UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
DANIELLY MARQUES FRAZÃO
ENVOLVIMENTO, INDEPENDÊNCIA E CONFLITO NA FUNÇÃO DOS
EMPRESÁRIOS CONTÁBEIS NO BRASIL
RECIFE
2019
DANIELLY MARQUES FRAZÃO
ENVOLVIMENTO, INDEPENDÊNCIA E CONFLITO NA FUNÇÃO DOS
EMPRESÁRIOS CONTÁBEIS NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências Contábeis da Universidade Federal de
Pernambuco, como requisito para obtenção do título de
Mestre em Ciências Contábeis.
Área de concentração: Informação Contábil
Orientador: Cláudio de Araújo Wanderley, Ph.D
RECIFE
2019
Catalogação na Fonte
Bibliotecária Ângela de Fátima Correia Simões, CRB4-773
F848e Frazão, Danielly Marques Envolvimento, independência e conflito na função dos empresários
contábeis no Brasil / Danielly Marques Frazão. - 2019.
83 folhas: il. 30 cm.
Orientador: Prof. Cláudio de Araújo Wanderley, Ph. D.
Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Universidade Federal
de Pernambuco. CCSA, 2019.
Inclui referências e apêndices.
1. Empresário contábil. 2. Envolvimento. 3. Conflito de funções. I.
Wanderley, Cláudio de Araújo (Orientador). II. Título.
657 CDD (22. ed.) UFPE (CSA 2019 – 111)
DANIELLY MARQUES FRAZÃO
ENVOLVIMENTO, INDEPENDÊNCIA E CONFLITO NA FUNÇÃO DOS
EMPRESÁRIOS CONTÁBEIS NO BRASIL
Dissertação submetida ao Corpo Docente do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal de
Pernambuco.
Aprovada em 25 de fevereiro de 2018.
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________
Prof. Cláudio de Araújo Wanderley, Ph.D. (Orientador)
Universidade Federal de Pernambuco
_____________________________________________
Prof. Dr. Luiz Carlos Marques dos Anjos (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
_____________________________________________
Prof. Dr. Aldo Leonardo Cunha Callado (Examinador Externo)
Universidade Federal da Paraíba
Dedico este trabalho:
À Deus.
Aos meus pais: Nadijane e
George.
À minha vó: Zezinha.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sempre me guiar, me fortificar e me cobrir de amor em todo momento e em todos
os aspectos da minha vida.
Aos meus pais, Nadijane e George, por ser o alicerce que me sustenta e os principais
apoiadores de todos os meus sonhos. Obrigada por todo amor, compreensão e apoio durante a
minha caminhada no mestrado.
Ao meu irmão, George Júnior, pelo incentivo e carinho desprendidos a mim.
A minha vó Zezinha, por todo amor enrustido em “delícias” e cuidado para ninguém me
atrapalhar na escrita dessa dissertação. Vó, a senhora é a melhor do mundo!
As minhas tias: Nadja e Niedja por todo o carinho e pelas palavras de incentivo: “Quando vou
poder dizer que tenho uma sobrinha, „mestra‟?”
As minhas primas: Alanna e Nicole, por todo momento de descontração e paciência com as
minhas ausências.
Ao meu orientador, Prof. Cláudio de Araújo Wanderley, Ph.D., pelo incomensurável suporte,
confiança, paciência e sabedoria, do começo ao fim da execução desta pesquisa. Meus
sinceros agradecimentos!
Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Marques dos Anjos (UFPE). e ao Prof. Dr. Aldo Leonardo Cunha
Callado (UFPB), pela imensa honra de compor a banca examinadora desta dissertação e por
todas contribuições fornecidas.
A todo corpo docente do Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da UFPE, pela
colaboração dos conhecimentos necessários e pelas aulas ministradas que foram
extremamente enriquecedoras.
Aos meus amigos de turma. Em especial a Ivi Souza, por todos os momentos vividos, pelos
choros e alegrias compartilhados, pelas conversas, pelas melhores piadas, por ser apoio e
fortaleza em todos os momentos e por ser um verdadeiro presente de Deus em minha vida. Tu
és parte fundamental de toda essa conquista! Mais que uma amiga, uma irmã. A Mariana
Siqueira, por ser a pessoa mais „louca‟ que conheci nesse mestrado, que sempre te coloca pra
cima, fazendo você acreditar que é a melhor pessoa e a melhor acadêmica do mundo (“Já deu
certo, já!”). A Arthur, fiel parceiro de artigo, que caminha ao meu lado desde a graduação (o
homem do lucro).
Aos amigos que fiz na caminhada de mestranda, de outras turmas do PPGCC e do doutorado.
Em especial a Wesley Santos, que me ensinou dentre tantas coisas, que o mundo pode está
caindo o importante é estar “TRANQUILO”. A Tiago Soeiro, por toda ajuda e conhecimento
compartilhado, sobretudo na parte estatística deste trabalho.
Aos amigos de trabalho, em especial a: Rafaela Bertino e Lizandra Araújo por todos os
momentos de descontração e por toda energia positiva para o termino desta dissertação.
A todos os profissionais que dedicaram um pouco do seu tempo para participar da pesquisa e
a todas as pessoas que de maneira direta ou indiretamente contribuíram para que esse sonho se
tornasse realidade.
Aos meus, meu MUITO OBRIGADA!
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
(Fernando Pessoa por Álvaro de Campos)
RESUMO
Considerando as mudanças que a literatura profissional e acadêmica vêm apontando no que
diz respeito a profissão do contador, a presente pesquisa teve como objetivo identificar se
existem relações entre o envolvimento com o conflito de funções, o comprometimento com
independência, a modificação/adequação do trabalho, a satisfação e o prestígio dos
empresários contábeis que atuam como proprietários e/ou sócios de escritórios contábeis no
Brasil. Foi mapeado um conjunto de 6.000 empresários, do qual obteve-se um total de 415
respondentes por meio da plataforma Survey Monkey que compuseram a amostra final do
estudo. Os respondentes foram mapeados através de três estratégias de captação: o cadastro
dos escritórios associados à FENACON, a busca pela ferramenta LinkedIn e o acesso por
meio de interação com esses profissionais. Tendo em vista os objetivos traçados e as
particularidades de cada variável, foram utilizados múltiplos procedimentos estatísticos para
efetuar a análise: estatística descritiva, análise de cluster, teste de correlação e regressão pelo
modelo Tobit. Ademais, os resultados dessa pesquisa mostram que os empresários contábeis
englobam no exercício de sua profissão tanto atividades de caráter operacional como de
caráter estratégico, sem que haja uma predominância eminente para quaisquer uma das
funções. A partir desses achados, notou-se que apesar do profissional poder adotar diferentes
perfis, o perfil hybrid (híbrido) mostrou-se predominante para a amostra do estudo. Por fim,
no que se refere à existência de relação entre o envolvimento e as variáveis contingenciais, foi
evidenciada uma relação positiva e significante com as variáveis prestígio, satisfação e
comprometimento com independência. Já quanto ao conflito, foi observado uma relação
positiva com a modificação/adequação (job crafting) do trabalho na dimensão cognitiva.
Assim, conclui-se que os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento
reportam níveis mais altos de prestígio, satisfação e comprometimento com independência.
Palavras-chave: Empresário Contábil. Envolvimento. Conflito de funções.
ABSTRACT
Considering the changes that the professional and academic literature have been pointing to
regarding the profession of accountant, the present research had as objective to identify if
there are relations between the involvement with the conflict of functions, the commitment
with independence, the modification / adequacy of the work, the satisfaction and the prestige
of accounting entrepreneurs who act as owners and / or partners of accounting offices in
Brazil. A set of 6,000 entrepreneurs was mapped, from which a total of 415 respondents were
obtained through the Survey Monkey platform that composed the final sample of the study.
The respondents were mapped through three capture strategies: the registration of offices
associated with FENACON, the search for the LinkedIn tool and access through interaction
with these professionals. In order to perform the analysis, descriptive statistics, cluster
analysis, correlation test and regression using the Tobit model were used in order to analyze
the objectives and the particularities of each variable. In addition, the results of this research
show that accounting entrepreneurs include both operational and strategic activities in the
exercise of their profession, without there being an eminent predominance for any of the
functions. From these findings, it was noted that although the professional could adopt
different profiles, the hybrid profile was predominant for the study sample. Finally, regarding
the existence of a relationship between the involvement and the contingency variables, a
positive and significant relationship was evidenced with the variables prestige, satisfaction
and commitment with independence. As for conflict, a positive relationship was observed
with job crafting in the cognitive dimension. Thus, it is concluded that Brazilian accounting
entrepreneurs with the highest level of involvement report higher levels of prestige,
satisfaction and commitment to independence.
Keywords: Accounting Entrepreneurs. Involvement. Conflict of functions.
LISTAS DE QUADROS
Quadro 1- Mensuração das variáveis........................................................................................ 39
Quadro 2- Resumo dos resultados obtidos referentes aos testes das hipóteses da pesquisa .... 66
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1- Estrutura e base teórica do questionário ................................................................... 36
Tabela 2- Processo de realização da pesquisa .......................................................................... 37
Tabela 3 - Resultado do teste estatístico Alfa de Cronbach para cada instrumento ................. 43
Tabela 4 - Resultado do teste estatístico Alfa de Cronbach ..................................................... 43
Tabela 5 - Gênero dos respondentes ......................................................................................... 44
Tabela 6 - Escolaridade dos respondentes ................................................................................ 45
Tabela 7- Localização dos escritórios contábeis por Região .................................................... 45
Tabela 8- Características gerais dos escritórios contábeis........................................................ 46
Tabela 9- Característica do escritório quanto a sua especialização .......................................... 47
Tabela 10- Grau de importância das atividades........................................................................ 47
Tabela 11- Distribuição do tempo dos empresários quanto as suas funções ............................ 48
Tabela 12- Grau de importância dos serviços de consultoria/assessoria .................................. 48
Tabela 13- Distância entre os centros do cluster ...................................................................... 50
Tabela 14- Agrupamento dos clusters ...................................................................................... 51
Tabela 15- Número de empresários para cada cluster (perfil).................................................. 51
Tabela 16- Estatística Descritiva – Envolvimento ................................................................... 53
Tabela 17- Estatística Descritiva – Conflito de funções........................................................... 54
Tabela 18- Estatística Descritiva – Comprometimento com Independência ............................ 55
Tabela 19- Estatística Descritiva –Satisfação ........................................................................... 55
Tabela 20- Estatística Descritiva –Prestígio ............................................................................. 56
Tabela 21- Estatística Descritiva – Job Crafting ...................................................................... 57
Tabela 22- Matriz de correlação de Spearman das variáveis do estudo ................................... 59
Tabela 23- Resultados do Modelo Tobit (1) ............................................................................. 61
Tabela 24- Resultados do Modelo Tobit (5), (6), (7) e (8) ....................................................... 62
Tabela 25- Resultados do Modelo Tobit (2) ............................................................................. 64
Tabela 26- Resultados do Modelo Tobit (3) e (4) .................................................................... 65
LISTA DE SIGLAS
FENACON - Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de
Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas.
ICAEW – Institute of Chartered Accountants in England and Wales
IFAC – International Federation of Accountants
IMA - Institute of Management Accountants
MBA – Master Business Administration
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA .......................................................................... 17
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 19
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 19
1.2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 20
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 20
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ......................................................................................... 21
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................. 22
2 REVISÃO DA LITERATURA E HIPÓTESES DA PESQUISA ................................... 23
2.1 O ENVOLVIMENTO DO PROFISSIONAL CONTÁBIL ............................................... 23
2.2 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES ..................................................................... 25
2.2.1 O conflito de funções existente na profissão contábil ................................................. 25
2.2.2 O profissional contábil e o seu comprometimento com independência .................... 30
2.2.3 Prestígio e satisfação no trabalho do profissional contábil ........................................ 31
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 34
3.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA ................................................................................. 34
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................ 35
3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA ..................................................................................... 36
3.4 PROCEDIMENTOS ........................................................................................................... 37
3.5 CONSIDERAÇÕES E PROCEDIMENTOS ÉTICOS ...................................................... 38
3.6 VARIÁVEIS DO ESTUDO E PROCESSO DE ANÁLISE ............................................. 39
3.6.1. Mensuração ................................................................................................................... 39
3.6.2 Técnicas estatísticas e econométricas utilizadas ......................................................... 40
3.6.3 Modelo da pesquisa ....................................................................................................... 40
3.7 ALFA DE CRONBACH .................................................................................................... 41
4 ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................... 44
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA .................................................................................................. 44
4.1.1 Características Dos Respondentes ............................................................................... 44
4.1.2 Características dos escritórios contábeis ..................................................................... 45
4.1.3 Atividades e funções dos empresários contábeis ......................................................... 47
4.1.4 Perfil dos empresários contábeis com base nas suas atividade e funções ................. 49
4.1.5 Variáveis do estudo ........................................................................................................ 52
4.2 ANÁLISE INFERENCIAL ................................................................................................ 58
4.2.1 Análise de Correlação ................................................................................................... 58
4.2.2 Análise e discussão das hipóteses de pesquisa ............................................................. 60
4.2.2.1 Conflito de funções ....................................................................................................... 60
4.2.2.2 Job Crafting .................................................................................................................. 61
4.2.2.3 Comprometimento com independência ........................................................................ 63
4.2.2.4 Prestígio e Satisfação .................................................................................................... 64
5 CONCLUSAO ...................................................................................................................... 67
5.1 Limitações do estudo ........................................................................................................ 69
5.2 Sugestões para pesquisas futuras .................................................................................... 69
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 71
APÊNDICE A – Questionário ............................................................................................... 77
16
1 INTRODUÇÃO
Evidências empíricas iniciais acerca das funções organizacionais dos contadores,
apontavam para baixos níveis de envolvimento desses profissionais nos processos de tomada
de decisões gerenciais (SIMON, 1954; HOPPER, 1980; EMSLEY, 2005; LAMBERT;
SPONEM, 2012). A visão enfática desses profissionais de que a contabilidade seria uma
atividade rígida, com a função de simplesmente gerir dados financeiros, fazia com que as
atividades associadas à participação nos processos de tomada de decisões de negócios
parecessem não fazer parte dos papéis dos contadores (ZONI; MERCHANT, 2007).
A literatura mais recente por sua vez, argumenta que ao longo do tempo esse cenário
foi mudando, de forma que grande parte dos contadores estão mais envolvidos com os
processos de decisão gerencial (ZONI; MERCHANT, 2007). De acordo com os autores essas
mudanças condizem com o aconselhamento normativo dados aos profissionais
Segundo o IMA (1999) na década de 90 a maior necessidade das organizações era de
profissionais capazes de se envolverem e influenciarem nos resultados dos negócios. Segundo
o Instituto, essa nova exigência alavancou as mudanças nesse cenário e passou a exigir desses
profissionais uma expansão das competências, passando da simples gestão de dados
financeiros para ajudar as principais partes interessadas na tomada de decisões estratégicas.
Corroborando com essa análise, o IFAC em 2001, na condução de um estudo da
evolução das profissões relacionadas à contabilidade, levantou a algumas discussões. Entre as
tendências documentadas, o estudo sugere que há mudança significativa do desempenho
apenas das funções contábeis estreitas para um maior envolvimento em funções de
gerenciamento mais amplas.
O ICAEW, por sua vez, publicou em 2004 o relatório “Sustainability: The Role of
Accountants” alertando sobre a atual expansão dos papéis dos contadores. Segundo o Instituto
essa expansão refere-se ao desenvolvimento da controladoria para a elaboração, utilização e
entendimento dos relatórios internos de impactos sociais e ambientais, mensuração de
performance, interpretação de informações e conseguinte a tomada de decisão.
Posteriormente, o IFAC em 2005, expandindo seu estudo realizado em 2001, afirmou
que, em linhas gerais, a tendência aponta para um momento transitório de reposicionamento
17
do papel desses profissionais, englobando papéis mais estratégicos, evidenciando um alto
nível de envolvimento na tomada de decisão.
No entanto, embora grande parte da literatura conduza o pensamento para um
momento de transição do nível de envolvimento desses profissionais e dos papéis adotados
por eles, segundo Lambert e Sponem (2012) é preciso considerar outros pontos: (1) a
literatura é escassa e o foco das pesquisas concentra-se nas características individuais dos
contadores; e (2) essa transição não é unânime em todas as organizações. Sobre o primeiro, a
literatura empírica indica que há uma imagem fragmentada, incompleta e contraditória do
envolvimento do profissional nos seus negócios, dos papéis contemporâneos e das
consequências de tais papéis (BYRNE; PIERCE, 2007). Já sobre o segundo ponto, as
evidências apontam para diferentes aspectos, dependendo do porte das empresas (RAHMAN;
AHMED, 2012), já que os papéis podem simultaneamente serem influenciados pelo contexto
dentro e fora das organizações.
Assim, com base nessa dicotomia de papéis e de níveis de envolvimento apontada pela
literatura e da falta de evidências claras que conduzam a um pensamento uniforme sobre esses
profissionais, esta pesquisa busca uma análise aprofundada da natureza e da magnitude do
envolvimento do contador nas suas atividades, de forma a proporcionar uma melhor
compreensão da evolução dos papéis e dos efeitos disso no conflito de funções, no
comprometimento com independência, na modificação/adequação do trabalho, na satisfação e
no prestígio desses profissionais.
Por fim, a pesquisa foi desenvolvida junto aos profissionais de contabilidade que
atuam como empresários contábeis no Brasil. Mais especificadamente, foram considerados
como Empresários Contábeis, os proprietários e/ou sócios de escritórios de contabilidade
situados ao longo do território brasileiro.
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
A difusão da pesquisa empírica a respeito do envolvimento dos contadores em seus
negócios tem apontado para diversas mudanças no papel desempenhado por esses
profissionais (LAMBERT; SPONEM, 2012). Esses estudos têm sugerido que o papel dos
contadores está agora situado em organizações que experimentam ambientes altamente
mutáveis e altamente competitivos, caracterizados por mudanças estruturais e incentivos de
inovação (GRANLUND; MALMI, 2002; BYRNE; PIERCE, 2007).
18
Em particular, essa perspectiva teórica foi ampliada para acomodar as perspectivas
estratégicas, sugerindo que os papéis dos contadores podem estar caminhando em direção a
um novo “parceiro de negócios” (conhecido na literatura internacional pelo business partner)
abandonando a figura do contador bean counter (GIBSON, 2002; BYRNE; PIERCE, 2007;
PAULSSON, 2012). A literatura argumenta que enquanto o business partner vem sendo
associado a um nível de envolvimento e independência mais ativo na decisão estratégica e
operacional, o bean counter refere-se a uma figura mais tradicional, com foco nas atividades
de registro de dados e elaboração dos relatórios contábeis.
De acordo com Horton e Wanderley (2018) é importante ressaltar que, embora esses
protótipos de "bean counter" e " business partner" representem as principais descrições
utilizadas na literatura, na realidade, os papéis dos contadores parecem ser muito mais
complexos. Em linhas gerais, conforme discutem os autores, esses papéis adotados pelos
contadores provavelmente não serão adequadamente caracterizados por essas noções
singulares de “independência” versus “envolvimento” ou “contador policial (fiscal)” versus
“parceiro de negócios”, ao invés disso, os profissionais nesse cenário atual, operam em
funções dupla ou múltiplas, e seus níveis de envolvimento nos negócios podem refletir vários
pontos entre o baixo envolvimento e o alto envolvimento.
Nesse ínterim, dada a natureza complexa e incorporada dos diferentes papéis dos
contadores é possível que esses profissionais enfrentem algumas situações conflitantes e um
dilema a respeito de quais perfis adotar, quais os níveis de envolvimento adequado, quais as
consequências geradas por determinada posição e quais os efeitos desses fatores no nível de
satisfação e prestígio desses profissionais (SOUZA, 2016). Conforme afirma Siegel (2000)
esse dilema, por sua vez, gera uma tendência ao conflito entre os papéis que esses
profissionais desempenham e o nível de envolvimento e independência desses fatores na
tomada de decisão.
No Brasil, a literatura que trata sobre esses fatores é relativamente recente (DE
FREITAS; LUNKES, 2010), apresentando muitas lacunas e necessidade de investigação
sobre o tema. De acordo com os estudos nacionais (BORINELLI, 2006; CARDOSO;
MENDONÇA NETO; OYADOMARI, 2010; PALOMINO; FREZATTI, 2016; SOUZA,
2016) a pesquisa sobre a temática no Brasil, versa sobre a falta de consenso prevalente, e
assim como a pesquisa internacional, apresenta aspectos inconsistentes sobre o papel dos
contadores que podem ser contrário ao percurso desses profissionais na prática (BYRNE;
19
PIERCE, 2007). Por fim, destaca-se que até a presente data do estudo, não foram
evidenciadas pesquisas que abordaram a mesma análise e levantaram a problemática dentro
do construto abordado.
Neste estudo, cinco grandes questões foram analisadas por trás da discussão da
evolução dos papéis: envolvimento, o conflito de funções, o comprometimento com
independência, a modificação/adequação do trabalho e os níveis de satisfação e prestígio
desses profissionais. Nessa perspectiva, a lacuna encontrada nos estudos baseou-se em
reflexões acerca do escopo e alcance social do tema. A complexidade do dilema abordado
favorece, e ao mesmo tempo, fomenta a necessidade da investigação com vistas a
compreender as questões empíricas e o cenário atual em que os empresários contábeis atuam.
Diante desse cenário, a problemática do estudo reside sobre os seguintes aspectos: (1) a falta
de evidências empíricas sobre os níveis de envolvimento dos contadores que atuam como
sócios de escritórios contábeis no país; e (2) a falta de clareza sobre como os níveis de
envolvimento influenciam os fatores ligados a profissão de contator, tais como: o
comprometimento com a independência, conflito de papéis, satisfação e prestígio.
Assim, com base na problemática discutida acima, a presente pesquisa será motivada
pelo seguinte questionamento: Existe alguma relação entre os níveis de envolvimento dos
empresários contábeis com o conflito de funções, o comprometimento com
independência, a modificação/adequação do trabalho (job crafting), a satisfação e o
prestígio vivenciados por esses profissionais?
1.2 OBJETIVOS
Evidenciada a problemática da pesquisa foram formulados o objetivo geral e os objetivos
específicos.
1.2.1 Objetivo Geral
Identificar se existem relações entre o envolvimento com o conflito de funções, o
comprometimento com independência, a modificação/adequação do trabalho, a satisfação e o
prestígio dos empresários contábeis que atuam como proprietários e/ou sócios de escritórios
contábeis no Brasil
20
1.2.2 Objetivos Específicos
Identificar as principais atividades desempenhadas pelos contadores atuantes como
sócios em escritórios de contabilidade no Brasil.
Identificar os níveis de envolvimento dos empresários contábeis brasileiros nas suas
atividades.
Investigar a existência dos conflitos de funções na atividade dos empresários contábeis
no Brasil
Identificar como o conflito de funções afeta em questões de modificação/adequação do
trabalho
Examinar a natureza e a magnitude do envolvimento, conflito de funções, do
comprometimento com independência, da modificação/adequação do trabalho, a
satisfação e o prestígio nos perfis dos empresários contábeis no Brasil.
1.3 JUSTIFICATIVA
Embora a literatura anterior tenha sido bastante promissora na tentativa de explicar a
natureza e as implicações do envolvimento dos profissionais contábeis em seus negócios, as
evidências são escassas, e as questões sobre quais papéis os contadores estão desempenhando
em organizações e seus efeitos estão longe de serem resolvidos (ZONI; MERCHANT, 2007).
Considerando que a presente pesquisa será desenvolvida junto aos profissionais de
contabilidade que atuam como proprietários e/ou sócios de escritórios de contabilidade no
Brasil, do ponto de vista da aplicabilidade e delimitação, este estudo justifica-se por três
pontos principais: (i) a importância desse executivo, visto que além de exercer a atividade
contábil, este conduz os serviços prestados por sua organização, permitindo uma análise
multinível, isto é, do sócio como profissional e do sócio como organização; (ii) a capacidade
de observar o envolvimento e os seus efeitos de forma mais objetiva, visto que esses fatores
atuam diretamente e de forma mais atenuante nesses profissionais devido a sua posição
hierárquica de controlador; (iii) a falta de pesquisas com o foco nesses profissionais, visto que
a maioria das pesquisas que se propuseram a analisar esses fatores, optaram pelo foco no
profissional controller (GIBSON, 2002; BYRNE; PIERCE, 2007; EMSLEY, 2005;
LAMBERT; SPONEM, 2012). Embora o controller seja um profissional representativo
dentre das organizações, muitos desses profissionais têm suas decisões subordinadas à figura
21
do controlador da organização da qual fazem parte, podendo esta interferir em seu
envolvimento.
Do ponto de vista empírico, observa-se que algumas questões permanecem sem
entendimento. Primeiro, grande parte desses estudos tem como proposta explicar a relação do
envolvimento com os aspectos atrelados a uma perspectiva da organização: expectativas
gerenciais (HOPPER, 1980), mudança no ambiente operacional (LENGNICK-HALL, 1992;
GRANLUND; TAIPALEENMAKI (2005), mudanças gerencias (FRIEDMAN; LYNE; 1997,
GRANLUND; LUKKA, 1998; BYRNE; PIERCE, 2007), capacidade de inovação e
desenvolvimento tecnológico (EZZAMEL; LILLEY; WILLMOTT, 1997; GRANLUND;
MALMI, 2002; EMSLEY, 2005), dando pouca atenção aos efeitos desse envolvimento em
fatores endógenos, isto é, sobre uma perspectiva individual dos profissionais de contabilidade.
Assim, a relevância acadêmica desta pesquisa está na compreensão do efeito do envolvimento
do profissional nos fatores de comprometimento com independência, conflito de funções,
modificações/adequação do trabalho, satisfação e prestígio.
Segundo, o contexto brasileiro em que a pesquisa será aplicada além de ter sido pouco
explorado, não permanece imune das tensões de conflito e ambiguidade de funções
(PALOMINO; FREZZATTI, 2016). Tais fatores, fomentam a necessidade de investigação e
justificam a relevância social e organizacional desta pesquisa, visto que por meio desta,
procura-se melhorar a gestão das organizações e provocar novos insights à literatura e aos
empresários contábeis sobre os desafios e oportunidades associados à percepção do futuro e
ao desenvolvimento desses profissionais no Brasil.
Por fim, de maneira geral, existem diversas lacunas e falta de evidências empíricas
sobre o contexto atual da profissão do contador, visto que, conforme disposição teórica, é uma
área que vem passando por diversas mudanças ao longo dos anos. Dessa forma, esse trabalho,
visa dar incentivos para futuras pesquisas e provocar importantes discussões não só para a
academia, mas também, para um contexto prático, de forma a incitar a valorização da
profissão contábil e explorar novos insigths que sejam úteis para as organizações.
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
O estudo teve como foco e delimitação os empresários contábeis que atuam como
sócios e/ou proprietários de escritórios contábeis no Brasil e, em virtude disto, suas
conclusões apresentam-se limitadas a aplicabilidade desses profissionais, não sendo indicado
22
a realização de inferências sobre profissionais que fujam desse escopo e atuem em outras
localidades. Através da pesquisa, foi possível conhecer e caracterizar a população, bem como
identificar padrões e particularidades entre os respondentes.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
A presente dissertação será organizada de forma a apresentar cinco capítulos: o
primeiro capítulo objetivando apresentar os aspectos introdutórios da pesquisa, bem como a
caracterização do problema, os objetivos (geral e específicos), a justificativa e a delimitação
do estudo; o segundo capítulo, intitulado de Revisão da Literatura, no qual será apresentado a
base teórica para a discussão do tema e as hipóteses formuladas para o estudo, dividido em
cinco tópicos: (1) O envolvimento do profissional contábil; (2) O conflito de funções
existente na profissão contábil; (3) O profissional contábil e o seu comprometimento com
independência; (4) A modificação/adequação do trabalho dos contadores; e (5) Prestígio e
satisfação no trabalho do profissional contábil; o terceiro capítulo abordará os procedimentos
metodológicos adotados para a pesquisa, bem como informações da amostra, processo para a
coleta de dados, construção do instrumento, considerações éticas e técnicas estatísticas; o
quarto capítulo abordará a análise e discussão dos resultados; e o quinto capítulo
compreenderá as conclusões obtidas da referida dissertação com a apresentação das limitações
encontradas e as sugestões para futuras pesquisas.
23
2 REVISÃO DA LITERATURA E HIPÓTESES DA PESQUISA
Este capítulo contempla a discussão teórica do tema, demonstrando os principais
estudos e evidências que suportam a construção e desenvolvimento da pesquisa. No primeiro
tópico apresenta-se a ideia inicial dos aspectos teóricos do envolvimento do profissional de
contabilidade. A partir do segundo tópico, a discussão teórica focou em discutir e formular as
hipóteses do estudo, sendo esta relacionadas ao envolvimento dos contadores, o conflito de
funções existente na profissão, a preparação ou modificação do trabalho contábil, o
comprometimento com independência e os aspectos sobre satisfação e prestígio.
2.1 O ENVOLVIMENTO DO PROFISSIONAL CONTÁBIL
A evolução da discussão teórica sobre o envolvimento de papéis dos contadores é
traçada pelas características associadas a esses profissionais e pelas condições de
desenvolvimento das funções nas configurações de contabilidade gerencial que evidenciou
uma expansão da unidade funcional para unidade de negócios (DENT, 1991; EMSLEY,
2005).
De acordo com a literatura, os primeiros estudos a definir o significado de
envolvimento de papéis foram feitos a partir do contexto de contabilidade gerencial
(EMSLEY, 2005). Segundo Anderson (1995) esse envolvimento nos negócios pode ser
definido como centralidade do cargo do indivíduo, autonomia e responsabilidade como
contador para o departamento de controladoria, na qual uma alta centralidade estaria
associada a uma orientação gerencial e uma baixa centralidade estaria associada a uma
orientação funcional.
Embora o envolvimento de papéis não tenha sido medido explicitamente na literatura
contábil gerencial, as características associadas a uma unidade de negócios ou orientação
funcional foram observadas em muitos estudos que trataram da temática (EMSLEY, 2005).
Mais precisamente, em meados da década de 1980, vários autores já argumentavam sobre os
fatores que influenciam o envolvimento (PALOMINO, 2013) e os fatores influenciados por
ele (ZONI; MERCHANT, 2007).
Nessa perspectiva, é possível segregar a literatura sobre o envolvimento em duas
grandes correntes: (i) a primeira, referente as perspectivas do envolvimento sendo
influenciado pelas características do cenário organizacional; (ii) e a segunda apontando para o
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envolvimento como efeito moderador de alguns fatores que influenciam no exercício da
profissão do contador no Brasil.
Sobre a primeira corrente, o estudo de Sathe (1982, apud ROUWELAAR, 2007),
argumenta que muitas características influenciam o nível de envolvimento dos profissionais
contábeis, entre elas, o autor destaca que três categorias são relevantes para entender e
explicar a variação no grau de envolvimento do controlador: a primeira categoria relaciona-se
com a motivação, a personalidade e as relações interpessoais do controlador com a gerência
(características pessoais); a segunda categoria está relacionada às expectativas, orientação e
filosofia operacional da administração (características do gerente). Finalmente, a terceira
categoria está relacionada às características do ambiente e dos negócios da empresa.
Corroborando com este entendimento, Palomino (2013) sob o contexto do profissional
controller explica que os fatores organizacionais (características ambientais e do negócio) têm
maior influência no envolvimento desses profissionais nos processos gerenciais, seguido das
características interpessoais, representadas pelas expectativas dos supervisores. Já a
orientação e a filosofia da organização influenciam em menor grau o envolvimento na gestão,
e com menor magnitude ainda se encontram as características pessoais do profissional, como
a motivação e a personalidade.
De Freitas e Lunkes (2010), por sua vez, afirmam que é importante considerar esses
fatores para que se possa ter uma melhor definição do papel desses profissionais nas
organizações e, além disso, é preciso observar o tipo de influência dessas características.
Sobre esse último ponto, os autores argumentam que com base no estudo de Sathe (1982), as
características: (a) expectativas relativas ao envolvimento; (b) orientação Financeira; (c) CEO
com habilidades financeiras; e (d) percentagem de Executivos com Habilidades Financeiras,
influenciam negativamente o grau de envolvimento do profissional controller nas decisões da
empresa. Enquanto as características: (e) ambientais e do negócio; e (f) as características
gerenciais influenciam positivamente o envolvimento.
Sobre a segunda perspectiva, conforme aponta a literatura, há duas correntes
controversas sobre o efeito do envolvimento em fatores que influenciam no exercício da
profissão do contador no Brasil: uma que defende a ideia de que o envolvimento provoca um
efeito positivo e a outra que argumenta sobre pontos negativos. Em particular os críticos
sugerem que um alto envolvimento do profissional contábil nos processos de decisão
25
gerencial pode indicar baixos níveis de independência (LAMBERT; SPONEM, 2012), a
prática de gerenciamento de resultados ou até mesmo atitudes antiéticas (INDJEJIKIAN;
MATEJKA, 2006; ZONI; MERCHANT, 2007). No entanto, outros estudiosos argumentam
que esse envolvimento pode funcionar como uma resposta eficaz às várias mudanças nos
papéis desses profissionais, agindo como uma espécie de “investimento”, na tentativa de criar
maiores flexibilidades e incentivos aos profissionais a adotar novos papéis (PARKER;
GRIFFIN; SPRIGG; WALL, 2002) e, além disso, pode comandar níveis mais altos de
legitimidade, fornecendo um maior acesso aos recursos necessários para conduzir esforços
coletivos de mudança (HORTON; WANDERLEY, 2018).
Com base nesse levantamento teórico, considera-se que esta pesquisa, se enquadra na
perspectiva de análise do envolvimento como um efeito moderador de fatores relacionados a
profissão de contador/controller, partindo do contraponto que os níveis de envolvimento
podem afetar cinco fatores, sendo estes: o comprometimento com independência, o conflito
de funções, a preparação do trabalho, a satisfação e o prestígio dos empresários contábeis
brasileiros, conforme dispostos nos próximos tópicos, que discutem essencialmente as
hipóteses de pesquisa.
2.2 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES
2.2.1 O conflito de funções existente na profissão contábil
De acordo com Barley (1989) os papéis, dentro do contexto do profissional contábil,
podem ser definidos como as especificações externas ou expectativas relacionadas a uma
posição. Essa definição, em linhas gerais, conduz para o entendimento da evolução desses
papéis diante da literatura bem como o contexto atual em que eles são tratados.
Evidências empíricas acerca dos papéis adotadas pelos contadores, apontam que esses
profissionais assumem múltiplos papéis nas suas atividades (SIMON, 1954) e que ao longo do
tempo esses papéis vieram se modificando. Mais precisamente a partir da década de 1980,
muito da literatura concentrou-se em explicar como esses papéis vêm mudando e quais os
papéis assumidos por esses profissionais (GRANLUND; LUKKA, 1998; SIEGEL;
SORENSEN, 1999; FRIEDMAN; LYNE, 2001; BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2005;
EMSLEY, 2005).
De acordo com Simon (1954) estes papeis variam de acordo com a descrição de três
funções: scorekeeping, attention-directing e problem-solving. Sathe (1984) discute que
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enquanto os papéis scorekeeping e attention-directing geralmente se concentram em questões
de controle e “pontuação” sobre desempenho, respectivamente, o papel de problem-solving
(resolução de problemas) se concentra em fornecer aos gerentes de unidade de negócios
informações relevantes para a tomada de decisões.
Granlund e Lukka (1998) argumentam que o papel de problem-solving tornou-se
relativamente mais importante à medida que os profissionais das unidades de negócios
enfrentam ambientes cada vez mais incertos, onde informações novas e diferentes são
necessárias para gerenciar essas incertezas.
Hopper (1980) aponta para dois papéis diferentes: o bookepper, associado a um foco
nos registros contábeis, e, o service-aid atrelado a uma função mais voltada para a decisão,
funcionando como um facilitador da tomada de decisão. Além de Hopper (1980), outros
estudos se propuseram a estudar esses ou um desses papéis (SATHE, 1984; BOUGEN, 1994;
RAHMAN; AHMED, 2012).
Burns e Baldvinsdottir (2005) abordam de forma comparativa o papel scorekeeping,
discutido em literatura anterior por Sathe (1984) e o papel business consultant. A esse
respeito os autores argumentam que enquanto o scorekeeping concentra-se na sua habilidade
de avaliar as questões atreladas ao desempenho, o business consultant busca desempenhar a
função de assessor dos gestores.
Além desses, muitos outros papéis são tratados na literatura contábil, dentre eles
destacam-se: o watchdogs (GRANLUND; LUKKA, 1998; JÄRVENPÄÄ, 2007; RAHMAN;
AHMED, 2012), o corporate policeman (BYRNE, 2010); o decision making facilitator
(LAMBERT; SPONEM, 2012). No entanto, os estudos têm sugerido que esses papéis
correspondem a duas imagens centrais do contador: o bean counter e o business partner
(FRIEDMAN; LYNE, 2001; VAIVIO; KOKKO, 2006).
De acordo com Granlund e Lukka (1998) o bean counter está atrelado a função de
processador e coletor de informações, no fornecimento de informações formais. Segundo
Hopper (1980) a adoção desse papel sugere que esses profissionais irão agir como uma
espécie de monitor imparcial e independente do desempenho fiscal. Já sobre o papel do
contador business partner, em geral, é atrelado a uma função mais participativa e
integradora no negócio, associado a uma visão mais estratégica (BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2007).
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Sobre isso, Souza (2016) argumenta que é possível perceber que há papéis com um
viés mais conservador e outros com um viés mais moderno. Em geral, os papéis que são
associados a uma realidade mais burocrática, financeira e quantitativa são apresentados na
literatura como conservadores. Ao passo que os papéis mais centrados na cooperação com a
estratégia organizacional, na mensuração do desempenho não financeiro e no apoio à gestão
são encarados como modernos.
Embora a discussão desses papéis (bean counter e business partner) representem as
principais evidências produzidas pela literatura contábil sobre o tema, as pesquisas recentes
têm apontado que é preciso considerar outros pontos e que esses papéis no contexto
organizacional parecem ser muito mais complexos (PAULSSON, 2012; HORTON;
WANDERLEY, 2018).
Nesse ínterim, enquanto parte da literatura aponta que esses papéis estão em um
período de transição, no qual os contadores estão abandonando o papel bean counter e
adotando o papel business partner (SIEGEL; SORENSEN, 1999; BYRNE; PIERCE, 2007),
outros estudos afirmam que na verdade esses papéis estão sendo expandidos como
“contadores híbridos” já que se espera que eles participem não apenas de tarefas orientadas a
contabilidade, mas também de questões relacionadas às operações na organização
(CAGLIO, 2003; BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2005; BURNS; BALDVINSDOTTIR,
2007; HORTON; WANDERLEY, 2018)
Dentro desse contexto, é importante considerar que o surgimento desses papéis
caracterizados como “híbridos” apontam para diferentes níveis de envolvimento e
independência e para uma combinação de diversos papéis. Esses fatores somados à falta de
evidência empíricas podem provocar no profissional o que chamamos de “conflito de papéis”.
Segundo Katz e Kahn (1970) esse conflito de papéis é fruto da ocorrência simultânea
de dois (ou mais) requerimentos de papéis, de forma que a execução e o desempenho de um
deles tornaria mais difícil o desempenho do outro. Trazendo para o contexto organizações dos
profissionais contábeis, Palomino e Frezatti (2016) argumentam que esse conflito
aparentemente pode ocorrer na combinação dos papéis, de forma que um indivíduo pode ser
um executivo e ter que agir como supervisor em determinada área e ser subordinado em outra
área, sendo que suas funções serão diferentes para cada uma destas posições organizacionais.
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A literatura aponta que várias características podem ser associadas aos papéis e que
várias dessas características podem ocasionar situações conflitantes e/ou intensificar os
conflitos existentes (BYRNE; PIERCE, 2007). Segundo Fisher (1995), o conflito de função
no executivo, pode ser resultado da presença de fatores próprios a uma determinada
organização. Parker et al (2002) na mesma perspectiva, afirmam que esse conflito é resultado
de expectativas incongruentes dentro e fora do papel.
Nessa perspectiva, para entender a magnitude desse conflito, é preciso entender os
fatores que o provocam ou intensificam. Com base na discussão da literatura, esses fatores
geralmente estão associados aos níveis de envolvimento e independência. De acordo com
Lambert e Sponem (2012) isso pode ser explicado pelo fato de que o papel dos contadores
gerenciais é largamente determinado pelo posicionamento de sua função dentro da
organização e essa posição geralmente é determinada em níveis de seu envolvimento com os
negócios. Assim, espera-se que o efeito do envolvimento no conflito de papéis possa
intensificar esse conflito, na medida em que um maior envolvimento, seja atrelado a papéis
que tenham mais de uma responsabilidade e essas responsabilidades apareçam em
determinado momento de formas contrastantes, ocasionando o conflito, ou intensificando ele.
Como resultado dessa discussão, foi proposto que o envolvimento de papéis influencia
na mediação do efeito do conflito de funções, que será analisado pela seguinte hipótese:
H1: Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento reportam maior
nível de conflito de funções.
Discutida a hipótese de que os níveis de envolvimento podem intensificar o conflito de
papéis, outro ponto que precisa ser observado é que, uma vez existente, esse conflito de
papéis pode criar tensões organizacionais, que provocam no indivíduo uma necessidade de
modificação do seu trabalho.
De acordo com a literatura o termo job crafting, ou na sua forma traduzida
modificação/adequação ao trabalho, é originalmente definido como uma espécie de pró-
atividade na qual os indivíduos moldam o seu trabalho alterando tarefas, relacionamentos e
cognições para que esse trabalho melhor satisfaça as suas próprias necessidades
(WRZESNIEWSKI; DUTTON, 2001, BAKKER; DEMEROUTI, 2014).
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Evidências empíricas demonstram que essa modificação do trabalho pode ser vista em
três dimensões, sendo estas: (1) Modificações de tarefas: relacionadas com alterações do
escopo, forma ou quantidade de tarefas realizadas; (2) Modificações cognitivas: relacionadas
com a forma que as pessoas veem seus trabalhos e responsabilidades e os significados que dão
para eles; e (3) Modificações relacionais, isto é, em como e com quem os indivíduos
interagem no trabalho (WRZESNIEWSKI; DUTTON, 2001; CHEN; YEN; TSAI, 2014;
WESELER; NIESSEN, 2016; HAKANEN; PEETERS; SCHAUFELI, 2018).
Em geral, a modificação do trabalho é um comportamento proativo que requer
adaptação aos desafios e restrições impostas por um trabalho (BERG; WRZESNIEWSKI;
DUTTON, 2010). Tais comportamentos podem incluir desde a procura de novas tarefas no
trabalho, na tentativa de assumir novas responsabilidades, como também, a redução dessas
tarefas e interações, quando se trata de ambientes de trabalho muito exigentes em que a alta
demanda não é mais vista como desafios e sim como uma ameaça ao desenvolvimento do
trabalho (PETROU; DEMEROUTI; PEETERS; SCHAUFELI; HETLAND, 2012) .
De acordo com Wrzesniewski e Dutton (2001), o acontecimento dessa modificação,
surge como consequência de três necessidades individuais. A primeira pela necessidade do
empregado de participar da elaboração do seu trabalho e assumir o controle sobre certos
aspectos do seu trabalho. A segunda, pela tentativa de dar ao trabalho um sentido mais
positivo, motivador e prestigioso. E a terceira, pelo objetivo de cumprimento de uma
necessidade humana e de conexão com os outros indivíduos.
Além dessas motivações, segundo Petrou et al (2012), os indivíduos, de maneira geral,
podem modificar e/ou adequar seu trabalho a fim de criar condições para que possam
trabalhar de forma saudável e estar bem motivado.
Partindo para o contexto do profissional contábil, considerando que atualmente este
profissional está inserido em um ambiente organizacional de mudanças e de uma diversidade
de papéis que por vezes, aparecem de maneira conflitante, esta quarta motivação pode ser
vista como uma solução para minimizar o conflito de funções vivenciado por esses
profissionais.
De acordo com Byrne e Pierce (2007) na medida em que este profissional se depara
com o dilema do conflito de papéis que afetam as características do seu trabalho e criam
tensões organizacionais, estes na tentava de realinhar seu trabalho ao papel atual requerido,
30
pode optar por modificações ou adequações, tais como: reconfigurações de tarefas, conteúdo
e significado de suas responsabilidades.
Diante desta perspectiva, em vista de analisar se a existência desse conflito pode
indicar aspectos de uma maior modificação/adequação no trabalho atual dos profissionais
contábeis, foi desenvolvida a seguinte hipótese:
H2: Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de conflito de papéis estarão
positivamente associados com um comportamento de job crafting (modificação de
trabalho).
2.2.2 O profissional contábil e o seu comprometimento com independência
Evidências recentes sugerem que há uma tendência para que os indivíduos assumam
vários papeis e tenham que constantemente equilibrá-los. Esses papéis são marcados por suas
diferenças, que podem levar a demandas, obrigações e decisões substancialmente diferentes
(MATHIAS; WILLIAM, 2017).
Conforme discute a literatura contábil, os papéis dos contadores estão atualmente
convergindo para um período de transição e/ou acúmulo de papéis. (BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2007; LAMBERT; SPONEM 2012). Essas evidências apontam para o
papel do contador business partner em contrastes com o papel do bean counter.
De acordo com Sikka (2009) com o contexto de trabalho alterado pode-se perceber
algumas mudanças em relação a fatores como a independência, conduta ética, compromisso
com os clientes e normas profissionais tradicionalmente associados aos contadores.
Nessa perspectiva, as pesquisas sugerem que a figura do contador moderno “business
partner” caracterizado por natureza como um contador altamente envolvido nos negócios
pode ser associada a níveis mais baixos de independência (BURNS; BALDVINSDOTTIR,
2007; LAMBERT; SPONEM 2012; HORTON; WANDERLEY, 2018). Por outro lado, o
contador bean counter caracterizado por seu viés tradicional e conservador (SOUZA, 2016)
estaria mais preocupado com os aspectos de sua independência.
Corroborando com este entendimento, Gendron, Suddaby e Lam (2006) argumentam
que essas mudanças no contexto do trabalho profissional, na verdade, tornaram a profissão
contábil mais suscetível a uma lógica de ganho comercial do que a independência e a
31
objetividade profissionais. Para os autores, o comprometimento com independência para esses
profissionais “modernos” pode ser considerado como uma limitação que precisa ser tratada
como um obstáculo à geração de novos negócios.
No entanto, é preciso considerar alguns pontos. Em particular, enquanto os papéis de
alto envolvimento parecem comandar níveis mais altos de legitimidade e ter maior acesso aos
recursos necessários para influenciar as práticas de toda a organização, podem ao mesmo
tempo, colocar esses profissionais em situações conflitantes entre seu envolvimento e sua
independência (HORTON; WANDERLEY, 2018).
A esse respeito, Lambert e Sponem (2012) lançam luz para questões importantes: os
contadores podem efetivamente usar dois papéis ao mesmo tempo, um exigindo um grau de
envolvimento com a administração e o outro um grau de independência do mesmo? Conforme
aponta a literatura, essas questões podem representar uma fonte primária de conflito de
múltiplos focos na profissão contábil (KEATING; JABLONSKY, 1991), pois as demandas
profissionais de independência e neutralidade contradizem o desenvolvimento de expectativas
de papéis para o envolvimento dos negócios (HORTON; WANDERLEY, 2018). Conforme
explica os autores, reconciliar as discrepâncias que emanam dessas demandas conflitantes de
envolvimento e independência representa uma preocupação primordial para contadores
administrativos no dia-a-dia.
Com base nesses insights, espera-se que os contadores em funções de parceiros de
negócios sejam menos preocupados com o comprometimento com independência tendo em
vista seu alto grau de envolvimento. Este impacto negativo pode ser sustentado se analisarmos
que esse alto envolvimento pode sugerir relacionamentos interativos (GENDRON et al.,
2006) entre os contadores e seus clientes. Ou seja, as interações entre essas partes (contadores
e clientes) podem interferir no seu compromisso com a independência.
À luz dessa discussão foi desenvolvida a seguinte hipótese:
H3: Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento reportam níveis
mais baixos de comprometimento com independência.
2.2.3 Prestígio e satisfação no trabalho do profissional contábil
Considerando o cenário atual em que a posição do profissional contábil foi redefinida,
resultando em novos papéis que requerem a expansão de suas atividades e maiores
32
envolvimento nos negócios (BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2005; BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2007), novas perspectivas vêm sendo construídas em relação aos níveis
de prestígio e satisfação desses profissionais.
De acordo com Hiller, Mahlendorf e Weber (2014) as evidências apontam que o
prestígio do profissional contábil melhorou ao longo do tempo. Segundo os autores várias
razões podem ser associadas a essa percepção, sobretudo o que tange as novas mudanças do
seu papel, em termos de envolvimento e independência.
Enquanto o papel do contador bean counter pode ser associada a uma imagem mais
conservadora, de baixo envolvimento e de pouca procura no cenário atual das organizações, o
papel do contador moderno (parceiro de negócios, ou na literatura internacional o business
partner) é tido em alta consideração, como uma posição desejável e com alto índice de
procura no mercado de trabalho (SIEGEL, 2000; MORALES; LAMBERT, 2013; HORTON;
WANDERLEY, 2018). Esses fatores, atrelados ao papel do business partner (altamente
envolvido nos negócios) remete a uma maior importância e um maior status percebido pelos
profissionais, levando consequentemente a uma visão mais prestigiada do seu papel
(LAMBERT; SPONEM, 2012).
Com base nisso e buscando testar se o efeito do envolvimento afeta o nível de
prestígio dos contadores brasileiros, foi desenvolvida a seguinte hipótese:
H4: Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento reportam níveis
mais altos de prestígio na profissão.
Conforme discutido e evidenciado pela literatura, o papel orientado para questões
estratégicas, indicando maiores níveis de envolvimento do profissional, é associado a uma
visão positiva e prestigiada da profissão. Sobre a mesma linha de pensamento teórico,
acredita-se que essa maior percepção de prestígio leva a uma maior identificação tanto com a
profissão quanto com a organização empregadora (HILLER; MAHLENDORF; WEBER,
2014) com efeito sobretudo, no nível de satisfação desses profissionais.
Evidências empíricas sugerem que o grau de envolvimento do profissional contábil na
tomada de decisões está associado a uma menor tensão no trabalho, refletindo em um maior
nível de satisfação desse profissional (PARKER; GRIFFIN; SPRIGG; WALL, 2002;
LAMBERT; SPONEM, 2012)
33
Corroborando com este entendimento, Emsley (2005) argumenta que a satisfação pode
estar atrelada a uma recompensa e perspectiva futura do profissional, dessa forma papéis
associados a um maior nível de envolvimento podem provocar um maior nível de satisfação.
Sobre essa perspectiva, Tarrant (2008) aponta para a importância da liderança, associada a
uma posição de destaque, que reflete positivamente no ambiente de trabalho, sobretudo, em
maiores níveis de satisfação.
Diante desse contexto, entende-se que a satisfação do profissional contábil pode ser
afetada pelo seu nível de envolvimento nos negócios, uma vez que, níveis mais altos de
envolvimento podem ser atrelados a maiores níveis de prestígio e admiração pela posição
hierárquica de destaque ocupada por esses profissionais. Com base nisso, foi desenvolvida a
seguinte hipótese:
H5: Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento reportam
níveis mais altos de satisfação no trabalho.
34
3 METODOLOGIA
3.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA
O presente estudo adotou uma abordagem quantitativa com a utilização de dados
primários, colhidos através da técnica de levantamento ou survey, utilizando como
instrumento de coleta a aplicação de questionários. De acordo com a literatura esse tipo de
abordagem é caracterizada pela fragmentação e delimitação dos fenômenos em categorias
mensuráveis de forma a provocar generalizações a todos os sujeitos ou situações semelhantes
(WINTER, 2000; SAUNDERS, 2016).
Segundo Yilmaz (2013) a abordagem quantitativa possibilita ao pesquisador a
explicação dos fenômenos de acordo com dados numéricos, analisados por meio de métodos,
matemáticaos, especialmente os métodos estatísticos. De maneira geral, esse tipo de
abordagem endossa a visão de que os fenômenos psicológicos e sociais têm uma realidade
objetiva, isto é, o pesquisador e os fenonemos são vistos como relativamente separados e
independentes.
Ao adotar esse tipo de medição objetiva, a pesquisa quantitativa busca maiores
precisões sobre os fenomenos em estudo, na tentativa de evitar distorções e tendências sobre a
análise, inferência e interpração dos dados (GODOY, 1995). Conforme explica Yilmaz (2013)
os métodos adotados na pesquisa quantitativa exigem que o pesquisador utilize um método
padronizado pré-construído, ou seja, um instrumento de investigação com categorias de
respostas pré-determinadas em que os participantes e suas experiências possam ser
encaixados.
Do ponto de vista do instrumento de investigação, de acordo com De Vaus (2013), a
escolha ou utilização de questionários ou survey como técnica de investigação da pesquisa,
fornece uma abordagem inerentemente quantitativa e positivista na qual tende a considerar os
fenomenos como informações factuais e descritivas. Segundo Creswell (2010) a técnica de
survey é considerada uma das técnicas de investigação mais comumente utilizadas. Através
dela é possível medir as respostas de um número de participantes a um conjunto limitado de
questões, identificar e avaliar o que pode influenciar os resultados, facilitando uma maior
comparação e generalização dos dados (CRESWELL, 2010; YILMAZ, 2013).
Com base nisso, essa pesquisa buscou explorar o contexto organizacional dos
empresários contábeis que atuam como sócios em escritórios contábeis no Brasil, delimitado
35
ao entendimento de como determinados fatores (envolvimento, conflitos de funções,
comprometimento com independência, modificação/adequação do trabalho, satisfação e
prestígio) moldam a ação desses profissionais no âmbito do cenário brasileiro.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população do estudo foi composta pelos empresários contábeis que atuam como
controladores/sócios/proprietários de escritórios de contabilidade no Brasil. Foi mapeado um
conjunto de 6.000 empresários, através de três estratégias de captação, sendo estas: (1) coleta
de todos os e-mails disponibilizados no cadastro de escritórios contábeis associados à
Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento,
Perícias, Informações e Pesquisas (FENACON). Essa estratégia de considerar todos os
escritórios foi possível devido a disponibilidade dos dados desses escritórios no sítio
eletrônico (www.fenacon.org.br) da FENACON; (2) busca por
controladores/sócios/proprietários de escritórios contábeis através da base de dados do
LinkedIn; e (3) busca por controladores/sócios/proprietários de escritórios, a quem teve acesso
por meio de interação com esses profissionais, cujo telefone e e-mail estavam disponíveis em
seus sítios eletrônicos oficiais ou foram disponibilizados por eles.
Desse universo de 6.000 empresários mapeados, foi obtido um retorno de 515
respondentes que correspondeu ao total de respostas obtidas da plataforma Survey Monkey.
Destes, foram excluídos os respondentes que não responderam completamente os
questionários, em virtude de que estes poderiam provocar resultados distorcidos dentro da
amostra. Após essas exclusões, a amostra final ficou composta por 415 respondentes, com
questionários validamente respondidos de forma completa.
Para analisar o nível de representatividade da amostra obtida em relação a população
mapeada, foram adotados conforme o que dispõe Saunders (2016) dois pressupostos de
medidas, sendo estes: (1) o nível de confiança de 95%; e (2) a margem de erro de 5%. De
acordo com o autor esses pressupostos representam medidas de segurança e estimativas da
população-alvo, adotadas por grande parte das pesquisas realizadas no âmbito das ciências
sociais, sobretudo no que tange as pesquisas nas áreas de gestão de negócios.
Adotados esses pressupostos, calculando o tamanho da amostra para a população
mapeada de aproximadamente 6.000 empresários, com 95% de nível de confiança e 5% de
margem de erro, seria necessário apenas um total de aproximadamente 362 respostas. Desta
36
forma, considera-se a amostra do estudo como sendo uma amostra representativa da
população de empresários contábeis do Brasil, visto que o número total de 415 respondentes,
que compuseram a amostra final do estudo é bastante superior ao nível exigido para os
pressupostos de análise estabelecidos e para a população de 6.000 empresários contábeis que
foi mapeada para o estudo.
3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA
Para coleta de dados foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário
(vide Apêndice A) estruturado em cinco partes (codificadas de “A” a “E”). A construção do
questionário obedeceu os seguintes procedimentos: (1) a elaboração de carta de apresentção
da pesquisa bem como o termo de confiabilidade que garante o anonimato dos respondentes e
o rigoroso tratamento ético dado as respostas coletadas; (2) o fornecimento do e-mail do
pesquisador para possíveis contatos ou esclarecimentos; (3) o tempo estimado para responder
o questionário de forma que não torne a atividade cansativa para os respondentes; e (4) a
observação da literatura discutida que serviu de base para a formulação das perguntas.
Cada parte do questionário (“A” a “D”) abordou um tema específico que faz parte
do escopo desse estudo conforme descrito na Tabela 1. Foram utilizadas diferentes tipos de
perguntas: paras as partes “A”, “B”, “C” e “D”, as perguntas seguiram a escala de Likert,
variando em cinco categorias, com exceção da segunda pergunta da parte “A”, que seguiu o
modelo de questão aberta com fator limitante mumérico e somátório a 100%; e para a parte
“E” foram feitas perguntas objetivas a respeito dos respondentes (ver Apêndice A).
Tabela 1- Estrutura e base teórica do questionário
TEMA FONTE PARTE (QUESTÕES)
Atividades e Funções
International Federation of
Accountants – IFAC Global Survey
(2016)
PARTE “A”
Envolvimento Erhart, Mahlendorf, Reimer e Schäffer
(2017).
PARTE “B”
Conflito de função Parker, Griffin, Sprigg e Wall (2002) PARTE “C” (Questão 1)
Prestígio Mael e Ashforth (1992) PARTE “C” (Questão 2)
Comprometimento com Independência Gendron, Suddaby e Lam (2006) PARTE “C” (Questão 3)
Satisfação Tarrant (2008) PARTE “C” (Questão 4)
Job Crafting Bakker e Demerouti (2014) PARTE “D”
Fonte: Elaborado pela autora.
Após analisar as respostas colhidas através dos questionários foram assumidos dois
pressupostos: (i) os e-mails foram enviados de forma corretamente, no sentido de clareza das
informações, link de acesso do questionário (através da plataforma Survey Monkey); (ii) os
37
participantes responderam o questionário de forma honesta e não foram submetidos a
qualquer tipo de pressão.
3.4 PROCEDIMENTOS
A pesquisa foi realizada de forma a considerar as cinco etapas descritas por meio da
Tabela 2 abaixo.
Tabela 2- Processo de realização da pesquisa
ETAPA DESCRIÇÃO
1ª Leitura e levantamento da literatura tocante à temática do estudo
2ª Construção do questionário a partir da literatura e aperfeiçoamento do construto a partir da
aplicação do teste piloto
3ª Aplicação do questionário em sua versão final mediante envio de convite para participação da
pesquisa
4ª Tabulação das respostas obtidos
5ª Análise de resultados
Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Saunders (2016).
Na primeira etapa, foi feito o levantamento de todo arcabouço teórico, utilizado como
base para a elaboração do questionário e a formulação das hipóteses da pesquisa. À medida
que foi feito esse levantamento, foi observado que maior parte da literatura consistia em
textos de origem inglesa. Logo, optou-se por fazer a tradução com a revisão de duas pessoas
fluentes no idioma, cuja área de conhecimento aproxima-se à área da referente pesquisa, o que
facilitou a tradução de termos técnicos.
Feito isso, na segunda etapa foi realizada a construção do questionário observando os
seguintes aspectos: (i) a alocação das perguntas; (ii) o tempo de resposta; e (iii) a interface
apresentada para os possíveis respondentes. Nesta etapa, foi realizado o teste piloto, no qual o
questionário foi remetido a três profissionais: dois pesquisadores e professores da área e um
contador, sócio de escritório contábil no Brasil. Através desse teste, foram verificadas a
clareza e a compreensibilidade das perguntas, em vista a realizar possíveis melhorias ao
questionário. Após a realização desses procedimentos, foram traçadas as estratégias de
aplicação do questionário aos potenciais respondentes.
Na terceira etapa, o questionário da pesquisa (versão final) foi disponibilidado de
maneira eletrônica através da plataforma Survey Monkey no período de agosto de 2018.
Foram eviados e-mails contendo um resumo dos objetivos da pesquisa, o link do Survey
Monkey para acesso ao questionário, bem como os dados de contato do pesquisador e da
instituição envolvida. Além disso, foi ressaltado o público-alvo da pesquisa, demonstrando o
38
interesse nos empresários contábeis que estavam atualmente exercendo a posição de
sócios/controladores/proprietários de escritórios contábeis no Brasil. Descartou-se do público-
alvo da pesquisa qualquer profissional que embora já tenha vivenciado e/ou atuado na posição
de sócio/controlador/proprietários, não ocupe mais esta posição. Esse descarte justifica-se
pelo fato do estudo tratar-se de uma análise transversal que busca analisar a existência de
relação das variáveis sob todos os aspectos vivenciados por esses profissionais na prática.
Após colhidas as respostas, foi realizada a quarta etapa que consistiu na tabalução dos
dados. Nessa etapa foram realizados primeiramente os precedimentos de exclusão dos
questionários com respostas incompletas e formação da amostra do estudo. Feito isso, os
procedimentos de tabulação foram realizados a partir da planilha de dados fornecida pela
plataforma Survey Monkey, seguidamente da mensuração e formação das variáveis para a
aplicação das técnicas estatísticas e análise de resultados.
Por fim, na etapa quatro foi feita a análise de resultados, que possibilitou analisar
descritivamente a amostra do estudo, bem como testar as hipóteses e analisar a existência dos
efeitos das variáveis e como elas se relacionam.
3.5 CONSIDERAÇÕES E PROCEDIMENTOS ÉTICOS
Buscando atender os requisitos mínimos de carater ético perante a investigações, a
pesquisadora assegura que ao longo de toda a pesquisa foram adotados os seguintes
procedimentos: (1) o completo anonimato aos dados restritos e confidenciais obtidos através
dos participantes da pesquisa; (2) a não identificação dos participantes da pesquisa na base de
dados e em qualquer parte do estudo. Os participantes serão reportados na pesquisa de forma
que não seja possível sua identificação; e (3) a restrição aos dados coletados, cujo o acesso
ficará restrito apenas a pesquisadora e o seu orientador da pesquisa.
Além disso, na aplicação do questionário foi anexado uma folha de informações sobre
os propósitos da pesquisa e os procedimentos éticos adotados, de forma a assegurar a
confidencialidade do participante e o anonimato dos dados que eles forneceram. Parte desse
texto indicou também que a participação do respondente foi inteiramente voluntária e, apenas
o participante com efetivo interesse clicaria no link de acesso ao questionário, através da
plataforma Survey Monkey.
39
3.6 VARIÁVEIS DO ESTUDO E PROCESSO DE ANÁLISE
3.6.1. Mensuração
A mensuração do conjunto das variáveis, apresentada no Quadro 1 foi feita
considerando os seguintes aspectos: (1) os estudos que serviram como base para construção
de cada instrumento; (2) e a quantificação dos scores dessas variáveis.
Quadro 1- Mensuração das variáveis Variável Construção Mensuração
Envolvimento PARTE B (1ª e 2ª
questão)
Seis proposições
segregadas em duas
perguntas, na qual a
primeira trata da
dimensão do
envolvimento em
decisões
operacionais e a
segunda da
dimensão em
decisões
estratégicas.
Somatório das seis proposições, considerando a escala likert
de 5 pontos, na qual o limite desse somatório resulta em um
score limitado entre os valores 6 e 30. Além disso, foram
feitos a segregação do Envolvimento Operacional (score de 1
a 3) e Estratégico (score de 1 a 3).
Conflito de função PARTE C (1ª
questão)
Oito proposições da
letra “a” até “h”.
Somatório das oito proposições, considerando a escala likert
de 5 pontos, na qual o limite desse somatório resulta em um
score limitado entre os valores 8 e 40.
Prestígio PARTE C (2ª
questão)
Cinco proposições
da letra “a” até “e”.
Somatório das cinco proposições, considerando a escala
likert de 5 pontos. As proposições “c” e “e”, foram
consideradas no somatório com a escala invertida, ou seja, 5
a 1, por se tratarem de proposições contrárias as demais.
Comprometimento com
Independência
PARTE C (3ª
questão)
Quatro proposições
da letra “a” até “d”.
Somatório das quatro proposições, considerando a escala
likert de 5 pontos, na qual o limite desse somatório resulta
em um score limitado entre os valores 4 e 20.
Satisfação PARTE C (4ª
questão)
Cinco proposições
da letra “a” até “e”.
Somatório das cinco proposições, considerando a escala
likert de 5 pontos, na qual o limite desse somatório resulta
em um score limitado entre os valores 5 e 25.
Job crafting
(Modificação/Adequação
do trabalho)
PARTE D (1ª e 2ª
questão)
quatorze
proposições da letra
“a” até “h” (1ª
questão e da letra
“a” até “f” (2ª
questão).
Somatório das quatorze proposições (as duas questões),
considerando a escala likert de 5 pontos. As proposições “d”,
“e”, “f” (1ª questão) e as proposições “a”, “b” e “c” (2ª
questão) foram consideradas no somatório com a escala
invertida, ou seja, 5 a 1, por se tratarem de proposições
contrárias as demais. Além disso, foram feitos a segregação
das dimensões do Job crafting, sendo job crafting tarefas
(score das proposições “a” a “f” – 1ª questão), job crafting
relacional (score das proposições “g” e “h” – 1ª questão e
“a” a “c” – 2ª questão) e job crafting cognitivo (score das
proposições “d” a “f” – 2ª questão).
Fonte: Elaborado pela autora.
40
3.6.2 Técnicas estatísticas e econométricas utilizadas
Para interpretação e análise dos dados coletados, foram utilizados dois softwares: o
IBM SPSS Statistics, para realização da análise descritiva e teste de correlação; e o Gretl para
os testes e análise da regressão pelo Modelo Tobit.
O teste estatístico do Alfa de Cronbach foi utilizado com o objetivo de medir a
confiabilidade do intrumento de pesquisa. Foram feitos os testes do Alfa para cada
instrumento de forma isolada buscando estimar a uniformidade dos itens de cada instrumento,
como também o teste do Alfa considerando todos os instrumentos de forma conjunta, na
tentativa de analisar a consistência interna de todo o constructo.
A análise descritiva foi feita considerando as medidas de média, moda e desvio padrão
e o ordenamento dos dados em distribuição de frequência. Essa análise foi empregada com o
objetivo de conhecer de forma mais detalhada todas as variáveis do estudo, sobretudo no que
se refere o perfil do respondente e a realidade empresarial que esses respondentes estão
inseridos.
Por outro lado a análise de correlação, pelo teste de Spearman, foi empregada no
sentido de investigar a associação das variáveis do estudo de acordo com a significância
estatística (nível de 5% e 1%) e os sinais dos coeficientes. A técnica estatística teve como
foco as variáveis envolvimento e conflito e suas devidas associações com as demais variáveis
contigenciais.
Por fim, o modelo econométrico Tobit foi utilizado para investigar os fatores que mais
contribuem para explicar os scores das variáveis dependentes. Foram estimadas um conjunto
de nove regressões, utilizadas para analisar e discutir as hipotéses formuladas para o estudo
em função do poder de influência de uma variável na outra e consequentemente da não
rejeição/rejeição da hipótese.
3.6.3 Modelo da pesquisa
O Modelo Tobit foi utilizado como proposta de análise das variáveis no que se refere o
fato de influência de uma variável na outra. De acordo com Gujarati e Poter (2011) o Modelo
Tobit é um modelo de regressão linear usado quando a variável resposta encontra-se limitada.
Para feitos desta pesquisa, a escolha desse modelo, foi feita com base na formulação das
variáveis dependentes, visto que estas variáveis foram elaboradas considerando os scores das
41
proposições de cada uma (explicado na sessão 3.6.1 dessa metodologia), e, portanto,
apresentam-se limitadas aos valores de sua escala.
Assim, com o objetivo de analisar a relação da variável envolvimento (nas suas
dimensões) com as demais variáveis (conflito de funções, comprometimento com
independência, satisfação e prestígio) e testar as hipóteses do estudo (H1, H3, H4 e H5) no que
se refere o poder de explicação do envolvimento nessas variáveis foram desenvolvidas as
seguintes equações:
(1)
(2)
(3)
(4)
Onde,
= score envolvimento operacional; = score envolvimento estratégico;
= score conflito de funções; = score comprometimento com independência;
= score satisfação; = score prestígio
Por seguinte, sob a motivação de analisar o poder de influência da variável conflito de
funções na variável job crafting e testar a hipótese do estudo (H2) formulada para essa
relação, foram desenvolvidas as seguintes equações:
(5)
(6)
(7)
(8)
Onde,
= score job crafting total; = score job crafting (dimensão tarefas);
= score job crafting (dimensão relacional); = score job crafting
(dimensão cognitiva); = score conflito de funções
3.7 ALFA DE CRONBACH
Foi utilizado como indicador de avaliação da confiabilidade do instrumento de pesquisa, o
coeficiente Alfa de Cronbach. Segundo Marôco e Garcia-Marques (2013) de maneira geral, esse
42
indicador refere-se a uma estimativa da uniformidade dos itens do instrumento, o qual pode ser
interpretado como um coeficiente médio de todas as estimativas de consistência interna.
De acordo com Hair Junior, Black, Babin, Anderson e Tatham (2005), a confiabilidade
refere-se ao grau de consistência entre múltiplas medidas de uma variável. Embora o conceito
de confiabilidade esteja diretamente relacionado com a tentativa de garantir que o construto
seja confiável, através da isenção de erros aleatórios, é importante ressaltar que, o coeficiente
Alfa de Cronbach apresenta uma margem de erro. Porém, esta margem de erro não compromete a
consistência interna do construto utilizado (HAIR JUNIOR, et al, 2005; DA HORA;
MONTEIRO; ARICA, 2010).
Na presente pesquisa a aplicação do Alfa de Cronbach, considerou três pressupostos
descritos no estudo dos autores Da Hora Monteiro e Arica (2010), sendo estes: (1) o
questionário foi segmentado em cinco partes, sendo cada parte responsável por questões
relacionadas à uma mesma temática, conforme disposto na parte do instrumento de coleta
descrito nesta metodologia; (2) o questionário foi aplicado a uma amostra heterogênea e
significativa, considerando o que foi conhecido e mapeado da população descrita na referida
parte desta metodologia; e (3) os instrumentos utilizados para composição das variáveis
dispostas no questionário adotam uma escala de medição validada por outros estudos,
conforme Tabela 1 que dispõe as fontes bases de cada instrumento.
Adotado esses pressupostos, o Alfa de Cronbach foi calculado para os dados da
amostra do presente estudo, sob duas formas: a primeira, de maneira isolada, para cada
instrumento que compôs o constructo (questionário); a segunda, de maneira geral,
considerando todo o constructo.
Os resultados do teste Alfa, calculado de maneira isolada para cada insturmento,
conforme disposto na Tabela 3, demonstram que todos os instrumentos apresentaram um Alfa
superior a 0,70. Considerando que esta medida varia de 0 a 1, a literatura sugere que um alfa
superior a 0,70 indica que o instrumento consegue capturar o que se propõe, apresentando um
índice de confiabilidade satisfatório (MILAN; TREZ, 2005; HAIR JUNIOR, et al, 2005; DA
HORA; MONTEIRO; ARICA, 2010; MAROCO; GARCIA-MARQUES, 2013).
43
Tabela 3 - Resultado do teste estatístico Alfa de Cronbach para cada instrumento
Estatísticas de confiabilidade Alfa de Cronbach
Instrumento de mensuração Alfa de Cronbach Número de itens
Envolvimento ,900 6
Conflito ,869 8
Comprometimento com independência ,826 4
Satisfação ,839 5
Prestígio ,766 5
Job Crafting ,803 14
Fonte: Dados da pesquisa
Para o cálculo do Alfa total, foram excluídas as respostas da segunda questão da parte
A, por se referir a uma questão aberta, cujo o somatório limitou-se a 100 (100%): nessa
questão admitia-se uma grande variedade de respostas que poderia acarretar em uma alta
variância e alterar de forma incorreta o valor do Alfa. Além disso, foram excluídas também as
questões da parte E, por se tratarem de descrições gerais do perfil dos respondentes (como
escolaridade, sexo, idade, localidade, etc.), não estando diretamente relacionadas às hipóteses
formuladas para a investigação.
Após a realização das devidas exclusões, o cálculo do Alfa Total demonstrou um
resultado igual a 0,881 conforme disposto na Tabela 4, evidenciando que o construcro
utilizado para a coleta de dados apresenta um nível de confiabilidade considerado satisfário de
acordo com a literatura, indicando consequentemente que esse instrumento, de maneira geral,
consegue capturar o que se propõe.
Tabela 4 - Resultado do teste estatístico Alfa de Cronbach
Estatísticas de confiabilidade Alfa de Cronbach
Alfa de Cronbach
,881
Número de itens
57
Fonte: Dados da pesquisa
44
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA
4.1.1 Características Dos Respondentes
Considerando as respostas das questões dispostas na parte E do questionário da
pesquisa, foi possível evidenciar os resultados referentes as características dos respondentes
condensados nas Tabelas 5 e 6. Por meio dessas Tabelas foram demonstradas as frequências
de cada característica, sob a forma „contagem‟ e „porcentagem‟. Nessa análise preliminar,
destaca-se a importância de analisar os dados por meio de suas frequências, e não por meio de
suas médias e medianas, visto que se trata de respostas relativas e não de valores absolutos.
Tabela 5 - Gênero dos respondentes
Gênero
Elementos de Estatística Descritiva
Frequência Porcentagem (%)
Masculino 370 89,2
Feminino 45 10,8
Total 415 100
Fonte: Dados da pesquisa
Sobre o gênero dos respondentes, foi evidenciado por meio da Tabela 5 que, de um
total de 415 empresários contábeis que atuam como sócios e/ou proprietários de escritórios
contábeis no Brasil, 370 (89,2%) correspondem ao gênero masculino e 45 (10,8%)
correspondem ao gênero feminino. Esses resultados demonstram a pequena participação de
empresários contábeis do gênero feminino na amostra estudada.
Em relação a escolaridade, nota-se através da Tabela 6 que a maioria dos respondentes
disseram ser pós-graduados, isto é, formados com algum curso de especialização lato sensu ou
com algum curso do tipo Master Business Administration (MBA), essa parcela é representada
por 227 respondentes (54,7%) do total de 415 da amostra final. Além disso destaca-se a
parcela representativa dos graduados, 132 respondentes (31,8%), seguido dos que possuem
mestrado, 38 respondentes (9,2%).
45
Tabela 6 - Escolaridade dos respondentes
Escolaridade
Elementos de Estatística Descritiva
Frequência Porcentagem (%) Porcentagem acumulada (%)
Ensino Médio / Técnico em
Contabilidade 11 2,6 2,6
Ensino Superior 132 31,8 34,4
Especialização 227 54,7 89,1
Mestrado 38 9,2 98,3
Doutorado 5 1,2 99,5
Outro: Pós Doutorado 2 0,5 100
Total 415 100
Fonte: Dados da pesquisa
4.1.2 Características dos escritórios contábeis
Ainda no que dispõe a parte E do questionário utilizado para o estudo, foram colhidas
algumas informações a respeito das características dos escritórios contábeis, visto que essas
características podem exercer alguma influência significativa sobre os contadores que atuam
na posição de sócios e/ou proprietários desses escritórios. Assim, como primeiro ponto de
análise foi verificado a localização desses escritórios conforme demonstrado na Tabela 7.
Tabela 7- Localização dos escritórios contábeis por Região
Região
Elementos de Estatística Descritiva
Frequência Porcentagem (%)
Centro-Oeste 53 12,8
Nordeste 104 25,1
Norte 11 2,7
Sul 79 19,0
Sudeste 168 40,5
Total 415 100
Fonte: Dados da pesquisa
Os resultados demonstram que a maior parte dos escritórios contábeis oriundos desta
amostra, estão situados nas regiões Sudeste e Nordeste: dos 415 empresários contábeis que
responderam à pesquisa, 168 (40,5%) disseram ter seus escritórios situados na região Sudeste,
enquanto 104 (25,1%) estão situados na região Nordeste. Na região Sudeste, o estado de São
Paulo foi apontado como sede de atuação de 127 respondentes, sendo o estado com maior
representatividade em relação aos demais estados da região (75,60%) e da amostra total
(30,6%). Já na região Nordeste, o destaque foi para o estado de Pernambuco, apontado como
sede dos escritórios contábeis de 68 respondentes, representando 16,4% da amostra total do
estudo.
46
Em relação às demais características dos escritórios contábeis da amostra, foram
analisadas as questões referentes a: (a) quantidade de anos de existência do escritório; (b)
quantidade de sócios; (c) quantidade de empregados; e (d) quantidade de clientes, conforme
descrito na Tabela 8.
Tabela 8- Características gerais dos escritórios contábeis
Característica
Elementos de Estatística Descritiva
Média Moda Desvio Padrão
Quantidade de anos de existência 13,36 5 12,212
Quantidade de clientes 95,98 40 224,940
Quantidade de sócios 1,70 1 4,090
Quantidade de empregados 13,41 0 74,683
Fonte: Dados da pesquisa
No que se refere à quantidade de anos de existência dos escritórios da amostra, foi
observado que em média esses escritórios contábeis possuem 13 anos de existência, porém a
maior parte desses escritórios se encontram abaixo da média, tendo apenas 5 anos. Quanto à
quantidade de clientes, os empresários contábeis disseram ter em média 96 clientes em seus
escritórios, porém a maior parte afirmou ter um total de 40 clientes. Já sobre a quantidade de
sócios, os resultados demonstram que em média os escritórios possuem apenas 1 sócio,
podendo não ter sociedade, isto é, o empresário contábil atuando como único proprietário.
Em relação à quantidade de empregados (funcionários), os resultados evidenciam que
esses escritórios contábeis possuem em média 13 empregados, porém a maior parte dos
empresários contábeis disseram não ter empregados. Uma vez que essa característica é
apontada pela literatura como uma medida de tamanho das empresas (EBY; BUTTS;
LOCKWOOD, 2003), esses resultados demonstram que a maior parte dos escritórios
contábeis da amostra pode ser caracterizada como escritórios pequenos. Isso reforça ainda
mais as atividades e funções exercidas pelos empresários contábeis proprietários/sócios desses
escritórios, visto que eles atuam sozinhos na execução do serviço prestado a seus clientes.
Por último, conforme descrito na Tabela 9, foi analisado se os escritórios da amostra
eram especializados em algum tipo de empresa. A esse respeito, os respondentes disseram em
sua maioria que não eram especializados em um tipo de empresa, isto é, que ofereciam
serviços diversificados. Dentre os que disseram ser especializado, foram citados com maior
destaque as empresas de tecnologia, construção civil, energia elétrica, agronegócios, saúde,
terceiro setor e as instituições financeiras.
47
Tabela 9- Característica do escritório quanto a sua especialização
Especializado em algum tipo de empresa
Elementos de Estatística Descritiva
Frequência Porcentagem (%)
Sim 138 33,3
Não 277 66,7
Total 415 100
Fonte: Dados da pesquisa
Em resumo, os resultados quanto às características dos escritórios contábeis
evidenciam a heterogeneidade presente na amostra do estudo. As medidas de desvio padrão
dispostas na Tabela 8, confirmam esta heterogeneidade que por um lado dificulta o
entendimento destas características em relação à sua média, mas por outro reforça a
consistência e a validação do estudo, em termos de permitir uma boa aproximação da
realidade da população dos empresários contábeis do Brasil.
4.1.3 Atividades e funções dos empresários contábeis
A partir das questões dispostas na parte A do questionário foi possível entender sobre
as atividades realizadas e funções exercidas pelos empresários contábeis, de forma a descrever
o perfil desse profissional atuante na posição de proprietário e/ou sócio de escritório contábil
no Brasil.
Conforme exposto na Tabela 10, quanto ao grau de importância das atividades listadas
na questão 1 da parte A, os resultados apontam para os seguintes pontos: (1) todas atividades,
com exceção da atividade de auditoria, foram consideradas em média como importantes no
exercício da profissão contábil; (2) todas as atividades foram classificadas pela maioria dos
empresários contábeis da amostra como sendo muito importante para o seu trabalho atual; (3)
quanto à atividade de Auditoria/Fiscalização o percentual dos respondentes se mostraram
próximos e bastante heterogêneos, visto que enquanto a média demonstrou um valor de 3,71
(se aproximando do nível importante), a moda aponta para o valor de 5 (muito importante).
Tabela 10- Grau de importância das atividades
Fonte: Dados da pesquisa
Elementos de
Estatística Descritiva
Atividade
Contábil
Atividade
Fiscal
Atividade
Pessoal
Atividade
Consultoria
Atividade
Auditoria/Fiscalização
Média 4,64 4,84 4,73 4,48 3,71
Moda 5 5 5 5 5
Desvio Padrão ,767 ,511 ,688 ,825 1,297
48
Considerando ainda o que dispõe a parte A do questionário, no que tange à segunda
questão, foi analisada a distribuição do tempo dos empresários quanto as suas funções. Em
relação à quantidade de tempo gasto com cada função, conforme disposto na Tabela 11 foi
evidenciado que a maioria dos empresários contábeis se mantiveram abaixo da média de
tempo gasto em relação a todas as funções, com exceção da porcentagem de outras funções.
Além disso, as três funções de destaque, que consomem uma maior parcela do tempo dos
empresários contábeis da amostra são: as funções contábil, fiscal e pessoal.
Tabela 11- Distribuição do tempo dos empresários quanto as suas funções
Elementos
de
Estatística
Descritiva
%
Contábil
%
Fiscal
%
Pessoal
%
Consultoria
%
Auditoria
%
Administrativo
%
Outros
Média 21,81 24,11 16,60 16,26 5,96 13,16 2,11
Moda 20 20 15 10 5 10 0
Desvio
Padrão 13,807 13,177 11,522 15,470 9,317 12,280 4,703
Fonte: Dados da pesquisa
Por último, foi questionado aos empresários contábeis sobre o grau de importância de
alguns serviços de consultoria/assessoria conforme descrição do IFAC (2016). A esse
respeito, mediante apresentação da Tabela 12 evidencia-se: (1) apenas os serviços de
“Planejamento Tributário” e “Tecnologia da informação” demonstraram médias superiores a
4, demonstrando uma aproximação do “muito importante”; (2) os serviços de “Planejamento
Tributário”, “Contabilidade Gerencial”, “Desenvolvimento de negócio”, “Business
intelligence”, “Tecnologia da informação” e “Relatórios corporativos aprimorados” foram
considerados serviços muito importantes para a maioria dos empresários; e (3) nenhum
serviço foi considerado sem importância, visto que a maioria dos respondentes apontaram que
esses serviços apresentam uma “importância média”.
Tabela 12- Grau de importância dos serviços de consultoria/assessoria
Serviços de consultoria/assessoria Elementos da estatística descritiva
Média Moda Desvio Padrão
Planejamento Tributário 4,54 5 ,803
Assessoria Corporativa 3,22 3 1,265
Contabilidade Gerencial 3,96 5 1,128
Desenvolvimento de Negócios 3,67 5 1,259
Planejamento de Sucessão / Transferências de Negócios 3,18 3 1,258
Business intelligence 3,59 5 1,327
Tecnologia da informação 4,10 5 1,033
Relatórios corporativos aprimorados 3,49 5 1,296
Previdência / aposentadoria 3,10 3 1,182
Outros 3,02 3 1,251
Fonte: Dados da pesquisa
49
Em resumo, esses resultados evidenciam que as atividades descritas pelo IFAC (2016)
e por estudos correlatos (BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2005; BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2007) são atividades consideradas muito importantes no exercício da
profissão do contador, sobretudo para os que atuam na posição de proprietários e/ou sócios.
Embora algumas atividades e/ou funções não tenham sido muito representativas como é o
caso da função de “Auditoria (Tabela 11) e os serviços de “Assessoria Corporativa”,
“Planejamento de Sucessão / Transferências de Negócios” e “Previdência / aposentadoria”
(Tabela 12), isso não significa dizer que não são atividades importantes, e sim que
possivelmente essas atividades não são usualmente exercidas pelos empresários contábeis da
amostra.
4.1.4 Perfil dos empresários contábeis com base nas suas atividade e funções
Em busca de traçar um perfil para o empresário contábil do Brasil, a partir da amostra
total de 415 empresários contábeis, foram considerados como pontos de análise as respostas
da parte A listadas no tópico anterior e a utilização da técnica exploratória de Análise de
Cluster pelo método de k-means.
A classificação do perfil dos empresários para ambas as análises, consideraram as
definições e a associação das atividades conforme dispõe a literatura (GRANLUND;
LUKKA, 1998; EZZAMEL; SCAPENS; BALDVINSDOTTIR; BURNS, 2003; BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2005; EMSLEY, 2005; BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2007). De
acordo com Burns e Baldvinsdottir (2005) as atividades mais relacionadas a questões
operacionais de escrituração, mensuração e fornecimento de informações formais exigidas,
como por exemplo as atividades contábil, fiscal e pessoal estão mais fortemente associadas ao
perfil bean counter. Já as atividades mais relacionadas as questões estratégicas, como as
atividades de consultoria, assessoria e auditoria estão mais fortemente associadas ao perfil
business partner. Por fim, a combinação das atividades, isto é, se ambas as atividades, seja as
relacionadas as questões operacionais, sejam as relacionadas as questões estratégicas, são
desenvolvidas pelo contador, este estaria mais associado ao perfil hybrid.
Partindo dessa classificação, os resultados do tópico anterior evidenciam que os
empresários contábeis do Brasil, estão mais associados ao perfil hybrid. Essas evidências
podem ser extraídas mediante análise das respostas da primeira questão, quanto ao grau de
importância das atividades e funções (Tabela 10), na qual eles consideram todas as atividades
como “muito importante”, e da segunda questão, quanto à distribuição do tempo gasto no
exercício de cada função (Tabela 11), visto que os valores das médias do tempo gasto nas
50
funções de carácter operacional e estratégico se mostram bastante próximos, indicando que
ambas as funções são exercidas no trabalho atual desenvolvido por esses empresários.
Buscando complementar essas evidências e identificar a tendência dos perfis dos
empresários contábeis da amostra, a Análise de Cluster foi realizada, utilizando como opção
metodológica, o método de k-means cluster. O critério de agrupamento realizado pelo método
k-means cluster, considerou os seguintes critérios: (1) a divisão dos grupos teria como base as
respostas da segunda questão, referente a quantidade de tempo gasto nas funções citadas; e (2)
foi predeterminado o número de três clusters, que corresponderiam aos três principais perfis
discutidos pela literatura.
Os resultados da Análise de cluster apresentados por meio das Tabelas 13, 14 e 15,
demonstram o agrupamento dos empresários contábeis da amostra em três grupos
homogêneos. Esse agrupamento teve como base o cálculo dos pontos que representam os
“centros” destes clusters, buscando dentro de cada grupo as respostas que sejam mais
semelhantes possíveis entre si (HAIR et al., 2005).
Conforme descreve a Tabela 13, a respeito das distâncias entre cada cluster, percebe-
se que o cluster 2 e o cluster 3 são os que apresentam maior distância entre si (52,057), ou
seja, são os grupos de empresários contábeis com menos similaridade em relação as respostas
obtidas pela segunda questão.
Tabela 13- Distância entre os centros do cluster Cluster
1 2 3
1 - 36,865 25,069
2 36,865 - 52,057
3 25,069 52,057 -
Nota: Foram marcadas em negrito as células que representam a maior distância observada em relação a outro
cluster.
Fonte: Dados da pesquisa
A partir dos resultados dispostos na Tabela 14, verificou-se o agrupamento das
respostas colhidas em cada cluster. Esses resultados demonstram que: (i) no cluster 1 estão
agrupados os empresários contábeis que distribuem seu tempo no exercício de todas as
funções descritas, sem destaque e/ou predominância de alguma função específica. De acordo
com a literatura (BURNS; SCAPENS, 2000; BURNS; BALDVINSDOTTIR; 2005) esse tipo
de empresário está mais associado ao perfil hybrid, pois no desempenho das suas funções, são
realizadas atividades tanto de caráter operacional, como de caráter estratégico, sem que haja
uma predominância eminente para quaisquer uma das funções. (ii) no cluster 2, por sua vez,
os empresários agrupados responderam que seu tempo era mais predominantemente gasto
51
com funções de Consultoria, Auditoria e Administrativo. Essas funções, conforme dispõe a
literatura, são funções caracterizadas pelo desempenho de atividades mais voltadas as
questões estratégicas, e por isso, estão mais associada ao perfil parceiro de negócios, ou
business partner; e, por fim, (iii) no cluster 3, foram agrupados os empresários que disseram
ter um maior gasto de tempo com as funções Contábil, Fiscal e Pessoal. Segundo os estudos
correlatos, essas funções estão mais atreladas ao exercício das atividades operacionais, sendo,
portanto, mais associadas ao perfil bean counter.
Tabela 14- Agrupamento dos clusters
Distribuição do tempo Clusters
1= Perfil hybrid 2 = Perfil business partner 3 = Perfil bean counter
% Contábil 28 9 18
% Fiscal 21 9 39
% Pessoal 15 7 25
% Consultoria 13 40 7
% Auditoria 6 12 2
% Administrativo 14 22 7
% Outros 3 2 1
Total 100 100 100
Fonte: Dados da pesquisa
A partir desse agrupamento, o resultado final da Análise de cluster foi apresentado na
Tabela 15, demonstrando o número de caso em cada cluster, isto é, a quantidade de cada
perfil de empresário dado a amostra do estudo. Esses resultados evidenciam que dos 415
empresários contábeis da amostra, 216 (52%) estão associados ao perfil hybrid, 74 (18%) ao
perfil business partner e 125 (30%) ao perfil bean counter.
Tabela 15- Número de empresários para cada cluster (perfil)
Cluster
Quantidade de empresários / Porcentagem
1 = Perfil hybrid 216 (52%)
2 = Perfil business partner 74 (18%)
3 = Perfil bean counter 125 (30%)
Total 415 (100%)
Fonte: Dados da pesquisa
Em resumo, as respostas da Análise de Cluster, além de reforçarem as evidências
encontradas no tópico anterior, a respeito da predominância do perfil hybrid, apontam para
evidências de que mesmo em menores proporções, os perfis bean counter e business partner
podem ser encontrados na amostra colhida dos empresários contábeis do Brasil.
Em termos do que discute a teoria, esses achados convergem com alguns estudos
correlatos (BURNS; SCAPENS, 2000; CAGLIO, 2003; BURNS; BALDVINSDOTTIR;
2005; ZONI; MERCHANT, 2007) no sentido de provocar evidências sobre o atual cenário da
profissão contábil indicando que esses profissionais estão passando por um período de
52
expansão das suas atividades, e não de abandono. Ou seja, a tendência atual é que o
profissional contábil adote o perfil hybrid, desempenhando não só as funções de caráter
operacional, tradicionais no âmbito da contabilidade, como também as funções de caráter
estratégico que auxiliam as partes interessadas na tomada de decisões estratégicas.
4.1.5 Variáveis do estudo
Realizada a descrição das características da amostra, este tópico trata de apresentar a
análise descritiva com base nas médias e desvio padrão do conjunto de indicadores utilizados
para construção de cada uma das seis variáveis do estudo, as quais foram: (1) Envolvimento;
(2) Conflito; (3) Comprometimento com Independência; (4) Satisfação; (5) Prestígio; e (6)
Job Crafting.
Para a variável envolvimento conforme os resultados apresentados pela Tabela 16,
descobriu-se que a média geral dos itens que compuseram a variável na sua dimensão
operacional é de 3,63, enquanto que para a dimensão estratégica os resultados apontam uma
média de 3,25. De maneira geral, esses resultados apontam que os empresários contábeis
brasileiros participantes da pesquisa, nos últimos 12 meses, tanto para as decisões
operacionais, como para as decisões estratégicas, apresentam-se em média envolvidos.
Embora seja evidenciado que a dimensão operacional apresentou uma média um
pouco superior a dimensão estratégica, a proximidade das médias e a média geral da variável
(3,44), aponta que esses empresários estão envolvidos em ambas as decisões, sendo a decisão
operacional a mais comumente vivenciada, pois remete a uma visão mais tradicional e mais
antiga do profissional contábil.
53
Tabela 16- Estatística Descritiva – Envolvimento
Dimensão do
Envolvimento Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
Envolvimento
Operacional
a) Apresentou informações e análises. (ex.
gestão de estoques; controle de custos,
relatórios de compra/venda de
produtos/serviços; previsões de
faturamento; etc.)
3,64 ,999
b) Recomendou ações a serem tomadas.
(ex. controle e fiscalização de funcionários;
armazenamento de produtos; decisões
sobre preços; descontos, etc.)
3,77 1,036
c) Questionou planos e ações de executivos
operacionais (ex. política de estocagem,
contratação de funcionários,
reconhecimento e controle de custos nos
produtos/serviços, etc.)
3,49 1,138
Total 3,63 1,058
Envolvimento
Estratégico
a) Apresentou informações e análises. (ex.
análises e previsões de riscos; avaliação de
investimentos; adoção e/ou
desenvolvimento de sistemas;
planejamento estratégico)
3,37 1,157
b) Recomendou ações a serem tomadas.
(ex. decisões de aquisições; expansão de
mix de vendas)
3,20 1,193
c) Questionou planos e ações de executivos
operacionais. (ex. implementação de
sistemas; critérios de avaliação de
desempenho dos gestores; certificações)
3,18 1,216
Total 3,25 1,189
Envolvimento
Total 3,44 1,123
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
Por fim, evidencia-se ainda que esses resultados além de reforçar os achados já
mencionados, no que tange aos perfis encontrados na amostra (seção 4.1.4) e ao grau de
importância dados as atividades e funções (seção 4.1.3) apontam para caminhos diferentes dos
resultados de Zoni e Merchant (2007), Oro et al. (2009), Goretzki et al. (2013) e Burns e
Baldvinsdottir (2007).
Para a variável conflito de funções, os resultados dispostos na Tabela 17, apontam que
a média geral de 2,14 é um indicador de que os empresários contábeis brasileiros não
evidenciam na prática o conflito de funções. Isso significa dizer que em seu trabalho, esses
empresários raramente ou nunca (ou ainda, ocasionalmente) são submetidos a situações que
possam desencadear neste tipo de tensão organizacional.
54
Examinando cada item de maneira isolada, destaca-se a média um pouco inferior do
item (h) e a média bastante superior do item (g). Em relação ao item (h), esses resultados
demonstram que raramente ou nunca esses empresários contábeis são colocados em tarefas ou
trabalhos dos quais eles terão que quebrar uma regra, norma ou política. Já em relação ao item
(g), os resultados demonstram que ocasionalmente (ou quase que frequentemente) esses
empresários são colocados em situações em que as pessoas esperam que eles façam coisas que
não fazem parte do seu trabalho.
Tabela 17- Estatística Descritiva – Conflito de funções
Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
a) Eu recebo pedidos incompatíveis de duas ou
mais pessoas. 2,41 1,020
b) Eu faço coisas que são susceptíveis de ser
aceito por uma pessoa e não por outras. 2,16 1,043
c) Diferentes pessoas com que trabalho esperam
coisas conflitantes de mim. 1,97 1,065
d) As pessoas me enviam mensagens
contraditórias sobre o que é importante. 2,06 1,000
e) Eu tenho que fazer coisas que acho que
deveriam ser feitas de outro jeito 2,19 1,128
f) Eu tenho que fazer coisas que são contra o
meu melhor julgamento. 1,80 1,028
g) As pessoas esperam que eu faça coisas que
não fazem parte do meu trabalho. 2,91 1,284
h) Para realizar um trabalho ou tarefa eu tenho
que quebrar uma regra, norma ou política. 1,59 ,941
Conflito de funções total 2,14 1,064
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
No que se refere à variável Comprometimento com Independência, os resultados,
conforme Tabela 18, demonstram que os empresários contábeis em geral concordam com as
declarações, sobretudo no item (b) que se refere ao rigor dos requisitos de independência
requeridos ao profissional contábil. Assim, a partir desses resultados pode-se inferir que a
maioria dos empresários da amostra demonstram se preocupar com questões relacionada à sua
independência.
55
Tabela 18- Estatística Descritiva – Comprometimento com Independência
Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
a) Eu acredito que a independência é um dos
principais fundamentos da profissão de contador. 3,97 ,971
b) Eu acredito que os requisitos de independência
da profissão precisam ser rigorosamente aplicados
em todas as esferas de atividades em que os
contadores estão envolvidos.
4,04 ,866
c) Eu acho que a profissão seria melhor se os
requisitos de independência da profissão de
contadores fossem mais rigorosos.
3,81 ,998
d) Eu acho que o meio empresarial em geral seria
melhor se os requisitos de independência da
profissão de contadores fossem mais rigorosos.
3,83 ,985
Comprometimento com independência total 3,91 0,955
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
Partindo para análise da variável Satisfação, os resultados evidenciados pela Tabela
19, indicam que, em geral, os empresários contábeis se mostraram “neutros” quanto ao grau
de satisfação com o seu trabalho. Vale destacar ainda, os resultados dos itens (c) e (b) que
demonstram que embora os contadores não apresentem altos índices de satisfação quanto à
sua remuneração (item c), em relação aos seus colegas de trabalhos, eles estão em geral
satisfeitos (item b).
Tabela 19- Estatística Descritiva –Satisfação
Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
a) Qual seu grau de satisfação com a natureza de
seu trabalho? 3,98 ,869
b) Qual seu grau de satisfação com a relação
mantida com as pessoas do escritório, na qual você
trabalha (seus colegas de trabalho)?
4,02 ,766
c) Qual seu grau de satisfação com a remuneração
que você recebe pelo seu trabalho? 3,24 1,075
d) Qual seu grau de satisfação com as
oportunidades de crescimento, existentes no seu
escritório?
3,55 1,013
e) Considerando os itens acima (a) até (d), como
conclusão, qual seu grau de satisfação com sua
situação atual?
3,66 ,894
Satisfação total 3,69 0,923
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
56
Para a variável de prestígio, conforme dispõe a Tabela 20, foram encontrados os
seguintes resultados: (i) em geral, os empresários contábeis sentem prestígio pela profissão
que exercem; (ii) em relação à visão das pessoas sobre a profissão, esses empresários apontam
que, de maneira geral, a profissão é bem vista; e (iii) a posição que esses profissionais
ocupam, de empresários contábeis (proprietários/sócios) é vista, pela percepção desses
profissionais como uma posição de boa reputação e orgulho, o que refletem,
consequentemente em um maior prestígio.
Tabela 20- Estatística Descritiva –Prestígio
Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
a) As pessoas pensam muito bem de profissionais
em minha posição. 3,25 1,084
b) É considerado prestigioso ser um profissional na
minha posição 3,64 1,081
c) As pessoas menosprezam profissionais em
minha posição. 2,67 1,173
d) Profissionais deveriam ter orgulho em dizer que
trabalharam na minha posição 4,43 ,701
e) Minha posição de trabalho não tem boa
reputação. 2,27 1,115
Prestígio total 3,25 1,031
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
Por fim, a análise da variável Job Crafting foi feita de forma a considerar a variável
mensurada pelo seu conjunto de indicadores e segregando-a de acordo com as suas
dimensões. Na primeira análise, de acordo com os resultados apresentados pela Tabela 21,
evidencia-se que em geral os empresários contábeis se mostraram “neutros” em relação a
modificações/adequações no seu trabalho, entretanto alguns pontos são passíveis dessas
mudanças.
57
Tabela 21- Estatística Descritiva – Job Crafting
Dimensão do
Envolvimento Itens
Elementos de Estatística Descritiva
Média Desvio Padrão
Job Crafting –
Tarefas
a) Eu me concentro em tarefas
específicas do trabalho. 3,91 ,818
b) Eu me comprometo ou busco
tarefas adicionais. 4,02 ,709
c) Eu trabalho mais intensamente nas
tarefas que eu gosto. 3,75 1,050
d) Eu decido (sozinho ou junto com
colegas/supervisores) não trabalhar
em tarefas menos adequadas.
3,10 1,119
e) Eu repasso tarefas que realmente
não se adequam a mim. 3,28 1,120
f) Eu dou menos prioridade a tarefas
que realmente não se adequam a mim. 2,88 1,122
Total 3,49 0,989
Job Crafting –
Relacional
a) Eu invisto em relacionamentos com
pessoas as quais me dou bem. 3,71 1,002
b) Eu procuro por oportunidades de
trabalhar junto com pessoas as quais
me dou bem no trabalho.
3,70 ,992
c) Eu geralmente limito a quantidade
de tempo que eu gasto com pessoas
que eu não me dou bem, e só os
contatos para coisas que são
absolutamente necessárias.
2,98 1,053
d) Eu tento evitar contato com pessoas
no trabalho as quais realmente eu não
me dou bem.
2,70 1,052
e) Eu me comunico menos com as
pessoas que não apoiam totalmente
meus objetivos pessoais no trabalho.
2,81 1,050
Total 3,18 1,029
Job Crafting –
Cognitivo
d) Eu considero as tarefas e
responsabilidades que tenho no
trabalho como tendo um significado
mais profundo do que elas
prontamente aparentam.
3,43 ,945
e) Eu encontro significado pessoal nas
minhas tarefas e responsabilidades no
trabalho.
3,88 ,847
f) Eu vejo minhas tarefas e
responsabilidades como sendo mais
do que apenas parte do meu trabalho.
3,88 ,971
Total 3,77 0,921
Job Crafting Total 3,43 0,989
Nota: a coluna “Itens” refere-se aos itens que compuseram a variável conforme disposição do questionário (vide
Apêndice A).
Fonte: Dados da pesquisa
De forma complementar, avaliando cada dimensão do Job Crafting, é possível inferir
que: (i) na dimensão Job Crafting – Tarefas a maior evidência de adequação do trabalho está
no item (b), em que esses empresários apontam que em sua maioria se comprometem ou
58
buscam por tarefas adicionais. Outro ponto de destaque dessa dimensão refere-se ao item (f),
que demonstram que os empresários contábeis não dão menos prioridade a tarefas que não se
adequam a eles, ou seja, no exercício da atividade contábil, na posição de proprietários/sócios
eles dão prioridades para tarefas que se adequam ou que não se adequam ao seu trabalho,
demonstrando que a importância é dada para a execução da tarefa; (ii) na dimensão Job
Crafting – Relacional, há evidências de que os empresários contábeis na posição de
proprietários/sócios, dificilmente se propõem a limitar suas relações. Nesse sentido, a
adequação feita no trabalho, refere-se a investir nos relacionamentos com as pessoas das quais
eles se dão bem, mas sem se limitar a essas pessoas; e (iii) na dimensão Job Crafting –
Cognitivo, evidencia-se que em geral esses empresários contábeis percebem o significado de
suas atividades e responsabilidades para eles (pessoal) e para a sua profissão.
4.2 ANÁLISE INFERENCIAL
Buscando testar e discutir as hipóteses formuladas para a pesquisa, a análise
inferencial teve como base a aplicação do teste de correlação entre as variáveis e a aplicação
do Modelo Tobit. A seguir serão dispostos os resultados de cada teste de correlação,
seguidamente da análise e discussão das hipóteses de pesquisa.
4.2.1 Análise de Correlação
Como primeiro passo, procedeu-se à aplicação do teste de correlação conforme Tabela
22. Esse teste teve como objetivo averiguar o grau de associação entre as variáveis
(GUJARATI; PORTER, 2011; BRUNI, 2012), tendo como foco principal a análise da
correlação das variáveis envolvimento e conflito de função com as demais variáveis.
59
Tabela 22- Matriz de correlação de Spearman das variáveis do estudo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1. Envolvimento 1,00
2. Envolvimento Operacional ,901 1,00
3. Envolvimento Estratégico ,931 ,694 1,00
4. Conflito ,014 ,035 -,014 1,00
5. Independência ,139 ,146 ,114 ,041 1,00
6. Satisfação ,308 ,249 ,316 -,267 ,131 1,00
7. Prestígio ,247 ,229 ,227 -,260 ,059 ,407 1,00
8. Job Crafting - Tarefas ,153 ,185 ,105 -,108 -,038 ,065 ,064 1,00
9. Job Crafting – Relacional ,070 ,102 ,038 -,093 ,032 ,159 ,074 ,136 1,00
10. Job Crafting – Cognitivo ,163 ,145 ,152 ,108 ,235 ,053 ,138 -,019 -,039 1,00
11. Job Crafting – Total ,209 ,239 ,157 -,047 ,119 ,153 ,153 ,631 ,633 ,441 1,00
Nota: Correlação significativa ao nível de 1% (p-value < 0,01) está destacada apenas em negrito e ao nível de
5% (p-value < 0,05) em negrito e sublinhado.
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando os resultados das variáveis envolvimento e conflito de funções, os
resultados evidenciados na Tabela 22, permitem identificar que: (1) a variável envolvimento
está positivamente associada às variáveis comprometimento com independência, satisfação,
prestígio e job crafting, indicando que quanto mais envolvido nas suas atividades o
empresário contábil está, maior o seu comprometimento com independência, o seu nível de
satisfação e prestígio e sua preparação/adequação do trabalho; (2) a variável conflito de
função está negativamente associada às variáveis satisfação, prestígio e job crafting (apenas
na dimensão „tarefas‟), indicando que quanto maior o conflito de função vivenciado por esses
empresários, menor seu grau de satisfação e prestígio, e menor sua adequação ao trabalho, em
relação as suas tarefas. Por outro lado, a variável conflito está positivamente relacionada com
a variável job crafting (na dimensão „cognitiva‟), indicando que quanto maior o conflito de
funções vivenciado por esses profissionais, maior sua adequação ao trabalho, em relação ao
cognitivo, isto é, ao significado dado as suas tarefas e responsabilidades.
Partindo para a análise das demais variáveis, destacam-se as seguintes evidências: (1)
a variável comprometimento com independência embora tenha relação positiva e significante
com ambas as dimensões do envolvimento, essa relação se mostra mais significativa (ao nível
de 1%) com a dimensão operacional. (2) a variável satisfação está positivamente associada
com a variável comprometimento com independência, indicando que quanto maior o nível de
comprometimento com independência dos contadores, maior o seu nível de satisfação; (3) a
variável prestígio se encontra positivamente relacionada com a variável satisfação, ou seja,
60
quanto maior o nível do prestígio do profissional contábil, maior seu nível de satisfação; e (4)
a variável Job crafting (Total) se encontra positivamente correlacionada com as variáveis
satisfação e prestígio, indicando que quanto maior o comportamento de
modificação/adequação do trabalho, maior o nível de satisfação e prestígio sentido por esses
profissionais.
4.2.2 Análise e discussão das hipóteses de pesquisa
4.2.2.1 Conflito de funções
Conforme se depreende da revisão teórica, a profissão contábil ao longo do tempo tem
passado por uma série de mudanças atreladas ao papel atual do profissional contábil nas
organizações (ZONI; MERCHANT, 2007; LAMBERT; SPONEM, 2012). Alguns estudos
apontam que no cenário atual o papel do contador passa por um período de transição, onde o
profissional abandona o papel bean counter em substituição do papel business partner
(SIEGEL; SORENSEN, 1999; BYRNE; PIERCE, 2007), outros estudos, por sua vez,
argumentam que essas mudanças, na verdade podem ser entendidas com uma expansão dos
papéis ou das funções que esses profissionais executam, no qual os contadores poderão ser
visto como profissionais híbridos, que realizam tanto funções de cunho operacional como de
cunho estratégico (CAGLIO, 2003; BURNS; BALDVINSDOTTIR, 2005; BURNS;
BALDVINSDOTTIR, 2007; HORTON; WANDERLEY, 2018).
Diante deste cenário, o profissional no desempenho de suas funções, dependendo do
ambiente organizacional e das situações atreladas a adoção desses papéis, pode ser sujeito à
problemática do “conflito de funções”. Conforme sugere a literatura, esse conflito
aparentemente pode acontecer na ocorrência simultânea de dois ou mais papéis, em que a
execução de um pode alterar o desempenho ou requerimento de outro (KATZ; KAHN, 1970).
À luz da teoria, esta pesquisa se propôs a testar se o nível de envolvimento do
empresário contábil está associado a um nível mais alto de conflito de papéis, ou seja, se o
fato deles desempenharem mais atividades, sejam elas de caráter operacional e/ou estratégico,
pode ocasionar situações de conflito.
Assim, os resultados da regressão pelo Modelo Tobit (1), conforme Tabela 23
demonstram que a variável envolvimento na sua dimensão operacional apresenta-se positiva e
significativa ao nível de 10%, indicando que o grau de envolvimento em questões
61
operacionais pode influenciar a existência do conflito de funções vivenciados pelos
profissionais contábeis.
Tabela 23- Resultados do Modelo Tobit (1)
Modelo (1)
Descrição Coef p-value
Const 15,928 6,85e-038 ***
0,283 0,067*
−0,196 0,138
3,4220
0,1806
<10
Nota: Foram marcadas em negrito as células que representam as variáveis com significância estatística.
*Significativo a 10%. **Significativo a 5%. ***Significativo a 1%.
a Para o modelo, existe pelo menos uma variável explicativa inserida no modelo que exercerá algum tipo de
influência sobre a variável explicada;
b o modelo não apresentou significância (para os níveis 1%, 5% e 10%);
c as variáveis apresentaram estatística FIV inferior a 10, rejeitando a hipótese de multicolinearidade.
Fonte: Dados da pesquisa.
Com isso, os resultados empíricos indicam a rejeição da hipótese 1 (H1), sugerindo
que os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento não reportam
necessariamente níveis mais alto de conflito de funções
Uma possível explicação para isto pode residir no fato de que um maior envolvimento,
pode ser atrelado a um maior engajamento no trabalho, sendo percebido na verdade como
uma questão de reconhecimento e participação na tomada de decisões, o que pode, em certa
medida, afastar a percepção de que essa situação, ocasionaria uma situação de conflito.
De maneira geral, esses resultados refletem a lógica de que o acúmulo de papéis e/ou
de funções, pode fornecer para o empresário uma visão de que ele está pessoalmente e
integramente envolvido com a sua profissão de forma a se reconhecer como parte
fundamental daquelas atividades. Assim, estar envolvido com questões operacionais e
estratégicas não necessariamente vão colocar esses empresários em situações conflitantes, a
ocorrência simultânea das atividades pode ser vista na verdade como uma consequência do
seu “amplo poder” e seu alto grau de controle dos serviços que seu escritório oferece.
4.2.2.2 Job Crafting
Considerando a argumentação de que uma vez existente, o conflito de funções, pode
gerar nos empresários contábeis uma necessidade de modificar ou adequar o seu trabalho na
tentativa de diminuir esse conflito e propiciar melhores condições para o ambiente
62
organizacional (PETROU et al, 2012), foi formulada a segunda hipóteses de pesquisa, testada
a partir das técnicas estatísticas de regressão pelo modelo Tobit.
Os resultados apresentados na Tabela 24 demonstram as estimações dos Modelos (5),
(6), (7) e (8). Para o modelo (5), (6) e (7) é possível observar que a variável conflito apresenta
coeficientes negativos e significantes, indicando que a existência de conflito de funções pode
diminuir o nível de modificação/adequação do trabalho dos profissionais contábeis, inclusive
quando essa modificação se tratar de tarefas (6) e relações (7). Já quando analisada essa
relação para a dimensão cognitiva, expressa pela equação (8), os resultados apontam que a
variável conflito de funções apresenta coeficiente positivo e com significância estatística ao
nível de 5%, indicando que essa percepção de conflito de funções pode influenciar o nível de
modificação/adequação do trabalho dos profissionais contábeis no que se refere às questões
cognitivas, ou seja, em relação ao significado pessoal dado para as responsabilidades que eles
realizam/assumem no seu trabalho.
Tabela 24- Resultados do Modelo Tobit (5), (6), (7) e (8) Modelo (5) Modelo (6) Modelo (7) Modelo (8)
Descrição Coef p-value Coef p-value Coef p-value Coef p-value
Const 49,512 0,00*** 21,394 0,00*** 17,653 0,00*** 10,464 2,71e-
243***
-0,057 0,095* -0,056 0,006*** -0,042 0,035** 0,041 0,015**
2,7747
0,095761
7,525821
0,006082
4,438063
0,035146
5,867403
0,015424
Nota: Foram marcadas em negrito as células que representam as variáveis com significância estatística.
*Significativo a 10%. **Significativo a 5%. ***Significativo a 1%.
a Para todos os modelos, existe pelo menos uma variável explicativa inserida no modelo que exercerá algum tipo
de influência sobre a variável explicada;
b os modelos (6), é significante ao nível de 1%; o modelo (7) e (8) são significantes ao nível de 5%; e o modelo
(5) é significante ao nível de 10%;
Fonte: Dados da pesquisa.
A partir desses resultados sugerem-se a aceitação parcial da hipótese 2 (H2), indicando
que os empresários contábeis brasileiros com maior nível de conflito de papéis estão
positivamente associados com um comportamento de job crafting, apenas na dimensão
cognitiva.
Esse achado pode ser explicado, pela visão de que os empresários contábeis
dificilmente conseguem fazer modificações a curto prazo em relação as tarefas que executam,
então, mesmo em percepções de conflito de funções, as modificações talvez sejam feitas em
um longo espaço de tempo.
63
À luz do que discute a teoria, essa aceitação parcial pode ser justificada por dois
argumentos: (i) o conflito de funções ser visto como algo intrínseco em decorrência do tempo
de prática e de experiência dos respondentes (PALOMINO; FREZATTI, 2016); (ii) as
mudanças contemporâneas na natureza do emprego sugere que a questão cognitiva tem sido
considerada como uma importante característica para muitos empregos atuais (BAKKE;
DEMEROUTI, 2014). Dessa forma, as tensões organizacionais provocadas ou intensificadas
pela presença do conflito, podem ser mais evidentes nessa dimensão, pelo fato de que no
contexto atual a atenção maior é dada às modificações do trabalho cognitivo.
4.2.2.3 Comprometimento com independência
Conforme se depreende da revisão teórica, evidências empíricas apontam para a
existência de diferenças entre o envolvimento e a independência por parte dos profissionais
contábeis (BYRNE; PIERCE, 2007, EMSLEY, 2005; LAMBERT; SPONEM, 2012).
Dentro desta perspectiva, a literatura sugere que os profissionais que adotam o perfil
business partner, pelo fato de estarem associados a um alto grau de envolvimento em suas
funções poderiam enfrentar situações de conflito no que tange sua independência, enquanto
que o perfil bean counter, associados a um baixo grau de envolvimento, caracterizado por ser
um perfil mais tradicional demonstrariam maiores preocupações com os aspectos de sua
independência (EMSLEY, 2005; LAMBERT; SPONEM, 2012; VALENTIM, 2017;
HORTON; WANDERLEY, 2018). .
A partir disso, foi testado a seguinte hipótese (H3): Os empresários contábeis
brasileiros com maior nível de envolvimento reportam níveis mais baixos de
comprometimento com independência
Os resultados do Modelo Tobit (2) dispostos na Tabela 25 apontam com significância
estatística de 5% que o envolvimento em questões operacionais é um fator de influência no
comprometimento com independência, sugerindo a relação de que quanto maior o
envolvimento dos empresários contábeis em questões operacionais, maior o seu
comprometimento com independência.
64
Tabela 25- Resultados do Modelo Tobit (2)
Modelo (2)
Descrição Coef p-value
Const 8,96e-112***
0,163 0,0340**
−0,00 0,983
8,839521
0,012037
<10
Nota: Foram marcadas em negrito as células que representam as variáveis com significância estatística.
*Significativo a 10%. **Significativo a 5%. ***Significativo a 1%.
a Para o modelo existe pelo menos uma variável explicativa inserida no modelo que exercerá algum tipo de
influência sobre a variável explicada;
b O modelo (2) é significante ao nível de 5%
c as variáveis apresentaram estatística FIV inferior a 10, rejeitando a hipótese de multicolinearidade.
Fonte: Dados da pesquisa.
Assim, considerando os resultados empíricos, referentes aos testes estatísticos,
resolve-se rejeitar a hipótese 3 (H3), no sentido de que a relação observada pelos testes foi de
uma relação inversa à hipótese, ou seja, que empresários contábeis brasileiros com maior
nível de envolvimento reportam níveis mais altos de comprometimento com independência.
Estas evidências corroboram com os achados de Suddaby, Gendron e Lam (2009) e
provocam a reflexão de que o nível de envolvimento do empresário não necessariamente
representa uma “ameaça” à sua independência profissional. Na verdade, o alto envolvimento
do empresário contábil pode ser visto como uma relação de confiança e de poder, que
naturalmente propicie uma maior preocupação e comprometimento com independência.
Por fim, outro ponto que pode justificar essas evidencias é que além do envolvimento,
fatores como a cultura organizacional e o ambiente regulatório do país podem favorecer um
maior comprometimento com independência (SIKKA, 2009). No Brasil, a maioria dos
contadores trabalha em ambientes burocráticos movidos por uma grande variedade de leis e
normas. Dessa forma, o fato de que os contadores são continuamente socializados por esse
ambiente podem provocar nesses profissionais uma necessidade de se comprometer cada vez
mais com essas normas e condutas.
4.2.2.4 Prestígio e Satisfação
Nos últimos anos, as evidencias de que a profissão contábil está passando por uma
série de mudanças, sugerindo a adoção de novos papéis tem provocado algumas discussões a
respeito da influência desse novo cenário nos níveis de satisfação e prestígio desses
profissionais.
65
Dentro desta perspectiva, a literatura sugere que o perfil “moderno” (business
partner), associado a um alto grau de envolvimento pode indicar níveis mais altos de
satisfação e prestígio, enquanto que o profissional mais tradicional (bean counter) associado a
um baixo nível de envolvimento, poderia reportar níveis mais baixos.
Assim, tendo a teoria estabelecido estas bases, esta pesquisa se propôs a testar se os
níveis de envolvimento afetam os níveis de prestígio (hipótese 4 - H4) e satisfação (hipótese 5
– H5).
Analisando, os resultados do Modelo Tobit (3) e (4), conforme Tabela 26 o que se
constatou a partir dos dados foi que: o envolvimento em decisões estratégicas causa influência
no nível de prestígio (p-valor 0,007) e satisfação (p-valor 5,35e-05), indicando que quanto
maior o envolvimento dos empresários contábeis, maior o nível de prestígio e satisfação.
Tabela 26- Resultados do Modelo Tobit (3) e (4)
Modelo (3) Modelo (4)
Descrição Coef p-value Coef p-value
Const 5,95e-103 *** 15,221 1,57e-095***
0,040 0,6433 0,103 0,260
0,302 5,35e-05*** 0,209 0,007***
38,26856
4,90e-09
<10
25,09647
3,55e-06
<10
Nota: Foram marcadas em negrito as células que representam as variáveis com significância estatística.
*Significativo a 10%. **Significativo a 5%. ***Significativo a 1%.
a Para ambos os modelos, existe pelo menos uma variável explicativa inserida no modelo que exercerá algum
tipo de influência sobre a variável explicada;
b os modelos (3) e (4) são significantes ao nível de 1%;
c as variáveis apresentaram estatística FIV inferior a 10, rejeitando a hipótese de multicolinearidade.
Fonte: Dados da pesquisa.
Com base nesses resultados, resolve-se aceitar as hipóteses H4 e H5, visto que existem
evidências empíricas as quais permitem afirmar que os empresários contábeis brasileiros com
maior nível de envolvimento reportam níveis mais altos de prestígio (H4) e satisfação (H5) na
profissão.
Tomados em conjunto, estes resultados sugerem que um alto nível de envolvimento no
trabalho pode refletir aspectos positivos, motivacionais e de valorização da profissão que
reflete naturalmente no nível de satisfação e prestígio dos empresários contábeis brasileiros.
De maneira geral, esta situação mostra que, na atualidade, os empresários brasileiros
percebem a satisfação e o prestígio como uma consequência da natureza da sua posição e
66
possivelmente da adoção de um perfil mais moderno (business partner). Esses resultados
corroboram, em alguns aspectos, os achados de alguns estudos (HILLER; MAHLENDORF;
WEBER, 2014; PARKER; GRIFFIN; SPRIGG; WALL, 2002; LAMBERT; SPONEM, 2012)
pois tanto a variável prestígio como a variável satisfação se mostraram sensíveis em alguns
aspectos aos níveis de envolvimento dos empresários contábeis brasileiros.
Por fim, o quadro 2 resume os procedimentos utilizados para testar as cinco hipóteses
da pesquisa e os resultados quanto a aceitação ou rejeição das hipóteses de pesquisa.
Quadro 2- Resumo dos resultados obtidos referentes aos testes das hipóteses da pesquisa
HIPÓTESE ELEMENTO DE TESTE RESULTADO
H1 Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de
envolvimento reportam maior nível de conflito de funções. Rejeita
H2
Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de
conflito de papéis vão estar positivamente associados com um
comportamento de job crafting (modificação de trabalho).
Aceita Parcialmente
H3
Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de
envolvimento reportam níveis mais baixos de comprometimento
com independência.
Rejeita
H4
Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de
envolvimento reportam níveis mais altos de prestígio na
profissão.
Aceita
H5
Os empresários contábeis brasileiros com maior nível de
envolvimento reportam níveis mais altos de satisfação no
trabalho.
Aceita
Fonte: Elaborado pela autora.
67
5 CONCLUSAO
Foi estabelecido como objetivo geral deste estudo identificar se existem relações entre
o envolvimento com o conflito de funções, o comprometimento com independência, a
modificação/adequação do trabalho, a satisfação e o prestígio dos empresários contábeis que
atuam como proprietários e/ou sócios de escritórios contábeis no Brasil.
Em particular, esta pesquisa revestiu-se da missão de: primeiramente, identificar as
principais atividades desempenhadas pelos contadores e os níveis de envolvimento desses
profissionais nas suas atividades e funções; em seguida, investigar a existência dos conflitos
de funções e como esses conflitos afetam em questões de modificação/adequação do trabalho;
e por último, examinar a natureza e a magnitude de cada variável da pesquisa, ou seja, do
envolvimento, conflito de funções, do comprometimento com independência, da
modificação/adequação do trabalho, da satisfação e do prestígio nos perfis dos empresários
contábeis no Brasil.
Para a consecução destes objetivos, foi adotada a abordagem quantitativa, com o
emprego dos seguintes procedimentos estatísticos: análise descritiva, considerando as
medidas de frequência, média e a análise de cluster e análise inferencial, considerando o
emprego do teste de correlação e a regressão estimada pela modelagem Tobit.
O estudo ao se aliar ao corpo teórico que estuda a evolução da profissão contábil,
desenvolve uma discussão teórica a partir da perspectiva de que os níveis de envolvimento do
profissional contábil podem afetar alguns fatores. Com isso, foram testadas cinco hipóteses
sobre a existência de relação entre o envolvimento e as variáveis contingenciais: conflito de
funções, comprometimento com independência, modificação/adequação do trabalho,
satisfação e prestígio.
Como resultado desta investigação, foram encontradas primeiramente através da
análise descritiva, as seguintes evidências: (i) todas as atividades (contábil, fiscal, pessoal,
consultoria e auditoria) foram classificadas pela maioria dos empresários contábeis da amostra
como sendo muito importante para o seu trabalho atual; (ii) dentre as funções descritas
(Tabela 11), três delas tiveram posição de destaque (contábil, fiscal e pessoal), em relação a
quantidade de tempo gasto com cada função; e (iii) a maioria dos serviços de
consultoria/assessoria descritos pelo IFAC (2016), foram considerados de muita importância,
com o destaque para os serviços de Planejamento Tributário e Tecnologia da informação.
68
Em seguida, a averiguação do perfil dos empresários contábeis da amostra revelou
uma predominância do perfil hybrid (ou hibrido), conforme consta na Tabela 15, através da
análise de cluster que 52% dos respondentes foram associados a esse perfil, enquanto apenas
18% foram classificados como perfil business partner e 125 (30%) como perfil bean counter.
Corroborando com esta predominância, tem-se que as atividades e funções executadas e
apontadas pelos respondentes mostram-se consistentes com a descrição de do perfil hybrid
pela literatura acadêmica.
Finalmente, além das contribuições anteriormente discutidas, foi analisado por meio
dos testes estatístico (análise inferencial), se os resultados suportavam a predição teórica das
hipóteses desenvolvidas. Dessa maneira, pode-se afirmar que, foram encontradas evidências
empíricas que dão suporte para a confirmação das hipóteses H4 e H5 e parcialmente da
hipótese H2. Para a hipótese H1, os resultados indicam sua rejeição, visto a falta de
significância estatística para a relação, entretanto para a hipóteses H3 foi encontrado
significância estatística para a relação inversa a descrita pela hipótese, o que também indicou
sua rejeição.
Assim, apoiado nesses resultados, podem ser salientadas as seguintes conclusões: (i)
existe relação positiva e significante entre o envolvimento e o prestígio, indicando que os
empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento reportam níveis mais altos
de prestígio; (ii) existe relação positiva e significante entre o envolvimento e satisfação,
indicando que os empresários contábeis brasileiros com maior nível de envolvimento
reportam níveis mais altos de satisfação; e (iii) existe uma relação positiva e significante entre
o conflito e o job crafting (dimensão cognitiva), indicando que os empresários contábeis
brasileiros com maior nível de conflito de papéis estão positivamente associados com um
comportamento de job crafting, apenas na dimensão cognitiva.
Por meio destas conclusões, o presente estudo trouxe contribuições no sentido de
elucidar sobre alguns fatores que influenciam no exercício da profissão do contador no Brasil.
A análise desses fatores relacionados à profissão contábil, tradicionalmente discutidos pela
literatura internacional e aqui testados, foram em sua grande maioria, significantes para
explicar que o envolvimento na profissão pode ser um fator chave de influência em questões
como comprometimento com independência, satisfação e prestígio.
Em termos acadêmicos, o estudo contribuiu para o debate teórico, no sentido de
provocar relevantes discussões e novas evidências complementares as descobertas de estudos
69
anteriores que podem levar a uma visão mais holística sobre o profissional contábil e o
ambiente organizacional que este profissional está inserido. Por fim, esta visão mais holística,
consequentemente, instrumentaliza a reflexão do mercado, da sociedade, e dos próprios
profissionais, a respeito do papel do contador e dos perfis adotados no Brasil, lançando o
debate acerca dos direcionadores da evolução da profissão contábil no contexto brasileiro.
5.1 Limitações do estudo
Constituiu como limitação principal para o estudo a dificuldade de identificar a
população exata dos contadores que atuam como proprietários/sócios de escritórios no Brasil.
Embora tenham sido usadas duas estratégias principais de captação: a lista dos escritórios
cadastrados na FENACON e a busca por esses cargos por meio da plataforma do LinkedIn,
não é possível dizer que essas bases comportam a totalidades desses profissionais.
Por fim, outro ponto limitante refere-se ao fato de que o presente estudo foi uma
pesquisa transversal, isto é, foram coletados os questionários em um único momento, o que
dificulta a extrapolação das análises e a real captura da percepção dos contadores sobre as
variáveis estudadas num horizonte mais longo de tempo. Assim nossa pesquisa, não é capaz
de identificar relações de causa-e-efeito entre as variáveis estudadas.
5.2 Sugestões para pesquisas futuras
Sugere-se que outros estudos examinem por meio de uma pesquisa longitudinal, a
relação de causa-efeito de cada variável aqui analisada, o que além de trazer contribuições
comparativas com a presente pesquisa, trariam análises mais consolidadas acerca das relações
destas variáveis.
Sugere-se também a aplicação do mesmo questionário a profissionais que ocupam
posições subordinadas, ou seja, contadores que atuam na função de
Auxiliar/Analista/Supervisor e etc., de forma a analisar se as percepções acerca dessas
variáveis, mudam em função do cargo ocupado pelo profissional contábil.
Como terceira sugestão, indica-se que pesquisas futuras explorem a relação entre
envolvimento e comprometimento com a independência, já que o que foi evidenciado na
presente pesquisa é uma relação positiva entre as duas variáveis, ao contrário do que foi
proposto pela hipótese (H3).
70
Por último, sugere-se ainda a adoção da abordagem qualitativa, com a aplicação de
entrevistas, visando compreender de maneira mais ampla as questões acerca da atuação do
profissional contábil e a influência dessas variáveis contingenciais no exercício de sua
profissão.
71
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77
APÊNDICE A – Questionário
Pesquisa sobre a Profissão de Contador no Brasil
1. Informações sobre a pesquisa
Muito obrigada por participar desta pesquisa! Esta pesquisa está sendo realizada por
pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco e tem por objetivo uma melhor
compreensão sobre algumas questões referentes ao envolvimento, conflito de papéis,
comprometimento com independência, satisfação e prestígio do empresário contábil através
das percepções dos contadores que atuam como sócios de escritórios de contabilidade do
Brasil. As perguntas dispostas neste questionário têm caráter individual, referente a sua
própria realidade profissional. Não há respostas “certas” ou “erradas”. O interesse desta
pesquisa é nas percepções, opiniões e experiências dos(as) Srs. (Srªs). Portanto é requerido
que o Sr/Srª preencha de forma privativa e com o máximo de atenção possível. Algumas das
perguntas podem parecer semelhantes, porém elas abordam diferentes percepções e aspectos
da mesma definição. É requerido que o Sr/ Srª respondam todas as questões dispostas nesse
questionário. Caso contrário, torna-se inviável a utilização dos dados.
Estipula-se para o preenchimento deste questionário uma média de 15 minutos.
Confidencialidade
A pesquisadora declara que os participantes permanecerão anônimos e as respostas serão
tratadas conforme os critérios éticos e responsáveis, de modo a manter a confidencialidade
dos dados. Observe que em nenhum momento na pesquisa será preciso informar seu nome.
Contato e maiores informações
Se você tiver dúvidas sobre a pesquisa, entre em contato: [email protected]
PARTE A
1. Por favor indique o nível de importância das atividades a seguir para seu trabalho
atual. Por favor preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Sem importância; 2 =
Relativamente sem importância; 3 = Importância Média; 4 = Relativamente importante; 5 =
Muito importante.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Contábil (ex. escrituração contábil; controle patrimonial; elaboração
de demonstrações)
78
b) Fiscal (ex. apuração de impostos; declarações fiscais; escrituração
fiscal)
c) Pessoal (ex. folha de pagamento; registro das movimentações
funcionais)
d) Consultoria/ Assessoria na gestão (ex. assessoria corporativa;
contabilidade gerencial; desenvolvimento de negócios)
e) Auditoria/ Fiscalização (ex. relatório de auditoria)
2. Qual a porcentagem do seu tempo foi gasta nas seguintes funções nos últimos 12
meses? (por favor, note que o total deve somar até 100% do tempo gasto).
Contábil (ex. escrituração contábil; controle patrimonial; elaboração de demonstrações)
Fiscal (ex. apuração de impostos; declarações fiscais; escrituração fiscal)
Pessoal (ex. folha de pagamento; registro das movimentações funcionais)
Consultoria/Assessoria na gestão (ex. assessoria corporativa; contabilidade gerencial;
desenvolvimento de negócios)
Auditoria/ Fiscalização (ex. relatório de auditoria)
Administrativo/Gestão do Escritório (ex. atividades administrativas; controle financeiro)
Outros.
3. Por favor indique o nível de importância dos serviços de consultoria/assessoria
descritos a seguir para seu trabalho atual. Por favor preencha de acordo com a seguinte
escala: 1 = Sem importância; 2 = Relativamente sem importância; 3 = Importância Média; 4 =
Relativamente importante; 5 = Muito importante.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Planejamento Tributário
b) Assessoria Corporativa (fusões; cisões; avaliações)
c) Contabilidade Gerencial (elaboração de orçamento; planejamento;
79
desempenho e gerenciamento de riscos)
d) Desenvolvimento de Negócios (ex. estratégia; marketing,
benchmarking, orçamento)
e) Planejamento de Sucessão / Transferências de Negócios
f) Business intelligence (ex. transformação de dados para fins de
análise de negócios)
g) Tecnologia da informação (ex. suporte ao sistema; revisões;
segurança; monitoramento de computadores)
h) Relatórios corporativos aprimorados (relatórios integrados;
relatórios de sustentabilidade; relatórios de responsabilidade social
corporativa)
i) Previdência / aposentadoria (nacional; empresa; pensões
individuais)
j) Outros (serviços forenses; reestruturação de negócios; e liquidações
e treinamento)
PARTE B
Nas suas atividades, muitos contadores/empresários contábeis apresentam dupla função. Uma
mais orientada para as atividades operacionais de seus clientes, apoio as decisões operacionais
e recomendações no que se refere a integridade de lançamentos, controle e gestão de
produtos/serviços; e a outra mais voltada ao apoio as decisões estratégicas de seus clientes,
isto é, no gerenciamento das informações e desempenho, planejamento e tomada de decisão.
Considerando estas duas funções, responda as seguintes perguntas:
1. Em termos de DECISÕES OPERACIONAIS, nos últimos 12 meses, em que medida
você: Por favor preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Nunca; 2 = Raramente; 3 = Às
vezes; 4 = Frequentemente; 5 = Muito frequentemente.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Apresentou informações e análises. (ex. gestão de estoques; controle de
custos, relatórios de compra/venda de produtos/serviços; previsões de
faturamento; etc)
b) Recomendou ações a serem tomadas. (ex. controle e fiscalização de
funcionários; armazenamento de produtos; decisões sobre preços; descontos,
etc)
c) Questionou planos e ações de executivos operacionais (ex. política de
estocagem, contratação de funcionários, reconhecimento e controle de
custos nos produtos/serviços, etc.)
2. Em termos de DECISÕES ESTRATÉGICAS, em que medida, nos últimos 12 meses,
você: Por favor preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Nunca; 2 = Raramente; 3 = Às
vezes; 4 = Frequentemente; 5 = Muito frequentemente.
80
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Apresentou informações e análises. (ex. análises e previsões de riscos;
avaliação de investimentos; adoção e/ou desenvolvimento de sistemas;
planejamento estratégico)
b) Recomendou ações a serem tomadas. (ex. decisões de aquisições;
expansão de mix de vendas)
c) Questionou planos e ações de executivos operacionais. (ex.
implementação de sistemas; critérios de avaliação de desempenho dos
gestores; certificações)
PARTE C
1. Em seu trabalho com que frequência as seguintes situações são verdadeiras? Por favor
preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Raramente ou Nunca; 2 = Ocasionalmente; 3 =
Frequentemente; 4 = Muito Frequentemente; 5 = Sempre.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Eu recebo pedidos incompatíveis de duas ou mais pessoas.
b) Eu faço coisas que são susceptíveis de ser aceito por uma pessoa e não
por outras.
c) Diferentes pessoas com que trabalho esperam coisas conflitantes de mim.
d) As pessoas me enviam mensagens contraditórias sobre o que é
importante.
e) Eu tenho que fazer coisas que acho que deveriam ser feitas de outro jeito
f) Eu tenho que fazer coisas que são contra o meu melhor julgamento.
g) As pessoas esperam que eu faça coisas que não fazem parte do meu
trabalho.
h) Para realizar um trabalho ou tarefa eu tenho que quebrar uma regra,
norma ou política.
2. Em que medida você concorda com as seguintes declarações? Por favor, preencha de
acordo com a seguinte escala: 1 = Discordo totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem
Concordo; 4 = Concordo; 5 = Concordo Totalmente.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) As pessoas pensam muito bem de profissionais em minha posição.
b) É considerado prestigioso ser um profissional na minha posição
c) As pessoas menosprezam profissionais em minha posição.
d) Profissionais deveriam ter orgulho em dizer que trabalharam na minha
posição
e) Minha posição de trabalho não tem boa reputação.
81
3. Em que medida você concorda com as seguintes declarações? Por favor preencha de
acordo com a seguinte escala: 1 = Discordo totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem
Concordo; 4 = Concordo; 5 = Concordo Totalmente.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Eu acredito que a independência é um dos principais fundamentos da
profissão de contador.
b) Eu acredito que os requisitos de independência da profissão precisam ser
rigorosamente aplicados em todas as esferas de atividades em que os
contadores estão envolvidos.
c) Eu acho que a profissão seria melhor se os requisitos de independência da
profissão de contadores fossem mais rigorosos.
d) Eu acho que o meio empresarial em geral seria melhor se os requisitos de
independência da profissão de contadores fossem mais rigorosos.
4. Para responder as perguntas descritas a seguir, por favor considere a seguinte escala: 1=
Totalmente Insatisfeito; 2 = Insatisfeito; 3 = Nem insatisfeito nem satisfeito (neutro); 4=
Satisfeito; 5= Totalmente satisfeito.
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Qual seu grau de satisfação com a natureza de seu trabalho?
b) Qual seu grau de satisfação com a relação mantida com as pessoas do
escritório, na qual você trabalha (seus colegas de trabalho)?
c) Qual seu grau de satisfação com a remuneração que você recebe pelo seu
trabalho?
d) Qual seu grau de satisfação com as oportunidades de crescimento,
existentes no seu escritório?
e) Considerando os itens acima (a) até (d), como conclusão, qual seu grau
de satisfação com sua situação atual?
PARTE D
1. As próximas questões perguntam se você adapta seu trabalho para que ele se adeque
melhor a você. Por favor, preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Discordo
totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem Concordo; 4 = Concordo; 5 = Concordo
Totalmente.
Para que o trabalho que realizo se adeque a mim…
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Eu me concentro em tarefas específicas do trabalho.
b) Eu me comprometo ou busco tarefas adicionais.
c) Eu trabalho mais intensamente nas tarefas que eu gosto.
d) Eu decido (sozinho ou junto com colegas/supervisores) não trabalhar em
tarefas menos adequadas.
82
e) Eu repasso tarefas que realmente não se adequam a mim.
f) Eu dou menos prioridade a tarefas que realmente não se adequam a mim.
g) Eu invisto em relacionamentos com pessoas as quais me dou bem.
h) Eu procuro por oportunidades de trabalhar junto com pessoas as quais me
dou bem no trabalho.
2. As próximas questões perguntam se você adapta seu trabalho para que ele se adeque
melhor a você. Por favor, preencha de acordo com a seguinte escala: 1 = Discordo
totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem Concordo; 4 = Concordo; 5 = Concordo
Totalmente.
Para que o trabalho que realizo se adeque a mim…
PERGUNTAS Escala
1 2 3 4 5
a) Eu geralmente limito a quantidade de tempo que eu gasto com pessoas
que eu não me dou bem, e só os contatos para coisas que são absolutamente
necessárias.
b) Eu tento evitar contato com pessoas no trabalho as quais realmente eu não
me dou bem.
c) Eu me comunico menos com as pessoas que não apoiam totalmente meus
objetivos pessoais no trabalho.
d) Eu considero as tarefas e responsabilidades que tenho no trabalho como
tendo um significado mais profundo do que elas prontamente aparentam.
e) Eu encontro significado pessoal nas minhas tarefas e responsabilidades no
trabalho.
f) Eu vejo minhas tarefas e responsabilidades como sendo mais do que
apenas parte do meu trabalho.
PARTE E
1. Qual é o seu maior grau de instrução?
[ ] Ensino Médio / Técnico em Contabilidade
[ ] Ensino Superior
[ ] Especialização
[ ] Mestrado
[ ] Doutorado
[ ] Outro. Favor especificar: _____________________.
2. Por favor, indique seu gênero:
[ ] Feminino
[ ] Masculino
3. Em que estado você trabalha?_________________________.
83
4. Há quantos anos este escritório existe? _____ anos.
5. Quantos sócios o escritório possui além de você?
6. Quantos empregados o seu escritório possui? _____.
7. Quantos clientes tem o seu escritório? ______
8. Seu escritório é especializado em algum tipo de empresa? _______ (Se sim,
qual?________________)
Os resultados desta pesquisa estarão disponíveis em breve. Se você estiver disposto a
participar da nossa próxima pesquisa nesse assunto. Ficaríamos muito gratos se você
pudesse adicionar o seu e-mail aqui:
Muito obrigada por responder o nosso questionário!
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