FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
TRABALHO FINAL DO 6ordm ANO MEacuteDICO COM VISTA Agrave ATRIBUICcedilAtildeO DO GRAU DE MESTRE
NO AcircMBITO DO CICLO DE ESTUDOS DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
MARIANA CATARINA COUTINHO DE VASCONCELOS DE LACERDA E
NAacutePOLES
UMA FAMIacuteLIA DISFUNCIONAL - IMPACTO NA
QUALIDADE DE VIDA DO ELEMENTO-ALVO RELATOacuteRIO
AacuteREA CIENTIacuteFICA DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR enspenspenspenspensp
TRABALHO REALIZADO SOB A ORIENTACcedilAtildeO DE
DR HUMBERTO VITORINO
MARCcedilO2016
Resumo
A famiacutelia eacute definida pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede como sendo o grupo de
pessoas de casa que tem um certo grau de parentesco por sangue adopccedilatildeo ou casamento
limitado em geral pelo chefe de famiacutelia esposa e filhos solteiros que convivem com eles e eacute o
primeiro agente social envolvido na promoccedilatildeo da sauacutede e no bemshyestar Quando a famiacutelia se
torna ineficaz natildeo sendo capaz de exercer as suas funccedilotildees dizshyse disfuncional A violecircncia
domeacutestica eacute uma forma de disfunccedilatildeo familiar constituindo qualquer tipo de violecircncia fiacutesica
psicoloacutegica verbal ou outra dentro do seio familiar
Este relatoacuterio pretende apresentar um caso de uma famiacutelia disfuncional na qual os
episoacutedios de violecircncia domeacutestica satildeo constantes e do impacto dessa situaccedilatildeo familiar na
qualidade de vida do elementoshyalvo Pretende ainda sensibilizar a Comunidade Meacutedica em
especial a Medicina Geral e Familiar para os casos de violecircncia domeacutestica
Palavrasshychave
Famiacutelia disfuncional Violecircncia domeacutestica Violecircncia conjugal Maus tratos infantis
Violecircncia intershypares Comportamentos parashysuicidaacuterios Sauacutede mental Abuso do aacutelcool
Medicina Geral e Familiar
Corpo do relatoacuterio
Introduccedilatildeo Enquadramento do tema e da sua relevacircncia Razotildees da seleccedilatildeo deste formato
Este trabalho pretende expor o caso de uma jovem de cerca de 20 anos com uma
famiacutelia disfuncional em vaacuterias dimensotildees e mostrar de que forma eacute que esses distuacuterbios e
vivecircncias tiveram de alguma maneira impacto na sua qualidade de vida
O objectivo essencial deste relatoacuterio eacute reportar o impacto da famiacutelia nas atividades do
quotidiano dos seus elementos neste caso em particular do elementoshyalvo Todos temos
uma famiacutelia Esta eacute de suma importacircncia logo desde o nascimento As relaccedilotildees entre pais e
filhos satildeo fulcrais no processo de socializaccedilatildeo das crianccedilas pois aqueles satildeo os adultos que
maior peso tecircm neste processo sobretudo nos primeiros anos [1 3] Aleacutem disso nunca eacute de
mais esquecer que o desenvolvimento emocional das crianccedilas ocorre desde o primeiro ano de
vida sendo importante para a evoluccedilatildeo da personalidade e do caraacutecter [3]
Vou relatar episoacutediosshychave da vida familiar do elementoshyalvo e expor o impacto
destes a niacutevel psicoshysomaacutetico em relaccedilatildeo ao elementoshyalvo Espero conseguir transmitir a dor
e sofrimento do elementoshyalvo pois estes tornamshyse essenciais agrave compreensatildeo da situaccedilatildeo
familiar psicoloacutegica social econoacutemica e ateacute acadeacutemica deste
Quero com este trabalho mostrar a importacircncia da famiacutelia na manutenccedilatildeo da
estabilidade nas diversas vertentes biopsicossociais de cada pessoa Tratandoshyse de um caso
real natildeo poderia escolher outro formato a natildeo ser o de relatoacuterio para a explanaccedilatildeo do mesmo
Descriccedilatildeo criacutetica
M uma jovem atualmente com cerca de 20 anos natildeo se lembra de alguma vez ter
tido uma famiacutelia ou uma vida ditas normais A matildee conheceu o pai quando tinha apenas 15
anos O pai era 26 anos mais velho
A matildee de M ainda adolescente cresceu num contexto familiar e social vulneraacutevel A
segunda filha de 3 irmatildeos os pais ele camionista ela empregada de limpeza num banco natildeo
foram felizes juntos durante muito tempo O dinheiro faltava em casa a comida natildeo era
abundante e ainda crianccedila jaacute tinha que trabalhar na apanha do morango O pai saiu de casa e
foi viver com outra mulher com quem teraacute tido um 4ordm filho A matildee de M natildeo lidou bem com
todo este contexto familiar
O pai de M esse nasceu num ldquoberccedilo de ourordquo e era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) O
segundo filho de 7 irmatildeos cresceu num casaratildeo rodeado de criadas e sem qualquer tipo de
dificuldade O pai era banqueiro A relaccedilatildeo entre os seus pais era boa apesar de terem estado
separados durante 7 anos Aos 8 anos ele e o 3ordm irmatildeo foram viver para um coleacutegio interno
de onde vieram a sair para irem viver para um hotel Durante a adolescecircncia o pai fez sempre
o que quis Em jovem trabalhou numa empresa de telecomunicaccedilotildees e a matildee deushylhe um
apartamento na capital Infelizmente o pai veio a morrer ainda novo com um cancro no
sistema urinaacuterio e a matildee subitamente um mecircs antes deste O pai de M herdou entatildeo a
quinta que viria a ser no futuro a sua casa Ainda natildeo tinha 40 anos quando se reformou por
invalidez
Apoacutes um curto periacuteodo de namoro os pais de M foram viver juntos Aos 16 anos e
com autorizaccedilatildeo escrita dos avoacutes de M a matildee tinha chegado agrave idade de casar O casamento
natildeo mudou a relaccedilatildeo entre os pais de M relaccedilatildeo essa descrita por ambos como ldquoperfeita ateacute a
matildee ter engravidadordquo (sic) Aiacute segundo M eacute que teratildeo comeccedilado os problemas entre o casal
O pai entatildeo com 44 anos natildeo aceitou aquela gravidez afirmando que o filho natildeo seria dele e
acusando a matildee de o ter traiacutedo Ora a matildee com apenas 18 anos estava sempre na companhia
do pai Viviam numa quinta jaacute ligeiramente fora dos limites de uma povoaccedilatildeo e quando
saiam raramente se separavam Apoacutes vaacuterias discussotildees o pai consciencializoushyse de que iria
ter um filho Ele queria um rapaz A matildee uma menina
A matildee tinha razatildeo shy teriam uma menina O pai ficou furioso mas novamente acabou
por aceitar Estudou durante meses o nome que iria dar agrave filha Ela soacute teria os apelidos dele
porque segundo ele seria ldquouma vergonhardquo darshylhe os apelidos da matildee
Quando M nasceu jaacute estava pronta a ser registada O pai com 45 anos soacute tinha olhos
para ela tendo deixado de se interessar totalmente pela matildee entatildeo com 19 anos Nos
primeiros meses de M comeccedilaram os episoacutedios de violecircncia laacute em casa O pai queria que M
fosse bem tratada mas levava tal ideia ao extremo Caso ele achasse que a matildee natildeo tratava
bem da filha insultavashya e agrediashya fiacutesica e verbalmente A matildee comeccedilou a ficar revoltada
pois nunca achou que tratasse mal da filha apesar da tenra idade
Com o crescimento de M os maus tratos agravaramshyse A matildee foi ficando mais
revoltada e o pai cada vez mais obcecado pelos cuidados e educaccedilatildeo da filha O pai queria
passar os dias inteiros com M dandoshylhe inuacutemeros beijos mimos e brincando com ela A
matildee sentiashyse agrave parte da famiacutelia ldquosoacute servindo para cuidar da filhardquo (sic)
Quando M completou 3 anos a matildee achou que ela deveria frequentar o jardim
infantil Apoacutes um periacuteodo de discussatildeo e violecircncia o pai laacute a deixou ir mas apenas cerca de
2h por dia As razotildees que ele apresentava eram que ldquoele podia tomar conta dela muito bemrdquo e
que ldquoela natildeo tinha que conviver com crianccedilas que natildeo eram do niacutevel delardquo (sic) Recordo que
o pai vinha de um contexto social bem diferente do da matildee de M e claramente natildeo se tinha
ainda adaptado ao meio envolvente
A violecircncia domeacutestica eacute resumidamente ldquoqualquer forma de violecircncia intrashyfamiliarrdquo
e eacute constituiacuteda por vaacuterios tipos de agressividade estando claramente aqui presentes a
violecircncia fiacutesica psicoloacutegica verbal e ldquode geacutenerordquo [2 6]
Quando M tinha 5 anos a matildee decidiu sair de casa por estar farta dos maus tratos
fiacutesicos e psicoloacutegicos A matildee sentiashyse presa em casa do pai estando proibida de fazer
inuacutemeras coisas banais como ver a sua famiacutelia O marido controlava toda a sua vida Sendo o
uacutenico detentor do dinheiro em casa todos os gastos passavam por ele A matildee de M nunca
havia tido um ordenado As roupas e ateacute a comida eram igualmente filtradas pelo marido
Natildeo tinha amigos e afastada da famiacutelia sentiashyse totalmente sozinha Esta eacute uma das
ferramentas do abusador shy isolar a viacutetima de qualquer contacto ou sistema de apoio e fazer
com que ela seja completamente dependente dele emocional e financeiramente [2 6]
A matildee de M tentou sair de casa 3 vezes O marido conseguiu que ela voltasse nas
primeiras duas Internoushya numa cliacutenica privada alegando que esta sofria de um distuacuterbio
psiquiaacutetrico A verdade eacute que a matildee de M jaacute tinha tentado o suiciacutedio por envenenamento
tendo sido encontrada parcialmente inconsciente por M e pelo pai e tinha uma depressatildeo
seguida em consulta de Psiquiatria sendo este factor de risco para a filha [4] Eacute comum as
mulheres aguentarem muito tempo numa relaccedilatildeo conjugal abusiva deste tipo Elas temem os
riscos que o rompimento lhes possa trazer tecircm medo vergonha e esperanccedila que o marido
mude o seu comportamento ateacute porque muitas vezes passam pela chamada ldquoluashydeshymelrdquo
periacuteodo em que o agressor faz promessas e planos negando os episoacutedios de violecircncia [2]
Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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Resumo
A famiacutelia eacute definida pela Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede como sendo o grupo de
pessoas de casa que tem um certo grau de parentesco por sangue adopccedilatildeo ou casamento
limitado em geral pelo chefe de famiacutelia esposa e filhos solteiros que convivem com eles e eacute o
primeiro agente social envolvido na promoccedilatildeo da sauacutede e no bemshyestar Quando a famiacutelia se
torna ineficaz natildeo sendo capaz de exercer as suas funccedilotildees dizshyse disfuncional A violecircncia
domeacutestica eacute uma forma de disfunccedilatildeo familiar constituindo qualquer tipo de violecircncia fiacutesica
psicoloacutegica verbal ou outra dentro do seio familiar
Este relatoacuterio pretende apresentar um caso de uma famiacutelia disfuncional na qual os
episoacutedios de violecircncia domeacutestica satildeo constantes e do impacto dessa situaccedilatildeo familiar na
qualidade de vida do elementoshyalvo Pretende ainda sensibilizar a Comunidade Meacutedica em
especial a Medicina Geral e Familiar para os casos de violecircncia domeacutestica
Palavrasshychave
Famiacutelia disfuncional Violecircncia domeacutestica Violecircncia conjugal Maus tratos infantis
Violecircncia intershypares Comportamentos parashysuicidaacuterios Sauacutede mental Abuso do aacutelcool
Medicina Geral e Familiar
Corpo do relatoacuterio
Introduccedilatildeo Enquadramento do tema e da sua relevacircncia Razotildees da seleccedilatildeo deste formato
Este trabalho pretende expor o caso de uma jovem de cerca de 20 anos com uma
famiacutelia disfuncional em vaacuterias dimensotildees e mostrar de que forma eacute que esses distuacuterbios e
vivecircncias tiveram de alguma maneira impacto na sua qualidade de vida
O objectivo essencial deste relatoacuterio eacute reportar o impacto da famiacutelia nas atividades do
quotidiano dos seus elementos neste caso em particular do elementoshyalvo Todos temos
uma famiacutelia Esta eacute de suma importacircncia logo desde o nascimento As relaccedilotildees entre pais e
filhos satildeo fulcrais no processo de socializaccedilatildeo das crianccedilas pois aqueles satildeo os adultos que
maior peso tecircm neste processo sobretudo nos primeiros anos [1 3] Aleacutem disso nunca eacute de
mais esquecer que o desenvolvimento emocional das crianccedilas ocorre desde o primeiro ano de
vida sendo importante para a evoluccedilatildeo da personalidade e do caraacutecter [3]
Vou relatar episoacutediosshychave da vida familiar do elementoshyalvo e expor o impacto
destes a niacutevel psicoshysomaacutetico em relaccedilatildeo ao elementoshyalvo Espero conseguir transmitir a dor
e sofrimento do elementoshyalvo pois estes tornamshyse essenciais agrave compreensatildeo da situaccedilatildeo
familiar psicoloacutegica social econoacutemica e ateacute acadeacutemica deste
Quero com este trabalho mostrar a importacircncia da famiacutelia na manutenccedilatildeo da
estabilidade nas diversas vertentes biopsicossociais de cada pessoa Tratandoshyse de um caso
real natildeo poderia escolher outro formato a natildeo ser o de relatoacuterio para a explanaccedilatildeo do mesmo
Descriccedilatildeo criacutetica
M uma jovem atualmente com cerca de 20 anos natildeo se lembra de alguma vez ter
tido uma famiacutelia ou uma vida ditas normais A matildee conheceu o pai quando tinha apenas 15
anos O pai era 26 anos mais velho
A matildee de M ainda adolescente cresceu num contexto familiar e social vulneraacutevel A
segunda filha de 3 irmatildeos os pais ele camionista ela empregada de limpeza num banco natildeo
foram felizes juntos durante muito tempo O dinheiro faltava em casa a comida natildeo era
abundante e ainda crianccedila jaacute tinha que trabalhar na apanha do morango O pai saiu de casa e
foi viver com outra mulher com quem teraacute tido um 4ordm filho A matildee de M natildeo lidou bem com
todo este contexto familiar
O pai de M esse nasceu num ldquoberccedilo de ourordquo e era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) O
segundo filho de 7 irmatildeos cresceu num casaratildeo rodeado de criadas e sem qualquer tipo de
dificuldade O pai era banqueiro A relaccedilatildeo entre os seus pais era boa apesar de terem estado
separados durante 7 anos Aos 8 anos ele e o 3ordm irmatildeo foram viver para um coleacutegio interno
de onde vieram a sair para irem viver para um hotel Durante a adolescecircncia o pai fez sempre
o que quis Em jovem trabalhou numa empresa de telecomunicaccedilotildees e a matildee deushylhe um
apartamento na capital Infelizmente o pai veio a morrer ainda novo com um cancro no
sistema urinaacuterio e a matildee subitamente um mecircs antes deste O pai de M herdou entatildeo a
quinta que viria a ser no futuro a sua casa Ainda natildeo tinha 40 anos quando se reformou por
invalidez
Apoacutes um curto periacuteodo de namoro os pais de M foram viver juntos Aos 16 anos e
com autorizaccedilatildeo escrita dos avoacutes de M a matildee tinha chegado agrave idade de casar O casamento
natildeo mudou a relaccedilatildeo entre os pais de M relaccedilatildeo essa descrita por ambos como ldquoperfeita ateacute a
matildee ter engravidadordquo (sic) Aiacute segundo M eacute que teratildeo comeccedilado os problemas entre o casal
O pai entatildeo com 44 anos natildeo aceitou aquela gravidez afirmando que o filho natildeo seria dele e
acusando a matildee de o ter traiacutedo Ora a matildee com apenas 18 anos estava sempre na companhia
do pai Viviam numa quinta jaacute ligeiramente fora dos limites de uma povoaccedilatildeo e quando
saiam raramente se separavam Apoacutes vaacuterias discussotildees o pai consciencializoushyse de que iria
ter um filho Ele queria um rapaz A matildee uma menina
A matildee tinha razatildeo shy teriam uma menina O pai ficou furioso mas novamente acabou
por aceitar Estudou durante meses o nome que iria dar agrave filha Ela soacute teria os apelidos dele
porque segundo ele seria ldquouma vergonhardquo darshylhe os apelidos da matildee
Quando M nasceu jaacute estava pronta a ser registada O pai com 45 anos soacute tinha olhos
para ela tendo deixado de se interessar totalmente pela matildee entatildeo com 19 anos Nos
primeiros meses de M comeccedilaram os episoacutedios de violecircncia laacute em casa O pai queria que M
fosse bem tratada mas levava tal ideia ao extremo Caso ele achasse que a matildee natildeo tratava
bem da filha insultavashya e agrediashya fiacutesica e verbalmente A matildee comeccedilou a ficar revoltada
pois nunca achou que tratasse mal da filha apesar da tenra idade
Com o crescimento de M os maus tratos agravaramshyse A matildee foi ficando mais
revoltada e o pai cada vez mais obcecado pelos cuidados e educaccedilatildeo da filha O pai queria
passar os dias inteiros com M dandoshylhe inuacutemeros beijos mimos e brincando com ela A
matildee sentiashyse agrave parte da famiacutelia ldquosoacute servindo para cuidar da filhardquo (sic)
Quando M completou 3 anos a matildee achou que ela deveria frequentar o jardim
infantil Apoacutes um periacuteodo de discussatildeo e violecircncia o pai laacute a deixou ir mas apenas cerca de
2h por dia As razotildees que ele apresentava eram que ldquoele podia tomar conta dela muito bemrdquo e
que ldquoela natildeo tinha que conviver com crianccedilas que natildeo eram do niacutevel delardquo (sic) Recordo que
o pai vinha de um contexto social bem diferente do da matildee de M e claramente natildeo se tinha
ainda adaptado ao meio envolvente
A violecircncia domeacutestica eacute resumidamente ldquoqualquer forma de violecircncia intrashyfamiliarrdquo
e eacute constituiacuteda por vaacuterios tipos de agressividade estando claramente aqui presentes a
violecircncia fiacutesica psicoloacutegica verbal e ldquode geacutenerordquo [2 6]
Quando M tinha 5 anos a matildee decidiu sair de casa por estar farta dos maus tratos
fiacutesicos e psicoloacutegicos A matildee sentiashyse presa em casa do pai estando proibida de fazer
inuacutemeras coisas banais como ver a sua famiacutelia O marido controlava toda a sua vida Sendo o
uacutenico detentor do dinheiro em casa todos os gastos passavam por ele A matildee de M nunca
havia tido um ordenado As roupas e ateacute a comida eram igualmente filtradas pelo marido
Natildeo tinha amigos e afastada da famiacutelia sentiashyse totalmente sozinha Esta eacute uma das
ferramentas do abusador shy isolar a viacutetima de qualquer contacto ou sistema de apoio e fazer
com que ela seja completamente dependente dele emocional e financeiramente [2 6]
A matildee de M tentou sair de casa 3 vezes O marido conseguiu que ela voltasse nas
primeiras duas Internoushya numa cliacutenica privada alegando que esta sofria de um distuacuterbio
psiquiaacutetrico A verdade eacute que a matildee de M jaacute tinha tentado o suiciacutedio por envenenamento
tendo sido encontrada parcialmente inconsciente por M e pelo pai e tinha uma depressatildeo
seguida em consulta de Psiquiatria sendo este factor de risco para a filha [4] Eacute comum as
mulheres aguentarem muito tempo numa relaccedilatildeo conjugal abusiva deste tipo Elas temem os
riscos que o rompimento lhes possa trazer tecircm medo vergonha e esperanccedila que o marido
mude o seu comportamento ateacute porque muitas vezes passam pela chamada ldquoluashydeshymelrdquo
periacuteodo em que o agressor faz promessas e planos negando os episoacutedios de violecircncia [2]
Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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Corpo do relatoacuterio
Introduccedilatildeo Enquadramento do tema e da sua relevacircncia Razotildees da seleccedilatildeo deste formato
Este trabalho pretende expor o caso de uma jovem de cerca de 20 anos com uma
famiacutelia disfuncional em vaacuterias dimensotildees e mostrar de que forma eacute que esses distuacuterbios e
vivecircncias tiveram de alguma maneira impacto na sua qualidade de vida
O objectivo essencial deste relatoacuterio eacute reportar o impacto da famiacutelia nas atividades do
quotidiano dos seus elementos neste caso em particular do elementoshyalvo Todos temos
uma famiacutelia Esta eacute de suma importacircncia logo desde o nascimento As relaccedilotildees entre pais e
filhos satildeo fulcrais no processo de socializaccedilatildeo das crianccedilas pois aqueles satildeo os adultos que
maior peso tecircm neste processo sobretudo nos primeiros anos [1 3] Aleacutem disso nunca eacute de
mais esquecer que o desenvolvimento emocional das crianccedilas ocorre desde o primeiro ano de
vida sendo importante para a evoluccedilatildeo da personalidade e do caraacutecter [3]
Vou relatar episoacutediosshychave da vida familiar do elementoshyalvo e expor o impacto
destes a niacutevel psicoshysomaacutetico em relaccedilatildeo ao elementoshyalvo Espero conseguir transmitir a dor
e sofrimento do elementoshyalvo pois estes tornamshyse essenciais agrave compreensatildeo da situaccedilatildeo
familiar psicoloacutegica social econoacutemica e ateacute acadeacutemica deste
Quero com este trabalho mostrar a importacircncia da famiacutelia na manutenccedilatildeo da
estabilidade nas diversas vertentes biopsicossociais de cada pessoa Tratandoshyse de um caso
real natildeo poderia escolher outro formato a natildeo ser o de relatoacuterio para a explanaccedilatildeo do mesmo
Descriccedilatildeo criacutetica
M uma jovem atualmente com cerca de 20 anos natildeo se lembra de alguma vez ter
tido uma famiacutelia ou uma vida ditas normais A matildee conheceu o pai quando tinha apenas 15
anos O pai era 26 anos mais velho
A matildee de M ainda adolescente cresceu num contexto familiar e social vulneraacutevel A
segunda filha de 3 irmatildeos os pais ele camionista ela empregada de limpeza num banco natildeo
foram felizes juntos durante muito tempo O dinheiro faltava em casa a comida natildeo era
abundante e ainda crianccedila jaacute tinha que trabalhar na apanha do morango O pai saiu de casa e
foi viver com outra mulher com quem teraacute tido um 4ordm filho A matildee de M natildeo lidou bem com
todo este contexto familiar
O pai de M esse nasceu num ldquoberccedilo de ourordquo e era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) O
segundo filho de 7 irmatildeos cresceu num casaratildeo rodeado de criadas e sem qualquer tipo de
dificuldade O pai era banqueiro A relaccedilatildeo entre os seus pais era boa apesar de terem estado
separados durante 7 anos Aos 8 anos ele e o 3ordm irmatildeo foram viver para um coleacutegio interno
de onde vieram a sair para irem viver para um hotel Durante a adolescecircncia o pai fez sempre
o que quis Em jovem trabalhou numa empresa de telecomunicaccedilotildees e a matildee deushylhe um
apartamento na capital Infelizmente o pai veio a morrer ainda novo com um cancro no
sistema urinaacuterio e a matildee subitamente um mecircs antes deste O pai de M herdou entatildeo a
quinta que viria a ser no futuro a sua casa Ainda natildeo tinha 40 anos quando se reformou por
invalidez
Apoacutes um curto periacuteodo de namoro os pais de M foram viver juntos Aos 16 anos e
com autorizaccedilatildeo escrita dos avoacutes de M a matildee tinha chegado agrave idade de casar O casamento
natildeo mudou a relaccedilatildeo entre os pais de M relaccedilatildeo essa descrita por ambos como ldquoperfeita ateacute a
matildee ter engravidadordquo (sic) Aiacute segundo M eacute que teratildeo comeccedilado os problemas entre o casal
O pai entatildeo com 44 anos natildeo aceitou aquela gravidez afirmando que o filho natildeo seria dele e
acusando a matildee de o ter traiacutedo Ora a matildee com apenas 18 anos estava sempre na companhia
do pai Viviam numa quinta jaacute ligeiramente fora dos limites de uma povoaccedilatildeo e quando
saiam raramente se separavam Apoacutes vaacuterias discussotildees o pai consciencializoushyse de que iria
ter um filho Ele queria um rapaz A matildee uma menina
A matildee tinha razatildeo shy teriam uma menina O pai ficou furioso mas novamente acabou
por aceitar Estudou durante meses o nome que iria dar agrave filha Ela soacute teria os apelidos dele
porque segundo ele seria ldquouma vergonhardquo darshylhe os apelidos da matildee
Quando M nasceu jaacute estava pronta a ser registada O pai com 45 anos soacute tinha olhos
para ela tendo deixado de se interessar totalmente pela matildee entatildeo com 19 anos Nos
primeiros meses de M comeccedilaram os episoacutedios de violecircncia laacute em casa O pai queria que M
fosse bem tratada mas levava tal ideia ao extremo Caso ele achasse que a matildee natildeo tratava
bem da filha insultavashya e agrediashya fiacutesica e verbalmente A matildee comeccedilou a ficar revoltada
pois nunca achou que tratasse mal da filha apesar da tenra idade
Com o crescimento de M os maus tratos agravaramshyse A matildee foi ficando mais
revoltada e o pai cada vez mais obcecado pelos cuidados e educaccedilatildeo da filha O pai queria
passar os dias inteiros com M dandoshylhe inuacutemeros beijos mimos e brincando com ela A
matildee sentiashyse agrave parte da famiacutelia ldquosoacute servindo para cuidar da filhardquo (sic)
Quando M completou 3 anos a matildee achou que ela deveria frequentar o jardim
infantil Apoacutes um periacuteodo de discussatildeo e violecircncia o pai laacute a deixou ir mas apenas cerca de
2h por dia As razotildees que ele apresentava eram que ldquoele podia tomar conta dela muito bemrdquo e
que ldquoela natildeo tinha que conviver com crianccedilas que natildeo eram do niacutevel delardquo (sic) Recordo que
o pai vinha de um contexto social bem diferente do da matildee de M e claramente natildeo se tinha
ainda adaptado ao meio envolvente
A violecircncia domeacutestica eacute resumidamente ldquoqualquer forma de violecircncia intrashyfamiliarrdquo
e eacute constituiacuteda por vaacuterios tipos de agressividade estando claramente aqui presentes a
violecircncia fiacutesica psicoloacutegica verbal e ldquode geacutenerordquo [2 6]
Quando M tinha 5 anos a matildee decidiu sair de casa por estar farta dos maus tratos
fiacutesicos e psicoloacutegicos A matildee sentiashyse presa em casa do pai estando proibida de fazer
inuacutemeras coisas banais como ver a sua famiacutelia O marido controlava toda a sua vida Sendo o
uacutenico detentor do dinheiro em casa todos os gastos passavam por ele A matildee de M nunca
havia tido um ordenado As roupas e ateacute a comida eram igualmente filtradas pelo marido
Natildeo tinha amigos e afastada da famiacutelia sentiashyse totalmente sozinha Esta eacute uma das
ferramentas do abusador shy isolar a viacutetima de qualquer contacto ou sistema de apoio e fazer
com que ela seja completamente dependente dele emocional e financeiramente [2 6]
A matildee de M tentou sair de casa 3 vezes O marido conseguiu que ela voltasse nas
primeiras duas Internoushya numa cliacutenica privada alegando que esta sofria de um distuacuterbio
psiquiaacutetrico A verdade eacute que a matildee de M jaacute tinha tentado o suiciacutedio por envenenamento
tendo sido encontrada parcialmente inconsciente por M e pelo pai e tinha uma depressatildeo
seguida em consulta de Psiquiatria sendo este factor de risco para a filha [4] Eacute comum as
mulheres aguentarem muito tempo numa relaccedilatildeo conjugal abusiva deste tipo Elas temem os
riscos que o rompimento lhes possa trazer tecircm medo vergonha e esperanccedila que o marido
mude o seu comportamento ateacute porque muitas vezes passam pela chamada ldquoluashydeshymelrdquo
periacuteodo em que o agressor faz promessas e planos negando os episoacutedios de violecircncia [2]
Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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Descriccedilatildeo criacutetica
M uma jovem atualmente com cerca de 20 anos natildeo se lembra de alguma vez ter
tido uma famiacutelia ou uma vida ditas normais A matildee conheceu o pai quando tinha apenas 15
anos O pai era 26 anos mais velho
A matildee de M ainda adolescente cresceu num contexto familiar e social vulneraacutevel A
segunda filha de 3 irmatildeos os pais ele camionista ela empregada de limpeza num banco natildeo
foram felizes juntos durante muito tempo O dinheiro faltava em casa a comida natildeo era
abundante e ainda crianccedila jaacute tinha que trabalhar na apanha do morango O pai saiu de casa e
foi viver com outra mulher com quem teraacute tido um 4ordm filho A matildee de M natildeo lidou bem com
todo este contexto familiar
O pai de M esse nasceu num ldquoberccedilo de ourordquo e era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) O
segundo filho de 7 irmatildeos cresceu num casaratildeo rodeado de criadas e sem qualquer tipo de
dificuldade O pai era banqueiro A relaccedilatildeo entre os seus pais era boa apesar de terem estado
separados durante 7 anos Aos 8 anos ele e o 3ordm irmatildeo foram viver para um coleacutegio interno
de onde vieram a sair para irem viver para um hotel Durante a adolescecircncia o pai fez sempre
o que quis Em jovem trabalhou numa empresa de telecomunicaccedilotildees e a matildee deushylhe um
apartamento na capital Infelizmente o pai veio a morrer ainda novo com um cancro no
sistema urinaacuterio e a matildee subitamente um mecircs antes deste O pai de M herdou entatildeo a
quinta que viria a ser no futuro a sua casa Ainda natildeo tinha 40 anos quando se reformou por
invalidez
Apoacutes um curto periacuteodo de namoro os pais de M foram viver juntos Aos 16 anos e
com autorizaccedilatildeo escrita dos avoacutes de M a matildee tinha chegado agrave idade de casar O casamento
natildeo mudou a relaccedilatildeo entre os pais de M relaccedilatildeo essa descrita por ambos como ldquoperfeita ateacute a
matildee ter engravidadordquo (sic) Aiacute segundo M eacute que teratildeo comeccedilado os problemas entre o casal
O pai entatildeo com 44 anos natildeo aceitou aquela gravidez afirmando que o filho natildeo seria dele e
acusando a matildee de o ter traiacutedo Ora a matildee com apenas 18 anos estava sempre na companhia
do pai Viviam numa quinta jaacute ligeiramente fora dos limites de uma povoaccedilatildeo e quando
saiam raramente se separavam Apoacutes vaacuterias discussotildees o pai consciencializoushyse de que iria
ter um filho Ele queria um rapaz A matildee uma menina
A matildee tinha razatildeo shy teriam uma menina O pai ficou furioso mas novamente acabou
por aceitar Estudou durante meses o nome que iria dar agrave filha Ela soacute teria os apelidos dele
porque segundo ele seria ldquouma vergonhardquo darshylhe os apelidos da matildee
Quando M nasceu jaacute estava pronta a ser registada O pai com 45 anos soacute tinha olhos
para ela tendo deixado de se interessar totalmente pela matildee entatildeo com 19 anos Nos
primeiros meses de M comeccedilaram os episoacutedios de violecircncia laacute em casa O pai queria que M
fosse bem tratada mas levava tal ideia ao extremo Caso ele achasse que a matildee natildeo tratava
bem da filha insultavashya e agrediashya fiacutesica e verbalmente A matildee comeccedilou a ficar revoltada
pois nunca achou que tratasse mal da filha apesar da tenra idade
Com o crescimento de M os maus tratos agravaramshyse A matildee foi ficando mais
revoltada e o pai cada vez mais obcecado pelos cuidados e educaccedilatildeo da filha O pai queria
passar os dias inteiros com M dandoshylhe inuacutemeros beijos mimos e brincando com ela A
matildee sentiashyse agrave parte da famiacutelia ldquosoacute servindo para cuidar da filhardquo (sic)
Quando M completou 3 anos a matildee achou que ela deveria frequentar o jardim
infantil Apoacutes um periacuteodo de discussatildeo e violecircncia o pai laacute a deixou ir mas apenas cerca de
2h por dia As razotildees que ele apresentava eram que ldquoele podia tomar conta dela muito bemrdquo e
que ldquoela natildeo tinha que conviver com crianccedilas que natildeo eram do niacutevel delardquo (sic) Recordo que
o pai vinha de um contexto social bem diferente do da matildee de M e claramente natildeo se tinha
ainda adaptado ao meio envolvente
A violecircncia domeacutestica eacute resumidamente ldquoqualquer forma de violecircncia intrashyfamiliarrdquo
e eacute constituiacuteda por vaacuterios tipos de agressividade estando claramente aqui presentes a
violecircncia fiacutesica psicoloacutegica verbal e ldquode geacutenerordquo [2 6]
Quando M tinha 5 anos a matildee decidiu sair de casa por estar farta dos maus tratos
fiacutesicos e psicoloacutegicos A matildee sentiashyse presa em casa do pai estando proibida de fazer
inuacutemeras coisas banais como ver a sua famiacutelia O marido controlava toda a sua vida Sendo o
uacutenico detentor do dinheiro em casa todos os gastos passavam por ele A matildee de M nunca
havia tido um ordenado As roupas e ateacute a comida eram igualmente filtradas pelo marido
Natildeo tinha amigos e afastada da famiacutelia sentiashyse totalmente sozinha Esta eacute uma das
ferramentas do abusador shy isolar a viacutetima de qualquer contacto ou sistema de apoio e fazer
com que ela seja completamente dependente dele emocional e financeiramente [2 6]
A matildee de M tentou sair de casa 3 vezes O marido conseguiu que ela voltasse nas
primeiras duas Internoushya numa cliacutenica privada alegando que esta sofria de um distuacuterbio
psiquiaacutetrico A verdade eacute que a matildee de M jaacute tinha tentado o suiciacutedio por envenenamento
tendo sido encontrada parcialmente inconsciente por M e pelo pai e tinha uma depressatildeo
seguida em consulta de Psiquiatria sendo este factor de risco para a filha [4] Eacute comum as
mulheres aguentarem muito tempo numa relaccedilatildeo conjugal abusiva deste tipo Elas temem os
riscos que o rompimento lhes possa trazer tecircm medo vergonha e esperanccedila que o marido
mude o seu comportamento ateacute porque muitas vezes passam pela chamada ldquoluashydeshymelrdquo
periacuteodo em que o agressor faz promessas e planos negando os episoacutedios de violecircncia [2]
Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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Infantil um encontro necessaacuterio Revista Portuguesa de Cliacutenica Geral 25 567ndash568
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26 Szymanski H amp Gomes R (1976) Terapia de famiacutelia Psicologia Ciencia E
Profissatildeo 6(2) 29ndash32
27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
Verlag Dashoumlfer Lisboa
O pai entatildeo com 44 anos natildeo aceitou aquela gravidez afirmando que o filho natildeo seria dele e
acusando a matildee de o ter traiacutedo Ora a matildee com apenas 18 anos estava sempre na companhia
do pai Viviam numa quinta jaacute ligeiramente fora dos limites de uma povoaccedilatildeo e quando
saiam raramente se separavam Apoacutes vaacuterias discussotildees o pai consciencializoushyse de que iria
ter um filho Ele queria um rapaz A matildee uma menina
A matildee tinha razatildeo shy teriam uma menina O pai ficou furioso mas novamente acabou
por aceitar Estudou durante meses o nome que iria dar agrave filha Ela soacute teria os apelidos dele
porque segundo ele seria ldquouma vergonhardquo darshylhe os apelidos da matildee
Quando M nasceu jaacute estava pronta a ser registada O pai com 45 anos soacute tinha olhos
para ela tendo deixado de se interessar totalmente pela matildee entatildeo com 19 anos Nos
primeiros meses de M comeccedilaram os episoacutedios de violecircncia laacute em casa O pai queria que M
fosse bem tratada mas levava tal ideia ao extremo Caso ele achasse que a matildee natildeo tratava
bem da filha insultavashya e agrediashya fiacutesica e verbalmente A matildee comeccedilou a ficar revoltada
pois nunca achou que tratasse mal da filha apesar da tenra idade
Com o crescimento de M os maus tratos agravaramshyse A matildee foi ficando mais
revoltada e o pai cada vez mais obcecado pelos cuidados e educaccedilatildeo da filha O pai queria
passar os dias inteiros com M dandoshylhe inuacutemeros beijos mimos e brincando com ela A
matildee sentiashyse agrave parte da famiacutelia ldquosoacute servindo para cuidar da filhardquo (sic)
Quando M completou 3 anos a matildee achou que ela deveria frequentar o jardim
infantil Apoacutes um periacuteodo de discussatildeo e violecircncia o pai laacute a deixou ir mas apenas cerca de
2h por dia As razotildees que ele apresentava eram que ldquoele podia tomar conta dela muito bemrdquo e
que ldquoela natildeo tinha que conviver com crianccedilas que natildeo eram do niacutevel delardquo (sic) Recordo que
o pai vinha de um contexto social bem diferente do da matildee de M e claramente natildeo se tinha
ainda adaptado ao meio envolvente
A violecircncia domeacutestica eacute resumidamente ldquoqualquer forma de violecircncia intrashyfamiliarrdquo
e eacute constituiacuteda por vaacuterios tipos de agressividade estando claramente aqui presentes a
violecircncia fiacutesica psicoloacutegica verbal e ldquode geacutenerordquo [2 6]
Quando M tinha 5 anos a matildee decidiu sair de casa por estar farta dos maus tratos
fiacutesicos e psicoloacutegicos A matildee sentiashyse presa em casa do pai estando proibida de fazer
inuacutemeras coisas banais como ver a sua famiacutelia O marido controlava toda a sua vida Sendo o
uacutenico detentor do dinheiro em casa todos os gastos passavam por ele A matildee de M nunca
havia tido um ordenado As roupas e ateacute a comida eram igualmente filtradas pelo marido
Natildeo tinha amigos e afastada da famiacutelia sentiashyse totalmente sozinha Esta eacute uma das
ferramentas do abusador shy isolar a viacutetima de qualquer contacto ou sistema de apoio e fazer
com que ela seja completamente dependente dele emocional e financeiramente [2 6]
A matildee de M tentou sair de casa 3 vezes O marido conseguiu que ela voltasse nas
primeiras duas Internoushya numa cliacutenica privada alegando que esta sofria de um distuacuterbio
psiquiaacutetrico A verdade eacute que a matildee de M jaacute tinha tentado o suiciacutedio por envenenamento
tendo sido encontrada parcialmente inconsciente por M e pelo pai e tinha uma depressatildeo
seguida em consulta de Psiquiatria sendo este factor de risco para a filha [4] Eacute comum as
mulheres aguentarem muito tempo numa relaccedilatildeo conjugal abusiva deste tipo Elas temem os
riscos que o rompimento lhes possa trazer tecircm medo vergonha e esperanccedila que o marido
mude o seu comportamento ateacute porque muitas vezes passam pela chamada ldquoluashydeshymelrdquo
periacuteodo em que o agressor faz promessas e planos negando os episoacutedios de violecircncia [2]
Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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Quando a matildee saiu de casa foi viver com a avoacute materna de M A filha ficou com o
pai Foram tempos muito difiacuteceis pois M sentiashyse uma autecircntica ldquobola de ping pongrdquo (sic)
entre a casa do pai e a da avoacute O pai comeccedilou a exercer pressatildeo sobre M para que esta
convencesse a matildee a voltar para a casa Obrigavashya a entregar cartas agrave matildee todos os dias
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muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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qual pombo correio sempre que a filha ia tomar as refeiccedilotildees a casa da avoacute Aleacutem das cartas
muitas vezes M tinha que entregar agrave matildee inuacutemeras prendas completamente exageradas A
matildee rasgava ou queimava as cartas e ignorava muitas das prendas O pai ralhava e insultava a
filha culpandoshya de natildeo convencer convenientemente a matildee a voltar para casa Estamos
perante a Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental em que o progenitor guardiatildeo querendo vingarshyse
do ex cocircnjuge tenta fazer com que o outro progenitor ou se submeta agraves suas vontade ou se
afaste dos filhos [3] Eacute comum os filhos serem usados como objecto de disputa entre os pais
sendo usados um contra o outro e causando distuacuterbios emocionais que influenciaratildeo no
desenvolvimento da crianccedila [3 4]
Foi neste ambiente de violecircncia domeacutestica (discussotildees entre os pais e entre a famiacutelia
da matildee e o pai gritos agressotildees chamadas para a GNR etc) que M entrou para a escola
Desde o 1ordm ano sempre foi boa aluna Natildeo se dava muito com os colegas porque os achava
infantis As crianccedilas viacutetimas de violecircncia na primeira infacircncia tecircm tendecircncia a serem
submissas demasiado cooperativas e tiacutemidas [2 3 4] Os conflitos vividos pelos pais antes e
durante a separaccedilatildeo satildeo responsaacuteveis por problemas de ajustamento nos filhos [3 4] Aleacutem
disso M sempre foi bastante gozada na escola Comeccedilou a usar oacuteculos aos 2 anos e vestiashyse
de maneira muito peculiar (ldquosempre com vestidos como se fosse uma princesardquo (sic)) Os
colegas insultavamshyna e alguns mais velhos chegaram a agredishyla Eacute importante que a
violecircncia interpares aqui presente seja prevenida e travada por constituir entre outras
coisas uma causa de maushyestar no presente e futuro do agredido bem como ter
consequecircncias na performance social e acadeacutemica deste [4] O pai natildeo contribuiacutea para esta
situaccedilatildeo pois tendo comeccedilado a tomar medicaccedilatildeo para uma depressatildeo comeccedilou a estacionar
o carro em frente agrave sua escola onde permanecia dormindo ateacute M sair Os colegas eram
bastante crueacuteis
Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
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27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
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Durante 8 anos a matildee de M foi perseguida pelo pai desta mesmo depois de jaacute ter
conseguido o divoacutercio O pai fazia esperas agrave matildee em diversos locais usava M para controlar
a matildee fazia chamadas constantes para a matildee assim como para M quando estas estavam
juntas (M teve o seu primeiro telemoacutevel aos 5 anos porque o pai queria saber sempre onde
ela estava) etc M recorda que quando a matildee conseguiu o primeiro emprego num snackshybar
durante 3 meses o pai levashya para o mesmo durante todo o horaacuterio da matildee porque dizia que
ldquoo lugar da filha era ao lado da matildeerdquo
Nos primeiros anos apoacutes a separaccedilatildeo M emagreceu imenso pois vomitava tudo o
que comia O pai no entanto obrigavashya a comer ldquodoses industriais de comidardquo (sic) mesmo
apoacutes vomitar M farta de comer tanto muitas vezes ia agrave casa de banho enquanto estava agrave
mesa deitar comida pela sanita chegando mesmo a vomitar agraves escondidas Quando estava
com a matildee comia com prazer Sofreu tambeacutem de enurese noturna secundaacuteria ateacute aos cerca de
8 anos Os problemas psicopatoloacutegicos satildeo comuns nas crianccedilas viacutetimas de violecircncia assim
como outros que M admite shy dormir com um peluche ateacute a adolescecircncia isolamento social
pesadelos irritabilidade tristeza e cansaccedilo constantes [2 3 4]
Foi acompanhada por uma psicoacuteloga ateacute entrar no 5ordm ano Eram constantes as
ldquoqueixas que fazia do pai agrave psicoacutelogardquo (sic) Este protegiashya tanto que chegava ao ponto de
aos 78 anos ela ainda natildeo saber comer sozinha nem limparshyse quando ia agrave casashydeshybanho A
custo a psicoacuteloga foi tentando mudar estes haacutebitos Se por um lado M era bastante boa
aluna e aparentemente muito desenvolvida intelectualmente para a idade por outro natildeo sabia
fazer coisas baacutesicas para a idade porque o pai natildeo a deixava crescer Eacute bastante frequente o
cuidador impedir o desenvolvimento normal da crianccedila nos casos de abuso emocional infantil
[2]
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
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19 Navarini V amp Hirdes a (2008) The family of a person suffering from a mental
disorder identifying adaptive resources [Portuguese]Texto amp Contexto Enfermagem
17(4) 680ndash688 Retrieved from
httpsearchebscohostcomloginaspxdirect=trueampdb=cin20ampAN=2010176041ampsit
e=ehostshylive
20 Nickel D C (2011) SAUacuteDE MENTAL TRABALHO E 465ndash476
21 Pardal M (1987) ldquoIntervenccedilatildeo Socioterapecircutica numa Famiacutelia agrave Derivardquo (Uma
abordagem sisteacutemica) IV Congresso Portuguecircs de Sociologia Retrieved from
httpwwwapsptcmsdocs_prvdocsDPR462e01ce3357f_1PDF
22 Paula A amp Almeida D De (2011) a Influecircncia Da Dinacircmica Familiar Na
Modalidade De Aprendizagem Do Sujeito 28(86) 201ndash213
23 Pereira R (2011) Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA 17
89ndash94 Retrieved from lthttpwwwunifoaedubrcadernosedicao1789pdfgt
24 Ribeiro C amp Marques C (2009) A Medicina Geral e Familiar e a Sauacutede Mental
Infantil um encontro necessaacuterio Revista Portuguesa de Cliacutenica Geral 25 567ndash568
25 Santos J A (2012) Uma consulta no outro domiciacutelio Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 28(3) 188ndash194 Retrieved from
httpwwwscielogpearimctesptscielophpscript=sci_arttextamppid=S2182shy5173201
2000300007amplng=ptampnrm=isoamptlng=pt
26 Szymanski H amp Gomes R (1976) Terapia de famiacutelia Psicologia Ciencia E
Profissatildeo 6(2) 29ndash32
27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
Verlag Dashoumlfer Lisboa
Volvidos esses 8 anos a matildee teve finalmente ldquopazrdquo Saiu de casa da avoacute e comprou
um apartamento No entanto no espaccedilo de menos de um ano a matildee apresentoushylhe o novo
namorado (mais um entre os diversos que teve depois da separaccedilatildeo) foram viver todos
juntos a matildee voltou a casarshyse e engravidou M lidou bastante mal com esta situaccedilatildeo
Sentiashyse agrave parte quando estava com a matildee e estava revoltada com a rapidez com que a matildee
evoluiu nesta nova relaccedilatildeo Natildeo aceitou o padrasto discutindo com este constantemente M
tinha 13 anos estava na adolescecircncia comeccedilava jaacute uma fase de si complicada e foi
completamente arrasada com estas notiacutecias Ironicamente foi no 8ordm ano de escolaridade que
tirou as melhores notas de sempre
No 10ordmano a turma de M mudou radicalmente com a integraccedilatildeo na aacuterea de Ciecircncias e
Tecnologias O ambiente em relaccedilatildeo a M era muito mau shy ela era alvo constante de criacuteticas
insultos falsas acusaccedilotildees Um mecircs apoacutes o iniacutecio das aulas e com o seu irmatildeo acabado de
nascer M foi obrigada a mudar de turma No entanto os colegas continuaram com agressotildees
verbais durante os intervalos e em atividades extrashycurriculares Findo esse ano letivo face ao
mau ambiente escolar (que jaacute se prolongava mais ou menos intensamente desde que entrou na
escola) e receando natildeo ter meacutedia suficiente para o curso em que queria ingressar no ensino
superior M mudou de escola Estava a escassos 4 km da primeira escola Agora teria que
fazer quase 2h de autocarro diaacuterias para ir e vir da escola O pai foi bastante reticente quanto
a essa mudanccedila A filha estaria bastante longe jaacute natildeo a iria levar e buscar todos os dias
passaria menos tempo com ela M passou o veratildeo a discutir a mudanccedila de escola com o pai
A matildee natildeo a apoiou mas tambeacutem natildeo se opocircs Tinha agora um bebeacute em casa para cuidar Na
nova escola o ambiente foi melhor subiu a meacutedia e a ldquocompeticcedilatildeordquo em termos de notas era
bastante superior Por outro lado o afastamento de casa foi alvo constante de discussotildees com
o pai
Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
Referecircncias bibliograacuteficas
1 Amaro F Sociologia da famiacutelia (Julho de 2014) Lidel Lisboa
2 Maia L Violecircncia Domeacutestica e Crimes Sexuais shy um guia para as viacutetimas familiares e
amigos (Outubro de 2012) Lidel
3 Tosta Marlina Cunha (2013) Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental a crianccedila a famiacutelia e a
lei
4 Cordeiro M (2003) Maus tratos a crianccedilas e adolescentes Chegou o momento de
dizer laquobastaraquo Rev Port Clin Geral 19 151ndash160
5 Canavez MF Alves AR Canavez LS Fatores predisponentes para uso precoce de
drogas por adolescentes
6 Coelho Patriacutecia Violecircncia Conjugal (2005) shy Violecircncia Fiacutesica Conjugal nas mulheres
que recorrem aos cuidados de sauacutede primaacuterios 343ndash351
7 Pina A (2013) Quanto mais me bates menos gosto de mim shy abordagem da
violecircncia domeacutestica em Cuidados de Sauacutede Primaacuterios Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 29(4) 250ndash254 Retrieved from
httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppid=S2182shy51732013000400
007amplng=ptampnrm=isoamptlng=pt
8 Silva Nunes Amaacutelia Violecircncia conjugal shy o papel do meacutedico de famiacutelia
9 Associaccedilatildeo de Apoio agrave Viacutetima shy httpwwwapavptvd (2016)
10 Caniccedilo H (2014) Os Novos Tipos De Famiacutelia E Novo Meacutetodo DeI Retrieved from
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11 Cordeiro R I O (2003) casos de abuso sexual e encaminhamento 163ndash171
12 da Costa R C (2006) A propoacutesito de uma situaccedilatildeo de crise familiar Revista
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13 Falcke D (nd) Crenccedilas e valores dos adolescentes acerca de famiacutelia casamento
separaccedilatildeo e projetos de vida
14 Graduada A amp Preventiva D M (2003) Dossier Violecircncia FamiliarRev Port Clin
Geral 19 141ndash7
15 Magalhatildees C Amaacutelia M amp Nunes S (2001) Terapia familiar em cuidados de
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26 Szymanski H amp Gomes R (1976) Terapia de famiacutelia Psicologia Ciencia E
Profissatildeo 6(2) 29ndash32
27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
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Com apenas 17 anos M entrou no curso do ensino superior que queria e para o qual
tinha lutado durante o secundaacuterio No entanto ficou demasiado perto de casa M preferia ter
entrado longe O pai natildeo a deixou ir viver para perto da nova faculdade apesar de ter que
fazer todos os dias cerca de 60km M viushyse privada da vida acadeacutemica com dificuldade em
estabelecer relaccedilotildees com os colegas novos e sem tempo para estudar As primeiras avaliaccedilotildees
foram um fracasso Novas discussotildees com o pai M queria sair de casa Dois meses depois
conseguiu Aleacutem disso no veratildeo anterior tinha nascido a sua irmatilde Mais um bebeacute em casa da
matildee Ela cada vez se sentia mais desintegrada naquela famiacutelia
M comeccedilou a namorar com um colega de curso no iniacutecio do 2ordm semestre Mais uma
vez o pai natildeo poderia saber porque o namorado natildeo era ldquode boas famiacuteliasrdquo (sic) e o pai
nunca aceitaria Isto aliado ao facto do pai lhe estar constantemente a telefonar agraves discussotildees
entre os dois serem praticamente diaacuterias e de natildeo aguentar um controlo completamente
desadequado para algueacutem jaacute maior de idade fez com que M se sentisse constantemente
revoltada em relaccedilatildeo ao pai e quisesse cada vez mais passar menos tempo com ele Qual
ciclo vicioso quanto menos atenccedilatildeo dava ao pai mais pressatildeo e controlo ele exercia sobre
M mais insultos e discussotildees trocavam e mais difiacutecil se tornou a relaccedilatildeo
No veratildeo apoacutes o 2ordm ano de faculdade M teve seacuterias discussotildees com o pai Este
insultavashya sem razatildeo por exemplo pelo simples facto de ela querer passar uma tarde a ler
um livro e como tal natildeo lhe dar atenccedilatildeo Um dia M natildeo aguentou aquele ambiente e foi
para casa da matildee passar as restantes feacuterias cortando parcialmente o contato com ele Este
faziashylhe esperas agrave porta de casa da matildee e telefonavashylhe constantemente Chegou mesmo a
ameaccedilarshylhe natildeo lhe dar mais dinheiro para continuar os estudos M estava financeiramente
dependente do pai A situaccedilatildeo soacute se resolveu quando M iniciou as aulas e o pai foi agrave procura
dela na sua faculdade chegando a entrar numa das suas salas de aula
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
Referecircncias bibliograacuteficas
1 Amaro F Sociologia da famiacutelia (Julho de 2014) Lidel Lisboa
2 Maia L Violecircncia Domeacutestica e Crimes Sexuais shy um guia para as viacutetimas familiares e
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3 Tosta Marlina Cunha (2013) Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental a crianccedila a famiacutelia e a
lei
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dizer laquobastaraquo Rev Port Clin Geral 19 151ndash160
5 Canavez MF Alves AR Canavez LS Fatores predisponentes para uso precoce de
drogas por adolescentes
6 Coelho Patriacutecia Violecircncia Conjugal (2005) shy Violecircncia Fiacutesica Conjugal nas mulheres
que recorrem aos cuidados de sauacutede primaacuterios 343ndash351
7 Pina A (2013) Quanto mais me bates menos gosto de mim shy abordagem da
violecircncia domeacutestica em Cuidados de Sauacutede Primaacuterios Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 29(4) 250ndash254 Retrieved from
httpwwwscielomecptscielophpscript=sci_arttextamppid=S2182shy51732013000400
007amplng=ptampnrm=isoamptlng=pt
8 Silva Nunes Amaacutelia Violecircncia conjugal shy o papel do meacutedico de famiacutelia
9 Associaccedilatildeo de Apoio agrave Viacutetima shy httpwwwapavptvd (2016)
10 Caniccedilo H (2014) Os Novos Tipos De Famiacutelia E Novo Meacutetodo DeI Retrieved from
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11 Cordeiro R I O (2003) casos de abuso sexual e encaminhamento 163ndash171
12 da Costa R C (2006) A propoacutesito de uma situaccedilatildeo de crise familiar Revista
Portuguesa de Cliacutenica Geral 22 57ndash61
13 Falcke D (nd) Crenccedilas e valores dos adolescentes acerca de famiacutelia casamento
separaccedilatildeo e projetos de vida
14 Graduada A amp Preventiva D M (2003) Dossier Violecircncia FamiliarRev Port Clin
Geral 19 141ndash7
15 Magalhatildees C Amaacutelia M amp Nunes S (2001) Terapia familiar em cuidados de
sauacutede primaacuterios A experiecircncia do Centro de Sauacutede de Sete Rios
16 Mangueira S D O amp Lopes M V D O (2014) Dysfunctional family in the
context of alcoholism concept analysis Revista Brasileira de Enfermagem 67(1)
149ndash154 httpdoiorg1059350034shy716720140020
17 Mariano L M D O F (2001) Crianccedila maltratadaRevista Portuguesa de Medicina
Geral E Familiar 17(6) 459ndash69 Retrieved from
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858
18 Mo R E S U (2013) Doenccedila 120ndash125
19 Navarini V amp Hirdes a (2008) The family of a person suffering from a mental
disorder identifying adaptive resources [Portuguese]Texto amp Contexto Enfermagem
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httpsearchebscohostcomloginaspxdirect=trueampdb=cin20ampAN=2010176041ampsit
e=ehostshylive
20 Nickel D C (2011) SAUacuteDE MENTAL TRABALHO E 465ndash476
21 Pardal M (1987) ldquoIntervenccedilatildeo Socioterapecircutica numa Famiacutelia agrave Derivardquo (Uma
abordagem sisteacutemica) IV Congresso Portuguecircs de Sociologia Retrieved from
httpwwwapsptcmsdocs_prvdocsDPR462e01ce3357f_1PDF
22 Paula A amp Almeida D De (2011) a Influecircncia Da Dinacircmica Familiar Na
Modalidade De Aprendizagem Do Sujeito 28(86) 201ndash213
23 Pereira R (2011) Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA 17
89ndash94 Retrieved from lthttpwwwunifoaedubrcadernosedicao1789pdfgt
24 Ribeiro C amp Marques C (2009) A Medicina Geral e Familiar e a Sauacutede Mental
Infantil um encontro necessaacuterio Revista Portuguesa de Cliacutenica Geral 25 567ndash568
25 Santos J A (2012) Uma consulta no outro domiciacutelio Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 28(3) 188ndash194 Retrieved from
httpwwwscielogpearimctesptscielophpscript=sci_arttextamppid=S2182shy5173201
2000300007amplng=ptampnrm=isoamptlng=pt
26 Szymanski H amp Gomes R (1976) Terapia de famiacutelia Psicologia Ciencia E
Profissatildeo 6(2) 29ndash32
27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
Verlag Dashoumlfer Lisboa
Volvidos mais de dois anos na faculdade M natildeo aguentou a pressatildeo O curso era
bastante exigente a relaccedilatildeo com o namorado acabou e rompeu novamente a relaccedilatildeo com o
pai M tentou suicidarshyse Foishylhe diagnosticada uma depressatildeo Pensashyse que os problemas
psiacutequicos sejam resultantes de falhas graves das etapas iniciais do desenvolvimento [3] Dos
problemas que afectam a qualidade de vida de crianccedilas e jovens os maus tratos na infacircncia
constituem os mais importantes [4]
Ateacute entatildeo a vida de M tem sido um completo ciclo vicioso shy inuacutemeras agressotildees
verbais inuacutemeros cortes de relaccedilatildeo com o pai o afastamento cada vez maior da matildee A viver
sozinha e durante a semana M comeccedilou a consumir aacutelcool em exagero Com pelo menos um
consumo semanal exagerado enquanto era medicada para a depressatildeo M encontrou aiacute uma
forma errada de esquecer todo o ambiente hostil que diariamente a rodeava Crianccedilas viacutetimas
de violecircncia filhas de pais separadas e viacutetimas de Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental aleacutem da
maior incidecircncia de depressatildeo e problemas de confianccedila tecircm maior probabilidade de abusar
de substacircncias [3 5]
Nas uacuteltimas feacuterias de Natal que passou com o pai (a matildee de M foi viver para as
ilhas) as discussotildees e os insultos continuaram O ambiente era muito mau M jaacute tinha
abandonado a medicaccedilatildeo para a depressatildeo havia alguns meses mas comeccedilava agora a
sentirshyse novamente deprimida dormindo mal e com choro constante Dias apoacutes o Natal farta
de estar fechada em casa a estudar pediu ao pai para ir tomar cafeacute com uma amiga O pai natildeo
queria ficar sozinho e comeccedilou a insultaacuteshyla M achou totalmente injusto pois a seu ver o
pedido que havia feito era legiacutetimo Precisava de descansar do estudo para os exames que
teria em Janeiro Decidiu sair de casa O pai imploroushylhe que natildeo saiacutesse e enquanto M
colocava as malas no carro o pai empurroushya com forccedila para a impedir de sair de casa
colocandoshyse agrave frente da porta M entrou em pacircnico e conseguiu sair No dia seguinte dadas
as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
Referecircncias bibliograacuteficas
1 Amaro F Sociologia da famiacutelia (Julho de 2014) Lidel Lisboa
2 Maia L Violecircncia Domeacutestica e Crimes Sexuais shy um guia para as viacutetimas familiares e
amigos (Outubro de 2012) Lidel
3 Tosta Marlina Cunha (2013) Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental a crianccedila a famiacutelia e a
lei
4 Cordeiro M (2003) Maus tratos a crianccedilas e adolescentes Chegou o momento de
dizer laquobastaraquo Rev Port Clin Geral 19 151ndash160
5 Canavez MF Alves AR Canavez LS Fatores predisponentes para uso precoce de
drogas por adolescentes
6 Coelho Patriacutecia Violecircncia Conjugal (2005) shy Violecircncia Fiacutesica Conjugal nas mulheres
que recorrem aos cuidados de sauacutede primaacuterios 343ndash351
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8 Silva Nunes Amaacutelia Violecircncia conjugal shy o papel do meacutedico de famiacutelia
9 Associaccedilatildeo de Apoio agrave Viacutetima shy httpwwwapavptvd (2016)
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Profissatildeo 6(2) 29ndash32
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as intensas dores na grelha costal necessitou de cuidados meacutedicos Tinha fracturado uma
costela
M soacute voltou a ter notiacutecias do pai no ano novo Entretanto este teve um AVC e culpou
M pelo seu estado de sauacutede Os contactos com o pai foramshyse tornando cada vez mais
escassos tendo ela no uacuteltimo ano vistoshyo natildeo muito mais que uma meia duacutezia de vezes
Inicialmente ainda mantinha contacto telefoacutenico mas dado o comportamento obsessivo e
insultuoso do pai rompeu por completo todo o tipo de contacto Quando existem situaccedilotildees de
maus tratos eacute natural existir uma quebra ou uma perturbaccedilatildeo dos laccedilos afectivos nas diversas
dimensotildees como aqui aconteceu [4]
No primeiro dia do uacuteltimo ano letivo apoacutes umas feacuterias afastada do pai M foi
surpreendida por este dentro de sua casa Em pacircnico chamou a PSP e apresentou queixa por
violecircncia domeacutestica algo em que jaacute vinha a pensar haacute algum tempo Jaacute natildeo era a primeira vez
que se via obrigada a chamar a PSP Uma vez o pai tinha forccedilado a entrada em sua casa
Neste momento M estaacute a passar por um processo judicial lento e doloroso Natildeo fala
com o pai haacute mais de meio ano Este continua a enviarshylhe mensagens para o telemoacutevel tatildeo
depressa sendo afetuoso como insultuoso a fazershylhe inuacutemeras chamadas praticamente todos
os dias mesmo depois de ter sido chamado a depor algumas esperas agrave porta de casa e nas
redondezas desta em cafeacutes e ateacute a deixarshylhe ldquoprendasrdquo agrave porta M vive num ambiente de
medo constante longe da matildee sentindoshyse completamente desprotegida O pai deixou de a
ajudar financeiramente e M foi obrigada a pedir um empreacutestimo para acabar o curso
Senteshyse por isso ainda mais pressionada academicamente Vive com estudantes
universitaacuterias e felizmente o ambiente em sua casa eacute bom Agrave data da realizaccedilatildeo deste
relatoacuterio M aguardava uma medida de afastamento do pai por parte do tribunal
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
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1 Amaro F Sociologia da famiacutelia (Julho de 2014) Lidel Lisboa
2 Maia L Violecircncia Domeacutestica e Crimes Sexuais shy um guia para as viacutetimas familiares e
amigos (Outubro de 2012) Lidel
3 Tosta Marlina Cunha (2013) Siacutendrome de Alienaccedilatildeo Parental a crianccedila a famiacutelia e a
lei
4 Cordeiro M (2003) Maus tratos a crianccedilas e adolescentes Chegou o momento de
dizer laquobastaraquo Rev Port Clin Geral 19 151ndash160
5 Canavez MF Alves AR Canavez LS Fatores predisponentes para uso precoce de
drogas por adolescentes
6 Coelho Patriacutecia Violecircncia Conjugal (2005) shy Violecircncia Fiacutesica Conjugal nas mulheres
que recorrem aos cuidados de sauacutede primaacuterios 343ndash351
7 Pina A (2013) Quanto mais me bates menos gosto de mim shy abordagem da
violecircncia domeacutestica em Cuidados de Sauacutede Primaacuterios Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 29(4) 250ndash254 Retrieved from
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8 Silva Nunes Amaacutelia Violecircncia conjugal shy o papel do meacutedico de famiacutelia
9 Associaccedilatildeo de Apoio agrave Viacutetima shy httpwwwapavptvd (2016)
10 Caniccedilo H (2014) Os Novos Tipos De Famiacutelia E Novo Meacutetodo DeI Retrieved from
httphdlhandlenet1031625995
11 Cordeiro R I O (2003) casos de abuso sexual e encaminhamento 163ndash171
12 da Costa R C (2006) A propoacutesito de uma situaccedilatildeo de crise familiar Revista
Portuguesa de Cliacutenica Geral 22 57ndash61
13 Falcke D (nd) Crenccedilas e valores dos adolescentes acerca de famiacutelia casamento
separaccedilatildeo e projetos de vida
14 Graduada A amp Preventiva D M (2003) Dossier Violecircncia FamiliarRev Port Clin
Geral 19 141ndash7
15 Magalhatildees C Amaacutelia M amp Nunes S (2001) Terapia familiar em cuidados de
sauacutede primaacuterios A experiecircncia do Centro de Sauacutede de Sete Rios
16 Mangueira S D O amp Lopes M V D O (2014) Dysfunctional family in the
context of alcoholism concept analysis Revista Brasileira de Enfermagem 67(1)
149ndash154 httpdoiorg1059350034shy716720140020
17 Mariano L M D O F (2001) Crianccedila maltratadaRevista Portuguesa de Medicina
Geral E Familiar 17(6) 459ndash69 Retrieved from
httpwwwrpmgfptojsindexphpjournal=rpmgfamppage=articleampop=viewamppath[]=9
858
18 Mo R E S U (2013) Doenccedila 120ndash125
19 Navarini V amp Hirdes a (2008) The family of a person suffering from a mental
disorder identifying adaptive resources [Portuguese]Texto amp Contexto Enfermagem
17(4) 680ndash688 Retrieved from
httpsearchebscohostcomloginaspxdirect=trueampdb=cin20ampAN=2010176041ampsit
e=ehostshylive
20 Nickel D C (2011) SAUacuteDE MENTAL TRABALHO E 465ndash476
21 Pardal M (1987) ldquoIntervenccedilatildeo Socioterapecircutica numa Famiacutelia agrave Derivardquo (Uma
abordagem sisteacutemica) IV Congresso Portuguecircs de Sociologia Retrieved from
httpwwwapsptcmsdocs_prvdocsDPR462e01ce3357f_1PDF
22 Paula A amp Almeida D De (2011) a Influecircncia Da Dinacircmica Familiar Na
Modalidade De Aprendizagem Do Sujeito 28(86) 201ndash213
23 Pereira R (2011) Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA Cadernos UniFOA 17
89ndash94 Retrieved from lthttpwwwunifoaedubrcadernosedicao1789pdfgt
24 Ribeiro C amp Marques C (2009) A Medicina Geral e Familiar e a Sauacutede Mental
Infantil um encontro necessaacuterio Revista Portuguesa de Cliacutenica Geral 25 567ndash568
25 Santos J A (2012) Uma consulta no outro domiciacutelio Revista Portuguesa de
Medicina Geral E Familiar 28(3) 188ndash194 Retrieved from
httpwwwscielogpearimctesptscielophpscript=sci_arttextamppid=S2182shy5173201
2000300007amplng=ptampnrm=isoamptlng=pt
26 Szymanski H amp Gomes R (1976) Terapia de famiacutelia Psicologia Ciencia E
Profissatildeo 6(2) 29ndash32
27 Rebelo L A Famiacutelia em Medicina Geral e Familiar shy Conceitos e Praacuteticas (2011)
Verlag Dashoumlfer Lisboa
Conclusotildees principais Relevacircncia para o conjunto da Profissatildeo Meacutedica
A violecircncia domeacutestica eacute uma fatalidade que atinge brutalmente as famiacutelias
portuguesas afectando indiscriminadamente qualquer membro Cerca de um quarto dos
casais admitem ter vivido uma situaccedilatildeo de violecircncia deste tipo [7] sendo que cerca de 40
das mulheres jaacute experienciaram pelo menos um episoacutedio violento [8] O caso apresentado eacute
exemplo de uma famiacutelia portuguesa de classe meacutedia na qual matildee e filha foram viacutetimas de
violecircncia por parte do pai de M
As situaccedilotildees de disfunccedilatildeo familiar em particular as de violecircncia domeacutestica satildeo
sempre de muito difiacutecil gestatildeo para o Meacutedico de Famiacutelia ficando este dividido entre uma
atitude de apoio e escuta passiva e uma atitude activa quer sinalizando a situaccedilatildeo quer
capacitando a viacutetima a fazecircshylo No caso anteriormente apresentado segundo M natildeo houve
em altura alguma qualquer intervenccedilatildeo por parte do Meacutedico de Famiacutelia [7] Muitas vezes eacute
difiacutecil o Meacutedico apercebershyse dos problemas familiares quando os membros natildeo os
manifestam verbalmente As viacutetimas escondemshyse e omitem as situaccedilotildees de violecircncia
repetida por vergonha medo ou por outras razotildees Para aleacutem disso muitas das famiacutelias
disfuncionais natildeo frequentam assiduamente o Centro de Sauacutede No entanto as mulheres
viacutetimas de violecircncia apresentam queixas ou patologias agraves quais se deve estar atento
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
cuidados de sauacutede primaacuterios eacute o de oferecer ldquoum ombro amigordquo apoiar nas decisotildees das
viacutetimas e ajudar a gerir as queixas Eacute imprescindiacutevel que o Meacutedico entenda a dinacircmica da
violecircncia domeacutestica questionar sobre a existecircncia dos vaacuterios tipos de violecircncia avaliar o
risco e gravidade associado e muito importante incentivar a seguranccedila da viacutetima fazendoshya
conhecer os seus direitos ou referenciadoshya para entidades que lhe transmitam tais
informaccedilotildees [7] Seria importante incluir questotildees relacionadas com esta problemaacutetica nas
histoacuterias cliacutenicas de rotina [8]
Para as viacutetimas eacute difiacutecil haver finais completamente felizes Cabe ao Meacutedico de
Famiacutelia ajudar na prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica O relato deste caso infelizmente com
um final que natildeo se adivinharaacute o melhor pretende alertar a Comunidade Meacutedica a mantershyse
atenta e a agir
Referecircncias bibliograacuteficas
1 Amaro F Sociologia da famiacutelia (Julho de 2014) Lidel Lisboa
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Verlag Dashoumlfer Lisboa
nomeadamente lesotildees traumaacuteticas perturbaccedilotildees psicoloacutegicas distuacuterbios genitoshyurinaacuterios
perturbaccedilotildees da gravidez e agravamento de doenccedilas croacutenicas[8]
O Meacutedico de Famiacutelia deveraacute ter uma visatildeo biopsicossocial ambiental emocional e
ateacute espiritual da viacutetima de modo a que com ela conseguiam delinear um plano para
enfrentar e ultrapassar a situaccedilatildeo disfuncional [7]
O caso apresentado serve para alertar a Comunidade Meacutedica em especial os Meacutedicos
de Famiacutelia para os casos de violecircncia domeacutestica O papel deste uacuteltimo por constituir os
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