UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A RE-ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – UMA NECESSIDADE NO
ENSINO SUPERIOR
Por: Aline Patitucci Lage Tavares
Orientador
Prof ª Mary Sue Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A RE-ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – UMA NECESSIDADE NO
ENSINO SUPERIOR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior
Por Aline Patitucci Lage Tavares
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AGRADECIMENTOS
Aos professores da Universidade
Candido Mendes, especialmente a
orientadora e amiga Mary Sue por sua
disponibilidade, orientação e apoio em
momentos difíceis.
Aos colegas de Docência do Ensino
Superior, especialmente a Sandra
Cunha por seu empenho que foram
preponderantes para a realização
deste trabalho.
A amiga Antonieta por sua amizade
incondicional em todos os momentos
difíceis de minha vida, por seu
incentivo e apoio permanentes durante
todo o curso.
“A verdadeira amizade acalma, acalenta e livra das ondas tempestuosas nosso imenso
mar interior”
Aline Patitucci Lage Tavares
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DEDICATÓRIA
Ao meu marido Raul por sua
persistência, paciência, incentivo e
amor verdadeiro ao longo dos nossos
22 anos de casados.
Aos meus filhos Bruna e Rafael por
serem verdadeiros companheiros na
jornada da vida.
A minha afilhada Roberta por seu
amor incondicional e presença
marcantes em todos os momentos.
A minha afilhada Sylvia, um exemplo
de criança sensível, amorosa e
companheira que colore meu coração
com seus pensamentos e palavras
sensatas de apoio.
A querida Louise, criança de uma força
vital incontestável, da qual tenho
saudades e que onde quer que esteja
será lembrada, em meu coração,
eternamente.
“A vida é um turbilhão de emoções que vividas intensamente, permanecerão eternamente”
Aline Patitucci Lage Tavares
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RESUMO
As mudanças constantes no mundo, com os avanços tecnológicos, digitais e a
globalização que provocaram, conseqüentemente, mudanças radicais no
mundo do trabalho, definem, claramente, a necessidade de uma reflexão sobre
o momento em que passa o Ensino Superior no Brasil. Faz-se necessária uma
investigação sobre as questões que envolvem a escolha profissional, a
definição de carreira que, atualmente, tem um grande peso para a formação
dos futuros profissionais e do futuro da pesquisa no Brasil, pois o país
encontra-se em um momento de mudanças políticas, econômicas e sociais que
interferem, sobremaneira, no rumo que a Educação Superior deve ou pode
tomar. Desta forma, o trabalho realizado visa investigar as questões da escolha
profissional dos alunos do Ensino Superior que trocam de curso, mais de uma
vez, não somente no início do curso mas em qualquer momento de sua
formação ou abandonam ou, ainda, terminam o curso insatisfeitos com suas
escolhas. Ocorrem, ainda, casos de profissionais, engajados e trabalhando em
sua área de formação mas que, também, demonstram insatisfação. Diante do
exposto, torna-se de extrema importância uma reflexão sobre estas questões e
a necessidade da elaboração de uma proposta, que tenha como prioridade
atender a demanda instalada, que se caracteriza com um trabalho de re-
orientação profissional e de carreira que esteja disponível durante o período de
duração do curso de graduação em todas as áreas e como e qual deve ser o
papel das Instituições Superiores de Ensino nesta proposta.
Palavras-chave: Ensino Superior no Brasil, Evasão no Ensino Superior,
Escolha Profissional, Re-Orientação Profissional.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada destina-se a apresentar, de forma abrangente, a
questão central do trabalho monográfico, a comprovação da necessidade de
uma ação efetiva junto aos alunos de graduação, em todo o país, em
Instituições Superiores, que enfrentam uma problemática de insatisfação com a
escolha profissional inicial e que, na maioria das vezes, provoca inúmeras
mudanças de curso ou abandono da graduação. Como conseqüência, há um
aumento do número de vagas ociosas em nossas instituições.
Para atingir este objetivo foi realizada uma pesquisa bibliográfica e teórica,
perpassando autores consagrados em Orientação Profissional.
Foram consultados, também, periódicos direcionados e de grande tiragem
enfocando o sujeito da Orientação Profissional: o adolescente atual.
Artigos científicos, revistas especializadas também foram de grande
importância para uma visualização mais abrangente sobre as questões que
envolvem a escolha profissional, o mercado de trabalho no mundo globalizado,
informações e reflexões sobre o Ensino Médio e Superior e o Vestibular.
A internet foi um importante meio de informação de fontes de referência para a
pesquisa tanto na busca de livros, revistas, sites especializados e recebimento
de informações de órgãos competentes relacionados ao assunto.
De especial relevância para a elaboração desta pesquisa encontram-se o CIEE
e o INEP, que gentilmente encaminharam diversos materiais como revistas,
pesquisas e censos para uma maior compreensão às questões da evasão
escolar, 1° estágio e 1° emprego.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO I DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 13
CAPÍTULO II O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 56
CAPÍTULO III RE-DEFINIÇÃO PROFISSIONAL 93
CONCLUSÃO 113
ANEXOS 122
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 129
ÍNDICE 132
FOLHA DE AVALIAÇÃO 135
8
INTRODUÇÃO
“ Escolhendo a mim, escolho o homem”
J. P. Sartre
O presente trabalho visa compreender o fenômeno do processo de decisão que
envolve a escolha da carreira e as conseqüências desta escolha. O trabalho
vai analisar o que vem ocorrendo nas Instituições Superiores de Ensino
Públicas (Federais, Estaduais) e Privadas.
Toda escolha gera angústia, insegurança e de uma forma ou outra causa uma
reflexão. Por volta dos 17/18 anos de um jovem, terminando o 3o. ano do
Ensino Médio, ocorre um momento importante de escolha por um curso de
graduação.
Especificamente com relação a essa escolha da profissão há um atividade
especializada: a Orientação Profissional. Entretanto, este tipo de trabalho vem
sendo equivocadamente praticado pelas escolas de Ensino Médio. Na
realidade elas oferecem: palestras com profissionais, inventários de interesse
ou visitas a universidades. A escolha do aluno não é trabalhada, uma vez que
esta implica em outras reflexões que caracterizam o processo de Orientação
Profissional.
No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,
muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores. Algumas
pesquisas (IBGE, MEC) indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em
um curso superior tem certeza de sua escolha.
Quando questionados sobre como foi realizada essa escolha muitos apontam
como critério: o curso menos concorrido, o curso que a família dizia ser "a cara
deles", o curso apontado pela mídia como aquele que dá mais dinheiro. Isto
quando há um critério prévio, pois vários jovens confessam que escolheram "na
sorte", a caminho ou na fila da inscrição para o vestibular. É como se o
importante fosse passar no vestibular, provando à sociedade, à família e a si
próprio que é capaz, independente do que vai fazer...ou seja, independente do
9
que vai fazer com sua vida futura, como se esta escolha fosse desvinculada da
vida e de todas as conseqüências a ela interligadas. (UNICENP, 2005)
A conseqüência desta realidade é a de que os alunos fazem uma escolha e
entram para uma Instituição Superior de Ensino onde se vêem insatisfeitos, em
algum momento de seu curso, ou até mesmo após sua conclusão, por variadas
razões. Alunos chegam a trocar de curso mais de uma vez ao longo de seu
período estudantil, inclusive nos últimos períodos da graduação.
Esses acontecimentos fazem da vida do aluno de graduação uma permanente
angústia e insegurança com relação a sua vida pessoal, social e profissional.
As Instituições Superiores de Ensino estão formando profissionais que quando
chegam ao mercado de trabalho se sentem perdidos e insatisfeitos.
Ampliando esta visão, fica claro que os indivíduos se sentem incompletos, com
a sensação de uma busca permanente por algo que não conseguem encontrar.
Isso afeta não somente a questão profissional, mas permeia todos os aspectos
da vida.
A questão central do trabalho que se impõe é refletir sobre a desistência nos
cursos de graduação e/ou a troca periódica de curso durante a formação dos
alunos e investigar quais estratégias, com ajuda especializada, que as
Instituições Superiores de Ensino oferecem a esses alunos.
Este tema foi escolhido por sua importância no âmbito geral da formação do
ser humano bio-psico-social, pois os indivíduos que devem encontrar-se como
profissionais competentes, seguros, satisfeitos e pesquisadores conscientes.
Somente desta forma poderão se tornar cidadãos em condições de exercer a
cidadania de forma plena e, conseqüentemente se verem como agentes
transformadores da sociedade.
A realização deste estudo monográfico permite a reflexão de vários aspectos
tanto pessoais como sociais. A formação de um indivíduo pleno, consciente,
cidadão com possibilidades de participar ativamente de questões de seu bairro,
sua cidade, seu estado, seu País.
O trabalho aborda diversas situações, reflexões de pensadores e profissionais
envolvidos com Educação e Orientação Profissional.
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Para tanto, a reflexão sobre o momento da escolha, a dificuldade da escolha, a
Orientação Profissional e como ela vem sendo realizada, a insatisfação dos
alunos dos cursos de graduação, suas dúvidas na vida pessoal, social e
profissional, o papel da Universidade e o equívoco de seus objetivos e as
estratégias utilizadas.
Outras questões ligadas ao tema central também serão refletidas durante o
trabalho:
1) As Universidades, não se sentem responsáveis pelo percentual de
estudantes que desistem e/ou trocam de curso durante a graduação, até várias
vezes.
2) A Orientação Profissional que têm sido oferecida pelas escolas de Ensino
Médio não atendem a demanda de seus alunos por questões que devem ser
investigadas.
3) A grade curricular dos períodos iniciais, nitidamente, não têm vínculo visível
para o aluno com a profissão escolhida.
4) As Instituições Superiores de Ensino, em algumas áreas, não disponibilizam
o estágio dentro e fora da instituição, não havendo orientação adequada aos
alunos, bem como convênios com empresas.
5) O mesmo ocorre com a questão do 1o. emprego. Normalmente, os alunos
terminam o curso de graduação perdidos, sem saber o que fazer e,
logicamente, por conta da ausência da Universidade.
6) O aumento crescente do número de vagas ociosas nas Universidades.
O aspecto profissional tem sido, ao longo do tempo, intrinsecamente ligado ao
objetivo principal das Instituições Superiores de Ensino. Entretanto, O
Ministério da Educação e Cultura vêm promovendo debates com membros
acadêmicos, a comunidade científica, a sociedade em geral, representantes de
Instituições Superiores de Ensino Públicas e Particulares e representantes dos
alunos através da Une, com o objetivo de promover uma reforma no Ensino
Superior. Uma das questões debatidas diz respeito ao enfrentamento da
questão: a Universidade forma para o mercado de trabalho ou está
comprometida com a busca do conhecimento?
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Ao final do presente trabalho, este apresenta uma possibilidade de minimizar
estas questões com o desenvolvimento de atividades especializadas e
mudanças estratégicas que podem ser realizadas pelas Instituições Superiores
de Ensino e que seriam de grande ajuda para a resolução das questões
apresentadas.
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“Para enxergar claro basta mudar a direção do olhar”
Antoine Saint-Exupéry
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CAPÍTULO I
DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL
“Comerás do fruto das tuas mãos, serás feliz e prosperarás”. (SALMOS, 1982,)
“Não há outra felicidade para o homem além de comer, beber e gozar do bem-estar,
fruto do seu trabalho”. (ECLESIASTES, 1982)
1.1 - BREVE HISTÓRICO
A existência do homem está relacionada ao trabalho a fim de manter a
sua sobrevivência. Historicamente, o trabalho constrói vida social e esta o
determina, pois para transformar a natureza foram constituídas, entre os
homens, relações de produção que mudaram no tempo e no espaço, assim
como os meios e os modos de produção.
A produção de bens refere-se ao próprio modo de vida vigente em uma
determinada sociedade e em um determinado momento histórico, não se
resume à produção e reprodução das condições materiais de existência. A
ação que modifica a natureza não se limita à produção de bens materiais, mas
a condições que permitam os relacionamentos dos homens entre si e com a
própria natureza.
O ser humano não possui nenhuma outra atividade que preencha seu tempo
da forma como o trabalho o faz e ainda lhe dê o sustento e ao mesmo tempo
lhe possibilite desenvolver o relacionamento interpessoal e a realização
pessoal. O sujeito ocupa seu lugar na sociedade através da profissão que
14
desempenha, pois a ela se agregam valores. Não trabalhar é abdicar do
progresso pessoal e social.
BOHOSLAVSKY (1998) afirma que a identidade ocupacional está diretamente
relacionada à pessoal, portanto o conhecimento contextual, os vínculos
estabelecidos e o auto-conhecimento são relevantes. Definir o que fazer
futuramente é decidir o que irá ser, e também o que não será, pois quando se
escolhe algo, deixa-se de escolher todas as demais opções. Uma escolha
autônoma e responsável implica na conscientização dos fatores internos e
externos que influenciam no processo decisório.
Várias outras teorias psicológicas surgiram: psicodinâmicas (Bordin,Holland....),
desenvolvimentistas (Pelletier, Ginzberg...) e decisionais (Gellat, Hilton...),
cujos objetivos, resumidamente, são os de explicar: a escolha profissional
através de conceitos psicanalíticos e de características da personalidade, o
desenvolvimento vocacional e o processo de tomada de decisão,
respectivamente. (FERRETTI, 1997)
PIMENTA (1981) menciona que a Teoria de Frank Parsons dá a idéia de
“homem certo no lugar certo”. Inicialmente, as aptidões eram consideradas
inatas, bastando a aplicação de testes para desvendá-las, mais um
determinismo vocacional do que uma escolha, pois havia a limitação da
psicometria que passou a um segundo plano a partir da década de cinqüenta,
com a Teoria Desenvolvimentista. No Brasil a Orientação Profissional teve
início a partir da década de quarenta.
FERRETTI (1997), reforça a questão de se refletir para além da escolha, sobre
o ingresso e o exercício de determinada profissão, considerando-se o contexto
social. Ressalta a necessidade da Orientação Vocacional trabalhar com
aqueles que não optam por uma carreira ou ocupação ou o fazem sob
limitações, sujeitando-se a subempregos e má remuneração, ou seja,
submetem-se à situação, sem escolha. Pode-se incluir aqui os jovens de
classes menos abastadas e os deficientes, de modo geral. Algumas das
propostas deste autor são de que se possa ampliar o atendimento, sem
15
exclusão, atingindo também aqueles cujas possibilidades de escolha são
restritas.
16
1.1.1- No mundo
A prática em orientação vocacional no mundo ocidental pode ser concebida a
partir do período da Revolução Francesa, em 1789. Antes desse período,
vigorava a influência do regime da Idade Média, que atrelava a ocupação
profissional dos sujeitos a condições de nascimento.
Os princípios difundidos pela Revolução Francesa estabeleceram a liberdade
de escolha e legitimaram igualdade de direitos aos homens, o que lhes
possibilitava fazer opção por ocupações diferenciadas daquelas determinadas
por sua condição familiar.
Posteriormente, a Revolução Industrial ocasionou uma série de alterações na
economia, deflagrando a mudança do modo de produção agrário para o modo
de produção industrial. Esse novo modo de produção, cuja operacionalização é
feita pelo uso de máquinas, exigiu qualificação humana para sua utilização.
Os primeiros registros de trabalhos sobre orientação vocacional surgiram
dentro desse contexto de desenvolvimento econômico.
Em 1908/1920. na Inglaterra, ocorreram as primeiras medidas sobre
Orientação e em 1920, Myers cria o 1o. Instituto de Orientação Profissional.
Em 1906, na França, surge o 1o. Instituto de Orientação Profissional, com
preocupações voltadas para crianças e adolescentes, fruto do trabalho
psicométrico de Binet.
17
O desenvolvimento da Psicometria e o aumento da oferta de trabalho
ocasionada pela Primeira Grande Guerra oportunizaram a maciça difusão de
trabalhos sobre Orientação Vocacional. O movimento da saúde mental,
consolidado após a Primeira Guerra, também favoreceu a preocupação e
exploração do tema.
Em 1908, Frank Parsons inaugurou nos Estados Unidos o serviço de
Orientação Profissional e começou a por em prática os princípios da sua teoria,
denominados de Traço e Fator. Frank Parsons defendeu a idéia de que a
adaptação às ocupações depende do equilíbrio entre as características dos
indivíduos e as exigências das funções. As idéias desse autor dominaram por
muito tempo os trabalhos existentes sobre o tema. O desenvolvimento da
psicometria e uma série de preocupações pedagógicas fizeram com que as
idéias de Frank Parsons se estendessem para a área escolar.
Em 1919, em Barcelona, surgiu Myra e Lopes com a Orientação Profissional.
18
1.1.2 – No Brasil
Em 1931, Lourenço Filho criou o 1o. Serviço Público de Orientação Profissional
no Brasil, na cidade de São Paulo.
Em 1933, surgiu o Código de Educação do Estado de São Paulo que previa a
instituição dos cursos vocacionais entre o 1o e o 2o. graus.
Em 1937, O Instituto Profissional Masculino, hoje a Escola Técnica Getúlio
Vargas, criou o gabinete de Psicotécnica, Escolha Profissional.
Em 1937, Edmir de Aguiar Witaker criou, na Escola Industrial de Santos, o
Serviço de Orientação Profissional, trabalho interrompido em 1938.
Artigo 80 da Lei Orgânica do Ensino Secundário:
“ É função da Orientação Educacional, mediante as necessárias observações,
cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos
estudos e na escolha da profissão, ministrando-se esclarecimentos e
conselhos, sempre em entendimento com a família. “
Em 1945, no Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas criou o Instituto de
Orientação Profissional (ISOP), a partir do modelo europeu do psicólogo Emilio
Myra Y Lopes, Barcelona, Espanha.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Carl Rogers, psicólogo, sinalizou uma
abordagem não diretiva e centrada no cliente para acolher os indivíduos
problemáticos, inclusive aqueles com conflitos em relação à escolha
profissional, em uma atmosfera de aceitação incondicional do cliente por parte
do terapeuta.
A década de 50 foi marcada pelo número marcante de pesquisas sobre o tema.
GINZBERG in apud (LEVENFUS & NUNES, 2002) apresenta sua teoria e
19
define a orientação vocacional como um processo de desenvolvimento que se
inicia desde a infância até a fase adulta e que é irreversível.
Donald Super elabora, em 1957, uma teoria com enfoque desenvolvimentista e
dimensionou a Orientação Vocacional enquanto processo. Na concepção do
autor, o desenvolvimento da vocação é um processo que acompanha o ciclo
evolutivo do indivíduo. Trata-se de um processo dinâmico que resulta da
interação entre as características do indivíduo e as demandas do meio. O papel
do orientador dentro da teoria de Donald Super é o de indicar uma profissão
que seja adequada à imagem que o indivíduo tem de si mesmo.
HOLLAND (1959) defendeu que a escolha profissional devia relacionar-se com
as características do sujeito. O sujeito é fruto da interação entre a
hereditariedade e as demandas do ambiente, desse modo, a atividade é
escolhida pelo sujeito a partir de sua percepção da ligação entre suas aptidões
inatas e suas aprendizagens. A escolha, segundo Holland, deve levar em conta
uma "orientação pessoal".
As idéias defendidas pelos teóricos influenciaram as duas principais
modalidades de atendimento em Orientação Vocacional atualmente realizadas.
O método estatístico/psicométrico está sedimentado na teoria do traço e fator
de Frank Parsons. O método clínico apresenta, em sua fundamentação,
influências de Carl Rogers, Donald Super, entre outros. Nesta época, a
Orientação Profissional estava voltada para a escolha da vocação do indivíduo
e durante muito tempo foram estas as técnicas que preponderavam no
processo de Orientação Vocacional / Profissional.
Por volta do final do Séc, XX, começaram os questionamentos sobre o que é
vocação e o processo de escolha passou a ser chamado de Orientação
Profissional.
20
1.2 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Cada uma das abordagens consiste em um conjunto de princípios, modelos teóricos e
métodos de intervenção pautados em diferentes concepções de indivíduo e de
sociedade. As abordagens citadas a seguir têm base nas revisões de Crites, Herr e
Cramer e Zunker e nos trabalhos de Silvio Bock..
1.2.1 - Abordagens psicológicas
As abordagens psicológicas estão relacionadas a um enfoque clínico da Orientação
Profissional. Seu principal foco é o indivíduo, como este vivencia as escolhas e como a
Orientação Profissional pode contribuir no processo. O conceito fundamental nessas
abordagens é o de que o indivíduo é livre para escolher e, assim, é o principal
responsável pelo seu destino. Entretanto, a escolha só poderá ser livre se o sujeito
estiver consciente e bem informado. Segundo BOHOSLAVSKY, 1998, "Um acúmulo de
experiências adquiridas de modo consciente e inconsciente leva o adolescente à
convicção de que pode escolher por ele mesmo. Para isso, necessita conhecer e
conhecer-se".
1.2.1.1 - Abordagem Traço-e-Fator
Originária do início do século passado, com o trabalho de Parsons, também
conhecida como abordagem "atuária", tem como finalidade encontrar o
casamento perfeito entre perfis ocupacionais e pessoais. Filosófica e
ideologicamente está vinculada a uma concepção positivista, liberal e médica
de indivíduo e sociedade.
Teórica e metodologicamente, fundamenta-se na psicologia diferencial e na
psicometria. Suas principais premissas são:
21
a
escolha ocupacional é um evento pontual e deve ser feita com
bases racionais e científicas;
o
perfil individual pode ser claramente identificado por meio de
instrumentos psicométricos;
o
perfil correspondente a cada ocupação pode ser
estatisticamente determinado e permanece estável ao longo do
tempo;
a
escolha certa é aquela em que melhor coincide o perfil
ocupacional com o individual.
A intervenção segue o modelo médico tradicional de análise, diagnóstico,
prognóstico e tratamento. O cliente submete-se passivamente às instruções do
orientador, que detém os instrumentos, o saber e a autoridade para
prognosticar o rumo profissional do sujeito.
1.2.1.2 - Abordagem Centrada na Pessoa
(ou Não-Diretiva)
A partir da década de 40, alguns terapeutas começaram a aplicar os princípios
da abordagem rogeriana no aconselhamento profissional. A principal premissa
da Orientação Profissional centrada na pessoa é que o indivíduo
22
psicologicamente equilibrado poderá melhor resolver os seus dilemas
ocupacionais.
Assim, o principal objeto do processo de aconselhamento não é a escolha em
si, mas o auto-desenvolvimento, isto é, a reorganização do "self" na direção de
uma maior maturidade, autoconsciência, auto-aceitação e abertura para novas
experiências. Para alcançar isso, o terapeuta segue os princípios da terapia
centrada no cliente como: confluência, empatia, aceitação incondicional e não-
diretividade. O cliente é incentivado a desempenhar um papel ativo na
condução do mesmo. Os determinantes sociais e individuais da escolha
profissional são considerados dentro da ótica e referencial de valores do
cliente.
1.2.1.3 - Behaviorista
Nas décadas de 60 e 70, a Orientação Profissional de base behaviorista usou
conceitos e técnicas da teoria comportamental e da aprendizagem para
explicar e facilitar o processo da escolha, tendo como referencial os trabalhos
de Goodstein e Krumboltz.
Essa abordagem, busca eliminar a ansiedade gerada pela indecisão
ocupacional e depois investe em uma elaboração cognitiva mais efetiva sobre a
escolha. Isso é conseguido através da análise de comportamentos e de uma
série de técnicas para: descondicionamento, dessensibilização, modelagem,
aprendizagem discriminativa, reforço da assertividade e de comportamentos de
tomada de decisão, busca efetiva de informações ocupacionais, entre outras. O
cliente desempenha um papel ativo na solução de seu problema, seguindo as
direções do orientador.
23
1.2.1.4 - Abordagem Desenvolvimentista
A abordagem desenvolvimentista, proposta por DONALD SUPER (1957) nas
décadas de 40 e 50, representa a confluência de várias correntes teóricas em
Orientação Profissional. Foi influenciada pela Psicologia do Desenvolvimento,
pela Teoria Traço-e-Fator e pelo enfoque Centrado na Pessoa. Tem como
premissa que é necessário entender o que o indivíduo fez no passado para
melhor orientar o seu futuro. É preciso analisar os temas recorrentes, as
características e tendências do seu desenvolvimento. Isso é feito através de
uma extensa avaliação da personalidade, da história pessoal e dos dilemas
ocupacionais atuais, através de entrevistas, questionários e testes. A avaliação
tem uma conotação positiva, diferentemente da abordagem Traço-e-fator, pois
é mais ampla e sua responsabilidade recai tanto sobre o orientador quanto
sobre o cliente. Após a avaliação, é possível identificar o nível de maturidade
ocupacional do sujeito e, assim, propor atividades que promovam o
desenvolvimento de sua capacidade de exploração, cristalização, especificação
e realização, a fim de que ele possa fazer escolhas realistas e bem adequadas,
que respeitem suas características, interesses e valores.
1.2.1.5 - Abordagem Psicodinâmica
Desenvolvida a partir da década de 60, aprimorada por BOHOSLAVSKY e
outros na década de 80, consiste na aplicação dos conceitos e das técnicas
psicanalíticas à escolha ocupacional. A história do indivíduo e a forma como
este lida com a realidade e o princípio do prazer são aspectos cruciais deste
enfoque.
O objeto da intervenção está no desvelamento e elaboração dos conflitos,
ansiedades, medos e fantasias relacionados com a problemática ocupacional,
bem como a busca de escolhas conciliatórias ou reparatórias. Bohoslavsky
chama atenção também para a sobredeterminação da escolha pela sociedade,
24
considerando as influências da família, da estrutura educacional e sócio-
econômica, da mídia e da cultura, como importantes no processo. Durante as
entrevistas, o orientador alterna a escuta psicanalítica com interpretações,
interposições, comparações, questionamentos e esclarecimentos. Podem ser
usadas técnicas projetivas, dinâmicas, jogos e questionários.
1.2.1.6 - Teorias Decisionais
As Teorias Decisionais estão fundamentadas em modelos econômicos,
conceitos e técnicas da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Social, e tiveram
grande impulsão na década de 90. Sua premissa básica é de que as pessoas
escolhem profissões que irão maximizar ganhos e minimizar perdas em termos
daquilo que elas valorizam.
Cada profissão possui um valor particular para cada indivíduo. O processo de
orientação busca identificar e analisar, junto com o cliente, atitudes, valores,
expectativas, esquemas cognitivos, auto-conceito, auto-eficácia e objetivos
pessoais, a fim de auxiliá-lo nos processos de solução de problemas, tomada
de decisão e estabelecimento de prioridades em relação à sua formação e
trajetória ocupacional.
Refletindo sobre as abordagens até agora citadas, a Centrada na Pessoa e a
Psicodinâmica são as que mais apresentam elementos para questionamento e
crítica do sistema sócio-econômico, político e ideológico. As abordagens
Traço-fator, Behaviorista e Decisional são pró-sistema ou indiferentes.
25
1.2.2 - Abordagens não-psicológicas
O principal objeto das abordagens não-psicológicas é a estrutura e dinâmica
sócio-econômica e seus efeitos sobre as trajetórias ocupacionais. O determinismo
individual dá lugar ao determinismo social e econômico.
1.2.2.1 - Teoria do Acidente
Este enfoque sustenta que a trajetória de carreira é determinada de forma
acidental. Acontecimentos na vida da pessoa, como uma palestra, um
programa de rádio ou TV, a leitura de um livro ou revista, uma oferta de estudo
ou de trabalho podem despertar o seu interesse, influenciando-a a seguir este
ou aquele caminho.
Esses acontecimentos ocorrem mais ou menos ao acaso, mas admite-se que
sua probabilidade pode ser influenciada por variáveis intervenientes individuais,
culturais e socioeconômicas.
1.2.2.2 - Abordagem Social-Crítica
Inspirada nas visões de Bourdieu, Passeron e Althusser, entre outros, sobre a sociedade
e, no Brasil, representada pelas críticas dos educadores Selma Pimenta e Celso Ferreti,
essa abordagem traz uma compreensão mais profunda dos determinantes sócio-
econômicos e culturais.
Considera as relações de poder e dominação, conflitos de classe, diferenças culturais,
influências institucionais, questões de gênero e minorias, revelando e colocando em
questão as ideologias liberais, pró-sistema, subjacentes às práticas de Orientação
Profissional.
Segundo essa visão, os orientadores devem construir uma prática contra-
ideológica, crítica e transformadora da sociedade e não meramente reprodutora
26
da ideologia de mercado. A forma de conseguir isso é proporcionar uma maior
conscientização dos orientandos quanto a seus próprios determinantes sócio-
culturais, isto é, dos referenciais e influência dos grupos de referência, da
comunidade local, das instituições, da mídia e da sociedade como um todo.
Mas apenas a conscientização libertária não basta. É preciso ir além. É preciso
uma revisão radical das relações de trabalho e das profissões numa dada
sociedade. A própria orientação vocacional deve fazer uma revisão radical de
si mesma, enquanto profissão.
1.2.2.3 - Psicossocial
Situando-se a meio caminho entre as abordagens psicológicas e não
psicológicas, articulando elementos do enfoque social-crítico com o
psicodinâmico, a abordagem Psicossocial representa uma proposta
relativamente nova de intervenção. A Psicossociologia Clínica se propõe a
analisar os problemas das comunidades e de seus integrantes enfocando os
diversos condicionantes sócio-econômicos, históricos e culturais, a fim de
promover sua conscientização e mobilizá-los mais efetivamente em torno de
seus próprios objetivos. Para isso, recorre a conceitos como trajetória social,
herança e mitos familiares, projeto parental e habitus.
A Psicossociologia confere à Orientação Profissional uma percepção mais
apurada das relações dos indivíduos dentro de sua família e no contexto social
em que vive. Remete a uma situação existencial que não é dada, mas produto
da história das gerações anteriores de seus familiares, bem como à gênese
das disposições culturais e contingências da vida em sociedade. Na medida em
que permite a análise das características de heteronomia e autonomia por
parte dos indivíduos, cria condições de se estabelecer metas educacionais e de
orientação, melhorando a compreensão dos indivíduos sobre as influências que
incidem sobre suas existências, contribuindo para que o sujeito faça suas
escolhas de vida de acordo com motivações mais autênticas.
27
1.2.3 - Técnicas utilizadas em Orientação Profissional
Para a realização do processo de Orientação Profissional é necessário o
desenvolvimento e aplicação de técnicas, quer sejam atendimentos individuais
ou de grupo.
Esta utilização deve estar apoiada em um referencial teórico que fundamente a
sua seleção e sua aplicação durante o processo.
De acordo com LEVENFUS & SOARES (2002) o papel das técnicas consiste,
dentre outros, levantar dados, permitir elaborações, conduzir uma tomada de
consciência do jovem, com o objetivo de facilitar o processo de escolha
profissional.
A seleção das técnicas a serem utilizadas nos processos de Orientação
Profissional varia conforme as características da clientela, os objetivos dos
encontros ou a escolha teórica do orientador.
De acordo com esses critérios, pode-se optar pelo uso de técnicas como:
entrevistas, dinâmicas de grupo, técnicas projetivas, técnicas expressivas,
técnicas plásticas, além de técnicas informativas de exploração profissional e
de testes objetivos.
Dentre as inúmeras técnicas utilizadas em orientação profissional, segundo
GIACAGLIA, (2000), destacam-se as entrevistas individuais e grupais.
Utilizadas com grande freqüência, são especialmente indicadas para seleção
dos participantes, para o aprofundamento de temáticas específicas durante
todo o processo de orientação, inclusive no momento de realização do
atendimento de fechamento, a entrevista devolutiva, o encerramento dos
atendimentos.
Outro recurso bastante utilizado são as técnicas dramáticas e lúdicas, que
consistem na representação de situações vividas e relacionadas com a escolha
a fim de possibilitar a exploração e a elaboração. As técnicas expressivas,
realizadas através de jogos e as técnicas plásticas, através de colagens,
desenhos, argila, produção de histórias, são recursos que facilitam a
28
mobilização e a comunicação de conteúdos relacionados com a problemática
da escolha.
Existem, ainda, a possibilidade da utilização de técnicas e recursos
psicométricos que facilitam o acesso ao conhecimento de habilidades e
interesses dos jovens, denominadas baterias, cujos resultados são inseridos no
processo de orientação em uma perspectiva complementar e crítica. Os
interesses e identificações profissionais podem ser explorados através de
inventários de interesse da mesma forma como são usados os testes:
exploração das habilidades.
Outra técnica bastante utilizada são as técnicas de informação profissional, que
consistem em desenvolvimento de atividades de consulta a manuais sobre as
profissões, entrevistas com profissionais da área de interesse, fóruns de
discussão sobre as profissões, pesquisas junto a profissionais e instituições.
Essas técnicas visam exercitar o papel de protagonista e de desenvolver a
responsabilidade do jovem no processo.
29
1.3 - ORIENTAÇÂO PROFISSIONAL NO BRASIL
1.3.1 - Conceitos de trabalho, alienação, profissão e
ocupação
Definir a realização humana é tão difícil quanto definir o que é felicidade. A
realização humana é sempre um vir-a-ser, um projeto eternamente inacabado.
O homem realizado, no sentido absoluto, não existe. É a busca incessante da
realização que permite ao homem transformar o seu meio natural e fazer
história. A vida em sociedade, assim como o progresso tecnológico é resultado
dessa transformação que ele efetiva.
É na ação transformadora que o homem encontra momentos de satisfação, de
realização de seus projetos, mesmo que gere novas ansiedades. No momento
em que ele completa um projeto qualquer, isso o faz feliz e o estimula a iniciar
um novo projeto.
Por trabalho entendemos toda a atividade do homem transformando a natureza
e a sociedade em que vive.
Trabalho e realização humana é uma relação tão antiga quanto a história da
humanidade. Dos gregos antigos às sociedades industrializadas de hoje,
passando pela experiência socialista, o homem procura a sua realização por
meio do trabalho.
O homem organizou a sociedade de tal forma que, para a maioria dos
indivíduos, o trabalho que fazem não são projetos seus, como também não são
seus os frutos dos seus esforços. Longe de ser sinônimo de criação e de
transformação, o trabalho que desenvolvem torna-se opressivo e estafante.
30
Com o Capitalismo iniciou-se a busca da produção de excedentes mediante a
introdução de novas técnicas de produção e de organização do trabalho.
Ocorreu, portanto, a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios
de produção. (capital, ferramentas, máquinas, matérias-primas, terras) Desse
modo, podemos afirmar que a essência do sistema capitalista encontra-se na
separação entre o capital e o trabalho.
Essa separação criou dois tipos de homens livres: o trabalhador livre
assalariado, que vive exclusivamente de seu trabalho, ou seja, da venda de
sua força de trabalho e o capitalista, proprietário dos meios de produção. O
trabalho deixa de existir apenas para atender às necessidades humanas
básicas. Sua finalidade principal é produzir riqueza acumulada e, mais
especificamente, para o trabalhador assalariado ou não, a sua sobrevivência
nesta sociedade capitalista.
A chamada sociedade pós-industrial que surgiu a partir dos meados do século
XX caracteriza-se pela ampliação dos serviços : publicidade, comunicação,
pesquisa, empresas de comércio e finanças, saúde, educação, lazer, etc. e,
mais recentemente, a terceirização, o trabalho autônomo, as consultorias, os
contratos por tempo determinado.
Hegel, filósofo alemão do século XIX, faz uma leitura otimista da função do
trabalho em Fenomenologia do Espírito. O filósofo se refere a dois homens:
senhor e escravo que lutam entre si e um deles sai vencedor, podendo matar o
vencido. O vencedor decide conservar o outro como servo. Com o passar do
tempo o senhor percebe que nada mais sabe fazer porque colocou o servo
entre ele e a natureza. Ele descobre-se como dependente do escravo e este,
aprendendo a vencer a natureza, recupera de certa forma a liberdade. O
trabalho, então, surge como a expressão da liberdade reconquistada.
Carl Marx retoma a temática hegeliana, mas critica a visão otimista do trabalho
ao demonstrar como o objeto produzido pelo trabalho surge como um ser
estranho ao produtor, não mais lhe pertencendo: é o fenômeno da alienação.
31
A palavra alienação significa, etimologicamente, tornar-se estranho a si próprio.
Deriva do latim alienare, alienus, que significa “que pertence a um outro”. A
pessoa alienada, de certa forma não se reconhece em suas atividade, essas,
constituem uma ação automática, não reflexiva, não criativa. O alienado não
se realiza em suas atividades, pois estas lhe são totalmente estranhas.
É a alienação no trabalho que faz com que este seja enfadonho, pesado, uma
obrigação, um fardo para o homem. Por isso, o homem de hoje encara o
trabalho somente como meio de subsistência, não se realizando como pessoa
ao executá-lo.
Marx não deixa, com isso, de considerar o trabalho como condição da
liberdade do homem. Ao contrário, para ele o conceito supremo de toda
concepção humanista está em que o homem deve trabalhar para si, não
entendendo isso como trabalho sem compromisso com os outros, pois todo
trabalho é tarefa coletiva, mas no sentido de que deve trabalhar para fazer-se a
si mesmo homem. O trabalho alienado o desumaniza.
Realizar um trabalho de Orientação Profissional, atualmente, que não leve em
conta as relações entre trabalho, realização e alienação é realizar um trabalho
de Orientação Profissional também alienado.
Ocupação é aquilo que a pessoa de fato faz, a atividade econômica exercida
pelo cidadão, como empregado ou de outra forma. Nas palavras da CBO
(Classificação Brasileira de Ocupações), uma ocupação é definida como "a
agregação de empregos ou situações de trabalho similares quanto às
atividades realizadas".
Freqüentemente se confunde ocupação com profissão embora elas não
tenham o mesmo significado. Ocupação tem um sentido mais geral, enquanto
profissão é um caso particular que exige conhecimentos especiais e, em geral,
preparação extensa e intensiva. Há muito mais ocupações do que profissões
porque muitas daquelas não têm essa exigência. Com a mesma profissão, uma
pessoa pode exercer diferentes ocupações. Um exemplo recente foi o fato de
32
ter havido dois candidatos de profissões diferentes disputando o cargo de
Presidente da República, que é uma ocupação, e não uma profissão.
No Brasil, a Orientação Profissional, equivocadamente, enfatiza demais as
profissões e raramente aborda as ocupações. Com o diploma na mão os
profissionais graduados podem exercer um número muito maior de ocupações,
típicas ou não da profissão escolhida. Assim, quem está escolhendo cursos e
profissões deveria também receber informações sobre o mundo das
ocupações. A CBO recém-divulgada, 2002, registra 2.422 profissões e 7.258
títulos ocupacionais.
Um jovem, em primeira instância, poderia desistir do curso de Engenharia
devido a saturação desta profissão no mercado de trabalho.
Entretanto, existem diversas ocupações possíveis com essa formação como
por exemplo: administração de empresas ou executivo financeiro. Olhando
esse lado ocupacional, portanto, o curso não deixaria de ser atraente ao jovem
interessado.
Segundo Roberto Macedo, Economista (USP), com doutorado pela
Universidade de Harvard (EUA), é pesquisador da Fipe-USP e professor da
Universidade Presbiteriana Mackenzie orienta que “a nova CBO poderá
contribuir para tomarmos a direção correta, mas seu grande passo precisa ser
completado com outros igualmente importantes. Assim, será fundamental
utilizá-la no levantamento periódico do número de trabalhadores em cada
ocupação, e levar aos jovens, educadores, orientadores e outros interessados
um diagnóstico quantificado e analisado das perspectivas ocupacionais. Na
corrente de informações que orienta sobre o mercado de trabalho estão
faltando esses importantes elos entre as profissões e as ocupações,
indispensáveis também às decisões de caráter educacional.”
A Orientação Profissional baseada apenas numa visão estreita das profissões
e isolada das suas perspectivas ocupacionais está desconectada da
perspectiva atual relacionada a sua própria área de atuação. O mundo do
trabalho exige flexibilidade ocupacional e formação educacional que combine
adequadamente a especialização e outros conhecimentos capazes de facilitar
a adaptação à diferentes ocupações, inclusive as que continuam surgindo.
33
1.3.2 - Perfil Profissional
Não é mais possível ignorar as rápidas transformações sociais que vêm
ocorrendo na atualidade. Tais transformações vêm certamente influenciando as
subjetividades, e vice-versa, numa constante relação dialética aberta para o
futuro. Sobre isso cabe citar Howard Rheingold, autor entusiasta da chamada
“revolução digital”:
“Eu não apenas habito nas minhas comunidades virtuais, mas, na medida em
que eu carrego comigo as conversações na minha cabeça e começo a misturá-
las com a vida real, essas comunidades virtuais habitam na minha
vida.”(RHEINGOLD in apud ANDERSON, 2002)
Segundo Anderson ”a globalização da economia e da política dispersa as
pessoas por todo o planeta, arrancando raízes, desfazendo fronteiras,
abandonando as velhas certezas de lugar, nacionalidade, papel social e
classe.”(2002) Essas transformações também têm sua face excludente, no
sentido de que têm ajudado a aumentar a abismo social e econômico entre
ricos e pobres de nosso país e de todo o mundo. Mas, inevitavelmente, elas
repercutem sobre os jovens de todas as classes sociais, na medida em que
precisam se inserir no (mercado de trabalho).
As profissões também vêm mudando. Algumas se tornaram obsoletas ou
desnecessárias, enquanto várias outras surgem a cada momento para
corresponder às inovações científicas e tecnológicas. Por outro lado, sabe-se
que o perfil do profissional desejado hoje é muito diferente do de poucas
décadas atrás.
Não se valoriza mais o profissional fiel a uma única empresa ou única
experiência profissional. Procura-se, ao contrário, profissionais com autonomia
e adaptabilidade, que acumulem em seu currículo uma ampla variedade de
experiências. Além disso, aumenta a rotatividade nas empresas, gerando o fim
da estabilidade e o conseqüente desemprego. Os trabalhadores precisam ser
34
flexíveis e versáteis para ingressarem em diferentes trabalhos durante o curso
de suas vidas.
Constatamos que as identidades profissionais deixaram de ser estáticas. Os
jovens que hoje buscam ingressar no mercado de trabalho precisam
desenvolver uma identidade profissional bem-definida, mas, ao mesmo tempo,
serem capazes de se transformar rapidamente de acordo com as necessidades
de mercado.
A Orientação Profissional deve estar atenta para que seus procedimentos de
trabalho com o jovem, em sua decisão profissional leve em consideração as
mudanças das profissões e, especialmente, o perfil do profissional desejado.
1.3.3 - Orientação Profissional no Brasil
A palavra vocação, nos seus primórdios, foi associada aos termos convocação
ou chamado. Através de influências de Martin Luther, esta passou a ser vista
como uma espécie particular de chamado, ou seja, algo que vinha de Deus.
Esta definição foi aos poucos se modificando, principalmente quando o termo
vocação passou a ser pensado como “o tipo de trabalho ou ocupação que se
faz gera o nosso sustento”, LONDON (1973)
A origem da palavra é latina - vocatione (substantivo) – e significa chamado,
escolha, tendência, disposição, talento, aptidão; ou Vocare (verbo) que significa
chamar, convocar, mandar vir, nomear, designar, etc. O conceito de vocação
é, portanto, etimológico: forte tendência do indivíduo para uma determinada
atividade, geralmente de caráter profissional. Podemos dizer que tendência
indica aspiração e aptidões. A primeira é geralmente influenciada pelo meio,
pela educação e leva o indivíduo a desejar, às vezes ardentemente, a ser
determinado profissional. As aptidões têm mais a ver com a hereditariedade.
Elas irão complementar a aspiração, sem as quais esta última não irá muito
longe.
35
Vocação tem como um outro significado: a predestinação. O indivíduo estaria,
então, decidindo o que já está pré-destinado, algo que ele teria nascido para
ser ou fazer. Desta forma, não caberia a ele decidir e sim descobrir o que já
está determinado. Vocação tem como significado, também, a palavra escolha.
Com esse sentido, seria então uma opção, alternativa do indivíduo e caberia,
então, a ele, seria de sua responsabilidade.
Vocação é uma força organizadora do trabalho, segundo GREEN (1968). O
autor dá um sentido ao trabalho como emprego assalariado, como atividade
respondendo a uma necessidade ou algo sem maior significado, e como algo
produtivo, requerendo esforço, auto-investimento, competência, jeito,
respondendo a objetivos e sentido da própria vida.
Para ele, vocação é entendida como procura de possuir uma existência
autêntica, verdadeira, um conceito central de Green sobre a noção de trabalho.
Sem a noção de vocação como sendo uma procura de realização existencial,
as ideologias de trabalho descritas por Green, são inadequadas para responder
aos questionamentos diários do trabalho no mundo.
A clássica afirmação da Filosofia Existencial de que “existência precede à
essência” significa dizer que o homem precisa escolher a cada momento o que
será no momento seguinte; só existindo poderá ser. Significa dizer que o
indivíduo é um ser de quem não se pode afirmar nenhuma essência, uma vez
que a essência invocaria uma idéia permanente e contraditória com a proposta
de auto-criação. Se o homem é o que atua ser, na expressão de Sartre, uma
visão essencial viria a se opor radicalmente.
Entretanto, o ponto mais importante é a recuperação do indivíduo como um ser,
a valorização do existir. O que importa é o existir e a atitude que se tem em
relação a isso. Se a existência precede à essência (Sartre) ou se estas são, na
verdade, uma mesma coisa (Heidegger) não impede o indivíduo de ser livre
para ser criativo, ou seja, escolher.
Durante muito tempo referia-se ao processo de escolha da profissão como
Orientação Vocacional, visando “descobrir” a vocação de cada indivíduo, como
36
se esta já existisse e precisasse apenas ser desvelada. Atualmente, este
termo não mais é empregado, tendo sido substituído por Orientação
Profissional, que abre caminhos para uma escolha livre e responsável sobre o
seu próprio devir.
A Orientação Profissional tem como objetivo, abrir caminhos para clarificar o
pensamento, oferecendo como possibilidades a capacidade de reflexão e auto
conhecimento; a fim de possibilitar opções e escolhas mais claras de acordo
com o crescimento interno e com os ideais da pessoa. Proporciona um contato
consigo mesmo, com interesses e necessidades reais para a escolha da
carreira profissional. Avalia-se, também, se a profissão escolhida é viável, se
está de acordo com a atual conjuntura do mercado de trabalho.
Para tanto, a Orientação Profissional busca:
Refletir sobre escolhas em geral e, em especial, a escolha da
profissão;
Conhecer-se quanto a interesses, habilidades, valores, projeto de
vida;
Informar-se sobre as profissões existentes: diversidade e
quantidade de profissões existentes, mercado de trabalho para cada
uma delas e que cada profissão abrange diversas áreas de atuação;
Associar o conhecimento das profissões com o auto
conhecimento ;
Avaliar que profissões são mais compatíveis com seu projeto de
vida.
Vale ressaltar, que entre as diversas técnicas utilizadas em Orientação
Profissional, para que o processo atinja seus objetivos, uma, em especial,
merece considerações como as que Silvio Bock faz em sua entrevista a
Revista Isto É (2005)
Segundo Silvio Bock, os chamados "testes vocacionais" são mal vistos, embora
sejam utilizados no Brasil e no mundo há mais de 50 anos e permanecem os
mesmos até hoje. Não foram atualizados e tornaram-se obsoletos. Eles são,
37
geralmente, imprecisos e dão respostas muito vagas, freqüentemente trazendo
mais dúvidas do que orientação. “Em levantamento feito em Institutos, com
mais de 500 pessoas que haviam feito estes testes, descobriu-se que cerca de
70% deles haviam feito a escolha errada da profissão por falha dos próprios
testes.Esta performance insatisfatória trouxe, ao longo do tempo, falta de
credibilidade à Orientação Profissional.”
Outro aspecto que vale ressaltar foi a mudança ocorrida no Brasil, ao longo dos
últimos dez anos com relação a prática em Orientação Profissional.
As idéias preconizadas por Rodolfo Bohoslawsky, a teoria de John Holland e a
teoria evolutiva de Donald Super passam a se destacar: "a partir desses
enfoques teóricos, muitas técnicas de trabalho em Orientação Vocacional vêm
sendo desenvolvidas através de pesquisa sistemática, realizada em
Universidades" (LASSANCE,1999)
Surgiram inúmeras consultorias , atividades de Orientação Profissional
realizadas pelas Universidades, em centros de atendimento ligados aos cursos
de Psicologia, buscando atender às crescentes demandas das comunidades e
as escolas de Ensino Médio, através de pedagogos, que oferecem palestras
sobre as profissões.
Podemos citar, como exemplos:
Serviço de Orientação Vocacional do Instituto de Psicologia da USP (São
Paulo) prioriza o trabalho de grupo, mas quando há necessidade realiza
atendimento individualizado. O processo toma em média 12 encontros de uma
hora, uma vez por semana. Estudantes de 14 a 18 anos compõem boa parte
da clientela, mas o público adulto já começa a descobrir o trabalho. A USP
também oferece atendimento às escolas e instituições públicas.
Serviço de Psicologia da UFBa (Bahia) oferece orientação profissional a alunos
de Ensino Médio e capacita estudantes de graduação e psicólogos recém-
formados nesta área. O objetivo do trabalho é facilitar aos orientandos a
38
identificação dos fatores que podem estar influenciando, interferindo ou mesmo
impedindo o processo de escolha profissional. As atividades utilizam vários
recursos psicológicos, entre testes, questionários, inventários e dinâmicas de
grupo.
A Colméia (São Paulo) é uma entidade privada, que utiliza vários recursos,
além da tradicional aplicação de testes. São cinco sessões com dinâmica de
grupo, exercícios de auto-conhecimento, jogos, debates sobre temas relativos
à escolha e levantamento de interesses das principais áreas e profissões
correlatas, além de pesquisas bibliográficas.
A Orientação Profissional, no Brasil, atualmente, merece algumas
considerações, conforme Informe da ABOP (Associação Brasileira de
Orientação Profissional):
1. Existe um engano com relação a grande parte das escolas, que
dizem praticar Orientação Profissional junto a seus alunos, fazendo, na
realidade, arte do que seria o processo , como: palestras com
profissionais, inventários de interesse ou visitas à Universidades.
A escolha do aluno não é trabalhada, uma vez que esta implica em
outras reflexões que se caracterizam como parte essencial de um
processo de Orientação Profissional.
2. Alguns profissionais se utilizam do computador na realização da
Orientação Profissional, tratando este procedimento como um processo de
O.P., o que não se caracteriza como tal. É impossível sua efetivação sem o
conhecimento do indivíduo. O computador pode prestar-se como mais um
instrumento de informação, nada além disto.
3. Não existe, por parte dos Orientadores Profissionais, um trabalho de
massa quanto ao valor deste procedimento junto a jovens e adultos. Faz-se
necessária uma reflexão aprofundada sobre esta questão sob pena da sua
não valorização pela sociedade, o que já ocorre, e a conseqüente busca de
valorização.
39
4. Seria importante o apoio, a regulamentação, a fiscalização e a divulgação
da Orientação Profissional, através de projeto a ser elaborado pela ABOP,
como meta de sua competência.
5. Seria importante incrementar o trabalho de Orientação Profissional
através de equipes interdisciplinares. A Orientação Profissional tem se
consolidado hoje como uma das áreas de grande interesse acadêmico e
profissional. Ela apresenta amplas possibilidades de atuação prática como
também existe uma necessidade de absorção deste saber e desta prática
pelo mercado de trabalho, não só em nível de escolas como também
empresas e universidades.
40
1.4 - MERCADO DE TRABALHO
1.4.1 - Conceitos de interesse :
Donald SUPER (1957) compilou as seguintes definições para o interesse:
Claparède: “O interesse é o sintoma de uma necessidade. É um instinto, uma
necessidade que tende a ser satisfeita”.
Baumgarten: “O interesse é um aspecto particular da inclinação”.
Buhler reconhece a dificuldade em definir o termo e fala de “uma complicada
estrutura de intenções”.
Remier fala de “interesses profissionais”, diferenciando-os dos “gostos”. Mas,
entre “interesse e gosto” não estabelece, segundo Super, diferenças.
O dicionário de Littré fala de “qualidade de certas coisas, que as torna
apropriadas para cativar a atenção, para chegar ao espírito”.
Lalande, em seu Vocabulário de Filosofia, fala de “O que realmente importa a
um agente determinado, o que lhe é vantajoso, quer ele saiba ou não” e da
“característica do que provoca, num determinado espírito, um estado de
atividade mental fácil e agradável, uma atenção agradável”.
Segundo Pierón, “é uma correspondência entre certos objetos e as tendências
próprias de um sujeito interessado nesses objetos, que, por esse motivo,
atraem sua atenção e orientam suas atividades”.
Para English y English, “É uma atitude de atenção, é uma tendência a ocupar-
se de alguma coisa, simplesmente pelo prazer que se encontra nisso; é, enfim,
a atividade ou o objeto pelo qual alguém se interessa.”
Burloud: “... centro de onde convergem múltiplas tendências, desejos... tema de
investigação... idéia, força”.
Strong, criador do primeiro ensaio para avaliação dos interesses, fala de
“tendências para ocupar-se de certos objetos e para orientar-se para certas
atividades”.
41
SUPER (1957), tentando esclarecer este assunto, propõe “definições
operacionais”. Fala de interesses expressos, manifestados, revelados por meio
de testes e inventários. A descrição das técnicas de análise dos interesses não
esclarece suficientemente o que seja um interesse. Diz, textualmente: “Neste
momento, nos encontramos, a respeito dos interesses, no ponto em que nos
encontrávamos, a respeito da inteligência, em 1930, quando a inteligência era,
para dizermos a verdade, medida do resultado do teste de Binet e do teste Alfa.
Pergunto-me sobre o valor de um conceito explicativo, ou pelo menos
descritivo, tão ambíguo. Não teria chegado o momento de renunciar
definitivamente ao conceito de interesse, substituindo-o por “construções”,
realmente operativas e não só operacionais?
1.4.2– Globalização
O mundo vive um momento histórico, no qual predomina uma economia
globalizada que tende a destruir fronteiras nacionais, embaralhando todos os
sistemas comerciais, culturais e ideológicos. Num novo processo social onde
predomina a incerteza, as experiências passadas não ajudam muito nas
projeções futuras.
O desenvolvimento tecnológico desenfreado, especialmente, no setor das
comunicações e da informática e as rápidas transformações político-
econômicas afetam profundamente as relações sociais e o desenvolvimento
psíquico do homem da pós-modernidade. Todos afetados pela velocidade
dessas mudanças.
A territorialidade externa e interna já não são também definidas: Nação e o
lugar são circunstâncias, aparecendo o homem em qualquer lugar. O campo da
ciência e tecnologia não está vinculado aos Estados nacionais. As redes de
pesquisa são transnacionais e complexas.
42
Romperam-se os limites territoriais do consumo, mudaram-se as leis nacionais,
perderam-se o modelo de ética e de competitividade, declina-se à capacidade
de gerar empregos.
No Brasil, observamos as conseqüências da globalização da economia
mundial: expansão de franquias, contratação de filhos e netos de imigrantes
para preencher a carência de mão de obra nos países mais avançados, como o
Japão, busca de repatriação de descendentes de estrangeiros, permitindo a
dupla nacionalidade e a formação de rede de cooperativas.
Os grandes especialistas, através dos meios de comunicação, anunciam o fim
de uma estrutura do emprego formal. Por causa dos benefícios trabalhistas,
torna-se inviável contratar um trabalhador e busca-se novas soluções para o
contrato de trabalho. Com isso, mudam-se as relações capital-trabalho, onde
as expectativas sociais e institucionais coincidiam e formavam uma relação
linear e evolutiva, com possibilidade de elaboração de projetos pessoais e
sociais. A nova realidade abala as convicções e a visão do mundo.
(LEHMAN, in apud LEMOS, 1996 )
Podemos dizer que estamos num momento de grande transformação no
processo de fragmentação do trabalho, provocado pela revolução tecnológica.
Estamos num outro momento muito interessante: a ciência descobre, a
indústria põe em prática e o homem adapta. Isso nos coloca num cenário
totalmente adverso e incerto.
As estratégias para a Orientação Profissional e escolha da profissão devem ser
revistas frente a esta nova situação de mudanças para diagnosticar os
fenômenos na vida e no trabalho das pessoas.
1.4.3 - Transformações no Mundo do Trabalho
As mudanças no mundo do trabalho envolveram várias transformações sócio-
econômicas. Na organização, o trabalho braçal ou mecânico, realizado
anteriormente pelos homens, vem sendo substituído. Com isso, ocorreu o
43
desaparecimento da estrutura do emprego devido a redução do tempo de
fabricação de um produto para a área de serviços acarretando a diminuição
das pessoas envolvidas no processo.
Desta forma, o emprego tradicional com carga horária definida, funções claras
e com plano de carreira pré estabelecido tendem a desaparecer. Vão surgindo
o trabalho com projetos específicos, temporários, realizados por equipes multi-
profissionais. A era chamada Capitalista ( produção fordista ) baseada na
produção em massa, com poder nas mãos da gerência passou para a
chamada era Capitalista Avançada. ( produção “ just in time “ )
Na organização geral da empresa as estruturas ficaram mais flexíveis e
enxutas. Para (SALERMO in apud LEMOS,1994) a reorganização das
empresas ocorre a partir da redução dos níveis hierárquicos, re-divisão de
diretorias, departamentos, etc e sub-contratações por terceirização. A estrutura
se organiza com um grupo de trabalhadores em tempo integral que usufruem
de maior segurança no trabalho. Existem dois outros grupos: trabalhadores em
tempo integral, mas com habilidades disponíveis no mercado de trabalho
gerando alta rotatividade; o outro, mais flexível ainda, com empregados
casuais, em tempo parcial, ou contrato por tempo determinado, temporários e
sub-contratados.
As mudanças na atividade econômica para BRIDGES (in apud LEMOS, 1983),
além das transformações no modelo do setor industrial, houve também um
grande deslocamento de velhas “ empresas de produção de coisas para “
novas “ empresas de : sistema financeiro, telecomunicações, biotecnologia e
computadores. A informação passa a ser o principal produto e fonte de riqueza
ao invés de máquinas e equipamentos.
Segundo HARMAN e HORMAN ( in apud LEMOS, 1990) o capital não é o
dinheiro e sim o “ know-how “ técnico gerencial. Há grande valorização do
chamado “ capital humano “. As pessoas que produzem “ coisas “ perdem
espaço para as que produzem idéias.
44
1.4.4 - Novos significados do Trabalho
No antigo capitalismo, o que era considerado trabalho era apenas aquele com vínculo
empregatício em tempo integral e legalmente reconhecido; formas alternativas de
ocupação eram consideradas subempregos ou outro tipo de atividade. Atualmente, o
trabalho é definido de maneira mais abrangente, porque ele assume novas formas de
ação, novas competências e novos contextos.
De acordo com HARMAN e HORMAN (1990), um dos principais paradigmas da
sociedade industrial é o conceito de que as pessoas são motivadas somente pelo desejo
de um ganho econômico. O paradigma moderno desvalorizou o nosso poder criativo e
acabou convencendo que a motivação para o trabalho é econômica e que trabalha-se
por uma recompensa financeira. Para os autores, a visão materialista e dominadora das
cidades modernas, ainda persistem nos dias atuais, precisando ser substituídas por
outras, ligadas ao aprendizado e ao desenvolvimento humanos.
Na “sociedade da aprendizagem” o trabalho está ligado ao aprender em seu sentido mais
amplo, como educação, pesquisa, desenvolvimento da auto-compreensão , a
participação numa comunidade de cidadãos envolvidos na melhoria da qualidade de
vida. Essas transformações que estão ocorrendo se devem em grande parte à entrada
cada vez maior das mulheres no mundo do trabalho. (LEMOS, 2001)
Para HARMAN e HORMAN (1990) a influência feminina é sentida nos movimentos
sociais e constitui os alicerces dos movimentos ecológicos ou pacifistas, dos projetos de
combate à fome e dos movimentos pelos direitos civis.
Também contribuiu na mudança de postura de “conquista e exploração da natureza” pelo
cuidado com o meio ambiente, na preocupação com a preservação dos recursos naturais
e com o desenvolvimento da melhoria da qualidade de vida em geral. Segundo
pesquisas feitas pelas empresas de recrutamento de executivos Artur Andersen e Grupo
Catho (REVISTA VEJA, 1999), as empresas contratantes estão preferindo candidatos,
homens ou mulheres, que demonstrem possuir características consideradas femininas
como: saber trabalhar em equipe, fazer planejamentos a longo prazo e preocupar-se com
detalhes.
Essa tendência mostra que o modelo feminino de trabalho além de estar conquistando
espaços maiores no mundo do trabalho tradicional, está também se tornando referência e
45
fonte de atividades alternativas para os profissionais da sociedade pós-tradicional.
(LEMOS, 2001).
Novas formas de organização de trabalho concorrem com as tradicionais: auto-emprego,
trabalho domiciliar, dedicação em tempo parcial, interrupções voluntárias de carreira,
carreiras compostas, prestação de serviços, entre outros. Rifkin (1995) denomina essas
atividades de “ terceiro setor”, diferenciando-as dos setores privado e público da
economia.
O “terceiro setor compreende atividades comunitárias para idosos, deficientes físicos,
doentes mentais, jovens desamparados, desabrigados e indigentes; campanhas para
eliminar o analfabetismo, programa de reforço escolar após as aulas, instituições de
ajuda a vítimas de estupro e violência doméstica, participação em programas de auto
ajuda como alcoolismo e drogas; profissionais que prestam seus serviços como médicos,
contadores, psicólogos, advogados, para organizações voluntárias. Participação em
programas ambientalistas: atividades de reciclagem, conservação dos recursos naturais,
anti-poluição, proteção aos animais, defesa dos direitos civis. Voluntários de brigadas de
incêndio, trabalhos de prevenção ao crime. Há ainda os que se engajam em atividades
artísticas como grupos de teatro, corais e orquestras.
As ONGs são outra atividade do “terceiro setor” que vêm crescendo consideravelmente
nos últimos anos, tanto em países do primeiro mundo como nos países em
desenvolvimento.
Elas buscam solucionar desde problemas de saneamento básico, até programas de
profissionalização, criação de cooperativas de produtos rurais, luta pela reforma agrária,
entre outros.
Apesar das intensas transformações sócio-econômicas e as mudanças de mentalidade
que vêm ocorrendo, a cultura ainda recompensa empreendimentos tipicamente calcados
em valores narcísicos: sucesso, dinheiro, poder, competitividade, individualismo.
Segundo LOWEN (1983), quando a riqueza ocupa uma posição mais elevada que a
sabedoria, quando a notoriedade é mais admirada do que a dignidade, quando o êxito é
mais importante que o respeito por si mesmo, a própria cultura supervaloriza a “imagem”
e deve ser considerada narcisista.
46
De acordo com o exposto, tem fixado claro que a característica principal das sociedades
pós-tradicionais e pós- modernas é a convivência lado a lado com valores divergentes e
com a pluralidade de opções, o que exige do indivíduo um posicionamento contínuo.
1.4.5 - Desemprego
O mercado de trabalho, atualmente, encontra-se fragmentado, ainda indefinido.
Empregos assalariados, garantidos com” carteira assinada” estão cada vez
mais raros.
As empresas têm optado por trabalhar com um núcleo menor de profissionais
fixos, diminuindo sua folha salarial e, conseqüentemente, evitando as
imposições fiscais: FGTS, férias, altas rescisões contratuais, Em contrapartida,
elas têm usado para suprir suas necessidades, as empresas terceirizadas,
contratos por tempo determinado e prestadores de serviço como por exemplo:
serviços na área de recursos humanos, de segurança, de limpeza , auditoria e
telemarketing.
Segundo pesquisa realizada por Marcio Pochmann, publicada no Jornal O
Estado de São Paulo, em 24/08/1997, são os setores não organizados da
economia, principalmente no segmento de serviços, os responsáveis pela
criação de novos postos de trabalho no Brasil.
Neste segmento predominam os empregos sem carteira, por conta própria ou
pequenos negócios familiares. Ele vem sendo ampliado nos últimos anos,
apresentando taxas anuais de crescimento de 5,2% entre 1989 a 1995, o que
significa que a cada dez vagas criadas no período, onze foram de
responsabilidade do segmento não organizado.
PASTORE (1998, in apud LEMOS, 2001) defende a flexibilização das leis
trabalhistas no Brasil como forma de ampliação da oferta de trabalho nos
setores organizados da economia. Segundo ele quanto mais as leis trabalhistas
de um país permitem a articulação de estruturas móveis da força de trabalho
47
nas empresas, maiores são as oportunidades de trabalho neste país. Diz ainda,
que quando as regras legais contratuais são flexíveis, as sociedades
conseguem acomodar as pessoas nas novas modalidades de trabalho. Quando
são rígidas, os ajustes são difíceis e o desemprego “explode”.
O fenômeno do desemprego gera uma crise nas sociedades, não somente no
Brasil, mas em todo o mundo. As pesquisas mais impressionantes estão
ligadas aos impactos da instabilidade econômica na saúde dos indivíduos.
Nas universidades de Michigan e Johns Hopkins, importantes centros de
estudos sobre saúde pública, mostram que o aumento do desemprego é
acompanhado por suicídios, ataques do coração e doenças mentais. Além
disso, o desempregado corre o risco de sofrer de depressão, ansiedade,
agressividade, insônia, perda da auto- estima e problemas conjugais.
(DIMENSTEIN, 2000)
Sem dúvida, o atual contexto de insegurança e incerteza do futuro e do próprio
presente de profundas modificações sociais que afetam os indivíduos, com
processos sociais cuja extensão ainda ignoramos, gera uma situação de mal
estar.
Segundo Paulo Nathanael Pereira de Souza, doutor em Educação, presidente
do Conselho Direto do CIEE Nacional e do Conselho de Administração do
CIEE/SP, em artigo da REVISTA AGITAÇÃO, 2005, “depende apenas de nós
mesmos sair do atraso a tempo de não perder a condução para o futuro.” Ele
reflete sobre o momento atual de competição mundial na economia em que
países do primeiro mundo lutam para não perder a hegemonia e os
emergentes, por um lugar ao sol, que só conquistarão se forem capazes de
educar o povo, investir em pesquisa e tecnologia e reformar as relações de
trabalho. Para ele o país que não conseguir se conscientizar disso corre o risco
de agir na contramão da história. Especificamente no caso do Brasil é urgente
que se ative, o quanto antes, ao lado da educação e da inovação tecnológica, a
reforma trabalhista. O Brasil não poderá continuar a divorciar trabalho de
emprego: ambas as situações devem-se integrar de forma ampla e total, e
merecer igualmente o amparo da lei. “Caso contrário, a economia corre risco
de perecer e o desenvolvimento, de emperrar.”
48
1.4.6 - Desemprego no mundo jovem
Segundo POCHMANN, (2004), “de maneira geral, o jovem tem mais
dificuldade de ingressar ou de continuar empregado, se comparado ao adulto.
Há no mundo poucos países, entre eles a Alemanha e a Áustria, que são
países que possuem taxa de desemprego juvenil menor do que a taxa de
desemprego dos adultos. Mas nos demais países, e também aqui no caso
brasileiro, a taxa de desemprego dos jovens é quase duas vezes mais alta do
que a dos adultos. “
Há, de fato, no mundo, uma dificuldade para o jovem ter um bom começo no
mercado de trabalho. Nessas duas últimas décadas a situação do jovem
tornou-se ainda mais grave, pelo menos no Brasil. Segundo POCHMANN
(2004) “o Brasil abandonou uma trajetória de crescimento econômico
sustentado, o que quer dizer que o país está crescendo abaixo de 5% em
média ao ano. Na verdade, de 1981 até o ano passado, nós crescemos em
torno de 2% ao ano. Se o Brasil cresce abaixo de 5% ele não tem condições de
gerar o volume de empregos necessários para atender as pessoas que estão
ingressando no mercado de trabalho (em torno de 1,8 ou 1,9 milhões de
pessoas). Por isso que o jovem termina sendo o mais perversamente afetado
pela situação do desemprego.”
A partir do desemprego, duas situações ocorrem em decorrência da situação
no Brasil. A primeira é que os jovens mais pobres, atualmente, têm se
envolvido em quase 50% dos homicídios no Brasil.
A quantidade de homicídios é superior a 40 mil pessoas por ano. A segunda
situação é em relação aos jovens de melhor renda, com maior qualificação
profissional e escolaridade. Há um movimento de migração muito intenso de
saída de jovens do Brasil, procurando outras perspectivas de trabalho, de
realização, em outros países. Entre 1991 e 2000, baseado em dois sensos
demográficos, houve uma saída estimada em um milhão e trezentas e
cinqüenta mil pessoas, na faixa etária de 15 a 24 anos de idade. (POCHMANN,
2004)
49
O desemprego estrutural ressalta novas questões de identidade do homem no
século XXI. É preciso buscar um novo discurso e estratégias de atuação, sair
do modelo anterior e auto-referente. Nesta mudança de vinculo e de nova
"cultura" a Orientação Profissional terá que ter um papel ativo. Os jovens que
ainda não estão muito conscientes disto, correm o risco de se sentirem
excluídos e postos fora do sistema considerando-se vítimas, paralisados e
perplexos, sentindo desorientados e desvitalizados.
1.4.7 - Profissional do Futuro
SCHAWARTZ ( 2002 ) aponta como profissões do futuro: designer, gerente de
comunidades, engenheiro genético, gerente de ONG, marketeiro, assistente
social, produtor cultural e missionário. Para Dulce Helena Soares o que está
em ascensão são as profissões do setor terciário, ou seja, as prestações de
serviços: transporte, higiene e limpeza. (SOARES, 2002)
As profissões tradicionais modificam-se no sentido de oferecer consultorias,
como a engenharia, administração, a economia.
Dentro da realidade sócio-econômica atual, verifica-se uma transformação e
reestruturação dos alicerces das profissões e de seus espaços ocupacionais.
A preocupação com relação a escolha da profissão têm sido em função das
profissões que surgirão daqui para frente, as "profissões do futuro".
A realidade de mercado expande a gama de categorias profissionais, de modo
que fica impossível trabalhar apenas com as categorias tradicionais de carreira,
como por exemplo, a engenharia, administração, pedagogia, direito, medicina,
etc. As atribuições exigidas pelo mercado não se encaixam diretamente no
escopo das categorias profissionais que eram demandadas no passado.
Surgem novas necessidades e exigências ocupacionais. Novas especialidades
são desenvolvidas, levando ao aparecimento de carreiras constituídas a partir
de confluências ocupacionais, tal como engenheiro mecatrônico (espécie
híbrida entre a engenharia elétrica e a mecânica), engenheiro de produção,
50
engenheiro de segurança, gerente de relacionamento, administrador de
contratos etc. "Não podemos esquecer ainda que a constituição da profissão
deve ser encarada como um projeto em aberto permanentemente interferindo
nas trajetórias de vida, não podendo ser desvinculada de forma alguma das
múltiplas dimensões aí presentes" (MANSANO, 2003).
Nessa nova realidade social, campos de saber tidos como distantes e
incomuns têm, cada vez mais, terreno de atuação. É o caso de, por exemplo,
engenharia genética, engenharia nuclear, técnico em fotônica, além de muitas
outras profissões e atividades resultantes da evolução da informática.
Acredita-se que existam profissões com um futuro mais promissor que outras,
com isso os jovens estão cada vez mais curiosos para descobrir que profissões
serão estas. Na verdade, o que acontecerá é o que sempre ocorreu ao longo
dos séculos: profissões que desaparecem, pois perdem sua função devido ao
avanço tecnológico, e outras, em função das novas necessidades, que surgem
relativas a evolução humana.
A tendência é que a tecnologia facilite a vida de todas as pessoas, fazendo
com que a carga horária de trabalho seja reduzida e sobre mais tempo para as
atividades de lazer. Dentro desta perspectiva, setores como o turismo, lazer,
ambientalismo e urbanismo serão beneficiados, pois ocorrerá um aumento na
procura destes serviços. Como já era de se esperar, os profissionais da área
de informática e de desenvolvimento de novas tecnologias, estão sendo cada
vez mais requisitados.
O profissional do futuro, independente da área que encontre, deverá ter espírito
de iniciativa; ser criativo; hábil em buscar novas formas e soluções para a
efetivação das novas tarefas; ser comunicativo, tanto verbal como
interpessoalmente e deverá, também, saber trabalhar em grupos. As diferentes
profissões, futuramente, trabalharão muito próximas, e o que se espera dos
indivíduos é que tenham um espírito de cooperação.
O individualismo não terá espaço neste novo mundo do trabalho. Com as
profissões trabalhando cada vez mais juntas, ocorrendo parcerias entre os
profissionais, a escolha da profissão pode se tornar mais fácil para quem está
em dúvida entre dois cursos supostamente diferentes. Eles podem se encontrar
51
em algum ponto, e o profissional poderá conciliar as duas áreas. (DIÁLOGO
MÉDICO, 1998)
Num passado não muito distante, as opções de carreira limitavam-se a uma
pequena lista de elite: Medicina, Engenharia e Direito. Hoje, o estudante tem a
sua disposição uma infindável lista de cursos, de nível superior, técnico,
seqüenciais ou tecnólogos.
Segundo artigo da Revista Agitação (2005),o setor de relacionamento do CIEE
tem hoje cadastrados 2.108 cursos de nível superior, médio e técnico. Este
elevado número , no entanto, ao invés de ajudar, angustia ainda mais o jovem
que tem que escolher. Muitas vezes, eles acabam decidindo por áreas
tradicionais como Direito. Um dos vestibulares mais concorridos, o Fuvest
2005, atraiu 10.387 candidatos que disputaram suas 460 vagas, perdendo
apenas para Medicina.
No livro Profissões 2005, recém-lançado pelo CIEE, a crescente procura por
Direito Internacional ocorre devido a globalização, criação de áreas de livre
comércio entre países e do aumento dos negócios entre empresas
transnacionais. Na área do Direito do Consumidor há também boas
perspectivas.
O vestibular da Fuvest 2005, com 488 candidatos para as vagas de
Biblioteconomia, demonstrou que os jovens parecem ainda não ter descoberto
esta profissão como uma opção. Jeane dos Reis Passos, presidente do
Conselho Regional de Biblioteconomia, 8a. região, que inclui o Estado de São
Paulo, diz que a profissão não parou no tempo e oferece um campo amplo de
atuação; transformou-se em ciência da gestão da informação. Já Sistemas de
Informação, curso recém-inaugurado no campus da Universidade de São
Paulo, teve 1.710 inscritos. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)
Maria Clara Cavalcante Bugarim, presidente da Fundação Brasileira de
Contabilidade e integrante do Conselho Federal de Contabilidade explica que o
potencial do profissional de Contabilidade está crescendo pois existem de 4 a 5
milhões de microempresas no país, todas elas necessitando de contador
52
devidamente registrado para fechar as contas e cuidar das relações com o
fisco. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)
Arnaldo Niskier, secretário estadual de Cultura do Rio de Janeiro e membro da
Academia Brasileira de Letras, diz que todas as profissões podem ser
consideradas novas e com características polivalentes e mulidisciplinares, no
quadro atual das mudanças empresariais. Ele dá como exemplos profissões
como: environmental acountant ou contador ambiental, que trabalha na
relação custo-benefício dos negócios ambientais, como controle da poluição e
reciclagem. Entre as novas profissões ele cita a web development, uma
especialização em projetos de divulgação das empresas via rede mundial de
computadores. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)
Mudanças no mercado de trabalho fizeram proliferar um novo perfil de
profissionais. Nesse contexto, a chamada educação continuada tornou-se o
caminho ideal para se manter no mercado. Com iss , um número cada vez
maior de profissionais tem procurado atualizar-se em sua própria área de
atuação como também buscar alternativas em áreas correlatas retornando ao
mundo acadêmico a procura de cursos de pós-graduação, MBA,
especialização, Mestrado, Mestrado Profissional, Doutorado e Pós-Doutorado.
A busca por esse cursos pode não trazer resultados imediatos para o momento
atual do profissional mas, em alguma etapa da jornada profissional a
oportunidade pode surgir.
Além disso, o enriquecimento intelectual que a educação continuada
proporciona cada vez tem sido mais reconhecido. Tanto que vem tornando-se,
cada vez mais comum as próprias empresas custearem cursos para seus
funcionários, de forma coletiva ou individual, de forma presencial ou à
distância. É importante ressaltar que a EAD (Educação à Distância) tem cada
vez mais crescido no Brasil e hoje é uma realidade incontestável apesar de
críticas e preconceitos que ela ainda suscita.
53
1.4.8 - Ciência como Opção Profissional
A profissão de cientista figura como estratégica para o desenvolvimento econômico de
um país. Ao lado do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) há outro adotado pela
UNESCO, o IAC (índice de alfabetização científica) para medir a qualidade de vida de
uma nação que se refere a proporção de cientistas e pesquisadores em relação a
população escolarizada. Países como Japão e EUA possuem políticas públicas para o
incentivo e fomento dos jovens interessados na profissão de cientista, pois tais governos
estão cientes dos significados de um bom IAC nacional. (REIS, 2004)
Se, pois, a Ciência é algo tão importante, por que tão poucas pessoas decidem adotá-la
como opção profissional? Poucos jovens enxergam a atividade de pesquisa científica
como opção profissional no Brasil deste início de século XXI.
A maior parte dessa problemática se explica não pela carência de demanda para essa
atividade, pois a demanda e contratantes são crescentes), e nem pela ausência de
formação específica para cientistas no país, dado o sucesso administrativo de órgãos
como o CNPq. A quase inexistência de interesse pela profissão de cientista explica-se na
verdade pela mais pura desinformação.
Mitos nocivos cercam tal profissão, a maioria deles divulgados pelo romantismo das
mídias, em especial o cinema, que foram decisivos para uma representação social
negativa do cientista.
Para minimizar os mitos que envolvem a Ciência como uma possível escolha profissional
deve haver ,um bom estudo da história da Ciência no Brasil. Os cientistas brasileiros
sempre foram famosos mais no exterior do que em sua própria pátria, talvez pelo
prejudicial desinteresse da população brasileira pela Ciência. No exterior, os cientistas
brasileiros são famosos por sua qualidade e por obterem surpreendentes resultados a
partir de escassos recursos. Um dos maiores físicos do mundo na atualidade, por
exemplo, é o carioca Marcelo Gleiser. Este, antes dos 35 anos, já chefiava equipes de
pesquisadores na NASA. Exemplos de sucesso em Ciência no Brasil não faltam:
Oswaldo Cruz, Ivo Pitanguy, Tarsila do Amaral, Santos Dummont, dentre outros.
.
54
O começo de uma boa Orientação Profissional não deve deixar de lado a profissão de
cientista. Antes e mais importante que a determinação de suas técnicas e metodologia,
deve estar atento para o esclarecimento, isto é, na anulação dos empecilhos que
obstruem o desenvolvimento da profissão de cientista. Empecilhos esses que tanto
prejudicam o país quanto os futuros profissionais, pois estes, deixam de contar com a
possibilidade de poder escolher esta profissão.
55
“Existir, para um ser consciente, consiste em mudar, mudar para amadurecer,
amadurecer para se criar indefinidamente.”
Henri Bergson
56
CAPÍTULO II
O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
“Os nossos jovens parecem amar o luxo. Têm maus modos e desdenham a autoridade.
Desrespeitam adultos e gastam seu tempo vadiando por aí, tagarelando uns com os outros. Estão
sempre prontos a contradizer seus pais, monopolizam a atenção em conversas, comem
insaciavelmente e tiranizam
seus mestres.”
Sócrates
2.1- AS CARACTERÍSTICAS DO ADOLESCENTE
2.1.1- Um resgate histórico
A adolescência não é novidade nos dias atuais; palavra simples que permeia
os discursos tanto da ciência como do senso comum é aparentemente bem
definida: fase que se segue à puberdade, aproximadamente entre 14 e 21
anos. Mas, nem sempre a adolescência foi uma fase supostamente conhecida,
estudada e valorizada como no século que acabamos de ultrapassar: o século
XX. Para uma compreensão do conceito atual de adolescência e a
conseqüente crise de identidade relacionada à mesma, é importante um
resgate histórico do termo pois esse é, sem dúvida, derivado de movimentos da
história.
Num dos mais ricos impérios de que se teve notícia, o romano,ou helênico, que
corresponde ao período do século I d.C. ao ano 476, o nascimento de um
romano não era o suficiente para que esse ocupasse um lugar no mundo. Era
necessário que o pai o quisesse e o recebesse para que, então, iniciasse sua
educação e conseqüente colocação na aristocracia romana.
Tão logo nascia, a criança era entregue a uma nutriz que ficava responsável
por sua educação até a puberdade, educação essa que era extremamente
rígida, tendo como objetivo a formação do caráter. Somente aos 14 anos o
57
jovem romano abandonava as vestes infantis e, aos 17 anos, passava a ter o
direito de entrar para a carreira pública, como o exército. Não havia um marco
que separasse a criança do adolescente, pois isso era decidido pelo pai.
Durante a Idade Média também não houve nenhum período de transição entre
a infância e a idade adulta. O chamado jovem era o recém entrado no mundo
adulto, o que era feito através da barbatoria, cerimônia que se seguia ao
primeiro barbear do rapaz, portanto o pêlo era a prova de que a criança
tornara-se homem e, então, a agressividade, começava a ser cultivada,
objetivando a boa formação do guerreiro.
No século XVIII começar a aparecer as primeiras tentativas de se definir,
claramente, a adolescência. Somente no século XX foi que nasceu o
adolescente moderno típico, exprimindo uma mistura de pureza provisória,
força física, espontaneidade e alegria de viver. A partir de então, passou a
haver interesse sobre o que o adolescente pensa, faz e sente. Definiu-se ,
então, claramente a puberdade e as mudanças psíquicas.
O adolescente das sociedades modernas apresenta toda uma caracterização
própria dessas sociedades, pois a grande maioria das questões ligadas à
adolescência está diretamente relacionada ao funcionamento da sociedade em
que esse adolescente encontra-se inserido.
Os adolescentes modernos se encontram com um mundo de escolhas. São
livres para escolher entre as mais variadas religiões, deparam-se com diversos
códigos morais e encontram-se frente a uma série de grupos diferentes, que
têm crenças diferentes e proclamam práticas diversas. As civilizações
modernas são heterogêneas, variadas, diversas. O adolescente tem um grande
rol de possibilidades, vive conflitos afetivos, sociais e morais por ter que
escolher em uma sociedade onde as opções são muitas e existem profundas
transformações.
2.1.2 - A conceituação da adolescência
Alguns autores sublinham as transformações corporais, a chamada puberdade, marcada
pelo estirão (crescimento rápido), surgimento de pêlos pubianos, mudança na voz dos
58
meninos, aumento dos seios nas meninas, ebulições hormonais levando à explosão da
sexualidade, etc. Outros autores frisam as transformações comportamentais, tais como
uma suposta rebeldia, um certo isolamento, um apego exagerado ao grupo, adoção de
novas formas de se vestir, falar e se relacionar, além de episódios de depressão, tristeza
ou euforia. Tal metamorfose inclui idéias megalomaníacas: crença de que pode mudar o
mundo e perda de algumas referências, como a de seu lugar no mundo.
Acredita-se que as mudanças corporais, ao nível físico, são relativamente universais, com
algumas variações. Um exemplo disso é a menstruação nas meninas, não se conhece
cultura em que esse fato não ocorra; podem-se variar as datas mas nunca deixar de
acontecer.
Já no nível psicológico, principalmente comportamental, há uma vasta diferença de
características no que tange às mudanças. Acredita-se que não há nada de universal nas
transformações psicológicas que variam de cultura para cultura, de grupo para grupo e de
indivíduo para indivíduo. A adolescência faz nascer um novo ser, é como um novo
nascimento.
Becker afirma que a adolescência é como o nascer da borboleta. Um belo dia, a lagarta
inicia a construção do seu casulo. Este ser que vivia em contato íntimo com a natureza e a
vida exterior, se fecha dentro de uma “casca”, dentro de si mesmo e dá início à
transformação que levará a um outro ser, mais livre, mais bonito e dotado de asas que lhe
permitirão voar. Se a lagarta pensa e sente, também o seu pensamento e o seu sentimento
se transformarão. Serão agora o pensar e o sentir de uma borboleta. Ela vai ter um outro
corpo, outro tipo de relação com o mundo. (Becker, 1997)
2.1.3- Características dos adolescentes
Ao longo da história, os jovens apresentaram características diferenciadas.
Atualmente, eles preocupam a todos com comportamentos como: transar e
engravidar mais cedo, contrair mais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e
AIDS, beber e fumar cada vez mais, usar mais drogas, sofrer mais acidentes, cometer
mais suicídios, morrer mais. São mais pessimistas, individualistas, estressados,
59
competitivos e deprimem-se com mais facilidade. (Eugenio Chipkevitch, REVISTA
VIVER, 2001)
CORDIÉ (1996) menciona a adolescência como uma fase crítica, pois as mudanças
ocorridas no sujeito podem afetar sua eficiência intelectual, pois a pressão relativa
aos estudos, à entrada na universidade, à profissão, às competições, competências,
os exames escolares, enfim, as escolhas necessárias à entrada no mundo adulto,
podem ser desencadeantes de um estado psicótico, pois diante de uma estrutura
fragilizada há o risco de rompimento com a realidade.
Os jovens passam a tomar remédios para disfunção erétil quando querem transar
mais vezes; medicamento para emagrecer quando se sentem gorduchos;
antidepressivos ou ansiolíticos quando estão tristes ou ansiosos. Muitos jovens entre
15 e 25 anos, são incapazes de lidar com a dor ou suportar privações. Formam a
chamada “geração anlagésico”, segundo o psiquiatra César Ibrahim. Márcia Neder
Bacha, pioneira do trabalho de psicanálise com professores para que eles possam
acolher melhor os jovens, explica que, antes de fugirem da dor e das frustrações,
buscam o prazer imediato, aqui e agora, mágico. Conquistar o sono e o orgasmo, o
alívio da dor e da ansiedade, avançar sobre os limites do corpo e da própria
subjetividade, sem o esforço próprio e sem a agonia da espera, dá uma grandiosa
sensação de onipotência que está longe de ser desprezível. A idéia de uma
adolescência sofredora e de uma infância vitimada tem atravessado nossas
concepções teóricas sobre o desenvolvimento psíquico. Há um lado positivo nessa “
geração analgésico.” (REVISTA “O GLOBO”, 2005)
O jovem fantasia ser melhor que os demais e sente-se realmente especial como
forma de não encarar suas limitações. Para não sofrer com sua insegurança, mostra-
se excessivamente seguro. Com freqüência, ele tende a compensar os sentimentos
de inferioridade por meio dos riscos a que se expõe, negando os perigos reais.
São típicos os casos de meninas que dizem que determinada colega é invejosa. Já
nos rapazes, dúvidas com relação à sua própria masculinidade podem levá-lo a
atribuir caráter homossexual aos colegas. O aluno pode se ver espelhado no
professor, que se torna um ídolo, o que geralmente é desejável e somente em casos
extremos pode ser prejudicial. Na relação professor-aluno, deve ser dada atenção
especial para projeção de características negativas no professor. Nesse caso, o aluno
60
projeta no professor as suas dificuldades pessoais, levando, inevitavelmente à queda
no rendimento escolar. É comum que o jovem justifique seu mau desempenho
racionalizando, como na frase "Essa matéria não serve para nada, mesmo!".
"Ninguém entende essa matéria".
É muito freqüente ocorrer o deslocamento, quando o sentimento para com uma
pessoa é transferido para outra. Muitas vezes o professor, enquanto representante do
mundo adulto e no papel de autoridade, pode ser inconscientemente associado ao pai
ou à mãe. Sentimentos hostis para com os genitores podem ser deslocados para o
professor, que se torna o alvo das agressões.
O jovem apresenta, momentaneamente, reações tipicamente infantis. Pode bater os pés no chão,
fazer birra, falar de forma infantilizada e até mesmo agir como criança; o adolescente que
morde e chupa o lápis ou a caneta, ou ainda que rói as unhas.
Para Içami Tiba, o adolescente não quer mais a influência dos adultos. Quer
vestir o que ele escolheu, assim como as pessoas com quem quer conviver.
“Está em busca da própria personalidade. Não quer receber nada pronto e sim
participar da construção do seu caminho.”
Segundo o estudioso, os adolescentes querem ser bem tratados em casa e na escola
enquanto se submetem a privações com a turma durante as viagens e
acampamentos.
Ele podem agir como selvagens: sem cumprimentar, agradecer ou respeitar, fazem o
que lhes vêm à cabeça, sem o mínimo bom senso. Praticam atos de vandalismo,
usam drogas, expõem-se a perigos como esportes radicais, pegas, “rachas”, etc. As
jovens se deixam levar pelos relacionamentos, usando drogas com os namorados se
eles o fizerem. Elas não são selvagens, mas teimosas e agressivas: quando querem
algo, simplesmente, insistem até conseguir.
Os jovens vivem uma situação de ambigüidade: hostilizam os pais mas querem sua
atenção; desejam viver o novo, mas sentem perder o que lhes dava segurança;
dependem dos pais, mas divergem deles quanto aos objetivos de sua conduta;
rejeitam interferências, mas exigem o apoio para sua subsistência. (TIBA, 1998)
“A alienação do jovem atual flui, em grande medida, por ser forçado a aceitar um
papel não produtivo na sociedade, durante uma adolescência interminavelmente
prolongada...talvez possamos ver, dentro em pouco, campanhas políticas a favor e
61
não contra o trabalho da criança e do adolescente...evitar a desocupação e todos os
ales que acompanham a delinqüência juvenil, a violência e a degradação psicológica
da juventude, isto é, restituir aos jovens papéis sociais e economicamente produtivos,
como se tinha na era pré-industrial. “ (A. Tofler, in aput PAGNONCELLI, 1996)
Adolescentes vivem mais um vir-a-ser do que uma existência plena de sentidos.
Estudam para passar no vestibular, sem entender a utilidade de quase nada do que
aprendem, ou fingem aprender.
Eles curtem tantos ritos de passagem que as próprias turmas impõem a seus
membros, provas de coragem, de competência, de adesão ao grupo. Isso ocorre
porque os ritos de passagem, praticamente desapareceram na sociedade atual.
“Entretanto, eles são preciosos mecanismos atávicos de consolidar identidade, de dar
contornos à confusão.” (Eugênio Chipkevitch, REVISTA VIVER, 2001)
Victor Frankl enxergou na falta de sentido para a vida uma causa moderna das
neuroses, da depressão e de tantos outros problemas que assolam a
juventude. Os jovens precisam de esperanças, projetos, sonhos, como
qualquer um de nós, para sobreviver dignamente. Precisam poder cultivar sua
auto-estima, o seu senso de competência, sua solidariedade e os seus afetos.
No mundo de hoje, sucumbir ao vazio, à confusão de valores, à falsidade da
família, ao massacre intelectual da escola, à competição individualista e à
massificação do mundo neoliberal globalizado, é um risco grande. (Eugenio
Chipkevitch, , REVISTA VIVER, 2001 )
2.1.4 - A crise de identidade própria da adolescência
O período da adolescência é marcado por diversos fatores mas, sem dúvida, o
mais importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a
entrada em uma nova realidade que produz confusão de conceitos e perda de
certas referências.
O adolescente desestrutura e tenta reestruturar tanto seu mundo interior como
suas reações com o mundo tentando poder ser um objeto para si mesmo, em
busca da definição de que “eu sou eu”. O encontro dos iguais no mundo dos
diferentes é o que caracteriza a formação dos grupos de adolescentes, que
62
terão livre expressão e de reestruturação da personalidade, ainda que essa
fique por algum tempo sendo coletiva. É exatamente essa crise e, conseqüente
confusão de identidade que fará com que o dolescente parta em busca de
identificações, encontrando outros “iguais” e formando seus grupos. A
necessidade de dividir suas angústias e padronizar suas atitudes e idéias, faz
do grupo um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de
comportamentos, pensamentos e hábitos.
Essa busca do “eu” nos outros na tentativa de obter uma identidade para o seu
ego é o que o psicanalista Erik Erikson chamou de “crise de identidade”, o que
acarreta angústias, passividade ou revolta, dificuldades de relacionamento inter
e intrapessoal, além de conflitos de valores. Para Erikson, o senso de
identidade é desenvolvido durante todo o ciclo vital, onde cada indivíduo passa
por uma série de períodos desenvolvimentais distintos, havendo tarefas
específicas para enfrentar. A tarefa central de cada período é o
desenvolvimento de uma qualidade específica do ego.
Segundo ERIKSON (1972) em termos psicológicos, a formação da identidade
emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que
ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo julga
a si próprio à luz daquilo que percebe ser, a maneira como os outros o julgam,
em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para
eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo
como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos
que se tornaram importantes para ele.
Portanto, a construção da identidade é pessoal e social, acontece de forma
interativa, através de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido.
Esse autor enfatiza, ainda, que a identidade não deve ser vista como algo
estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas
como algo em constante desenvolvimento.
Entre os aspectos importantes no desenvolvimento da identidade está o
controle vital, ou seja, as fases ou períodos da vida que o indivíduo atravessa
até chegar à idade adulta, que são marcados por crises apresentadas como
situações a serem resolvidas.
63
Como afirma ERIKSON (1972), entre as indispensáveis coordenadas da
identidade está o ciclo vital, pois partimos do princípio de que só com a
adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de crescimento
fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para atravessar a
crise de identidade. De fato, podemos falar da crise de identidade como o
aspecto psicossocial do processo adolescente.
Desta forma, o grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada
crise de identidade. É importante entender que o termo crise, adotado por
Erikson, não é sinônimo de catástrofe ou desajustamento, mas de mudança; de
um momento importante no desenvolvimento onde há a necessidade da opção
por uma ou outra direção, mobilizando recursos que levam ao crescimento.
O sentido pejorativo normalmente atribuído a situação de crise deve ser revisto
e encarado como “ruptura”, pois este momento pode ser criativo, onde o antigo
equilíbrio desaparece para dar lugar ao novo. Crise pode ser condição de
crescimento, ela é benéfica, produtiva, pois impulsiona o indivíduo ao estágio
seguinte do desenvolvimento.
É no período da adolescência que o indivíduo vai colocar em questão as
construções dos períodos anteriores, próprios da infância. Assim, o jovem
assediado por transformações fisiológicas próprias da puberdade precisa rever
suas posições infantis frente à incerteza dos papéis adultos. A crise de
identidade é marcada, também, por uma confusão de identidade, que
desencadeará um processo de identificações com pessoas, grupos e
ideologias que se tornarão uma espécie de identidade provisória ou coletiva, no
caso dos grupos, até que a crise em questão seja resolvida e uma identidade
autônoma seja construída.
Em nossa cultura, não há somente o período de adolescência mas a tendência
em ampliá-lo na medida em que o tempo de estudo aumenta, adiando a
entrada no mercado de trabalho. Torna-se cheio de contradições o espaço de
tempo entre o abandono do mundo infantil até poder assumir as obrigações e
responsabilidades da vida adulta.
Eugenio Chispkevitch, pediatra, médico de adolescentes e diretor do Instituto
Paulista de Adolescência, afirma que o adolescente merece confiança e que
64
sua auto-determinação é um direito e um compromisso consigo mesmo, pois
legitima a sua condição de pessoa plena, em crescimento e desenvolvimento,
cheio de vida e significados. “Taxá-los de seres “em crise” é redundante –
quem de nós não está “em crise”?” (REVISTA VIVER, 2001)
65
2.1.5 - Identidade profissional e a vida do adolescente
Rodolfo Bohoslavsky, importante teórico da Orientação Profissional,
compreende que a identidade profissional ou ocupacional é “um aspecto da
identidade do sujeito, parte de um sistema mais amplo que a compreende, e é
determinada e determinante na relação com toda a personalidade.”
(BOHOSLAVSKY, 1987).
A identidade profissional é, portanto, parte da identidade pessoal total, e pode
ser compreendida como “a autopercepção, ao longo do tempo, em termos de
papéis ocupacionais”. (BOHOSLAVSKY, 1987) Da mesma forma que a
identidade pessoal, a formação da identidade profissional deve ser entendida
numa contínua interação entre fatores internos e externos ao indivíduo. Apesar
de ser apenas um aspecto da identidade total, pode-se facilmente notar que a
importância da identidade profissional é enorme na sociedade capitalista
moderna, chegando mesmo a ser confundida com a identidade pessoal como
um todo.
Entende-se que a identidade profissional se relaciona estreitamente com a
escolha profissional, tal como afirma Wagner Fiori: “A escolha de uma profissão
é fundamental na normalização das relações com o mundo. Num nível mais
concreto, é claro, entende-se que, em parte, sou aquilo que faço. ” (FIORI, in
apud RAPPAPORT, 1982). Como essa identidade se entrelaça com a escolha
de papéis ocupacionais e a definição concreta de uma profissão, a maioria dos
autores concorda que ela é, em geral, formada na adolescência, época de
grandes transformações biopsicossociais para um sujeito que comumente está
em processo de inserção no mercado de trabalho.
Para o teórico do desenvolvimento Erikson, a formação da identidade se
configura, desde a infância até a idade adulta, em três áreas básicas de
definição, a saber, a identidade sexual, ideológica (político-religiosa) e
profissional. Segundo o autor, esta formação atinge um momento crítico na
adolescência, pois nesta fase do desenvolvimento o indivíduo deve fazer a
66
transição de uma identidade infantil, dependente, para uma adulta,
independente. Em conseqüência, Erikson define a existência de uma “crise
normativa da identidade na adolescência”, devido à confusão de papéis
experimentada pelo jovem, associada à pressão que a sociedade impõe pela
sua definição.
Em suas palavras, “a adolescência não é uma doença mas uma crise
normativa, isto é, uma fase normal de crescente conflito ... que poderá liquidar-
se por si só e até, de fato, contribuir para o processo de formação da
identidade” (ERIKSON, 1987).
ABERASTURY (1992), psicanalista contemporânea, define a existência de uma
“síndrome da adolescência normal”, ou seja, um estágio pseudopatológico pelo
qual passa todo adolescente “normal”, do qual um dos principais sintomas é a
busca de si mesmo e da identidade. Segundo Bohoslavsky (1987), a identidade
profissional se forma basicamente a partir da identificação do adolescente com
o grupo familiar, o grupo de pares e sua própria sexualidade. A família é
referência fundamental, seus valores e os papéis ocupacionais que
desempenham são bases significativas de orientação para o adolescente, tanto
como grupo positivo ou negativo de referência. Os grupos de pares, por sua
vez, influenciam de forma mais imperativa que a família, e sempre como
referência positiva. Por fim, as identificações sexuais influenciam a identidade
profissional, na medida em que os padrões culturais sobre o papel social de
homens e mulheres influenciam os gostos, interesses, atitudes e inclinações
dos adolescentes.
Por outro lado, é importante também atentar para as especificidades de parte
da população adolescente na realidade socioeconômica brasileira. Lisboa
(1997) afirma que em nosso contexto não se pode considerar que a totalidade
do grupo adolescente tenha como preocupação a escolha profissional,
porquanto a “grande maioria de nossa população jovem não só é compelida a
lançar-se no mundo do trabalho muito antes de concluir os estudos de segundo
grau, como interrompe seus estudos para trabalhar por necessidade de
67
sobrevivência sua e de sua família. ” Entretanto, de maneira geral ainda se
pode considerar que a formação da identidade profissional está na intersecção
com a identidade adolescente, quaisquer que sejam as circunstâncias sociais
em que o jovem estiver.
2.1.6- Auto-estima
A auto-estima está presente em tudo o que fazemos. Da entrevista para um
emprego ao pedido de desconto em uma loja, de uma conquista amorosa à
aceitação de novos desafios. No mundo competitivo em que vivemos tem
enorme valor de sobrevivência, sendo uma necessidade humana, essencial
para o desenvolvimento psicológico adequado.
A auto-estima relaciona-se ao auto-respeito, calcada sobre os sentimentos de
competência pessoal e de valor pessoal. Quando a auto-estima é elevada, o
sujeito sente-se adequado à vida, competente e merecedor. Ao contrário, na
baixa auto-estima sente-se errado como pessoa, inadequado à vida, podendo
apresentar sentimento de culpa, dúvidas e medos exagerados. Uma auto-
estima média pode apresentar oscilações, ou seja, existem momentos em que
o sujeito se sente mais adequado e em outros menos, o que é perfeitamente
normal.
A auto-estima pode ser profundamente abalada na adolescência,
principalmente quando a estrutura emocional do sujeito é mais frágil, tornando
mais difícil lidar com as mudanças. A adolescência caracteriza-se por
transformações orgânicas, emocionais, intelectuais e sociais inerentes ao
processo de desenvolvimento humano. Seu início é facilmente observado com
as primeiras transformações corporais, enquanto que o final, caracterizado
socialmente, ocorre de forma sutil, com a independência relativa, uma profissão
ou estudos superiores. As transformações do corpo geram intensa angústia no
jovem, porque não sabe como irá ficar e também pelas pressões da mídia
quanto ao "corpo ideal". É uma fase em que a auto-imagem modifica-se tanto
ou mais que o corpo, o que pode levar à queda da auto-estima. Se a queda do
68
rendimento escolar ocorre no início da adolescência, provavelmente, a causa
relaciona-se à aparência e às mudanças corporais.
A baixa auto-estima pode gerar da depressão ao uso de drogas, da anorexia e
bulimia à obesidade, da timidez ao medo do sucesso, do fracasso dos
relacionamentos ao insucesso acadêmico e profissional, enquanto que a auto-
estima elevada aumenta a perseverança diante de situações adversas. Mais
perseverança significa mais chance de reverter esta situação. Proporciona
maior otimismo e, por isso, mais perspectivas de sucesso.
Em um segundo momento, o jovem necessita pertencer a um mundo próprio,
com plena identificação junto ao grupo e seguir determinados líderes, não
representantes típicos do mundo adulto. É necessário ter vínculo com o grupo
para que, ao compartilhar suas idéias junto a amigos com características
semelhantes, possa romper com alguns valores de seus pais e sedimentar sua
própria identidade. A dificuldade nos relacionamentos é, muitas vezes, derivada
dos conflitos quanto à aparência. O jovem sente-se feio, desajeitado, muito
gordo ou muito magro, muito alto ou muito baixo – e, com isso, afasta-se do
grupo. O isolamento reforça ainda mais a crença de ser diferente ou
inadequado. Se a auto-estima estiver baixa, será mais difícil para o jovem dizer
"não" aos colegas, pois a necessidade de aprovação torna-o ainda mais
influenciável.
Ao final da adolescência, o sistema de valores dos adultos é incorporado e o
jovem está emocionalmente mais estável, buscando a independência
econômica e vínculos afetivos mais estreitos. Nessa fase predominam os
conflitos relacionados à escolha da profissão e à aquisição de maiores
responsabilidades. Dúvidas e medos com relação ao futuro, bem como o
sentimento de incapacidade, podem dificultar e até mesmo impedir que o jovem
consiga o sucesso profissional. Nessa fase, a auto-estima pode ser o
diferencial que o levará ou não a uma boa escolha profissional e ao sucesso.
Independentemente da fase, a baixa auto-estima leva a uma espécie de ciclo
vicioso, no qual o indivíduo tende ao fracasso e, ao esperar pelo pior, faz com
69
que isso ocorra. A cada novo fracasso reforça a idéia de incapacidade ou
inadequação, alimentando o ciclo.
A sucessão de experiências dolorosas, como as frustrações e os conflitos
psíquicos não elaborados, leva à necessidade de encobri-los para diminuir a
tensão e a ansiedade. Entram em cena os mecanismos de defesa, que são
processos mentais inconscientes para aliviar a ansiedade ou outras formas de
tensão, em geral oriundas de frustrações. O mais comuns são: negação,
racionalização, generalização, fantasia, defesa maníaca, identificação,
projeção, deslocamento e regressão.
2.1.7- Período de escolha profissional
O período de adolescência compreende dos 11 aos 21 anos. É um momento de
crise, de transição entre a infância e o mundo adulto, adaptação e ajustamento,
vividos de forma intensa e, muitas vezes, conflituosa. É um período de verdades
absolutas e grandes compromissos. É a fase em que o indivíduo molda a sua
personalidade, que o acompanha durante toda a vida. É quando se procura a verdade
em tudo: em pensamentos e atitudes.
Amplia-se o horizonte, aprende-se coisas diferentes, desenvolve-se novas formas de
pensar e valores são postos em dúvida. E, de repente, percebe-se que existem
muitos caminhos além dos adotados pela família.
Passa-se, então, a questionar o que se pode fazer, que necessidades e que
interesses existem. Inicia-se uma busca do novo quanto à significados, ídolos, ideais;
uma busca de si mesmo com o objetivo de se auto-afirmar e conscientizar-se da sua
diferença em relação ao outro. Enfim, as mudanças físicas, cognitivas, afetivas e
sociais típicas desta fase levam o adolescente a reestruturar sua identidade pessoal e
a reconhecer sua identidade profissional.
Para Erikson, dos 13 aos 18 anos a qualidade do ego a ser desenvolvida é a identidade,
sendo a principal tarefa adaptar o sentido do eu às mudanças físicas da puberdade, além
70
de desenvolver uma identidade sexual madura, buscar novos valores e fazer uma escolha
profissional. Para Bohoslavsky, é na adolescência, especificamente entre os 15 e 19 anos
aproximadamente, que emergem as dificuldades e soluções de natureza vocacional,
delineando-se com mais clareza, os conflitos profissionais. "Todas as dúvidas do jovem a
respeito de quem quer ser obedecem a identificações que ainda não se integraram".
(BOHOSLAVSKY, 1993)
Segundo Bohoslavsky (1998), o processo de Orientação Vocacional não leva a uma
identidade profissional, isto ocorre muitos anos depois. A conquista da identidade
ocupacional passa por três etapas: escolha fantasista, tentativa de escolha e escolha
realista.
Ronald Pagnoncelli de Souza coloca que devemos lembrar que, em função das
reformas do ensino, a maioria dos jovens presta exame e ingressa na Universidade
com 16 ou 17 anos de idade. Encontram-se em plena adolescência, ainda imaturos
psicologicamente; alguns também do ponto de vista do amadurecimento físico. “...o
jovem entra, hoje, com pouca idade na Universidade e por esse motivo a maioria mal
sabe de suas reais tendências vocacionais. “ (PAGNONCELLI, 1996)
Num momento de tantas dificuldades, a sociedade espera que o jovem exerça seu
direito e dever de realizar algo muito significativo e importante em sua vida: escolher
um curso e/ou uma profissão. Observe-se ainda, como fator agravante, que tal
escolha geralmente é considerada como algo para o resto da vida.
Priscila do Amaral, Psicanalista, Terapeuta de Regressão filiada à Sociedade
Brasileira de Psicanálise Integrativa, Mestre em Ciências pela USP diz que é
importante notar que outras variáveis contribuem para tal distorção, como o fato do
Brasil exigir cedo demais - entre os 17 e 18 anos - uma definição profissional por
parte dos jovens. Nos EUA, por exemplo, geralmente só após completar 20 anos é
que o estudante necessita estar com seus rumos profissionais estabelecidos.
Em entrevista ao site Conversa Fiada, Silvio Bock diz que dizer que um jovem de 16 a
18 anos está preparado para escolher uma profissão para a vida toda, significa
cometermos o crime de dizer para este jovem que a sua decisão nunca mais poderá
ser modificada. É evidente que uma das funções da Orientação Vocacional é fazer
71
com que o aluno identifique claramente seus desejos e, assim, faça a escolha
acertada. Mas, numa sociedade minimamente equilibrada, é preciso dar chances para
a recuperação.
Os caminhos podem ser corrigidos e é ótimo que seja assim. No que diz respeito à
idade, a questão é simples: o ideal seria que todos pudessem escolher o caminho
profissional com a com a experiência de quem tem 65 anos, mas aí já é hora de se
aposentar. “ O jovem tem, sim, condições de fazer uma boa opção. Uma coisa é
certa: a escolha sempre será algo difícil. Escolher é um ato de coragem. Significa ter
de optar por uma entre duas ou mais alternativas atraentes. Costumo dizer que
pensar em profissão significa esboçar um projeto de vida.” (BOCK, SITE CONVERSA
FIADA)
2.2 - A ciência explica o “aborrescente”
2.2.1 - Mudanças
2.2.1.1 - Físicas
Nesta fase, as alterações se processam devido ao grande volume dos
hormônios : estrogênio, em garotas e testosterona, em garotos que são
lançados pela hipófise na corrente sangüínea.
São estes hormônios os principais responsáveis pelo nascimento de pêlos:
tanto no púbis e nas axilas, em ambos os sexos, como na face e no tórax nos
rapazes; pelo surgimento dos seios nas meninas, pelas mudanças na voz,
assim como alterações às vezes menos significativas na pele, nos cabelos. Há
ainda as mudanças na estatura, no peso corpóreo e outras também
consideráveis, como as mudanças de humor, causadas pelas alterações
hormonais.
72
Diante de tantas modificações, o jovem passa por um período de estranheza a
seu próprio corpo, sendo comum, especialmente nos rapazes, que eles se
tornem estabanados, desajeitados, pois não estão ainda acostumados com sua
nova força física, com o tamanho de suas mãos e pés. É comum que deixem
cair coisas, que esbarrem em tudo ou todos com facilidade, que tropecem e
quebrem objetos. Além disso, é muito mais aceito socialmente e, às vezes, até
reforçado que o rapaz tenha atitudes grosseiras, desastrosas.
As moças, em geral, quer por razões hormonais quer por incentivo social, ou
por ambos, são mais delicadas, mais sensíveis, emocionam-se e choram com
mais facilidade. A diferenciação entre os sexos se estabelece, não apenas em
função do orgânico, mas também e muito pelo que é aprovado e reforçado
socialmente.
Nesta época também acontece o aumento do interesse pelo sexo oposto ou o
despertar da sexualidade. Em suma, é um período de profundas e intensas
transformações. Em relação a todas essas mudanças, autores ligados à
corrente psicanalítica, tais como Erikson, escrevem que o jovem tem de
“elaborar a perda pelo corpo infantil”, visto que as transformações corporais
têm uma forte repercussão psíquica.
2.2.1.2 - Afetivas e psíquicas
As alterações físicas refletem-se nas relações de afeto, impregnando
mudanças psíquicas. Nesta fase de mudanças, geralmente, começa a haver
uma relação diferenciada com os pais que já não apresentam mais o grau de
importância que antes tinham. É o que se denomina o luto pela relação infantil
com os pais. Estes, que antes ocupavam o mais importante lugar no afeto da
criança e eram considerados heróis, ídolos, passam a um segundo plano: o
jovem percebe que os pais não sabem tudo como antes ele imaginava. Há uma
significativa alteração na relação afetiva e de valores. O grupo de iguais ou
grupo de pares (colegas, amigos) passa a ocupar lugar central na vida e no
73
afeto dos jovens e são os valores por eles expressos que passam a orientá-los,
servindo-lhes como referência.
2.2.1.3 - Valores pessoais e sociais
Parece claro que, diante de tudo o que foi descrito até agora, também ocorrem
mudanças nos valores pessoais e sociais.
O jovem não apenas já possui maior domínio de conhecimentos, como revê os
que possuía anteriormente. Ele tem agora novo foco, nova maneira de
entender e de perceber a realidade, analisando-a sob seu modo pessoal de
ver.Os valores familiares são normalmente questionados, às vezes
deliberadamente rejeitados, numa forma de contestação e tentativa de marcar
sua individualização. Nota-se que, no entanto, este mecanismo de oposição
não significa, necessariamente, um repúdio ao sistema de valores dos pais.
É como se fosse necessário contestar, protestar, para marcar a diferença; mas
o jovem sabe, ainda que não conscientemente que somente na família
encontrará espaço para fazer suas “birras” e continuar sendo querido e aceito.
Mesmo que haja desentendimentos, que as brigas com os pais aconteçam, ele
sabe que sempre haverá a possibilidade da aceitação. Neste período, diante do
que pode ocorrer, nota-se a importância de uma relação afetiva sólida,
anteriormente construída.
74
2.2.2 - O cérebro em formação
Sempre se pensou que a atitude briguente dos jovens fosse culpa do vulcão de
hormônios colocado em ebulição pelo processo de crescimento. Ou da angústia
existencial própria de uma época de transição. Há agora uma nova explicação: o
que se passa com os adolescentes é, por assim dizer, conseqüência do que se
passa na cabeça deles. A juventude nem se ajustou direito às mudanças
causadas em seu corpo pela puberdade e o cérebro também começa a mudar.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que ao chegar à adolescência o cérebro já
estivesse completamente formado. Pesquisas recentes revelam que, ao contrário,
nessa fase se inicia um processo de rearranjo dos neurônios tão intenso como
aquele que aconteceu nos primeiros anos da infância. As áreas onde ocorrem as
maiores transformações são justamente aquelas ligadas às emoções, ao
discernimento e ao autocontrole. Essa é uma boa explicação científica para o
comportamento tão impulsivo e temperamental dos jovens. "Algumas áreas da
estrutura cerebral só vão estar inteiramente maduras depois dos 20 anos", diz o
psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro.
Região Parietal
Responsável pela atenção e noção
de espaço
Atinge a maturidade aos 16 anos
Região Frontal
Responsável pelo autocontrole, pela capacidade
de discernimento e pelo humor
Atinge a maturidade aos 20 anos
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Durante a adolescência, dois fenômenos acontecem no cérebro. Surgem novas
conexões entre os neurônios e as sinapses. Algumas áreas passam por
grandes mudanças estruturais. A mais significativa acontece nos lobos frontais,
área responsável pelo autocontrole e pelo senso de organização e de
planejamento. Ocorre uma espécie de “faxina” nas sinapses feitas entre os
neurônios durante toda a infância. No decorrer do processo, a região dá uma
encolhida, num fenômeno conhecido entre os especialistas como "poda". "É
como se o cérebro sentisse, por volta da puberdade, que as velhas conexões
são inúteis e que há necessidade de abrir espaço para outras, muito mais
importantes, a serem feitas na idade adulta", explica o psiquiatra Jorge Alberto
da Costa e Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Outras partes
do cérebro estão “a mil”. Uma delas é o sistema límbico, centro de
processamento das emoções, como a raiva, que trabalha de forma exuberante.
Sistema Límbico
Responsável pelas emoções, como a
raiva
Atinge a maturidade aos 20 anos
Região Temporal
Responsável pela memória
Atinge a maturidade aos 16 anos
A imaturidade de certas áreas talvez explique por que as regiões do cérebro
usadas pelos adolescentes são diferentes das utilizadas pelos adultos para as
mesmas tarefas. Não se conhece muito bem o mecanismo, mas estudos
mostram que os jovens podem interpretar certas coisas diversamente dos
adultos, uma expressão facial de medo pode ser confundida com escárnio, por
exemplo. Na adolescência, o cérebro desenvolve a capacidade de planejar,
organizar, controlar as emoções, entender os outros, fazer julgamentos e até
decifrar a lógica matemática. O cérebro está completamente aberto a novos
conhecimentos.
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2.2.3 - A influência dos hormônios
“ O que determina o comportamento feminino é o estrogênio, hormônio
secretado pelos ovários; o responsável pelo comportamento masculino é a
testosterona, hormônio produzido pelos testículos.O estrogênio é um hormônio
de ligação e de ajuda mútua, estimula a compartilhar problemas e soluções. A
testosterona é um hormônio, de “ brigação “ e expulsão.O estrogênio
transborda afeto para o universo enquanto que a testosterona provoca mal
humor e afastamento. Definem-se assim, dois modos de ser: o feminino e o
masculino. “ (TIBA, 1998)
2.2.4 - Escolha profissional - fator de saúde
A máxima com que a nova ciência opera é: o todo é mais que a soma de suas
partes.
É a perspectiva de entender o processo de escolha profissional. Não somos
um braço, uma cabeça, etc. e sim todos eles funcionando harmonicamente.
Somos também sentimentos e ações o que faz com que a harmonia, que pode
ser entendida como saúde, poder ficar comprometida. Saúde é um estado de
bem-estar, uma experiência em que mente, corpo e cultura não estão
separados.
O homem faz parte da natureza e não está aqui para dominá-la, como nos faz
crer a visão cartesiana. Precisamos pensar-nos como parte do sistema
ecológico do mundo, que não considera o universo uma máquina, mas que vive
e sobrevive através de inter-relações e interdependência. A natureza não se
constitui somente de estímulos mas também em função de processos
dinâmicos subjacentes.
77
A definição de saúde é uma experiência de bem-estar resultante de um
equilíbrio dinâmico que envolve o psicológico do organismo, assim como suas
interações com o meio ambiente natural e social.
Há uma relação direta entre o sistema de criação do universo e sua réplica no
sistema humano. Somos, portanto, um micro-sistema em toda a sua grandeza.
Com essa visão, pensar a saúde do homem e seu bem-estar, é pensar suas
escolhas, já que elas terão reflexo nos demais sistemas.
O organismo costuma funcionar em desarmonia, por isso, o sistema emite
avisos de que as coisas não estão bem e o estresse apresenta sinais como
forma de reequilibrar-se novamente.
O estresse é, portanto, um desequilíbrio do organismo em resposta a
influências ambientais. A interação contínua com o meio ambiente, entre o
mundo subjetivo e o mundo objetivo, passa por momentos de estresse
temporário até a adaptação à situações e circunstâncias, seja para aceitar ou
agir sobre ela. Ou o indivíduo adoece ou enfrenta uma crise, que tende-se a
encarar como uma tragédia e não como uma forma de crescimento.
Uma escolha profissional leva a um estado de menos saúde, menos bem-estar.
Ela assume, momentaneamente, um lugar significativo na decisão a ser
tomada, em termos de futuro, um investimento na saúde pessoal, na prevenção
de estados desarmoniosos.
Os passos necessários para iniciar a cura seriam, portanto: o reconhecimento,
pelas pessoas, de que elas participam, consciente ou inconscientemente, da
origem e do processo de sua doença, e que, também podem participar de sua
cura; as atitudes mentais e as técnicas psicológicas e pedagógicas são
importantes meios para a prevenção e a cura; a vontade da pessoa de ficar
bem e a confiança no tratamento, no aconselhamento ou orientação
profissional são aspectos cruciais.
É exatamente neste ponto que coloca-se a questão da escolha profissional.
Há, no mínimo, dois momentos: na adolescência e em algum momento na vida
em que o indivíduo percebe a inadequação da escolha profissional.
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É através do trabalho que o homem se liberta de seus limites,
condicionamentos e fragilidades. Para isso, reflete e trabalha sua vontade, sua
inteligência, sua imaginação e criatividade. O homem é um ser social e o
sentido do que faz, amplia na integração com os outros, portanto, se expressa
na medida em que serve aos outros, em que é útil à sociedade. Este
sentimento de pertencer, dá ao indivíduo uma identidade e a sensação de
unidade com a humanidade, “o todo é mais que a soma das partes “.
2.3 – O processo de escolha
"De acordo com os preceitos da sociedade, a realização profissional está ligada ao bem
estar financeiro. Acho que não é só isso."
"Quando a gente faz com amor, surge a oportunidade e a gente acaba se dando bem.”
"Você pode ter seu ideal, mas ninguém age assim. Abrir mão da questão financeira é difícil".
"O que eu quero ?...Fica uma dúvida."
"Como vou escolher um curso se eu nem quero fazer vestibular?"
2.3.1 – As diferentes escolhas
O cotidiano é cercado por escolhas. Independente de raça, credo ou cultura de
origem a todomomento a humanidade está envolvida por situações que exigem
um posicionamento individual, que necessitam da tomada de uma atitude em
detrimento de outra.
E quando se escolhe, não se faz ao mero acaso, mas baseia-se nas
percepções e nos valores que possui-se internalizados e transmitidos através
das trocas sociais estabelecidas com o contexto ao qual se é parte integrante,
no caso dos adolescentes: a família, os amigos(as), professores(as), namorado
(a). Diante de determinadas etapas do desenvolvimento humano a
necessidade de escolher se torna mais complexa e fundamental, além de ser
79
acompanhada por uma série de desejos externos ao indivíduo, que muitas
vezes são contrários aos seus próprios.
Assim pode ser na escolha profissional, na decisão de casar-se, ter filhos ou
mudar de país em busca de melhores condições de vida. Muitas vezes, até
mesmo na maioria delas, optar por um caminho implica em sacrificar um outro,
pois não podendo ocupar dois lugares no espaço ao mesmo tempo. O
indivíduo decide aquele que mais lhe traz significado ou aquele que mais lhe
seduz, e aí que deve precaver-se contra os jogos das estruturas de poder que
tentam lhe conduzir a vida, papel largamente desempenhado pela família. Há
ainda quem escolha não escolher, mas a própria frase já atesta que a não
escolha é uma escolha, pois existe a decisão de não expressar a
individualidade, de deixar que outros assumam para si essa responsabilidade.
A questão “escolher” não é para muitas pessoas sinônimo de liberdade, pois
existem vários indivíduos que não conseguem efetuá-la, por estarem sempre
envoltos pelas decisões dos outros, ou por nunca terem oportunidade concreta
para tal, ou ainda por não sentirem-se seguros.
Pensando a um nível mais profundo, até que ponto nossas escolhas não estão
contaminadas pela realidade histórica e cultural do momento?
Na época em que vivemos tudo é ditado pela mídia: que roupa usar, o que
comer, que corpo ter. Eu escolho livremente exercer uma profissão ou apenas
sigo um padrão? Escolho o que é bom para mim, ou o que a sociedade diz que
é esperado dos seus cidadãos? Com certeza há muitas expectativas
permeando as escolhas e alterando os rumos da existência.
2.3.2 – A escolha profissional
A escolha profissional torna-se mais complexa por não se tratar de uma
escolha momentânea, assim como quando para obter uma satisfação imediata
do desejo, por exemplo, decidir se vai sair de bota ou de tênis, onde já existe
bem formulada uma prévia finalidade, mas consiste em uma decisão que irá
80
lançar a um projeto de futuro, acompanhado por um definitivo adeus à infância
e pela consciência de estar com um “ pé “ na vida adulta.
Em meio a tantas opções, o estudante deve ficar atento a algumas armadilhas.
A primeira delas é acreditar que cursar uma boa faculdade vai livrá-lo do
desemprego e assegurar o sucesso profissional. Uma boa escola pode até
abrir portas no início da carreira, mas vale lembrar que existem muitos
profissionais em altos cargos nas empresas que não vieram de cursos de
primeira linha. Para os especialistas em Recursos Humanos, o sucesso numa
profissão depende de 30% de conhecimento e 70% de atitude. (REVISTA
VEJA, 2003)
Da mesma forma, decidir-se por uma carreira apenas porque ela está em alta
no mercado normalmente é o caminho mais rápido para o abandono de uma
profissão. "Quem não leva em conta sua afinidade com uma carreira ao fazer
uma escolha fatalmente desistirá dela quando a oferta de trabalho cair", afirma
a psicóloga Renata Mello, da equipe de orientação profissional do Centro de
Integração Empresa Escola (CIEE), de São Paulo. O cuidado deve ser
redobrado em carreiras com um campo de atuação restrito e que não
possibilitam ao estudante mudar facilmente de área de trabalho, como
oceanografia, odontologia e telecomunicações. O jovem que já se decidiu por
uma carreira não deve desistir dela por causa do temor do desemprego,
fantasma que ronda todas as profissões. "Quem faz a escolha certa tem mais
autoconfiança, sobressai e chega ao sucesso", diz Renata Mello, do CIEE.
(REVISTA VEJA, 2003)
Segundo FERRETTI (1997), as condições de escolha implicam em : qualidade;
estar informado e dominar alguma metodologia de escolha e possibilidade;
dispor de alternativas e autonomia.
Segundo o pedagogo Sílvio Bock, ,a escolha profissional pode, de fato, ser
dolorosa e cansativa para o vestibulando. “Se, no entanto, ele se debruçar
sobre a questão, buscando entender o mundo em que vive e se informando
sobre as profissões, sem dúvida poderá tomar uma decisão de melhor
qualidade.” É importante conversar com pessoas mais experientes, que
trabalhem em ocupações distintas. (BOCK, 2002)
81
A escolha profissional não é necessariamente definitiva, pois a mudança é
constante companheira do homem e ele é capaz de satisfazer-se
desenvolvendo suas potencialidades em inúmeras atividades.
Nenhum indivíduo está condenado a perpetuar sua existência sobre um
determinado fim, por isso constitui-se em ser livre, pela possibilidade de fazer
escolhas e também alterá-las se assim desejar. A escolha livre, consciente e
segura acerca da profissão é fundamental, pois através dela o sujeito será
capaz de desenvolver suas aptidões, dar fluxo a sua criatividade, realizar-se
enquanto estiver realizando e obter junto a isso reconhecimento social e
pessoal.
A psicóloga e administradora de empresas Elaine Saad, sócia-diretora da
Right-Saad Fellipelli, uma das principais empresas especializadas em
recolocação profissional da cidade de São Paulo, chama a atenção para outro
ponto. “O importante, para o jovem, é escolher a profissão com a qual se
identifica, sem pensar, pelo menos num primeiro momento, em mercado ou
dinheiro”, diz. “Depois da escolha, vem o segundo passo: encontrar colocação
no mercado de trabalho. Nesse momento, sim, é conveniente verificar os
setores que estão em alta.” Especialista em planejamento de carreira, ela
explica que, além das habilidades técnicas próprias da profissão que escolheu,
o jovem, para se realizar, necessita de certas competências. “Flexibilidade,
liderança e facilidade de relacionamento são indispensáveis”.. (REVISTA
VEJA, 2003)
Mesmo com tantos desníveis e encruzilhadas, existe um ponto inquestionável,
em torno do qual os especialistas parecem concordar: a grande pergunta do
jovem não deve versar sobre se ele deve seguir a profissão de biólogo, de
estatístico ou de cientista social. O importante, todos parecem concordar, é o
projeto de vida que ele tem. “O adolescente não pode escolher uma carreira
para satisfazer um sonho não realizado dos pais ou pelo mero desejo de
ampliar a conta bancária”, conclui a psicóloga Norma Garbulho. “Afinal, a
existência é única e deve ser vivida de forma plena.” (REVISTA VEJA, 2003)
O que o jovem define como sua atuação e participação social reproduzirá o seu
papel social quanto ao seu futuro profissional, assim, faz-se necessário
82
observar o caminho da construção desse papel social para que futuramente o
jovem universitário não apresente dúvidas sobre o que fazer com seu
conhecimento socialmente, imaturidade quanto a participação social da sua
profissão, e integração com um ideal de trabalho/ produção do sistema
capitalista.
2.3.3 – Fatores de influência na escolha
Todas os jovens e adultos são influenciados pelos mais diversos fatores na
hora de realizar sua escolha profissional. Os fatores econômicos, regionais,
sociais, educacionais, políticos, psicológicos exercem influência na escolha e
são, facilmente percebidos, pelo menos em teoria.
Mas até mesmo as atividades de lazer que o jovem e o adulto realizam podem
estar exercendo alguma influência na escolha profissional. Em uma pesquisa
realizada por estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina, com estudantes do mesmo curso, foi constatado que estes
estudantes têm como hobbies atividades com grande contato social. Estes
estudantes percebem nesta profissão a possibilidade de constante e freqüente
contato social, estabelecendo uma relação entre atividades de lazer desta
natureza e seu futuro profissional.
São muitos fatores, portanto, que podem estar influenciando na escolha da
profissão. É importante ao jovem e ao adulto que estão passando pelo
processo da escolha ou re-escolha, a reflexão dos possíveis fatores que estão
interferindo na mesma. Uma vez percebidas estas influências, as mesmas
podem ser melhor controladas, alteradas e até mesmo extintas.
Os fatores políticos podem ser resumidos no fato da educação estar atrelada a
política dominante. Dessa forma, não é interessante para o governo ter toda a
sua população crítica, consciente dos seus direitos, efetivamente constituída de
cidadãos.
83
Dessa forma, a educação é deficitária e, muitas vezes, menosprezada. Assim,
apesar de, nos dias de hoje, existirem algumas boas iniciativas em termos de
educação pública, esta não é a regra. Na verdade, o país vive um período de
insegurança quanto ao futuro da educação. Pode-se, inclusive, questionar se
daqui há alguns anos teremos universidades públicas e gratuitas.
Pensando no sistema educacional, percebe-se uma série de falhas. A
formação de grande parte dos professores é deficitária, formam-se neste
sistema que apenas repassa conhecimentos, menosprezando a capacidade
criativa dos alunos ; aprendendo assim, é dessa forma que irá ensinar.
Os currículos aprendidos em sala de aula estão muito distantes de ter alguma
aplicação prática no cotidiano. Dessa forma, os estudantes não conseguem
entender por que aprendem uma série de conteúdos , na verdade não há
integração da escola com a vida fora dos seus portões. A nível de Ensino
Médio, todas as atenções voltam-se para o vestibular, especializando-se na
“arte de preparar” e esquecendo de todas as informações e conceitos que são
importantes para a vida do aluno enquanto indivíduo, simplesmente porque não
“cai ” no vestibular.
A política econômica vigente no país também influencia a decisão,ou a não
opção, por uma profissão. Até a década de 70, o diploma de um curso superior
era garantia de um emprego.
Da mesma forma, os salários, para aqueles que ainda mantém seus empregos,
estão cada vez mais achatados. Os filhos da classe média que, até poucos
anos atrás freqüentavam escolas particulares e cursos de inglês, estão indo
para a escola pública. Assim, estes jovens, quando conseguem chegar a uma
universidade, têm que trabalhar para custear os seus estudos, muitas vezes
fazendo alguma coisa que nada tem a ver com a profissão por eles escolhida.
O meio social no qual a pessoa está inserida também contribui para a sua
escolha. O meio tem expectativas quanto ao futuro profissional do jovem,
dessa forma, há cursos que, em determinados grupos, têm status, como
84
medicina, direito, engenharias. São, assim, os cursos mais procurados dentro
de uma certa população de vestibulandos. Da mesma forma, fazer ou não um
vestibular, freqüentar ou não uma faculdade, depende da valorização que isto
tenha dentro do grupo de convívio social. Um pai pedreiro, por exemplo, pode
preferir que o filho vá, desde cedo, trabalhar com ele para aprender seu ofício,
ou sonhar que o filho estude em um curso técnico de edificações.
Finalmente, os determinantes psicológicos. Para escolher uma profissão, é
importante que se leve em consideração o que se gosta ou não, quais as
ambições, aonde se sente melhor, qual é o projeto de vida. Nem sempre é fácil
para o jovem ter clareza destes pontos, nem sempre tem a maturidade
suficiente para escolher baseado em suas preferências, já que ele ainda não se
conhece muito bem. Portanto, é de extrema importância que seja oferecido ao
jovem ou adulto a possibilidade de um processo de auto-conhecimento.
2.3.3.1 – Influências dos pais
"Uma desilusão que nos coloca diante de nossa condição: somos humanos, somos mortais,
somos solitários, somos incompletos. Mas, uma vez aceitas as determinações fundamentais da
condição humana, uma vez rompidos com os domínios da fantasia, se abrem para nós as
possibilidades infinitas do domínio das paixões: nem a onipotência, nem a submissão, mas a conquista
do território humano. O mais vasto território por onde o desejo pode se mover."
Kehl
.
WINNICOTT (1997) ressalta a importância do ambiente e da família, sendo que
em muitas situações há necessidade de intervenção de um profissional devido
às más condições ambientais e que por trás dos comportamentos anti-sociais
estão a carência e a privação. Os adolescentes estão entre a rebeldia e a
dependência e não aceitam falsas soluções. Alerta para o fato da adolescência,
85
em nossa sociedade, ser tratada como se fosse um problema, mas é um
processo sadio que levará à vida adulta.
A escolha da profissão envolve fatores pessoais, culturais e sociais, definido
pelo meio sócio-econômico em que o sujeito está envolvido. Leva-se em conta
as aptidões e necessidades de cada um, mas também aspectos do meio, seja
ele restrito, meio familiar, ou mais amplo, como a sociedade em geral.
Atualmente as exigências, no que tange a esta decisão, estão aumentando
assustadoramente.
A família acaba muitas vezes desempenhando um papel de maior expectativa
e, sendo assim é quase impossível que o adolescente não se sinta cobrado. Há
duas situações diferentes entre si e corriqueiras a serem concebidas aqui. Por
um lado são anos de investimento emocional e perspectiva por parte da família.
Quem nunca ouviu falar ou mesmo presenciou o pai dizendo aos amigos qual
seria o futuro profissional do filho recém nascido, como “vai ser jogador de
futebol” ou “médico” ou “dentista”. Nesse sentido, é um fardo que o jovem
carrega e abdicar esta escolha imposta significa frustrar a família,
especialmente quando os próprios pais não tiveram meios propícios para
seguir tal profissão e então projetam seus desejos no filho como se fossem
dele.
Expectativas quanto a sua felicidade, sua saúde e seu futuro profissional. Inúmeros pais
já imaginam para o seu bebê seu futuro como médico, seguindo a profissão do pai ou do
avô. Muitas vezes o jovem escolhe uma profissão para encontrar o seu lugar dentro da
família, para ser mais querido ou aceito. Outras vezes, os pais tentam influenciar para
que os filhos escolham a profissão que queriam para si, mas, por algum motivo, não
puderam fazer ou concluir o curso ou exercer a profissão. A posição do filho na família
interfere no fato de cumprir ou não as expectativas nele depositadas. Geralmente os
mais velhos tendem a cumprir, aos mais novos recai a responsabilidade de fazer o que
os outros não fizeram, o do meio é mais livre de interferências. O filho único,
geralmente carrega sobre si todas as expectativas dos pais. Os jovens nem sempre têm
consciência destas influências, fazendo, assim, uma escolha contaminada.
Outra situação um pouco diferente é a “hierarquia na profissão” se é que se
86
pode chamar assim, o filho será o reflexo do pai ou da mãe ou qualquer que
seja a figura aparentemente identificatória na família.
Passa a haver uma cultura familiar, principalmente quando há irmãos que
também seguiram a mesma profissão e assim, seguir um caminho diferente
seria ser diferente e, conseqüentemente, ocorre a fantasia e algumas vezes a
realidade de ser excluído.
Às vezes, os pais tem dificuldade em perceber que seus filhos crescem rumo a
autonomia. O que os pais podem fazer é tentar transmitir suas experiências e
vivências. O momento de escolha de uma profissão por parte de um membro
mexe com toda a família. Os pais revivem e se questionam quanto as escolhas
que fizeram, os filhos mais jovens antecipam preocupações. A dinâmica
familiar e de relacionamento que foi construída por longos anos no momento da
escolha, muitas vezes se desequilibra.
A escolha profissional é um momento da vida do jovem em que ele poderá
resignificar expectativas e construir seu próprios valores que podem ou não
ser coincidentes com os da família. Os pais devem explicitar suas expectativas
e não escondê-las a título de não influenciar, preferencialmente de forma não
autoritária, para que o jovem tenha mais parâmetros para tomar esta
importante decisão. A escolha poderá ou não respeitar as expectativas, mas o
importante é que foi dado ao jovem mais elementos para pensar na sua
decisão.
Por mais difícil que seja, os pais precisam perceber que agora é a vez dos
filhos escolherem seu curso, e sua futura profissão. Isso não impede o diálogo
constante, em que os pais estarão interagindo com as idéias e sentimentos dos
filhos. Os pais costumam ter muitas dúvidas sobre como ajudar seus filhos.
Imaginam, por exemplo, que deveriam se manter afastados para não
influenciar a escolha, entretanto, essa atitude pode fazer com que o jovem se
sinta muito solitário para elaborar seus planos.
87
Algumas vezes, os pais sentem que conhecem tão bem seu filho, suas
habilidades e seus limites, que se julgam em condições de saber o que seria
melhor para ele. Este é um engano comum. Os pais, encontram dificuldade em
se livrarem dos preconceitos ou idéias distorcidas sobre as profissões, quando
um filho vem pedir uma opinião ou informação.
A reflexão e a compreensão sobre a influência explícita ou implícita que o
contexto familiar tem no desenvolvimento profissional dos adolescentes e
jovens é importante pois deve-se analisar algumas variáveis do contexto
familiar como: coesão e expressividade, conflito, orientação intelectual/cultural
e recreativa, orientação para o sucesso, ênfase religiosa e organização e
controle.
Pode parecer à primeira vista um beco sem saída, contudo um início para a
saída deste impasse seria o estabelecimento de uma comunicação clara e
franca nas duas vias. É preciso separar as fantasias do adolescente em
relação à sua convivência familiar e o que de fato ocorre ou pode ocorrer.
Também é imprescindível o entendimento da família de que o filho tem
individualidade e identidade própria e que é diferente da sua. É preciso lidar
com a frustração e limites familiar, deixando claro que a criança está se
tornando adulta, e que por isso deve tomar suas próprias decisões com base
nas suas afinidades.
“ ... O que foi dado ao indivíduo como bom e valioso, quer pelos pais, pela Igreja, pelo Estado
ou pelos partidos políticos, tende a ser questionado. Os comportamentos ou modos de vida que se
provaram satisfatórios e plenos de sentido tendem a ser reforçados... Assim o indivíduo passa a viver
cada vez mais segundo um conjunto de normas que têm uma base interna, pessoal... Não são
esculpidas na pedra mas escritas por um coração humano. “ Carl Rogers
88
2.4 - Ensino Médio e Vestibular
Quando se chega ao Ensino Médio, mais especificamente no terceiro ano,
além de se preocuparem com as provas e com o vestibular, os adolescentes se
deparam com uma questão ainda mais importante: que profissão deve
escolher. Desde crianças, as pessoas vão sendo influenciadas, mesmo sem
perceber, pela família, pelos amigos, pela televisão, internet, acerca da
profissão que devem seguir quando adultos.
Até a chegada ao Ensino Médio, no entanto, este assunto não é conversado,
trabalhado, com a maioria dos adolescentes, e eles acabam tendo que
escolher sozinhos, muitas vezes sem informações necessárias para uma
escolha adequada.
Por outro lado, existem muitos candidatos a uma vaga na universidade, que se
preocupam muito mais com “passar ou não passar” no vestibular e com os
quatro ou cinco anos de faculdade do que com a escolha e a futura prática da
profissão escolhida.
Em 1998, a então presidente do INEP, Maria Helena Guimarães de Castro, fez
uma análise sobre o Ensino Médio e o acesso ao Ensino Superior. No período
de 1990 a 1997, a matrícula do Ensino Médio cresceu 82%. Nesse período, o
número de matrículas praticamente dobrou: em 1990, havia cerca de 3,5
milhões de alunos matriculados no Ensino Médio, contra 6,4 milhões em 1997.
O número de concluintes também cresceu na mesma proporção: em 1990, o
total foi de 658 mil, contra 1 milhão e 163 mil em 1996. Isto quer dizer que, em
apenas sete anos, o número de concluintes deste nível de Ensino Médio quase
dobrou, aumentando a demanda por vagas no Ensino Superior e, também, em
cursos pós-secundários.
Este movimento de rápida expansão do Ensino Médio se explica, obviamente,
como o resultado da dinâmica sócio-econômica do País, que aponta para um
processo de grande mobilidade educacional. Mas há também fatores intra-
sistêmicos que certamente contribuíram para a expansão do Ensino Médio,
como a melhoria da efetividade do Ensino Fundamental, sobretudo a partir do
89
final dos anos 80, quando se observou o significativo crescimento do número
de concluintes da 8ª série.
O aumento acentuado da matrícula do Ensino Médio, nos últimos anos, reflete,
sobretudo as novas necessidades do mercado no contexto das profundas
mudanças no processo de trabalho, sob a mira das pressões estimuladas pelas
inovações tecnológicas e a intensa reestruturação do setor produtivo.
Cabe acrescentar ainda, que, ano após ano, o mercado de trabalho torna-se
mais seletivo, exigindo a formação secundária como escolaridade mínima para
os candidatos a um emprego, independentemente da função a ser exercida, o
que estimula a procura por vagas nas escolas de nível médio.
Nesta época, a presidente do INEP já estava preocupada com a questão: “está
o Ensino Médio cumprindo seus objetivos, formando os cidadãos conscientes
para os desafios da vida e do mercado de trabalho?”.
Esta reflexão, nos dias de hoje, ainda faz-se presente, pois o que se verifica é
o “inchaço” no Ensino Superior e a falta de emprego para o jovem que termina
o Ensino Médio.
O Ensino Médio é visto apenas como uma continuação do Ensino
Fundamental, a escola continua sendo um espaço somente para aprender para
o vestibular. O Ensino Médio, também deveria ser um espaço para se discutir
sobre o trabalho, profissões, ansiedades em relação à escolha profissional,
entre outras coisas. As escolas ainda ampliam a ansiedade dos adolescentes
nos “terceirões” com discussões que giram somente em torno da relação
candidato-vaga, número de pontos do último colocado no vestibular, etc. Há
uma necessidade urgente de uma mudança de procedimentos no Ensino
Médio do Brasil que possibilite um encaminhamento profissional.
Sem este encaminhamento, que deveria ser atribuição do Ensino Médio, os
jovens, que já têm muitas dúvidas, ficam perdidos, principalmente com relação
ao mercado de trabalho. Este, quer profissionais comprometidos com as
organizações nas quais eles irão trabalhar.
O Ensino Médio não prepara para o mercado e, conseqüentemente, acaba não
preparando para uma escolha profissional consciente. Os alunos interessados
na busca de Orientação Profissional recebem de escolas e cursinhos, quando
90
muito, palestras que se não confundem, também não são o suficiente para a
orientação que a maioria dos adolescentes necessitam. É certo que as escolas
até indicam centros de Orientação Profissional, ou profissionais que trabalhem
com a questão da escolha profissional, mas, efetivamente, não assumiu o seu
papel de contemplar, em seu currículo, a escolha profissional, durante os três
anos do Ensino Médio. Esta é uma mudança que começa a ocorrer, de forma
esporádica, principalmente, em escolas na região Sul do país.
Segundo João Batista Araújos e Oliveira, Presidente do Instituto Internacional
de Avaliação Sérgio Costa Ribeiro e Consultor da FIEMG – Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais, o adolescente brasileiro que sonha com
a faculdade enfrenta ainda um outro problema: nossos colégios e cursinhos
seguem obcecados com o “monstro” do vestibular, mas deixam de oferecer aos
alunos uma percepção acurada do que consiste a prática das profissões a que
terão de se candidatar. Nem cuidam de consolidar a imagem de um trabalhador
ativo, que desenvolva a flexibilidade e a multifuncionalidade e esteja aberto a
um processo de contínuo aprendizado.
Outra questão que se apresenta é que observamos, hoje em dia, que os jovens
têm se dedicado mais ao vestibular do que à escolha profissional. A idéia é que
a escolha se resolverá “um dia” e que o conhecimento que o vestibular exige é
grande e cumulativo por isso não se deve perder tempo.
Infelizmente essa concepção explica em parte o grande índice de evasão nos
cursos superiores que fica, no Brasil, por volta de 30% a 40% conforme o
curso, segundo Beatriz Balena Duarte, socióloga e professora na PUCRS.
O problema que se impõe é que o vestibular cobra respostas certas. O que é
um contra-senso com relação à ciência, ao conhecimento e ao saber. É que
saber não é só dar respostas, é também saber fazer perguntas. Os grandes
avanços da ciência só foram possíveis porque as pessoas queriam saber as
coisas, porque os cientistas, os filósofos, perguntavam. Então, quando se faz
um aluno treinar apenas respostas, está-se tirando dele metade da sua
capacidade intelectual, porque ele não é treinado para fazer perguntas e isso é
lamentável no vestibular.
91
Há uma outra questão também que o momento do vestibular coloca para o
jovem: o vestibular é uma parte da vida das pessoas, não é toda a vida. Depois
começa a universidade. E encarar que essa escolha, essa tentativa, tem
grandes possibilidades de dar certo, mas também de dar errado. E o jovem tem
que estar preparado para isto. No caso de não dar certo, ele tem que mudar.
92
“Aventurar-se causa ansiedade, porém não aventurar-se é perder-se. E aventurar-se
no mais alto sentido é precisamente tomar consciência de si mesmo.”
Sören Kierkegaard
93
CAPÍTULO III
Re-definição profissional
3.1 - EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR
De acordo com João Batista Araújos e Oliveira, Presidente do Instituto
Internacional de Avaliação Sérgio Costa Ribeiro e Consultor da FIEMG -
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, em entrevista a
REVISTA VIRTUAL PAIS E TEENS, 2005: “ ... nos deparamos com números
assustadores de desistências nos cursos universitários. De cada 100
estudantes que entram nas universidades públicas brasileiras praticamente 30
fazem um novo vestibular. Isto nos mostra o quanto que os estudantes estão
despreparados para lidar com a escolha de uma profissão”.
Eduardo Marini, da REVISTA VIRTUAL ISTO É, 2005, aponta que um dos
problemas mais graves do ensino brasileiro é a elevada evasão no nível
superior. Inexperiência, falta de informação e desconhecimento da própria
personalidade levam milhares de jovens a deixar a faculdade todos os anos. “
Em alguns cursos, o abandono chega a 40%. O prejuízo é geral. O aluno que
deixa o curso perdeu tempo e dinheiro. Quem ocupa o lugar poderia estar
estudando há mais tempo. Nos casos em que a vaga é pública, a situação é
ainda pior – no final, o contribuinte paga a conta.”Rudá Ricci, Sociólogo,
Doutorando em Ciências Sociais, Professor da PUCMG, em artigo da REVISTA
VIRTUAL ESPAÇO ACADÊMICO, 2005, afirma que no Brasil, a cada 40 alunos
que ingressam na faculdade, somente 25 se formam. Dos profissionais que
94
possuem diploma universitário, 60% praticam uma profissão que não tem
correspondência alguma com a freqüentada.
“ Na verdade, é muito comum escolher, na hora de prestar o vestibular, a
profissão errada.” “ ...esta situação é realmente comum. Principalmente no
mundo em tamanha transformação como o do século XXI. No início do século
XX ser médico, engenheiro ou advogado era sinal de bem estar pessoal e no
século XXI, qualquer profissão pode ser sinônimo de sucesso ou fracasso.
Quais as profissões com a maior visibilidade pública nestes dias? A resposta
está nas profissões ligadas a serviços (consultorias, serviços de comunicação
e informática...) e lazer (esporte, turismo, música, dança...). Mas todos que
trabalham nestes ramos têm sucesso? Obviamente que não.”
Para Priscila do Amaral, psicanalista, terapeuta de Regressão filiada à
sociedade Brasilleira de Psicanálise Integrativa, Mestre em Ciência pela USP,
em entrevista a Revista Virtual Pais e Teens: ...” não é de espantar que
apenas 5 % dos vestibulandos tenham total certeza a respeito da opção
realizada – 129 diferentes cursos são oferecidos hoje pelas 851 faculdades
brasileiras – ou que quase metade dos 500 mil estudantes que todos os anos
chegam à universidade acabe abandonando o curso.”
“É importante notar que outras variáveis contribuem para tal distorção, como o
fato do Brasil exigir cedo demais - entre os 17 e 18 anos - uma definição
profissional por parte dos jovens. Nos EUA, por exemplo, geralmente só após
completar 20 anos é que o estudante necessita estar com seus rumos
profissionais estabelecidos. “
No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,
muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores. Algumas
pesquisas (IBGE, MEC) indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em
um curso superior tem certeza de sua escolha.
Quando questionados sobre como foi realizada essa escolha muitos apontam
como critério: o curso menos concorrido, o curso que a família dizia ser “a cara
deles”, o curso apontado pela mídia como aquele que dá mais dinheiro. Isto
95
quando há um critério prévio, pois vários jovens confessam que escolheram “na
sorte”, a caminho ou na fila da inscrição para o vestibular. É como se o
importante fosse passar no vestibular, provando à sociedade, à família e a si
próprio que é capaz, independente do que vai fazer...ou seja, independente do
que vai fazer com sua vida futura, como se esta escolha fosse desvinculada da
vida e de todas as conseqüências a ela interligadas.
A adolescência é conhecida como a fase de crise, de sérias turbulências, o
período de desprendimento dos jovens, onde estes estão preocupados com o
que parecem aos olhos dos outros e como irão harmonizar suas habilidades
com os papéis ocupacionais disponíveis em sua cultura.
Contudo, é nesta fase tão complicada em que a sua própria identidade está
indefinida e todas as escolhas parecem duvidosas que é feita a escolha
profissional, com o peso de ser, a princípio, para toda a vida. E, para piorar,
com o olhos e as esperanças dos pais exercendo zelosa vigilância.
Não é incomum, portanto, que muitos adolescentes não acertem de primeira.
Os números expressam a dificuldade dessa escolha. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos estudantes universitários
abandonam o primeiro curso que escolhem. Segundo pesquisa realizada na
USP, em 1998,"70% dos universitários mudam sua opção profissional até o 2o.
ano de faculdade.
Para o administrador público e advogado Luiz Alberto Franco Bueno, diretor
associado da Panelli Motta Cabrera & Associados Consultores Internacional
(PMC/ AMROP), maior empresa de capital nacional de contratação de
executivos do País, a tomada de decisão – principalmente para os jovens – é
sempre marcada por dúvidas. “Muitos balanceiam o desejo de trabalhar em
determinada área com a realidade do mercado”, diz. Mas Franco Bueno
tranqüiliza os mais preocupados. “A escolha de uma profissão ou de uma
carreira nunca é um caminho sem volta. Mesmo que o jovem descubra, depois
de três anos, que o curso que está fazendo não é o que ele quer, dá para
reconsiderar. Mais vale reiniciar um projeto para ser feliz pelo resto da vida do
96
que continuar fazendo aquilo que não se gosta. “ (REVISTA VIRTUAL
ESPAÇO ACADÊMICO, 2005)
Além de todas as considerações feitas, até o presente momento, o Censo 2003
(INEP?MEC), deixa claro o alto índice de evasão no nível superior, em quase
todos os cursos, de instituições públicas e privadas, e, conseqüentemente, o
aumento progressivo de vagas ociosas. (ANEXO 1)
3.2 – PROCESSO DE RE – DEFINIÇÃO
PROFISSIONAL
3.2.1 – Os alunos chegam ao Ensino Superior
No Brasil, a falta de uma decisão profissional consciente tem sido relacionada,
muitas vezes, com o alto índice de abandono dos cursos superiores.
O que, ao longo deste trabalho, fica claro é que existe um hiato entre o término
do Ensino Médio e o Ensino Superior. Por diversos motivos, os alunos que
iniciam o Ensino Superior, em sua grande parte, o fizeram sem consciência do
que realmente desejavam em termos de profissão, carreira e projeto de vida.
Chegam ao Ensino Superior e, posteriormente, ao mercado de trabalho,
inseguros e/ou insatisfeitos.
Entretanto, o que se espera é que a realização profissional capacitará o
indivíduo como membro ativo e produtivo na sociedade, co-participante na
construção de bens (CALEJON in apud BOCK, 1995). Para tanto, o indivíduo
deverá buscar a satisfação e o reconhecimento em uma profissão ou ocupação
em que se identifique com a sucessão de tarefas e demais exigências, e
principalmente não ter medo de assumir suas escolhas. Entretanto, muitas
97
vezes, algumas pessoas se mantém num determinado curso ou profissão por
não terem coragem de assumir que não estão satisfeitas ou por quererem
atender alguma expectativa ou sonho de outra pessoa. O risco de atender o
desejo do outro é o de “ aumentar o número de profissionais frustrados,
insatisfeitos e até mesmo incompetentes no mercado de trabalho.” (SOARES e
LISBOA, 2000)
3.2.2 – A questão da escolha não é definitiva
Bohoslavsky (1996) afirma que "uma escolha madura é uma escolha que
depende da elaboração dos conflitos e não de sua negação. É uma escolha
que se baseia na possibilidade do adolescente passar de um uso defensivo das
identificações a um uso instrumental delas, ao conseguir identificar-se com
seus próprios gostos, interesses, aspirações, etc., e identificar o mundo
exterior, as profissões, as ocupações, etc. Uma escolha madura é uma escolha
que depende da identificação consigo mesmo".
Refletindo sobre a definição de escolha madura, segundo Bohoslavsky, pode-
se compreender que a primeira escolha profissional nem sempre é a definitiva.
Além da prontidão do indivíduo para sua própria identificação, a cada ano que
passa, aprende-se coisas novas, consigo mesmo e com as outras pessoas. É
comum então, que não se tenha certeza absoluta da profissão escolhida,
muitas vezes é preciso experimentar, conhecer melhor, para depois decidir.
Ainda interpretando Bohoslvsky podemos afirmar que as dificuldades na
escolha profissional não constituem problemas exclusivos dos adolescentes
prestes a ingressar na faculdade. Elas apresentam-se com freqüência na vida
de universitários insatisfeitos com a escolha já feita. É comum o
descontentamento a partir do primeiro, segundo e até mesmo terceiro ano de
curso, quando o aluno entra em contato com a realidade da profissão.
98
O momento da escolha profissional é de fundamental importância para o
indivíduo, pois sabe-se que o fato de gostarmos do que fazemos é um fator de
peso em nossa motivação para o trabalho, e conseqüentemente, na qualidade
dos resultados de nossa produção.
Uma escolha pouco embasada em aptidões e interesses, visando apenas o
enriquecimento ou o status social que caracteriza determinada carreira pode
ser uma opção muito arriscada.
Não são poucos os casos em que, por inúmeros motivos, o indivíduo opta por
direcionar sua formação para determinada área, e, descontente após algum
tempo, opta por outra. Essa indefinição pode durar anos, até que o jovem
encontre-se profissionalmente. Muitos são os casos de estudantes que tentam
o ingresso em certo curso por anos a fio, e quando conseguem a tão sonhada
vaga, em pouco tempo, a única certeza que têm é de que não se adaptarão à
carreira eleita. Sentimentos de insegurança, incapacidade e frustração são
freqüentes, e caminham junto aos anos perdidos.
Uma forma de diminuir a pressão é saber que essa escolha profissional não é
necessariamente definitiva. Novos caminhos vão surgir durante a faculdade, o
mercado de trabalho pode exigir adaptações ou uma grande guinada na
carreira. "A faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma,
um alicerce para a construção da vida profissional", afirma Rubens Gimael,
especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting. “ É comum
encontrar engenheiros trabalhando na área de finanças, arquitetos se
dedicando à área comercial, economistas cuidando de marketing. A mudança
não significa fracasso nem frustração, mas sim a aceitação de desafios que a
vida vai trazendo.”
A escolha profissional não se restringe a uma determinada altura da vida das
pessoas. Ela vai emergindo sob a forma de problemas que vão aparecendo ao
longo da existência. Longe vai o tempo em que, feita a formação inicial,
preferencialmente antes do ingresso na vida ativa, e adquirida uma
99
determinada qualificação profissional, um indivíduo podia projetar, com uma
elevada dose de segurança, uma carreira profissional.
Hoje, mesmo os trabalhadores empregados e qualificados, devem prestar
especial atenção à gestão da sua profissionalidade e da sua própria carreira
profissional, mantendo, dessa forma, um elevado nível de empregabilidade ao
longo da vida ativa. Esta necessidade advém tanto da atual reconfiguração
acelerada das profissões, introdução de novas tecnologias, emergência de
novos perfis profissionais, etc, como fruto da globalização e das
reestruturações de empresas e ou de setores de atividade.
3.2.3 - Re-opção de carreira
Neiva (1995) considera que o processo de escolha profissional implica a
elaboração de uma identidade vocacional-ocupacional, ou seja a definição do
que fazer, como e onde, e também a compreensão do porquê e para quê
dessa decisão. Mas, e depois? Será que depois de entrar no curso, o aluno se
depara com uma realidade não antes cogitada? Era isso que ele desejava no
momento da sua escolha? A re-orientação profissional seria um reflexo dessa
expectativa frustrada?
Enfrentar a realidade do "não era isso que eu queria" é mais um desafio na
vida do jovem. Perceber o momento anterior como experiência de vida e não
como uma frustração é uma tarefa difícil, mas que terá como recompensa a
maturidade na hora de uma segunda escolha.
Um número crescente de trabalhadores vêem-se na contingência de operar
profundas mudanças em suas carreiras, enveredando por profissões
diferentes.
Hoje, ingressar e permanecer no mercado de trabalho, exige lidar,
adequadamente, com as tarefas previsíveis e imprevisíveis relacionadas com o
100
desempenho do papel de profissional, ou seja, exige uma crescente
capacidade de adaptabilidade e de flexibilidade perante os desafios e uma
permanente disponibilidade para formação ao longo da vida.
Esta mudança de perspectiva, decorrente da evolução do mercado de trabalho,
mostra-se mais congruente com a atual re-configuração das carreiras
profissionais. Tradicionalmente, entendia-se por carreira profissional a
progressão regular e hierárquica desenvolvida no contexto de uma profissão ou
setor de atividade. (CASTRO E PEGO, 1999/2000)
Esta noção, presente no pressuposto da estabilidade das qualificações e dos
empregos, não se mostra compatível com a atual dinâmica do mundo
profissional. Hoje a noção de carreira não pode ser concebida como a
concretização de um único e grande projeto, mas antes como a concretização
de uma série de pequenos projetos. Desta forma, a carreira se volta para o
sentido pessoal e individual dos investimentos educativos e profissionais, de
aprendizagens, de experiências de trabalho, empregos e períodos de formação
dos indivíduos ao longo da vida. Nesta perspectiva, cada indivíduo constrói e
reconstrói, permanentemente, a sua carreira na medida em que estabelece sua
relação com o mundo.
3.2.4 – Re – definição profissional e
Re – orientação profissional
Em conseqüência da incerteza e da imprevisibilidade que atualmente rodeia o
mercado de trabalho, em que a relação entre formação, profissão e emprego é
cada vez mais precária e incerta, os indivíduos vêem-se confrontados, ao longo
da sua vida, com problemas complexos relacionados com o ingresso e
permanência no mercado de trabalho. Face a este aumento da incerteza em
torno dos profissionais, a Orientação Profissional deve ser encarada como
apoio sistemático à construção de projetos de vida, de modo a que seja dada a
todos, jovens e adultos, a oportunidade de em qualquer altura da suas vidas,
101
explorarem e re-direcionarem a sua relação de investimento com o mundo.
Nesta perspectiva, a escolha profissional não se esgota num ato único de
escolha, mas deve ser vista como um processo que se desenrola ao longo da
vida do indivíduo.
A responsabilidade de escolher uma profissão, respeitando e reconhecendo
suas habilidades, interesses e valores é de fundamental importância, visto que
no âmbito do trabalho, são dedicadas muitas vezes mais de oito horas diárias,
ao menos cinco dias semanais, cinqüenta semanas por ano, na tentativa de
atingir alguma expectativa que não condiz com seu próprio desejo. Deve-se
pensar no montante de angústia e perturbações que dificultarão o desempenho
em um trabalho que não se gosta e não se encontra gratificação. (MÜLLER,
1988)
Segundo MÜLLER (1988), a Orientação Vocacional e Profissional (OVP) é um
processo onde o indivíduo, em dúvida quanto a sua escolha profissional,
poderá de forma evolutiva refletir sobre sua problemática, buscando caminhos
para a elaboração, tornando claras as questões a respeito de si mesmo e das
condições educacionais, sociais e de trabalho, delineando assim um projeto de
estudo, trabalho e/ou atividade que tenha relação com esses dois elementos. O
objetivo do trabalho de OVP é o de auxiliar o orientando a desempenhar suas
escolhas, conhecer a realidade do mercado de trabalho e refletir sobre suas
decisões com maior autonomia, levando-o a refletir sobre questões ideológicas
referentes ao valor atribuído aos diversos trabalhos, ao prestígio que
determinada ocupação tenha na sociedade, às preferências e às exigências
familiares.
A re-orientação profissional tem surgido como um fenômeno cada vez mais
freqüente nas práticas de Orientação Profissional. O aluno já freqüenta as
aulas da graduação, às vezes já está até colocado no mercado de trabalho,
mas encontra-se insatisfeito com o curso escolhido.
A re-orientação profissional atende a jovens e adultos que não estejam
satisfeitos com sua escolha acadêmica ou profissional ou estejam em vias de
trancar o curso ou, ainda, necessitem de orientação de carreira.
102
Para atingir essa demanda, o processo de re-orientação profissional deve
envolver: a investigação sobre os determinantes da primeira escolha
profissional, refletir sobre e analisar o percurso profissional desenvolvido,
resgatar potenciais deixados de lado na primeira escolha, a construção do perfil
pessoal, a avaliação sobre as dificuldades para redefinir a escolha profissional
ou a trajetória da carreira, as informações sobre profissões e mercado de
trabalho, o contato com profissionais do mercado de trabalho, a redefinição da
escolha ou enfrentamento das dificuldades, traçar a estratégia do projeto
profissional futuro.
O programa de re-orientação profissional tem como objetivo propiciar
condições de reflexão sobre o processo de escolha profissional, relacionando
com a história de vida e com o contexto no qual o indivíduo se insere, evitando
a perda de tempo, de dinheiro e frustrações futuras advindas de escolhas
erradas ao reavaliar a escolha feita anteriormente, visando à re-opção ou
confirmação da atual; buscar soluções para os formandos frustrados com a
profissão escolhida, através do re-direcionamento profissional pela pós-
graduação ou cursos de aperfeiçoamento. Portanto, o resultado de um trabalho
deste tipo não será, necessariamente, a mudança de área, ele é muito mais
abrangente e tem sido de grande importância para aqueles que, independente
da idade, ainda não encontraram a profissão que pudesse lhes proporcionar
realização e motivação para o trabalho.
103
3.3 – ENSINO SUPERIOR
“ Nós vos pedimos com insistência: não digam nunca isso é natural. Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável. Que tudo que é considerado
habitual, provoque inquietação. Na regra, descubram o abuso, e sempre que o abuso for encontrado, encontrem o remédio.” Bertolt Brecht
3.3.1 - Breve Histórico
As universidades públicas são as instituições mais antigas, com faculdades que
datam do século XIX, ainda que as primeiras universidades só tenham se
constituído formalmente nos anos 30.
Na década de 30, começaram a surgir também as primeiras instituições
privadas, que aumentaram rapidamente de número. A reforma universitária de
1968, apesar de consagrar na legislação o modelo universitário centrado na
pesquisa e na pós-graduação, foi seguida de uma grande expansão do ensino
privado, sobretudo na forma de instituições isoladas de ensino, expansão que
se reduziu um pouco no período de 1973-1974, para retomar o ritmo depois. A
maior parte das instituições federais, assim como das instituições estaduais
paulistas, data de antes da década de 70. Nos anos 80 houve um pequeno
crescimento de instituições estaduais no resto do País, e, nos últimos cinco
anos, só o setor privado continuou crescendo.
O Estado de São Paulo tem uma tradição de autonomia em relação ao governo
federal que data pelo menos da década de 30, que fez com que ele mantivesse
suas próprias instituições de ensino superior e de pesquisa quando, a partir das
décadas de 40 e 50, foi criado o sistema federal de ensino superior.
A criação de universidades estaduais em outros Estados é mais recente, foi
feita de forma complementar e como compensação à pouca capacidade de
expansão do sistema federal, e sem a preocupação acadêmica que
caracterizou, sobretudo, a USP, as Universidades Estaduais de São Paulo
(Unesp) e de Campinas (Unicamp).
104
Até 1998, as instituições mais complexas, do ponto de vista acadêmico, eram:
a USP, a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a UFRJ, a
Unicamp, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Unesp e
UFMG.
A LDB, Lei de diretrizes e bases, de 1996, estabeleceu um grau maior de
autonomia das universidades em relação ao MEC, para criar novos cursos e
definir o número de vagas a serem oferecidas cada ano. Esta maior autonomia
levou a um grande movimento das instituições isoladas do setor privado para
conquistar o status universitário, pelo cumprimento dos requisitos mínimos
definidos pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Nas universidades da
Região Centro-Sul, até 1988 tem se concentrado os cursos de pós-graduação,
especialmente os de doutorado e, os cursos de graduação tem se distribuído
de maneira mais proporcional pelas diversas regiões, com a peculiaridade de
que a proporção de estudantes de graduação em instituições privadas é maior
nas regiões mais desenvolvidas, onde a oferta de educação superior pública
não conseguiu acompanhar a demanda.
O Estado de São Paulo é o Estado com as maiores universidades públicas do
País, com a maior concentração de cursos de pós-graduação, e também a
maior proporção de estudantes de graduação em estabelecimentos privados,
82%.
3.3.2 – Censo da Educação Superior de 2003
De acordo com o Censo da Educação Superior de 2003, realizado anualmente
pelo (INEP/MEC), Instituto Nacional e Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (ANEXO 1), podemos elaborar um panorama do ensino
Superior no País e elencar alguns dados pertinentes a este trabalho.
Participaram do Censo todas as Instituições de Ensino Superior,que, até
outubro de 2003, tinham pelo menos um curso de graduação em
uncionamento, totalizando 1.859 instituições. Destas, 163 são universidades.
Todas as demais não são universidades nos termos da legislação vigente, em
105
especial nos termos do Artigo 207 da Constituição, que atribui às universidades
autonomia didática, administrativa e de gestão financeira e patrimonial,
devendo realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma
indissociável. Além das atividades de ensino de graduação, as universidades
devem ter espaço para mestrados e doutorados e para pesquisa e estudos
avançados.
O Brasil tem 81 Centros Universitários, instituições que, nos termos da
legislação vigente, gozam de autonomia didática e administrativa e podem criar
cursos sem autorização prévia do MEC. Os demais tipos de instituições
representam a maior fatia do sistema. São as faculdades isoladas, escolas e
institutos de educação superior e somam 1.403 instituições,
predominantemente privadas.
De acordo com a Tabela 4 ( ANEXO 1) tem havido um crescimento de
expansão acelerada na educação superior no Brasil, com o acréscimo de 22
novas instituições. Esse crescimento foi, quase que exclusivamente, do setor
privado, com 210 novas instituições. No setor público surgiram apenas 12
novas instituições em 2003.
Em relação ao número de instituições por região geográfica, nota-se maior
concentração na região Sudeste com 938 instituições. Em seguida, aparecem
as regiões Sul, com 306, a Nordeste, com 304, o Centro-Oeste, com 210 e a
Norte, com 101 instituições. De acordo com a Tabela 5 (ANEXO 1) há um
predomínio numérico das instituições privadas em todas as regiões do Brasil.
A educação superior brasileira é composta por cursos de graduação, cursos
seqüenciais, de pós-graduação e de extensão, organizados de forma
presencial ou a distância. Os cursos de graduação presenciais continuam em
expansão, com um acréscimo de 2.054 novos cursos, com relação ao ano
anterior. Desses, 411 cursos foram criados em instituições públicas e 1.643
em instituições privadas. O Censo registra 16.453 cursos de graduação
presenciais no país, sendo predominantemente oferecidos, pelo setor privado,
10.791 cursos.
É importante ressaltar a crescente participação dos cursos de graduação
(bacharelados, licenciaturas e tecnólogos) à distância. O crescimento desta
106
modalidade foi de 13% no último ano, passando de 46 para 52 cursos e
passando a atender cerca de 50.000 estudantes. (Tabela 12, em ANEXO 1)
No ano de 2003, foram oferecidas 2.002.733 vagas nos diversos processos
seletivos para graduação presencial. No exame vestibular foram
disponibilizadas 1.822.244 vagas, e todos os outros processos seletivos
(avaliação seriada no Ensino Médio, Vestibular, Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM e outros tipos mais específicos de seleção) contribuíram com
180.489 vagas. Fica claro que o vestibular mantém-se como a principal forma
de seleção e acesso à educação superior.
De acordo com o Gráfico 3 (ANEXO 1) fica clara uma crescente defasagem
entre o número de concluintes e o número de alunos matriculados e
ingressantes: enquanto o número de matrículas nos últimos 10 anos
aumentou 134% e o de ingressantes 172,6%, o número de concluintes
aumentou apenas 114,7%. Embora se observe um aumento dos concluintes
ao longo dos anos, fica evidente que esse aumento não acompanha o
crescimento no número de ingressantes e matrículas.
Segundo a Tabela 17 e o Gráfico 6, (ANEXO 1) dos 3.887.022 alunos
matriculados, em 2003, 2.750.652 estavam em instituições privadas,
representando mais de 70% do total de matrículas. Este fato revela que a
educação superior brasileira é majoritariamente privada.
De acordo com a Tabela 23 (ANEXO 1) é possível projetar o crescimento para
os próximos anos e verificar a capacidade do país para atingir a meta
estabelecida pelo Plano Nacional de Educação. Dentre fatores que devem ser
considerado estão: a capacidade de pagamento da população potencial, que
buscará educação superior nos próximos anos, os atuais índices de
inadimplência na educação superior privada, o crescente número de vagas
ociosas, o excesso de oferta em certas áreas do conhecimento e em certas
regiões, e a demanda crescente por educação diferenciada e de boa qualidade.
Em Considerações Finais, os dois primeiros ítens citados no Censo, têm
estreita relação com o presente trabalho. Transcrevendo-os na íntegra:
107
1. Pela primeira vez na história, o número de vagas na educação
superior foi maior que o número de concluintes do ensino médio. Mesmo
assim, o número de candidatos à educação superior (4,9 milhões) é
mais do que o dobro do número de vagas, e várias vezes maior que o
número de ingressantes (1,2milhões).
2. O número de vagas ociosas na educação superior cresceu
significativamente no último ano, especialmente no setor privado,
passando este setor a ter aproximadamente 42% de suas vagas
ociosas.
3.3.3 - EDUCAÇÃO
Para Philippe Perrenoud, sociólogo suíço especialista em práticas pedagógicas
e instituições de ensino, competência em educação é a faculdade de mobilizar
um conjunto de recursos cognitivos - como saberes, habilidades e informações
- para encontrar soluções com pertinência e eficácia. "Os seres humanos não
vivem todos as mesmas situações e as competências devem estar adaptadas
ao seu mundo", teoriza Perrenoud, "viver na selva das cidades exige dominar
algumas delas; na floresta virgem outras. Da mesma forma, os pobres têm
problemas diferentes dos ricos para resolver."
Segundo o Relator do Parecer CNE/CEB nº 16/99, entende-se por
competência profissional a capacidade de articular, mobilizar e colocar em
ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho
eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho.O
conhecimento é entendido como o que muitos denominam simplesmente
saber. A habilidade refere-se ao saber fazer relacionado com a prática do
trabalho, transcendendo a mera ação motora. O valor se expressa no saber
ser, na atitude relacionada com o julgamento da pertinência da ação, com a
qualidade do trabalho, a ética do comportamento, a convivência participativa e
solidária e outros atributos humanos, tais como a iniciativa e a criatividade.
108
A inserção produtiva dos indivíduos é um dos aspectos mais importantes da
cidadania. O reconhecimento da importância dessa premissa tem aumentado
nos últimos anos, paralelamente à evolução tecnológica.
3.3.4 - Reforma da Educação Superior
Ao longo dos últimos anos tem ocorrido um fenômeno de explosão das
Instituições Superiores de Ensino. Elas, atualmente, tomaram a frente das
Instituições Públicas, não somente em número de Instituições, mas também em
número de matrículas e abertura de novos cursos.(ANEXO 1)
De certa forma, este fenômeno tanto é positivo, pois oferece opções variadas
aos jovens e adultos, como tem se constituído em um problema a ser resolvido.
Inúmeras questões se impõem à reflexão, entre elas, a lucratividade em
detrimento da qualidade e, conseqüentemente, o risco à formação de
profissionais sem as qualificações necessárias tanto para atuarem no mercado,
quanto em sua formação como cidadãos.
Frente a estas questões e inúmeras outras, o Governo Federal decidiu-se por
promover a Reforma do Ensino Superior e, para tanto, através do MEC abriu a
discussão para que todos os setores, inclusive a população em geral, possam
opinar antes de ser encaminhada a proposta Lei Orgânica da Educação
Superior ao Congresso Nacional.(ANEXO 5)
109
3.3.5 - Estágio
O ingresso em uma Universidade representa, para a maioria das pessoas, uma
grande mudança de vida, caracterizada pela abertura a um novo caminho
profissional, novas experiências, perspectivas, realização de desejos materiais
e imateriais.
Durante anos há dedicação no estudo em uma determinada área de atuação.
Nas primeiras semanas de aula, o aluno percebe que apenas a dedicação
acadêmica não basta: o mundo profissional exige experiência e para articular a
teoria aprendida em sala com a prática da profissão, torna-se imprescindível a
realização do estágio.
De acordo com a Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, regulamentada pelo
Decreto nº 87.497, de 18 de agosto de 1982, considera-se estágio "...as
atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao
estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio,
sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito
público ou privado, sob responsabilidade e coordenação de instituição de
ensino". (CLT, 2000) Logo, o estágio é a oportunidade para que o estudante
tenha um primeiro contato com a realidade da profissão escolhida no momento
do vestibular. O estágio possibilita a confirmação ou não da escolha da
profissão.
Nesse sentido, a busca por um estágio é de grande valia, pois auxilia o
estudante a perceber a realidade do mercado de trabalho, com seus aspectos
positivos e negativos, o que permite desfazer-se de fantasias e ilusões e
analisar se o seu perfil e seus objetivos são compatíveis com a escolha do
curso.
Para Paulo Skaf, Presidente da Fiesp, em entrevista a Revista Agitação (2005),
afirma que “O estágio, paralelamente à educação continuada, é a mais
110
eficiente e moderna ferramenta para a capacitação profissional do jovem
brasileiro”.
Segundo Paulo Nathanael Pereira de Souza, Doutor em Educação, o estágio
tem uma natureza educativa e é uma vivência, fora da instituição escolar,
dentro de empresas e organizações para que os alunos entrem em contato
com o trabalho. ´O estágio pode ser considerado, quando muito, uma pré-
condição de empregabilidade ou de empreendedorismo, mas jamais uma forma
de emprego ou de trabalho formal”. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)
Um outro aspecto relacionado ao estágio, uma questão social, é apontado por
Edinho Araújo, prefeito da cidade São José do Rio Preto, SP: “Além de evitar
um possível jovem de rua, o estágio facilita a busca do primeiro emprego e dá
oportunidade de crescimento intelectual”. (REVISTA AGITAÇÃO, 2005)
Ampliando esta visão, impõe-se a questão da inclusão do jovem como um
cidadão atuante e que pode e deve iniciar uma vida ativa, buscando seu
espaço dentro da sociedade através de uma atividade que desenvolva diversas
competências para seu aprimoramento como profissional. Esta é mais uma
possibilidade de encarar o estágio, reflexão proposta na Revista Agitação,
2005.
O estágio é o maior aliado no planejamento de uma carreira, pois além do
aprendizado das atividades profissional técnica, possibilita o exercício da
cidadania, dos relacionamentos interpessoais, a responsabilidade, o
comprometimento com empresas e pessoas, os contatos sociais e a abertura
para futuras propostas, efetivações, crescimento profissional.
Uma solução bem sucedida para melhorar a empregabilidade dos jovens
estudantes foi a criação de programas de estágio nas organizações públicas ou
particulares. Hoje o CIEE, Centro de Integração Empresa Escola mantém, em
todo o Brasil, cerca de 250 mil estagiários do Ensino Médio e Superior nessas
organizações, todos eles recebendo bolsas-auxílio que possibilitam o
pagamento das mensalidades escolares e, em muitos casos, ajudam na
111
manutenção dos estudantes e até nas despesas da família. Além disso, mais
de 60% deles são contratados pela CLT, após o término do estágio. (REVISTA
AGITAÇÃO, 2005)
O estágio, sem sombra de dúvidas, é extremamente importante para a
formação profissional do indivíduo por inúmeras questões: estar em contato
com o trabalho, poder colocar as teorias aprendidas em prática, facilitar a
busca do primeiro emprego, inclusão do jovem como cidadão atuante e
possibilitar uma reflexão sobre a escolha profissional. (ANEXO 2)
Sobre um outro aspecto, o estágio pode manter o jovem na vida acadêmica e,
desta forma, evitando a evasão e podendo garantir a conclusão do curso,
inclusive porque a bolsa-auxílio contribui para as despesas gerais com a
formação educacional do jovem. (ANEXO 3)
3.3.6 - Primeiro Emprego
Inúmeros jovens recém formados se encontram angustiados frente ao desafio do
primeiro emprego ou da primeira oportunidade de trabalho. A grande maioria se
diz desnorteada, sem expectativas, frustrada e muitos, inclusive, já sentem
sintomas de depressão. Essa, infelizmente, é a realidade não apenas do Brasil
mas de muitos outros países no mundo. Embora a universidade ainda seja uma
etapa importante na construção de uma carreira, ela encontra-se bastante
distante da realidade do mercado.
Para muitos, ela representa uma segurança, um período que ainda “protege” o
estudante de certas preocupações com dinheiro ou subsistência. É nesse
momento que começa o problema, enquanto o estudante está com essa idéia
equivocada ele fica preso a uma equação muito simplista, onde estudar e,
conseqüentemente, tirar boas notas, faz dele uma pessoa bem sucedida. Já no
mercado de trabalho a equação é bem mais complexa.
Segundo entrevista de Misael Govos de Oliveira, Assessor da Secretaria de
Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego, o Programa
112
Primeiro Emprego busca articular um conjunto de políticas, que inclui, além da
subvenção econômica, os processos de qualificação social e profissional de
preparação para o emprego. Portanto, estão em curso uma série de medidas
que mantêm investimentos na qualificação profissional e uma série de esforços
na área da articulação com empresas brasileiras, no campo da responsabilidade
social.. (COLEÇÃO CIEE 74)
O CIEE (Centro de Integração Empresa Escola) vem atuando há quatro décadas
para auxiliar na relação aluno-escola-empresa. Além da atuação em frentes de
estágio, tem incentivado o Programa Trainee desde 1990. Os programas
envolvem profissionais recém-formados que são admitidos em empresas e são
treinados para futuramente assumirem funções gerenciais. (ANEXO 4)
“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de
repente você estará fazendo o impossível”
São Francisco de Assis
113
CONCLUSÃO
Atualmente, o Brasil se depara com um cenário político, econômico e social
marcado por vertiginosas mudanças que advêm de um processo que ocorria há
muito tempo no país. Além do processo interno, historicamente marcado por
diversas questões, o país encontra-se afetado pelo movimento que assolou o
mundo todo: a universalização da comunicação, possibilitada pela internet, a
aceleração da capacidade de processamento de informações, a
potencialização da produção e a automação tecnológica.
Todas essas mudanças afetaram, sobremaneira, a educação em todo país e as
relações que delas são conseqüência. Apesar do enfoque deste trabalho estar
voltado para o Ensino Superior, é impossível deixar de analisar o Ensino
Médio, o vestibular, o mercado de trabalho, a escolha profissional, a Orientação
Profissional e o adolescente. Entretanto, um bom ponto de partida para uma
conclusão é o Censo do Ensino Superior, realizado pelo INEP/MEC, em 2003.
Segundo o Censo, constatou-se: um elevado índice de evasão escolar, de
transferência de cursos na graduação e um número, também elevado, de
vagas ociosas. (ANEXOS 1 e 6) Todas estas constatações estão ocorrendo em
Instituições de Ensino Superior Públicos e Privados e, também, em quase
todos os cursos Esses dados, além de comprovados pelo Censo/2003, são
também levantados por diversos profissionais ligados ou não à área de
Educação, conforme citados no CAPÍTULO III, item Evasão no Ensino
Superior.
Pode-se fazer uma análise, tentando buscar os motivos que justificam esta
situação partindo de diversos referenciais. Entretanto, todos eles nos remetem
ao que ocorre, especificamente, com o Ensino Superior, já que ele é o que está
sendo afetado diretamente. Temos duas opções: a primeira, julgar os citados
referenciais como responsáveis pela situação e, a outra, questionar o Ensino
Superior sobre seu papel e quais as estratégias que têm sido postas em ação
para minimizar, reduzir e/ou eliminar o quadro já instalado.
114
Analisando a primeira opção:
1 – A adolescência e a escolha profissional
A adolescência abrange determinado período do desenvolvimento que envolve
características próprias e situações específicas. Por outro lado, as diferenças
individuais dos adolescentes devem ser sempre consideradas, uma vez que
cada personalidade caracteriza-se por um conjunto de traços pessoais que
determinam formas diversas de comportamento e de inter-relação com o meio
ambiente.
Os adolescentes sofrem diversas influências vindas do meio e que cooperam
na formação de sua identidade pessoal e profissional. Atualmente, a família
não é o fator único de maior influência, mas ainda tem seu peso. A ela juntam-
se grupos aos quais os adolescentes se associam, a globalização e os meios
de comunicação, em especial, o mundo internáutico e o mercado de trabalho.
O momento que vivemos, atualmente, está voltado para a busca do prazer e do
“ter”. Ser é ter satisfação profissional. A busca pelo conhecimento não tem tido
vez em nossa sociedade capitalista e imediatista. Os jovens escolhem suas
profissões pressionados pelo esquema competitivo do vestibular, com uma
idade entre 17 e 18 anos, por força de nosso Sistema de Ensino. Dentro desta
realidade, suas escolhas são afetadas: escolhem por profissões que dão
status, poder, dinheiro, competitividade, perspectiva de mercado...
Por todas estas considerações elege-se o adolescente e a dificuldade que ele
tem com a escolha profissional como responsável pela situação do Ensino
Superior. Entretanto, não podemos esquecer que a escolha profissional não
pode estar vinculada somente a esta fase da vida; adultos fazem parte da
mesma situação, pois também freqüentam os cursos de graduação. Além
disso, profissionais formados e trabalhando em sua área de atuação
demonstram insatisfação com a escolha. Conclui-se que, a qualquer momento
da vida, o indivíduo pode quere fazer uma re-opção de carreira.
115
2 – A Sociedade
Nossa sociedade é incoerente porque necessita mão-de-obra apropriada, sabe
que o desempenho de um papel não produtivo gera muita insatisfação e a
onera; sabe que a desocupação é uma das principais causas de degradação
psicológica, violência e delinqüência, sabe que para muitos jovens custam
uma fortuna para completarem o curso superior e que eles não deverão
exercer a profissão para a qual foram titulados; prolonga demasiadamente o
ingresso do jovem no mercado de trabalho, porque a maioria precisa fazer
cursos de pós-graduação para suprir as deficiências dos currículos de
graduação; mas não toma medidas efetivas para modificar esse quadro.
Num país como o Brasil, a necessidade do mercado de trabalho se volta mais
para a área técnica do que para a especializada, portanto a oferta maior de
empregos neste mercado é para técnicos. Podemos constatar isto nas ofertas
de emprego dos jornais.
Deveria haver uma maior conscientização para a população e orientação das
escolas de ensino fundamental sobre as reais necessidades. Temos poucos
técnicos e muitos especialistas, porém o mercado de trabalho tem mais vagas
para técnicos do que para especialistas.
O caminho mais viável para o adolescente, seria o investimento num ensino
médio profissionalizante, porque além de poder iniciar sua decisão pela
escolha da profissão mais cedo, será um técnico.
Sendo assim, transferimos o problema para a infra-estrutura de ensino e a uma
sociedade incoerente. Entretanto, por esse caminho o país já trilhou, pois o
segundo grau profissionalizante, só foi extinto há, no máximo, sete anos.
Significa dizer que esta também não foi a solução. Além disso, voltamos a
questão que, fazendo o Ensino Médio Profissionalizante não garante que ao
116
chegar na graduação ou em qualquer outro momento, não haja necessidade de
uma re-opção de carreira.
3 – Ensino Médio
O Ensino Médio está, claramente, voltado para preparar os adolescentes para
o ingresso no Ensino Superior. Não tem uma preocupação aprofundada com a
questão da escolha profissional. O que tem sido feito é fruto do esforço do SOE
com reuniões semanais, que nem sempre ocorrem, e palestras e informação
profissional. Algumas escolas vêm se propondo a ampliar sua atuação, pois
percebem a defasagem e a necessidade de criar um programa de orientação
profissional durante o Ensino Médio. Apesar dessas iniciativas, vê-se
claramente, a pouca ou reduzida disponibilidade para que o Ensino Médio
consiga resolver a questão a curto prazo. Entretanto, são iniciativas que têm
sua validade e se constituem num início de processo, ainda que precário, de
mudança. Logo, continua-se com a problemática inicial pois os alunos do
Ensino Médio chegam a graduação com dúvidas sobre a escolha. Sem contar
que, aqueles que conseguem fazê-la, ainda podem mudar, ou seja, fazer uma
re-opção de carreira.
117
4 - Vestibular
A escolha do curso superior pode representar uma forma de aumentar ou
manter o status e o nível sócio-econômico, fazendo com que a preocupação
em passar no vestibular seja maior do que definir um curso com o qual os
jovens se identificam.
A questão da facilidade para passar nos cursos também é algo bastante
presente e muitos jovens acabam optando por um curso menos concorrido sem
se importar se realmente querem fazê-lo ou não. Frases como “não importa
qual o curso, o importante hoje em dia é ter uma faculdade” são freqüentes e
confundem o jovem, fazendo-o optar por um curso qualquer, e pelo qual não
tem um real interesse.
Muitos alunos saem do Ensino Fundamental (antigo 1º grau) e na esperança
de conseguirem uma vaga numa boa universidade optam pelo Ensino Médio
(antigo 2º grau básico).
Dedicam-se pelo menos 3 anos de estudo, para disputar uma vaga na
faculdade. Terminam o curso sem uma profissão e com uma grande
responsabilidade e "carga emocional" - passar no vestibular. Muitas vezes não
conseguem ter sucesso no vestibular, dependendo do curso escolhido. Sem
contar a dificuldade de muitos, em conseguir trabalho na área que escolheram,
após o término da faculdade. Podemos observar o dilema de muitos recém-
formados e de outros que tem um diploma mas que trabalham em outras áreas.
Por sua vez, tal concurso não avalia a capacidade, nem a vocação do
candidato para a área que escolheu. É apenas uma prova de seleção por
contagem de pontos, que abala o emocional da maioria e bem sabemos que
para obter as informações de nossa mente, ela precisa estar relaxada. Isto
torna o vestibular incongruente.
118
Se houver um candidato para trinta vagas e se todos os candidatos "forem
bons", apenas um deles entrará, porque a vaga é somente uma.
É comum a procura de tratamento por terapia para ansiedade, medo, sistema
nervoso abalado, etc devido a essa "pressão" que direta e indiretamente
sofrem. O auto-conceito de incapacidade, que costuma ocorrer em quem não
consegue sucesso nas provas, é comum e afeta muito a auto-estima.
Podemos concluir que o vestibular é um mal que pauta a vida do estudante. No
entanto, mesmo para aqueles que conseguem vencê-lo não há garantias de
que a escolha será para sempre e eles podem optar, ao longo da graduação,
por uma re-opção de carreira.
5 – Mercado de Trabalho
As mudanças radicais que ocorreram no mercado de trabalho com a supressão
de carreiras tradicionais, o surgimento de novas, a mudança nas relações de
trabalho, do perfil de profissional diferenciado que o mercado vem exigindo, o
alto índice de desemprego, sem sombra de dúvida, afetam e confundem
estudantes e profissionais. Entretanto, as mudanças fazem parte do processo
de crescimento de uma sociedade e ela deve se preparar para elas. Desta
forma, fica mais clara ainda, a necessidade de se oportunizar a re-opção de
carreira.
6 – Orientação Profissional
No Brasil a Orientação Profissional tem procurado atender aos jovens de forma
limitada e pouco organizada, ocorrendo através de iniciativas de profissionais da
área de Psicologia e Pedagogia. Existem inúmeras consultorias, atividades
119
realizadas pelas Universidades voltadas para a comunidade e as escolas de
Ensino Médio que oferecem palestras sobre as profissões.
A prática tradicional de Orientação Profissional enfatiza a compreensão de
aspectos de natureza psicológica do sujeito através do exaustivo levantamento
de aptidões, características de personalidade, levantamento de potencial
intelectual, levantamento de interesses. a compreensão de aspectos de
natureza psicológica do sujeito.
A informação profissional também é contemplada nos processos de orientação,
mobilizada pelo discurso de autores como Bohoslawsky (1993), que afirmam
ser a informação profissional uma condição essencial para a escolha
responsável. Essa etapa de informação centra-se, de fato, apenas na busca de
informação sobre profissões específicas, tendo como parâmetro a roupagem
tradicional das ocupações.
Entretanto, atualmente, o processo de informação profissional que esteja
sincronizado com o fluxo do mercado deve possibilitar, conforme assinala
Levenfus e Soares (2002), o conhecimento mais aprofundado e atualizado do
que realmente vem ocorrendo no que se refere ao mercado de trabalho no
passado, no presente e no futuro, buscando conhecer as possibilidades reais
de inserção nesse mercado.
Desse modo, o serviço de Orientação Profissional que busque manter-se
socialmente relevante, deve pressupor um redimensionamento que permita
contemplar em sua prática, aspectos sobre realidade do mercado atual, de
modo a facilitar a inserção responsável do indivíduo no mundo do trabalho,
sem violentar o movimento e o ritmo do processo de escolha dos jovens.
Ainda que questionemos as escassas atuações dos profissionais de Orientação
Profissional devemos nos reportar ao CAPÍTULO I, item Informe da ABOP que
demonstra vários aspectos que envolveram a Orientação Profissional e ainda
envolvem, como por exemplo, a falta de credibilidade e de espaço nas
Instituições de Ensino.
120
Não podemos esquecer que os estudiosos da Orientação Profissional
assinalam que a escolha que o indivíduo realiza não é para a vida toda,
conforme CAPÍTULO II, item Escolha, o que nos remete à necessidade de
oportunizarmos a re-opção de carreira.
Analisando a segunda opção:
O alto índice de evasão escolar, de transferência de cursos e as vagas ociosas
(ANEXOS 1 e 6), recordando o que já foi exposto nesta conclusão, cabe a
pergunta: Quem são os mais afetados com o fenômeno que está atingindo o
Ensino Superior?
A resposta parece clara: o próprio Ensino Superior, ou seja, as Instituições
Superiores de Ensino públicas e particulares (vagas ociosas) e todos aqueles a
ele envolvidos direta ou indiretamente: os estudantes, os que largam os cursos
e também os que ficam, os professores, o mercado de trabalho, a sociedade e
o país, com a redução de profissionais e pesquisadores potenciais.
A evasão escolar, que gera vagas ociosas pode estar ligada a vários fatores:
dificuldades financeiras, problemas de incompatibilidade de horário com o
trabalho exercido pelo aluno, ou ainda, a insatisfação com a escolha
profissional.
Buscando uma solução para a questão da evasão escolar existem duas
posturas a serem adotadas: uma diz respeito a uma reestruturação interna da
instituição, dependendo de uma conscientização da importância de verificar
junto aos alunos evadidos os motivos que os levaram a tal decisão; a outra
refere-se as instituições assumirem a necessidade real de “abraçar” a questão
da re-opção profissional como uma atividade de sua responsabilidade.
Refletindo.... Quantas escolhas insatisfatórias, e abandonos de curso e
transferências para outras instituições poderiam ser evitadas se a Orientação
Profissional fosse oferecida pela própria Instituição? Vale a pena refletir.....
121
“ Cada um é responsável pelo que lhe sucede e tem o poder de decidir o que
quer ser. O que és hoje é o resultado dos teus atos passados. O que serás
amanhã é o resultado dos teus atos de hoje.”
Vivekananda
“ Os homens tropeçam em pedras, não em montanhas, daí podemos concluir
que não existem obstáculos suficientemente grandes para nos fazer desistir.”
Glenn Van Ekeren
122
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Censo da Educação Superior/2003;
Anexo 2 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Como o estágio contribui para o início da Carreira Profissional”;
Anexo 3 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Parceria pela inclusão do jovem”;
Anexo 4 >> Artigo da revista Agitação/2005: “ Todo mundo quer ter, ou ser talento”;
Anexo 5 >> Folder do Ministério da Educação /2004: “ Reforma da Educação Superior”;
Anexo 6 >> Artigo da revista Linha Direta/2005:” Perspectivas para a expansão do Ensino Superior Privado no Brasil de 2005 a 2010”;
123
ANEXO 1
124
ANEXO 2
125
ANEXO 3
126
ANEXO 4
127
ANEXO 5
128
ANEXO 6
129
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Médicas, 1992.
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Introdução á Filosofia. São Paulo: Editora Moderna,1997.
BECKER, Daniel. O que é a adolescência? São Paulo: Brasiliense,
1997.
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histórica. São Paulo: Cortez, 2002.
BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação vocacional a estratégia clínica.
11ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CASTRO, J. M. e PEGO, A. A carreira já não é o que era. São Paulo:
Cadernos de Consulta Psicológica, 1999/2000.
CORDI, Cassiano ett alli. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 1995.
DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do Futuro – Cidadania hoje e
amanhã. São Paulo: Àtica, 2000.
ERIKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar,
1972.
FERRETTI, Celso João. Uma nova proposta de orientação profissional.
São Paulo: Cortez, 1997.
130
GRINSPUN, Miriam Paula S. Zippin. Supervisão e Orientação
Educacional, perspectivas de integração na escola. São Paulo: Cortez, 2003.
GIACAGLIA, Lia Renata Angelini e PENTEADO, Wilma Millan Alves.
Educação para a escolha profissional: programas de informação profissional.
São Paulo: Atlas, 1979.
LEMOS, Caioá Geraiges. Adolescência e escolha da profissão. São
Paulo: Vetor, 2001.
LEVENFUS, R. e SOARES, D. H. P. Orientação Vocacional
Ocupacional – Novos achados teóricos, técnicos e instrumentais para a clínica,
a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MANSANO, S. R. V. Vida e profissão: cartografando trajetórias. São
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Paulus, 1995.
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1975.
PIMENTA, Selma Garrido. Orientação vocacional e decisão: estudo
crítico da situação no Brasil. São Paulo: Loyola, 1981.
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131
SOARES, Dulce Helena. A Escolha Profissional do Jovem ao Adulto.
São Paulo: Summus, 2002.
SOUZA, Ronald Pagnoncelli. Nossos adolescentes. Porto Alegre:
Editora da Universidade/ UFRGS, 1996.
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1972.
TIBA, Içami. Ensinar Aprendendo. São Paulo: Gente, 1998.
WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
132
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
DESENVOLVIMENTO DA ORIENTAÇÃO 13
PROFISSIONAL
1.1 –Breve histórico 13
1.1.1- No mundo 16
1.1.2 – No Brasil 18
1.2 – Principais abordagens em Orientação
Profissional 20
1.2.1- Abordagens psicológicas 20
1.2.1.2- Centrada na pessoa ( ou Não – Diretiva ) 21
1.2.1.3- Behaviorista 22
1.2.1.4- Desenvolvimentista 23
1.2.1.5- Psicodinâmica 23
1.2.1.6- Teorias Decisionais 24
1.2.2- Abordagens não psicológicas 25
1.2.2.1- Teoria do Acidente 25
1.2.2.2- Social- Crítica 25
1.2.2.3- Psicossocial 26
1.2.3- Técnicas utilizadas em Orientação Profissional 27
1.3- Orientação Profissional no Brasil 29
133
1.3.1- Conceitos de trabalho, alienação, profissão e
ocupação 29
1.3.2- Perfil Profissional 33
1.3.3 – Orientação Profissional no Brasil 34
1.4 – Mercado de Trabalho 40
1.4.1 - Conceitos de Interesse 40
1.4.2 – Globalização 41
1.4.3 – Transformações no Mundo do trabalho 42
1.4.4 – Novos significados do Trabalho 44
1.4.5 – Desemprego 46
1.4.6 – Desemprego no mundo jovem 48
1.4.7 – Profissional do Futuro 49
1.4.8 – Ciência como opção profissional 53
CAPÍTULO II
O SUJEITO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 56
2.1- As características do adolescente 56
2.1.1 – Um resgate histórico 56
2.1.2 – A conceituação da adolescência 57
2.1.3 – Características do adolescente 58
2.1.4 – A crise de identidade 61
2.1.5 – Identidade profissional 65
2.1.6 – Auto-estima 67
2.1.7 – Período de escolha profissional 69
2.2- A ciência explica o “ Aborrescente “ 71
2.2.1- Mudanças 71
2.2.1.1- Físicas 71
2.2.1.2- Afetivas e psíquicas 72
2.2.1.3- Valores pessoais e sociais 73
2.2.2- O cérebro em formação 74
2.2.3 – A influência dos hormônios 76
2.2.4 – Escolha Profissional - Fator de saúde 76
134
2.3 – O processo de escolha 78
2.3.1 – As diferentes escolhas 78
2.3.2 – A escolha profissional 79
2.3.3 – Fatores de influência na escolha 82
2.3.1 – Influência dos pais 84
2.4 – Ensino Médio e Vestibular 88
CAPÍTULO III
RE- DEFINIÇÃO PROFISSIONAL 93
3.1 – Evasão no Ensino Superior 93
3.2 – Processo de Re-definição profissional 96
3.2.1 – Os alunos chegam ao Ensino Superior 96
3.2.2 – A questão da esclha não é definitiva 97
3.2.3 – Re – opção de carreira 99
3.2.4 – Re – definição profissional e
Re – orientação profissional 100
3.3 – Ensino Superior 103
3.3.1 – Breve histórico 103
3.3.2 – Censo da Educação Superior de 2003 104
3.3.3 – Educação 107
3.3.4 – Reforma da Educação Superior 108
3.3.5 – Estágio 109
3.3.6 – Primeiro emprego 111
CONCLUSÃO 113
ANEXOS 122
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 129
ÍNDICE 132
135
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
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