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UMA PROPOSTA DO ESTUDO DE LETRAMENTO CIENTÍFICO EM UMA
ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO FUNDAMENTAL NA CIDADE DO
SALVADOR – BA
Maria Rita de Cássia RODRIGUES
Secretaria de Educação do Estado da Bahia
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Nós estamos eternamente contando histórias sobre nós mesmos.
Schafes (1981, p. 31)
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar as atividades de leitura e escrita, referentes aos textos de
divulgação científica, realizadas no segundo semestre de 2014, no colégio Estadual Ruy
Barbosa, situado na Rua Bela Vista do Cabral, no bairro de Nazaré, em Salvador – BA, com os
alunos do 9º ano. Foi aplicado um projeto cujo título “Letramento científico”, tendo como eixo
temático pluralidade cultural, como texto base “Salada Cultural” e como proposta pedagógica
formar leitores de textos de divulgação científica. Busquei esclarecer para os alunos a
importância deste gênero e com isso percebi que, embora se mantenham presos a uma visão
antiga da aplicação da gramática sem as devidas ponderações, precisam ser oportunizados a
conhecer esse gênero. Acredito que nós professores precisamos melhorar a qualidade do ensino
para que esse possa conduzir a aprendizagem significativa. O que implica mudança nos métodos
para sermos capazes de motivar nossos alunos a irem além da gramática descontextualizada e se
apropriarem dos conceitos da língua no seu cotidiano. Com essa proposta baseei-me nos estudos
de Kleiman e Street, que definem letramento como um conjunto de práticas sociais de leitura e
de escrita. Como referencial teórico e metodológico, inspirei-me autobiografia na visão de Tânia
Regina (2010), que discute a narrativa como formação permanente, refletindo constantemente a
nossa prática, oportunizando e oferecendo uma formação reflexiva-crítica de professores, e na
etnografia como prática escolar que envolve a coleta de dados sobre hábitos, valores, crenças e
comportamentos de um grupo social. Ao concluir este trabalho com textos de divulgação
científica percebi que os alunos conseguiram identificar tema, reconhecer o gênero pelo suporte,
que é um texto não-literário, qual a finalidade do autor, localizar informações explicitas e quais
os aspectos linguísticos. Esta proposta me fez perceber o quanto é importante planejar as ações,
criar objetivos e estratégias para que de fato se desenvolva uma boa prática escolar com os
textos de Divulgação Científica e também que nós professores precisamos fazer dos estudos
uma rotina na nossa vida, fazendo-se necessário criar condições para que os alunos aprendam a
ler tais textos.
Palavras-chave: Leitura. Escrita. Letramento Científico.
1. INTRODUÇÃO
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Este artigo propõe-se a discutir e refletir acerca da prática pedagógica com os
textos de divulgação científica.
Após fazer várias leituras e estudos sobre o texto de divulgação científica, pude
refletir sobre a minha prática em relação a este gênero, um problema percebido foi o
ineditismo desse texto na minha prática pedagógica, não havendo um modelo de
planejamento até então, o que implica no desconhecimento dos alunos. Além disso,
durante a graduação em Letras Vernáculas nunca nos foram demandados fichamentos,
resenhas, artigos ou monografias relacionados com textos de divulgação científica, os
quais chegaram a meu conhecimento ainda em 2014.
Foi então que, durante a formação de um grupo de estudos, coordenado por
Laureci Ferreira da Silva*, nos foi apresentado texto de divulgação científica pela
revista Ciência Hoje, então veio a confirmação de que nosso alunos nunca haviam
experimentado esse gênero textual, uma vez que nós como professoras não tínhamos
essa vivência.
A partir disso, precisamos discutir e melhorar nossas práticas escolares,
priorizando o ensino de leitura e escrita considerando as práticas de letramento do aluno
e do professor para formarmos leitores e escritores, para isso se faz necessário planejar a
escrita para melhor executá-la e oportunizar os aprendentes a conviver com os mais
variados gêneros textuais, em consonância com o trazem os PCN:
Quanto mais Dominamos as possibilidades de uso da
língua, mais nos aproximamos da eficácia comunicativa
estabelecida como norma ou a sua transgressão,
denominada estilo. A atenção sobre aquilo que não se
mostra e como se mostra traz informações sobre quem
produz e para que produz. (BRASIL. Ministério da
Educação, 1999, p. 43)
A proposta envolveu um plano de ação que se baseia em objetivos que
propiciem os alunos a conhecerem o texto de Divulgação Científica, criando condições
para que eles de fato aprendam a ler este texto. Também requer acompanhamento e
controle de ação planejada para que a partir do plano se proporcione um aprendizado de
pesquisa da própria realidade podendo vir a atuar sobre ela, transformando-a.
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Durante a realização desse projeto foram criadas possibilidades para que
trabalhassem com diversos gêneros textuais, especialmente os de divulgação cientifica,
buscando esclarecer com os mesmos a importância desse gênero.
Aprendi a não prejulgar as turmas nem me culpar, mas refletir sobre a minha
prática e observar a sala de aula, para que assim os alunos possam ampliar a capacidade
leitora, apesar de ainda estarem presos a uma visão antiga da aplicação da gramática na
disciplina Língua Portuguesa.
Com as reflexões feitas acerca do uso descontextualizado da gramática sem
devidas ponderações, acredito que nós professores precisamos melhorar a qualidade de
ensino para que se possa conduzir a aprendizagem com sentido para o aluno, o que
implica mudança de método para sermos capazes de motivar nossos alunos a irem além
da Gramática descontextualizada e se apropriarem dos conceitos da língua no seu
conteúdo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Esse estudo tem como referencial teórico a leitura como construção de sentido,
para tanto se faz necessário que o professor de Língua Portuguesa não perca de vista
que quando se pensa em competência leitora é necessário saber o que, para que, como e
por quê se lê. Os objetivos precisam estar claros para que o aprendente atribua sentido
ao que se lê. Segundo Borges (2010), a leitura é uma das atividades mais importantes e
mais difíceis de obter sucesso na contemporaneidade.
Segundo os PCN (BRASIL. Ministério da Educação, 1997), a escola não pode
garantir o uso da linguagem fora de seu espaço físico, mas deve garantir tal exercício a
partir do uso amplo desse espaço, como forma de instrumentalizar o aprendente para o
seu desenvolvimento social. A função da disciplina de Língua Portuguesa na Escola é
garantir o uso ético e estético da linguagem verbal, fazer compreender que através da
linguagem é possível transformar e reiterar o social, o cultural e o pessoal, aceitando a
complexidade humana e respeitando as falas como parte das vozes possíveis e
necessárias ao desenvolvimento humano mesmo que no Jogo Comunicativo haja
avanços e retrocessos próprios do uso a da linguagem. Enfim, fazer o aluno
compreender como um texto está em constante diálogo com o mundo.
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Acredita-se que para o aluno desenvolver práticas leitoras e escritoras é preciso
que haja uma preocupação voltada para ele, de modo que o sujeito possa desenvolver
autonomia e que estas práticas façam sentido seja o texto literário ou não literário (como
os de divulgação científica).
Essa proposta tomou como referência os estudos de Kleiman (1995) e Street
(1995) que definem letramento como um conjunto de práticas sociais, não apenas uma
habilidade técnica neutra. Como procedimento metodológico inspirei-me na etnografia
– uma vez que minhas pesquisas se deram na prática em sala de aula.
Bakhitin (2009) parte da concepção da língua como desenvolvimento da
consciência e do pensamento como fato social que se funda nas necessidades de
comunicação. Letramento científico, na visão de Gouveia (2009) é concebido como
prática de cidadania. Nele os sujeitos são capazes de fazer pesquisa, comparar
informações, realizar seriação de informações e levantar hipóteses etc.
Em suma, acredito que o professor de Língua Portuguesa pode interferir nas
práticas de leitura e de produção de texto, proporcionando ao aluno um trabalho a partir
de um ensino que busca fazer sentido ao relacionar os textos ao contexto social do
discente, oferecendo condições de produção, participação e criação no processo.
3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Como referencial metodológico, adoto a autobiografia na visão de Tânia
Regina (2010) que discute a narrativa como formação permanente – refletindo
constantemente nossa prática, oportunizando e oferecendo uma formação reflexiva-
crítica de professor, transformando minha prática e refletindo as condições que ofereço
aos alunos, como me vejo enquanto profissional.
Etnografia da prática escolar, na visão de André (2005), envolve a coleta de
dados sobre hábitos, valores, crenças e comportamentos de um grupo social, no nosso
caso nossos alunos. Para isso, faz-se necessário o encontro do professor com o aluno,
valorizando o conhecimento que cada um traz, para que desse modo haja interação
social e se busque, com a prática pedagógica não apenas um resultado positivo, mas
também que possamos conhecer a nossa escola mais de perto, sem máscaras,
percebendo o que de fato precisa ser transformado, o papel de cada um, considerando a
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vida pessoal dos aprendentes, a importância desse conhecimento para os alunos
envolvidos na relação de ensino e aprendizagem.
4. CONCEPÇÃO DE LETRAMENTO NA VISÃO DE KLEIMAN E STREET
Street (1995) e Kleiman (1995) definem letramento como práticas sociais que
exigem ações e medidas de inclusão social.
As práticas de letramento, para Street (1995), são episódios observáveis que se
forma e constituem pelas práticas sociais. Nesses eventos, o texto escrito passa a fazer
parte da interação do sujeito com o contexto comunicativo. Conforme Gee (1999), o
sentido do texto é regido pelo contexto em que está inserido. Guedes Pinto (2010)
apresenta uma visão dialógica dos letramentos, por considerar as atividades de leitura e
escrita em relação ao outro.
Para a autora, os estudos de letramento tomam a língua como prática social,
cujos usos estão relacionados ao contexto imediato com destaque para aspectos sociais
das práticas de letramento e correlação das forças simbólicas em jogo, correspondendo
ao modelo ideológico de Street (1995).
Baseado nesses estudos sobre letramento, o que devemos fazer é estabelecer
uma relação de nossos alunos com esta prática, de maneira que os torne menos
desiguais em relação à leitura e à escrita, e isso só é possível quando partimos do ponto
inicial, como nosso aluno está em relação à aprendizagem, o que ele já sabe, o que ainda
não adquiriu de conhecimento, o que é significativo para ele.
Desse modo, analisando essas concepções, precisamos refletir o quanto é
necessário que os aprendentes sejam oportunizados ao saber, para que desse modo
possam perceber o que essa prática é capaz de oferecer na sua vida, além do poder.
5. CONTEXTO DE EXPERIÊNCIA
5.1. A PROFESSORA
Sou Maria Rita de Cássia Rodrigues, mãe de um filho de 23 anos, professora de
Língua Portuguesa há aproximadamente 20 anos, da rede estadual de ensino há 30,
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leciono no Colégio Estadual Ruy Barbosa, localizado na rua Bela Vista do Cabral, nº
34, no bairro de Nazaré, em Salvador – BA. Sou graduada em Letras Vernáculas pela
Universidade Católica do Salvador, especialista em Estudos linguísticos e literários pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e em Psicopedagogia Escolar pela Universidade
Contemporânea (UnC).
Iniciei meus trabalhos em sala de aula em Euclides da Cunha, uma cidade do
interior da Bahia, onde nasci e cresci, situada a 326Km da capital. Assim que concluí o
magistério, fui convocada pela prefeitura da cidade a trabalhar com as séries iniciais
(pré-escola) e me mantive nesse trabalho por dois anos. Depois desse primeiro contato
com a sala de aula, ingressei na rede Estadual ainda no interior da Bahia, ministrando
aulas para a segunda série do ensino fundamental, em 1985, na Escola Joaquim Silva
Dantas, onde permaneci até o final de 1986. Em 1987, migrei para Salvador a fim de
prestar vestibular, sendo aprovada no curso de Letras Vernáculas, foi nesse mesmo ano
que comecei a ensinar no Colégio Estadual Ruy Barbosa, onde estou até hoje.
5.2. OS ALUNOS
Os alunos que fazem parte do quadro dessa escola são oriundos de bairros
populares como Federação, Engenho Velho da Federação, Calabar e Alto das Pombas,
bairros localizados no centro da cidade de Salvador. Apresentam faixa etária entre 12 e
16 anos no turno diurno e entre 18 e 60 anos à noite. A maioria deles pertence à baixa
classe média ou à classe baixa, sendo filhos de pais separados e residindo com a mãe, os
avós ou tios, não tendo – via de regra – muito contato com o pai. Grande parte deles
afirma desejar ingressar no Nível Superior de Ensino dizendo que quer construir um
futuro melhor. Apresentam algumas dificuldades em relação à leitura, que serão
apresentadas na seção 5.4., como: localizar informações implícitas no texto, capacidade
de fazer inferências e reconhecer os gêneros textuais (p. ex. artigo de opinião e editorial)
e identificar a finalidade de alguns gêneros. Os alunos do noturno são trabalhadores e
alguns desejam apenas obter o nível médio de ensino, sendo poucos os que se afirmar
desejosos de ingressar numa universidade, a maioria demonstra preferência por cursos
técnicos e profissionalizantes.
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5.3. O COLÉGIO
O colégio está situado em Salvador – BA, no bairro de Nazaré, na Rua Bela
Vista do Cabral, Nº 34. Essa escola possui 400 alunos matriculados, distribuídos entre o
6º e o 9º anos do ensino fundamental, nos turnos matutino e vespertino, com educação
em Tempo Integral, além dos alunos de EJA (Educação de Jovens e Adultos), que
frequentam a escola no noturno.
O Colégio Estadual Ruy Barbosa funciona em um prédio de dois andares. No
andar térreo temos a direção e em frente à sala de direção a sala multifuncional, uma
secretaria, sala dos professores com banheiro, banheiros (dois) no corredor, biblioteca
(onde os alunos não podem retirar livros), laboratório de informática (que não
funciona), sala vice direção, salas de aula – duas de 6º ano e três de 7º ano. No primeiro
andar funcionam duas turmas de 8º ano e duas de 9º ano, há mais dois banheiros no
corredor do primeiro andar e um bebedouro. Na área externa há uma quadra e a
garagem.
5.4. MINHA EXPERIÊNCIA INTRODUZINDO TEXTOS DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
Em 2012, buscando atender à demanda dos alunos no que se refere à
aprendizagem de leitura e escrita, formamos um grupo de estudos, com a professora
Laureci Ferreira da Silva, e começamos a discutir letramento. Nesse mesmo ano, nossos
estudos objetivavam discutir o que ocorria em nossas aulas de Língua Portuguesa,
especialmente em referência à leitura e à escrita, para ampliar nossos conhecimentos
sobre letramento na perspectiva de Kleiman. Após esses estudos, fizemos um trabalho
com a escrita dos alunos para identificar quais habilidades e competências haviam
desenvolvido e, a partir daí, elaborar e executar um projeto de intervenção.
Foi também nesse ano que a Secretaria de Educação do Estado da Bahia
implantou a modalidade de educação integral na escola e, com isso, a escola começou a
fazer formação dos professores que iriam trabalhar com os alunos do turno vespertino, e
eu, mesmo não sendo desse turno, participei de todas as etapas de planejamento,
acompanhamento, execução e avaliação. Todas essas etapas foram coordenados pela
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professora Laureci, que era a articuladora designada pela SEC e pela escola para
desempenhar esse papel.
No final de 2013, a professora Laureci nos convidou para participar de sua
pesquisa de doutorado. Bruna Vasconcelos, Marilene Miranda e eu, nos reuníamos
quinzenalmente aos sábados para a sessão de estudos de textos de divulgação científica
e acadêmicos, observando a linguagem, organização, estrutura, tecitura do texto, as
vozes, como são articuladas as ideias, o que permeia as concepções apresentadas, os
discursos, teorias que sustentam as discussões, os resultados obtidos e problemas
apresentados pelo autor.
Em 2014, começamos a estudar textos de divulgação científica, a fim de inseri-
los nas aulas de Língua Portuguesa, foi então que surgiu o projeto “Letramento
Científico na Escola” e, a partir disso, organizamos as sequências didáticas cujo eixo
temático foi “Pluralidade Cultural”.
Dando continuidade a nossos estudos com a professora e doutoranda Laureci,
continuamos elaborando sequências didáticas com os textos de Divulgação Científica
das revistas “Ciência Hoje” e “Ciência Hoje das Crianças”. Selecionamos vários textos
e organizamos uma coletânea desses gêneros textuais para trabalharmos. Ao inserirmos
esses gêneros nas aulas de L. P., percebemos o quanto é importante lidarmos com os
mais variados gêneros textuais, não apenas para os alunos conhecerem, mas para formar
leitores autônomos e que deem continuidade a seus estudos.
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Ao iniciar a execução do projeto didático de Letramento Científico pautado no
eixo “Pluralidade Cultural”, que iniciou na última semana de Julho de 2014, a partir de
um plano de ação elaborado pelo aluno, orientado pelas questões a seguir:
O que queremos
aprender sobre
pluralidade
cultural?
Quais as etapas
que vamos
seguir?
O que vamos
ler?
O que vamos
escrever?
Qual será o
produto final?
TÍTULO DO PROJETO DO GRUPO
Após a elaboração do plano de ação com os alunos, percebi o interesse dos
grupos pelo tema eleições. No segundo momento, foi realizada a mobilização dos
conhecimentos prévios, feita através da imagem de uma Urna eletrônica e da
apresentação dos seguintes questionamentos: o que esse objeto lembra? Qual sua
finalidade? Qual a cultura dos políticos brasileiros, baianos e soteropolitanos?
Uendel respondeu “lembra as eleições”, Tamires respondeu que as eleições a
lembram o direito de exercer a cidadania, diz ser um momento importante já que vamos
escolher quem vai nos representar no congresso, Elizabeth respondeu que a urna é
utilizada para as pessoas depositarem seu voto.
Diante das hipóteses levantadas, fomos para a verificação das mesmas lendo o
texto base “As Urnas” de Leandro Konder e Mara Figueira na revista CHC. “O que
eleição Significa para você? ”.
Para verificação das hipóteses, os alunos fizeram leitura silenciosa do texto.
Depois da leitura proferida, distribuí entre os alunos as vezes que aparecem no texto, foi
então que eles perceberam que apresentava um discurso direto, pelas falas e pontuação
apresentadas.
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Após a leitura foram feitas algumas inferências como: O título é coerente com
o texto? Por quê? Que trecho justifica essa resposta? De que processo trata o texto? Por
que nós brasileiros elegemos nossos representantes? De acordo com a constituição quais
são os deveres do poder legislativo? Como se dá o processo eleitoral nos países em que
a forma de governo é a Democracia? Qual a diferença entre nosso processo eleitoral e o
dos EUA? O Brasil é um país democrático?
Tive a colaboração da professora de História, Suzeni Teles Rufinni, que
trabalhou com eles o que era referente a sua disciplina, explicando sobre os três poderes,
a Democracia como regime de governo e as diferenças entre os processos eleitorais no
Brasil e nos EUA.
Pedro e Leonardo disseram que a diferença entre a eleição no Brasil e nos EUA
é que, apesar de o Brasil ser considerado um país democrático, somos obrigados a votar,
enquanto nos EUA não, as pessoas votam se quiserem. Mesmo assim, muitos
americanos fazem questão de ir às urnas escolher seus representantes enquanto aqui
nem sempre queremos votar.
Vale destacar que, neste momento, estou aprendendo e ensinando, à medida
que há um movimento de ação, reflexão e ação. Pois, estudando no grupo com a
doutoranda, vimos as teorias, elaboração das sequências didáticas e as aplicamos na
escola, e em seguida retornamos para avaliar os resultados no grupo, de onde vão
surgindo novos estudos e novas sequências didáticas.
Na pós-leitura, foram feitos os seguintes questionamentos: Qual o ponto de
vista dos autores? Você consegue identificar dois argumentos em defesa desse ponto de
vista? Após responderem esses questionamentos, os alunos se organizaram em grupos
de acordo com as imagens de políticos distribuídas entre eles: Barack Obama, Nelson
Mandela, Dilma Rouseff, Jacques Wagner e Ban Ki Moon (secretário geral da ONU),
para organizar um debate com dois ou três argumentos.
O ponto de vista dos autores é mostrar que os brasileiros votarão para
governador, deputado federal e estadual etc.; esclarecer que o voto só é obrigatório para
maiores de 18 anos e analfabetos e jovens entre 16 e 18 anos não precisam votar.
Foi feita também uma análise linguística: Na linha 19, qual a intenção do autor
ao utilizar dois sinais de pontuação depois da expressão “o quê”? O discurso no texto é
direto ou indireto?
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O uso de dois sinais de pontuação está associado ao desejo de dar ênfase,
conclusão à qual os alunos somente chegaram após uma aula sobre pontuação. O
discurso é direto, por apresentar diretamente as falas dos personagens. Os alunos não
souberam justificar, mas responderam corretamente o tipo de discurso do texto.
Em outra aula, após a análise linguística, utilizamos o texto “Meu povo, eu
prometo”, com palavras cruzadas referentes ao tema eleições, para os alunos
responderem em grupo. Por último, os alunos, ainda em grupo, se reuniram para criar
uma plataforma de governo, visando o convencimento de eleitores.
Para isso, expliquei aos alunos que um texto argumentativo objetiva convencer
alguém de nossas ideias. Para tanto, deve ter clareza para tratar de qualquer tema ou
assunto, sendo constituído por um primeiro parágrafo curto, seguido do
desenvolvimento que deve referir-se à opinião de que o escreve – com argumentos
convincentes e verdadeiros e exemplos claros. Por fim deve ser concluído com um
parágrafo capaz de responder ao primeiro parágrafo, ou, simplesmente, com a ideia
chave da opinião. A linguagem utilizada é, em geral, impessoal e objetiva.
Após essa explicação os alunos foram para a atividade prática da Plataforma de
Governe, que foi organizada da seguinte maneira: primeiro foi feita a ativação dos
conhecimentos prévios sobre o que é uma plataforma de governo, Vitória questionou “é
o que o candidato fala, pró? ” Wesley “é o que ele vai fazer no seu governo? ”.
Após os questionamentos feitos por eles, respondi que uma plataforma de
governo é a lista de interesses que um governo defende e pelos quais trabalha, é a base
de tudo que se quer implementa, são seus planos. Ex.: fim da pobreza, extinção da
fome, uma educação de qualidade.
Em seguida, formamos quatro grupos que foram sorteados a partir das
seguintes palavras: Plataforma, Governo, Candidatos e Eleição. Os alunos se
organizaram de acordo com as palavras iguais. A partir daí foi dada a seguinte
instrução: “Agora vocês vão criar a plataforma de governo, lembrando que o texto deve
ser argumentativo, por isso vocês precisarão convencer os eleitores das suas ideias. O
texto deve ser claro e ter riqueza lexical, para tratar do tema ou assunto, os argumentos
precisam ser convincentes e verdadeiros com exemplos claros”. Após a conclusão da
atividade, escolhemos juntos o texto com argumento mais convincente, formado por
Tamires, Gabriel, Jéssica e Vitória.
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Ao longo do processo foi importante este estudo, pois assim os sujeitos
partícipes puderam refletir sobre a relevância de tal texto. Pude, com isso, perceber o
que de fato os alunos aprenderam com este estudo, a identificar o texto de divulgação
científica como não literário, reconhecê-lo através do suporte, perceber as diferenças
entre um artigo de opinião e um de divulgação científica, fazendo inferências,
reconhecendo o tema e a ideia principal e quais aspectos linguísticos foram trabalhados.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que percebi com isso é que, apesar das diversas dificuldades apresentadas, os
alunos são capazes de inferir informações tais como: o tema, o gênero textual, os
argumentos utilizados pelo autor etc. Ao executar essas aulas notei, criando um
ambiente acolhedor, que os alunos não tiveram boa receptividade por estarem
preocupadas com a gramática descontextualizada. A falta de engajamento por parte de
alguns alunos causou angústia, mas pude mostrar-lhes que a melhor forma de trabalhar a
gramática é a partir de um contexto. Assim conduzi a atividade, com as reflexões feitas
acerca do ensino de LP, que precisa ser contextualizado. Acredito na possibilidade
melhorar a qualidade do ensino nessa disciplina para que, dessa forma, possa conduzir o
aluno à aprendizagem, o que implica mudança nos métodos para sermos capazes de
motivar nosso alunos a se expressarem nas diversas situações de comunicação.
Em relação a ensinar, ficou evidenciado que os alunos aprenderam a fazer
inferências, identificar ideias explícitas no texto, perceber a diferença entre as eleições
no Brasil e nos EUA.
Ao concluir esse projeto, os alunos aprenderam a desenvolver habilidades de
leitura como inferências, localização de informações explícitas, capacidade de
argumentar pertinentemente, identificar gêneros textuais e argumentos relevantes.
Neste cenário, e enquanto professora de L. P., pude perceber também que para
alguns alunos as atividades de leitura e escrita não têm significado algum, por isso, é
necessário partir da realidade deles, dos seus interesses, pois só assim a aprendizagem
poderá ter um verdadeiro significado.
Finalizo este artigo refletindo a pratica pedagógica, afirmando a importância de
planejarmos as nossas aulas para melhor executá-las e na certeza de que quando
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planejamos as nossas atividades precisamos considerar o que o aluno já sabe , e também
que é necessário planejar a partir daquilo que é do interesse dele para que as aulas façam
sentido. A leitura de textos precisa ser motivada.
REFERÊNCIAS
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BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Ed. 13. São Paulo: Editora Hucitec, 2009.
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KLEIMAN, A. B. Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Signo. Santa
Cruz do Sul, v. 32 n. 53, p. 1-25, dez, 2007.
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ROMERO, T. R. S. (Org.). Autobiografias na (re)constituição de identidades de professores de
línguas: O olhar crítico-reflexivo. Campinas – SP: Pontes Editores, 2010.
SILVA, L. F. Formação de professoras: Aprendendo e ensinando a ler e escrever. 2012. 161 f.
Dissertação (Mestrado em Língua e Cultura) – Instituto de Letras, Universidade Federal da
Bahia, Salvador. 2012.
STREET, B. V. Social Literacies: Critical approaches to literacy in development, Ethnography
and Education. Harow: Pearson, 1995.
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