GUIA DE NAVEGAÇÃO
3- INTRODUÇÃO
5- AZUL DO CÉU
6- SONETO DE DESPEDIDA
7- MANHÃ CELEBRE
8- PÉ DE IPÊ
9- SORRIA
10- LOGÍSTICA APLICADA
11- PIGMENTO SUJO
12- SENTIMENTO INCISIVO
13- CAMINHOS LÁ FORA
14- MATEMÁTICA DO SILÊNCIO
15- SONETO PARALELO
16- O POTE
18- SONETO SOLTO
19- VIVA A VIDA
21- O BATER DAS AZAS
22- ATUAL CIRCUNFERÊNCIA
23- RUMO AO INFINITO
25- DESFRAGMENTAÇÃO
26- REVIRAVOLTA
27- UM SONHO AZUL
28- DEIXA EMANAR
29- ELEMENTAR
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INTRODUÇÃO
Esse trabalho não passa de uma antologia, e nem por isso é
só uma antologia. Por qual razão? Explico; uma antologia é
um estudo de flores ou uma coleção de flores escolhidas;
Florilégio, assim, nomeando também uma reunião de poesias.
Às vezes, ao mesmo tempo que absorvo estudando admiradamente
a poesia que se espalha no abstrato e no concreto do existir,
transpiro-a, traduzindo de mim, o sentimento e a ideia que,
ao se mesclarem, se fazem também palavras.
E são as poesias traduzidas nessas vezes, em que minha vista
se perdeu em meio ao azul do céu ou mergulhou na noite negra
caçando a estrela mais distante (afim de me localizar), que
decidi reunir nesse livro. Esse, diferente de seu conteúdo,
me foi trabalhoso; selecionar, revisar- editar.
O conteúdo se deu de maneira natural, de tal forma que não
é um mérito, nele não houve esforço, pois é como uma espécie
de fotossíntese, que não passa de uma fotossíntese, mas nem
apenas por isso é só uma fotossíntese.
E é por simplesmente não passar do que é, e nem apenas ser
só isso, que o título desse trabalho, é o que esse trabalho
é, um sismo entre o esmo, diante da porta do infinito.
O autor.
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O AZUL DO CÉU
Não há definição
Que explique o infinito
Mas um coração
O percebe de intuito
Um olhar num abismo
Um sismo entre o esmo
Uma liberdade no azul!
O pensamento em vida
Teme pela morte certa
Ainda que de obscura data
Desata no espírito
Um anseio que se sacia
Por si só,
E a sensação de existir
Percebe-se além do tempo
Desfragmentando -se
No sonho da vida.
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SONETO DE DESPEDIDA
Tarde quente
Boca vazia
Arvore grande
Estrela mor, brilha.
Olhos claros
Refletem um rosto
Gritante silêncio
Se escora um corpo!
Despedidas iguais
Todas são tristes
-agora;
Claro e cheio
Transborda o rio
Pela face.
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MANHÃ CELEBRE
Por sobre o silêncio das casas
paira uma neblina causada
por alguma razão que o homem
talvez explique, mas não tange.
E o emaranhado das fiações elétricas
perdem-se nos galhos dessas árvores
que se apertam em dividir espaço com o concreto.
Nessa manhã cinzenta
o coração parece estar propício ao céu azul acolá,
no além do que olhos podem ver.
Mesmo que até os pássaros passaram a preferir os fios aos
galhos,
o coral ainda ecoa nessa manhã de inverno,
junto ao quente coração que está em festa azul,
ainda que seja cinza o céu infinito em que os olhos se
perdem,
-O coração sempre vê mais profundo.
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PÉ DE IPÊ
Um belo outdoor rouba dos meus olhos
a chance de apreciar os finos galhos
do pé de ipê, em pleno inverno.
Uma cortina de fumaça esquisita
borra a aquarela levando da minha vista
o véu do céu que eu ia apreciando...
Onde estão meus direitos?
Sou furtado a todo tempo!
Eu só queria que me chegasse o vento...
Aquele que foi bloqueado
na parede de cimento
a qual privou o pensamento
de buscar o fundamento...
Eu não quero previdência social
e nem uma folga por semana
muito menos o produto do comercial
não almejo ser bacana...
Eu quero o pé de ipê
e o céu azul!
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SORRIA
Sobras do prato
Vão para o lixo
Horas vendidas
Pro inimigo
Sonhos vagos
Vagão dormindo
Flores no vaso
O chão é inquilino
Solo árido
Plano sem fundo
Sem salário
Vaga defunto
Escuso e raro
O tal do assunto
Penoso e caro
O efeito contrário
Que causa
um sorriso.
Sorria criança
Sorria velhinho
Sorria esperança
Pra encontrar o perdido.
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LOGÍSTICA APLICADA
O que olhos podem ver
Além de formatos cores?
Se não sabes o que tem numa alma
Porque nos afliges com débeis rumores?
Bem é bem e mal é mal?
Contos infantis e fábulas mágicas
Inspiram os sonhadores e deterioram os patéticos,
Prateleiras e caixas organizam as coisas,
Mas não de modo que se possa entender.
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PIGMENTO SUJO
...É logo ali o submundo...
No paralelo das ruas
Dormem crimes absurdos
-Todas as leis nuas!
Despidas de qualquer juízo
As almas se perdem em romances,
Dramas, vinganças dum paraíso...
Atulham se performances;
Droga, dinheiro, comércio
A luz de um belo dia, ou
No brilho de um artifício
Fúnebre, noite que ecoou.
Nos labirintos, absinto!
O trono do caos, numa lata
O súdito sem espírito
Se vende ao que lhe mata...
Na casa bonita
Dormem as crianças
Os pais das benditas
Nelas têm esperanças.
Tão pouco sabem,
Mas o mal dos covardes
É achar que podem
Esquivar-se dos combates.
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SENTIMENTO INCISIVO
Fora dos planos
De baixo dos panos
A fuga dum cigano
Em madrugada de sereno;
Acerta-se num engano
Um século em um ano
Sentimento profano...
Se o amor causa danos
Para quem constrói reinos,
Também não se faz ameno
Para quem o sente de menos.
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CAMINHOS LÁ FORA
As estrelas do céu
as ondas do mar
além do horizonte
elas ousam estar,
não são como os prédios
imóveis nas cidades,
chuva ácida infiltra
nos trincados que ardem.
No fundo dos oceanos
onde o mistério se enxágua,
ou galáxias afora
onde o som se propaga,
lugar quer que esteja
há de ter estrada
se a cabeça que deseja
sair de dentro de casa!
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MATEMÁTICA DO SILÊNCIO
Antes ouvindo atento
As paisagens do silêncio
Do que em desalento
Vagando em acho receio
A esmo num mar
De afirmações
Desperdiçadas queixas
Em frações
Desproporcionais
Aos dividendos
Desequilíbrio que berra
Os segredos
Que de forma oposta
De outro deveria dizer
Sempre em tom brando
Benignas frases
Pois uma vez que fossem
Seriam, para o bem.
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SONETO PARALELO
Uma viagem planejada
Há um lugar não tão distante
O mar de frente a sacada
De uma construção errante;
A serra alta cerca os lados
E entre seus tons de verde
Cachoeiras e mistérios alados
Que voam entre os que entendem
Borboletas, libélulas e pássaros
E mais outros não identificados,
Purpurina no ar, um sonho encantado.
A magia da essência com brilho raro
Dispensei a ciência dos bastardos
Lá não significa nada, os números somados.
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O POTE
A comodidade se esbalda
Na planície do mármore
As mãos, ambas ocupadas
Mexendo, cal e enxofre.
Na curva do mundo
No berçário dos ventos
Correndo, se vai um miúdo
Buscando seu momento.
De tarde, de noite
A qualquer pensamento,
Derruba o pote
A corrente de vento;
As folhas são o que são
Os homens também
Inquérito da razão
Ainda vai além...
De certo há vontade de berrar
Mas nem sempre se tem o que dizer
Vem do complexo pensar
O receio em ser;
Infinitas chances desperdiçadas
Enchendo o pote de fichas,
Escolhas bem planejadas
Em paredes fixas?
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-A fuga ;
Não há o que dizer!
Nem mesmo uma ruga!?
O vento pode ser;
Lá de onde ele fez nascer
O carrasco do sequestro,
Mas devo esclarecer
Ele libertou o verso espectro;
A mesa continua ao dispor
E o pote tombado sobre ela
Em volta, alicerce e seco suor,
Acima, sol estrela amarela,
A atitude de repente
Lavrou aquela luta diária
O cenário retumbante
Em outra fonte, vária.
Ninguém mais protege o pote.
Ninguém mais constrói no lote.
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SONETO SOLTO
Vivo de bico,
mas não sou pássaro.
Quem me dera se eu fosse
e soubesse voar.
Às vezes fico,
outras não paro,
quem me dera esquecesse,
insisto em lembrar.
Pão pra comer,
sonho pra realizar.
Busco apenas ser.
Na beira do mar
aumento meu poder.
Longe, como gosto olhar.
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VIVA A VIDA
A prisão dos conceitos
Alimenta de pão e água
O coração do sujeito
Que se entregam às mágoas
Às mínguas do ser
Perde-se nas certezas,
Dúvidas parece nem ter.
Onde ficam as horas vagas
Que vagam pelas rotinas?
É claro que não podes ver
Deixas sempre fechadas as cortinas...
Esqueça o que sabe
Venha comigo
Em um fim de tarde
Vai encontrar o caminho;
Vamos sem pressa
Estrelas a dentro
Galáxias à fora,
Um novo movimento:
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-Acene para o universo!
Conspiração benigna
Derrama-se em versos;
Liberta o dogma
De um conceito perplexo,
Transforma, numa reforma
Vez em que alinha o universo
Em nível do amor
Acima do mar
‘’ Voe por onde for
Mas não se esqueça de amar. ’’
20
O BATER DAS AZAS
Pensamentos soltos
Em órbita de uma dúvida qualquer,
A metade do dobro
Compare e diga como quiser;
A ordem dos fatores
Não altera o resultado,
Pois esse, trafega por aí
Como um ser mutável.
A borboleta de mil cores
Habita nos mais engenhosos
Jardins...
Entenda o que convir-
Cabe ao coração
Enxergar o que olhos
Não podem ver!
Veja:
Os sem fins e os fins
Se emendam pelo meio.
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ATUAL CIRCUNFERÊNCIA
Os homens armados
Estão cada dia mais ferozes
Pelos becos escuros situam-se vozes
Pedindo para que castrem os cordeiros
Evitando que andem por lugares perigosos
Os canteiros cada dia mais cinzas
As flores cada dia mais murchas
E o dia, cada noite que passa, amanhece
Como quem deitou para dormir,
Mas não pode descansar.
Poucos são os que notam
As olheiras do sol
Parecem cegos os viandantes
Que trafegam nessa vida
Acoplados em suas máquinas
Tragando a existência em cavalos de potência
Desesperada e impacientemente!
E a ciência
Sem crença
Amena
Morna
Distraí
E traí a reflexão de quem pensa.
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RUMO AO INFINITO
Vi no horizonte um futuro me chamar
Um chamado tão urgente
Que nem tive tempo de juntar
A meia dúzia de pertences
Que pude conquistar.
Entre ir para o infinito
Em busca do desconhecido
Ou ficar enraizado
Dando frutos desnecessários,
Optei,
Numa fração de segundos
Em nada optar.
Me larguei pela eternidade
Como um pássaro faz no ar.
Aos poucos tomei uma direção
E foi essa tão inesperada
Pois não era permitida
Mas também não era contramão.
Ouvi comentários débeis
Rumores delirantes
De espectadores vacilantes
Nas margens dessa via sem por onde.
23
Os que quiseram me brecar
Seja por qualquer razão
Foram ficando para trás
Enquanto quem me dava combustão
Comigo aqui jaz
Em recíproca lealdade
- Fiz uma transfusão-
Na minha veia só corre amizade!
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DESFRAGMENTAÇÃO
Quanto mais arte
um indivíduo absorve,
com parafusos a menos
vai ficando,
até ficar
com a cachola solta,
que é,
quando os portões
da mente
estão abertos
para uma caminhada
pelo infinito do pensamento,
onde um monte de rabisco
tonifica e transmite
os transeuntes
das ideias.
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REVIRAVOLTA
Eu sei que tudo que faço
É um rascunho escasso
Do que pretendia fazer
Eu sei que isso é muito raso
É totalmente ao contrário
Do que eu devia dizer...
Veja o céu
As nuvens se movem com o vento
Veja o mar
As ondas sincronizam-se com incrível talento
De ir e vir. Como? Nós ainda não sabemos.
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UM SONHO AZUL
Eu quero me mudar
Para lugar nenhum
Onde eu possa habitar
Livre do senso comum
Entre paredes de ar
Revestidas de azul
A bússola vou quebrar,
O norte ou o sul
Tanto fez e faz
Desde que seja em paz,
A vizinhança, o berço
A herança e a rebeldia.
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DEIXA EMANAR
Vejo linhas paralelas
Entre as estrelas
Prevejo dias de aventura
E noites escuras
Rimo versos
Com universos,
Trago milhares por graça,
De graça, na fumaça!
Exala!
Seres místicos
Voam ao meu lado,
Me chamam de louco
Os pobres coitados
Que perderam a esperança
E exigem que domem
A peralta criança
Disfarçada de homem.
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ELEMENTAR
Se o vento é um ser vivo
Quem pode comprovar?
Ora, qualquer um de nós.
Quem nunca ouviu sua voz
Rugir entre os vãos da cidade?
Ou então, viu seus cabelos se enroscarem
Nos galhos das árvores?
Só mesmo um absurdo
Ignorante e patético
Irá dizer que o vento não é sério.
Talvez nunca tenha sido
Beijado no rosto
Numa tarde de domingo,
Talvez nunca tenha tido
Os pulmões preenchidos
Com ares de outros postos...
Arreia! Que esse nem viveu ainda.
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