Uma descrição densa:
Por uma teoria interpretativa da cultura
Clifford Geertz
Confusão teórica a respeito do conceito de cultura.
Utilização do conceito de cultura como recurso explicativo para
todas as questões.
Pontos polêmicos em aberto e reconhecimento de limites do
termo (ponderação).
Max Weber: “o homem é um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceu”. Antropologia (como estudo
da cultura) – ciência interpretativa, à procura do significado
(diferente das ciências experimentais, à procura de leis).
Correntes metodológicas voltadas à descrição das operações
superficiais.
O que significaria piscar os olhos? Uma contração da pálpebra.
- Contração involuntária.
- Tique nervoso.
- Imitação, ridicularização do tique nervoso.
- Ensaio da ridicularização do tique nervoso.
- Piscadela conspiratória.
- Piscadela de falsa conspiração.
Como movimentos, todos são idênticos.
Gestos dúbios: sorrisos, franzidos. Quais sentidos assumem?
A um olhar superficial, transposto em uma descrição
superficial, corre-se o risco de não se conseguir capturar os
diferentes significados associados a cada contexto, a cada
manifestação particular.
Propõe a descrição densa.
Estruturas superpostas e emaranhadas de significados,
inferências e implicações.
As manifestações não se esgotam em si, nem são decorrências
diretas de determinações culturais.
Como o pesquisador faz essa entrada?
Prática da etnografia e análise antropológica (mediação social e
interconexão de universos culturais):
Trabalho antropológico pode parecer ser um trabalho centrado
na observação/descrição.
Menos uma questão de mera observação e mais uma questão de
interpretação do que parece ser.
A análise antropológica é escolher entre as estruturas de
significação e determinar sua base social e sua importância.
A ênfase do autor é na etnografia como uma descrição densa.
Nossos dados são nossa própria construção (uma interpretação)
das construções de outras pessoas. A maior parte do que
precisamos para compreender um acontecimento particular,
um ritual, um costume, uma ideia, está insinuado como
informação de fundo (não acessível à manifestação explícita, ao
fenômeno).
Não se trata de anotar as falas, mas de acessar os
discursos, sua intencionalidade e os significados que ele
aciona, o universo de sentidos no qual ele se inscreve.
Cultura consiste em estruturas de significados socialmente
estabelecidas, nos termos dos quais as pessoas fazem certas
coisas como sinais de conspiração e se aliam ou percebem
os insultos e respondem a eles. O que não quer dizer que os
comportamentos sejam determinados.
No trabalho de campo, precisamos nos situar, precisamos ser
capazes de conversar com elas, não somente de falar a elas.
A cultura não é um poder; não se trata da capacidade de se
dotar de ferramentas para “se passar” pelas pessoas do local
(nem deve ser esse o objetivo do pesquisador). Também não é
algo que determina os comportamentos das pessoas.
A cultura é um contexto, dentro do qual os comportamentos
podem ser descritos de modo inteligível (de modo denso), única
perspectiva a partir da qual podemos entender as
manifestações empíricas. Precisamos nos situar nesse
contexto.
Os textos antropológicos não são representação fiel da
realidade. São interpretações, algo construído, modelado, são
portanto ficções.
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