UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
RONALD BARRETO VIEIRA
INTERFERÊNCIA ERGONÔMICA NAS ATIVIDADES DA CONSTRUÇÃO
CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE FEIRA DE SANTANA
FEIRA DE SANTANA
2010
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RONALD BARRETO VIEIRA
INTERFERÊNCIA ERGONÔMICA NAS ATIVIDADES DA CONSTRUÇÃO
CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE FEIRA DE SANTANA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil pela Universidade
Estadual de Feira de Santana, na área de
Higiene e Segurança do Trabalho.
ORIENTADOR:
Prof. SÉRGIO TRANZILLO FRANÇA
FEIRA DE SANTANA
2010
RONALD BARRETO VIEIRA
INTERFERÊNCIA ERGONÔMICA NAS ATIVIDADES DA CONSTRUÇÃO
CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA DE FEIRA DE SANTANA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil pela Universidade
Estadual de Feira de Santana, na área de
Higiene e Segurança do Trabalho.
Feira de Santana, ______ de setembro de 2010.
__________________________________
Prof. Sérgio Tranzillo França
Universidade Estadual de Feira de Santana
__________________________________
Prof. Eduardo Antônio Lima Costa
Universidade Estadual de Feira de Santana
__________________________________
Prof. Sarah Patrícia de Oliveira Rios
Universidade Estadual de Feira de Santana
RESUMO
A Construção Civil é uma indústria onde a descontinuidade das atividades produtivas é
uma característica peculiar, mas que contrasta com os processos contínuos onde cada
operário tende a fazer parte. As obras ainda dependem muito da forca de trabalho dos
homens. As mudanças de projeto ocorrem com freqüência; trabalha-se com prazos de
execução curtos, baixo grau de comunicação e de instrução dos operários, na maioria
das vezes a produção é realizada ao ar livre e as condições de segurança são precárias,
principalmente quando se trata a respeito de ergonomia. Esses aspectos típicos da rotina
da construção civil determinam aspectos cansativos pela sua própria existência. Foi
realizada uma pesquisa de caráter quantitativo e qualitativo, com aplicação de um
questionário “ergonômico” junto aos trabalhadores da construção civil em uma obra de
Feira de Santana, como também número de atestados fornecidos pela empresa
relacionados a ergonomia. A partir dos resultados obtidos, observou-se significativo
desconhecimento perante a questão ergonômica, assim como um elevado número de
atestados entregues a empresa possivelmente relacionados a fatores ergonômicos
inadequados, estando estes diretamente relacionados à ocorrência de acidentes dentro do
setor. Diante disso apresentou-se uma proposta de intervenções básicas em todos os
níveis da organização de forma sistêmica e com foco numa melhoria contínua na
conscientização tanto dos operários quanto dos seus superiores, para reduzir e/ou
eliminar os problemas relacionados a fatores ergonômicos. No entanto, a ICC possui
características próprias, o que torna difícil a adoção de soluções padrões para a
organização em função de diversos aspectos que são prioridade desse ramo da indústria
como a produtividade por exemplo. Diante disso, verificou-se que é premissa
fundamental, a implantação de estratégias que visem o desenvolvimento de atividades
relativas à proteção da integridade físico-mental dos trabalhadores, consolidando a
necessidade de estudos sobre ergonomia dentro do setor.
Palavras – chave: Construção Civil, Ergonomia, Produtividade.
ABSTRACT
The Construction industry is one where the discontinuity of productive activities is a
peculiar feature, but it contrasts with the continuous processes where each worker
tends to be a part. The works still depend heavily on the workforce of men. Design
changes occur frequently, we work with short deadlines for implementation, low
degree of communication and education of workers, mostly production is held
outdoors and security conditions are precarious, especially when it comes about
ergonomics. These typical aspects of the routine aspects of construction determine
tiresome by its very existence. We conducted a survey of quantitative and qualitative
character, applying a questionnaire along with ergonomic construction workers in a
work of Feira de Santana, as well as number of certificates issued by the company
related to ergonomics. From the results obtained, we observed significant ignorance
before the ergonomic issue, as well as a large number of certificates issued possibly
related to inadequate ergonomic factors, these being directly related to the occurrence
of accidents within the industry. Given this presented a proposal for basic
interventions at all levels of the organization in a systematic way and with focus on a
continued improvement in the awareness of both construction workers and their
superiors, to reduce or eliminate the problems related to ergonomic factors. However,
the ICC has its own characteristics, which makes difficult the adoption of standard
solutions for the organization according to various aspects that are a priority of this
branch of industry and productivity for example. Therefore, it was found that the
fundamental premise, the implementation of strategies aimed at the development of
activities relating to protection of physical and mental integrity of workers,
strengthening the need for studies on ergonomics in the industry.
Key - words: Civil Construction, Ergonomics, Productivity.
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Efeito aprendizado baseado na Lei de Wright ........................................ 21
FIGURA 2 - Dores durante o trabalho .......................................................................... 29
FIGURA 3 - Disposição dos operários após a ginástica laboral ................................. 30
FIGURA 4 - Concentração dos operários após ginástica laboral ............................... 30
FIGURA 5 - Produtividade dos operários após ginástica laboral .............................. 31
FIGURA 6 - Afastamento do trabalho ........................................................................... 31
FIGURA 7 - Trabalho cansativo por ser repetitivo ...................................................... 32
FIGURA 8 - Trabalhar sentindo algum Tipo de dor .................................................... 33
FIGURA 9 - Estado físico ao final do dia ...................................................................... 33
LISTA DE ABREVIATURAS
ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia
CID – Código Internacional de Doenças
CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas
DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
EPI – Equipamento de Proteção Individual
ICC – Indústria da Construção Civil
LER – Lesão por Esforço Repetitivo
MTE – Ministério do trabalho e Emprego
NBR – Norma Brasileira Registrada
NR – Norma Regulamentadora
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PPRA – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais
SESI – Serviço Social da Indústria
SESMT – Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................9
1.1. JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 10
1.2. OBJETIVOS .................................................................................................... 11
1.2.1. Objetivo geral ........................................................................................... 11
1.2.2. Objetivos específicos ................................................................................ 11
1.3. METODOLOGIA ............................................................................................ 11
1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ............................................................... 12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................14
2.1. ACIDENTE DE TRABALHO ......................................................................... 14
2.1.1. Doenças profissionais e doenças do trabalho .......................................... 15
2.2. LEGISLAÇÃO ................................................................................................ 16
2.3. RISCOS PROFISSIONAIS ............................................................................. 17
2.4. INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL ...................................................... 19
2.4.1. Produtividade ........................................................................................... 20
2.5. ERGONOMIA ................................................................................................. 22
2.5.1. Ergonomia, trabalho e sociedade ............................................................. 23
2.5.2. Movimentos na construção civil ............................................................... 25
2.5.3. NR 17 ........................................................................................................ 27
3. RESULTADOS OBTIDOS ...................................................................................29
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................................................35
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ..........................................................................38
APÊNDICE ....................................................................................................................41
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ERGONÔMICO ...............................................42
APÊNDICE B – RESUMO DO QUESTIONÁRIO ERGONÔMICO .....................45
REFERÊNCIAS ............................................................................................................53
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1. INTRODUÇÃO
Hoje, o Brasil vive um momento único na construção civil. Diversos programas
do governo federal ajudam o país a se transformar em um verdadeiro “canteiro de
obras”, destacando-se os programas “Minha Casa, Minha Vida” e “Programa de
Aceleração do Crescimento” (PAC).
A intervenção ergonômica na construção civil é de difícil feito, pois por conta do
aumento no volume de obras, de forma disseminada pelo país, os operários passaram a
ser alvo de disputa entras as empresas deste setor. Conseqüência lógica desse processo é
a grande rotatividade dos operários no mercado e subseqüente escassez de operários no
mercado, além das empresas e empreiteiras alegarem que não tem condições de
contratar um especialista em ergonomia. Os trabalhadores na ativa são exauridos na
tentativa de máxima eficiência e eficácia para o aumento da produtividade.
A segurança do trabalho deveria ser parte integrante do processo de produção e
dos objetivos permanentes de uma empresa. Sua falta se transforma em grande
problema para o operário, pois as construtoras dificilmente adotam todos os
procedimentos de segurança, previstos em Lei, na execução das obras.
Geralmente, o foco de um projeto é sua característica técnica de construção e
não se leva em consideração as possíveis formas de execução do mesmo para com a
segurança do trabalhador. É evidente que existem normas e procedimentos de segurança
previstos por parte de grandes construtoras em relação à segurança do operário, mas a
preocupação, no entanto, reside mais no medo de infringir as leis trabalhistas e das
multas previstas.
Com essa falta de planejamento, o trabalhador termina sendo prejudicado. Não
obstante, ainda enfrentam treinamentos inadequados, baixo nível de escolaridade,
sistema terceirizado de empregabilidade (que muitas vezes é utilizado), baixas
remunerações pelos serviços prestados e ferramentas pouco programadas para a
realização das atividades.
10
1.1. JUSTIFICATIVA
O crescimento da construção civil fez com que as empresas contratassem um
maior número de operários, mas o mercado está ficando sem mão de obra qualificada,
sendo assim as empresas não estão contratando o número necessário de trabalhadores
por obra. Com isso, podemos constatar que esses trabalhadores da construção civil estão
sendo induzidos a um sistema maior de produtividade.
Pensando nesta produção, as empresas deixam de investir em segurança. Elas
buscam a máxima produtividade dos operários com carga horária de trabalho excessiva,
falta de equipamentos apropriados e treinamentos inadequados. Todos esses fatores
estão contribuindo para uma má eficiência na produção e, principalmente, ocasionando
uma má qualidade de vida do operário.
Considerando que os operários da construção civil dispõem de uma
possibilidade significativa de desenvolver doenças diretamente relacionadas à sua
atividade laboral e correlacionando-as com atividades rotineiras, há grande intensidade
de utilização da força muscular, com possibilidades de desenvolvimento de doenças.
Todos esses fatores expostos acima fazem com que o estudo da prevalência de
lesões seja extremamente necessário para a minimização dos riscos laborais e
manutenção da integridade física e mental destes trabalhadores.
Os resultados desta pesquisa poderão sinalizar para uma real necessidade de
intervenção na promoção de atividades preventivas, bem como auxiliar no planejamento
e tomada de decisão quanto aos procedimentos de reabilitação.
11
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Objetivo geral
Destacar a interferência dos fatores ergonômicos nas atividades dos
operários da construção civil.
1.2.2. Objetivos específicos
- Verificar a compreensão dos operários da construção civil em relação
ao risco ergonômico.
- Verificar a ocorrência de absenteísmo dos operários com problemas de
saúde relacionados ao padrão ergonômico na atividade profissional.
- Propor uma maior discussão sobre a importância da ergonomia
relacionada à saúde do trabalhador da construção civil.
1.3. METODOLOGIA
Este trabalho foi iniciado com uma fundamentação teórica envolvendo a
conceituação sobre os temas acidente de trabalho, produtividade da construção civil e
ergonomia. A pesquisa (questionário e atestados fornecidos pela empresa) propriamente
dita caracteriza-se como um estudo de caso em uma obra de Feira de Santana sendo de
caráter qualitativo e quantitativo.
A empresa foi escolhida por ter uma maior facilidade de acesso devido a uma
das pessoas que fez parte do trabalho estar trabalhando na mesma. Foi pedida
autorização ao supervisor da empresa para aplicação do questionário e para ter acesso
aos atestados.
12
O questionário contem 11 perguntas, e busca-se saber os dados pessoais, idade,
queixas dolorosas e os motivos para o absenteísmo, explicando o motivo da pesquisa
para os trabalhadores. O questionário foi aplicado em uma obra, e aplicado por uma
pessoa que não fazia parte da construção civil. Foi abordado um total de 40
funcionários; desses, foi feito uma amostragem com 20 pedreiros e 20 serventes; essas
quantidades envolvidas foram escolhidas por conveniência, pois foi uma quantidade que
dava para ser avaliada em tempo hábil. O questionário foi aplicado em um único dia do
mês de abril e teve o intuito de verificar as questões ergonômicas dos operários em
relação as suas atividades exercidas. Algumas das atividades realizadas pelos pedreiros
são: chapiscar, rebocar, levante de alvenaria, entre outros; já as atividades dos serventes
são: transporte de materiais, limpeza, escavação etc..
Foi exposto e avaliado qualitativamente e quantitativamente também o número
de atestados fornecidos pela empresa durante os meses de abril e maio de 2010
referentes a possíveis causas ergonômicas. Através desses atestados foram identificados
com um auxílio de um fisioterapeuta os seus respectivos números dos CIDs e
consequentemente suas respectivas doenças relacionadas a ergonomia.
1.4. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
O presente trabalho esta estruturado com 5 capítulos conforme discriminação a
seguir.
No capítulo 1 expõe-se uma diversidade de pontos importantes a respeito do
tema “interferência ergonômica na produtividade da construção civil” e apresentam-se
as diversas variáveis que compõem o processo produtivo da ICC. Ainda no capítulo 1
justifica-se a escolha do tema citando as situações que tornam a ergonomia importante
para a construção civil. Apresenta-se os objetivos para o estudo em questão além da
metodologia utilizada na elaboração do trabalho.
No capítulo 2, a fundamentação teórica apresenta os requisitos básicos para um
entendimento da área de acidente de trabalho. É feita uma abordagem sobre a legislação
brasileira de segurança enfatizando o surgimento das normas regulamentadoras
principalmente a NR 17 que dispõe sobre ergonomia. Destaca-se também a construção
13
civil e seu momento atual, por fim o que é ergonomia e a mais adequada forma de
adequação no campo.
No capitulo 3 são expostos os resultados do questionário ergonômico que foi
utilizado na obra.
No capitulo 4 é feita a discussão a respeito do questionário aplicado na obra,
posteriormente a análise foi feita de forma quantitativa e qualitativa. As respostas foram
avaliadas e comentadas, onde se observa a conscientização dos operários em relação a
ergonomia. Foi avaliado também o número de atestados recebidos na empresa dos
meses de abril e maio; a postura da empresa perante as questões ergonômicas também
foi avaliada.
No capitulo 5 são feitas as considerações finais a respeito da pesquisa
destacando-se as deficiências geradas no operário e na empresa quando não se da à
devida importância para ergonomia e sugestões para mudar a realidade sobre ergonomia
apresentando por exemplo um trabalho a respeito de ginástica laboral.
14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. ACIDENTE DE TRABALHO
A construção civil baseia-se essencialmente na produtividade, mas para isso é
preciso investimento de capital e tecnologia. Mas isso não acontece se não houver o
envolvimento do trabalhador, portanto, é necessário cuidarmos da sua segurança
qualidade de vida. Porém, poucas empresas entendem que os mesmos fatores que
ocasionam acidentes no trabalho também causam as perdas na produção, problemas na
qualidade e no custo no produto.
Os índices de acidentes de trabalho no Brasil ainda são bastante preocupantes,
deixando vitimas, provocando sequelas graves aos trabalhadores, perdas materiais para
as organizações, enormes encargos sociais à Nação e grandes sofrimentos as famílias
das vitimas (DELA COLETA, 2005 apud MORAES, 2005).
Acidente de trabalho por ser um tema bastante abrangente, torna-se susceptível
as diferentes formas de interpretação para com um determinado acontecimento fora do
comum, o que nos sugere-se observar que se pode ter várias versões para com um
mesmo fato, a depender do interesse dos envolvidos. Na legislação brasileira, acidente
do trabalho é definido pela Lei 8.213/91 (Plano de Benefícios da Previdência Social),
que em seu artigo 19 determina:
“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho
a serviço da empresa, ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta lei,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte, ou a perda ou redução permanente ou temporária da
capacidade para o trabalho”.
O conceito legal de acidente de trabalho descrito acima está relacionado às leis
que regem o acidente de trabalho no Brasil – amparando apenas o trabalhador
acidentado enquadrado na legislação previdenciária e caracterizando o acidente, apenas
pela lesão/perturbação funcional (doença ocupacional). Podemos então observar que o
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conceito legal tem uma aplicação mais corretiva, voltada basicamente para as lesões
físicas ocorridas no trabalhador.
Em uma abordagem prevencionista, não é necessária existência dos fatores lesão
e/ou doença para se caracterizar um acidente de trabalho, basta que o fato ocorrido
interfira ou interrompa o processo normal de uma atividade para se caracterizar como
acidente.
Assim, define-se acidente de trabalho no conceito prevencionista como toda
ocorrência não programada, não desejada, que interrompe o andamento normal do
trabalho, podendo resultar em danos físicos e/ou funcionais, ou a morte do trabalhador
e/ou danos materiais e econômicos a empresa e ao meio ambiente (MINISTÉRIO DA
SAÚDE ,2001).
Os acidentes e doenças decorrentes do trabalho apresentam fatores
extremamente negativos para a empresa, para o trabalhador acidentado e para a
sociedade. Hoje os índices de acidentes registrados no país mostram o elevado custo e
prejuízo humano, social e econômico que representam muito para o país, considerando
apenas os dados do trabalho formal.
2.1.1. Doenças profissionais e doenças do trabalho
A saúde pública tem em uma das suas áreas a saúde do trabalhador, e suas
intervenções relacionadas a o trabalho e a saúde. No Brasil, as condições de trabalho
são caracterizadas por diferentes formas de gestão e organização juntamente com os
contratos de trabalho, influenciando assim diretamente no viver do trabalhador, viver
esse que está sem qualidade, pois o mesmo está exposto a grandes jornadas de trabalho,
e prejudicado também pelo descumprimento das normas de saúde e segurança
ocasionando assim maior exposição de riscos a saúde.
Segundo o Ministério da Saúde (2001), a adoção de novas tecnologias e métodos
gerenciais facilita a intensificação do trabalho que, aliada à instabilidade no emprego,
modifica o perfil de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores, expressando-se, entre
outros, pelo aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, como as
Lesões por Esforços Repetitivos (LER), e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados
16
ao Trabalho (DORT); o surgimento de novas formas de adoecimento mal
caracterizadas, como o estresse e a fadiga física e mental e outras manifestações de
sofrimento relacionadas ao trabalho. Configura, portanto, situações que exigem mais
pesquisas e conhecimento para que se possam traçar propostas coerentes e efetivas de
intervenção.
Algumas doenças são características de cada tipo de ambiente de trabalho, são as
chamadas doenças profissionais.
De acordo com a Lei 8.213/91 artigo 20, doenças profissionais são aquelas
adquiridas em decorrência do exercício do trabalho em si, e além destas, as que se
observe no acidentado uma consequência da atividade exercida e não resultem do
normal desgaste do organismo.
Já as doenças do trabalho são aquelas decorrentes das condições especiais em
que o trabalho é realizado. Ambas são consideradas como acidentes, quando delas
decorrer a incapacidade para o exercício da atividade laboral.
2.2. LEGISLAÇÃO
No âmbito das organizações de trabalhadores, a luta sindical por melhores
condições de vida e trabalho vem conseguindo alguns avanços significativos, sob
inspiração do novo sindicalismo, ainda que de modo desigual no conjunto da classe
trabalhadora.
Um marco da historia do Brasil ocorreu em 1934, onde surgiu a primeira lei
trabalhista brasileira, que instituiu uma regulamentação bastante ampla, no que se refere
à prevenção de acidentes. Já em 1972 o governo federal baixou a portaria nº 3237, que
torna obrigatória além dos serviços médicos, os serviços de higiene e segurança em
todas as empresas onde trabalha 100 ou mais pessoas. Atualmente leva-se em
consideração não só o número de trabalhadores, mas também o risco ao qual o
trabalhador esta submetido.
Ainda nos anos 70, devido à exigência de uma lei governamental, o engenheiro
de segurança surge com o objetivo de reduzir o número de acidentes, mas a visão do
engenheiro era apenas corretiva.
17
Em 08 de junho de 1978, é criada a Portaria no 3.214, que aprova as Normas
Regulamentadoras - NR, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. São
estabelecidas 28 Normas, abrangendo os diversos aspectos do trabalho, tais como
inspeção, embargo, Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT), Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), Equipamento de
Proteção Individual (EPI), exames médicos, riscos ambientais, serviços em eletricidade,
transporte, vasos sob pressão, atividades insalubres e perigosas, trabalhos na construção
civil, explosivos, combustíveis, proteção contra incêndio, sinalização, fiscalização e
penalidades, dentre outros.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vem revisando a legislação através
de atividades que envolvem sindicatos, empresas e organizações diversas. Frutos destas
revisões foram acrescentadas novas normas, totalizando hoje 32 NRs. Dentre estas está
a NR 17 ERGONOMIA, que visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
2.3. RISCOS PROFISSIONAIS
Os locais de trabalho, pela própria natureza da atividade desenvolvida e pelas
características de organização, relações interpessoais, manipulação ou exposição a
agentes físicos, químicos, biológicos, situações de deficiência ergonômica ou riscos de
acidentes, podem comprometer a saúde e segurança do trabalhador em curto, médio e
longo prazo, provocando lesões imediatas, doenças ou a morte, além de prejuízos de
ordem legal e patrimonial para a empresa.
De forma preliminar podemos dizer que o risco será aumentado quando houver
um tempo maior de exposição ou de contato com a fonte de risco, quanto maior for à
frequência da exposição ao risco e quanto mais próximo da fonte de risco.
De acordo com o Ministério da Saúde (2001), os riscos no ambiente laboral
podem ser classificados em cinco tipos: riscos físicos, riscos químicos, riscos
biológicos, riscos ergonômicos e riscos acidentais.
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Esses cinco tipos de riscos são divididos em dois grupos: os operacionais (risco
ergonômico, risco mecânico, citados na NR 05 CIPA) e os ambientais (risco físico,
risco químico, risco biológico, conforme especificado na NR 9 PPRA).
Os riscos físicos são as diversas formas de energia representadas por fatores ou
agentes existentes no ambiente de trabalho que podem afetar a saúde dos trabalhadores,
como: ruídos, vibrações, radiações, frio, calor, pressões anormais e umidade.
Os ricos químicos são identificados pelo grande número de substâncias que
podem contaminar o ambiente de trabalho e provocar danos à integridade física e
mental dos trabalhadores, a exemplo de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases,
vapores.
Os riscos biológicos estão associados ao contato do homem com vírus, bactérias,
protozoários, fungos, parasitas, bacilos e outras espécies de microorganismos.
O risco ergonômico é qualquer fator que possa interferir nas características
psicofisiológicas do trabalhador; estão ligados à execução de tarefas, à organização e às
relações de trabalho, ao esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de
peso, mobiliário inadequado, posturas incorretas, controle rígido de tempo para
produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas
de trabalho prolongadas, monotonia, repetitividade e situações causadoras de estresse
(SESI 2005).
O risco de acidente ou mecânico é qualquer fator que coloque o trabalhador em
situação vulnerável e possa afetar a sua integridade e seu bem-estar físico e psíquico
muito diversificado e estão presentes no arranjo físico inadequado, pisos pouco
resistentes ou irregulares, material ou matéria-prima fora de especificação, máquina e
equipamentos sem proteção, ferramentas impróprias ou defeituosas, iluminação
excessiva ou insuficiente, instalações elétricas defeituosas, probabilidade de incêndio ou
explosão, armazenamento inadequado e outras situações de risco que poderão contribuir
para a ocorrência de acidentes.
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2.4. INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
O setor da construção civil é um dos mais importantes do país devido ao grande
número de geração de empregos diretos e indiretos. A mão de obra dos operários gerada
por esses empregos é de fundamental importância para esse setor.
As transformações ocorridas atualmente na economia brasileira fizeram com que
o setor da construção civil crescesse rapidamente, esse fato fez com que as empresas
buscassem cada vez mais a produtividade dos operários, para conseguir assim entregar
as obras em menos tempo e conseguir também um maior número de obras.
A organização do trabalho, atualmente, está estruturada de maneira a se
conseguir altos índices de produtividade, otimização nos sistemas de produção,
diminuição dos custos, e por fim uma integração cada vez maior do homem com o seu
trabalho, tudo isso em prol de um desenvolvimento, o qual não se sabe aonde levará
nem quais conseqüências trarão ao homem. No setor da construção civil, muitas vezes
para se reduzir custos são cortados gastos que seriam utilizados para a manutenção da
saúde do trabalhador. As boas condições ambientais são esquecidas, deixando-se de
lado condições mínimas de higiene e conforto como refeitório, lugar apropriado para
descanso e banheiros. Os trabalhadores por sua vez, sempre conheceram esta única
realidade de trabalho, não tendo parâmetros comparativos necessários para julgarem se
estas condições são corretas ou não para um ambiente laboral (SAAD, s/d apud
JUNIOR, 2005).
O setor tende a seguir uma orientação que inclui a redução de custos por meio da
racionalização dos processos para diminuir o desperdício, reduzir o tempo de parada
aumentando assim a produtividade. Já questões de segurança e saúde no trabalho na
construção civil deve ser objeto de atenção contínua, pois as conseqüências
apresentadas pelos acidentes e doenças do trabalho afetam tanto trabalhadores,
empregadores, governo e sociedade, como um todo. Segundo Medeiros e Rodrigues
(s/d) os acidentes de trabalho têm sido freqüentemente associados a patrões negligentes
que oferecem condições de trabalho inseguras e a empregados displicentes que
cometem atos inseguros. No entanto, sabe-se que a displicência dos empregados e seus
atos inseguros geralmente estão relacionados a uma falta de treinamento e
conscientização adequada dos mesmos.
20
Os elevados custos das questões que envolvem a segurança e saúde alertam para
o volume de recursos desperdiçados cada vez que ocorre um acidente, sendo este um
forte argumento para estimular estudos na área.
2.4.1. Produtividade
Atualmente para uma empresa a mão de obra é o recurso principal na execução
de um projeto, pois além de ser um custo alto, aquela está lidando com vidas e também
com a qualidade da mesma. A produtividade interfere diretamente na qualidade de vida
do operário, podendo também influenciar principalmente na redução de custos. Defini-
se produtividade como o tempo utilizado para exercer determinado tipo de função
relativo a quantidade do serviço executado (JUNIOR, s/d).
Hoje na ICC, o fator produtividade dos operários é cada vez mais controlado; é
de fácil observação que na construção civil hoje a produtividade é o que gera a maior
parte da riqueza de uma empresa e consequentemente do país.
As empresas avaliam e ao mesmo tempo estimulam a produtividade dos
operários através de um índice de produtividade, cada empresa cria seus próprios
índices para cada serviço, que é gerado da seguinte maneira: (hora/quantidade
executada) igual ao índice, ou seja, a empresa espera que o operário no mínimo iguale o
índice que ela considera normal para cada serviço, mas se operário conseguir produzir a
mais e em um menor tempo, consequentemente irá baixar o índice, assim, a empresa
fornece aos operários incentivos financeiros, que são compensações financeiras
oferecidas no término das tarefas. Partindo-se do pressuposto que uma das principais
causas da baixa produtividade são os baixos salários, aumenta-se a produtividade com
qualquer ganho extra oferecido. Este sistema sendo continuo, pode determinar baixa
qualidade dos serviços e exploração de alguns elementos da equipe.
A produtividade dos operários pode ser paga de outra maneira, geralmente pelas
empresas terceirizadas, elas fazem um acordo diferente com os operários, existe um
índice de produtividade, eles também recebem salários, mas eles ganham por
empreitada, ou seja, se os operários cumprirem um determinado tipo de serviço, em um
21
determinado tempo estabelecido pelo dono da empresa eles são devidamente
remunerados.
Sabe-se ainda que a produtividade sofre variações ao longo do ano, assim como
a disponibilidade da mão de obra, essas variações são características para cada região.
Segundo Akkari (2003) dentro da produtividade os fatores gerenciais têm que
ser levados em consideração e estão presentes nesses fatores a aprendizagem e
peculiaridades das relações industriais na construção civil. Ainda segundo a mesma
autora para se alcancem resultados positivos em relação ao efeito aprendizagem, o
trabalho deve ter duas características fundamentais: repetitividade das operações e
continuidade de trabalho. Para o efeito aprendizado alcançar valores significativos deve-
se utilizar incentivos financeiros, ritmo de trabalho adequado para o operário e
organizar o canteiro de obras evitando grandes tempos para deslocamentos e
transportes.
O gráfico abaixo mostra que a repetição faz com que a quantidade de homem-
hora (hh- uma unidade, convencionada e subjetiva, que mede a quantidade de trabalho
realizada por uma pessoa durante uma hora, GOLEMAN, 2008) necessária para uma
determinada atividade vai diminuindo a medida que o número de repetições aumenta,
porém a partir da sexta repetição quantidade de homem hora volta a aumentar,
provavelmente devido a fadiga muscular, LER, entre outros.
No gráfico, o eixo das abscissas representa o número de repetição para uma
determinada atividade e o eixo das ordenadas mostra a quantidade de homens hora (hh)
necessárias para executar a mesma.
Figura 1 - Efeito aprendizado baseado na Lei de Wright
Fonte: Akkari (2003)
22
Outra questão imprescindível a ser relacionada com a produtividade é o
absenteísmo, e Akkari (2003) salienta que o absenteísmo varia durante a semana. Pode-
se considerar que tem valor médio de 5% e apresenta um pico na segunda-feira de 30%.
O principal efeito do absenteísmo é o desequilíbrio das equipes que causa perda de
produtividade e a não realização de atividades programadas. Em termos de custo, pode-
se considerar que as perdas salariais que o operário sofre compensam as horas não
trabalhadas, ou seja, se o operário faltar o trabalho é descontado do seu salário no fim
do mês, provavelmente compensando assim o que ele deixou de produzir.
2.5. ERGONOMIA
Ao longo da história, os seres humanos sofreram muitas modificações,
juntamente com as máquinas, os equipamentos e as rotinas de trabalho que estão em
permanente transformação com a substituição do trabalho manual por máquinas,
computadores e robôs, significando que o desenvolvimento tecnológico já ultrapassou a
capacidade humana de adaptação tanto física quanto mental.
A preocupação em estudar o homem, seu trabalho, suas capacidades e
necessidades, além das ferramentas, dos equipamentos e o meio ambiente deu origem à
ergonomia.
A ergonomia desenvolveu-se durante a II guerra mundial – 1939 a 1945.
Médicos, psicólogos, antropólogos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os
problemas causados pela operação de equipamentos militares complexos. O
conhecimento adquirido para resolver esses problemas foi utilizado pela indústria no
pós-guerra (DUL, 1995).
O termo ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos
(regras). De acordo com Weerdmeester (1995), pode-se dizer que ergonomia é uma
ciência aplicada ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o
objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho.
Nos projetos do trabalho e das situações cotidianas, a ergonomia focaliza o
homem. As condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são
eliminadas adaptando-as às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem.
23
A ergonomia preocupa-se com a qualidade de vida total do indivíduo,
preservando sua saúde física e mental, e promovendo segurança, conforto e eficiência.
Segundo (SESI, 2005) esta ciência parte do princípio de que todo ser humano é único,
ou seja, não se pode separar o corpo físico do corpo psíquico, pois eles estão a todo o
momento interagindo.
A Ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a
atividade nele existentes às características, habilidades e limitações das pessoas com
vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro (ABERGO, 2000 apud
VIDAL, s/d). As pessoas possuem estaturas e constituição física diferentes. Portanto, a
capacidade de suportar sobrecarga física e mental também varia de indivíduo para
indivíduo. Estas características tão distintas devem ser levadas em consideração no
planejamento das tarefas e das condições de trabalho.
A ergonomia estuda vários aspectos: a postura e os movimentos corporais
(sentados, em pé, empurrando, puxando e levantando cargas), fatores ambientais
(ruídos, vibrações, iluminação, clima, agentes químicos), informações, (captadas pela
visão, audição ou outros sentidos). A conjugação adequada desses fatores permite
projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto no trabalho
quanto na vida cotidiana. É razoável concluir que uma máquina, um equipamento,
painel, plataforma, cadeira, mesa ou ferramenta de trabalho com desenho inadequado e
sem permitir ajustes de adequação para o usuário pode provocar dores lombares, lesões
nos músculos, tendões e articulações etc.
A forma como o trabalho é organizado e as relações de trabalho têm
significativos papéis na determinação da saúde mental dos trabalhadores. Os objetivos
práticos da ergonomia são a segurança e o bem-estar dos trabalhadores no seu
relacionamento com os sistemas produtivos (LAVILLE, 1997).
2.5.1. Ergonomia, trabalho e sociedade
A preocupação com a qualidade, produtividade e competitividade impôs as
organizações à busca por novas tecnologias, tanto de processos como de gestão,
24
deixando muitas vezes o fator humano, seu ambiente de trabalho e a sociedade em um
plano secundário (ROSSINI, 2002).
Em 1986, diante dos numerosos casos de tenossinovite ocupacional entre
digitadores, os diretores do Sindicato dos Empregados em Empresa de Processamento
de Dados no Estado de São Paulo fizeram contato com a então Delegacia Regional do
Trabalho (hoje superintendência regional do trabalho) buscando recursos para prevenir
as referidas lesões; após vários meses a Associação de Profissionais de Processamento
de Dados realizou reuniões para elaboração um projeto de norma que estabelecesse
limite à cadência de trabalho, proibisse o pagamento de prêmios de produtividade e
estabelecesse critérios de conforto para os trabalhadores de sua base. Já em 1989, em
um seminário em São Paulo foi decidido que não deveria ser elaborada uma norma
apenas para os profissionais em processamento de dados, pois LER era observada
também em várias outras atividades profissionais, levando a elaboração de uma norma
que abrangesse todos os setores produtivos.
Muitas situações de trabalho e da vida cotidiana são prejudiciais a saúde. As
doenças do sistema musculoesquelético (como dores nas costas) constituem uma das
mais importantes causas de absenteísmo e de incapacitação do trabalho. Essas situações
podem ser atribuídas a um projeto inadequado e ao uso incorreto de equipamentos,
sistemas e tarefas (WEERDMEESTER, 1995).
As boas condições de trabalho contribuem para a melhoria da segurança e da
saúde dos trabalhadores. No entanto o trabalhador da construção civil não tem ao menos
treinamento adequado sobre os patrões ergonômicos que são previstos na NR 17 –
ERGONOMIA. Além desses problemas, provavelmente não existe um equipamento de
proteção individual para os riscos ergonômicos, e nem se tem a prática de adequar o
equipamento ao trabalhador para ele ficar de maneira mais segura e confortável. A
fiscalização para com esse tipo de risco é muito mais complexa do que para com os
riscos ambientais, por exemplo, teria que partir muito mais da conscientização do
operário, pois não é uma questão apenas de usar um equipamento, é também uma
questão comportamental e postural.
Alguns acidentes podem ser causados pelo relacionamento inadequado entre
operadores e suas tarefas. A probabilidade de ocorrência dos acidentes pode ser
reduzida quando se consideram adequadamente as capacidades e limitações humanas e
as características do ambiente, durante o projeto de trabalho.
25
Para começar a solucionar esses problemas relacionados a ergonomia e
consequentemente a produtividade e a qualidade de vida dos operários, podemos
começar com algumas melhorias no setor administrativo: liberdade para realização da
tarefa, diminuindo assim a repetição; considerar que a capacidade produtiva pode variar
por pessoa; permitir pausas durante o expediente e usar ferramentas devem ser
adequadas a tarefa e ao seu operador.
2.5.2. Movimentos na construção civil
Na construção civil especificamente alguns riscos ergonômicos são mais fáceis
de serem observados pelo próprio ambiente de trabalho e tipo de serviço exercido; eles
estão relacionados a exigência de esforço físico intenso, levantamento e transporte
manual de peso, postura inadequada no exercício das atividades, exigências rigorosas de
produtividade, jornadas de trabalho prolongadas ou em turnos, atividades monótonas ou
repetitivas.
Dentre os fatores apresentados acima devemos salientar alguns mais comuns e
como os operários poderão exercer uma atividade mais adequada com algumas medidas
simples:
- Levantamento manual de peso – sempre necessário na construção civil, é uma
das maiores causas de dores nas costas. Muitos trabalhos envolvendo levantamentos de
pesos não satisfazem os requisitos ergonômicos. Algumas medidas para amenizar esse
tipo de problema são: diminuir a freqüência de levantamentos; o tronco não deve ficar
torcido durante o levantamento; buscar sempre pegar o peso com as duas mãos; a
freqüência dos levantamentos não deve ser superior a mais de um por minuto; a duração
de levantamentos não deve passar de uma hora, a carga deve possibilitar a escolha da
postura para o levantamento; observar a posição do peso em relação ao corpo; verificar
o tipo da carga; buscar não pegar carga excessiva sozinho; buscar seu próprio ritmo de
trabalho; usar se possível, equipamentos (alavancas, polias, guindastes) para
levantamento de pesos.
Segundo a CLT, a carga máxima para o levantamento de peso individual é de 60
kg, isso se for em condições ideais como as descritas acima. É fácil observar que na
26
construção civil isso não acontece, o caso mais comum é ver o operário carregando um
saco de cimento de 50 kg sozinho sobre a cabeça. As cargas superiores a 60 kg devem
ser manipuladas por duas ou mais pessoas, uma das pessoas deve assumir a
coordenação, comandando assim o movimento da dupla (ou grupo), de modo a evitar
movimentos inesperados.
- Transportes de cargas – nas obras o transporte de cargas é inerente a
construção civil, esse tipo de transporte é mecanicamente estressante e envolve um
custo energético maior. Podemos melhorar esse aspecto com algumas medidas: buscar
pegar materiais com alças; conservar a carga próxima ao corpo; a carga deve ser
equipada com alças ou pegas, que não devem ser muito finas nem devem ter ângulos
cortantes; evitar carregar volumes desajeitados; evitar carregar pesos com uma só mão;
usar equipamentos de transportes (carrinhos, correias transportadoras, plataformas
moveis).
- Puxar ou empurrar cargas – essas atividades provocam tensões nos braços,
ombros e costas; para melhorar essa atividade deve-se: usar o peso a favor do corpo;
usar os carrinhos com o puxador regulável; as duas mãos devem ser utilizadas para
transmitir forças; a distancia horizontal entre o joelho mais afastado e as mãos deve ser
de 120cm no mínimo.
Os carrinhos com pesos superiores a 70 kg, não devem ser movidos
manualmente, podendo variar dependendo do tipo do carrinho, tipo de piso, forma dos
pneus.
Outro fator importante para aos trabalhadores da construção civil é a postura.
Segundo PAILLARD (apud LAVILLE, 1997) a atividade postural se expressa na
imobilização de partes do esqueleto em posições determinadas, solidárias umas as
outras e que conferem ao corpo uma atitude em conjunto. Seja no início, no decorrer ou
no fim de um movimento dirigido no espaço, essa atitude constitui um aspecto
fundamental da atividade motriz.
É comum as posturas inadequadas dos operários na construção civil, isso pode
ocasionar além de uma fadiga muscular imediata, a longo prazo, segundo (LAVILLE,
1997), pode ocasionar sobrecarga imposta ao aparelho respiratório, formação de
edemas, varizes, afecções nas articulações, na coluna vertebral pode ocorrer: limitação
articular por artrose, bursite ou sinovite, deformação, hérnia de disco etc.
27
Os fatores que devemos observar para uma melhor postura dos operários estão
relacionados, além de uma eficiência na logística do canteiro, materiais armazenados e
transportados adequadamente, e principalmente ao equilíbrio, ter consciência do espaço
em que eles se encontram, ter precisão dos movimentos, uma boa visualização no
descolamento contribuem para isso. O problema é que geralmente eles não estão ciente
das suas condições ergonômicas.
2.5.3. NR 17
Em 1986, diante dos numerosos casos de tenossinovite ocupacional entre
digitadores, os diretores do Sindicato dos Empregados em Empresa de Processamento
de Dados no Estado de São Paulo fizeram contato com a DRT buscando recursos para
prevenir as referidas lesões, após vários meses a Associação de Profissionais de
Processamento de Dados realizou reuniões para elaboração um projeto de norma que
estabelecesse limite à cadência de trabalho, proibisse o pagamento de prêmios de
produtividade e estabelecesse critérios de conforto para os trabalhadores de sua base. Já
em 1989, em um seminário em São Paulo foi decidido que não deveria ser elaborada
uma norma apenas para os profissionais em processamento de dados, pois as LER era
observada também em várias outras atividades profissionais, levando a elaboração de
uma norma que abrangesse todos os setores produtivos.
A NR 17 que trata sobre ergonomia foi uma das 33 NRs (hoje 32 NRs) criadas
para tentar se estabelecer um padrão de segurança do trabalho adequado; são de
observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da
administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e
Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho -
CLT. O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e
medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na
legislação pertinente.
A NR 17 visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições
de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar
um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A fundamentação legal,
28
ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência desta NR, são os
artigos 198 e 199 da CLT.
É de fácil observação que as empresas tentam cumprir as NR apenas pelo fato de
estarem sujeitas a penalidades se isso não acontecer, e não pelo fato de estarem
realmente preocupadas com o operário. Mas o maior problema é que, além disso, as
próprias NRs são apresentadas com falhas, às vezes não passando uma informação
objetiva, mas sim, deixando a NR a mercê da própria interpretação do leitor.
A NR 17 é um exemplo evidente dessas falhas, alguns itens nessa norma dão
margem a uma descaracterização efetiva dos padrões ergonômicos a serem adotados,
deixando assim dúvidas, o que dificulta a atuação de um engenheiro de segurança ou de
um técnico perante o seu cumprimento, tanto em treinamento, quanto a uma eventual
fiscalização no campo. Por exemplo, no item 17.2.5 diz o seguinte:
“Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados
para o transporte manual de cargas, o peso máximo destas
cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para os
homens, para não comprometer a sua saúde ou a sua
segurança.”
Já no item 17.2.2:
”Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de
cargas, por um trabalhador cujo peso seja suscetível de
comprometer sua saúde ou sua segurança.”
Nenhum dos dois itens citados acima faz referência a valores de carga, isso
dificultaria o cumprimento desses itens, e de outros que estão nesse mesmo padrão de
informação.
Segundo LOSSO (s/d) este é o motivo pelo qual a NR 17 passa ao longo de sua
vigência por um descrédito muito grande, pois uma norma que abrange um universo tão
amplo de fatores (levantamento de peso, mobiliário, equipamentos, condições
ambientais e organização do trabalho) não pode ser tão resumida, em apenas três
páginas, sem que seus itens fiquem muito amplos e abrangentes.
29
3. RESULTADOS OBTIDOS
A seguir, apresentaremos os resultados obtidos no questionário ergonômico
aplicado aos operários da obra pesquisada.
Inicialmente, perguntou-se aos operários se eles sentiam dores durante o trabalho
e os resultados obtidos foram que cerca de 65,5% responderam que não e 34,5%
disseram que sim, como ilustrado no gráfico da figura abaixo: (Figura 2)
Figura 2 - Dores durante o trabalho
A ginástica ocupacional é pode ser uma alternativa para empresa que deseja
reduzir possíveis riscos causados por fatores ergonômicos inadequados, sendo assim, foi
perguntado aos operários se havia ginástica ocupacional nos seus respectivos setores, e
todos responderam que não.
Um exemplo importante do programa de ginástica laboral para construção civil
pode ser demonstrado no artigo de Béda Barkokéba Junior onde ele aplica um
questionário em duas obras três meses após a implantação do programa, e os resultados
obtidos foram os seguintes:
Na disposição para o trabalho e cansaço físico, quase 80% dos trabalhadores
relataram que após o início do programa de Ginástica Laboral passaram a sentir menos
30
cansaço físico e mais disposição para o trabalho. Cerca de 20% disseram que não
estavam percebendo mudanças com a ginástica laboral. (Figura7)
Figura 3 - Disposição dos operários após a ginástica laboral
Fonte: JUNIOR (S/D)
Já na concentração no trabalho e produtividade o resultado obtido foi que em
relação ao nível de concentração/atenção, a maioria, ou seja, mais de 80%, disseram
estar mais concentrados no trabalho após o início das sessões de ginástica e 72%
afirmaram estar produzindo mais. (Figura 8 e 9)
Figura 4 - Concentração dos operários após ginástica laboral
Fonte: JUNIOR (S/D)
31
Figura 5 - Produtividade dos operários após ginástica laboral
Fonte: JUNIOR (S/D)
Após os resultados apresentados nesse artigo fica evidente que e ginástica
laboral pode ser uma alternativa para melhoria no trabalho dos operários da construção
civil, pois tem se mostrado como um dos mais eficazes programas de saúde elaborados
para empresas; esse programa proporcionaria a redução de absenteísmo por LER e
DORT, combate ao sedentarismo, as dores provocadas por atividades rotineiras e vícios
posturais, reduz os riscos de acidentes, promove melhores condições funcionais.
Foi importante saber também se houve afastamento nos últimos 4 meses devido
a possíveis fatores relacionados a ergonomia, como por exemplo estresse, problemas de
coluna, dores musculares, dores nas articulações e o resultado representado no gráfico
(Figura 3) a seguir foi que 85% dos operários não foram afastados.
Figura 6 - Afastamento do trabalho
32
As empresas são obrigadas a fornecer um treinamento sobre segurança para os
funcionários, então foi perguntado se nesse treinamento de segurança foi esclarecido a
necessidade de se trabalhar com a postura correta, e todas as pessoas entrevistadas
disseram que sim.
Era importante saber se as pessoas se sentiam confortáveis com as suas
ferramentas de trabalho e todas as pessoas responderam que sim, mas quando
perguntados o porquê desse conforto, 22,5% responderam algo relacionado a ergonomia
e os outros mostraram que não tiveram entendimento do que foi perguntado.
Os operários foram questionados a respeito dos descansos que existem durante o
trabalho, pois queríamos saber se tinha algum descanso por hora trabalhada e todos
responderam que os únicos descansos que tinham na obra é 1 hora para o almoço e 10
minutos para o lanche da manhã.
Uma questão relevante a ser averiguada era se os funcionários tinham
consciência da sua postura no trabalho, e os resultados obtidos foram que 10%
responderam não e os outros 90% responderam que sim, e quando perguntado por que,
novamente os operários mostraram um não entendimento do que foi perguntado e as
respostas foram incoerentes.
Um dos motivos de afastamento do trabalho pode ser causado por LER e ao
serem questionados se eles achavam seu trabalho cansativo por ser repetitivo o
resultado foi que 80% disseram que sim. (Figura 4)
Figura 7 - Trabalho cansativo por ser repetitivo
33
Para saber o nível de conscientização do seu estado de trabalho relativo a
produtividade foi perguntado aos operários se já trabalharam sentindo algum tipo de
dor, o resultado foi que 70% responderam que sim, como representado no Gráfico 5.
Figura 8 - Trabalhar sentindo algum Tipo de dor
E por fim, para obter a informação sobre o estado físico dos operários após um
dia de trabalho, foi perguntado como eles se sentiam ao final do dia e cerca de 80%
disseram que se sentiam cansados (Figura 6).
Figura 9 - Estado físico ao final do dia
34
Para verificar os motivos do absenteísmo dos operários foram fornecidos pela
empresa todos os atestados (de todas as obras) durante o mês de abril e maio de 2010;
nesses atestados foram separados os CIDs que possivelmente estariam relacionados a
ergonomia e o resultado obtido foi que 35% no total de 158 atestados poderiam ser
relativos a causas ergonômicas.
35
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Diante dos resultados obtidos no questionário, podemos analisar algumas
questões relevantes.
Todos os operários quando perguntados se no treinamento de segurança era
citado alguns dos tipos de riscos ergonômicos e se eles se sentiam confortáveis com as
ferramentas que utilizavam responderam que sim, mas quando perguntados por que se
sentiam confortáveis com as ferramentas a maioria respondeu de maneira incoerente,
como por exemplo: porque é minha profissão. Apesar de ter sido observado sobre
ergonomia no treinamento, algumas respostas nos levam a pensar que não houve uma
compreensão adequada sobre o assunto e que os operários não relacionam as
ferramentas de trabalho e a forma como a utilizam em sua saúde.
Também foi perguntado se eles se preocupavam com sua postura no trabalho, e
novamente as respostas foram incoerentes, como por exemplo: por que tenho que me
impor. Mais uma vez as respostas incoerentes mostram que não houve uma
compreensão adequada sobre ergonomia no treinamento, além desse fato muitos
confundiram postura corporal com postura relativo à atitude, o que nos leva a deduzir
que além dos operários não se preocuparem com sua postura no trabalho, muitos deles
não tem a consciência nem do que é postura; prejudicando assim sua própria saúde e
sem ter ao menos a consciência de que isso está acontecendo.
Apesar da empresa citar no treinamento de segurança questões ergonômicas, a
mesma não fornece nenhum descanso por hora de trabalho independentemente do tipo
de atividade realizada; só é fornecido descanso para o lanche e para o almoço como foi
citado pelos entrevistados; ainda de acordo com a pesquisa, a empresa também não
fornece nenhum tipo de prática de ginástica ocupacional. Esses dois fatores devem
contribuir também para que 80% dissessem que se sentiam cansados ao final do dia.
Cerca de 85% dos operários disseram que não foram afastados devidos a
possíveis fatores relacionados a ergonomia, mas 70% responderam que já trabalharam
sentindo algum tipo de dor; esses dois dados mostram que mesmo sentindo algum tipo
de dor eles não se afastam do trabalho, provavelmente eles esperam a dor inibir por
completo sua capacidade de trabalho para poder se afastar ou apenas esperam a dor
passar; isso pode acontecer pelo fato do operário estar pensando talvez em
36
produtividade e também não estando com a consciência para com o risco a sua saúde e
qualidade de vida, pois os fatores ergonômicos inadequados podem prejudicá-los de
duas maneiras: primeiro esses fatores podem gerar acidentes através da exaustão física
não suportando determinado peso e deixando cair; segundo, esses mesmos fatores
podem gerar doenças ocupacionais como por exemplo, eles podem estar
sobrecarregando joelhos e colunas com excesso de peso gerando lesões que irão se
manifestar futuramente ou imediatamente.
É natural que os operários digam que se sintam cansados no fim do dia, afinal
qualquer pessoa que trabalhe o dia todo provavelmente irá se sentir assim, mas quando
80% acham seu trabalho cansativo por ser repetitivo (fazer uma mesma atividade todos
os dias) isso nos leva a pensar em risco iminente de uma LER, por exemplo, e isso
comprometeria a saúde do trabalhador bem como traria prejuízo para própria empresa
por ter que manter um trabalhador afastado.
A obra apesar de parecer que prioriza segurança deixa margens a dúvidas quanto
a importância dada aos seus operários, pois não há um domínio no processo de trabalho
para com a execução adequada dos serviços, nem o controle e a análise da qualidade
dos equipamentos para o melhor conforto do operário, além de muitas atividades
improvisadas dos mesmos como por exemplo colocar um saco de cimento na cabeça
para deixar o serviço mais ágil, sem se importar com sua saúde.
O questionário mostrou que a maioria dos operários não estava preparada para
responder as perguntas; podemos observar através das respostas que os mesmos não
tinham consciência do seu estado de trabalho principalmente quando era relacionado a
ergonomia, consequentemente não relacionavam suas dores as atividades exercidas, o
que por sua vez geraria uma condição insegura, onde se estaria caracterizando assim
um potencial acidente no trabalho, apesar do treinamento de segurança (que
provavelmente foi ineficiente).
A falta de treinamento adequado resume-se em uma má aptidão para realização
as tarefas exigidas durante o trabalho dos operários, além do uso de ferramentas em
tamanhos e formas inadequadas, podendo contribuir assim para lesões.
Outro fator relevante a ser considerado é que pelo menos 35% dos atestados
fornecidos na empresa nos meses de maio e abril de 2010 foram possivelmente
relacionados a fatores ergonômicos. Deve-se dar grande importância a esse valor,
primeiro porque ele mostra a influencia da ergonomia, tanto perante a qualidade de vida
37
do operário como a perda de produtividade para a empresa. Podemos pensar também
que talvez o risco ergonômico seja o mais importante, pois além de possivelmente ser o
maior motivo para emissão de atestados, a maioria das vezes o operário só se afasta
quando não aguenta mais de dor; isso nos leva a pensar que ao trabalhar cansado ou
sentindo algum tipo de mal estar pode favorecer a exposição a outros tipos de acidentes.
A ICC geralmente registra altos índices de doenças ocupacionais e invalidez
podendo uma parte dessas doenças ser causada por fatores ergonômicos inadequados
além de um elevado contingente de recursos humanos desqualificados.
Assim, pode-se notar que as empresas precisam de uma conscientização sobre os
riscos de doenças ocupacionais relacionados a ergonomia, consequentemente deve-se
diminuir a incidência de acidente de trabalho encontrados relacionados a esse tema.
38
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Após a aplicação e análise dos resultados chega-se a algumas conclusões:
- fica evidente por algumas respostas dos operários que o treinamento de
segurança da empresa no que diz respeito a ergonomia é inadequado.
-pode-se verificar também que o operário não tem consciência da importância da
sua postura no trabalho, nem da importância de se ter os equipamentos adequados e nem
de utilizá-los de forma correta para exercer suas atividades.
- não há nenhuma fiscalização ou mesmo preocupação dos órgãos fiscalizadores
nem da empresa no que diz respeito a segurança perante a questão ergonômica.
- a NR 17 precisa ser reformulada, pois não são citados valores de carga
relativos a transporte individual (ou coletivo) suspenso, empurrado ou puxado. Como
também valores de carga relativos a idade e sexo, o que dificulta o cumprimento da
mesma.
Sabe-se que muito ainda se deve evoluir em termos de legislação na área de
ergonomia e diante do exposto acima podemos observar que há necessidade de um
maior esforço coletivo, tanto das empresas como dos sindicatos e do Estado, através de
sua máquina fiscalizadora para investir no setor, objetivando minimizar os riscos
ocupacionais existentes e, consequentemente os acidentes de trabalho, principalmente
os relativos a ergonomia.
Pode-se ter na obra um aumento de produtividade, com condições ergonômicas
de trabalho adequadas e com qualidade de vida para os operários, e para isso é
imprescindível algumas recomendações, como por exemplo, ginástica laboral.
Um grande e importante obstáculo a ser vencido na construção civil é a falta de
interesse dos empresários por programas dessa natureza. A falta de conhecimento dos
próprios empresários e dos operários sobre os benefícios desses programas deve ser
sobrepostos, inicialmente, com um trabalho de sensibilização sobre essa temática.
O programa de ginástica laboral tem como objetivo a melhoria da qualidade de
vida, a diminuição dos acidentes de trabalho, o aumento da produtividade e a
reabilitação e prevenção de doenças ocupacionais, o programa a proporcionar ao
trabalhador relaxamento muscular, através do alongamento, preparando as articulações
e musculatura para o trabalho, uma vez que as atividades desenvolvidas em seu posto,
39
como é o caso da construção civil, exige força, concentração, repetitividade, posturas
inadequadas, vibração, exposição ao calor e ao frio.
Podemos também implantar o sistema permanente de treinamento e instrução no
canteiro de obra; os operários devem ser conscientizados nesse treinamento sobre a
importância da sua ferramenta de trabalho, assim como sua utilização de maneira
adequada. Deve-se ainda nesse treinamento conscientizá-los quanto a sua postura
adequada na realização das suas atividades, viabilizando assim a aquisição de
constantes melhorias e maior percepção de segurança e qualidade de vida aos operários,
mantendo sempre o alerta para com a questão ergonômica. E para dar início a essa
conscientização poderia ser feito um programa de implantação de palestras e confecção
matérias didáticos que pudessem abordar e esclarecer sobre doenças ocupacionais, suas
causas, manifestações, sintomas e forma de tratamentos, como também, as formas de
promoção da prevenção. Esse programa poderia ser feita pelo responsável pela
segurança de trabalho da empresa.
Outro fator a ser contemplado por esse programa seria uma avaliação
diagnóstica, mapeamento as principais dores / lesões e seus fatores causais dentro da
construção civil. Esse aspecto seria viável através da elaboração e aplicação de
questionários, contemplando o maior número de funcionários possíveis, ou pelo menos
os que fossem estatisticamente significativos, identificando as principais deficiências,
dificuldades e ausências de medidas ergonômicas em cada função dos operários.
Poderia também ser analisada a incidência de dores lombares e medidas tomadas
individualmente para minimizar estes problemas, ou quaisquer outros dados que se
desejem identificar de acordo com a necessidade da empresa, e com sua prévia
aprovação. Sendo que os resultados deverão ser tabulados e apresentados através de
relatórios para a mesma.
Se todas essas sugestões expostas acima fossem cumpridas, a empresa poderia
ter as seguintes vantagens:
- Prevenir doenças ocupacionais.
- Combater o sedentarismo, aumentando a disposição do operário para iniciar
e/ou retomar a jornada de trabalho.
- Reduzir a sensação de fadiga ao final do trabalho.
- Atuar nos vícios posturais.
40
- Melhorar a flexibilidade, força e resistência muscular, ritmo, agilidade,
coordenação, promovendo maior mobilidade e melhor postura.
- Motivar os operários para enfrentar as rotinas.
- Reduzir o absenteísmo e gastos com reposição de pessoal.
- Melhorar a produtividade e qualidade de produtos e serviços.
- Melhorar a imagem da empresa junto aos colaboradores e a sociedade.
As organizações para obterem sucesso no futuro terão, ainda, que respeitar o ser
humano, o ambiente organizacional e a sociedade em que estiverem inseridas, através
de atitudes éticas e condicionando suas metas de qualidade e produtividade ao conjunto
não só dos aspectos técnicos e organizacionais de gestão, mas principalmente, àqueles
pessoais. Os princípios ergonômicos far-se-ão sentir em um clima organizacional
saudável e que se refletirão diretamente no aumento da produtividade e redução da
rotatividade (ROSSINI, 2002).
42
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ERGONÔMICO
EMPRESA: DATA:
FUNÇÃO/TEMPO:
IDADE: SEXO:
1. Sente dores durante o trabalho?
Sim
Não
Se sente dores, em qual região do corpo?________________________________
Há quanto tempo?__________________________________________________
2. Você participa das atividades de ginástica ocupacional no seu setor?
Sim - Quantas vezes?_________________________________________
Não
Se não participa, por que motivo?
Não gosta
Não tem tempo
Não da importância
O setor não realiza
Outros - ___________________________________________________
3. Durante estes últimos 4 meses, você foi afastado do trabalho devido algum
destes fatores ?
Stress
Problemas de coluna
Dores musculares
Não foi afastado
Dores nas articulações
Caso tenha sido afastado, por quantos dias?__________________________
43
4. No treinamento de segurança, quando você entra na empresa, alguma vez é
citado a postura incorreta, maneira adequada de utilização dos equipamentos ou
cuidados com excesso de peso?
Sim
Não
5. Se sente confortável com as ferramentas que trabalha?
Sim
Não
Se não, qual a mais confortável?______________________________________
Por quê?_________________________________________________________
6. Durante o dia de trabalho, existe alguma atividade realizada por você que é
determinado em descanso por hora trabalhada?
Sim
Não
Se sim, qual?______________________________________________________
Quanto tempo?____________________________________________________
7. Você se preocupa com sua postura no trabalho?
Sim
Não
Por quê?_________________________________________________________
8. Você acha seu trabalho cansativo por ser repetitivo?
Sim
Não
9. Existe incentivo por cumprimento de metas?
Sim
44
Não
10. Já trabalhou mesmo sentindo algum tipo de dor?
Sim
Não
Que tipo?_________________________________________________________
11. Descreva como você sentiu seu corpo no fim do dia?
Cansado
Muito cansado
Outros________________________________
45
APÊNDICE B – RESUMO DO QUESTIONÁRIO ERGONÔMICO
PEDREIROS, IDADES - ENTRE 28 E 45 ANOS
Observação: As respostas serão mostradas da seguinte maneira:
Proposição assinalada – número de respostas
12. Sente dores durante o trabalho?
Sim - 6
Não - 14
Se sente dores, em qual região do corpo/ Há quanto tempo?
Pernas / às vezes – 2
Coluna / mais de dois anos – 1
Cintura / todos os dias – 1
Costas / sempre – 1
Muscular / trinta dias - 1
13. Você participa das atividades de ginástica ocupacional no seu setor?
Sim – 0
Não – 20
Se não participa, por que motivo?
Não gosta - 0
Não tempo - 0
Não da importância - 0
O setor não realiza - 20
Outros – 0
46
14. Durante estes últimos 4 meses, você foi afastado do trabalho devido algum
destes fatores ?
Stress - 1
Problemas de coluna - 1
Dores musculares - 0
Não foi afastado - 17
Dores nas articulações – 1
Caso tenha sido afastado, por quantos dias? Não se aplica
15. No treinamento de segurança, quando você entra na empresa, alguma vez é
citado a postura incorreta, maneira adequada de utilização dos
equipamentos ou cuidados com excesso de peso?
Sim - 20
Não - 0
16. Se sente confortável com as ferramentas que trabalha?
Sim - 20
Não – 0
Se não, qual a mais confortável? Não se aplica
Por quê?
“Por ser pesada” – 1
“Fácil de manusear” – 2
“Porque é minha” – 2
“Já acostumei com elas” – 1
“Porque é minha profissão” – 1
“Sem as ferramentas não pode trabalhar” – 2
“Não machuca” – 2
“Porque é leve” – 6
“São adequadas ao meu serviço” – 1
47
“Porque é incomoda” – 1
“Nunca falta” - 1
17. Durante o dia de trabalho, existe alguma atividade realizada por você que é
determinado em descanso por hora trabalhada?
Sim - 17
Não - 3
Se sim, qual?
Almoço – 5
Lancha 10 min – 1
Almoço / lanche - 11
18. Você se preocupa com sua postura no trabalho?
Sim – 17
Por quê?
“Porque não pode fazer esforço fora do normal” – 1
“Evitar acidentes” – 1
“Para passar um bom exemplo no que faço para poder produzir mais” – 1
“Por causa das costas” – 2
“É correto fazer as coisas como manda a empresa” – 1
“Para benefícios e rendimentos” – 1
“Tenho que ter qualidade na empresa” - 1
“Bom funcionário tem que manter postura sempre” – 1
“Para evitar problemas de saúde” – 1
“Por causa da coluna” – 1
“Tenho que me impor” – 1
“É minha responsabilidade” – 1
“Exige sempre preocupação” - 1
“Tem que preocupar para fazer melhor” - 1
48
Não – 3
Por quê?
“Por causa do sai que é muito corrido” – 2
“Já acostumei com meu dia a dia” – 1
19. Você acha seu trabalho cansativo por ser repetitivo?
Sim - 16
Não – 4
20. Existe incentivo por cumprimento de metas?
Sim - 0
Não – 20
21. Já trabalhou mesmo sentindo algum tipo de dor?
Sim - 11
Não – 9
Que tipo?
Coluna – 7
Cabeça – 3
Nas costas - 1
22. Descreva como você sentiu seu corpo no fim do dia?
Cansado - 11
Muito cansado – 3
Sente dores em algum lugar do corpo - 1
Outros – 1
49
SERVENTES, IDADES – ENTRE 20 E 46 ANOS
1. Sente dores durante o trabalho?
Sim - 7
Não - 13
Se sente dores, em qual região do corpo/ Há quanto tempo?
Dor de cabeça / todos – 1
Coluna / 2 anos; 4 meses; 6 meses – 3
Joelho / 8 meses - 1
Costas – quase sempre – 1
Muscular / 3 meses - 1
2. Você participa das atividades de ginástica ocupacional no seu setor?
Sim – 0
Não – 20
Se não participa, por que motivo?
Não gosta - 0
Não tem tem pó - 0
Não da importância - 0
O setor não realiza - 20
Outros – 0
3. Durante estes últimos 4 meses, você foi afastado do trabalho devido algum
destes fatores ?
Stress - 0
Problemas de coluna - 0
Dores musculares - 2
Não foi afastado - 17
50
Dores nas articulações – 1
Caso tenha sido afastado, por quantos dias? Não se aplica
4. No treinamento de segurança, quando você entra na empresa, alguma vez é
citado a postura incorreta, maneira adequada de utilização dos
equipamentos ou cuidados com excesso de peso?
Sim - 19
Não - 1
5. Se sente confortável com as ferramentas que trabalha?
Sim - 20
Não – 0
Se não, qual a mais confortável? Não se aplica
Por quê?
“Só trabalho com as melhores ferramentas” – 1
“É muito útil para o meu trabalho” – 1
“É muito importante” - 1
“Já acostumei com elas” – 2
“Não tenho nenhum problema com elas” – 1
“Já me habituei ao jeito de trabalhar” – 1
“São muito ágeis” – 1
“Porque é leve” – 3
“Não me incomoda” – 2
“Porque não castiga” – 1
“Não exige muito esforço” – 1
“Pela maneira que uso” – 1
“Traz qualidade pro serviço” – 1
“Não trabalho correndo, muito risco de me acidentar” – 1
“Facilita mais o serviço” – 1
51
6. Durante o dia de trabalho, existe alguma atividade realizada por você que é
determinado em descanso por hora trabalhada?
Sim - 17
Não - 3
Se sim, qual?
Almoço – 11
Lancha 10 min – 1
Almoço / lanche - 5
7. Você se preocupa com sua postura no trabalho?
Sim – 18
Por quê?
“Por causa das dores” – 1
“Se não fizer o serviço certo, eu me prejudico” – 1
“Para evitar acidentes” – 1
“Acho ideal” – 1
“Tenho que visar meu lado” – 1
“É muito importante pra vir trabalhar todos os dias” – 1
“Por causa de acidente” – 2
“Para evitar dores no corpo” – 1
“Para não me machucar” – 1
“Porque eu me acostumei” – 1
“Por causa da coluna” – 2
“Faz parte do trabalho ter postura” – 2
“Melhorar mais ou piorar” – 1
“Porque deve cuidar” – 1
“É cansativo, pois é pouco e não da pra descansar” – 1
52
Não – 2
Por quê?
“Não ligo muito pra essas coisas” – 1
“Já acostumei com o meu dia” - 1
8. Você acha seu trabalho cansativo por ser repetitivo?
Sim - 16
Não – 4
9. Existe incentivo por cumprimento de metas?
Sim - 0
Não – 20
10. Já trabalhou mesmo sentindo algum tipo de dor?
Sim - 17
Não – 3
Que tipo?
Coluna – 7
Cabeça – 6
Nas costas - 4
11. Descreva como você sentiu seu corpo no fim do dia?
Cansado - 17
Muito cansado – 2
Sente dores em algum lugar do corpo - 1
Outros - 0
53
REFERÊNCIAS
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documentação: trabalho acadêmico. Rio de Janeiro, 2005.
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Evolução dos Conceitos de Segurança. Rio de Janeiro, Universidade Federal
Fluminense, s/d.
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Trabalho em Alvenaria de Blocos Cerâmico. s/d.
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Trabalho no Brasil. Feira de Santana, Universidade Estadual de Feira de Santana,
2002.
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54
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