UNIVERSIDADE DE BRASLIA INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LINGUSTICA, PORTUGUS E LNGUAS CLSSICAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA
GRUPO DE ESTUDOS CRTICOS E AVANADOS EM LINGUAGEM
Anais da I Jornada Internacional de
Lingustica Aplicada Crtica
Nmero 1, 2018, v. nico.
Kleber Aparecido da Silva
Juscelino Francisco do Nascimento
Gabriel Estrela da Silva
Organizadores
Braslia
2018
Comisso Organizadora
Ana Karolina de Azevdo Gomes
Edinei Carvalho dos Santos
Eduardo Dias da Silva
Elda Alves Oliveira Ivo
Elisa Neves Martini Vieira
Elkerlane Martins de Arajo Moraes
Joseane Severo dos Santos
Juscelino Francisco do Nascimento
Kleber Aparecido da Silva
Lanisson Arajo Gonalves
Lucimar Pinheiro da Silva Sampaio
Rita de Cssia Augusto
Rodriana Dias Coelho Costa
Rubens Lacerda de S
Snia Margarida Ribeiro Guedes
Zenaide Dias Teixeira
Comisso Cientfica
Profa. Dra. Carine Schenekenberg Guedes
Profa. Dra. Carmem Jen Machado Caetano
Profa. Dra. Catia Regina Braga Martins
Profa. Dra. Cibele Brando de Oliveira Borges
Profa. Dra. Clarissa Menezes Jordo
Prof. Dr. Digenes Cndido de Lima
Prof. Dr. Domingos Svio Pimentel Siqueira
Profa. Dra. Elaine Fernandes Mateus
Profa. Dra. Francisca Cordlia Oliveira da Silva
Prof. Dr. Francisco Carlos Fogaa
Prof. Dr. Hlvio Frank de Oliveira
Profa. Dra. Reinildes Dias
Profa. Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos
Prof. Dr. Vilson Jose Leffa
Copyright 2018 Kleber Aparecido da Silva, Juscelino Francisco do Nascimento e Gabriel
Estrela da Silva (Orgs.). proibida a reproduo total ou parcial desta obra sem autorizao
expressa dos autores e organizadores.
Todos os textos so de inteira responsabilidade dos respectivos autores
Capa
Gabriel Estrela da Silva
FICHA CATALOGRFICA
Servio de Processamento Tcnico da Universidade Federal do Piau
Biblioteca Jos Albano de Macdo
J828a Jornada Internacional de Lingustica Aplicada Crtica. ( 1. : 2018 :
Braslia, DF)
Anais da 1 Jornada Internacional de Lingustica Aplica Crtica
[Recurso Eletrnico] / 1 Jornada Internacional de Lingustica Aplicada
Crtica, 24 a 25 de abril de 2017, Braslia, DF ; Organizado por Kleber
Aparecido da Silva, Juscelino Francisco do Nascimento, Gabriel Estrela
da Silva. Braslia: UnB, 2017.
628 p
Disponvel online
ISBN: 978-85-509-0307-1
1. Lingustica Aplicada Crtica. 2. Educao. 3. Pesquisa e Ensino. I.
Silva, Kleber Aparecido de, org. II. Nascimento, Juscelino Francisco do,
org. III. Silva, Gabriel Estrela, org. IV. Ttulo.
APRESENTAO
Na conjuntura fluida da modernidade, necessrio buscar um aporte metodolgico
que transcenda muros, fronteiras e concepes, sempre que se fizer necessrio para promover
o direito educao a todos os cidados, indistintamente. Nessa perspectiva, a Jornada
Internacional de Lingustica Aplicada Crtica (JILAC) foi uma iniciativa acadmico-cientfico
do Grupo de Estudos Crticos e Avanados em Linguagem (GECAL/CNPq/UnB), em sua
primeira edio, nos dias 24 e 25 de abril de 2017, na Universidade de Braslia.
Com a Jornada, visamos reiterar a natureza da Lingustica Aplicada Crtica pelo
compromisso que assume com os sujeitos e suas reais necessidades, em vez de altear ou
perpetuar vertentes metodolgicas que no traduzem os anseios humanos. Tal proposta foi
efetivada, durante o evento, por meio de debates para disseminao de pesquisas recentes no
campo da Linguagem, pelas comunidades acadmicas de Letras, Lingustica e Educao,
atuantes em Instituies de Ensino Superior do Brasil e do exterior; profissionais das redes
pblica e particular de ensino; estudantes de ps-graduao e graduao e outros profissionais
interessados em refletir criticamente acerca de sua prtica pedaggica.
Como um dos resultados da JILAC, apresentamos estes Anais Eletrnicos, os quais
contm 43 artigos completos apresentados nas sesses coordenadas e/ou psteres, alm de um
relato de experincia acerca de prticas indgenas de letramento.
Nesta edio inaugural, as discusses e reflexes ensejadas por esta Jornada
Internacional cumprem com plano de publicaes para disseminao de resultados a um
pblico certamente ainda maior do que o que esteve na Jornada, a partir do binmio que foi a
agenda do evento: A Lingustica Aplicada Crtica e seu compromisso com a sociedade.
Comisso Organizadora
SUMRIO
ANLISE DE SEQUNCIAS ARGUMENTATIVAS DO GNERO TEXTUAL
ARTIGO DE OPINIO NA UNIVERSIDADE
Erica Reviglio Iliovitz
9
GNEROS DIGITAIS E MULTILETRAMENTOS: PRTICAS PEDAGGICAS NA
SALA DE AULA
Fbia Magali Santos Vieira e Florncia Vieira Pacheco Andrade
22
LETRAMENTO CONTBIL: DESCREVENDO O GNERO NOTA DE EMPENHO
DO SISTEMA INTEGRADO DA ADMINISTRAO FINANCEIRA (SIAFI) DO
TESOURO NACIONAL
Rosineide Tertulino de Medeiros Guilherme e Carlos Henrique Silva
37
GNEROS RETRICOS NO ENSINO: UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA
Audiney Jos Pereira e Luzia Rodrigues da Silva
51
O ATO DE NOMEAR PELA MDIA: UMA POLTICA DE PODER NA
CONSTRUO DA IDENTIDADE DA MULHER BRASILEIRA
Fabiene de Oliveira Santos
68
AS FUNES SOCIAIS E DISCURSIVAS DA HASHTAG EM GNEROS DIGITAIS:
UMA REFLEXO
Christiane Tegethoff Motta de Araujo e Francisca Cordlia Oliveira da Silva
85
REPRESENTACOES DISCURSIVAS MULTIMODAIS DA GLOBALIZACAO E DA
DEMOCRACIA E A VIOLNCIA NA ESCOLA DO DF
Thais Lbo Junqueira e Francisca Cordlia Oliveira da Silva
99
O QUE CABE NA PANELA? REPRESENTAES LINGUSTICO-DISCURSIVAS
NO CONTEXTO SOCIOPOLTICO BRASILEIRO
Juliana Ferreira Vassolr e Francisca Cordlia Oliveira da Silva
111
IDENTIDADES EM CONSTRUO: O IDEAL DE ALUNO
Barbara Venturoso e Francisca Cordlia Oliveira da Silva
127
CARETADA: IDENTIDADES E SUBJETIVIDADE NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA SO DOMINGOS
Luiz Henrique Gomes Silva
143
A CONSTRUO DE IDENTIDADES DE PROFESSORES EM MDIA IMPRESSA
Fernanda da Silva Oliveira e Sstenes Cezar de Lima
157
A REFLEXIVIDADE DO PROFESSOR DE LNGUAS E SUA RESSIGNIFICAO
IDENTITRIA
Camila Mara Andrade Silva
167
DISCURSOS E IDENTIDADES NACIONAIS NA WEB
Monique de Mesquita Lessa
182
PUBLICIDADE E RACISMO NA SIA: O CLAREAMENTO DERMATOLGICO
Larissa de Pinho Cavalcanti
198
O "EU" E O "OUTRO" NO ENSINO DE LNGUA INGLESA SEGUNDO A
PERSPECTIVA INTERCULTURAL
Pollyanna Morais Espndola Gomides e Ariovaldo Lopes Pereira
212
E MENINAS NO PODEM IR ESCOLA?: DA INQUIETAO AO
Maura Dourado
226
OUVINDO O SILNCIO EM SALA DE AULA
Daniel Bruno Silva Rodrigues
244
LXICO E ENSINO: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE LNGUA PORTUGUESA
Dayanny Marins Coelho e Knia Mara de Freitas Siqueira
256
O PROCESSO DA ESCRITA NA APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA:
ESTRATGIAS E PROBLEMAS
Kleiton Borges
272
O ENSINO DE INGLS NO CONTEXTO DE GLOBALIZAO: REFLEXES
SOBRE AS PERCEPES DE PROFESSORES DE LE
Sigrid Rochele Gusmo Paranhos Magalhes
289
CULTURA EM ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA (LE):
DESENVOLVIMENTO DE COMPETNCIA INTERCULTURAL
Tatianne Gomes de Sousa
305
O ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA DE FORMA INTERDISCIPLINAR,
INTERCULTURAL E LDICA: ESPANGLISH, UM EXEMPLO DE INOVAO
Graziani Frana Claudino de Aniczio, Mrcia Seplvida do Vale e Roberto Lima Sales
319
A CONTRIBUIO DO CONTO POPULAR PARA A FORMAO CRTICA DE
ALUNOS DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Antnio Carlos Soares Martins e Cleunice da Silva Lemos
331
PIBID - INGLS E A FORMAO DOCENTE
Ana Emilia Fajardo Turbin
342
POLTICAS LINGUSTICAS E DIVERSIDADE SOCIOLINGUSTICA E
CULTURAL EM CONTEXTO DE FRONTEIRA: PROBLEMTICAS E
PERSPECTIVAS
Ildio Macaringue e Tatiane Lima de Paiva
358
POLTICAS LINGUSTICAS DE ENSINO NAS ESCOLAS: UM ESTUDO DE CASO
COM TRS PROFESSORAS ATUANTES NA REDE PBLICA
Flvia Marina Moreira Ferreira
375
SOU SURDO/A, BRASILEIRO/A E ESTUDO ESPANHOL: LETRAMENTO
CRTICO E ENSINO DE ESPANHOL PARA SURDOS/AS
Rayssa Oliveira Sousa
391
ENSINO E APRENDIZAGEM DE LIBRAS COMO L2 NAS LICENCIATURAS:
DISCUSSES ATUAIS NA PERSSPECTIVA DOS ACADMICOS
Milene Galvo Bueno e Andra dos Guimares de Carvalho
405
A ESTILSTICA BAKHTINIANA E A LINGUSTICA APLICADA CRTICA:
RUPTURAS TORICO-EPISTMICAS E CRIAO LXICAL
Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui
417
FORMAO DOCENTE: PARMETROS E DESAFIOS NO CONTEXTO DA
SOCIEDADE ATUAL
Heliud Luis Maia Moura
431
NOES DE ARGUMENTAO: O QUE OS PROFESSORES DE LNGUA
PORTUGUESA ARGUMENTAM NOS RELATRIOS DE ESTGIOS?
Julio Ferreira Neto
446
PARTIR E REINVENTAR A LNGUA: ARTICULAES ENTRE MODERNIDADE,
LINGUA E NAO
Diego Goulart Machado Silva
457
A SOCIOLINGUSTICA E A FORMAO DE PROFESSORES NO BAIXO
AMAZONAS
Franklin Roosevelt Martins de Castro
472
AS REPRESENTAES GRFICAS NO CONVENCIONAIS DAS SIBILANTES
ALVEOLARES NAS PRODUES ESCRITAS
Jucinete Dias dos Santos e Liliane Pereira Barbosa
485
A IMPORTNCIA DA ANLISE TEXTUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA
COMPETNCIA LEITORA
Glaucia Cristina Maia Rga Serra e Paula Cobucci
499
O LEITOR E O PAPEL DA ESCOLA NA SUA FORMAO EM UMA ESCOLA NO
INTERIOR DO PIAU
Wellerson Sousa Leal e Juscelino Francisco do Nascimento
514
LOS PROCEDIMIENTOS DE TRADUCCIN PRESENTES EN UN FRAGMENTO
DE MEMORIA DE MIS PUTAS TRISTES
Las de Sousa Nbrega
529
TRANSLINGUAGENS, TRANSCULTURAO E DESCOLONIALIDADES NA
SALA DE AULA DE LNGUA PORTUGUESA ADICIONAL EM CONTEXTO
TRANSFRONTEIRIO: AS MISSES JESUTICAS E AS GUERRAS
GUARANTICAS
Henrique Rodrigues Leroy e Maria Elena Pires Santos
545
TRANSLINGUAJAMENTO: PENSANDO ENTRE LNGUAS A PARTIR DE
PRTICAS E METADISCURSOS MOBILIZADOS POR DOCENTES INDGENAS
EM FORMAO SUPERIOR
Denise Pimenta de Oliveira
559
OS REFLEXOS DO BLOG NO LETRAMENTO
Rosana Gondim
571
O PAPEL DA EXTENSO PARA A FORMAO DO PESQUISADOR CRTICO:
UM PROJETO INTERDISCIPLINAR DE LETRAMENTO CIENTFICO
Rosana Ferrareto Loureno Rodrigues
588
ESCUELA PEDAGGICA EXPERIMENTAL: EMPODERAMENTO SOCIAL POR
MEIO DO LETRAMENTO CRTICO E A DA TRANSDICIPLINARIDADE
Adda Sofa Barco
601
PRTICAS DE LETRAMENTO NO DOMNIO DO IBGE: A ESCRITA COMO
MTIER
Maria Aparecida da Costa e Ana Maria de Oliveira Paz
611
RELATO DE EXPERINCIA
PRTICAS INDGENAS DE LETRAMENTO PARA ALM DA ESCRITA
Suety Lbia Alves Borges
625
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ANLISE DE SEQUNCIAS ARGUMENTATIVAS
DO GNERO TEXTUAL ARTIGO DE OPINIO NA UNIVERSIDADE
Erica Reviglio Iliovitz1
Resumo: Este trabalho visa apresentar uma anlise de duas sequncias textuais
argumentativas em artigos de opinio produzidos na universidade. Tal anlise visa contribuir
para organizar um critrio de atribuio de notas produo desse gnero. Os artigos de
opinio foram elaborados como avaliao final de uma disciplina a partir de um enunciado
que apresentava uma questo para discusso e um artigo como referncia. A fundamentao
terica envolveu os conceitos de gnero textual/discursivo (Marcuschi, 2002; Dias et al, 2001;
Bakhtin, 2003); artigo de opinio (Brkling, 2000; Goldstein, Louzada e Ivamoto, 2009) e
sequncia textual argumentativa (Bronckart, 1999;
Cavalcante, 2012). Os resultados indicam que a qualidade da produo de um artigo de
opinio envolve no apenas o desenvolvimento do contedo temtico e o estilo (linguagem),
mas sobretudo o desenvolvimento adequado da sequncia textual argumentativa.
Palavras-chave: Gnero textual artigo de opinio. Sequncia textual argumentativa. Ensino
superior.
INTRODUO
O objetivo desse trabalho apresentar uma anlise de duas sequncias textuais
argumentativas em dois artigos de opinio produzidos na universidade.
O trabalho est organizado em quatro partes. Na primeira parte, ser apresentada a
fundamentao terica de nossa anlise, que envolve os conceitos de gnero
textual/discursivo, artigo de opinio e sequncia argumentativa. A segunda parte vai expor a
metodologia para obteno dos dados (no caso, a produo escrita dos artigos de opinio). Na
terceira parte, apresentaremos a anlise dos dados propriamente dita. Para concluir, na quarta
e ltima parte, teceremos algumas consideraes finais. Vejamos primeiramente a
fundamentao terica desse trabalho.
1 FUNDAMENTAO TERICA
1 Doutora em Lingustica pela Universidade Estadual de Campinas. [email protected]
mailto:[email protected]
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Como docente do ensino superior em disciplinas da rea de leitura e produo de
textos, me deparo com algumas produes escritas que podem ser consideradas, no mnimo,
intrigantes. No caso da produo escrita do gnero textual artigo de opinio, algumas questes
que surgiram foram as seguintes: qual a tese defendida no artigo de opinio produzido?
Quantos/quais foram os argumentos que os estudantes selecionaram para sustentar o ponto de
vista defendido? De que forma esses argumentos foram organizados ao longo do texto? Como
atribuir notas para essas produes?
Para responder essas questes, primeiramente ser apresentado o conceito de gnero
textual/discursivo2. Em seguida, abordaremos o conceito do gnero artigo de opinio e o de
sequncia textual argumentativa.
Marcuschi (2002) define gneros textuais como
[...] textos materializados que encontramos em nossa vida diria e que
apresentam caractersticas sociocomunicativas definidas por contedos,
propriedades funcionais, estilo e composio caracterstica. (MARCUSCHI, 2002, p. 22-23, grifo meus)
Assim, um gnero textual ou discursivo definido como um tipo relativamente estvel
de enunciado, sendo caracterizado pelo contedo temtico, pelo estilo e pela estrutura
composicional (DIAS et al 2011, p.145).
O contedo temtico referente ao assunto, s informaes nele contidas e
organizao dessas informaes. O estilo envolve [...] seleo dos recursos lexicais,
fraseolgicos e gramaticais da lngua [...] (BAKHTIN 2003, p.261). Finalmente, a estrutura
composicional pode envolver imagens e o meio de divulgao (suporte) do gnero em questo
(internet, livro didtico, panfleto, etc).
Vejamos agora o conceito de gnero textual artigo de opinio, seguido do conceito de
sequncia textual argumentativa. O gnero textual artigo de opinio pode ser definido da
seguinte forma:
2 Alguns autores consideram que o conceito de gnero textual sinnimo de gnero discursivo. Entretanto,
conforme Dias et al (2011), enquanto o conceito de gnero textual filiado linha terica da Lingustica Textual
e aos aspectos lingusticos mais formais do texto, o conceito de gnero discursivo remete Anlise do Discurso e
aos postulados de Bakhtin (ILIOVITZ, 2016, p. 18). Embora estejamos cientes dessa distino terica, para os
propsitos desse artigo, gnero textual e gnero discursivo sero considerados sinnimos.
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O artigo de opinio um gnero de discurso onde se busca convencer o
outro de uma determinada ideia, influenci-lo, transformar os seus valores
por meio de um processo de argumentao a favor de uma determinada
posio assumida pelo produtor e de refutao de possveis opinies
divergentes. um processo que prev uma operao constante de
sustentao das afirmaes realizadas, por meio da apresentao de dados
consistentes, que possam convencer o interlocutor. (BRKLING, 2000,
p.04)
Nesse sentido, o artigo de opinio visa promover uma mudana de ideia do outro
em relao a determinado assunto atravs da seleo e organizao de argumentos.
Nas palavras de Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009):
O artigo de opinio , portanto, um gnero que possibilita ao autor expor
livremente o seu modo de pensar, o seu ponto de vista sobre uma questo
controversa, e que se destina a convencer o leitor por meio de uma
argumentao sustentada sobre essa posio. Em geral, os ttulos desses
textos opinativos j anunciam o ponto de vista do autor em relao ao tema
ou questo polmica em pauta. (GOLDSTEIN, LOUZADA, IVAMOTO
2009, p. 97)
Diante do exposto, constatamos que o principal propsito comunicativo do gnero
textual artigo de opinio convencer o outro atravs da seleo e organizao de argumentos.
Mas preciso lembrar que a composio dos gneros textuais tambm envolve (alm do
contedo, do estilo e da estrutura composicional) um outro aspecto especfico: um tipo textual
(ou sequncia textual), conforme explicam Koch e Elias (2006):
os gneros so formados por sequncias diferenciadas denominadas tipos
textuais. [...] Marcuschi (2002:23) afirma que os tipos textuais constituem
sequncias lingusticas ou sequncias de enunciados e no so textos
empricos. Teoricamente, os tipos so designados como narrativos,
descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos. (KOCH E ELIAS
2006, p. 119, grifo das autoras)
Um artigo de opinio um gnero textual que apresenta o tipo textual (ou sequncia
textual) argumentativo(a). Nas palavras de Cavalcante (2012, p. 67), essa sequncia textual
[...] visa defender um ponto de vista, uma tese, e os argumentos para sustent-la vo sendo
gradativamente apresentados.
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Bronckart (1999) explica e esclarece ainda mais a sequncia argumentativa, que parte
de um raciocnio argumentativo composto de tese, argumentos, contra-argumentos e
concluso:
[...] o raciocnio argumentativo implica, em primeiro lugar, a existncia de
uma tese [...] a respeito de um dado tema [...]. Sobre o pano de fundo dessa
tese [...] so [...] propostos dados [...] que so objeto de um processo de
inferncia [...] que orienta para uma concluso [...]. O prottipo da sequncia
argumentativa apresenta-se como uma sucesso de quatro fases:
_ a fase de premissas (ou dados) em que se prope uma constatao de
partida;
_ a fase de apresentao de argumentos, isto , de elementos que orientam
para uma concluso provvel, podendo ser esses elementos apoiados por [...]
exemplos, etc;
_ a fase de apresentao de contra-argumentos [...]
_ a fase de concluso [...] que integra os efeitos dos argumentos e contra-
argumentos (BRONCKART 1999, p. 226-227)
Depois de termos apresentado brevemente os conceitos de gnero
textual/discursivo, o conceito de gnero textual artigo de opinio e a sequncia textual
argumentativa, apresentaremos a seguir a metodologia e anlise de dados.
2 METODOLOGIA
As duas sequncias argumentativas analisadas neste trabalho esto inseridas em dois
artigos de opinio. Esses artigos foram elaborados em dezembro de 2016 como avaliao final
de uma disciplina que aborda gneros argumentativos no curso superior de Publicidade e
Propaganda na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus de Natal-RN. A
avaliao era composta de um enunciado que apresentava uma questo para discusso e um
artigo como referncia (cf. anexo), conforme exposto a seguir:
Leia o artigo de opinio em anexo.
Em seguida, escreva seu prprio artigo de opinio respondendo a seguinte pergunta:
o modismo digital reduz o desempenho dos jovens nas modalidades cultas da lngua?
Leve em considerao os seguintes aspectos:
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a) a estrutura composicional desse gnero argumentativo (ttulo,
contextualizao do fato comentado, desenvolvimento argumentativo, concluso);
b) a linguagem (uso da 1 pessoa do singular e de expresses modalizadoras);
c) o contedo, que deve ser claro, breve e especfico.
O critrio de seleo dos artigos foi o desenvolvimento da sequncia argumentativa.
Na seo seguinte, apresentaremos nossa anlise dessas duas sequncias argumentativas
presentes nos artigos.
3 ANLISE DOS DADOS3
3.1 SEQUNCIA ARGUMENTATIVA DO PRIMEIRO ARTIGO DE OPINIO
O primeiro artigo de opinio selecionado para anlise transcrito a seguir:
Educao e Cybercultura como afeta (sic) os jovens?
Recentemente em nosso pas houve a proposta para reforma na grade curricular de
ensino nas escolas, como a no obrigatoriedade de algumas disciplinas, deixando a cargo
dos alunos a escolha.
A preocupao com a qualidade tanto do ensino quanto do tipo de aluno encontrado
atualmente j vem sendo discutida h algum tempo. Que tipos de pessoas esto sendo
lanadas no mercado e ensino profissionalizante (superior)?
Esta (sic) pergunta acima acaba se expandindo, se levarmos em considerao a atual
conjuntura da sociedade, os desafios encontrados e um ponto onde todos convergem, a
tecnologia; aliada ou vil?
O mundo est envolto pela tecnologia, por maior que seja a resistncia de algumas
pessoas ainda. A cultura, comportamento, lazer, informaes e comunicao dentre outros,
so diretamente afetados e constantemente alterados pelos novos moldes da tecnologia.
3 Os artigos de opinio foram transcritos conforme os originais. Eventuais erros gramaticais foram mantidos e o
advrbio latino sic (que significa exatamente assim) foi acrescentado aps alguns deles.
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Mas como isto (sic) afeta o ensino/aprendizado? A cybercultura, a cultura criada no
mundo virtual, tendo suas caractersticas prprias, inclusive modificaes na lngua para se
adequar a (sic) quantidade de informaes trocadas em um curto espao de tempo,
principalmente entre os jovens.
Alguns criticam esta forma de escrita/linguagem por achar que ocorrem prejuzos,
onde os jovens vo perdendo capacidade de aplicar o uso correto da lngua fora do ambiente
digital. Mas acabam esquecendo que os jovens atualmente so mais cobrados por encontrar
uma maior concorrncia ao acesso do ensino superior, e ao conseguir sua vaga, ainda tem
que executar constantes atividades avaliativas, independente do curso ou rea, a escrita
sempre cobrada.
Podemos concluir que o jovem de hoje tem a obrigao de estar mais preparado, que
por mais que o constante uso da cybercultura seja presente no cotidiano, no h perdas
quanto aos requisitos necessrios para uma boa comunicao e escrita, devido a (sic)
necessidade e importncia cada vez maior.
Esse artigo de opinio composto de sete pargrafos. Os trs primeiros
contextualizam o tema; o primeiro e o terceiro so compostos de apenas uma frase. O quinto
pargrafo apresenta uma pergunta retrica (Mas como isto (sic) afeta o
ensino/aprendizado?) e o ltimo pargrafo, tambm composto de uma nica frase, conclui a
discusso apresentando uma conjuno concessiva e reforando a tese defendida: por mais
que (concesso) o constante uso da cybercultura seja presente no cotidiano, no h perdas
quanto aos requisitos necessrios para uma boa comunicao e escrita, devido a (sic)
necessidade e importncia cada vez maior.
A tese (o modismo digital no reduz o desempenho dos jovens nas modalidades cultas
da lngua) est relativamente bem explicitada no quarto pargrafo, que afirma que o mundo
est envolto pela tecnologia, e no sexto pargrafo, juntamente com a apresentao de um
nico argumento atravs da conjuno adversativa mas: alguns criticam esta forma de
escrita/linguagem por achar que [...] os jovens vo perdendo capacidade de aplicar o uso
correto da lngua fora do ambiente digital. Mas [...] a escrita sempre cobrada.
Entretanto, como se no bastasse haver apenas um argumento que sustenta a tese, esse
argumento ainda pouco desenvolvido. Talvez alguns exemplos pudessem ser elencados para
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enriquecer a reflexo. De modo esquemtico, a sequncia argumentativa nesse artigo de
opinio pode ser sistematizada da seguinte forma:
Artigo de opinio 1
TESE o modismo digital no reduz o desempenho dos jovens nas modalidades
cultas da lngua
ARGUMENTO a escrita sempre cobrada (sexto pargrafo)
CONCLUSO no h perdas quanto aos requisitos necessrios para uma boa
comunicao e escrita (stimo pargrafo)
AVALIAO Ruim/razovel; sequncia pouco desenvolvida; nota sugerida: 5,0 (cinco)
Tabela 1- sequncia argumentativa do primeiro artigo de opinio
Vejamos agora a anlise do segundo artigo de opinio.
3.2 SEQUNCIA ARGUMENTATIVA DO SEGUNDO ARTIGO DE OPINIO
Eis o segundo artigo de opinio para anlise:
Escrita e linguagem, um reflexo da vida
Nestor Grcia Canclini autor do livro Expectadores, leitores e internautas, discorre
sobre um assunto muito importante na atualidade a comunicao na era da conectividade.
Este o principal assunto de minha discusso. Ao mesmo tempo que a internet e o mobile
facilitam o acesso ao universo da leitura, afasta principalmente da escrita analgica: Lpis
na mo e papel na mesa.
Pensar digitalmente significa tambm reduo. Reduzir os caracteres ao mximo para
uma sntese clara e objetiva, se couber em uma frase melhor ainda. Textos extensos so
sintetizados em memes, frases sustentam dissertaes e assim o abismo na comunicao
inrrompe (sic).
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Mas afinal, com quantos paus se faz uma canoa? Talvez uma sntese facilite tudo mas
trs (sic) consigo problemas estruturais significativos. Como entusiasta de Canclini fao dele
as minhas palavras Tudo benfico, depende apenas como utilizamos os meios. Se voc
no depende apenas de si mesmo para redigir um texto e conta com as utilidades dos
corretores, o que esperar de sua capacidade de raciocnio prprio? Embora, de
contrapartida, estudar e aprender gramtica tenham sido facilitados com a internet, pouco
interesse h nos usurios.
O que voc no sabe que a maneira como a humanidade desenvolve sua escrita um
reflexo de como funciona estruturalmente sua cultura e sociedade, reflete mais precisamente
sua organizao e sua forma de pensar. Se a minha relao com a escrita e o universo das
palavras segue um raciocnio til, eficaz, semitico, de qualidade com formao de um
potencial para desenvolvimento crtico da realidade, como ele se relaciona eficasmente (sic)
com os millenius (sic)? Como nos comunicamos?
Sim, eu digo, o modismo digital seguido de grias, aglutinaes, abreviaes,
hibridismo e improviso normativo uma expresso cultural importante e portadora de
significados importantes para a mudana que estamos passando em nossa comunicao
nesse mundo digital. claro que tem a sua relevncia, e a linguagem utilizada justificada
pelo ambiente informal e coloquial. Entretanto, no h como se defender ou ao menos no
deixar de notar que essa linguagem empobrecedora.
Ela no possibilita o debate e discusso eficazes, os argumentos tornam-se falcias, o
processo de comunicao mais profundo que requer um pensamento de qualidade necessita
de uma linguagem complexa, que a escrita formal possibilita. As pesquisas revelam que em
meio sculo h mais percas (sic) que ganho (sic) na escrita.
por isso que preciso acordar os jovens da inrcia e facilidade da escrita digital,
pois afinal de contas a linguagem que nos determina enquanto sujeitos, e ela precisa ser
dominada em toda sua complexitude (sic)4 para no sermos peas de um jogo daqueles que a
domina (sic).
4 A palavra complexitude no foi encontrada em dicionrios. Talvez ela corresponda a uma amlgama do
adjetivo complexo com o substantivo completude, gerando um neologismo.
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Esse segundo artigo de opinio tambm composto de sete pargrafos e, assim como
o artigo anterior, apresenta uma pergunta retrica, embora essa seja figurada (com quantos
paus se faz uma canoa?, no terceiro pargrafo), e um pargrafo atomizado (o ltimo
pargrafo), composto de apenas uma frase.
Entretanto, as semelhanas acabam a. Ao contrrio do artigo anterior, esse artigo
apresenta maior quantidade e maior qualidade nos argumentos que defendem a tese contrria
ao primeiro artigo: o modismo digital reduz sim o desempenho dos jovens nas modalidades
cultas da lngua.
So apresentados trs argumentos. O primeiro pode ser encontrado no segundo
pargrafo (pensar digitalmente significa tambm reduo) e no terceiro (talvez uma sntese
facilite tudo mas trs (sic) consigo problemas estruturais significativos) e enfatizado no
quinto pargrafo, antecedido por uma conjuno adversativa: entretanto, no h como
deixar de notar que essa linguagem [digital] empobrecedora.
Localizamos o segundo argumento no sexto pargrafo: o processo de comunicao
mais profundo que requer um pensamento de qualidade necessita de uma linguagem
complexa, que a escrita formal possibilita. Finalmente, o terceiro e ltimo argumento,
seguido da concluso, est no stimo e ltimo pargrafo: a linguagem que nos determina
enquanto sujeitos, e ela precisa ser dominada [...] para no sermos peas de um jogo [...].
Em sntese, constatamos que a sequncia argumentativa desse artigo de opinio bem
mais desenvolvida do que a sequncia do artigo anterior, no s em termos quantitativos (trs
argumentos versus um argumento), mas tambm em termos qualitativos: o poder persuasivo
dos argumentos apresentados maior (mais convincente) por apresentar mais elementos com
elevado grau de complexidade: a anlise da linguagem digital como redutora e
empobrecedora; os problemas estruturais decorrentes dessa reduo; a profundidade
comunicativa alcanada ao utilizar a linguagem formal; e a concluso de que a linguagem nos
determina enquanto sujeitos. A sequncia argumentativa desse artigo de opinio pode ser
esquematizada assim:
Artigo de opinio 2
TESE o modismo digital reduz sim o desempenho dos jovens nas modalidades
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ANAIS ELETRNICOS
cultas da lngua
ARGUMENTOS
1. pensar digitalmente significa reduo (segundo pargrafo); talvez
uma sntese facilite tudo mas trs (sic) consigo problemas estruturais
significativos (terceiro pargrafo); linguagem [digital]
empobrecedora (quinto pargrafo)
2.[...] o processo de comunicao mais profundo necessita de uma
linguagem complexa, que a escrita formal possibilita (sexto pargrafo)
3. a linguagem que nos determina enquanto sujeitos (stimo e ltimo
pargrafo)
CONCLUSO [modalidade culta da] linguagem precisa ser dominada para no sermos
peas de um jogo (stimo e ltimo pargrafo)
AVALIAO Sequncia bem desenvolvida; nota sugerida: 8,0 (oito)
Tabela 2- sequncia argumentativa do segundo artigo de opinio
Para concluir, teceremos algumas consideraes finais.
4 CONSIDERACOES FINAIS
O presente trabalho abordou a anlise de duas sequncias argumentativas em dois
artigos de opinio produzidos na universidade. Para embasar a anlise, apresentamos os
conceitos de gnero textual/discursivo em geral e de gnero textual artigo de opinio em
particular, seguido pelo conceito de sequncia textual argumentativa, que estruturada a partir
de uma determinada tese, de argumentos que sustentem essa tese e de concluso.
O primeiro artigo de opinio apresentou uma sequncia argumentativa precria,
ancorando a tese em apenas um argumento pouco desenvolvido. J o segundo artigo de
opinio apresentou uma sequncia argumentativa mais slida e robusta, sustentando a tese
defendida em trs argumentos bem desenvolvidos que contriburam para um aumento
expressivo do poder persuasivo da argumentao.
Os resultados dessa anlise indicam que a qualidade da produo do gnero textual
artigo de opinio envolve no apenas o desenvolvimento do contedo temtico e o estilo
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(linguagem), mas sobretudo o desenvolvimento adequado da sequncia textual argumentativa.
Nossa expectativa que essa anlise possa contribuir minimamente com os processos de
avaliao do gnero textual artigo de opinio no somente no ensino superior mas tambm em
outros nveis de ensino.
REFERNCIAS
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http://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/viewFile/475/429https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/21457
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MOTA, V. Garrancho digital no condena texto dos jovens. 2016. Disponvel em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-
condena-texto-dos-jovens.shtml Acesso em 24 out 2016
ANEXO - artigo de opinio utilizado como referncia para a produo escrita solicitada
Garrancho digital no condena texto dos jovens por Vinicius Mota
Receber um punhado de mensagens dirias de filhos adolescentes no celular pode ser
assustador. Exprimindo-se com tantos cdigos e atalhos aleatrios, a juventude ser capaz de
redigir textos eficientes em ambientes formais?
Pesquisas sobre o tema nos EUA ajudam a aplacar a aflio dos pais.
Composies escritas por calouros de universidades americanas em meados da dcada
passada tinham a mesma mdia relativa de erros formais captada por estudos semelhantes ao
longo de um sculo: a cada cem palavras grafadas, dois erros.
O impacto da difuso das tecnologias auxiliares escrita parece ter sido outro. O tamanho
mdio do texto multiplicou-se por 2,5 em relao ao estudo anterior, de meados dos anos
1980, e ultrapassou mil palavras (mais que o triplo desta coluna).
Os erros de ortografia, na era dos corretores instantneos, ficaram menos frequentes, embora
tenham crescido as colocaes equivocadas de palavras. Aceite sem refletir o que o software
sugere e voc s vezes liberar um monstrengo no meio da frase. Deixe de consultar o
dicionrio e perder as variantes semnticas.
Os professores hoje cobram mais sustentao ftica e referenciais nos argumentos dos jovens
alunos.
O ensaio subjetivo perdeu terreno. Erros por ausncia ou incompletude de documentao
passaram a figurar entre os apontamentos mais comuns.
O teste feito nos Estados Unidos sugere, em suma, que os debutantes na universidade de hoje
escrevem mais do que os calouros do passado escreviam - sem incorrer em mais erros. So
tambm expostos a desafios intelectuais de maior complexidade.
difcil replicar esse estudo no Brasil, pois no temos tradio universitria to longa e
densa. A preocupao com as formas de expresso tampouco a mesma na nossa sociedade.
Mas d para concluir que o modismo digital no reduz necessariamente o desempenho dos
jovens nas modalidades cultas da lngua.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml
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(Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-
garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml Acesso em 24 out 2016)
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml
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GNEROS DIGITAIS E MULTILETRAMENTOS: PRTICAS
PEDAGGICAS NA SALA DE AULA
Fbia Magali Santos Vieira5
Florncia Vieira Pacheco Andrade6
Resumo: O ensino de Lngua Portuguesa o ensino da linguagem em suas mltiplas
realizaes, sendo fundamental o desenvolvimento de atividades com diversos gneros e tipos
de texto. Ao adotar os gneros digitais como objeto de ensino, considera-se que os gneros
discursivos possibilitam a interao pela linguagem, por realizarem-se em condies e fins
especficos, nas mais diversas situaes de interao social. Para atender s reais necessidades
da educao no sculo XXI, ferramentas pedaggicas tradicionais devem coexistir com as
ferramentas da tecnologia. Desse modo, a proposta de trabalho, desenvolvida no mbito do
PROFLETRAS / UNIMONTES, utilizar a perspectiva do multiletramento e da
multimodalidade, por articular diferentes modalidades de linguagem. O objetivo promover o
multiletramento atravs de atividades que visem desenvolver as habilidades de escrita,
utilizando os gneros digitais. A pesquisa interveno ter abordagem metodolgica de
natureza aplicada, classificada como explicativa e com procedimento tcnico pesquisa ao e
participante. Como proposta de interveno: Produo de atividades de escrita, considerando
os multiletramentos; Planejar, executar e avaliar um Projeto Educacional de Interveno -
PEI, contribuindo para a superao das dificuldades de alfabetizao e letramento; utilizao
de blog como ambiente de ensino-aprendizagem, favorecendo o letramento digital. Fazem
parte do quadro terico Soares (2004, 2014), Kleiman (2005), Bortoni-Ricardo (2013) e
Cagliari (1995), alfabetizao e letramento; Rojo (2009, 2012), multiletramentos; Marcuschi
(2010), Marcuschi e Xavier(2008), linguagem, gneros textuais e digitais e Coscarelli (2016),
gneros digitais. A pesquisa est em andamento, mas a anlise dos resultados da execuo da
proposta educacional proporcionar o ensino da LP interativa e poder elevar os nveis de
alfabetizao e letramento utilizando os gneros digitais.
Palavras-chave: Gneros digitais. (Multi) letramentos. Produo textual.
INTRODUO
5 Doutora em Educao FE/UnB. Professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES). Coordenadora de subprojeto do curso de Pedagogia PIBID/UNIMONTES. Docente do
Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) UNIMONTES. [email protected] 6 Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Letras UNIMONTES. Professora da rede pblica
municipal e estadual de Minas Gerais. [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]
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H muito tempo, a forma de ensinar e aprender mudou. Uma nova concepo de
ensino surgiu da necessidade de romper com velhas estruturas e modelos de ensino baseadas
na transmisso de conhecimento.
Hoje, trabalhamos na perspectiva da interao, da participao, de um aluno ativo,
aprendiz e integrante da situao comunicativa. Por isso, os aspectos do ensino/aprendizagem
devem contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias voltadas para a
complexidade de uma sociedade moderna e tecnolgica.
As crianas e jovens passaram a ter contato com a tecnologia (celulares,
computadores, jogos, videogame ...), talvez, com a mesma ou maior frequncia que o papel e
o lpis para escrever. Assim, inmeras formas de comunicao esto sendo usadas e
compartilhadas a todo instante, e, por isso, a prtica pedaggica deve atender a necessidade de
socializao do conhecimento. Nesta proposta, o trabalho pedaggico deve agregar novas
possibilidades de aprendizagem, facilitado pelo uso adequado das tecnologias digitais da
informao e comunicao TDIC.
nesse contexto que insere-se a perspectiva do multiletramento, da multimodalidade e
dos gneros textuais e digitais, por articular diferentes modalidades de linguagem e por inserir
o nosso aluno em um ambiente de aprendizagem mais atrativo, dinmico e atual,
principalmente, pelo nmero elevado de crianas que ingressam no 6 ano do Ensino
Fundamental sem ter adquirido as competncias e as habilidades em leitura e escrita com
eficincia.
Observamos que o analfabetismo tem sido motivo de muitas discusses em nossas
escolas, sobretudo, por professores que no so alfabetizadores e que no tem formao
pedaggica para tal. A presente situao necessita de interveno e requer ao, conhecimento
e mudana na prtica docente, para que esses alunos saiam dessa situao de excluso escolar
e social. por isso, que muitos professores de reas especficas tm dedicado ateno especial
e estudo cientfico para tentar minimizar problemas de alfabetizao e letramento.
Nesse sentido, por meio da experincia em sala de aula, buscamos estratgias de
ensino que possam motivar a participao ativa e produtiva em escrita, nos estudantes do 6
ano, que apresentam deficincias em alfabetizao e letramento. O objetivo promover o
multiletramento atravs de atividades que visem desenvolver as habilidades de escrita,
utilizando o gnero digital blog como recurso.
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Assim, esta pesquisa, que est em andamento, busca realizar interveno em sala de
aula, para compreender as dificuldades de ensino e aprendizagem de Lngua Portuguesa,
atravs do Programa de Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras). Este programa est
constitudo de uma nica rea de concentrao: Linguagens e letramentos, na linha de
pesquisa Leitura e produo textual: Diversidade Social e Prticas Docentes, sublinha
Prticas de letramento e multimodalidade. Para fundamentar este trabalho, tomamos por
base os estudos de Soares (2004, 2014), Kleiman (2005), Bortoni-Ricardo (2013), Cagliari
(1995), Rojo (2009, 2012), Marcuschi e Xavier(2008, 2010), Marcuschi (2010) e Coscarelli
(2016).
1 O MUNDO E A TECNOLOGIA: CONSIDERAES SOBRE AS MDIAS E
SUAS INFLUNCIAS NA SOCIEDADE
Na corrente de revolues que tomou de assalto o mundo ocidental, como as
revolues burguesas, que aconteceram, a partir do sculo XVII (SCHMIDT, 2002, p.19),
surge tambm a revoluo tecnolgica informacional. Impactante, dinmica e inovadora. Tais
revolues significam transformaes nas formas como as pessoas enxergam o mundo, bem
como nas maneiras como elas buscam conhecimento para tornar esse mundo inteligvel.
Desse modo, surgem a todo o momento novos instrumentos que possibilitam aos indivduos
terem acesso informao nos mais variados campos. Segundo Castells (1999, p.417) a
tecnologia da informao e a capacidade cultural de utiliz-la so fundamentais no
desempenho da nova funo de produo.
Nesse contexto, as tecnologias digitais da informao e comunicao TDIC
ganharam destaque em todos os aspectos, principalmente, como instrumentos de novas
propostas pedaggicas. Assim sendo, entendemos cada vez mais a escola como uma
instituio inserida em uma sociedade que apresenta transformaes, especialmente nas
formas de acesso ao conhecimento. Dessa maneira, para no descolar suas prticas e
processos da realidade social, ela deve, tambm, acompanhar essas transformaes
apropriando-se desses novos meios de mediao de conhecimentos, transformando-os em
instrumentos pedaggicos. A partir dessa concepo, pretendemos abordar abaixo, de maneira
sucinta, as interfaces das atuais tecnologias com a educao.
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A Internet, a mdia mais nova, ganhou abrangncia mundial, pois responsvel por
uma parte expressiva das informaes que circulam no mundo em um processo de
compartilhamento de ideias. Esse processo foi estimulado especialmente a partir da dcada de
1980, sculo XX, quando o uso da Internet tornou-se pblico e popular, deixando de ser
exclusividade de especialistas e instituies governamentais. Desde ento, a Internet
popularizou-se com a implantao de laboratrios de informtica nas diversas instituies de
ensino, sobretudo aps a utilizao das ondas de rdio para essa finalidade, uma vez que,
atravs de uma linha telefnica, seu uso era dispendioso e, por isso, restrito.
Assim, compreendemos que o potencial e as possibilidades de uso da internet na
educao so evidentes, porque ela constitui a maior e a mais abrangente forma de
comunicao, interao, troca de saberes, na qual a aprendizagem acontece de forma
dinmica.
A televiso, um pouco mais velha, j da dcada de 50 do sculo XX, a mdia de
maior acesso entre todos os brasileiros. Sua utilizao pedaggica est associada ao fato de
lidarmos com a realidade social na qual esto inseridos os nossos alunos. Ela um importante
meio de comunicao porque apresenta a realidade vivida. Mostra os acontecimentos reais e
ficcionais, e na maioria das vezes sob diferentes pontos de vista. H sempre por trs de uma
informao veiculada na TV a concepo ideolgica, poltica e religiosa dos donos das
emissoras de televiso. Por isso, a escola deve construir em seus alunos a percepo para a
leitura crtica e reflexiva do que apresentado. Sua utilizao na escola deve consistir na
fomentao da criticidade, formao de opinio e concepo de ideias que revelem o respeito
diversidade, a integridade, a tica, a clareza e a veracidade das informaes veiculadas e da
programao apresentada por cada emissora de televiso em respeito aos telespectadores, que
precisam assistir, mas no ficar passivos diante do que lhes apresentado.
O rdio, da dcada de 20 do sculo XX, o mais barato e popular meio de
comunicao de massa. Apresenta-se como ferramenta de socializao de experincias,
interao e produo artstica, uma vez que possibilita aos seus integrantes o protagonismo. O
rdio alm de entreter atravs da msica privilegia a comunicao oral, o pensar, o aprender a
fazer, o sentir e o agir.
E para finalizar, o material impresso, a mais antiga de todas as mdias e que hoje vive
a sua democratizao. Concordamos com isso, visto que, o material impresso uma das
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mdias com maior presena em todos os contextos de aprendizagem. Engloba todos os textos
escritos presentes em materiais fsicos, como caderno, livros, at a transposio para os
contextos digitais e virtuais, passando a compor um hipertexto e hipermdias, quando estas
incorporam, alm do texto, outras mdias, como vdeo, imagens e sons.
Assim, a insero dos gneros textuais e digitais estimulam o desenvolvimento das
competncias sociocomunicativas e lingusticas dos alunos, por meio de diferentes suportes.
Alm disso, a leitura de imagens se torna importante, pois sabemos que, antes de conhecer a
escrita na escola, a criana j convive com ela e, antes mesmo de atentar palavra escrita,
sente-se atrada pela imagem, pelo colorido, pelas propagandas visuais, por diversas semioses,
que lhe dizem muito mais do que a escrita. No que se refere semioses, Rojo (2012) tece as
seguintes consideraes:
o que tem sido chamado de multimodalidade ou multissemiose dos
textos contemporneos, que exigem multiletramentos. Ou seja, textos
compostos de muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que
exigem capacidades e prticas de compreenso e produo de cada
uma delas (multiletramentos) para fazer significar. (ROJO, 2012, p.
19)
Assim sendo, a imagem fica na memria e, atravs dela, muitas concepes e opinies
nos so repassadas. Como educadores, devemos desenvolver o multiletramento na escola, e
com isso ajudar nossos alunos a despertar o senso crtico, avaliando sua aprendizagem. Desse
modo, estaremos formando indivduos crticos, capazes de ler, interpretar, avaliar os textos e o
mundo em que vivem.
De fato a tecnologia est presente na vida das pessoas e deve estar presente na escola
para que o nosso aluno esteja inserido nesse contexto. De acordo com Rojo (2012):
[...] as prticas de letramento contemporneas envolvem, por um lado,
a multiplicidade de linguagens, semioses e mdias envolvidas na
criao e significao para os textos multimodais contemporneos e,
por outro, a pluralidade e diversidade cultural trazida pelos
autores/leitores contemporneos a essa criao de significao.
(ROJO, 2012, p. 56)
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Portanto, a comunicao pode ser traduzida como a interao entre indivduos e entre
o indivduo e o meio onde vive. Ensinar um aluno a comunicar-se e a produzir comunicao
auxili-lo a perceber, a manifestar-se, a construir uma viso crtica e eficiente de todas as
formas de expresso, ampliando sua percepo no entendimento de qualquer linguagem
promover o multiletramento e trabalhar com prticas de letramento contemporneas.
2 GNEROS TEXTUAIS E DIGITAIS
O ensino de Lngua Portuguesa est intimamente ligado ao estudo de pesquisas e
teorias sobre a linguagem. Sobre como se processa e como exerce um papel fundamental na
forma de comunicao humana. entendendo como a linguagem oral e escrita acontece que o
professor, nas mais diversas modalidades de ensino, ter uma prtica pedaggica exitosa e
significativa, podendo intervir e promover o ensino-aprendizagem, sobretudo nas questes de
dificuldades de aprendizagem. Haja vista, a quantidade de alunos que apresentam uma
enorme deficincia lingustica ao ingressar no 6 ano do Ensino Fundamental.
Nesse sentido, o trabalho com os gneros textuais e digitais vem corroborar com os
preceitos da pragmtica que buscam estudar a linguagem sob os aspectos do uso e da prtica
social. Dessa forma, o uso e funo dos gneros textuais devem estar vinculados ao
desenvolvimento de competncias comunicativas dos alunos em relao escola e a vida
social de cada um. Nesse sentido, preciso desvincular a prtica de produo de textos
escritos como um processo meramente escolar. Como se os alunos s escrevessem com fins
escolares, avaliativos e mecnicos. Sabemos que na maioria das vezes, essa prtica inicia-se
na escola, mas sabemos tambm, que ela extrapola os muros da escola. Por isso os gneros
textuais assumem essa caracterstica peculiar da funo social.
Assim, os gneros textuais, so definidos por Marcuschi (2008) nos seguintes termos:
[...] textos que ns encontramos em nossa vida diria e que apresentam padres
sociocomunicativos caractersticos definidos por composies funcionais, objetivos
enunciativos e estilos concretamente realizados na integrao de foras histricas,
sociais, institucionais e tcnicas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155).
J os gneros digitais apresentam os mesmos padres sociocomunicativos, esto
presentes mais do que nunca na vida diria das pessoas, porm se utilizam do suporte virtual,
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ou seja, da internet, para se materializarem. Observamos que a rede mundial de computadores
trouxe grandes mudanas na forma de comunicao e acesso informao, e a escola pouco
tem utilizado essa profcua ferramenta como inovao na prtica pedaggica. Marcuschi
(2008, p. 175) define como suporte de um gnero um lcus fsico ou virtual com formato
especfico que serve de base ou ambiente de fixao do gnero materializado como texto.
Assim, os gneros digitais so textos presentes no nosso cotidiano e que esto materializados
no ambiente digital. Cabe, ento, compreendermos que o ambiente digital apresenta
peculiaridades e variveis, mas que, de acordo com Marcuschi (2010, p. 22) fato inconteste
[...] que a internet e todos os gneros ligados a ela so eventos textuais fundamentalmente
baseados na escrita. Na internet a escrita continua essencial apesar da integrao de imagens e
som.
Deste modo, a forma de ler e escrever mudou nas ltimas dcadas e no muito a forma
de ensinar a ler e a escrever. Os suportes ampliaram, os gneros tambm. As imagens, cores,
formatos de letras e recursos audiovisuais esto inseridos na forma como os textos so
veiculados na mdia digital e impressa. Todos esses recursos esto presentes no cotidiano de
crianas, jovens e adultos que leem, escrevem mensagens, produzem textos, vdeos, entre
outras produes, carregadas de multimodalidade.
Assim, os gneros textuais e, tambm, os gneros digitais promovem a interao e o
desenvolvimento da comunicao, fazendo acontecer o que h de mais interessante no ser
humano, a capacidade de comunicar-se. O que falta na escola apresentar gneros textuais
que atendam s necessidades dos alunos, que eles possam agregar significado e funo
naquilo que produzem. Alm disso, por conta do nmero elevado de recursos visuais e
auditivos presentes nos gneros textuais e digitais, cabe escola, a tarefa de ensinar a ler esses
recursos to presentes nos textos. E assim, desenvolver o letramento crtico e o letramento
digital, pois atravs dos recursos, que compem esses textos, esto presentes muitos
significados.
Portanto, sob a perspectiva do letramento como prtica social, que atenda s necessidades
da aprendizagem do sculo XXI, a exigncia de utilizar os gneros digitais como recurso
didtico de ensino, configura em um novo comportamento diante da leitura e da escrita.
Assim sendo, a prtica docente restrita ao letramento das mdias impressas no seria
satisfatrio e suficiente, tendo em vista, a real necessidade de inserir tecnologias digitais no
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contexto escolar, que j esto to presentes na vida das pessoas e, de certa forma, fora da
escola.
A esse respeito, Coscarelli (2016) afirma que:
As escolas precisam preparar os alunos tambm para o letramento digital, com
competncias e formas de pensar adicionais ao que antes era previsto para o
impresso. Sendo assim, o desafio que precisamos enfrentar o de incorporar ao
ensino da leitura tanto os textos de diferentes mdias (jornais impressos e digitais,
formulrios online, vdeos, msicas, sites, blogs e tantos outros) quanto formas de
lidar com eles. Coscarelli (2016, p.17)
Dessa maneira, o blog como ferramenta de ensino atende proposta desta pesquisa,
que busca inserir no contexto escolar os gneros digitais. O seu uso abre espao para a prtica
de leitura e escrita e, com isso, o aluno assume o papel de leitor e produtor textual, sujeito
social, que constri por meio da linguagem, uma sociedade mais produtiva e autnoma.
3 ALFABETIZAO E LETRAMENTO
Os processos de aprendizagem e apropriao da leitura e da escrita so complexos e
para compreend-los preciso ressaltar as contribuies de Magda Soares (2014), Kleiman
(2005) e Rojo (2012) sobre alfabetizao e letramento.
Soares (2014) define o conceito de alfabetizao como a ao de alfabetizar, de
tornar alfabeto (SOARES, 2014, p.31). Assim, o primeiro passo do professor e da escola
mobilizar esforos para que esse aluno saia da condio de analfabeto e se integre ao mundo
das letras, da leitura, dos seus significados e contextos. Associar os saberes da vida aos da
escola.
Kleiman (2005) apresenta o conceito de alfabetizao como um conjunto de saberes
sobre o cdigo escrito da lngua, que mobilizado pelo indivduo para participar das prticas
letradas em outras esferas de atividades, no necessariamente escolares (KLEIMAN, 2005,
p. 13). Dessa forma, entende-se que o conhecimento e a aprendizagem do sistema de escrita,
do domnio da leitura e escrita, ou seja, da alfabetizao uma prtica escolar. A escola
precisa criar situaes nas quais essa prtica acontea na sala de aula de forma efetiva e
sistematizada.
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Nesse sentido, vlido analisar as competncias e habilidades de leitura,
especificamente, pois o ato de ler envolve capacidades e caractersticas prprias, as quais a
autora apresenta, ancorada no Caderno 2 do Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita -
CEALE (UFMG, 2003). Assim, so capacidades de decodificao:
Compreender diferenas entre escrita e outras formas grficas (outros sistemas de
representao);
Dominar as convenes grficas;
Conhecer o alfabeto;
Compreender a natureza alfabtica do nosso sistema de escrita;
Dominar as relaes entre grafemas e fonemas;
Saber decodificar palavras e textos escritos;
Saber ler reconhecendo globalmente as palavras;
Ampliar a sacada do olhar para pores maiores de texto que meras palavras,
desenvolvendo assim fluncia e rapidez na leitura (UFMG, 2003, p.22).
Estas so apenas algumas capacidades bsicas de decodificao da leitura e, ainda
assim, a escola tem falhado muito no desenvolvimento delas. Para muitos, decodificar
palavras torna-se uma atividade muito complexa, sabendo-se que a leitura envolve muito mais
capacidades. Ler envolve compreenso, pois a leitura a atividade intelectual de
compreender. Segundo Rojo (2009), a leitura passa a ser compreendida
[...] no apenas como um ato de decodificao, de transposio de um cdigo
(escrito) a outro oral, mas como um ato de cognio, de compreenso, que envolve
conhecimento de mundo, conhecimento de prticas sociais e conhecimentos
lingusticos muito alm dos fonemas e grafemas. (ROJO, 2009, p. 77)
Com base no exposto, sobre o conhecimento de prticas sociais, convm ressaltar que
no final do sculo XX, sob a influncia do mundo globalizado, visando atender s
necessidades de uma sociedade moderna, surge o termo letramento (portugus) / literacy
(ingls) - the condition of being literat (a condio de ser letrado) - para atender, tambm, a
necessidade de se definir o leitor. Letrado (literate- ingls), conforme Soares (2014), aquele
que tem a habilidade de ler e escrever. Letramento, ento, passa a ser definido como a
capacidade de saber ler e escrever com proficincia, sabendo utilizar a leitura e a escrita na
vida moderna como prtica social. Soares (2014) estabelece uma diferena entre alfabetizao
e letramento, que muito importante para esse entendimento:
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H, assim, uma diferena entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na
condio ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa
palavra o sentido que tem literate em ingls). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a
escrever que se torna alfabetizada e que passa a fazer uso da leitura e da escrita,
a envolver-se nas prticas sociais de leitura e escrita que se torna letrada
diferente de uma pessoa que no sabe ler e escrever analfabeta ou, sabendo ler
e escrever, no faz uso da leitura e da escrita alfabetizada, mas no letrada, no
vive no estado ou condio de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita
(SOARES, 2014, p. 36).
Nesse sentido, Kleiman (2005) diz que o letramento complexo, envolvendo muito
mais do que uma habilidade ou conjunto de habilidades, ou uma competncia de quem l.
Envolve mltiplas capacidades e conhecimentos para mobilizar essas capacidades, muitos dos
quais no tm necessariamente relao com a leitura. Ou seja, envolve o conhecimento e a
cultura fora do contexto escolar, pois o letramento ultrapassa os muros da escola. Porm, o
foco dessa discusso a aprendizagem dentro da escola. Assim, buscamos investigar como
favorecer e fomentar o conhecimento sistematizado da leitura e da escrita, sobretudo para
aqueles que esto na escola h anos e no conseguem aprender.
Por isso, a importncia de se alfabetizar letrando desde o incio da escolarizao, j na
Educao Infantil. O professor necessita conhecer vrias teorias e mtodos de alfabetizao,
sem privilegiar nenhum, pois a realidade da sala envolve a diversidade de conhecimentos e
dificuldades e apenas um mtodo de ensino no dar conta de atender a todos sem distino.
Segundo Soares (2004), devem-se articular conhecimentos e teorias metodolgicas
fundamentadas na cincia, a fim de favorecer a aprendizagem e o processo de alfabetizao,
com o desenvolvimento de habilidades e competncias de leitura e de escrita, envolvendo o
letramento como prtica social.
Sabemos que h situaes que precisam ser faladas e h outras que precisam ser
escritas. E sob essas duas diferenas, encontram-se diversos problemas de ensino na escola.
Nesse sentido, Bortoni-Ricardo (2013) ressalta que preciso conhecer melhor a competncia
lingustica oral dos alunos, para que se possa intervir nas questes de formao e aquisio da
competncia escrita.
O estudo sobre Fontica e Fonologia possibilita ao professor o conhecimento sobre
como os seres humanos produzem ou ouvem os sons da fala. Segundo, Seara (2015, p. 29),
as letras so unidades formais mnimas da escrita e no da fala.
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Nesse sentido, necessrio entender e desvincular da nossa prtica que a escrita
representa a fala. Tanto a escrita quanto a fala so distintas e ter conhecimento dos processos
fonolgicos, que so a codificao (desvios) que os morfemas sofrem quando se combinam
para formar palavras, propicia buscar estratgias de ensino para a superao dos mesmos.
Alm disso, ao professor que lida com a alfabetizao imprescindvel o
conhecimento das reas da Fontica e da Fonologia. Sobre esse aspecto, Seara (2015, p. 33),
ressalta que os conhecimentos da Fontica e de noes sobre o sistema fonolgico da lngua
materna so fundamentais, para que os professores atendam melhor os alunos que apresentam
dificuldades no processo de alfabetizao. preciso levar o aluno a compreender a variao
fontico-fonolgica e relacion-las aos elementos grficos da escrita.
Cagliari (1995) apresenta categorias de anlise de erros ortogrficos que foram
objeto de estudo e anlise dos textos espontneos dos alunos do 6 ano X do Ensino
Fundamental II da Escola Estadual Pio XII, localizada no Municpio de Januria, MG.
Dessa forma, utilizamos as categorias de anlise dos erros ortogrficos de acordo
com Cagliari (1995), como referencial. As categorias so: transcrio fontica (a
representao da fala); uso indevido de letras (escolha possvel para representar um som de
uma palavra quando a ortografia usa outra); hipercorreo (quando o aluno j conhece a
forma ortogrfica de determinadas palavras, sabe que a pronncia diferente e passa a
generalizar a forma de escrever); modificao da estrutura segmental das palavras (erros de
troca, supresso, acrscimo e inverso de letras, representando maneiras de escrever porque o
aluno ainda no domina bem o uso de certas letras); juntura intervocabular e segmentao
(ambas refletem critrios de fala que a criana usa para juntar ou separar palavras); forma
morfolgica diferente (variedade dialetal); forma estranha de traar as letras (dificuldades
com a escrita cursiva); uso indevido de letras maisculas e minsculas (o uso adequado no
ensinado); acentos grficos (sinais diacrticos ausentes nos textos espontneos); sinais de
pontuao (tambm no ensinado) e problemas sintticos (denotam modos de falar
diferentes do dialeto privilegiado pela ortografia e apresentam uma topicalizao da fala e no
da escrita).
Todas essas categorias relacionadas por Cagliari (1995), serviram de base para a
investigao dos problemas surgidos nos textos dos alunos, e para que pudssemos, a partir
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da, realizar as intervenes necessrias ao desenvolvimento das competncias comunicativas
dos alunos.
4 PERCURSO METODOLGICO
Quanto aos procedimentos tcnicos adotados, utilizamos em primeiro momento, a
pesquisa bibliogrfica como procedimento para construo do conhecimento sobre conceitos
e teorias estudadas e o levantamento de dados, a fim de coletar informaes para anlise
quantitativa dos envolvidos no universo de pesquisa.
Assim, esta pesquisa delineada pela pesquisa-ao e pela pesquisa participante, que
parte para a prtica, aproximando cada vez mais a pesquisa cientfica da realidade educacional
vivenciada pelo professor-pesquisador.
Na primeira etapa da pesquisa, tomamos como ponto de partida o problema enfrentado
em sala de aula com os estudantes das turmas de 6 ano, que iniciam uma nova etapa de
escolarizao sem ter adquirido ou consolidado os nveis de alfabetizao e letramento
necessrios ao ano em que ingressam. A etapa seguinte consistiu na realizao da pesquisa
bibliogrfica para construo de um referencial terico, que esclarecesse os conceitos que
subsidiaram a construo argumentativa. Para tanto, foi necessrio recorrer ao conhecimento
acadmico e cientfico produzido atualmente.
A tcnica de coleta de dados foi realizada por meio de observao, questionrio e
realizao de atividade inicial de escrita. Assim, a pesquisa cientfica permitiu uma anlise e
posicionamento da realidade lingustica dos estudantes do 6 ano, nos mais diferentes nveis
de leitura e escrita. Diante dessa realidade educacional, diagnosticamos a necessidade de
elevar os nveis de escrita dos alunos de uma turma de 6 ano do ensino Fundamental, 6 ano
X do Ensino Fundamental II da Escola Estadual Pio XII, localizada no Municpio de Januria
- MG .
Por fim, foi elaborado e est sendo aplicado um Projeto Educacional de Interveno
PEI, que tem como objetivo geral, desenvolver atividades que contribuam com a elevao dos
nveis de escrita desses alunos, utilizando o gnero digital blog como recurso didtico.
5 RESULTADOS E DISCUSSO
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Ainda que a pesquisa esteja em andamento j trouxe grandes benefcios ao estudo
realizado, pois a apropriao do conhecimento terico e a construo do Projeto Educacional
de Interveno PEI proporcionam uma viso de ensino interativo e significativo sobre os
nveis de alfabetizao e letramento, utilizando os gneros digitais. Assim, estamos
desenvolvendo atividades de forma mais intensiva, relacionadas produo escrita,
utilizao dos gneros digitais, mais especificamente ao uso do blog como recurso didtico de
ensino e de incluso digital.
6 CONCLUSO
Acredita-se que com o desenvolvimento desta pesquisa, ainda em andamento, os
evolvidos atuaro de forma reflexiva e reveladora de possibilidades de aprendizagem. No de
forma ocasional, mas de forma intencional, planejada e orientada, a partir dos estudos terico-
metodolgicos desenvolvidos pelo pesquisador, aplicados para busca de resultados que
possam ser utilizados na resoluo de problemas reais da sala de aula. Portanto, esta pesquisa
possibilitar a melhoria da prtica docente, objetivo do ProfLetras, e, contribuir com a
elevao dos nveis de escrita, atravs de atividades que visem desenvolver essa habilidade,
utilizando os gneros digitais, objetivo dessa pesquisa.
REFERNCIAS
BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro (Orgs.). Os doze
trabalhos de Hrcules. So Paulo: Parbola, 2013.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizao e lingustica. 8 Ed. So Paulo. Scipione, 1995.
CASTELLS, Manuel. Fim de milnio. Trad. Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venancio
Majer. So Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informao: economia, sociedade e cultura;
v.3).
COSCARELLI, Carla Viana. (Org.). Tecnologias para aprender. 1. Ed. So Paulo:
Parbola Editorial, 2016.
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KLEIMAN, ngela. B. Preciso ensinar o letramento: no basta ensinar ler e escrever.
Cefiel/ IEL/ Unicamp, set. 2005. Disponvel em:
. Acesso em: 06 fev.
2016.
MARCUSCHI, Luiz Antnio, 1946 - Produo textual, anlise de gneros e compreenso
So Paulo: Parbola Editorial, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antnio, XAVIER, Antnio Carlos (orgs.). Hipertexto e gneros
digitais: novas formas de construo do sentido - 3.ed. So Paulo: Cortez, 2010.
PROJETO DO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS PROFLETRAS. Disponvel
em:. Acesso em: 20 mar. 2016.
ROJO, Roxane. Letramentos mltiplos, escola e incluso social. So Paulo: Parbola
editorial, 2009.
ROJO, Roxane. Multiletramentos na escola. Eduardo Moura [org..]. So Paulo: Parbola
Editorial, 2012.
SEARA, Izabel Christine. Fontica e fonologia do portugus brasileiro. So Paulo:
Contexto, 2015.
SCHMIDT, Mrio Furley. Nova histria crtica. 2 ed. So Paulo: Nova Gerao, 2002.
SOARES, Magda. Alfabetizao e Letramento: caminhos e descaminhos. Ptio Revista
Pedaggica. Ed. Artmed, 29 de fevereiro de 2004.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em trs gneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autntica
Editora, 2014.
http://www.iel.unicamp.br/cefiel/alfaletras/biblioteca_professor/arquivos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Faculdade de Educao (UFMG).
Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrit (CEALE). Coleo: Orientaes para a
Organizao do Ciclo Inicial de Alfabetizao, Caderno 2. Belo Horizonte: Secretaria de
Estado da Educao de Minas Gerais, 2003, 62p.
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LETRAMENTO CONTBIL: DESCREVENDO O GNERO NOTA DE
EMPENHO DO SISTEMA INTEGRADO DA ADMINISTRAO
FINANCEIRA (SIAFI) DO TESOURO NACIONAL
Rosineide Tertulino de Medeiros Guilherme7
Carlos Henrique Silva8
RESUMO: Entendemos que no existem fronteiras demarcadas que impeam o pleno
exerccio de investigao e anlise dos usos da linguagem em seus mais diferentes contextos e
sob os mais variados olhares, e que no h um letramento encapsulado unicamente no
processo de escolarizao. Por compreendermos que esse fenmeno permeia as mais diversas
prticas sociais, objetivamos, por meio deste trabalho, discutir as prticas de leitura e escrita
no ambiente contbil. Diante dessa premissa, o corpus da nossa investigao focalizar a
anlise do gnero Nota de Empenho, que constitui uma ferramenta utilizada pelo rgo
pblico auferindo poder a este, de contratar com outro rgo, criando uma obrigao de
pagamento e uma garantia de que existe crdito necessrio para a liquidao da despesa.
Nesse sentido, constituem os referidos pressupostos tericos aportes dos Estudos de
Letramento (KLEIMAN, 2001; TFOUNI, 2010; BARTON; HAMILTON, 2004) e do
Letramento no trabalho (PAZ, 2008) e na Teoria dos Gneros (BAKHTIN, 2003;
BRONCKART, 2003; MARCUSCHI, 2002). Metodologicamente, a pesquisa uma
investigao de campo e adota uma abordagem de dados de natureza qualitativa
(CHIZZOTTI, 2005). O corpus da investigao compreende registros de campo, anlise de
Nota de Empenho, dentre outras tcnicas. As anlises parciais evidenciam a existncia de
vrias prticas de letramento desenvolvidas no ambiente contbil, sendo tais, mediadas por
um variado nmero de gneros. O gnero Nota de Empenho um instrumento essencial ao
andamento das fases de uma despesa. A relevncia deste trabalho situa-se no fato de permitir
que o Letramento Laboral, caminhe por novos ambientes, como o caso, o Letramento
Contbil, ao mesmo tempo que oportunizar visibilidade acadmica s prticas de letramento
que se efetivam em atividades da esfera contbil.
Palavras Chaves: Letramento. Atividade contbil. Gneros discursivos.
1 INTRODUO
7 Mestranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
[email protected] 8 Doutorando em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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Em um ambiente laboral muitas prticas de letramento so utilizadas, so prticas
rotineiras e relevantes empregando a leitura e escrita, gerando registros de trabalho,
materializando-se assim, atravs de algum gnero.
Partindo dessa tica, pretendemos atravs do presente artigo analisar acerca do gnero
Nota de Empenho, bastante recorrente em um ambiente contbil das instituies pblicas.
Elegemos o Setor Contbil, de uma Instituio de Ensino Superior,(IES) da Universidade
Federal Rural do Semi-rido, no Campus localizado na cidade de Angicos, semirido
nordestino do Rio Grande do Norte para desenvolver nossa pesquisa. uma universidade que
fez parte do projeto de expanso da educao. O Campus tem um pouco mais de oito anos de
existncia.
A finalidade precpua ser descrever o gnero, Nota de Empenho. Delinearemos os
traos gerais desse gnero, como constitudo, quais suas caractersticas, sua aplicao e sua
finalidade, o ambiente onde se processa, quem so os participantes.
O referido instrumental constitui uma ferramenta utilizada pelo rgo pblico
auferindo poder a este, de contratar com outro rgo, criando uma obrigao de pagamento, e
uma garantia de que existe crdito necessrio para a liquidao da despesa.
A escolha desse evento de letramento para fins de estudo justifica-se por ser o uso da
escrita o fator preponderante envolvido no evento investigado. Alm disso, possibilitar que o
letramento laboral caminhe por novos caminhos, ainda no trilhados, oportunizando ao
mesmo tempo, visibilidade acadmica acerca das prticas de letramento que se efetivam na
esfera da contabilidade pblica.
2 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE LETRAMENTO
As discusses acerca do letramento tm incio aps o fim da segunda guerra mundial
nos Estados Unidos e em vrios pases da Europa, como Blgica, Frana e Inglaterra,
motivados pelo fato de os indivduos jovens e adultos alfabetizados no corresponderem as
necessidade do cotidiano em termos de leitura e de escrita.
No Brasil, no entanto, essas discusses surgiram a partir da segunda metade do sculo
XX, nos anos 1980 e, durante algum tempo, as questes de letramento estiveram voltadas para
a alfabetizao, muitas vezes ocasionando o emprego do letramento como sinnimo de
alfabetizao. Nesse contexto geogrfico, alguns estudos foram realizados no sentido de
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estabelecer a distino entre ambos. Tomamos como exemplo as publicaes de Soares
(2001), Tfouni (2004), Mortatti (2004), entre outros que empreenderam apresentar as
definies entre alfabetizao e letramento.
Nesse sentido, Soares (2001, p. 145) apresenta letramento como o estado ou condio
de indivduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as
prticas sociais de leitura e de escrita, que participam competentemente de eventos de
letramento.
Por sua vez, tais eventos nos so apresentados por Heath (1982) como situaes em
que a lngua escrita parte integrante da natureza entre os participantes e seus processos
interativos. Barton & Hamilton conceituam assim:
[...] eventos de letramento so atividades em que o letramento
desempenha um papel. Geralmente existe um texto escrito, ou textos,
que central para a atividade e falas em torno do texto. Eventos so
episdios que emergem das prticas e so definidas por elas. (1998, p.
8)
Em conformidade com o exposto, toda atividade social que for mediada por um texto
ser considerada um evento de letramento. Kleiman (1995, p. 40) apoiando-se em Heath
(1982) refora essa ideia ao afirmar que os eventos de letramento so situaes em que a
escrita constitui parte essencial para fazer sentido da situao, tanto em relao a interao
entre os participantes como em relao aos processos e estratgias interpretativa.
Outra terminologia bem recorrente nos estudos do letramento so as chamadas prticas
de letramento, definidas como maneira pela qual um grupo faz uso da lngua escrita e
revelam as suas concepes, valores, idias, crenas a respeito da escrita. Street (1995), diz
que tais prticas referem-se tanto ao comportamento quanto conceituao social e cultural
que confere significado aos usos da leitura e/ou da escrita.
Assim, entende-se que constitui critrios para se classificar como evento de letramento
o fato de serem mediados por textos e o seu uso nomeia-se, prticas de letramento. Diante
dessa viso, pode-se entender que todo evento em que mediado por texto, no importa o
ambiente, seja escolar, jurdico, hospitalar, pode ser considerado um evento de letramento.
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Barton e Hamilton (1998) defendem a ideia de mltiplos domnios do letramento,
afirmando que possvel que as prticas de letramento podem se situar no mbito de inmeras
agncias de letramento.
Cada prtica de letramento encontra-se inserida em um sistema de inter-relaes com
outras prticas que se estabelecem numa dada esfera social. Nesse sentido, o letramento se
efetua em meio a um contingente de outras prticas. A esse respeito, ilustrativo afirmar que
as prticas de leitura e escrita se inserem no domnio institucional, foco da nossa pesquisa, o
contbil, as quais se relacionam s tarefas que integram o cotidiano de trabalho dos
profissionais desse setor.
Assim, dependendo dos domnios, isto , das instncias sociais em que se formalizam
as prticas, o letramento se instaura como fenmeno mltiplo capaz de se estabelecer nos
mais diversos cont
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