UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
DANIEL DA CRUZ OLIVEIRA
MODELOS DE AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS
Salvador 2013
DANIEL DA CRUZ OLIVEIRA
MODELOS DE AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE
AQUÍFEROS
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Dr. MANOEL JERÔNIMO MOREIRA CRUZ Co-Orientador: Eng. JOSANA MELO DANTAS
Salvador 2013
TERMO DE APROVAÇÃO
DANIEL DA CRUZ OLIVEIRA
Salvador, 15 de Março de 2013.
MODELOS DE AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS
MONOGRAFIA APROVADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GEOLOGIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, PELA SEGUINTE BANCA EXAMINADORA:
______________________________________
Prof. Dr. Manoel Jerônimo Moreira Cruz
Instituo de Geociências/UFBA
______________________________________
Msc. Rodrigo Alves Santos
Instituto de Geociências/UFBA
______________________________________
Msc. Wayner Américo de Freitas
INEMA
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus pela vida, saúde e pelas oportunidades. Aos meus
queridos pais e irmã, por todo amor e apoio durante a vida. A minha esposa pela
paciência e amor a mim oferecido. A toda minha família pois são o meu alicerce.
Ao professor Jerônimo pelo incentivo e confiança em mim. Aos colegas:
Tassiane, Gilma, Dante, Rodolfo, Dário, Ádila, Tiene, Elisa, Verônica que
enfrentaram junto comigo essa luta. A Josana, designada para me ajudar, pela
competência e compreensão.
A amiga Antonia pela amizade oferecida, pelas lutas que compartilhamos e as
alegrias proporcionadas.
A Deus, pois me sustenta e protege na caminhada da vida.
A Família, que é a base de sustentação do homem que sou.
6
RESUMO
Os aquíferos são reservatórios essenciais para o abastecimento de água da
população como geral. São utilizados para as mais diversas atividades humanas. O
conhecimento de suas características físicas e hidrológicas é imprescindível para a
exploração dos seus recursos.O mapeamento da vulnerabilidade de aquíferos à
contaminação normalmente é o primeiro passo na avaliação do perigo de
contaminação da água subterrânea e na proteção de sua qualidade.Mapas de
vulnerabilidade vêm sendo amplamente utilizados, com o objetivo de proteger tanto
áreas onde a atividade antrópica ainda é pouco expressiva e o potencial para
exploração das águas subterrâneas é elevado, como em áreas densamente
povoadas e com intensas atividades de risco. Este trabalho baseou-se num
levantamento das principais técnicas de avaliação da vulnerabilidade dos aquíferos,
e como essas técnicas se aplicam a cada tipo de aquífero. Os principais métodos
que foram descritos nesse trabalho, têm sido bastante utilizados em diversos países
e regiões, no intuito de preservar a água armazenada nos aquíferos. A apresentação
de um método recente desenvolvido por Maia (2011), auxilia na difusão do mesmo,
possibilitando uma nova forma de avaliar a vulnerabilidade de aquíferos. O estudo
de caso baseado no trabalho escrito por Nascimento et al (2009), serviu como bom
exemplo de utilização dos métodos de estudo da vulnerabilidade de aquíferos.
Tendo vista os resultados obtidos no trabalho citado, que mostraram o mapeamento
da vulnerabilidade, bem como a influência: das características intrínsecas do
aquífero, e das atividades humanas exercidas sobre este.
Palavras chave: vulnerabilidade, risco de poluição, aquífero, carga contaminante
7
ABSTRACT
The aquifers are essential reservoirs for water supply for the population as a
whole. And are used for many different human activities. Knowledge of ther physical
and hydrological characteristics is essential for the exploitation of its resources.
Mapping the vulnerability of aquifers to contamination is usually the first step in
assessing the risk of groundwater contamination and protection of its quality.
Vulnerability maps have been widely used in order to protect both areas where
human activity is still not significant and the potential for exploitation of groundwater
is high, as in densely populated areas with intense and risky activities. This work was
based on a survey of the main techniques for assessing the vulnerability of aquifers,
and how these techniques apply to each type of aquifer. The main methods that were
described in this study, have been widely used in various countries and regions in
order to preserve the water stored in aquifers. The presentation of a method recently
developed by Maia (2011), assists in the dissemination thereof, enabling a new way
of assessing the vulnerability of aquifers. The case study based on work written by
Nascimento et al (2009), served as a good example of use of the methods of study of
the vulnerability of aquifers. Having seen the results of the cited work, which showed
the vulnerability mapping, and the influence: the intrinsic characteristics of the
aquifer, and human activities exerted on this.
Keywords: vulnerability, risk of pollution, aquifer, contaminant load
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 11
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 11
3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 12
4 ESTUDO DA VULNERABILIDADE DE AQUIFEROS .................................................... 13
4.1 OS AQUÍFEROS E SUAS CARACTERÍSTICAS ........................................................... 13
4.1.1 Aquífero Poroso .............................................................................................................. 16
4.1.2 Aquíferos Fissurais ......................................................................................................... 16
4.1.3 Aquíferos Cársticos ......................................................................................................... 17
4.2 VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS: CONCEITOS ................................................ 18
4.3 RISCO DE POLUIÇÃO ..................................................................................................... 19
4.4 METODOS DE AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE ............................................ 20
4.4.1 Método GOD ................................................................................................................... 23
4.4.2 Método DRASTIC ........................................................................................................... 25
4.4.3 Método SINTACS ........................................................................................................... 27
4.4.4 Método EPIK .................................................................................................................. 28
4.4.5 Método Maia ................................................................................................................... 30
5 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................ 32
5.1 LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................ 32
5.2 HIDROLOGIA ................................................................................................................... 33
5.3 GEOLOGIA ....................................................................................................................... 33
5.4 METODOLOGIA ............................................................................................................... 35
5.5 RESULTADOS OBTIDOS ................................................................................................ 35
5.6 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 35
5.7 AVALIAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................................. 36
6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 39
9
1 INTRODUÇÃO
As atividades humanas e, sobretudo a permanência da vida na Terra,
dependem essencialmente da água, o mais importante recurso natural existente. A
água se encontra no planeta em diversos reservatórios, no entanto, a água doce é
um recurso de conteúdo inferior a 1% do volume total. Entre os mais importantes
armazenadores deste precioso recurso natural destacam-se os aquíferos. Estes
mananciais constituem os mais importantes sistemas hídricos, e por sua vez uma
dos salvaguardas da manutenção da vida no planeta Terra.
As características intrínsecas de um aquífero diferem de acordo com o tipo do
reservatório. Os três tipos primários de aquífero são: o aquífero poroso, o fissural e o
aquífero cárstico.
Atualmente, a discussão sobre a degradação dos recursos hídricos
subterrâneos tem evoluído de forma importante. Os resultados destas discussões,
tem fomentado o desenvolvimento e uso de técnicas para estudo dos riscos de
contaminação de aquíferos e propostas de métodos que visa quantificar
numericamente e de maneira simples para o usuário comum, qualquer perspectiva
de contaminação.
O estudo dos aquíferos, tanto das suas propriedades físico-químicas, quanto
dos seus reservatórios e capacidade de armazenamento de água, como também de
sua proteção, é um dos pontos importantes na geologia. No rol destes estudos está
inserida a preocupação cotidiana do saber em modelar a probabilidade que estes
corpos de água venham a sofrer contaminações. Assim sendo, neste conjunto de
estudos e interpretações dos mananciais hídricos subterrâneos se destaca a
modelização da vulnerabilidade.
Os métodos de estudo da vulnerabilidade de aquíferos, constitui a ferramenta
de maior destaque na proteção dos recursos hídricos subterrâneos. A precisão do
método é a principal critica aos métodos de estudo, bem como todas as técnicas de
proteção dos recursos hídricos subterrâneos (HIRATA 2001).
Os métodos de estudos da vulnerabilidade de um aquífero à contaminação
podem ser classificados de acordo com a abordagem adotada. Dentre as principais
10
técnicas de avaliação, se destacam os métodos que propõe um índice de
vulnerabilidade único e integrado.
A avaliação da vulnerabilidade permite determinar as atividades antrópicas
compatíveis com a vulnerabilidade natural de um determinado aquífero. Sendo
assim a avaliação do risco de contaminação de um aquífero, é uma ferramenta
imprescindível contra a degradação do mesmo.
Torna-se então, essencial se possuir um conhecimento da descrição dos
métodos principais utilizados na avaliação de risco de contaminação de aquíferos,
Visando auxiliar na escolha do método mais adequado a cada situação, tendo como
objetivo principal a proteção dos reservatórios de recursos hídricos subterrâneos.
Conhecer os principais métodos de análise e suas particularidades permite
uma escolha mais adequada do método a ser utilizado. Considerando o ambiente,
suas características físicas e, sobretudo, as atividades exercidas na região do
reservatório analisado.
11
2 OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo é engendrar de forma metodológica, um
trabalho de levantamento bibliográfico dos principais métodos de estudo da
vulnerabilidade de aquíferos existentes e publicados na bibliografia específica.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Descrever os três principais tipos de aquíferos, destacando suas
características geológicas e seus potenciais hidrogeológicos.
Discutir o conceito de vulnerabilidade, bem como a importância dos métodos
de estudo no modelamento e mapeamento do risco de contaminação.
Fazer um estudo de caso utilizando um trabalho de mapeamento de
vulnerabilidade de aquífero, destacando a utilização do método e seus resultados.
12
3 METODOLOGIA
Este trabalho baseou-se num levantamento das principais técnicas de
avaliação da vulnerabilidade dos aquíferos e como essas técnicas se aplicam a cada
tipo de aquífero.
A fase inicial consistiu numa pesquisa bibliográfica, visando obter
embasamento teórico e cientifico sobre os três principais tipos de aquífero.
Num segundo momento discutiu-se o conceito de vulnerabilidade, como este
conceito tem sido abordado ao longo dos anos, por diversos autores.
Posteriormente realizou-se uma pesquisa documental, objetivando
aprofundar-se e conhecer um exemplo de estudo aplicado na avaliação da
vulnerabilidade de um aquífero em determinada região.
Em outra fase foi realizado um estudo de caso do trabalho realizado por
Nascimento et. al.(2009), intitulado “ A vulnerabilidade do aquífero freático do Alto
Cristalino de Salvador, Bahia”.
Em outra fase de estudo será proposta a complementação dos estudos e o
desenvolvimento de pesquisas experimentais. Salientando que esta pesquisa
restringiu-se aos estudos de vulnerabilidade de aquíferos publicados na literatura
cientifica.
13
4 ESTUDO DA VULNERABILIDADE DE AQUIFEROS
Considera-se aquífero, uma unidade geológica capaz de armazenar e
transmitir água, e pode fornecê-la em quantidade economicamente significativa.
Quando a unidade aquífera é formada por mais de uma formação geológica, com
características hidrogeológicas semelhantes, pode ser considerada como um
sistema aquífero.
A vulnerabilidade de um aquífero está relacionada a um conjunto de
características naturais intrínsecas ao reservatório, que determinam a
susceptibilidade deste ser afetado por uma carga contaminante (FOSTER, 1988).
Dessa forma o estudo da vulnerabilidade é fundamental para compreender os
fatores que determinam a contaminação. E ainda possibilitar o controle dos riscos
que as atividades antrópicas oferecem a esses reservatórios. Este tipo de análise
serve ainda como parâmetros, para a gestão das águas subterrâneas, por parte do
poder público.
4.1 OS AQUÍFEROS E SUAS CARACTERÍSTICAS
De toda a água do mundo, apenas 2,50 % é água doce e 97,50 % estão nos
oceanos. Entretanto, não é toda a água doce do mundo que está disponível para o
consumo, pois, grande parte dela está na forma de neve ou geleiras. Considerando
apenas a porção de água doce do mundo, 29,9% está sob a forma de água
subterrânea e somente 0,20 % encontra-se em rios e lagos. O restante, 68,90 %,
está em estado sólido, como mostra a Figura 4.1.
Toda formação geológica em que a água pode ser armazenada e que possua
permeabilidade suficiente para permitir que esta se movimente pode denominar-se
aquífero. Vê-se, portanto, que para ser um aquífero uma rocha ou sedimento, tem
que ter porosidade suficiente para armazenar água, e que estes poros ou espaços
vazios tenham dimensões suficientes para permitir que a água possa passar de um
lugar a outro, sob a ação de um diferencial de pressão hidrostática.
14
Figura 4.1:. Porcentagem de água nos reservatórios naturais.
Fonte: Midões (2001)
Um aquífero consiste em estrato ou formação geológica que permite a
circulação da água através dos seus poros ou fraturas, de modo a que o Homem
possa aproveitá-la em quantidades economicamente viáveis tendo em conta um
determinado uso (MIDÕES 2001).
A classificação dos aquíferos é baseada nas características geológicas destes
sistemas. As duas principais classificações são baseadas na posição geológica do
aquífero e na porosidade das rochas e ou depósitos sedimentares.
Quanto a posição geológica o aquífero pode ser classificado como: confinado
ou livre.
O aquífero confinado, também conhecido como aquífero sob pressão, é
caracterizado por ser limitado no topo e na base por camadas impermeáveis.
Possui pressão maior que a pressão atmosférica, consequência dessas camadas.
Aquífero livre é aquele cujo limite superior é a superfície de saturação, e possui
pressão igual a pressão atmosférica em todos os pontos, como mostra a Figura 4.2.
15
Figura 4.2: Tipo de aquífero de acordo com a posição geológica.
Fonte: Midões (2001)
O tipo de porosidade é também utilizado para classificar os aquíferos em:
poroso, fissural e cárstico, como mostra a Figura 4.3.
Figura 4.3: Modelo esquemático dos tipos de aquífero quanto a porosidade.
Fonte: Midões (2001)
16
4.1.1 Aquífero Poroso
No aquífero poroso a água circula através dos poros de grandeza milimétrica
que constituem o aquífero. O aquífero poroso ocorre em rochas sedimentares
consolidadas, sedimentos inconsolidados e solos arenosos, decompostos in situ.
Constituem os mais importantes aquíferos, pelo grande volume de água que
armazenam, e por sua ocorrência em grandes áreas (MIDÕES, 2001).
Estes aquíferos ocorrem nas bacias sedimentares, depósitos eólicos e em
todas as várzeas onde se acumularam sedimentos arenosos. Uma particularidade
deste tipo de aquífero é sua porosidade quase sempre homogeneamente distribuída,
permitindo que a água flua para qualquer direção, em função tão somente dos
diferenciais de pressão hidrostática ali existentes. Esta propriedade é conhecida
como isotropia. Poços perfurados nestes aquíferos podem fornecer até 500m3 por
hora de água de boa qualidade (QUARESMA, 2004).
4.1.2 Aquíferos Fissurais
Os aquíferos fissurais ocorrem em formações geológicas que apresentam
fissuras e fendas mais ou menos contínuas. Este tipo de aquíferos ocorre em rochas
ígneas e metamórficas. A capacidade destas rochas armazenarem água depende da
sua porosidade e permeabilidade, que por sua vez dependem da existência de
fissuras ou fendas, da sua quantidade, abertura e intercomunicação.
Poços perfurados nestas rochas fornecem poucos metros cúbicos de água
por hora. Ou seja geralmente este tipo de aquíferos não fornece grandes volumes de
água, permitindo apenas pequenas extrações locais (MIDÕES, 2001).
A possibilidade de se ter um poço produtivo dependerá, tão somente, do
mesmo interceptar fraturas capazes de conduzir a água. Para minimizar o fracasso
da perfuração nestes terrenos, faz-se necessário que a locação do poço seja bem
estudada por profissional competente. Nestes aquíferos a água só pode fluir onde
houver fraturas, que, quase sempre, tendem a ter orientações preferenciais, e, por
isto, dizemos que são meios aquíferos anisotrópicos, ou que possuem anisotropia.
Um caso particular de aquífero fissural é representado pelos derrames de
rochas ígneas vulcânicas basálticas, das grandes bacias sedimentares brasileiras.
Estas rochas, apesar de ígneas, são capazes de fornecer volumes de água até dez
17
vezes maiores do que a maioria das rochas ígneas e metamórficas (QUARESMA
2004).
4.1.3 Aquíferos Cársticos
Constituídos em rochas solúveis, geralmente rochaqs calcárias e dolomíticas,
os aquíferos cársticos ocorrem onde ações mecânicas e químicas originam
cavidades de dissolução (dissolução do carbonato da rocha pela água) que podem
atingir grandes dimensões como mostra Figura 4.5.
Quando há conexão hidráulica entre as diversas cavidades de dissolução,
podem constituir-se verdadeiros cursos de água subterrânea, que permitem a
circulação rápida da água. Os aquíferos cársticos são extremamente vulneráveis à
contaminação, podendo proporcionar grandes volumes de água, de forma irregular,
no espaço e no tempo (MIDÕES 2001).
Figura 4.5: Aquífero Cárstico.
Fonte: Midões (2001)
18
4.2 VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS: CONCEITOS
O conceito de vulnerabilidade de aquíferos segundo Hirata (2001) foi
inicialmente utilizado por Le Grand (1964), nos EUA, e Albinet & Margat (1970), na
França, e mais amplamente nos anos 1980 por vários outros autores (Aller et al,
1985; Bachmat & Collin, 1987, Foster, 1987, Foster & Hirata, 1988).
Reunindo alguns conceitos, Tripet et al. (1997) define a vulnerabilidade
natural como sendo a intrínseca propriedade de aquífero (características geológicas,
geomorfológicas, pedológicas e hidrogeológicas), que determina a sensibilidade à
poluição das águas subterrâneas.
O conceito de vulnerabilidade tem sido usado para expressar características
intrínsecas que determinam a sensibilidade de um aquífero ser adversamente
afetado por uma carga poluente antrópica imposta (HIRATA, 2001).
A vulnerabilidade é fundamentada com base nas características intrínsecas
dos sistemas de água subterrânea que depende da sensibilidade dos aquíferos a
impactos humanos e/ou naturais e é função de fatores hidrogeológicos. De acordo
com Foster & Hirata (1998) estes fatores são a acessibilidade hidráulica da zona não
saturada, à penetração de contaminantes, e a capacidade de atenuação da camada
que cobre a zona saturada, resultado da retenção ou reação físico-química de
contaminantes (dispersão, retardação e degradação).
Para Russo (2009), o termo “vulnerabilidade natural de um aquífero” pode ser
definido como o primeiro passo para a avaliação da susceptibilidade do aquífero a
vir a ser contaminado. Dependente de diversos fatores ambientais, a estimativa da
avaliação da vulnerabilidade da água subterrânea é caracterizada pelo autor como
uma predição do processo que está ocorrendo abaixo da superfície da Terra. Esta
depende de diversos fatores como geologia, geomorfologia, espessura da camada
não saturada, recarga natural, escoamento superficial, exploração da água, dentre
outros (SANTOS, et. al. 2010).
19
4.3 RISCO DE POLUIÇÃO
A vulnerabilidade é distinta do risco de poluição. Este depende não só da
vulnerabilidade, mas também da existência de cargas poluentes significativas que
possam entrar no ambiente subterrâneo (FERREIRA, 1998).
O risco de poluição da água subterrânea seria então definido como a
probabilidade de que a água subterrânea na parte superior de um aquífero atinja
níveis inaceitáveis de contaminação em decorrência das atividades que se realizam
na cobertura imediata da superfície do solo (Foster e Hirata, 1988; Adams e Foster,
1992).
As atividades antrópicas exercidas dentro do contexto de um aqüífero e as
características naturais intrínsecas a este, são os fatores predominantes, na
avaliação do risco de contaminação.
Segundo Santos et. al. (2010) é importante precisar a diferença entre
vulnerabilidade e risco de poluição. O risco é causado não apenas pelas
características intrínsecas do aquífero, muito estáveis, mas também pela existência
de atividades poluentes, fator dinâmico, que em principio pode ser controlado.
Foster et. al. (1998) destaca que, a caracterização mais aproximada da idéia
de risco de poluição de água subterrânea consiste na associação e interação entre a
vulnerabilidade natural do aquífero e a carga contaminante (vulnerabilidade
específica), aplicada no solo ou em subsuperfície sem estar necessariamente
associada a desastres naturais. Muitas vezes uma situação de alta vulnerabilidade
pode não apresentar qualquer risco de poluição pela ausência de carga poluidora
significativa ou vice-versa. A carga poluidora pode ser controlada ou modificada, o
mesmo não ocorre com a vulnerabilidade natural que é uma propriedade intrínseca
do aquífero.
A contaminação ou não de um aquífero vai depender das atividades
antrópicas que estão sobre ele localizadas, ou seja, este pode ser altamente
vulnerável, mas não correr nenhum risco de ser contaminado por estar localizado
numa área distante de fontes poluidoras (SANTOS et.al., 2010).
20
4.4 METODOS DE AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE
A grande complexidade hidrogeológica, que faz com que cada ambiente seja
único, dificulta que métodos de cartografias de vulnerabilidade classifiquem os
aquíferos de forma absoluta, ou seja, que cada unidade tenha significado sem a
comparação com outras unidades. A grande maioria dos métodos existentes
classifica os aquíferos de forma relativa. ( HIRATA 2001)
Cientificamente é mais lógico e coerente avaliar a vulnerabilidade para cada
contaminante ou cada classe de contaminante (nutriente, microorganismos
patogênicos, hidrocarbonetos clorados ou não, metais pesados, etc.)
individualmente ou cada grupo de atividade (saneamento in situ, cultivos agrícolas,
disposição de efluentes industriais, etc.) separadamente (Seller & Canter, 1980; Le
Grand, 1983; Carter et al, 1987).
Os principais parâmetros subjacentes à elaboração de mapas de
vulnerabilidade à poluição diferem de país para país (Ferreira 1999).
Alguns métodos incluem índices de vulnerabilidade formados por parâmetros
hidrogeológicos, morfológicos e outras formas de parametrização das características
dos aquíferos, de um modo bem definido. A adoção de índices de vulnerabilidade
tem a vantagem, em princípio, de eliminar ou minimizar a subjetividade inerente aos
processos de avaliação (FERREIRA, 1999).
Os componentes que determinam a vulnerabilidade dos aquíferos são
resultantes de uma combinação de vários fatores. Entretanto, na prática pode-se
simplificar e utilizar apenas os parâmetros tipo de ocorrência da água subterrânea,
características e litologia das camadas geológicas acima do aquífero e profundidade
do nível d’água. Nessa avaliação inicial, a determinação da vulnerabilidade natural
de aquíferos deve ser tomada com precaução, devido ao fato de que existem
diversos tipos de contaminantes, cada um com suas características definidas
(BRAGA, 2008).
O mapeamento da vulnerabilidade do aquífero à contaminação normalmente
é o primeiro passo na avaliação do perigo de contaminação da água subterrânea e
na proteção de sua qualidade.
21
Mapas de vulnerabilidade vêm sendo amplamente utilizados, com o objetivo
de proteger tanto áreas onde a atividade antrópica ainda é pouco expressiva e o
potencial para exploração das águas subterrâneas é elevado, como em áreas
densamente povoadas e com intensas atividades de risco Quadro 4.1.
Foster (2002), propôs duas questões fundamentais, acerca da vulnerabilidade
do aquífero à contaminação: a) estabelecer um índice de vulnerabilidade único e
integrado, ou se é melhor trabalhar com a vulnerabilidade específica a determinados
contaminantes e condições de poluição. b) fornecer um indicador absoluto da
vulnerabilidade à contaminação como um todo, ou restringir-se aos índices de
vulnerabilidade relativos, bem menos eficazes.
Quadro 4.1: Quadro com os principais métodos de estudo da vulnerabilidade de aquíferos.
Método Avaliação Fatores Referência
Maia Vulnerabilidade
geral
Prof. água, esp. solo, dec. terreno,
cap. específica, rec. potencial, dens.
fraturas, transm. aquífero.
MAIA (2011)
ΔHT’ Vulnerabilidade em
aquífero
semiconfinado
Potencial hidráulico e transmissividade
vertical
AUGE (2001)
IS Vulnerabilidade
geral
Profundidade da água, recarga, litologia,
topografia e ocupação do solo
FRANCÉS et al. (2001) ;
PARALTA et al.
(2001)
EPPNA Vulnerabilidade
geral
Características litológicas e hidrogeológicas
PLANO NACIONAL DA
ÁGUA (1998)
EPIK Vulnerabilidade
geral
Carstificação superficial, cobertura de
proteção, infiltração e rede cárstica
DOERFLIGER; ZWAHLEN
(1997)
EKv Vulnerabilidade
geral
Espessura da zona subsaturada e permeabilidade da zona saturada
AUGE (1995)
AVI Vulnerabilidade
geral
Espessura da camada acima do aquífero e condt. Hidráulica
VAN
STEMPVOORT
(1993)
SANEAMENTO IN
SITU
Vulnerabilidade e saneamento in
situ
Tipo de aquífero, litologia da zona vadosa, prof. E qualidade da água
FERREIRA;
HIRATA (1993)
SEM NOME Vulnerabilidade
geral
Característica litológica, permeabilidade
e profundidade da água
ADAMS; FOSTER
(1992)
22
SINTACS Vulnerabilidade
geral
aquífero, cam. Subsaturada, condutividade, topografia
CIVITA et al.
(1990)
GOD Vulnerabilidade
geral
Tipo de aquífero, litologia da zona vadosa, prof. da água
FOSTER; HIRATA
(1988)
SEM NOME Vulnerabilidade
geral
Condutividade, prof. água, umidade do
solo e recarga real
MARCOLONGO; PRETTO
(1987)
POTENTIAL WASTE
SITES (PWDS)
Disposição de resíduos Sólidos
Vulnerabilidade, confinamento, prox. da
fonte, tipo e quant. do cont., veloc. zona
saturada, percolação
BGS (sem data)
GROUNDWATER VULNERABILITY
MAP FOR NITRATE
Potencial de lixiviação de
nitrato
Tipo de solo, carac. hidráulicas, e litologia do aquífero
CARTER et al.
(1987)
DRASTIC Vulnerabilidade
geral
Prof. água, recarga, aquífero, solo, topografia, impacto, cond. Hidráulica
ALLER et al. (1985)
LANDFILL SITE RANKING
Aterros sanitários Distância aterro/poço, gradiente, permeabilidade e capac. de
atenuação
LE GRAND (1983)
SITE RANKING METHODOLOGY
Disposição de resíduos sólidos
contam., pluv., perm. do solo, carac. do
resíduo, menejo e espect. oper. e construt.
KULFS et al.
(1980)
WASTE-SOIL INTERACTION
MATRIX
Disposição de resíduos
sólidos e líquidos
Efeitos na saúde, caract. e comport. do
produto, capac. de atenuação do solo,
hidrografia
PHILIPS et al.
(1977)
POLUIÇÃO DOS LENÇÓIS
AQUÍFEROS
Vulnerabilidade
geral
Geologia (litologia e estrutura) TALTASSE et al.
(1972)
SITE RANKING
SYSTEM
Disposição de produtos Químicos
Solo, carac. hidráulicas, sorção e tamponam. químico, hidrodinâmica,
ar, população
HARGERTY et al.
(1973)
SURFACE IMPOUNDMENT ASSESSMENT
Disposição de águas
Servidas
Zona não saturada importância do rec,
qualidade da água e periculosidade do
material
LE GRAND (1964)
Fonte: Modificado de Santos e Cruz (2010).
Maia (2011) afirma que os métodos tradicionais para avaliar a vulnerabilidade
foram desenvolvidos, de maneira geral, para um tipo particular de aquífero, quase
sempre definindo os valores das variáveis por meio de tabelas e aplicando fatores
23
de ponderação definidos com bastante subjetividade a cada uma delas, o que
compromete seus resultados.
Os fatores que influenciam o comportamento hidrogeológico dos aquíferos
variam: 1) nos aquíferos Fissurais, dependem da intensidade do fraturamento; 2)
nos Cársticos, do grau de carstificação e 3) nos Granulares, de ambientes
deposicionais e processos diagenéticos. Esses fatores não são avaliados nas
tabelas/ábacos e provocam distorções nos índices dos principais métodos (Maia,
2011).
Os métodos que utilizam índices, se destacam entre as principais técnicas de
avaliação, esses tem como base a analise de alguns parâmetros do aquífero,
classificando-os de acordo com índices, e distribuídos espacialmente. Os
parâmetros individualmente classificados são sobrepostos para compor o mapa
geral de vulnerabilidade (Tavares et al., 2009). Dentre esses métodos se destacam :
GOD (Foster 1987); DRASTIC (Aller et al., 1987); SINTACS (Civitia, 1994) e EPIK
(Doerfliger e Zwahlen, 1997).
4.4.1 Método GOD
O método GOD consiste num método simples e sistemático, e foi
desenvolvido em 1987 por Foster. Foi utilizado de forma ampla na América Latina e
no Caribe durante a década de 1990. Devido a sua pragmática simples, é o primeiro
método usado para estimar o risco de contaminação de um aquífero, que é utilizado
para estabelecer as prioridades de ação, à luz dos resultados.
Para determinar a vulnerabilidade do aquífero à contaminação, são
considerados dois fatores básicos: a) o nível de inacessibilidade hidráulica da zona
saturada do aquífero. b) a capacidade de atenuação dos estratos de cobertura da
porção saturada do aquífero (FOSTER 2002).
O índice GOD baseia-se nos seguintes fatores: G – tipo de aquífero, com
valores estabelecidos entre 0,0 – 1,0; O – classe de aquífero em termos de grau de
confinamento e litologia na escala entre 0,3 – 0,9; D – profundidade do nível da água
24
Figura 4.5: Diagrama explicativo para metodologia GOD.
Fonte: Bovolato 2005.
subterrânea com valores entre 0,4 – 1,0. O índice final integral de vulnerabilidade do
aquífero é o produto dos três índices desses parâmetros (Figura 4.5).
Foster e Hirata (1998), propuseram então que as classes de vulnerabilidade,
fossem subdivididas em 5 categorias, assim como mostra o Tabela 4.1.
25
Tabela 4.1: Classes de vulnerabilidade do índice GOD.
Classes de
vulnerabilidade
Definição prática Índice de vulnerabilidade
Extrema Vulnerável a muitos poluentes, com rápido impacto em muitos
cenários de contaminação
0,7 – 1,0
Alta Vulnerável a muitos poluentes, exceto aqueles muito pouco móveis e pouco persistentes
0,5 – 0,7
Moderada Vulnerável a alguns poluentes, mas somente quando
continuamente lançados
0,3 – 0,5
Baixa Somente vulnerável a contaminantes conservativos em longo
prazo, quando continuamente e amplamente
lançado
0,1 – 0,3
Desprezível Camadas confinadas com fluxo vertical descendente não
significativo
0 – 0,1
Fonte: Foster; Hirata, (1998).
4.4.2 Método DRASTIC
O DRASTIC é um modelo empírico desenvolvido por Aller et al (1987) para a,
EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos). Este método é usado
tanto para a qualificação como para mapeamento e atribuição com base em taxas
que variam de 1 (baixa vulnerabilidade) a 10 (mais alta vulnerabilidade), de acordo
com as características e comportamento das variáveis consideradas na sigla
DRASTIC: D – profundidade da superfície freática; R – recarga do aquífero; A – tipo
de aquífero; S – tipo de solo; T – topografia ou declividade do terreno; I – Influência
na zona não saturada; C – condutividade hidráulica do aquífero (MELO JUNIOR,
2008). Posteriormente esses índices são multiplicados por um peso (entre 1 e 5)
(Tabela 4.2). O índice final é obtido somando-se os produtos de cada parâmetro pelo
peso respectivo. O índice final varia entre 26 (mínima) e 226 (máxima) (Tabela 4.3).
26
Tabela 4.2: Pesos inferidos para os fatores DRASTIC
FATOR DRASTIC FATOR DRASTIC
Profundidade da água 5
Recarga 4
Meio Áquifero 3
Solo 2
Topografia 1
Impacto da zona vadosa 5
Condutividade hidráulica 3
Fonte: (Aller et al., 1987).
Tabela 4.3: Classes de vulnerabilidade do índice DRASTIC
Índice DRASTIC Vulnerabilidade
180 - 226 Muito Alta 126 - 180 Alta 71 - 126 Intermediária 26 - 71 Baixa
Fonte: (Aller et al., 1987).
Melo Junior, (2008), considera que um produto cartográfico representado em
um mapa, é um produto subjetivo, baseado em dados objetivos, produzido com base
na sensibilidade de seus autores em relação aos parâmetros enfocados, logo se
nota que, apesar de amplamente divulgado e utilizado mundialmente, o método
DRASTIC algumas vezes apresenta incompreensão e má interpretação de seus
índices finais, em decorrência da ausência de uma escala que defina a
vulnerabilidade intrínseca de uma região. Este fato pode ser observado em trabalhos
de autores como Babiker et al. (2005), Nobre (2006) e Lobo Ferreira e Oliveira
(2004), que divergem em relação à escala final de vulnerabilidade para os índices
DRASTIC.
A principal crítica ao DRASTIC se dá, com relação à subjetividade dos
parâmetros R e C, ambos relacionados com o processo de recarga do aquífero
(AUGE, 2004).
27
4.4.3 Método SINTACS
O método SINTACS, desenvolvido por Civita et. al. (1990), baseou-se no
método DRASTIC e utiliza os mesmos parâmetros. Ele foi adequado as
características hidrogeológicas da Itália, e ao requerimento de um mapeamento de
maior detalhe. Os parâmetros desse método são os seguintes:
S: Profundidade do aquífero. Equivalente a D no DRASTIC.
I: Infiltração. Equivalente a R no DRASTIC.
N: Impacto da zona vadosa. Equivalente a I no DRASTIC.
T: Tipo de solo. Equivalente a S no DRASTIC.
A: Litologia do aquífero. Equivalente a A no DRASTIC.
C: Condutividade hidráulica. Equivalente a C no DRASTIC.
S: Declive. Equivalente a T no DRASTIC.
O método SINTACS atribui a cada parâmetro um índice de 1 a 10. O
resultado final é um cálculo do índice de vulnerabilidade (Tabela 4.4),que resulta do
somatório dos sete parâmetros, cada um multiplicado por um peso respectivo
(Tabela 4.5).
Tabela 4.4 : Classes de vulnerabilidade do índice SINTACS.
Índice Vulnerabilidade
> 210 Muito alta
186 – 210 Alta
140 – 186 Moderadamente Alta
105 – 140 Média
80 – 105 Baixa
< 80 Muito Baixa
Fonte: Civita e De Maio (2000).
28
Tabela 4.5: Pesos em função de parâmetros e vulnerabilidade.
Parâmetro Normal Rigoroso Infiltração Carste Fissurado Nitratos
S 5 5 4 2 3 5
I 4 5 4 5 3 5
N 5 4 4 1 3 4
T 3 5 2 3 4 5
A 3 3 5 5 4 2
C 3 2 5 5 5 2
S 3 2 2 5 4 3
Fonte:Civita e De Maio( 2000).
Assim como no método DRASTIC, a necessidade de muitos parâmetros,
dificulta a aplicação do método SINTACS. Para medição de todas as variáveis, é
necessário um aporte financeiro considerável.
4.4.4 Método EPIK
O método EPIK foi desenvolvido especificamente para a avaliação da
vulnerabilidade de aquíferos cársticos (Doerfliger & Zwahlen 1997). O índice e
construído com base nos seguintes parâmetros:
E – Epicárstico (zona carstificada próxima a superfície);
P - Cobertura de proteção
I - Condições de infiltração
K - Grau de desenvolvimento da rede cárstica
A cada parâmetro e atribuído um valor segundo uma classificação em que se
toma em conta o impacto potencial da poluição (Tabela 4.6 a 4.9). Após a
classificação dos vários parâmetros (E,P, I, K) e efetuada a soma ponderada, para o
cálculo do índice (Tabela 4.10).
29
Tabela 4.6: Parâmetros do método EPIK.
Epicárstico Aspectos da geomorfologia cárstica
Classificação
E1 Sumidouros, dolinas, afloramentos muito fraturados
1
E2 Zonas intermediarias no alinhamento de dolinas, vales secos, afloramentos com
fraturação media
3
E3 Ausência 4
Tabela 4.7: Parâmetros do método EPIK.
Cobertura de proteção Espessura do solo acima do aquífero cárstico
Classificação
P1 0 – 20 cm 1 P2 20 – 100 cm 2 P3 1m – 8 m 3 P4 >8m 4
Tabela 4.8: Parâmetros do método EPIK.
Infiltração Tipo Classificação
I1 Cursos de água de caráter perene ou temporário que alimentam
sumidouros e dolinas.
1
I2 Áreas em bacias hidrográficas com inclinação > 10% em áreas cultivadas
e >25% em prados e pastagens.
2
I3 Áreas em bacias hidrográficas com inclinação <10% em áreas cultivadas
e <25% em prados e pastagens.
3
I4 A restante área da bacia hidrográfica. 4
Figura 4.9: Parâmetros do método EPIK.
Rede cárstica Grau de desenvolvimento Classificação
K1 Moderado a muito desenvolvido
1
K2 Fraco 2 K3 Aquíferos sem carsificação 3
Fonte: Ribeiro e Mendes, 2010).
30
Tabela 4.10: Classes de vulnerabilidade do índice EPIK.
Classe de Vulnerabilidade Valor Atribuído
Muito Alta < 9 Alta 9 – 19
Média 20 – 25 Baixa 26 – 34
Muito Baixa >34 Fonte: Doerfliger; Zwahlen,( 1997).
4.4.5 Método Maia
Maia (2011), buscou evitar o uso de fatores de ponderação, procurou-se tratar
os valores das variáveis e colocá-los em uma escala equivalente adequada, sem
que esses percam a relação com os valores medidos e permitir que esses índices
possam ser aplicados na equação sem o uso de fatores de compensação de
impactos.
A partir da decomposição e análise dos métodos mais utilizados, foram
selecionadas somente as variáveis passíveis de serem medidas para utilizar na
dedução da equação do novo método que descrever a vulnerabilidade intrínseca dos
aquíferos (Maia 2011).
Maia (2011) avaliou as variáveis com a finalidade de selecionar as mais
indicadas para compor as equações do método para o cálculo da vulnerabilidade
dos aquíferos em escala regional. Para tanto, elas foram descritas, de maneira mais
ou menos uniforme, com o objetivo de facilitar o entendimento do papel que cada
uma delas exerce sobre os fatores de proteção naturais e seu rebatimento na
vulnerabilidade dos aquíferos, são elas:
a. Profundidade da Água (PA).
b. Espessura do solo (ES).
c. Declividade do Terreno (DT).
d. A Capacidade específica (CE).
e. Recarga potencial (RE).
f. Densidade de Fraturas (DF).
g. Transmissividade do Aquífero (TA).
O modelo utilizado para descrever a vulnerabilidade do aquífero está
ancorado em uma formulação matemática elementar, no qual cada termo da
31
equação apresenta uma relação direta ou inversa com a vulnerabilidade. O
somatório desses parâmetros resulta em índices que foram, subdivididos em quatro
classes de vulnerabilidade, como mostra o Tabela 4.11.
Tabela 4.11: Índices de vulnerabilidade do método Maia.
Índice Vulnerabilidade
> 25,5 Extrema
18,0 – 25,5 Alta
10,5 – 18,0 Média
< 10,5 Baixa
Fonte: Maia (2011).
Maia (2011), observou que todas as variáveis aplicadas no método proposto,
são medidas diretamente nos aquíferos e apresentam uma relação matemática com
a vulnerabilidade. São características intrínsecas dos aquíferos que se relacionam
de forma direta ou inversa com a vulnerabilidade.
32
5 ESTUDO DE CASO
Foi realizado um estudo de caso baseado no artigo intitulado : “A
vulnerabilidade do aquífero freático do Alto Cristalino de Salvador, Bahia.” Escrito
por: Sérgio A. de Morais Nascimento, Johildo Salomão Figueiredo Barbosa e Manuel
Jerônimo Moreira Cruz. Publicado pela Revista de Geologia, vol. 22, nº 1, 75 – 85,
2009.
5.1 LOCALIZAÇÃO
O município de Salvador está situado no Estado da Bahia entre as
coordenadas geográficas 12º53’54’’ e 13º00’59’’ de latitude sul e 38º18’31’’ e
38º32’20’’ de longitude oeste, limitando-se ao sul e leste com o Oceano Atlântico e a
oeste com a Baia de Todos os Santos. Ele abrange uma área de 308,15 km2, sendo
que 244 km2 formam o Horst ou Alto Cristalino de Salvador, Figura 5.1.
Figura 5.1: Localização da área de trabalho.
Fonte: Nascimento et al (2009)
33
5.2 HIDROLOGIA
As principais bacias hidrográficas da porção continental são: Rio Camarujipe
com 52km², Rio Cobre com 17km², Rio Ipitanga com 59km², Rio Jaguaribe com
58km², Rio Lucaia com 18km² e Rio das Pedras/Pituaçu com 28km². Em escala
regional o sistema de drenagem é dendrítico, tendo as suas nascentes situadas no
alto cristalino, com o fluxo de água dos rios migrando em direção ao Oceano
Atlântico, com exceção das águas da bacia do Cobre que correm em direção a Baia
de Todos os Santos.
5.3 GEOLOGIA
O Alto Cristalino de Salvador é formado por rochas metamórficas
ortoderivadas compostas de granulitos charnoenderbíticos e tonalíticos que contêm
enclaves ultramáficos (metapiroxenitos) e máficos (metagabros), sendo cortadas por
monzosienogranitos e diques máficos. Ocorre também, um grupo de rochas
metamórficas paraderivadas alumino-magnesianas, granulitos básicos e quartzitos
que ocorrem associadas. A leste da Falha do Iguatemi, onde as elevações do
embasamento cristalino são menores, ocorrem rochas monzoníticas-monzodioríticas
e um conjunto de rochas gnáissicas, graníticas, anfibolíticas e migmatíticas com
predominância da fácies anfibolítica sobre a fácies granulítica (BARBOSA et al.,
2005).
Sobre o Alto Cristalino de Salvador encontram-se as coberturas regolíticas
que apresentam geralmente cor avermelhada, dominantemente argilosas. Além dos
regolitos, essas coberturas podem ser constituídas também por sedimentos
terciários da Formação Barreiras e depósitos fluviomarinhos e eólicos de idade
quaternária (Figura 5.2)
Os sedimentos da Formação Barreiras são constituídos de materiais areno-
argilosos não consolidados de coloração vermelha, violeta, branca e amarela, com
estratificações plano-paralelas e cruzadas. Os depósitos fluviomarinhos são
34
arenosos e argilo-arenosos encontrados no litoral atlântico, em zonas baixas que
margeiam os rios próximos à foz. Os depósitos eólicos, caracterizados pelas dunas,
Figura 5.2: Geologia da cidade de Salvador- Ba
Fonte: Barbosa et al (2005).
35
constituem as feições mais conspícuas da faixa litorânea que se estendem desde o
bairro da Pituba até Stella Mares.
5.4 METODOLOGIA
Para o mapeamento da vulnerabilidade do Alto Cristalino de Salvador foi
utilizado o método DRASTIC que tem uso muito difundido em todo mundo ocidental.
Baseia-se no estabelecimento de índices que vão de 1 a 10, de acordo com as
características e o comportamento das variáveis respectivamente.
Para a aplicação do método Drastic foram utilizadas informações de 98 poços
tubulares que capturam água subterrânea, distribuídos na cidade alta de Salvador,
georreferenciados com coordenadas UTM e compatibilizados com o mapa geológico
de Salvador (Barbosa et al. 2005), na escala 1:30.000.
O índice DRASTIC para a região do Alto Cristalino de Salvador foi calculado
multiplicando-se o valor atribuído ao parâmetro pelo seu peso relativo (w). Cada
parâmetro tem um peso pré determinado que reflete a sua importância relativa na
quantificação do índice de vulnerabilidade.
5.5 RESULTADOS OBTIDOS
O índice DRASTIC para a área do Alto Cristalino de Salvador variou entre 79
e 168, podendo-se classificar as diversas faixas mapeadas nas seguintes condições
de vulnerabilidade: 79 a 106 (insignificante); 106 a 120 (muito baixa); 120 a 127
(baixa); 127 a 141 (moderada) e, 141 a 168 (alta). O modelamento dos índices de
vulnerabilidade encontrados em cada poço tubular mostra a distribuição das áreas
com maior e menor vulnerabilidade.
5.6 CONCLUSÕES
Este trabalho mostrou que o método DRASTIC apresentou bons resultados
no estudo da vulnerabilidade do aquífero do Alto Cristalino de Salvador, sobretudo
porque foi aplicado em uma zona urbana com grande ocupação populacional e,
portanto com alto risco de contaminação das suas águas subterrâneas.A variação
36
sazonal da profundidade do nível estático se constitui num importante parâmetro no
estabelecimento dos índices de vulnerabilidade.
Os resultados obtidos permitem também concluir que, no Alto Cristalino de
Salvador a distribuição espacial dos índices de vulnerabilidade aumentam a partir do
compartimento morfológico situado a oeste da Falha do Iguatemi em direção à
Planície Costeira Atlântica.
Esse aumento da vulnerabilidade é devido a menor profundidade do nível
estático (NE) e a existência da Planície Costeira formado por sedimentos recentes,
principalmente o cordão de dunas que apresentam alta condutividade hidráulica.
Ficou evidenciada através da matriz de correlação linear (Pearson) que a
amônia e o ortofosfato apresentam coeficientes de correlação ( r ) positivos e
significativos com os índices de vulnerabilidade, com r = 0,62 e r = 0,64
respectivamente. Isto pode ser uma indicação da existência de um processo inicial
de contaminação nas áreas mais vulneráveis da Planície Costeira Atlântica
A amônia e o ortofosfato quando acrescidos às águas subterrâneas são
indicadores da utilização pela população de detergentes, saponáceos, inseticidas e
pesticidas, além da participação dos esgotos domésticos preferencialmente em
áreas sem saneamento básico.
5.7 AVALIAÇÃO DO ESTUDO
O estudo apresentado demonstra a importância dos métodos de avaliação da
vulnerabilidade de aquíferos, e como esta ferramenta pode ser decisiva no
gerenciamento dos recursos hídricos subterrâneos.
A utilização do método DRASTIC foi satisfatória, tendo em vista que
demonstrou a variação da vulnerabilidade em pontos determinados. Sendo possível
referenciar as variações com parâmetros como sazonalidade e consequente
variação da profundidade do nível estático. E ainda com o compartimento
morfológico, nesse caso a área que fica a oeste da Falha do Iguatemi em direção à
Planície Costeira Atlântica, onde a distribuição espacial dos índices de
vulnerabilidade aumenta.
37
Outro método recomendado na avaliação do aquífero estudado, é o Método
Maia. Este método utiliza um número de variáveis próximo ao número de variáveis
do método DRASTIC, entretanto o método sugerido evita o uso de fatores de
ponderação, pois não usa parâmetros com intervalos de valores de diferentes
amplitudes.
38
6. CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou, que os métodos de estudo da vulnerabilidade de
aquíferos são essenciais para avaliação e controle da qualidade dos recursos
hídricos subterrâneos.
O conhecimento das características físicas e hidrológicas dos aquíferos,
apresentadas neste trabalho, foram determinantes para compreender a aplicação
dos métodos e as variáveis utilizadas por estes.
Os principais métodos que foram descritos nesse trabalho, têm sido bastante
utilizados em diversos países e regiões, no intuito de preservar a qualidade da água
armazenada nos aquíferos. A apresentação de um método recente desenvolvido por
Maia (2011), auxilia na difusão do mesmo, possibilitando uma nova forma de avaliar
a vulnerabilidade de aquíferos.
O estudo de caso baseado no trabalho escrito por Nascimento et al (2009),
serviu como bom exemplo de utilização dos métodos de estudo da vulnerabilidade
de aquíferos, tendo vista os resultados obtidos no trabalho citado, que mostraram o
mapeamento da vulnerabilidade, bem como a influência das características
intrínsecas do aquífero e as atividades humanas exercidas sobre este.
39
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