UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE SAÚDE DE NOVA FRIBURGO
CURSO DE GRADUÇÃO EM BIOMEDICINA
DILLIANE DA PAIXÃO RODRIGUES ALMEIDA
PROPOSTA PARA PADRONIZAÇÃO DE UM PROTOCOLO PARA O
ESTUDO DA LIPEMIA PÓS-PRANDIAL EM HUMANOS E RISCO
CARDIOVASCULAR
NOVA FRIBURGO
2016
i
DILLIANE DA PAIXÃO RODRIGUES ALMEIDA
PROPOSTA PARA PADRONIZAÇÃO DE UM PROTOCOLO PARA O
ESTUDO DA LIPEMIA PÓS-PRANDIAL EM HUMANOS E RISCO
CARDIOVASCULAR
ORIENTADORA:
PROFa. DRª. CAROLINE FERNANDES DOS SANTOS BOTTINO
NOVA FRIBURGO
2016
Monografia apresentada à Universidade
Federal Fluminense/Instituto de Saúde de
Nova Friburgo, como Trabalho de
Conclusão do Curso de graduação em
Biomedicina.
A447p Almeida, Dilliane da Paixão Rodrigues
Proposta para Padronização de um protocolo para o estudo da lipemia pós-
prandial em humanos e risco cardiovascular. / Dilliane da Paixão Rodrigues
Almeida ; Profᵃ. Drᵃ. Caroline Fernandes dos Santos Bottino, orientadora. --
Nova Friburgo, RJ: [s.n.], 2016.
65f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biomedicina) –
Universidade Federal Fluminense, Instituto de Saúde de Nova Friburgo,
2016.
1. Bioquímica. 2. Metabolismo do lipídeo. 3. Lipemia pós-prandial. 4.
Risco cardiovascular. I. Bottino, Caroline Fernandes dos Santos, Orientadora.
II. Título.
CDD M574.192
ii
DILLIANE DA PAIXÃO RODRIGUES ALMEIDA
PROPOSTA PARA PADRONIZAÇÃO DE UM PROTOCOLO PARA O
ESTUDO DA LIPEMIA PÓS-PRANDIAL EM HUMANOS E RISCO
CARDIOVASCULAR
Apresentada em: 29/11/2016
Banca Examinadora
_____________________________________ Profa. Dra. Caroline Fernandes dos Santos Bottino
Universidade Federal Fluminense – Instituto de Saúde de Nova Friburgo
_____________________________________ Prof. Dr. Leonardo de Souza Mendonça
Universidade Federal Fluminense – Instituto de Saúde de Nova Friburgo
_____________________________________ Profa. Dra. Fernanda Amorim de Moraes Nascimento Braga
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé
_____________________________________ Mestre Kelly Costa de Almeida (Suplente)
Universidade Federal Fluminense – Instituto de Saúde de Nova Friburgo
NOVA FRIBURGO
2016
Monografia apresentada à Universidade
Federal Fluminense/ Instituto de Saúde de
Nova Friburgo, como Trabalho de
Conclusão do Curso de graduação em
Biomedicina.
iii
Dedico este trabalho a minha família
por todo o amor, a compreensão e o apoio
durante todo este Curso de Graduação.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado saúde e força para superar
as dificuldades.
Aos meus familiares pelo amor, incentivo e apoio incondicional.
Aos amigos que fizeram parte dessa trajetória, dividindo momentos de
descontração, estudos, discussão e conquistas.
Aos meus professores por toda a instrução e sabedoria que foram passadas.
Em especial, a minha Professora orientadora Caroline, que compartilhou seus
conhecimentos, sendo fundamental na elaboração deste trabalho, demostrando
paciência e compreensão. Agradeço pelo seu carinho e dedicação.
A Instituição Sociedade União Beneficente Humanitária dos Operários por
permitir que pudéssemos realizar este Projeto dentro de suas dependências.
Agradeço a todos que contribuíram até aqui.
v
Suba o primeiro degrau com fé.
Não é necessário que você veja toda a escada.
Apenas dê o primeiro passo.
(Martin Luther King)
vi
RESUMO
O nível pós-prandial de triglicerídeos (TG) reflete com maior eficácia o risco
cardiovascular (CV), em especial a aterosclerose, quando comparado ao seu nível
em jejum. Portanto, investigar a lipemia pós-prandial é de extrema importância para
o entendimento do metabolismo lipídico e doenças associadas. O objetivo do
presente estudo foi avaliar a aceitabilidade de uma refeição para o estudo da lipemia
pós-prandial e investigar se existe diferença no risco CV comparando-se o TG em
jejum e pós-prandial. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (CAAE: 49864015.2.0000.5626). Após 8h de jejum, os
participantes ingeriram uma refeição teste hiperlipídica contendo 75g de lipídios, 25g
de carboidratos e 10g de proteínas e tiveram seus parâmetros antropométricos
avaliados. A refeição se assemelhou a um milk-shake de chocolate com textura
cremosa e volume de 500 mL. Sangue venoso foi coletado antes e 4h após a
ingestão da refeição e o TG sérico foi avaliado nestes dois momentos. A lipemia
pós-prandial foi comparada entre participantes sem risco e em risco CV. O risco CV
foi classificado de diferentes formas: pelo índice de massa corporal (em risco:
IMC>25mg/Kg²); circunferência da cintura (em risco: CC>80cm em mulheres e
>94cm em homens) e; hipertensão arterial (em risco: diagnóstico médico de
hipertensão arterial [HA]). A amostra consistiu em sete participantes, sendo 28,6%
do sexo masculino e 71,4% do sexo feminino. A idade média foi de 38,5±21,9 anos
(homens) e 29,8±18,1 anos (mulheres). O tempo médio para a ingestão da refeição
foi 5min± 1min e 15seg e nenhum dos participantes deixou de ingerir todo o
conteúdo. Todos os participantes relataram ter gostado de sua apresentação,
temperatura e textura, afirmando que a ingeririam novamente. Nas mulheres (n=5), o
TG sérico em jejum foi 100,7±18,7mg/dL e se elevou para 178,4±46,0mg/dL
(p=0,003). Nos homens (n=2), O TG em jejum foi 126,3±59,6mg/dL e o pós-prandial
276,3±227,5mg/dL. A elevação do TG pós-prandial foi significativamente maior em
indivíduos em risco CV, independente do parâmetro utilizado para classificá-los em
risco (IMC, CC ou HA). Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a refeição
testada é adequada para o estudo da lipemia pós-prandial, uma vez que apresentou
alta aceitabilidade e elevou o TG pós-prandial. Além disso, viu-se que a resposta
lipêmica pós-prandial é mais pronunciada em indivíduos em risco CV.
Palavras chave: Lipemia Pós-Prandial, Triglicerídeo, Risco cardiovascular,
Aterosclerose.
vii
ABSTRACT
Postprandial triglycerides (TG) more effectively reflects the cardiovascular (CV) risk,
especially atherosclerosis, when compared to fasting TG. Therefore, investigating the
postprandial lipemia is of extreme importance for the understanding of lipid
metabolism and associated diseases. The aim of the current study is to assess the
acceptability of a meal to study postprandial lipemia and to investigate whether there
is a difference in CV risk comparing fasting and postprandial TG. All participants
signed a form giving their consent to participate in this research (CAAE:
49864015.2.0000.5626). After 8h of fasting, participants ate a high fat test meal
consisted of 75g of lipids, 25g of carbohydrates and 10g of proteins, and had their
anthropometric parameters evaluated. The meal resembled a chocolate milkshake
with creamy texture and volume of 500 mL. Venous blood was collected before and
4h after meal intake, and serum TG was assessed at these two moments.
Postprandial lipemia was compared between participants that were or were not at CV
risk. CV risk was classified by different parameters: body mass index (at risk: BMI>
25 mg/Kg²); waist circumference (at risk: WC> 80cm for women, and> 94cm for men)
and; hypertension (at risk: medical diagnosis of arterial hypertension [AH]). The
sample consisted of seven participants, 28.6% male and 71.4% female. The mean
age was 38.5 ± 21.9 years (men) and 29.8 ± 18.1 years (women). The average time
for meal intake was 5min ± 1min and 15sec, and all participants ate all meal content.
All participants reported that they liked meal presentation, temperature and texture,
and said that they would ingest it again. In women (n=5), fasting serum TG was
100.7 ± 18.7 mg/dL and it increased to 178.4 ± 46.0 mg/dL (P=0.003). In men (n=2),
fasting TG was 126.3 ± 59.6 mg/dL and postprandial TG was 276.3 ± 227.5 mg/dL.
The increase in postprandial TG was significantly higher in individuals at CV risk,
regardless of the parameter used to classify them at CV risk (BMI, WC or AH).
Overall, we conclude that the test meal is suitable for the study of postprandial
lipemia, since it presented high acceptability and it could elevate postprandial TG.
Additionally, we found that the postprandial lipemic response is more pronounced in
individuals at CV risk.
Keywords: Postprandial Lipemia, Triglycerides, Cardiovascular Risk, Atherosclerosis
viii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................3
2.1 DOENÇA CARDIOVASCULAR E FATORES DE RISCO......................................3
2.2 METABOLISMO LIPÍDICO.....................................................................................7
2.2.1 Via Intestinal........................................................................................................9
2.2.2 Via Hepática......................................................................................................10
2.3 HIPERTRIGLICERIDEMIA DE JEJUM................................................................13
2.4 LIPEMIA PÓS-PRANDIAL....................................................................................15
2.5 HIPERTRIGLICERIDEMIA DE JEJUM VERSUS PÓS-PRANDIAL E RISCO
CARDIOVASCULAR..................................................................................................17
2.6 TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA (TTOG).....................................19
2.7 TTOG: RECOMENDAÇÕES DO PAINEL DE ESPECIALISTAS.........................20
3 OBJETIVOS............................................................................................................22
3.1 OBJETIVOS GERAIS...........................................................................................22
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................22
4 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................23
4.1 DESENHO EXPERIMENTAL...............................................................................23
4.2 POPULAÇÃO ESTUDADA...................................................................................24
4.3 QUESTIONÁRIO PARA TRIAGEM DOS PARTICIPANTES...............................24
ix
4.4 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA......................................................................25
4.5 TESTE LIPÊMICO PÓS-PRANDIAL....................................................................27
4.6 COLETA DE SANGUE.........................................................................................28
4.7 ACEITABILIDADE DA DIETA...............................................................................28
4.8 BIOQUÍMICA SANGUÍNEA..................................................................................29
4.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA......................................................................................31
5 RESULTADOS........................................................................................................32
5.1 FATORES DE RISCO CV NA POPULAÇÃO ESTUDADA..................................32
5.2 RESPOSTA LIPÊMICA AO TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA......35
5.3 RESPOSTA GLICÊMICA AO TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA...39
5.4 FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR E RESPOSTA LIPÊMICA AO
TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA........................................................42
5.4.1 Índice de massa corporal..................................................................................43
5.4.2 Circunferência da cintura..................................................................................44
5.4.3 Razão cintura-quadril........................................................................................45
5.4.4 Índice de adiposidade corporal..........................................................................46
5.4.5 Hipertensão arterial...........................................................................................47
5.5 CORRELAÇÃO DO TG EM JEJUM E PÓS-PRANDIAL COM VARIÁVEIS
ANTROPOMÉTRICOS...............................................................................................48
5.6 PERCEPÇÃO SENSORIAL E ACEITABILIDADE DA REFEIÇÃO TESTE..........49
x
6 DISCUSSÃO...........................................................................................................51
7 CONCLUSÃO.........................................................................................................56
8 REFERÊNCIAS......................................................................................................57
ANEXO 1 – Aprovação CAAE
ANEXO 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
ANEXO 3 – Questionário de Triagem
ANEXO 4 – Questionário de Analise Sensorial
xi
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Composição de triglicerídeos e densidade das lipoproteínas.................8
FIGURA 2 – Transporte de gorduras.........................................................................12
FIGURA 3 – Triglicerídeo presente nas lipoproteínas................................................14
FIGURA 4 – Desenho experimental do estudo..........................................................23
FIGURA 5 – Ensaio para determinação da glicose....................................................30
FIGURA 6 – Ensaio para determinação do triglicerídeo............................................30
FIGURA 7 – Resposta lipêmica pós-prandial.............................................................35
FIGURA 8 – Resposta lipêmica pós-prandial em mulheres.......................................36
FIGURA 9 – Resposta lipêmica pós-prandial em homens.........................................37
FIGURA 10 – Comparação entre a resposta lipêmica pós-prandial de mulheres e
homens.......................................................................................................................38
FIGURA 11 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à
gordura.......................................................................................................................39
FIGURA 12 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à
gordura em mulheres.................................................................................................40
FIGURA 13 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à
gordura em homens...................................................................................................41
FIGURA 14 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pelo índice de massa corporal...........................................................43
xii
FIGURA 15 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela circunferência da cintura............................................................44
FIGURA 16 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela razão cintura-quadril...................................................................45
FIGURA 17 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pelo índice de adiposidade corporal..................................................46
FIGURA 18 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela hipertensão arterial.....................................................................47
FIGURA 19 – Percepção sensorial da refeição teste pelos participantes.................49
FIGURA 20 – Aceitabilidade da refeição teste pelos participantes............................50
xiii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Valores de referência para o triglicerídeo sérico..................................21
TABELA 2 – Composição da refeição teste..............................................................27
TABELA 3 – Perfil da população estudada com relação aos fatores de risco
cardiovascular............................................................................................................33
TABELA 4 – Variáveis antropométricas....................................................................34
TABELA 5 – Correlação do triglicerídeo em jejum versus triglicerídeo pós-prandial
com variáveis antropométricas...................................................................................48
1
1 INTRODUÇÃO
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são doenças multifatoriais
que se desenvolvem no decorrer da vida e são de longa duração (Saúde, 2011). No
Brasil, o Ministério da Saúde considera quatro principais grupos de DCNT, sendo
elas as doenças do aparelho circulatório, o câncer, as doenças respiratórias crônicas
e o diabetes. Entre as doenças do aparelho circulatório podemos citar a hipertensão
arterial sistêmica e de origem renal, a insuficiência cardíaca e renal, doenças
isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares, a aterosclerose e o aneurisma.
As DCNTs constituem um problema de saúde de grande magnitude e são a principal
causa de morte no mundo. No Brasil, as DCNT são responsáveis por 72% das
causas de mortes. Os fatores de risco globalmente conhecidos são a pressão
arterial elevada (13%), o tabagismo (9%), níveis elevados de glicose sanguínea
(6%), a inatividade física (6%) e o sobrepeso/obesidade (5%) (Saúde, 2011).
Na sociedade moderna, existe um grande desequilíbrio entre a ingestão
energética e o gasto energético. Isto resulta em ganho de peso e obesidade, em
decorrência do acumulo de gordura, em especial na região central do corpo (gordura
visceral). O excesso de adiposidade visceral correlaciona-se com o desenvolvimento
de dislipidemias e é um fator de risco para o surgimento de DCNT. É comum haver
um desequilíbrio lipídico, notando-se um aumento dos níveis de triglicerídeos (TGs),
lipoproteínas (LDL e VLDL) e colesterol total, e diminuição dos níveis da lipoproteína
HDL. Como consequência, há um aumento do risco cardiovascular e predisposição
a formação de placas ateroscleróticas na parede dos vasos sanguíneos (Nogaroto et
al., 2015).
Diversos estudos epidemiológicos demonstram que a elevação do
triglicerídeo plasmático, ou hipertrigliceridemia, é um fator de risco independente
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, em especial em mulheres
(Kolovou, Mikhailidis, Nordestgaard, et al., 2011; Kolovou e Ooi, 2013). Há uma
enorme necessidade em se baixar os níveis de triglicerídeos no plasma já que estes
são um fator de risco independente para doenças cardiovasculares (Schiavo et al.,
2003). O alcance das metas de tratamento é variável e depende da adesão à dieta,
às correções no estilo de vida ─ perda de peso, atividade física e cessação do
2
tabagismo ─ e, principalmente, da influência genética da dislipidemia em questão. A
utilização de técnicas adequadas de mudança do comportamento dietético é
fundamental (SBC, 2013).
Os níveis de triglicerídeos e lipoproteínas são avaliados rotineiramente no
estado de jejum, apesar dos indivíduos permanecerem a maior parte do dia em
estado alimentado. Em uma pessoa normal, um jejum entre 10-12 horas é longo o
suficiente para se alcançar o estado pós-absortivo, momento no qual quase
nenhuma (ou nenhuma) nova partícula de quilomícrom é formada pelo intestino
delgado e os lipídios séricos alcançam um nível metabólico basal. Ainda assim, num
dia habitual da sociedade atual, a maioria das pessoas consome a próxima refeição
ou lanche muito antes de alcançarem este estado pós-absortivo (Ooi et al., 2011a;
b). Além disso, alguns pesquisadores levantam a hipótese de que o
desenvolvimento da aterosclerose seria um fenômeno pós-prandial (Zilversmit, 1979;
Stampfer et al., 1996).
Após a ingestão de gorduras, a concentração de triglicerídeos e lipoproteínas
esterificadas aumentada no plasma sanguíneo, processo fisiológico denominado
lipemia pós-prandial. Ele reflete a capacidade do organismo em metabolizar os
lipídios (Petto et al., 2014). Sendo assim, investigar a lipemia pós-prandial é
importante a fim de ser conhecer mais fidedignamente o metabolismo lipídico do
indivíduo, visando a prevenção do risco de desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. Diversos estudos têm demonstrado que o perfil lipídico em jejum e
pós-prandial sofre pouca alteração, sendo assim talvez o jejum seja desnecessário.
Parece que o nível pós-prandial de triglicerídeos reflete com maior eficácia o risco de
doença cardiovascular quando comparado ao seu nível em jejum, uma vez que a
hipertrigliceridemia está associada a aterosclerose (Langsted et al., 2008; Harchaoui
et al., 2009; Sidhu e Naugler, 2012). Entretanto, estudos adicionais se fazem
necessários para elucidar esta questão.
É muito importante detectar distúrbios lipídicos precocemente a fim de ser
prevenir a doença cardiovascular e a síndrome metabólica. Entretanto, apesar de
passarmos a maior parte do nosso dia no estado pós-prandial (entre 14-16h por dia),
o papel da hipertrigliceridemia pós-prandial ainda está em debate.
3
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 DOENÇA CARDIOVASCULAR E FATORES DE RISCO
Com o envelhecimento da população mundial e a propagação de fatores de
risco associados à globalização e à urbanização como o tabagismo, o sedentarismo
e a má alimentação, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem um
problema de saúde de grande magnitude e são responsáveis por dois terços de
todas as mortes no mundo (WHO | World Health Statistics, 2016).
As DCNT são caracterizadas por serem doenças multifatoriais que se
desenvolvem ao longo da vida e são de longa duração (Saude, 2011). A doença
cardiovascular (DCV), juntamente com outras patologias como o diabetes e o
câncer, é uma das principais DCNT (Schmidt et al., 2011). No Brasil, as DCNT são
responsáveis por 72% das causas de morte, com destaque para as doenças do
aparelho circulatório (31,3% dos óbitos), neoplasias (16,3%) e diabetes (5,2%)
(Schmidt et al., 2011). Estatísticas realizadas com o intuito de mensurar a
mortalidade nas capitais dos estados brasileiros indicam que a proporção de mortes
por DCNT aumentou em mais de três vezes entre 1930 e 2006 (Malta et al., 2006).
Estudos têm demostrado uma forte associação entre as principais DCNT e
fatores de risco altamente prevalentes, destacando-se o tabagismo, o consumo
abusivo de álcool, o excesso de peso, níveis elevados de colesterol, o baixo
consumo de frutas e verduras, o sedentarismo, a pressão arterial elevada, níveis
elevados de glicose sanguínea e o sobrepeso/obesidade (Gaziano et al., 2007;
Saude, 2011). Deste modo, o monitoramento destes fatores de risco e da
prevalência das doenças a eles relacionadas é primordial para a definição de
políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção destes agravos (Gaziano et
al., 2007).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as projeções para o ano de
2020 indicam que as DCV permanecerão como a principal causa de mortalidade e
incapacitação, principalmente nas regiões em desenvolvimento (Saúde, 2002). De
acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde realizada em 2013, 4,2% (6,1 milhões)
de pessoas com 18 anos ou mais de idade tiveram o diagnóstico médico de alguma
4
doença do coração. Na área urbana, o diagnóstico foi maior do que na área rural. A
região Sudeste apresentou equivalência ao nível nacional, 5,0% no diagnóstico
médico das doenças do coração, ficando na segunda posição entre as demais
regiões do país (IBGE, 2013). Entre as DCNT, as doenças cardiovasculares como a
doença isquêmica do coração, as doenças cerebrovasculares e a aterosclerose são
as principais causas de morte no Brasil, sendo responsáveis por 20% de todas as
mortes em indivíduos acima de 30 anos (Mansur et al., 2012; IBGE, 2013; 2013).
Iniciado em 1948, o estudo de coorte de Framingham foi um marco para a
identificação de fatores de risco cardiovascular. Com base no seu resultado, foram
criadas diversas escalas de risco, chamadas de escore de risco de Framingham,
que avaliam a chance de ocorrer um evento cardiovascular no período de dez anos,
escala esta que continua sendo amplamente utilizada nos dias atuais (Mahmood et
al., 2014). Em 2004, um estudo internacional, o INTERHEART avaliou os fatores de
risco para doenças cardiovasculares em 262 países, inclusive o Brasil. Identificou-se
nove fatores de risco simples de detectar e passiveis de modificação que são
responsáveis por mais de 90% de risco atribuível para a DCV. A dislipidemia, a
hipertensão arterial, o tabagismo e o estresse psicológico atuam de forma
prejudicial; já o exercício físico, o consumo diário de vegetais e frutas e a baixa
ingestão de bebida alcoólica atuam de forma protetora (Rosengren et al., 2004). No
Brasil o estudo AFIRMAR identificou os mesmos fatores acima e mostrou, assim
como o INTERHEART, que estes são responsáveis por 90% do risco cardiovascular
(Piegas et al., 2003).
Os fatores de risco para DCV são classificados em condicionantes, causais e
predisponentes. (Gama et al., 2010). Os fatores condicionantes são relacionados a
hereditariedade e ao estilo de vida, como a idade, o gênero e raça. Não são
controláveis, mas indicam a vulnerabilidade do indivíduo aos fatores de risco e a
necessidade de medidas preventivas para evitar o aparecimento destes (Gama et
al., 2010). Os fatores de risco causais estão relacionados ao dano cardiovascular,
como a hipertensão arterial sistêmica, o diabetes, a dislipidemia e o tabagismo. Os
fatores de risco predisponentes são os facilitadores do aparecimento dos fatores
causais. Entre eles podemos citar o sedentarismo e obesidade. Os fatores de risco
cardiovasculares são de fácil identificação e podem ser evitados ou controlados,
onde a mudança no estilo de vida é uma maneira eficiente de manter a saúde
cardiovascular.
5
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença caracterizada por níveis
elevados e sustentados de pressão arterial (PA) sistólica ≥ 140mmHg e/ou diastólica
≥ 90mmHg confirmada pelo menos em duas medidas, o que aumenta muito o risco
de eventos cardiovasculares (SBH, 2010). De acordo com estudo divulgado pela
Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil, os brasileiros têm tendência a
desenvolver DCV causadas por hipertensão arterial. A doença têm alta prevalência
na população, variando em adultos de 22% a 44% (32% em média) e chegando a
mais de 50% em indivíduos entre 60 e 69 anos e 75% naqueles com mais de 70
anos (OPAS/OMS | Brasil. Temas de Saúde. Uso Racional de Medicamentos, 2016).
Estudos afirmam que a queda da PA sistólica (PAS) reduz proporcionalmente o risco
de eventos cardiovasculares como o acidente vascular encefálico e a doença arterial
coronariana em cerca de 40% e 25%, respectivamente (Chobanian et al., 2003;
Carvalho e Pinto, 2007).
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é um transtorno metabólico causado pela
hiperglicemia. De acordo com diretrizes nacionais e internacionais, os portadores de
DM2 estão na categoria de alto risco para o desenvolvimento da doença
cardiovascular (Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) 2015-2016 -
Bibliofarma, 2016). A presença do DM2 pode adiantar em 15 anos a idade para a
ocorrência das patologias cardiovasculares e também aumentar o risco de morte
(Fox et al., 2004). Indivíduos diabéticos com mais de 18 anos de idade apresentam
complicações de saúde ocasionadas pela doença, como infarto agudo do miocárdio
e acidente vascular encefálico, responsáveis por 8,5% e 7,1% dos casos
respectivamente, de acordo com o Plano Nacional de Saúde, publicado em 2013
(Ibge, 2013).
As dislipidemias ocorrem em decorrência do aumento do colesterol total e
LDL, aumento de triglicerídeos, ou de ambos, e/ou redução do HDL, sendo
classificada como hipercolesterolemia ou hipertrigliceridemia isolada ou mista.
Apesar das dislipidemias serem responsáveis pelo aumento do risco de DCV como a
aterosclerose e a doença arterial crônica, elas são um fator de risco controlável que
frequentemente pode ser alterado através de modificações no estilo de vida (Xavier
et al., 2013).
Estudos epidemiológicos demostram uma correlação independente e negativa
entre os níveis de colesterol HDL e o risco de eventos coronarianos. A redução nos
níveis de HDL em 1 mg/dL está associada ao aumento de 2% a 3% no risco desses
6
eventos (T et al., 2016). A combinação de níveis reduzidos de colesterol HDL e
níveis elevados de triglicerídeos é um padrão frequente em pacientes com infarto
agudo do miocárdio e/ou famílias com história importante desta doença (Roselee
Pozzan, 2013). Já é conhecido o potencial altamente pró-inflamatório e aterogênico
da lipoproteína de colesterol LDL (oxidado e glicosilado), desde modo a
hipercolesterolemia é um dos fatores de risco para DCV e o principal indicador do
prognóstico para eventos coronários (Silva et al., 2015).
O tabagismo é um dos principais fatores de risco evitáveis à saúde, que
contribuem para o desenvolvimento de DCV através do desenvolvimento da doença
arterial coronária e da aterosclerose das artérias dos membros inferiores.
O sedentarismo é definido como a falta ou uma grande diminuição da
atividade física. Segundo a OMS, a inatividade física é o quarto fator de risco mais
importante da mortalidade global, sendo responsável por 6% de todas as causas de
morte, cerca de 3,2 milhões de pessoas. Ainda de acordo com a OMS, a inatividade
física é a principal causa de 30% das doenças isquêmicas do coração e 27% dos
casos de diabetes, patologia também relacionada ao desenvolvimento de DCV
(OMS | Actividad física, 2016).
A obesidade favorece o aparecimento de fatores de risco para DCV. O
aumento da gordura central ou visceral, por exemplo, é responsável pela maior
incidência de hipertensão arterial. Estudos demostram que indivíduos obesos são
mais predispostos à ocorrência de eventos cardiovasculares do que indivíduos com
peso normal (Carneiro et al., 2003).
Além dos fatores de risco, já é conhecido que as desigualdades sociais e a
baixa escolaridade são condições adicionais associadas à maior mortalidade por
doenças cardiovasculares, inclusive metade da mortalidade antes da idade de 65
anos pode ser atribuída a condição de pobreza (Mansur et al., 2016).
7
2.2 METABOLISMO LIPÍDICO
A palavra metabolismo é de origem grega, da palavra “metábole”, que
significa “mudança, troca”. Por definição, é o conjunto de transformações, num
organismo vivo, pelas quais passam as substâncias que o constituem. O
metabolismo representa o conjunto de reações de anabolismo e catabolismo que
liberam energia. Logo, metabolismo lipídico são as transformações que ocorrem nos
lipídios dentro do organismo humano (Harchaoui et al., 2009).
Os lipídios são uma classe de macromoléculas orgânicas, cuja a
insolubilidade em solvente aquoso é a principal característica. O seu transporte e
solubilização no interior da corrente sanguínea é feito pelas lipoproteínas, que
possuem um centro hidrofóbico, envolto por um revestimento hidrofílico, que podem
ser definidas como complexos de lipídios e proteínas que facilitam o transporte dos
lipídios (Schiavo et al., 2003).
As lipoproteínas são complexos macromoleculares que carregam vários
lipídios e proteínas (apoliproteínas ou Apo) no plasma. Elas são constituídas de
ésteres de colesterol (livre e esterificado), triglicerídeos e fosfolipídios, os quais
compõem o núcleo das lipoproteínas, que em sua superfície apresentam as
apoliproteínas (Silva et al., 2015).
As macromoléculas recebem sua nomenclatura de acordo com as suas
caraterísticas de flutuação durante a ultracentrifugação, pois elas diferem em
densidade, composição, estrutura e função. A principal diferença entre as
lipoproteínas é a sua composição, sendo deste modo separadas em dois grupos:
lipoproteínas ricas em triglicerídeos (quilomícrons e lipoproteína de muito baixa
densidade [VLDL]), e lipoproteínas ricas em colesterol (lipoproteínas de baixa
densidade [LDL] e de alta densidade [HDL]) (Silva et al., 2015), conforme ilustrado
na Figura 1.
8
Figura 1 – Composição de triglicerídeos e densidade das lipoproteínas. A
ilustração demonstra as lipoproteínas formadas a partir da lipólise dos quilomícrons com
suas respectivas densidades (Fonte: Teik Chye Ooi, 2011).
Os quilomícrons consistem em triglicerídeos, apolipoproteínas CI, C-II, C-III,
B-48 e Apo E. O VLDL consiste em triglicerídeos, Apo B-100, Apo E, Apo CI, Apo C-
II e Apo C-III. A lipoproteína de densidade intermediaria (IDL) também é rica em
triglicerídeos e possui Apo B-100. O LDL é rico em colesterol, possui triglicerídeo
residual, Apo B-100, Apo CI e Apo E. O HDL, rico em colesterol, consiste em Apo AI,
A-II, CI, C-II, C-III, Apo E (Silva et al., 2015).
As apolipoproteínas desempenham diversas funções no metabolismo das
lipoproteínas: a Apo B100 e B-48 atuam na formação intracelular das partículas
lipoproteicas; as Apos CII, CIII e AI são cofatores enzimáticos e; a Apo E,
juntamente com a B-100, atua como ligante de receptores de membrana (Xavier et
al., 2013).
9
Os lipídios mais relevantes do ponto de vista fisiológico e clínico, são os
fosfolipídios, o colesterol, os triglicerídeos e os ácidos graxos. Os fosfolipídios
formam a estrutura básica das membranas celulares. O colesterol é precursor dos
hormônios esteroidais, dos ácidos biliares e da vitamina D. Os triglicerídeos
constituem uma das formas de armazenamento energético mais importante no
organismo, sendo depositados no tecido adiposo e no tecido muscular (Xavier et al.,
2013).
A insulina desempenha um papel importante na regulação da homeostase
lipídica. Na resistência à insulina, a resposta normal a insulina está aumentada, o
que leva a anormalidades no metabolismo lipídico de órgãos que são sensíveis a
regulação da insulina, como o fígado, o tecido adiposo e o músculo esquelético.
Dentre as anormalidades pode-se destacar o aumento da síntese de VLDL e a
hipertrigliceridemia (Harchaoui et al., 2009).
O metabolismo lipídico pode ser dividido em dois ciclos, um exógeno e um
endógeno, interligados e localizados no fígado (Figura 2). No ciclo exógeno, os
lipídios são advindos da dieta e absorvidos pelo intestino. Já o ciclo endógeno inicia
no fígado, que sintetiza as partículas de VLDL. A V Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose descreve em duas vias o metabolismo
lipídico: a via intestinal e a via hepática (Sbc, 2013; Xavier et al., 2013).
2.2.1 Via intestinal
O lipídio da dieta é absorvido no intestino delgado. Os triglicerídeos
representam a maior parte das gorduras ingeridas. As lipases pancreáticas
hidrolisam os triglicerídeos em ácidos graxos livres, monoglicerídeos e diglicerídeos.
Sais biliares são liberados na luz intestinal, emulsificando os lipídios oriundos da
dieta e da circulação enterro-hepática, formando assim as micelas. Estas são mais
solúveis, o que facilita sua movimentação pela borda em escova das células
intestinais.
No enterócito são sintetizadas as apoliproteínas B-48, AI, A-II e A-IV. A
membrana do enterócito expressa o transportador de colesterol intestinal Nieman-
PICK C1-like 1 (NPC1-L1), o que facilita a sua absorção. No interior das células
intestinais, os ácidos graxos são convertidos em triglicerídeos pela enzima
10
diacilglicerol aciltransferase 2 (Acil-CoA), podendo ser armazenados em gotículas
lipídicas ou empacotados juntamente com a apolipoproteína B-48 (ApoB-48). Esta
última reação é catalisada pela proteína microssômica de transferência de
triglicerídeos (MTTP), formando os quilomícrons (Twickler et al., 2005; Williams,
2008).
Os quilomícrons são secretados pelas células intestinais para o interior do
sistema linfático, de onde alcançam a circulação pelo ducto torácico. Além disso,
eles interagem com o HDL e realizam trocas lipídicas com ele. O HDL doa Apo C-II e
E, e recebe Apo AI e A-IV. Também ocorre uma troca de conteúdos lipídicos: o
quilomícrom recebe colesterol e o HDL triglicerídeo.
Enquanto circulam, os quilomícrons sofrem hidrolise pela lipase lipoproteica,
que é ativada pela Apo C-II, enzima que libera ácidos graxos livres e glicerol para os
tecidos, localizada na superfície endotelial de capilares do tecido adiposo e
muscular. Dessa forma, os ácidos graxos são capturados por células musculares e
adipócitos. Os adipócitos se tornam reservatórios de triglicerídeos formados a partir
de ácidos graxos. O fígado captura os quilomícrons e ácidos graxos remanescentes
para utilizá-los na formação de VLDL. As partículas remanescentes de quilomícrom
são eliminadas juntamente com a bile pela vesícula biliar (Sbc, 2013; Xavier et al.,
2013; Silva et al., 2015).
2.2.2 Via hepática
O transporte de lipídios de origem hepática ocorre por meio das partículas
de VLDL, IDL e LDL. As partículas de VLDL são sintetizadas e secretadas pelo
fígado e liberadas na circulação periférica. Para a síntese do VLDL é necessário a
transferência de triglicerídeos para a Apo B. A produção de VLDL e quilomícrons
pode ter origem hepática (produção endógena) ou pode ocorrer pós-prandialmente
pelo intestino (aumento da ingestão). Além disso, o triglicerídeo e o colesterol
também são produzidos endogenamente (Xavier et al., 2013).
No fígado ocorre a síntese de VLDL, que contém muitos triglicerídeos e as
apolipoproteínas B-100, E e C, a qual é dependente do acúmulo de triglicerídeos no
fígado. A síntese de VLDL é regulada por hormônios e favorecida pelo aumento da
11
relação insulina: glucagon, correspondendo assim a um processo fisiológico pós-
prandial (Freitas, 2013).
A enzima lipase lipoproteica hidrolisa os triglicerídeos da VLDL. Uma vez
depletadas de triglicerídeos, elas tornam-se VLDL remanescentes, sendo removidas
pelo fígado através de receptores específicos. A VLDL remanescente origina a IDL,
que é removida rapidamente do plasma. O processo de catabolismo continua,
envolvendo a ação da lipase hepática, dando origem a LDL. As partículas de HDL e
LDL realizam trocas lipídicas com as VLDLs através da hidrolise, por intermédio da
proteína de transferência do éster de colesterol (CETP). As VLDLs, por sua vez,
trocam triglicerídeos por ésteres de colesterol com as partículas de HDL e LDL
(Xavier et al., 2013).
As partículas de HDL são sujeitas a um processo de remodelamento
continuo no compartimento plasmático. A produção de HDL inicia no fígado com a
síntese de Apo AI, que se associa ao colesterol e fosfolipídios na corrente
sanguínea, formando uma partícula discoide. Essa partícula serve de substrato para
a enzima lecitina-colesterol acetiltransferase (LACT), que é responsável pela
esterificação do colesterol que foi capturado das membranas celulares e de outras
lipoproteínas, permitindo a maturação das partículas de HDL. Assim, este aumenta
em tamanho, se torna esférico e passa a conter principalmente ésteres de colesterol
(Lima et al., 2006; Silva et al., 2015).
A remoção das partículas de HDL do plasma ocorre através de um processo
complexo. A maioria dos constituintes é removida separadamente e apenas uma
fração da HDL é metabolizada como partícula intacta. A molécula de HDL atinge o
fígado, local onde recebe triglicerídeos transferidos das moléculas de VLDL, IDL e
LDL, através de processo de troca mediado pela CETP, e em contrapartida doa
colesterol para essas partículas. Neste órgão, o colesterol pode ser reutilizado ou
eliminado pela bile (Lima et al., 2006; Silva et al., 2015).
12
Figura 2 – Transporte de gorduras. A, Ciclo exógeno ou intestinal e; B, ciclo
endógeno ou hepático (Fonte: https://bjcardio.co.uk/2015/07/lipids-module-1-lipid-metabolism-and-its-role-in-atherosclerosis-3/).
A
B
13
2.3 HIPERTRIGLICERIDEMIA DE JEJUM
Os triglicerídeos são formados a partir de três ácidos graxos ligados a uma
molécula de glicerol e constituem uma das formas de armazenamento energético
mais importantes do organismo. Os TGs não utilizados no metabolismo celular são
armazenados depositados no tecido adiposo e tecido muscular. Eles são
sintetizados pelo próprio organismo ou derivados de fontes alimentares (Yen et al.,
2008).
A dosagem do triglicerídeo plasmático é determinada por uma técnica
bioquímica enzimática, sendo este um método preciso e barato. De acordo com a V
Diretriz Brasileira de Aterosclerose e Dislipidemias, seu valor desejável deve ser
<150 mg/dL. A variação de 150 a 200 mg/dL é considerada limítrofe. Entre 200
mg/dL e 499 mg/dL o TG é considerado elevado e >500 mg/dL o TG é considerado
muito elevado (Xavier et al., 2013).
A dosagem plasmática do triglicerídeo é um marcador de todas as
lipoproteínas que o transportam (quilomícrom, VLDL, IDL e remanescentes),
chamadas de lipoproteínas ricas em triglicerídeos (triacylglyceride rich proteins,
TRLs), conforme ilustrado na Figura 3. A hipertrigliceridemia isolada é caracterizada
pela elevação isolada do TG sérico (≥150 mg/dL), refletindo assim o aumento do
número e/ou volume das partículas ricas em TG, como os quilomícrons, VLDL e o
IDL (Xavier et al., 2013).
14
Figura 3 – Triglicerídeo presente nas lipoproteínas. A ilustração mostra o quanto cada
lipoproteína contribui em relação ao triglicerídeo sérico total (Fonte: Teik Chye Ooi, 2011).
15
2.4 LIPEMIA PÓS-PRANDIAL
A lipemia pós-prandial (LPP) é um fenômeno fisiológico caracterizado pela
elevação da concentração plasmática de triglicerídeos e lipoproteínas esterificadas
que ocorre em um indivíduo após a ingestão de gordura, refletindo a capacidade do
organismo em metabolizar os lipídios (Ooi e Nordestgaard, 2011; Petto et al., 2014).
O conceito de LPP surgiu pela primeira vez em 1947, quando Moreton publicou o
estudo “A aterosclerose e a hiperlipidemia alimentar” (Moreton, 1947). Desde então,
diversos estudos foram publicados baseados nesse conceito com objetivos variados
(Man e Albrink, 1956; Regan et al., 1961; Hellerstein et al., 1967; Zauner, 1968;
Valek et al., 1970; Zauner e Benson, 1977).
Tradicionalmente, o TG é mensurado em jejum (8-12 horas), apesar dos
indivíduos permanecerem a maior parte do dia no estado pós-prandial (14-16
horas/24 horas). Isso ocorre porque seus níveis variam após as refeições, o que
resulta na modificação dos seus valores de referência. Além disso, quando utilizada
a equação de Friedewald para o cálculo das concentrações de LDL e colesterol total,
a concentração de TG em jejum é necessária (Kolovou, Mikhailidis, Nordestgaard, et
al., 2011).
A lipemia pós-prandial pode ser influenciada, por fatores fisiológicos (idade,
gênero), estilo de vida (hábitos alimentares, atividade física, tabagismo e consumo
de álcool), condições patológicas (obesidade, síndrome metabólica e DM2), assim
como por fatores genéticos. Fisiologicamente, indivíduos com mais idade
apresentam hipertrigliceridemia pós-prandial quando comparados a indivíduos mais
jovens. Além disso, os homens apresentam níveis mais elevados de TG pós-prandial
quando comparados às mulheres. Contudo, as mulheres na pré-menopausa têm
uma resposta lipídica pós-prandial menor do que as mulheres pós-menopausa
(Pirillo et al., 2014).
A qualidade da alimentação, o teor/tipo de gordura/glicose e a frequência
das refeições ao longo do dia influenciam a LPP. A atividade física reduz o nível de
TG pós-prandial, porque diminui a produção de VLDL. Por outro lado, o tabagismo e
o consumo de álcool elevam o TG pós-prandial (Pirillo et al., 2014).
Indivíduos que apresentam obesidade e DM2 apresentam resposta lipêmica
pós-prandial anormal após a ingestão de refeição rica em gordura. A lipemia pós-
16
prandial pode contribuir para o aumento do risco cardiovascular em indivíduos que
apresentam síndrome metabólica, uma vez que pacientes com esta patologia
normotrigliceridêmicos em jejum, quando no estado pós-prandial, apresentam TG
elevado. Portanto, o estudo da lipemia pós-prandial é de grande interesse clinico
(Pirillo et al., 2014).
Dependendo da qualidade e da quantidade de gordura consumida, o
aumento das TRLs manifesta-se entre três a sete horas após sua ingestão, podendo
demorar mais tempo em indivíduos com doenças genéticas e metabólicas,
chegando a ser duas a três vezes maior e mais prolongado (Ooi e Nordestgaard,
2011). Os níveis plasmáticos de TG triglicerídeos podem permanecer aumentados
de dez a 12 horas após a ingestão de uma refeição. Quanto maior a duração e
amplitude da lipemia pós-prandial, maior a exposição da parede arterial as TRLs e
maior a probabilidade do desenvolvimento da aterosclerose (Ooi e Nordestgaard,
2011).
As TRLs encontram-se aumentadas no estado pós-prandial e seus níveis
podem prever o risco cardiovascular independente de outros lipídios (Pirillo et al.,
2014). A elevação permanente das TRLs no estado pós-prandial pode causar
disfunção endotelial, menor disponibilidade de oxido nítrico na parede vascular e
aumento de estresse oxidativo, alterações estas envolvidas na gênese da
aterosclerose (Signori et al., 2007). As TRLs penetram na parede arterial, atingindo o
espaço subendotelial formando um deposito de lipídios, atraindo monócitos que
estimularão a produção de marcadores inflamatórios, levando ao estresse oxidativo
no interior do vaso sanguíneo e a formação da placa de ateroma na camada intima
arterial (Ooi e Nordestgaard, 2011).
17
2.5 HIPERTRIGLICERIDEMIA DE JEJUM VERSUS PÓS-PRANDIAL E
RISCO CARDIOVASCULAR
A hipertrigliceridemia é frequentemente observada em pacientes que
apresentam síndrome metabólica, DM2 ou hiperlipidemia familiar combinada. Ela
pode ser decorrente do aumento na produção ou diminuição do catabolismo das
TRLs. Em 1996, foi demostrado por Hokanson e Austin que o TG em jejum é um
fator de risco para doenças cardiovasculares, independentemente do nível de HDL.
Níveis elevados de TG aumentam o risco de doença arterial coronariana em 30%
nos homens e 75% nas mulheres (Hokanson e Austin, 1996). Posteriormente, outros
estudos populacionais também demostraram que o nível elevado de TG,
independentemente dos valores de HDL e LDL, é um fator de risco para a doença
cardiovascular (Assmann et al., 1998; Jeppesen et al., 1998; Sarwar et al., 2007;
Abdel-Maksoud et al., 2008; Von Eynatten et al., 2008).
Em 1979, Zilversmit levantou pela primeira vez a hipótese de que a
aterogênese é um fenômeno pós-prandial e ressaltou a necessidade de investigar o
catabolismo e o anabolismo das lipoproteínas após a ingestão de uma refeição
gordurosa (Zilversmit, 1979). Em 1992, Patsch e colaboradores documentaram uma
associação entre a lipemia pós-prandial e a doença cardíaca coronariana (DCC)
(Patsch et al., 1992). Em 2008, Mora e colaboradores avaliaram o risco da
ocorrência de eventos cardiovasculares em mulheres acompanhadas por 11 anos.
Eles concluíram que existe uma forte relação entre o nível de triglicerídeo em jejum
e pós-prandial com a DCV, porém, foi encontrada uma maior correlação entre o
triglicerídeo pós-prandial e a DCV (Mora et al., 2008).
Estudos epidemiológicos têm demostrado que a hipertrigliceridemia é um
fator de risco independente para o desenvolvimento da doença arterial coronariana e
sugerido que o nível de triglicerídeo pós-prandial é um parâmetro mais confiável
para prever o risco da ocorrência de eventos cardiovasculares quando comparado
ao seu nível em jejum. Além disso, pacientes com DCC que apresentam outros
fatores de risco associados como a obesidade, a hipertensão arterial, o DM2 e a
síndrome metabólica frequentemente apresentam lipemia pós-prandial elevada
(Kolovou, Mikhailidis, Nordestgaard, et al., 2011).
18
O método tradicional para a triagem da hipertrigliceridemia é a avaliação do
TG plasmático em jejum, visto que o exame pós-prandial é complexo e demorado,
dificultando a sua utilização na pratica clínica. Uma vez que o TG pós-prandial
possui maior associação com o risco cardiovascular, não avaliá-lo impede o rastreio
da população de forma mais eficiente e precisa (Patsch et al., 1992).
O nível pós-prandial de TG está associado ao desenvolvimento da placa
aterogênica. Sua presença pode indicar níveis elevados de lipoproteínas
remanescentes aterogênicas, as quais tem potencial em penetrar a camada de
células endoteliais vascular e permanecer no espaço subendotelial, constituindo
assim um risco cardiovascular (Bansal et al., 2007; Nogaroto et al., 2015). Do ponto
de vista fisiológico, uma dieta rica em gordura pode afetar o metabolismo pós-
prandial, pois interfere na saturação da gordura e impedindo a remoção hepática dos
quilomícrons circulantes, permitindo assim, sua aceitação e incorporação por
macrófagos no endotélio dos vasos sanguíneos, contribuindo para a inflamação local
e formação da placa aterosclerótica (Miller et al., 2011).
Diante do exposto, as evidências com em relação a hipertrigliceridemia e o
risco cardiovascular são que:
• O TG pós-prandial apresenta maior associação com o risco
cardiovascular quando comparado a sua avaliação em jejum (Bansal et
al., 2007; Nordestgaard et al., 2007; Mora et al., 2008);
• O TG pós-prandial elevado está fortemente associado ao risco de infarto
agudo do miocárdio, doença arterial coronariana e morte (Nordestgaard
et al., 2007);
• O TG pós-prandial em mulheres saudáveis prevê a incidência de
eventos cardiovasculares (Bansal et al., 2007);
• O TG pós-prandial está associado com o aumento de risco de acidente
vascular encefálico isquêmico na população em geral (Freiberg et al.,
2008).
19
2.6 TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA (TTOG)
O teste para avaliar a LPP, denominado teste de tolerância oral a gordura
(TTOG), não se tornou um teste clinico, porque não existe protocolo para a sua
realização e padronização da refeição rica em gordura, sendo utilizado até então
apenas na pesquisa médica. De um modo geral, o TTOG é realizado para
determinar o impacto de fatores exógenos (qualidade e tipo de alimento) e
endógenos (estado metabólico ou genético) do indivíduo no estado pós-prandial.
Pela falta de padronização do teste, diferentes métodos são utilizados para a
mensuração da LPP de acordo com o objetivo do estudo (Kolovou, Mikhailidis,
Nordestgaard, et al., 2011).
O TTOG consiste na ingestão de uma refeição com alto teor de gordura. Sua
realização é indicada porque a concentração plasmática de TG é influenciada pela
ingestão de uma carga oral de gordura, enquanto os níveis de colesterol LDL e HDL
não são. O teste requer duas amostras de sangue: uma coletada em jejum (após
oito a 12 horas de jejum) e uma segunda amostra coletada entre quatro e seis horas
após a ingestão da refeição teste, a qual deve ser consumida dentro de dez a 20
minutos. Quatro horas após a ingestão da refeição já é possível observar uma
elevação do TG sérico (Kolovou, Mikhailidis, Nordestgaard, et al., 2011).
A LPP sofre influência da qualidade e da quantidade de refeição teste, sendo
modulada pela composição do alimento, principalmente gorduras, carboidratos,
fibras e proteínas. A quantidade e a qualidade da gordura alteram a composição do
quilomícrons e ácidos graxos, modulando diferentemente o TG pós-prandial. Os
carboidratos também influenciam a LPP: a glicose reduz o TG pós-prandial,
enquanto a sacarose e a frutose aumentam a resposta lipêmica pós-prandial. A
adição de fibras a refeição teste reduz a resposta lipêmica pós-prandial, uma vez
que as fibras aceleram o trânsito intestinal reduzindo a concentração plasmática de
lipídios oriundos da dieta. A presença de proteínas reduz a LPP e acredita-se que a
razão seja o estímulo ao aumento da produção de insulina (Pirillo et al., 2014).
É difícil o estabelecimento de uma refeição teste padrão baseada na
literatura existente para o TTOG, porque cada pesquisador relata uma refeição com
quantidades variáveis de gordura, carboidratos e proteínas (Kolovou, Mikhailidis,
Nordestgaard, et al., 2011). Contudo, padronizar a refeição teste do TTOG é de
20
extrema importância, porque a qualidade da refeição é essencial para a eficácia do
teste, visto que a absorção da gordura depende também da presença de proteínas e
carboidratos na alimentação (Lairon, Lopez-Miranda, et al., 2007; Lairon, Play, et al.,
2007; Lopez-Miranda et al., 2007).
Em 2011, foi realizada uma meta-análise com 113 estudos que haviam
avaliado a LPP de indivíduos saudáveis e concluiu-se que a refeição administrada
no teste deve conter preferencialmente entre 70 e 80 gramas de gordura
(aproximadamente 75 gramas). Esta seria a quantidade média de gordura
consumida diariamente pela maioria da população adulta, que normalmente tem um
padrão de 4 refeições por dia, contendo 20 a 40 gramas de gordura em cada
refeição (Mihas et al., 2011).
2.7 TTOG: RECOMENDAÇÕES DO PAINEL DE ESPECIALISTAS
No ano de 2010, um grupo de pesquisadores e médicos se reuniram em
Atenas na Grécia para estudar a necessidade do jejum e do estudo da LPP e sua
associação com fatores de risco CV. A discussão também teve como objetivo avaliar
a metodologia utilizada na mensuração da LPP e o seu papel como um fator de risco
CV. Os pesquisadores analisaram os estudos epidemiológicos recentes a época e
como consenso publicaram o artigo “Avaliação e relevância clínica da necessidade
do jejum e triglicerídeo pós-prandial: declaração de um grupo de especialistas”. Esta
publicação fornece diversas recomendações clinicas sobre o tema, além de
estabelecer valores de referência para a avaliação da presença ou ausência do risco
CV a partir da LPP, assim como a padronização do TTOG conforme ilustrado na
Tabela 1 (Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011).
Esta publicação conclui que a LPP pode ser utilizada para avaliar o risco CV,
substituindo inclusive a mensuração do TG em jejum. O valor de referência do TG
considerado desejável em amostra de sangue coletada em jejum é <150 mg/dL. No
TTOG, a mensuração do nível de TG seria suficiente, pois ele é amplamente aceito
como um fator de risco para eventos CV, sendo considerado um excelente marcador
para o rastreio sanguíneo (Ooi e Nordestgaard, 2011).
21
Tabela 1 - Valores de referência para o triglicerídeo sérico.
Estado Alimentar
Valores (mg/dL)
Desejáveis Limítrofes Aumentados
Jejum < 150 150-200 ≥ 200
Casual < 180 - ≥ 180
Pós-Prandial ≤ 220 - ˃ 220
O TTOG para fins clínicos tem urgência em ser padronizado, e para
simplificar sua aplicação deve consistir na ingestão de uma única refeição após
jejum de 8 horas. Uma boa estimativa da resposta pós-prandial já pode ser
observada 4 horas após a sua aplicação. Baseado nos estudos disponíveis, sugere-
se que a refeição contenha 75 gramas de gordura, 25 gramas de carboidrato e 10
gramas de proteína (Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011).
O TTOG deve ser realizado em indivíduos que apresentem níveis de TG em
jejum entre 89 e 180 mg/dL (1,0-2,0 mmoL), porque estes podem ser diagnosticados
precocemente com a presença do risco cardiovascular, mesmo sem alteração do TG
em jejum. Indivíduos que apresentam valores menores do que 89 mg/dL (<1,0
mmoL) normalmente não apresentam alteração da LPP, sendo desnecessário a
aplicação do TTOG. Já aqueles que apresentam níveis de TG em jejum acima de
180 mg/dL (2,0 mmoL), comumente possuem uma resposta lipêmica pós-prandial
alterada, portanto não se beneficiariam do diagnóstico a partir do TTOG.
A resposta lipêmica pós-prandial do TG considerada desejável a qualquer
momento após a ingestão da refeição teste deve ser ≤ 220 mg/dL (≤ 2,5 mmoL).
Níveis acima desse valor são considerados indesejáveis, sendo recomendado
tratamento com medicação e mudanças no estilo de vida (Kolovou, Mikhailidis,
Kovar, et al., 2011).
22
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVOS GERAIS
Proposta para padronização de um teste para o estudo da lipemia pós-
prandial em humanos.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Observar a variação do triglicerídeo sérico após a ingestão de uma dieta
hiperlipêmica;
• Investigar se existe correlação entre o triglicerídeo sérico em jejum e o
triglicerídeo pós-prandial com fatores de risco para o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares;
• Avaliar a impressão dos participantes sobre a refeição utilizada no teste de
tolerância oral a gordura.
23
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 DESENHO EXPERIMENTAL
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de
Saúde de Nova Friburgo da Universidade Federal Fluminense (CAAE:
49864015.2.0000.56.26, Anexo 1). A presente investigação é um estudo clínico
primário, analítico, intervencional, transversal e unicêntrico. O estudo foi dividido em
3 visitas:
1a) Nessa visita foi feito o convite a participação no estudo, onde foi
oferecida explicações sobre o estudo e a entrega do termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE);
2a) entrega do TCLE pelo indivíduo que concordou em participar do estudo e
triagem dos participantes elegíveis;
3a) avaliação antropométrica dos participantes, recebimento da refeição
teste e coleta de sangue em jejum e pós-prandial (Figura 4).
Figura 4 – Desenho experimental do estudo.
24
4.2 POPULAÇÃO ESTUDADA
Todos os participantes frequentavam a Sociedade União Beneficente
Humanitária dos Operários (Humanitária), que atende gratuitamente indivíduos da
cidade de Nova Friburgo e região e foram convidados a participar da pesquisa no
momento em que chegaram à sala de espera da Humanitária na primeira visita.
Aqueles que concordaram em participar foram conduzidos à assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - Anexo 2).
Foram incluídos no estudo 13 participantes (4 homens e 9 mulheres) com
idade superior a 18 anos. Os critérios de exclusão à participação no estudo foram:
(1) fazer uso de medicamentos hipolipemiantes (estatina, fibratos, ácido nicotínico,
óleo de peixe e ezetimiba); (2) portadores de distúrbios genéticos que afetem o
metabolismo lipídico; (3) indivíduos sob dieta restritiva de energia ou de algum
macronutriente no momento do estudo ou nos últimos dois meses anteriores ao
estudo; (4) vegetarianos estritos, lactovegetarianos e ovolactovegetarianos; (5)
indivíduos que fazem regularmente o consumo de duas ou mais doses de bebidas
alcoólicas (isto é, 5g de álcool) (19); (6) menores de 18 anos; ou (7) portadores de
deficiência mental. Os participantes que não aderiram ao protocolo experimental ou
não compareceram a uma das visitas previstas também foram excluídos do estudo,
assim como indivíduos onde não foi possível realizar as duas coletas de sangue
(jejum e pós-prandial).
4.3 QUESTIONARIO PARA TRIAGEM DOS PARTICIPANTES
Ao aceitar participar do estudo, os participantes passaram por uma
entrevista de primeira visita para triagem daqueles que se adequavam aos critérios
de inclusão e exclusão. Este questionário também serviu para a identificação de
possíveis fatores confundidores para a análise estatística dos dados obtidos no
estudo (Anexo 3). O questionário identificou parâmetros dos participantes como
gênero, escolaridade, renda familiar, fatores de risco cardiovascular (tabagismo,
etilismo, prática de atividade física e dieta), doenças crônicas pré-existentes
(diabetes e hipertensão arterial) e uso de medicamentos hipolipemiantes.
25
4.4 AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA
A avaliação antropométrica foi realizada após a primeira coleta de sangue
(jejum). Os participantes foram submetidos a avaliação da pressão arterial, estatura,
massa corporal, circunferência da cintura (CC) e circunferência do quadril (CQ).
A aferição da pressão arterial foi realizada através de técnica indireta
auscultatória com uso de esfignomanômetro. O participante permaneceu em
repouso durante 5 minutos antes da aferição. A aferição foi realizada com o paciente
sentado, com as pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso encostado na
cadeira e relaxado. O braço foi posicionado na altura do coração e livre de roupas, a
palma da mão voltada para cima e cotovelo levemente fletido. A pressão arterial foi
aferida duas vezes, uma em cada braço (SBH, 2010).
A massa corporal e a estatura foram aferidas em balança de precisão
antropométrica com estadiômetro da marca Welmey (capacidade 300 Kg), após a
aferição da pressão arterial. Esses valores foram utilizados para o cálculo do índice
de massa corporal (IMC) que é dado pela divisão do peso em quilos pela altura em
metros ao quadrado. Os valores de IMC foram usados para o diagnóstico de
sobrepeso ou obesidade dos participantes, de acordo com os critérios da OMS,
seguidos pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica (ABESO): (1) Peso normal: IMC entre 18,5 e 24,9 Kg/m²; (2) Sobrepeso:
IMC igual ou superior a 25,0 Kg/m²; (3) Pré-obesidade: IMC entre 25,0 e 29,9 Kg/m²;
(4) Obesidade grau I: IMC entre 30,0 e 34,9 Kg/m²; (5) Obesidade grau II: IMC entre
35,0 e 39,9 Kg/m² e; (6) Obesidade grau III: IMC igual ou superior a 40,0 Kg/m²
(Abeso, 2010).
A circunferência da cintura foi aferida na distância média entre a margem
inferior da última costela palpável e o topo da crista ilíaca, utilizando uma fita
resistente ao estiramento (Sanny® Anthropometric Tape). A circunferência do quadril
(CQ) foi aferida na posição de maior circunferência dos quadris, com a fita paralela
ao piso da sala. Na realização de ambas medidas, o indivíduo foi posicionado em pé
com os pés próximos, braços laterais ao corpo e peso corporal distribuído
uniformemente, vestindo roupa leve. O indivíduo se encontrava relaxado e a medida
foi realizada ao final da expiração normal. A partir destes dados, foi calculada a
relação cintura/quadril (RCQ), que é dada pela razão entre a cintura em centímetros
26
pelo quadril também em centímetros (Organization, 2008). O ponto de corte da
RCQ, considerado como risco cardiovascular, é RCQ≥0,85 em mulheres eRCQ≥1,00
em homens, de acordo a classificação de Lohman (Lohman et al., 1988).
A circunferência da cintura (CC) também foi utilizada para avaliar o risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, porque reflete de forma indireta o
conteúdo de gordura visceral, segundo a VI Diretriz Brasileira de Hipertensão (SBC /
DHA - Departamento de Hipertensão Arterial, 2015). O ponto de corte da CC para
determinar o risco cardiovascular em mulheres e homens é diferente. Considera-se
risco cardiovascular aumentado para valores maiores ou iguais a 80 cm em
mulheres e 94 cm em homens. Considera-se risco muito elevado os valores maiores
ou iguais a 88 cm para mulheres e 102 cm para homens (Alberti et al., 2009).
Os valores de circunferência do quadril e estatura foram utilizados para o
cálculo do índice de adiposidade corporal (IAC), que é uma estimativa indireta da
porcentagem de gordura corporal do indivíduo, independente do peso. O IAC é um
índice alternativo ao IMC, uma vez que o IMC é impreciso em indivíduos com massa
corporal magra elevada e apresenta algumas variações. (Bergman et al., 2015).
27
4.5 TESTE LIPÊMICO PÓS-PRANDIAL
O teste lipêmico pós-prandial, ou teste de tolerância oral a gordura (TTOG),
foi realizado pela manhã entre 07h30 e 08h00, após venopunção de sangue em
jejum. A quantidade de macronutrientes presente na refeição teste utilizada no
presente estudo se baseou no trabalho de Kolovou e colaboradores, o qual foi
realizado com o objetivo de avaliar a lipemia pós-prandial em hipertensos (Kolovou
et al., 2003).
A refeição padronizada se assemelhou a um milk-shake de chocolate com
textura cremosa e volume de 500 mL. Em seu preparo foi utilizado 290 g de creme
de leite (Nestlé), 24 g de leite em pó Integral (Glória), 25 g de cacau em pó (Mãe
Terra), 11 g de açúcar e água. Com isso, a refeição teste utilizada consistiu em 75,4
g de lipídio totais (sendo 48,4 g de lipídio saturado), 25,1 g de carboidratos e 10,7 g
de proteínas (Tabela 2). Quatro horas após a ingestão da refeição teste foi realizada
nova coleta de sangue venoso.
Tabela 2 – Composição da refeição teste.
INGREDIENTES Total
(g)
Proteínas
(g)
Carboidratos
(g)
Lipídio
total
(g)
Lipídio
saturado
(g)
Creme de Leite 290,0 0,0 0,0 65,7 42,5
Cacau em pó 25,0 4,9 5,3 3,4 2,0
Açúcar 11,0 0,0 11,0 0,0 0,0
Leite em pó 24,0 5,9 8,9 6,3 3,9
TOTAL 350,0 10,7 25,1 75,4 48,4
IDEAL* # 10,0 25,0 75,0 #
*De acordo com Kolovou et. al. 2011
# Não especificado
28
4.6 COLETA DE SANGUE
Os participantes foram orientados a permanecer em jejum por 8 horas na
noite anterior a terceira visita. Foi realizada coleta de sangue por venopunção (jejum
e pós-prandial). A primeira coleta acorreu às 07h30 da manhã. Após a coleta em
jejum, o participante ingeriu a refeição teste, conforme descrito anteriormente.
Quatro horas após a intervenção, sangue foi novamente coletado para a análise do
triglicerídeo pós-prandial.
O sangue coletado foi utilizado para a dosagem da concentração de glicose
(ELITech Clinical Systems SAS, França) e triglicerídeos séricos (ELITech Clinical
Systems SAS, França). Cada coleta foi realizada alternando os membros superiores,
sendo a punção realizada em uma das principais veias localizadas na face anterior
do braço (v. cubital média, v. cefálica ou v. basílica). O método de coleta utilizado foi
o sistema à vácuo. Foi utilizado tubo siliconizado sem anticoagulante e gel
separador. Após a coleta, o sangue foi devidamente homogeneizado e armazenado
refrigerado.
4.7 ACEITABILIDADE DA DIETA
Enquanto os participantes aguardavam a segunda coleta de sangue, eles
receberam um questionário que possuía como intuito avaliar a percepção dos
mesmos e aceitabilidade da refeição teste ofertada. Diversos aspectos foram
avaliados como: textura, sabor, apresentação, quantidade e temperatura. O
questionário também foi empregado para investigar a saciedade dos participantes
após a ingestão da refeição e se a mesma causou algum mal-estar ou efeito adverso
(Anexo 4).
29
4.8 BIOQUÍMICA SANGUÍNEA
Ao final do teste, o sangue coletado foi encaminhado para o Laboratório
Multiusuário de Pesquisa Biomédica (LMPB) do Instituto de Saúde de Nova Friburgo
da Universidade Federal Fluminense para a realização das análises bioquímicas. O
sangue foi centrifugado a 3.500 força-G por 10 minutos para a obtenção do soro,
sendo mantido refrigerado a 4°C até o momento da análise bioquímica, que foi
realizada no dia seguinte a coleta.
O método usado foi a espectrofotometria, baseado na Lei de Lambert-Beer,
que diz que a quantidade de luz absorvida ou transmitida por uma determinada
solução depende da concentração do soluto e da espessura da solução, ou seja,
quanto mais forte a intensidade da cor da reação maior é a concentração do soluto
na mesma. Deste modo, a concentração do soluto é diretamente proporcional à
quantidade de luz absorvida (absorbância) e inversamente proporcional ao logaritmo
da luz transmitida (transmitância) (Lehninger, 2002).
A análise da glicose e do triglicerídeo sérico utilizaram o método
colorimétrico enzimático da ELITech Clinical (Systems SAS, França). O ensaio foi
realizado em uma microplaca com 96 poços, sendo as amostras analisadas em
triplicata. Também foi pipetado em triplicata o branco, a curva padrão (poço sem
amostra) e os soros controle normal e patológico (controles de qualidade), com o
objetivo de assegurar a exatidão dos resultados e a ausência de contaminação dos
reagentes.
Para o preparo de ambas as reações (glicose e triglicerídeo), foram
pipetados no mesmo poço 300 µL de reagente e 3 µL da amostra. A microplaca foi
encubada a 37°C em banho-maria por 10 minutos. Em seguida, a leitura foi feita em
espectrofotômetro de microplacas (Epoch, LifeTechnologies), no comprimento de
onda de 500 nm, no modo area scan 5x5, por 75 segundos. Não foi observado nas
amostras a presença de interferentes em ambos os testes.
30
A determinação da glicose por ação enzimática ocorre através das seguintes
reações:
Figura 5 – Ensaio para determinação da glicose. Informações conforme especificação
técnica do kit de ensaio bioquímico (ELITech Clinical).
A determinação do triglicerídeo por ação enzimática ocorre através das
seguintes reações:
Figura 6 – Ensaio para determinação do triglicerídeo. Informações conforme
especificação técnica do kit de ensaio bioquímico (ELITech Clinical).
31
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados obtidos estão expressos na forma de média ± desvio padrão ou
porcentagem. Os dados foram analisados quanto a normalidade e
homocedasticidade das variâncias. Para avaliar se havia diferença na resposta pós-
prandial dos analitos foi utilizado teste t pareado. A correlação de Pearson foi
utilizada para avaliar se existe uma associação entre os fatores de risco
cardiovascular e o triglicerídeo de jejum e pós-prandial. Para esta comparação
também foi utilizado teste t de Student. A análise estatística foi realizada no software
GraphPad Prisma 6.0, adotando um nível de significância de 5%.
32
5. RESULTADOS
5.1 FATORES DE RISCO CV NA POPULAÇÃO ESTUDADA
O estudo incluiu 13 participantes, dos quais seis foram excluídos do estudo
devido a impossibilidade de se obter a segunda amostra de sangue (coleta pós-
prandial) em decorrência da dificuldade em realizar a venopunção. Diante disto,
foram incluídos no estudo sete participantes, onde 71,4% eram do sexo feminino e
28,6% do sexo masculino. Não foram feitas análises estatísticas comparando os
dados obtidos entre gênero, devido ao baixo n para homens (n=2).
A Tabela 3 apresenta o perfil da população estudada. A idade média foi de
29,8 ± 18,1 anos para mulheres e 38,5 ± 21,9 anos para os homens. A maioria dos
participantes (57,1%), sem levar em consideração o sexo, relatou praticar atividade
física no lazer e no trabalho. Apenas um participante (14,3%) relatou ser fumante e o
consumo de bebida alcoólica foi relatado por 71,4% dos participantes.
Nenhum participante incluído no estudo possuía diabetes diagnosticado por
um médico e a glicemia média em jejum foi de 91,9 ± 11,2 mg/dL. A hipertensão
arterial, diagnosticada pelo médico, estava presente em 28,6% dos participantes do
estudo. Considerando os sexos, 20% das mulheres e 50% dos homens eram
hipertensos. A pressão arterial sistólica e diastólica apresentou valores de 117,1 ±
25,1 mmHg e 82,8 ± 18,4 mmHg, respectivamente.
A Tabela 4 apresenta os dados antropométricos da população estudada. A
estatura média foi de 1,65 ± 0,007 cm em homens e 1,57 ± 0,07 cm em mulheres. O
peso médio foi 71,2 ± 11,2 Kg, sem levar em consideração o sexo. As mulheres
apresentaram circunferência da cintura de 87,0 ± 15,3 cm e os homens 92,0 ± 14,1
cm. O índice de massa corporal em homens foi 26,9 ± 3,5 Kg/m2 e em mulheres foi
28,7 ± 7,1 Kg/m2. A razão cintura quadril em homens foi 0,92 ± 0,1 e 0,81 ± 0,1 em
mulheres. O índice de adiposidade corporal nos homens foi de 28,75 ± 1,3%,
enquanto as mulheres apresentaram um valor de 35,9 ± 7,5%.
33
Tabela 3 – Perfil da população estudada com relação aos fatores de risco
cardiovascular.
VARIÁVEL Homem Mulher Total
N 2 (28,6%) 5 (71,4%) 7
Idade (anos) 38,5±21,9 29,8±18,1 32,2±17,7
Tabagismo 1 (50%) 0 (0%) 1 (14,3%)
Consumo de bebida alcoólica 2 (100%) 3 (60%) 5 (71,4%)
Atividade Física no Lazer 2 (100%) 2 (40%) 4 (57,1%)
Atividade Física no Trabalho 2 (100%) 2 (40%) 4 (57,1%)
Diabético 0 0 0
Glicemia em jejum (mg/dL) 100,1±3,4 88,6±11,79 91,9±11,21
Hipertenso 1 (50%) 1 (20%) 2 (28,6%)
PAS (mmHg) 135,0±49,5 110,0±10,6 117,1±25,1
PAD (mmHg) 95,0±35,3 78,0±9,7 82,8±18,4
Os dados são expressos em n (%) ou média±DP. Abreviações: PAS, pressão arterial sistólica; PAD, pressão arterial diastólica.
34
Tabela 4 – Variáveis antropométricas.
VARIÁVEL Homem
(n=2) Mulher (n=5)
Total (n=7)
Estatura (m) 1,65±0,007 1,57±0,07 1,59±0,06
Peso (Kg) 73,5±9,1 70,4±12,8 71,2±11,2
Cintura (cm) 92,0±14,1 87,0±15,3 88,4±14,0
Quadril (cm) 99,5±2,1 106,2±10,3 104,3±9,0
IMC (Kg/m²) 26,9±3,5 28,7±7,1 28,2±6,0
RCQ 0,92±0,1 0,81±0,1 0,84±0,1
IAC (%) 28,8±1,3 35,9±7,5 33,9±7,1
Os dados são expressos em média±DP. Abreviações: IMC, índice de massa corporal; RCQ, relação cintura-quadril; IAC, índice de adiposidade corporal.
35
5.2 RESPOSTA LIPÊMICA AO TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A
GORDURA
A resposta lipêmica pós-prandial no TTOG pode ser observada nas Figuras
7, 8 e 9. Todos os indivíduos apresentaram elevação do triglicerídeo pós-prandial
após a ingestão da refeição teste. Avaliando-se a reposta de todos os participantes
em conjunto (n=7), o triglicerídeo sérico em jejum foi de 108,0 ± 31,4 mg/dL e ele se
elevou no estado pós-prandial para 206,3 ± 111,0 (P=0,009, Figura 7).
Nas mulheres (n=5), o triglicerídeo apresentou aumento significativo, sendo
100,7 ± 18,7 mg/dL em jejum e se elevando para 178,4 ± 46,1 mg/dL no momento
pós-prandial (P=0,003, Figura 8A). Na Figura 8B, nota-se que apenas duas
participantes apresentaram resposta lipêmica pós-prandial levemente acima do
limite desejável. Nos homens, apesar do baixo n utilizado neste estudo (n=2),
também foi possível observar o aumento do triglicerídeo pós-prandial pelo TTOG
(Figura 9A-B). O triglicerídeo de jejum foi 126,3 ± 59,7 mg/dL e após 4 horas de
ingestão da refeição teste ele se elevou para 276,3 ± 227,5 mg/dL. Devido ao
número amostral reduzido, não foi possível realizar a análise estatística pareada do
TG antes e após o TTOG.
Em jejum, o triglicerídeo encontrado na resposta lipêmica pós-prandial em
ambos os sexos é considerado desejável. No estado pós-prandial, a maioria dos
participantes apresentou TG normal, exceto três participantes que apresentaram
valores acima de desejado (˃ 220 mg/dL).
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
*
Figura 7 – Resposta lipêmica pós-prandial. Triglicerídeo em jejum e pós-prandial após o
TTOG (n=7, homens e mulheres). Quando indicado, P<0,05 (teste t pareado).
36
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
5 0
1 0 0
1 5 0
2 0 0
2 5 0 *
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
5 0
1 0 0
1 5 0
2 0 0
2 5 0
L im ite
Figura 8 – Resposta lipêmica pós-prandial em mulheres. Triglicerídeo em jejum e pós-
prandial após o TTOG em mulheres (n=5). Quando indicado, P<0,05 (teste t pareado). O
limite desejável da resposta lipêmica pós-prandial indicado em (B) e (D) representa um valor
de triglicerídeo ≤ 220 mg/dL.
A
B
37
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
L im ite
Figura 9 – Resposta lipêmica pós-prandial em homens. Triglicerídeo em jejum e pós-
prandial após o TTOG em homens (n=2). O limite desejável da resposta lipêmica pós-
prandial indicado em (B) e (D) representa um valor de triglicerídeo ≤ 220 mg/dL.
A
B
38
O aumento médio do triglicerídeo após a ingestão da refeição teste está
demostrada na Figura 10 em valor absoluto (Figura 10A) e percentual (Figura 10B).
O triglicerídeo pós-prandial apresentou um aumento de 77,7 ± 34,8 mg/dL nas
mulheres e 150,0 ± 167,8 mg/dL nos homens, entretanto não foi observado diferença
significativa entre os sexos (Figura 10A). Nas mulheres (n=5), o triglicerídeo pós-
prandial se elevou 76,72% e nos homens (n=2) o aumento foi de 98,30% (Figura
10B).
T
rig
lic
erí
de
o (
mg
/dL
)
M U L H E R H O M E M
0
5 0
1 0 0
1 5 0
2 0 0
2 5 0
3 0 0
3 5 0
4 0 0
% d
e E
lev
aç
ão
do
Tri
gli
ce
rid
eo
M U L H E R H O M E M
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
1 7 5
2 0 0
Figura 10 – Comparação entre a resposta lipêmica pós-prandial de mulheres e
homens. Em A, o delta representa o valor absoluto do triglicerídeo pós-prandial menos o
valor absoluto do triglicerídeo em jejum. Em B, foi calculado o percentual de incremento do
triglicerídeo pós-prandial em comparação ao valor em jejum. O teste t Student não apontou
diferença estatística.
A
B
39
5.3 RESPOSTA GLICÊMICA AO TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A
GORDURA
A resposta glicêmica durante o TTOG está ilustrada nas Figuras 11, 12 e 13.
A glicemia de jejum e pós-prandial não apresentou alteração significativa durante o
teste. Em jejum, a glicose média foi de 91,9 ± 11,2 mg/dL e a pós-prandial foi de
93,7 ± 11,6 mg/dL. Uma pequena redução da glicemia pôde ser observada em
quatro participantes (3 mulheres e 1 homem), porém sem significância. Nenhum
participante apresentou hipoglicemia, assim como redução ou elevação preocupante
da glicemia durante a realização do TTOG.
As mulheres (n=5) apresentaram glicemia em jejum de 86,6 ± 11,7 mg/dL e
glicemia pós-prandial de 89,3 ± 8,8 mg/dL (Figura 12). Em relação aos homens
(n=2), a glicemia em jejum foi 100,1 ± 3,4 mg/dL e a glicemia pós-prandial foi 104,5 ±
12,9 mg/dL (Figura 13).
Gli
co
se
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
Figura 11 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à gordura.
Glicemia em jejum e pós-prandial, 4 horas após a ingestão da refeição teste (n=7, homens e
mulheres).
B A
40
Gli
co
se
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
Gli
co
se
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
Figura 12 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à gordura
em mulheres. Glicemia em jejum e 4 horas após a ingestão da refeição teste (n=5).
41
Gli
co
se
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
Gli
co
se
(m
g/d
L)
J e jum P ó s -p ra nd ia l
0
2 5
5 0
7 5
1 0 0
1 2 5
1 5 0
Figura 13 – Comportamento da glicemia durante o teste de tolerância oral à gordura
em homens. Glicemia em jejum e 4 horas após a ingestão da refeição teste (n=2).
42
5.4 FATORES DE RISCO CARDIOVACULAR E RESPOSTA LIPÊMICA
AO TESTE DE TOLERÂNCIA ORAL A GORDURA
Primeiramente, os participantes do estudo foram estratificados com base em
diferentes fatores de risco cardiovascular, a fim de se avaliar se os indivíduos em
risco apresentariam uma elevação da resposta lipêmica pós-prandial mais
pronunciada, quando comparados a indivíduos sem risco.
Diante disso, o n de cada grupo variou e segue indicado nas barras de
dados de cada figura. O n total sempre se mantém sete, somando os indivíduos sem
risco e em risco, sendo analisados juntamente mulheres e homens.
Os fatores de risco utilizados são os que se seguem abaixo:
1) Índice de massa corporal;
2) Circunferência da cintura;
3) Razão cintura-quadril;
4) Índice de adiposidade corporal e;
5) Hipertensos
43
5.4.1 Índice de massa corporal
Quando o IMC é considerado como fator de risco cardiovascular, os
participantes foram estratificados em sem risco, quando o IMC calculado foi < 25,0
Kg/m². Os indivíduos em risco foram considerados os que apresentavam sobrepeso
ou obesidade, ou seja, IMC ≥ 25,0 Kg/m².
A Figura 14 mostra uma elevação do triglicerídeo pós-prandial em indivíduos
sem risco (P=0,02) e em risco há uma tendência, porém sem significância. O
triglicerídeo em jejum foi semelhante entre os participantes sem risco e em risco CV.
Há uma tendência do triglicerídeo pós-prandial de participantes em risco ser maior,
comparado a resposta pós-prandial de participantes sem risco, porém sem diferença
estatística.
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J E J U M P Ó S -P R A N D IA L J E J U M P Ó S -P R A N D IA L
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
S E M R IS C O E M R IS C O
n = 4 n = 4 n = 3 n = 3
*
IM C > 2 5 K g /m ²
Figura 14 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pelo índice de massa corporal. Os participantes com IMC < 25 Kg/m²
foram classificados como não possuindo risco cardiovascular. Os participantes com
IMC ≥ 25,0 Kg/m² foram classificados com risco cardiovascular. Quando indicado,
P<0,05 (teste t Student ou teste t pareado).
44
5.4.2 Circunferência da cintura
Utilizando como parâmetro de estratificação a circunferência da cintura,
foram considerados em risco CV as mulheres com CC ≥ 80cm e os homens com CC
≥ 94cm. O triglicerídeo em jejum não foi diferente na comparação entre a presença
ou ausência do risco CV. Quando comparado ao jejum, o triglicerídeo pós-prandial
apresentou elevação em indivíduos sem risco (P=0,02) e apenas tendência em
indivíduos com risco. Houve uma tendência de os indivíduos em risco apresentarem
maior elevação do TG pós-prandial, quando comparados com o grupo sem risco,
mas sem significância (Figura 15).
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J E J U M P Ó S -P R A N D IA L J E J U M P Ó S -P R A N D IA L
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
S E M R IS C O E M R IS C O
n = 4 n = 4 n = 3 n = 3
*
C C 8 0 c m (m u lh e r)
C C 9 4 c m (h o m e m )
Figura 15 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela circunferência da cintura. As mulheres com CC< 80cm e os
homens com CC < 94cm foram classificados como não possuindo risco
cardiovascular. As mulheres com CC ≥ 80cm e os homens com CC ≥ 94cm foram
classificados com risco cardiovascular. Quando indicado, P<0,05 (teste t Student ou
teste t pareado).
A B
45
5.4.3 Razão cintura-quadril
Foi considerado uma razão cintura quadril que predispõe ao risco CV em
mulheres e homens com valores ≥ 0,85 e ≥ 1,00, respectivamente. Não houve
diferença entre o triglicerídeo de jejum em participantes sem risco ou em risco CV.
Foi observada uma elevação do triglicerídeo pós-prandial em indivíduos sem risco
(P=0,006) e aparentemente em indivíduos também em risco, porém para esta última
comparação o teste estatístico não foi executado devido ao baixo n amostral (n=2).
A elevação do TG pós-prandial foi significativamente maior em indivíduos em risco
CV, quando comparados aos indivíduos sem risco (P=0,04) (Figura 16).
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J E J U M P Ó S -P R A N D IA L J E J U M P Ó S -P R A N D IA L
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
S E M R IS C O E M R IS C O
n = 5 n = 5 n = 2 n = 2
*
#
R C Q 0 ,8 5 (m u lh e re s )
R C Q 1 ,0 0 (h o m e n s )
Figura 16 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela razão cintura-quadril. Mulheres e homens com RCQ < 0,85 e
<1,00, respectivamente, foram classificados como não possuindo risco
cardiovascular. Mulheres com RCQ ≥ 0,85 e homens com RCQ ≥ 1,00, foram
classificados com risco cardiovascular. Quando indicado, P<0,05 (teste t Student ou
teste t pareado).
46
5.4.4 Índice de adiposidade corporal
Ao utilizar o índice de adiposidade corporal como fator de risco CV, foram
considerados em risco as mulheres e os homens com sobrepeso ou obesidade (IAC
≥ 35% e IAC ≥ 22%, respectivamente). Não foi encontrada diferença entre o
triglicerídeo em jejum de participantes sem risco ou em risco CV. Foi visto que o
triglicerídeo pós-prandial dos participantes sem risco se elevou comparado ao jejum
(P=0,04) e fenômeno semelhante foi visto nos indivíduos em risco, porém sem
significância estatística. O TG pós-prandial dos indivíduos em risco não apresentou
diferença estatística quando comparado aos indivíduos sem risco, apesar de ser
maior (Figura 17).
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J E J U M P Ó S -P R A N D IA L J E J U M P Ó S -P R A N D IA L
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
S E M R IS C O E M R IS C O
n = 3 n = 3 n = 4 n = 4
*
IAC 3 5 % (m u lh e re s )
IAC 2 2 % (h o m e n s )
Figura 17 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pelo índice de adiposidade corporal. Mulheres e homens com IAC <
35% e IAC < 22%, respectivamente, foram classificados como não possuindo risco
cardiovascular. Mulheres com IAC ≥ 35% e homens com IAC ≥ 22%, foram
classificados com risco cardiovascular. Quando indicado, P<0,05 (teste t Student ou
teste t pareado).
47
5.4.5 Hipertensão arterial
O último parâmetro considerado foi a hipertensão arterial autodeclarada com
base em diagnóstico prévio do médico pessoal. Assim, considerando a hipertensão
arterial como fator de risco CV, foi visto que o triglicerídeo pós-prandial apresentou
elevação tanto em participantes não hipertensos (sem risco CV) quanto em
indivíduos hipertensos (em risco CV). Os participantes hipertensos apresentaram
uma resposta pós-prandial mais elevada, quando comparada com os indivíduos sem
hipertensão arterial (P=0,04). O triglicerídeo em jejum foi semelhante entre
participantes sem risco e em risco CV (Figura 18).
Tri
gli
ce
ríd
eo
(m
g/d
L)
J E J U M P Ó S -P R A N D IA L J E J U M P Ó S -P R A N D IA L
0
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 0 0
5 0 0
6 0 0
S E M R IS C O E M R IS C O
n = 5 n = 5 n = 2 n = 2
#
*
h ip e r te n s o s
d ia g n o s tic a d o s
n ã o h ip e r te n s o s
Figura 18 – Resposta lipêmica pós-prandial de participantes classificados em risco
cardiovascular pela hipertensão arterial. Os participantes normotensos foram
classificados como não possuindo risco cardiovascular. Os participantes hipertensos
diagnosticados foram classificados com risco cardiovascular. Quando indicado,
P<0,05 (teste t Student ou teste t pareado).
48
5.5 CORRELAÇÃO DO TRIGLICERÍDEO EM JEJUM E PÓS-
PRANDIAL COM VARIÁVEIS ANTROPOMÉTRICOS
Foi avaliado se existe uma correlação entre o triglicerídeo em jejum e pós-
prandial com os parâmetros antropométricos avaliados. A Tabela 5 apresenta o r da
correlação encontrada para cada comparação. Não foi encontrada correlação com
significância estatística entre os parâmetros antropométricos e a concentração
sérica do triglicerídeo de jejum e pós-prandial considerando todos os participantes
ou somente mulheres. Entretanto, mesmo sem significância estatística, no estado
pós-prandial a correlação da CA e da RCQ foi de 0,50 e 0,63, respectivamente. Não
foi possível realizar o teste de correlação para os dados obtidos dos homens, devido
ao baixo n de 2 participantes.
Tabela 5 – Correlação do triglicerídeo em jejum versus triglicerídeo pós-
prandial com variáveis antropométricas.
VARIÁVEL
JEJUM PÓS-PRANDIAL
TODOS
(n=7)
MULHER
(n=5)
TODOS
(n=7)
MULHER
(n=5)
CC 0,24 (NS) -0,34 (NS) 0,47 (NS) 0,18 (NS)
CA 0,28 (NS) -0,36 (NS) 0,51 (NS) 0,16 (NS)
Quadril -0,07 (NS) -0,003 (NS) -0,08 (NS) 0,000 (NS)
IAC -0,19 (NS) -0,12 (NS) -0,09 (NS) 0,21 (NS)
IMC 0,02 (NS) -0,32 (NS) 0,16 (NS) 0,07 (NS)
RCQ 0,35 (NS) -0,474 (NS) 0,63 (NS) 0,232 (NS)
Dados apresentados em r (P).
Abreviações: NS, não significativo; CC, circunferência cintura; CA, circunferência abdominal;
IAC, índice de adiposidade corporal; IMC, índice de massa corporal; RCQ, razão cintura
quadril.
49
5.6 PERCEPÇÃO SENSORIAL E ACEITABILIDADE DA REFEIÇÃO
TESTE
Oito participantes fizeram a avaliação da refeição teste e o resultado é
apresentado nas Figuras 19 e 20. A refeição testada apresentou alta aceitabilidade
pelos participantes do estudo. Nenhum dos participantes deixou de ingerir todo o
conteúdo. O tempo médio para a ingestão da refeição foi de 5 min ± 1 min e 15
segundos. Todos os participantes relataram ter gostado da apresentação,
temperatura e textura da refeição. O sabor e o volume ofertado foram aprovados por
87,5% dos participantes. Todos relataram ser uma refeição fácil de ingerir. Quatro
horas após a ingestão, 75% dos participantes relataram estar saciados e sem fome.
Apenas um participante (12,5%) relatou sensação de desconforto intestinal. Todos
os participantes ingeririam a refeição novamente (100%).
% d e p a r tic ip a n te s
(n = 8 )
0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0
A p re s e nta ç ã o d a re fe iç ã o
S a b o r d a re fe iç ã o
Te m p e ra tura d a re fe iç ã o
Te xtura d a re fe iç ã o
G O S T E I
N Ã O G O S T E I
IN D IF E R E N T E / S E M O P IN IÃ O
Figura 19 – Percepção sensorial da refeição teste pelos participantes.
50
% d e p a r tic ip a n te s
(n = 8 )
0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0
V o c ê te m há b i to d e to m a r c a fe d a m a nhã ?
S a c ia d o e m 4 ho ra s ?
S e nte fo m e a g o ra ?
É fa c i l d e ing e ri r?
S e nte T o ntura o u m a l e s ta r?
S e nte d e s c o nfo rto a b d o m ina l?
C o m e ria no va m e nte ?
S IM
N ÃO
IN D IF E R E N T E / S E M O P IN IÃ O
A S V E Z E S S IM , A S V E Z E S N Ã O
Figura 20 – Aceitabilidade da refeição teste pelos participantes.
51
6 DISCUSSÃO
De acordo com os resultados obtidos, a refeição testada foi capaz de elevar
a concentração sérica do triglicerídeo pós-prandial na população estudada, além de
apresentar alta aceitabilidade e efeitos adversos em baixa frequência. Também se
observou, entre todos as variáveis antropométricas estudadas, uma maior
correlação do triglicerídeo pós-prandial com a relação cintura-quadril e a
circunferência abdominal. Sabe-se que a RCQ e a hipertensão arterial são fatores
de risco cardiovascular, e no presente estudo viu-se que os participantes em risco
CV, quando considerados estes dois parâmetros, apresentaram uma resposta pós-
prandial mais exacerbada.
Já se sabe que após uma sobrecarga oral de lipídios, a concentração de
triglicerídeo aumenta substancialmente, enquanto os valores de HDL e LDL não se
alteram. Estudos recentes sugerem que a lipemia pós-prandial apresenta maior
relação com o risco cardiovascular quando comparada com a sua mensuração em
jejum, podendo ser utilizada para avaliar o risco cardiovascular. Adicionalmente,
existe a hipótese de que a aterosclerose seria um fenômeno pós-prandial (Zilversmit,
1979; Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011). A quantidade de lipídios,
carboidratos e proteínas que compõem as refeições utilizadas na realização do
TTOG apresenta uma grande variação nos estudos publicados nas últimas duas
décadas. Assim, é urgente a padronização do teste lipêmico pós-prandial (Kolovou,
Mikhailidis, Nordestgaard, et al., 2011).
O aumento do triglicerídeo é influenciado pela quantidade e qualidade da
refeição usada no teste, uma vez que estas variáveis interferem na absorção lipídica
intestinal (Kolovou, Mikhailidis, Nordestgaard, et al., 2011). Nos diversos estudos já
realizados, a quantidade de gordura varia de muito baixa (5 g por refeição), a
moderada (30 a 50 g por refeição) e muito alta (140 g por refeição). Em indivíduos
normolipêmicos, a ingestão de 30 a 70 g de gordura faz com que os valores de TG
pós-prandial permaneçam elevados por 6 h (Dubois et al., 1994; Dubois et al., 1998;
Lairon, Play, et al., 2007).
A refeição teste utilizada se assemelha a uma refeição completa da maioria
da população, contendo lipídios, carboidratos e proteínas. A quantidade de lipídios
(75 g) presente na refeição reproduz a média de gordura ingerida diariamente pela
52
maioria da população. A utilização de uma refeição mista é o ideal, visto que a
absorção dos lipídios depende da presença de carboidratos e proteínas para
assegurar que ocorra as diversas respostas metabólicas comuns no estado pós-
prandial. A presença de lipídio saturado e insaturado também é recomendado
(Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011). No presente estudo, o preparado contendo
75 g de lipídios, 25 g de proteínas e 10 g de carboidratos, sugerido pelo Painel de
Especialistas, foi capaz de mimetizar a resposta a ingestão de uma refeição padrão
na população estudada, elevando o triglicerídeo pós-prandial.
Nos diversos estudos de lipemia pós-prandial, a refeição utilizada no TTOG
apresenta composição, apresentação e textura muito diversas. Em 2011, Kolovou e
colaboradores sugeriram como refeição padrão 250 g de creme de chantilly ou
queijo, os quais são comercialmente disponíveis, com a adição de 15 g de açúcar,
ou ainda a utilização de fórmulas lácteas disponíveis para a nutrição enteral
(Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011).
Mesmo após a publicação de recomendações pelo Painel de Especialistas,
os estudos publicados até os dias atuais continuam apresentando as mais diversas
formulações. Em 2012, Nagata e colaboradores utilizaram para a realização do
TTOG uma refeição composta por creme de frango, pudim de creme e um biscoito, a
qual corresponderia a 16,6 g de lipídios, 57,6 g de carboidratos, 17,2 g de proteínas
(Nagata et al., 2012). Em um outro estudo publicado em 2014, Matikainen e
colaboradores ofereceram aos participantes uma refeição teste que consistiu em
pão, manteiga, queijo, presunto, um ovo cozido, pimenta fresca, leite azedo, suco de
laranja e café. A refeição continha 57 g de lipídios, 63 g de carboidratos e 40 g
proteínas (Matikainen et al., 2014). No ano seguinte, Nogaroto e colaboradores
publicaram um estudo onde foi oferecida um sobrecarga lipídica numa refeição que
consistiu em 200 g de creme de leite desnatado (25% de gordura) e 50 g de gema
de ovo (Nogaroto et al., 2015).
No presente estudo, foi feita uma revisão da literatura em busca de uma
refeição de fácil preparo e ingestão e que atendesse ao objetivo do nosso estudo,
que era padronizar uma refeição para pesquisa clínica baseada na publicação do
Painel de Especialistas (Kolovou et al., 2003). Após uma vasta pesquisa de
formulações chegamos a uma refeição que consiste em 290 g de creme de leite, 24
g de leite em pó, 25 g de cacau em pó e 11 g de açúcar, a qual adquiriu uma
consistência bastante semelhante a de um milk-shake de chocolate.
53
A textura, temperatura, apresentação e sabor da refeição teste utilizada no
presente estudo agradaram aos participantes. A refeição apresentou alta
aceitabilidade, visto que todos os participantes relataram que a ingeririam
novamente, além de ter apresentado efeito adverso pouco frequente. O tempo
médio da ingestão foi baixo, não ultrapassando 5 minutos, o que foi considerado
satisfatório. Os estudos relatam que as refeições teste utilizadas demoram cerca de
20 minutos para serem ingeridas, indicando que talvez sua aceitabilidade pelos
participantes não seja tão alta (Ooi e Nordestgaard, 2011).
Não existe padronização do protocolo para a realização do teste de lipêmico
pós-prandial e os desenhos experimentais utilizados são muito variados. Há estudos
que realizam diversas coletas de sangue, iniciando entre 4 e 6 horas após a
ingestão da refeição hiperlipídica. Existe também divergência no tempo de jejum
anterior a primeira coleta de sangue, o qual varia de 8 a 14 horas. No estado pós-
prandial, o sangue pode ser extraído várias vezes (4 a 12 horas) após a ingestão da
refeição. Alguns autores avaliam o triglicerídeo a cada 1 hora, outros a cada 2 horas,
ou até mesmo a cada 3 horas após a ingestão da refeição teste. Quanto maior o
número de medições, mais precisa a avaliação da resposta do TG pós-prandial (Ooi
e Nordestgaard, 2011). Em um indivíduo saudável, o tempo de absorção de uma
refeição rica em gordura ocorre entre 2 a 4 horas, o pico de concentração sérica
ocorre entre 4 e 6 horas, e a eliminação entre 6 e 8 horas (Kolovou, Mikhailidis,
Nordestgaard, et al., 2011).
Em 2011, Kolovou e colaboradores, baseados em 113 ensaios clínicos em
indivíduos saudáveis, sugerem que seja realizada uma única coleta de sangue, 4
horas após a ingestão da refeição teste, por esse ser o momento mais
representativo para medir a resposta do triglicerídeo pós-prandial e simplificar o
protocolo para fins clínicos (Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al., 2011). No presente
estudo, uma única coleta de sangue 4 horas após a ingestão da refeição teste foi
capaz de produzir um aumento significativo do triglicerídeo sérico, corroborando com
Kolovou e colaboradores. Foi possível observar que três participantes apresentaram
o triglicerídeo pós-prandial acima do valor limítrofe recomendado de 220 mg/dL,
apesar do seu triglicerídeo em jejum ser considerado desejável ou limítrofe (Kolovou,
Mikhailidis, Kovar, et al., 2011). Não foi observado no estudo uma influência da
refeição testada sobre a glicemia dos participantes, corroborando com estudos
prévios (Kolovou et al., 2003).
54
A partir da década de 1990, a LPP tem se destacado como um melhor
preditor de risco cardiovascular, uma vez que ela se correlaciona a vários fatores
desencadeantes da doença cardiovascular mesmo em indivíduos
normotrigliceridêmicos em jejum (Petto et al., 2014). A diminuição da eliminação dos
lipídeos leva a exposição aumentada das células endoteliais às lipoproteínas
esterificadas, e essa exposição causa alterações na reatividade vascular fortemente
associada à progressão da aterosclerose e a eventos cardiovasculares. No estado
pós-prandial, a maior elevação dos triglicerídeos pode causar, além da disfunção
endotelial, menor disponibilidade de óxido nítrico e aumento do estresse oxidativo,
alterações fortemente envolvidas na gênese da aterosclerose (Signori et al., 2007).
No presente estudo, foi visto que os indivíduos que apresentaram
triglicerídeo em jejum menor que 89 mg/dL não apresentaram resposta pós-prandial
expressiva, como já havia sido descrito por Kolovou e colaboradores. Diante disso,
este autor aconselha que o teste lipêmico seria desnecessário nestes indivíduos,
visto que estudos já demostraram que a resposta ao teste não se correlaciona a
presença de risco cardiovascular nesses casos (Kolovou, Mikhailidis, Kovar, et al.,
2011).
Em linhas gerais, na presente pesquisa, não foram encontradas fortes
correlações entre as variáveis antropométricas de excesso de peso global e central
e o triglicerídeo em jejum e pós-prandial. Estudos mostram uma associação do IMC
e da CC com o risco cardiovascular, visto que indivíduos com esses parâmetros
aumentados apresentaram elevação do LDL, triglicerídeos, colesterol total e glicemia
em jejum (Janssen et al., 2002; Rezende et al., 2006; Burke et al., 2008). Em nosso
estudo, considerando as variáveis antropométricas IMC, CC e IAC como fatores de
risco cardiovascular, não foi observada resposta pós-prandial diferente entre os
indivíduos sem risco e em risco. Entretanto, quando considerada a RCQ como fator
de risco cardiovascular, a resposta do TG pós-prandial foi maior nos participantes
em risco quando comparada aos participantes que não apresentavam risco CV.
Estes dados corroboram com outros estudos onde foi demostrado uma maior
correlação da RCQ com o perfil lipídico, comparado a outros índices antropométricos
como a CC (Ferreira et al., 2006; Oliveira et al., 2010).
Os dois participantes hipertensos da amostra apresentaram triglicerídeo pós-
prandial acima do valor limítrofe, confirmando que indivíduos com hipertensão
arterial tendem a ter resposta exagerada a sobrecarga de gordura e apresentam
55
retardo na eliminação de triglicerídeos plasmáticos (Kolovou et al., 2003). Além
disso, quando considerada a hipertensão arterial como fator de risco cardiovascular,
foi visto que os participantes em risco apresentavam TG pós-prandial mais elevado
quando comparado à resposta lipêmica pós-prandial de não hipertensos,
corroborando o que Kolovou concluiu em seu estudo (Kolovou et al., 2003).
De acordo com Huttunen e cols., o envelhecimento diminui a atividade da
lipase lipoproteica, causando lentificação na depuração dos quilomícrons,
aumentando assim a lipemia pós-prandial (Issa et al., 2005). No presente estudo, foi
visto que os dois participantes (um homem e uma mulher) com idade acima de 50
anos apresentaram o triglicerídeo pós-prandial acima do limite recomendado de 220
mg/dL. A participante do sexo feminino também se encontra no estado pós-
menopausa, e sabe-se que a perda da função ovariana nas mulheres pode ser um
fator determinante na elevação dos lipídios sanguíneos. A deficiência de estrogênio
resulta em uma resposta pós-prandial mais elevada comparado a mulheres na pré-
menopausa, podendo aumentar em até 19% os níveis séricos de colesterol total,
triglicerídeos e colesterol LDL (Santos et al., 2013; Pirillo et al., 2014).
Em relação as limitações do estudo, houve dificuldade na realização da
venopunção pós-prandial, o que resultou no baixo número de participantes,
impossibilitando a análise estatística de alguns parâmetros avaliados. Além disso, a
amostra consistiu em um número maior de participantes do sexo feminino. Isto se
deve porque mais mulheres do que homens procuraram o atendimento de
prevenção a doenças crônicas não transmissíveis oferecido pela Sociedade União
Beneficente Humanitária dos Operários, local onde são captados os participantes do
estudo. Este fato prejudicou a análise da resposta pós-prandial na população
masculina.
56
7 CONCLUSÃO
A refeição utilizada para o teste de tolerância oral a gordura, contendo 75 g
de gorduras, 25 g de carboidratos e 10 g de proteínas, é capaz de elevar o
triglicerídeo pós-prandial em indivíduos normotrigliceridêmicos em jejum. Esta
refeição apresenta alta aceitabilidade e efeito adverso não frequente. Além disso,
indivíduos com relação cintura-quadril elevada ou hipertensão arterial apresentam
resposta lipêmica pós-prandial exacerbada.
57
8 REFERÊNCIAS
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UNIVERSIDADE FEDERALFLUMINENSE - PÓLO DE
NOVA FRIBURGO
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
Pesquisador:
Título da Pesquisa:
Instituição Proponente:
Versão:
CAAE:
Tríglicerídeo pós-prandial e risco cardiovascular
Caroline Fernandes dos Santos Bottino
Universidade Federal Fluminense - Pólo de Nova Friburgo
2
49864015.2.0000.5626
Área Temática:
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Número do Parecer: 1.376.862
DADOS DO PARECER
Os níveis de triglicerídeos e lipoproteínas são avaliados rotineiramente no estado de jejum, apesar dos
indivíduos permanecerem a maior parte do dia em estado alimentado. Diversos estudos têm demonstrado
que o perfil lipídico em jejum e pós-prandial sofre pouca alteração, sendo assim talvez o jejum seja
desnecessário. Parece que o nível pós prandial de triglicerídeos reflete com maior eficácia o risco de doença
cardiovascular quando comparado ao seu nível em jejum, uma vez que a hipertrigliceridemia está associada
a aterosclerose. Sendo assim, investigar a lipemia pós-prandial é importante a fim de ser conhecer mais
fidedignamente o metabolismo lipídico do individuo, visando a prevenção do risco de desenvolvimento de
doenças cardiovasculares. O presente estudo visa avaliar se existe uma correlação entre o nível sérico de
triglicerídeo pós-prandial e o risco para doenças cardiovasculares na população da Região Serrana do
Estado do Rio de Janeiro. Adicionalmente, pretende-se investigar se existe correlação entre o triglicerídeo
sérico em jejum e o triglicerídeo pós-prandial, assim como comparar a confiabilidade da dosagem da glicose
e do triglicerídeo pelo método capilar e pelo método de ensaio bioquímico sanguíneo ("padrão-ouro"). A
hipótese do estudo é a de que o nível sanguíneo de triglicerídeo pós-prandial se correlaciona melhor ao
risco cardiovascular, quando comparado ao triglicerídeo mensurado em jejum. Outra hipótese do presente
estudo é a de que a mensuração da glicose e do triglicerídeo pelo método capilar possui forte correlação
com a dosagem realizada no sangue. O estudo
Apresentação do Projeto:
SOCIEDADE UNIAO BENEFICENTE HUMANITARIA DOS OPERARIOSPatrocinador Principal:
28.625-650
(22)2528-7168 E-mail: [email protected]
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Doutor Silvio Herique Branne 22
CENTRO
UF: Município:RJ NOVA FRIBURGO
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ANEXO 1
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consistirá em 3 visitas: 1a) triagem dos participantes, na qual está prevista o convite a participação no
estudo, assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e triagem dos indivíduos elegíveis;
2a) avaliação antropométrica dos participantes e avaliação do recordatório alimentar de 3 dias e; 3a)
avaliação do recordatório alimentar de 3 dias, aplicação do questionário de frequência de consumo alimentar
(QFCA) e recebimento da refeição teste. Os participantes serão indivíduos residentes na região serrana do
estado do Rio de Janeiro (Nova Friburgo e municípios vizinhos) e que frequentam a Sociedade União
Beneficente Humanitária dos Operários (Humanitária). Serão incluídos no estudo homens e mulheres com
idade superior a 18 anos. Serão excluídos do estudo os indivíduos: (1) que não aderirem ao protocolo
experimental ou não comparecerem a uma das visitas previstas; (2) que fazem uso de medicamentos
hipolipemiantes (estatina, fibratos, ácido nicotínico, óleo de peixe e ezetimiba); (3) portadores de distúrbios
genéticos que afetem o metabolismo lipídico; (4) que estiverem sob dieta restritiva de energia ou de algum
macronutriente no momento do estudo ou nos últimos dois meses anteriores ao estudo; (5) vegetarianos
estritos, lactovegetarianos e ovolactovegetarianos; (6) que fizerem regularmente o consumo de duas ou
mais doses de bebidas alcoólicas (isto é, 5g de álcool) (19); (7) menores de 18 anos; ou (8) portadores de
deficiência mental.
Objetivo Primário
Avaliar se existe correlação entre o nível sérico de triglicerídeo pós-prandial e o risco para doenças
cardiovasculares na população de Nova Friburgo.
Objetivo Secundário
A. Investigar se existe correlação entre o triglicerídeo sérico em jejum e o triglicerídeo pósprandial com o
risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares nesta população;
B. Comparar a confiabilidade da dosagem da glicose e do triglicerídeo pelo método capilar e pelo método de
ensaio bioquímico sanguíneo ("padrão-ouro").
Objetivo da Pesquisa:
O participante do estudo estará sob risco no momento da punção venosa, pois a mesma pode levar em
alguns casos a formação de um pequeno hematoma no local da coleta, assim como inflamação e inchaço
da região, que deve desaparecer em poucos dias. No momento da punção venosa e após a sua realização,
serão tomados todos os cuidados para minimizar os possíveis riscos de formação de hematoma no local
onde foi realizada a punção, tais como: compressão do local perfurado por no mínimo 3 (três) minutos,
orientação ao paciente para que este a evite flexionar o braço e observar se o paciente tem algum objeto
(p.ex., relógio)pressionando o local e
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
28.625-650
(22)2528-7168 E-mail: [email protected]
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Doutor Silvio Herique Branne 22
CENTRO
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orientá-lo a retirar. Outro risco a ser ressaltado seria um possível constrangimento do participante no
momento da aplicação dos questionários de triagem, recordatório alimentar de 3 dias e QFCA.A. Em
primeiro lugar, os participantes serão informados e orientados quanto ao resultado obtido em sua avaliação
antropométrica e nos exames laboratoriais;
B. A equipe oferecerá aconselhamento à respeito dos fatores de risco para doenças crônicas não
transmissíveis e mudanças de hábitos para uma vida mais saudável, caso seja detectado no estudo que o
participante apresenta algum entre os parâmetros estudados alterados;
C. O participante será aconselhado a procurar um médico para nova realização destes exames (caso
alterado) para então confirmar ou não o diagnóstico de possíveis doenças crônicas não transmissíveis. Os
pesquisadores responsáveis pelo projeto, e sua equipe, farão busca ativa de tais participantes mediante uso
de telefone, mensagem de texto, email ou ainda correio convencional (tais dados de contato serão coletados
durante a entrevista e preenchimento do questionário de triagem);
D. Os participantes poderão frequentar a Humanitária regularmente para aferição de sua glicemia, pressão
arterial e parâmetros antropométricos, a fim de se fazer o monitoramento dos fatores de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares;
E. Os participantes poderão atender às práticas educativas em sala de espera realizadas na Humanitária,
que têm como objetivo conscientizar sobre hábitos de vida e alimentação saudável e sua importância em
condições como o diabetes e hipertensão arterial.
F. É importante ressaltar os benefícios indiretos do presente estudo, relacionados à publicação dos dados
obtidos. Tais dados contribuirão para um melhor entendimento sobre os fatores de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares na região serrana do estado do Rio de Janeiro, área esta
carente de pesquisas e publicações sobre esta temática.
Pesquisa relevante com metodologia adequada aos objetivos propostos.
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e os demais documentos/declarações encontram-se em
conformidade às exigências da Resolução 466/12.
Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:
Nenhuma recomendação a fazer.
Recomendações:
As pendências anteriores foram resolvidas.
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
28.625-650
(22)2528-7168 E-mail: [email protected]
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Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Doutor Silvio Herique Branne 22
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Considerações Finais a critério do CEP:
Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:
Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação
Informações Básicasdo Projeto
PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO_595493.pdf
06/11/201519:25:38
Aceito
Declaração doPatrocinador
ANEXO_FOMENTO_HUMANITARIA.pdf 06/11/201519:21:30
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Outros CARTA_PESQUISADOR_AO_PARECER.pdf
01/11/201514:32:39
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Projeto Detalhado /BrochuraInvestigador
PROJETO_TG_e_RISCO_CV_v2.pdf 01/11/201514:05:31
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Projeto Detalhado /BrochuraInvestigador
PROJETO_TG_e_RISCO_CV_v2_com_marcacoes.pdf
01/11/201514:04:52
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
TCLE / Termos deAssentimento /Justificativa deAusência
TCLE_v2.pdf 01/11/201514:04:05
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
TCLE / Termos deAssentimento /Justificativa deAusência
TCLE_v2_com_marcacoes.pdf 01/11/201514:03:38
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Declaração deInstituição eInfraestrutura
DECLARACAO_Humanitaria.pdf 05/10/201518:40:03
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Declaração deInstituição eInfraestrutura
DECLARACAO_Direcao.pdf 05/10/201518:38:59
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Outros ANEXO_1_Triagem_1a_Visita.pdf 05/10/201518:38:24
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Folha de Rosto FOLHA_DE_ROSTO_assinada.pdf 05/10/201518:36:56
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Outros ANEXO_3_SIGPROJ.pdf 28/09/201516:00:41
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Outros ANEXO_2_QFCA.pdf 28/09/201516:00:16
Caroline Fernandesdos Santos Bottino
Aceito
Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
28.625-650
(22)2528-7168 E-mail: [email protected]
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Doutor Silvio Herique Branne 22
CENTRO
UF: Município:RJ NOVA FRIBURGO
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NOVA FRIBURGO, 18 de Dezembro de 2015
WANTUIL RODRIGUES ARAUJO FILHO(Coordenador)
Assinado por:
28.625-650
(22)2528-7168 E-mail: [email protected]
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Doutor Silvio Herique Branne 22
CENTRO
UF: Município:RJ NOVA FRIBURGO
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