UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Instituto de Geociências
BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI
UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS
UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO
CAMPINAS
2019
BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI
UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS
UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE
GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA
EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
ORIENTADOR: PROF. DR. SÉRGIO ROBLES REIS DE QUEIROZ
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL
DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA
BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI E
ORIENTADA PELO PROF. DR. SERGIO ROBLES REIS DE
QUEIROZ.
CAMPINAS
2019
Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de Geociências
Marta dos Santos - CRB 8/5892
Martelli, Beatriz Andrade Florence, 1984- M361u MarUnicamp e Cambridge : fatores internos e externos às universidades que
influenciam o empreendedorismo acadêmico / Beatriz Andrade FlorenceMartelli. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.
MarOrientador: Sérgio Robles Reis de Queiroz. MarDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Geociências.
Mar1. Empreendedorismo. 2. Universidades e faculdades. 3. Transferência de
tecnologia. 4. Spin-outs acadêmico. 5. Empresas - Inovações tecnológicas. I.Queiroz, Sérgio Robles Reis de, 1956-. II. Universidade Estadual de Campinas.Instituto de Geociências. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Unicamp and Cambridge : internal and external factors to theuniversity that influence academic entrepreneurshipPalavras-chave em inglês:EntrepreneurshipUniversities and collegesTechnology transferAcademic spin-outsBusiness enterprises - Technological innovationsÁrea de concentração: Política Científica e TecnológicaTitulação: Mestra em Política Científica e TecnológicaBanca examinadora:Sérgio Robles Reis de Queiroz [Orientador]Bruno Brandão FischerMariana Nunciaroni Zanatta InglezData de defesa: 24-05-2019Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-4517-0372- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/5710817778053610
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
AUTORA: Beatriz Andrade Florence Martelli
UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS
UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO
ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz
Aprovado em: 24 / 05 / 2019
EXAMINADORES:
Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz - Presidente
Prof. Dr. Bruno Brandão Fischer
Dra. Mariana Nunciaroni Zanatta Inglez
A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no
SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.
Campinas, 24 de maio de 2019.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Marcos e Helena, pela presença constante e apoio
incondicional aos meus estudos. Ao meu marido André, pelo carinho e compreensão, e à
pequena Sara, por trazer leveza aos nossos dias.
Também agradeço meu orientador, Sergio Queiroz, pela atenção e paciência ao longo
do processo de elaboração dessa dissertação.
À amiga Daniela Pinheiro, pela fé inabalável na minha capacidade de escrever essa
dissertação.
Agradeço aos professores e colegas do DPCT pelas discussões e trocas de
conhecimento; aos funcionários do departamento pelo apoio e ao professor Roberto Lotufo,
pelo estímulo para fazer o mestrado.
Agradeço também o professor Bruno Fischer e a Mariana Zanatta, cujas contribuições
tanto no exame de qualificação quanto na defesa foram essenciais para o resultado final dessa
dissertação.
Por fim, agradeço ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, pela bolsa concedida.
RESUMO
Este trabalho visa investigar através de dois estudos de caso os fatores internos e externos às
universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico. Os casos estudados são: Universidade
de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil. A região
no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor bastante ativo e é tida como um
dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Já a região de Campinas é considerada um polo de
alta tecnologia e é associada ao desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação
e empreendedorismo. A partir do referencial teórico, foram selecionados dois itens para orientar o
estudo dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico no entorno das universidades em
questão: seus contextos interno e externo. Analisaram-se para ambas as universidades tanto a atividade
empreendedora em si quanto o contexto em que ela ocorre. A isso juntaram-se os resultados de um
levantamento quantitativo não exaustivo de empresas oriundas de ambas instituições para buscar-se
entender seu perfil e traçar semelhanças e diferenças entre os fatores e resultados estudados. O
trabalho conclui que nem todas as diferenças entre os dois ecossistemas apresentados são desmedidas.
Há sim resultados em que há grandes diferenças entre Cambridge e Unicamp, mas há também aqueles
em que há diferenças menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada
dos contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a
existência de tais convergências. Destacam-se os paralelos importantes no surgimento e
desenvolvimento do marco legal de inovação de ambas as regiões e também um adensamento a partir
da década de 1990, em ambos os casos, de iniciativas internas e externas às universidades para
estimular e viabilizar a exploração comercial de sua propriedade intelectual e o empreendedorismo
acadêmico.
Palavras-chave: empreendedorismo acadêmico, spin-off universitária, empreendedorismo intensivo
em conhecimento, transferência de tecnologia.
ABSTRACT
This work analyses, through two case studies, factors internal and external to the university that
influence academic entrepreneurship. The case studies concern the University of Cambridge (United
Kingdom) and Campinas State University (Brazil). The Cambridge area is a very active
entrepreneurship ecosystem and is one of the world’s most important high technology clusters.
Campinas in turn is a high technology hub linked to economic development based on science,
technology, innovation and entrepreneurship. Based on the theoretical framework, two factors were
selected to guide the study of the elements that influence academic entrepreneurship around
universities: internal and external context. For the two universities analysis covered both
entrepreneurial activity itself and the context in which it takes place. In order to better understand the
outcomes and outline similarities and differences in the case studies, the results of a qualitative non-
comprehensive mapping of companies emerging from both universities were also part of the analysis.
The research concluded that not all differences between the two studied ecosystems are excessive. In
some results, there are considerable disparities between Cambridge and Unicamp, however there are
some for which the contrast is much smaller, and also several for which there are similarities. A
detailed assessment of the universities’ internal and external contexts is crucial to substantiate the
explanation for such similarities. Highlights include important parallels in the emergence and
development of innovation law in both regions and the increase after the 1990s, in both cases, of
initiatives inside and outside the universities to foster and enable intellectual property licencing and
academic entrepreneurship.
Keywords: academic entrepreneurship, university spin-off, knowledge intensive entrepreneursip,
technology transfer.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 2.1 - Mapa da cidade de Cambridge e localização dos principais parques ................... 58
Gráfico 2.1 Empresas criadas por ano na região de Cambridge .............................................. 51
Gráfico 2.2 Universidade de Cambridge: Empresas criadas por ano e eventos importantes no
marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1963-2016) ............................... 53
Gráfico 2.3 Quantidade de empresas criadas por ano e de alunos matriculados em graduação
e em pós-graduação na Universidade de Cambridge (1994-2016) ........................................... 54
Gráfico 2.4 quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região de Cambridge
.................................................................................................................................................. 55
Gráfico 2.5 Criação de escritórios de transferência de tecnologia em universidades no Reino
Unido (~1984-2002) ................................................................................................................. 64
Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa
contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016) ................ 67
Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa por
fonte dos recursos (2003-2016) ................................................................................................ 67
Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada por
fonte de recursos (2003 - 2016) ................................................................................................ 68
Gráfico 2.9 Quantidade de licenças assinadas por ano em Cambridge (2007-2016) ............... 74
Gráfico 2.10 Contratos de consultoria assinados por ano e sua respectiva receita (2007-2016)
.................................................................................................................................................. 75
Gráfico 2.11 Quantidade de empresas criadas por ano na região da Unicamp ........................ 82
Gráfico 2.12 Unicamp: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal de
inovação, na universidade e em seu entorno (1960-2016) ....................................................... 83
Gráfico 2.13 Número de empresas criadas por ano, de alunos matriculados em graduação e
em pós-graduação na Unicamp (1994-2016)............................................................................ 84
Gráfico 2.14 Quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região da Unicamp 84
Gráfico 2.15 Criação anual de núcleos de inovação tecnológica em Instituições Científicas e
Tecnológicas no Brasil (2007-2016) ........................................................................................ 93
Gráfico 2.16 Relacionamento de grupos de pesquisa da Unicamp com empresas (2002-2016)
.................................................................................................................................................. 96
Gráfico 2.17 Quantidade e valor dos convênios de pesquisa colaborativa da Unicamp (2003-
2016) ......................................................................................................................................... 97
Gráfico 2.18 Contratos de transferência da Unicamp de tecnologia assinados e vigentes (2003-
2016) ....................................................................................................................................... 103
Gráfico 2.19 Grandes áreas dos grupos de pesquisa da Unicamp ......................................... 105
Gráfico 3.1 Setores de atividade das empresas oriundas da Universidade de Cambridge ..... 111
Gráfico 3.2 Setores de atividade das empresas oriundas da Unicamp ................................... 112
Gráfico 3.3 Quantidade de empresas oriundas de Cambridge e da Unicamp criadas por ano
(1963-2016) ............................................................................................................................ 115
Gráfico 3.4 Quantidade de empresas criadas por ano, de alunos matriculados na pós-
graduação na Unicamp e em Cambridge (1994-2016, tendência) .......................................... 119
Gráfico 3.5 Quantidade de licenças de transferência de tecnologia assinadas por ano na
Universidade de Cambridge e na Unicamp ............................................................................ 123
Gráfico 3.6 Porcentagem de alunos estrangeiros de graduação e pós-graduação na
universidade de Cambridge e na Unicamp (2007-2016) ........................................................ 125
Gráfico 3.7 Patentes depositadas por ano pela Unicamp e pela Universidade de Cambridge 126
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 Consolidação dos fatores que influenciam a criação de spin-offs ......................... 47
Quadro 2.1 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Reino Unido .............. 61
Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento entre a
comunidade acadêmica e parceiros potenciais ......................................................................... 69
Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre
universidade e parceiros potenciais .......................................................................................... 69
Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à universidade .... 71
Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade ......... 71
Quadro 2.6 Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico na Universidade de
Cambridge ................................................................................................................................ 76
Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil ......................... 91
Quadro 2.8 Iniciativas no entorno da Unicamp para fomentar o engajamento entre a
comunidade acadêmica e parceiros potenciais ......................................................................... 98
Quadro 2.9 Fonte de investimento da região da Unicamp externa à universidade .................. 98
Quadro 2.10 Iniciativas da universidade para fomentar o empreendedorismo acadêmico .... 103
Quadro 2.11 Principais semelhanças e diferenças entre resultados de empreendedorismo
acadêmico e entre fatores internos e externos às duas universidades estudadas .................... 107
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BLN - Business Leaders’ Network
BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
BTG - British Technology Group
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CHASE - Cambridge High-tech Association of Small Enterprises
Ciatec - Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas
CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Campinas
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Codetec - Companhia de Desenvolvimento Tecnológico
CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações
CT - Centro de Tecnologia
CTAE - Centro Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial
CUEN - Cambridge University Enterprise Network
CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação
DIUS - Department for innovation, universities and skills
EDISTEC - Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos
ENACTI - Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
ETT – Escritório de Transferência de Tecnologia
EUA – Estados Unidos da América
FAP – Fundação de Amparo à Pesquisa
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
GCP - Greater Cambridge Partnership
HEFCE - Higher Education Funding Council for England
HEIF - Higher Education Innovation Fund
ICT - Instituição de Ciência e Tecnologia
IGC - Índice Geral de Cursos
Incamp - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp
IPO - Intellectual Property Office
LNBio - Laboratório Nacional de Biociências
LNLS - Laboratório nacional de Luz Síncrotron
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia
MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
MIT - Massachusetts Institute of Technology
MPS - Max Planck Society
NIT – Núcleo de Inovação Tecnológica
NRDC - National Research Development Corporation
ONG – Organização não-governamental
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PACTI - Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação
PADCT - Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
PAPPE - Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas
PI – Propriedade Intelectual
PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PPDI - Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado
SCI - Science Citation Index
Softex - Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro
SPTec - Sistema Paulista de Parques Tecnológicos
STEM – Science, Tecnhnology Engineering and Mathematics
Telebras - Telecomunicações Brasileiras S.A.
TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação
TSB - Technology Strategy Board
TT – Transferência de Tecnologia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 17
CAPITULO 1
Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que influenciam o
empreendedorismo acadêmico ...................................................................................................... 25
1.1. Introdução .................................................................................................................. 25
1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate ............ 26
1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs ....................................................... 29
1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade .................................. 31
1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs .. 35
1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade ................... 39
1.3.4. Indivíduos nas atividades de empreendedorismo ............................................... 42
1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a
criação de spin-offs ............................................................................................................... 46
CAPITULO 2
Universidade de Cambridge e Unicamp: perfil da atividade empreendedora, contextos interno
e externo às universidades e seu impacto no empreendedorismo acadêmico ............................... 48
2.1. Introdução .................................................................................................................. 48
2.2. Estudos de caso das regiões de Cambridge e Campinas: resultados de
empreendedorismo acadêmico e fatores internos e externos às universidades que
impulsionam a criação de empresas ...................................................................................... 49
2.2.1. Reino Unido e Cambridge .................................................................................. 49
2.2.1.1. Empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge ................................ 49
2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge ............................................. 56
2.2.1.2.1. Localização.................................................................................................. 56
2.2.1.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Reino Unido.................. 59
2.2.1.2.3. Transferência de tecnologia: iniciativas e posicionamento do governo e das
universidades no Reino Unido .......................................................................................... 62
2.2.1.2.4. Parcerias e redes .......................................................................................... 65
2.2.1.3. Contexto interno ............................................................................................. 71
2.2.1.3.1. Política de propriedade intelectual da universidade de Cambridge ............ 73
2.2.1.3.2. Escritório de transferência de tecnologia .................................................... 73
2.2.1.3.3. Transferência de tecnologia e consultoria na universidade de Cambridge . 74
2.2.1.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o
empreendedorismo acadêmico .......................................................................................... 75
2.2.2. Brasil e Campinas ............................................................................................... 80
2.2.2.1. Empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp ................................... 80
2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ............. 85
2.2.2.2.1. Localização.................................................................................................. 85
2.2.2.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Brasil............................. 88
2.2.2.2.3. Transferência de tecnologia no Brasil ......................................................... 92
2.2.2.2.4. Parcerias e redes .......................................................................................... 94
2.2.2.3. Contexto interno ............................................................................................. 99
2.2.2.3.1. Política de propriedade intelectual da Unicamp ........................................ 100
2.2.2.3.1. Escritório de transferência de tecnologia .................................................. 100
2.2.2.3.2. Transferência de tecnologia e consultoria na Unicamp ............................ 102
2.2.2.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o
empreendedorismo acadêmico ........................................................................................ 103
2.3. Apresentação dos resultados: semelhanças e diferenças entre os casos estudados . 106
CAPITULO 3
Discussão dos resultados: semelhanças e diferenças entre o empreendedorismo acadêmico na
região da universidade de Cambridge e na da Unicamp ............................................................. 109
3.1. Introdução ................................................................................................................ 109
3.2. Semelhanças entre os casos estudados ..................................................................... 110
3.2.1. Semelhanças de resultado ................................................................................. 110
3.2.2. Semelhanças de contexto .................................................................................. 118
3.3. Diferenças entre os casos estudados ........................................................................ 121
3.3.1. Diferenças de resultado .................................................................................... 121
3.3.2. Diferenças de contexto ..................................................................................... 125
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 131
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 138
17
INTRODUÇÃO
Há importantes diferenças entre as universidades de Cambridge e Unicamp:
enquanto a primeira tem mais de 800 anos, 107 prêmios Nobel e 8 medalhas Fields, a segunda
foi fundada há pouco mais de cinco décadas e nenhum membro de sua comunidade acadêmica
foi agraciado com tais prêmios. A Unicamp ocupa a posição 401 no World University
Rankings 2019 e a posição 182 no QS World University Rankings® 2018. Por sua vez,
Cambridge figura em segundo lugar no World University Rankings 2019, em terceiro no
Academic Ranking of World Universities 2018 e em quinto lugar no QS World University
Rankings® 2018, além de ter entre seus ex-alunos nomes como Isaac Newton, Charles
Darwin, Francis Bacon, Stephen Hawking e John Milton.
Todavia, apesar das evidentes diferenças, a análise dessa dissertação revela mais
semelhanças entre as duas universidades em questão do que se poderia esperar a priori.
Estudamos os contextos interno e externo de ambas com o intuito de identificar os fatores que
estimulam ou incentivam o empreendedorismo acadêmico – ou seja, o processo de criação de
empresas oriundas das universidade. Nesse percurso, encontramos não só semelhanças mais
superficiais, como também paralelos importantes no surgimento e desenvolvimento do marco
legal de inovação de ambas as regiões – isto é, na configuração do arcabouço institucional
para estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das
universidades. Além disso, no que diz respeito ao empreendedorismo acadêmico, ou seja, as
empresas oriundas de ambas universidades, notamos também uma série de semelhanças.
O tema empreendedorismo acadêmico vem ganhando fôlego nas últimas duas
décadas. O crescimento no volume de estudos publicados sobre o assunto coincide com o
crescimento da atividade de empreendedorismo nas universidades ao redor do mundo,
especialmente a partir dos anos 20001. As iniciativas de promoção do empreendedorismo
acadêmico vêm se disseminando rapidamente por universidades de todo o mundo e
incorporando novos atores, novas formas de comercialização de tecnologia e transferência de
1 A primeira edição especial focada em empreendedorismo acadêmico foi publicada pelo Journal of Technology
Transfer em 2001, o que indica que se trata de um campo de pesquisa bastante novo e aberto, além de sujeito a
questionamentos (Rothaermel et. al., 2007), haja vista que um número considerável de estudos ainda questiona a
incorporação da terceira missão pelas universidades.
18
conhecimento, para além daquela que envolve somente o pesquisador universitário e a
transferência formal de tecnologia2 (Siegel & Wright, 2015a).
A institucionalização da ideia de universidade empreendedora, porém ocorre duas
décadas antes – mais precisamente em 1980 com a implementação do Bayh-Dole Act3 nos
Estados Unidos. A partir desse marco se consolida ao redor do mundo a ideia de uma
universidade que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à
comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As
universidades norte-americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas
internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de
transferência de tecnologia para patentear e comercializar os resultados de suas pesquisas
(Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares,
fazendo com que o movimento de formalização da gestão da propriedade intelectual se
propagasse entre as universidades ao redor do mundo (Grimaldi, 2011), mudando
consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no contexto interno quanto
no contexto externo às universidades.
Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980
e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas
universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos
papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e
pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar
benefício para as universidades, tais como um maior acesso às estruturas de pesquisa e know-
how da indústria, além do financiamento de pesquisa pelas empresas e do intercâmbio de
profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a preocupação de que
o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia descaracterizar a função essencial
2 Por transferência formal de tecnologia, nesse caso, entende-se o licenciamento para terceiros de uma tecnologia
patenteada pela universidade.
3 Legislação federal dos EUA que uniformizou a política de propriedade intelectual no país e possibilitou que
pequenas empresas e instituições sem fins lucrativos, incluindo universidades, detivessem a titularidade de
invenções realizadas através de programas federais de financiamento à pesquisa. Foi muito importante para
encorajar as universidades a engajar-se em transferência de tecnologia. As principais críticas ao Bayh-Dole Act
dizem respeito ao possível desvio das funções das universidades (ensino e pesquisa) e ao fato de que levariam os
contribuintes a um pagamento em duplicidade (financiando a pesquisa e depois pagando direitos de propriedade
intelectual).
19
da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o ensino e a interação entre
professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).
Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência
de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para
as atividades diretamente relacionadas à transferência formal de tecnologia: patenteamento e
licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se
acreditava que poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes
potencialmente mais lucrativos. Também havia poucos cursos e programas sobre
empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do
empreendedorismo acadêmico quando percebeu-se que se tratava de outro caminho possível
para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que,
em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente
vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por
meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).
Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos
1980, e da consequente consolidação da ideia de universidade empreendedora, o escopo do
empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, vem
se ampliando de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico
abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, parceria universidade-empresa,
desenvolvimento econômico e regional e a criação direta e indireta de novas empresas –
muitas empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de
transferência de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma
gama muito mais ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor (Rothaermel,
2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).
Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas
universidades ao redor do mundo, os estudos sobre a universidade empreendedora passaram a
abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade
intelectual – tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as
características e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada,
por exemplo – como os elemento externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no
entorno e as condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas
universidades são mais empreendedoras do que outras ou ainda quais são as principais
barreiras ao empreendedorismo universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia
20
também passaram a ganhar destaque nos estudos sobre empreendedorismo acadêmico, uma
vez que são vistos como o canal de interação entre a universidade e a indústria.
No atual cenário de crescimento no volume de estudos publicados sobre
empreendedorismo acadêmico, vários deles têm voltado seus esforços para identificar o que
leva algumas universidades a serem mais empreendedoras do que outras. Esses estudos
apontam tanto para os aspectos internos às universidades, quanto para as questões
institucionais externas à universidade e a estrutura industrial da região, por exemplo. Todavia,
ainda há questões que precisam ser melhor exploradas por essa literatura. Uma delas é a
ampliação do conceito de empreendedorismo acadêmico, isto é, a incorporação das atividades
de transferência de tecnologia e criação de novas empresas que ocorrem a partir de relações
informais com a universidade e não por meio da comercialização de propriedade intelectual
(Siegel & Wright, 2015a). Nesse sentido, é recomendável que sejam incluídos na análise, por
exemplo, o empreendedorismo estudantil e todas as empresas que são criadas a partir de
algum relacionamento com a universidade, que não seja necessariamente via exploração
comercial de propriedade intelectual.
Ou seja, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao
empreendedorismo acadêmico nos anos recentes, e também do escopo de sua análise, a
literatura ainda não evoluiu a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas
relacionadas ao empreendedorismo acadêmico. A literatura recente ainda está
predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e
licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e a participação de inventores. E,
apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de empreendedorismo e
das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas de aprendizado
experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de spin-offs4 criadas
por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender os fatores que
apoiam o empreendedorismo estudantil. Isto é, há que se entender melhor a heterogeneidade
do empreendedorismo acadêmico, assim como o contexto em que ele ocorre.
Isto posto, o objetivo dessa dissertação é identificar quais são os fatores internos e
externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico nos dois casos
4 Seguindo a linha proposta por O’Shea et al (2007), essa dissertação considera que para obter uma compreensão
sistêmica da atividade de criação de spin-offs é preciso integrar quatro dimensões do empreendedorismo
acadêmico: características dos indivíduos, política e estrutural organizacional, cultura organizacional e ambiente
externo. A literatura frequentemente usa apenas um desses fatores por vez para definir a atividade de criação de
spin-offs, mas aqui consideramos o conjunto das quatro. Nesse contexto, utilizamos spin-off e empreendedorismo
acadêmico como sinônimos.
21
estudados (Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de
Campinas, no Brasil). Analisamos (i) os fatores internos e externos de cada universidade que
podem influenciar na criação de spin-offs, (ii) os resultados quantitativos de
empreendedorismo acadêmico de ambas universidades, e (iii) as semelhanças e diferenças
entre os fatores e resultados estudados.
A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor
bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Todavia,
até a década de 1970 havia, de ambas as partes, muita resistência
contra o relacionamento entre universidade e empresa e, consequentemente,
pouquíssimos casos de interação. Atualmente, além de uma miríade de empresas intensivas
em tecnologia, a região abriga três universidades, 19 parques científicos e comerciais, 6
incubadoras, 10 fundos de venture capital, 4 grupos de investidores anjo, um de investimento
semente, um fundo de prova de conceito e diversos centros de pesquisa e desenvolvimento
(das universidades, de empresas de vários portes e do governo), dentre outros. No início,
havia na região essencialmente empresas de engenharia e computação, porém hoje há maior
concentração nas áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e biotecnologia.
Já a região de Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e é associada ao
desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo
(Lemos, 2011). A Universidade Estadual de Campinas foi fundada em 1966 e desde o início
manteve laços estreitos com o setor produtivo. Dentre os principais elementos desse cluster de
tecnologia estão a Unicamp, cinco parques científicos e tecnológicos, duas aceleradoras de
empresas e duas incubadoras, além de uma rede de relacionamento de empreendedores
oriundos da Unicamp. Há também na região vinte e dois centros de pesquisa, públicos e
privados, atuando nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, desenvolvimento
agrícola e agronegócio, biomedicina, física, química, engenharia de materiais, e biologia
molecular, dentre outras.
Os estudos de caso dividem-se em duas partes: analisamos tanto a atividade
empreendedora em si quanto o contexto em que ocorre. Partimos da divisão proposta por
O’Shea et al. (2007b) de quatro grupos de fatores que podem influenciar conjuntamente na
quantidade de spin-offs criadas em uma universidade e selecionamos dois para nossa análise:
os fatores internos e os externos à universidade. O levantamento de dados para os outros dois
fatores (contexto sociocultural e características pessoais) trazia consigo dois desafios
metodológicos: não só requer acesso a fontes primárias, como também se trata de um
22
conjunto de informações de caráter eminentemente subjetivo. Diante disso, optamos por
delimitar nossa análise no campo dos dados secundários e objetivos.
Assim, realizamos o levantamento de dados em fontes secundárias dos fatores
internos e externos às duas universidades estudadas que influenciam a criação de spin-offs e a
atividade empreendedora no âmbito acadêmico. Para fatores externos estudamos: localização
da universidade, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e
redes, e para fatores internos: política de propriedade intelectual da universidade, escritório de
transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica5, transferência de tecnologia na
universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.
Uma vez estabelecido um esboço do cenário dentro e no entorno de ambas as
universidades e registrados os respectivos fatores que podem influenciar a criação de spin-
offs, partimos para a segunda etapa dos estudos de caso que foi uma busca não-exaustiva de
empresas oriundas de ambas universidades com o objetivo de traçar seu perfil. Para tanto,
analisamos variáveis como ano de fundação, quantidade de funcionários, setor de atuação,
internacionalização e quantidade de empresas vendidas, por exemplo – no total listamos 16
variáveis sobre quase 1500 empresas (foram 961 para Cambridge, fundadas entre 1965 e 2017
e 488 para a Unicamp, fundadas entre 1963 e 2017).
A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças entre os contextos
e atividade de empreendedorismo acadêmico no entorno de cada universidade. As
convergências iniciam-se em pontos mais simples e persistem nas questões mais complexas,
como por exemplo a configuração do arcabouço institucional para estimular o
empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades.
No que diz respeito às empresas há também semelhanças importantes.
Em ambos os casos, se observa um adensamento a partir da década de 1990 de
iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a exploração
comercial de propriedade intelectual da universidade e o empreendedorismo acadêmico, bem
como de uma série de ações governamentais em âmbito estadual ou federal implementadas no
mesmo período. Esse movimento de adensamento coincide com a transição vivida em maior
ou menor grau pelas universidades de todo o mundo a partir da década de 1980 e que as levou
5 Nessa dissertação consideraremos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo de Inovação
tecnológica (NIT) como sinônimos.
23
a rever suas missões e atividades de modo a melhor atender as demandas da sociedade e
contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo através da transferência direta
ou indireta de tecnologia e conhecimento (através de licenciamentos ou spin-offs) (Zanatta et
al, 2016). Além disso, destaca-se também o fenômeno global que ocorre a partir do final dos
anos 1990 quando se observa um aumento no interesse em empresas de tecnologia em função
dos altos retornos de investimentos norte-americanos na área.
A dissertação está estruturada em três capítulos, além dessa Introdução e as
Considerações Finais. O Capítulo 1 se propõe a construir, a partir da revisão da literatura, um
marco de referência dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico e
contribuem para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que
outras na criação de spin-offs. Iniciamos com uma apresentação das origens, escopo atual e
evolução do debate sobre o empreendedorismo acadêmico, e a seguir identificamos e
apresentamos quatro fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade
empreendedora no âmbito acadêmico de acordo com O’Shea et al (2007b): (i) contexto
interno à universidade, (ii) contexto externo à universidade, (iii) contexto sociocultural da
universidade e (iv) características pessoais dos indivíduos. O Capítulo 1 encerra-se com a
apresentação de um quadro analítico que busca consolidar esses fatores.
O Capítulo 2 apresenta as semelhanças e diferenças nos dados relativos aos dois
casos de empreendedorismo acadêmico estudados nessa dissertação: a região da Universidade
de Cambridge, no Reino Unido, e a da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no
Brasil. O estudo está dividido em duas partes: (i) apresentação dos resultados do levantamento
quantitativo sobre empreendedorismo acadêmico no entorno de ambas universidades; e (ii)
apresentação dos fatores que influenciam a atividade empreendedora da região. Dos quatro
fatores que, de acordo com a literatura, influenciam a criação de spin-offs e a atividade
empreendedora no âmbito acadêmico, selecionamos dois para os estudos de caso: contexto
interno à universidade (política de propriedade intelectual da universidade, escritório de
transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica6, transferência de tecnologia na
universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico) e contexto externo
(localização, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e
redes). O Capítulo 2 encerra-se com a apresentação de um quadro analítico que busca
6 Nessa dissertação consideraremos como sinônimos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo
de Inovação tecnológica (NIT).
24
consolidar as semelhanças e diferenças de contexto e de resultado empreendedor entre os
casos estudados.
Por sua vez o Capítulo 3 apresenta a discussão dos resultados dos dois estudos de
caso apresentados no capítulo anterior – perfil da atividade empreendedora em cada uma das
regiões e contextos interno e externo às universidades – e seu impacto no empreendedorismo
acadêmico. A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças tanto entre os
contextos interno e externo quanto entre os resultados de empreendedorismo acadêmico no
entorno de cada umas das universidades. A discussão desse capítulo busca destacar aonde as
semelhanças e as diferenças são mais acentuadas e aonde são mais moderadas, bem como
quais fatores parecem ser os principais responsáveis pelas convergências e divergências
encontradas entre os dois casos estudados. Destacamos o papel do contexto na explicação das
semelhanças e diferenças de resultados, ainda que, naturalmente, não tenhamos elementos
para afirmar que essas especificidades de contexto são as únicas determinantes dos resultados
encontrados. Reconhecemos a existência de outros fatores também pertinentes para a
explicação das semelhanças e diferenças encontradas, que todavia estão fora do escopo do
presente trabalho, como por exemplo o contexto sociocultural da universidade e
características pessoais dos indivíduos (apresentados em âmbito teórico no Capítulo 1).
Por fim, as Considerações Finais mostram que as diferenças entre os dois
ecossistemas apresentados não são tão grandes. Há sim resultados em que as diferenças entre
Cambridge e Unicamp são consideráveis, mas há também aqueles em que as diferenças são
menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos
contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a
existência de tais similitudes.
25
CAPÍTULO 1.
1. Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que
influenciam o empreendedorismo acadêmico
1.1. Introdução
Este capítulo visa apresentar, a partir da revisão da literatura sobre
empreendedorismo acadêmico, os fatores que influenciam este tipo de atividade e contribuem
para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que outras na criação
de spin-offs. A revisão da literatura sobre empreendedorismo acadêmico revela um conjunto
de estudos com focos específicos. Parte dos estudos concentra-se em abordar a influência da
configuração organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Uma outra parte busca
identificar os recursos da universidade que se relacionam com as atividades de
empreendedorismo, tais como recursos humanos, volume e origem do orçamento para
financiamento das atividades de pesquisa e presença de incubadoras tecnológicas e escritórios
de transferência de tecnologia. Outro conjunto de estudos foca no indivíduo, considerando,
dentre outros, fatores como personalidade e motivações. Outros ainda buscam explicar o
surgimento de spin-offs em termos do contexto sócio cultural da universidade, tendo em vista
que a criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto,
influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela oferecidas. E há ainda
os estudos que explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo,
enfatizando, nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as
universidades, tais como a infraestrutura de conhecimento da região, a estrutura industrial ou
ainda a legislação de propriedade intelectual.
Nesse sentido, O’Shea et al. (2007b) sugerem quatro grupo de fatores que podem
influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas em uma universidade: (i) as
características do entorno da universidade, tais como a infraestrutura regional que impacta na
atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que abordam o contexto externo à
universidade; (ii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está inserida, incluindo
barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e institucional; (iii) os
recursos e as capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano,
quanto os recursos comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os
26
estudos que focam nas questões organizacionais e, por fim, (iv) as características e percepções
dos indivíduos que se engajam em atividades empreendedoras dentro das universidade.
O presente capítulo dedica-se a detalhar cada um desses grupos de fatores, mas
não sem antes apresentar as origens e a evolução do debate sobre o empreendedorismo
acadêmico. Sendo assim, o capítulo está organizado em três seções, além desta introdução.
Uma primeira que contextualiza o debate, a segunda que detalha os fatores que influenciam a
criação de spin-offs e uma terceira que busca consolidar esses fatores com o auxílio de um
quadro analítico.
1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate
As origens do empreendedorismo acadêmico remontam às iniciativas internas e
externas à universidade com o objetivo de fortalecer a relação universidade-empresa, como
demonstra a história do MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA). A trajetória
do instituto é marcada, desde o início, pela proximidade com a indústria, tanto com firmas já
existentes como com novas empresas criadas a partir das atividades de pesquisa e consultoria
dos seus professores. Na tentativa de balancear as atividades acadêmicas tradicionais de
ensino e pesquisa e o relacionamento com a indústria, o MIT abre ao longo da sua trajetória
uma série de precedentes no que diz respeito à criação e à gestão da propriedade intelectual da
universidade, bem como à cooperação universidade-empresa, ainda na primeira metade do
século XX, que posteriormente inspiram o conteúdo do Bayh-Dole Act nos anos 1980
(Etzkowitz, 2002).
É com a implementação do Bayh-Dole Act que se institucionaliza, tanto nos
Estados Unidos quanto ao redor do mundo, a ideia de universidade empreendedora, que
acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à comercialização
da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As universidades norte-
americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas internas de patenteamento,
estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para
patentear e comercializar os resultados das suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países
europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de
formalização da gestão da propriedade intelectual se propagasse por universidades ao redor do
mundo (Grimaldi, 2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo
acadêmico tanto no contexto interno quanto no contexto externo às universidades.
27
Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980
e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas
universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos
papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e
pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar
benefício para as universidades, tais como maior acesso às estruturas de pesquisa e know-how
da indústria, como ocorreu no MIT, além de financiamento de pesquisa por empresas e
intercâmbio de profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a
preocupação de que o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia
descaracterizar a função essencial da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o
ensino e a interação entre professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).
Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos
1980, e a consolidação da ideia da universidade empreendedora, o escopo do
empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, se
ampliaram de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico
abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta de novas
empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional
(Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015). Essa ampliação de
escopo reflete a necessidade colocada pelas políticas de desenvolvimento de que as
universidades tenham uma contribuição mais ampla para a sociedade. Quando as
universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência de tecnologia nas
décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para as atividades
diretamente relacionadas à transferência de tecnologia: patenteamento e licenciamento.
Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se pensava que
poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes potencialmente mais
lucrativos (os ‘blockblusters’). Também havia poucos cursos e programas sobre
empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do
empreendedorismo acadêmico quando se percebeu que era outro caminho possível para a
transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que, em um
primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente vinculadas à
transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por meio do
licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).
28
Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas
universidades ao redor do mundo, os estudos sobre universidade empreendedora passaram a
abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade
intelectual, tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as características
e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada, por exemplo,
como fatores externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no entorno e as
condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas universidades são mais
empreendedoras do que outras ou quais são as principais barreiras ao empreendedorismo
universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia também passaram a ganhar
destaque nos estudos de empreendedorismo acadêmico, porque são vistos como o canal de
interação entre a universidade e a indústria. E, para um corpo específico de literatura, a
universidade empreendedora é vista como uma função da produtividade do seu escritório de
transferência de tecnologia. A organização e o gerenciamento desses escritórios, assim como
elementos externos tais como os recursos da universidade e da região onde ela está localizada,
o nível de apoio formal à P&D, entre outros, são apontados por este corpo de literatura como
impactantes da produtividade desses escritórios. Um outro tema bastante explorado são as
interações (“networking activities”) entre os diversos atores do ecossistema empreendedor e a
universidade.
Porém, sabe-se que atualmente o empreendedorismo acadêmico vai muito além
do licenciamento formal de propriedade intelectual da universidade, e que muitas empresas
que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência de
conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito mais
ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor. Siegel e Wright (2015a, p. 54)
destacam os principais fatores que levaram à ampliação do escopo do empreendedorismo
acadêmico, especialmente na última década: a criação de espaços específicos para a apoiar a
transferência de tecnologia e o empreendedorismo; o crescimento significativo de cursos e
programas de empreendedorismo oferecidos pelas universidades; a implementação de centros
de empreendedorismo; o crescimento do número de empreendedores externos presentes nas
universidades para estimular a criação de start-ups; o rápido crescimento do apoio aos alunos
e ex-alunos englobando vários aspectos do ecossistema empreendedor e incluindo fundos de
comercialização e competições de planos e modelos de negócio. Dessa forma, as
universidades também incorporaram os aspectos mais indiretos do empreendedorismo
acadêmico, tais como empreendimentos sociais e start-ups comerciais criadas por alunos e ex-
29
alunos, bem como a transferência de conhecimento da universidade para empresas locais já
existentes. E, consequentemente, também foram desenvolvidas novas formas de apoio às
atividades de empreendedorismo acadêmico que abrangem não somente a transferência
formal de tecnologia, mas também mecanismos não tradicionais de incentivo, tais como os
programas de aceleração, espaços flexíveis para prototipagem e criação de novos negócios,
redes colaborativas com a indústria e ex-alunos, mobilidade do corpo docente e novas formas
de incubadoras público-privadas (Zucker e Darby, 2002; Grimaldi et. al, 2011; Siegel e
Wrigth, 2015; Wright et al., 2017). As competições de plano e modelo de negócio, por
exemplo, proliferaram-se de tal maneira nos últimos quinze anos, que agora há até mesmo
competições internacionais envolvendo várias instituições acadêmicas. Também aumentaram
consideravelmente os esforços de busca por novas oportunidades de comercialização de
resultados de pesquisa feitos pelos escritórios de transferência de tecnologia, principalmente
por meio do monitoramento constante das atividades de pesquisa realizadas nos laboratórios
das universidades (Siegel et al., 2007; Grimaldi et al., 2011).
Todavia, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao
empreendedorismo acadêmico, e também do escopo de análise, a literatura ainda não evoluiu
a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas relacionadas ao
empreendedorismo acadêmico. Pelo contrário, a literatura recente ainda está
predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e
licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e com a participação de
inventores. E, apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de
empreendedorismo e das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas
de aprendizado experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de
spin-offs criadas por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender o
ecossistema que apoia o empreendedorismo estudantil (Wrigth et al., 2017).
1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs
Apesar de o foco do presente trabalho ser na quantidade de spin-offs criadas, não
desconhecemos a relevância da análise da qualidade de tais empresas. Nesse sentido, Guzman
& Stern (2016) destacam a importância da análise qualitativa do empreendedorismo e do
desempenho dos ecossistemas para se compreender de maneira pormenorizada o impacto do
empreendedorismo no progresso econômico e social. Nessa dissertação não temos a pretensão
de esgotar essa discussão, mas apenas de propor uma análise dos resultados de
30
empreendedorismo acadêmico usando como proxy a quantidade de spin-offs criadas no
entorno das duas universidades estudadas.
Em se tratando especificamente da criação de spin-offs – o corpo da literatura no
qual se insere essa dissertação – os estudos visam, sobretudo, identificar os fatores de sucesso
por trás do processo de criação dessas empresas, seja pela perspectiva da universidade seja
pela de seus fundadores – além das principais barreiras à formação e crescimento de novas
empresas, (Rothaermel et al., 2007). A revisão dessa literatura revela um conjunto de estudos
com focos específicos. Parte deles concentra-se em abordar a influência da configuração
organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Por recursos da universidade, entende-se a
quantidade e origem do orçamento para financiamento das atividades de pesquisa, presença de
incubadoras tecnológicas e escritórios de transferência de tecnologia (Radosevich (1995),
Blumenthal et al. (1996), Roberts & Malone (1996), Zucker et al. (1998b), Debackere (2000),
Hague & Oakley (2000), Meseri & Maital (2001), Carlsson and Fridh (2002), Davenport et al.
(2002), DiGregorio & Shane (2003), Siegel et al. (2003), Degroof & Roberts (2004),
Clarysse et al. (2005), Lockett & Wright (2005), Markman et al. (2005), O’Shea et al. (2005),
Powers & McDougall (2005), Lenoir & Gianella (2006), Stuart & Ding (2006)). Outra parte
dos estudos focam no indivíduo, considerando personalidade, motivações para empreender etc
(Roberts (1991), Zucker et al. (1998a), Audretsch (2000)). Outros ainda buscam explicar o
surgimento de spin-offs em termos de desenvolvimento sociocultural, tendo em vista que a
criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto,
influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela proporcionadas (Louis
et al. (1989), Ndonzuau et al. (2002), Thursby & Kemp (2002), DiGregorio and Shane (2003),
Kenney & Goe (2004), Link and Siegel (2005), Stuart and Ding (2006), George et al. (2006),
Kirby (2006), Djokovic & Souitaris (2007), O’Shea at al. (2007)). Há ainda os estudos que
explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo, enfatizando,
nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as universidades, tais como
acesso a capital de risco, infraestrutura de conhecimento da região, estrutura industrial e
legislação de patentes (Florida & Kenney (1988), Saxenian (1994), Wallmark (1997), Kenney
(2000), Sorenson & Stuart (2001), Colyvas et al. (2002), DiGregorio and Shane (2003),
Feldman & Francis (2003), Goldfarb & Henrekson (2003), Feldman & Desrocher (2004),
Shane (2004b), Wright et al. (2004), Sampat (2006), Wright et al. (2006), O’Shea et al.
(2007). Por fim, há os estudos que buscam medir o impacto econômico da atividade de spin-
offs (Shane, 2004a, b). e aqueles que focam no desenvolvimento e desempenho das spin-offs
31
universitárias (Dahlstrand (1997), Mustar (1997), Shane & Stuart (2002), Nerkar & Shane
(2003), Degroof & Roberts (2004), Druilhe & Garnsey (2004), Vohora et al. (2004), Shane
(2004a), Ensley & Hmieleski (2005), Mustar et al. (2006), Vanaelst et al. (2006)). Já na
última década, essas abordagens permanecem em destaque, mas há uma clara preocupação
nos estudos mais recentes em integrá-las, isto é, tratar os vários determinantes de forma
relacionada, considerando que os determinantes da criação de spin-offs são múltiplos e atuam
de forma concomitante.
Nesse sentido, o estudo de O’Shea et al. (2007b) é pioneiro em sugerir que
quatro grupo de fatores podem influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas
em uma universidade. São eles: (i) as características e percepções dos indivíduos que se
engajam em atividades empreendedoras dentro das universidades; (ii) os recursos e as
capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano, quanto os recursos
comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os estudos que focam
na questão organizacional; (iii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está
inserida, incluindo barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e
institucional; e, por fim, (iv) as características do entorno da universidade, como a
infraestrutura regional que impacta a atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que
abordam o contexto externo à universidade. As quatro subseções a seguir visam detalhar, a
partir da revisão da literatura, cada um desses grupos de fatores. A última seção consolida
esses fatores com o intuito de orientar as análises posteriores.
Para aprofundar a descrição dos quatro fatores que influenciam a criação de
spin-offs nas universidades segundo O’Shea et al. (2007b), nos apoiaremos sobretudo nos
trabalhos de: Shane (2004a), Lockett et. al (2005), Siegel et al. (2004 e 2007), O'Shea et. al
(2005 e 2007a), Clarysse et al. (2005, 2009 e 2011), Bercovitz e Feldman (2008), Grimaldi et.
al (2011), Siegel e Wrigth (2015 e 2015a) e Wright et al. (2017).
1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade
O processo empreendedor não pode ser estudado sem que se dê atenção ao
contexto em que ocorre, tanto em nível regional quanto nacional, e a natureza multinível do
empreendedorismo acadêmico torna ainda mais necessário esse entendimento.
Um dos mais destacados fatores externos à universidade de estímulo à criação de
spin-offs é a existência de um marco legal de inovação adequado. Os Estados Unidos são o
32
exemplo por excelência da importância da existência de um marco legal de inovação para o
sucesso do empreendedorismo acadêmico. A entrada em vigor do Bayh-Dole Act, em 1980,
que determinava que os direitos de propriedade intelectual passavam a pertencer às
universidades ou centros de pesquisa, teve efeitos positivos sobre a geração de spin-offs
universitárias (Shane, 2004a). Na sequência da aprovação do Bayh-Dole Act, o governo
federal passou mais outras quatro leis7, que juntas contribuíram para criar um ambiente
favorável às colaborações entre universidade e indústria e à transferência de tecnologia. Ao
atribuir as invenções às universidades - ao invés de aos inventores individuais - o Bayh-Dole
Act causou um aumento exponencial nas atividades de patenteamento e licenciamento,
geralmente acompanhadas da criação de escritórios de transferência de tecnologia.
Inversamente, uma série de estudos, sobretudo na Europa, indicam que políticas que atribuem
invenções aos inventores inibem a criação de spin-offs ou mesmo chegam a criar uma postura
anti-empreendedora no corpo docente e na administração da universidade, que nesse cenário
não se beneficiam da atividade empreendedora dos acadêmicos (Hsu et al, 2015, O'Shea et. al,
2007b).
Universidades fazem parcerias, participam de redes, desenvolvem estratégias e
configurações institucionais para viabilizar o relacionamento com entidades externas
(governo, indústria etc) de modo a potencializar a exploração do conhecimento nelas
produzido. Em sua análise qualitativa baseada em entrevistas, Guerrero e Urbano (2010)
indicam a presença de uma correlação positiva significativa entre fatores internos à
universidade e fatores ambientais e seus papeis de ensino e pesquisa. Dentre os fatores
ambientais que influenciam os empreendimentos acadêmicos, além do já mencionado papel
da universidade no contexto tecnológico e empresarial, destacam-se a disponibilidade de
capital de risco, que não só financia como também orienta a operação de novos negócios; a
localização em um cluster de alta tecnologia, que facilita o acesso a redes de contatos e a
conhecimento especializado; e a criação de legislação específica ou outros mecanismos
governamentais que favoreçam a criação de spin-offs (Guerrero e Urbano, 2010; Dodgson e
Staggs, 2012; Hsu et al, 2015).
7 Stevenson–Wydler Technology Innovation Act, National Cooperative Research Act, Federal Technology
Transfer Act, e Technology Transfer Improvement and Advancement Act.
33
Um aprofundamento no tema aponta que pode haver mais fatores que viabilizam
e estimulam a criação de spin-offs oriundas da universidade. O estudo de caso do
Massachusetts Institute of Technology (MIT) de O'Shea et. al (2007a) elenca uma série de
fatores, que são potencializados por sinergias entre si, o que resulta em um processo path-
dependent e de difícil replicação. Destaca-se nesse caso o papel crucial do contexto regional
em que a universidade está inserida, que deve ser favorável à atividade empreendedora.
Alguns desses fatores podem ser replicados, mas outros, não. A história, por
exemplo, não pode ser criada – a missão da universidade, seus principais parceiros e fontes de
recursos ao longo do tempo etc. A influência da geografia também é fixa, ao menos no curto
prazo. Nesse aspecto, nota-se que o entorno do MIT funciona como uma "incubadora virtual"
para empresas nascentes: há venture capital para financiar e orientar novos empreendedores,
um conjunto de hospitais em que se pode conduzir testes clínicos de novas tecnologias, além
de uma série de prestadores de serviços habituados a trabalhar com start-ups, tais como
contadores e agentes imobiliários (O'Shea et. al, 2007a).
A proximidade, física e em termos de relacionamento, da universidade com fontes
externas de recursos (sobretudo a indústria) alavanca o financiamento à pesquisa e aumenta
significativamente sua propensão à atividade de empreendedorismo acadêmico, além de
viabilizar o acesso a informações de mercado, que podem ajudar a direcionar a atividade
empreendedora. No caso do MIT, nota-se que a proximidade com empresas de capital de risco
também é importante não só pela razão mais evidente de financiar novos negócios, como
também pelo fato de que membros do escritório de transferência de tecnologia da
universidade discutem com esses investidores sobre novas tecnologias e pesquisas em
andamento que apresentam potencial para se tornar novas empresas (O'Shea et. al 2007a).
A localização da universidade cria um círculo virtuoso: a maioria dos estudos
empíricos aponta que as contribuições das universidades para o desenvolvimento econômico
regional são geograficamente concentradas. Assim, se a universidade se encontra em uma
localidade com concentração relativamente alta de empresas de base tecnológica, institutos de
pesquisa e ambiente favorável à atividade empreendedora, o conhecimento e inovação nela
gerados transbordam e beneficiam seu entorno, que por sua vez aumenta a demanda por
tecnologia da universidade. Da mesma maneira, a localização impacta na capacidade da
universidade de explorar comercialmente sua tecnologia, uma vez que para tanto depende de
uma série de serviços especializados, tais como advogados, investidores e consultores, que se
adensam no seu entorno conforme aumenta o volume de transferência de tecnologia. Ou seja,
34
o fato de uma universidade estar inserida em um ambiente com relativa concentração de
empresas intensivas em conhecimento, centros de pesquisa e indústria, tem impacto positivo
em seus resultados de empreendedorismo acadêmico (Hsu et al, 2015).
Características do ambiente econômico e social no entorno da universidade
também podem estimular a criação de spin-offs. Dentre eles destacam-se as oportunidades
oferecidas pelo setor industrial local e a infraestrutura, bem como o contexto empreendedor e
de negócios. Se essa infraestrutura empreendedora de uma região é fraca, a criação de spin-
offs é prejudicada. O estudo de caso conduzido por Algieri et al (2013) na Itália, aponta que o
fator de maior relevância são as atividades em cooperação com a indústria.
Ainda no que diz respeito ao impacto das características socioeconômicas de cada
localidade, o estudo de caso conduzido por Davey et al (2016) em quatro países europeus
(Reino Unido, Alemanha, Espanha e Polônia), reitera como essa faceta do contexto regional
desempenha um papel relevante na extensão do empreendedorismo acadêmico. Destaca-se
como as regiões europeias têm diferentes níveis de desenvolvimento econômico e histórias e
culturas únicas, o que necessita ser levado em consideração durante a elaboração de políticas.
Isso se reflete na importância relativa dos fatores impulsionadores e barreiras estudados pelos
autores, que revela-se maior nos países mais desenvolvidos (Alemanha e Reino Unido) e
menor nos menos desenvolvidos (Espanha e Polônia), sugerindo que esses últimos têm
desafios próprios – que não são capturados pelos fatores impulsionadores e barreiras
selecionados – e precisam adaptar estratégias e mecanismos aos seus contextos específicos e
não somente imitar estratégias, mecanismos, estruturas e atividades implementadas nos países
desenvolvidos.
Um fator externo à universidade que tem destaque especial no estímulo ao
empreendedorismo acadêmico é a colaboração em pesquisa e desenvolvimento tecnológico
com a indústria (Algieri et al, 2011). A universidade pode facilitar isso agindo ativamente
para remover barreiras internas a essa colaboração. Essa atividade tem diversos
desdobramentos positivos dentre os quais destacam-se aumentar o financiamento e melhorar a
infraestrutura de pesquisa da universidade (Davey et al, 2016), e colaboram para aumentar o
capital social de empreendedores potenciais.
No que diz respeito ao capital social, de acordo com o levantamento de
Aldridge e Audretsch (2011), dos fatores que caracterizam pesquisadores empreendedores, ele
é o de maior impacto na decisão de empreender. O capital social consiste em canais de troca
de conhecimento que permitem aos acadêmicos conhecer o mercado, e, portanto, os ajudam
35
no processo de identificar oportunidades para empreender. Além disso, colaboram para
preencher a lacuna que frequentemente existe nos pesquisadores de falta de competências
empreendedoras (Hsu et al, 2015; Davey et al, 2016).
1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs
Há uma linha de estudos que se centra na análise dos fatores internos à
universidade empreendedora e busca relacionar a quantidade de atividades de spin-offs com
os recursos das universidades, tais como nível e natureza dos fundos utilizados para financiar
a pesquisa; a estratégia, infraestrutura e sistemas de incentivo à transferência de tecnologia e à
geração de spin-offs acadêmicas. Trata-se, portanto, do que Guerrero & Urbano (2010)
categorizam como fatores formais: os recursos (humanos, físicos e financeiros), como o
capital humano, a estrutura organizacional relacionada ao empreendedorismo e as medidas de
apoio ao empreendedorismo, incluindo educação em empreendedorismo. Nesse corpo de
literatura, são analisados, por exemplo, os papéis dos escritórios de transferência de
tecnologia e estruturas de apoio no processo de criação de novas empresas; o impacto dos
programas educacionais na orientação e desenvolvimento de habilidades e comportamentos
dos estudantes em relação ao empreendedorismo, assim como os sistemas de recompensa.
A forma como os recursos são usados e organizados pode influenciar no
desenvolvimento de spin-offs e no tipo e quantidade de empresas que poderão ser criadas. A
opção por criar poucas empresas que tenham o potencial de se tornar empresas globais e gerar
ganhos significativos de capital ou muitas empresas pequenas voltadas para a criação de
empregos locais demanda um perfil totalmente diferente de alocação e gerenciamento de
recursos por parte da universidade. Essa constatação leva a inferir que o tipo de spin-off que
pode ser criada em uma universidade deve estar alinhada às capacidades e recursos
disponíveis na instituição (Clarysse et al., 2005).
Neste caso, os acadêmicos são os recursos humanos mais importante tanto para a
educação quanto para a geração de inovação por meio da pesquisa (Guerrero & Urbano,
2010). Vários fatores têm sido associados pela literatura ao pesquisador acadêmico que se
envolve em atividades de empreendedorismo. Entre os principais estão: a quantidade de
financiamento governamental para pesquisa recebida pelo pesquisador; a qualidade do
acadêmico (mensurada pelo número de citações); participação em projetos de pesquisa
financiados pela indústria, e o tamanho e a qualificação da equipe de pesquisadores liderada
36
pelo acadêmico (O’Shea et al., 2005; Powers e MacDougall, 2005). Há que se mencionar
ainda os fatores subjetivos, tais como a motivação do acadêmico para empreender, sua
inclinação para formar redes, experiências prévias em empreendedorismo, foco nas atividades
de comercialização e planejamento e o nível de experiência do pesquisador na indústria (o que
também gera um efeito positivo sobre a produção de patentes). Considera-se que os
acadêmicos com experiência prévia em empreendedorismo já acumularam conhecimento
tácito sobre o processo de comercialização de tecnologia e que a experiência no setor privado
pode ter proporcionado o desenvolvimento de habilidades únicas relacionadas à tecnologia ou
invenção que eles pretendem comercializar. A parceria com atores externos à universidade,
por sua vez, pode colaborar para aumentar a produtividade tanto acadêmica quanto comercial
dos pesquisadores (Marion et. al, 2015). Outro aspecto que pode contribuir para aumentar a
produtividade comercial da universidade, e também está diretamente relacionada à
disponibilidade de recursos humanos, é a educação empreendedora, já que se parte do
princípio de que o pesquisador precisa de pessoas qualificadas para criar uma nova empresa e
que esses recursos podem estar disponíveis na universidade se forem preparados para tal.
Atividades educacionais focadas, por exemplo, em design de produto e desenvolvimento,
prototipagem, tendências tecnológicas e criatividade podem capacitar pessoas para fazerem
avançar a ideia original. Outro tópico essencial da educação empreendedora seria a análise de
mercado, por exemplo (Nelson e Byers, 2015).
Em se tratando de recursos financeiros, a literatura destaca que a origem e a
quantidade de recursos direcionados para a pesquisa são determinantes para a geração de spin-
offs, já que a pesquisa financiada com recursos privados tem maior probabilidade de ser
comercializada, enquanto que a pesquisa financiada com recursos oriundos da indústria é mais
suscetível à transferência de tecnologia (O’Shea et. al. 2005; Powers e MacDougall, 2005).
Por outro lado, vale notar que a natureza e área da pesquisa também influenciam na propensão
a comercializar os resultados de pesquisa, já que, como destacam Nelson e Byers (2015), as
áreas de ciências biológicas, ciências da computação e química são mais propensas à criação
de spin-offs. A natureza e a área de pesquisa também determinam a quantidade de recursos
físicos e financeiros e tipos de pessoas, de forma que a infraestrutura da universidade (ou
mesmo a infraestrutura regional) pode não conseguir prover os recursos necessários para uma
ampla gama de setores (Nelson e Byers, 2015).
37
No que diz respeito aos recursos físicos, a literatura observa a presença de
incubadoras de empresas, fundamentais nos primeiros anos de existência das spin-offs,
quando as relações entre pesquisadores e universidades são mais intensas, e também de
research parks (termo mais utilizado nos Estados Unidos) e science parks (termo mais
frequente na Europa) – sendo ambos associados às universidades8. Tanto a incubadora quanto
os parques tecnológicos funcionam como "instituições ponte", tendo por função facilitar a
difusão da pesquisa acadêmica para o setor privado. Nesse sentido, as conexões formais e
informais dos atores do setor privado com os pesquisadores universitários, que são facilitadas
pela proximidade física, são fatores que facilitam essa difusão, especialmente quando a
inovação requer a aplicação de conhecimento e técnicas de fronteira, como observam Link e
Scott (2015).
Já em se tratando de estrutura organizacional, é o escritório de transferência de
tecnologia que serve como um intermediário entre os ofertantes de inovações (os acadêmicos)
e aqueles que podem comercializar essas inovações (firmas, empreendedores e capitalistas de
risco). O escritório de transferência de tecnologia facilita a transferência da propriedade
intelectual produzida na universidade, seja por meio do licenciamento de tecnologia para
firmas existentes ou pela criação de novas empresas, atividade que mais recentemente tem se
estendido também aos estudantes, como visto anteriormente. Ao analisar a contribuição dos
escritórios de transferência de tecnologia das universidades italianas para a criação de spin-
offs, Algieri et al. (2013), observaram que quanto mais anos de experiência tiver o escritório,
maior será a acumulação de conhecimento heterogêneo e melhores serão os resultados em
termos de criação de spin-offs.
A criação de spin-offs sempre apareceu na literatura de empreendedorismo
acadêmico como um dos indicadores de produtividade dos escritórios de transferência de
tecnologia ou como parte do processo de transferência formal de propriedade intelectual da
universidade (Rothaermel et al., 2007). Especialmente na última década, a contribuição dos
escritórios de transferência de tecnologia na criação de spin-offs tem sido analisada de forma
mais específica. Uma das questões apontadas pela literatura diz respeito ao desafio do
escritório de transferência de tecnologia em intermediar conflitos entre os detentores da
8 De acordo com Link e Scott (2015), um research park é um aglomerado de organizações localizadas no
campus universitário (ou perto dele) com o objetivo de beneficiar a base de conhecimento da universidade e das
pesquisas em andamento.
38
invenção (cientistas universitários) e aqueles que podem potencialmente comercializá-la
(firmas, capitalistas de risco e empreendedores). O escritório de transferência de tecnologia
pode ser o elemento central na realização de contratos que equilibrem os ganhos entre
pesquisadores, empreendedores, investidores e universidades, tendo em vista que a criação de
uma spin-off pode gerar retornos financeiros muito mais elevados para a universidade do que
o licenciamento de tecnologia (Siegel e Wright, 2015). Além da questão do balanceamento
dos contratos, os escritórios de transferência de tecnologia devem, em tese, ter mais expertise
que o cientista acadêmico na identificação de oportunidades e desenvolvimento de spin-offs,
além de dispor de uma rede de contatos comerciais (Lockett et. al, 2005).
Por outro lado, há quem afirme, como Clarysse et. al. (2011), por exemplo, que o
papel do escritório de transferência de tecnologia de incrementar as atividades
empreendedoras dos acadêmicos é mais limitado do que se imagina, já que os resultados são
apresentados em termos de transferência formal de tecnologia. Segundo o autor, há que se
incluir aquelas empresas que não foram criadas a partir da transferência formal de tecnologia,
tais como as resultantes do empreendedorismo estudantil. Nessas circunstâncias, cabe
observar que as iniciativas de apoio e conscientização também se estenderam ao corpo
discente, e vão desde a introdução de disciplinas relacionadas ao empreendedorismo até a
organização de eventos para estimular novas iniciativas e proporcionar mentoria (Clarysse et
al., 2009). Nesse sentido, alguns estudos recentes (Siegel e Wright, 2015a; Wrigth et al.,
2017) apontam para a necessidade de se elucidar os fatores por trás da criação spin-offs por
estudantes. Eles mencionam as iniciativas de promoção adotadas pelas universidades, mas
afirmam que ainda não estão claros os motivadores deste tipo de empreendedorismo. A
dificuldade em entender e mapear as redes de atores aos quais os estudantes podem ter se
vinculado é uma das principais razões mencionadas por esta literatura mais recente.
Por fim, vale mencionar entre os fatores internos à universidade, os sistemas de
recompensa, que podem ser monetários (bônus, uso de recursos corporativos e partilha de
lucros) e não monetários (promoções e sistemas de reconhecimento). Os membros da
universidade buscam informações sobre quais atividades são recompensadas pela instituição e
direcionam seu comportamento para essas atividades, de forma que se as universidades
querem fomentar atividades de empreendedorismo, elas devem implementar sistemas de
recompensa também para realizações empreendedoras (além de pesquisa e ensino). Ou seja,
quanto melhor o sistema de recompensa, maior a intenção dos pesquisadores de criar spin-
offs, patentear ou licenciar (Huyghe e Knockaert, 2015).
39
1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade
Todavia, não há como ignorar o ambiente institucional, considerando que o
contexto pode estimular ou restringir o engajamento dos pesquisadores nas atividades de
empreendedorismo (Bercovitz e Feldman, 2008; Huyghe e Knockaert, 2015). Partindo da
abordagem institucionalista – para a qual as instituições podem moldar os objetivos e crenças
dos atores –, Huyghe e Knockaert (2015), destacam que as características das universidades
influenciam no quanto os pesquisadores podem desejar ou não se engajar em atividades
empreendedoras. A partir de uma pesquisa da qual participaram 437 pesquisadores de seis
universidades suecas e alemãs, e que teve como foco investigar o papel do clima e da cultura
organizacional, os autores apresentam evidências de que o contexto das universidades pode
sim moldar as intenções dos pesquisadores em se engajarem na criação de spin-offs e
patenteamento dos resultados das suas pesquisas. Quanto mais as universidades enfatizam o
empreendedorismo acadêmico em suas missões, em comparação às atividades de pesquisa e
ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajar na criação de spin-offs e na
proteção de propriedade intelectual. Por outro lado, as mudanças de contexto dependem do
desejo dos indivíduos de adotar novas regas, rotinas e comportamentos. Sendo assim, se os
indivíduos não estiverem dispostos a aceitar mudanças e aumentar o engajamento nas
iniciativas de criação de spin-offs, não basta que a universidade mude sua estrutura
organizacional de forma a promover o empreendedorismo (Bercovitz e Feldeman, 2008).
Nesse sentido, conforme explicam Monge et al (2011) os principais determinantes
institucionais da criação de spin-offs acadêmicas são: a missão da universidade, sua cultura,
história e tradição. Quanto mais esses fatores estão direcionados à criação de empresas ou à
colaboração com a indústria, maior a propensão de a criação de spin-offs ser escolhida como
mecanismo de comercialização dos resultados de pesquisa. Em contrapartida, a estratégia de
publish or perish, a relação ambígua dos pesquisadores com o dinheiro e a natureza
desinteressada da pesquisa acadêmica frequentemente são forças contrárias que dificultam
qualquer tipo de criação de spin-offs ou até mesmo a transferência de tecnologia por outras
vias (O'Shea et al, 2007b, Monge et al, 2011).
Guerrero e Urbano (2011) sugerem que o modelo conceitual de uma universidade
empreendedora é composto por fatores ambientais e internos. Ainda de acordo com a
abordagem institucionalista, os autores propõem uma divisão dos fatores ambientais em
formais (estrutura de governança e organização empreendedora, medidas de apoio ao
empreendedorismo, e educação empreendedora) e informais (atitudes da comunidade
40
universitária em relação ao empreendedorismo, metodologias de ensino de
empreendedorismo, sistema de incentivos e empreendedores modelo). Os fatores internos, por
sua vez, são divididos em recursos (humanos, financeiros, físicos e comercia) e competências
(status, prestígio, redes e alianças, e localização), de acordo com a visão baseada em
recursos9.
Uma análise estatística de dados de 50 universidades espanholas revelou que os
fatores ambientais são condicionados de forma mais significativa por fatores informais, ou
seja, os fatores mais críticos para determinar o nível de atividade empreendedora das
universidades estão relacionados a uma atitude positiva dos pesquisadores e estudantes acerca
do tema empreendedorismo. Dito de outra forma, os fatores ambientais, se comparados aos
fatores internos, geram uma contribuição maior para as missões das universidades
empreendedoras (Guerrero e Urbano, 2011).
Em seu estudo de caso do MIT, O'Shea et al (2007a) explicam que a literatura que
se dedica a explicar a criação de spin-offs divide-se em quatro principais vertentes:
características pessoais do indivíduo empreendedor, características estruturais e recursos das
universidades, normas sociais e comportamento institucional, e finalmente, o impacto nos
acadêmicos de forças sociais, econômicas e organizacionais. No que diz respeito à terceira
vertente, que argumenta que universidades cuja cultura apoia atividades de comercialização
terão maiores níveis de criação de spin-offs e transferência de tecnologia, os dados do estudo
de caso sugerem que a presença dos seguintes fatores podem ser significativos para explicar o
sucesso do MIT: a excelência em pesquisa (sobretudo interdisciplinar); redes formais e
informais entre governo, indústria e academia; estrutura organizacional (sobretudo escritório
de transferência de tecnologia e programas de empreendedorismo); firme compromisso com a
exploração da pesquisa (políticas claras e aplicadas de maneira consistente no apoio à
formação de start-ups10
por acadêmicos); escritório de transferência de tecnologia dotado de
funcionários com treinamento técnico e experiência na indústria; tradição e histórico de
comercialização de tecnologias radicais via start-ups; atitude positiva dos acadêmicos em
9 Do inglês: Resource Based View (RBV).
10 Ainda que haja diferenças conceituais entre start-up e spin-off, nessa dissertação consideramos que ambas são
sinônimos para empresas resultantes da atividade de empreendedorismo acadêmico. Atualmente, o
empreendedorismo acadêmico abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta
de novas empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional
(Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).
41
relação à comercialização de tecnologias e a criação de empresas e tradição de financiamento
industrial e militar da pesquisa.
Além desses fatores, observa-se um processo sistêmico, a partir do qual os efeitos
de aprendizado de sucessos prévios determinam parcialmente as atividades atuais de spin-off.
O estudo de caso do MIT aponta que a missão original da universidade, o comprometimento
de indivíduos-chave com a atividade de comercialização e o sucesso na criação de spin-offs e
transferência de tecnologia juntos contribuíram para construir uma cultura que hoje
impulsiona a atividade empreendedora (O'Shea et al, 2007a).
Huyghe e Knockaert (2015) abordam a organização como instituição e situam
a pesquisa em uma corrente específica da teoria institucional, chamada de “novo
institucionalismo”. Nessa abordagem teórica, as instituições são instrumentais em moldar os
objetivos e crenças dos atores, que por sua vez, afetam forças motivacionais e
comportamentos. Sendo assim, os autores argumentam que o contexto institucional no qual os
pesquisadores estão inseridos pode estimular ou restringir o engajamento em atividades de
empreendedorismo. Os autores sugerem que as características das universidades, em termos
de cultura organizacional e clima organizacional, influenciam a extensão das atividades
empreendedoras pretendidas pelos pesquisadores. O estudo traz evidências de que as
universidades podem moldar as intenções dos pesquisadores de se engajarem na criação de
spin-offs, patenteamento e interação com a indústria, ao oferecerem um ambiente institucional
que promova o empreendedorismo acadêmico. Quanto mais as universidades enfatizam o
empreendedorismo acadêmico em suas missões em comparação às missões tradicionais de
pesquisa e ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajarem na criação de
spin-offs e propriedade intelectual. Outros aspectos que se destacam são a presença de
modelos de empreendedores11
que levam ao fortalecimento das intenções por parte dos
pesquisadores em imitar o mesmo mecanismo de comercialização, e melhores sistemas de
recompensa, que impactam significativamente a intenção dos pesquisadores de criar spin-offs,
patentear ou licenciar.
Instituições que ainda não têm uma base cultural favorável à atividade
empreendedora devem tomar iniciativas práticas e criar mecanismo abrangentes, que tornem
claro que existe apoio institucional ao empreendedorismo. Por exemplo, normas
departamentais, receptividade do escritório de transferência de tecnologia, participação
11 Do original em inglês: role-model.
42
adequada dos pesquisadores nas receitas de transferência de tecnologia (sejam elas royalties
ou equity) ou políticas de licença favoráveis, para que os acadêmicos possam se afastar da
universidade por um período de tempo para empreender (Siegel et al, 2004, O'Shea et al,
2007b, Hsu et. al, 2015).
1.3.4. Indivíduos nas atividades de empreendedorismo
O foco nos indivíduos – cientistas alocados em uma instituição de pesquisa que
tem, entre suas missões, as atividades de empreendedorismo – é uma tendência crescente
entre os estudos sobre empreendedorismo acadêmico. As diferenças entre os indivíduos estão
no centro das discussões da literatura sobre empreendedorismo em geral. As características
pessoais dos indivíduos, tais como personalidade, idade e histórico acadêmico e até mesmo o
papel da genética (ver Nicolaou et al, 2008) são aspectos que, acompanhados pelo contexto
social, são utilizados pela literatura sobre empreendedorismo para explicar a tendência a se
tornar empreendedor. Todavia, até o final dos anos 2000, a falta de pesquisas focadas nas
motivações que levavam os indivíduos à decisão de iniciar um negócio era considerada como
uma lacuna significativa na literatura sobre empreendedorismo acadêmico
(Rohthaermel et al., 2007; Krabel e Mueller, 2009). Desde então, as intenções, percepções e a
possível influência do contexto no qual os indivíduos estão inseridos são temas de pesquisa
cada vez mais recorrentes neste corpo de literatura. Além de se tornaram mais frequentes na
última década, os estudos que têm como objeto de pesquisa o indivíduo ampliaram o escopo
da análise ao buscar entender quais fatores influenciam a intenção de empreender dos
indivíduos.
Começando por investigar a disposição do indivíduo para empreender, não há
como fazer uma separação binária entre cientistas que estão dispostos a empreender e os que
não estão dispostos a empreender em nenhuma circunstância, seja por ideologia ou qualquer
outro fator. Em pesquisa recente, Holley e Watson (2017) demonstram que há quatro
categorias de cientistas: os não-empreendedores, que consideram que as atividades de
empreendedorismo ou não estão relacionadas às suas áreas de pesquisa ou prejudicariam a
qualidade da pesquisa; os semi-emprendedores, que veem essas atividades como
complementares e também uma forma de trazer recursos adicionais para a universidade, mas
não como a função primária da instituição; os pre-empreendedores, que estão dispostos a criar
uma empresa e licenciar parte da sua propriedade intelectual, mas afirmam que os escritórios
43
de transferência de tecnologia não reconhecem o valor da suas ideias; e, por fim, os
empreendedores, que são aqueles cientistas que já criaram ou estão ativamente envolvidos na
criação de uma empresa. Estes últimos indivíduos destacam que as características dos projetos
nos quais eles estavam envolvidos, os mecanismos de apoio disponíveis (especialmente no
que diz respeito a financiamento) tiveram grande impacto nas intenções de comercializar seus
resultados de pesquisa. Ou seja, o comportamento empreendedor não deriva somente da
disposição do cientista, mas também é influenciado pelo projeto em que está envolvido e os
mecanismos de suporte disponíveis (Holley e Watson, 2017).
O estudo de Krabel e Muller (2009) busca contribuir para esse tema ao analisar os
empreendedores nascentes da Max Planck Society (MPS). O conceito de empreendedorismo
nascente não aborda o resultado da atividade empreendedora, o novo negócio, mas concentra-
se na análise de como esses novos negócios emergiram. Ao tomar como objeto de pesquisa os
empreendedores nascentes, os autores visam obter um quadro detalhado do potencial do
empreendedorismo acadêmico, independentemente se as ações irão resultar na formação de
uma nova empresa ou não. Com isso, eles demonstram que os empreendedores acadêmicos
sempre começam com uma ideia inovadora antes de se engajarem nas atividades de
empreendedorismo. As atividades de patenteamento e empreendedorismo seguem
uma sequência linear no processo de comercialização. Os cientistas que têm um
relacionamento consistente de cooperação com a indústria são mais propensos a iniciar um
novo negócio; e a experiência na criação de empresas ou de ser proprietário de uma empresa é
um indicativo consistente de que os cientistas poderão se envolver em atividades de
empreendedorismo. A questão da influência da experiência prévia do cientista no setor
privado deve-se ao fato de que a capacidade empreendedora está diretamente relacionada com
a capacidade empresarial, que por sua vez, é definida como a capacidade de identificar,
reconhecer e absorver as oportunidades, e com a experiência empresarial (envolvimento
prévio com atividades empreendedoras).
Há quem questione quais fatores tem mais ou menos impacto nas intenções do
indivíduo de empreender e também na concretização dessas intenções. Para Bart et al. (2011),
a capacidade de reconhecimento de oportunidade é a variável mais importante para prever se
um acadêmico se envolverá em atividades empreendedoras ou não. Ainda segundo o autor,
embora a literatura enfatize o papel das normas sociais de determinado departamento para
estimular ou não o engajamento do indivíduo em atividades empreendedoras, as normas
sociais são muito mais difíceis de prever se comparadaxs com a capacidade
44
empreendedora. Vale observar que o reconhecimento de oportunidades é visto como um dos
aspectos mais destacados na literatura sobre empreendedorismo em geral, de forma que
quando se trata das análises relacionadas às intenções do indivíduo de empreender, ocorre
uma sobreposição entre os dois corpos de literatura (empreendedorismo e empreendedorismo
acadêmico).
Para entender como o reconhecimento de oportunidades ocorre, os estudos
geralmente focam no processo cognitivo que relaciona as percepções de oportunidade,
habilidade e controle com as intenções de empreender. As intenções de empreender podem
ser vistas, de acordo com a teoria do comportamento planejado – um modelo psicológico de
intenções que inclui atitudes, normas sociais e comportamentos percebidos como meios de
previsão das intenções dos acadêmicos de empreender –, como um meio de previsão do
comportamento planejado relacionado à abertura de um novo negócio. Partindo dessa
teoria, Prodan e Drnovsek (2010) desenvolvem várias hipóteses para testar os fatores que
podem influenciar positivamente as intenções de empreendedorismo acadêmico e as
percepções de chances de sucesso de empreendedorismo acadêmico12
, tomando como base os
casos da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, e da Universidade de Ljubliana, da
Eslovênia. Para ambos os casos, os resultados apontam que o número de patentes, a
prevalência da pesquisa aplicada (tipo de pesquisa), o papel dos empreendedores modelo e o
número de patentes estão positivamente relacionados com as intenções dos acadêmicos de
empreender. Por outro lado, a cooperação com a indústria não está positivamente relacionada
e o número de anos passados na instituição acadêmica está negativamente relacionado às
intenções de empreender dos acadêmicos.
Partindo da mesma abordagem teórica, Goethener et al. (2012) combinam a teoria
do comportamento planejado, com variáveis econômicas (capital social e humano dos
cientistas assim como os benefícios esperados resultantes do engajamento em atividades
empreendedoras) para observar o efeito indireto das variáveis econômicas e o efeito direto das
variáveis comportamentais. A partir da aplicação deste modelo, os autores observam que as
intenções de empreender são muito mais influenciadas por fatores pessoais (atitudes e
controle percebido) do que pelos fatores associados ao contexto. O contexto somente tem um
papel relevante, segundo os autores, quando os cientistas se identificam muito com seus
pares. Nesse sentido, presença de empreendedores modelo na universidade é um aspecto
12 Do inglês: academic-entrepreneurial self-efficacy.
45
bastante destacado neste corpo de literatura, pois acredita-se que ele pode levar ao
fortalecimento das intenções por parte dos pesquisadores de replicar o mesmo mecanismo de
comercialização. Segundo Bercovitz e Feldeman (2008), a exposição do indivíduo ao
comportamento de seus colegas de trabalho da instituição atual pode influenciar sua decisão
de participar de iniciativas do gênero. Ademais, quando o chefe de departamento é atuante em
transferência de tecnologia, a propensão de os outros membros do departamento se engajarem
em atividades de empreendedorismo é maior.
Todavia, embora Gothener et.al (2012) não tenham encontrado evidências sobre o
efeito do texto, outros autores destacam que ele pode sim estimular ou refrear o engajamento
dos pesquisadores nas atividades de empreendedorismo (Bercovitz e Feldman,
2008; Huyghe e Knockaert, 2015). Partindo da abordagem institucionalista – para a qual as
instituições podem moldar os objetivos e crença dos atores –, Huyghe e Knockaert (2015),
destacam que as características das universidades influenciam o quanto os pesquisadores
podem desejar ou não se engajar em atividades empreendedoras. A partir de uma pesquisa na
qual participaram 437 pesquisadores de seis universidades suecas e alemãs, e que teve como
foco investigar o papel do clima e da cultura organizacional, os autores apresentam evidências
de que o contexto das universidades pode sim moldar as intenções dos pesquisadores de se
engajarem na criação de spin-offs e patenteamento dos resultados de suas pesquisas. Quanto
mais as universidades enfatizam o empreendedorismo acadêmico em suas missões,
comparadas às outras duas missões (pesquisa e ensino), maiores são as intenções dos
cientistas de se engajarem na criação de spin-offs e proteção de propriedade intelectual. Por
outro lado, as mudanças de contexto dependem do desejo dos indivíduos de adotar novas
regas, rotinas e comportamentos. Sendo assim, se os indivíduos não estiverem dispostos a
aceitar mudanças e aumentar o engajamento nas iniciativas de criação de spin-offs, não basta
que a universidade mude sua estrutura organizacional de forma a promover o
empreendedorismo (Bercovitz e Feldeman, 2008).
Ademais, vale observar que as intenções de se engajar em atividades
empreendedoras não fazem parte do escopo de análise desta dissertação, todavia há que se
mencionar, ainda que brevemente, esta linha de estudos como parte da revisão da literatura, e
também atentar para o fato de que ao buscar identificar os aspectos que influenciam as
intenções de empreender, os estudos apresentam uma série de fatores (papel dos
empreendedores modelo, tempo do pesquisador na universidade, tipo de pesquisa, experiência
46
prévia em empresa etc.) que ajudam a entender porque algumas universidades empreendem
mais do que outras.
1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a
criação de spin-offs
Como visto nas seções anteriores, os fatores que influenciam a criação de spin-
offs são abordados por óticas diversas (do indivíduo, da universidade, do contexto etc.) e cada
uma dessas óticas delimita um conjunto específico de fatores. Todavia, ainda que essa
pesquisa seja realizada pela ótica da universidade, todos os fatores apontados pela literatura
ajudam a explicar o empreendedorismo acadêmico. Prova disto é que os fatores se sobrepõem
nos diferentes vieses de literatura acima mencionados. Sendo assim, Quadro 1.1 apresenta
uma consolidação desses fatores, que irá orientar as análises posteriores desta dissertação.
47
Quadro 1.1 Consolidação dos fatores que influenciam a criação de spin-offs
Fator
Principais componentes
Contexto externo à
universidade
a. Marco legal de inovação
b. Parcerias e redes
c. Capital de risco
d. Interação e colaboração com indústria e governo
e. Financiamento da indústria
f. Localização
Contexto interno à
universidade
a. Capacitação de recursos humanos para empreendedorismo
b. Qualidade dos pesquisadores
c. Origem e volume do financiamento à pesquisa
d. Área de pesquisa
e. Incubadora
f. Parque científico/tecnológico
g. Escritório de transferência de tecnologia
h. Sistema de recompensa
Contexto
sociocultural da
universidade
a. Ênfase do empreendedorismo acadêmico na missão da universidade
b. Cultura
c. História
d. Tradição
e. Atitude positiva de pesquisadores e estudantes
sobre empreendedorismo acadêmico
f. Compromisso com a exploração da pesquisa
Características e
percepções dos
indivíduos
a. Personalidade
b. Idade
c. Histórico acadêmico
d. Grau de disposição a empreender
e. Capacidade de reconhecimento de oportunidade
Fonte: elaboração própria
48
CAPÍTULO 2.
2. Universidade de Cambridge e Unicamp: perfil da atividade empreendedora, contextos
interno e externo às universidades e seu impacto no empreendedorismo acadêmico
2.1. Introdução
O presente capítulo apresenta e discute os dados relativos aos dois casos de
empreendedorismo acadêmico estudados nesta dissertação: a região no entorno da
Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e no entorno da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), no Brasil. O capítulo é composto por 3 itens, incluindo essa introdução.
No capítulo anterior, que apresenta a revisão da literatura, identificamos quatro
fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito
acadêmico: (i) contexto interno à universidade, (ii) contexto externo à universidade, (iii)
contexto sociocultural da universidade e (iv) características pessoais dos indivíduos. O
presente estudo de caso irá se concentrar em um levantamento de dados de fontes secundárias
acerca dos dois primeiros fatores (contextos interno e externo à universidade), uma vez que a
análise dos outros dois (contexto sociocultural e características pessoais) requer um
levantamento de dados de fontes primárias cujo escopo não é compatível com o horizonte
temporal nem tampouco com a extensão de uma dissertação de mestrado.
Para uma análise adequada do contexto sociocultural seria necessário levantar,
para as regiões de Cambridge e da Unicamp, informações sobre clima e cultura
organizacional das universidades, atitude de pesquisadores sobre o tema empreendedorismo,
normas sociais e comportamento institucional, dentre outros. Já no que diz respeito às
características pessoais dos indivíduos, seria preciso levantar dados sobre características
pessoais dos pesquisadores (personalidade, idade, histórico empreendedor na família etc)
disposição a empreender, percepção de oportunidade e de chances de sucesso. Tal
levantamento traz consigo dois desafios metodológicos: não só requer acesso a fontes
primárias, como também se trata de um conjunto de informações de caráter eminentemente
subjetivo. Diante disso, optamos por delimitar nossa análise no campo dos dados secundários
e objetivos.
49
Assim, o item 2 deste capítulo inicia-se com os resultados de nosso levantamento
sobre empreendedorismo acadêmico no entorno de ambas universidades - no total listamos 16
variáveis13
sobre quase 1500 empresas. Em seguida, apresentamos os fatores externos
(localização, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e
redes), e internos (política de propriedade intelectual da universidade, escritório de
transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica14
, transferência de tecnologia
na universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico) às universidades
que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito acadêmico. E
finalmente no item 3, apresentaremos as semelhanças e diferenças entre os dois casos
estudados.
2.2. Estudos de caso das regiões de Cambridge e Campinas: resultados de
empreendedorismo acadêmico e fatores internos e externos às universidades que
impulsionam a criação de empresas
2.2.1. Reino Unido e Cambridge
2.2.1.1. Empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge
Realizamos um levantamento não exaustivo das empresas oriundas de Cambridge
e localizamos 961, fundadas entre 1965 e 201715
. O levantamento foi realizado em quatro
fontes distintas, uma vez que constatamos que não há uma listagem centralizada feita pela
universidade ou qualquer outra instituição. Nossas fontes são: (i) listagem do Laboratório de
Computação da universidade, (ii) listagem da Faculdade de Química da universidade, (iii)
listagem do website www.spionoutsuk.co.uk e (iv) busca na base de dados Crunchbase16
13 As variáveis levantadas sobre cada empresa foram: nome, ano de fundação, nome dos fundadores, setor de
atividade principal e secundário, categoria, se exporta, número de funcionários, cidade e país da sede, demais
endereços, se tem filial no mesmo país ou no exterior, se foi vendida, se fechou e website.
14 Nessa dissertação consideraremos como sinônimos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo
de Inovação tecnológica (NIT).
15 Para fins de estatísticas, optamos por não considerar as empresas fundadas em 2017, uma vez que o
levantamento foi realizado antes do encerramento do ano.
16 https://www.crunchbase.com/
50
(nesse caso, aplicou-se a opção “University of Cambridge” no filtro "universidade em que
estudaram os fundadores").
Após extensiva busca por uma lista centralizada, consultamos em abril de 2017 o
escritório de transferência de tecnologia da universidade de Cambridge e fomos informados
pela Diretora de Marketing e Comunicação, Shirley Jamieson, de que de fato não há nenhum
tipo de diretório geral, uma vez que "a quantidade de empresas oriundas da universidade é
muito grande e seria impossível rastrear todas". Recebemos três sugestões de fontes de
listagens parciais, todas as quais já havíamos consultado – e que compõem as fontes deste
trabalho.
Conforme explicam Garnsey e Heffernan (2005), nunca houve um levantamento
oficial de todas as empresas fundadas por membros da Universidade de Cambridge - há
listagem apenas daquelas em que a universidade investiu, que, todavia, representam uma
porcentagem muito pequena do total. Além disso, em uma visita nossa a Cambridge em 2013,
o diretor do Saint John’s Innovation Centre17
, David Gill, explicou que não há nenhum tipo
de levantamento abrangente, periódico e estatisticamente confiável de empresas oriundas da
universidade. Isso, porém, não é visto como uma lacuna. De acordo com o Cambridge
Technopole Report (2008), esse “caos construtivo” em que não há um grupo único que
centraliza atividades e organiza Cambridge, resulta em um ambiente altamente empreendedor,
ou seja, é um fator importante para o surgimento contínuo de novas iniciativas de todos os
tipos.
Para estimar qual a participação de nossa amostra no total de empresas oriundas
da universidade de Cambridge, recorremos ao estudo de Druilhe & Garnsey (2004), que
afirma que aproximadamente 20% das empresas da região tem um fundador ligado à
universidade. Usamos também informações do Cambridge Cluster Map, uma iniciativa
conjunta da Universidade de Cambridge, o banco britânico Barclays e o grupo Cambridge
Ahead, de acordo com a qual em 2016/17 havia na região um total de 24.649 empresas ativas.
Daí concluímos que 4.930 empresas ativas na região tem um fundador ligado à universidade,
portanto, nossa amostra de 961 empresas corresponde a 19,5 % do total.
17
Fundado em 1987 em terreno de propriedade do St John's College, o Saint John’s Innovation Centre é uma das
primeiras incubadoras de base tecnológica do Reino Unido. Foi inspirada em grande medida pelo sucesso do
Cambridge Science Park e pelo impacto do primeiro relatório Cambridge Phenomenon (1985). Construída em
várias etapas, hoje é o centro de um pequeno parque científico de mesmo nome (St John's Innovation Park).
51
Ressalte-se que tanto no caso de Cambridge quanto no de Campinas se optou por
trabalhar com amostras não probabilísticas, ou seja, não houve aleatoriedade para a escolha
dos elementos. Os indivíduos empregados nessa pesquisa foram selecionados de acordo com
as fontes de informação que logramos encontrar e acessar, e não por meio de um critério
estatístico. Assim, sabemos que não podemos fazer afirmações gerais com rigor estatístico
sobre a população (não é possível estabelecer uma margem de erro e níveis de confiança, por
exemplo). Todavia, acreditamos que essa seleção por conveniência não introduziu nenhum
viés significativo em relação à população total, de forma que os resultados obtidos são uma
boa imagem do universo estudado - dadas, naturalmente, as limitações dessa forma de
amostragem.
A partir dos resultados desse levantamento a primeira característica que nos
chama a atenção diz respeito à a cronologia da criação anual de empresas. Embora a primeira
tenha sido criada na década de 1960, a atividade empreendedora na região só começa a
apresentar crescimento significativo três décadas depois, e em alguns anos chega a ocorrer a
criação de quase 80 empresas, conforme ilustra o Gráfico 2.1.
Gráfico 2.1 Empresas criadas por ano na região de Cambridge
Fonte: elaboração própria.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1965 1975 1985 1995 2005 2015
Qu
an
tid
ad
e d
e e
mp
resa
s cri
ad
as
Ano de fundação
52
Gráfico 2.2 a seguir é uma tentativa de estabelecer uma correlação entre a criação
anual de empresas e eventos internos à universidade de Cambridge (tais como criação do
escritório de transferência de tecnologia e da nova política de propriedade intelectual) e
externos (como por exemplo o arcabouço legal de inovação no âmbito nacional). Observa-se
uma intensificação da atividade empreendedora a partir da década de 1990, que coincide com
o aumento de iniciativas para estimular e viabilizar a exploração comercial de propriedade
intelectual da universidade e o empreendedorismo acadêmico, sugerindo que talvez haja uma
relação causal entre esses eventos. Todavia, a última dessas iniciativas data de 2008, e a
quantidade de empresas criadas continua a crescer nos anos subsequentes, sugerindo que,
além desses, há também outros fatores a influenciar o empreendedorismo acadêmico na região
de Cambridge.
53
Gráfico 2.2 Universidade de Cambridge: Empresas criadas por ano e eventos
importantes no marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1963-2016)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90 1
94
01
95
01
96
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97
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98
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99
02
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kills
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Nat
ion
"
54
Um aprofundamento na questão da tendência de crescimento da quantidade de
empresas criadas anualmente revela que ela é muito semelhante à tendência de aumento na
quantidade de alunos matriculados em mestrado e doutorado na universidade de Cambridge,
conforme ilustra o Gráfico 2.3. Uma vez que o empreendedorismo acadêmico está
eminentemente ligado à atividade de pesquisa e frequentemente é desempenhado por
estudantes de pós-graduação, é de se esperar que aumente em taxa semelhante à de
crescimento de alunos matriculados nesse nível. A quantidade de alunos de graduação, por
sua vez, permanece praticamente inalterada ao longo dos 22 anos analisados, enquanto que a
quantidade de empresas praticamente quintuplica, de tal modo que não parece haver nenhuma
correlação direta entre essas duas variáveis.
Gráfico 2.3 Quantidade de empresas criadas por ano e de alunos matriculados em
graduação e em pós-graduação na Universidade de Cambridge (1994-2016)18
Fonte: elaboração própria a partir de dados do relatório anual do escritório de transferência de tecnologia e
anuário estatístico da universidade.
18
Escolhemos o intervalo de 1994 a 2016 porque a universidade de Cambridge não disponibiliza dados
anteriores de quantidade de alunos matriculados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016
Em
pre
sas
cri
ad
as
Alu
no
s m
atr
icu
lad
os
Ano
Linear (Alunos matriculados Graduação) Linear (Alunos matriculados mestrado + doutorado) Linear (Empresas criadas)
55
Outro ponto interessante que se depreende da análise dos dados das empresas é a
quantidade de funcionários, conforme ilustra o Gráfico 2.4. A quantidade de empresas de
grande porte19
é muito pequena: são 7 com 501 a 1.000 funcionários, 2 com 1.001 a 5.000, e
apenas 1 com 5.001 a 10.000 e 1 com mais de 10.000 funcionários. O que há em maior
número são pequenas e médias: mais de 80% da amostra tem entre 1 e 50 colaboradores.
Gráfico 2.4 quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região de
Cambridge
Fonte: elaboração própria.
Finalmente, observa-se a presença de concentração setorial, uma vez que mais
da metade das empresas oriundas da universidade de Cambridge estão em três setores de
atuação: 32% em tecnologia da informação e telecomunicações, 12% em software e 8% em
biotecnologia.
19
De acordo com o IBGE, configura-se como empresa de grande porte aquela com mais de 500 funcionários.
43%
39%
17%
1 a 10
11 a 50
51 a 200
501 a 1000
1001 a 5000
5001 a 10000
>10000
56
2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge
2.2.1.2.1. Localização
A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor20
bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. A cidade
está localizada em uma área de 115,6 km² e sua população é de 113.600 pessoas, por sua vez
a região metropolitana em seu entorno, que engloba outras 19 cidades, ocupa uma área de 184
km² e tem 360.000 habitantes.
O entorno de Cambridge abriga 4.733 empresas intensivas em tecnologia, que
juntas empregam mais de 60 mil pessoas e tem faturamento de £12,3 bilhões21
. Além disso,
há três universidades, 19 parques científicos e comerciais, 6 incubadoras, 10 fundos de
venture capital, 4 grupos de investidores anjo, um de investimento semente, um fundo de
prova de conceito e diversos centros de pesquisa e desenvolvimento (das universidades, de
empresas de vários portes e do governo), dentre outros. No início, havia na região
essencialmente empresas de engenharia e computação, porém hoje há maior concentração nas
áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e biotecnologia (Kirk & Cotton,
2012).
Todavia, a região nem sempre foi marcada pela atividade empreendedora. Até a
década de 1970 havia, de ambas as partes, muita resistência contra o relacionamento entre
universidade e empresa e, consequentemente, pouquíssimos casos de interação. Do mesmo
modo, tanto a universidade quanto os governos municipal e do condado eram contra
atividades comerciais e a expansão industrial na cidade e em seu entorno (Kirk & Cotton,
2012). Assim, até esse período Cambridge era uma cidade marcada pela forte presença da
universidade, mas praticamente desprovida de empresas de base tecnológica.
20
De acordo com Mason & Brown (2014), ecossistema empreendedor é "um conjunto de atores empreendedores
(existentes ou potenciais) inter-relacionados, organizações empreendedoras (ex. empresas, capitalistas de risco,
investidores anjo, bancos etc.), instituições (universidades, agências públicas e de financiamento) e processos
empreendedores (ex. taxa de surgimento de empresas, quantidade de empresas de alto crescimento e de
empreendedores seriais e de grande sucesso etc.) que unem-se para, formal e informalmente, conectar, mediar e
governar o desempenho dentro do ambiente empreendedor local" ou ainda, segundo Neck et al (2004),
“ecossistemas empreendedores são definidos como os componentes de sistemas empreendedores que promovem
a criação de novas empresas em um contexto regional específico”.
21 Fonte: www.camclustermap.com, acessado em 21/03/2018.
57
Em 1969 o relatório Mott Report recomendou a construção de um parque
científico em Cambridge. Por consequência, em 1973 ocorreu a fundação
do Cambridge Science Park por um college da universidade e também alterações no
zoneamento da cidade, que até então havia sido extremamente restritivo em relação a
atividades empresariais e industriais - além de antiquado em suas definições de
tais atividades (Kirk & Cotton, 2012).
Mais do que isso, porém, o Mott Report recomendava para a cidade de Cambridge
e seu entorno uma expansão da indústria baseada em ciência, de modo a usufruir ao máximo
de sua concentração de conhecimento científico, laboratórios e bibliotecas, bem como para
aumentar a retroalimentação da indústria para a comunidade científica local.
Em 1985 já havia 360 empresas de alta tecnologia na região, que hoje é tida como
um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. As principais áreas tecnológicas com
representação na região são: tecnologia da informação e comunicação, biotecnologia,
eletrônica, instrumentação e nanotecnologia (Minshall & Gill, 2013).
A proximidade com Londres - localizada a 90 km ao sul de Cambridge - também
é um fator importante para o dinamismo empreendedor da região. Ao norte de Cambridge há
uma área agrícola e exígua presença de parques, empresas, laboratórios ou centros de
inovação. Já ao sul da cidade, conforme se pode ver na Figura 2.1, há uma considerável
concentração de parques e empresas, sobretudo da área farmacêutica, e a proximidade com a
capital faz dessa área uma espécie de extensão da cidade de Cambridge. Além disso, Londres
concentra serviços financeiros, contábeis, imobiliários e de advocacia, que também são
oferecidos em Cambridge, porém em menor escala. A curta distância e a boa infraestrutura de
transporte público facilitam a circulação entre as duas cidades e contribuem para o
fortalecimento da atividade empreendedora no entorno de Cambridge.
58
Figura 2.1 - Mapa da cidade de Cambridge e localização dos principais parques
Fonte: The Cambridge Phenomenon: 50 Years of Innovation and Enterprise (2012).
59
2.2.1.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Reino Unido
Ao contrário do Brasil com a Lei de inovação (lei nº 10.973/2004) ou dos Estados
Unidos com o Bayh Dole Act (1980), o Reino Unido não dispõe de uma legislação única de
estímulo à inovação. Isso, porém, não significa que o tema não seja de importância para o
governo. Pelo contrário, a inovação é considerada peça central na estratégia de
desenvolvimento econômico do país, e é apoiada por um conjunto de planos, relatórios,
recomendações e revisões periódicas. Ou seja, o governo é responsável pela articulação entre
os atores do sistema de inovação do país, bem como pela definição, implementação e
financiamento de políticas e programas de incentivo à inovação (López-Ruiz, 2010; Toledo,
2015).
No início da década de 1990 dois eventos importantes marcam o início da
preocupação sistemática do governo federal com o fomento à inovação tecnológica: em 1992
foi criado, junto ao parlamento britânico, o Escritório de Ciência e Tecnologia, e em 1993 o
relatório Realising our potential apresenta a nova visão do governo sobre a importância da
ciência e da pesquisa para o progresso econômico e a melhoria da qualidade de vida da
população. O relatório destacou a importância de melhorar a alocação de recursos
governamentais para ciência e tecnologia, com vistas a reduzir a discrepância entre a
excelência nacional em ciência e tecnologia e a - comparativamente diminuta - capacidade de
explorá-las comercialmente.
Desde que chegou ao poder em 1997, o governo trabalhista enfatizou
sistematicamente a política de inovação do Reino Unido, com o objetivo de reduzir a
defasagem de produtividade com relação a outros países desenvolvidos como França,
Alemanha e Estados Unidos. Tal defasagem, segundo o relatório Productivity in the UK: the
evidence and the Government’s approach, de 2000, devia-se ao déficit nacional de capital
humano e físico, bem como às taxas de inovação baixas quando comparadas com outras
economias de porte similar.
A publicação pelo governo federal da revisão Lambert Review22
, em 2003, é um
marco nas relações entre academia e indústria no Reino Unido. Ao analisar as relações entre
universidade e empresa, o documento apresenta uma série de recomendações para melhorar a
distribuição de direitos de propriedade intelectual entre esses dois atores, além de indicar que
22
Lambert Review of Business-University Collaboration: Final Report, 2003.
60
a maioria das empresas prefere alocar suas atividades de P&D perto de centros de pesquisa de
excelência. A revisão apontou ainda para a necessidades de maior apoio do governo para as
colaborações entre universidade e empresa, bem como a importância de as universidades
aprenderem a identificar áreas de pesquisa com vantagens competitivas. Além disso, destaca
que as empresas devem aprender a explorar comercialmente as ideias inovadoras
desenvolvidas na universidade (Straw, 2009; Wilson, 2012, Dodgson & Staggs, 2012).
No ano seguinte, em 2004, o governo publica sua resposta à Lambert Review:
um plano de 10 anos de investimento em ciência e tecnologia23
. Esse documento tinha os
objetivos de (i) viabilizar a redução da defasagem entre a excelência nacional em ciência e
tecnologia e a capacidade de explorá-las comercialmente, e (ii) aumentar a porcentagem do
produto interno bruto24
investida em pesquisa e desenvolvimento25
.
Em 2008 é lançado um documento importante no âmbito da formulação da
política de inovação do Reino Unido: o relatório Innovation Nation26
. Trata-se de um
documento que explicita o intuito do governo de fazer da inovação peça central do progresso
nacional (Straw, 2009; Lópes-Ruiz, 2010).
Concomitantemente à criação dos planos, relatórios, recomendações e revisões
periódicas apresentados, o governo investiu na fundação de um conjunto de órgãos que
orientam, financiam e estimulam a estratégia de inovação no Reino Unido. O Quadro 2.1 lista
os principais órgãos, seu ano de fundação e escopo de atuação.
23
Science and Innovation Investment Framework 2004-2014.
24 Segundo o relatório Productivity in the UK: the evidence and the Government’s approach (2000), em 1990 os
investimentos em P&D correspondiam a 2,2% do PIB, enquanto que em 1999 passaram a representar apenas
1,9%.
25 Para tanto, propunha: (i) aumentar a participação da pesquisa e desenvolvimento no produto interno bruto de
1,9% para 2,5%, (ii) aumentar em 50% os gastos com ciência, (iii) disponibilizar mais de £1 bilhão para apoiar a
atividade inovativa através de conselhos de pesquisa e agências regionais de desenvolvimento, (iv) introduzir
uma linha de crédito para estimular a inovação em pequenas e médias empresas.
26 Esse relatório foi completado por outro documento que definiu a estratégia a ser seguida pelo Technology
Strategy Board na implantação das políticas de inovação nos anos seguintes chamado Connect and Catalyse: a
Strategy for Business Innovation 2008-2011.
61
Quadro 2.1 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Reino Unido
Ano de fundação Nome Escopo de atuação
1992
Higher Education
Funding Council for
England (HEFCE)
Distribui recursos públicos para universidades
investirem em ensino, pesquisa e atividades de
terceira missão.
2001
Higher Education
Innovation Fund
(HEIF)
Responsável por todo o financiamento direto
recebido pelas universidades, parte do qual é
usado para promover a interação universidade-
empresa. As universidades têm liberdade para
escolher como investirão esses recursos, de
acordo com sua missão e as especificidades do
local em que estão instaladas.
2007
Department for
innovation, universities
and skills (DIUS)
Principal agente da política de inovação do
Reino Unido, e responsável pela coordenação
de diversos outros órgãos. Serve para
aprimorar a base de pesquisa do Reino Unido
e, simultaneamente, potencializar o papel dessa
base no apoio à inovação.
2007 Technology Strategy
Board (TSB)
Elemento central da estratégia de inovação do
governo britânico. Tem atuação transversal
dentro do governo, incentiva a relação
universidade-empresa e estipula áreas
prioritárias de inovação. Um dos principais
focos é investir em novos negócios que
exploram comercialmente resultados de
pesquisa.
2009 Intellectual Property
Office (IPO)
Disponibiliza estrutura de propriedade
intelectual, possibilitando que inventores e
usuários se beneficiem de novas ideias e
conhecimentos. Fonte: elaboração própria a partir de Straw (2009), Lópes-Ruiz (2010), Wilson (2012) e Witty (2013).
Nota-se, portanto, que no Reino Unido as três últimas décadas foram marcadas
pelo surgimento e fortalecimento de um abrangente arcabouço organizacional que busca
envolver os diferentes atores que participam do processo inovativo. Nesse sentido, destacam-
se os relatórios Realising our Potential (1993), Lambert Review (2003) e Innovation Nation
(2008) bem como os órgãos listados no Quadro 2.1.
62
2.2.1.2.3. Transferência de tecnologia: iniciativas e posicionamento do governo e das
universidades no Reino Unido
Há três estágios no processo de estímulo à exploração comercial da pesquisa no
Reino Unido: primeiramente, até aproximadamente a década de 1980 as universidades
publicavam os resultados de sua pesquisa e a indústria cuidava de assuntos relativos à
propriedade intelectual e se ocupava de transformar tais resultados em inovação. Em um
segundo momento, as universidades passaram a ser incentivadas a desenvolver seu próprio
portfólio de propriedade intelectual, envolvendo-se em atividades de patenteamento,
licenciamento e criação de spin-offs. Finalmente, a partir de meados da década de 1990, esse
modelo linear de exploração da pesquisa é abandonado e substituído por um que reconhece a
existência de relações mais variadas e complexas entre universidade e empresa (Wilson,
2012).
Em 1948 o governo federal criou o National Research Development Corporation
(NRDC) - que mais tarde transformou-se em British Technology Group (BTG) - com o
direito exclusivo de comercializar toda a propriedade intelectual britânica financiada pelo
governo. Como a maior parte da pesquisa realizada em universidades no país é financiada
pelo governo, a partir de sua criação o NRDC passa a ter direito exclusivo sobre a maioria da
propriedade intelectual universitária do Reino Unido (Lockett et al, 2013).
Até as décadas de 1960-1970 a interação universidade-empresa era muito reduzida no
Reino Unido, e o pouco que havia era de natureza fragmentada. Via de regra, os acadêmicos
se opunham a parcerias e colaborações com a indústria, e consideravam que suas atividades
deveriam se restringir à pesquisa e ao ensino (Clark, 1998; Lockett et al, 2013). Esse cenário
começa a mudar quando o governo Conservador, que assume o poder em 1979, compele as
universidades, através de reduções em suas fontes de receita, a abrir escritórios de
transferência de tecnologia para comercializar sua propriedade intelectual27
. Contudo, não
havia políticas públicas sistemáticas para apoiar as atividades de comercialização, nem
tampouco financiamento governamental ou o conhecimento necessário dentro das
universidades e suas comunidades acadêmicas para realizar tais atividades (Lockett et al,
2013). Após algum tempo, a universidade de Cambridge por exemplo percebe essa lacuna em
sua comunidade acadêmica e toma medidas específicas para conscientizar seus pesquisadores
27
Em 1981 conclui-se a primeira rodada de cortes, que reduziu em 17% o orçamento do sistema de
universidades. O comitê responsável pelos recursos (University Grants Committee) tinha liberdade para
distribuir as reduções, que em alguns casos chegaram a 20 ou 30% (Clark, 1998).
63
sobre a importância e os benefícios das atividades de transferência de tecnologia, tais como
seu programa Enterprise Champions, que conta com um ou mais pesquisadores em cada
departamento da universidade estimulando seus pares e fornecendo informações básicas sobre
comercialização de pesquisa.
Nesse primeiro momento, o principal objetivo dos escritórios de transferência
de tecnologia era a atração de verba privada de pesquisa para compensar a redução de verbas
governamentais. Em segundo lugar estavam as atividades de licenciamento, enquanto que o
interesse na criação de spin-offs era ainda embrionário (Lockett et al, 2013).
A ascensão do partido trabalhista ao poder em 1997 traz uma grande mudança
de postura do governo: ao invés de pressionar as universidades para envolverem-se em
atividades de transferência de tecnologia, optou-se por apoiá-las financeiramente nessa tarefa.
Nesse sentido, observaram-se no período modificações importantes tanto no nível
governamental quanto no das universidades. Dentre as mudanças em nível governamental
destaca-se a criação do Higher Education Innovation Fund (HEIF) em 2001, que pela
primeira vez designava fundos para as universidades investirem em atividades da terceira
missão28
. O HEIF é usado para fornecer financiamento para atividades de intercâmbio de
conhecimento com recursos do Higher Education Funding Council for England (HEFCE),
viabilizando a interação de universidades entre si, bem como de universidades com empresas,
institutos de pesquisa e afins (Witty, 2013). Já no nível das universidades destaca-se o
incentivo financeiro do governo para se envolverem em transferência de tecnologia - por
consequência do qual houve um aumento dramático na quantidade de escritórios de
transferência de tecnologia no país (Lockett et al, 2013).
Como se pode observar no Gráfico 2.5, há uma onda de criação de escritórios de
transferência de tecnologia em universidades no Reino Unido em 1994-1996, em função do
relatório Realising our potential de 1993 (que enfatizava a importância que as universidades
deveriam atribuir às atividades de transferência de tecnologia) e outra em 1997-2002
refletindo a mudança de postura do governo que assume em 1997, que ao invés de apenas
28
Outras iniciativas governamentais relevantes do período foram: criação do Science Enterprise Challenge, para
incentivar o empreendedorismo dentro das instituições de ensino superior; criação do Higher Education Reach
Out to Business and the Community em 1998, que assim como o HEIF dispunha de fundos dedicados para a
universidade investir em atividades de terceira missão; criação do SMART Awards em 1997, que fornecia
financiamento para pequenas empresas investirem no desenvolvimento de novos produtos ou processos; criação
do University Challenge Funds em 1999, que criou fundos governamentais de capital de risco para investimento
em spin-offs (Lockett et al, 2013).
64
pressionar as univeqrsidades para obter receita através de licenciamentos, passou a apoiar
financeiramente tais atividades (Lockett et al, 2013).
Gráfico 2.5 Criação de escritórios de transferência de tecnologia em universidades no
Reino Unido (~1984-2002)
Fonte: elaboração própria baseada em (LOCKETT et al, 2013).
Acompanhando a tendência apresentada no Gráfico 2.5, no período de 1997 a
2003 houve também o surgimento de associações profissionais de transferência de tecnologia,
o que contribuiu para sistematizar as pressões no governo em favor da área e também para
viabilizar a coleta de dados sobre comercialização de tecnologia, o que é crucial para
aprofundar o entendimento sobre a área e também para que consiga obter mais recursos
(Lockett et al, 2013).
Nesse novo momento político, em que o governo passou a disponibilizar
recursos para as atividades de transferência de tecnologia, houve uma mudança notória na
postura de muitos acadêmicos com relação à comercialização de resultados pesquisa: eles se
tornaram mais abertos e interessados nessa possibilidade (Lockett et al, 2013). É também
nesse período que se multiplicam as diretrizes governamentais recomendando que as
universidades ofereçam reconhecimento para acadêmicos que se dedicam a atividades além
do ensino e pesquisa, mais especificamente, aquelas ligadas à transferência de tecnologia e ao
empreendedorismo acadêmico (Witty, 2013).
0
10
20
30
40
50
60
antes 1984 1984-85 1987-93 1994-96 1997-2002
4
11
26 24
51
Qu
an
tid
ad
ad
e d
e E
TT
s cr
iad
os
65
Acompanhando o aumento na quantidade de escritórios de transferência de
tecnologia, a partir do início dos anos 2000, observa-se também um aumento significativo nas
quantidades de parques científicos localizados dentro ou muito próximos de universidades.
Além da transferência formal de tecnologia, os parques viabilizam acesso a uma ampla gama
de possibilidades ligadas à universidade, desde expertise e instalações adequadas para
atividades de pesquisa e desenvolvimento, até a "marca" da universidade, que pode ter
renome nacional ou internacional (Wilson, 2012).
No período de 2004 a 2008 houve uma ampliação tanto no escopo das
universidades que recebiam financiamento para transferência de tecnologia, quanto das
atribuições dos escritórios de transferência de tecnologia, uma vez que o governo percebeu
que licenciamentos e spin-offs não eram capazes de gerar grandes somas que contribuíssem
significativamente para o orçamento das universidades. Como consequência dessa percepção
de que as receitas de comercialização de tecnologia eram insuficientes para financiar as
universidades, o governo passou a fornecer financiamento contínuo para atividades da terceira
missão, com grande ênfase atribuída à transferência de tecnologia (Lockett et al, 2013).
Observe-se, todavia, que houve no período uma ampliação do escopo das atividades de
transferência de conhecimento, que passaram a incluir não só as atividades de transferência de
tecnologia como também outras atividades de terceira missão. Tal ampliação, todavia, trouxe
controvérsias sobretudo no que diz respeito às métricas de transferência de conhecimento, que
são recursos cruciais usados pelo governo na determinação de alocação de recursos (Wilson,
2012).
2.2.1.2.4. Parcerias e redes
Um marco no desenvolvimento das parcerias e redes em Cambridge foi a
fundação, em 1960, da empresa de consultoria Cambridge Consultants. Tratou-se de uma
iniciativa pioneira que tinha por objetivo viabilizar parcerias de pesquisa ou consultoria entre
a indústria e a universidade. Fundada por ex-alunos da Engenharia Química, a empresa foi a
primeira a propor a formalização e sistematização dos relacionamentos externos que muitos
pesquisadores da universidade já possuíam. Além de sua importância pelo pioneirismo, a
Cambridge Consultants também colaborou, com seu sucesso, para a internacionalização de
Cambridge através do estabelecimento de um robusto setor de consultoria internacional na
região (Garnsey & Heffernan, 2005; Minshall & Gill, 2011; Kirk & Cotton, 2012).
66
Há na região de Cambridge uma série de laboratórios com fortes vínculos com
as universidades locais através de atividades de ensino e pesquisa. Suas fontes de
financiamento são variadas: governo, ONGs, empresas ou o Medical Research Council do
Reino Unido, dentre outros. Localizados em ambiente fértil para a inovação tecnológica,
realizam pesquisa de ponta em parceria com as universidades e frequentemente geram spin-
outs.
Dentre as parcerias mais frequentes da universidade, destacam-se aquelas com
a indústria e o governo. O Gráfico 2.6 apresenta, para o período de 2003 a 2016, as receitas da
universidade de Cambridge com: (i) pesquisa colaborativa, (ii) prestação der serviços de
pesquisa (pesquisa contratada), (iii) consultoria e (iv) comercialização de propriedade
intelectual. Apesar das variações, observa-se que os ganhos obtidos através de pesquisa com
indústria (colaborativa ou contratada) são sistematicamente maiores do que aqueles advindos
da comercialização de propriedade intelectual e consultoria.
Além disso, observa-se que mesmo mais de dez anos após as mudanças
governamentais que aumentaram o financiamento para transferência de tecnologia, sua receita
continua sistematicamente inferior àquela obtida pela execução de pesquisa junto com, ou
para, a indústria. Ou seja, se o objetivo do governo é que as universidades se tornem
financeiramente mais autônomas e menos dependentes de recursos públicos, a
comercialização de propriedade intelectual de fato não parece ser o caminho mais indicado.
Para uma análise mais aprofundada podemos observar também o Gráfico 2.7 e o
Gráfico 2.8 que apresentam informações mais detalhadas sobre cada fonte de receita. No caso
da pesquisa colaborativa, vê-se no Gráfico 2.7 que se trata de fontes eminentemente
governamentais. Nos anos de 2003 e 2004 ainda havia aproximadamente um terço de aporte
de outras instituições, categoria na qual encontram-se, dentre outros, empresas. Todavia, a
partir de 2005 há uma queda brusca nessa categoria, acompanhada de um grande aumento no
investimento feito pelo governo do Reino Unido (que quase quadruplica) e do governo da
União Europeia (que duplica).
67
Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa
contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016)
Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03
a 2015-16)29
Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa
colaborativa por fonte dos recursos (2003-2016)
Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03
a 2015-16).
29 http://www.hefce.ac.uk/ke/hebci/archive/
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2015 2016
Com
posi
ção d
a r
eceit
a a
nu
al
Comercialização de PI
Consultoria
Pesquisa contratada
Pesquisa colaborativa
£0 £20 £40 £60 £80 £100
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2015
2016
Faturamento anual (milhões)
An
o
Conselhos de pesquisa
Outros deptos governo Reino Unido
Governo União Europeia
Outro
68
Já o Gráfico 2.8 mostra o faturamento anual das diferentes fontes de pesquisa
contratada (contract research) da Universidade de Cambridge no período de 2003 a 2016.
Nota-se que a vasta maioria dos recursos advém da interação com grandes empresas e há
poucos casos de outros (governo, ONGs etc), além de uma queda brusca na quantidade de
pesquisa contratada por pequenas empresas, que só apresenta sinais de recuperação em
2015.
Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada
por fonte de recursos (2003 - 2016)
Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03
a 2015-16).
Sabe-se ainda que, na vasta maioria dos casos, para que se concretizem os
contratos de pesquisa contratada ou colaborativa, ou ainda de consultoria, bem como outras
formas de interação e troca de conhecimento entre universidade e parceiros (indústria,
governo, etc) é necessário que antes haja contato direto entre essas instituições. Ou seja, os
mecanismos de engajamento entre universidade e parceiros potenciais são de grande
importância e devem ser mais estimulados (Wilson, 2012). Nesse sentido, há na região uma
série de iniciativas para fomentar tais interações. O Quadro 2.2 apresenta três que foram
criadas pela própria universidade.
£0.0
£0.5
£1.0
£1.5
£2.0
£2.5
£3.0
£0
£5
£10
£15
£20
£25
£30
£35
£40
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
Peq
uen
as
e m
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ias
-M
ilh
ões
Gra
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ou
tro
s e t
ota
l -
Mil
hõ
es
Grandes empresas Outro Valor Total Pequenas e médias empresas
69
Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento
entre a comunidade acadêmica e parceiros potenciais
Nome Descrição
Enterprise Tuesday Curso aberto à comunidade acadêmica e da região. Visa apresentar
questões básicas dos temas de inovação e empreendedorismo.
Palestrantes oriundos de indústria, governo, academia, spin-offs etc.
Cambridge University
Enterprise Network
(CUEN)
Portal da universidade para membros da comunidade acadêmica
interessados em empreendedorismo e inovação. Reúne informações
sobre as diversas iniciativas da universidade nessas áreas, tais como
cursos, eventos de networking, apoio para abrir um negócio ou
comercializar tecnologia.
Industry Engagement
Forums
Eventos de um dia de duração em que acadêmicos (docentes,
pesquisadores ou estudantes de pós-graduação) reúnem-se com
representantes da indústria para identificar áreas de interesse comum.
Promovidos pelo escritório de transferência de tecnologia da
universidade (Cambridge Enterprise). Fonte: Elaboração própria.
Adicionalmente, a região conta com uma vasta gama de redes e eventos com o
mesmo objetivo. Trata-se de iniciativas que não foram criadas pela universidade, mas contam
com sua ativa participação. Sua listagem e breve descrição encontram-se no Quadro 2.3.
Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre
universidade e parceiros potenciais
Nome Descrição
Cambridge Network Associação que promove a interação entre academia e
indústria para compartilhar ideias, estimular parcerias e
projetos colaborativos. É o mais notório grupo de networking
da região.
Business Leaders’ Network
(BLN)
Rede que faz eventos para promover a interação,
investimento e discussão entre indivíduos de diversos clusters
de inovação do Reino Unido.
Cambridge High-tech
Association of Small
Enterprises (CHASE)
Associação de start-ups e pequenas empresas de base
tecnológica da região de Cambridge.
Cambridgeshire Chamber of
Commerce
Organização que promove oportunidades de networking para
empresas locais e simultaneamente representa seus interesses
junto ao governo.
Connected Cambridge Parte de uma rede de comunidades empreendedoras pelo
mundo que ter por objetivo compartilhar experiências.
Envirotech Rede de negócios específica para a área de energia e
mercados ambientais.
One Nucleus (antigo ERBI) Organização para empresas das áreas de saúde e ciências da
70
vida, tem uma unidade em Cambridge e uma em Londres,
que formam o maior cluster de ciências da vida e saúde da
Europa.
Cambridge Tech Meetup Grupo de networking para quem trabalha com tecnologia na
região de Cambridge.
CamCreative Grupo de networking para as áreas de design gráfico e de
web, mídia, literatura, artes visuais e performáticas,
multimídia e cultura em geral.
CamTechNet Grupo para reunir informação para profissionais trabalhando
na área de tecnologia em Cambridge.
MakeSpace Laboratório de prototipagem aberto para empreendedores,
indústria e demais pessoas e instituições que trabalham com
inovação.
Cambridge Corporate
Gateway
Encontro bianual que proporciona a empresa de todo o
mundo a oportunidade de acessar o cluster de tecnologia da
região e pesquisa da universidade.
Cambridge Technology
Management Symposium
Simpósio anual que parte de práticas e pesquisa de ponta para
abordar desafios nas áreas de tecnologia e gestão da
inovação.
OneNucleus Annual
Conference
Conferência anual de ciências da vida de saúde. Maior evento
do gênero da Europa.
Greater Cambridge
Partnership (GCP)
Conference
Evento anual que reúne a academia e os setores público e
privado para discutir questões de política da região.
High Value Manufacture
Conferences
Fóruns para discutir tópicos relacionados a manufatura de
alto valor.
Silicon Valley Comes to
Cambridge
Evento anual que reúne investidores e empreendedores do
Vale do Silício e de Cambridge.
Technology Ventures
Conference
Conferência anual que permite a interação de
empreendedores, investidores e pesquisadores. Fonte: Elaboração própria.
Finalmente, no que diz respeito à disponibilidade de capital, o histórico da região
de Cambridge inicia-se em 1978, quando o banco britânico Barclays começa a realizar
investimento em novas empresas. Todavia, em função das divergências entre o investimento
bancário e as necessidades das empresas eminentemente tecnológicas da região, a partir do
final da década de 1990, e sobretudo nos anos 2000, passam a ser criados e a se instalar na
região, investidores especializados.
Atualmente Cambridge conta com oito fontes de venture capital e quatro de
investimento anjo externas à universidade – além das várias iniciativas de financiamento da
própria universidade, que serão abordadas no item 2.2.1.3.4 a seguir. Conforme se pode
71
observar no Quadro 2.4 e no Quadro 2.5, há grande variedade de fundos e também em suas
áreas de atuação.
Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à
universidade
Nome Área de atuação
Cambridge Angels Grupo de investidores anjo criado para investir e acelerar start-ups
da região.
Cambridge Capital
Group
Grupo de investidores anjo que investe em empresas de base
tecnológica de todas as áreas.
Choir of angels Grupo informal de anjos que investe em áreas em que seus membros
têm expertise para também aportar conhecimento.
Great Eastern
Investment Forum
Rede de anjos. Às vezes trabalha em parceria com GEIF Ventures.
Fonte: Elaboração própria.
Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade
Nome Área de atuação
Amadeus Capital Partners Comunicação, computação (hardware e software), mídia, e-
commerce, medicina e energias limpas.
Avlar BioVentures Biotecnologia, ciências da vida, medicina e saúde.
Create Partners Todas.
DFJ Esprit Mídia, telecomunicações e saúde.
ET Capital Empresas de alto crescimento em todas as áreas.
GEIF Ventures Investe em estágios iniciais.
IQ Capital Semente, early stage e expansão para empresas de base
tecnológica.
TTP Venture Managers Semente e early stage para empresas de base tecnológica. Fonte: Elaboração própria.
2.2.1.3. Contexto interno
Fundada em 1209, a Universidade de Cambridge é a quarta mais antiga em
funcionamento de todo o mundo (Sager, 2005) e é internacionalmente reconhecida: ocupa o
quinto lugar no QS World University Rankings, 2018 e também o terceiro lugar no Academic
Ranking of World Universities, 2017. Além disso, em 2017 contava com 1.666
72
docentes, 12.044 alunos de graduação e 9.612 de pós-graduação30
. Em 2015-16 seu
orçamento foi de £1,64 bilhões (CAMBRIDGE, 2016).
Muito se debate, sobretudo no caso de instituições tão antigas como Cambridge
ou Oxford, sobre o papel das universidades na sociedade. Durante seus primeiros séculos de
história a Universidade de Cambridge, esteve focada internamente, no “estudo pelo estudo”31
sem interesse pelo setor produtivo.
A partir da década de 1960, porém, mudanças significativas tanto na política
interna da universidade, quanto na da região, permitiram uma aproximação das empresas, de
modo a viabilizar um aumento exponencial da exploração comercial de propriedade
intelectual produzida na universidade. Houve no período aumento dos contratos de
transferência de tecnologia, de contratos de consultoria e de iniciativas de empreendedorismo
acadêmico.
Marcos importantes nesse processo de abertura da universidade para a interação
com o setor produtivo e para o empreendedorismo acadêmico são: (i) a formalização da atual
política de propriedade intelectual da universidade, que data de
2005 (2005 Ordinance in Intellectual Property Rights); e (ii) a criação do escritório de
transferência de tecnologia da universidade (Cambridge Enterprise), em 2006. O escritório
atua na comercialização de propriedade intelectual gerada na universidade, facilitação de
prestação de consultoria e investimento semente em start-ups e spin-offs.
A seguir, aprofundaremos a análise do contexto interno da Universidade de
Cambridge com ênfase em quatro tópicos: política de propriedade intelectual, escritório de
transferência de tecnologia, resultados de transferência de tecnologia e consultoria e
iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.
30
Fonte: https://www.prao.admin.cam.ac.uk/data-analysis-planning/student-numbers/time-series
31 Conforme explica Newman em: The Idea of a University; Newman, On the Scope and Nature of a University
Education.
73
2.2.1.3.1. Política de propriedade intelectual da universidade de Cambridge
A formalização da atual política de propriedade intelectual da universidade data
de 2005 (2005 Ordinance in Intellectual Property Rights). De acordo com essa política, em
princípio as tecnologias pertencem à universidade e essa se responsabiliza por todos os
aspectos de sua proteção e eventual licenciamento, todavia, aqueles pesquisadores que
quiserem ser proprietários de suas tecnologias têm liberdade para tanto, bastando apenas fazer
um requerimento e, naturalmente, responsabilizar-se por todos os aspectos de sua proteção e
exploração comercial. Exceções se aplicam no caso de pesquisa contratada ou colaborativa –
nesse caso, parte da propriedade intelectual pode caber aos terceiros que financiam ou co-
financiam a pesquisa. Em todos os casos, as regras se aplicam da mesma maneira para
pesquisadores, funcionários e alunos da universidade – tanto deveres quanto direitos (autoria,
retorno financeiro etc) (CAMBRIDGE, 2010).
Antes da política de propriedade intelectual de 2005 Cambridge tinha uma postura
pouco usual entre as universidades do Reino Unido, uma vez que concedia automaticamente a
titularidade da propriedade intelectual aos seus inventores. Ainda que a administração central
não apoiasse ativamente a transferência de tecnologia, sua abordagem era laissez-faire, uma
vez que tampouco impedia seus pesquisadores de desenvolver aplicações comerciais ou
empreender, desde que continuassem cumprindo suas atividades de ensino e pesquisa
(Garnsey & Heffernan, 2005).
2.2.1.3.2. Escritório de transferência de tecnologia
Cambridge Enterprise, o escritório da transferência de tecnologia da Universidade
de Cambridge é uma subsidiária da universidade criada em 2006 para ajudar a
comunidade acadêmica a proteger e comercializar tecnologias e expertise.
Suas áreas de atuação são: serviços de transferência de
tecnologia (patenteamento, licenciamento, fundo de prova de conceito etc) serviços de
consultoria (prestada por professores e funcionários da universidade) e financiamento
semente.
Em 2017 a Cambridge Enterprise depositou 276 patentes, foi responsável pela
assinatura de 126 contratos de licenciamentos, investiu £979.000 em patentes e provas de
74
conceito, teve receita de £16,9 milhões referente a licenciamentos e consultoria e investiu
um total de £5,2 milhões em spin-outs (CAMBRIDGE, 2017).
2.2.1.3.3. Transferência de tecnologia e consultoria na universidade de Cambridge
As iniciativas de transferência de tecnologia da universidade de Cambridge
ganharam fôlego a partir da criação do escritório de transferência de tecnologia em 2006,
conforme é possível observar no Gráfico 2.9, que apresenta as quantidades de licenças
assinadas por ano no período de 2007 a 2016. Em um período de dez anos a quantidade de
tecnologias licenciadas pela universidade mais que dobrou, saltando de 60 para 127. Nesse
processo, o papel do escritório de transferência de tecnologia foi muito importante uma vez
que não só assumiu e sistematizou a tarefa de licenciar tecnologias, como também disseminou
o conceito pela universidade, divulgando casos de sucesso e estimulando mais pesquisadores
a buscarem a proteção e transferência de suas tecnologias.
Gráfico 2.9 Quantidade de licenças assinadas por ano em Cambridge (2007-2016)
Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais do escritório de transferência de tecnologia.
0
20
40
60
80
100
120
140
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Quanti
dade d
e lic
enças
ass
inadas
75
Já no que diz respeito aos contratos de consultoria assinados, observa-se no
Gráfico 2.10 que quase triplicaram em quantidade entre 2007 e 2016. A receita total deles
obtida32
tem participação considerável na receita total do escritório de transferência de
tecnologia: em 2013, quando a receita de consultoria foi de £5.3 milhões, foi o equivalente a
28% da receita total, e no ano menos expressivo, que foi 2006, representou 17%. Ressalte-se
que não parece haver correlação positiva entre a quantidade de contratos de consultoria e sua
receita total.
Gráfico 2.10 Contratos de consultoria assinados por ano e sua respectiva receita (2007-
2016)
Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais do escritório de transferência de tecnologia.
2.2.1.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o
empreendedorismo acadêmico
Dentre as iniciativas existentes em Cambridge de estímulo ao
empreendedorismo acadêmico destacam-se as relacionadas no Quadro 2.6. Elas encontram-se
divididas em quatro categorias: infraestrutura, investimento, ensino de empreendedorismo e
outros.
32
A universidade não disponibiliza esses valores todos os anos, por isso das lacunas nos dados.
£2
£3.2
£2.7
£2.5
£5.3
0
50
100
150
200
250
300
350
400
£0
£1
£2
£3
£4
£5
£6
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Qu
an
tid
ad
e d
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on
trato
s ass
inad
os
Receit
a d
os
co
ntr
ato
s (
mil
hõ
es)
Receitas dos contatros de consultoria nº de contratos de consultoria assinados
76
Quadro 2.6 Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico na Universidade de
Cambridge
Ano de
criação Nome Descrição
Infraestrutura
1987 St John's Innovation
Centre
Uma das primeiras incubadoras do Reino Unido.
Atende empresas nascentes de base tecnológica com
vários programas diferentes, de incubação
física e virtual, próprios ou em parceria com outras
instituições. Oferece instalações físicas a baixo custo,
aconselhamento e orientação profissional. Hoje é o
centro de um pequeno parque científico (St John’s
Innovation Park).
2003 Entrepreneurship
Centre
Surgiu da incorporação do Centre for Entrepreneurial
Learning à escola de negócio da Universidade.
Estimula e apoia a atividade empreendedora na
universidade através de uma série de cursos, eventos e
palestras.
2009 IdeaSpace Enterprise
Accelerator
Oferece modelo flexível de aluguel de mesas por
pessoa ou por empresa, além de infraestrutura de uso
coletivo e salas de reunião. É focada na construção de
comunidade.
2010 Hauser Forum
Abriga o escritório de transferência de tecnologia da
universidade, a aceleradora IdeaSpace Enterprise e faz
locação de salas comerciais para empresas interessadas
em trabalhar em parceria com pesquisadores da
universidade ou comercialização de tecnologia.
2012 Accelerate Cambridge
Aceleradora. Oferece programas de 3 a 18 meses de
duração compostos por treinamento em
empreendedorismo, mentoria, acesso a espaço de
trabalho compartilhado e a financiamento.
Investimento
1995 Seed Funds
Criado para investir em novas empresas fundadas por
colaboradores ou alunos da universidade para viabilizar
o desenvolvimento comercial de pesquisa da
universidade. Oferece três faixas de investimento: até
£20.000, até £50.000 e até £500.000.
Cambridge Enterprise
Venture Partners
Fórum de investimento do escritório de transferência de
tecnologia da universidade (Cambridge Enterprise) que
reúne capitalistas de risco e investidores anjo. Promove
eventos nos quais companhias oriundas da universidade
se apresentam para potenciais investidores.
Cambridge Innovation
Capital
Fundo de investimento ligado à universidade que
investe em empresas "ricas em propriedade intelectual"
oriundas da universidade ou da região de Cambridge.
Investe preferencialmente nas áreas de saúde e
77
tecnologia, sobretudo na segunda rodada, mas
eventualmente pratica investimento semente também.
Fundo de prova de
conceito
Investimento de até £25.000 em prova de conceito
realizado através do escritório de transferência de
tecnologia da universidade.
Ensino de empreendedorismo
1999 Enterprise Tuesday
Curso aberto à comunidade acadêmica e da região.
Visa apresentar aos participantes questões básicas
acerca do empreendedorismo.
1999 Ignite
Curso de uma semana de duração voltado para
aspirantes a empreendedores. Ensina a preparar ideias
de negócio para comercialização. É composto por aulas
teóricas e práticas.
2002 Enterprisers
Programa de quatro dias de duração com foco em
desenvolvimento de autoconfiança, trabalho em equipe,
criatividade, geração e validação de ideias e
apresentação para investidores.
ETECH Projects
Curso oferecido em vários departamentos da
universidade para graduação e pós-graduação. Alunos
usam tecnologias da universidade para aprender sobre
reconhecimento de oportunidades e realização de
estudos de viabilidade.
Postgraduate Diploma
in Entrepreneurship
Curso de 12 meses de duração para estudantes de pós-
graduação ou pessoas interessadas em empreender ou
aprofundar seus conhecimentos em empreendedorismo.
Venture Creation
Weekends
Competição de dois dias de duração para permitir a
aspirantes a empreendedores verificar a viabilidade de
suas ideias de negócio.
EnterpriseWISE
Programa para doutoras e mulheres em início de
carreira nas áreas de ciências, engenharia e tecnologia.
É voltado para o desenvolvimento de habilidades e
competências, e criação de uma rede de contato de
mulheres empreendedoras.
Tier 1 Graduate
Entrepreneur
Programa para ex-alunos da universidade. Viabiliza
visto de 1 ano de duração (renovável) para desenvolver
ideia de negócio no Reino Unido.
Outros
1998 Cambridge Network
Associação que promove a interação entre academia e
indústria para compartilhar ideias, estimular parcerias e
projetos colaborativos. É o mais notório grupo de
networking da região.
1999 Cambridge University
Entrepreneurs
Fundada por estudantes, promove competições de
modelos de negócio. Oferece prêmios em dinheiro.
2003
Cambridge University
Technology and
Enterprise Club
Organização de alunos que visa fomentar o
empreendedorismo entre alunos e professores da
universidade de Cambridge. Promove uma conferência
anual sobre empreendedorismo.
2006 i-Teams Projeto em que turmas multidisciplinares (sobretudo de
doutorandos) trabalham durante um período letivo para
78
fazer a análise de viabilidade comercial de tecnologias
da universidade.
2015 Entrepreneurial
Postdocs of Cambridge
Grupo que visa estimular pós-doutorandos a optar pela
carreira empreendedora.
Enterprise Champions
Programa do escritório de transferência de tecnologia.
Cada departamento tem um ou mais pesquisadores que
atuam como champions, estimulando e fornecendo
orientações básicas sobre pesquisa colaborativa,
consultoria e exploração comercial dos resultados de
pesquisa.
Cambridge University
Enterprise Network
Portal da universidade para membros da comunidade
acadêmica interessados em empreendedorismo e
inovação. Reúne informações sobre as diversas
iniciativas da universidade nessas áreas.
Start-up Careers
Lecture Series
Programa especial sobre start-ups oferecido pelo
serviço de orientação de carreira da universidade.
Industry Engagement
Forums
Eventos de um dia de duração em que acadêmicos
(docentes, pesquisadores ou estudantes de pós-
graduação) reúnem-se com representantes da indústria
para identificar áreas de interesse comum. Promovidos
pelo escritório de transferência de tecnologia da
universidade (Cambridge Enterprise). Fonte: Elaboração própria.
Nota-se a partir da observação do quadro que há em Cambridge uma grande
quantidade de iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico, de modo a atender
uma ampla gama de públicos e demandas de complexidade variada.
Há uma série de grupos, palestras e atividades para difundir os conceitos básicos
do empreendedorismo tecnológico, há cursos, programas e competições para aprofundar os
conhecimentos na área e, além disso, há espaço físico para que as novas empresas se
estabeleçam (incubadoras, aceleradoras33
, espaços de co-working e parques) e redes de
contato para apoiá-las em seu desenvolvimento. Dentre essas iniciativas, há aquelas voltadas
para grupos específicos (docentes ou pós-doutores) e também outras abertas ao público em
geral. Dessa maneira, a universidade consegue cobrir, de maneira bastante completa, as
demandas dos mais variados estágios de maturação do empreendedorismo acadêmico e dos
mais variados grupos.
33
Apesar das variações nas definições, de maneira geral as aceleradoras são entidades privadas que tomam uma
pequena participação acionária nas empresas aceleradas, e em troca oferecem programas de treinamento e
mentoria por curtos períodos (geralmente três a seis meses). Diferentemente das incubadoras, as aceleradoras
raramente oferecem espaço físico para as empresas se instalarem (Dalle et al, 2017).
79
Conforme discutido pela literatura, podemos atribuir especial ênfase a alguns
aspectos da infraestrutura interna à universidade para estímulo ao empreendedorismo
acadêmico. Em primeiro lugar, destaque-se a qualidade da pesquisa. Contando com apenas
4% dos pesquisadores do mundo, as publicações do Reino Unido representam 6% das
publicações mundiais, 12% das citações e 16% dos artigos mais citados do mundo, o que
significa que são a segunda nação em quantidade de citações de artigos científicos, ficando
atrás apenas dos Estados Unidos (Dochterty et al, 2012; DBIS, 2014b).
Nesse cenário nacional já positivo, Cambridge se destaca ainda mais: de acordo
com a última versão do Research Excellence Framework34
(2014), 47% de sua pesquisa tinha
"qualidade de líder mundial em termos de originalidade, relevância e rigor", enquanto que
40% apresentava "qualidade de excelência internacional em termos de originalidade,
relevância e rigor"35
. Na classificação geral de universidades do Reino Unido, Cambridge
ficou em 3º no levantamento de 2014, e em 2º lugar no levantamento anterior, que data de
2008. A partir de 2015, os resultados desse levantamento passaram a ser usados para
determinar a distribuição de financiamento governamental para pesquisa em universidades,
beneficiando Cambridge. Em termos quantitativos, nos últimos dez anos a universidade
publicou mais de 12 mil artigos por ano em periódicos especializados36
.
Em segundo lugar, a capacitação de recursos humanos para exercer atividade
empreendedora: a universidade de Cambridge oferece uma gama muita ampla de alternativas
de capacitação. Desde palestras avulsas que apresentam conceitos básicos e tem por objetivo
despertar curiosidade sobre empreendedorismo até iniciativas com duração de um ano; desde
cursos teóricos que apresentam conceitos como reconhecimento de oportunidade e validação
de ideias até atividades mais práticas, como competições e preparação para se apresentar a
investidores, a universidade fornece à sua comunidade uma grande quantidade de
possibilidades para instigar a curiosidade e preparar futuros empreendedores.
No quesito de investimento a universidade de Cambridge também se destaca.
Além dos oito fundos de capital de risco (venture capital) e seis de investidores anjo externos
apresentados no item 2.1.3.4, a universidade conta também com quatro iniciativas de
34
Levantamento do governo, realizado por pares, que avalia a qualidade da pesquisa em as universidades do
Reino Unido.
35 Fonte http://results.ref.ac.uk/Results/ByHei/112
36 Fonte: http://www.cam.ac.uk/system/files/research_in_numbers.pdf
80
investimento geridas pelo escritório de transferência de tecnologia. Juntas, elas cobrem
diversas etapas de desenvolvimento de novos empreendimentos: desde a primeira, que é a
prova de conceito, passando pelo investimento semente até alcançar a segunda rodada de
investimento. Observe-se ainda que, apesar de serem fundos da universidade, não estão
restritos à sua comunidade, e podem investir também em empresas da região sem relação com
a universidade.
Já no que diz respeito a incubação e aceleração, a universidade dispõe de
quatro opções: uma incubadora com mais de 30 anos de experiência aberta a
empreendimentos de todas as áreas, uma incubadora exclusiva para pesquisa biomédica, e
duas aceleradoras com modelos mais flexíveis de uso do espaço e oferta de serviços.
Finalmente no quesito parques, Cambridge conta com um total de 19 parques
científicos e comerciais em um raio de 16km ao redor da cidade. Trata-se de estruturas
voltadas para empresas estabelecidas e com diversos modelos de funcionamento: alguns
permitem que as empresas construam seus prédios, outros alugam espaço próprio para elas, e
outros ainda oferecem um modelo misto. A maioria dos parques opta por não estabelecer
restrições quanto ao setor de atuação das empresas neles estabelecidas, mas há exceções. Os
primeiros parques da região foram criados pela universidade (ou por seus colleges), mas
posteriormente o setor privado entrou no ramo. Destaca-se o Cambridge Science Park: maior
e mais antigo do Reino Unido, fundado em 1971; já dentre os fundados pela universidade
estão: St John's Innovation Park, West Cambridge Site e Cambridge Biomedical Campus.
2.2.2. Brasil e Campinas
2.2.2.1. Empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp
Também realizamos um levantamento não exaustivo de empresas oriundas da
Unicamp. Localizamos 488, fundadas entre 1963 e 201737
que constam na lista centralizada
pela Agência de Inovação da universidade denominada “empresas filhas da Unicamp”38
. A
37
Para fins de estatísticas, optamos por não considerar as empresas fundadas em 2017, uma vez que o
levantamento foi feito antes do encerramento do ano.
38 Os dados foram fornecidos pela Agência de Inovação Inova Unicamp mediante assinatura de um termo de
sigilo. As empresas entram na lista ou espontaneamente (isso é, por iniciativa de seus fundadores) ou através de
81
Unicamp é pioneira no Brasil nesse esforço de identificação de empreendedores entre seu
corpo de egressos, e como parte desse esforço promoveu em 2016, através de uma parceria
entre sua Agência de Inovação e a Diretoria Acadêmica (DAC), um survey para analisar a
atuação profissional dos egressos da universidade. Constatou-se que a taxa média de egressos
empreendedores é de 7,7%39
, e de acordo com o método de extrapolação aplicado para os
egressos empreendedores, conclui-se que aproximadamente 6.000 montaram um negócio
próprio (Zanatta et al, 2016).
Para estimar qual a participação de nossa amostra no total de empresas oriundas
da Unicamp, recorremos a dados da pesquisa Demografia das Empresas, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a última pesquisa, divulgada em
outubro de 2017, aproximadamente 60% das empresas fecham cinco anos após entrarem em
operação. Naturalmente que as taxas de sobrevivência variam de acordo com o porte e o setor
de atuação das empresas, mas uma vez que nossa amostra é composta por empresas de
diversos setores de atuação e portes, optamos por usar a média. Assim, aproximadamente
2.400 das empresas criadas por egressos da Unicamp ainda estariam ativas, o que significa
que nossa amostra de 488 corresponde a 20% do total40
.
Dentre os dados obtidos alguns resultados chamam a atenção: primeiramente há
um forte aumento na criação de empresas a partir da década de 1990, conforme ilustra o
Gráfico 2.11. Ainda que a primeira empresa da amostra tenha sido criada na década de 1960,
foi apenas três décadas mais tarde que a região passou a apresentar intensificação da atividade
empreendedora, com picos de crescimento que chegaram a ultrapassar 40 empresas criadas
em alguns anos.
convites realizados por outras empresas ou pela própria Agência de Inovação, em operações para aumentar a
quantidade de empresas cadastradas.
39 Sendo 11,1% dentre os alunos de graduação e 5,2% dentre os alunos de pós-graduação (Zanatta et al, 2016, p.
15).
40 Usamos como universo a estimativa de empresas criadas por egressos da Universidade, o que não inclui
aquelas criadas por professores e funcionários. Todavia, a vasta maioria das empresas oriundas da Unicamp foi
criada por alunos ou ex-alunos, como atesta a lista da Agência de Inovação, que usamos nesse trabalho e que tem
em sua composição 94% de empresas criadas por alunos ou ex-alunos da universidade.
82
Gráfico 2.11 Quantidade de empresas criadas por ano na região da Unicamp
Fonte: elaboração própria.
O Gráfico 2.12 foi elaborado com o objetivo de investigar a existência de uma
correlação entre esse aumento na criação anual de empresas e os eventos internos (como a
criação do escritório de transferência de tecnologia e da nova política de propriedade
intelectual) e externos à universidade (como o marco legal de inovação no Brasil). Observa-se
que a intensificação na criação anual de empresas coincide com o aumento de iniciativas para
estimular e viabilizar a exploração comercial de propriedade intelectual da universidade e o
empreendedorismo acadêmico, além de uma série de ações governamentais em âmbito
estadual ou federal de fomento à inovação e ao empreendedorismo. Assim, é possível
especular que talvez haja uma relação de causalidade entre o aumento da criação de empresas
e um amplo conjunto de iniciativas internas e externas à universidade; porém a partir de 2010
as iniciativas escasseiam e o número de empresas continua crescendo a altas taxas, o que nos
leva a concluir que há outros fatores que também influenciam essa atividade empreendedora.
Já a comparação das quantidades de empresas criadas anualmente e de alunos
matriculados na Unicamp sugere que esses dois fatores talvez estejam correlacionados.
Conforme indica o Gráfico 2.13, nota-se que o crescimento na criação de empresas foi um
pouco mais acentuado do que o aumento da quantidade de alunos de graduação e também de
pós-graduação no período de 1994 a 2016. Enquanto a quantidade de alunos de ambos os
níveis dobra, a de empresas mais que triplica, o que sugere que, embora possa haver outros
fatores que também contribuem para o empreendedorismo acadêmico no entorno da Unicamp,
a formação de capital humano proporcionada pela universidade parece ter papel importante no
impulsionamento da atividade empreendedora da região.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1963 1973 1983 1993 2003 2013
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Ano de fundação
83
Gráfico 2.12 Unicamp: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal
de inovação, na universidade e em seu entorno (1960-2016)
051015202530354045
1960
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84
Gráfico 2.13 Número de empresas criadas por ano, de alunos matriculados em
graduação e em pós-graduação na Unicamp (1994-2016)
Fonte: elaboração própria a partir de dados do relatório anual do escritório de transferência de tecnologia e do
anuário estatístico da universidade.
Gráfico 2.14 Quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região da
Unicamp
Fonte: elaboração própria.
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1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016
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Linear (Alunos matriculados Graduação) Linear (Alunos matriculados mestrado + doutorado) Linear (Empresas criadas)
85
Outro ponto interessante que se depreende da análise dos dados das empresas é
a quantidade de funcionários, conforme ilustra o Gráfico 2.14. Oriundas da Unicamp são,
majoritariamente, pequenas e médias empresas: mais de 85% da amostra tem entre 1 e 50
colaboradores. Já a quantidade de empresas de grande porte41
é irrisória: 4 com 501 a 1.000
colaboradores e apenas 3 com 1.001 a 5.000. Note-se que, apesar de a participação de
empresas de grande porte na amostra ser muito pequena, sua presença no ecossistema é muito
importante em função de seu faturamento e geração de empregos.
Finalmente um último resultado que chama a atenção diz respeito à concentração
setorial: 18% das empresas oriundas da Unicamp atuam no setor de Tecnologia da
Informação, 12% em consultoria e 8,5% em engenharia.
2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
2.2.2.2.1. Localização
O cluster de tecnologia da região de Campinas é relevante dentro do contexto
brasileiro: a região abriga mais de 580 empresas intensivas em conhecimento, que juntas
empregam quase 29 mil pessoas e em 2017 faturaram mais de R$ 3 bilhões (UNICAMP,
2017). A cidade de Campinas encontra-se em uma área de 795 km², povoada por 1,2 milhão
de habitantes e sua região metropolitana, composta por 20 cidades, ocupa uma área de
aproximadamente 3.800 km² e tem aproximadamente 3,1 milhões de habitantes.
Dentre os principais elementos desse cluster de tecnologia estão a Universidade
Estadual de Campinas, cinco parques científicos e tecnológicos, duas aceleradoras de
empresas e duas incubadoras, além de uma rede de relacionamento de empreendedores
oriundos da Unicamp. Há também na região vinte e dois centros de pesquisa, públicos e
privados, atuando nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, desenvolvimento
agrícola e agronegócio, biomedicina, física, química, engenharia de materiais, e biologia
molecular, dentre outras (Feliciello e Amaral, 2010).
Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e já é associada ao
desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo
41
De acordo com o IBGE, configura-se como empresa de grande porte aquela com mais de 500 funcionários.
86
(Lemos, 2011). A fundação do Instituto Agronômico de Campinas em 1887 marca o início da
trajetória de Campinas como centro de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Em 1966 é fundada a Universidade Estadual de Campinas, que desde o início
manteve laços estreitos com o setor produtivo42
. Diversos institutos e faculdades da Unicamp
foram criados com a participação de parcerias com a indústria e entidades representativas
(como CIESP e FIESP). Destacam-se nesse sentido os avanços na área de telecomunicações
da Faculdade de Engenharia Elétrica e nas áreas de fibras ópticas, lasers e semicondutores no
Instituto de Física (Lemos, 2008).
Juntamente com a Unicamp, duas outras organizações contribuíram
significativamente para tornar Campinas um centro de excelência em tecnologia da
informação e comunicação: o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações
(CPqD) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI Renato Archer).
O CPqD foi criado em 1976 como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás,
empresa estatal que detinha o monopólio dos serviços públicos de telecomunicações no
Brasil. Em 1998, com a privatização do sistema Telebrás, o CPqD tornou-se uma fundação de
direito privado e continuou atuando na área de telecomunicações. Já o CTI Renato Archer é
uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) fundada
em 1982 e que trabalha em estreita interação tanto com o setor acadêmico quanto com o
empresarial (Feliciello e Amaral, 2010).
Além do CPqD e do CTI Renato Archer, há também na região outros vinte
centros de pesquisa, públicos e privados, atuando nas áreas de desenvolvimento agrícola
(como por exemplo Instituto Agronômico de Campinas, Instituto de Zootecnia, Instituto
Biológico, Instituto de Tecnologia de Alimentos e Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral) e agronegócio (como por exemplo Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Informática e
Agropecuária, Embrapa Monitoramento por Satélite e Laboratório Nacional Agropecuário),
biomedicina (como por exemplo o Hospital das Clínicas, Gastrocentro e Hemocentro da
Unicamp, Hospital Celso Pierro da PUC-Campinas e Hospital Sobrapar), física, química,
engenharia de materiais (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, LNLS), e biologia
molecular (Laboratório Nacional de Biociências, LNBio), dentre outras.
42
Historicamente, a Unicamp enfatizou a investigação científica, mantendo uma estreita relação entre ensino e
pesquisa e consolidando uma forte capacidade e experiência na produção de conhecimento novo, capaz de
contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país (Lemos, 2008).
87
O governo também contribuiu para transformar Campinas em um centro de
excelência em tecnologia: da esfera federal houve a partir do final da década de 1970
substanciais investimentos em P&D, que resultaram na criação de muitos dos laboratórios e
centros acima citados. Já no âmbito municipal, destaca-se o Plano Preliminar de
Desenvolvimento Integrado (PPDI), iniciado na década de 1960 para formalizar um parque
industrial de alta tecnologia na cidade43
. Foi também iniciativa da prefeitura a criação da
Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec) em 1983,
aonde já se localizava o CPqD, e que hoje abriga também uma série de outras empresas em
seu parque e sua incubadora (Nascimento, 2016).
Trata-se do terceiro maior parque industrial do Brasil - atrás apenas das regiões
metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Campinas concentra expressiva quantidade
de empresas e institutos de pesquisa vinculados à produção de alta tecnologia, muitos dos
quais mantém intercâmbios constantes com a Unicamp. Suas principais áreas de atuação
são informática, microeletrônica, telecomunicações, eletrônica e química fina. Finalmente, a
presença de escolas técnicas e instituições de ensino e pesquisa garante a oferta de mão de
obra qualificada - fundamental para as empresas de alta tecnologia.
Campinas é o único município do Brasil a contar com a presença de cinco parques
tecnológicos, quatro dos quais foram credenciados definitivamente no Sistema Paulista de
Parques Tecnológicos44
(SPTec) em janeiro de 2016. São eles: Parque Científico e
Tecnológico da Unicamp, Ciatec (ligado ao governo municipal), Parque Tecnológico CPqD,
Parque Tecnológico CTI-Tec e parque Empresarial Techno Park. Duas incubadoras de base
tecnológica: Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp),
da Unicamp, fundada em 2001, e Ciatec (Companhia de desenvolvimento do polo de alta
tecnologia de Campinas), da prefeitura municipal de Campinas. E, finalmente, duas
aceleradoras: Aceleradora Campinas, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas
e o Núcleo Softex Campinas, e a Baita Aceleradora, que é privada.
43
O PPDI previa a criação de um eixo industrial e de um eixo científico-tecnológico, além de áreas de
preservação ambiental, suporte habitacional, atividades de hotelaria, lazer e entretenimento (Nascimento, 2016).
44 O credenciamento definitivo permite o recebimento de incentivos fiscais, bem como a realização de convênios
com o Estado para repasse de recursos e a conversão de impostos em créditos para desenvolver pesquisas e
outros investimentos por meio do programa Pró-Parques, do Governo do Estado de São Paulo.
88
2.2.2.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Brasil
Entre as décadas de 1950 e 1990, a política de ciência e tecnologia brasileira
embasava-se em uma visão linear da inovação. Só a partir de meados da década de 1990 é que
as políticas assumem concepções sistêmicas do processo de inovação (Balbachevsky, 2011).
A criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) em 1950 marca a institucionalização da política científica brasileira. No mesmo
período, o governo buscava a expansão industrial do Brasil e nesse contexto, tanto ciência
quanto recursos humanos qualificados são considerados fundamentais para o
desenvolvimento nacional - e, portanto, prioritários (Morel, 1979).
As duas décadas seguintes viram a criação de outros atores importantes desse
cenário: fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) em 1952, com o objetivo de expandir e consolidar a pós-graduação strictu sensu no
país; do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, para atuar em
financiamento e investimento de longo prazo; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP) em 1960, para apoiar a pesquisa científica e tecnológica no Estado de
São Paulo, com orçamento anual maior do que todas as fundações similares de outros
estados45
; da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 1967, para oferecer
financiamento reembolsável e não reembolsável a empresas e instituições de pesquisa; e
do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 1969, para
financiar e integrar a ciência e tecnologia com a política de desenvolvimento nacional; dentre
outros.
Em 1983 houve a primeira grande iniciativa de interação entre governo
e mercado na área de ciência e tecnologia: a assinatura de um acordo entre o governo
brasileiro e o Banco Mundial para instituir as bases do Programa de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (PADCT). Na década de 1980 as agências de fomento
foram escolhidas como principal instrumento de política, e nesse contexto, em 1985, foi
criado o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (Pacheco e Corder, 2009). A partir da
metade da década observa-se um aumento do estímulo ao empreendedorismo inovador no
país, com o aumento da quantidade de parques e incubadoras (Plonski, 2015b).
45
1% do total da receita tributária do Estado.
89
Em 1991 destaca-se a criação da Lei de Informática (Lei nº. 8.248/91), que
concedeu incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia que tenham por prática
investir em Pesquisa e Desenvolvimento. Os incentivos fiscais consistem em redução do IPI
em produtos incentivados. Em contrapartida, as empresas devem investir no mínimo 5% do
seu faturamento bruto anual no mercado interno.
A segunda metade da década de 1990 é marcada por uma série de reformas
importantes nas políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação que tinham por objetivo
eliminar a histórica desarticulação entre as políticas nacional, industrial e de desenvolvimento
econômico no Brasil (Pacheco e Corder, 2009).
Os anos 2000, por sua vez, foram significativos para o sistema de ciência e
inovação no Brasil. Houve crescente participação internacional da ciência brasileira,
conforme demonstra a taxa anual média de quase 10% de aumento nas
publicações Science Citation Index (SCI) por habitante. Além disso, a inovação passou a ser
percebida como desafio nacional.
Em 2004 foi promulgada a Lei de Inovação (lei nº. 10.973/04) que trata do
estímulo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. A lei regulamenta as relações entre
universidade e empresas, incentiva estas a investirem em inovação e vislumbra um modo de
desenvolvimento que permite aliar a produção científica à atividade industrial. A Lei de
Inovação tornou obrigatório que toda Instituição de Ciência e Tecnologia no Brasil tenha um
Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) (próprio ou em associação com outra ICT). No início
dos anos 2000, antes de sua promulgação, apenas 5% das ICTs do Brasil
tinham NITs implementados, em 2012 já eram 34% (Torkomian, 2012) e em 2015 essa
quantidade chega a 68% (MCTI, 2015). As funções mínimas de um NIT são "zelar pela
manutenção política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento,
inovação e transferência de tecnologia, além de negociar e gerir os acordos de TT oriundos
da ICT" (BRASIL, 2016).
No ano seguinte, em 2005, é implementada a Lei do Bem (lei n.º 11.196/05), que
regula incentivos fiscais de estímulo a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico
nas empresas. Juntamente com os fundos setoriais e o arcabouço legal de propriedade
intelectual, dentre outras iniciativas, essas leis configuram o conjunto de medidas adotadas
pelo governo para viabilizar a inovação em território nacional (Cassiolato e Lastres, 2005).
90
Em 2008 é sancionada a Lei de Inovação do Estado de São Paulo (lei
complementar nº. 1.049/08). Tratou-se do quinto estado brasileiro a criar sua própria lei de
inovação. A lei instituiu o Sistema Paulista de Inovação Tecnológica, para promover o
desenvolvimento do estado por meio da inovação tecnológica, além de estabelecer medidas de
incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. Destaca-se, no âmbito do fomento
ao empreendedorismo acadêmico, que essa lei passou a autorizar pesquisadores a “licenciar-
se do cargo efetivo ou emprego público que ocupam para constituir empresa de base
tecnológica ou colaborar com empresa cujos objetivos envolvam a aplicação de inovação
tecnológica que tenha por base criação de sua autoria” (lei complementar nº. 1.049/08,
capítulo IV, artigo 13). Outra possibilidade é que os pesquisadores públicos prestem
“consultoria técnico-científica aos setores da produção (lei complementar nº. 1.049/08,
capítulo IV, artigo 14)”, possibilitando assim que mesmo aqueles que não queiram
empreender diretamente, possam ajudar no desenvolvimento de novos negócios oriundos de
pesquisa da universidade.
Ainda nos anos 2000 destacam-se duas iniciativas que articulam diferentes esferas
de governo para financiar atividades de pesquisa e desenvolvimento: o Plano de Ação em
CT&I (PACTI) 2007-2010, que associava competências dos governos federal, estaduais e
municipais para impulsionar o desenvolvimento e fortalecimento da ciência, tecnologia e
inovação no país; e o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), iniciativa do
MCTI, lançada em 2006 pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) em parceria com
Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais para financiar pesquisa e desenvolvimento de
produtos ou processos inovadores realizada por pesquisadores em parceria com empresas de
base tecnológica.
Na década corrente observa-se o fortalecimento da institucionalização da inovação
no Brasil, marcada por (i) lançamento da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação (ENCTI), em 2011 e implementada em articulação com a política industrial, que
destaca a importância da ciência, tecnologia e inovação como eixo estruturante do
desenvolvimento do país; (ii) acréscimo da Inovação ao nome do Ministério da Ciência e
Tecnologia em 2011 (atual Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e
finalmente (iii) aprovação em 2014 da Emenda Constitucional nº85/15, que inclui o Sistema
Nacional de CT&I na Constituição Federal (Plonski, 2015a).
O Quadro 2.7 a seguir apresenta o ano de criação e objetivo das principais
instituições que marcaram ou apoiaram o avanço do marco legal de inovação no Brasil.
91
Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil
Ano de
fundação Nome Objetivo
1950
Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq)
Incentivar a pesquisa e institucionalizar a
política científica no país.
1952
Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) Expandir e consolidar a pós-graduação no país.
1952
Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico
(BNDE)
Financiar e investimento de longo prazo.
1960
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo
(FAPESP)
Apoiar a pesquisa no estado de São Paulo.
1967 Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP) Financiar C&T.
1969
Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT)
Financiar e integrar C&T e política de
desenvolvimento nacional.
1983
Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (PADCT)
Criado por uma parceria entre governo federal
e Banco Mundial para financiar a C&T no
país.
1985 Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT)
Fundação do Ministério da Ciência e
Tecnologia (atual Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações).
2004 Lei de Inovação
Regulamentar relação entre universidade e
empresa, institui obrigatoriedade de NITs em
institutos de pesquisa e universidades.
2005 Lei do Bem Regula incentivos fiscais de estímulo à P&D.
2006 Programa de Apoio à pesquisa
em Empresas (PAPPE)
Iniciativa do MCTI lançada pela FINEP em
parceria com FAPs para financiar
desenvolvimentos inovadores
2007-2010 Plano de ação em Ciência,
Tecnologia e Inovação (PACTI)
Impulsionar desenvolvimento e fortalecimento
da CT&I nos âmbitos federal, estadual e
municipal.
2011
Estratégia Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação
(ENACTI)
Destacar a importância da CT&I como eixo
estruturante do desenvolvimento do país.
2014 Emenda Constitucional 85/15 Incluir o Sistema Nacional de CT&I na
Constituição Federal. Fonte: Elaboração própria.
92
2.2.2.2.3. Transferência de tecnologia no Brasil
A criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) no Brasil sistematizou-se
a partir da entrada em vigor da Lei de Inovação (lei nº. 10.973/2004), promulgada em 2004 e
que tornou obrigatório no Brasil que toda Instituição Científica e Tecnológica (ICT) disponha
de um NIT46
para apoiar a gestão de sua política de inovação. Dentre as atribuições dos NITs
destaca-se "zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das
criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia".
Diferentemente do Reino Unido (e outros países) em que havia uma legislação
específica para estimular a interação com a indústria e uniformizar a operacionalização de
procedimentos, no Brasil, antes da promulgação dessa lei, as próprias instituições criavam os
órgãos para mediar tais interações, cada uma de acordo com seus interesses e necessidades
(Santos, 2009). Com efeito, a partir da promulgação da lei em 2004 há uma formalização e
uniformização da interação entre os setores público e privado, com a consequente redução do
hiato entre a produção de conhecimento e sua transformação em riqueza e benefícios para a
sociedade (Toledo, 2015, p. 182).
A Lei de Inovação representa um marco no Brasil, ao regulamentar as relações
entre universidade e empresa, incentivando-as a investir em inovação, vislumbrando um modo
de desenvolvimento que permite aliar produção científica à atividade industrial. A estrutura da
lei está organizada em torno de três eixos: a constituição de ambiente propício a parcerias
estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas; o estímulo à participação
de institutos de ciência e tecnologia no processo de inovação; e o estímulo à inovação na
empresa. Destaca-se também que a promulgação da Lei de Inovação promoveu a
redução das incertezas jurídicas associadas à aplicação da Lei de Propriedade Industrial (lei nº
9.279/1996), crucial para o processo de transferência de tecnologia (Fujino & Stal, 2004).
No que diz respeito à quantidade de NITs criados no Brasil, conforme se pode
observar no Gráfico 2.15, nos últimos dez anos ela praticamente quadruplicou, apresentando
crescimento sistemático em todos os anos47
.
46 Próprio ou em associação com outras (ICTs).
47 O MCTIC compila e divulga anualmente desde 2006 um relatório sobre Propriedade intelectual e transferência
de tecnologia nas ICTs brasileiras, apresentando dados consolidados fornecidos por essas instituições através do
preenchimento anual do Formulário para Informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das Instituições
Científicas e Tecnológicas do Brasil (FORMICT) segundo determinação do Art. 17 da Lei de Inovação.
93
Gráfico 2.15 Criação anual de núcleos de inovação tecnológica em Instituições
Científicas e Tecnológicas no Brasil (2007-2016)
Fonte: Elaboração própria a partir de FORMICT (MCTIC).
Conforme explica Plonski (2015a) a partir dos anos 2000 observa-se no Brasil
expressivo aumento e diversificação da infraestrutura de apoio à transferência de
conhecimento e tecnologia, ou seja, além dos NITs, houve também aumento na quantidade de
incubadoras, aceleradoras e parques científicos/tecnológicos. Além da já mencionada Lei de
Inovação, outros dois fatores também contribuíram para esse movimento foram: (i) a
articulação nacional em torno da Rede de Propriedade Intelectual e Comercialização de
Tecnologia, criada em 1998 e que organiza eventos anuais para públicos cada vez maiores e
interessados em valorizar a apropriação dos resultados da pesquisa acadêmica; e (ii) a
compreensão cada vez mais difundida da importância de uma competente gestão da
propriedade intelectual, tanto para preservar os direitos referentes a resultados de pesquisa
quanto para viabilizar a cooperação com a indústria, em um contexto em que a percepção da
importância da inovação é cada vez maior na sociedade.
Houve nos anos recentes uma evolução no pensamento vigente nas instituições de
ensino superior no que diz respeito à gestão da propriedade intelectual: "De fato, o mito de
que os proventos decorrentes de licenciamento de tecnologia representariam uma fonte
importante de receita foi substituído por uma percepção mais abrangente do impacto dessa
gestão, que tem o potencial de beneficiar um conjunto de dimensões externas e internas à
universidade. Incluem estas a própria formação dos estudantes para atuarem no ambiente
empresarial inovador" (Plonski, 2015a, p. 179).
0
50
100
150
200
250
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
5475 77
94116
141166 180 199 208
Qu
an
tid
ad
e d
e N
ITs
cri
ad
os
94
Trata-se de um movimento semelhante ao observado no Reino Unido, conforme
descrito acima: em um primeiro momento a transferência de tecnologia é vista como potencial
fonte de receitas significativas para a universidade, e passa a ser buscada como maneira de
complementar seu orçamento. Posteriormente, percebe-se que, por um lado, no mais das
vezes não é possível auferir com a transferência de tecnologia ganhos expressivos com
relação ao orçamento da universidade ou mesmo do próprio NIT, e por outro, que a gestão da
propriedade intelectual de uma universidade é um processo muito mais amplo e complexo do
que o licenciamento de tecnologias.
Finalmente no âmbito individual, observa-se no Brasil um crescente estímulo
para que pesquisadores se envolvam no desenvolvimento e proteção de propriedade
intelectual. Destacam-se: (i) a valorização de patentes na Plataforma Lattes; (ii) a contagem
de patentes nos processos de seleção, avaliação e promoção; e (iii) a possibilidade de
pesquisadores receberem proventos decorrentes da transferência de tecnologia (geralmente
33% do total, de acordo com a legislação vigente).
2.2.2.2.4. Parcerias e redes
Desde sua fundação em 1966 a Unicamp mantém estreitos laços com o setor
produtivo. Em função do modelo de desenvolvimento tecnológico do país e do progresso
industrial da região de Campinas à época de sua fundação, a universidade passou a contribuir
com mão de obra qualificada e produção científica e tecnológica para atender as necessidades
da indústria de soluções tecnológicas originais ou adaptações. A Unicamp sempre buscou
incorporar em seus quadros profissionais com experiência empresarial, e o estabelecimento do
conteúdo programático dos cursos e dos temas de pesquisa frequentemente envolvia a
participação da sociedade e da indústria, todavia sempre zelando pela excelência nas missões
de ensino e pesquisa (Lemos, 2008).
Em 1968, apenas dois anos após sua fundação, a Unicamp criou o Centro
Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial (CTAE), que até 1985 disponibilizou cursos
para pequenas e médias empresas industriais da região, além de promover parcerias com elas
nas áreas de pesquisa (sobretudo nas áreas de economia industrial e regional) e ensino
(extensão e pós-graduação) (Nascimento, 2016).
95
Em 1972, menos de uma década após sua fundação, a Unicamp formalizava a
criação do Centro de Tecnologia (CT), seu primeiro órgão para realizar prestação de serviços
e assistência tecnológica ao meio industrial, de desenvolvimento de pesquisas aplicadas e de
apoio à formação e capacitação de recursos humanos (Unicamp, 2003). Nos anos
subsequentes foram criados, reestruturados, extintos e incorporados diversos outros órgãos
para apoiar e estimular a interação da Unicamp com a indústria e o meio empresarial -
movimento esse que revela o esforço sistemático da administração central para contribuir e
acompanhar a evolução das necessidades do setor produtivo. Em 2003 foi criado o Escritório
de Transferência de Tecnologia, e desde então a interação da universidade com empresas
passou a fazer parte de seu escopo de atuação48
.
Em 1976, graças à excelência da pesquisa da Unicamp em fibras óticas e por
influência do seu reitor à época, a Telebrás (Telecomunicações Brasileiras S.A.) instalou em
Campinas seu Centro de Pesquisas em Desenvolvimento e Telecomunicações (CPqD).
Estabeleceu-se um programa de cooperação entre a Unicamp e o CPqD para dar continuidade
no desenvolvimento das fibras óticas, uma tecnologia que foi posteriormente transferida para
empresas privadas que a transformaram em produto industrial. O grande sucesso desse caso
foi responsável não só por disseminar na universidade a percepção de que a pesquisa
colaborativa com empresas não acontece em detrimento da atividade científica, como também
pelo processo de instalação, na região de Campinas, de empresas da área de
telecomunicações, iniciando assim um polo de alta tecnologia centrado na Unicamp
(Nascimento, 2016).
Em 1976, exatos dez anos após sua fundação, a Unicamp lança mais uma
iniciativa para estimular o empreendedorismo em sua comunidade acadêmica: a criação da
Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), uma empresa privada que atuava
como espécie de incubadora e que tinha por objetivo apoiar o desenvolvimento de
empreendimentos baseados em tecnologia desenvolvida na universidade.
O governo municipal também participa com algumas iniciativas para estimular o
empreendedorismo em Campinas. Dentre elas destacam-se: (i) Comissão Parlamentar
Permanente de Ciência, Tecnologia e Inovação, instituída em 2004 para promover iniciativas
em defesa do desenvolvimento científico e tecnológico do município; acompanhar as
48
Para uma descrição detalhada da evolução dos órgãos administrativos da Unicamp que atuam na gestão de sua
relação com empresas, recomendamos a leitura de Lemos (2008) pp. 45-77.
96
discussões, em âmbito estadual, nacional e internacional na área da ciência e tecnologia; e (ii)
Aceleradora Campinas, a primeira aceleradora municipal do país, fundada em 2013, a partir
de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas e o Núcleo Softex Campinas49
.
No que diz respeito à pesquisa colaborativa, é possível notar pela observação
Gráfico 2.16 que a quantidade de grupos de pesquisa da Unicamp com relacionamento com
empresas vem crescendo a taxas muitos superiores às de crescimento da quantidade de grupos
de pesquisa, e um total de 33% dos grupos de pesquisa da Unicamp apresenta algum tipo de
relacionamento com empresas.
Gráfico 2.16 Relacionamento de grupos de pesquisa da Unicamp com empresas (2002-
2016)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.
Ressalte-se que, no caso da pesquisa colaborativa entre empresas e instituições de
ensino superior ou institutos de pesquisa, uma parcela significativa dessas iniciativas decorre
da obrigatoriedade de entidades de setores regulados realizarem-na. Do mesmo modo, a Lei
de informática determina a necessidade de contrapartida à renúncia fiscal de imposto sobre
49 O SOFTEX Campinas é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que participa
efetivamente do esforço conjunto da comunidade SOFTEX para contribuir para a excelência do software
brasileiro e a consolidação de Campinas e região como polo de alta tecnologia.
31 44 54 59 76
179
245
614657
628
706 734 714743
5%6,7%
8% 8,4%
10,4%
25,1%33%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
0
100
200
300
400
500
600
700
800
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018G
rup
os
de
pes
qui
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om
rel
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nam
ento
co
m
empre
sas
Gru
po
s d
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esq
uisa
na
univ
ersi
dad
e
Nº de grupos de pesquisa que relataram relacionamentos com empresa
Nº de grupos de pesquisa na universidade
% de grupos de pesquisa com relacionamento com empresa
97
produtos industrializados que o governo federal oferece, levando assim à contratação de P&D
com instituições científico-tecnológicas.
O Gráfico 2.17 apresenta as quantidades e faturamento da pesquisa colaborativa
realizada pela Unicamp entre 2003 e 2016. Nota-se que entre 2008 e 2011 há uma queda
acentuada na quantidade de convênios de pesquisa colaborativa, e embora posteriormente ela
volte a aumentar, não chega aos níveis da década anterior.
Gráfico 2.17 Quantidade e valor dos convênios de pesquisa colaborativa da Unicamp
(2003-2016)50
Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios de atividade anuais do NIT.
Destacam-se ainda três iniciativas presentes no entorno da Unicamp que tem por
objetivo estimular a atividade empreendedora e a interação de membros da comunidade
acadêmica com parceiros potenciais, conforme descrito no Quadro 2.8.
50
Em 2012 o escritório de transferência de tecnologia parou de divulgar separadamente o valor total dos
convênios e termos aditivos, e passou a divulgá-lo agregado com outras métricas, por isso da interrupção na série
de dados.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
R$ 0
R$ 2
R$ 4
R$ 6
R$ 8
R$ 10
R$ 12
R$ 14
R$ 16
R$ 18
R$ 20
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016C
onv
ênio
s e
adit
ivos
assi
nados
Val
or
dos
conv
ênio
s e
adit
ivos
(mil
hões
)
Valor total dos convenios e termos aditivos nº de convênios e termos aditivos assinados
98
Quadro 2.8 Iniciativas no entorno da Unicamp para fomentar o engajamento entre a
comunidade acadêmica e parceiros potenciais
Ano de
criação Nome Descrição
2006 Unicamp
Ventures
Rede de relacionamento e colaboração de empreendedores
ligados à Unicamp. Promove um evento anual e fornece
mentores e palestrantes para iniciativas de fomento ao
empreendedorismo da universidade.
2010 Campinas Tech
Resultado da fusão da Associação Campinas Start-ups com a
Rede Global de Empreendedorismo. Comunidade de
empreendedores de alto impacto de de start-ups. Promove
eventos, atividades e geração de sinergia para a formação
empreendedora.
2011 Liga
empreendedora
Comunidade de alunos e empreendedores da universidade para
fomentar o empreendedorismo e conectar pessoas interessadas
no tema. Fonte: Elaboração própria.
Finalmente no que diz respeito ao investimento em atividade empreendedora, há
escassez na região de Campinas. Há apenas um grupo de investidores anjo, conforme
apresentado no Quadro 2.9. Além dessa fonte, os empreendedores podem recorrer também ao
PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), programa da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que apoia a execução de pesquisa científica e/ou
tecnológica em micro, pequenas e médias empresas no Estado.
Na ausência de outras fontes de investimento, muitos empreendimentos da região
recorrem ao expediente de dar consultoria para obter fluxo de caixa enquanto trabalham no
desenvolvimento do produto ou serviço principal da empresa.
Quadro 2.9 Fonte de investimento da região da Unicamp externa à universidade
Ano de
criação Nome Descrição
2011
Inova Ventures
Participações
(IVP)
Sociedade de participações que visa investir em empresas de
base tecnológica e alto potencial de crescimento. A vasta
maioria dos sócios são empreendedores ex-alunos da
Unicamp. Fonte: Elaboração própria.
99
2.2.2.3.Contexto interno
A Universidade Estadual de Campinas foi fundada em 1966, é responsável por
15% da pesquisa acadêmica realizada no Brasil e está entre as melhores universidades do país.
Em 2014 ocupava o primeiro lugar no Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da
Educação51
, em 2017 estava em segundo lugar no QS World University Rankings® da
América Latina, 12º dos BRICS e 191º no ranking global. Em 2017 contava com 2.179
docentes e 36.598 alunos divididos entre graduação e pós-graduação. Em 2017 seu orçamento
foi de R$ 2,4 bilhões (UNICAMP, 2017).
Desde sua fundação em 1966 a Unicamp mantém estreitos laços com o setor
produtivo. Seu projeto institucional já incluía a interação universidade-empresa e a
observância das necessidades da indústria e do setor público, de modo a contribuir para a
resolução das questões tecnológicas do país (Brisolla et al, 1997).
Embora a Unicamp sempre tenha prezado pela interação com o setor produtivo, há
alguns marcos em seu contexto interno que se destacam por sua importância para o avanço
dessa interação. Dentre eles podemos citar: (i) caso do desenvolvimento da fibra ótica nas
décadas de 1970-80: a pesquisa iniciou-se na Unicamp, depois foi firmada uma parceria com
o CPqD e por fim foi licenciada para empresas privadas fazerem desenvolvimentos
posteriores e exploração comercial, tratou-se de um caso muito exitoso de transferência de
tecnologia, que incluiu a parceria entre uma universidade e um centro de pesquisa de uma
empresa, e resultou em um produto industrial; (ii) criação do Escritório de Transferência de
Tecnologia em 2003, que centralizou as atividades de proteção à propriedade intelectual,
transferência de tecnologia e fomento ao empreendedorismo.
A seguir, aprofundaremos a análise do contexto interno da Unicamp com ênfase
em quatro tópicos: política de propriedade intelectual, escritório de transferência de
tecnologia, resultados de transferência de tecnologia e iniciativas de fomento ao
empreendedorismo acadêmico.
51
http://portal.inep.gov.br/educacao-superior/indicadores/indice-geral-de-cursos-igc, trata-se do levantamento
mais recente.
100
2.2.2.3.1. Política de propriedade intelectual da Unicamp
A primeira deliberação sobre proteção aos direitos de propriedade intelectual na
Unicamp data de 1984 (Comissão Permanente de Propriedade Industrial) e as primeiras
patentes da universidade foram depositadas em 1989. Essa deliberação foi substituída em
1990 pelo ETT (Escritório de Transferência de Tecnologia) e posteriormente em 1998 pelo
Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos (EDISTEC), que por sua vez foi substituído
pela Agência de Inovação em 2003.
A política de propriedade intelectual atualmente vigente na Unicamp data de 2010
e alinha a universidade ao marco legal nacional sobre propriedade intelectual e às Leis de
Inovação Federal e Paulista. Segundo ela, a Unicamp detém integralmente a propriedade
intelectual de todos os resultados de pesquisa obtidos pelos membros de sua comunidade
acadêmica, exceto: (i) quando a pesquisa for financiada por terceiros, nesse caso a
propriedade intelectual será atribuída de acordo com o que tiver sido previamente combinado
entre as partes; e (ii) quando a pesquisa for co-financiada pela Unicamp e outras instituições,
nesse caso a titularidade da propriedade intelectual é dividida proporcionalmente ao que cada
parte aportou. Em todos os casos, os pesquisadores envolvidos constam como autores e
recebem remuneração se a tecnologia for licenciada. A divisão da remuneração ocorre de
acordo com o sugerido na Lei de Inovação: um terço para o(s) pesquisador(es), um terço para
seu departamento e um terço para a administração central da universidade.
Em condições excepcionais, a Unicamp pode ceder os direitos de propriedade
intelectual ao respectivo criador, porém para tanto é preciso percorrer um longo caminho
burocrático52
.
2.2.2.3.1. Escritório de transferência de tecnologia
A Lei de Inovação, promulgada em 2004, tornou obrigatório que toda
universidade ou instituto de pesquisa tenha um Núcleo de Inovação Tecnológica. A Unicamp,
porém, se antecipou e fundou em 2003 seu Núcleo de Inovação Tecnológica (Agência de
52
É necessário obter aprovação do Conselho Universitário, desde que previamente justificada e encaminhada
pela administração superior da universidade e ouvida a Agência de Inovação Inova Unicamp (UNICAMP,
2010).
101
Inovação Inova Unicamp) - todavia, nesse momento a universidade já contava com órgãos
para gerir sua propriedade intelectual e transferência de tecnologia há quase duas décadas53
.
Nesse cenário, destaca-se a criação do Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos
(EDISTEC) em 1984, iniciativa pioneira cuja maior contribuição foi a divulgação para os
pesquisadores da importância do patenteamento, começando a criar uma cultura de proteção
aos direitos de propriedade intelectual na universidade (Lemos, 2008).
O pioneirismo da Unicamp lhe rendeu um contrato com Finep em 2007 para
capacitar outros escritórios de transferência de tecnologia no Brasil54
, que se desdobrou na
oferta de outros cursos nacionais e internacionais, bem como a participação em iniciativas
continuadas de capacitação de escritórios, como por exemplo a Rede Inova São Paulo.
O objetivo da Inova Unicamp é auxiliar no relacionamento entre a universidade e
a sociedade com vistas a incrementar a geração e disseminação de conhecimento. Dentre suas
responsabilidades estão a gestão da propriedade intelectual, transferência de tecnologia e
estímulo ao empreendedorismo tecnológico. Quando foi criada, a Unicamp já tinha
estabelecida uma série de ações de relacionamento com a sociedade voltadas para a inovação
tecnológica, porém com a criação da agência se almejava aumentar o escopo de atuação
dessas ações nas duas vias, de tal maneira que suas atividades de ensino e pesquisa tivessem
maior impacto econômico e social, e também que suas parcerias proporcionassem desafios e
oportunidades que contribuíssem para o aprimoramento de sua produção científica
(Nascimento, 2016).
Em 2018 a agência depositou 72 pedidos de patentes no Brasil e 10 no exterior,
contava com 115 contratos de licenciamento de tecnologia vigentes e assinou 22 novos, e teve
ganhos econômicos (royalties e taxa de acesso a tecnologias, dentre outros) de R$
1.763.560,00 (UNICAMP, 2018).
53
Em 1984 é criada a CPPI (Comissão Permanente de Propriedade Industrial) para atender pesquisadores
inventores da universidade, em 1990 surge o ETT (Escritório de Transferência de Tecnologia), e em 1998 é
transformado em EDISTEC (Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos), que por sua vez viria a se
transformar em Inova em 2003.
54 Passaram por esses cursos quase mil pessoas de mais de 300 institutos de ciência e tecnologia de todo o Brasil.
102
2.2.2.3.2. Transferência de tecnologia e consultoria na Unicamp
No que diz respeito à transferência de tecnologia na Unicamp, é possível notar
pelo Gráfico 2.18 que tanto a quantidade de contratos assinados quanto a de contratos
vigentes cresce consistentemente desde a criação do escritório de transferência de tecnologia
em 2003. Todavia, praticamente a totalidade desses contratos diz respeito a transferência para
empresas existentes, e não a criação de spin-offs, ou seja, iniciativas de empreendedorismo
acadêmico.
O Gráfico 2.18 deixa evidente a importância do papel do escritório de
transferência de tecnologia para o avanço dessa atividade. Desde sua criação, atuou para
sistematizar os licenciamentos e difundir sua prática por toda a universidade, além de divulgar
casos de sucesso e estimular os pesquisadores a protegerem os resultados de sua pesquisa.
Quanto à consultoria, embora seja praticada por pesquisadores da Unicamp, a
universidade não disponibiliza dados a esse respeito. De acordo com a Deliberação CONSU-
A-002/2001 os docentes da universidade podem exercer atividade de consultoria remunerada
desde que o tempo a ela dedicado não ultrapasse 20% de sua carga horária.
103
Gráfico 2.18 Contratos de transferência da Unicamp de tecnologia assinados e
vigentes (2003-2018)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados dos relatórios anuais de atividades do ETT.
2.2.2.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o
empreendedorismo acadêmico
Dentre as iniciativas existentes na Unicamp de estímulo ao empreendedorismo
acadêmico destacam-se as relacionadas no Quadro 2.10. Elas encontram-se divididas em três
categorias: infraestrutura, ensino de empreendedorismo e outros.
Quadro 2.10 Iniciativas da universidade para fomentar o empreendedorismo acadêmico
Ano de
criação Nome Descrição
Infraestrutura
2001 Incamp
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da
Unicamp. Oferece infraestrutura para uso compartilhado
e orientação.
2003 Agência de Inovação
Inova Unicamp
Atua nas áreas de propriedade intelectual, transferência
de tecnologia e empreendedorismo de base tecnológica,
além de ser responsável pela gestão da incubadora e do
parque científico e tecnológico da universidade.
2010
Parque Científico e
Tecnológico da
Unicamp
Abriga projetos de pesquisa e desenvolvimento em
parceria com empresas e outras instituições públicas e
privadas, uma incubadora de empresas de base
tecnológica, ambientes para projetos temporários de
0
20
40
60
80
100
120
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Cont
rato
s de
tran
msf
erên
cia
de
tecn
olo
gia
assinados vigentes
104
inovação e para pré-incubação de empresas inovadoras.
2010 Política de propriedade
intelectual
Está alinhada ao marco legal nacional sobre PI e às Leis
de Inovação Federal e Paulista. A Unicamp detém a PI
de tudo o que é desenvolvido por membros de sua
comunidade acadêmica. Se a criação for realizada em
pesquisa financiada ou em parceria com terceiros, será
dividida entre as partes.
Ensino de empreendedorismo
Propriedade intelectual,
inovação e
empreendedorismo
Palestras quinzenais para sensibilizar estudantes de
graduação e pós-graduação sobre o empreendedorismo
como opção de carreira. Abertas à comunidade externa.
Tópicos especiais em
empresas I
Disciplina semestral. Aborda temas relacionados ao
empreendedorismo tecnológico.
Tópicos em
desenvolvimento de
processos químicos
Disciplina semestral. Promove o empreendedorismo
entre pós-graduandos, capacitando-os para fazer
avaliação técnico-econômica de tecnologias resultantes
de suas pesquisas.
Empreendedorismo
para Farmácia
Disciplina semestral. Aborda temas como plano de
negócios, incubadoras e propriedade intelectual.
Estratégias e gestão de
empresas agropecuárias
Disciplina semestral. Apresenta estruturação,
planejamento, processo gerencial e avaliação de
desempenho de empresas agropecuárias.
Desenvolvimento e
aplicação de plano de
negócio
Disciplina semestral. Discute competitividade, cadeia de
valor e elaboração de plano de negócio.
Gestão estratégica da
inovação nas empresas
Disciplina semestral no formato de seminários baseados
em casos reais brasileiros de gestão da inovação como
componente da estratégia competitiva.
Empreendedorismo e
inovação
Disciplina semestral. Apresenta conceitos de inovação e
propriedade intelectual, bem como algumas ferramentas
para empreender (design thinking, business model
canvas, etc).
2011 Desafio Unicamp de
Inovação Tecnológica
Competição de modelos de negócio que tem por
objetivo estimular a criação de negócios de base
tecnológica a partir de tecnologias protegidas da
Unicamp (patentes e programas de computador).
2013 Inova Jovem
Competição anual que tem por objetivo capacitar
estudantes dos dois colégios técnicos da Unicamp nas
áreas de empreendedorismo e inovação.
2013 Especialização em
propriedade intelectual
Curso de especialização que apresenta questões de
propriedade intelectual e empreendedorismo.
Outros
2004 Prêmio Inventores
Unicamp
Cerimônia anual realizada pela reitoria. Homenageia
pesquisadores e docentes envolvidos em atividades de
proteção e transferência de tecnologia e promove o
estímulo à inovação junto à comunidade acadêmica.
2006 Unicamp Ventures
Rede de relacionamento e colaboração entre
empreendedores ligados à Unicamp. Promove um
evento anual e fornece mentores e palestrantes para
105
iniciativas de fomento ao empreendedorismo da
universidade.
2008 Prêmio Inova Unicamp
de Iniciação à Inovação
Premia alunos e docentes da universidade que
desenvolveram pesquisas com maior potencial de
geração de produtos nas áreas de ciências exatas,
tecnológicas e biológicas. Fonte: Elaboração própria.
Conforme discutido pela literatura, podemos atribuir especial ênfase a alguns
aspectos da infraestrutura interna à universidade para estímulo ao empreendedorismo
acadêmico. Em primeiro lugar, destaquem-se a qualidade da pesquisa e suas áreas. Como se
pode ver no
Gráfico 2.19, praticamente 50% da pesquisa da Unicamp está concentrada em:
ciências da saúde, exatas e da terra, e engenharias e computação, que coincide parcialmente
com as áreas com maior índice de empreendimentos acadêmicos (as três primeiras colocadas
são: tecnologia da informação, consultoria e engenharia). Já no que diz respeito à qualidade,
nos últimos dez anos a Unicamp produziu em média mais de quatro mil artigos por ano em
periódicos especializados, sendo que pelo menos 97% foram em periódicos arbitrados
(AEPLAN, 2016).
Gráfico 2.19 Grandes áreas dos grupos de pesquisa da Unicamp
Fonte: Diretório dos grupos de pesquisa no Brasil, CNPq.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2014 2016
Co
mp
osi
ção
do
s gr
upo
s d
e p
esq
uisa
Sociais Aplicadas
Ling, Letras e Artes
Ciências Agrárias
Ciências Humanas
Ciências Biológicas
Engenharias e Computação
Ciências exatas e da terra
Ciências da Saúde
106
Por sua vez no quesito de capacitação de recursos humanos para o
empreendedorismo acadêmico a Unicamp oferece nove cursos e duas competições de
modelos de negócio. Dos cursos, apenas dois são abertos à comunidade externa (um de
especialização e um ciclo de palestras) e os demais são exclusivos para alunos da
universidade: há alguns como foco específico em uma área do conhecimento, como por
exemplo Farmácia, Química ou Agropecuária, e outros abertos a todas as áreas. Um deles
(Tópicos em desenvolvimento de processos químicos) se destaca por capacitar estudantes de
pós-graduação para avaliar o potencial de mercado dos resultados de suas pesquisas. Há
também duas competições em moldes similares, uma para nível superior e uma para nível
médio, que visam capacitar estudantes nos temas de empreendedorismo e inovação através da
elaboração de modelos de negócio.
Por fim, a Unicamp conta também com uma incubadora e um parque científico
e tecnológico. A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) foi
criada em 2001, está instalada dentro do campus e conta com mais de 40 empresas graduadas.
Vale lembrar, todavia, que em 1976, exatos dez anos após sua fundação, a Unicamp lança
uma iniciativa pioneira para estimular o empreendedorismo em sua comunidade acadêmica: a
criação da Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), uma empresa privada que
atuava como espécie de incubadora que tinha por objetivo apoiar o desenvolvimento de
empreendimentos baseados em tecnologia desenvolvida na universidade. Já o Parque
Científico e Tecnológico da Unicamp foi criado em 2008 e abriga tanto empresas que têm
convênios de P&D com a Unicamp quanto start-ups que desenvolvem projetos inovadores em
regime de incubação ou não.
2.3. Apresentação dos resultados: semelhanças e diferenças entre os casos estudados
O Quadro 2.11 apresenta uma consolidação das principais semelhanças e
diferenças nos dados de empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge e na região da
Unicamp, bem como os fatores internos e externos às respectivas universidades que
influenciam essa atividade empreendedora. Esse quadro irá orientar a análise dos resultados
que será apresentada no próximo capítulo.
107
Quadro 2.11 Principais semelhanças e diferenças entre resultados de empreendedorismo
acadêmico e entre fatores internos e externos às duas universidades estudadas
Semelhanças de resultados
Concentração setorial das empresas:
principais setores de atuação
(STEM)
Cambridge: tecnologia da informação e
telecomunicações (30%), software (12%),
biotecnologia (8%).
Unicamp: tecnologia da informação (18%),
consultoria (12%), engenharia (8%).
Anos de início e de intensificação da
criação de empresas
Cambridge: 1ª empresa 1965; intensifica a
partir de meados da década de 1990.
Unicamp: 1ª empresa 1963; intensifica a partir
de meados da década de 1990.
Quantidade de empresas vendidas Cambridge: 16%
Unicamp: 6%
Quantidade de funcionários das
empresas
Cambridge:
1-10: 43%;
11-50: 39%;
51-200: 17%
Unicamp:
1-10: 52%;
11-50: 35%;
51-200:11%
Semelhanças de contexto
Quantidade de docentes Cambridge: 1.666 (2017)
Unicamp: 1.867 (2017)
Quantidade de alunos Cambridge: 21.656 (2017)
Unicamp: 35.656 (2017)
Marco legal de inovação: criação do
arcabouço institucional para
estimular empreendedorismo
acadêmico e transferência de
conhecimento
Cambridge: Inicia-se em fins dos anos 1990.
(Tardio se comparado a outros países
desenvolvidos)
Unicamp: Inicia-se com a Lei de Inovação em
2004.
Possível correlação entre aumento
de empresas criadas por ano e de
estudantes de pós-graduação (1994-
2016)
Cambridge: empresas criadas aumentam 4.9x
e alunos de pós-graduação 3.0x
Unicamp: empresas criadas aumentam 3.3x e
alunos de pós-graduação 1.9x
Diferenças de resultados
Quantidade de empresas oriundas da
universidade
Cambridge: aproximadamente 4.900 ativas
Unicamp: aproximadamente 2.400 ativas
Quantidade de tecnologias
licenciadas
Cambridge: 127 (2016)
Unicamp: 23 (2016)
Internacionalização Cambridge: 50% tem sede no Reino Unido (e
108
25% nos EUA), 54% exportam
Unicamp: 100% tem sede no Brasil, 3% tem
filial no exterior, 13% exportam
Diferenças de contexto
Produção de propriedade intelectual
Cambridge: 245 patentes depositadas em
2017, 1703 depositadas no período 2007-2017
Unicamp: 81 patentes depositadas em 2017,
721 depositadas no período 2007-2017
Disponibilidade de fontes de
investimento
Cambridge: 8 fontes de venture capital; 4 de
investimento anjo externo à universidade e 4
geridas pelo ETT
Unicamp: 1 grupo de investidores anjo externo
à universidade
Parcerias e redes
Cambridge: total de 21 iniciativas, a mais
antiga data de 1987
Unicamp: total de 3 iniciativas, todas criadas
depois do ano 2000
Política de propriedade intelectual
da universidade
Cambridge: pesquisador pode escolher ser
proprietário da patente
Unicamp: patente é sempre da universidade
Escopo de atuação do escritório de
transferência de tecnologia
Cambridge: mais amplo, faz investimento
Unicamp: mais restrito, não faz investimento
Fonte: elaboração própria.
109
CAPÍTULO 3.
3. Discussão dos resultados: semelhanças e diferenças entre o empreendedorismo
acadêmico na região da universidade de Cambridge e na da Unicamp
3.1. Introdução
O presente capítulo tem por objetivo fazer a discussão dos resultados dos dois
estudos de caso apresentados no capítulo 2 – perfil da atividade empreendedora em cada uma
das regiões e contextos interno e externo às universidades e seu impacto no
empreendedorismo acadêmico. A análise dos dados levantados revela semelhanças e
diferenças tanto entre os contextos quanto entre os resultados de empreendedorismo
acadêmico no entorno de cada umas das universidades.
As semelhanças de contexto iniciam-se em questões mais pontuais, como as
dimensões de corpo docente e discente e o volume de alunos de pós-graduação matriculados
em cursos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e estendem-se para
questões mais complexas, como por exemplo a configuração do arcabouço institucional para
estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das
universidades. Já no que diz respeito às spin-offs, destacam-se as semelhanças na
concentração setorial e as curvas de quantidade de empresas criadas por ano.
No âmbito das diferenças de contexto destacam-se a exploração comercial da
propriedade intelectual, o alto grau de internacionalização das empresas oriundas de
Cambridge contrastando com a presença eminentemente local das empresas oriundas da
Unicamp e também a disponibilidade de fontes de investimento. Há diferenças consideráveis
nas parcerias e redes de cada universidade, na política e produção de propriedade intelectual e
no volume e diversidade das iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.
Nossa análise busca destacar aonde as semelhanças e, sobretudo, as diferenças,
são mais acentuadas e aonde são mais moderadas, bem como quais fatores parecem ser os
principais responsáveis pelas convergências e divergências encontradas entre os dois casos
estudados. Destacamos o papel do contexto na explicação das semelhanças e diferenças de
resultados, ainda que, naturalmente, não tenhamos elementos para afirmar que essas
especificidades de contexto são as únicas determinantes dos resultados encontrados.
Reconhecemos a existência de outros fatores também pertinentes para a explicação das
semelhanças e diferenças encontradas, que todavia estão fora do escopo do presente trabalho,
110
como por exemplo o contexto sociocultural da universidade e características pessoais dos
indivíduos (apresentados em âmbito teórico no capítulo 1).
O presente capítulo é composto por três itens, incluindo essa introdução. O item 2
discute as semelhanças entre os dois casos, divididas em semelhanças de resultados e de
contexto e item 3 discute as diferenças, na mesma estrutura, ou seja, de resultados e de
contexto.
3.2. Semelhanças entre os casos estudados
Apesar das evidentes diferenças de idade – uma tem 52 anos, e a outra, 809 – e
aquelas decorrentes da localização, observamos uma série de semelhanças entre a
Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de Cambridge, tanto no que diz respeito
aos resultados de empreendedorismo acadêmico quanto ao contexto em que ele ocorre. A
seguir apresentaremos e discutiremos as semelhanças constatadas, divididas em semelhanças
de resultados e de contexto.
3.2.1. Semelhanças de resultado
Na lista das semelhanças entre os resultados de empreendedorismo acadêmico dos
dois casos estudados, figuram: (i) principais setores de atividade das empresas oriundas das
universidades, (ii) anos de início e de intensificação da criação de empresas, (iii) quantidade
de empresas vendidas e (iv) quantidade de colaboradores das empresas.
Primeiramente no que diz respeito à concentração setorial, conforme ilustram os
Gráficos 3.1 e 3.2, em ambos os casos estudados o setor de atividade com maior quantidade
de empresas é o de tecnologia da informação e comunicação (Cambridge com 30% do total e
Unicamp com 18%). Em segundo lugar em Cambridge está a área de software (12%) e em
terceiro a de biotecnologia (8%). Já no caso da Unicamp a segunda área com maior
concentração de empresas é a de consultoria (12% do total) seguida pela de engenharia (8%).
111
Gráfico 3.1 Setores de atividade das empresas oriundas da Universidade de Cambridge
Fonte: elaboração própria.
0 5 10 15 20 25 30 35
Tecnologia da informação
Software
Biotecnologia
Mídia
Serviços de internet
Hardware
Financeiro
Outro
Engenharia
Saúde
Não declarado
Marketing
Telecomunicações
Consultoria
Educação
Moda & Decoração
Farmacêutica
Semicondutores
Energia
Alimentos
Equipamentos médicos
Recursos Humanos
Turismo
Educação Física
Eletrônica
Nanotecnologia
Tecnologias verdes
Imobiliário
Química
Agricultura
Quantidade de empresas
112
Gráfico 3.2 Setores de atividade das empresas oriundas da Unicamp
Fonte: elaboração própria.
0 5 10 15 20
Tecnologia da informação
Consultoria
Engenharia
Outro
Software
Alimentos
Biotecnologia
Energia
Saúde
Não informado
Educação
Telecomunicações
Serviços de internet
Marketing
Financeiro
Mídia
Arquitetura
Agricultura
Moda & Decoração
Educação Física
Tecnologias verdes
Química
Equipamentos médicos
Farmacêutica
Hardware
Nanotenologia
Semicondutores
Quantidade de empresas
113
Algumas características das universidades e das regiões contribuem para explicar
esse fenômeno de concentração: primeiramente no que diz respeito à área de tecnologia da
informação e telecomunicações, em ambos os casos, são áreas em que a pesquisa das
universidades é forte e as regiões contam com outros institutos e centros de pesquisa públicos
e privados com atuação muito significativa na área - para Campinas podemos citar como
principais exemplos o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD)
e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI Renato Archer), e para
Cambridge o AT&T Laboratories Cambridge e o Microsoft Research Lab.
Em segundo lugar, há que se analisar a pós-graduação, que é uma das principais
fontes de capital humano para o empreendedorismo acadêmico. Nesse caso também há uma
grande semelhança entre as duas universidades estudadas: em ambos os casos,
aproximadamente um terço dos estudantes de pós-graduação dedicam-se a áreas STEM
(Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Na Unicamp são 34%55
dos alunos de pós-
graduação - sendo que 52% das empresas analisadas atuam em STEM. Ou seja, metade das
empresas dedica-se às áreas de conhecimento em que se concentram um terço dos estudantes
de pós-graduação. Já no caso de Cambridge, 35%56
dos alunos de pós-graduação dedicam-se a
áreas STEM, que representam 71% das áreas de atuação das empresas analisadas. Ou seja,
mais de dois terços das empresas concentram-se nas áreas às quais se dedicam um terço dos
alunos de pós-graduação da universidade. Nos aprofundaremos mais adiante, na seção
semelhanças de contexto, na questão da influência da pós-graduação no empreendedorismo
acadêmico que ocorre no entorno das duas universidades.
Do ponto de vista da atividade empreendedora, é necessário ressaltar também
que a área de software, assim como a de tecnologia da informação, tem custos fixos menores
(Garnsey & Heffernan, 2005), menor custo de escala e exige investimento inicial de tempo e
capital relativamente menor, por exemplo, do que biotecnologia ou saúde, e por isso apresenta
uma tendência natural a ocorrer com mais frequência.
Já no que diz respeito à terceira área com maior incidência de empreendedorismo
acadêmico em Cambridge – a biotecnologia, que responde por 8% do total da nossa amostra
de empresas– uma análise do contexto nos mostra que há na região uma infraestrutura
55
Fonte: Anuário Estatístico Unicamp 2016.
56 Fonte: Student Statistics 2015-16 (último ano disponível).
114
considerável de apoio às atividades na área de biotecnologia: dentre os 19 parques científicos
e tecnológicos da região, há 5 dedicados à área de ciências da vida (e nenhuma outra área do
conhecimento apresenta concentração maior de especialização de parques), além disso, das
três incubadoras da região, uma é dedicada exclusivamente à área de biotecnologia, enquanto
as outras duas são abertas a todas as áreas do conhecimento. Por fim, e provavelmente de
maior relevância, destaca-se o fato de que há na região duas importantes instituições nas áreas
de saúde e biotecnologia: o Babraham Institute, laboratório financiado pelo governo e que
realiza muitos projetos colaborativos com empresas, e o Medical Research Council
Laboratory of Molecular Biology laboratório público de pesquisa em biologia que emprega
mais de 400 pesquisadores e é considerado como elemento essencial para o desenvolvimento
do cluster de biotecnologia da região. Essa potência de Cambridge na área de ciências da
vida, tanto na universidade quanto fora dela, faz com que a região seja um centro de
excelência para aplicações de mercado de biotecnologia. Não é por acaso que o Human
Genome, projeto internacional de sequenciamento do genoma humano lançado em 1990, era
sediado em Cambridge (Garnsey & Heffernan, 2005; Kirk & Cotton, 2012).
Finalmente, no que diz respeito à segunda área de atuação com maior
incidência de empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp (consultoria, que
representa 12% do total), é importante ressaltar que se trata de uma área que requer baixo
investimento inicial e poucas habilidades de gestão. Por isso, torna-se uma escolha
interessante para quem decide empreender, além de configurar-se como uma opção atraente
para empresas iniciantes que tem dificuldade de acessar financiamento e optam por prestar
consultoria técnica de modo a conseguir fluxo de caixa até que terminem as etapas de
desenvolvimento e validação no mercado de seu produto ou serviço (Druilhe & Garnsey,
2004). Ou seja, o fato de a consultoria estar em segundo lugar dentre as áreas com maior
incidência de empreendedorismo acadêmico oriundo da Unicamp, pode ser considerado como
indicativo da escassez de fontes de investimento e capacitação na região.
Ainda no tópico das semelhanças entre o empreendedorismo acadêmico oriundo
das universidades estudadas, de acordo com o Gráfico 3.3, observa-se que há paralelos nas
curvas de quantidade de empresas criadas por ano. Nos dois casos, a criação de empresas
inicia-se na década de 1960, mas só ganha fôlego três décadas depois, a partir de meados dos
anos 1990. Além disso, nenhum dos casos apresenta crescimento linear, ou seja, há picos de
criação de empresas em anos específicos, bem como períodos de queda, como é o caso dos
últimos um ou dois anos.
115
Gráfico 3.3 Quantidade de empresas oriundas de Cambridge e da Unicamp criadas por
ano (1963-2016)
Esse movimento de adensamento da criação de empresas por ano coincide com a
transição vivida em maior ou menor grau pelas universidades de todo o mundo a partir da
década de 1980 e que as levou a rever suas missões e atividades de modo a melhor atender as
demandas da sociedade e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo
através da transferência direta ou indireta de tecnologia e conhecimento (através de
licenciamentos ou spin-offs) (Zanatta et al, 2016).
Para compreender esse impulsionamento do crescimento a partir de meados dos
anos 1990 é preciso lembrar que na década de 1980, com a implementação do Bayh-Dole Act.
se institucionaliza – nos Estados Unidos e ao redor do mundo – a ideia de universidade
empreendedora, que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas
relacionadas à comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade
empreendedora. Diante desse novo cenário, as universidades norte-americanas foram
pioneiras ao mudar suas políticas internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos
administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para patentear e comercializar os
resultados das suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram
arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de formalização da gestão da
propriedade intelectual se propagasse entre as universidades ao redor do mundo (Grimaldi,
2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no
contexto interno quanto no contexto externo às universidades.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Em
pre
sas
cria
das
Cambridge Unicamp
116
Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência
de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para
as atividades diretamente relacionadas à transferência de tecnologia: patenteamento e
licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, uma vez que
se pensava que estas poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes
potencialmente mais lucrativos. Também havia poucos cursos e programas sobre
empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do
empreendedorismo acadêmico quando se percebeu que tratava-se de outro caminho possível
para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que,
em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente
vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por
meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).
Ou seja, o aumento na quantidade de empresas criadas a partir dos anos 1990 é
reflexo do adensamento que ocorreu em ambos os países (e em tantos outros ao redor do
mundo) de iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a
exploração comercial de propriedade intelectual da universidade e o empreendedorismo
acadêmico, bem como de uma série de ações governamentais em âmbito estadual ou federal
implementadas no mesmo período. Além disso, destaca-se também o fenômeno global que
ocorre a partir do final dos anos 1990 quando se observa um aumento no interesse em
empresas de tecnologia em função dos altos retornos de investimentos norte-americanos na
área.
Especificamente para o caso brasileiro é importante notar que é somente a partir
de meados da década de 1990 que as políticas de ciência e tecnologia abandonam a visão
linear e assumem concepções sistêmicas do processo de inovação. Nesse sentido, o período é
marcado por uma série de reformas importantes nas políticas nacionais de ciência, tecnologia
e inovação que tinham por objetivo eliminar a histórica desarticulação entre as políticas
nacional, industrial e de desenvolvimento econômico no Brasil (Pacheco e Corder, 2009,
Balbachevsky, 2011). Finalmente, e também em nível nacional, há a influência do Plano Real,
que foi lançado em 1994 para controlar a inflação e estabilizar a economia. Seu êxito
contribuiu para reduzir a incerteza inerente à atividade empreendedora e influenciou
positivamente a propensão a empreender no país.
117
Já para o caso de Cambridge, uma possível explicação, proposta por Druilhe &
Garnsey (2004), seria a mudança de postura da universidade a partir da década de 1990. Antes
desse período, conforme discutido acima, sua abordagem sobre transferência de tecnologia,
propriedade intelectual e empreendedorismo era informal e difusa. Não havia diretrizes
estruturadas e detalhadas para regular o relacionamento dos acadêmicos com a indústria ou
sua atividade empreendedora, de tal maneira que os pesquisadores tinham muita liberdade e
pouco apoio. Na segunda metade dos anos 1990, porém, a abordagem da universidade muda e
torna-se mais proativa e estruturada: os acadêmicos passam a contar com uma gama cada vez
mais ampla de iniciativas para estimular e apoiar sua atividade empreendedora. Assim, essa
mudança de postura da universidade pode responder em parte pelo aumento na criação anual
de empresas na região de Cambridge a partir do final dos anos 1990. Além disso, destaca-se
também o aumento do financiamento público e privado no Reino Unido no período (tópico
que será detalhado mais adiante).
Outra variável em que há semelhança entre os dois casos estudados é a quantidade
de empresas vendidas: ainda que em Cambridge a porcentagem de empresas vendidas seja um
pouco maior do que em Campinas (16% no primeiro caso e 6% no segundo). Nota-se em
ambas que a vasta maioria das empresas continua, ao menos parcialmente, sob o controle de
seus fundadores.
Finalmente, se observa muita semelhança entre os casos no quesito de distribuição
da quantidade de colaboradores das empresas. A vasta maioria das empresas tem de 1 a 10
funcionários (43% em Cambridge e 52% na Unicamp), em seguida, mais de um terço do total
tem de 11 a 50 colaboradores (39% em Cambridge e 35% na Unicamp), e uma minoria tem de
51 a 200 (17% e 11%, respectivamente). Dentre as empresas maiores, há em Cambridge duas
com 1.001 a 5.000 funcionários, uma com 5.001 a 10.000 e também uma com mais de dez mil
funcionários. Já em Campinas há apenas 4 de 501 a 1.000 e 3 na faixa de 1.001 a 5.000
funcionários.
Analisando-se em conjunto os dois últimos dados apresentados (empresas
vendidas e quantidade de colaboradores), é possível notar que, ainda que haja exceções, a
vasta maioria das empresas de ambas as regiões são de porte pequeno ou médio e permanece,
pelo menos parcialmente, propriedade de seus fundadores.
118
3.2.2. Semelhanças de contexto
Na lista das semelhanças entre os contextos dos dois casos estudados, figuram: (i)
quantidade de docentes, (ii) quantidade de alunos, (iii) marco legal de inovação (criação do
arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e transferência de
conhecimento) e (iv) possível correlação entre o aumento de empresas criadas e da quantidade
de alunos de pós-graduação.
Primeiramente, observa-se que ambos os corpos docente e discente têm tamanhos
comparáveis: a Unicamp tem 1.867 docentes, 16.655 alunos de pós-graduação e um total de
35.656 alunos, enquanto Cambridge tem 1.666 docentes, 9.612 alunos de pós-graduação e um
total de 21.656 alunos.
Seguindo com as características comparáveis de contexto, é importante notar
que a configuração do arcabouço institucional por parte do governo britânico para estimular o
empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades é
tardia quando comparada a outros países desenvolvidos. Assim, nesse ponto o Reino Unido
assemelha-se ao Brasil, cuja Lei de Inovação data de 2004 – e sabe-se que as iniciativas de
fomento ao empreendedorismo acadêmico vêm no esteio das políticas de inovação, assim
como ocorreu nos Estados Unidos, após a implementação do Bayh Dole Act nos anos 1980.
O Reino Unido não dispõe de uma legislação federal de apoio à inovação (como a
Lei de Inovação brasileira), mas apesar disso tal apoio fica evidente, principalmente a partir
do fortalecimento dos fundos públicos para pesquisa e do aumento do apoio governamental às
iniciativas de inovação e empreendedorismo que ocorrem em fins dos anos 1990 e início dos
anos 2000 (Lawton Smith & Ho., 2006).
Por sua vez no Brasil a inovação só passa a ser percebida como desafio nacional
nos anos 2000, e o incentivo governamental é marcado pela promulgação da Lei de Inovação
em 2004. Além disso, o processo de perceber que a ideia de que os proventos decorrentes de
licenciamento de tecnologia representariam uma fonte importante de receita para a
universidade era na realidade um mito, e que a questão da transferência de tecnologia
necessitava ser tratada de maneira mais ampla - inclusive por ter o potencial de beneficiar
um conjunto de dimensões externas e internas à universidade - acontece no Brasil somente na
década de 2010, enquanto que no Reino Unido ocorre já no final da década de 1990.
119
Isso decorreu do fato de que o interesse do governo federal do Reino Unido pelo
incentivo à transferência de tecnologia universitária surgiu já no final da década de 1970,
quando implementou reformas que reduziram a verba das universidades e recomendou que
buscassem complementar suas receitas comercializando tecnologia. Essa iniciativa, todavia,
não continha nenhum componente de estímulo à transferência de tecnologia que não a
redução de verba – não veio acompanhada de nenhum tipo de legislação, fundo de
investimento, apoio ou programa de incentivo.
Outro fator que se destaca nas semelhanças de contexto entre os dois casos
estudados é a aparente correlação entre o aumento na quantidade de empresas criadas por ano
e de estudantes de pós-graduação matriculados (para o período de 1994 a 2016), conforme
ilustra o Gráfico 3.4.
Gráfico 3.4 Quantidade de empresas criadas por ano, de alunos matriculados na pós-
graduação na Unicamp e em Cambridge (1994-2016, tendência)
Fonte: elaboração própria a partir de dados dos anuários estatísticos das universidades.
R² = 0,95
R² = 0,72
R² = 0,73
R² = 0,64
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Qua
ntid
ade
de
empre
sas
cria
das
Qua
ntid
ade
de
alun
os
mat
ricu
lado
s na
pós-
grad
uaçã
o
Alunos matriculados pós-graduação Unicamp Alunos matriculados pós-graduação CambridgeEmpresas criadas Unicamp Empresas criadas Unicamp
120
Ainda que em ambos os casos a quantidade de empresas criadas por ano cresça
60% a mais do que a quantidade de alunos matriculados em mestrado e doutorado, nota-se
que ambos apresentam tendências relativamente parecidas – e mais acentuadas – de
crescimento, enquanto que o aumento anual na quantidade de alunos matriculados na
graduação é menor57
. Para Cambridge, os alunos de pós-graduação triplicam no período, e a
quantidade de empresas aumenta 4,9 vezes, enquanto que para a Unicamp os alunos de pós
quase duplicam (aumenta 1,9 vezes) e as empresas mais que triplicam (3,3 vezes).
No que diz respeito à pós-graduação, a Universidade de Cambridge tem 35% de
seus alunos de pós-graduação matriculados em cursos em STEM (Ciência, Tecnologia,
Engenharia e Matemática), e a Unicamp, 34%. Como a literatura aponta, parte considerável
do empreendedorismo acadêmico é realizado por estudantes. Junte-se a isso o fato também
destacado pela literatura de que, na maioria das vezes, o empreendedorismo acadêmico
realizado por estudantes baseia-se em ideias oriundas de suas pesquisas (independentemente
de gerarem propriedade intelectual ou não), e é possível vislumbrar uma justificativa para a
concentração de empreendimentos nas áreas de STEM (Mayer, 2007).
A análise do conjunto das semelhanças de contexto nos permite ver que, em sua
maioria, não tem um componente ativo de estímulo à atividade empreendedora: os itens
quantidade de docentes, quantidade de alunos, e correlação entre o aumento de empresas
criadas por ano e de estudantes de pós-graduação não são resultado de ações deliberadas
para estimular o empreendedorismo acadêmico. Já o item marco legal de inovação: criação
do arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e a transferência
de conhecimento, ainda que seja resultado de uma ação deliberada para estimular a atividade
empreendedora, refere-se ao âmbito nacional, portanto também tem impacto reduzido nessa
análise, uma vez que nosso foco é o entorno das universidades.
57
Enquanto em Cambridge a quantidade permanece praticamente estável (aumenta 1,1 vez), na Unicamp no
mesmo período, duplica.
121
3.3. Diferenças entre os casos estudados
3.3.1. Diferenças de resultado
Na lista das diferenças entre os resultados de empreendedorismo acadêmico dos
dois casos estudados, figuram: (i) quantidade de empresas oriundas das universidades, (ii)
quantidade de tecnologias licenciadas pelas universidades, (iii) internacionalização das
empresas oriundas das universidades.
A primeira diferença de resultado que notamos diz respeito ao empreendedorismo
acadêmico: enquanto há aproximadamente 4.900 empresas oriundas de Cambridge ativas, isso
é, que tem pelo menos um fundador que tem ou teve vínculo com a universidade, para a
Unicamp esse número gira em torno de 2.400, ou seja, é aproximadamente a metade. Desse
universo, analisamos dados a respeito de 961 empresas para o primeiro caso, e 488 para o
segundo.
Todavia, apesar da evidente disparidade, é preciso fazer um exercício para
relativizá-la a partir do cruzamento com informações referentes às diferenças de contexto.
Primeiramente, é interessante notar que a discrepância no volume de fontes de investimento e
parcerias e redes nos dois casos analisados não é proporcional aos seus respectivos volumes
de empresas. Trata-se de dois campos recorrentemente mencionados como de grande
importância no estímulo ao empreendedorismo, e as diferenças não são desprezíveis:
enquanto Cambridge conta com oito fontes de venture capital; quatro de investimento anjo
externo à universidade e quatro geridas pelo seu Escritório de Transferência de Tecnologia, a
região da Unicamp tem apenas um grupo de investidores anjo, que é externo à universidade.
Ou seja, Cambridge tem 16 diferentes fontes de investimento para apoiar start-ups e spin-offs,
enquanto que Campinas tem apenas duas, e ainda assim, aquela região tem apenas o dobro de
empreendimentos do que essa.
Da mesma maneira, no quesito de parcerias e redes, elementos muito importantes
para empreendedores presentes e potenciais adquirirem e trocarem conhecimentos, além de
formarem suas redes de contatos, Cambridge conta com um total de 21 iniciativas, sendo que
a mais antiga data de 1987, enquanto que no entorno da Unicamp há apenas três, todas criadas
depois do ano 2000. No primeiro caso, observa-se uma grande variedade de iniciativas. Há
aquelas que são internas à universidade (ex. grupo para membros da comunidade acadêmica
interessados em empreendedorismo e inovação), externas (ex. fóruns para discutir tópicos
122
relacionados a manufatura de alto valor) e mistas (ex. eventos que reúnem acadêmicos e
representantes da indústria para identificar áreas de interesse comum); há iniciativas gerais e
focadas em áreas de atuação específicas (ex. web design ou energia e meio ambiente), há
algumas frequentadas somente por empreendedores, e outras que envolvem também
investidores, indústria e o setor público; há iniciativas locais de Cambridge, outras em
parceria com Londres, com a Europa e com os Estados Unidos. Ou seja, há não só um grande
volume, como também uma grande variedade de iniciativas voltadas para a criação e
fortalecimentos e parcerias e redes de empreendedores.
Já no entorno da Unicamp, observa-se apenas três iniciativas: um grupo de alunos
interessados em empreendedorismo, um grupo de alunos e ex-alunos empreendedores, e uma
associação de start-ups da região. No entanto, a extraordinária diferença entre as quantidades
de parcerias e redes da região de Cambridge e da Unicamp parece não se traduzir em
semelhante desproporção entre o volume de empreendedorismo acadêmico da primeira e da
segunda.
O segundo item na lista de diferenças de resultados é a exploração comercial da
propriedade intelectual, e nesse caso nota-se uma diferença muito mais expressiva do que a
das quantidades de empresas: em 2017 a Unicamp licenciou 23 tecnologias, e entre 2007 e
2017, licenciou um total de 127. Já Cambridge, em 2017 licenciou 126, e no período de 2007
a 2017, licenciou um total de 1.135 tecnologias. Conforme ilustra o Gráfico 3.5, os números
de licenciamentos da universidade de Cambridge são muito maiores do que os da Unicamp
desde a criação de seu escritório de transferência de tecnologia em 2007: em média,
Cambridge assina 11,2 vezes mais licenças por ano do que a Unicamp.
123
Gráfico 3.5 Quantidade de licenças de transferência de tecnologia assinadas por ano na
Universidade de Cambridge e na Unicamp
Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais dos respectivos ETTs.
Dentre os fatores que explicam essa diferença, destaca-se o fato de que o
escritório de transferência de tecnologia de Cambridge está mais bem equipado do que o da
Unicamp sobretudo no que diz respeito a: (i) existência de um fundo de prova de conceito,
que investe nas tecnologias mais promissoras da universidade antes de licenciá-las, deixando-
as assim mais preparadas para aplicação no mercado, e consequentemente mais atrativas para
licenciamento; e (ii) qualificação da equipe: enquanto a de Cambridge é altamente
profissionalizada desde a sua fundação, a Unicamp em seus primeiros dez anos de existência
(2003-2013) sofreu com a baixa permanência de pessoal em função da dificuldade de obter
vagas permanentes junto à administração central da universidade, dependendo portanto
excessivamente de bolsistas, cuja rotatividade é inevitável e invariavelmente alta.
Em terceiro lugar, dentre as diferenças de resultados de empreendedorismo
acadêmico, destaca-se também a questão da internacionalização. As empresas oriundas de
Cambridge apresentam alto grau de internacionalização, que se manifesta nos fatos de que: (i)
apenas 50% tem sede no Reino Unido, 25% tem sede nos EUA e as demais sedes estão
espalhadas por quase 40 países58
em todos os continentes; (ii) dentre as empresas que
58
Os países em que há sede de empresas oriundas de Cambridge, além do Reino Unido, são: África do Sul,
Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos,
Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Hong Kong, Índia, Indonésia, Irlanda, Israel,
Itália, Japão, Jordânia, Malta, México, Noruega, Paquistão, Polônia, Portugal, Quênia, Rússia, Singapura,
Suécia, Suíça, Tailândia, Taiwan, Turquia e Vietnã (total de 39).
0
20
40
60
80
100
120
140
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
104 4 7 10 13
8 1115
23 22
60
80 83
97
116
84
109
130123
127 126
Lic
ença
s as
sina
das
Unicamp Cambridge
124
possuem filial (88% do total), 84% tem pelo menos uma filial no exterior59
; e (iii) 54% do
total, exportam.
Já na região de Campinas, não só todas as empresas sem exceção têm sede no
Brasil, como 60% tem sede na cidade de Campinas e 95% tem sede no estado de São Paulo.
Além disso, apenas 11% delas têm filial, e dessas, 29% são no exterior60
- ou seja, apenas 3%
da amostra total tem presença no exterior. Finalmente no quesito exportação, apenas 13% das
empresas oriundas da Unicamp a praticam.
Adicionalmente, é interessante analisar os países aonde se estabeleceram essas
empresas: no caso de Cambridge, há sedes em 39 países e filiais em 49. Em ambos os casos se
observa variedade de tamanho (desde países pequenos como Chipre Liechtenstein, até
grandes como Rússia e China) e representação de todos os continentes (Alemanha, Argentina,
Quênia, Rússia, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Nova Zelândia, Groenlândia etc). Já no
caso da Unicamp, a presença internacional está essencialmente limitada ao continente
americano (Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos e México), com uma única
exceção de uma empresa que tem filiais também na China, no Japão e no Reino Unido.
Assim, pode-se concluir que as empresas oriundas da Unicamp apresentam presença
eminentemente local, enquanto que as de Cambridge tem considerável projeção global.
Uma possível explicação para esse fenômeno é a quantidade de alunos
estrangeiros nas universidades. Uma vez que parte considerável do empreendedorismo
acadêmico é iniciativa de alunos ou ex-alunos, sobretudo de pós-graduação (Meyer, 2007),
acreditamos que o fato de a universidade de Cambridge ter muito mais alunos estrangeiros do
que a Unicamp impacta diretamente nas taxas de internacionalização das empresas dela
oriundas. Conforme ilustra o Gráfico 3.6, a presença de estrangeiros na graduação da
Unicamp é muito reduzida (variando entre 0,5% e 0,7% no período de 2007 a 2016) e na pós-
graduação, embora seja consideravelmente maior (variando entre 4% e 6%), ainda está muito
59
Os países em que há filiais de empresas oriundas de Cambridge são: África do Sul, Alemanha, Argentina,
Áustria, Austrália, Bélgica, Brasil, Bulgária, Canadá, Cazaquistão, Chile, China, Chipre, Coréia do Sul,
Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Filipinas, Finlândia, França, Geórgia,
Groenlândia, Holanda, Hong Kong, Índia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Kuwait, Liechtenstein, Luxemburgo,
Macau, México, Nigéria, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Quênia, Rússia, Sérvia, Singapura, Suécia,
Suíça, Taiwan e Ucrânia (total de 49).
60 Os países em que há filiais de empresas oriundas da Unicamp são: Argentina, Canadá, Chile, China,
Colômbia, Estados Unidos Japão, México e Reino Unido (total de 9).
125
inferior aos números de Cambridge, cujos cursos graduação contam com 15% a 21% de
estrangeiros no período analisado, e cuja pós-graduação conta com entre 56% e 62%.
Gráfico 3.6 Porcentagem de alunos estrangeiros de graduação e pós-graduação na
universidade de Cambridge e na Unicamp (2007-2016)
Fonte: elaboração própria a partir dos anuários estatísticos das universidades.
Notamos que a taxa de internacionalização das empresas oriundas da universidade
de Cambridge coincide com a de alunos de pós-graduação estrangeiros nela matriculados.
Esses alunos, se decidem empreender, frequentemente optam por desenvolver um produto ou
serviço voltado para seu país ou região, ou, mesmo que isso não ocorra, têm maior propensão
para alocar a sede ou uma filial fora do Reino Unido. Todavia, nem toda presença
internacional das empresas oriundas de Cambridge pode ser atribuída à existência de alunos
estrangeiros. Ademais, mesmo aquelas que se enquadram nessa categoria, provavelmente
apresentam caráter consideravelmente mais global do que aquelas fundadas na região de
Campinas, por brasileiros que estudaram na Unicamp.
3.3.2. Diferenças de contexto
Na lista das diferenças entre os contextos dos dois casos estudados, figuram: (i)
produção de propriedade intelectual, (ii) disponibilidade de fontes de investimento, (iii)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Alu
nos
estr
ange
iro
s
Unicamp graduação Unicamp pós-graduação Cambridge graduação Cambridge pós-graduação
126
quantidade de mecanismos de parcerias e redes, (iv) política de propriedade intelectual das
universidades, (v) escopo de atuação dos escritórios de transferência de tecnologia.
No que diz respeito à produção de propriedade intelectual, conforme ilustra o
Gráfico 3.7, a Unicamp depositou 81 patentes em 2017, e no período de 2007 a 2017
depositou um total de 712; já Cambridge depositou 245 patentes em 2017, e no período de
2007 a 2017 depositou um total de 1703. Apenas no primeiro ano analisado a produção da
Unicamp foi maior do que a de Cambridge, e a produção anual média de Cambridge no
período é 2,3 vezes maior do que a da Unicamp.
Gráfico 3.7 Patentes depositadas por ano pela Unicamp e pela Universidade de
Cambridge
Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais dos respectivos ETTs.
Essa diferença no volume de produção de propriedade intelectual ainda é
reforçada pelos critérios adotados por cada universidade para decidir o que patentear. A
Unicamp observa apenas os requisitos de patenteabilidade dispostos na Lei de Propriedade
Industrial61
, que são: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Já a Universidade
de Cambridge, além de novidade, não-obviedade e aplicação industrial, considera também
como parâmetros: análise de mercado, análise de competição e timing. Ou seja, há ali um
processo mais extenso para decidir o que será patenteado, e invenções que atendem apenas os
requisitos legais tem poucas chances de serem protegidas, de tal maneira que provavelmente a
61
Lei n° 9.279/1996.
0
50
100
150
200
250
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
51 51 52 51
6773 71
77
58
80 81
44
83
124 124
168 167
204
239
159146
245
Pat
ente
s d
epo
sita
das
Unicamp Cambridge
127
discrepância no volume de criação de propriedade intelectual das duas universidades, na
verdade, é ainda maior do que mostram os números do Gráfico 3.7.
Além disso, nota-se que a diferença entre as quantidades de licenciamentos anuais
das duas universidades é muito mais pronunciada do que a diferença entre as quantidades de
patentes depositadas anualmente. Entretanto, talvez a relação entre licenciamentos e
patenteamentos das universidades, na realidade seja mais parecida. Ou seja, embora à
primeira vista pareça haver discrepância na proporção de patentes depositadas e licenciadas,
talvez isso de deva mais à estratégia de patenteamento de cada universidade do que ao volume
de sua produção de propriedade intelectual.
De acordo com dados dos respectivos Escritórios de Transferência de Tecnologia,
Cambridge licencia anualmente 50 a 100% do volume de patentes protegidas no ano,
enquanto que para a Unicamp esses números variam entre 10 e 30%62
. Todavia, se ambas
usassem os mesmos critérios para patentear, provavelmente a quantidade de patentes por ano
em Cambridge seria muito maior (pelos critérios da Unicamp), ou a quantidade de patentes
por ano na Unicamp seria muito menor (pelos critérios de Cambridge). Em qualquer um dos
dois cenários, as taxas de licenciamentos por ano em relação à quantidade de patentes
depositadas por ano, seriam mais parecidas.
Destaca-se também no âmbito das diferenças a disponibilidade de fontes de
investimento, que é muito mais escassa em Campinas (há apenas um grupo de investidores
anjo, composto essencialmente por ex-alunos empreendedores da universidade, além do
programa PIPE da FAPESP, agência estadual de fomento) do que em Cambridge (dispõe de
oito fontes de venture capital, quatro de investimento anjo externas à universidade, e outras
quatro geridas pelo escritório de transferência de tecnologia, que juntas cobrem diversas
etapas de desenvolvimento de novos empreendimentos, desde as mais embrionárias até as de
crescimento).
Todavia, essa configuração de Cambridge é relativamente recente: até o final da
década de 1990 havia na região apenas três fundos, cada um com investimentos em
aproximadamente cinco empresas de alta tecnologia da região. Esse cenário mudou na virada
do século, com os altos retornos de investimentos norte-americanos em empresas de
62
As patentes licenciadas em um determinado ano não foram necessariamente depositadas naquele mesmo ano.
Fizemos essa simplificação para facilitar a comparação, e como as universidades trabalham com um portfólio de
patentes que tem vida útil de 20 anos, acreditamos que tal simplificação não deturpa a realidade.
128
tecnologia. Com isso a partir do início dos anos 2000 observa-se aumento tanto nas fontes
privadas de investimento quanto nas iniciativas governamentais para programas de ciência e
tecnologia e financiamento semente (Garnsey & Heffernan, 2005).
Já no que diz respeito a parcerias e redes, nota-se que, enquanto a região de
Cambridge apresenta 21 iniciativas para estimulá-las, sendo que a mais antiga data de 1987
(Cambridge High-tech Association of Small Enterprises) a da Unicamp só 3, todas criadas a
partir dos anos 2000. Destaque-se ainda que, ao contrário de Campinas, em Cambridge as
redes de negócio se organizam para exercer influência sobre a elaboração de políticas, e
atuam para que essas favoreçam o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação na
região.
Apesar da discrepância na quantidade e esfera de influência das parcerias e
redes das duas regiões estudadas, é interessante notar que há uma convergência no que diz
respeito ao potencial transformador das redes de conhecimento presentes em ambas. É difícil
isolar os efeitos de redes de conhecimento situadas ao redor de fortes bases científicas quando
há co-determinantes em jogo, como por exemplo ser experiência industrial anterior, grande
investimento governamental em infraestrutura, influências de uma grande metrópole ou gastos
governamentais com defesa e aquisições63
. Dada a ausência da vasta maioria desses co-
determinantes tanto ao redor de Cambridge quanto da Unicamp, é possível perceber o
potencial econômico e também as limitações dessas redes de conhecimento (Garnsey &
Heffernan, 2005).
No que diz respeito ao âmbito interno das universidades, a primeira diferença
que se nota é quanto à política de propriedade intelectual: enquanto em Cambridge os
pesquisadores podem escolher se querem ou não ser proprietários de suas tecnologias, na
Unicamp as patentes, programas de computador, cultivares e demais formas de propriedade
intelectual são sempre da universidade (e eventualmente também de parceiros públicos ou
privados que tenham co-financiado a pesquisa) e os pesquisadores figuram como autores da
tecnologia, o que os permite receber royalties em caso de licenciamento. Apenas em
condições excepcionais a Unicamp cede os direitos de propriedade intelectual ao respectivo
criador, porém para tanto é preciso percorrer um longo e demorado caminho burocrático.
63
No original: procurement (Garnsey & Heffernan, 2005; p. 1141).
129
Embora tenham sido fundados com apenas 3 anos de diferença - e embora o da
Unicamp seja mais antigo (2003) do que o de Cambridge (2006) - os escritórios de
transferência de tecnologia também apresentam diferenças importantes. Ambos tiveram papel
importante no estímulo e sistematização da transferência de tecnologia dentro das respectivas
universidades, porém seu escopo de atuação e a escala de seus resultados são muito
diferentes. Enquanto na Unicamp o órgão é responsável pela proteção da propriedade
intelectual, transferência de tecnologia e estímulo ao empreendedorismo acadêmico, em
Cambridge além dessas funções o escritório conta também com recursos próprios para
investimento em prova de conceito e empreendimentos nascentes - mesmo que não tenham
vínculo formal com a universidade. Uma diferença interessante na organização interna de
ambos os escritórios é que a Unicamp conta com uma equipe de propriedade intelectual e
outra de transferência de tecnologia, enquanto que a Universidade de Cambridge tem apenas
uma equipe que é responsável tanto pela proteção das tecnologias quanto por seu
licenciamento. Essa estrutura reflete a maneira como cada escritório, e cada universidade,
aborda a questão do patenteamento: enquanto a Unicamp trata de maneira independente o
depósito da patente e seu respectivo licenciamento (e portanto patenteia todas a comunicações
de invenção que atendem os critérios da legislação de propriedade intelectual), em Cambridge
há uma abordagem integrada, que recomenda que só se patenteie o que tem chances de tornar-
se produto ou serviço.
No que diz respeito aos resultados dos escritórios, nota-se também uma grande
discrepância: em 2017 a Unicamp licenciou 22 tecnologias e depositou 81 patentes, enquanto
Cambridge licenciou 126 e depositou 245 patentes. Da mesma forma, em 2017 a receita de
licenciamentos e consultoria da Cambridge Enterprise foi de £16,9 milhões, enquanto que o
da Inova Unicamp foi de R$660 mil (CAMBRIDGE, 2017; UNICAMP, 2017).
Finalmente no que tange as iniciativas e características gerais das universidades
que fomentam o empreendedorismo acadêmico, nota-se que na maioria dos casos no entorno
de Cambridge tanto a oferta quanto a qualidade são melhores. Dentre tais critérios, destacam-
se a qualidade da pesquisa e dos pesquisadores, a capacitação de recursos humanos para
empreender, a disponibilidade de fontes de investimento e de parques científicos e
tecnológicos. Somente no quesito de incubadoras e aceleradoras que as duas regiões
apresentam composição semelhante. Além dessa desvantagem, apesar da existência de
lacunas e gargalos, a região da Unicamp parece estar subutilizando os recursos de que dispõe.
Conforme destacam Feliciello & Amaral (2010), a capacidade instalada de empresas
130
inovadoras e pesquisa de ponta na Região Metropolitana de Campinas pode ser potencializada
com o fomento de projetos, parcerias e estratégias conjuntas de crescimento e
desenvolvimento.
A análise do conjunto das diferenças de contexto das duas universidades nos
permite notar que a maioria de seus elementos tem um componente ativo de estímulo à
atividade empreendedora. Os seguintes itens são resultado de ações deliberadas para estimular
o empreendedorismo acadêmico: disponibilidade de fontes de investimento, parcerias e redes,
política de propriedade intelectual da universidade, escopo de atuação do escritório de
transferência de tecnologia. Além disso, o item produção de propriedade intelectual também
tem um componente ativo no que diz respeito ao fomento à atividade empreendedora uma vez
que para decidir se vai proteger ou não uma criação de um membro de sua comunidade, a
universidade de Cambridge analisa não só novidade, não-obviedade e aplicação industrial,
como também mercado, competição e timing. Ou seja, em Cambridge a decisão de patentear
ou não, passa também pela capacidade de uma invenção transformar-se em produto ou
serviço.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação teve como objetivo identificar os fatores internos e externos às
universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico nos dois casos estudados
(Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas, no
Brasil). Para tanto, analisamos: (i) os fatores internos e externos de cada universidade que
podem influenciar na criação de spin-offs, (ii) os resultados quantitativos de
empreendedorismo acadêmico de ambas universidades, e (iii) as semelhanças e diferenças
entre os fatores e resultados estudados.
A partir de revisão da literatura, em especial da tipologia proposta por O’Shea et
al (2007b) selecionamos dois itens para orientar o estudo dos fatores que influenciam o
empreendedorismo acadêmico no entorno das universidades: seus contextos interno e externo.
A isso juntamos os resultados de um levantamento quantitativo não exaustivo de empresas
oriundas de ambas instituições para buscarmos entender seu perfil e traçar semelhanças e
diferenças entre ambos os casos.
A seção de Considerações finais está dividida em três partes, incluindo esta
introdução. O item 2 discute as semelhanças e diferenças tanto de contexto quanto de
resultados de empreendedorismo acadêmico entre os dois casos estudados, e o item 3
apresenta uma breve articulação dos achados deste trabalho com a literatura.
Com base na análise dos dados levantados nessa dissertação, percebemos que,
embora a Universidade de Cambridge esteja à frente em termos de resultados de
empreendedorismo acadêmico, a diferença entre os seus resultados e os da Unicamp não é tão
grande quanto se poderia esperar a priori.
Naturalmente que há diferenças de resultado acentuadas, como por exemplo o
volume de tecnologias licenciadas anualmente (em média, Cambridge assina 11,2 vezes mais
licenças por ano do que a Unicamp) e a internacionalização das empresas (para Cambridge
50% das empresas tem sede no Reino Unido e 54% exportam, enquanto que para a Unicamp
100% tem sede no Brasil e 13% exportam), e isso se deve, ao menos em parte, às diferenças
de contexto interno e externo às universidades estudadas nessa dissertação. Ao observar tais
diferenças, notamos que a maioria de seus elementos tem um componente ativo de estímulo à
atividade empreendedora. Os seguintes itens são resultado de ações deliberadas para estimular
o empreendedorismo acadêmico na Universidade de Cambridge e configuram diferenças de
132
contexto importantes: disponibilidade de fontes de investimento, parcerias e redes, política de
propriedade intelectual da universidade, escopo de atuação do escritório de transferência de
tecnologia e critérios para patenteamento.
Enquanto Cambridge conta com 16 fontes de investimento que cobrem desde a
etapa de prova de conceito até venture capital, na região de Campinas são apenas duas;
enquanto Cambridge tem 21 iniciativas de parcerias e redes (e a mais antiga criada há mais de
30 anos), na região da Unicamp são apenas 3, todas criadas depois dos anos 2000. Enquanto o
Escritório de Transferência de Tecnologia da Unicamp atua na proteção da propriedade
intelectual, transferência de tecnologia e estímulo ao empreendedorismo, o da Universidade
de Cambridge, além dessas funções, atua nas áreas de investimento (conta com recursos
próprios para investir em empresas nascentes) e serviços de consultoria (prestada por
professores e funcionários da universidade). E, finalmente, enquanto a Unicamp trata de
maneira independente o depósito da patente e seu respectivo licenciamento (e, portanto,
patenteia todas a comunicações de invenção que atendem os critérios da legislação de
propriedade intelectual), em Cambridge há uma abordagem integrada, que recomenda que só
se patenteie o que tem chances de tornar-se produto ou serviço.
Por outro lado, há resultados em que a diferença, embora presente, não é tão
intensa. Aqui destaca-se a quantidade de empresas. Nossa estimativa aponta que Cambridge
tem aproximadamente o dobro de spin-offs, com relação à Unicamp (seriam em torno de
4.900 na primeira, e 2.400 na segunda). Nesse caso, é preciso fazer um exercício para
relativizar a diferença a partir do cruzamento com informações referentes às diferenças de
contexto. Primeiramente, é interessante notar que a discrepância no volume de fontes de
investimento e parcerias e redes nos dois casos analisados não é proporcional aos seus
respectivos volumes de empresas. Trata-se de dois campos recorrentemente mencionados
como de grande importância no estímulo ao empreendedorismo, e as diferenças não são
desprezíveis: enquanto Cambridge conta com 16 diferentes fontes de investimento para apoiar
start-ups e spin-offs, Campinas tem duas, e ainda assim, aquela região tem apenas o dobro de
empreendimentos do que essa.
Da mesma maneira, no quesito de parcerias e redes, elementos muito importantes
para empreendedores presentes e potenciais adquirirem e trocarem conhecimentos, além de
formarem suas redes de contatos, a região de Cambridge conta com um total de 21 iniciativas,
sendo que a mais antiga data de 1987, enquanto que no entorno da Unicamp há apenas três,
todas criadas depois do ano 2000. No primeiro caso, observa-se uma grande variedade de
133
iniciativas. Há aquelas que são internas à universidade, externas e mistas, há iniciativas gerais
e focadas em áreas de atuação, há algumas frequentadas somente por empreendedores, e
outras que envolvem também investidores, indústria e o setor público; há iniciativas locais de
Cambridge, outras em parceria com Londres, com a Europa e com os Estados Unidos. Ou
seja, há não só um grande volume, como também uma grande variedade de iniciativas
voltadas para a criação e fortalecimentos e parcerias e redes de empreendedores. Já no entorno
da Unicamp, observa-se apenas três iniciativas, e no entanto, essa extraordinária diferença em
quantidade e variedade de parcerias e redes das duas regiões parece não se traduzir em
semelhante desproporção entre o volume de empreendedorismo acadêmico oriundo das
respectivas universidades.
O volume e perfil do empreendedorismo acadêmico oriundo de Cambridge, que é
comparável ao da Unicamp, parece corroborar a existência do paradoxo mencionado pelos
estudos que comparam o cluster inglês com o Vale do Silício (EUA) – como por exemplo
Athreye (2001). De acordo com tal paradoxo, Cambridge apresenta resultados em escala
muito menor, apesar de ter semelhanças qualitativas com o mais famoso ecossistema
empreendedor do mundo. Ou seja, Cambridge tem excelência na produção científica e
tecnológica e gera quantidade significativa de empreendedorismo acadêmico, mas isso não se
traduz em grandes empresas nem tampouco em quantidade significativa de empresas
excepcionalmente exitosas (com grande impacto nacional, por exemplo).
No âmbito das semelhanças de resultados também podemos encontrar
explicações para a ausência de uma assimetria maior entre as quantidades de spin-offs criadas
a partir de ambas universidades. Nesse sentido, destacam-se as quantidades de funcionários (a
faixa de 1 a 10 funcionários engloba 43% das empresas de Cambridge e 52% das da Unicamp,
já para a faixa de 11 a 50 funcionários, são 39% no primeiro caso e 35% no segundo) e o
baixo volume de empresas vendidas (16% das oriundas de Cambridge e 6% das da Unicamp).
Juntos, esses dois fatores sugerem que as empresas oriundas das duas universidades
apresentam um perfil semelhante, de menor escala e crescimento mais orgânico – apesar de
ambas contarem com alguns poucos exemplos de grande porte como é o caso da ARM em
Cambridge e da Movile em Campinas. Vale ressaltar, entretanto, que há fortes limitações ao
uso da quantidade de funcionários como proxy do tamanho ou da taxa de crescimento de uma
empresa, inclusive em áreas de atuação importantes dentro de nossa amostra, como por
exemplo tecnologia da informação e telecomunicações e software, que apresentam
crescimento de mercado menor e maior dependência de poucos clientes.
134
Dentre as semelhanças de resultado destacam-se ainda as áreas de atuação das
empresas oriundas das universidades (predominantemente Ciência, Tecnologia, Engenharia e
Matemática) e a curva de criação anual de empresas – que em ambos os casos se inicia na
década de 1960 e apresenta padrões análogos de crescimento.
Finalmente no que diz respeito às semelhanças de contexto, destacam-se as
quantidades de docentes e alunos (em 2017 Cambridge tinha respectivamente 1.666 e 21.656
e a Unicamp 1.867 e 35.656) e principalmente o surgimento do marco legal de inovação, que
no Reino Unido é tardia quando comparada a outros países desenvolvidos – ocorre no final
dos anos 1990. Assim, nesse ponto o caso inglês assemelha-se ao brasileiro, cuja Lei de
Inovação data de 2004. O Reino Unido não dispõe de uma legislação federal de apoio
à inovação (como a Lei de Inovação brasileira), mas apesar disso tal apoio fica evidente,
principalmente a partir do fortalecimento dos fundos públicos para pesquisa e do aumento do
apoio governamental às iniciativas de inovação e empreendedorismo que ocorrem em fins dos
anos 1990 e início dos anos 2000. Por sua vez no Brasil a inovação só passa a ser percebida
como desafio nacional nos anos 2000, e o incentivo governamental é marcado pela
promulgação da Lei de Inovação em 2004. Além disso, o processo de perceber que a ideia de
que os proventos decorrentes de licenciamento de tecnologia representariam uma fonte
importante de receita para a universidade era na realidade um mito, e que a questão da
transferência de tecnologia necessitava ser tratada de maneira mais ampla - inclusive por ter
o potencial de beneficiar um conjunto de dimensões externas e internas à universidade -
acontece no Brasil somente na década de 2010, enquanto que no Reino Unido ocorre já no
final da década de 1990.
Assim, constatamos que nem todas as diferenças entre os dois ecossistemas
apresentados são desmedidas. Há sim resultados em que há grandes diferenças entre
Cambridge e Unicamp, mas há também aqueles em que há diferenças menores, e ainda vários
em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos contextos interno e externo às
universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a existência de tais convergências.
Os achados do presente trabalho apresentam diversas semelhanças com o que
indica a literatura. Dentre elas, destacam-se os fatos de o empreendedorismo acadêmico ir
além do licenciamento formal de propriedade intelectual das universidades e de que muitas
empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência
de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito
mais ampla de atores.
135
Siegel e Wright (2015a) destacam os principais fatores que levaram à ampliação
do escopo do empreendedorismo acadêmico, especialmente na última década: a criação de
espaços específicos para a apoiar a transferência de tecnologia e o empreendedorismo; o
crescimento significativo de cursos e programas de empreendedorismo oferecidos pelas
universidades; a implementação de centros de empreendedorismo; o crescimento do número
de empreendedores externos presentes nas universidades para estimular a criação de start-ups;
o rápido crescimento do apoio aos alunos e ex-alunos englobando vários aspectos do
ecossistema empreendedor e incluindo fundos de comercialização e competições de planos e
modelos de negócio. Os achados da presente dissertação em ambos os estudos de caso
apontam na mesma direção: há por exemplo a oferta de cursos e programas de
empreendedorismo a partir de 1999 em Cambridge e a partir do início dos anos 2000 na
Unicamp, a presença de fundos a partir de 1995 em Cambridge e 2011 na Unicamp e de
competições de planos e modelos de negócio a partir de 2011 na Unicamp.
Conforme apontam os trabalhos de Guerrero e Urbano (2010), Dodgson e Staggs
(2012) e Hsu et al (2015), dentre os fatores externos que influenciam os empreendimentos
acadêmicos destacam-se a disponibilidade de capital de risco, que não só financia como
também orienta a operação de novos negócios; a localização em um cluster de alta tecnologia,
que facilita o acesso a redes de contatos e a conhecimento especializado; e a criação de
legislação específica ou outros mecanismos governamentais que favoreçam a criação de spin-
offs. Nesses critérios observa-se tanto semelhanças com os resultados obtidos, quanto
diferenças. As semelhanças estão na localização em cluster de alta tecnologia, que é o caso
tanto do entorno da universidade de Cambridge quanto do da Unicamp, e na legislação.
Conforme afirma Shane (2004), um dos mais destacados fatores externos à universidade de
estímulo à criação de spin-offs é a existência de um marco legal de inovação adequado. Brasil
e Reino Unido criaram seus arcabouços institucionais para estimular o empreendedorismo
acadêmico e a transferência de conhecimento respectivamente no ano 2004 e no final dos
anos 1990 - tardiamente, em comparação com outros países desenvolvidos. Houve diferenças
na forma de implementação e há diferenças nos tipos de apoio disponíveis, mas ambos
oferecem o suporte legal necessário para empreender. Ademais, é de se esperar que haja
diferenças uma vez que, conforme conclui o estudo de caso conduzido por Davey et al (2016),
países menos desenvolvidos precisam adaptar estratégias e mecanismos aos seus contextos
específicos e não somente imitar estratégias, mecanismos, estruturas e atividades
implementadas nos países desenvolvidos. Por sua vez a diferença está na disponibilidade de
136
financiamento: enquanto o entorno de Cambridge tem um total de 16 fontes, entre
investimento anjo, semente e venture capital, no entorno da Unicamp há apenas duas. No
entanto, como já observado, essa discrepância não é proporcional às outras diferenças, nem às
quantidades de empresas oriundas de cada uma das universidades – que são bem mais
próximas.
Já no que diz respeito aos fatores internos também há semelhanças entre os
achados da presente dissertação e o que sugere a literatura. No que diz respeito aos recursos
físicos, Link e Scott (2015) destacam a presença de incubadoras de empresas, sobretudo
quando as relações entre pesquisadores e universidades são mais intensas, e também a
de parques científicos e tecnológicos. Tanto a incubadora quanto os parques funcionam como
"instituições ponte", tendo por função facilitar a difusão da pesquisa acadêmica para o setor
privado. Nos casos estudados observa-se a presença de ambas: as universidades são rodeadas
de parques, incubadoras – e também aceleradoras – que dão suporte respectivamente a
empresas mais estabelecidas e nascentes.
Outro ponto em que há semelhanças entre a literatura e os resultados dos estudos
de caso é com relação à política de propriedade intelectual das universidades. Uma série de
estudos, sobretudo na Europa, indicam que políticas que atribuem as invenções aos inventores
inibem a criação de spin-offs ou mesmo chegam a criar uma postura anti-empreendedora no
corpo docente e na administração da universidade, que nesse cenário não se beneficiam da
atividade empreendedora dos acadêmicos (Hsu et al, 2015, O'Shea et. al, 2007b). A
universidade de Cambridge até 2005 concedia a titularidade da propriedade intelectual aos
seus inventores e, ainda que a administração central não apoiasse ativamente a transferência
de tecnologia, tampouco impedia seus pesquisadores de desenvolver aplicações comerciais ou
empreender, desde que continuassem cumprindo suas atividades de ensino e pesquisa
(Garnsey & Heffernan, 2005). Em 2005 foi implementada a nova política de propriedade
intelectual e as tecnologias passaram a pertencer à universidade, que por sua vez se
responsabiliza por todos os aspectos de sua proteção e eventual licenciamento. Ao analisar a
curva de criação anual de empresas, notamos que em 2004, ou seja imediatamente antes da
implementação da nova política, foram criadas 23 empresas oriundas de Cambridge, e uma
década depois, em 2014, foram criadas 77. Ainda que certamente haja outros fatores a
influenciar esses números, é interessante observar como o número de empresas criadas
anualmente triplicou nos dez primeiros anos após a mudança na política de propriedade
intelectual da universidade.
137
Com o objetivo de dar continuidade ao estudo dos determinantes do
empreendedorismo acadêmico sugerem-se como objetos de pesquisa futura (i) uma análise
qualitativa das empresas criadas no âmbito do empreendedorismo acadêmico, e (ii) a análise
dos outros dois fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no
âmbito acadêmico de acordo com O’Shea et al (2007) e que não foram analisados nessa
dissertação: contexto sociocultural da universidade (ênfase do empreendedorismo acadêmico
na missão da universidade, cultura, história, atitude de pesquisadores e estudantes sobre
empreendedorismo acadêmico, compromisso com a exploração comercial da pesquisa etc) e
características e percepções individuais (personalidade, idade, histórico acadêmico, grau de
disposição a empreender, histórico empreendedor na família, capacidade de reconhecimento
de oportunidade etc).
138
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