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Trienal de Yokohama: a arte como visibilidade internacional
Yokohama’s Triennial: art as international visibility
Tomoko Miyazono Coelho1
Leonardo Mèrcher2
RESUMO
O presente artigo problematiza a Trienal de Yokohama como mecanismo de visibilidade internacional da cidade de Yokohama, no Japão. O resultado obtido e exposto no presente artigo é de que, apesar das lacunas de pesquisa na interseção entre os campos da Arte e das Relações Internacionais, o estudo de caso demonstra os conceitos de city branding como estratégia de ganhos no âmbito da paradiplomacia da cidade.
Palavras Chave: Paradiplomacia; Arte; Visibilidade.
ABSTRACT
This article discusses the Yokohama’s Triennial as an international visibility mechanism uses by Yokohama City, Japan. The result obtained and exposed in this article is that, despite the research gaps at the intersection between the fields of Art and International Relations, the case study shows the city branding concepts as gains strategy within the city paradiplomacy.
Keywords: Paradiplomacy; Art; Visibilidade.
1 Graduada em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Internacional, UNINTER, Curitiba, Brasil. 2 Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná e professor UNINTER, Curitiba, Brasil.
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INTRODUÇÃO
Este artigo tem como finalidade expor a Trienal de Yokohama (TY), ou seja,
uma exibição de arte internacional, como uma ferramenta por maior visibilidade
internacional da cidade de Yokohama, no Japão. Essa percepção surge a partir da
aplicação do conceito de city branding, ou seja, da marca visual da cidade como uma
possível estratégia de ganhos internacionais. Ao se estudar cidades nas Relações
Internacionais, optamos pelo campo da paradiplomacia e dos novos agentes para
auxiliar no recorte e na identificação das fontes de pesquisa: informativos oficiais da
cidade, da TY, dos demais eventos de arte internacionais e suas instituições. Os dados
coletados foram tratados como informação de forma qualitativa, o que possibilitou maior
reflexão sobre seus conteúdos junto à literatura especializada.
O presente artigo tem como objetivo geral compreender os processos de
internacionalização municipal por meio da visibilidade internacional levantada por
pesquisadores, como Michalis Kavaratzis (2004) e Fernanda Sánchez (2007), diante do
mercado internacional de cidades. Para aplicar o conceito de marca de cidade (city
branding), onde cidades criam estratégias de políticas públicas urbanas de forma a
ofertar uma imagem convidativa da cidade, analisa-se o caso da Cidade de Yokohama
e sua TY, realizada no Japão desde o ano 2001. Na medida em que se atrela a imagem
da TY à imagem da Cidade, como um caminho à obtenção de ganhos locais, o campo
da Arte se aproxima do campo das Relações Internacionais e traz em si um vasto leque
de problemáticas a serem investigadas. Contudo, delimita-se no presente artigo as
realizações da TY e seu reconhecimento externo, tanto pelos indicadores dos ganhos
locais, como pelo turismo na Cidade, como pelo reconhecimento das demais
instituições artísticas internacionais sobre o seu modelo e conteúdo.
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Trienal de Yokohama e a estratégia por visibilidade
A cidade de Yokohama, a segunda mais populosa do Japão e centro portuário
de Tóquio, guarda uma história extensa, tanto pela proximidade da nova capital
japonesa, quanto pela diversidade cultural de sua população. Historicamente,
Yokohama foi um dos agentes subgovernamentais indispensáveis na abertura
internacional do Japão oitocentista na Era Meiji. Atualmente, a proximidade com a
capital nacional Tóquio, considerada por Saskia Sassen (1991) e diversos outros
pesquisadores e indexadores como a terceira maior cidade global no mundo, também a
ajuda economicamente e a insere nos diversos circuitos e dinâmicas internacionais no
século XXI. A própria cidade se coloca como parte da Grande Tóquio e beneficiária das
políticas da capital3. Contudo, a busca por uma valorização de sua tradição e imagem,
levou a Cidade de Yokohama a fomentar práticas de visibilidade local e internacional,
dentre elas a Trienal de Yokohama (TY).
Imagem 1 : Vista de Yokoma, 2015. Fonte: City of Yokohama4
Diversos foram os grandes eventos com visibilidade internacional que a Cidade
sediou nos últimos anos, como: a Copa Mundial de Futebol (2002); a Conferência
Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento Africano (2008); e o Encontro da
3 Disponível em <http://www.city.yokohama.lg.jp/>. Acesso: 26/09/2015. 4 Disponível em<http://www.city.yokohama.lg.jp/>. Acesso: 24/02/2016
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Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (2010). Contudo, esses eventos acabam por se
misturar com a imagem de Tóquio, a capital metropolitana. Para que a cidade então
pudesse ganhar visibilidade associada à Cidade foi preciso investir em ações
internacionais, como na Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU) e em eventos que
levassem seu nome. Dessa forma a paradiplomacia da cidade, ou seja, a diplomacia
paralela ao governo nacional – e, neste caso, também à cidade de Tóquio – é vista em
múltiplas frentes de ação nos últimos anos.
A CGLU, importante organização sobre o tema do desenvolvimento de cidades
no mundo, tem registrado a atuação da Cidade de Yokohama nas questões ambientais,
gestão de riscos urbanos e políticas urbanas (CGLU, 2016). A participação nessas
agendas se deve à natureza geológica e natural da cidade, que reconhece em si as
ameaças naturais, como terremoto e tsunamis. Mas sua paradiplomacia não limita-se
apenas às necessidades de gestão locais, como as questões ambientais.
Especialmente no caso da ação por visibilidade, a Cidade de Yokohama, dentre outras
iniciativas, optou por investir na TY como um meio já posto como imagem – artes
visuais – em diálogo com um circuito internacional já estabelecido das grandes bienais
e feiras de exposição de arte contemporânea.
No que se estende à temática de cidades nas relações internacionais, a criação
de uma agenda cultural paradiplomática por visibilidade, por meio da TY, seria
resultante do reconhecimento por parte do governo local sobre quais aspectos seriam
de melhor relevância para a criação e efetivação de projetos locais que irradiariam uma
imagem publicitária no cenário internacional. Esse processo dá origem, segundo
Kavaratzis (2004) à incorporação na agenda local da estratégia de city branding (mrca
da cidade). A criação de uma marca para a cidade giraria hoje em torno de uma nova
dinâmica do capitalismo, ou seja, uma nova modalidade no acúmulo e fluxo de capitais
que seria a mercantilização de cidades (SÁNCHEZ, 2001; KAVARATZIS, 2004). Essa
estratégia de ganhos por visibilidade seria resultante dos modelos de desenvolvimento
econômico neoliberal, especialmente após os anos 1990. Deste modo, convergindo
com os novos fluxos globais econômicos, no pós-neoliberalismo dos anos 1990,
agentes locais, como as cidades, buscaram criar imagens sínteses (KAVARATZIS,
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2004), às quais facilitam a inserção dos mercados locais no grande mercado
globalizado de cidades.
O mercado de cidades, tratado por Fernanda Sánchez (2001), estabelece
categorias onde cada cidade, diante de suas intervenções políticas e interesses, podem
se enquadrar como competidoras em um determinado nicho de mercado. Para Sánchez
(2001) existiram, por exemplo, os mercados para empresas com interesses localizados,
onde as cidades se adaptam estruturalmente para atender aos fluxos financeiros,
industriais, comerciais e de logística internacional. A autora também fala do mercado
imobiliário como um desses nichos do mercado de cidades, seguido por mais quatro: os
de consumo; turismo; de boas práticas; e, finalmente, o de consultoria em planejamento
e políticas públicas (SÁNCHEZ, 2001).
Em convergência, Anttiroiko (2014) sustenta a ideia de que regiões asiáticas
desenvolvidas necessitaram passar por um processo de reestruturação e revitalização
de suas economias e indústrias em um cenário pós-Guerra Fria, argumentando também
que as escolhas dessas regiões justificam-se por estarem entre as maiores cidades na
hierarquia urbana global. O autor analisar a lógica de atração na competição entre
cidades: explorando o perfil econômico da cidade associada à era pós-industrial;
identificando as cidades em etapas mais avançadas, considerando-se os critérios
citados anteriormente; e, finalmente, discutindo as dimensões sociais e estratégicas
para cidades aos quais denomina: attraction-oriented economic city branding (marcas
de cidades orientadas à atração econômica).
Desta forma, a economia urbana de cidades como Yokohama não deve ser
estudada desatrelada à economia global, como apontam as considerações de
Anttiroiko. Logo, mesmo diante de um cenário onde as cidades são questionadas se
relevantes para as Relações Internacionais, sublinha-se o processo de globalização
que as justificam como unidades de análise e o recorte ao nível local e interno de suas
políticas municipais. Na globalização (SASSEN, 2010), fatores econômicos colocam
novos agentes na arena mundial, ao qual todos, inclusive as cidades, passam a
disputar recursos como por meio da visibilidade. De forma intencional ou indireta –
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demandada por outros agentes externos, as cidades absorvem o conceito de
Karavatzis sobre criar uma marca municipal para ampliar os ganhos locais diante do
cenário internacional. Esse fato é melhor elucidado por Harvey (1985, p. 158):
[…] cada região urbana possui uma autonomia para alcançar quaisquer cursos que tomem, mas ao fim cada uma é disciplinada por leis externas coercitivas de competição. Suas indústrias devem competir dentro de uma divisão internacional do trabalho, e suas forças competitivas dependem das qualidades da força de trabalho; da eficiência e da profundidade de infraestruturas sociais e físicas; da "racionalidade" dos estilos de vida, culturas e processos políticos; do estado da luta de classes e tensão social; da posição geográfica e dotação da recursos naturais.5
Desta maneira, Yokohama demonstra que a TY promove a reprogramação da
visibilidade local por meio das políticas de incentivo cultural cultivadas em início dos
anos 1980, dando continuidade aos dias de hoje. Em 1982, a cidade de Yokohama
criou o Escritório de Cultura Cidadã, responsável por criar políticas de iniciativa e
promoção artística e intercultural, e o passou a ser, em 2004, a na Sede da Cidade
Criativa da Cultura e Promoção da Arte. Essa sede estabeleceu metas de “estratégia de
cidade criativa e de turismo” para um período de quatro anos, além de, consolidar o
Departamento de Promoção de Cidade Criativa, o Departamento de Promoção da
Cultura e o Departamento de Promoção de Turismo e Convenção em um novo órgão
denominado Escritório de Cultura e Turismo.
Dessa forma, é evidente a importância dada às políticas culturais pela cidade
de Yokohama, o que também é perceptível pela Secretaria de Turismo com o
Departamento de Cultura, que demonstra o interesse municipal em se destacar no
cenário nacional e internacional. Em justificativa ao incentivo à cultura, destacam-se o
crescimento de fatores interpessoais, o cultivo da marca municipal e a maior presença
internacional em um cenário globalizado. Justifica-se também que a transmissão da
cultura de Yokohama para trazer maior aquecimento econômico resultando, portanto,
5 Tradução livre dos autores: […] each urban region has the autonomy to pursue whatever course it will, but in the end each is disciplined by external coercive laws of competition. Its industry has to compete within an international division of labor, and its competitive strength depends upon the qualities of labor power; the efficiency and depth of social and physical infrastructures; the 'rationality' of life-styles, cultures, and political processes; the state of class struggle and social tension; and geographical position and natural resource endowments. (HARVEY, 1985, p. 158).
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no maior bem-estar aos cidadãos. (Secretaria de Cultura e Turismo de Yokohama,
2012). Esses princípios básicos da política de Yokohama são apresentados na figura 2.
Figura 2: Princípios políticos básicos. Secretaria da Cultura e Turismo da Cidade de Yokohama, 2012.6
Estes princípios básicos evoluem para as quatro políticas básicas, que
convergem e promovem a cultura, a arte e as medidas de cidade criativa. Assim, a
6 YOKOHAMA. Yokohama. Secretaria da Cultura e Turismo. Yokohama City’s Policy Regarding Culture, Art and Creative City Measures. Yokohama: Open Yokohama, 2012, p. 18.
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política básica um traduz-se em apoiar atividades artísticas e culturais para que
enriqueçam a vida dos cidadãos. A próxima política básica estabelece cultivar nutrir as
crianças e outros membros de gerações futuras, a terceira política básica determina
apoiar artistas e criadores de arte e executar desenvolvimento urbano que utilize a
criatividade. Finalmente, o último ponto aponta para transmitir a arte e cultura inovadora
e única pelo Japão e ao mundo, de maneira que se gere prosperidade e promova a
Convenção de Incentivos de Eventos e Reuniões de Yokohama.
A Figura 3 aponta o fortalecimento das funções de apoio de artistas e criadores
artísticos, o primeiro ponto descreve que com os esforços centrados no Centro Cidade-
Criativa Yokohama , o município irá colaborar com empreendedores e várias
companhias e organizações que apoiem indústrias criativas para que sejam fortalecidas
as funções de apoio à artistas e criadores artísticos. O segundo ponto, irá
estrategicamente se utilizar de várias formas de mídia para transmitir informações em
Yokohama de forma efetiva, além de assuntos relativos as medidas da Cidade Criativa
de Yokohama.
Figura 3: Terceiro ponto Política 3 “Trienal de Yokohama”, 2012.7
7 YOKOHAMA. Yokohama. Secretaria da Cultura e Turismo. Yokohama City’s Policy Regarding
Culture, Art and Creative City Measures. Yokohama: Open Yokohama, 2012, p. 18.
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Esta imagem demonstra a promoção das artes que são enumeradas em quatro
políticas, as quais pontuam objetivamente os projetos e os objetivos do incentivo
municipal ao projeto, assim, a TY ocupa a política básica número 03, na qual destaca a
característica criativa singular da cidade, de modo a demonstrar o crescimento da
comunidade artística no município. Portanto, a política 03 enumera a promoção do
influxo de artistas e criadores, a construção de redes em conexão com indústrias
criativas, o fortalecimento das funções de apoio dos artistas e criadores. Nessa política
sublinha-se a iniciativa municipal na divulgação do evento em inúmeros meios-
midiáticos, nos quais também se compromete a apoiar os empresários e demais
organismos de caráter privado que estejam envolvidos na indústria criativa para
consolidar a Comissão artística que apoia artistas e a comunidade criativa. Assim, a
figura 3 mostra a característica especial número 04, em que explica a TY destacando
ser uma exibição de arte moderna internacional em que movimenta toda a cidade de
Yokohama através de esforços cooperativos entre cidadãos locais, comunidades e as
últimas tendências das artes modernas no mundo que são postas em exibição através
da Trienal. Logo, tais políticas básicas e características especiais demonstram tanto a
preocupação de Yokohama em promover a cidade, tanto quanto a justificativa do uso
da arte para o desenvolvimento da cidade.
A TY objetiva reunir o máximo de artistas possíveis em sua amostra que
acontece a cada três anos na cidade de Yokohama no Japão, tendo como objetivo
expor a arte contemporânea mundial8 e, por resultados secundários, acaba por fundir
com a arte contemporânea japonesa. A exposição de grandes artistas internacionais,
juntamente com artistas japoneses, coloca a arte regional no cenário do circuito
internacional das artes9, ampliando a visibilidade cultural, não só dos artistas
participantes, mas também da própria cidade e do Japão. Nota-se, também, que a
Trienal de Yokohama possui um público plural, indo de cidadãos da própria cidade até
turistas internacionais, mídias, críticos e galeristas de arte, os quais transporiam o
8 Disponível em <http://www.yokohamatriennale.jp/english/>. Acesso: 15/08/2014. 9 Disponível em <https://news.artnet.com/art-world/worlds-top-20-biennials-triennials-and-miscellennials-18811>. Acesso: 25/10/2015.
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modelo de gestão levando-o para outras execuções, como no caso da Bienal de São
Paulo nos últimos anos10.
Externamente, a TY, apesar de ter sido criada apenas em 2001, é destaque em
críticas de arte de renome internacional e categorizada em exibições bienais e trienais
mundiais como uma das principais mostras de arte. A Bienal de Veneza, como
precursora, continua em primeiro lugar de destaque, e, atualmente divide espaço no
cenário internacional das artes com a Bienal de São Paulo, como a sétima em
destaque, e a própria TY, em décimo sétimo lugar. Isso significa que, mesmo a TY
sendo a 17ª em destaque e estar abaixo da Bienal de São Paulo, frisa-se que a trienal
tem um histórico recente de apenas 15 anos e já alcançou um espaço ocupado por
exposições tradicionais com mais de 50 anos. Logo, nota-se o intenso esforço da
própria TY e da cidade de Yokohama a incentivar e processar de maneira correta a
trienal, resultando em uma maior visibilidade da TY em si, e o destaque da cidade de
Yokohama (ARTNET, 2014).
Sua execução é resultante do apoio de diversos níveis intergovernamentais, da
mobilização e DOS esforços do próprio governo nacional japonês e, sobretudo, da
Cidade de Yokohama em conjunto com o Ministério da Cultura do Japão. Isso mostra
que a ação internacional da cidade de Yokohama não se dá de forma autônoma e
isolada dos demais agentes infranacionais, mas sim seria um resultado da ação
conjunta. Nesse sentido, sua paradiplomacia não ocorreria como forma tradicional,
apontada por Stéphane Paquin (2004), mas como uma dinâmica multinível, apoiada
pelo próprio Estado. Contudo, como aponta Panayotis Soldatos (1990), desde que a
ação seja da cidade e não do Estado, é possível identificar a prática da paradiplomacia,
mesmo que com a ação conjunta de outros agentes.
Logo que se expõe o interesse municipal em manter, viabilizar e promover a
marca da TY, e, portanto, de Yokohama, também pontua-se a amplitude da exibição
que se apropria de múltiplos locais de Yokohama como parte da exibição. Nota-se
ainda diversos meios de expressão, que a TY se mantém aberta; desta forma, a TY
10 Disponível em <www.fjsp.org.br/aquarela/cult_30a.htm>. Acesso: 25/09/2015.
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mostra interesse em manter-se atual e, dessa forma a cidade atrai atenção a exibição,
consequentemente para a própria Yokohama e aos agentes envolvidos em processos
artísticos.
Tal como Jorge Lasmar (2001) expõe-se a interrelação entre as relações
internacionais e a arte, defendendo que o fluxo de arte e as relações internacionais são
postas em um mesmo cenário. Logo, por meio deste estudo analisa-se o fluxo das artes
e o contexto das Artes em um cenário pluralista pós-westphaliano, ou seja, a mudança
dos temas da agenda influencia diretamente na autenticidade, circulação, valoração da
arte que faz com que o objeto de arte adquira um novo caráter: o de commodity cultural.
De tal maneira que um objeto de arte poderá ter um valor de commodity alto em um
momento analisado e em outro momento poderá estar desvalorizado. Mas no caso da
TY o relevante é ascender como um eixo de exposição do próprio circuito internacional
de mercado das artes, que se soma à visibilidade da Cidade como ponto de referência.
Imagem 4 : Tsubaki.N.; Muroi. H “O mundo-inseto: Gafanhoto”, 200111
Segundo dados coletados de 2001 até 2014, a TY recebeu 34% de artistas
japonese, 15% de outros artistas asiáticos e 51% de artistas ocidentais. Assim, a TY
11 Disponível em: http://www.yokohamatriennale.jp/english/archive/2001/ Acesso: 10/10/15
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recebe notoriedade pelo seu grau de internacionalização sem perder a exposição do
local para o mundo. As instalações, site specific e outras linguagens da arte
contemporânea ao redor da cidade criam cartões-postais sazonais que divulgam a
cidade. A presença oriental na TY também aponta como um contraste às demais
exposições no mundo. Mesmo que sendo minoria (49%) é quase a metade de todos os
participantes da TY, algo diferente das demais exposições no mundo que tem uma
baixa participação asiática12.
Dessa forma, a temática da imagem de uma cidade é relevante como componente
de estudo tanto quanto o turismo por exemplo. Frisa-se, portanto, a importância deste
estudo por este representar a moeda da cidade, ou seja, o valor que a cidade dá para
se projetar no cenário global (RICHARDS; WILSON, 2004). Dessa maneira, o processo
de promoção de uma cidade envolve recursos políticos que devem dar continuidade de
uma gestão à outra para a ascensão de uma maior visibilidade da cidade.
(HANKINSON, 2015). Yokohama demonstra-se ser uma cidade contemporânea e de
receptividade às ações estratégicas de reciclagem quanto à imagem local, como
apontado pelos investimentos e ganhos por meio de sua Trienal.
Considerações Finais
O presente estudo de caso aponta que é necessário pesquisar mais a Arte como
campo dinâmico que intercomunica agentes e atores do campo das Relações
Internacionais. Assim, mesmo entendendo que essa realidade é relativamente nova no
movimento de cidades, especialmente no caso da paradiplomacia que se utiliza das
artes para ganhar visibilidade internacional, é preciso estuda-la. Podemos sublinhar a
estratégia de Yokohama de projeção como um redimensionar de sua imagem no
cenário global por meio das práticas culturais, colocadas pela prefeitura como um de
seus objetivos principais nos últimos anos. A diferenciação de sua marca municipal em
relação à Tóquio, como por meio dos eventos que levam seu nome, como a Trienal de
12 Uma exceção foi a Bienal de Veneza de 1999, onde grande contingente artístico constituía-se de nacionais chineses.
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Yokohama, foi utilizada para se destacar no mercado competitivo internacional de
cidades. A TY também passa a servir como uma outra alternativa à imagem de
desastres naturais para a Cidade.
As resultantes positivas sobre esta estratégia podem ser encontradas no
reconhecimento externo ao Japão, como pelas: Art Gallery NSW; Artnews; Universes in
Universe; Artillerymag; Bienal de São Paulo, entre outras. Conforme também é listada
em ranking especializado internacional, a TY está entre as 20 primeiras em
proeminência internacional no meio de exibições de arte contemporânea global. Sendo
assim, lê-se a concordância entre artistas, curadores, críticos e instituições em admitir a
TY como unidade de referência no campo das artes. Já a importância da TY para o
local aos ganhos no turismo da cidade e valorização de determinados modelos de
gestão, como o que incorpora o conceito de city branding em sua paradiplomacia.
Portanto, a relação entre monumentos, ou seja, entre marcos celebrativos e a
imagem da cidade nas interferências artísticas da TY, se coloca como parte da
estratégia de competição no mercado internacional de cidades, conforme apontam
Karavatzis (2004) e Fernanda Sánchez (2001). Logo, no presente estudo de caso foi
possível perceber nas práticas e pronunciamentos da gestão local de Yokohama,
preocupações e modelos apontados pelos estudos de city branding e mercado
internacional de cidades. Como resultados, não apenas pôde-se explorar o conceito de
marcas municipais, como também identificar na arte uma estratégia por visibilidade e
obtenção de ganhos que garantem à paradiplomacia novas práticas a serem melhor
compreendidas pela academia.
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