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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI)Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente(PRODEMA)
Subprograma PRODEMA/UFPI/TROPENCurso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
LAZER E POTENCIALIDADES PARA O TURISMO EM PIRACURUCA, PIAUÍ
ROBERTA CELESTINO FERREIRA
TERESINA - PIAUÍ2011
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ROBERTA CELESTINO FERREIRA
LAZER E POTENCIALIDADES PARA O TURISMO EM PIRACURUCA, PIAUÍ
Dissertação apresentada ao Programa Regional dePós-Graduação em Desenvolvimento e MeioAmbiente da Universidade Federal do Piauí(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisitoparcial para obtenção do título de Mestre emDesenvolvimento e Meio Ambiente. Área deConcentração: Desenvolvimento do TrópicoEcotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Orientadora Profa. Dra. Wilza Gomes Reis LopesCo-orientador Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo
TERESINA – PIAUÍ2011
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FICHA CATALOGRÁFICAServiço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco
F383l Ferreira, Roberta Celestino.Lazer e potencialidades para o turismo em Piracuruca, Piauí
[manuscrito] / Roberta Celestino Ferreira. – 2011.170 f.
Cópia de computador (printout).Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Piauí,
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e MeioAmbiente (UFPI/TROPEN/PRODEMA), 2011.
“Orientadora: Profª. Drª. Wilza Gomes Reis Lopes”.“Co-Orientador: Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo”.
1. Barragem – Turismo. 2. Turismo. 3. Lazer. 4. Piracuruca.5. Desenvolvimento Sustentável. I. Título.
CDD 338.479 1
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ROBERTA CELESTINO FERREIRA
LAZER E POTENCIALIDADES PARA O TURISMO EM PIRACURUCA, PIAUÍ
Dissertação apresentada ao Programa Regional dePós-Graduação em Desenvolvimento e MeioAmbiente da Universidade Federal do Piauí(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisitoparcial para obtenção do título de Mestre emDesenvolvimento e Meio Ambiente. Área deConcentração: Desenvolvimento do TrópicoEcotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovada em 28 de março de 2011.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________Profa. Dra.Wilza Gomes Reis Lopes
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)Orientadora
____________________________________________________________Profa. Dra. Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano
Universidade Estadual do Ceará (UECE)Membro-Externo
_____________________________________________________________Prof. Dr. José Ribamar de Sousa Rocha
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)Membro-Interno
_____________________________________________________________Prof. Dr. Dennis Barros de Carvalho
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)Suplente
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Dedico este trabalho ao meu querido irmão,Lucas Pimenta Ferreira (in memoriam) por tersido meu apoio espiritual; a minha mãe, VeraLúcia Celestino da Silva; meu pai, JoãoPimenta Ferreira, e irmãs Patrícia CelestinoFerreira e Ludimila Celestino Ferreira, porsuportarem a distância em que nosencontramos; a meu esposo, FrancelinoEleuterio da Silva e a meu filho, ThiagoEleuterio da Silva, pela compreensão, carinhoe estímulo dedicado.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas e fortaleza de todos
os dias.
A Universidade Federal do Piauí (UFPI), pela oportunidade e a Coordenação de
Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida.
A minha orientadora, Profa. Dra. Wilza Gomes Reis Lopes, por todos os
ensinamentos, pelo compromisso durante a orientação, pela motivação e dedicação, pela
paciência e, principalmente, pela amizade.
Ao meu co-orientador. Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo, pela dedicação e
compromisso durante a orientação e pelas lições de vida.
Aos componentes da banca examinadora do Exame de Qualificação, Profa. Dra.
Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano e Prof. Dr. José Ribamar de Sousa Rocha, pela
grandiosa contribuição, e da banca examinadora da Defesa da Dissertação, Profa. Dra. Luzia
Neide Menezes Teixeira Coriolano e Prof. Dr. José Ribamar de Sousa Rocha, pela avaliação
criteriosa do trabalho.
Aos Docentes do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal
do Nordeste (TROPEN), em especial aos professores: José Machado Moita Neto, João Batista
Lopes, Antonio Alberto Jorge Farias Castro, Gerson Albuquerque de Araújo Neto, José
Ribamar de Sousa Rocha, Jaíra Maria Alcobaça Gomes, Maria Dione Carvalho de Morais,
Maria do Socorro Lira Monteiro, José Luís Lopes Araújo, Wilza Gomes Reis Lopes, Roseli
Farias Melo de Barros, Antonia Jesuíta de Lima, e também aos Docentes do Programa
Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA).
Aos colegas de turma 2009/2011: Accyolli Rodrigues Pinto de Sousa, Antonio
Joaquim da Silva, Charlene de Sousa e Silva, Daniel César Meneses de Carvalho, Daniel da
Silva Gomes, Elaine Aparecida da Silva, Emiliana Barros Cerqueira, João Macedo Lima
Junior, Leonardo Madeira Martins, Letícia Ferro Gomes Madeira Campos, Marly Cipriano
Feitosa de Melo, Reurysson Chagas de Sousa Morais, Roberth Luíz Carvalho Cipriano,
Simone Tupinambá Freitas e Victor de Jesus Silva Meireles, pela amizade construída ao
longo do curso e pelo companheirismo, jamais visto em toda minha caminhada acadêmica.
Também aos colegas das turmas 2007/2009, 2008/2010 e 2010/2012.
Aos funcionários do Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico
Ecotonal do Nordeste (TROPEN): Dona Maridete de Alcobaça Brito, Sr. João Batista de
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Souza Araújo e Sr. Raimundo Lemes de Oliveira; e aos seguranças, pela presteza em
colaborar.
Aos meus amigos e companheiros na árdua caminhada de ser um turismólogo.
A Universidade Estadual do Piauí (UESPI), pela oportunidade de realizar meu
estágio de docência superior, em especial à Coordenação do Curso de Bacharelado em
Turismo, pela contribuição a minha jornada como mestranda e enquanto estagiária.
A Profa MSc. Sammya Vanessa Vieira Chaves, pela orientação no Estágio-Docência.
A Liza Dedila de Menezes Fontenelle e ao Francisco Janiel Magalhães Pontes,
amigos do coração, que fiz quando entrei no mestrado, embora eles ainda não sejam do
mestrado, mas por coincidência são de Piracuruca, e muito me ajudaram, em especial na
pesquisa de campo.
A população de Piracuruca, em especial, aos proprietários de bares, donos de casas
de veraneio, moradores do entorno da Barragem Piracuruca, e aos visitantes que buscam o
local como um atrativo turístico do Estado do Piauí, com o intuito de desfrutar de horas de
lazer em contato com a natureza, pelas informações prestadas e pelas muitas experiências e
ensinamentos durante a pesquisa de campo, contribuindo, assim, de forma decisiva para a
concretização desta pesquisa.
A Prefeitura Municipal de Piracuruca, pelo incentivo a minha pesquisa, em especial
ao Prefeito Raimundo Vieira de Brito e a Secretária Municipal de Cultura, Turismo e
Desenvolvimento Econômico de Piracuruca, Jeane da Silva Melo e ao senhor Francisco
Augusto de Alcobaça Brito.
A Secretaria Estadual de Turismo (SETUR) e ao Programa de Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE/PI), em especial à senhora Maria Zuleide de Amorim
Martins, por colaborar com presteza.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a concretização de um sonho,
que busquei corajosamente realizar.
A todos, muito obrigada!
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“O turismo é um fenômeno histórico semprecedentes, na sua extensão e no seu sentido,é uma das invenções mais espetaculares dolazer da sociedade moderna.”
Dumazedier
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RESUMO
O presente trabalho consiste em estudar a atividade turística como forma de desenvolvimentosustentável na Barragem Piracuruca e seu entorno, no município de Piracuruca, Piauí. Apesquisa tem como objetivo geral analisar a Barragem Piracuruca como alternativa dedesenvolvimento socioeconômico e ambiental, para o incremento do turismo no município dePiracuruca, Piauí. Para atingir esse objetivo trabalha-se com os seguintes objetivosespecíficos: 1) Caracterizar o município de Piracuruca, destacando suas potencialidadesturísticas; 2) Identificar as formas de lazer e turismo que podem ser praticadas na BarragemPiracuruca; 3) Levantar os impactos positivos e negativos das atividades de lazer e turismodesenvolvidas na barragem; 4) Caracterizar o perfil e a percepção dos visitantes, dosprestadores de serviço, dos proprietários de casas de veraneio e da população do entorno daBarragem Piracuruca, sobre a atividade turística e sua contribuição para o desenvolvimentolocal. Como metodologia aplica-se a pesquisa bibliográfica e documental, complementadacom a pesquisa de campo aplicada com a amostra (visitantes, moradores, comerciantes eproprietários de casas de veraneio no entorno da Barragem Piracuruca) do objeto de estudo.Nesse caso, apontam-se como resultados encontrados, que o município de Piracuruca dispõede um rico acervo de patrimônio cultural, pelo seu conjunto arquitetônico, pelas diversasmanifestações culturais existentes, pelos atrativos naturais da região como o Parque Nacionalde Sete Cidades e pela potencialidade de lazer e recreação propiciada pela Barragem dePiracuruca. As possibilidades de desenvolvimento de atividades de lazer e do turismo emcontato com o meio natural na barragem são muitas, destacando-se banho aquático e de sol,pesca, mirante, campeonato de jetski e show acústico. Outras atividades também podem serexecutadas, desde que haja uma logística de estruturação e de infraestrutura, mostrando-sefavorável ao desenvolvimento do ecoturismo, turismo de esportes, turismo de pesca, turismonáutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia. Com relação aos impactos positivos, aatividade de lazer e turismo na Barragem pode contribuir para uma melhor qualidade de vidada população local e dos visitantes, assim como a geração de empregos e renda; e os impactosnegativos estão relacionados à degradação do meio natural, devido à inadequada acomodaçãoe destinação de resíduos sólidos, a sazonalidade, a falta de conclusão da infraestrutura (doBalneário e da estrada de acesso ao mesmo) e condições de higiene. Além disso, notou-se quea população piracuruquense mais carente está vivenciando um processo de “marginalizaçãoterritorial”, no qual as casas mais pobres estão sendo afastadas da barragem e substituídas porconstruções mais luxuosas, o que demonstrou uma grande especulação imobiliária em toda aextensão da barragem, o que não deixa de ser limitações ao desenvolvimento do turismo,sendo fatores momentâneos, mas preocupantes. Os problemas podem ser suplantados atravésda mudança de postura diante da questão ambiental, em que tal mudança só pode serconseguida através de um planejamento turístico que vise à preservação da natureza,incluindo a educação ambiental, e que leve em consideração a percepção ambiental dasociedade no processo de construção do desenvolvimento local. A barragem é um localagradável à visitação, possuindo elevada potencialidade para o desenvolvimento domunicípio, por suas riquezas naturais, tendo os entrevistados uma percepção otimista quantoao desenvolvimento de atividades de lazer e turismo, podendo fomentar o desenvolvimentoeconômico local, bem como a integração social e cultural, o que deve ser feito com prudênciae diligência por parte da administração pública e pelos próprios moradores e visitantes.
Palavras-chaves: Barragem. Lazer. Desenvolvimento sustentável. Percepção ambiental.Planejamento turístico.
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ABSTRACT
This paper studies touristic activity as an alternative for sustainable development onPiracuruca Dam and its neighborhood, in Piracuruca county, Piauí. This research has generalobjective to analyze tourism on Piracuruca Dam as a possibility for social, economic andenvironmental development, for tourism increase on Piracuruca county, Piauí. In order toreach this goal, followed specific objectives were: 1) to characterize county of Piracuruca,pointing out its touristic potentialities; 2) to identify leisure and tourism ways that can bepracticed on Piracuruca Dam; 3) to indicate positive and negative impacts from leisure andtourism activities developed on dam; 4) to characterize profile and perception of visitors,services renderers, summer holiday facilities’ owners and population of Piracuruca Damneighborhood about touristic activity and its contribution for local development. Asmethodological steps, bibliographic and documentary research was realized, as well as fieldresearch developed with pattern (visitors, dwellers, merchants and summer holiday facilities’owners on Piracuruca Dam neighborhood) of study object. Research results point thatPiracuruca county has rich heap of cultural patrimony, composed by architectonic collection,several existent cultural manifestations and, natural attractive of region as Sete CidadesNational Park, in face of leisure and recreation potentiality provided by Piracuruca Dam.There are many possibilities for development of leisure and tourism activities’ in contact withenvironment, detaching water and sun bath, fishery, contemplation on belvedere, jetskichampionship and acoustic music show. Other activities can also be executed, since a logisticinfrastructure could be introduced, which can be favorable to ecological tourism, sportivetourism, fishing tourism, nautical tourism, adventure tourism, sun and beach tourism. Inrelation to positive impacts, leisure and tourism activity on dam can contribute to a better lifequality for local population and visitors, as well as income and employment generation; andnegative impacts are related to environmental degradation, due to inadequate disposition anddestination of solid residue, seasonality, incomplete infrastructure (of bathing place and roadfor access) and bad hygiene conditions. Besides, a “territorial marginalization” process ofneedy people, in which poorest homes have been removed from dam area and substituted bysumptuous constructions, which demonstrate a significant immovable speculation all overdam area, that impose limits to tourism development, as temporary but serious factors. Theseproblems can be solved by change of behavior in face of environmental questions, which onlycan be reached through a touristic planning for nature preservation, including environmentaleducation, taking environmental perception of society in count for process of localdevelopment construction. Piracuruca Dam is a pleasant place for visiting, which has greatpotentiality for county development, due to its natural wealth, so that interviewed personshave optimist perception in relation to development of leisure and tourism activities, whichcan foment local economic development, as well as social and cultural integration, made withprudence and diligence by public administration and this area dwellers and visitors.
Keywords: Dam. Leisure. Sustainable Development. Environmental Perception. TourismPlanning.
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LISTA DE QUADROS E ILUSTRAÇÕES
Quadro 2.1: Impactos positivos e negativos do turismo 48Figura 5.1: Mapa de localização do município de Piracuruca, Piauí 76Figura 5.2: Igreja Nossa Senhora do Carmo 81Figura 5.3: Palacete da década de 1930 82Figura 5.4: Casarão antigo da década de 1940 82Figura 5.5: Usina da Cultura 82Figura 5.6: Espaço Jovem 82Figura 5.7: Estação Ferroviária 83Figura 5.8: Ponte Metálica da Estrada de Ferro 83Figura 5.9: Praça Irmão Dantas 83Figura 5.10: Praça José de Brito Magalhães 83Figura 5.11: Prainha durante o dia 84Figura 5.12: Prainha durante a noite 84Figura 5.13: Abertura dos Festejos de Nossa Senhora do Carmo 86Figura 5.14: Procissão a Nossa Senhora do Carmo na semana dos festejos 86Figura 5.15: Primeira Festa da Carnaúba, animada pela banda mexicana Alma Latina 87Figura 5.16: Coroação da Rainha da Carnaúba de 2010, em Piracuruca 87Figura 5.17: Local de venda de artesanato 88Figura 5.18: Doces e licores de Piracuruca 88Figura 5.19: Pedra da Tartaruga no Parque Nacional de Sete Cidades 89Figura 5.20: Mirante no Parque Nacional de Sete Cidades 89Figura 5.21: Mapa de localização da Barragem Piracuruca 90Figura 5.22: Lago da Barragem Piracuruca 91Figura 5.23: Vazante da Barragem Piracuruca 91Figura 6.1: Regiões hidrográficas do Brasil 105Figura 6.2: Vegetação no entorno da Barragem 108Figura 6.3: Visão de satélite da Barragem Piracuruca, Piauí 110Figura 6.4: Visão parcial da Barragem Piracuruca 110Figura 6.5: Agricultura de subsistência das famílias do entorno da barragem Piracuruca 111Figura 6.6: Criação de animais de pequeno porte no entorno da Barragem Piracuruca 111Figura 6.7: Casas de veraneio 112Figura 6.8: Bar e restaurante próximo a barragem 112Figura 6.9: Balneário da EMGERPI em construção, ao fundo, antigo bar e restaurante, emfuncionamento aguardando a nova infraestrutura 112Quadro 6.1:Principais reservatórios nacionais para aproveitamento turístico 114Figura 6.10: Banho de sol e no lago da Barragem 116Figura 6.11: Bate papo, descontração e lazer na Barragem Piracuruca 116Figura 6.12: Movimentação turística na Barragem Piracuruca 117Figura 6.13: Prática esportiva na Barragem Piracuruca 117Figura 6.14: Acúmulo de lixo às margens da barragem 119Figura 6.15: Lançamento de dejetos no reservatório 119Figura 7.1: Diversão e lazer em um bar e restaurante no entorno da Barragem 136Figura 7.2: Banhista pescando na Barragem Piracuruca 136Figura 7.3: Cisterna em residência do entorno da barragem 139Figura 7.4: Casa de veraneio às margens da barragem 143Figura 7.5: Banho às margens da Barragem Piracuruca 144Figura 7.6: Bares e restaurantes próximos à barragem 146
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Figura 7.7: Restauração da estrada que dá acesso ao balneário 150Figura 7.8: Construção do Balneário na Barragem Piracuruca 150
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LISTA DE SIGLAS
ACONVIPI - Associação dos Condutores de Visitantes de PiracurucaAGESPISA - Águas e Esgotos do Piauí S/AANA - Agência Nacional de ÁguasBCB - Banco Central do BrasilBNTM - Brasil National Tourism MartCNMD - Conferência das Nações Unidas para o Meio ambiente e DesenvolvimentoCNRH - Conselho Nacional de Recursos HídricosCODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do ParnaíbaCOGERH - Companhia de Gestão dos Recursos HídricosCHESF - Companhia Hidroelétrica do São FranciscoCOMDEPI - Companhia de Desenvolvimento do PiauíCONSPLAN - Consultoria e PlanejamentoDNOCS - Departamento Nacional de Obras Conta as SecasEIA - Estudo de Impacto AmbientalEMGERPI - Empresa de Gestão de Recursos do PiauíEMATER-PI - Instituto de Assistência Técnica e Extenso Rural do PiauíFUNDAÇÃO CEPRO - Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do PiauíIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIDEPI - Instituto de Desenvolvimento do PiauíIETS - Instituto de Estudos do Trabalho e da sociedadeINMET - Instituto Nacional de MeteorologiaIPHAN-PI - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Secção do Piauí)LGBT- Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e TransgênerosMTUR - Ministério do TurismoOMT - Organização Mundial do TurismoONU - Organização das Nações UnidasPARNA SETE CIDADES - Parque Nacional de Sete CidadesPAC - Programa de Aceleração do CrescimentoPDTIS - Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo SustentávelPNUD – Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPNRH- Programa Nacional de Recursos HídricosPRODETUR/NE/PI - Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – PiauíRIMA - Relatório de Impacto AmbientalSEBRAE - Serviço de Apoio às Pequenas e Médias EmpresasSEINFRA-PI - Secretaria da Infra-Estrutura do Estado do PiauíSEMAR-PI - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do PiauíSEPLAN-PI - Secretaria do Planejamento do Estado do PiauíSETUR-PI - Secretaria de Turismo do PiauíSIRAC - Serviços Integrados de Assessoria e ConsultoriaSPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico NacionalUNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 192.1 Lazer e turismo: conceitos modernos 192.2 Patrimônio cultural e turismo como dinamizador da cultural local 312.3 Relações entre paisagem, turismo, meio ambiente e desenvolvimento sustentável 362.4 A prática de lazer e turismo em espaços aquíferos 432.5 Impactos, planejamento e percepção ambiental da atividade turística 47
3 METODOLOGIA GERAL 56
4 REFERÊNCIAS 58
5 PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL NO TURISMO: POTENCIALIDADESDO MUNICÍPIO DE PIRACURUCA, PIAUÍ 665.1 Introdução 675.2 Patrimônio cultural e turismo 695.3 O município de Piracuruca, Piauí e seu patrimônio cultural e natural 745.3.1 Parque Nacional de Sete Cidades 885.3.2 O Grande Lago – Barragem de Piracuruca 905.4 Considerações finais 92Referências 93
6 A ÁGUA COMO SUPORTE PARA ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO:POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA BARRAGEM PIRACURUCA NO ESTADODO PIAUÍ 996.1 Introdução 1006.2 Aproveitamento das águas para lazer e turismo 1026.3 A Barragem Piracuruca e seu entorno 1076.4 Possibilidades, limitações e impactos das atividades de lazer e turismo na BarragemPiracuruca 1136.5 Considerações finais 119Referências 121
7 USO E APROPRIAÇÃO DA BARRAGEM PIRACURUCA, PIAUÍ 1257.1 Introdução 1267.2 Procedimentos metodológicos 1277.3 Planejamento turístico e percepção ambiental 1287.4 Perfil e percepção ambiental dos atores envolvidos na Barragem Piracuruca 1337.5 Políticas públicas para o desenvolvimento do turismo na Barragem Piracuruca 1497.6 Considerações finais 151Referências 152
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 156
APÊNDICES: A; B; C; e DANEXOS
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1 INTRODUÇÃO
Lazer e turismo são atividades que estão relacionadas à qualidade de vida, sendo o
lazer inerente às necessidades humanas. De outro modo, pode-se dizer que o lazer é atividade
que ajuda a relaxar as tensões adquiridas pelo indivíduo no seu dia a dia, frente à dialética do
cotidiano em que se encontra.
Os benefícios decorrentes das atividades que envolvem o lazer são percebidos e
valorizados pela sociedade, pois implicam na melhoria da saúde, na redução do estresse, do
absenteísmo, na redução dos acidentes no trabalho, na disposição e integração entre os
trabalhadores, bem como no resgate de valores e o enriquecimento sociocultural. Para que o
lazer seja realizado de modo satisfatório, englobando o turismo, há necessidade de espaços
com equipamentos e suportes de lazer projetados especificamente para esse propósito.
A prática do lazer é imprescindível ao ser humano, fato reconhecido pela
Constituição Federal, no art. 6, no qual se afirma que a educação, a saúde, o trabalho, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, bem como o lazer são direitos sociais; bem como no art. 180 que diz que a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo
como fator de desenvolvimento social e econômico (BRASIL, 1988). Desse modo, a
prescrição da Constituição Federal de 1988 pode ser interpretada como um incentivo às
políticas públicas de lazer e turismo nos vários Estados e Municípios da Federação.
Assim, observa-se que o turismo, atualmente, tem sido tema de amplos debates e
discussões relacionadas à questão ambiental, envolvendo estudiosos e políticos. Percebe-se o
reconhecimento de que o turismo tem se revelado como um dos meios eficazes para o
desenvolvimento da economia e, com isso, do desenvolvimento urbano e local, ao se observar
os discursos de vários segmentos políticos, que começam a discutir a viabilização de políticas
ambientais voltadas para este setor.
O turismo, no Brasil e no mundo, tem se configurado como uma das formas de
resgate da prosperidade econômica de muitas regiões, denotando, por sua vez, o expressivo
desenvolvimento deste setor, que passa a envolver grandes volumes de dinheiro, além de
fluxos contínuos de pessoas que buscam locais privilegiados para atividades turísticas (DIAS,
2008). Assim, o turismo passa do simples conceito de deslocamento para se situar mais no
contexto das atividades sociais, que refletem o combate à pobreza, merecendo, portanto,
amplo estudo desse aspecto.
A partir dessa concepção, observa-se que a atividade turística planejada e gerenciada,
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pode atrair riquezas e gerar benefícios para os municípios em que se encontra implantada,
propiciando geração de emprego e renda aos moradores locais e, ainda, aos empresários que
estabelecem empreendimentos comerciais voltados ao turismo.
No que se refere aos benefícios gerados pelo turismo, pode-se apontar seu forte
potencial para a atração de visitantes, potenciais consumidores de produtos e serviços, que
acarretará no aumento de arrecadação de impostos, que por sua vez, poderão ser utilizados na
melhoria das instalações e dos serviços ofertados à comunidade, refletindo de modo positivo
na expansão de atividades econômicas primárias como agricultura, pesca, manufatura e
produção de artesanato, empreendidos pelos moradores locais.
Além disso, em virtude do forte potencial econômico e social, o turismo tem
ajudado, em alguns lugares, na conservação de áreas naturais locais, sítios arqueológicos e
históricos, das artes, dos artesanatos, das tradições culturais e, ainda, contribuir para a
melhoria geral da qualidade de vida dos moradores, que se encontram na área periférica em
que está sendo desenvolvida essa atividade sustentável.
Contudo, se a atividade do turismo não for desenvolvida de maneira eficaz em uma
determinada região poderão ocorrer aspectos negativos, como por exemplo, a destruição dos
seus potenciais naturais e culturais, em curto espaço de tempo, o que pode significar a
redução, ou mesmo a extinção da matéria-prima da atividade turística. Entretanto, esses
aspectos negativos podem ser rechaçados, mediante o reconhecimento de suas consequências
danosas, por meio da preocupação voltada para o bem-estar da população local, bem como,
pela preservação do ambiente natural por parte de seus administradores, que devem
empreender planejamentos preventivos.
O turismo possui importante papel no cenário nacional e internacional, mas tal quais
as indústrias do passado, é altamente dependente dos recursos ambientais. Desse modo, sua
relação com o meio ambiente assume profunda relevância numa perspectiva de
desenvolvimento, que não pode envolver erros do passado nem prescindir de um modelo de
sustentabilidade. Sobre esse aspecto, Sachs (1993) é a favor do desenvolvimento realizado por
meio de um modelo econômico, que compatibilize eficiência econômica, justiça social e
prudência ecológica.
Assim, ressalta-se que a ideia do turismo pautado na sustentabilidade tem como
pressuposto, de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003), o desejo social
de que as políticas de investimentos preservem, de um lado a ocupação equitativa do meio
natural e por outro propiciem o desenvolvimento humano social, sem comprometer os níveis
admissíveis da modernidade, enquanto desenvolvimento tecnológico.
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A grande valorização dada aos aspectos econômicos do turismo tem negligenciado os
estudos que levam em consideração os aspectos relacionados com o ambiente natural, a
cultura e os aspectos psicossociais das comunidades receptoras. Até porque, a forma
predatória utilizada pelo turismo ao se apropriar dos lugares, leva a uma análise voltada para a
discussão restrita à sustentabilidade ou a um outro determinante, que é a necessidade de se
criar meios menos impactantes, tanto para o ambiente natural quanto para o social
(RUSCHMANN, 2004).
Observa-se que é imprescindível a realização do planejamento da atividade turística
para a utilização dos recursos culturais e naturais, não só para a continuidade da atividade
turística de uma localidade, como também para a continuidade da permanência da espécie
humana e suas manifestações no planeta. Neste caso, verifica-se que é importante o esforço
integrado dos diversos sujeitos do processo: residentes, turistas, governantes, empresários,
operadores, etc., que através da busca em integrar os recursos naturais e culturais num
processo de planejamento, estabeleçam um desenvolvimento local que, respeitando seus
princípios básicos defensores da sustentabilidade da atividade turística, seja capaz de
harmonizar os interesses econômicos com o respeito à natureza e às comunidades envolvidas,
e sua percepção quanto à atividade turística.
Em relação ao turismo, é necessário ter em mente que o objeto turístico não existe
por si só, é uma invenção pelo e para o turismo. Assim, os espaços turísticos são construídos
pelos empreendimentos turísticos, consistindo no estabelecimento de uma nova estrutura
sócio espacial, na qual o que vai valer são as relações dos homens entre si, na sociedade.
Dessa forma, é importante a realização de estudos em áreas com potencial turístico, para que
se possam reduzir os danos ambientais e sociais provenientes da implantação da atividade
turística.
A cada dia, mais e mais pessoas procuram destinações com atrativos naturais
conservados, não só por sua beleza cênica, mas também por significar a fuga do cotidiano
urbano. A partir da diversidade ambiental existente no Piauí, Estado da região Nordeste do
Brasil, são encontrados diversos pontos turísticos que podem contribuir para o
empreendimento do turismo local, regional e mesmo internacional. Entre eles destaca-se a
cidade de Teresina (capital do Estado), o litoral, o Delta do Parnaíba (Parnaíba), os Sítios
Arqueológicos (São Raimundo Nonato), os Poços Jorrantes (Cristino Castro), a cidade
histórica (Oeiras), o Parque Nacional de Sete Cidades (Piracuruca) e algumas cachoeiras,
como a do Urubu (entre Batalha e Esperantina).
A água sempre fez parte das atividades humanas, sendo motivo de escolha para a
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localização das aldeias e cidades. Segundo Benévolo (2003), desde o surgimento das
primeiras cidades destaca-se a proximidade dos cursos d’água como um dos fatores mais
importantes para a escolha de seu local de implantação, como se observa nas cidades da
Babilônia, entre os rios Tigre e Eufrates, Tebas, às margens do rio Nilo; Londres e o rio
Tâmisa; Paris e o rio Sena, pois os rios representavam a possibilidade de irrigação,
abastecimento d’água e meio de transporte, entre outros benefícios. Nos dias de hoje, os
recursos hídricos, como rios, lagoas, mares, represas, açudes e cachoeiras apresentam,
também, potencial turístico que podem ser aproveitados para o desenvolvimento do Estado do
Piauí, destacando-se os açudes e barragens que já possuem atividades de lazer em seu
entorno, como por exemplo, o Açude Caldeirão (em Piripiri) e a barragem Piracuruca, no
município de mesmo nome.
Em estudo da Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2005, p. 1) sobre a situação e
locais de desenvolvimento do chamado turismo de lazer, associado aos recursos hídricos de
domínio da União, “visando sua inserção nas discussões do Plano Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH) e à preservação do uso múltiplo das águas”, foi considerado que os
brasileiros costumam praticar esse tipo de turismo, em especial nas férias, em locais
relacionados com a água, como praias, lagos, rios e estâncias hidrominerais.
Para este estudo foi selecionada a Barragem Piracuruca, situada no Município de
Piracuruca, localizado na mesorregião do Norte piauiense, às margens do Rio Piracuruca,
distante 204 quilômetros de Teresina, capital do Estado do Piauí.
Como atração turística local, a barragem é visitada por sua exuberância natural e pelo
uso múltiplo de suas águas. Assim, a escolha da Barragem Piracuruca encontra-se relacionada
à necessidade que se verificou de um maior empreendimento turístico local, o que pode
culminar com essa barragem, sendo uma das alternativas de desenvolvimento socioeconômico
e ambiental, para o incremento do turismo no município de Piracuruca e de todo o Estado do
Piauí, podendo resultar em impactos positivos e negativos, caso o planejamento da atividade
turística não se dê de forma sustentável.
Para a realização dessa pesquisa levantou-se a seguinte questão: A atividade turística
praticada na Barragem Piracuruca e seu entorno, desenvolve-se de forma a proporcionar o
desenvolvimento com sustentabilidade? Partindo do pressuposto de que a forma como a
atividade turística é praticada na Barragem Piracuruca, pode trazer impactos ambientais
negativos ao desenvolvimento de forma sustentável.
Assim, este estudo teve como objetivo analisar a Barragem Piracuruca como
alternativa de desenvolvimento socioeconômico e ambiental para o incremento do turismo no
18
município de Piracuruca, Piauí. Com esse propósito, buscou-se: a) caracterizar o município de
Piracuruca, destacando suas potencialidades turísticas; b) identificar as formas de lazer e
turismo que podem ser praticadas na Barragem Piracuruca; c) levantar os impactos positivos e
negativos da atividade turística desenvolvida na barragem; e d) caracterizar o perfil e a
percepção dos visitantes, dos prestadores de serviços, dos proprietários de casas de veraneio e
da população do entorno da Barragem Piracuruca, sobre a atividade turística e sua
contribuição para o desenvolvimento local.
Este trabalho foi desenvolvido em duas partes, constando da primeira, a Introdução,
na qual se apresenta o tema, justificando sua importância e descrevendo-se os objetivos geral
e específicos, bem como a estrutura da dissertação. Esta parte contém, também, a Revisão
Bibliográfica, que aborda aspectos teóricos relacionados ao lazer, ao turismo, ao meio
ambiente, à sustentabilidade e à percepção ambiental e, ainda, a Metodologia Geral, que
descreve os percursos metodológicos empregados, e a relação das Referências utilizadas.
Na segunda parte estão apresentados os resultados obtidos, desenvolvidos em forma
de três artigos, que serão enviados a periódicos especializados.
O primeiro artigo – Patrimônio cultural e natural no turismo: potencialidades do
município de Piracuruca, Piauí - traça o contexto histórico, social, cultural, econômico e
ambiental do Município de Piracuruca, Piauí, destacando suas possibilidades para o
desenvolvimento do lazer e do turismo local.
O segundo artigo – A água como suporte para atividades de lazer e turismo:
possibilidades e limitações da Barragem Piracuruca no Estado do Piauí - faz referência
ao Município de Piracuruca, Piauí, descrevendo a Barragem Piracuruca, enquanto espaço de
lazer, turismo e desenvolvimento sustentável, destacando seus aspectos geoambientais, bem
como os impactos positivos e negativos advindos da atividade turística.
O terceiro artigo – Uso e apropriação da Barragem Piracuruca, Piauí - aborda o
planejamento da Barragem Piracuruca como local de lazer, turismo e de proposta de
desenvolvimento sustentável, destacando as políticas públicas para o desenvolvimento da
atividade turística na Barragem Piracuruca, o uso múltiplo da água para atividades de lazer e
recreação, bem como, caracterizando o perfil e a percepção ambiental e turística da população
envolvida (comerciantes, proprietários de casas de veraneio, moradores e turistas).
Por fim, o item Conclusões e Recomendações diz respeito às conclusões da
pesquisa e indica ações que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável do turismo
no município e para a Barragem Piracuruca, Piauí, enquanto lazer e atividade econômica, para
sua região.
19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste item são apresentados aspectos teóricos relacionados ao turismo, lazer, meio
ambiente, sustentabilidade, planejamento e percepção, visando subsidiar a pesquisa.
2.1 Lazer e turismo: conceitos modernos
A nomenclatura lazer é utilizada usualmente no meio acadêmico, no qual promove
discussões sobre seu significado e potencialidades como promotora do desenvolvimento
social.
Etimologicamente, “lazer” origina-se do verbo latino “licere”, que de acordo com
Larizzatti (2005) significava legítimo, correto, próprio, espontâneo. Desse mesmo verbo
latino, criaram-se outras variações para lazer, como no francês “loisir” e no inglês “leisure”.
No Brasil, os principais trabalhos e conceitos sobre o lazer fundamentam-se nas acepções
teóricas do sociólogo francês Dumazedier (1973, p. 34) que define lazer como
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livrevontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ouainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, suaparticipação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-seou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
Em pouco tempo, esta concepção repercutiu nas demais formulações teóricas sobre o
lazer no Brasil, que além de muito usual, possui variadas interpretações, transformando
Dumazedier na principal fonte de pesquisa sobre o assunto. No entanto, por limitar o lazer à
pratica de determinadas atividades e situá-lo como sendo um conjunto de ocupações, a
concepção de Dumazedier é alvo de constantes críticas, opondo-se às necessidades e
obrigações cotidianas. Nessa perspectiva, Gomes (2004, p. 121) diz que “trabalho e lazer
possuem diferentes caracteres, mas fazem parte da mesma dinâmica social, estabelecendo
relações dialéticas”.
Muitos estudiosos sobre lazer o definem como sendo um tempo livre ou conquistado,
que tem como finalidade compensar, de modo físico e psíquico. Contudo, para que isso ocorra
é preciso que sua escolha seja pessoal, livre, desinteressada, e principalmente que seja
prazerosa. Nesse sentido, entende-se tempo livre como sendo a liberação do tempo de
trabalho, obrigações domésticas, religiosas, escolares, entre outras. O lazer se utiliza desse
20
tempo livre, mas nem tudo que o homem faz no tempo livre pode ser considerado lazer, pois
pode não envolver prazer, vontade própria ou algo do gênero.
Assim, para que haja lazer é preciso disponibilidade de tempo, podendo este ser
diário, semanal, ou de longa duração (férias ou aposentadoria), mas a forma preferida depende
da rotina e o desgaste físico e mental de cada um. Na concepção de Requixa (1980, p. 35), o
lazer pode ser definido como a “[...] ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo
que o vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de
desenvolvimento pessoal e social”. Ao definir o lazer como ocupação, esse autor segue a
mesma linha de raciocínio de Dumazedier, evidenciando a liberdade de escolha e o prazer que
o ser humano deve ter ao se deleitar em uma atividade de lazer, opondo o lazer, das
necessidades e obrigações da vida.
Nesse sentido, Requixa (1980) procurou notabilizar a tese de que o lazer é um
produto do próprio desenvolvimento industrial, com tendência a tornar-se mais importante,
segundo o aumento do tempo livre dos trabalhadores. O autor chega a destacar que o mundo
urbano permitiu que o trabalhador fosse dispondo de um tempo, sobretudo livre e com
tendência a aumentar. Este estudo apresenta, porém, uma limitação crucial, pois na mesma
direção de Dumazedier, Requixa considera a existência do lazer somente a partir da sociedade
industrial. Dessa forma, a grande contribuição deste estudo consiste em que o mesmo dá os
primeiros passos em direção a uma nova visão do problema do lazer no Brasil, na medida em
que ressalta que o tempo livre é um elemento indispensável ao seu desenvolvimento.
Em consonância com Dumazedier, Camargo (1986, p. 97) define lazer como um
[...] conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias,centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos eassociativos, realizadas num tempo livre, roubado ou conquistadohistoricamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstico e queinterferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos.
Pelo que se pode notar, a ideia de Camargo, referente ao lazer, também delineia o
ponto de vista do autor francês Dumazedier, apesar da generalização deste conceito, que
compreende as manifestações do lazer como inúmeras atividades (exceto as domésticas e as
trabalhistas). Nesse contexto, Camargo (1986) aponta um elemento importante, quando afirma
que o lazer é uma conquista vinculada à jornada de trabalho/tempo livre.
Outro estudo que dá sequência ao conceito originário de Dumazedier, com certa
ampliação, é o de Marcellino (1983), que ratifica a ideia dumazediana em associar o lazer a
21
uma atividade desinteressada, sem fins lucrativos, relaxante, socializante e liberatória.
Contudo, depois de rever seus conceitos sobre o tema, Marcellino (1987, p. 33) passa a
entender o lazer como
[...] a cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada(praticada ou fruída) no “tempo disponível”. O importante, como traçodefinidor, é o caráter “desinteressado dessa vivência. Não se busca, pelomenos fundamentalmente, outra recompensa, além da satisfação provocadapela situação. A “disponibilidade de tempo” significa possibilidade deocupação pela atividade prática ou contemporânea.
Na reformulação da sua definição de lazer, Marcellino (1987) promove um avanço
na concepção, ao direcionar o lazer como cultura. A ampliação conceitual reside numa
formulação reflexiva de que o lazer passa pela apropriação da produção cultural existente na
sociedade. Nessa definição, Marcellino (1987) diz que a democracia política e econômica é
condição básica, ainda que não suficiente, para uma verdadeira cultura popular, para a
eliminação das barreiras sociais que inibem a criação de práticas sociais.
Dessa afirmação de Marcellino, pretende-se enfatizar a necessidade e a importância
de uma ação cultural específica, voltada para a produção e difusão de uma cultura de base
popular, que contribua para a superação das atitudes conformistas e que possibilite a extensão
da participação crítica e criativa, muito além das minorias privilegiadas, na qual se eduque
para o lazer, aproveitando o potencial das atividades desenvolvidas no “tempo livre”, como
significando a aceleração do processo de mudança, que pode possibilitar a instalação de uma
nova ordem no plano cultural.
Procurando entender o lazer dentro de uma perspectiva psicossocial, apresentando-o
como um tempo livre, empregado pelo indivíduo na sua realização pessoal, como um fim em
si mesmo, é que Rolin (1989, p. 118) diz que “[...] o indivíduo se libera, à vontade, do
cansaço, repousando; do aborrecimento, divertindo-se; da especialização funcional,
desenvolvendo de forma intencional as capacidades de seu corpo e espírito”.
Essa definição de Rolin trata de apresentar o lazer como uma categoria fragmentária,
desconectada de uma problemática social. Sua argumentação baseia-se na ideia de que o
homem atua guiado pela autodeterminação, dependendo apenas de si próprio para
desenvolver atividades de lazer. Nessa perspectiva, pode-se dizer que Rolin peca em seu
conceito, pois o ser humano não pode ser visto como um ser isolado, visto que o mesmo é
influenciado e influencia o meio social, sendo o lazer um meio de atuação entre o indivíduo,
seu meio e os outros.
22
Já para Mascarenhas (2004, p. 92), o lazer é “[...] um fenômeno tipicamente
moderno, resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como um tempo de
vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassando por relações de hegemonia”.
Desse modo, ao analisar o conceito de Mascarenhas, pode-se observar que o termo lazer
sofreu influências da Revolução Industrial. É que com o aumento da produção e a falta de
tempo livre começaram as lutas para redução da jornada de trabalho na Europa, no século
XVIII, nos Estados Unidos no século XIX, e no Brasil no século XX.
Dessa forma, é que durante o governo de Getúlio Vargas, na década de 1930, uma
série de medidas foi adotada em beneficio dos trabalhadores, que resultaram na diminuição da
jornada de trabalho para oito horas; descanso remunerado nos fins de semana; férias
remuneradas no fim de cada ano trabalhado; décimo terceiro salário; aposentadorias e
trabalho para as mulheres (CAMARGO, 1986); momento em que a cultura passou a constituir
um campo de produção humana em várias perspectivas, fluindo o lazer de diversas
manifestações culturais (GOMES, 2004).
Diante disso, verifica-se que o homem dispõe, na atualidade, de mais horas livres,
destinadas ao lazer. O descanso e o divertimento compensam a luta diária pelo sustento e
suavizam as dificuldades e preocupações do cotidiano, tornando a vida mais leve e fácil de
levar, ajudando a recuperar energias gastas e a reconquistar o equilíbrio psicológico, muitas
vezes perdido no estresse da vida moderna. Assim, com as atividades voltadas para o lazer, o
homem é compensado em suas capacidades físicas e psíquicas; contudo, para que isso ocorra
é preciso que ele disponha de liberdade para escolher o que quer fazer com o seu tempo livre.
Concordando com a definição de lazer de Dumazedier (1973), que estabelece três
funções para o mesmo, que são o desenvolvimento da personalidade, a função do descanso e o
divertimento, verifica-se neles uma inclinação para a harmonização. Estando aí a importância
de o homem estar educado para agir de modo racional, motivo que lhe proporciona
reconhecer a necessidade de que deve preparar para si uma arte de viver, em que não haja
desequilíbrio entre o trabalho e o lazer, em que esse lazer esteja antecipado em sua vida.
O turismo, com foco na sustentabilidade, deve levar em consideração as atividades
de lazer, que de acordo com Bacal (2003), influenciam e são influenciadas pelo processo de
urbanização, pela industrialização e também pela comunicação. O tempo livre dedicado ao
lazer é um direito de toda pessoa. Usualmente, muitos indivíduos não sabem usar seu tempo
disponível, mas a valorização do lazer somente é viável se o homem refletir que deve usar seu
tempo livre em “atividades que efetivamente o gratifiquem, satisfaçam seu eu, atividades cuja
23
finalidade seja um benefício, no sentido das reais necessidades individuais” (BACAL, 2003,
p. 93).
Marcellino (1987, p. 57-58) afirma que “o tempo disponível já é, em grande parte,
ocupado, naturalmente, por atividades culturais”. Ainda, em sua visão, muitas pessoas
“trabalham nos finais de semana e, mesmo aqueles que não exercem atividades profissionais,
participam de uma gama restrita de programações, a grande maioria restringindo-se ao
ambiente doméstico” (MARCELLINO, 1987, p. 58).
Assim, o lazer é por muitas vezes perdido pelo próprio ritmo de vida que os cidadãos
levam, mesmo que eles morem em lugares com ótimas opções de lazer. Deve-se em todos os
casos levar em consideração o tempo livre como sendo um momento de promoção de
desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos.
Sobre essa questão, as pessoas devem se conscientizar que o lazer é tão importante
quando o tempo de trabalho, pois segundo Pimentel (2002), nenhuma civilização pode
sustentar um desenvolvimento que se baseie somente na expropriação da natureza e da classe
trabalhadora. É necessário existir uma qualidade de vida calcada no bem-estar e no
crescimento de espaços de lazer.
Portanto, o lazer é a expressão maior de uma atividade turística. Mas, para que haja o
bem-estar pleno da sociedade que utiliza esses espaços de lazer (como os turistas), o turismo
deve ter como objetivo primordial a preservação do meio ambiente, através da prática de
medidas socioeconômicas sustentáveis. Discutindo sobre esse aspecto, Gaelzer (1985, p. 47)
acredita que
talvez a forma mais pura de educação para o lazer seja: ensinar a gostar defazer coisas, não para apresentação exterior, e sim por satisfação; isto não énovidade, ensinar através do jogo e do brinquedo é provavelmente a melhormaneira conhecia de aprendizagem.
Sobre a conjugação de educação e lazer, Marcellino (1987) deixa perceber a
convicção de que só tem sentido falar em aspectos educativos do lazer, se esse for
considerado como um dos possíveis canais de atuação no plano cultural, tendo em vista
contribuir para uma nova ordem moral e intelectual, fornecedora de mudanças no plano
social. Como se pode concluir daí, a cultura é uma condição para a existência humana, seu
caráter dinâmico é percebido pelas interpretações, significados e símbolos diante de uma
realidade em permanente mudança, ao mesmo tempo em que é extremamente rica em sua
diversidade, sobressaindo daí, sua relação com a educação e, sobretudo, com o lazer.
24
Uma das formas mais contemporâneas de se usufruir do lazer é através do turismo,
que por meio do deslocamento para lugares que não o de residência, por um período
temporário, possibilita a realização de atividades de lazer.
A origem da palavra turismo vem do vocábulo tour, de origem francesa, que
significa “volta” (BARRETO, 2005). Para Andrade (2002), a matriz do radical tour é do
latim, através do seu substantivo tourns, do verbo tornare, que significa “giro, volta, viagem
ou movimento de sair e retornar ao local de partida”. Ao analisar a terminologia da palavra
turismo, percebe-se as primeiras indicações do conceito de turismo, ou seja, deslocamento
temporário com retorno ao local de partida.
Trigo (2002), ao analisar o histórico dos grandes movimentos turísticos, afirma que
os mesmos surgiram no século séc. XIX, com o desenvolvimento do capitalismo, acentuando-
se mais na Europa Ocidental e na América do Norte, contribuindo com o fenômeno do
desenvolvimento tecnológico, em especial no setor de transportes, tendo interrompido seu
crescimento no início do século XX pela I Guerra Mundial. O fenômeno volta a crescer com o
fim da I Guerra Mundial, culminando na origem do turismo de massa.
O turismo, de um modo geral, apresenta-se como um fenômeno inseparável do
espaço geográfico, pois sem a paisagem ele não acontece. A atividade turística recria, inventa
novas formas, novas funções e ritmos, dinamizando os lugares e valorizando paisagens e
regiões. Além disso, a prática turística tornou-se responsável pela maior circulação temporária
de pessoas em diversas partes do planeta, além de ser uma das maiores geradoras de renda do
mundo. De acordo com o Banco Central do Brasil (BCB, 2011), o ano de 2010 registrou a
entrada recorde de dólares no Brasil, por meio dos gastos de turistas estrangeiros: 5.919
bilhões de dólares em divisas. O valor é 11,58% superior ao registrado em 2009, quando
5.305 bilhões ingressaram no País pelo turismo internacional (BCB, 2011, p.1).
O turismo é um setor da economia que favorece a criação e produção de empregos
formais e informais, a preservação do meio ambiente, a recuperação do patrimônio histórico e
cultural, o desenvolvimento regional e/ou local, estimula o desenvolvimento de infraestruturas
coletivas, satisfaz as necessidades dos indivíduos, e incentiva o investimento e inovação. Por
outro lado, como toda atividade realizada pelos seres humanos, o turismo causa impactos
negativos, caso não seja planejado o seu desenvolvimento.
Conceituar turismo é relativamente complexo, pois ele pode ser conceituado sob a
ótica da oferta e da procura. A Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001, p. 38) define o
turismo como “as atividades realizadas pelas pessoas durante viagens e permanência em
25
lugares diferentes do seu local de residência habitual, por um período de tempo consecutivo
inferior a um ano, para ócio, negócios e outras finalidades”.
O turismo é uma indústria fácil de identificar, abrangendo um leque de atividades
inter-relacionadas, capazes de prover o necessário para que a atividade turística aconteça de
forma harmoniosa. De acordo com Panosso Neto (2005, p. 41), o turismo “(ainda) se constitui
em um campo de estudo de outras ciências, que não apresenta método de pesquisa nem objeto
definidos, pois não possui corpo teórico conceitual”.
As definições acerca de turismo são bastante controversas, pois estas, além de
agregar valores a lugares e não lugares turísticos, transforma-os, à medida que se torna
necessário, ou mesmo quando se cria um novo valor ao produto.
Para Beni (2004, p. 35), o que acontece é uma “agregação de valores aos diferenciais
turísticos naturais e culturais, não uma transformação tangível e concreta na matéria-prima
original (...). O processo de agregação de valores inicia-se na aquisição dos atrativos
turísticos”. Embora aconteça agregação de valores no local para torná-lo mais atrativo, pode
ocorrer também transformação da matéria-prima original.
O turismo, atualmente tem sido contemplado com conotações associadas à
fomentação do desenvolvimento econômico, social e cultural. Além disso, há ainda a
associação de sua atividade com a prática de se desprender do estresse do trabalho, por meio
de viagens de lazer, como forma de conhecer outros lugares, cidades, estados, países e gozar
de seus ambientes e paisagens. Porém, ainda que essa concepção seja abrangente, ela não
reflete o entendimento científico acerca do turismo.
Para Coriolano (1998, p. 22), “o turismo é, antes de tudo, uma experiência
geográfica. Apresenta-se como fenômeno geográfico, no sentido de representar uma relação
direta entre o homem e os espaços, ou seja, o homem e o ambiente”.
De acordo com Burns (2002), o turismo é constituído, basicamente, por três
elementos: a demanda por viagens; a prestação de serviços de intermediários; e o poder de
atração dos destinos, podendo esta combinação levar a vários efeitos sociais e no ambiente
das localidades onde se desenvolve o turismo, frequentemente chamados de impactos do
turismo, podendo ser positivos ou negativos.
O conceito de turismo pode ser definido sob diversas perspectivas, principalmente do
ponto de vista social e econômico, dada à complexidade das relações entre os elementos que o
formam. Os elementos mais importantes das definições conceituais do turismo são o tempo de
permanência, o caráter lucrativo da visita e a procura do prazer por parte dos turistas.
Dumazedier (1973, p. 38) afirma que “o turismo é um fenômeno histórico sem precedentes,
26
na sua extensão e no seu sentido é uma das invenções mais espetaculares do lazer da
sociedade moderna”. A busca incessante por este momento preciso de descontração ou
desligamento gerado por uma necessidade de fazer algo diferente tem se evidenciado no
mundo atual, um direito que foi adquirido, de dispor de um tempo para a autossatisfação.
Porém, não se deve negar que a evolução tecnológica, a ampliação da demanda de
serviços e produtos, a flexibilização do crédito, a ampliação das relações exteriores e a
educação ambiental, consequentes da globalização, servem de exemplo, como fatores que têm
possibilitado a expansão e mesmo a consolidação do turismo como atividade, tanto no Brasil
como em outras partes do mundo. Um fato que denota que o turismo encontra-se relacionado
aos aspectos econômicos, tecnológicos, sociais e culturais.
Observa-se, por isso, que o turismo tem sido cada vez mais empreendido, podendo o
mesmo ser compreendido como um conjunto de fenômenos surgidos a partir das viagens e das
permanências temporárias de pessoas, o turismo requer, além da perspectiva de lazer, de
descontração, o contato com outras culturas, sociedades e ambientes como, por exemplo, o
contato com a natureza.
Krippendorf (2001) defende a teoria de que o turismo é uma espécie de válvula de
escape que permite o relaxamento das tensões, a orientação das vias sociais inofensivas e das
esperanças não realizadas. Nesse contexto, o lazer é compreendido como atividade aprovada
pela sociedade, como uma espécie de entretenimento capaz de ajudar a reduzir os males do
dia a dia, por isso o ser humano vai buscar, nas viagens turísticas, a fuga do seu cotidiano.
Dumazedier (1973) classifica as atividades de lazer em atividades físicas, manuais,
artísticas, intelectuais e sociais; mas Camargo (1986) afirma que deveria ser acrescentada a
atividade turística a esta classificação, por provocar ansiedade nos indivíduos em conhecer
novos lugares, novos ritmos e estilos de vida, quebrando a rotina diária, promovendo a
satisfação pessoal e social. Dumazedier (1973) e Camargo (1986) também concebem o lazer
como sendo passivo ou ativo. O lazer ativo sendo aquele em que se realiza movimentos
físicos e esportivos, e o lazer passivo como aquele em que o ser apenas assiste ou contempla.
Os grandes avanços tecnológicos, os meios de transportes, a qualidade dos
equipamentos turísticos e de lazer e todo produto turístico em si denotam a perspectiva do
turismo como tempo destinado ao divertimento, ao prazer e à satisfação pessoal. Dessa forma,
o lazer turístico é uma opção que se apresenta às comunidades, como forma de utilização de
seu tempo livre, para viajar, conhecer outros lugares e povos. As viagens turísticas se tornam
atraentes pela oportunidade que proporcionam ao turista de fazer algo que não seja o usual e,
assim, descansar, conhecer novos locais e pessoas, divertir-se de maneira diferente,
27
aproveitando para recarregar as energias perdidas no dia a dia. Fatores que comportam
associar o turismo a um fenômeno social e opção de lazer.
Conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas e, sobretudo, sair por um
determinado tempo da rotina é o início dessa busca por satisfação, relaxamento, divertimento,
ou mesmo fuga da realidade, momento que desperta o imaginário e o interesse do ser humano.
Krippendorf (2001, p. 13) diz que
[...] a sociedade humana, outrora tão sedentária, pôs-se em movimento. Hojeuma mobilidade frenética tomou conta da maioria dos habitantes das naçõesindustriais. Aproveita-se de todas as oportunidades para viajar e fugir docotidiano com a maior frequência possível. Curtas escapadas no decorrer dasemana ou no fim de semana, longas viagens nas férias [...] Assim que, anoapós ano, fim de semana após fim de semana, milhões de seres humanos secomprimem em multidões, sem necessidade alguma e sem obrigaçãoaparente, consumindo esse período que lhes é tão precioso.
No ano de 1963, a Organização das Nações Unidas (ONU) patrocinou a Conferência
sobre Viagens Internacionais e Turismo, na qual recomendaram que a nomenclatura
“visitante” poderia ser usada para descrever os indivíduos que visitam uma localidade e não
exercem nela qualquer atividade remunerada. Inclui-se, nessa definição, os que são turistas e
excursionistas. Segundo Beni (2004, p 35), o turista é o visitante que passa, no mínimo, 24
horas no lugar, sendo que a viagem pode ser a lazer, a negócios, a missões ou a conferências.
Já o excursionista é o visitante temporário, que permanece menos de 24 horas no local de
visita.
A atividade turística fundamenta-se na perspectiva que tem o turista de conhecer os
atrativos e potencialidades naturais e culturais de um dado lugar, e no fato de proporcionar
aos indivíduos alternativas de viagens, de deslocamentos para outros lugares, cujos atrativos
podem estar manifestados tanto do ponto de vista dos recursos naturais quanto culturais, em
toda sua potência. Dessa forma, tem-se que os atrativos turísticos se constituem como
componentes principais do produto turístico. Para Migliorini et al. (2010), os atrativos
turísticos são considerados como elemento básico para a determinação turística de uma
localidade, tornando-se o referencial do próprio local onde estão localizados ou se
manifestam.
Dessa concordância, resulta o entendimento que o turismo possui uma correlação
com o meio ambiente e, portanto, com os atrativos e potenciais naturais e culturais das regiões
que servem de polo turístico. Nessa perspectiva, observa-se que o turismo é uma atividade a
qual as pessoas que o praticam sentem o desejo e mesmo a necessidade de manter contato
28
com locais privilegiados, pela sua diversidade de recursos naturais. Boullón (2002) entende
por recursos naturais os elementos existentes na natureza, sendo eles atuais ou só potenciais, e
por serem utilizados pelo homem.
Desse modo, é possível compreender que o relacionamento do homem com o meio
ambiente é uma relação de subsistência. Tanto da parte do homem que nela convive, quanto
da natureza que necessita que o homem saiba conviver com sua diversidade, sem exaurir seus
recursos minerais, vegetais e animais.
O planejamento da conservação dos recursos naturais dos centros turísticos deve ser
uma preocupação constante das autoridades governamentais e administradores locais. Até
porque, ao fomentar o desenvolvimento local, o turismo também pode trazer impactos
negativos aos recursos naturais e sociais de uma região.
A atividade turística movimenta o país através de recursos financeiros, emprega mão
de obra, permite o intercâmbio cultural, promove o embelezamento paisagístico e pode
melhorar a qualidade de vida das populações envolvidas; mas a falta de conhecimento das
consequências danosas do turismo, a falta de preocupação com o bem-estar da população
residente e com a preservação do ambiente por parte dos administradores, a falta de
planejamento e o capitalismo crescente podem levar à destruição do potencial natural e
cultural de um lugar em curto espaço de tempo. Isto significa destruir a matéria-prima do
turismo (BAHL, 2003).
Segundo Ruschmann (2004), o equilíbrio entre a natureza e o turismo necessita ser
regulado e disciplinado. A atividade turística permite o contato com a crescente valorização
social e política da diversidade cultural de determinados lugares e povos, proporcionando a
manifestação e observação dos seus hábitos e riquezas culturais, denotando seu passado, sua
memória, ao tempo que permite consignar seu legado histórico. No entanto, convém salientar
que a exploração turística desses potenciais naturais e culturais deve ser racionalmente
ponderada, a fim de que predomine a harmonia nos aspectos econômicos, sociais e
ambientais.
No que se refere aos atrativos culturais, tem-se que sua manifestação se dá através da
diversidade de povos, de línguas, de costumes, das artes, dos rituais, da arquitetura que,
estando ou não associados aos recursos naturais, podem ser grandes potenciais de atração
turística. Nesse contexto, a influência do turismo também possui aspectos positivos e
negativos.
Compreende-se que o número de clientes do turismo, bem como sua diversidade,
requer uma segmentação do mercado, visando atender a cada pessoa ou grupos homogêneos,
29
consoante a suas individualidades. Nesses termos, a segmentação do turismo aparece como
uma forma de conciliar qualidade de vida, mercado, economia e satisfação do cliente turista.
Sobre esse aspecto, deve-se dizer que, segundo Ansarah (2003, p. 9),
segmentar o mercado é identificar clientes com comportamentoshomogêneos quanto a seus gostos e preferências. A segmentação possibilitao conhecimento dos principais destinos geográficos, dos tipos de transportes,da composição demográfica dos turistas e da sua situação social e estilo devida, entre outros elementos.
Dessa forma, segmentar o turismo é identificar seus clientes potenciais, seus
costumes, preferências, visando ofertar serviços de turismo que se encaixem em seus perfis
socioeconômicos. Quanto maior for o número de características identificadas em seu
público-alvo, maior será a capacidade do mercado em oferecer serviços e produtos desejáveis,
e maior será a eficiência do marketing turístico. Contudo, deve-se adiantar que o motivo das
viagens tem sido o principal meio disponível para se segmentar o mercado.
De qualquer modo, a segmentação do turismo permite um estudo que leva a uma
análise mais completa e segura dos elementos a serem atingidos pelo marketing, e planos de
desenvolvimento que levam, consequentemente, a uma maior satisfação do cliente. Além
disso, permite desenvolver prospecções voltadas à redução dos impactos negativos da
atividade turística. Segundo Coriolano (2006, p. 370-371),
o turismo se materializa na lógica da diferenciação histórica e geográfica doslugares e das regiões. (...). Transfere o valor dos patrimônios culturais, dascidades, dos lugares e da população local para os turistas, enquanto objeto doolhar, do prazer e de desejo. (...) Para cada modalidade de turismo existesempre uma demanda espacial. Aproveitam-se áreas de montanha, de sertãoe litoral, áreas urbanas e rurais, metrópoles e cidades históricas, inclusive osdesertos e os enclaves.
Nessa perspectiva, o turismo apresenta-se como um fenômeno social e cultural, cuja
potencialidade tem o poder de promover o desenvolvimento local e comunitário das regiões
em que é explorado. Em virtude desse fenômeno o turismo pode apresentar impactos
positivos ou negativos sobre as comunidades locais onde se desenvolve.
Vários são os tipos de turismo existentes, cada qual com motivações e características
peculiares. Os produtos turísticos, para atender aos anseios dos consumidores, sofrem
adequações, de acordo com os diversos segmentos do mercado turístico, evitando assim uma
possível padronização. “Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos
30
elementos de identidade da oferta, e também das características e variáveis da demanda”
(BRASIL, 2006, p. 3).
O Ministério do Turismo organizou a definição de alguns tipos de turismo, de acordo
com suas terminologias e abordagens, proporcionando um maior entendimento ao setor
turístico, e orientação, existindo, porém, diversos outros segmentos derivados da oferta
principal, tais como:
Turismo Social - é a forma de conduzir e praticar a atividade turística,promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e oexercício da cidadania na perspectiva da inclusão; Ecoturismo - é umsegmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, opatrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formaçãode uma consciência ambientalista, através da interpretação do ambiente,promovendo o bem-estar das populações; Turismo Cultural - compreendeas atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementossignificativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais,valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura;Turismo Cívico - ocorre em função de deslocamentos motivados peloconhecimento de monumentos, fatos, observação ou participação em eventoscívicos, que representam a situação presente ou a memória política ehistórica de determinados locais; Turismo Religioso - configura-se pelasatividades turísticas decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa emespaços e eventos relacionados às religiões institucionalizadas; TurismoMístico e Esotérico - caracterizam-se pelas atividades turísticas decorrentesda busca espiritual e do autoconhecimento em práticas, crenças e rituaisconsiderados alternativos; Turismo Ético - constitui-se das atividadesturísticas decorrentes da vivência de experiências autênticas em contatoscom os modos de vida e a identidade de grupos étnicos; Turismo deEstudos e Intercâmbio - constitui-se da movimentação turística gerada poratividades e programas de aprendizagem e vivências para fins dequalificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal eprofissional; Turismo de Esportes - compreende as atividades turísticasdecorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidadesesportivas; Turismo de Pesca - compreende as atividades turísticasdecorrentes da prática da pesca amadora, praticada por brasileiros ouestrangeiros, com a finalidade de lazer, turismo ou desporto, sem finalidadecomercial; Turismo Náutico - caracteriza-se pela utilização de embarcaçõesnáuticas como finalidade da movimentação turística, podendo ser fluvial, emrepresas, lacustre ou marítima. Pode, também, envolver atividades comocruzeiros e passeios, excursões e viagens em quaisquer tipos de embarcaçõesnáuticas para fins turísticos; Turismo de Aventura - compreende osmovimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura decaráter recreativo e não competitivo; Turismo de Sol e Praia - constitui-sedas atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento oudescanso em praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor.Para o turismo de Sol e Praia, a recreação, o entretenimento e o descansoestão relacionados ao divertimento, à distração ou ao usufruto econtemplação do ambiente de praia; Turismo de Negócios e Eventos -compreende o conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros deinteresse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial,
31
promocional, técnico, científico e social; Turismo Rural - é o conjunto deatividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com aprodução agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando epromovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade; Turismo deSaúde - constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização demeios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos (BRASIL, 2006,p. 6- 53).
Nos últimos anos, vem sendo desenvolvido no Brasil e no mundo, novos tipos de
turismo, tais como cemiterial ou necroturismo; o gastronômico; turismo LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros); o turismo de incentivo; o turismo da
melhor idade; o turismo single (solteiros); o turismo cinematográfico; geoturismo;
espeleoturismo; turismo fluvial; turismo ecológico; entre outros, ainda não bem definidos. A
segmentação da oferta turística possibilita reconhecer/estabelecer produtos turísticos em uma
dada localidade/região de forma sustentável, favorecendo a exclusão de tipos de turismo que
podem culminar em prejuízos à comunidade e danos negativos ao meio ambiente.
2.2 Patrimônio cultural e turismo como dinamizador da cultural local
A cultura, de forma geral, externaliza as relações entre o homem e o meio ambiente,
condicionando a forma como as gerações futuras irão lidar com a natureza. Dessa forma,
como afirma Simão (2001), atualmente, o homem é desligado do seu entorno por conta da
rotina estressante e massificante, que o desliga emocionalmente de suas raízes. Esse
distanciamento entre uma população e seus valores históricos faz surgir um processo de perda
cultural, danosa para a preservação dos patrimônios.
O desenvolvimento da humanidade é permeado por conflitos tangentes à organização
social e à apropriação dos recursos naturais. Esses fatores são expressões da realidade que
identificam culturalmente a sociedade grupal, a qual, segundo Santos (2005), passa por
inúmeras modificações, sejam movidas por forças internas ou externas. Assim, deve-se
entender a humanidade como uma multiplicidade de formas de existência, o que redunda em
inúmeras expressões culturais.
Dessa maneira, a cultura, segundo Santos (2005, p. 8),
[...] diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada umdos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera asculturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a sua grande
32
variação. Saber em que medida as culturas variam e quais as razões davariedade das culturas humanas são questões que provocam muita discussão.
Sendo assim, é visível a complexidade que permeia o entendimento da cultura, por
esta não seguir um padrão de construção, variando de acordo com o grupo humano. Segundo
Goodey (2002), o passado e a “alma” do lugar definem como um povo evolui. Quando a
cidade, por exemplo, permite troca de ideias e produtos, ela dá suporte ao crescimento
qualitativo dos indivíduos. Então, a cultura (expressão da alma de grupos humanos) é uma
expressão social que merece ser preservada.
Segundo Rodrigues (2005, p. 16),
a criação de patrimônios nacionais intensificou-se durante o século XIX eserviu para criar referências comuns a todos que habitavam um mesmoterritório, unificá-los em torno de pretensos interesses e tradições comuns,resultando na imposição de um língua nacional, de “costumes nacionais”, deuma história nacional que se sobrepôs às memórias particulares e regionais.Enfim, o patrimônio passou a constituir uma coleção simbólica unificadora,que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora os grupos sociais eétnicos presentes em um mesmo território fossem diversos. O patrimôniopassou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política.
O conceito sobre patrimônio cultural no Brasil é recente. De acordo com Rodrigues
(2006), a Semana de Arte Moderna de 1922, sediada na cidade de São Paulo, foi determinante
para a compreensão da importância da preservação patrimonial da nação. Na primeira metade
do século XX, acontecia o movimento modernista e a instauração do Estado Novo, originado
da Revolução de 1930. Por conseguinte, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN) foi criado entre as discussões que envolviam cultura, através do Decreto-
Lei nº 25/37, de 30 de novembro de 1937, difundindo o conceito de patrimônio histórico e
regulamentando o tombamento, com o intuito de proteger e preservar o patrimônio histórico.
A conceituação do patrimônio histórico englobava, até o momento, somente os bens
tangíveis (construções, obras de arte, livros). Mário de Andrade, historiador, posteriormente
complementou o Decreto-Lei nº 25/37, incluindo em seu texto a importância da preservação
da arte popular, do folclore, das danças, das lendas, das superstições, da medicina, entre
outros, tidos como bens imateriais (MARTINS, 2006).
O patrimônio cultural compreende os elementos significativos da memóriasocial de um povo ou de uma nação que englobam os elementos do meioambiente, o saber do homem no decorrer da história e os bens culturaisenquanto produtos concretos do homem, resultantes da sua capacidade desobrevivência ao meio ambiente. [...] O patrimônio é o resultado de uma
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dialética entre o homem e seu meio, entre a comunidade e seu território. Elenão é apenas constituído pelos objetos do passado oficialmentereconhecidos, mas também por tudo que liga o homem ao seu passado, ouseja, tudo que os seres humanos atribuem ao legado material e imaterial desua nação (MACHADO; DIAS, 2009, p. 2).
O Patrimônio cultural brasileiro é definido na Constituição Federal Brasileira, no
artigo 216, seção II – DA CULTURA (BRASIL, 1988) como
constituem Patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material eimaterial, tomado individualmente ou em conjunto, portadores de referênciaà identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores dasociedade brasileira, nos quais se incluem: I – formas de expressão; II- Osmodos de criar, fazer e viver; III – As criações científicas, artísticas etecnológicas; IV – As obras, objetos documentos, edificações e demaisespaços destinados às manifestações artístico-culturais; V- Os conjuntosurbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,paleontológico, ecológico e científico.
Em 4 de agosto de 2000, o Decreto nº 3551 cria o Programa Nacional do Patrimônio
Cultural, ficando instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
constituem patrimônio cultural brasileiro, sendo a partir deste momento assegurada a
preservação de valores culturais que constituem a sociedade brasileira, que expressam a
histórica evolução da nação brasileira em diferentes partes do seu território (MARTINS,
2006). Dessa forma, a legislação brasileira abarcou valores, crenças e estilos de vida sociais,
como forma de preservação da identidade da nação.
Muitas são as cidades que merecem destaque por sua história de consolidação como
patrimônio nacional. Com a construção do conceito de patrimônio cultural houve um
crescente interesse na preservação dos valores culturais. A discussão da importância da
cultura na construção de uma identidade social é necessária por ser uma ferramenta que
garante o usufruto do patrimônio, ao passo que também promove sua preservação. Nesse
cenário, o turismo cultural vem contribuir para a proteção do patrimônio cultural.
Para Murta e Albano (2002), quando surge a preocupação de desenvolver
turisticamente uma região, as primeiras providências que são tomadas remetem ao transporte,
à hospedagem, ao lazer e à alimentação. Com isso, parte-se de um pressuposto que o turista,
dentro de um roteiro de visitas, irá maravilhar-se automaticamente com os atrativos regionais,
com a natureza, com as edificações, entre outros. No entanto, Menezes (2009, p. 64) afirma
que
34
[...] uma das principais críticas em relação ao uso do patrimônio culturalcomo recurso turístico está voltada para a questão da ênfase no valor deconsumo do patrimônio em detrimento de seu valor de significado. Deacordo com especialistas, a ênfase no valor de consumo, acaba provocando abanalização da cultura, pois o patrimônio passa a ser importante porque podeser “vendido” como produto turístico e não por sua significação na história.Por outro lado, utilizar o patrimônio cultural como recurso turístico é umaboa estratégia de valorização da cultura local, ajudando na dinamização doturismo e da economia.
O que acontece, nesse caso, é a falta de atenção sobre o principal elemento do
patrimônio cultural: a informação sobre o lugar, sobre seus habitantes (costumes e hábitos) e
sobre as histórias regionais (lendas, por exemplo). O patrimônio, ao ser interpretado, segundo
Murta e Albano, (2002, p. 9),
[...] sinaliza justamente o valor único de um determinado ambiente,buscando estabelecer uma comunicação com o visitante, ampliando seuconhecimento. Em outras palavras, visa estimular suas várias formas deolhar e aprender o que lhe é estranho. Como a experiência turística éfortemente visual, o olhar do visitante procura encontrar a singularidade dolugar, seus símbolos e significados mais marcantes. Os ambientes, sobretudoas cidades, devem ser vistos como um enigma a ser desvendado pelaexploração, como um texto a ser interpretado pelo explorador.
Dessa maneira, cabe ao turismo cultural aliar a eficiência da atividade econômica
turística à exposição de informações inerentes ao lugar, fazendo surgir a conscientização, por
parte dos visitantes, sobre a necessidade de preservação do patrimônio local.
Segundo o Ministério do turismo (BRASIL, 2006, p. 13), o “turismo cultural
compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e
promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”.
Segundo Gonçalves e Coriolano (2007, p. 268),
o turismo cultural tem como atrativos principais a oferta cultural, opatrimônio cultural dos lugares visitados. Este turista tem curiosidade emconhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem. Há turistasque gostam da vivência com o grupo visitado, estes curtem a cultura,folclore, costumes e festas locais e participam. Gostam de conhecer culturasdiferentes da sua, desde a arquitetura, música, gastronomia, lugares exóticose os saberes do grupo visitado.
Para que o turismo cultural sirva de promotor do desenvolvimento local e de
preservação do patrimônio, deve existir uma atenção dos órgãos públicos para a atividade
35
turística, visando “arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem
como um instrumento de informação ao público visitante” (GOODEY, 2002, p. 135).
Contudo, nesse contexto, Murta (2002) entende que a relação entre a preservação, a
conservação e o turismo é ambígua, e que a ligação entre elas é a interpretação. A
interpretação, nesse caso, é a apresentação do lugar e da sua identidade cultural para os
visitantes, tendo como objetivo o enriquecimento da experiência.
Sendo assim, com a interpretação, haverá uma ligação entre o turismo e a
conservação do patrimônio cultural, “desde que o objetivo seja o fortalecimento cultural da
comunidade e a busca de estratégias econômicas que desenvolvam suas habilidades e seus
conhecimentos” (MURTA, 2002, p. 141).
Com a importância dada ao patrimônio e sua necessária preservação, há o
reconhecimento do valor cultural de cada localidade, o que a transforma, potencialmente, em
uma mercadoria de consumo cultural. Dessa forma, segundo Rodrigues (2006, p. 15), o
turismo cultural “implica não apenas a oferta de espetáculos ou eventos, mas também a
existência e preservação de um patrimônio cultural representado por museus, monumentos e
locais históricos”.
Portanto, o patrimônio cultural necessita da efetiva aplicação de estratégias de
disseminação de informações sobre a localidade que está sendo visitada, para que a promoção
do turismo cultural seja algo efetivo, referente às questões de preservação da cultura e da
identidade histórica das cidades.
Nas cidades históricas tem se buscado preservar o seu patrimônio, promovendo o
desenvolvimento do turismo cultural. Aguiar (2003, p. 10), em seu estudo sobre os sítios
urbanos como atração turística, referindo-se à cidade de Porto seguro, afirma que,
reconhecido como "lugar de origem da nação brasileira", Porto Seguro,desde 1968, vem se desenvolvendo, transformando-se, no final dos anos 80,em um importante polo turístico. A partir daí, vários agentes sociais – deinstâncias governamentais e privadas – passaram a explorar sua imagemcomo de estimado valor para a memória nacional.
Já as cidades mineiras, por constituírem um passado e por fazerem parte do
patrimônio histórico da nação, passaram a ser consideradas exemplares para se pensar a
cultura brasileira. Segundo Souza (2009, p. 164), “não teria sido por acaso que Mário de
Andrade, em 1924, viajou para Ouro Preto, juntamente com outros artistas, a fim de
“redescobrir” o Brasil”.
36
A cidade de Olinda, no Estado de Pernambuco, é considerada, pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Patrimônio Cultural da
Humanidade, desde 1982, apresentando “[...] 1,2 km2 de área tombada (polígono de
tombamento) e 10,4 km2 de área de preservação (polígono de preservação cultural),
compreendendo a antiga Vila de Olinda” (LOUREIRO, 2008, p. 10).
Axer (2009), em estudo sobre turismo cultural em Paraty, descreve que a cidade é
um destino que apresenta dois segmentos distintos: o cultural e o de natureza, também
denominado de “sol e praia”. De acordo com o clima vigente, o público apresenta motivações
diferentes. Os atrativos culturais e históricos apresentam maior número de visitação. Por sua
relevância histórica e manifestações culturais de destaque, o município transformou-se em
uma localidade essencialmente turística, que guarda traços da sua movimentada economia
colonial, com diversos aglomerados de casarões e centros históricos, que fazem desta cidade
um local de preservação da identidade e da construção social do povo brasileiro.
2.3 Relações entre paisagem, turismo, meio ambiente e desenvolvimento sustentável
A paisagem é base da atividade turística, explorada como atrativo para os visitantes
em determinada localidade. O impacto visual do ambiente a ser visitado pelo turista deve
sempre ser positivo; nesse sentido, a paisagem sempre deve ser preservada, a fim de manter o
turismo. De acordo com Queiroz (2009, p. 172), o turista sempre busca na paisagem
[...] observar um outro visual, mais verde e mais limpo, ou seja, umapaisagem a ser observada que se apresente de forma diversa daquelavivência das grandes metrópoles e que lhe mostre algo prazeroso. Assim, osviajantes que procuram áreas interioranas para seu entretenimento podemcompreender o espaço construído ali, percebendo os elementos naturais esociais em constante relação uns com os outros. A diversidade das paisagensexistentes e suas singularidades como o relevo, o clima, a vegetação ehidrografia marcadas pelas atividades humanas, chamam a atenção emostram uma combinação dinâmica desenvolvida num contexto único,sempre evoluindo.
Dessa forma, a paisagem é motivo de atração, um diferencial na prática do turismo,
pois o ambiente (como o rural, por exemplo) deve proporcionar, além de um período de
descanso, uma forma prazerosa de passar o tempo e, acima de tudo, impelir o visitante a
retornar.
37
O turismo tem o papel de conferir a todas as pessoas o direito de usufruir a paisagem,
pois segundo Diegues (2000, p. 27), existem diferentes olhares na construção das paisagens:
“o olhar das populações urbanas ou as elites, marcado pela noção do estético e do belo; o
olhar dos cientistas, que veem nela um conjunto de habitats e o olhar das populações locais,
sobretudo as rurais”. Esses diferentes pontos de vista sobre a paisagem geram, segundo
Diegues (2000, p. 27),
[...] um embate político, pois os olhares das elites urbanas (políticas,ambientalistas) tende a privilegiar o estético, o paradisíaco, e também oselvagem, ao passo que as comunidades locais privilegiam o lugar, o espaçoonde vivem, onde trabalham e se reproduzem socialmente, isto é, o seuterritório.
Diante disso, o que não pode ser perdido nesse embate, de acordo com Paes-Luchiari
(2007), é a conservação do patrimônio natural, que engloba diversos aspectos, como o saber
popular, e interesses oriundos das esferas política, econômica e cultural.
De acordo com os autores citados, para que a paisagem possa servir como atrativo
turístico, o lazer é um dos principais auxiliares. O bem-estar é o foco do visitante, e atividades
agradáveis tornam a interação com a paisagem mais prazerosa.
Contudo, mesmo podendo proporcionar o desenvolvimento sustentável local e
regional, o lazer deve passar por um processo de construção metódico. De acordo com Muller
(2002), para que se possa implantar uma política de lazer, recomenda-se que seja traçado um
planejamento que aborde questões sobre recursos humanos, políticas públicas administrativas,
metodologia de implantação do desenvolvimento sustentável, elaboração de diagnósticos,
planejamentos e programas de lazer, ocupação ordenada dos equipamentos e espaços urbanos,
além de promover campanhas que objetivem a educação para e pelo lazer.
Nesse caso, o planejamento de utilização da paisagem nas atividades turísticas deve
abranger ações que sejam específicas para o lazer pois, de acordo com Muller (2002, p. 24),
mesmo que o lazer não tenha merecido a devida importância nos estudossobre o desenvolvimento regional, ele está lá. E, se está, de que forma serevela essa comunidade regional? Será que ele tem merecido atenção daspolíticas públicas? Será que é um dos itens da pauta de reivindicações dapopulação, dos sindicatos, dos trabalhadores? Será que a população sabe queo lazer é um direito seu? Será que os homens públicos eleitos para mandatossabem que o lazer é um preceito constitucional, portanto um dever doEstado? Será que as pessoas foram educadas para saber usar seu tempo livreequilibradamente entre tempo de trabalho e tempo de lazer? Qual é aimportância que o lazer tem no desenvolvimento regional?
38
Esses questionamentos sobre a expressão do lazer devem ser sanados, para que a
elaboração de uma política de desenvolvimento seja eficiente globalmente, abrangendo,
assim, a sociedade, a cultura, a economia e a política.
O turismo é um “braço” revolucionário do lazer, pois como explicita Pellegrin (1996,
p. 33), é no momento de atividades de lazer que é procurada a vivência de algumas coisas
simplesmente por escolha e satisfação, onde se realiza o “encontro de pessoas com o novo e o
diferente, que se encontram possibilidades de questionamento dos valores da estrutura social e
das relações entre sociedade e espaço”.
Assim, o turismo revela a paisagem por distintos caminhos, entre eles o lazer, mesmo
que este ainda não receba a atenção necessária por parte de programas originados de políticas
públicas, que buscam a dinamização da atividade turística. E sobre a discussão que envolve a
paisagem e o desenvolvimento do turismo, deve-se tratar o lugar visitado como um
patrimônio, onde o ambiente será usado de maneira sustentável, incentivando, assim, a
formação de uma consciência ambientalista. Nesse sentido, Sansolo (2007, p. 49) afirma que
o turismo nos permite abordar as paisagens como produto as mediaçõesculturais que conectam lugares ao mundo e que carregam seus significantes.Além disso, as paisagens possuem significados variados, com um alto graude subjetividade, e que dependem, sobretudo, de quem as observa, consomeou vive nelas, ou seja, dependem da relação que se estabelece entrepaisagem e seu observador.
O desenvolvimento sustentável do local turístico, portanto, se deve à relação entre
observador e meio. Porém, é necessário construir uma atitude de preservação do patrimônio,
com o auxílio da esfera governamental. Somente por esse caminho o turismo é capaz de
dinamizar o desenvolvimento sustentável por meio da apreciação da paisagem.
Em julho de 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das Nações Unidas
para o Meio ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Eco-92, na qual foram
amplamente discutidos conceitos ambientais, entre eles o de desenvolvimento sustentável.
Muitas consequências surgiram desse encontro, entre elas a criação da Agenda 21,
com princípios norteadores para se alcançar o desenvolvimento sustentável. De acordo com
Borelli (2007, p. 8), “as estratégias de reversão dos processos de degradação ambiental
propostas foram então documentadas através da Agenda 21”.
O desenvolvimento sustentável é colocado como “aquele capaz de atender as
necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem as
suas próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 9).
39
Com a oferta de produtos turísticos atraem-se novos visitantes, culminado no
crescimento econômico, o que nem sempre é garantia de qualidade de vida para os moradores,
podendo resultar em graves impactos nas localidades ou nos destinos. Os princípios do
desenvolvimento sustentável são
A sustentabilidade ambiental: Assegura a compatibilidade dodesenvolvimento com a manutenção dos processos ecológicos essenciais àdiversidade dos recursos. Sustentabilidade sociocultural: Assegura que odesenvolvimento aumente o controle das pessoas sobre suas vidas, preservea cultura e os valores morais da população e fortaleça a identidade dacomunidade. Tem por objetivo construir uma civilização mais igualitária, ouseja, com mais equidade na distribuição de renda e de bens, de modo areduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres.Sustentabilidade econômica: Assegura que o desenvolvimento sejaeconomicamente eficaz, garanta a equidade na distribuição dos benefíciosadvindos desse desenvolvimento e gere recursos que possam suportar asnecessidades das gerações futuras. Sustentabilidade político-institucional:Assegura a solidez e a continuidade das parcerias e dos compromissosestabelecidos entre os diversos agentes e agências governamentais dos trêsníveis de governo e nas três esferas de poder, além daqueles atores situadosno âmbito da sociedade civil (BRASIL, 2007, p. 20).
A atividade turística atuante no meio ambiente ganhou vigor com a valorização das
paisagens naturais e com o ambientalismo contemporâneo, pois de acordo com Paes-Luchiari
(2007, p. 31), “a natureza reclama um sujeito que a signifique e que lhe confira valor através
de um olhar: olhar nativo, olhar estrangeiro, olhar turístico, olhar artístico, olhar romântico”.
O turismo caracteriza-se como uma atividade que engloba viagens, hospedagem,
lazer. Nesse bojo, o espaço turístico é considerado, como afirma Oliveira (2002), uma fuga do
cotidiano, servindo em grande parte das vezes, como um descanso físico e mental.
A atividade turística é vista, no mercado mundial, como uma prática rentável, em que
seus atrativos são vistos pela grande quantidade de ofertas de viagens, tanto para o exterior do
país como para seu interior. Isso só é possível por conta do fenômeno da globalização, onde é
promovida uma disseminação de informações, sendo estas informações disseminadas por
muitos meios (internet, TV, revistas, guia de viagens, etc.). Essa dinamicidade faz crescer a
atividade turística, e com ela um problema que muitas vezes é agravado pela pouca atenção
que ele recebe: a questão da degradação da natureza.
De acordo com Bursztyn (2005), o turismo, em muitas ocasiões, mantém uma
distância da discussão da problemática ambiental. Sendo assim, o diálogo entre o turismo e a
os conceitos de desenvolvimento sustentável é necessário, pois a atividade turística sempre
manteve uma relação intrínseca com o ambiente.
40
É flagrante a relação ente turismo e meio ambiente, na qual devem predominar
propostas de desenvolvimento sustentável, baseadas em planejamento, que vise prever e
coibir agressões ao meio ambiente.
O turismo está pautado em planos de desenvolvimentos sustentáveis, cuja concepção
de sustentabilidade contemple a manutenção dos estoques da natureza, ou a garantia de sua
reposição por processos naturais ou artificiais, garantindo a qualidade de vida das pessoas.
Até porque a visão de sustentabilidade não deve se resumir à questão ecológica, deve agregar
também os campos social, cultural e econômico. Para ser sustentável ecologicamente, o
turismo deve ser compatível com os recursos disponíveis, sua biodiversidade e características
reprodutivas (NOIA, 2008).
É necessário entender que a interação entre turismo e meio ambiente é muito
importante, pois a própria atividade do turismo precisa, logicamente, de um ambiente para
acontecer, e esse ambiente tende a se descaracterizar pela ação antrópica. Quando qualquer
atividade relacionada ao turismo é implantada, a natureza sofre com modificações, por conta
da própria produção do turismo (COOPER; FLETCHER; FYALL, 2007).
Mesmo com o turismo dependendo permanentemente do meio ambiente, essa
atividade não percebeu a necessidade de melhorar sua infraestrutura de forma a minimizar os
impactos negativos sobre o ambiente local. Assim, a relação existente entre o turismo e a
natureza é tão complexa, que se o projeto turístico causa impactos negativos ao ambiente, este
mesmo projeto terá redução em seus benefícios, por depender da qualidade do local onde está
atuando, mesmo com os problemas visíveis de um projeto turístico mal arquitetado, não é
correto culpar o turismo por todos os impactos gerados na natureza, pois não são somente
impactos negativos que o turismo gera; ele também constrói positividades.
O Estado, como agente que aplica e administra leis para a população, tem muita
importância na construção de um turismo sustentável. As políticas públicas, quando voltadas
para espaços de lazer, devem prezar pela educação e conscientização da sociedade, através de
um conjunto de metas que façam todos os indivíduos perceberem sua importância na
preservação da natureza (ANDRADE, 2001).
Para Coriolano (2003), o desenvolvimento só ocorrerá quando todas as pessoas
envolvidas com a atividade turística forem beneficiadas, tendo resguardado o direito de uma
existência digna, que inclua saúde, bem-estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos, segurança, repouso e lazer a todos e suas famílias.
O lazer, sendo considerado política pública voltada para a questão social, deve
abranger toda a sociedade, levando-o até mesmo para os mais necessitados. As ações do
41
Estado em áreas de lazer devem incluir formas de disseminação da inclusão por meio da
sociabilidade. Neste sentido, Ruschmann (2004, p. 66) expressa que o “planejamento consiste
em um conjunto de atividades que envolvem a intenção de estabelecer condições favoráveis
para alcançar objetivos propostos”.
Contudo, é de conhecimento da sociedade que o setor público aja conforme a
harmonia das três esferas do poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), sendo que, para se
conseguir tal relação harmônica, há diversas barreiras a serem transpostas. Visando o sucesso
de implantação das políticas públicas voltadas ao lazer, elas necessitam ser elaboradas de
forma coletiva, segundo necessidades e reivindicações da população, possibilitando a todos o
acesso a atividades prazerosas, valorizando, acima de tudo, a identidade cultural da região.
Nesse caso, para que exista a valorização da cultura, é preciso que a sociedade seja
educada para defender seus próprios valores de identidade, pois de acordo com Marcellino
(1987), a educação tem o poder de transformar o lazer em uma ferramenta de mudança. Nas
atividades de turismo, o papel do Estado traduz-se na aplicação de um desenvolvimento
harmonioso dessa atividade econômica. Segundo Barretto (2005, p. 33),
cabe ao Estado construir a infraestrutura de acesso e a infraestrutura básicaurbana – que também atenda a população local – e prover de umasuperestrutura jurídica (secretarias e similares) cujo papel é planejar econtrolar que os investimentos que o Estado realiza – que permitem odesenvolvimento da iniciativa privada, encarregada de construir osequipamentos e prestar os serviços – retornem na forma de benefícios paratoda a sociedade.
Portanto, com a inexistência ou a fraca atuação das políticas públicas voltadas para o
lazer, a qualidade dos serviços oferecidos às pessoas ficam reduzidas, fazendo com que a
prática do turismo atraia mais problemas do que benefícios. Assim, é possível afirmar que o
Estado, juntamente com a população local e a conscientização dos visitantes pode vir a
desenvolver uma prática de lazer democrática, que atenda as necessidades de todos os
indivíduos.
O turismo, como uma atividade que requer planejamento, não pode ser pensada sem
sua ordenação, através das políticas públicas. Adianta-se, que a expressão políticas públicas
indica “[...] as ações e as intervenções planejadas por órgãos da administração pública, isto é,
por aparatos burocráticos, em benefício daqueles que o Estado reconhece como sujeitos de
direitos de cidadania” (BORGES; GARCIA, 2007, p. 39). Dessa forma, as políticas públicas
podem ser interpretadas como o conjunto de ações executadas pelo Estado, enquanto ente,
42
direcionadas ao atendimento das necessidades da sociedade, como um todo.
Partindo dessa concepção, argumenta-se que os grandes debates sobre o turismo, o
lazer e, consequentemente, o desenvolvimento sustentável, aparecem como formas de
reorientar as teorias acerca do turismo, propondo ações que devem servir de base para as
tomadas de decisões do Governo, através das políticas públicas. Dito isto, persegue-se a idéia
de que no contexto das políticas públicas há muito a ser feito no âmbito do turismo e lazer que
dê respostas de sustentabilidade ambiental.
O papel do Estado, como definidor de políticas voltadas para o turismo, o lazer e a
sustentabilidade ambiental é de suma importância e deve pautar-se, entre outros aspectos, nas
necessidades e problemas evidentes nesses setores. Por isso, concorda-se com Fellini (1983, p
73) ao afirmar que o turismo depende de três componentes básicos:
a) Infraestrutura de base: que compreende as condições de acesso (estradas,ferrovias, aeroportos, rodovias, hidrovias, etc.) e as de caráter urbano (redesde energia, água, iluminação, esgotos); b) Superestrutura turística: que érepresentada pelo conjunto de elementos que possibilitam a estada dosvisitantes em determinado local (acomodação, alimentação, comércio,diversões, agências de viagens, lazer); c) Indústria turística em sentidoestrito, alojamento e alimentação (hotéis, campings, restaurantes, bares,pousadas).
Para a realização do turismo e lazer com base na sustentabilidade ambiental, são
necessárias políticas públicas que contemplem vários aspectos, cujas estruturas demandam
planejamento e recursos econômicos para tanto. Além disso, realça-se o fato de que as
políticas públicas devem situar-se nos níveis Federal, Estadual e Municipal.
Em nível Federal, através de programas, ações e parcerias, disponibilizando recursos
de capital, informação, de gestão e orientações estratégicas. Em nível Estadual, através das
secretarias, otimizando e ordenando as demandas, priorizando as ações emanadas da política.
Em nível Municipal, estabelecendo as linhas gerais que devem ser seguidas para desenvolver
o turismo, baseando-se na sustentabilidade econômica, social, ambiental e cultural do
município (BRASIL, 2006).
Como política pública de nível Federal pode-se citar a criação do Ministério do
Turismo, instituído em 1º de janeiro de 2003, que passou a tratar desse segmento como
assunto prioritário do Estado.
A importância da criação e da efetivação de políticas públicas de lazer e turismo,
visando à sustentabilidade ambiental traz bons resultados; sobretudo, quando contemplam em
seus planejamentos os aspectos culturais, sociais, econômicos e ambientais. Indo mais longe,
43
deve-se dizer, que políticas públicas bem planejadas, com objetivos específicos, voltados para
a implementação do turismo e do lazer, com vistas a um desenvolvimento sustentável
equilibrado são capazes de trazer novos índices de crescimento desse setor, ao tempo que
congregam oferta e satisfação (BRASIL, 2006).
A educação ambiental é um importante passo para a conscientização da sociedade de
que o meio ambiente merece ser preservado, como forma de melhorar a qualidade de vida de
toda a população, por meio de atividades que respeitem a natureza. Nesse sentido, o turismo,
que em diversas ocasiões se utiliza de componentes naturais, é uma atividade que deve aplicar
a educação ambiental e o conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável.
2.4 A prática de lazer e turismo em espaços aquíferos
A água, fonte de vida para todos os seres vivos, possui uma importância vital, sendo
que esta fonte natural finita possui múltiplos usos. Em trabalho intitulado “Declaração
Universal dos Direitos da Água”, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU,
1992), que visava expor a importância da água para a humanidade e para a manutenção do
próprio planeta, era enfatizada a responsabilidade de cada povo por sua manutenção, sua
manipulação com responsabilidade e parcimônia, sua proteção constitui uma necessidade vital
para com as gerações presentes e futuras, é preciso evitar que se chegue a uma situação de
esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis, podendo se
tornar escassa em qualquer região do mundo, sua utilização implica em respeito à lei, sua
gestão deve levar em conta a solidariedade e o consenso, em razão de sua distribuição
desigual sobre a Terra.
O Brasil é um país com vastas possibilidades de turismo por conta da sua dinâmica
de crescimento. As atividades turísticas em todo o território nacional podem gerar empregos,
além de incluir socialmente uma parcela da população considerada marginal. Nesse caso, o
turismo pode mitigar em problemas sérios, como a desigualdade social, pois alguns dos
destinos turísticos mais visitados do Brasil encontram-se em regiões economicamente
carentes, e por causa do turismo, acabam por ser visitados por cidadãos mais ricos (BRASIL,
2005).
Os recursos hídricos brasileiros despertam interesse pelo seu grande potencial, sendo
o país um dos que detém maior quantidade de água doce no mundo. Contudo, para gerir
tamanha riqueza aquífera, foram elaboradas leis de uso e gestão da água em território
44
nacional. O marco legal direcionado às fontes de água foi a lei nº 9.433, de 8 de janeiro de
1997, que dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), criando assim o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A referida lei também
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da lei nº 8.001,
de 13 de março de 1990, que modificou a lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL,
2005).
Assim, como forma de contribuir para a gestão dos recursos hídricos brasileiros, foi
elaborado, pela Agência Nacional de Águas, em 2005, o trabalho intitulado “O turismo e o
lazer e sua interface com o setor de recursos hídricos”, identificando-se os principais
segmentos do setor do turismo associado aos recursos hídricos, que são: turismo desenvolvido
em toda a extensão do litoral brasileiro; turismo ecológico e pesqueiro e; turismo e lazer em
lagos e reservatórios, como barragens, por exemplo.
Sobre a atividade turística desenvolvida no litoral brasileiro, Brasil (2005) afirma que
esse segmento sofre com perceptíveis problemas estruturais, principalmente na falta ou baixa
eficiência do esgotamento sanitário, com decorrente comprometimento da balneabilidade das
praias. Já sobre o turismo ecológico e o pesqueiro, esse tipo de atividade vem, no decorrer dos
anos, transformando-se em uma das principais opções de exploração econômica de uma
região sem degradá-la, o que é mais importante. Como exemplo, a instituição cita o Estado do
Amazonas, que desenvolveu atividades a fim de atrair ecoturistas de diversos países.
Sobre o turismo e o lazer em rios, represas, cachoeiras, lagos e reservatórios, a
sustentabilidade dessa atividade turística, proporcionada pela integração dos componentes
sociais, ambientais e econômicos, pode ser alcançada, entre outras formas, “com a adoção de
práticas de prevenção e controle da degradação do meio ambiente, associada à garantia da
atratividade da atividade turística perante os usuários, o que inclui, também, as instalações e
áreas de entorno” (BRASIL, 2005, p. 20). Contudo, as áreas de lazer localizadas em rios,
represas, cachoeiras, lagos e reservatórios enfrentam sérios problemas, pois
[...] esse segmento carece de definição de política e estratégia de uso racionaldos lagos dos reservatórios como instrumento de ofertar lazer de baixo custoà sociedade. [...] A poluição hídrica de represas, rios, lagos e cachoeirasrepresenta um dos mais impactantes danos causados pelo crescimentodescontrolado de atividades de turismo e recreação, devido ao lançamento deesgotos e à geração de resíduos em embarcações de recreio que expelemgases, óleos e graxas, determinada pela ineficiência ou falta de coleta de lixoe pela falta de orientação dos próprios usuários (BRASIL, 2005, p. 19-20).
45
Diante do exposto, observou-se que a legislação brasileira deixa claro que a água é
um dos principais recursos da natureza, sendo que, sem o seu uso racional, é impossível
desenvolver satisfatoriamente a humanidade e as atividades econômicas voltadas ao lazer.
Dessa forma, é importante que as leis e sanções previstas sejam aplicadas, rigorosamente, nos
casos que sejam identificados abusos na utilização de fontes aquíferas públicas.
Dentro dessa temática, a atividade turística deve apresentar especial atenção no
aproveitamento das águas, sendo que sua gestão consciente é muito importante, pois na
maioria dos casos, as mesmas águas aproveitadas para lazer servem para o abastecimento das
populações locais, seja para consumo diário ou não. Assim, o compromisso com a
preservação de tais fontes aquíferas cabe não somente aos gestores públicos e à sociedade
autóctone, mas também aos visitantes moradores locais.
O aproveitamento das águas para lazer e turismo relaciona-se, primeiramente, sobre a
capacidade de suporte que o lugar tem para receber os turistas (infraestrutura, instruções de
segurança, entre outros). Contudo, segundo Muller (2002), esses espaços e equipamentos
destinados ao lazer têm sofrido uma desvalorização, pois não são entendidos como essenciais.
Assim, ficam sem a atenção necessária por parte das políticas públicas. Dessa forma, em
alguns locais de desenvolvimento do turismo em águas, observa-se a apatia e o conformismo
de diversos segmentos da população, que não contribuem efetivamente para a devida
manutenção dos equipamentos.
Para minimizar o descaso sobre a preservação do lazer em fontes aquíferas, a
perspectiva ecológica mostra-se relevante, ao passo em que ela se revela como um dos
caminhos de contemplação da não atividade política institucionalizada, ou seja, da natureza.
Nessa perspectiva, Bruhns (2007, p. 89) afirma que
a capacidade humana altera relações com a natureza e constitui-se numaalavanca que movimenta os homens conduzindo-os a inventar novas formasde sociedade. Esse processo ocorre a partir de representações, de ideiasassociadas a ações. Dessa forma, na relação dos homens com a natureza,ocorre uma mediação via representação onde se entrelaçam e se exercem trêsfunções do conhecimento: representação, organização e legitimação dasrelações dos homens entre si e deles com a natureza. Portanto, faz-senecessário analisar o sistema de representações presentes nas relações dosindivíduos com o seu meio, pois baseado nelas, eles agirão sobre esse meio.
Para a preservação de práticas de lazer em águas, é necessária uma reavaliação de
como a sociedade (seja ela local ou visitante) está interagindo com o ambiente, pois com tal
46
reavaliação e mudança na postura ecológica como um todo, só beneficia a prática de um
turismo sustentável.
Assim, segundo Migliorini et al. (2010), os múltiplos usos da água permitem tanto a
criação de valor quanto a perda, no caso da degradação devido ao mau uso. Isto porque a
disponibilidade hídrica qualitativa ou quantitativa pode tornar-se insuficiente para atender
todas as demandas existentes, ocorrendo o que se convencionou chamar de conflito de uso da
água. Neste ponto, realça-se a importância da fiscalização dos recursos hídricos com vistas à
garantia do uso múltiplo da água.
Dentro do seu tempo livre, o homem busca atividades de lazer e descanso. Uma das
opções de lazer e turismo mais comum no Brasil é a visitação de lugares com base nos
recursos hídricos. Os recursos hídricos são, em sua grande maioria, procurados com foco no
lazer e no turismo, independente de serem praias marítimas ou praias fluviais e lacustres
(margens de rios, lagoas, beira de lagos, represas e outros corpos de água doce). Em relação
às opções de turismo e de lazer realizadas em contato com a natureza, Oliveira; Decanini
(2002, p. 44) cita
banhos de sol, passeios de barco, pedalinho, caiaque, lanchas, banana boate,jetski; quadras poliesportivas; boxes de pesca, etc. Além disso, oferecematrações, tais como: campeonato de vôlei e futebol de areia, trio elétrico,campeonato de jetski, desfiles, bailes, etc.
Nos locais com recursos hídricos procurados com foco no lazer e no turismo,
também podem ser praticadas atividades esportivas aquáticas, podendo desempenhar um
ótimo papel no desenvolvimento do turismo e de atividades de lazer, tais como: a natação
recreacional, hidrocapoeira, tirolesa, acquavolley e o handebol aquático, entre outras
(SANTOS; QUEIROZ, 2009); a caminhada com trilha (trekking) é uma ótima atividade que
pode ser desenvolvida no entorno de espaços de recreação aquática.
Os recursos hídricos, em sua grande maioria são procurados com foco no lazer e no
turismo, independente de serem praias marítimas ou praias fluviais e lacustres (margens de
rios, lagoas, beira de lagos, represas e outros corpos de água doce).
Tendo em vista que a zona costeira do Brasil tem uma extensão territorial avançada,
e uma beleza natural exuberante de suas praias, ou seja, das regiões norte, nordeste, sudeste e
sul, as mesmas tornaram-se atrativos turísticos bastante procurados, tanto pelo turista interno,
como pelo turista externo, assim como o turismo e o lazer em praias fluviais e lacustres
(margens de rios, lagoas, beira de lagos, represas, cachoeiras, reservatórios e outros corpos de
47
água doce), tais como: o Complexo da Cachoeira da Fumaça em Carrancas-MG
(ANDRETTA et al., 2008); o Balneário da Represa Laranja Doce do Município de
Martinópolis-SP (OLIVEIRA; DECANINI, 2002); o Complexo Poliesportivo da Ponta
Negra, na cidade de Manaus-AM, defronte ao Rio Negro (SANTOS; QUEIROZ, 2009); o
balneário municipal de Bonito, Mato Grosso do Sul (SANTOS et al., 2007); o Rio do
Engenho, localizada no município de Ilhéus-BA (NOIA, 2008); o Lago Paranoá, em
Brasília-DF (PARENTE, 2006); o lago da UHE de Ilha Solteira no Município de
Paranaíba-MS no Rio Paranaíba (SILVA, 2008); a represa Jaguari-Jacareí-SP (LEME, 2007);
as praias fluviais no Estado de Tocantins (BRITO et al., 2002), entre outros.
2.5 Impactos, planejamento e percepção ambiental da atividade turística
O turismo é uma atividade que se fundamenta no deslocamento de grande fluxo de
pessoas para locais considerados como pontos de atração turística. Nesse caso, os fatores
sociais, econômicos e ambientais estão em jogo, pois embora a atividade turística possa surtir
efeitos psicofísicos positivos para o ser humano, para a natureza e para as comunidades
autóctones, pode também trazer consequências drásticas, devido aos impactos negativos que
pode causar. Mendonça (2007, p. 147) ressalta que
a atividade turística tem se desenvolvido de tal forma que os indivíduosescolhem o lugar que vão visitar por critérios, digamos, mais universais, quenão incluem forçosamente a personalidade do lugar, seus aspectos peculiarese especiais, suas características ambientais mais fortes, com exceção doclima, que a todos interessa, tais como a vegetação, o relevo, a hidrografia, opovo do lugar e sua cultura, sua música, seus hábitos, sua culinária. E, semesse conhecimento, fica difícil respeitar.
A atividade turística, sem o conhecimento prévio dos turistas acerca do contexto
social, econômico, cultural e ambiental do local de turismo, pode incidir em efeitos negativos,
tanto para a comunidade autóctone como para o próprio meio ambiente, sendo esses efeitos,
em geral, considerados como impactos negativos. Vale ressaltar que se entende aqui por
impacto ambiental o conceito dado pela Resolução 001/86 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente:
Entende-se por impacto ambiental qualquer alteração das propriedadesfísicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
48
de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que afetem: 1) asaúde, a segurança e o bem-estar da população; 2) as atividades sociais eeconômicas; 3) a biota; 4) as condições estáticas e sanitárias do meioambiente; 5) a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986, p. 1).
A degradação do meio ambiente, historicamente, traduz a relação das sociedades
com seus espaços. Deve-se estar atento aos discursos ambientalistas que destacam apenas os
impactos negativos do turismo. É importante lembrar que o turismo pode causar impactos
positivos e negativos, que refletem nos aspectos ambientais, sociais e econômicos de um dado
local, apresentando alguns benefícios e malefícios, listados no Quadro 2.1.
IMPACTOS POSITIVOS DO TURISMO IMPACTOS NEGATIVOS DO TURISMOECONÔMICOS ECONÔMICOS
-Diversificação e estabilização da economialocal.-Dinamização de outras atividades econômicaspara a comunidade.-Geração de impostos, trazendo dinheiro novopara a comunidade.-Geração de empregos e oportunidadescomerciais.-Exigência de treinamento de empregados,proprietários e a educação da população local.
-Utilização de serviços públicos que sãomantidos pelo contribuinte locais, excedendoseus custos.-Atrai atividades comerciais indesejadas.-Gera a fuga de capitais.-Custos operacionais para pesquisa, promoção,etc.
SOCIAIS SOCIAIS-Ajuda a financiar serviços e estabelecimentospúblicos que a comunidade talvez não tivessecondições de financiar (estradas públicas,energia, comunicação, saúde e segurança).-Incentiva a participação cívica e o orgulho pelacomunidade e suas manifestações.-Proporciona o resgate e o intercâmbio cultural.
-Atrai visitantes com comportamento conflitantecom o da comunidade e seus padrões culturais.-Cria tumulto, poluição em vários níveis econgestionamento.-Aumenta os índices de criminalidade emarginalidade.-Perda da originalidade regional, ex: artesanato,de outro local, etc.-Gera conflito entre os que o querem e os que sãocontra o seu desenvolvimento.-Acentuam os problemas sanitários, etc.
AMBIENTAIS AMBIENTAIS-Incentiva a preservação de recursos naturais,culturais e históricos.-Estimula revitalização e embelezamentopaisagístico da cidade ou vila.-Contribui para a sustentabilidade de áreasprotegidas.-Educa para a conservação da natureza.
-Degrada a qualidade de importantes recursosnaturais e históricos.-Aumento acentuado do lixo, barulho e poluiçãodo ar.-Sucesso econômico pode levar a maior pressãosobre os recursos naturais.-Aumenta consumo de matéria-prima paraindústria turística, ex. pedras, madeiras, etc.
Quadro 2.1: Impactos positivos e negativos do turismoFonte: Elaborado através do Guia de Desenvolvimento do Turismo Sustentável (OMT, 2003).
Diante do que foi dito, tratar de modo específico dos impactos causados pelo turismo
requer ter em mente que não há atividade humana que não interfira de algum modo no meio
49
ambiente, pois que seria impossível promover, mesmo, o próprio turismo sem empreender
ações que refletissem nos locais e atração turística. Segundo Marinho (1999, p. 38),
a questão ambiental coloca a necessidade de releitura do território,considerando e compreendendo a complexidade da apropriação, daprodução, do consumo, da distribuição, a complexidade do ecossistema,assim como as relações que se estabelecem, no tempo e no território, entre associedades e a natureza.
É possível dizer que os impactos ambientais, sociais e econômicos envolvendo a
atividade turística são diversos, podendo trazer tanto benefícios para a população da
localidade receptora, bem como ocasionar problemas sérios para as comunidades envolvidas.
Observa-se que a comunidade residente no local, onde se pretende implantar as ações
para o desenvolvimento do turismo, deve ser consultada sua opinião, avaliada e respeitada.
Isso porque a implantação de um plano de desenvolvimento turístico deve ter a aprovação e o
apoio da população local, devendo esta ser esclarecida sobre os benefícios do turismo para a
coletividade, nos aspectos socioeconômicos, com a garantia de que os impactos sobre sua
qualidade e seu nível de vida serão favoráveis.
O turismo é visto, ainda, como uma atividade ambivalente, podendo trazer
desenvolvimento para a população, por meio da valorização de espaços. O turismo também
tem a capacidade de intensificar as relações entre distintos povos, relações estas que podem
levar a uma perda de identidade e à degradação ecológica, por exemplo. Na realidade, como
afirma Cooper, Fletcher e Fyall (2007), toda atividade relacionada ao turismo gerará impactos
ambientais, mas com um planejamento consistente há a possibilidade de minimizar os
impactos negativos e estimular a existência e disseminação de impactos positivos.
Segundo Dias (2005, p. 102), entre os muitos benefícios para o local, o turismo
1. Contribui para a conservação dos animais ameaçados; 2. Leva aoaperfeiçoamento do planejamento e do gerenciamento ambiental; 3.Contribui para o aumento da consciência ambiental; 4. Auxilia na obtençãode recursos para a preservação; 5. Contribui na geração de fontes de rendaalternativas; 6. Constitui uma alternativa de exploração econômica das áreasprotegidas.
O meio ambiente é, portanto, o sustentáculo da atividade turística, pois o mesmo é
baseado na natureza de outros lugares, utilizando-se sempre do ambiente natural e, para que
não ocorra o processo de destruição do mesmo, a prática do turismo sustentável é a melhor
opção de preservação.
50
O conceito de sustentabilidade aplicado ao turismo surgiu da necessidade de refletir
sobre os impactos ocasionados ao meio ambiente. De acordo com Dias (2005), o turismo
sustentável pode ser conceituado como a atividade que visa atender aos anseios dos visitantes,
ao passo em que planeja suas ações pensando no futuro. A sustentabilidade do turismo é,
assim, a harmonia entre a economia, a sociedade e o meio ambiente.
O aumento da procura dos turistas por espaços naturais faz surgir a necessidade da
existência de uma ação coordenada, que pondere todos os impactos (sendo estes negativos ou
não) pois, segundo Dias (2008), para que a sustentabilidade da atividade turística seja
possível, é de suma importância que o Estado tenha participação ativa no processo,
elaborando e tornando viável a existência de um planejamento no turismo.
Verifica-se, então, que a atividade turística já se consolidou como uma importante
opção de lazer, marcante na sociedade atual, seja através da descontração, do entretenimento,
do conhecimento, seja não fazendo nada ou apenas contemplando, necessitando de espaços e
equipamentos de lazer e turismo para sua concretização, necessitando de um planejamento
criterioso, que ordene as ações dos turistas sobre os centros turísticos, a fim de que os
impactos negativos sejam reduzidos e os impactos positivos aumentados pelo planejamento
turístico.
O turismo pode ser interpretado como um fenômeno histórico sem precedentes, na
sua extensão e no seu sentido. Sendo, por isso, uma das invenções mais espetaculares do lazer
da sociedade moderna (DUMAZEDIER, 1973). Entretanto, para que o turismo mantenha sua
vitalidade como segmento, torna-se imprescindível que se faça um planejamento preventivo e
concreto, tendo em vista os impactos positivos e negativos nos aspectos sociais, econômicos e
ambientais. Porém, quando se fala em planejamento, há que se admitir que não é fácil traçar
seu conceito, até porque, esse termo encontra-se muito mais situado na administração clássica.
Para Padilha (2001, p. 63),
Planejar, em sentido amplo, é um processo que visa dar respostas a umproblema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua superação, demodo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendonecessariamente o futuro, mas considerando as condições do presente, asexperiências do passado, os aspectos contextuais e os pressupostosfilosóficos, culturais, econômicos e políticos, de quem planeja e com quemse planeja.
Na visão de Moraes (2006), o planejamento pode ter cunho tecnológico, empenhando
uma abordagem direcionada para a solução de problemas e cumprimento de tarefas, com uma
51
visão segmentária, tática e determinística, com variáveis qualitativas e conhecidas. Seja como
for, o planejamento também deve estar direcionado para o segmento do turismo, tendo em
vista o ordenamento das ações do homem sobre o território e ocupando-se em direcionar a
construção de equipamentos e facilitadores de forma adequada, evitando, desse modo, efeitos
negativos nos recursos, que podem ser destruídos ou reduzidos sua atratividade.
Esse ideário, contudo, só pode ser viabilizado com investimentos em programas
governamentais e comunitários voltados para a fixação do homem em suas atividades
tradicionais, como pesca, pecuária, artesanato e culinária, com a participação da comunidade
local na elaboração dos projetos turísticos, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da
população e a manutenção dos recursos paisagísticos. O que implica, segundo Lage (2004),
no planejamento participativo das atividades turísticas, estrategicamente inseridas nas reais
necessidades da população local.
Petrocchi (2002) enfatiza que o planejamento tornou-se imprescindível ao
desenvolvimento do turismo, pois o turista interage com a sociedade, a cultura e o meio
ambiente das regiões hospedeiras, podendo interferir e afetar o potencial turístico da área
visitada, em função da falta de planejamento
Dessa forma, observa-se que o planejamento turístico pode fomentar a atração
turística, tendo o controle do desenvolvimento sustentável, dos impactos negativos,
minimizando-os. O que pode ser feito considerando-se o meio ambiente, as áreas de risco, a
vulnerabilidade, seja para o assentamento da população em local de empreendimentos, seja
para a realização de atividades propícias para determinada área, seja pelo fluxo e
comportamentos prévios dos turistas (BARRETTO, 2005).
Para Ruschmann (2004, p. 9), o planejamento turístico consiste em “ordenar as ações
do homem sobre o território e ocupa-se em direcionar a construção de equipamentos e
facilidades de forma adequada, evitando, dessa forma, os efeitos negativos nos recursos, que
os destroem ou reduzem sua atratividade”. Segundo Moraes (2006, p. 61), o planejamento
turístico deve ser
[...] baseado nos princípios de sustentabilidade ambiental, político e social,cultural e econômico, e considerando os aspectos envolvidos através de umavisão sistêmica, com a atividade, bem como com as transformaçõesambientais, positivas e/ou negativas relacionadas aos aspectos antrópicos,biológicos e físicos e com a ecodinâmica do meio ambiente, que satisfaça asnecessidades das presentes e futuras gerações, proporcionando uma melhorqualidade de vida.
52
Nesses termos, reconhece-se que o planejamento turístico é uma necessidade para
esse segmento e possui grande importância, sendo um desafio a ser empreendido. Isso porque
envolve a organização dos recursos, dos espaços, além da cooperação dos habitantes locais.
No que se refere aos moradores locais, acredita-se que no planejamento deve constar
estratégias de seu envolvimento, com participação ativa, seja no planejamento e organização
do turismo, para que sejam gerados benefícios, seja acompanhando a interação com os
turistas. Além desse aspecto, presume-se que o planejamento turístico deve contemplar os
índices estatísticos de deslocamentos dos turistas, suas preferências, seus perfis.
Para Nogueira (2009, p. 16), no planejamento turístico, “a grande ênfase está no
“produto” (o parque e seus atrativos) sem focar o mercado (o visitante atual, o tipo de
visitante a atrair, o tamanho do mercado etc.). Faltam informações de qualidade sobre
produtos, guias e um marketing consistente e confiável”.
Essa concepção acerca-se do entendimento de que o planejamento turístico no Brasil
ainda se encontra incipiente, pois ainda se mantém no enfoque de uma das dimensões da
atividade turística, deixando de lado as ações de inclusão, combinadas com a melhoria de
equipamentos turísticos. Isto sem contar a falta de objetivos específicos que contemplem a
melhoria da qualidade de vida da comunidade receptora, ao tempo em que permita gerar uma
experiência de qualidade para o turista. Dessa forma, a observação e o planejamento turístico
devem ter presente a preocupação relativa à manutenção das condições originais dos atrativos,
em termos de qualidades ambientais, sociais e culturais (BRASIL, 2007).
O turismo é uma atividade que teve sua evolução baseada no aumento das práticas de
atividades turísticas em massa. Segundo Teles (2006), o turismo em massa é originado na
Inglaterra, já no século XX. Com o crescimento dos fluxos de turistas por todo o mundo, uma
preocupação vem à tona: como aliar a prática turística à preservação do meio ambiente?
Nesse sentido, é necessário abordar o turismo como uma atividade que pode gerar impactos
(negativos e/ou positivos) para a natureza, merecendo, dessa maneira, um planejamento
consistente e que vise mitigar os danos ao entorno.
O planejamento na área turística, segundo Dias (2003), é o mais efetivo instrumento
para amenizar os efeitos econômicos sobre a natureza. Nesse sentido, a ação de planejar deve
vir do Estado, que é o único agente que tem poder para articular forças, a fim de planejar um
desenvolvimento do turismo aliado à preservação do meio ambiente. O turismo, participando
como uma atividade de conservação da natureza, tem condições de se tornar como uma das
variáveis mais eficazes para o desenvolvimento de uma região.
53
Mas, para que a natureza seja protegida satisfatoriamente, o planejamento do turismo
deve equilibrar os interesses econômicos com os socioambientais, isso porque, segundo
Alexandre (2003, p.11), o controle e o ato de planejar “depende diretamente de critérios,
valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada”.
Quando as ações políticas não promovem o planejamento turístico, surgem inúmeros
problemas em seu desenvolvimento. O turismo, sozinho, sem o auxílio governamental
satisfatório, fica à mercê de programas impróprios e que não guardam associação com a
realidade econômica, cultural e social de uma determinada região (ALEXANDRE, 2003).
Como um todo, o planejamento turístico deve criar condições para a sustentabilidade,
sendo importante frisar que tal sustentabilidade não deve ser algo utópico. Segundo Dias
(2003, p.69), o planejamento tem que ser um processo de mudança qualitativo, que permita a
elaboração de objetivos alcançáveis. Assim, identifica-se o desenvolvimento do turismo a
partir de práticas originadas da vontade política em equilibrar a “preservação do patrimônio
natural e cultural, a viabilidade econômica do turismo e a equidade social do
desenvolvimento”.
Silva e Boia (2006) contribuem para a discussão do turismo planejado, ao afirmarem
que a atividade turística, para conseguir atender seus objetivos previamente planejados, tem
que almejar sair da esfera comercial (turismo visto somente como uma mercadoria) e passar a
ser visto como um fenômeno social, onde há a interação entre a cultura, a sociedade e a
natureza. O turismo, dessa forma, passa a ser percebido como um campo onde há a
aprendizagem e o sentimento de união, e não somente um cenário de desequilíbrio. Planejar o
turismo é, assim, uma contribuição para o desenvolvimento da prática racional de preservação
da natureza e da cultura.
Operacionalmente, Petrocchi (2002) infere que o planejamento turístico só terá
sucesso se for reciclado continuamente. O sistema dentro do turismo deve garantir a qualidade
dos seus serviços dentro de uma região. Sempre corrigindo as falhas, o planejamento turístico
deve impedir, assim, que qualquer problema (seja ele ambiental, econômico ou social) venha
a comprometer a qualidade dos serviços prestados para os visitantes.
Normalmente, de acordo com Boullón (2002, p.226), para conservar o meio
ambiente, é preciso que o planejamento saiba como o turismo será promovido no ambiente
natural, “sem pensar em planejar a paisagem, porque a paisagem não é planejável, dado que é
uma subjetivação que o homem faz do ambiente natural”.
Sendo assim, o planejamento turístico irá refletir diretamente no meio ambiente,
determinando a qualidade dos serviços ofertados pela atividade turística. Então, preservar a
54
natureza não é somente uma questão de necessidade, é também uma forma do turismo crescer
qualitativamente e agradar os visitantes.
A atividade turística é algo que vem crescendo desde a Revolução Industrial na
Inglaterra. Sua atuação gera uma dinamicidade na circulação de capital, o que faz com que
haja o crescimento de serviços, de produtos, e de turistas dispostos a investirem em um tempo
precioso de descanso.
Contudo, para que a atividade turística obtenha sucesso nos lugares em que se
desenvolve, ela conta com uma boa estrutura, capaz de suportar o contingente de visitantes.
Tal estrutura deve ser composta, por exemplo, de hotéis, restaurantes, e de uma boa recepção,
advinda, principalmente, da população local, como colocado por Dartora (2005), a relação
entre o turista e os demais sujeitos que oferecem ou encontram-se envolvidos com as
atividades turísticas pode ser conceituado como percepção ambiental.
Sobre percepção, Tuan (1980, p. 4) diz que é “[...] tanto a resposta dos sentidos aos
estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente
registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados”.
Para Del Rio (1999), a percepção é uma interação do indivíduo com o meio ambiente
através de mecanismos perceptivos propriamente ditos, e principalmente cognitivos. Para
Rodrigues (1999) a percepção e o intelecto se manifestam por meio da experiência vivida e
compartilhada, construindo o lugar na subjetividade e na intersubjetividade. A limitação dos
sentidos, aliada aos contextos histórico, ecológico e sociocultural, faz com que grupos de
pessoas compartilhem percepções próximas.
A percepção também é diferente para cada pessoa, e ela externaliza a capacidade
individual de apreender aquilo que interessa. Para Ferrara (1999, p. 264) a percepção
ambiental é
[...] a forma de conhecimento, processo ativo de representação que vai muitoalém do que se vê ou penetra pelos sentidos, mas é uma práticarepresentativa de claras consequências sociais e culturais que supõe umaelaboração de informações que ocorrem no interior do indivíduo a partir depequenas experiências, porém, são apenas possíveis e, nesse sentido, nãopodem ser jamais previstas ou programadas.
Segundo Braga e Marcomin (2008, p. 240), “a percepção é subjetiva para cada
indivíduo; contudo, há aspectos comuns em relação às percepções e às condutas”. Ao se tratar
a percepção voltada para o ambiente em volta, é comprovado que ela é construída pelo
próprio indivíduo, através da sua educação e de fatores afetivos e sensitivos originados de
55
relações do observador com o ambiente em que ele se encontra. “Assim, cada indivíduo
enxerga e interpreta o mundo natural de acordo com seu próprio olhar, sua própria maneira de
ver o mundo, a partir de suas experiências prévias, expectativas e ansiedades” (DARTORA,
2005, p. 20). Pode-se afirmar, dessa maneira, que a percepção ambiental torna-se mais
abrangente quando o visitante, por exemplo, passa a compreender melhor o meio e suas
peculiaridades socioeconômicas e culturais.
A percepção ambiental é um dado muito importante para o desenvolvimento da
atividade turística, pois com o auxílio dessa percepção refinada de cada indivíduo, o turismo
pode promover locais, paisagens, culturas e patrimônios. Portanto, como frisam Braga e
Marcomin (2008, p. 240) “o entendimento da natureza é determinante para a caracterização
do meio, permitindo, assim, que a percepção individual sobre um determinado lugar possa
ajudar na compreensão do relacionamento entre homem e meio ambiente”.
Com relação à atividade turística, a análise da percepção ambiental pode contribuir
para o planejamento sustentável, pois a compreensão de que as paisagens são carregadas de
significados e interesses, pois estão relacionadas com a forma que cada indivíduo percebe o
mundo.
56
3 METODOLOGIA GERAL
A revisão bibliográfica teve como eixo a busca por subsídios teóricos que ajudassem
a fundamentar o estudo em questão. Nesse caso, procurou-se na literatura informações acerca
do lazer e do turismo, que fossem capazes de dar respostas à proposta da pesquisa. Desse
modo, o levantamento envolveu amplo acervo bibliográfico disponível nas bibliotecas
universitárias, artigos de revistas, dissertações de mestrado, teses de doutorado.
As informações relativas à barragem foram compiladas a partir dos arquivos de
órgãos oficiais como: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (SEMAR),
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), Prefeitura Municipal de
Piracuruca, Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (EMGERPI), Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), Secretaria de
Turismo do Piauí (SETUR), Secretaria do Planejamento do Estado do Piauí (SEPLAN),
Secretaria da Infraestrutura (SEINFRA), Instituto de Desenvolvimento do Piauí (IDEPI),
Instituto de Assistência Técnica e Extenso Rural do Piauí (EMATER-PI), Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-PI), Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), onde se buscou informações relativas ao município e à Barragem
Piracuruca.
Foi realizada entrevista com gestores públicos (estadual e municipal) para identificar
as políticas públicas relativas ao desenvolvimento do lazer e do turismo, tais como a
Secretária Municipal de Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Piracuruca e a
Secretária Estadual de Turismo – SETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo no
Nordeste - PRODETUR/NE/PI).
A pesquisa de campo foi composta pela observação direta do local em estudo, pelo
registro fotográfico e pela coleta de dados, por meio de aplicação de formulários com
perguntas abertas e fechadas. A pesquisa foi realizada nos meses de julho a setembro de 2010,
considerando que o maior fluxo de visitantes se dá no mês de julho, e posteriormente em fins
de semana, com prolongamento relativo a feriados, e em datas de menores fluxos.
Durante a pesquisa foram aplicados quatro tipos de formulários, abordando os
visitantes, os proprietários de casas de veraneio, os donos de bares no entorno da Barragem
Piracuruca e os moradores do entorno da barragem. Em ambos os formulários foram
investigados o perfil (sexo, idade, escolaridade, ocupação e renda) e a percepção sobre a
atividade turística na Barragem Piracuruca (APÊNDICES A, B, C, D).
57
Os formulários aplicados aos visitantes tiveram uma amostragem do tipo não
probabilística, por conveniência ou acidental, onde as amostras foram selecionadas por
conveniência e julgamento, devido ser a população da pesquisa desconhecida em seu número
total de elementos do universo amostral (BRAGA, 2007). Como não se dispunha de dados
primários nem secundários relativos à demanda turística no entorno da Barragem Piracuruca,
tomou-se como base um universo de 600 visitantes por mês.
Deste modo, depois de definir um possível universo populacional de visitantes da
pesquisa, utilizou-se do programa Raosoft (2010) para calcular a quantidade de formulários
que seriam aplicados, com uma margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%,
totalizando 235 formulários. Os formulários foram aplicados aos turistas que estavam nos
bares no entorno da Barragem Piracuruca, com idade igual ou superior a 18 anos.
Os formulários destinados aos proprietários de casas de veraneio, aos donos de bares
no entorno da Barragem Piracuruca e aos moradores do entorno da barragem, procurou-se
investigar o perfil (sexo, idade, escolaridade, ocupação e renda) e a percepção sobre a
atividade turística na Barragem Piracuruca. Assim, para o cálculo das amostras foram
utilizadas informações relativas à observação direta, tais como: 10 bares no entorno da
barragem; 50 casas de veraneio, 90 famílias residentes no entorno da barragem, com uma
margem de 5% de erro e 95% de nível de confiança. Sendo que os formulários foram
aplicados aos próprios proprietários dos bares no entorno da barragem, aos proprietários de
casas de veraneio, e aos principais responsáveis pela renda das famílias residentes no entorno
da barragem, também com idade igual ou superior a 18 anos.
Dessa forma, utilizou-se o mesmo programa Raosoft (2010), para delimitar as
amostras proporcionais aos números de: 10 bares no entorno da barragem; 45 casas de
veraneio, e 74 famílias residentes no entorno da barragem.
As imagens de satélite e recursos cartográficos foram indispensáveis ao mapeamento
da área, demonstrando a distribuição espacial dos diversos elementos da paisagem relativa à
barragem e sua utilização.
58
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Secção 5
PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL NO TURISMO: POTENCIALIDADES DO
MUNICÍPIO DE PIRACURUCA, PIAUÍ
66
PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL NO TURISMO: POTENCIALIDADES DOMUNICÍPIO DE PIRACURUCA, PIAUÍ1
Roberta Celestino Ferreira2; Wilza Gomes Reis Lopes3; José Luis Lopes Araújo4
Resumo
O turismo é uma ferramenta de desenvolvimento que une valorização cultural, trabalho edefesa do patrimônio. O município de Piracuruca, localizado no norte do Estado do Piauí,caracteriza-se por apresentar atrativos turísticos históricos e naturais, que podem vir acomplementar a economia e contribuir para o desenvolvimento local. Com base naimportância da valorização do turismo para o crescimento qualitativo de grupos humanos, estetrabalho tem como objetivo abordar a importância da preservação do patrimônio cultural e decaracterizar o município de Piracuruca, destacando suas potencialidades turísticas. Foirealizada a caracterização socioeconômica e geográfica do município de Piracuruca eanalisados os potenciais elementos para o desenvolvimento da atividade turística, por meio depesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, onde se primou pela observação analítica doslocais com potencial para o desenvolvimento turístico, levando em consideração os conceitosde desenvolvimento local e preservação patrimonial. Foi observado que Piracuruca dispõe deum rico acervo de patrimônio cultural, formado por seu conjunto arquitetônico, pelas diversasmanifestações culturais existentes, pelos atrativos naturais da região, como o Parque Nacionalde Sete Cidades e pela potencialidade de lazer e recreação, propiciada pela Barragem dePiracuruca, que podem favorecer o desenvolvimento da atividade turística. Contudo,necessita-se de melhoria da infraestrutura para atendimento aos visitantes, além de políticaspúblicas de fortalecimento da identidade cultural do local e melhor divulgação do patrimônioe da potencialidade turística do município.
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Turismo. Desenvolvimento local. Lazer. Piracuruca.
Abstract
Tourism is a tool of development that joins cultural valorization, employment and patrimonydefense. Piracuruca county, located in north of Piauí state, is characterized by presentinghistorical and natural touristic attractive, which can complement economy and contribute tolocal development. According to importance of tourism for qualitative growth of humangroups, this study has objective to approach contribution of cultural patrimony preservationand to characterize Piracuruca county, detaching its touristic potentialities. It was realizedsocial, economic and geographic characterization of Piracuruca county and analyzed potentialelements for development of touristic activity, by bibliographic and field research, throughanalytical observation of places with potential to tourism development, considering localdevelopment and patrimony preservation concepts. It was noted that Piracuruca county has
1 Parte da dissertação apresentada ao Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federaldo Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN).2Turismóloga, mestranda do PRODEMA/UFPI ([email protected]).3Arquiteta, professora do Departamento de Construção Civil e Arquitetura e do Programa de Pós-Graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPI ([email protected]).4 Geógrafo, professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento eMeio Ambiente – PRODEMA/UFPI ([email protected])
67
rich assets of cultural patrimony, constituted by architectonic collection, by several existentcultural manifestations, natural attractive of region, as Sete Cidades National Park andpotentiality for leisure and recreation, provided by Piracuruca Dam, which can be favorable totouristic activity development. However, infrastructure improvement is necessary for visitors’service, as well as public politics for cultural identity enforcement and publication of localpatrimony and county’s potentiality for tourism.
Keywords: Cultural Patrimony. Tourism. Local Development. Leisure. Piracuruca County.
5.1 Introdução
O turismo é ferramenta de desenvolvimento social e econômico, pois une valorização
cultural, trabalho e defesa do patrimônio, seja ele histórico ou natural. Nesse sentido, é
necessário entender como se dá o processo de evolução das relações culturais entre homem e
meio, para que a preservação do patrimônio possa fazer parte dos objetivos da atividade
turística.
O Brasil, país de dimensão continental e formado pela miscelânea de povos diversos,
é rico em atrativos turísticos, tantos naturais como culturais, que possibilitam a prática de
várias modalidades de turismo, tais como o ecoturismo, turismo cultural, turismo de
aventuras, turismo de lazer, turismo religioso, entre outras. Dentre estas, se destaca o turismo
cultural, que compreende “[...] as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de
elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais,
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2006, p. 13).
Em lugares que possuem atrativos históricos e culturais, a atividade turística pode ser
fator de desenvolvimento regional, contribuindo, ainda, para a preservação da cultura local.
Neste sentido, o turismo cultural, segundo Batista (2005, p. 31), “[...] tem a função de
estimular aos fatores culturais dentro de uma localidade e é um meio de fomentar recursos
para atrair visitantes e incrementar o desenvolvimento econômico da região turística, a qual
tem características favoráveis a esse setor de turismo [...]”.
Inicialmente, segundo Goulart e Santos (1998, p. 25), “[...] os roteiros culturais
premiaram, sobretudo, o Rio de Janeiro, as cidades históricas de Minas Gerais, a Bahia com
seu rico patrimônio étnico-histórico, e as principais capitais e cidades do Norte e Nordeste,
tanto para turistas nacionais quanto estrangeiros”.
Hoje, se tem acesso aos roteiros culturais da Região Sul do Brasil, destacando-se
visitas às cidades da Serra Gaúcha e, ainda, a visitação de cidades históricas no centro-oeste e
68
sudeste do Brasil. Dessa forma, são conhecidas as riquezas das cidades de Goiás e
Pirenópolis, no Estado de Goiás, de Paraty no Rio de Janeiro e de Bananal, Embu das Artes,
Cunha e São Luiz de Paraitinga, em São Paulo.
A atividade turística é uma alternativa importante para o desenvolvimento de cidades
históricas, que estão atreladas à memória material e imaterial, tendo seu legado cultural e
histórico como um dos fatores de atração para o incremento do turismo cultural. Para Oliveira
(2003, p. 36), cidade histórica turística é “[...] um lugar que atrai um grande número de
pessoas [...]”, tendo o seu ambiente construído como “[...] atração principal, seguido pela
paisagem natural, que o complementa”. Com a atividade turística é possível resgatar
acontecimentos, buscando a preservação das edificações e do patrimônio local.
Segundo Soares (2006, p. 4),
preservar as características das cidades históricas significa adaptar o seudesenvolvimento, sem que ocorram danos ambientais, pois muitas cidadeshistóricas têm uma economia baseada em turismo e comércio, é o quepodemos notar em cidades históricas de Minas Gerais e do Brasil, comoTiradentes, Ouro Preto, Parati. Estas cidades guardam aspectossignificativos, conservam patrimônios históricos e culturais, costumes,histórias e lendas, muita memória dos 500 anos Brasil, a partir destes valorespreciosos elas desenvolvem um grande potencial turístico, váriosinvestimentos são atraídos para estas localidades, gerando uma grandedemanda de turistas.
O Piauí, estado da região Nordeste do Brasil, ao contrário do que ocorreu com os
demais Estados da região, segundo Dias (2009), teve sua colonização iniciada do interior para
o litoral, pela necessidade de se obter terras para a criação de gado. Oeiras, que é a cidade
mais antiga do Estado, foi sua primeira capital, possui um patrimônio construído e cultural
representativo, apresentando potencialidade turística. Outras cidades do Estado, que datam da
época da colonização do Piauí, como Parnaíba, Pedro II, Amarante e Piracuruca, também
apresentam riquezas culturais e naturais, que precisam ser divulgadas e melhor aproveitadas.
O município de Piracuruca, localizado no norte do Estado do Piauí, caracteriza-se
por apresentar atrativos turísticos históricos e naturais, que podem vir a complementar a
economia e contribuir para o desenvolvimento sustentável local. Com base na importância da
valorização do turismo para o crescimento qualitativo de grupos humanos, este trabalho tem
como objetivo abordar a importância da preservação do patrimônio cultural e de caracterizar o
município de Piracuruca, destacando suas potencialidades turísticas.
Foi realizada identificação socioeconômica e geográfica do município de Piracuruca,
a partir de dados secundários, coletados em literatura sobre o município, além de entrevista
69
realizada com gestor municipal. Por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo,
utilizando-se de observação direta, foram levantados e analisados os locais com potencial para
o desenvolvimento turístico, levando em consideração os conceitos de desenvolvimento local
e preservação ambiental.
5.2 Patrimônio cultural e turismo
Sabe-se que a cultura, de forma geral, externaliza as relações entre o homem e o
meio ambiente, condicionando a forma como as gerações futuras irão lidar com a natureza.
Dessa forma, como afirma Simão (2001), atualmente, o homem é desligado do seu entorno
por conta da rotina estressante e massificante, que o desliga emocionalmente de suas raízes.
Esse distanciamento entre uma população e seus valores históricos faz surgir um processo de
perda cultural, danosa para a preservação do patrimônio.
O desenvolvimento da humanidade é permeado por conflitos relacionados à
organização social e à apropriação dos recursos naturais. Esses fatores são expressões da
realidade que identificam culturalmente a sociedade grupal que, segundo Santos (2005), passa
por inúmeras modificações, sejam movidas por forças internas ou externas. Assim, deve-se
entender a humanidade como uma multiplicidade e formas de existência, o que redunda em
inúmeras expressões culturais.
Dessa maneira, a cultura, segundo Santos (2005, p. 8),
[...] diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada umdos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera asculturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a sua grandevariação. Saber em que medida as culturas variam e quais as razões davariedade das culturas humanas são questões que provocam muita discussão.
Sendo assim, é visível a complexidade que permeia o entendimento da cultura, por
esta não seguir um padrão de construção, variando de acordo com o grupo humano. Segundo
Goodey (2002), o passado e a “alma” do lugar definem como um povo evolui. Quando a
cidade, por exemplo, permite troca de ideias e produtos, ela dá suporte ao crescimento
qualitativo dos indivíduos. Então, a cultura, expressão da alma de grupos humanos, é uma
expressão social que merece ser preservada.
Segundo Rodrigues (2005, p. 16),
70
a criação de patrimônios nacionais intensificou-se durante o século XIX eserviu para criar referências comuns a todos que habitavam um mesmoterritório, unificá-los em torno de pretensos interesses e tradições comuns,resultando na imposição de uma língua nacional, de “costumes nacionais”,de uma história nacional que se sobrepôs às memórias particulares eregionais. Enfim, o patrimônio passou a constituir uma coleção simbólicaunificadora, que procurava dar base cultural idêntica a todos, embora osgrupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos.O patrimônio passou a ser, assim, uma construção social de extremaimportância política.
O conceito sobre patrimônio cultural no Brasil é recente. De acordo com Rodrigues
(2006), a Semana de Arte Moderna de 1922, sediada na cidade de São Paulo, foi determinante
para a compreensão da importância da preservação patrimonial da nação. Na primeira metade
do século XX, acontecia o movimento modernista e a instauração do Estado Novo, originado
da Revolução de 1930. Por conseguinte, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN) foi criado entre as discussões que envolviam cultura, através do Decreto-
Lei nº 25/37, de 30 de novembro de 1937, difundindo o conceito de patrimônio histórico e
regulamentando o tombamento, com o intuito de proteger e preservar o patrimônio histórico.
A conceituação de patrimônio histórico englobava somente os bens tangíveis
(construções, obras de arte, livros), até que o poeta e historiador Mário de Andrade,
posteriormente, complementou o Decreto-Lei nº 25/37, incluindo em seu texto a importância
da preservação da arte popular, do folclore, das danças, das lendas, das superstições, da
medicina, entre outros, tidos como bens imateriais (MARTINS, 2006).
Para Machado e Dias (2009, p. 2), patrimônio cultural diz respeito aos elementos
marcantes da “[...] memória social de um povo ou de uma nação, que englobam os elementos
do meio ambiente, o saber do homem no decorrer da história e os bens culturais enquanto
produtos concretos do homem, resultantes da sua capacidade de sobrevivência ao meio
ambiente”. Ainda segundo os autores citados, configura-se como patrimônio, o resultado da
interação entre o homem e o meio e entre a comunidade e seu território, não sendo apenas
formado “[...] pelos objetos do passado oficialmente reconhecidos, mas também por tudo que
liga o homem ao seu passado, ou seja, tudo que os seres humanos atribuem ao legado material
e imaterial de sua nação” (MACHADO; DIAS, 2009, p. 2).
O patrimônio cultural brasileiro está definido na Constituição Brasileira, no artigo
216, seção II – DA CULTURA (BRASIL, 1988), como
[...] os bens de natureza material e imaterial, tomado individualmente ou emconjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
71
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I- formas de expressão; II - Os modos de criar, fazer e viver; III - As criaçõescientíficas, artísticas e tecnológicas; IV - As obras, objetos documentos,edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O Programa Nacional do Patrimônio Cultural, criado em 2000, pelo Decreto nº 3551,
instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que constituem o patrimônio
cultural brasileiro, assegurando a preservação de valores culturais da sociedade brasileira, que
expressam a histórica evolução do país, em diferentes partes do seu território (MARTINS,
2006). Dessa forma, a legislação brasileira abarcou valores, crenças e estilos de vida sociais,
como forma de preservação da identidade da nação.
Muitas são as cidades que merecem destaque, por sua história de consolidação como
patrimônio nacional. Com a construção do conceito de patrimônio cultural houve um
crescente interesse na preservação dos valores culturais. A discussão da importância da
cultura na construção de uma identidade social é necessária, por ser uma ferramenta que
garante o usufruto do patrimônio e, também, promove sua preservação.
É por meio do patrimônio cultural que se insere e se expressa a historicidade de uma
dada sociedade (FEIBER, 2008). Nesse cenário, o turismo cultural vem contribuir para a
proteção do patrimônio cultural, sendo, de acordo com Teixeira e Oliveira (2010, p. 73), “[...]
um importante instrumento para a economia das cidades patrimoniais, contribuindo também
para sua regeneração urbana, reabilitação arquitetônica e para a preservação do patrimônio e
dos recursos culturais”.
Na visão de Figueiredo (2005), o turismo cultural, além do desenvolvimento
econômico pode promover a captação de recursos, geração de emprego e renda, melhoria da
qualidade de vida (escola, saúde, segurança e transporte), transformando-o em grande motivo
para atrair os turistas, motivando a preservação do meio ambiente e o respeito à diversidade.
Contudo, junto com os benefícios advindos do turismo cultural, podem ocorrer
problemas para a comunidade receptora, destacando-se, segundo Menezes (2009, p. 64), “[...]
a questão da ênfase no valor de consumo do patrimônio em detrimento de seu valor de
significado”, como um dos aspectos mais criticados em relação ao uso do patrimônio cultural
como recurso turístico. A autora afirma, ainda, que “[...] a ênfase no valor de consumo acaba
provocando a banalização da cultura, pois o patrimônio passa a ser importante porque pode
ser ‘vendido’ como produto turístico e não por sua significação na história” (MENEZES,
2009, p. 64).
72
Por outro lado, o interesse direcionado às riquezas culturais e históricas de
determinada região pode contribuir para a valorização e preservação da cultura local. Segundo
Fernandes (2010), o desenvolvimento do turismo cultural propicia o surgimento de novos
tipos de turistas que procuram na cultura e na natureza novos produtos turísticos, reduzindo os
índices de padronização e massificação turística.
De acordo com Murta e Albano (2002), quando surge a preocupação de desenvolver
turisticamente uma região, as primeiras providências que são tomadas remetem ao transporte,
à hospedagem, ao lazer e à alimentação. Com isso, parte-se de um pressuposto que o turista,
seguindo um roteiro de visitas, irá maravilhar-se automaticamente com os atrativos regionais,
com a natureza e com as edificações. O que acontece, nesse caso, é a falta de atenção sobre o
principal elemento do patrimônio cultural, tanto por parte do morador, quanto por parte do
turista, que é a informação sobre o lugar, sobre seus habitantes (costumes e hábitos) e sobre as
histórias regionais (lendas, por exemplo).
Dessa forma, na visão de Murta e Albano (2002, p.9), o patrimônio, ao ser
interpretado,
[...] sinaliza justamente o valor único de um determinado ambiente,buscando estabelecer uma comunicação com o visitante, ampliando seuconhecimento. Em outras palavras, visa estimular suas várias formas deolhar e aprender o que lhe é estranho. Como a experiência turística éfortemente visual, o olhar do visitante procura encontrar a singularidade dolugar, seus símbolos e significados mais marcantes.
Portanto, através do turismo cultural é possível aliar a eficiência da atividade
econômica turística à exposição de informações inerentes ao lugar, fazendo surgir a
conscientização, por parte dos visitantes, sobre a necessidade de preservação do patrimônio
local.
Para que o turismo cultural sirva de promotor do desenvolvimento local e de
preservação do patrimônio, deve existir uma atenção dos órgãos públicos para a atividade
turística, com vistas a “arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem
como um instrumento de informação ao público visitante” (GOODEY, 2002, p. 135).
Murta (2002), afirma que a relação entre preservação, conservação e turismo é
ambígua, sendo que a ligação entre elas é a interpretação. Nesse caso, a interpretação é a
apresentação do lugar e da sua identidade cultural para os visitantes, tendo como objetivo o
enriquecimento da experiência. Sendo assim, com a interpretação haverá uma ligação entre o
turismo e a conservação do patrimônio cultural, “desde que o objetivo seja o fortalecimento
73
cultural da comunidade e a busca de estratégias econômicas que desenvolvam suas
habilidades e seus conhecimentos” (MURTA, 2002, p. 141).
Com a importância dada ao patrimônio e sua necessária preservação, há o
reconhecimento do valor cultural de cada localidade, que a transforma, potencialmente, em
uma mercadoria de consumo cultural. Dessa forma, segundo Rodrigues (2006, p. 15), o
turismo cultural “implica não apenas a oferta de espetáculos ou eventos, mas também a
existência e preservação de um patrimônio cultural representado por museus, monumentos e
locais históricos”.
Ressalta-se a importância de se ter o planejamento turístico associado ao
planejamento urbano e territorial. Carvalho (2010, p. 23) reforça esta ideia ao afirmar que,
o objetivo dessa articulação consiste em promover o desenvolvimento doespaço urbano, em suas dimensões infraestruturais, sociais, econômicas,turísticas e culturais, mantendo-se a harmonia e a funcionalidade de seuselementos integrantes, e elevando o bem-estar e a qualidade de vida dosresidentes.
Portanto, o patrimônio cultural necessita da efetiva aplicação de estratégias de
disseminação de informações sobre a localidade que está sendo visitada, para que a promoção
do turismo cultural seja algo efetivo, referente às questões de preservação da cultura e da
identidade histórica das cidades. Segundo Carvalho (2009, p. 114), “torna-se necessário
fortalecer os vínculos da comunidade em relação ao seu patrimônio cultural, através de ações
de sensibilização e de educação ambiental”. Assim como de políticas públicas de preservação
do legado cultural, possibilitando o desenvolvimento do turismo, de acordo com as
expectativas da comunidade local.
Nas cidades históricas se têm buscado preservar o seu patrimônio, promovendo o
desenvolvimento do turismo cultural. Segundo Aguiar (2003, p. 10), após a cidade de Porto
Seguro, na Bahia, ter se transformado em importante polo turístico, “[...] vários agentes
sociais – de instâncias governamentais e privadas – passaram a explorar sua imagem como de
estimado valor para a memória nacional”.
Já as cidades mineiras, por constituírem um passado e por fazerem parte do
patrimônio histórico da nação, passaram a ser consideradas exemplares para se pensar a
cultura brasileira. Segundo Souza (2009, p. 164), “[...] não teria sido por acaso que Mário de
Andrade, em 1924, viajou para Ouro Preto, juntamente com outros artistas, a fim de
“redescobrir” o Brasil”.
74
O que chama a atenção em São Luís, no Maranhão, segundo Carvalho (2009), é a
arquitetura que demonstra a sua história na sociedade colonial do Século XIX, havendo a
necessidade de se promover uma atuação conjunta entre toda a comunidade ludovicense e
órgãos públicos.
A cidade de Olinda, no Estado de Pernambuco, é considerada, pela UNESCO,
Patrimônio Cultural da Humanidade, desde 1982, apresentando “[...] 1,2 km2 de área tombada
(polígono de tombamento) e 10,4 km2 de área de preservação (polígono de preservação
cultural), compreendendo a antiga Vila de Olinda” (LOUREIRO, 2008, p. 10).
Axer (2009), em estudo sobre turismo cultural em Paraty, descreve que a cidade é um
destino que apresenta dois segmentos distintos: o cultural e o de natureza, também
denominado de “sol e praia”. De acordo com o clima vigente, o público apresenta motivações
diferentes. Os atrativos culturais e históricos apresentam maior número de visitação. Por sua
relevância histórica e manifestações culturais de destaque, o município transformou-se em
uma localidade essencialmente turística, que guarda traços da sua movimentada economia
colonial, com diversos aglomerados de casarões e centros históricos, que fazem desta cidade
um local de preservação da identidade e da construção social do povo brasileiro.
5.3 O município de Piracuruca, Piauí e seu patrimônio cultural e natural
Os primórdios da ocupação das terras do norte piauiense, resultando no surgimento
das primeiras povoações, gênese de futuras vilas e cidades, incluindo-se Piracuruca, estão
imbricados a diversos acontecimentos históricos, ocorridos desde o início do século XVII.
Especial importância tem o início da conquista da Ibiapaba, deflagrada por Pero Coelho, em
1603 (BITENCOURT, 1989, p. 25), que resulta na instalação do aldeamento de São Francisco
Xavier, este, com o objetivo precípuo de realizar a catequese missionária de diversas aldeias
da nação Tabajara. Também a expulsão dos franceses da ilha de São Luis, Maranhão –
liderada por Jerônimo de Albuquerque e concluída em 1615 – impõe aos portugueses, sob o
ponto de vista político, a necessidade da descoberta de caminhos alternativos à travessia
marítima e ao percurso pelo litoral, entre as Capitanias do Maranhão e de Pernambuco.
A esse respeito, Brito (2009, p. 16) cita Pereira da Costa, que faz menção à
expedição comandada por João Velho do Vale, por volta de 1685, oportunidade em que as
margens dos rios Longá e Piracuruca são trilhados, no sentido oeste-leste, até alcançar o
maciço da Ibiapaba. Entre o final do século XVI e início do século XVII, dá-se início à efetiva
75
ocupação dos vales do Piracuruca e Jacaraí, por parte de sesmeiros e posseiros, oriundos de
Pernambuco e da Bahia, para a instalação dos primeiros currais.
O atual território do referido município serviu para a instalação de grandes fazendas
de gado, sendo que a povoação mais efetiva de Piracuruca deu-se pela construção de um
templo em homenagem a Nossa Senhora do Carmo (IBGE, 2010), que segundo a tradição
oral, tem a sua construção relacionada à fé votiva de dois irmãos portugueses – Manuel e José
Dantas Corrêa – em sua incursão pelo interior do Piauí para a instalação de fazendas de criar
(BRITO, 2009, p. 16). O processo de ocupação do território piracuruquense intensificou-se
por estar na rota dos grandes negociantes, que se dirigiam à Parnaíba, município localizado no
extremo norte do Estado do Piauí (BITENCOURT, 1988).
De acordo com Brito (1922), não se tem ao certo a data que Piracuruca tornou-se
freguesia; entretanto, com o término da construção da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em
1760, já existiam documentos que identificavam a localidade como freguesia.
Em torno da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construção de grande importância
para Piracuruca, foram se congregando famílias, que edificaram as primeiras casas,
constituindo, dentro de pouco tempo, a próspera povoação de Piracuruca, que vivia,
praticamente, baseada na criação de rebanhos, pois seus terrenos planos eram cobertos com
ricas pastagens e muitos córregos (BITENCOURT, 1988).
Dois anos após a construção do templo de Nossa Senhora do Carmo (1762), se
constatava uma população de mais de 1400 pessoas adultas. Com a visita de Carlos César
Bulamarqui, um dos primeiros governantes da capitania do Piauí, Piracuruca teve sua
primeira chance de elevar-se à categoria de Vila, em 1807, porém, o pedido à metrópole não
foi deferido, tendo sido considerada cidade a partir da Lei Estadual nº 1, em 28 de dezembro
de 1889 (BRITO, 1922).
Além de seus atrativos naturais, o município apresenta repertório de importantes
acontecimentos históricos. A Batalha do Jenipapo, que ocorreu no dia 13 de março de 1823,
no atual município de Campo Maior (antes território de Piracuruca), foi decisiva para o
reconhecimento da independência do Brasil nas regiões Norte e Nordeste, e consolidação do
território nacional (IPHAN, 2008). Poucos anos depois, em 1839, a história de Piracuruca foi
marcada pelo conflito denominado de A Revolta dos Balaios, que ocorreu segundo IBGE
(2010, p.1), “[...] na fazenda do Bebedouro, a oito léguas da Vila, travou-se em 20 e 21 de
setembro de 1839, grande combate entre as forças legais e revoltosos ali entrincheirados,
terminando com a derrota e rendição dos rebeldes”.
76
O município de Piracuruca (Figura 5.1) está distante 196 km de Teresina, capital do
Piauí. Segundo o censo do IBGE (2010) o município de Piracuruca possui uma área territorial
de 2.380 Km², com população total de 27.548 habitantes, configurando em 2010 uma
densidade demográfica de 11,6 hab./Km². O município está inserido na Microrregião Litoral
Piauiense, constituinte da Mesorregião Norte Piauiense. Faz limite com os municípios de
Cocal, Caraúbas do Piauí, Brasileira, Batalha, São João da Fronteira, Cocal dos Alves e São
José do Divino. A sede municipal possui as coordenadas geográficas de 03º 55’ 41”, de
latitude sul e 41º 42’ 33”, de longitude oeste.
Figura 5.1: Mapa de localização do município de Piracuruca, PiauíFonte: IBGE (2010), adaptado por Kenard da Silva Costa (2010).
Quanto aos acessos, Piracuruca é cortado pela rodovia Federal (BR-343), que liga
Piracuruca a Teresina e ao litoral, e pela rodovia Estadual (PI-110), que facilita o acesso a
vários pontos turísticos, entre eles o Parque Nacional de Sete Cidades, a Piracuruca e a outros
municípios turísticos, tais como Batalha e Barras e outras cidades, inclusive a Teresina,
capital do Estado. O município conta, também, com um campo de pouso com pista de 1.680
77
metros com capacidade para pousos e decolagens de pequenas e médias aeronaves, localizado
a dois quilômetros da zona urbana, ao lado da BR 343, funcionando apenas no período diurno,
devido à falta de sistema de iluminação.
O município de Piracuruca, segundo dados do PNUD (2000), apresenta o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,609, podendo ser considerado como desenvolvimento
mediano. O IDH constitui uma média aritmética de três principais indicadores de
desenvolvimento, a saber, a longevidade de vida ao nascer, a educação e a renda per capita.
O Produto Interno Bruto (PIB) municipal, em valores de 2008, foi de R$ 85.789,00
mil, distribuídos em R$ 10.782,00 mil para a agropecuária, R$ 6.719,00 mil da indústria, R$
63.066,00 mil de serviços e R$ 5.223,00 mil para impostos, representando, respectivamente,
12,57%, 7,83%, 75,51% e 6,09% do PIB total do município, sendo que seu PIB per capita é
de R$ 3.254,40 mil. A importância do setor de serviços está inclusive em sua
representatividade para a conformação do PIB municipal (IBGE, 2010).
No município de Piracuruca ocorre grande incidência da palmeira carnaúba
(Coperniciaprunifera), cuja produção de cera chega a 753 toneladas (IBGE, 2010),
representando uma boa fonte de renda para a população rural piracuruquense.
Com um relevo baixo, sem muitas ondulações, Piracuruca tem suas terras
configuradas, principalmente pela bacia do rio Piracuruca. Esse aquífero perpassa o município
no sentido leste-oeste, comprometendo a formação de grandes serras. A zona urbana de
Piracuruca apresenta apenas 60 metros de altitude em relação ao nível do mar, sendo que as
maiores elevações não ultrapassam os 250 metros (MACHADO, 2008).
O clima do município, conceituado como tropical, apresenta temperatura que varia
de 26° a 38º C, sendo as mais baixas nos meses de junho a agosto, caracterizadas,
principalmente, pelas madrugadas frias. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET, 2008), os meses que têm maior pluviosidade são janeiro, fevereiro, março, abril e
maio, apresentando média anual de precipitação em torno de 1.222 mm de chuva.
O município de Piracuruca tem disponível, em seu território, vários aquíferos,
destacando-se os rios Piracuruca, Jenipapo, Catarina e o Jacareí, constituintes da microbacia
do Piracuruca (MACHADO, 2008).
Com uma economia moderada, mesmo em nível estadual, Piracuruca tem no turismo
uma forma de conseguir auferir uma melhor fonte de renda para a população, gerando
empregos diretos e indiretos, e promover o desenvolvimento social com a preservação do
meio ambiente. A atividade turística propicia, dessa forma, a aliança entre o tempo livre dos
visitantes e a geração de renda, pois como afirma Camargo (2002), a atividade de lazer
78
contribui para a melhoria de vários aspectos, quando leva em consideração, tanto os
moradores do local quanto os visitantes (turistas).
Para que o visitante se sinta bem ao visitar o local, faz-se necessária uma
infraestrutura básica e turística. A rede hoteleira de Piracuruca ainda é pequena, existindo
apenas dois hotéis, sendo um localizado dentro do Parque Nacional de Sete Cidades e outro
nas proximidades, tido como hotel fazenda. Além destes, foram identificadas pequenas
pousadas, como Pousada Dois Irmãos, Pousada e Churrascaria Requinte, Pousada Estação do
Sabor e Pousada Vitória. Estas se localizam dentro da sede municipal, mas não apresentam a
logística necessária para um atendimento satisfatório ao turista, podendo atender a um número
máximo de 234 hóspedes, incluindo os hotéis.
Na visão de Silva e Neves (2009, p. 471),
a realização do potencial existente do mercado de bens simbólico-culturaisdemanda uma parceria efetiva entre o Estado, a iniciativa privada e asociedade civil organizada. O mercado no atual estágio de desenvolvimentodas forças produtivas do setor, não dá conta, isoladamente, dos desafiosexistentes, que mostram a cultura como um setor estratégico para odesenvolvimento sustentável por apresentar externalidades para outrasdimensões da vida de comunidades como, por exemplo, na economia,política, saúde, educação, desempenho profissional, ou seja, em váriasdimensões da vida humana.
O município de Piracuruca dispõe de uma Secretaria de Cultura, Turismo e
Desenvolvimento Econômico, que desenvolve ações em parceria com o Serviço de Apoio às
Pequenas e Médias Empresas (SEBRAE), Parque Nacional de Sete Cidades (PARNA SETE
CIDADES) e o Ministério do Turismo (MTUR), por meio do Plano de Desenvolvimento
Integrado do Turismo Sustentável (PDTIS) e do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) Cidades Históricas, além da preciosa contribuição do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN). A secretaria dispõe, ainda, de um técnico que, atualmente,
desenvolve estudo para diagnosticar o potencial turístico do município, prevendo parceria
com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, visando a organização da atividade turística
de “forma organizada e responsável”. O município ainda está incluso no roteiro turístico
Serras Nordestes, que reúne belezas naturais do Piauí e do Ceará, lançado em abril de 2009,
em Fortaleza-CE, durante o Brasil National Tourism Mart (BNTM), pelos governantes do
Piauí e do Ceará, em parceria com o SEBRAE. O roteiro Serras Nordeste é um grande
produto turístico criado para integrar ainda mais o turismo interno entre os Estados do Piauí
(envolvendo as cidades de Piracuruca, Piripiri e Pedro II) e Ceará (o roteiro envolve as
79
cidades de Tianguá, Ubajara e Viçosa. O município dispõe ainda da Associação dos
Condutores de Visitantes de Piracuruca (ACONVIPI) (Informação verbal)5.
Piracuruca guarda vasta diversidade sociocultural, devido a sua formação histórica,
tendo seu núcleo antigo, segundo o IPHAN (2008), mantido, mesmo com a expansão urbana,
seu acervo arquitetônico e urbanístico preservado, permanecendo, ainda, como centro da
cidade. Embora não tenha tido a divulgação necessária, no sentido de torná-lo ponto de
visitação, não aproveitando a vantagem de Piracuruca ser ponto de passagem para aqueles que
se deslocam à Parnaíba, litoral do Estado, ou ao Parque Nacional de Sete Cidades, atrativos
turísticos bastante visitados.
Estudos têm sido realizados, visando identificar o potencial turístico do local e da
região, que destacam a importância da junção do patrimônio cultural e dos atrativos naturais
para o incremento do turismo em cidades históricas. Neste sentido, Ávila e Wilke (2008, p.
561) observaram na cidade de Paranaguá, Estado do Paraná, a presença de um patrimônio
histórico representativo e em boas condições, com infraestrutura e capacidade adequada para
o recebimento de turistas, aliada à “[...] existência de recursos naturais e paisagísticos em
abundância na região ao entorno da área histórica, [...] fatores de extrema importância para o
desenvolvimento de atividades relacionadas ao turismo”.
Como afirmaram Funari e Pinsky (2005), o patrimônio cultural é uma ligação entre
os membros de uma sociedade, a fim de divulgar e até mesmo redescobrir, os valores que sua
localidade tem.
Em pesquisa realizada na cidade de Jequitibá, Minas Gerais, Pedro e Dias (2008, p.
48) ressaltam a importância do turismo na apropriação e preservação do patrimônio imaterial,
principalmente em relação à identidade da comunidade, afirmando que, neste processo, “[...] o
passado é uma referência propiciadora de identidade, mas que igualmente possibilita a
construção do presente, tornando-se um recurso com valor de mercado, gerando benefício
para seus detentores”. Os autores reforçam a ideia, que pode ser extrapolada para Piracuruca,
que “[...] a valorização, pelo turismo, da cultura tradicional de Jequitibá pode se constituir em
alternativa de renda e emprego para a comunidade, fator de autoestima e fortalecimento da
cultura local” (PEDRO; DIAS, 2008, p. 48).
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, por meio de
medidas legais, como o tombamento, vem trabalhando para conseguir preservar os principais
bens que compõem o conjunto arquitetônico cultural de Piracuruca. Desde 2008, existe um
5Informações obtidas com Jeane da Silva Melo, secretária de Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômicode Piracuruca, em entrevista concedida a Roberta Celestino Ferreira, em 13 de Dezembro de 2010.
80
processo de tombamento, ainda não concluído, do Conjunto Histórico e Paisagístico de
Piracuruca. O conjunto tombado inclui, segundo o IPHAN (2008, p.107),
[...] uma poligonal fechada [...], englobando a Praça Irmãos Dantas, a Igrejade Nossa Senhora do Carmo e as expansões urbanas ocorridas até o início doséculo XX, onde se situam também a Igreja de Santo Antônio e o MercadoMunicipal; o Cemitério Campo da Saudade e o traçado e a caixa da Rua JoãoMartiniano, que faz a ligação entre a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e oCemitério, incluindo o edifício de nº 365, na Rua Coronel Joaquim Onofrede Cerqueira, na esquina com a Rua João Martiniano, e que faz oenquadramento da porta do Cemitério a partir da Igreja de Nossa Senhora doCarmo; o terreno da Unidade Escolar Anísio Brito e seu respectivo edifício.[...] o edifício da Estação Ferroviária e seu pátio, e a Ponte Metálica sobre oRio Piracuruca, conforme disposto no Art. 9º da lei 11.438, de 31 de maio de2007.
Os principais atrativos turísticos de Piracuruca são: a Igreja Nossa Senhora do
Carmo, as construções históricas, o Complexo Turístico Prainha, o Parque Nacional de Sete
Cidades e a Barragem Piracuruca, entre outros, assim como, as expressões culturais e
folclóricas.
É intrínseca da formação territorial do Brasil a criação de templos católicos. Com a
instalação de grandes fazendas de gado no futuro município de Piracuruca, houve a
construção, em 1743, da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. A construção do referido templo
se deve, segundo Brito (1922), aos dois irmãos portugueses, Manoel e José Dantas Correia,
que teriam sido aprisionados por índios canibais e, para serem salvos, teriam feito uma
promessa à Virgem do Carmo, de construir um templo em sua homenagem, caso se livrassem
da morte, o que foi feito, assim que foram libertados.
A Igreja do Carmo (Figura 5.2) é uma obra bem construída, com elementos estéticos
portugueses, que a tornaram um patrimônio cultural importante, não só para Piracuruca, mas
também para todo o Brasil, por conta da sua histórica criação (BRITTO, 2003).
81
Figura 5.2: Igreja Nossa Senhora do CarmoFonte: Roberta Ferreira (2010).
Em sua parte frontal, de acordo com o IPHAN (2008), a igreja apresenta arquitetura
de estilo Barroco, com diversas pinturas, que ilustram bem o tempo em que foi construída,
configurando-se como um dos principais atrativos da cidade.
Além da Igreja Nossa Senhora do Carmo, outras construções que, em sua grande
maioria, são decorrentes do período do “Ciclo da Carnaúba” (1920 a 1940), chamam a
atenção dos visitantes que chegam a Piracuruca. Neste período, segundo Machado (2008, p.
42), a cidade “passou por um surto de progresso e prosperidade, por conta do enriquecimento
rápido de proprietários de terras, com grandes carnaubais”. Devido ao enriquecimento e a
necessidade de novas moradias que expressassem o alto poder aquisitivo dos proprietários de
terra, suntuosas residências (Figuras 5.3 e 5.4) foram construídas em Piracuruca. Muitas
destas construções encontram-se, ainda, conservadas, estando incluídas no processo de
inventário e tombamento do IPHAN.
82
Figura 5.3: Palacete da década de 1930Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.4: Casarão antigo da década de 1940Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Destacam-se, também, a Usina da Cultura (Figura 5.5), que é um espaço destinado a
eventos, como exposições fotográficas, palestras e apresentações, entre outros, possuindo um
auditório com capacidade para 150 pessoas. E, ainda, o antigo casarão do Padre Sá Palácio,
que é uma das construções mais antigas da cidade (Figura 5.6), onde funciona hoje o Espaço
Jovem Desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho.
Figura 5.5: Usina da CulturaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.6: Espaço JovemFonte: Roberta Ferreira (2010)
De importância histórica, são também, a Estação Ferroviária e a Ponte Metálica
(Figuras 5.7 e 5.8), inauguradas em 1923, com a construção de um ramal ferroviário, ligando
o Porto de Amarração à cidade de Parnaíba, e prolongamento até Teresina. A estrada de ferro
foi muito importante para o crescimento do município, servindo para o escoamento dos
produtos líderes da economia do Piauí, o gado e a cera de carnaúba, rumo aos mercados
compradores (BITENCOURT, 1989).
83
Figura 5.7: Estação FerroviáriaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.8: Ponte Metálica da Estrada de FerroFonte: Roberta Ferreira (2010)
Outros locais que chamam a atenção nas cidades por sua representatividade histórica
e cultural são as praças. Segundo Silva, Lopes e Lopes (2009, p. 77), “o resgate de um espaço
público é importante por representar o patrimônio histórico e cultural ligado à imagem da
cidade. As praças centrais acumulam importante características, configurando-se como um
referencial da modificação da paisagem urbana com o passar dos anos”.
Entre as praças de Piracuruca, merece destaque a Praça Irmãos Dantas, que é a mais
antiga da cidade (Figura 5.9), e em cujo entorno encontram-se a Igreja Nossa Senhora do
Carmo e várias casas antigas. Destacam-se, ainda, a Praça da Usina, onde se encontra o
primeiro motor da Usina Elétrica de Piracuruca, a Praça Madre Gurgel, e a Praça Dr. José de
Brito Magalhães (Figura 5.10), antes conhecida como Praça da Bandeira.
Figura 5.9: Praça Irmão DantasFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.10: Praça José de Brito MagalhãesFonte: Roberta Ferreira (2010)
84
O complexo Turístico Prainha (Figuras 5.11 e 5.12) foi construído no ano de 1997, e
desde então é palco de grandes eventos regionais, onde se pode destacar o Carnaval, Festival
de Folguedos, desfiles, Festas Populares e o Reveillon, entre outros eventos (MACHADO,
2008). O nome Prainha surgiu devido à coloração azulada do rio Piracuruca e dos depósitos
areníticos da localidade, que se assemelham muito com uma praia oceânica.
Figura 5.11: Prainha durante o diaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.12: Prainha durante a noiteFonte: Roberta Ferreira (2010)
Como atração turística, observou-se que o Complexo Turístico Prainha possui grande
potencialidade econômica, pois há geração de empregos formais e informais, no decorrer de
todo o ano. A infraestrutura do local é bem distribuída pelos seus três mil metros quadrados,
sendo identificados bares, churrascarias, restaurantes e banheiros.
Segundo Machado (2008, p. 39), no Complexo Turístico Prainha tudo foi construído
em harmonia com a história e as riquezas de Piracuruca, “[...] tendo como principal
matéria-prima as pedras e a carnaúba, símbolos de nossa cidade”. A valorização do rio
Piracuruca, o lazer propiciado pelo banho de rio, que atrai muitos frequentadores, e o intenso
comércio, originado da atividade turística às suas margens, fazem deste empreendimento um
local que merece ser preservado.
O patrimônio cultural é formado tanto por bens materiais, quanto por bens imateriais.
As diversas expressões culturais de uma localidade são, sobretudo, um “veículo de
reabilitação das culturas, contribuindo em grande medida para sua difusão” (BENI, 2004, p.
86).
Em Piracuruca, há grandes festas populares, que atraem turistas, principalmente de
municípios vizinhos, como Cocal, Brasileira, Batalha, Piripiri, entre outros. Fazem parte dos
eventos de Piracuruca as comemorações da participação do município na adesão do Piauí à
85
Independência do país, que ocorrem entre 22 de janeiro (proclamação da independência por
Leonardo das Dores) e 10 de março (Batalha do Jacaré), com a realização de eventos
culturais, religiosos e sociais, tais como cultos, missas, palestras, solenidade de entrega de
títulos honoríficos, apresentações culturais, etc. Neste intervalo ocorrem, também, as
festividades carnavalescas, com bailes e desfiles populares alusivos ao pré-carnaval e
carnaval, conforme as datas móveis do calendário.
Os eventos do Carnaval e da Semana Santa já são tradicionais na região, atraindo
grande quantidade de visitantes ao município, o que auxilia no crescimento econômico de
Piracuruca, além de alavancar o turismo regional. No ciclo religioso e cultural da Semana
Santa, é realizado um conjunto de atividades culturais e religiosas, envolvendo: celebrações
religiosas da Semana Santa, encenações teatrais da Paixão de Cristo, palestras, filmes e outras
atividades relacionadas à data.
No Festival Regional de Folguedos, com festas e representações populares alusivas
ao período junino, ocorrem arraiais, concursos de quadrilhas, apresentações de bumba-meu-
boi, etc. São realizadas no mês de junho, especialmente no período de festividades de Santo
Antônio, São Pedro e São João.
Entre outras manifestações, ocorre, ainda, o festejo de Nossa Senhora do Carmo, que
segundo Britto (2003), atrai uma grande quantidade de devotos e visitantes na primeira
quinzena do mês de julho. Trata-se de um dos eventos mais esperados por muitos visitantes e
conterrâneos de diversos lugares, devotos de Nossa Senhora do Carmo.
Em 2010, os festejos de Nossa Senhora do Carmo (Figuras 5.13 e 5.14) ocorreram
entre os dias 06 e 16 de julho, com a realização de procissão de abertura, missa dos idosos e
doentes, benção dos veículos e carreata, encontro das gerações, benção dos vaqueiros e
desfile, batizados e casamentos, procissão de encerramento e benção.
86
Figura 5.13: Abertura dos Festejos deNossa Senhora do Carmo
Fonte: Por Marcio Gomes (2010)
Figura 5.14: Procissão a Nossa Senhora doCarmo, na semana dos festejos
Fonte: Por Marcio Gomes (2010)
A Semana Cultural de Piracuruca, que acontece no período de 17 a 23 de julho, após
os festejos de Nossa Senhora do Carmo, é um conjunto de diversos eventos culturais, tais
como: concurso literário de prosa e poesia, apresentações e exposições de arte (folclore,
danças, teatro, música, fotografia, artes plásticas, artesanato), palestras, ciclo de debates sobre
arte, literatura, cultura e apresentação de vídeos, visando divulgar a arte e a cultura.
Os festejos de São Francisco de Assis também marcam os acontecimentos culturais
de Piracuruca, acontecendo anualmente, com uma semana de antecedência à data
comemorativa do santo, que ocorre no dia 04 de outubro.
Outro evento importante refere-se à Festa da Carnaúba, uma das mais tradicionais
festas do município e do Estado do Piauí, promovida anualmente, com eleição da Rainha da
Carnaúba de Piracuruca, desde 1961 (Figura 5.15). A festa que já está em sua 49ª edição,
ocorrida em Dezembro de 2010 (Figura 5.16), com baile e coroamento da rainha, tem como
objetivo divulgar e valorizar a produção do pó e da cera da carnaúba.
87
Figura 5.15: Primeira Festa da Carnaúba, animadapela banda mexicana Alma Latina
Fonte: Gerson Avelino (1961)
Figura 5.16: Coroação da Rainha daCarnaúba de 2010, em Piracuruca
Fonte: Clemilton Silva (2010)
A Semana da Cidade, conjunto de eventos culturais, sociais e esportivos é realizada
na última semana de dezembro, tendo como ápice o dia 28, em alusão ao aniversário da
emancipação política do município. Na ocasião ocorre festa popular no Complexo Turístico
Prainha, lançamento de coletânea de trabalhos em prosa e poesia, produzidos no concurso da
Semana Cultural, palestras alusivas à data, apresentações culturais, exposições de arte e
artesanato, competições esportivas e gincanas.
No Ciclo Religioso e Cultural Natalino, que acontece no período entre 25 de
dezembro e 06 de janeiro, são realizadas atividades culturais e religiosas, envolvendo
Celebrações Religiosas do Natal, Danças de São Gonçalo, Folia de Reis e Boi de Janeiro e o
Réveillon.
Outros expressivos patrimônios culturais de Piracuruca são as manifestações
folclóricas, existindo muitas lendas, contos, canções e rezas, algumas quase esquecidas, o
bumba-meu-boi, as quadrilhas matutas e a dança de São Gonçalo, entre outros.
Entre as lendas existentes, destacam-se, entre outras, a lenda da construção da Igreja
dos Irmãos Dantas, a lenda da criação das Sete Cidades, o velho curandeiro "Catirina", a
piscina dos milagres, o enigma solar de Sete Cidades, a teoria Fenícia, as cruzes nos letreiros
da Fazenda Melancia, a lenda da Carnaúba, e a lenda do Pirarucu (PORTAL DE
PIRACURUCA, 2010).
A lenda mais conhecida e divulgada é a da criação da Igreja Nossa Senhora do
Carmo, que deu origem a Piracuruca. Conta a lenda, que “[...] dois irmãos portugueses foram
aprisionados pelos índios que habitavam a região de Piracuruca. Durante o período que
passaram no cativeiro, fizeram uma promessa: se saíssem vivos, construiriam uma igreja,
88
pedra sobre pedra, sem utilizar argamassa. E assim foi feito” (GUIA DO PIAUÍ, 2001, p.
432).
O artesanato de Piracuruca é composto, principalmente, por peças de cerâmica,
chapéus e vassouras de palha, redes de tecido e de fibra de tucum, bordados de vários tipos e
formas, esculturas em pedra sabão, doces, cajuína e licores (Figuras 5.17 e 5.18), que são
comercializados na loja "Artes da Terra", casa de apoio aos associados da Associação dos
Artesãos e Artesãs de Piracuruca.
Figura 5.17: Local de venda de artesanatoFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.18: Doces e licores de PiracurucaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Além de ser fonte de renda para os artesãos, a produção e comercialização garantem
o sustento dos artesãos e artesãs e de suas famílias. Perota (2007, p. 49) confirma a
importância do artesanato, destacando a necessidade de “projetos de fomento [...], sempre
levando em consideração os três fatores fundamentais: o cultural, o econômico e o meio
ambiental, a fim de adequá-los às condicionais regionais e locais e à tipologia dos turistas”.
O artesanato é um atrativo de desenvolvimento da sociedade como força propulsora
de renda e desenvolvimento de uma comunidade, agregando conhecimentos culturais de um
determinado povo, que se ultrapassa de geração em geração.
5.3.1 Parque Nacional de Sete Cidades
Uma unidade de conservação é um espaço que apresenta “características naturais
relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
89
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção” (BRASIL, 2000, p.1).
O Parque Nacional de Sete Cidades enquadra-se no grupo de Unidades de Proteção
Integral, na categoria de Parque Nacional, distando 18 km da cidade de Piracuruca. Tem como
principal característica os afloramentos rochosos com as mais variadas formas, resultantes da
ação dos agentes erosivos (calor, vento, chuva). Administrado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o parque foi criado em 1961,
pelo Decreto Federal nº 50.744.
Bitencourt (1989) comenta que a primeira notícia acerca da região onde se localiza
Sete Cidades foi elaborada pelo cearense Jácome Avelino, em dezembro de 1886, onde
nomeava a região como uma “cidade petrificada no Piauí”.
O parque possui área de 6.621 ha, constituindo-se de zonas de recuperação de
ambientes degradados e de proteção de áreas de ambientes e ecossistemas nativos. “A área
aberta à visitação pública corresponde, aproximadamente, a 490 hectares, onde se localizam
os monumentos geológicos, piscinas naturais e a cachoeira, num percurso de
aproximadamente 12 km” (MACHADO, 2008, p. 36).
No parque, é possível encontrar formações rochosas esculpidas pela água e pelo
vento, que aparentam figuras conhecidas, como a Pedra da Tartaruga (Figura 5.19). Entre
vários atrativos, no Mirante é possível ter uma visualização integral do parque (Figura 5.20).
No local ocorre diversidade florística e de fauna silvestre, devido pertencer a Zona de
Transição entre Caatinga e Cerrado, podendo-se encontrar espécies dos dois ecossistemas.
Figura 5.19: Pedra da Tartaruga no ParqueNacional de Sete Cidades
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.20: Mirante no Parque Nacional deSete Cidades
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
90
O Parque Nacional de Sete Cidades, além de ser um local de preservação histórica e
natural em benefício das futuras gerações não só de Piracuruca, mas também de toda a
humanidade, abre espaço para visitação pública, estando sujeita à regulação e restrições tais
como: horários pré-estabelecidos de funcionamento, autorização para visitação,
acompanhamento de guias locais, entre outras.
5.3.2 O Grande Lago – Barragem Piracuruca
A Barragem Piracuruca, localizada no sul do município de Piracuruca (Figura 5.21),
foi inaugurada em maio de 1996, tendo como objetivo principal criar um grande campo
irrigado e perenizar o principal rio do município, o rio Piracuruca, embora o primeiro objetivo
não tenha sido alcançado.
Figura 5.21: Mapa de localização da Barragem PiracurucaFonte: IBGE adaptado por Kenard da Silva Costa (2010).
91
A barragem (Figuras 5.22 e 5.23) conta com uma capacidade de armazenamento de
250.000.000 m³ de água, alagando uma região de, aproximadamente, 5.000 hectares. É a
terceira maior do Piauí, só perdendo para a barragem de Boa Esperança, localizada em
Guadalupe e para a Barragem Salinas, no município de São Francisco do Piauí. É
administrada pela Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (EMGERPI). Mesmo com
deficiências de aproveitamento do seu potencial hídrico, o turismo e outras atividades
econômicas (como a pesqueira) dão a atenção merecida à barragem (MACHADO, 2008).
Figura 5.22: Lago da Barragem PiracurucaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 5.23: Vazante da Barragem PiracurucaFonte: Roberta Ferreira (2010)
Com o aumento da circulação de pessoas pelo local, para praticar esportes e
atividades de lazer, houve a inserção de estabelecimentos (bares e restaurantes) ao redor do
local, para atender os visitantes e moradores, oferecendo comidas típicas.
A Barragem Piracuruca desponta como importante atrativo turístico local, sendo
procurada durante todo o ano, em especial, nos períodos de carnaval, semana santa, períodos
de férias (julho, dezembro e janeiro), proporcionando atividades de banho aquático e de sol,
campeonato de jetski e show acústico. Apresenta em sua estrutura boas condições para
desenvolver o turismo, tendo como atrativo suas belezas naturais, o que deve ser feito com
prudência e diligência por parte da gestão pública e pelos próprios visitantes.
Evidenciaram-se, também, às margens da barragem, uma elevada especulação
imobiliária, por conta das casas de veraneio, que desde a inauguração da barragem vem
crescendo desordenadamente, tendo por volta de 50 casas, atualmente.
92
5.4 Considerações finais
A definição de turismo cultural está relacionada à motivação do turista de vivenciar o
patrimônio histórico e natural de determinados eventos culturais. A relação do turista com o
patrimônio cultural implica, essencialmente, no conhecimento e na busca em aprender e
entender o objeto da visitação, a partir de experiências participativas, contemplativas e de
entretenimento.
Devem fazer parte das estratégias de fomento do turismo para o município de
Piracuruca, Piauí (municipal, estadual e federal) o total aproveitamento, a recuperação e a
criação de atrações culturais. É emergente a necessidade de maiores atrações culturais em
Piracuruca, no estado do Piauí, que dispõe da existência de um amplo conjunto de bens
(materiais e imateriais) e que não foram devidamente aproveitados para que o turista ou
visitante disponha de um mínimo de conhecimento acerca de suas características mais
elementares, para o seu total envolvimento com o legado do local.
Os fatos históricos que antecederam o presente em Piracuruca - PI, marcaram de
forma decisiva todo o contexto cultural, favorecendo assim um acervo repleto de experiências
culturais específicas que devem ser valorizadas, a fim de reafirmar nos moradores seu
pertencimento à cultura do local.
Piracuruca guarda vasta diversidade sociocultural, devido a sua formação histórica,
favorecendo o desenvolvimento da pequena freguesia em vila, assim como a Batalha do
Jenipapo (1823), que foi decisiva para o reconhecimento da independência do Brasil nas
regiões Norte e Nordeste.
Mas alguns bens que compõem o conjunto arquitetônico cultural de Piracuruca
precisam ser recuperados e resguardados por disporem de uma representatividade histórica e
cultural. As diversas expressões culturais precisam ser valorizadas, como meio de reabilitação
da cultura local, incluindo as manifestações folclóricas, e as grandes festas populares que
acontecem durante o ano inteiro, atraindo turistas de vários lugares.
O município de Piracuruca desenvolve ações em parceria com outros órgãos públicos
(estadual e federal) e com a iniciativa privada para promover a inclusão do município em um
roteiro turístico nacional.
Com uma economia moderada, mesmo em nível estadual, Piracuruca tem no turismo
uma forma de conseguir auferir uma melhor fonte de renda para a população, gerando
empregos diretos e indiretos, e promover o desenvolvimento social com a preservação do
93
meio ambiente. A atividade turística propicia, dessa forma, a aliança entre o tempo livre dos
visitantes e a geração de renda.
O município de Piracuruca, hoje se destaca, turisticamente, pelo seu conjunto
arquitetônico, pelas diversas manifestações culturais existentes, pelos atrativos naturais da
região, como o Parque Nacional de Sete Cidades e pela potencialidade de lazer e recreação,
propiciada pela Barragem Piracuruca, fazendo com que o turismo possa ser uma alternativa
econômica para os moradores do local. Entretanto, diversos obstáculos devem ser vencidos,
como a melhoria de infraestrutura para atendimento aos visitantes, além da necessidade de
fortalecimento da identidade cultural do local e melhor divulgação do patrimônio e da
potencialidade turística no município.
É preciso desenvolver iniciativas com o objetivo de atrair maior número de turistas
ou visitantes com interesse e motivações culturais, favorecendo assim a busca por estes bens e
reduzindo a sazonalidade propícia da atividade turística. Criando grandes atrações culturais
destinadas ao consumo turístico, com o objetivo de promover a cultura local.
Dessa forma, seria importante o desenvolvimento de políticas públicas e de estudos,
com a finalidade de promover o turismo, aliando o patrimônio histórico e cultural à atividade
turística, para que, assim, o turismo possa ser uma das principais atividades econômicas do
município.
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Secção 6
A ÁGUA COMO SUPORTE PARA ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO:
POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA BARRAGEM PIRACURUCA NO ESTADO
DO PIAUÍ
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A ÁGUA COMO SUPORTE PARA ATIVIDADES DE LAZER E TURISMO:POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA BARRAGEM PIRACURUCA NO ESTADO
DO PIAUÍ
Roberta Celestino Ferreira6; Wilza Gomes Reis Lopes7; José Luis Lopes Araújo8
Resumo
Na década de 1970 houve uma piora na qualidade da preservação ambiental, devido aocrescimento econômico e populacional e, consequentemente, na vida da sociedade dosgrandes centros urbanos. Com isso, a idéia de que os recursos naturais não são infinitos gerouos primeiros esboços do conceito de desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, se o turismofor bem planejado, haverá condições de ocorrer inovações dentro de um plano dedesenvolvimento do local. Dessa maneira, o presente trabalho tem como objetivo verificar aspossibilidades e limitações, levantar os impactos positivos e negativos, assim como,identificar as formas de lazer e turismo desenvolvidas na Barragem Piracuruca, localizada nomunicípio de Piracuruca, Estado do Piauí. Para isso será discutida a relação entre a atividadeturística e o meio natural, sendo que, dentro desta relação, será aplicado o conceito dedesenvolvimento sustentável. Foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e artigos,voltados para turismo e paisagem, aproveitamento das águas para lazer e turismo, e, ainda, emleis e documentos de instituições ligadas ao uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil.Também foi realizada pesquisa de campo, com o objetivo de registrar, fotograficamente amovimentação de visitantes na referida barragem. Para identificar as formas de turismopraticadas na barragem, baseou-se na observação direta, sendo relacionada à literaturaconceitual sobre segmentação do turismo (BRASIL, 2006a). Com relação aos impactospositivos e negativos da atividade turística desenvolvida, também foi realizada observaçãodireta, utilizando-se o Guia de Desenvolvimento do Turismo Sustentável (OMT, 2003) pararespaldar os resultados encontrados. Concluiu-se que as possibilidades de desenvolvimento deatividades de lazer e do turismo em contato com o meio natural na barragem são muitas,destacando-se banho aquático e de sol, pesca, mirante, campeonato de jetski e show acústico.Outras atividades também podem ser executadas, desde que haja uma logística de estruturaçãoe de infraestrutura, mostrando-se favorável ao desenvolvimento do ecoturismo, turismo deesportes, turismo de pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia. Mas,a barragem sofre constantemente com o problema do lixo e despejo indevido de esgoto emsuas águas, o que favorece os riscos à saúde da população e dos visitantes. Além disso, notou-se que a população piracuruquense mais carente está vivenciando um processo de“marginalização territorial”, onde as casas mais pobres estão sendo afastadas da barragem esubstituídas por construções mais luxuosas, o que demonstrou uma grande especulaçãoimobiliária em toda a extensão da construção, o que não deixa de ser limitações aodesenvolvimento do turismo. A Barragem Piracuruca, tendo como atrativo suas belezasnaturais, dispõe de boas condições para desenvolver o turismo, o que deve ser feito comprudência e diligência por parte da administração pública e pelos próprios visitantes.
Palavras-chave: Lazer. Turismo. Desenvolvimento Sustentável. Barragem Piracuruca.
6Turismóloga, mestranda do PRODEMA/UFPI ([email protected]).7Arquiteta, professora do Departamento de Construção Civil e Arquitetura e do Programa de Pós-Graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPI ([email protected]).8 Geógrafo, professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento eMeio Ambiente – PRODEMA/UFPI ([email protected])
100
Abstract
In decade of 1970, environmental preservation became worse, due to economic andpopulation growth, as well as life quality of society in big urban centers. Thus,comprehension of natural resources are limited have produced first drafts of sustainabledevelopment concept. Upon this perspective, if tourism is well-planned, there will beconditions for innovation on a local development plan. This study has the objective to verifypossibilities and limitations, to point out positive and negative impacts, as well as to identifyleisure and tourism ways developed on Piracuruca Dam, located in Piracuruca county, Piauístate. Relation between touristic activity and environment was discussed and sustainabledevelopment was applied. It was realized bibliographic research on books and periodicals,related to tourism and landscape, water utilization for leisure and tourism, as well as laws andinstitutional documents for use and management of hydric resources in Brazil. A fieldresearch was also realized, with the objective of registering visitors’ movement in dam byphotos. In order to identify tourism ways practiced in dam, direct observation was effected,related to tourism segmentation (BRASIL, 2006a). As for positive and negative impacts oftouristic activity developed, direct observation was also realized, by using Guide forDevelopment of Sustainable Tourism (OMT, 2003) to give support to found results. Theconclusion is that there are several possibilities for leisure and touristic activities’development in contact with environment, detaching water and sun bath, fishery,contemplation in belvedere, jetski championship and acoustic music shows. Other activitiescan also be executed, since logistic and infrastructure can be improved, being favorable toecological tourism, sportive tourism, fishing tourism, nautical tourism, adventure tourism, sunand beach tourism. However, Piracuruca Dam is affected constantly with garbage problemand inadequate slop of sewer on water, causing risks to population and visitors’ health.Besides, a “territorial marginalization” process of needy people, in which poorest homes havebeen removed from dam area and substituted by sumptuous constructions, which demonstratea significant immovable speculation all over dam area, that impose limits to tourismdevelopment. Piracuruca Dam has the attractive of natural beauty and good conditions fortourism development, which must be done with prudence and diligence by publicadministration and visitors.
Keywords: Leisure. Tourism. Sustainable Development. Piracuruca Dam.
6.1 Introdução
Toda atividade antrópica gera consequências para o meio ambiente, que na maioria
dos casos, são negativas para a natureza. No decorrer do tempo, contudo, tem-se buscado cada
vez mais a conciliação entre as atividades humanas e o ecossistema, a fim de mitigar esses
impactos danosos.
Com o advento das atividades industriais a partir da década de 1950, houve um
aumento do consumo dos recursos naturais por causa da modernização dos meios produtivos,
da explosão da demografia, do acelerado aumento dos centros urbanos e do processo de
globalização. O modelo econômico, dessa forma, acelerou a demanda por produtos
101
industriais. Tanto que, na visão de Seabra (2009, p. 12), “a voracidade do consumo humano
rompeu com os critérios e mecanismos naturais para a preservação das espécies, decorrentes
da seleção natural e evolução dos seres”.
O turismo, associado à melhor qualidade de vida, tem se destacado como uma das
atividades que mais tem crescido nos últimos anos. Visto que, o meio ambiente é o
sustentáculo da atividade turística, as ações de planejamento devem estar voltadas para a
prática do turismo sustentável, considerando-se que esta seria a melhor opção de preservação,
evitando o processo de destruição do mesmo, pois “ao mesmo tempo em que a atividade
turística simboliza o uso e a apropriação [...] também simboliza o empreendedorismo, a
conquista, a descoberta, e o sonho de muitas pessoas” (CORIOLANO; VASCONCELOS,
2008, p.13).
O conceito de sustentabilidade aplicado ao turismo surgiu da necessidade de refletir
sobre os impactos ocasionados ao meio ambiente. De acordo com Dias (2005), o turismo
sustentável pode ser conceituado como a atividade que visa atender aos anseios dos visitantes,
ao passo em que planeja suas ações pensando no futuro. A sustentabilidade do turismo é,
assim, a harmonia entre a economia, a sociedade e o meio ambiente.
Dessa forma, a atividade turística necessita de planejamento, para que seja possível a
sua efetiva consolidação, em regiões que apresentem potencial para a implantação de
atividades de lazer. Segundo Diegues (2000), se a atividade turística for bem planejada,
haverá condições de ocorrer inovações em um plano de desenvolvimento sustentável do lugar,
possibilitando o crescimento socioeconômico não só para o local, mas para diversas regiões.
Entretanto, para que o turismo seja viável socioeconomicamente, essa atividade deve
ser implantada dentro de parâmetros sustentáveis, ou seja, “o núcleo receptor, a região, o
Estado devem definir uma política de estratégias e ações para o turismo, promovendo a
conservação socioambiental, contemplando os aspectos econômicos e culturais” (QUEIROZ,
2009, p. 175). O turismo, se desenvolvido com os critérios básicos de desenvolvimento
sustentável, pode promover a preservação do meio ambiente, além de conferir o crescimento
econômico e uma atividade que minimize impactos decorrentes de sua atividade.
O presente trabalho teve como objetivo verificar as possibilidades e limitações,
levantar os impactos positivos e negativos, assim como, identificar as formas de lazer e
turismo desenvolvidas na Barragem Piracuruca, localizada no município de Piracuruca,
Estado do Piauí.
Para elaboração do trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e
artigos voltados para turismo e paisagem, aproveitamento das águas para lazer e turismo e,
102
ainda, em leis e documentos de instituições ligadas ao uso e gestão dos recursos hídricos no
Brasil, como a Agência Nacional das Águas (ANA), e o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH). Também foi realizada pesquisa de campo, com o objetivo de registrar
fotograficamente a movimentação de visitantes na referida barragem.
Para identificar as formas de turismo praticadas na barragem, baseou-se na
observação direta, sendo relacionada à literatura conceitual sobre segmentação do turismo
(BRASIL, 2006a). Com relação aos impactos positivos e negativos da atividade turística
desenvolvida, também foi realizada observação direta, utilizando-se o Guia de
Desenvolvimento do Turismo Sustentável (OMT, 2003) para respaldar os resultados
encontrados.
6.2 Aproveitamento das águas para lazer e turismo
As definições acerca de turismo são bastante controversas, pois estas, além de
agregar valores a lugares e não-lugares turísticos, transforma-os à medida que se torna
necessário, ou mesmo quando se cria um novo valor ao produto.
A paisagem é base da atividade turística, explorada como atrativo para os visitantes
em determinada localidade. O impacto visual do ambiente a ser visitado pelo turista deve
sempre ser positivo; nesse sentido, e com o intuito de se primar pela sustentabilidade
(ambiental, sociocultural e econômica) do turismo, a paisagem (meio ambiente) sempre deve
ser preservada, a fim de manter o turismo.
É necessário entender que a interação entre turismo e meio ambiente é muito
importante, pois a própria atividade do turismo precisa, logicamente, de um ambiente para
acontecer, e esse ambiente tende a se descaracterizar pela ação antrópica. Quando qualquer
atividade relacionada ao turismo é implementada, a natureza sofre com modificações, por
conta da própria produção do turismo (COOPER; FLETCHER; FYALL, 2007).
A discussão sobre a paisagem possibilita considerar que um espaço de lazer pode ser
construído em diversos locais, desde que eles atendam aos requisitos dos visitantes e do meio
natural, tendo o turismo o poder de criar e recriar paisagens, de acordo com interesses
econômicos. Para Coriolano e Vasconcelos (2007, p. 9),
o homem apropria-se da natureza transformando-a em espaço geográficocom a sua presença e suas interferências. A primeira natureza é modificada
103
em segunda natureza com o espaço sendo produzido. A espacialidade desteprocesso define o surgimento de cidades, lugares, paisagens, territórios eambientes para a realização do turismo, entre outras necessidades humanas.A base dessa relação está no trabalho. Os grupos econômicos, através deempresas e firmas, definem a produção, circulação, distribuição e consumodo turismo. São os interesses capitalistas que determinam o uso (consumo)do espaço e a relação social de produção do turismo. Portanto, mais do queuma simples relação do homem com a natureza, há uma relação sociedade enatureza. É a sociedade que determina as formas de uso da natureza ou maisprecisamente do espaço, do trabalho e da riqueza. Assim, ocorre aespacialidade para e pelo turismo, juntamente com inúmeras atividadeseconômicas de apoio, tais como: os meios de transporte, de hospedagem, deagenciamentos, de lazeres e entretenimentos, além de outras açõesmercadológicas.
Uma das formas de lazer e uso do tempo livre que mais tem se desenvolvido nas
ultimas décadas é o turismo. Com raras exceções, o turismo praticado no meio natural tem se
apropriado e provocado a modificação de ecossistemas naturais.
Um dos principais atrativos para turistas que buscam diversão e descanso são
reservas de águas, sejam elas naturais ou artificiais. Como exemplo, pode-se citar as praias,
lagoas, rios, barragens, balneários, cachoeiras, entre outros.
A gestão racional da água é uma ação necessária para que a população mundial tenha
uma vida agradável (ONU, 1992). Enfatiza-se, portanto, que além de ter valor econômico, a
água que cuidamos agora será uma herança para as gerações posteriores, ditando o modo de
vida dessa população no futuro.
Dentro dessa temática, a atividade turística deve apresentar especial atenção no
aproveitamento das águas, sendo que sua gestão consciente é muito importante, pois na
maioria dos casos, as mesmas águas aproveitadas para lazer servem para o abastecimento das
populações locais, seja para consumo diário ou não. Assim, o compromisso com a
preservação de tais fontes aquíferas cabe não somente aos gestores públicos e à sociedade
autóctone, mas também aos visitantes.
O aproveitamento das águas para lazer e turismo relaciona-se, primeiramente, com a
capacidade de suporte que o lugar tem para receber os turistas (infraestrutura, instruções de
segurança, entre outros). Contudo, segundo Muller (2002), esses espaços e equipamentos
destinados ao lazer têm sofrido desvalorização, pois não são entendidos como essenciais, não
tendo atenção necessária por parte das políticas públicas. Dessa forma, em alguns locais de
desenvolvimento do turismo em águas, observa-se a apatia e o conformismo de diversos
segmentos da população, que não contribuem efetivamente para a devida manutenção dos
104
equipamentos. Como por exemplo, é o caso da Praia Fluvial da Pedra Branca no Reservatório
de Promissão no Estado de São Paulo (POLO, 2008).
Nessa perspectiva, Bruhns (2007, p. 89) afirma que
[...] devemos reavaliar as posturas interpretativas que contrapõem meioambiente natural e artificial ou natureza e cultura de forma estanque edesvinculada, bem como as novas relações estabelecidas com essesambientes, os quais se interpenetram numa ressignificação da próprianatureza.
Então, a preservação de práticas de lazer em águas é alcançável por meio de uma
reavaliação de como a sociedade, seja ela local ou visitante, está interagindo com o ambiente,
pois tal reavaliação e mudança na postura ecológica como um todo, só traz benefícios à
prática de um turismo sustentável.
O Brasil possui vastas possibilidades de turismo, por dispor de imensa quantidade de
atrativos turísticos, tanto culturais quanto naturais. As atividades turísticas em todo o território
nacional podem gerar empregos, além de incluir socialmente uma parcela da população
considerada marginal.
Nesse caso, o turismo pode mitigar problemas sérios, como a desigualdade social,
pois alguns dos destinos turísticos mais visitados do Brasil encontram-se em regiões carentes,
que por causa do turismo acabam por ser visitadas por cidadãos mais ricos (BRASIL, 2005).
Os recursos hídricos brasileiros despertam interesse pelo seu grande potencial, sendo
o país um dos que detém maior quantidade de água doce no mundo, dividida em doze grandes
regiões hidrográficas, de acordo com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
apresentado na Figura 6.1.
105
Figura 6.1: Regiões hidrográficas do Brasil.Fonte: BRASIL, 2003.
Contudo, para gerir tamanha riqueza aquífera, foram elaboradas leis de uso e gestão
da água em território nacional. O marco legal direcionado às fontes de água foi a lei nº 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, a qual dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos, criando
assim o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A referida lei também
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da lei nº 8.001,
de 13 de março de 1990, que modificou a lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL,
2005).
Assim, como forma de contribuir para a gestão dos recursos hídricos brasileiros, a
ANA elaborou, em 2005, um trabalho intitulado “O turismo e o lazer e sua interface com o
setor de recursos hídricos”. Nesse documento, são identificados os principais segmentos do
setor do turismo associado aos recursos hídricos, que são: turismo desenvolvido em toda a
extensão do litoral brasileiro; turismo ecológico e pesqueiro e; turismo e lazer em lagos e
reservatórios interiores, como barragens, por exemplo.
Sobre a atividade turística desenvolvida no litoral brasileiro, Brasil (2005) afirma que
esse segmento sofre com perceptíveis problemas estruturais, principalmente na falta ou baixa
eficiência do esgotamento sanitário, com decorrente comprometimento da balneabilidade das
praias. Já sobre o turismo ecológico e o pesqueiro, esse tipo de atividade vem, no decorrer dos
anos, transformando-se em uma das principais opções de exploração econômica de uma
região.
106
Contudo, as áreas de lazer localizadas em reservatórios e lagos enfrentam sérios
problemas, pois
[...] a poluição hídrica de represas, rios, lagos e cachoeiras representa um dosmais impactantes danos causados pelo crescimento descontrolado deatividades de turismo e recreação, devido ao lançamento de esgotos e àgeração de resíduos em embarcações de recreio, que expelem gases, óleos egraxas, determinada pela ineficiência ou falta de coleta de lixo e pela falta deorientação dos próprios usuários (BRASIL, 2005, p. 19-20).
Observa-se que a legislação brasileira deixa claro que a água é um dos principais
recursos da natureza, sendo que, sem o seu uso racional, é impossível desenvolver
satisfatoriamente a humanidade e as atividades econômicas voltadas ao lazer. Dessa forma, é
importante que as leis e sanções previstas sejam aplicadas rigorosamente, nos casos que sejam
identificados abusos na utilização de fontes aquíferas públicas.
São muitos os reservatórios de água caracterizados para o aproveitamento da
atividade turística no Brasil, tendo como critério principal sua beleza paisagística e a
qualidade da água, tais como: Serra da Mesa (Goiás); Lajeado (Tocantins); Tucuruí (Pará);
Três Marias (Minas Gerais); Sobradinho (Bahia); Xingó (situada na divisa entre Alagoas e
Sergipe); Furnas (envolvendo Estados de Minas Gerais e São Paulo); Itaipu (Paraná);
Caconde (São Paulo); Promissão (São Paulo) e Paranoá (Distrito Federal).
O segmento turístico que mais se destaca com relação ao uso de recursos hídricos,
como forma de desenvolvimento, é o turismo de lazer de sol e praia, destacando-se os
destinos turísticos já consolidados, tais como: Natal (Rio Grande do Norte), Porto; Seguro
(Bahia); Recife (Pernambuco); Florianópolis (Santa Catarina); entre outros.
Diverso e repleto de beleza cênica, os destinos turísticos respaldados tanto em
atrativos culturais, como ambientais, sofrem nas férias de verão com a superlotação, pois a
infraestrutura básica não comporta o aumento excessivo de habitantes e visitantes,
ocasionando na incapacidade de tratamento das águas residuárias, reduzindo a qualidade das
águas, podendo comprometer a atividade turística.
No Piauí, a busca por lazer e turismo em recursos hídricos é grande, podendo ser
observado o movimento de visitantes rumo ao litoral piauiense, mas as lagoas, barragens,
cachoeiras, açudes e rios também são muito frequentados, o ano todo, tendo como exemplo: a
Cachoeira do Urubu em Esperantina/Batalha, o açude Caldeirão em Piripiri, o balneário
Corredores em Campo Maior, a barragem do Bezerro em José de Freitas, o balneário Curva
São Paulo em Teresina, balneário Natal em monsenhor Gil, os Poços Jorrantes de Cristino
107
Castro, a imensa lagoa de Parnaguá, o balneário Mesa de Pedra em Valença, entre outros,
assim como a Barragem Piracuruca.
6.3 A Barragem Piracuruca e seu entorno
O potencial para atividades de lazer existente em açudes e barragens faz com que
esses locais representem uma opção para o desenvolvimento turístico regional. Segundo
Barreto (2005, p. 83), “dependendo do estado de limpeza da água, da periculosidade das
correntes, profundidade ou da situação geográfica, os lagos e as represas podem ser usados
para a prática da pesca ou de esportes náuticos”.
A bacia do rio Parnaíba possuía 19 barragens, com capacidade acima de
10.000.000m³ (BRASIL, 2006b), sendo que destas, nove eram administradas pela Companhia
de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI): Algodões I, 59.100.000m³; Piracuruca,
250.000.000m³; Corredores, 63.300.000m³; Bezerro, 11.000.000m³; Mesa de Pedra,
55.700.000m³; Salinas, 385.000.000m³; Pedra Redonda, 216.000.000m³; Poços,
43.000.000m³; Algodões II, 247.000.000m³; oito pelo Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas (DNOCS): Petrônio Portela, 181.200.000m³; Jenipapo, 248.000.000m³;
Ingazeiras, 25.700.000m³; Estreito, 19.300.000m³; Barreiras, 52.800.000m³; Cajazeiras,
24.700.000m³; Caldeirão, 54.000.000m³; uma pela Águas e Esgotos do Piauí S/A
(AGESPISA): Salgadinha, 25.000.000m³; uma pela Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (COGERH): Carnaúbal, 87.700.000m³; e uma pela Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF): Boa Esperança, 5000.000.000m³.
Entre as barragens localizadas no território piauiense, a Barragem Piracuruca é o
terceiro maior reservatório de água do Estado, menor apenas que Boa Esperança e Salinas,
atraindo muitos turistas durante todo o ano. Esse local gera oportunidades de emprego e renda
à população, mesmo não sendo o turismo o principal objetivo da construção da barragem.
A região onde foi construída a barragem, tem como principal característica a pouca
profundidade do solo. A formação tectônica é preenchida por rochas formadas por
sedimentação, começando seu processo de consolidação na Era Siluriana (PIAUÍ, 1987).
O clima do local é classificado como Aw', quente e úmido, com chuvas que ocorrem
de verão a outono, com um inverno muito seco. Assim, na região da Barragem Piracuruca, a
média pluviométrica é de 1.378 mm anuais, sendo que o nível de precipitação maior é de
janeiro a agosto e de agosto a outubro; pela falta de chuva, há um clima seco. Isso faz com
108
que a temperatura de todo o município de Piracuruca fique em torno de 27,7ºC, não tendo
muitas variações dentro do ano (PIAUÍ, 1987).
Geomorfologicamente, a área da barragem tem drenagem dentrítica aberta, sendo
composta por interflúvios escalonados e planos. Onde há planícies fluviais (na extensão do rio
Piracuruca), o padrão geomorfológico é estreito e pouco significativo. Sobre a área do
reservatório, localiza-se na porção oeste da Bacia do Meio-Norte, ou Bacia do Parnaíba. Essa
bacia tem como principal característica seu tamanho, e por estar em uma rasa depressão
tectônica, sendo que em sua extensão norte-sul ela comporta rochas de origem sedimentar.
Segundo Silva Filho (2002), na flora da região há predominância do tipo Campo
Cerrado, sendo que em áreas de maior fertilidade, identificam-se em menor escala as Florestas
Subcaducifólias. Em outras áreas de solo raso são observadas espécies de Caatinga Arbustiva,
e próximo aos cursos d’água há representantes de Floresta Ciliar de Carnaúba. No entorno da
barragem a vegetação é bastante densa (Figura 6.2).
Figura 6.2: Vegetação no entorno da BarragemFonte: Roberta Ferreira (2010).
A fauna terrestre não é tão abundante, destacando-se: Vulpesvulpes (raposa);
Euphractussexcintus (peba); Caveaaperea (preá); Cyclopesdidactylus (mambira);
Crotalusterrificus (cascavel) Procyoncancrivorous (guaxinim); Dasypusnovencinctus (tatu);
Pantherapardalis (maracajá); Mazama americana (veado); Pantherauncia (onça). Já a fauna
109
alada é mais abundante, tais como: Uropeliscampestris (rolinha); Tinamussp. (nambu);
Zenaidaauriculata (avoante); Leptoptilarufaxilla (juriti); Crotophagaani (anum preto);
serinuscanarius (canário); Columbapicaruzo (asa branca); Volaturiajacarina (chico preto);
Penelopesuperciliaris (jacu); Pitangussulphuratus (bem-te-vi). A fauna aquática é composta
pelas espécies: Hopliasmalabaricus (traíra); Sorubim sp. (surubim); Prochilodusvimboides
(curimatá); Leporinus sp. (piau); Ageneiosusbrevifilis (mandi); Pygocentrusnattereri
(piranha); Pseudoplantystomacuruscans (pintado); Trachycorystisstriatulus (cangati);
Mylossamaduriventris (pacu); Anoduslationsp (branquinha) (PIAUÍ, 1987, p. 38-39).
Em janeiro de 1987, o Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria Estadual de
Planejamento (SEPLAN) e da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí
(FUNDAÇÃO CEPRO) contratou a empresa de Serviços Integrados de Assessoria e
Consultoria (SIRAC), para realizar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA) para a construção da Barragem Piracuruca; no RIMA encontra-se
exposto que a “implantação da Barragem Piracuruca e a subsequente formação do lago,
principalmente por sua pouca expressiva lâmina d’água, tem impactos praticamente
desprezíveis sobre a geologia da área” (PIAUÍ, 1987, p. 100). Mas o relatório também
enfatizou que os impactos sobre a flora são inevitáveis; contudo, encontram considerável
amortecimento e gradual reequilíbrio, através de medidas propostas pelo próprio estudo.
Construída com recursos do Governo Federal, posteriormente passou para o controle
do Governo do Estado, através da extinta Companhia de Desenvolvimento do Piauí
(COMDEPI), absorvida pela Empresa de Gestão de Recursos do Piauí (EMGERPI). A obra
foi concluída em dezembro de 1997 (PIAUÍ, 1997), mas inaugurada antes de sua conclusão,
em 08 de maio de 1996 (MACHADO, 2008).
A barragem foi edificada no rio Piracuruca (Figura 6.3), principal curso d’água
municipal, que nasce na Serra da Ibiapaba, a uma altitude em torno de 650 metros. Sua
nascente fica compreendida entre o Serrote do Angical e a Serra dos Borges. No Estado do
Ceará, o rio tem o nome de Arabé e sua foz está localizada na Barra do Piracuruca, onde
alimenta o rio Longá. O rio Piracuruca, em toda a sua extensão, atravessa os municípios de
São Benedito (no Ceará), Domingos Mourão, São João da Fronteira, Brasileira, Piracuruca e
São José do Divino, na região norte do Piauí (MACHADO, 2008).
110
Figura 6.3: Visão de satélite da Barragem Piracuruca, PiauíFonte: Google Earth, 2010.
A capacidade para armazenamento da barragem é de 250.000.000 m³ de água,
cobrindo uma área de aproximadamente 5.000 hectares, a Barragem Piracuruca é considerada
como o maior reservatório do município, e o terceiro maior do Estado do Piauí. É utilizada
para o abastecimento de água, de pesca, e usada como forma de lazer pela população local e
por visitantes. Dispõe, ainda, de belezas naturais, como: recantos, ilhas, ninhais e mirante
(Figura 6.4), demonstrando assim, seu potencial turístico em construção, com observância da
prudência e diligência dos administradores públicos e seus usuários.
Figura 6.4: Visão parcial da Barragem PiracurucaFonte: Roberta Ferreira (2010).
111
Com a construção da barragem, o Governo do Estado do Piauí, através da
Companhia de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI), contratou a Consultoria e
Planejamento (CONSPLAN) para realizar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatório de Impacto Ambienta (RIMA) do projeto de irrigação de Piracuruca; o mesmo
permitiu avaliar, com rigor, as alterações provocadas em decorrência do projeto, no meio
terrestre (solos, vegetação, fauna e relevo), no meio aquático (qualidade da água e fauna
aquática) e meio socioeconômico (CONSPLAN, 1990). Como resultado, o projeto traria
poucos impactos negativos e mais possibilidades de desenvolvimento. Até o ano de 2010 o
projeto não havia sido executado, encontrando-se estagnado desde a concepção da construção
da barragem.
A população do entorno da barragem é constituída, em sua maioria, por moradores,
alguns comerciantes que exploram o turismo local, e com algumas casas de veraneio. No
entorno da Barragem Piracuruca moram 90 famílias, que convivem com a barragem em seu
dia a dia; os mesmos dispõem de plantios de hortaliças e de lavouras de subsistência (Figura
6.5), da criação de animais de pequeno porte (Figura 6.6), e da pesca. Uma grande maioria da
população ribeirinha que sobrevive da pesca profissional é associada à Colônia de Pescadores
Z-05 de Piracuruca.
Figura 6.5: Agricultura de subsistência dasfamílias do entorno da barragem Piracuruca
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 6.6: Criação de animais de pequenoporte no entorno da Barragem Piracuruca
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Outra característica interessante, sobre a ocupação em volta da área da barragem, são
as grandes casas de veraneio (Figura 6.7), que chegam a aproximadamente 50, cujos
proprietários se fazem mais presentes nos períodos propícios ao fluxo turístico, tais como
férias e finais de semana prolongados por feriados. As casas se aglomeram mais próximas do
principal balneário da Barragem Piracuruca.
112
Segundo Macedo (2002, p. 181), este tipo “[...] de ocupação também urbana, é
destinada fundamentalmente para o veraneio, para o turismo de férias de amplos continentes
sociais, abarcando os segmentos mais ricos da população brasileira (da crescente classe média
às elites)”. Trata-se do fenômeno turístico da segunda residência, relacionada, principalmente,
à costa marítima, lagos e cursos de rios.
Figura 6.7: Casas de veraneioFonte: Roberta Ferreira (2010).
Os bares situados no entorno da barragem (cerca de 10 estabelecimentos), são de
características simples (Figura 6.8), embora a Empresa de Gestão de Recursos do Piauí
(EMGERPI) esteja construindo um balneário (Figura 6.9), com maior infraestrutura para
receber bem os visitantes que buscam momentos de lazer e descontração.
Figura 6.8: Bar e restaurante próximo abarragem
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 6.9: Balneário da EMGERPI emconstrução, ao fundo, antigo bar e restaurante, emfuncionamento, aguardando a nova infraestrutura
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
113
6.4 Possibilidades, limitações e impactos das atividades de lazer e turismo na Barragem
Piracuruca
Espaço e lazer são dois termos diferentes, mas que aparentam ser familiares. Espaço,
enquanto unidade geométrica (área ou volume) é uma quantidade mensurável e precisa, em
outras palavras significa lugar (room) (TUAN, 1980). Já o lazer pode ser compreendido como
uma ou mais atividades que a pessoa pratica, visando sua fruição, descanso, recreio, ou
mesmo para ampliar seus conhecimentos, onde não estão envolvidos obrigações das
atividades do trabalho (DUMAZEDIER, 1973).
Turismo, espaço e lazer são dimensões contíguas que se justapõem, proporcionando
alternativas de alívio do estresse do cotidiano. Nessa perspectiva, salienta-se o uso das
barragens para o lazer e o turismo como uma excelente opção.
Ferreira (2007, p. 167) define barragem como, “estrutura construída num vale e que
o fecha transversalmente, proporcionando um represamento de água”, sendo o mesmo que
represa. A criação das barragens tem gerado conflitos em virtude das formas de
desapropriação das famílias locais, para a instalação das barragens. Temas sociais,
envolvendo esses problemas, requerem a participação de movimentos sociais para
reivindicação dos direitos das pessoas atingidas por suas instalações.
As barragens também propiciam benefícios com sua construção, tais como o controle
de enchentes, o abastecimento d’água, a irrigação, a geração de energia, a navegação, a pesca,
a recreação, entre outros. Se bem planejados, podem promover o desenvolvimento sustentável
ambiental, além do desenvolvimento econômico e social das famílias autóctones.
Dessa maneira, o conhecimento da fonte hídrica é o principal passo para a gestão
eficaz das águas. A utilização de barragens e o contexto que as envolvem têm despertado a
atenção de inúmeros setores, como a indústria do turismo, o setor público, bem como os
turistas. Na visão de Leme (2007, p. 74),
com a introdução de um grande volume de água para a construção de umarepresa, é alterado não somente o clima, a vegetação, a ocupação da área,mas também a estética e as possibilidades de uso do local, como para a pescae prática de esportes náuticos. Este fato acaba por gerar uma novaperspectiva sobre o território, a de sua apropriação para o lazer, moldandotambém novos lugares.
114
Leal e Guimarães (2009, p. 105) ressaltam os impactos negativos que uma atividade
de lazer pode trazer para uma fonte aquífera, e as principais medidas que podem ser tomadas
para evitar o agravamento desse quadro. Segundo os autores,
diante de situações críticas que atingem muitas localidades, provocando aescassez relativa da água, e da necessidade imperiosa de se tentar reverteresse quadro de intensa degradação ambiental, enfatiza-se a urgência derealização de programas e projetos de Educação Ambiental e de estudos apartir da bacia hidrográfica local, valorizando os trabalhos de campo, comouma estratégia para compreender os processos atuantes e buscar os caminhospara reduzir os impactos das ações antrópicas ou dos desastres naturais.
Por ser o Brasil um país rico em belezas naturais e recursos hídricos, alguns
reservatórios d’água, construídos para a geração de energia elétrica, passaram a ser buscados
como alternativa de lazer e turismo (Quadro 6.1). Segundo Almeida, Viana e Alves (2007, p.
3) “os corpos d’água oferecem várias alternativas de turismo e recreação, por meio de
atividades como esportes aquáticos, pesca e navegação esportiva [...], casas de veraneio,
acampamento, trekking, pesca, piquenique, observação de pássaros e banho de sol. As
atividades de lazer e turismo dependem das dimensões do espelho d’água e da qualidade da
água”.
Reservatório Áreainundada
(km²)
Perímetro(km)
Rio UF Município
Sobradinho 4.214 1.352 SãoFrancisco
BA Casa Nova, Juazeiro
Tucuruí 2.430 8.396(incluindo
todas as ilhas)
Tocantins PA Tucuruí
Serra da Mesa 1.784 3898 Tocantins GO MinaçuFurnas 1.442 3.500 Grande SP,
MGSão João da Barra,
AlpinópolisItaipú 1.350 1.400 Paraná PR Foz do Iguaçu
Três Marias 1.009 2.297 SãoFrancisco
MG Três Marias
Lajeado (Luís EduardoMagalhães)
626 1.164 Tocantins TO Lajeado
*Promissão 530 1.423 Tietê SP PromissãoXingó 60 65 São
FranciscoAL,SE
Piranhas,Canindé de São
FranciscoCaconde 31 269 Pardo SP São José do Rio
PardoParanoá 40 80 Paranoá DF Brasília
Quadro 6.1: Principais reservatórios nacionais para aproveitamento turísticoFonte: (BRASIL, 2005, p. 22) adaptado para incluir o Reservatório de *Promissão.
115
Em ambos os reservatórios, os tipos de turismo desenvolvidos são sempre baseados
nos recursos ambientais, em especial a água: ecoturismo, turismo de esportes, turismo de
pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia, com atividades de lazer
relacionadas ao banho de sol e em praias fluviais, canyons, cachoeiras e riachos, pesca,
passeio de barcos e chalanas, caminhadas em trilhas ecológicas e mirantes, canoagem,
iatismo, banana-boat, jetski, rafting, canyoning, trekking com tirolesa, mountain bike e
motocross, boiacross, wakeboard e rappel, com infraestrutura nos terminais turísticos, praias
artificiais, clubes e bases náuticas, bares e restaurantes (BRASIL, 2005). As praias fluviais
formadas pelos reservatórios são procuradas por turistas durante o ano todo (MENEGUEL,
2010).
Com relação ao turismo de lazer em lagos e reservatórios, Pertille e Lanzer (2006, p.
6) afirmam que é possível observar “[...] um crescimento vertiginoso, em especial nos
reservatórios de hidrelétricas [...] no lago da Itaipu Binacional, localizados nos municípios de
Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Missal,
Marechal Cândido Rondon e Santa Helena”.
Müller (1995) se reportando aos estudos elaborados pela Eletrobras em 1977, sobre
89 grandes represas, diz que: dos 14 possíveis usos das águas represadas, os cinco primeiros
têm a ver com a recreação, tais como: pesca amadora, acampamentos, caça, esportes aquáticos
e turismo.
No caso da Barragem Piracuruca, situada no município de mesmo nome, não é
diferente. A mesma é procurada em boa parte do ano, possibilitando realizar atividades de
lazer e turismo em contato com o meio natural, destacando-se banhos aquáticos e de sol,
pesca, mirante, campeonato de jetski, show acústico (Figura 6.10 e 6.11). Outras atividades
também podem ser executadas, desde que haja uma logística de estruturação e de
infraestrutura, tais como: iatismo, banana-boat, uso recreativo de jetski, mountain bike e
motocross, wakeboard (esporte aquático praticado com uma prancha tipo snowboard, puxado
por uma lancha), competições esportivas, camping, observação de animais, em especial de
pássaros, passeios de barcos e canoas, caminhadas em trilhas ecológicas, apresentações
artísticas e culturais, atividades esportivas (natação recreacional, hidrocapoeira, acquavolley e
o handebol aquático), encontros da terceira idade, confraternizações, entre outros, podendo
desempenhar um ótimo papel no desenvolvimento do turismo e de atividades de lazer.
Mostrando-se favorável ao desenvolvimento do ecoturismo, turismo de esportes, turismo de
pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia.
116
Figura 6.10: Banho de sol e no lago da BarragemFoto: Roberta Ferreira (2010)
Figura 6.11: Bate papo, descontraçãoe lazer na Barragem PiracurucaFoto: Roberta Ferreira (2010)
Por estar a barragem situada em um município que se destaca, turisticamente, por seu
conjunto arquitetônico, pelas diversas manifestações culturais existentes, pelos atrativos
naturais da região, como o Parque Nacional de Sete Cidades e pela potencialidade de lazer e
recreação propiciada pela Barragem de Piracuruca, ideal para o contato com o meio natural,
favorecendo atividades de aventuras, sossego, paz e lazer, também é possível desenvolver, no
entorno dos mesmos (barragem e município), o turismo rural, turismo cultural, turismo social,
e turismo de estudos e intercâmbio, favorecendo assim a educação cultural e ambiental,
fazendo com que o turismo possa ser uma alternativa econômica para os moradores do local.
A maior movimentação na barragem (Figura 6.12) ocorre nos períodos de fins de
semana prolongados por feriados, nos meses de junho e julho e nas festividades de final de
ano, que têm início em dezembro, se estendendo até o final de fevereiro ou início de março,
com os festejos do Carnaval. Percebe-se, então, que de alguma forma os visitantes buscam na
barragem opções de lazer, praticamente o ano inteiro.
Foram realizadas três etapas do Circuito Piauiense de Jet-Ski nas águas represadas da
barragem, sendo a primeira no ano de 2007, a segunda em 2008 e a terceira em 2009, o que
elevou o contingente de visitantes no período de apresentação dos competidores (Figura 6.13),
com a participação de várias equipes de ambos os sexos. Evento realizado pela iniciativa
privada, contando com a parceria da iniciativa pública (prefeitura municipal). No ano de 2010
não foram realizadas competições esportivas na barragem, devido à realização de reparos em
sua parede de contenção das águas.
117
Figura 6.12: Movimentação turística naBarragem Piracuruca
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 6.13: Prática esportiva na BarragemPiracuruca
Fonte: Roberta Ferreira (2009)
Fatores limitantes são perceptíveis ao desenvolvimento de atividades de lazer e
turismo na Barragem e no seu entorno. Falta compromisso por parte do setor público na
implementação de infraestrutura e estruturação de políticas públicas, participação da iniciativa
privada no envolvimento com a atividade turística, planejamento turístico participativo de
médio e longo prazo, envolvendo a comunidade na pauta de discussão referente ao turismo,
sensibilidade e educação ambiental, sendo os entraves mais urgentes.
Devido a falta de controle e planejamento da atividade turística no entorno da
Barragem Piracuruca, não se dispõe de uma quantidade real de visitantes, por mês, na
barragem. Mas, respaldando-se na quantidade de veículos estacionados no local, pôde-se
mensurar uma quantidade de aproximadamente 600 visitantes por mês, incluindo (alta/baixa)
temporada.
Embora a ocupação de áreas naturais com foco no lazer e no turismo favoreça o
bem-estar pessoal e a qualidade de vida dos seus ocupantes, podendo gerar riquezas para o
município como um todo, o mesmo também pode gerar impactos negativos: econômicos,
socioculturais e ambientais em todos os recursos naturais (terra, água, flora e fauna), tais
como: redução do espaço natural livre, e a poluição de aquíferos pela deposição de lixo e
esgoto. Isso ocorre, em grande parte, devido à falta de planejamento da atividade turística e de
um programa de educação ambiental. “Todos os impactos identificados podem ser mitigados
ou potencializados, conforme o caso” (BRITO et al., 2002, p. 355).
A paisagem no entorno da Barragem, mudou devido ao uso do solo e a cobertura
vegetal. Anterior à construção da barragem situavam-se poucas casas de médio a grande porte
no entorno do rio Piracuruca (PIAUÍ, 1987). Com o passar dos anos as casas de veraneio se
118
expandiram de maneira significativa, após a construção da barragem, prevendo-se uma
densidade demográfica alta em pouco tempo, impermeabilizando o solo, removendo porções
de terra e a redução da mata ciliar (desmatamento), o que tem sido provocada com
intensidade, e não deixa de provocar o assoreamento do rio Piracuruca, causando riscos de
contaminação do lençol freático, devido à construção de fossas, podendo causar muitos danos
ao meio ambiente.
Com a propagação de casas de veraneio, reduziu-se os plantios de lavouras de
subsistência e a criação de animais de pequeno porte próximos à Barragem. A quantidade de
casas de veraneio no entorno da barragem tem prosperado a intensa especulação imobiliária
da área, promovida, sobretudo, pelas oportunidades de lazer encontradas na região, e pela
proximidade para com as águas.
Migliorini et al., (2010, p. 137), estudando a necessidade de se planejar o uso
turístico do lago do reservatório da usina Salto Osório no Paraná, também diagnosticaram que
“[...] muitas residências existentes às margens do lago foram construídas encostadas no
reservatório, o que significa que os proprietários não estavam preocupados em respeitar e
preservar o meio ambiente, mas sim em usufruir ao máximo deste local”.
Foi observada a ocorrência de alguns problemas ambientais, que podem culminar em
uma possível poluição das águas da barragem, pelo lançamento de dejetos no reservatório por
moradores do entorno, veranistas, visitantes e proprietários de bares e restaurantes (Figura
6.14 e 6.15). Não havendo saneamento básico, o descarte e a falta de tratamento do esgoto e
dos resíduos sólidos, que se acumulam às margens da barragem, podem contribuir para a
propagação de vermes e doenças para a saúde da população que usa as águas da barragem,
seja para o lazer ou para consumo próprio (OMT, 2003). O acúmulo de lixo traz um aspecto
incompatível com a atividade turística, pois expressa a carência de uma conscientização
ambiental por parte das pessoas que usufruem desse bem público e da gestão municipal.
119
Figura 6.14: Acúmulo de lixo àsmargens da barragem
Fonte: Roberta Ferreira (2010).
Figura 6.15: Lançamento de dejetos noreservatório
Fonte: Roberta Ferreira (2010).
O uso de equipamentos náuticos para a prática de esportes como: os barcos a motor e
os jetski (pouco usado, na maioria das vezes nas etapas estaduais, que acontecem uma vez ao
ano), lançam óleos e graxas no lago.
6.5 Considerações finais
O turismo é uma atividade que de certa forma se apropria de lugares e espaços,
criando e recriando lugares com possibilidades de lazer e turismo. A prática de atividades de
lazer em qualquer localidade, além de dinamizar o turismo regional, mostra-se necessária para
o bem-estar das pessoas, sejam turistas ou moradores, que dependem diretamente do atrativo
turístico.
A atividade turística atuante no meio ambiente ganhou vigor com a valorização das
paisagens naturais e com o ambientalismo contemporâneo, passando a ser a barragem
Piracuruca uma possibilidade para o incremento econômico. A Barragem Piracuruca, tendo
como atrativo suas belezas naturais, dispõe de boas condições para desenvolver o turismo
local, o que deve ser feito com prudência e diligência por parte da administração pública e
pelos próprios visitantes.
120
No entanto, é preciso uma nova visão de preservação do patrimônio, para que o
turismo seja uma das principais ferramentas de desenvolvimento sustentável, onde deve
cuidar, primordialmente, da qualidade dos recursos ambientais, sendo que estes, na maioria
dos casos, são de usufruto de todos, pois o patrimônio ambiental é a base para o turismo,
possibilitando também o desenvolvimento econômico das regiões que contemplam barragens,
bem como oportunizando atrativos turísticos de qualidade à população.
Os banhos aquáticos e de sol, pesca, mirante, campeonato de jetski, show acústico,
são atividades realizadas na Barragem Piracuruca, tendo a mesma outras possibilidades que
podem ser executadas, desde que haja uma logística de estruturação e de infraestrutura, tais
como: iatismo, banana-boat, mountain bike e motocross, wakeboard, competições esportivas,
camping, observação de animais, em especial de pássaros, passeios de barcos e canoas,
caminhadas em trilhas ecológicas, apresentações artísticas e culturais, atividades esportivas
(natação recreacional, hidrocapoeira, acquavolley e o handebol aquático), encontros da
terceira idade, confraternizações, entre outros, podem desempenhar um ótimo papel no
desenvolvimento do turismo e de atividades de lazer.
A barragem sofre constantemente com o problema do lixo e despejo indevido de
esgoto em suas águas, o que aumentou os riscos à saúde da população e dos visitantes. Além
disso, notou-se que a população piracuruquense mais carente está vivenciando um processo de
“marginalização territorial”, no qual as casas mais pobres estão sendo afastadas da barragem,
substituídas por construções mais luxuosas, o que demonstrou uma grande especulação
imobiliária em toda a extensão da construção, o que não deixa de ser limitação ao
desenvolvimento do turismo, assim como a falta de infraestrutura adequada. Nesse caso, a
administração pública deve atender a todos que têm a Barragem Piracuruca como um espaço
de lazer ou de sustento, sempre levando em consideração que a economia local depende
intrinsecamente da efetiva gestão desse bem público, aliada à preservação ambiental.
A atividade turística, associada a outros usos dos recursos hídricos na maioria dos
reservatórios no Brasil, ainda ocorre de forma desordenada e despreocupada, provocando
impactos ambientais negativos. Verificou-se que a Barragem Piracuruca é compatível com a
inserção de práticas de lazer e turismo, mas necessita, além de tudo, de uma boa
administração em prol da preservação da qualidade ambiental.
Os danos ambientais provocados pelas atividades de lazer desenvolvidas na
Barragem Piracuruca, detectados pela presente pesquisa, ainda não são alarmantes, mas
podem se tornar drásticos, em um futuro bem próximo, caso a administração pública, com
apoio da sociedade civil, não voltem suas atenções para a questão. Também é preocupante a
121
falta de saneamento básico no entorno da barragem, assim como o desmatamento, para a
construção de casas e para o cultivo da agricultura de subsistência.
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Secção 7
USO E APROPRIAÇÃO DA BARRAGEM PIRACURUCA NO ESTADO DO PIAUÍ
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USO E APROPRIAÇÃO DA BARRAGEM PIRACURUCA
Roberta Celestino Ferreira9; Wilza Gomes Reis Lopes10; José Luis Lopes Araújo11
Resumo
É percebida, em muitos locais destinados ao lazer, a necessidade de um planejamentoparticipativo voltado para a área do turismo, como é o caso da Barragem Piracuruca,localizada no município de Piracuruca, Estado do Piauí. Dessa maneira, o presente trabalhotem como objetivo caracterizar o perfil e a percepção dos visitantes, dos prestadores deserviços, dos proprietários de casas de veraneio e da população do entorno da BarragemPiracuruca sobre a atividade turística e sua contribuição para o desenvolvimento local. Paraauxiliar o objetivo do estudo, realizou uma revisão bibliográfica em estudos que viabilizassema construção da fundamentação do mesmo. Já a pesquisa de campo embasou-se emobservação direta, no local de estudo, pelo registro fotográfico, pela coleta de dados, e pormeio de aplicação de formulários com perguntas abertas e fechadas. Houve também umaentrevista com uma representante da Secretaria Estadual de Turismo (SETUR). Foramelaborados quatro modelos de formulários: um para visitantes, um para os proprietários decasas de veraneio, um para os donos de bares no entorno da Barragem Piracuruca e outro paraos moradores do entorno da barragem. Todos os formulários visavam investigar o perfil e apercepção sobre a atividade turística na Barragem Piracuruca. Aplicou-se dez questionáriosaos comerciantes no entorno da barragem, quarenta e cinco nas casas de veraneio, setenta equatro questionários em residências localizadas no entorno da barragem e 235 com visitantes.Através da pesquisa direta, o estudo comprovou que a atividade turística desenvolvida naBarragem Piracuruca, apresenta impactos negativos e positivos. Com relação aos impactospositivos, a atividade de lazer e turismo na Barragem, pode contribuir para uma melhorqualidade de vida da população local e dos visitantes, geração de empregos e renda; osimpactos negativos estão relacionados à degradação do meio natural e à sazonalidade, fatoresmomentâneos mais preocupantes. Os problemas podem ser suplantados através da mudançade postura diante da questão ambiental, em que tal mudança só pode ser conseguida atravésde um planejamento turístico que vise a preservação da natureza, incluindo a educaçãoambiental, e que leve em consideração a percepção ambiental da sociedade no processo deconstrução de um desenvolvimento local sustentável. Os entrevistados reconhecem que odesenvolvimento do turismo na Barragem Piracuruca pode contribuir para a criação deempregos e renda, que é preciso preservar o meio ambiente, porque muitas famílias dependemda região para seu sustento e abastecimento de água. O local é agradável à visitação,simplesmente por conferir aos visitantes uma boa alternativa para entrar em contato com anatureza. Falta infraestrutura (conclusão do Balneário e da estrada de acesso a mesma) econdições de higiene. Mesmo entendendo que degradação da natureza e o descarte indevidodo lixo trazem impactos em longo prazo, ainda existem pessoas que se omitem em tomar umaposição racional e harmoniosa com o local em que se encontra inserido ou visitando.
Palavras-chave: Planejamento turístico. Percepção ambiental. Barragem Piracuruca.
9Turismóloga, mestranda do PRODEMA/UFPI ([email protected]).10 Professora do Departamento de Construção Civil e Arquitetura e do Programa de Pós-Graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFPI ([email protected]).11 Professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e MeioAmbiente – PRODEMA/UFPI ([email protected])
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Abstract
The need of a participative planning related to tourism is perceived in several places destinedto leisure, as the example of Piracuruca Dam, located in Piracuruca county, Piauí state. Thus,this paper has the objective to characterize profile and perception of visitors, servicerenderers, summer holiday facilities’ owners and population of Piracuruca Dam neighborhoodabout touristic activity and its contribution for local development. In order to reach thisobjective, bibliographic research was realized on studies for foundation. Field research wasbased on direct observation on study place, by photographic registering, data gathering andquestionary application with simple and complex questions. An interview with arepresentative of Tourism Government Bureau (SETUR) was also made. It was performedfour types of form: one for visitors, one for summer holiday facilities’ owners, one for bars’owners, and other one for dwellers on dam neighborhood. All forms had the goal ofinvestigate profile and perception about touristic activity on Piracuruca Dam. Tenquestionaries were applied with merchants, forty-five with summer holiday facilities’ owners,seventy-four with dwellers and two-hundred thirty-five with visitors. By direct research, thestudy confirmed that touristic activity developed in Piracuruca Dam presents negative andpositive impacts. As for positive impacts, it was found that leisure and tourism activity ondam can contribute for a better life quality of local population and visitors, as well asemployment and income generation; on the other hand, negative impacts are related toenvironment degradation and seasonality of activity, considered temporary but serious factors.Problems can be solved by change of behavior in face of environmental question, by atouristic planning with the goal of nature preservation, including environmental education,considering society perception in the process of sustainable local development construction.Interviewed persons recognize that tourism development on Piracuruca Dam can contributefor employment and income generation and that environment preservation is necessary,because several families depend upon this region for its survival and water supply. This placeis pleasant for visiting, simply to allow a good alternative for visitors’ contact with nature.However, there is incomplete infrastructure (of bathing place and road for access) and badhygiene conditions. Even comprehending that nature degradation and garbage inadequatedisposition cause negative impacts for long term, there are still people that omit on taking arational and harmonious position in relation to the place which is visiting or living on.
Keywords:Touristic Planning. Environmental. Perception. Piracuruca Dam.
7.1 Introdução
As atividades de lazer, geralmente são importantes para o desenvolvimento social e
econômico de uma região. Contudo, com o crescimento da prática turística em todo o Brasil,
o turismo assume a responsabilidade de aliar suas atividades com a questão da preservação
ambiental e do desenvolvimento sustentável.
Mas, para se alcançar o devido equilíbrio entre o turismo e os conceitos de
desenvolvimento sustentável, deve existir a organização das atividades de lazer, a partir de um
planejamento que leve em consideração a conservação da natureza e o desenvolvimento social
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e econômico. Para tanto, o planejamento turístico deve ser sustentado por políticas públicas de
qualidade, para que suas ações não sejam fragmentadas. Contudo, a população local e os
visitantes, como agentes sociais, têm que ter participação na construção do planejamento, a
partir de sua percepção ambiental, criada a partir da convivência com o espaço de lazer
visitado.
Em muitos lugares destinados às atividades de lazer, observa-se a necessidade de
inserção do planejamento participativo voltado para a área do turismo, como é o caso da
Barragem Piracuruca, usada como espaço de lazer e turismo, localizada no município de
Piracuruca, Estado do Piauí. Segundo o censo do IBGE (2010), o município de Piracuruca
abrange uma área de 2.380 km² e tem uma população total de 27.548 habitantes, configurando
uma densidade demográfica de 11,6 hab./Km².
O objetivo deste trabalho foi caracterizar o perfil e a percepção dos visitantes, dos
prestadores de serviços, dos proprietários de casas de veraneio e da população do entorno da
Barragem Piracuruca, sobre a atividade turística e sua contribuição para o desenvolvimento
local.
7.2 Procedimentos metodológicos
Para o aporte teórico, realizou-se revisão bibliográfica em estudos que viabilizassem
a construção da fundamentação do estudo em questão.
Foi realizada entrevista com gestor público da Secretária Estadual de Turismo -
SETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste - PRODETUR/NE/PI) para
identificar as políticas públicas relativas ao desenvolvimento do lazer e do turismo, com o
intuito de coletar informações relativas ao desenvolvimento do turismo e o desenvolvimento
sustentável
A pesquisa de campo foi composta pela observação direta do local em estudo, pelo
registro fotográfico e pela coleta de dados, por meio de aplicação de formulários com
perguntas abertas e fechadas, realizada nos meses de julho a setembro de 2010, considerando
que o maior fluxo de visitantes se dá no mês de julho, e posteriormente em finais de semana
com prolongamento relativo a feriados, e em datas de menores fluxos.
Durante a pesquisa foram aplicados quatro tipos de formulários (APÊNDICES A, B,
C, D), abordando os visitantes, os proprietários de casas de veraneio, os donos de bares no
entorno da Barragem Piracuruca e os moradores do entorno da barragem. Em ambos os
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formulários foram investigados o perfil (sexo, idade, escolaridade, ocupação e renda) e a
percepção sobre a atividade turística na Barragem Piracuruca.
O número de formulários aplicados aos visitantes foi conseguido pelo procedimento
da amostragem não probabilística, por conveniência ou acidental, em que, de acordo com
Braga (2007), o número da amostra é conseguido pelo que o pesquisador julgar necessário. A
amostragem não probabilística é usada quando não há idéia precisa do tamanho do universo
amostral (no caso, a quantidade de visitantes da barragem, que varia constantemente). Devido
à inexistência de dados primários e secundários sobre a demanda turística no entorno da
Barragem Piracuruca, tomou-se como base um universo de 600 visitantes por mês, devido à
estimativa realizada de acordo com a quantidade de veículos estacionados nos bares no
entorno da barragem.
Deste modo, depois de definir um possível universo populacional de visitantes da
pesquisa, utilizou-se do programa Raosoft (2010) para calcular a quantidade de questionários
que seriam aplicados, com uma margem de erro de 5%, e nível de confiança de 95%,
totalizando 235 questionários. Os questionários, assim, foram aplicados aos visitantes que
estavam nos bares no entorno da Barragem Piracuruca, com idade igual ou superior a 18 anos.
Para o cálculo das amostras dos proprietários de casas de veraneio, dos donos de
bares no entorno da Barragem Piracuruca e para os moradores do entorno da barragem foram
utilizadas informações relativas à observação direta, que contabilizou dez bares no entorno da
barragem, cinquenta casas de veraneio e noventa famílias residentes no entorno da barragem.
Deste modo, também se utilizou do programa Raosoft (2010) para calcular a
quantidade de questionários que seriam aplicados, com uma margem de erro de 5%, e nível de
confiança de 95%, totalizando assim, a partir dos universos amostrais, aplicaram-se dez
questionários aos comerciantes no entorno da barragem, quarenta e cinco nas casas de
veraneio, e setenta e quatro questionários em residências localizadas no entorno da barragem.
Sendo que, os formulários foram aplicados aos proprietários dos bares no entorno da
barragem, aos proprietários de casas de veraneio, e aos principais responsáveis pela renda das
famílias residentes no entorno da barragem, também com idade igual ou superior a 18 anos.
7.3 Planejamento turístico e percepção ambiental
O turismo é uma atividade que teve sua evolução baseada no aumento das práticas de
atividades turísticas em massa. Segundo Teles (2006), o turismo em massa é originado na
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Inglaterra, já no século XX. Com o crescimento dos fluxos de turistas por todo o mundo, uma
preocupação vem à tona: como aliar a prática turística à preservação do meio ambiente?
Nesse sentido, é necessário abordar o turismo como uma atividade que pode gerar impactos
(negativos e/ou positivos) para a natureza, merecendo, dessa maneira, um planejamento
consistente e que vise mitigar os danos ao entorno.
O planejamento na área turística, segundo Dias (2003), é o mais efetivo instrumento
para amenizar os efeitos econômicos sobre a natureza. Nesse sentido, a ação de planejar deve
vir do Estado, que é o único agente que tem poder para articular forças, a fim de planejar um
desenvolvimento do turismo aliado à preservação do meio ambiente. O turismo, participando
como uma atividade de conservação da natureza, tem condições de se tornar uma das
variáveis mais eficazes para o desenvolvimento de uma região.
Mas, para que a natureza seja protegida satisfatoriamente, o planejamento do turismo
deve equilibrar os interesses econômicos com os socioambientais, isso porque segundo
Alexandre (2003, p.11), o controle e o ato de planejar “depende diretamente de critérios,
valores subjetivos e de uma política ambiental e turística adequada”.
Quando as ações políticas não promovem o planejamento turístico, surgem inúmeros
problemas em seu desenvolvimento. O turismo sozinho, sem o auxílio governamental
satisfatório, fica à mercê de programas impróprios e que não guardam associação com a
realidade econômica, cultural e social de uma determinada região (ALEXANDRE, 2003).
Como um todo, o planejamento turístico deve criar condições para a sustentabilidade,
sendo importante frisar que tal sustentabilidade não deve ser algo utópico. Segundo Dias
(2003, p.69), o planejamento tem que ser um processo de mudança qualitativo, que permita a
elaboração de objetivos alcançáveis. Assim, identifica-se o desenvolvimento do turismo a
partir de práticas originadas da vontade política em equilibrar a “preservação do patrimônio
natural e cultural, a viabilidade econômica do turismo e a equidade social do
desenvolvimento”.
Silva e Boia (2006) contribuem para a discussão do turismo planejado ao afirmarem
que a atividade turística, para conseguir atender seus objetivos previamente planejados, tem
que almejar sair da esfera comercial (turismo visto somente como uma mercadoria) e passar a
ser visto como um fenômeno social, onde há a interação entre a cultura, a sociedade e a
natureza. O turismo, dessa forma, passa a ser percebido como um campo onde há a
aprendizagem e o sentimento de união, e não somente um cenário de desequilíbrio. Planejar o
turismo é, assim, uma contribuição para o desenvolvimento da prática racional de preservação
da natureza e da cultura.
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Operacionalmente, Petrocchi (1998) infere que o planejamento turístico só terá
sucesso se for reciclado continuamente. O sistema dentro do turismo deve garantir a qualidade
dos seus serviços dentro de uma região. Sempre corrigindo as falhas, o planejamento turístico
deve impedir, assim, que qualquer problema (seja ele ambiental, econômico ou social) venha
a comprometer a qualidade dos serviços prestados para os visitantes.
Normalmente, de acordo com Boullón (2002, p.226), para conservar o meio
ambiente, é preciso que o planejamento saiba como o turismo será promovido no ambiente
natural, “sem pensar em planejar a paisagem, porque a paisagem não é planejável, dado que é
uma subjetivação que o homem faz do ambiente natural”.
Sendo assim, o planejamento turístico irá refletir diretamente no meio ambiente,
determinando a qualidade dos serviços ofertados pela atividade turística. Então, preservar a
natureza não é somente uma questão de necessidade, é também uma forma do turismo crescer
qualitativamente e agradar aos visitantes.
A atividade turística é algo que vem crescendo desde a Revolução Industrial na
Inglaterra. Sua atuação gera uma dinamicidade na circulação de capital, o que faz com que
haja o crescimento de serviços, de produtos e de turistas dispostos a investirem em um tempo
precioso de descanso.
Contudo, para que a atividade turística obtenha sucesso nos lugares em que se
desenvolve, ela conta com uma boa estrutura, capaz de suportar o contingente de visitantes.
Tal estrutura deve ser composta, por exemplo, de hotéis, restaurantes, e de uma boa recepção,
advinda, principalmente, da população local. Para Dartora (2005) a relação entre o turista e os
demais sujeitos que oferecem ou encontram-se envolvidos com as atividades turísticas, pode
ser conceituada como percepção ambiental.
Sobre percepção, Tuan (1980, p. 4) diz que é “[...] tanto a resposta dos sentidos aos
estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente
registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados”.
Para Del Rio (1999), a percepção é uma interação do indivíduo com o meio ambiente
através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos. Para
Rodrigues (1999) a percepção e o intelecto se manifestam por meio da experiência vivida e
compartilhada, construindo o lugar na subjetividade e na intersubjetividade. A limitação dos
sentidos, aliada aos contextos histórico, ecológico e sociocultural, faz com que grupos de
pessoas compartilhem percepções próximas.
A percepção também é diferente para cada pessoa, e ela externaliza a capacidade
individual de apreender aquilo que interessa. Para Ferrara (1999, p. 264) a percepção
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ambiental é
[...] a forma de conhecimento, processo ativo de representação que vai muitoalém do se vê ou penetra pelos sentidos, mas é uma prática representativa declaras consequências sociais e culturais, que supõe uma elaboração deinformações que ocorrem no interior do indivíduo a partir de pequenasexperiências; porém são apenas possíveis e, nesse sentido, não podem serjamais previstas ou programadas.
Segundo Braga e Marcomin (2008, p. 240) “a percepção é subjetiva para cada
indivíduo, contudo há aspectos comuns em relação às percepções e às condutas”. Ao se tratar
a percepção voltada para o ambiente em volta, é comprovado que ela é construída pelo
próprio indivíduo, através da sua educação e de fatores afetivos e sensitivos originados de
relações do observador com o ambiente em que ele se encontra. “Assim, cada indivíduo
enxerga e interpreta o mundo natural de acordo com o seu próprio olhar, sua própria maneira
de ver o mundo, a partir de suas experiências prévias, expectativas e ansiedades”
(DARTORA, 2005, p. 20). Pode-se afirmar, dessa maneira, que a percepção ambiental torna-
se mais abrangente quando o visitante, por exemplo, passa a compreender melhor o meio e
suas peculiaridades socioeconômicas e culturais.
A percepção ambiental é um dado muito importante para o desenvolvimento da
atividade turística, pois com o auxílio dessa percepção refinada de cada indivíduo, o turismo
pode promover locais, paisagens, culturas e patrimônios. Portanto, como frisam Braga e
Marcomin (2008), o entendimento da natureza é determinante para a caracterização do meio,
permitindo, assim, que a percepção individual sobre um determinado lugar possa ajudar na
compreensão do relacionamento entre homem e meio ambiente.
Com relação à atividade turística, a análise da percepção ambiental pode contribuir
para a o planejamento sustentável, pois a compreensão de que as paisagens são carregadas de
significados e interesses, está relacionada com a forma que cada indivíduo percebe o mundo.
Perceber o ambiente não é pura e simplesmente conceituar o que se vê diante dos
olhos. Segundo Okamoto (1996, p.17), “o fato de estar com olhos abertos não quer dizer que
se vê a realidade, pois ela é percebida através de conceitos, símbolos, mitos, etc.”
E, como todo espaço, a natureza apresenta traços distintos, que segundo Ferrara
(1999, p.62) podem ser chamados de signos. Os signos representam a organização, a estrutura
do lugar e determinam como um turista, por exemplo, irá perceber o ambiente. Contudo, o
sentido e a percepção do lugar se darão de forma diferente para cada pessoa, pois segundo
Ferrara (1999, p. 63),
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[...] o significado não é algo fixo, transportado ou revestido pela linguagem,mas é uma propriedade do signo atualizada naquela operação que não érígida ou predeterminada, mas é apenas uma possibilidade. Sua profundidadeou eficiência dependerá do conjunto de informações que o receptor possuisobre o objeto representado e suas possibilidades de representação.
Sendo assim, ao perceber o ambiente, o indivíduo conhece o local como é
apresentado a ele, e ao mesmo tempo, o próprio indivíduo assimila todas as informações
captadas por ele. Dessa maneira, a percepção ambiental faz surgir novos pontos de vista de
um mesmo local, que faz com que surjam informações constantes e criem um cenário de
análise do próprio ambiente percebido (individual ou coletivamente).
Segundo Lynch (1997), a imagem produzida pela percepção da natureza é criada
pelo processo bilateral resultante da interação entre observador e seu ambiente. O ambiente
“mostra” suas peculiaridades e especificidades, enquanto o seu observador tem a função de
selecionar, organizar e dar um significado àquilo que ele vê.
Dessa forma, segundo Lynch (1997, p. 7),
a imagem assim desenvolvida limita e enfatiza o que é visto, enquanto aimagem em si é testada, num processo constante de interação, contra ainformação perceptiva filtrada. Desse modo, a imagem de uma determinadarealidade pode variar significativamente entre observadores diferentes. Acoerência da imagem pode manifestar-se de diversas maneiras. No objetoreal, pode haver pouca coisa ordenada ou digna de nota, mas ainda assim asua imagem mental terá adquirido identidade e organização através de umalonga familiaridade com ele. Uma pessoa pode ser capaz de encontrarobjetos com facilidade num espaço que, para qualquer outra, parecetotalmente desordenado.
Como se observa, cada indivíduo torna sua experiência de percepção algo único, em
que cada elemento é importante para a construção de uma imagem do ambiente. Na área do
turismo, a percepção ambiental é importante para a boa gestão da prática turística em qualquer
região. Os visitantes demonstram satisfação, caso a percepção deles acerca do ambiente seja
positiva.
O que normalmente determina o prazer no momento da visita são os “signos”
espalhados pelo local, como a infraestrutura, as condições de higiene, a facilidade de acesso, o
atendimento, etc. Caso a resposta a esses estímulos externos seja negativa, e o visitante não se
sinta bem com a região, a atividade turística não conseguiu alcançar seu principal objetivo,
que é o de conferir um ambiente agradável ao turista. A atividade turística conseguirá uma
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boa imagem frente ao visitante, criando assim uma boa percepção ambiental, se conseguir a
participação da comunidade local.
Em muitos locais, de acordo com Migliano, Scatena e Cunha (2002), os serviços de
turismo já são ofertados pelas próprias comunidades do local, constituindo-se como um
elemento de suma importância para a economia da região. A percepção ambiental dessas
pessoas que fazem parte do espaço de visitação também é muito importante, pois reflete,
acima de tudo, nas legítimas aspirações do povo que ali vive. O turismo é o representante de
uma relação consistente entre o desenvolvimento econômico e a natureza.
Portanto, quando se fala em percepção ambiental, têm-se inúmeras concepções,
variando de acordo com a quantidade de pessoas que desfrutam do ponto turístico. As
peculiaridades do local são percebidas de diferentes ângulos, que se analisadas de forma
coletiva, consegue-se uma visão geral das qualidades e potenciais problemas da região. É aí
que o planejamento turístico vem a auxiliar a gestão e manutenção dos espaços de interesse
social.
7.4 Perfil e percepção ambiental dos atores envolvidos na Barragem Piracuruca
A Barragem Piracuruca é um espaço de lazer situado no município de mesmo nome,
no Estado do Piauí. O município de Piracuruca abrange uma área de 2.380 km² e tem uma
população estimada de 27.548 habitantes, segundo o censo do IBGE (2010).
Piracuruca, como afirma Machado (2008), tem atrações históricas e naturais, que
impulsionam a economia local. A Barragem Piracuruca, como um dos seus principais pontos
turísticos, tem sua inauguração datada de 8 de maio de 1996. A referida construção localiza-se
ao sul do município e foi construída para servir como fonte de um campo irrigado e para
perenizar o principal rio, o Piracuruca, sendo que o primeiro objetivo ainda não foi alcançado.
A Barragem Piracuruca tem capacidade de armazenamento de 250.000.000 m³ de
água, o qual alaga uma região de, aproximadamente, 5.000 hectares, sendo o terceiro maior
reservatório do Piauí, perdendo somente para a barragem de Boa Esperança (no município de
Guadalupe) e para Salinas (no município de São Francisco do Piauí).
A Barragem é administrada pela Empresa de Gestão de Recursos do Piauí
(EMGERPI). Mesmo com deficiências de aproveitamento do seu potencial hídrico, o turismo
e outras atividades econômicas (como a pesqueira) dão a atenção merecida para essa obra que
movimentou o maior volume de recursos financeiros em solo piracuruquense.
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De acordo com a concepção de planejamento turístico e percepção ambiental, a
pesquisa direta com os visitantes, moradores, proprietários de casas de veraneio e com os
comerciantes é essencial para o entendimento das condições estruturais do desenvolvimento
do lazer e do turismo na Barragem Piracuruca. A aplicação de formulários caracterizou a
percepção dos investigados, com vistas a evidenciar os principais problemas, as qualidades e
os cuidados que podem ser tomados para a preservação ambiental na referida localidade.
A atividade turística na Barragem Piracuruca atrai visitantes de diferentes idades,
classes sociais e com visões distintas sobre a conservação do meio ambiente. O estudo traçou
um perfil socioeconômico dessas pessoas e suas concepções sobre o espaço de lazer da
barragem.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (2001), a nomenclatura “visitante”
pode ser usada para descrever os indivíduos que visitam uma localidade e não exercem nela
qualquer atividade remunerada, incluindo-se nessa definição os que são turistas e
excursionistas. Segundo Beni (2004, p 35), o turista é o visitante que passa, no mínimo, 24
horas no lugar, sendo que a viagem pode ser a lazer, a negócios, a missões ou a conferências.
Já o excursionista é o visitante temporário, que permanece menos de 24 horas no local de
visita.
A pesquisa apontou que, dos 235 visitantes investigados, 50,6% têm de 18 a 25 anos;
35,7% têm de 26 a 40; 10,6% têm de 41 a 60; e somente 3,0% têm mais de 61 anos, sendo a
maioria (53,2%) do sexo feminino, sendo que (55,3%) dos investigados são solteiros,
acompanhados de um bom percentual de pessoas casadas (34,0%).
Nesse caso, os visitantes da barragem são essencialmente jovens e adultos. Devido
aos atrativos que o meio natural oferece e a possibilidade de atividades de aventura, favorece
um maior número de visitantes jovens a essas áreas (KINKER, 2002).
Sobre a escolaridade, foi constatado que 6,8% não eram escolarizados, 8,5% tinham
o fundamental incompleto, 3,4% haviam completado o ensino fundamental, 20,9% ainda
cursavam o ensino médio, 38,7% tinham completado o ensino médio, 5,1% iniciaram o
estudo no ensino superior, 10,6% tinham concluído o curso superior e 6,0% tinham nível de
especialização, sendo o nível de instrução dos visitantes bom, pois mais da metade já havia
completado o ensino médio. A maioria dos entrevistados, ou seja, 60,4% possui o ensino
médio completo, sendo um fator relevante em relação à percepção ambiental dos mesmos
para a preservação da barragem como atrativo turístico. Dado que pode favorecer no
desenvolvimento do turismo. Além disso, Costa (1998) citado por Macedo et al. (2005, p. 3)
afirma que “a formação acadêmica dos indivíduos pode ser um fator de interferência na sua
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conscientização da conservação da natureza, pois os de maior formação tendem a ser os mais
conscientes, embora outros fatores influenciem esse grau de conscientização”.
Aliado ao desenvolvimento e preservação da barragem, a renda é fator determinante
para a continuidade da atividade turística no local. Observa-se que mais da metade dos
pesquisados (69,8%) afirmaram não ter renda superior a três salários mínimos; 13,2%
ganhavam de três a menos de 5 salários; enquanto 15,3% ganhavam de cinco a menos de sete;
1,3% tinham renda de sete a menos de nove; e apenas 0,4% afirmou ganhar mais de nove
salários mínimos. Considerando que o salário mínimo vigente equivalia a R$ 510,00, pode-se
afirmar que o visitante da barragem é essencialmente de baixa renda. A baixa renda dos
entrevistados pode favorecer a sazonalidade turística.
Com relação à principal fonte de renda dos visitantes pesquisados, pode-se perceber
que: 16,6% eram comerciantes, 5,1% eram artesãos, 5,1% agricultores, 3,4% pescadores,
21,3% tinham cargos públicos e 48,5% afirmaram ter outra profissão, como professor,
autônomo, representante, pedreiro, motorista, vigilante, entre outras.
A percepção ambiental dos visitantes também foi investigada, como forma de
demonstrar a preocupação pessoal de manter a qualidade e divulgar os atrativos da Barragem
Piracuruca para outras pessoas.
Dos 235 visitantes questionados, 4,3% disseram que, por mais que a barragem seja
um local relevante de lazer ao ar livre (Figuras 7.1 e 7.2), tal atividade não é importante para a
sociedade. Já 41,3% afirmaram que as atividades de lazer na barragem têm pouca
importância, se comparadas a outras atividades que podem ser desenvolvidas no local
(abastecimento d’água, controle de cheias, perenização do rio, extrativismo, agricultura,
pecuária, piscicultura e apicultura). E 54,5% do total consideram muito importante o lazer na
barragem, como uma forma de dinamizar econômica e culturalmente a referida região.
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Figura 7.1: Diversão e lazer em um bar erestaurante no entorno da Barragem
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 7.2: Banhista pescando na BarragemPiracuruca
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
A periodicidade de visitação na Barragem Piracuruca, entre os 235 visitantes,
demonstra que 16,2% estavam indo pela primeira vez à barragem; 10,2% a visitam
semanalmente; 8,5% iam mensalmente para o local; 19,1% demoravam cerca de um ano para
voltar; 19,6% só frequentavam no período de férias e 26,4% aproveitavam os feriados para
irem à barragem. Os resultados da pesquisa mostram que a sazonalidade é um entrave ao
desenvolvimento do turismo, embora em quantidades relativas, a Barragem Piracuruca atrai
visitantes em todas as épocas do ano.
A Barragem Piracuruca, como observado na pesquisa, é ponto de atração,
principalmente para famílias e grupos de amigos, pois 50,2% aproveitavam o espaço de lazer
com os amigos, 46,4% foram com familiares, e somente 3,4% visitam a Barragem
desacompanhados.
A proximidade da barragem com o município de Piracuruca (dez quilômetros) e com
outros municípios, favorece o uso de diversos meios de transportes. Para chegarem à
barragem, a maioria dos visitantes (42,6%) utiliza a moto como principal meio de locomoção
e 40,0% carro particular. Outras formas de locomoção verificadas foram: o ônibus fretado
(6,0%), a bicicleta (10,2%) e outras maneiras de deslocamento, como transporte animal
(1,3%).
Quanto à procedência do visitante, percebeu-se que os mesmos são oriundos de
cidades próximas à cidade de Piracuruca, tais como: Batalha, Campo Maior, Capitão de
Campos, Castelo do Piau, Cocal, Domingos Mourão, Pedro II, Piripiri e São João da Serra,
com poucas exceções para Teresina e cidades mais distantes, demonstrando que a Barragem é
um potencial turístico local a se desenvolver.
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Segundo os visitantes, a barragem pode oferecer diferentes formas de
entretenimento. De acordo com os 235 investigados, 26,8% afirmaram que a prática de
esportes necessita ser aperfeiçoada na área da barragem, como competições de Jetski, de
natação, entre outros. Já 7,2% dos visitantes colocaram que as atrações culturais (shows,
festejos, etc.) deveriam ser o principal atrativo do local, ao passo em que, 66,0% afirmaram
que o banho nas águas é o melhor que a barragem pode oferecer.
Os visitantes que se utilizam do espaço para o lazer também veem alguns problemas
na área da Barragem Piracuruca, principalmente acerca do seu estado de conservação. Foi
constatado que 13,2% dos visitantes não observavam nenhum problema na conservação da
barragem. Já 74,9% afirmaram que o local é bem conservado, mas merece atenção do poder
público sobre a questão da segurança, limpeza do local e melhoria do acesso. Somente 11,9%
apontaram que a Barragem Piracuruca não tem a mínima estrutura para receber um grande
fluxo de pessoas. Assim, observou-se que a infraestrutura, se mal conservada, compromete o
desenvolvimento do local, além de comprometer a qualidade ambiental do referido espaço de
lazer.
Para Candido e Ribeiro (2007, p.4), “[...] a questão ambiental é um fator
característico e determinante [...]. Os fatores preservação, exploração sustentável e
desenvolvimento são pontos bastante discutidos e a situação é delicada, pois explorar uma
região que possui uma biodiversidade importante e abriga várias espécies da flora e da fauna é
constituído por diversos aspectos que não só o ambiental”.
Com relação aos impactos 80,9% acreditam que as atividades de lazer e turismo na
Barragem podem contribuir para uma melhor qualidade de vida da população local e dos
visitantes. Sendo que 19,1% afirmaram que a degradação do meio é um grande empecilho.
Pode-se observar que os visitantes vislumbram com mais facilidade os impactos positivos, e
em especial no que tange aos impactos sociais.
Contudo, os visitantes entendem que a conservação do local não é estritamente de
responsabilidade do poder público, sendo que eles mesmos têm papel determinante na
conservação da qualidade ambiental. Sobre o destino que os visitantes dão ao lixo, observou-
se que 11,1% dos visitantes descartam indevidamente o lixo, jogando-o nas águas da
barragem, na vegetação e no chão, muitas vezes demonstrando não se preocuparem com o
impacto ambiental que esta prática pode causar. Já 62,1% dos investigados afirmaram que
jogam o lixo em local apropriado, como cestos de lixo e 26,8% praticavam o hábito de
recolher e levar o lixo para casa, descartando-o posteriormente. Isso demonstrou que mesmo
138
com práticas de descarte indevido do lixo, a maioria dos visitantes tem consciência da
importância de se preservar o meio ambiente no entorno na barragem.
Segundo Salgado et al. (2008, p. 78),
é certo que várias ações (infraestrutura, serviços públicos, vias públicas,coleta pública de lixo, entre outras) exigem a ação exclusiva do poderpúblico. Contudo, atitudes como não desmatar, não poluir, manter a cidadelimpa, ter união e organização, entre outras, referem-se à atuação de umapopulação preocupada com os destinos do seu espaço, seu lugar.
Mesmo apresentando alguns pontos que merecem uma melhoria qualitativa, 92,8%
dos visitantes afirmaram que indicariam a Barragem Piracuruca como um ótimo ponto de
lazer. 7,2% dos questionados não a recomendariam como local turístico, justamente pela falta
de infraestrutura e qualidade das águas.
Embora passando por problemas de infraestrutura, os visitantes reconhecem que a
Barragem é um lugar propício ao contato com o meio natural, favorecendo o descanso e o
relaxamento físico e psíquico, em companhia de amigos e familiares.
A percepção dos moradores do entorno ou da comunidade local acerca das atividades
turísticas desenvolvidas na Barragem é de essencial importância para analisar como a
população piracuruquense lida com a promoção do desenvolvimento e preservação ambiental
da Barragem Piracuruca.
Vernaglia e Goulart (2003, p. 117) descrevem que os moradores do entorno ou
comunidade local caracterizam-se “pelo conjunto de pessoas que co-habitam em um espaço
físico delimitado, no qual realizam grande parte de suas atividades cotidianas e que, além de
possuírem uma cultura e identidade comuns, estão sujeitas à mesma estrutura social”.
Dos moradores entrevistados, residentes no entorno da barragem, constatou-se que
56,8% dos moradores eram proprietários legítimos de sua terra; 20,2% tinham terra arrendada
e 23,0% moravam em terra cedida. Os dados da pesquisa também apontaram que a maioria
(85,1%) contava com energia elétrica na sua residência, sendo que apenas 14,9% não
dispunham do serviço. A posse legal das terras favorece a observação constante de possíveis
impactos que podem advir de atividades relacionadas ao turismo na Barragem.
Segundo os 74 moradores investigados, 93,2% estão satisfeitos com o local onde
residem, enquanto que 6,8% se mostraram insatisfeitos com o ambiente criado, depois da
dinamização das atividades no entorno da barragem, por conta da expressiva poluição sonora
e da situação dos arredores (acúmulo de lixo), o que diminui a qualidade de vida das pessoas
139
que usam economicamente a Barragem, seja para a agricultura quanto para a pesca, por
exemplo.
A preocupação e os cuidados com o meio ambiente, principalmente com a água da
Barragem é de extrema necessidade, pois grande parte dos moradores pesquisados, 50,0% do
total, afirmou que a Barragem Piracuruca é a principal forma de abastecimento de água,
enquanto 12,2% são atendidos por rede de distribuição, 14,8% se utilizam de poço cacimbão
23,0% dos moradores têm cisternas na residência (Figura 7.3). O fato de morar próximo à
barragem, não corresponde necessariamente que todos sejam servidos da mesma, como forma
de abastecimento, mesmo estando próximo ao recurso hídrico, o índice de cisternas ainda é
grande.
Figura 7.3: Cisterna em residência do entorno da barragemFonte: Roberta Ferreira (2010).
Sobre a questão do lixo produzido nas casas, observa-se que 56,8% dos moradores
queimavam o lixo de suas casas, 14,9% enterravam, 14,8% jogavam em local apropriado
(cesto de lixo), 2,7% afirmaram que a coleta era realizada pelo órgão municipal competente e
10,8% jogavam a céu aberto. Segundo esses números, ficou claro que existe a necessidade de
uma coleta de lixo mais efetiva nas casas do entorno da barragem, pois queimar, enterrar e
jogar a céu aberto não são formas corretas de descartar o lixo, comprometendo a qualidade do
ar, do solo e da água.
Os moradores que residem nos arredores da Barragem Piracuruca, por mais que
morem próximos a um espaço de lazer ao ar livre, não usufruem dele com tanta frequência.
140
Dos 74 moradores investigados, 64,9% não praticavam nenhuma forma de lazer na barragem,
29,7% frequentavam, às vezes, o local para descansar e somente 5,4% afirmaram que
costumeiramente desfrutavam da barragem como uma forma de lazer.
Segundo Coriolano (2006, p. 370) “é no conteúdo do espaço de relações sociais que
se engendram os processos, pois nessa formação histórica se estabelecem, se recriam e se
transformam as relações sociais e espaciais”.
Embora com uma baixa visitação à Barragem, pelos moradores, para a prática de
atividades de lazer, somente 9,5% afirmaram que a atividade de lazer e turismo na região não
é importante, ao passo em que 41,8% comentaram que o lazer e o turismo são importantes,
mas não essencial com relação a outras atividades econômicas, e 48,7% concordaram que o
lazer é o principal atrativo da Barragem Piracuruca, podendo ser este o dinamizador
econômico e social do município.
A percepção dos moradores sobre o turismo é necessária para compreendercomo eles veem a atividade, e como estão inseridos na mesma. Se acomunidade local não estiver inserida e nem aceitar o desenvolvimentoturístico local, ele estará fadado ao fracasso, pois os moradores podemrejeitar o turismo e tratar mal os visitantes, afetando diretamente odesenvolvimento da atividade (CARVALHO, 2010, p. 472).
Sobre a percepção dos moradores acerca do estado de conservação da Barragem
Piracuruca, 20,3% dos moradores consideravam ótima, sua conservação, enquanto 48,6%
afirmaram que a conservação é boa, mas há muitos aspectos a melhorar, como o tratamento da
água e o controle do lixo. No entanto, 31,1% criticaram a falta de assistência à barragem,
afirmando que o local não tem a infraestrutura necessária nem para o desenvolvimento do
turismo, nem para a dinamização da economia dos moradores do entorno.
Neste sentido, Godinho e Oliveira (2010, p. 113) afirmam que
o incremento e espacialização de infraestruturas voltadas para o turismodevem cooperar para o desenvolvimento dessa atividade, com o objetivo deatender à demanda turística em conformidade com a realidade local, o queexige um adequado planejamento do turismo, de modo a estar sempre atentoà produção do espaço.
Para Canheo e Paulinich (2008, p. 1259), “[...] as pessoas reconhecem os problemas
ambientais, frequentemente, quando elas próprias ou algo com o qual elas têm uma estreita
ligação e faz parte de suas vidas, sofrem as consequências diretas, através de prejuízos físicos,
sentimentais ou materiais”.
141
A pesquisa apontou que, dos 74 moradores do entorno da barragem investigados,
50,7% têm de 41 a 60 anos; 35,7% têm de 26 a 40; 10,6% têm de18 a 25 anos; e somente
3,0% têm mais de 61 anos. Destaca-se que a maioria dos provedores do lar são do sexo
masculino (71,6%), casados ou com união estável (56,8%). Para Oliveira e Nunes, (2007, p.
91), “[...] as pessoas na faixa etária mais produtiva estão mais concentradas no espaço urbano,
que oferece mais oportunidades de emprego”.
Com relação ao grau de escolaridade dos moradores, apresenta-se a seguinte
distribuição, 25,7% não escolarizados; 16,2% com fundamental incompleto; 13,5% com
fundamental completo; 14,9% com ensino médio incompleto; 20,3% com ensino médio
completo; 1,5% superior incompleto e 8,1% superior completo.
Foi detectado que 65,1% dos investigados ganhavam menos de um salário, e 34,9%
ganhavam de um a menos de três salários mínimos. Sendo assim, considerando que o salário
vigente equivalia a R$ 510,00, pode-se afirmar que o morador do entorno da barragem é
essencialmente de baixa renda. O que também pode ser percebido com relação ao nível de
escolaridade baixo.
Os dados da investigação também apontaram que muitos moradores dependem da
Barragem para se sustentarem. Observou-se que 28,4% dos moradores eram pequenos
comerciantes, 5,4% trabalhavam com artesanato, 13,4% eram agricultores, 23,0% eram
pescadores, 23,0% eram funcionários públicos e 6,8% tinham outra fonte de renda. Esses
dados comprovam que grande parte dos moradores tem suas atividades econômicas atreladas
diretamente à Barragem, principalmente os artesãos, agricultores e pescadores, comprovando,
assim, a importância do local, essencial para a manutenção da qualidade de vida da população
do entorno da barragem.
Como impactos, 56% dos moradores indicaram que o lazer e o turismo na barragem
podem gerar novos empregos e melhoria de renda, e 44% disseram que a poluição e a
degradação do meio ambiente podem ser impactos perigosos, por trazerem consequências
irreversíveis à Barragem e as pessoas que sobrevivem dela.
Portanto, a pesquisa demonstrou que os moradores do entorno da Barragem
Piracuruca entendem que o local é um espaço de desenvolvimento econômico, mas que
merece ser preservado, pois além do turismo, as pessoas que moram em seus arredores
dependem do meio natural para se sustentarem, sendo que os moradores do entorno da
Barragem somente passaram a ter esta percepção porque a barragem, de alguma forma, faz
parte de suas vidas, e tanto o meio natural como os moradores, podem sofrem consequências
com os impactos decorrentes da atividade turística.
142
Disponibilizando a Barragem de oportunidades de lazer e de um possível
aprimoramento do turismo, no decorrer de pouco tempo, surgiram inúmeras casas de veraneio
em seu entorno.
Para Tulik (1995, p. 21), as casas de veraneio ou residência secundária ou segunda
residência são como “[...] um alojamento turístico particular, utilizado temporariamente, nos
momentos de lazer, por pessoas que têm seu domicílio permanente num outro lugar”. Ao
passo em que Assis (2003, p. 110) respalda o conceito de Tulik, dizendo que a residência
secundária ou segunda residência é um tipo de hospedagem vinculada ao turismo de fins de
semana e de temporadas de férias.
Os proprietários das casas de veraneio no entorno da Barragem Piracuruca
apresentam uma renda superior aos demais moradores que se localizam próximo a esse espaço
de lazer. Constata-se que dos 45 proprietários investigados, 8,9% recebiam de um a menos de
três salários mínimos, 15,6%, de três a menos de cinco, 33,3% de cinco a menos de sete,
31,1% de sete a menos de nove, 8,9% de nove a menos de 11 e somente 2,2% ganhavam mais
de onze salários mínimos, o que demonstra uma boa renda, e favorece o consumo de produtos
turísticos.
Com uma renda acima da média em relação aos demais entrevistados, os donos das
casas de veraneio também confirmaram que suas propriedades próximas à barragem são
recentes, pois 33,3% ocuparam os arredores da barragem entre um a menos de três anos,
55,6% entre três a menos de seis anos, 6,7% de seis a menos de nove anos e somente 4,4%
construíram suas casas de veraneio há mais de nove anos. Isso comprova que a ocupação
dessas propriedades é recente, o que demonstrou que a barragem atrai pessoas de diferentes
classes sociais, favorecendo a especulação imobiliária. A Figura 7.4 mostra algumas casas de
veraneio no entorno da barragem.
143
Figura 7.4: Casa de veraneio às margens da barragem.Fonte: Roberta Ferreira (2010).
Pode-se observar com a aplicação dos formulários, que em sua maioria, os
proprietários das casas de veraneio no entorno da Barragem Piracuruca, 57,8% têm de 41 a 60
anos; 37,8% têm de 26 a 40; e apenas 4,4% têm mais de 61 anos. Sendo os mesmos, em sua
maioria, do sexo masculino (88,9%), casados ou com união estável (82,2%).
Acerca do nível de escolaridade dos proprietários investigados, 6,7% dos
proprietários de casas de veraneio tinham apenas o ensino fundamental incompleto, 24,4%
cursaram o fundamental completo, 6,7% tinham o ensino médio incompleto, 51,1%
completaram o ensino médio, 6,7% graduaram-se em um curso de nível superior e somente
4,4% tinham nível de especialização. Dessa maneira, observou-se que o nível de instrução dos
donos de casas de veraneio é bom, pois mais da metade já havia completado o ensino médio.
Dado que pode favorecer no desenvolvimento do turismo, por estarem mais informados e com
uma opinião mais formada com relação aos benefícios físicos e psíquicos do lazer, e dos
impactos que atividade turística pode trazer a uma localidade.
O referido nível de instrução reflete nas atividades econômicas desenvolvidas pelos
pesquisados, onde 31,1% dos proprietários são comerciantes (atuavam tanto no município de
Piracuruca quanto em outros municípios do Piauí); 13,3% são agricultores; 6,7% criadores de
peixes (piscicultura); 24,4% tinham atuação no setor público e outros 24,5% tinham outras
profissões, como professores, autônomos, entre outras.
Os proprietários das casas de veraneio em Piracuruca apontaram que as atividades de
lazer desenvolvidas na barragem são de extrema importância, pois 73,4% da amostra dos
investigados consideravam importante o uso da região da barragem como ponto turístico de
144
lazer, ao passo em que 26,6% não consideravam os benefícios socioeconômicos do lazer
muito importantes para o local.
Em seu estudo referente às represas como lugares turísticos, Leme (2007, p. 83)
afirma que é “devido à vivência e experiências adquiridas com o local por sucessivas visitas,
que grande parte dos entrevistados a consideram como um lugar, seja de lazer, bom pra
diversão, descanso, sair da rotina, ou bom para ficar com a família.”
Os referidos pesquisados também apontaram as principais atividades, que segundo
eles, poderiam ser bem mais aproveitadas na barragem, como forma de dinamizar o potencial
da mesma. Observou-se que 35,6% dos proprietários consideravam que práticas esportivas
poderiam ser mais difundidas na barragem. Já 53,3% afirmaram que o banho recreativo
(Figura 7.5) é a atividade de lazer mais praticada e a melhor opção para o aproveitamento
turístico do local; enquanto que 11,1% apontaram que a implantação de mais espaços de
alimentação (restaurantes, bares, lanchonetes) atrairia um número maior de visitantes para o
entorno.
Figura 7.5: Banho às margens da Barragem PiracurucaFonte: Roberta Ferreira (2010).
Os proprietários das casas de veraneio apontaram que o acesso a diversos pontos da
barragem é precário, acarretando que visitantes não familiarizados com o local tenham
dificuldades de conhecer, satisfatoriamente, esse espaço de lazer. Os dados da investigação
apontaram que 73,4% dos donos de casas de veraneio tinham carro próprio, 24,4% usavam a
145
motocicleta como principal meio de transporte, e apenas 2,2% alugavam um carro para se
locomover pela região da barragem.
Mesmo com o problema de acesso, 33,3% da amostra dos proprietários investigados
consideravam ótimo o estado de conservação da barragem, 57,8% achavam boa a conservação
do local e somente 8,9% afirmaram que o estado de conservação do entorno era precário, não
oferecendo suporte algum ao visitante ou aos moradores da região.
Um dos principais problemas, também apontado pelos proprietários das casas de
veraneio, é relativo ao lixo que se acumula às margens da Barragem de Piracuruca. Eles
afirmaram que a coleta municipal é precária, pois não atende toda a extensão do local,
fazendo com que os resíduos se acumulem às margens da barragem, o que pode comprometer
a qualidade da água e do solo, além de proliferar doenças pela constante poluição.
Constatou-se que 62,2% dos proprietários jogavam o lixo em local apropriado,
35,6% recolhiam os resíduos e levavam para sua casa de procedência, para depois descartá-lo;
e somente 2,2% não se preocupavam com o lixo produzido por eles. Sendo assim, é relevante
a preocupação dos donos de casas de veraneio sobre o destino final do lixo, pois segundo eles,
a qualidade do local depende também de quem usufrui do espaço de lazer.
Com relação à residência permanente, pode-se observar que muitos dos veranistas
são residentes na própria cidade de Piracuruca, alguns de Teresina, Piauí e pouquíssimos de
cidades próximas a Piracuruca.
Os problemas estruturais e de limpeza do entorno da barragem não a desqualificam,
segundo os proprietários, pois se trata de um ótimo ponto turístico em Piracuruca. Dessa
maneira, 88,9% dos pesquisados indicariam a barragem para outras pessoas e somente 11,1%
não a recomendariam como um espaço de lazer agradável.
Como impactos, 66,6% dos veranistas indicaram que o lazer e o turismo na barragem
podem gerar novos empregos e melhoria de renda e 33,4% disseram que a poluição e a
degradação do meio ambiente podem ter impactos irreversíveis. Segundo Hoeffel et al. (2008,
p.137) “dos usos identificados, os mais dinâmicos, impactantes e transformadores da área de
estudo são os associados aos processos turísticos e de urbanização, responsáveis pela
reconfiguração da paisagem e por afetar as condições ambientais”.
Assim, como as casas de veraneio se proliferam no entorno da Barragem, alguns
pequenos empreendedores também vislumbraram oportunidades de obterem ou de
aumentarem suas rendas. Segundo Jordão (2006, p. 73-74) “os pequenos empreendimentos
familiares se constituem de centenas das mais variadas atividades econômicas nos setores de
146
produção [...], criados por seus próprios protagonistas, como resposta à necessidade de
sobrevivência”.
Os comerciantes que se localizam nas proximidades da Barragem Piracuruca também
foram pesquisados, tendo sido aplicados dez questionários, em diferentes pontos comerciais.
A região do entorno da barragem caracteriza-se pela concentração de bares e restaurantes,
embora os mesmos tenham uma movimentação comercial apenas nos finais de semana, férias
e nos feriados municipal, estaduais ou nacionais. A Figura 7.6 mostra os pontos comerciais
mais movimentados do entorno da barragem:
Figura 7.6: Bares e restaurantes próximos à barragemFonte: Roberta Ferreira (2010).
Todos os entrevistados afirmaram que gostam do lugar onde trabalham, pois sempre
há clientes, independente do período do ano. Isso confirma a dinamicidade no comércio
promovido pela Barragem Piracuruca, como um ponto de lazer, que atrai tanto visitantes de
fora quanto a própria população do município.
Uma das diferenças entre a alta e a baixa temporada é a quantidade de trabalhadores
empregados pelos donos dos pontos comerciais. Na baixa temporada, 55,0% contavam com
três empregados, 45,0% tinham dois trabalhadores, Já na alta temporada, somente 35,0%
empregavam três trabalhadores, 30,0% quatro, 20,0% cinco, 15,0% seis empregados.
A quantidade de pessoas empregadas na alta temporada confirma que as atividades
comerciais do entorno da Barragem Piracuruca conferem emprego e renda para a população, o
que confirma a oportunidade que esse espaço de lazer tem em auxiliar no desenvolvimento
socioeconômico de todo o município.
147
Segundo Salgado et al. (2008, p. 70) “é inegável, [...] a necessidade de se gerar
emprego e renda no país, notadamente em populações que sofrem, de alguma forma, os
efeitos da estagnação econômica provocada por fatores alheios à sua vontade”.
De acordo com os comerciantes, a barragem representa principalmente uma fonte de
renda para suas famílias. Segundo a investigação, 60,0% disseram que a renda auferida pelo
trabalho no entorno da barragem é a principal qualidade do espaço de lazer; já 40,0%
afirmaram que a barragem representa, acima de tudo, um espaço de diversão e descanso.
Como observado, os comerciantes entendem a importância da sua atividade para a
movimentação da economia local e o desenvolvimento do seu próprio negócio. Foi detectado
que apenas 10,0% dos comerciantes ganhavam de três a menos de cinco salários mínimos,
enquanto 50,0% diziam ganhar de cinco a menos de sete e 40,0% ganhavam de sete a menos
de nove. Observou-se, assim, que a atividade desenvolvida por conta da intensa
movimentação no entorno da barragem é rentável e, de acordo com os comerciantes, todo ano
a renda tende a aumentar, por conta do fluxo de visitantes estar crescendo progressivamente,
principalmente nas férias de final de ano.
Para Coutinho e Coutinho (2007, p. 3), “a atividade turística, atualmente, pode ser
considerada um dos pontos mais importantes para a sustentabilidade socioeconômica de uma
cidade ou região. [...] possibilitando a expansão do trabalho, gerando empregos e melhorando
a distribuição da renda local”.
Hoeffel et al. (2008, p. 143), analisando a percepção ambiental e do turismo na APA
do Sistema Cantareira, diagnosticou que “com relação aos empreendedores, verifica-se que a
satisfação que eles obtêm dos lugares é mais difusa”.
Segundo os investigados, o trabalho desenvolvido por eles, próximo à barragem, é
suficiente para seu sustento. Isso se confirma pela pesquisa, ao comprovar que 70,0% dos
comerciantes da amostra não tinham outro tipo de trabalho, enquanto que, dos 30,0% que
disseram ter outra ocupação, dois eram agricultores e um era pescador. Mesmo estes que
tinham outra profissão fora do comércio, utilizavam-se das águas da barragem para plantar ou
pescar.
Quando questionados se estão preparados para receber os visitantes da barragem,
todos os comerciantes disseram que sim. Contudo, 50,0% não haviam feito nenhum tipo de
treinamento na área turística, enquanto que os demais 50,0% haviam procurado algum tipo de
capacitação na área do turismo, pois consideravam que com a melhoria na qualidade do
atendimento, mais visitantes seriam atraídos para seus estabelecimentos comerciais.
148
Os comerciantes do entorno da Barragem Piracuruca entendiam a necessidade de
uma melhor capacitação no atendimento aos visitantes; assim, 90,0% afirmaram que
precisavam de um preparo mais específico de atendimento ao cliente e, somente um, ou 10%
da amostra, dizia-se satisfeito com sua preparação prévia. Por serem empreendedores, os
comerciantes veem a necessidade de se reciclarem, inovando no atendimento aos seus
clientes.
Sobre a faixa etária dos comerciantes, observou-se que apenas 10,0% dos
comerciantes têm idade compreendida entre 18 a 25 anos, 70,0% têm de 26 a 40 anos e 20,0%
têm mais de 61 anos. Estes últimos contam com aposentadoria, como forma de
complementação de renda. Observou-se que a maioria dos entrevistados está em uma faixa
etária compreendida como de maior produção relacionado à experiência adquirida dos
mesmos. A maioria é casado ou em união estável (80,0%), e em seu total são empreendedores
do sexo masculino (100,0%).
Sobre a percepção acerca do estado de conservação 80,0% dos comerciantes diziam-
se insatisfeitos com a infraestrutura do local, ao passo que somente 20,0% dos investigados
qualificaram positivamente a barragem. Os comerciantes expuseram que muitos problemas
mereciam ser corrigidos, como o da limpeza e o da segurança dos visitantes, principalmente.
Com relação à forma de abastecimento d’água, foi observado que 40,0% dos
comerciantes contavam com uma rede de distribuição de água encanada; 20,0% conseguiam
abastecimento por meio de um poço cacimbão e outros 40,0% retiravam água da própria
Barragem Piracuruca. Como o abastecimento de água em boa parte dos estabelecimentos se
dá pela rede hídrica da barragem, a preocupação dos comerciantes é com a preservação da
qualidade da água e destino adequado do lixo.
Como forma de combater o acúmulo de resíduos sólidos no entorno da barragem,
60,0% dos comerciantes queimavam seus descartes, enquanto que 40,0% tinham seu lixo
coletado pelo órgão municipal. Mesmo com essas medidas, os investigados acusavam que o
acúmulo de lixo perto das águas da barragem torna-se um problema cada vez maior.
Em relação aos impactos que podem ocorrer, 90,0% dos comerciantes indicaram que
o lazer e o turismo na barragem podem melhorar o nível de renda, e 10,0% disseram ser a
sazonalidade o fator momentâneo mais preocupante. A sazonalidade pode ser revertida com
estratégias de planejamento, sendo que a mesma só pode ser amenizada com a oferta turística
diversificada, favorecendo o fluxo de visitantes durante o ano inteiro.
149
7.5 Políticas públicas para o desenvolvimento do turismo na Barragem Piracuruca
As políticas públicas, se aplicadas corretamente, podem promover o
desenvolvimento de um espaço de lazer, como é o caso da Barragem Piracuruca. Para tanto, o
Estado, como agente de aplicação da lei, deve considerar as regiões com potencial de
desenvolver econômica e culturalmente a população, como sendo um bem público.
Em todo o Brasil, há problemas na política de administração, sendo que as decisões
são inúmeras vezes fragmentadas. Essa falta de organização traz sérios prejuízos para o
desenvolvimento do local. Assim, segundo Muller (2002), é necessário que haja uma
reestruturação dos órgãos públicos, definindo melhor suas funções e alocando corretamente
seus recursos humanos e financeiros.
Como é frisado por Muller (2002), uma das metas essenciais de desenvolvimento das
atividades de lazer é que os órgãos competentes tenham a capacidade de definir a sua própria
forma de atuação, estabelecendo novas prioridades, fazendo com que exista um estímulo para
a participação de outros usuários. Dessa forma, as comunidades teriam como auxiliar os
órgãos públicos na execução de metas e melhoria dos serviços tidos como de lazer.
No caso da Barragem Piracuruca, como qualquer outro ponto turístico, deve ser
levada em consideração a opinião dos indivíduos que lá atuam e os que usufruem,
constantemente, desse espaço de lazer. Deve-se, assim, investigar as necessidades desses
grupos sociais, o que, de acordo com Bruhns (2007, p. 132), “exige o levantamento de
indicadores sociais da realidade pesquisada, podendo ser estes dados históricos, político-
administrativo, demográficos, de perfil psicográfico e de mapeamento de recursos”. Para
Oliveira e Nunes (2007, 97), “[...] os estudos de percepção do ambiente devem objetivar um
melhor entendimento da relação que os homens estabelecem com seu meio, e têm potencial
para aplicação em programas de ação de educação ambiental e no planejamento territorial”.
Em entrevista com uma representante da Secretaria Estadual de Turismo (SETUR),
em especial, do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
(PRODETUR/NE/PI), a senhora Maria Zuleide de Amorim Martins, com o intuito de coletar
informações relativas ao desenvolvimento do turismo e o desenvolvimento sustentável,
obteve-se as seguintes informações:
Atualmente as políticas públicas são de aporte imediato, não havendo umapolítica pública de turismo pré-estabelecida, com foco no desenvolvimentosustentável em longo prazo, sendo que no que se refere às políticas públicasenvolvendo as atividades turísticas na Barragem Piracuruca deve-se apontar
150
a restauração da estrada (Figura 7.7) que liga Piracuruca ao balneário. Valeressaltar que essa estrada será de pavimentação asfáltica em todo o trecho. Otrabalho que é desenvolvido para o município de Piracuruca está diretamenteligado a ações desenvolvidas com parceiros. Outra política públicarelacionada ao desenvolvimento das atividades turísticas na BarragemPiracuruca apresenta-se na forma da construção do balneário (Figura 7.8)que irá situar-se às margens do grande lago da barragem com infraestruturaque permitirá o acesso dos turistas e demais pessoas que visitarem ou moramno entorno dessa barragem. (Informação verbal)12.
Figura 7.7: Restauração da estrada que dáacesso ao balneário.
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
Figura 7.8: Construção do Balneário naBarragem Piracuruca.
Fonte: Roberta Ferreira (2010)
A construção do balneário na barragem se dá no sentido de potencializar a região e
torná-la mais atrativa turisticamente, gerando emprego e renda. No entanto, o turismo é um
investimento em longo prazo, em que os estudos e as ações desenvolvidas nessa área precisam
ser bem estruturadas e planejadas, seja através do inventário da oferta turística, plano diretor,
e da participação efetiva do poder legislativo, através da criação de leis que visem a
valorização do turismo de forma sustentável.
Conforme se pode notar, algumas políticas públicas estão sendo realizadas na
Barragem Piracuruca, visando ao desenvolvimento turístico nessa localidade. Contudo,
observa-se que há, ainda, muito o que ser realizado para que o turismo seja realmente
explorado de forma sustentável nessa barragem.
Portanto, pode-se afirmar que as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento
da atividade turística na Barragem Piracuruca devem beneficiar tanto os visitantes como a
população local, desta forma a atuação dos órgãos públicos podem promover a melhoria da
12Informações obtidas com a senhora Maria Zuleide de Amorim Martins, Secretária Estadual de Turismo – Seturem especial do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur/NE/PI) em entrevistaconcedida a Roberta Celestino Ferreira, em 14 de Dezembro de 2010.
151
qualidade de vida destes indivíduos, ao passo em que promove o desenvolvimento da
atividade turística.
7.6 Considerações finais
A atividade turística depende diretamente da administração pública, que carece
muitas vezes de ações que objetivem sua melhoria e manutenção no decorrer do tempo. No
caso da Barragem Piracuruca, esse quadro não é diferente, pois o local apresenta problemas
de falta de infraestrutura relativos ao lazer e ao turismo.
Como foi observado pelos resultados dos formulários aplicados com visitantes,
comerciantes, moradores do entorno e donos de casas de veraneio, ainda há muito que se
melhorar na Barragem, principalmente no que se refere às condições estruturais e de higiene.
Contudo, os mesmos também apontaram que, mesmo com alguns problemas, esse espaço de
lazer traduz-se como um local agradável para a visitação, simplesmente por conferir aos
visitantes uma boa alternativa para entrar em contato com a natureza.
O meio ambiente é o principal quesito a ser preservado no entorno da barragem, isso
porque muitas famílias dependem da região para seu sustento e abastecimento d’água. Assim,
pode-se concluir que a preocupação em proteger a natureza, no referido local, não deve partir
somente da esfera pública, mas também da própria população, que como foi observado, deve
ter papel fundamental na construção de políticas públicas de desenvolvimento.
O perfil dos investigados (visitantes, moradores do entorno, comerciantes e donos de
casas de veraneio) demonstra que os mesmos têm discernimento e estão abertos ao diálogo
referente aos problemas estruturais do desenvolvimento turístico na região. Mas, mesmo
entendendo que a degradação da natureza e o descarte indevido do lixo trazem impactos em
longo prazo, ainda foi constatado que existem pessoas que se omitem em tomar uma posição
racional e harmoniosa com o local em que se encontra inserido ou visitando.
Portanto, a atividade turística desenvolvida na Barragem Piracuruca, de acordo com a
percepção dos investigados, apresenta pontos negativos e positivos, sendo que os problemas
podem ser suplantados através da mudança de postura diante da questão ambiental, onde tal
mudança só pode ser conseguida através de um planejamento turístico que vise à preservação
da natureza e não apenas com foco no crescimento econômico, incluindo a educação
ambiental, e a percepção ambiental da sociedade no processo de construção de um
desenvolvimento sustentável.
152
Referências
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156
8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O turismo no Estado do Piauí vem se desenvolvendo nos últimos anos, podendo ser
percebido em municípios de pequeno porte como Piracuruca, onde o mesmo tem se efetivado,
recebendo muitos visitantes para os mais diversos eventos, e impressionando com suas
riquezas culturais e naturais.
Com uma economia moderada, mesmo em nível estadual, Piracuruca tem no turismo
uma forma de conseguir auferir uma melhor fonte de renda, tanto para a população local,
gerando empregos diretos e indiretos, quanto para o município, proporcionando o
desenvolvimento sociocultural, aliado a preservação do meio ambiente. A atividade turística
propicia, dessa forma, a aliança entre o tempo livre dos visitantes e a geração de renda.
O turismo é uma atividade que de certa forma se apropria de lugares e espaços,
criando e recriando-os, de acordo com as necessidades da sociedade, possibilitando opções de
lazer e turismo. A prática de atividades de lazer em qualquer localidade, além de dinamizar o
turismo regional, mostra-se necessária para o bem-estar das pessoas, sejam turistas ou
moradores, que dependem diretamente do atrativo turístico.
Piracuruca dispõe de um rico acervo de patrimônio cultural, formado pelo seu
conjunto arquitetônico, pelas diversas manifestações culturais existentes, e pelos atrativos
naturais da região, como o Parque Nacional de Sete Cidades e pelas potencialidades de lazer e
recreação, propiciada pela Barragem de Piracuruca.
Com o represamento das águas do rio Piracuruca, formou-se um imenso lago, com
características propícias ao desenvolvimento de atividades de lazer e turismo, que ganhou
vigor com a valorização das paisagens naturais e com o ambientalismo contemporâneo,
passando a ser a barragem Piracuruca uma possibilidade de fomentar ainda mais o
desenvolvimento da atividade turística no município.
Desde sua inauguração, em 1996, a população piracuruquense e de localidades
próximas passaram a frequentar a Barragem Piracuruca nos fins de semana, com o intuito de
estar mais próximo ao meio natural. A Barragem Piracuruca apresenta elevada potencialidade
para a exploração de lazer e turismo, tais como: os banhos aquáticos e de sol, pesca, mirante,
campeonato de jetski, show acústico. Dispõe, ainda, de outras possibilidades que podem ser
executadas, desde que haja uma logística de estruturação e de infraestrutura, tais como:
iatismo, banana-boat, mountain bike e motocross, wakeboard, competições esportivas,
camping, observação de animais, em especial de pássaros, passeios de barcos e canoas,
caminhadas em trilhas ecológicas, apresentações artísticas e culturais, atividades esportivas
157
(natação recreacional, hidrocapoeira, acquavolley e o handebol aquático), encontros da
terceira idade, confraternizações, entre outros.
A Barragem Piracuruca é uma alternativa de desenvolvimento socioeconômico e
ambiental para o incremento do turismo no município de Piracuruca, assim como para o
Estado do Piauí. Contudo, constatou-se que existem alguns impactos negativos causados na
barragem que podem atrapalhar o seu desenvolvimento como atrativo turístico. Esses
impactos, em parte são causados por proprietários de casa de veraneio, moradores do entorno,
visitantes e por proprietários de bares no entorno da Barragem.
A barragem sofre constantemente com o problema do lixo e despejo indevido de
esgoto em suas águas, com o desmatamento das margens do rio, com a especulação
imobiliária e a marginalização territorial, assim como, a falta de infraestrutura adequada para
o desenvolvimento de atividades de lazer e turismo. Os danos ambientais provocados pelas
atividades de lazer desenvolvidas na Barragem Piracuruca ainda não são alarmantes, mas
podem se tornar drásticos em um futuro próximo, caso não ocorram ações de educação
ambiental e de gestão ambiental, pela administração pública.
No que tange aos aspectos positivos, verificou-se que proprietários de casa de
veraneio, moradores do entorno, visitantes e proprietários de bares e restaurantes no entorno
da Barragem possuem uma percepção otimista quanto ao desenvolvimento de atividades de
lazer e turismo na Barragem Piracuruca. Isso, porque a atividade turística e de lazer tem
concorrido para o desenvolvimento econômico local, bem como para a integração social e
cultural.
Assim como o município de Piracuruca - Piauí, a Barragem Piracuruca ainda não
possui um planejamento que permita o seu desenvolvimento turístico sustentável. Existem
projetos visando desenvolver o turismo e o lazer na barragem, mas as medidas políticas
realizadas são de caráter pontual, não ocorrendo, ainda, um planejamento estratégico para o
turismo em longo prazo.
Para que ocorra o desenvolvimento do turismo no local, de forma sustentável,
algumas ações podem ser sugeridas para implantação pelos órgãos gestores, tais como:
Elaboração de um Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo, a partir do
Plano Diretor do Município, promovendo assim o planejamento e o desenvolvimento da
atividade turística em Piracuruca de forma sustentável, estimulando a educação ambiental e a
interação da população local com a população visitante;
Articulação com a iniciativa privada do desenvolvimento de atividades ativas e
passivas de lazer, com o objetivo de atender a população local e a turística;
158
Conscientização e sensibilização da população piracuruquense sobre a
importância da demanda turística em Piracuruca, orientando a mesma para a receptividade
turística;
Promoção da imagem turística de Piracuruca, com foco na paisagem cultural e
ambiental em diferentes mercados estrategicamente escolhidos previamente em nível regional
e nacional, assim como, acompanhar o desenvolvimento da atividade turística efetuando
medidas dos fluxos turísticos recebidos e o controle da qualidade dos bens e serviços
oferecidos, monitorando permanentemente os atrativos turísticos (naturais e culturais), para
que sejam utilizados de forma racional, evitando sua exploração insustentável;
Incentivo para o estabelecimento de parcerias entre os atores envolvidos na busca
da excelência em oferecer bens e serviços melhores, e preços de acordo com sua qualidade,
contribuindo assim para a ampliação das possibilidades de capacitação dos atores envolvidos
no desenvolvimento turístico;
Oferecimento de informações pertinentes e atualizadas sobre a atividade turística
local e estadual, promovendo a realização de melhorias na infraestrutura, para beneficiar a
atividade turística em Piracuruca, e em especial na Barragem Piracuruca;
Divulgação e fomento de roteiros turísticos existentes e já comercializados
nacionalmente, tais como: o Rota das Emoções (Delta do Parnaíba (Piauí); Jericoacoara
(Ceará) e Lençóis Maranhenses (Maranhão); e o seu complemento, o roteiro Serras Nordeste,
que compreende as cidades de Pedro II, Piripiri e Piracuruca (patrimônio histórico cultural do
município, a Barragem Piracuruca e o Parque Nacional de Sete Cidades), no Piauí; e Tianguá,
Ubajara e Viçosa, no Ceará, entre outras.
Contudo, essas providências devem ser realizadas partindo de um planejamento que
considere os possíveis impactos acarretados pela atividade turística. Diante disso, cabe dizer
que, para a melhoria da qualidade de vida da população e do desenvolvimento do turismo na
região estudada, é importante a implantação de políticas efetivas e positivas nesse setor
discutidas com a sociedade, tornando-a consciente de seu papel e de sua interação neste
processo.
159
APÊNDICE A – FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS DOS MORADORESDO ENTORNO DA BARRAGEM PIRACURUCA
Este formulário tem como objetivo obter dados referentes à pesquisa intitulada Lazer epotencialidades para o turismo em Piracuruca, Piauí. Os resultados serão utilizados paraestudos de casos no TROPEN/UFPI e não haverá qualquer referência, não autorizada, àpessoa pesquisada.
Mestranda: Roberta Celestino FerreiraOrientadora: Profª. Drª. Wilza Gomes Reis LopesCo-orientador: Profº. Drº. José Luis Lopes Araújo
Este questionário tem como objetivo coletar dados do perfil e da percepção dos moradores doentorno da barragem quanto à atividade turística
Data: ______/______/_______
1) Há quanto você mora no entorno da Barragem Piracuruca?______anos. Você gosta dolugar onde mora?( )sim ( )não Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________
2) De que forma você e sua família utiliza as águas da Barragem Piracuruca?___________________________________________________________________________
3) Qual a forma de abastecimento de água em sua residência?( )rede de distribuição ( )chafariz ( )poço cacimbão ( )cisterna( )barragem ( )outro:______ (Quais?_________________________________________)
4) Como você trata o lixo produzido em sua residência?( )queimado ( )enterrado ( )joga na barragem ( )recolhe e joga no lixão( )coletado pelo órgão competente ( )joga em buraco a céu aberto
5) Condições de posse da terra onde mora:( )própria ( )arrendada ( )cedida (morador)
6) Sua residência dispõe de energia elétrica? ( )sim ( )não
7) Você pratica alguma forma de lazer na Barragem?( )não ( )às vezes ( )sim Quais?(__________________________________________)
8) Qual a importância de atividades de lazer ao ar livre?( )nenhuma ( )pouca ( )regular ( )alta ( )muito altaPor quê?____________________________________________________________________
160
9) Para você a Barragem representa:( )fonte de renda ( )diversão ( )descanso ( )abastecimento d’água( )sair da rotina ( )bom para conhecer pessoas ( )ficar junto da família( )contato com a natureza ( ) outros(Quais?____________________________________________________________________)
10) Quais os dias da semana e períodos do ano você visualiza com maior frequência osturistas no entorno da Barragem Piracuruca?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________
11) Você gostaria de trabalhar com o turismo:( )não ( )sim (Em quê?_____________________________________________________________________________________________________________________________)
12) Quais os benefícios e os malefícios que a atividade turística pode trazer para as famíliasque vivem no entorno da Barragem Piracuruca?Benefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________Malefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________
13) O estado de conservação ambiental do entorno da Barragem Piracuruca é:( )bom ( )regular ( )precário (Por quê?_______________________________________________________________________________________________________________)
14) Qual a sua principal atividade econômica:( )comerciante ( )artesão ( )agricultor ( )pescador ( ) funcionário público( )outros (Quais? ___________________________________________________________)
15) Qual o seu nível de escolaridade?( )não escolarizado ( )fundamental incompleto ( )fundamental completo( )ensino médio incompleto ( )ensino médio completo ( )superior incompleto( )superior completo ( )especialização ( )mestrado/doutorado
16) Faixa etária (anos)( )18 a 25 ( )26 a 40 ( )41 a 60 ( )61 e mais
17) Qual a sua renda monetária mensal familiar (em salário mínimo*):( )menos de 1 ( )de 1 a menos de 3 ( )de 3 a menos de 5 ( )de 5 a menos de 7( )de 7 a menos de 9 ( )de 9 a menos de 11 ( )mais de 11
Agradecemos pela colaboração
161
APÊNDICE B – FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS DOSPROPRIETÁRIOS DE CASAS DE VERANEIO NA BARRAGEM PIRACURUCA
Este formulário tem como objetivo obter dados referentes à pesquisa intitulada Lazer epotencialidades para o turismo em Piracuruca, Piauí. Os resultados serão utilizados paraestudos de casos no TROPEN/UFPI e não haverá qualquer referência, não autorizada, àpessoa pesquisada.
Mestranda: Roberta Celestino FerreiraOrientadora: Profª. Drª. Wilza Gomes Reis LopesCo-orientador: Profº. Drº. José Luis Lopes Araújo
Este questionário tem como objetivo coletar dados do perfil e da percepção dos proprietáriosde casas de veraneio na barragem quanto à atividade turística.
Data: ______/______/_______
1) Qual sua cidade de residência permanente?Cidade:_________________________________________ UF:________________________
2) Qual a importância de atividades de lazer ao ar livre:( )nenhuma ( )pouca ( )regular ( )alta ( )muito altaPor quê?___________________________________________________________________
3) Você costuma visitar a Barragem de Piracuruca( )semanalmente ( )mensalmente ( )anualmente ( )nas férias( )em feriados
4) Está visitando a Barragem Piracuruca( )sozinho ( )com a família ( )com amigos
5) Qual o tipo de transporte você utilizou para chegar a Barragem Piracuruca?( )carro particular ( )motocicleta ( )carro alugado( )outros(Quais?____________________________________________________________________)
6) Quais atividades de lazer o senhor(a) acredita que possam ser praticadas na Barragem?( )esportes ( )show artístico ( )esportes náuticos ( )banho ( )alimentação( )caminhada/trilha ( )esportes radicais ( )outros. Quais?_______________________)
7) Para você a Barragem representa:( )fonte de renda ( )diversão ( )descanso ( )abastecimento d’água( )sair da rotina ( )bom para conhecer pessoas ( )ficar junto da família( )contato com a natureza ( )outros (Quais?___________________________________)
162
8) Quais os benefícios e os malefícios que a atividade turística pode trazer para quem vive noentorno da Barragem Piracuruca?Benefícios:__________________________________________________________________Malefícios:__________________________________________________________________
9) O estado de conservação ambiental do entorno da Barragem Piracuruca é:( )bom ( )regular ( )precário (Por quê?_________________________________________________________________________________________________________________)
10) Como considera a qualidade nos serviços ofertados na Barragem?( )péssimo ( )ruim ( )regular ( )bom ( )excelente(Por quê?___________________________________________________________________)
11) O que você faz com o lixo produzido pelo seu consumo pessoal na Barragem ?( )joga no Rio ( )joga no cesto de lixo ( )leva de volta pra casa( )joga no mato ( )joga no chão ( )não se preocupa com isso
12) Como você considera a infraestrutura existente voltada para o lazer na Barragem?( ) péssima ( ) ruim ( ) regular ( ) boa ( ) excelente (Por quê?________________________________________________________________________________________)
13) Qual a principal dificuldade encontrada por você para chegar a Barragem Piracuruca?___________________________________________________________________________
14) Você indicaria a Barragem Piracuruca enquanto opção de lazer a um conhecido seu?( )sim ( )não Por quê?___________________________________________________
15) Qual a sua atividade econômica:( ) comerciante ( ) artesão ( ) agricultor ( ) pescador ( ) funcionário público( ) outros (Quais? __________________________________________________________)
16) Qual seu nível de escolaridade?( )não escolarizado ( )fundamental incompleto ( )fundamental completo( )ensino médio incompleto ( )ensino médio completo ( )superior incompleto( )superior completo ( )especialização ( )mestrado/doutorado
17) Faixa etária (anos)( )18 a 25 ( )26 a 40 ( )41 a 60 ( )61 e mais
18) Qual a sua renda monetária mensal familiar (em salário mínimo*):( )menos de 1 ( )de 1 a menos de 3 ( )de 3 a menos de 5 ( )de 5 a menos de 7( )de 7 a menos de 9 ( )de 9 a menos de 11 ( )mais de 11*Inclui aposentadoria ( )sim ( )não
19) Há quanto tempo possui essa residência:____________
Agradecemos pela colaboração!!!
163
APÊNDICE C – FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS DOSCOMERCIANTES DO ENTORNO DA BARRAGEM PIRACURUCA
Este formulário tem como objetivo obter dados referentes à pesquisa intitulada Lazer epotencialidades para o turismo em Piracuruca, Piauí. Os resultados serão utilizados paraestudos de casos no TROPEN/UFPI e não haverá qualquer referência, não autorizada, àpessoa pesquisada.
Mestranda: Roberta Celestino FerreiraOrientadora: Profª. Drª. Wilza Gomes Reis LopesCo-orientador: Profº. Drº. José Luis Lopes Araújo
Este questionário tem como objetivo coletar dados do perfil e da percepção ambiental doscomerciantes do entorno da barragem
Data: ______/______/_______
1) Há quanto tempo você trabalha no entorno da Barragem Piracuruca? ______anos. Vocêgosta do lugar onde trabalha? ( )sim ( )não Por quê?______________________________________________________________________________________________________
2) Quais os dias da semana e períodos do ano você recebe um maior número de visitantes emseu estabelecimento no entorno da Barragem Piracuruca?____________________________________________________________________________________________________
3) Quantas pessoas trabalham em seu estabelecimento? Alta temporada_____ Baixatemporada_____
4) Qual a forma de abastecimento d’água em seu estabelecimento comercial?( )rede de distribuição ( )chafariz ( )poço cacimbão ( )cisterna( )barragem ( )outros (Quais?_______________________________________________)
5) Como você trata o lixo produzido em seu estabelecimento comercial?( ) queimado ( ) enterrado ( ) joga na barragem ( ) recolhe e joga no lixão( ) coletado pelo órgão competente ( ) joga em buraco a céu aberto
6) Quais as formas de lazer praticadas na Barragem?_________________________________________________________________________________________________________
7) Qual a importância de atividades de lazer ao ar livre:( )nenhuma ( )pouca ( )regular ( )alta ( )muito altaPor quê?___________________________________________________________________
164
8) Para você a Barragem representa:( )fonte de renda ( )diversão ( )descanso ( )abastecimento d’água ( )sair darotina ( )bom para conhecer pessoas ( )ficar junto da família ( )contato com anatureza ( )outros (Quais___________________________________________________)
9) Quais os benefícios e os malefícios que a atividade turística pode trazer para quem vive noentorno da Barragem Piracuruca?Benefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________Malefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________
10) O estado de conservação ambiental do entorno da Barragem Piracuruca é:( )bom ( )regular ( )precário (Por quê?________________________________________________________________________________________________________________)
11) Você está preparado para receber bem o turista? ( )sim ( )não (Por quê?__________________________________________________________________________________)
12) Você já fez algum treinamento (curso) na área do turismo: ( )sim ( )não
13) Você gostaria de fazer algum treinamento (curso) na área do turismo: ( )sim ( )não(Por quê?___________________________________________________________________)
14) De quem você adquire/onde os produtos que comercializa em seu estabelecimento?________________________________________________________________________________
15) Você tem outra atividade econômica? ( ) principal ( ) secundária( ) funcionário público ( ) artesão ( ) agricultor ( ) pescador( ) outros ( Quais? __________________________________________________________)
16) Qual o seu nível de escolaridade?( )não escolarizado ( )fundamental incompleto ( )fundamental completo( )ensino médio incompleto ( )ensino médio completo ( )superior incompleto( )superior completo ( )especialização ( )mestrado/doutorado
17) Faixa etária (anos) ( )18 a 25 ( )26 a 40 ( )41 a 60 ( )61 e mais
18) Qual a sua renda monetária mensal familiar (em salário mínimo*):( )menos de 1 ( )de 1 a menos de 3 ( )de 3 a menos de 5 ( )de 5 a menos de 7( )de 7 a menos de 9 ( )de 9 a menos de 11 ( )mais de 11*Inclui aposentadoria ( )sim ( )não
Agradecemos pela colaboração
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APÊNDICE D – FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS DOS TURISTAS QUEFREQUENTAM A BARRAGEM PIRACURUCA
Este formulário tem como objetivo obter dados referentes à pesquisa intitulada Lazer epotencialidades para o turismo em Piracuruca, Piauí. Os resultados serão utilizados paraestudos de casos no TROPEN/UFPI e não haverá qualquer referência, não autorizada, àpessoa pesquisada.
Mestranda: Roberta Celestino FerreiraOrientadora: Profª. Drª. Wilza Gomes Reis LopesCo-orientador: Profº. Drº. José Luis Lopes Araújo
Este questionário tem como objetivo coletar dados do perfil e da percepção dos turistas quefrequentam a barragem quanto à atividade turística.
Data: ______/______/_______
1) Qual sua cidade de residência permanente?Cidade:_________________________________________ UF:________________________
2) Qual a importância de atividades de lazer ao ar livre:( )nenhuma ( )pouca ( )regular ( )alta ( )muito altaPor quê?____________________________________________________________________
3) Você costuma visitar a Barragem de Piracuruca( )primeira vez que visita a Barragem ( )semanalmente ( )mensalmente( )anualmente ( )nas férias ( )em feriados
4) Está visitando a Barragem Piracuruca( )sozinho ( )com a família ( )com amigos ( )em excursão
5) Qual o tipo de transporte você utilizou para chegar a Barragem Piracuruca?( )carro particular ( )motocicleta ( )carro alugado ( )ônibus fretado ( )bicicleta( )outros (Quais?____________________________________________________________)
6) Quais atividades de lazer o senhor(a) acredita que possam ser praticadas na Barragem?( )esportes ( )show artístico ( )esportes náuticos( )banho ( )alimentação ( )caminhada/trilha ( )esportes radicais( )Outros (Quais?___________________________________________________________)
7) Para você a Barragem representa:( )diversão ( )descanso ( )abastecimento d’água ( )sair da rotina( )bom para conhecer pessoas ( )ficar junto da família ( )contato com anatureza ( )outros (Quais?__________________________________________________)
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8) Quais os benefícios e os malefícios que a atividade turística pode trazer para quem vive noentorno da Barragem Piracuruca?Benefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________Malefícios:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________
9) O estado de conservação ambiental do entorno da Barragem Piracuruca é:( )bom ( )regular ( )precário (Por quê?_________________________________________________________________________________________________________________)
10) Como você considera a qualidade nos serviços ofertados na Barragem?( )péssimo ( )ruim ( )regular ( )bom ( )excelente(Por quê?___________________________________________________________________)
11) O que você faz com o lixo produzido pelo seu consumo pessoal na Barragem ?( )joga na barragem ( )joga no cesto de lixo ( )leva de volta pra casa( )Joga no mato ( )joga no chão ( )não se preocupa com isso
12) Como você considera a infraestrutura existente voltada para o lazer na Barragem?( )péssima ( )ruim ( )regular ( )boa ( )excelente(Por quê?___________________________________________________________________)
13) Qual a principal dificuldade encontrada por você para chegar a Barragem Piracuruca?___________________________________________________________________________
14) Você indicaria a Barragem Piracuruca enquanto opção de lazer a um conhecido seu?( )sim ( )não Por quê?____________________________________________________
15) Qual a sua atividade econômica:( ) comerciante ( ) artesão ( ) agricultor ( ) pescador ( ) aposentado( ) funcionário público ( ) outros ( Quais? _____________________________________)
16) Qual o seu nível de escolaridade?( )não escolarizado ( )fundamental incompleto ( )fundamental completo( )ensino médio incompleto ( )ensino médio completo ( )superior incompleto( )superior completo ( )especialização ( )mestrado/doutorado
17) Faixa etária (anos)( )18 a 25 ( )26 a 40 ( )41 a 60 ( )61 e mais
18) Qual a sua renda monetária mensal familiar (em salário mínimo*):( )menos de 1 ( )de 1 a menos de 3 ( )de 3 a menos de 5( )de 5 a menos de 7 ( )de 7 a menos de 9 ( )de 9 a menos de 11 ( )mais de 11
Agradecemos pela colaboração!!!
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ANEXOS
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ANEXO A – INFORME TURÍSTICO DA SECRETARIA ESTADUAL DE TURISMO(SETUR), PIAUÍ
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ANEXO B – FICHA TÉCNICA DA BARRAGEM PIRACURUCA, ADMINISTRADAPELA EMPRESA DE GESTÃO DE RECURSOS DO PIAUÍ (EMGERPI)
COMDEPI - Companhia de Desenvolvimento do Piauí
FICHA TÉCNICA
BARRAGEM PIRACURUCA
1.0 - Características Gerais
1.1 Nome da Barragem Piracuruca1.2 Município Piracuruca1.3 Estado Piauí1.4 Rio Piracuruca1.5 Sistema Longá1.6 Capacidade 250.000.000,00 m3
1.7 Precipitação média anual 1.000,00 mm1.8 Área da bacia hidráulica 4.159,00 há1.9 Área da bacia hidrográfica 4.813,00 km2
1.10 Finalidades Desenvolvimento hidroagrícola do vale,através de irrigação, abastecimento,controle de cheias, perenização do rio,piscicultura e lazer.
2.0 - Características da Barragem
2.1 Tipo Terra zoneada2.2 Extensão pelo coroamento 360,00 m2.3 Largura do coroamento 6,00 m2.4 Altura máxima acima da fundação 22,50 m2.5 Altura máxima com fundação 24,00 m2.6 Cota do coroamento 81,00 m2.7 Taludes a) - montante: cota 81 - terreno natural:
1:2,5 (H:V)b) - jusante: cota 81 - terreno natural: 1:3(H:V)
2.8 Volume do maciço 176.356,40 m3
2.9 Volume da fundação 43.528,82 m3
2.10 Área dos taludes da barragem 47.424,37 m2
2.11 Largura máxima da base 129,75 m2.12 Rocha de fundação Arenito de grão fino a médio sem
estratificações, rocha com aspecto defolhelho
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3.0 - Tomada d’água
3.1 Localização Estaca 14 + 0.00 (90º com eixo dabarragem)
3.2 Tipo Galeria com torre a montante3.3 Diâmetro 2.500,00 mm3.4 Comprimento 122,00 m3.5 Descarga regularizada 6,0 m3/s3.6 Escavação 27.191,19 m3
3.7 Cota da galeria 60,00 m (no eixo)3.8 Concreto simples 98,30 m3
3.9 Concreto ciclópico 1.1500,00 m3
3.10 Dispositivo de jusante válvula dispersora3.11 Dimensões do dispositivo diâmetro = 2.000,00 mm
4.0 - Características do Sangradouro
4.1 Tipo Soleira espessa (canal escavado) c/Salto-esquino pé
4.2 Largura 150,00 m4.3 Folga 2,88 m4.4 Escavação 75.905,00 m3
4.5 Volume concreto ciclópico 4.144,00 m3
4.6 Concreto magro 44,00 m3
4.7 Concreto armado 3.000,00 m3
4.8 Concreto simples 7.350,00 m4.9 Cota do sangradouro 71,30 m4.10 Lâmina máxima 6,82 m4.11 Vazão amortecida 3.911,00 m3/s (Tr = 10.000 anos)
Observação:Data de finalização da obra: dezembro de 1997.
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