e r i o r m e n t e d e n om i n a d o c om i s s ã o e d i t o r i a l ) d e s t e
pe r i ód i co , t ambém graduandos em Le t ras ;
3 O e n v i o d o t r a b a l h o i m p l i c a a a c e i t a ç ã o d e t o d a s a s
n o rm a s d e s c r i t a s n e s t e d o c ume n t o e a c o n c e s s ã o d o s
d i r e i t o s s o b r e o t e x t o , e x c e t o s u a a u t o r i a , à R e v i s t a
Graduando ;
4 Os casos om i ssos se rão reso lv i dos pe l o conse l ho ed i t o r i a l .
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