UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
EDUCAÇÃO SIGNIFICATIVA, UM SONHO POSSÍVEL DE SE TORNAR
REALIDADE
Autora: Elaine Lima dos Santos de Carvalho
Orientadora: Maria Esther de Araujo
Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes, Instituição “A vez do mestre” para o curso de Pós-graduação em Supervisão e Administração Escolar
Rio de Janeiro
2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”
EDUCAÇÃO SIGNIFICATIVA, UM SONHO POSSÍVEL DE SE TORNAR
REALIDADE
OBJETIVO:
Este trabalho tem como objetivo
enfatizar a importância do desenvolvimento de uma educação contextualizada e significativa no cotidiano das escolas de Ensino Fundamental.
AGRADECIMENTOS
Á Deus que vem sempre iluminando meu caminho.
Aos meus familiares que sempre me apóiam.
Em especial minha filhota Eloá Maria, companheira de todas as horas.
Meus “netinhos “que me permitem acreditar que a vida é bela.
À Bárbara por tanta generosidade e amizade sincera.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha filha
Eloá Maria, reforçando que nunca
é tarde para lutarmos por nossos
sonhos,mesmo com toda a
dificuldade que possa surgir, confie
Deus e caminhe.
“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação
para a vida, é a própria vida.”
John Dewey
Resumo
A falta de atividades pedagógicas contextualizadas nas escolas revelam a
urgência das instituições, principalmente as de Ensino Fundamental, reverem suas
práticas. Estar atento a um Projeto Político Pedagógico “vivo”, com certeza, é o
grande desafio de gestores , que tem em suas mãos a árdua tarefa de envolver toda
sua equipe no sentido de juntos transformarem o fazer pedagógico em ações
significativas, que contribuam para o crescimento do aluno.
Nessa perspectiva educar para transformar , acaba sendo o lema de
professores reflexivos , que compreendem a importância do aluno ser visto em sua
totalidade. Vale destacar que a formação de professores reflexivos, portanto
comprometidos, só ocorre quando o profissional consegue sentir a importância de
se tornar responsável por sua constante capacitação.
Metodologia
A partir de pesquisas bibliográficas , o trabalho pauta-se nas teorias criadas
por Paulo Freire, Wallon , Howard Gardener e outros autores, que indicam a
necessidade dos professores desenvolverem uma prática pedagógica reflexiva, onde
o aluno possa ser visto de forma plena.Buscou-se enfatizar que o processo –ensino
aprendizagem , depende de ações conjuntas, que envolvem a formação de
professores ,estimulando profissionais reflexivos,passando pelos gestores ,
responsáveis por viabilizarem o planejamento participativo e chegando aos alunos ,
que precisam ser vistos na sua totalidade .
A partir da analise dos conceitos propostos pela educação significativa,
verifica-se que as escolas podem desenvolver um trabalho de qualidade, lançando
os conteúdos propostos para cada série, sem perder de vista a necessidade de se
estimular as habilidades e competências dos alunos.
Com isso, mostrou-se que é possível preparar os alunos para serem futuros
cidadãos autônomos e atuantes na sociedade, conscientes de seus direitos e deveres e
em busca de melhores oportunidades. A relevância desse trabalho se traduz,
principalmente, pelo desejo de contribuir para que as instituições de ensino possam
reconhecer seus alunos como pessoas em processo de formação, necessitando que
suas capacidades possam ser desenvolvidas e valorizadas.
SUMÁRIO
Introdução
I. A ESCOLA NO CONTEXTO ATUAL
1. A escola no contexto atual
2. O Papel da escola no desenvolvimento integral da criança
3. As limitações da escola
4. A necessidade do aluno ser visto em sua totalidade
II. EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE
1. Educação Problematizadora
III. A AÇÃO SUPERVISORA E A GARANTIA DE UMA EDUCAÇÃO
SIGNIFICATIVA
1. Currículo como facilitador de um espaço para o
desenvolvimento de habilidades e competências
2. O gestor como o principal articulador para a educação
significativa
3. Professor reflexivo – uma prática diferenciada
Conclusão
Referências bibliográficas
Introdução
Todos os pais querem que seus filhos sejam felizes e desejam oferecer o
melhor a eles em todos os âmbitos de suas vidas. Com isso, esforços são
empenhados para que uma boa formação educacional chegue aos seus pequenos
com o objetivo de que se tornem pessoas bem instruídas, inseridos culturalmente e
com acesso as melhores oportunidades. Nessa perspectiva, a escola é vista como a
principal aliada para que esse projeto de homens e mulheres bem sucedidos ocorra;
tornando -se essencial a procura pela melhor escola que possa respaldar o grande
desejo desses pais. Porém a realidade educacional nos mostra que esse momento é
também um grande desafio.
A proposta desse trabalho versa sobre o tema Educação Significativa, Um
Sonho Possível de se Tornar Realidade. A partir desse tema, o trabalho tem por
objetivo refletir sobre a importância das escolas de Ensino Fundamental
estruturarem um planejamento curricular, pautado em aprendizagens signifcativas
para o aluno, onde através de ações contextualizadas, possam ter acesso aos saberes
formais deforma reflexiva, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades e
competências.
No primeiro capitulo: A Escola No Contexto Atual procura-se situar o
processo de mudanças causadas pela interferência da globalização nas ações da
escola. Nesse capitulo encontra-se ainda A Escola Moderna, O Papel da Escola No
Desenvolvimento da Criança, As Limitações da Escola e A Necessidade do Aluno
Ser Visto Na Sua Totalidade. Para justificar os fatos expostos nesse primeiro
capitulo utiliza-se os autores: Beauclair, Gadotti, Homze, Dowbore, Dantas,
Mahoney e Almeida.
Já no segundo capítulo: Educação Como Prática Para A Liberdade, Paulo
Freire aponta a educação problematizadora e libertadora como possíveis caminhos
para expressar o desejo de transformação da realidade opressora.
No capítulo final, A Ação Supervisora e a Garantia de Uma Educação
Significativa, Beauclair, Gardner e Smole, nos ajudam a compreender a grande
dificuldade em se contextualizar os conteúdos curriculares, apontando o gestor como
principal articulador para garantir uma prática reflexiva e consequentemente
significativa nas escolas.
“Construímos nossa teoria ao aprendermos a ler nossa
experiência propriamente dita e experiência em geral.
Construímos nossa teoria quando fazemos perguntas
aos autores; quando não nos satisfazemos com as
primeiras respostas e com as aparências e começamos
a nos perguntar sobre as relações, os motivos, as
conseqüências, as dúvidas, os problemas de cada
ação ou de cada contribuição teórica”. (Christov,
2005, p.33).
A Constituição Brasileira prevê que “A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho“. (art.205)
Sob essa ótica, não se pode excluir a necessidade urgente das escolas
assumirem perante aos pais, aos alunos e a sociedade o que Paulo Freire nomeia de
educação libertadora, desenvolvendo nos espaços de formação a chamada “educação
problematizadora.”.
Nessa linha de raciocínio, a escola assume o papel de comunicar-se com o
aluno, considerando sua bagagem cultura, conciliando o currículo oculto,
apresentado por esses indivíduos, e o currículo oficial. O desenvolvimento da pessoa
humana e o preparo para a cidadania indicados pela LDB, são garantidos através da
postura dialógica que a instituição assume com seus educandos através da sua
prática pedagógica.
Quando o aluno é compreendido como um ser histórico-social, que tem voz e
vez, torna-se imprescindível que a educação bancária seja extinta, pois já não há
espaço para “a narração, de que o educador é o sujeito que, conduz os educandos à
memorização mecânica do conteúdo narrado (...). Em lugar de comunicar-se o
educador faz “comunicado” e depósitos que os educandos, meras incidências,
recebem pacientemente, memorizam e repetem”. (Freire, 1981)
A intenção do texto não é desprezar a importância da execução de um
currículo nacional comum, a todas as escolas, desenvolvido com base em conteúdos
programáticos, necessários para a vida acadêmica dos alunos, que pertencem a um
grupo social. O que se pretende, na verdade, é afirmar a importância desse saber
curricular estar pautado em situações que ofereçam a oportunidade de reflexão e que
estimule a correlação desses saberes formais com o mundo.
Esse dialogo constante do sujeito com a realidade, mediado pela escola,
contribui de forma incisiva para que o educando se aproprie de uma autonomia, que
o permita interagir com a realidade que o cerca, dessa forma oferece elementos para
sua intervenção consciente na sociedade, onde pode atuar como um cidadão,
conhecedor de seus direitos e deveres, em busca de melhores oportunidades.
Verifica-se que hoje as escolas são “engolidas” pelas emergências da
modernidade, que trás em seu bojo a necessidade de constantes atualizações para
que essas demandas possam ser minimamente atendidas. Entretanto, torna-se
importante destacar que as instituições de ensino não podem ser vistas como a
“varinha mágica salvadora”, capaz de dar conta de todas as questões sociais, que
devem ser resolvidas através da sua atuação com o indivíduo.
A partir da analise dos conceitos propostos pela educação significativa,
descobre-se que as escolas podem desenvolver um trabalho de qualidade, lançando
os conteúdos propostos para cada série, sem perder de vista a necessidade de se
estimular as habilidades e competências dos alunos. Com isso, evidencia-se que é
possível preparar os alunos para serem futuros cidadãos autônomos e atuantes, basta
que para isso eles sejam considerados o centro do trabalho realizado nas escolas, que
precisa estar atenta as reais necessidades da comunidade que atende ,
contextualizando suas ações.
CAPITULO I
A escola no contexto atual
No mundo globalizado em que vivemos as fronteiras estão cada vez menos
definidas, novos conceitos histórico-geográficos passam a integrar o nosso dia a dia, e
a escola também deve ampliar os seus horizontes, marcando mais presença na sua
própria comunidade.
“Diante de inúmeras transformações sociais, onde
informações e descobertas acontecem em frações de segundo,
o processo de desenvolvimento da escola entra na pauta
como um dos mais importantes aspectos a serem discutidos,
pois é nela que são promovidas as mais importantes
formulações teóricas sobre o desenvolvimento cultural e
social de todas as nações. “(Beauclair, 2004)”.
Com as constantes modificações sofridas por nossa sociedade no decorrer do
tempo, dentre elas o desenvolvimento de tecnologias e o aprimoramento de um modo
de pensar menos autoritário e menos regrado, os agentes educacionais e a escola de
uma maneira geral, vêm vivenciando um processo de mudança que tem refletido
principalmente nas ações de seus alunos e na materialização destas no contexto
escolar, fato que tem se tornado ponto de dificuldade e insegurança entre professores e
agentes escolares de forma geral, o que compromete o processo ensino-aprendizagem,
sobre isso, Gadotti (2000), afirma que.
“Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta- se
numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do
sistema escolar não tem dado conta da universalização da
educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes
teóricas não apresentam ainda a consistência global
necessária para indicar caminhos realmente seguros numa
época de profundas e rápidas transformações.”
1. A escola moderna
Segundo Homze (2004), a escola sofre com o desenvolvimento acelerado que
ocorre a sua volta, onde as informações são atualizadas em frações de segundos,
ocasionando de certa forma, o desgaste e o comprometimento das ações voltadas para
o aprimoramento do ensino, fazendo com que a sala de aula se torne um ambiente de
pouca relevância para a consolidação do conhecimento, tornando a vivência social o
requisito primordial para a busca de aprendizado. Mas, segundo a autora, não
devemos identificar o termo informação como conhecimento, pois, embora andem
juntos, não são palavras sinônimas. Informações são fatos, expressão, opinião, que
chegam as pessoas por ilimitados meios sem que se saibam os efeitos que acarretam.
Conhecimento é a compreensão da procedência da informação, da sua dinâmica
própria, e das conseqüências que dela advém, exigindo para isso um certo grau de
racionalidade. A apropriação do conhecimento é feita através da construção de
conceitos, que possibilitam a leitura critica da informação, processo necessário para
absorção da liberdade e autonomia mental (Homze, 2004)
Num contexto atual, a escola assume uma característica essencialmente
capitalista. Neste ponto, a qualidade na educação acaba sendo confundida, ou melhor,
entendida como quantidade, o que faz com que o objetivo da escola volte-se para a
inclusão cada vez maior de estudantes, sem preocupação com seu desenvolvimento e
sucesso. (Gadotti, 1992)
A escola como modelo de mercado, volta-se contra a educação, vez que, a
preocupação com a cidadania afasta-se de sua realidade. A educação acaba perdendo
sua função básica, pois, o padrão de pessoa a qual o Sistema Capitalista exige, é
restrito e incompleto. (Filho, 1994)
Segundo Gadotti (2000), é perceptível que o saber cientifico e a busca pelo
conhecimento tem fugido do interesse da sociedade em geral, pois a atualização das
informações tem ocorrido de forma acessível a todos os segmentos satisfazendo de
uma forma geral aos interesses daqueles que as buscam. A escola nesse contexto tem
por opção repensar suas ações e o seu papel no aprimoramento do saber, e para isso,
uma reflexão sobre seus conceitos didático-metodológicos precisa ser feita, de forma a
adequar-se ao momento atual e principalmente colocar-se na postura de organização
principal e mais importante na evolução dos princípios fundamentais de uma
sociedade.
Dessa forma, a prática pedagógica dos agentes educacionais no momento atual,
bem como a condução do processo ensino-aprendizagem na sociedade moderna,
precisa ter como objetivo a necessidade de uma reformulação pedagógica que priorize
uma prática formadora para o desenvolvimento, onde a escola deixe de ser vista como
uma obrigação a ser cumprida pelo aluno, e se torne uma fonte de efetivação de seu
conhecimento intelectual que o motivará a participar do processo de desenvolvimento
social, não como mero receptor de informações, mas como idealizador de práticas que
favoreçam esse processo. (Gadotti, 2000)
Dowbor (1998) ressalta que os novos tempos exigem um padrão educacional
que esteja voltado para o desenvolvimento de um conjunto de competências e de
habilidades essenciais, a fim de que os alunos possam fundamentalmente compreender
e refletir sobre a realidade, participando e agindo no contexto de uma sociedade
comprometida com o futuro. Assim, faz-se necessário à busca de uma nova reflexão
no processo educativo, onde o agente escolar passe a vivenciar essas transformações
de forma a beneficiar suas ações podendo buscar novas formas didáticas e
metodológicas de promoção do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem
com isso ser colocado como mero expectador dos avanços estruturais de nossa
sociedade, mas um instrumento de enfoque motivador desse processo. (Dowbor,
1998)
2. O Papel da Escola No Desenvolvimento Integral da Criança
Dantas (1992) identifica de forma implícita o papel da educação no
desenvolvimento do indivíduo durante a construção do Eu. Afirma que compete à
instituição escolar promover:
[...] a satisfação das necessidades orgânicas e afetivas, a
oportunidade para a manipulação da realidade e a
estimulação da função simbólica, depois a construção de si
mesmo. Esta exige espaço para todo tipo de manifestação
expressiva: plástica, verbal, dramática, escrita, direta, ou
indireta, através de personagens suscetíveis de provocar
identificação. (Dantas, 1992, p.95)
Dessa forma, um currículo escolar exclusivamente constituído de atividades
cognitivas estaria obstruindo o desenvolvimento da criança. Para o progresso da
inteligência, segundo a teoria walloniana, é necessário que os fatores biológico e social
se desenvolvam de maneira plena tanto no funcionamento integral de suas ações
cerebrais quanto da estimulação através do ambiente.
Wallon remete grande importância ao meio em que vive o indivíduo ou que
mantém constante contato. Para ele o meio é “o conjunto mais ou menos duradouro das
circunstâncias nas quais se desenvolvem as pessoas” (Mahoney; Almeida, 2003, p.78)
por isso, seu papel no desenvolvimento da criança necessita corresponder às suas
necessidades e aptidões sensório-motoras e posteriormente, psicomotoras.
Ressalta o papel do professor como mediador e coordenador desses grupos:
[...] aquele que observa os processos grupais e intervém,
apoiando e dando ao grupo condições de achar seu caminho.
Seu objetivo não é só trazer um conhecimento novo, mas ver
como o processo de aprendizagem se desenvolve no grupo:
aprendizagem de conceitos, de fatos, de valores e de
comportamentos. (Mahoney; Almeida, 2003, p. 80).
Através da participação nos grupos, o aluno aprende às regras, vivencia através
das amizades a importância do vínculo e também da ruptura, além de ter contato com a
cultura.
A escola como meio funcional na vida da criança, possibilita ao aluno o acesso à
cultura de sua época, transmitindo também o pensamento e a arte das civilizações
antigas. Deve considerar, porém, que a criança chega à instituição trazendo consigo,
suas próprias características biológicas, psicológicas e sociais, que precisam ser vistos
como fatores norteadores da ação da escola sobre a vida deste. As autoras, nessa
perspectiva, ainda ressaltam que uma prática para ser verdadeiramente pedagógica, deve
priorizar o desenvolvimento do indivíduo e o fortalecimento do eu, da auto-estima e do
auto-respeito, emancipando-o para ser solidário em suas relações. “Nesse sentido, a
sala de aula, tem que ser uma oficina de convivência, e o professor, um profissional das
relações”. (Mahoney; Almeida, 2003, p. 85).
Constantemente podemos identificar na teoria walloniana, a visão do
desenvolvimento integral do indivíduo que necessita de todas as suas necessidades
humanas plenamente satisfeitas para um desenvolvimento completo e saudável. Somos
pessoas completas: com afeto, cognição e movimento, e nos relacionamos com um
aluno também pessoa completa, integral, com afeto, cognição e movimento. Somos
componentes privilegiados do meio de aluno. Torná-lo mais propício ao
desenvolvimento é nossa responsabilidade. (Mahoney; Almeida, 2003).
O caráter altamente relacional da educação necessita ser pensado pelos
professores que muitas vezes, desconhecem ou simplesmente desconsideram o impacto
da sua atuação na vida do aluno e priorizam a aprendizagem cognitiva como o único
desenvolvimento ao aluno. Porém, conforme as autoras torna-se improvável que durante
todo um ano letivo, o professor não estabeleça vínculos afetivos com seus alunos,
decorrentes à rotina diária. Contudo, se assim decidisse, estaria negando primeiramente
uma ica própria do ser humano, quanto também da escola como uma instituição social e
humanizadora. (Mahoney; Almeida, 2003)
Longe de considerar a escola uma empresa, ressalta-se que atitudes de respeito
para com aluno favorecem seu desenvolvimento e o estabelecimento de relações
harmoniosas em sala de aula: professor aluno, aluno-aluno e aluno-conhecimento.
Torna-se inconcebível pensar em preparar o aluno para a vida , investindo apenas no
desenvolvimento cognitivo, priorizando-se apenas a execução dos planos de curso.
Antes de dar qualquer passo, a escola precisa identificar que tem em suas mãos pessoas
que precisam não só de informação, mas também de formação.
3. As Limitações da Escola
A escola não consegue dar conta de todo esse processo dinâmico de descobertas
tecnológicas e informações produzidas que ocorrem com tanta velocidade, pois por
mais que se esforce, pouco adiantará tentar atender as exigências da sociedade se não
houver profissionais capacitados, capazes de compreenderem que ensinar não significa
apenas passar o conteúdo, eles precisam antes de tudo, ensinar os seus alunos a
pensarem.
Vale lembrar, entretanto, que para algumas pessoas, a escola ainda está presente no
imaginário social como o “berço do saber”, porém o que se vê na prática é uma escola
cada vez mais despreparada e até um pouco perdida.
A mundialização da economia nos revela, nas últimas décadas, os profundos
impactos em todos os setores sociais. Mas qual é a relação direta que há entre o
currículo escolar oferecido e esse processo de globalização? A resposta surge de forma
quase que espontânea, pois basta perceber no cotidiano o que está sendo oferecido aos
nossos alunos, e para isso, torna-se importante admitir que a estrutura curricular esta a
mercê das exigências capitalistas, que fomentam a necessidade de pessoas bem
preparadas e produtivas para alavancar a economia. Diante desse fato, torna-se visível, a
necessidade de se ter uma escola transformadora, democrática, criativa, inclusiva,
plural, solidária, promotora do desenvolvimento sustentável, capaz de garantir a
igualdade de oportunidades para todos.
É notório, que a projeção de tantas expectativas em um único ponto, no caso a
escola, estará fadada ao insucesso se outros aspectos não forem considerados.
Frigotto (1996) chama atenção para o fato de que “No plano educacional, a
educação deixa de ser um direito e transforma-se em serviço, em mercadoria, ao
mesmo tempo em que se acentua o dualismo educacional: diferentes qualidades de
educação para ricos e pobres”. Com certeza essa afirmação é percebida quando
comparamos a diferença que há entre o ensino ministrado nas instituições públicas e nas
escolas privadas. Na primeira, pode- se enumerar, além da falta dos recursos materiais,
como instalações e equipamentos atualizados, a desmotivação dos profissionais por falta
de um salário digno e melhores condições de trabalho, a necessidade de formação
continuada para garantir um trabalho de qualidade, além de um projeto político-
pedagógico bem elaborado através do planejamento participativo, que possa servir de
norte para as ações mais contextualizadas.
Já as escolas privadas pecam pelo excesso de conteúdos, que julgam
necessários para a formação do aluno, no sentido de prepará-lo, sem dispensar um
olhar atento para as suas reais dificuldades. Pensa-se no aluno ideal, e esquecem-se do
aluno real, que às vezes não está pronto, seja por uma questão de maturidade, ou até
mesmo pela necessidade de um ajuste metodológico, para acompanhar o que está
sendo proposto e que acaba ficando pelo caminho, sendo visto como o “aluno
incapaz”. Vale lembrar que existe um processo de hospitalização da escola, que
infelizmente é bastante presente em nossa realidade educativa, pois é mais fácil
culpabilizar o aluno, afirmando que sua dificuldade de aprendizagem tem origem em
alguma patologia, do que mergulhar em uma profunda análise da prática educativa
desenvolvida naquele espaço e observar o que pode ser mudado. (Gadotti, 2000)
Observa-se que nossas escolas ainda estão dominadas por uma concepção
pedagógica tradicional, onde o livro didático é visto como o principal recurso e as
aulas, apesar de toda tecnologia, baseiam-se essencialmente na exposição de fatos que
serão aferidos através de provas. A falta de conexão entre o que é vivenciado nas salas
de aula e a realidade dos alunos , pode ser considerado como um dos principais
motivos do desinteresse dos educandos , contribuindo em larga escala para a
desmotivação e até para a indisciplina.
Diante da dificuldade em lidar com as suas próprias deficiências, trabalhar de
forma diversifica para atender as diferenças, a escola lança mão de alguns artifícios
para justificar o que ainda não é capar de resolver, como pro exemplo a premiação ou
a exclusão.
Verifica-se a urgência das instituições concretizarem a utilização de práticas
significativas no cotidiano, lançando mão de situações desafiadoras, estimulando o
desejo dos alunos em aprenderem mais, relacionando diferentes tipos de fatos, objetos,
acontecimentos, noções e conceitos, desencadeando modificações de comportamentos
e contribuindo para a utilização do que é aprendido em diferentes situações.
Em 1983, Howard Gardner com sua obra intitulada "Estruturas da Mente: A Teoria
das Inteligências Múltiplas” reforça a importância dos educadores perceberem a
possibilidade de transposição teórico-psicológica desta proposta para a prática
profissional pedagógica educacional. Essas possibilidades contemplam o
reconhecimento e estímulo das diversas competências do aluno, o ensino democrático,
o desenvolvimento de um currículo baseado nas Inteligências Múltiplas e uma melhor
avaliação da aprendizagem.
4. A Necessidade de o Aluno Ser Visto Em Sua Totalidade
Cabe ressaltar que se o aluno é visto com um individuo bio- psico-social não se
pode desprezar a ajuda de outros profissionais, como o psicólogo, o psicopedagogo, o
fonoaudiólogo e outros, porém vale reforçar que a escola aliada a esses profissionais ,
quando for necessário, não pode se eximir da responsabilidade de realizar o seu papel
da melhor maneira possível. (Grossi, 2000)
O ponto em comum que há entre a escola pública e a escola privada é a visão,
equivocada, na maioria das vezes, de que o aluno é o principal culpado por seu mau
rendimento. A agonia vivida por esses alunos, fadados a perderem o ano letivo, ou até
mesmo a desistirem da escola, com certeza é reforçada pela atitude de algumas
instituições que ignoram o que Grossi (2000) afirma: “Aprender não é memorizar
fatos e nem repeti-los. È desenvolver novas maneiras de pensar e ver a realidade”.
Nessa busca desenfreada pelo êxito, os alunos que não correspondem,sofrem com
problemas de aprendizagem, sendo vetados de se reconhecerem produtores de novos
conhecimentos.
A massificação dos conteúdos em detrimento de um indivíduo, contextualizado
historicamente, nos faz refletir sobre a urgência das escolas não perderem o foco do
objeto central do processo ensino-aprendizagem, o aluno, que fica secundarizado.
Forquin (2000, p.93) chama atenção para esse fato quando indica que
“Ensinar, supõe querer fazer alguém ascender a um
grau ou a uma forma de desenvolvimento intelectual e
pessoal que se considere desejável. Isso não pode ser feito
sem se apoiar sobre os conteúdos, sem extrair da totalidade
da cultura no sentido objetivo do termo, a cultura enquanto
mundo humanamente construído (...)”
“A escola deve ser repensada dentro da realidade, e não dentro do ideal.” O
modelo centrado na fragmentação (do tempo, das disciplinas, do conteúdo, dos
grupos, do sujeito que não é considerado na sua totalidade), necessita de mudanças
imediatas. O mundo atual exige uma postura de globalidade e o aluno deve estar
preparado para dar as respostas necessárias frente, à diversidade cultural, às
experiências variadas, à multiplicidade de conhecimentos a serem apreendidos, e a
heterogeneidade dos alunos. Com isso surge a necessidade do desenvolvimento de
projetos, com o intuito de recriar a escola, seu tempo e espaço, a relação que ela tem
com o mundo, para que seja interpretada de forma coerente e realista. Mas para que
essa nova forma de aprender e ensinar seja eficaz, precisa ser considerada, além de
metodologias: é necessário uma mudança de postura do educador, assumindo uma
postura de comprometimento, no sentido de viabilizar a melhor maneira para
promover uma aprendizagem significativa para seus alunos.
Quando o aluno tem a oportunidade de vivenciar experiências que o permita
errar e acertar, sem ser criticado, constrói sua aprendizagem de forma duradoura, ou
seja , ele teve a chance de rever os conceito, estabelecer relações ,dando significados,
vivenciando, aprendendo.
Aprender, na verdade, é deter-se de informações suficientes para que através
de sua experimentação, possa reconstruí e utilizar nas mais variadas formas
descobertas pelo próprio aluno.Não se aprende nada que não se tenha descoberto e
reconstruído por si mesmo.
Os conhecimentos escolares têm a função direta de contribuir para a formação
do cidadão, devendo servir de ferramentas para que o aluno possa recorrer, em
diferentes momentos da vida e não apenas em um determinado momento pontual na
escola .
As escolas não podem perder de vista que sua função vai além de informar os
aluno, ela tem um compromisso direto com a formação desse indivíduo que passa boa
parte da sua vida aos seus cuidados, dessa forma A Escola Cidadã se realiza orientada
pelo diálogo, pela solidariedade emancipatória, amorosidade, criticidade, pela crença
na possibilidade de transformação social e pela busca de condições que assegurem aos
educando o direito de aprender.É uma escola que ensina e aprende com sentido .
As instituições precisam estar prontas para lidar de fato com asdiversidades,
lançando um olhar amplo, onde crianças tenham , de fato, direito de aprender sem
serem submetidas ao silêncio autoritário, de quem não está preparado, para lidar com
as diferentes formas de ensinar.
CAPITULO II
EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE Observa-se que professores comprometidos incentivam a autonomia dos alunos,
despertando o olhar dos pequenos para que possam estabelecer conexões com a vida,
relacionando a teoria com a pratica, promovendo sua interação com o mundo.
Freire (1979) se refere à teoria como um "contemplar", observar, ver. De fato,
"contemplar" é uma expressão que tem profundo sentido pedagógico, ao fazer desse
contemplar a cultura, o sujeito da educação, o fenômeno educativo e principalmente o
homem e a sociedade, um passo fundamental fazer pedagógico. Isto é, na compreensão
de Freire teoria é um princípio de inserção do homem na realidade como ser que existe
nela, e existindo promove a sua própria concepção da vida social e política.
Ao enfatizar o caráter contemplativo da teoria, Paulo Freire garante a inserção
do homem na realidade. Ele deixa claro que teoria é sempre a reflexão que se faz do
contexto concreto, isto é, deve-se partir sempre de experiências do homem com a
realidade na qual está inserido, cumprindo também a função de analisar e refletir essa
realidade, no sentido de apropriar-se de um caráter crítico sobre ela. Esse caráter de
transformação tem uma razão de ser, pois provém antes de tudo, da sua vivência pessoal
e íntima numa realidade contrastante e opressora, influenciando fortemente todas as
suas idéias. (Freire, 1979)
Compreende-se então, que teoria para Freire não será identificada se não houver
um caráter transformador, pois só assim estará cumprindo sua função de reflexão sobre
a realidade concreta.
Segundo Freire (1979) a função da prática é a de agir sobre o mundo para
transformá-lo. A relação entre teoria e prática centra-se na articulação dialética entre
ambas, o que não significa necessariamente uma identidade entre elas. Significa assim,
uma relação que se dá na contradição, ou seja, expressa um movimento de
interdependência em que uma não existe sem a outra.
Portanto, relação teoria e prática em Freire, não são apenas palavras, é reflexão
teórica, pressuposto e princípio que busca uma postura, uma atitude do homem face ao
homem e do homem face à realidade. A esse respeito reitera:
“E é ainda o jogo dessas relações do homem com o mundo e do
homem com os homens, desafiando e respondendo ao desafio,
alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser
em termos de relativa preponderância, nem das sociedades
nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide,
vão se conformando as épocas históricas. É também criando e
decidindo que o homem deve participar destas épocas”.
(Freire, 1983).
A fundamentação, teoria e prática numa relação de unidade impõe-se como uma
relação dialética, pois se a ação-reflexão-ação estiverem ausentes perde-se o ápice do
processo de conscientização onde o educador se descobrirá autêntico com todo o
significado profundo que essa descoberta acarreta. Diante dessas afirmações, é
esclarecedor e indispensável para o educador considerar que nesta perspectiva se
conseguirá superar a tendência tão freqüente de trabalhar teoria e prática dissociadas
entre si. Para tanto, é necessário que o educador compreenda que teoria e prática não se
separam, ou seja, o vínculo teoria e prática formam um todo onde o saber tem um
caráter libertador. (Freire, 1979)
Para tanto, o pensamento pedagógico de Paulo Freire aponta para a
comunicação, como princípio que transforma o homem em sujeito de sua própria
história através de uma relação dialética vivida na sua inserção na natureza e na cultura,
diferenciando-o dos outros animais. Esse processo de integração interativa é
significativo quando vinculado ao diálogo que contém no seu cerne ação e reflexão,
levando o homem a novos níveis de consciência e, conseqüentemente, a novas formas
de ação.
A partir desta visão, observa-se que a comunicação é possuidora de um caráter
problematizador que gera consciência crítica e, através do diálogo como o dado da
problematização, busca-se o compromisso de transformação da realidade.
Vê-se que Paulo Freire parte sempre da análise do contexto da educação como
um processo de humanização, ou seja, o caráter problematizador que se dá através do
diálogo, tem base existencialista, visto que o diálogo "se impõe como caminho pelo qual
os homens ganham significação enquanto homens" (Freire, 1983, p.93).
Paulo Freire enfatiza o ato pedagógico, como uma ação que não consiste em
comunicar o mundo, mas criar dialogicamente, um conhecimento do mundo, isto é, o
diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de
consciência sobre a mesma até perceber qual será sua práxis na realidade opressora para
desnudá-la e transformá-la. (Freire, 1979)
Neste sentido, é que através do diálogo a relação educador-educando deixa de
ser uma doação ou imposição, mas uma relação horizontal, eliminando as fronteiras
entre os sujeitos.
1. Educação Problematizadora
Paulo Freire em sua longa caminhada em busca da educação problematizadora e
Libertadora se empenha nos seus trabalhos em expressar o seu sentimento de
transformação da realidade opressora em realidade igualitária, sua luta é a favor dos
menos favorecidos, os marginalizados da sociedade.
A educação tradicional consente que os excluídos/marginalizados da sociedade
permaneçam no estado de consciência ingênua e alienação. No contexto capitalista, a
educação é moldada a atender o interesse do capital, deste modo os oprimidos não
compreendem a realidade que vivem. (Freire, 1996).
Segundo Freire (1996), o dominador faz do dominado massa de manobra, o
sujeito é educado para não desenvolver a consciência crítica, é negado o direito do
homem de se humanizar e o direito do pensar autêntico.
Freire busca como ideal a conscientização para o conhecimento da realidade e
das relações de poder existente na sociedade, isto para que o indivíduo possa
transformar modificar o que lhe é oferecido como se fosse o máximo que poderíamos
ter e muitas vezes ver o dominador como um sujeito generoso, porque sua ideologia já
corrompeu e alienou o cidadão. (Freire, 1996)
Nesta realidade o termo cidadão não está presente, pois o que há é uma cultura
do silêncio, desumanização e exploração do homem pensante. Segundo Freire (1996) o
conhecimento é algo a ser construído na coletividade, pelo qual o movimento da ação e
reflexão é fundamental. Para ele a educação é dialógica porque é através da
comunicação que estabelecemos relações com o outro, que edificamos a dialética em
nossa vida.
Na visão de Freire, para que haja equilíbrio na sociedade não é necessário que os
papeis sejam trocados, ou seja, que opressores se tornem oprimidos e oprimidos se
tornem opressores, se isto ocorresse teríamos um grande equívoco e uma grande
contradição. Sua luta é para equalizar com qualidade e quantidade. Defende uma
Pedagogia que liberte os marginalizados de sua condição de explorado e alienado, que
estes possam se comunicar, agir e pensar.
Diz Freire (1977, p. 118):
“Na realidade, na medida em que esta modalidade educativa
se reduz a um conjunto de métodos e de técnicas com as quais
educandos e educadores observam a realidade social (quando
a observam), simplesmente para descrever, esta educação é
tão domesticada como qualquer outra. A educação para
libertação não pode ser a que procura libertar os educandos
das pirraças para lhes oferecer projetores. Pelo contrário, é a
que se propõe como práxis social, contribuir para libertar os
seres humanos da opressão que se encontram na realidade
objetiva. Por isto mesmo, é uma educação, tão política como
aquela que, servindo as elites do poder, se proclama apesar de
tudo neutra. Daí que esta educação não possa ser posta em
prática, em termos sistemáticos, antes da transformação
radical da sociedade.”
Dentro da perspectiva de Freire há um posicionamento sociológico e antropológico da
condição do homem participante de um meio e dos pressupostos que envolvem a
educação, ou seja, analisa a problemática dos processos de ensino aprendizagem através
do jogo de interesses políticos, econômicos, sociais e culturais, em suma através de
nossa realidade. Diz Freire (1983, p. 46) sobre a pedagogia que defende:
“A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e
libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro que os
oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão
comprometendo-se, na práxis, com sua transformação; o
segundo em que transformada a realidade opressora, esta
pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser pedagogia
dos homens em processo de permanente libertação.”
Freire (1983) expõe que está disseminada na sociedade a questão do perigo da
conscientização crítica que conduz a uma pedagogia libertadora, um dos argumentos é
que a conscientização conduzir à anarquia. Entretanto, esta afirmação é pertencente ao
senso comum elaborada pelos dominantes como forma de se defender dos movimentos
e pedagogias progressistas, estes grupos elencam como desenvolvimento de um
processo de conscientização. Mas Freire (1977, p.118) faz uma ressalva sobre o modo
como se dá a conscientização: “Não há conhecimento se da sua prática não surge a
ação consciente dos oprimidos, enquanto classe social explorada, na luta pela sua
libertação. Por outro lado, ninguém conscientiza ninguém. O educador e o povo
conscientizam-se através do movimento dialético entre a reflexão crítica sobre a ação
interior e a ação subseqüente no processo daquela luta.”.
Freire (1983) define a conscientização como sendo uma extensão da tomada de
consciência. Há três tipos existentes em nossa sociedade de consciência, suas
características antagônicas são conseqüentes de estruturas sociais também contrárias.
Freire (1983) expõe que dentro de uma sociedade fechada teremos nos
oprimidos uma consciência intransitiva, estática, imutável, uma consciência que não
compreende a dinâmica da sociedade e os problemas existentes nelas, apenas entende os
problemas pertencentes à esfera biológica, não tem domínio histórico cultural de sua
própria vida e não entende sua situação dentro da sociedade. Esta consciência também é
denominada consciência mágica, Freire (1983 p.105) a define:
“A consciência mágica, por outro lado, não
chega a acreditar-se ‘superior aos fatos,
dominando-os de fora, nem se julga livre para
entendê-los como melhor lhe agrada’.
Simplesmente os capta, emprestando-lhes um
poder superior, que a domina de fora e a que
tem, por isso mesmo, de submeter-se com
docilidade. É próprio desta consciência o
fatalismo, que leva ao cruzamento dos braços, à
impossibilidade de fazer algo diante do poder
dos fatos, sob os quais fica vencido o homem. Já
as consciências transitivas estão presentes em
sociedades em transição ou em sociedades
abertas”.
Como o próprio nome diz o homem é transitivo, ele pensa e age neste meio, olha
as coisas e as relações, é um observar aguçado.
Há diferenciação entre duas formas de consciência transitiva. Primeiramente
num período de transição de uma sociedade temos um estado de consciência transitiva
ingênua que significa que o homem começa a compreender a problemática existente na
sociedade, entretanto, compreende de um modo simplista. Não encontra a verdadeira
origem destes problemas, utiliza ainda de argumentos mágicos para fenômenos que não
entende. Nesta fase de desenvolvimento da consciência é necessária muita cautela, pois
Freire (1983) explica que é nesta fase que se desenvolve um tipo de consciência
denominada fanática que leva o homem a praticar.
atrocidades.
Segundo Freire (1983) a transitividade crítica por outro lado, a que chegaríamos
com uma educação dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se
caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. Pela substituição de
explicações mágicas por princípios causais. Por procurar testar os ‘achados’ e se dispor
sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos, esforçar-se por evitar
deformações. Por negar a transferência da responsabilidade. Pela recusa a posições
quietistas. Por segurança na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica.
A educação progressista que Freire defende desenvolve a consciência crítica,
sendo que para a transformação social este tipo de consciência é condição primordial. Já
a educação bancária que Freire (1996) descreve trabalha com a consciência ingênua,
esta educação está presente em sociedades divididas em classes e eminentemente
capitalistas que excluem as camadas populares do processo de democratização,
designando a estes apenas uma educação de despejo de conteúdos alheios a ele. O
objetivo desta educação é manter o status quo e formar uma parcela de trabalhadores
alienados, que desconhecem a sua função dentro da sociedade.
A proposta, libertadora, reflexiva e dialógica, que Paulo Freire nos
aponta,revoluciona o conceito tradicional imposto pelo nosso sistema educacional, que
ainda sofre aos apelos capitalistas, que insiste em manter a hegemonia da educação
bancária, de caráter reprodutivo, afastando o exercício da reflexão das salas de aula.
Hoje ensinar exige dos professores uma boa dose de comprometimento e muita
atitude para despertar no aluno a reflexão e o senso crítico, conscientizando-o daquilo
que é ensinado, instigando a curiosidade e a persistência, oferecendo meios para que
construa o seu próprio conhecimento e mais que isso, utilize esse conhecimento para
sua realização pessoal, profissional e emocional.
O professor que caminha pautado em uma prática dialógica, não “dá” o
conteúdo, ele faz a mediação entre o aprendente e o objeto de conhecimento, seja ele
um conteúdo acadêmico, cultural ou social. Esse é o grande desafio que professores
reflexivos assumem, compartilhando com o aluno a construção do conhecimento ,
lançando mão de procedimentos que oportunizem esse processo. Mediar é cuidar,
orientar, problematizar.
Torna-se importante destacar a importância do planejamento, que é um
movimento que precede a ação humana, pois antes de materializarmos nossas ações ele
já aconteceu na esfera do pensamento, no sentir e depois no agir. Nessa perspectiva,
vale esclarecer que ser um mediador, não significa que o professor tenha que abrir mão
de um planejamento, conduzindo sua prática a partir de situações ocasionais, ao
contrário disso, o planejamento é de extrema importância para que esse processo de
mediação seja bem sucedido, pois oportuniza ao profissional selecionar de forma
antecipada as ferramentas necessárias para auxiliar a aprendizagem.
Ao oportunizar o dialogo na sala de aula, essa comunicação torna-se uma via de
mão dupla, onde o aluno sente-se seguro para expor suas dúvidas e dificuldades e o
professor que resignifica sua prática busca formas para auxiliar o aluno. Nesse processo
dialógico, tanto o aluno aprende com o professor, como o professor também aprende
com o aluno.
Em termos práticos, compreende-se que desenvolver uma educação dialógica e
reflexiva em uma sala de aula com trinta alunos ou mais, onde os prazos para a
execução do plano de curso torna-se o “chicote” do professor, não é nada fácil, porém
também não é impossível. Quando o aluno sente-se acolhido, percebendo que no espaço
da sala de aula, ele é ouvido e envolvido nas ações, com certeza, compromete-se com o
que está sendo proposto, pois ele se reconhece como parte integrante daquele processo
que fala uma linguagem carregada de significados para ele.
Observa-se que os alunos, principalmente os de ensino fundamental, são os que mais
sofrem com o distanciamento do que é proposto em sala de aula e a realidade deles. A
falta de ações contextualizadas,não permite esse diálogo tão necessário para o
desenvolvimento de uma educação de fato libertadora. A realidade de nossas escolas
ainda mostram práticas engessadas em uma postura tradicional neutralizando a alegria
de promover uma aprendizagem satisfatória, atraente e mais humana. . Ferreira (2004)
chama atenção para esse fato quando indica que:
“Um ensino de qualidade que se caracteriza pelo
calor da aquisição do conhecimento que aquece
mentes e corações realmente formando no ser
humano, o estudioso dos conteúdos científicos e dos
conteúdos da vida. Professores dignos desse nome,
professores que, sem pedantismo, no momento de
educar, dão uma grande importância à história da
matéria que propõe ensinar, apresentando aos ouvintes
a série de esforços, os erros e vitórias pelos quais
passaram os homens para alcançar o atual
conhecimento. Professores sérios, que através deste
ensino repleto de história e significados, eram capazes
de formar o estudioso, porque este ensino dá ao
espírito a elasticidade da dúvida metódica que faz do
diletante o homem sério, que purifica a curiosidade,
vulgarmente compreendida, e a transformação em
estímulo são e fecundo do cada vez maior e perfeito
conhecimento. Ensino tão vivo e fecundo, tão rico e
significativo que poderia, por isto, ser entendido como
um verdadeiro ato de libertação da ignorância, um
ensino fascinante porque eivado da vida produzindo
vida.” (FERREIRA,2004,p.259)
CAPITULO III
A AÇÃO SUPERVISORA E A GARANTIA DE UMA
EDUCAÇÃO SIGNIFICATIVA
1. Currículo como facilitador de um espaço para o
desenvolvimento de habilidades e competências
Um dos grandes desafios hoje, das instituições de ensino é justamente,
contextualizar os conteúdos programáticos necessários para que os alunos alcancem o
desenvolvimento intelectual, tornando a aprendizagem significativa, sem esquecer que
há em suas mãos sujeitos com sentimentos, expectativas, situados historicamente e que
merece um olhar atento. Segundo Beacluair, tanto o conceito de ensinar, quanto o de
aprender precisa ser revisto, pois o fazer pedagógico, assume a função de estimular a
aprendizagem, tornando-se uma via de mão dupla, onde todos aprendem. (Beacluair,
2004)
Essa afirmação nos remete a Gardner, que nos situa sobre a urgência das escolas
incorporarem em suas práticas pedagógicos, espaço para a inteligência emocional, pois
pensar em preparar o aluno para ser um sujeito reflexivo e atuante, sem enxergá-lo em
sua totalidade é um retrocesso. Materializa-se então, algumas perguntas que conduzem,
mesmo que de forma oculta, em alguns momentos, o nosso diálogo: De que maneira as
escolas podem preparar os alunos para serem homens e mulheres bem sucedidos, sendo
uma escola “forte”, sob a ótica da globalização, sem abrir mão do indivíduo que carrega
consigo toda sua subjetividade? As escolas que acatam uma educação problematizadora,
consequentemente significativa, podem ser consideradas “fracas”, por tanto fadadas ao
insucesso? Com certeza, as resposta para essas indagações, abre espaço para a oportuna
observação de que não há receita de bolo para que tudo dê certo, porém o que existe é
bastante trabalho, que envolve a formação de professores, além de um planejamento
participativo, que possa dar conta de um projeto político pedagógico bem definido.
Segundo Smole, falar em aprendizagem significativa é assumir que aprender
possui um caráter dinâmico, que exige ações de ensino direcionadas para que os alunos
aprofundem e ampliem os significados elaborados mediante suas participações nas
atividades de ensino e aprendizagem. Nessa concepção o ensino é um conjunto de
atividades sistemáticas, cuidadosamente planejadas, em torno das quais conteúdos e
formas articulam-se inevitavelmente e nas quais o professor e o aluno compartilham
parcelas cada vez maiores de significados com relação aos conteúdos do currículo
escolar, ou seja, “o professor guia suas ações para que o aluno participe de tarefas e
atividades que o façam se aproximar cada vez mais dos conteúdos que a escola tem
para lhe ensinar”. (Smole, 2007)
Nessa rede de associações que o aluno estabelece com o objeto de ensino, o
professor oportuniza, através de diferentes recursos, elementos para que o processo
ensino –aprendizagem se desenvolva em um ambiente favorável.
Uma aprendizagem significativa está relacionada à possibilidade dos alunos
aprenderem por múltiplos caminhos e formas de inteligência, permitindo aos estudantes
usarem diversos meios e modos de expressão. De fato, se analisarmos os princípios da
aprendizagem significativa, já não parece ter lugar a concepção dominante de
inteligência única, que possa ser quantificada e que sirva como padrão de comparação
entre pessoas diferentes, para apontar suas desigualdades. (Moreira, 1999).
As instituições não devem perder de vista, que o processo de ensino-
aprensizagem ocorre através de múltiplos caminhos e que o sucesso escolar ocorrerá
quando, a escola lançar mão de todas as competências intelectuais: corporais, pictóricas,
espaciais, musicais, inter e intra pessoais, além das lingüísticas e lógico-matemáticas.
Quando as escolas conseguem compreender, que a aprendizagem sofre
interferência de vários fatores e que não ocorre isoladamente, procura buscar
alternativas para que o aluno tenha acesso a formas diferenciadas de experiências que
possam facilitar o seu desenvolvimento. Nessa perspectiva as áreas cognitivas e afetivas
ocupam igual importância, assumindo um papel relevante na hora do planejamento
curricular, ou no momento dos ajustes metodológicos, quando necessário. Concretizar a
aprendizagem significativa nas escolas significa ir além dos discursos metodológicos,
significa reflexão do corpo docente no sentido de transformar a intenção em ação. É
compreender que o grande desafio é encontrar a melhor maneira de facilitar o processo,
percebendo qual é a real dificuldade do aluno, e quais recursos poderão ser utilizados
em diferentes áreas, para que o educando consiga alcançar a aprendizagem de forma
satisfatória. Esse movimento só poderá acontecer se as escolas obtiverem uma postura
mais humana, mais justa e acolhedora.Destaca-se que esse olhar diferenciado , mais
humano e acolhedor não deve ser confundido com paternalismo ou até mesmo com a
síndrome do “coitadinho”, que paralisa alguns profissionais, justificando o mau
desempenho do aluno por conta de algum tipo de carência .O aluno pode até não
conseguir êxito ,pois como já foi dito a escola não consegue dar conta de tudo, porém
reforça-se a que ela deve estar preparada para desempenhar sua função da melhor forma
possível para contribuir com o crescimento do aluno. (Moreira, 1999).
Observa-se que ao falar em fracasso, mesmo que de forma resumida, não se
pode deixar de mencionar sobre a avaliação, pois é inconcebível visualizar uma
educação significativa sem se repensar na forma de avaliar. Para Romão, com uma
concepção educacional bancária desenvolvemos uma avaliação bancária da
aprendizagem, numa espécie de capitalismo às avessas, pois fazemos um depósito de
conhecimentos e os exigimos de volta, sem juros e sem correção monetária, uma vez
que o aluno não pode acrescentar nada de sua própria elaboração gnosiológica, apenas
repetindo o que lhe foi transmitido. “Ao contrário, na escola cidadã, na qual se
desenvolve uma educação libertadora, o conhecimento não é um a estrutura
gnosiológica estática, mas um processo de descoberta coletiva, mediatizadora pelo
diálogo entre educador e educando.” (Romão, 1998).
O desafio maior na escola que se propõe a desenvolver uma educação
significativa, onde o aluno é visto de forma plural, implica em profundas modificações
cabíveis e gradativas, pois envolve desde a formação continuada dos profissionais,
passando por uma estruturação curricular contextualizada, que ofereça espaço para o
currículo oculto, e caminha por uma avaliação processual, onde as intervenções podem
ser feitas no ato, oferecendo novas possibilidades ao aluno, oportunizando ao mesmo a
tomada de consciência sobre suas conquistas e retrocessos, fazendo com que ele
também se sinta envolvido e responsável por sua aprendizagem. (Romão, 1998).
Nessa perspectiva, a avaliação não deve ser vista com o único instrumento, presa
a um produto final, condenando a possibilidade de o professor lançar mão de recursos
diversos, que contribuam para a manifestação de múltiplas competências.
Para Antunes (1999), uma aula é muitas vezes instrumento de tortura, mas pode
com algum esforço se transformar em momento de entusiasmo instante de gratificação.
Tanto a primeira como a segunda não abre mão do trabalho cerebral.
Como instrumento de tortura, quando o professor foge do estímulo à
criatividade, propondo com autoritarismo e cobranças insanas o desgaste da
memorização inconseqüente e da repetição insossa ou ainda quando soma a essas ações
o medo ao novo, à fuga à criatividade consciente, às idéias ousadas. Mas se aceita a se
adaptar o que de novo se descobriu sobre a criatividade e a memória, e modelar suas
aulas para sugerir desafios inteligentes, propor situações inusitadas, instigar a
descoberta, não apenas ensina com menor trabalho e esforço, mas faz do cérebro de seus
alunos uma peça essencial para o reconhecimento e descoberta da grandeza da obra
humana e para a construção da felicidade pessoa. (Antunes, 1999)
Diante das afirmações anteriores, não se pode mais desconsiderar que o aprender
está diretamente relacionado ao prazer que o aluno sente durante o processo. A garantia
dessa qualidade está diretamente vinculada às adequações metodológicas, pautadas em
ações significativas para o aprendente.
Evidencia-se que as escolas podem oferecer um serviço de qualidade, sendo
considerada “forte”, sem precisar massacrar seus alunos, ajudando-os a desenvolverem
habilidades e competências para se prepararem em busca de melhores oportunidades,
não só buscando êxito material, mas também sucesso enquanto cidadãos críticos e
atuantes, basta que para isso, faço-os sentirem-se parte dessa escola, atraente e
competente, conectada com o mundo globalizado e com o seu mundo real. (Antunes,
2001)
2. O Gestor Como O Principal Articulador Para A Educação
Significativa
Segundo Luck (1985), o desenvolvimento da qualidade do ensino demanda uma
orientação que seja mais global e abrangente, com uma visão de longo prazo. Esta deve
ser localizada nas estimulações do momento e próximas. Observações realizadas ao
longo da história de nossa educação mostram que ações isoladas não se tem
promovido à qualidade do ensino de uma maneira global. Pois em momentos se
privilegiam a melhoria de metodologia do ensino, e outros momentos o domínio de
conteúdo pelos professores e sua capacitação em sentido mais amplo, ou a melhoria das
condições físicas e materiais da escola. Qualquer atitude neutra, sem estar relacionada
tem demonstrado resultar em mero paliativo aos problemas enfrentados, e a falta de
articulação entre eles explicaria casos de fracasso e falta de eficácia na efetivação de
esforços e despesas para melhorar o ensino.
Desta forma fica evidente a necessidade de se investir em ações articuladas que
promovam resultados eficazes, mesmo que sejam em longo prazo. Não se pode mais
investir em ações isoladas e paleativas. (Luck, 1985)
Ferreira (1998) constata que há um desejo por parte da sociedade, que a educação
cumpra o seu papel social, superando os desafios, refletindo e ressignificando sua
prática. Segundo o autor, destaca-se a importância da figura do gestor educacional, que
se apresenta como principal articulador para garantir a qualidade do processo
educacional.
Com isso, observa-se que o conceito de gestão está associado ao fortalecimento da
democratização do processo pedagógico, à participação responsável de todos nas
decisões necessárias e na sua efetivação mediante um compromisso coletivo com
resultados cada vez mais efetivos e significativos. Para que a escola possa atender as
exigências educacionais que a sociedade solicita e que estão centradas na tecnologia e
no conhecimento, necessita ter a frente de sua equipe um gestor capaz de promover a
sinergia pedagógica, onde todos os participantes assumam a noção de pertencimento,
sentido que suas ações interferem diretamente no processo. (Luck, 1985)
Nessa perspectiva, cabe ao gestor viabilizar o planejamento participativo, onde os
membros da comunidade, da qual a escola está inserida, tenham a oportunidade de
expressar o que esperam da escola, oferecendo elementos para que o gestor junto com o
corpo docente e os demais educadores e membros da própria comunidade, tracem metas
contextualizadas que possam refletir em ações educativas significativas. (Ferreira, 1998)
Para Luck (1985), surge a importância das escolas darem vida ao Projeto Político
Pedagógico, eliminando a sua função de peça decorativa, utilizando-o de forma
dinâmica, sem perder de vista que o mesmo serve de norte para conduzir as ações da
instituição, trazendo em seu bojo todas as aspirações da comunidade e banindo de vez
com a prática individualizada e competitiva.
Segundo Ferreira (1998), a gestão democrática da educação deve ser uma
construção coletiva da organização da educação, da escola, das instituições, do ensino,
da vida humana. Esta construção deve ser feita na prática ao se tomar decisões sobre
todo o projeto político pedagógico, sobre as finalidades e os objetivos do planejamento
dos cursos, das disciplinas, dos planos de estudos, do elenco disciplinar, sobre os
ambientes de aprendizagem, recursos humanos, físicos e financeiros necessários, os
tipos, modos e procedimentos de avaliação e o tempo para sua realização. Com esta
organização e administração coletivamente, o projeto político-pedagógico surge como
uma forma específica de intervenção na realidade, a partir da avaliação desta realidade,
a fim de assegurar os princípios norteadores da ação pedagógica, garantindo a teoria (
princípios e conteúdos) e a prática (ação), o que vai exigir uma mesma direção.
Oliveira (1993) afirma que a escola é um organismo vivo e dinâmico, e a figura do
gestor necessita assumir uma posição que ultrapasse a linha do controle fiscalizador de
normas, recursos e de tempo a serem obedecidos. Segundo o autor, o gestor precisa ser
um articulador de ações conjuntas que possam potencializar o caráter transformador.
Pois o conceito de gestão educacional se difere do administrador por abranger uma série
de concepções não abarcadas pela administração. Entre outros aspectos o gestor deve
visar a democratização do processo, determinando o destino do estabelecimento de
ensino e seu projeto político pedagógico, a questão da dinâmica conflitiva das relações
interpessoais da organização, o entendimento de que a mudança dos processos
pedagógicos envolvem alterações alternativas nas relações sociais da organização, a
compreensão de que os avanços das organizações se assentam muito mais em seus
processos sociais e a sinergia e competência, do que sobre insumos ou recursos. Tendo
clara a diferença entre o gestor e o administrador, vale reforçar que a ação de um não
exclui o grau de importância do outro, o desafio é conciliar ambos.
Através da gestão democrática, as instituições caminham com o objetivo de
promoverem uma formação humana e profissional, oferecendo conteúdos de ensino que
são conteúdos de vida porque se constituem em instrumentos para uma vida de
qualidade para todos em sociedade. (Luck 1985)
Para Luck (1985), as ações isoladas caminham para um discurso vazio, por isso o
gestor precisa estar atento para os imprevistos, lembrando sempre que uma das
principais características do planejamento é a flexibilidade, dessa forma observa-se que
as ações estão interligadas, pois para se alcançar as metas traçadas, a escola precisa dos
recursos financeiros, materiais e principalmente de uma equipe qualificada, que
compreenda a importância da capacitação, como sinônimo de melhor atendimento ao
aluno. O gestor precisa ajudar o professor a ter um projeto de vida, no sentido de
reconhecer que o seu trabalho vai fazer a diferença na vida do educando.
3. Professor Reflexivo – Uma Prática Diferenciada
Na área de educação, um dos assuntos que mais despertam o interesse é a
tentativa de explicar o motivo pelo qual o magistério sofreu essa violenta
desvalorização, seja no aspecto da remuneração , passando pela falta de
reconhecimento social, chegando até a questão da formação desses profissionais,
que conduzem o processo ensino aprendizagem.
Verifica-se que hoje, até as pessoas com menos recursos fazem o
questionamento sobre se realmente vale a pena ser professor, diante da falta de
reconhecimento. A resposta com certeza é afirmativa, pois não se pode duvidar da
importância desse profissional, bem formado, para conduzir de forma reflexiva suas
ações, contribuindo incisivamente para a formação do seu aluno.
Vale observar-se que “no final do século XX à função do professor tomou um
novo direcionamento, ele passou a ser chamado por alguns intelectuais daquele
tempo de Profissionais da Educação; porque esses trabalhadores começaram a
reivindicar seus direitos perante a sociedade. Com estas buscas de melhorias muitos
movimentos foram criados, vieram os movimentos sindicais organizados, os
professores, muitos deles, deixaram à comodidade, conformidade de achar que já
sabiam tudo e tornaram-se aprendizes, a fim de dar conta de seu trabalho, mas
também os que sabiam um pouco mais em sala de aula, começaram a se questionar
quanto à sua prática pedagógica. Os discentes já não eram mais os de antes, porque
muitos deles passaram a ser investigadores e curiosos” (Amorim, 2006).
Torna-se evidente que diante dessas inquietações o perfil do profissional de
educação muda, ficando para trás a presença do conhecimento unilateral, ministrado
pelo educador. O perfil de aluno também já não é mais o mesmo, intensificado a
necessidade desses profissionais reverem suas práticas.
Diante dessa dinâmica de mudanças é notória a constatação de que os cursos
de formação de professores e a capacitação dos mesmos em serviço precisa ser uma
prioridade, pois só dessa maneira será possível oferecer aos alunos um serviço de
qualidade, onde o ato de pensar seja uma atitude constante, na sala de aula.
Com a globalização, entra-se na era tecnológica, que traz em seu bojo
informações simultâneas, exigindo do profissional comprometido o envolvimento de
repensar sua prática, assumindo a postura de ser um professor pesquisador, que não se
contenta com a mesmice, buscando sempre a melhor forma de atender ao seu aluno.
Porém de que maneira os professores podem tornar-se reflexivo, despertando o espírito
investigativo? Com certeza através dos cursos de formação, que necessitam abranger o
olhar, incluindo em sua grande curricular não só disciplinas pedagógicas, mas também o
acesso aos bens culturais.
Não há mais espaço para uma formação normativa, onde é apontado aos futuros
professores o que se deve fazer pensar e ensinar, objetivando construir um modelo de
profissional. É fundamental que os cursos de formação busquem alternativas para que
os mestres do amanhã se percebam como sujeitos construtores de sua prática. A grande
questão é compreender a dinâmica que rege os cursos de formação de professores, no
sentido de incutir em seus alunos, futuros educadores, a necessidade de estabelecerem a
relação direta que há entre a teoria e a prática, ou seja, a primeira sozinha não apresenta
condições de se materializar e transformar a realidade, por outro lado à prática pautada
no senso comum por si só perde a objetividade, pois segundo Fernando Sabino: “Toda a
teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda a prática deve obedecer a
uma teoria”.
Para Pimenta (2005 24): “O saber docente não é formado apenas da prática, sendo
também nutrido pelas teorias da educação. Dessa forma, a teoria tem importância
fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de
vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectiva de análise para que os
professores compreendam os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e
de si próprios como profissionais.”.
Nóvoa (1992) “È que ser professor obriga a opções constantes, que cruzam a
nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa
maneira de ensinar a nossa maneira de ser”.
Para Frigotto (1996), ao pensar no professor como um mediador do
conhecimento para a vida, tendo o dialogo e a reflexão como base norteadora de sua
prática, torna-se obrigatório relembrar a importância dos cursos de formação estarem
atentos para oferecer a esses futuros educadores, elementos que permita a compreensão
de que não devem posicionar-se como simples executores, com o único objetivo de
seguir o plano de curso da escola. É de extrema importância, que os cursos de formação
chamem a atenção desses alunos para que a prática reflexiva seja vista como sinônimo
de auto avaliação e replanejamento de suas ações pedagógicas no cotidiano.
Nessa perspectiva ainda, o professor representa a cultura para o seu aluno. Ele é o
mediador entre a cultura e os saberes necessários para que o aluno amplie seus
horizontes, por isso tem a responsabilidade de selecionar de forma criteriosa , o que
julga ser importante, sempre ancorado em seu compromisso e competência profissional.
Ao assumir o desejo de ser professor, ele precisa estar ciente de que em suas mãos
haverá indivíduos que serão marcados positiva ou negativamente, após sua intervenção
como educador, por isso a importância de estar ciente do seu papel, enquanto mediador
de conhecimentos, capaz de modificar comportamentos, contribuindo diretamente para
o crescimento do indivíduo. (Alarcão, 1996)
Para Alarcão o professor deve ter um papel formativo, disciplinador e altamente
intencional. O ensino é um diálogo, o professor não deve falar do ou sobre o aluno, mas
sim com o aluno, um diálogo verdadeiro. Segundo a autora, a função primordial da
educação deve ser o nutrir possibilidades relacionais, a relação professor- aluno,
pautada na confiança mútua.
Reafirma-se como ponto fundamental no trabalho do professor numa perspectiva
walloniana segundo Mahoney e Almeida (2003), o respeito pelo aluno em sala de aula,
pois é a partir disso que dependerá a contribuição do professor na vida do educando. O
apoio que o professor dará ao aluno nessa travessia de criança a adulto terá maior ou
menor relevância dependendo de ele olhar muitas vezes para trás para avaliar seu
próprio desempenho, de olhar seu aluno com acatamento, lembrando sempre que a
criança de hoje é o adulto de amanhã; ter em conta suas condições de aprendizagem e as
de seu meio; o ritmo de desenvolvimento próprio de sua etapa de formação.
Ainda sobre o respeito, as autoras afirmam “o professor precisa ser um arguto,
lúcido, constante observador de seu aluno. Observador da criança como uma pessoa
completa, integrada, contextualizada; observador da criança em cada um de seus
domínios funcionais.” (Mahoney e Almeida, 2003, p. 82).
Ao intervir na dificuldade enfrentada pelo aluno, o professor o instrumentaliza
para que continue a se desenvolver. Por outro lado, ao deixar de fazê-lo, colabora com
seu fracasso escolar. (Alarcão, 1996).
Verifica-se que a escola contribui positiva ou negativamente na capacidade
reflexiva de seus alunos, interferindo no exercício da cidadania, profissão, usufruto de
bens culturais e forma de viver.
Torna-se urgente que as instituições de ensino promovam em seu cotidiano,
ações que ensinem o aluno a pensar, que despertem o interesse nele de querer aprender,
aguçando o seu olhar investigativo em busca de novos conhecimentos.
Conclusão
Levando-se se em conta que a Educação Brasileira tem sua trajetória marcada
por um panorama de incertezas sócio-política-cultura, advindas da tão propagada
globalização, que diante de sua complexidade, carrega consigo o incentivo a autonomia
e a busca de novas tendências reforça-se a necessidade de uma sólida parceria entre a
escola e a família com o objetivo de preparar o aluno para a vida.
A escola vista como espaço de formação, permanece nesse cenário como
sustentação para instrumentalizar o sujeito para o exercício consciente de seus
direitos e deveres.
A instituição de ensino oportuniza a visão científica do mundo, utilizando o
currículo escolar como elemento norteador de sua prática pedagógica, ancorada ao
saber universal e significativo para o aluno. Nessa perspectiva, faz-se necessário
pensar a escola como um espaço reflexivo, onde todos os envolvidos são
considerados aprendizes e refletem sobre seus afazeres. Afirmo que a escola
reflexiva sobrevive se pautada em uma gestão democrática, onde o Projeto Político
Pedagógico seja validado, de fato, como o marco teórico e metodológico que conduz
a caminhada da instituição.
A necessidade de se construir uma educação mais justa e igualitária, reforça
cada vez mais a importância do planejamento participativo, que nos oferece
elementos para a construção do PPP, apontando a necessidade urgente da valorização
do currículo oculto; aproximando-nos da proposta de desenvolvermos uma educação
de qualidade, onde o educando possa ser visto na sua totalidade, evitando-se assim a
massificação dos conteúdos curriculares, que na maioria das vezes são dissociados
do contexto do educando.
Vale destacar que a atuação do professor, eficaz ou não, em sala de aula é precedida
por uma série de outras ações que precisam ser repensadas, como por exemplo, os
cursos de formação de professores, que necessitam estimular o desenvolvimento
profissional numa perspectiva autônoma, valorizando a atuação reflexiva desses futuros
educadores e incentivando a capacitação em serviço. Outro fato importante gira em
torno da atuação do Supervisor Escolar , que lançando mão de uma linha de atuação
democrática possibilite o fluxo do dialogo da escola com os seus profissionais e da
escola com a comunidade, objetivando promover o processo de ensino –aprendizagem
de forma contextualizado, onde todos sintam-se responsáveis para a caminhada rumo a
uma educação de qualidade
Verifica-se a viabilidade das escolas desenvolverem uma educação significativa sem
que para isso tenha que abrir mão dos conteúdos programáticos, apenas conduzindo sua
linha de atuação,reconhecendo que os alunos que ali chegam , são indivíduos
contextualizados historicamente, e que a função da instituição é servir de ponte,
acrescentando novos conhecimentos a sua vivência, para que haja uma mudança de
comportamento em busca de novos saberes. Só educadores reflexivos podem promover
uma educação que leve o aluno a pensar, só professores compromissados que
compreendem que a “educação é complexa e multidimensional” (Edgard Morin) são
capazes de despir-se do saber imutável e acabado para assumir uma postura dialógica,
onde ele ensina , mas também aprende.
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