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Transcrição do participante 5 (ERG)
Pergunta: Vamos lá começar. Bem, começando pela parte da empresa, quando é que
começaste a pensar em criar uma empresa, quais foram as principais motivações…essa
ideia surgiu sozinho, com colegas?
Resposta: O primeiro momento em que a ideia de formar uma empresa que prestasse
serviços nesta área…ela quase que faz parte de um passado, que não aquele momento
decisivo, que avançámos mesmo determinados para o projecto. Era uma ideia que de
vez em quando se falava, mais numa atitude de quase…gostaríamos que no futuro isto
pudesse vir a acontecer, sem concretizarmos muito o projecto. A partir de determinada
altura a minha situação profissional lá na AutoEuropa, eu entendi que ela estava a
estagnar, o que me deixava de alguma forma desconfortável e confrontei na empresa se
em termos de evolução profissional havia alguma expectativa ou se o plano que eles
tinham para mim era apenas conservar-me naquela posição e a fazer aquilo que fazia. A
resposta foi aquela que eu não gostaria de ouvir, ou seja foi negativa, “não, nós não
temos outro plano que não este que tens conhecimento”… e perante esse cenário resolvi
pensar um bocado sobre a vida e achar que era o momento para eu dar o salto. E na
altura, agora minha sócia, a Y, também de alguma forma procurando dar uma
rentabilidade diferente ao conhecimento que ela tem vindo a adquirir em função da
actividade de docência que ela tem, era também uma ideia que ela gostava de
materializar, pôr à disposição o conhecimento que ela tem ao serviço das empresas. E se
calhar o que ela ainda aguardava na altura era precisamente o impulso por parte de outra
pessoa que a acompanhasse no projecto. E como nós tínhamos alguma proximidade e
falávamos sobre estas questões algumas vezes, houve uma altura em que a ideia
começou a ser mais desenvolvida, motivada pela minha insatisfação profissional, e em
2005 a ideia começou a ser consolidada. Tanto que eu nessa altura apenas para que as
coisas pudessem depois acontecer faltava-me acabar o mestrado…e resolvi fazer as
coisas por etapas e na AutoEuropa fiz ali uma paragem para terminar precisamente essa
fase, essa tese de mestrado e a seguir soube de um curso lá no ISCTE - INDEG que
tratava precisamente a temática de empreendedorismo e criação de empresas…e fui
frequentar o curso à procura precisamente de ferramentas e conhecimento do que é que
poderia estar inerente à criação de uma empresa. Ainda decorria o curso e nós
começámos a preparar o projecto…eu saí da AutoEuropa em 2005, em Dezembro de
2005, e portanto em Julho do outro ano estávamos a fazer a formação da empresa,
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portanto em 2006, estávamos a constituir a empresa nos centros de formalidades ali na
Junqueira…e foram estes os passos. Basicamente as razões foram uma procura de uma
nova realidade profissional, de um novo desafio profissional, porque sentíamos que
havia espaço para que as nossas competências pudessem vir a ter importância noutros
locais…e a procura dessa informação e depois sentimo-nos preparados…claro,
amealhámos algum dinheiro, porque para se constituir a empresa é preciso um capital
social mas não apenas teórico porque ele tem que servir para fazer isto: comprar
secretárias, para comprar cadeiras, para comprar computadores…e no fundo para uma
primeira instalação. Tínhamos no fundo essas reservas e formámo-nos sem outra
dificuldade desse género porque há situações onde não havendo essa disponibilidade
financeira se tem que recorrer a investidores ou a um financiamento externo o que nós
não fizemos… e porque também, creio eu, que para esta actividade não haveria assim
um investidor muito interessado nisso porque é um risco muito grande e eles não
estarão muito confortáveis em arriscar em projectos que não trazem uma rentabilidade
grande…enfim…
Comentário entrevistador: Pelo menos imediata…
Comentário entrevistado: Exactamente…
Pergunta: Está bem…pronto…então os sócios fundadores na altura foram o X e a…
Resposta: E a Y. Na altura e somos os únicos sócios da empresa…somos nós os dois.
Pergunta: Ah… continuam a ser?
Sim, sim…
Pergunta: E que cargo é que…o X é o sócio gerente e a Y é o quê?
Resposta: É só… no fundo accionista. A figura de accionista até porque impedimentos
legais assim o impõe.
Pergunta: OK. E quais são as formações? Além do X, a Y qual é a formação? Também
é licenciada…
Resposta: É…é licenciada em Ergonomia…fez lá também na faculdade, como é óbvio,
e tem depois o doutoramento feito no INRETS em Lion.
Pergunta: Está bem…e então como é que foi isto tudo desde o início, como é que
constituíram e organizaram desde o início, quais foram assim os passos, as maiores
dificuldades, maiores obstáculos? Obviamente que alguns ainda se manterão, mas de
início …
Resposta: Uma das coisas que nós tivemos muito tempo a reflectir foi como é que
nós…o que é que nós vamos oferecer às empresas, o que é que vão ser os serviços e o
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que é que as empresas nos vão comprar…a resposta a isto parece, aparentemente, é
simples mas pensar de que forma é que o conhecimento e a nossa experiência
profissional pode vir a ser transformada em serviços prestados às outras empresas não é
um passo tão linear quanto isso…porque uma coisa é aquilo que nós pensamos que faz
falta às empresas, outra coisa é o que o mercado das empresas realmente sentem essa
necessidade. E então, em determinada altura, deparámo-nos com uma situação caricata
que é, isto quase que nos remete para uma estratégia em que nós, enquanto empresa
formada, temos que criar a necessidade desses serviços e infelizmente, ou não, ainda
não sei muito bem o adjectivo que qualifica um bocadinho isto, é um bocado a realidade
de Ergonomia. As empresas ainda não estão propriamente despertas e conhecedoras das
vantagens em poder ter a opinião e o parecer técnico dos Ergonomistas…e estando
numa atitude de espera que aguardam pelos resultados, ou seja, eu sei que poderia
acautelar uma série de factores mas eu vou dispensar essa atenção para verificar se de
facto os efeitos da forma como eu estou a prescrever o trabalho resultam em danos ou
resultam em acidentes de trabalho ou resultam em doenças profissionais. Nessa altura
depois eu logo vejo como é que me vou desenrascar. E esse passo é obrigação nossa
pensarmos como é que nós, conhecendo esta realidade podemos apresentar ao mercado
serviços que possam despertar essa atenção. Então essa reflexão e essa elaboração de
que serviços é que nós podemos divulgar e que farão sentido para as empresas foi um
passo muito demorado e quase doloroso porque de vez em quando dizíamos “ mas isto
assim não vai funcionar…se nós comunicarmos a coisa assim as pessoas não vão
perceber o que é que nós vamos fazer”. E nessa ideia surgiu uma proposta que foi no
nosso site divulgarmos não apenas que fazemos serviço de consultoria e ajudamos as
empresas a encontrar as melhores soluções possíveis para os problemas que elas
eventualmente possam vir a ser detectados lá e colocámos questões de problemas tipo
que podem aparecer nas empresas, para que a empresa pudesse consultar essas mesmas
questões e pudesse conferir se aquilo era o panorama dela na empresa, do género:
“Preciso de diminuir as doenças profissionais na minha empresa. O que é que eu posso
fazer?” e na nossa resposta, sendo uma orientação quase técnica, a resposta está
orientada para que a pessoa reconheça que nós na Empresa temos a competência para
fazer aquilo que a resposta, do ponto de vista, se quisermos, técnico ou científico, a
resposta aquela questão está dada por nós. E nós depois vamos dizer que satisfazemos
todos aqueles critérios e aquelas competências. Isso foi um passo que era a estruturação
e a organização dos serviços. Depois o outro passo foi como é que nós vamos conjugar
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os diferentes serviços para que em termos de negócio isto faça sentido, porque
estávamos relativamente dispersos nas nossas reflexões sobre aquilo que gostaríamos de
fazer porque invariavelmente a nossa expectativa era “vamos fazer tudo”, e uma
empresa não pode fazer tudo…eventualmente pode mas se ela não se torna muito boa
numa determinada área corre o risco de estar muito dispersa no tipo de serviços que
presta. Então tivemos que fazer um novo esforço que foi “vamos ver do espectro todo
dos serviços que nós podemos prestar quais é que são aqueles que nós nos podemos
concentrar agora para vermos se isto em termos estratégicos tem ou não sentido”. E aí a
decisão foi “vamos avançar primeiro para aquelas competências que estão mais
consolidadas em termo da experiência profissional” que eram, por exemplo, aquelas que
eu trazia por ter trabalhado na indústria. Então esse foi o investimento principal e o
investimento inicial foi “vamos comunicar que fazemos serviços às empresas”,
designadamente empresas que tenham produção, que transformem matéria-prima num
produto. Inicialmente pensámos que isto podia ser bem sucedido…não foi tanto assim.
Tivemos algum tempo em que a resposta a este tipo de serviço não aconteceu da forma
como nós estávamos à espera e tivemos uma surpresa, que foi, o mercado da formação
começou a ser um serviço mais pedido à nossa empresa e era quase…e olhámos para
isso como “isto então tem que ser a nossa porta de entrada na empresa” através da
formação nós vamos cumprir a missão tal a qual a empresa nos chamou mas vamos ter
que perceber se isto satisfaz ou não todas as necessidades daquela empresa porque
raramente o faz, um processo de formação em que o objectivo é dar um conjunto de
informações ou de conhecimentos que raramente vão para a criação das competências
na própria empresa é no sentido de aumentar o conhecimento das pessoas sobre aquela
matéria, mas não criando competências, depois não tem os efeitos às vezes desejáveis
ou pelo menos aqueles que nós detectamos que seriam os principais para tornar o
trabalho daquela empresa mais favoráveis aos operadores do ponto de vista…deste
ponto de vista de factor humano. E então isso significa que o mercado de da formação
começou a ser um serviço que nós estávamos a responder às empresas com maior
volume do que aquele que inicialmente nós tínhamos estimado…e portanto tivemos que
olhar um bocadinho para esta oportunidade que estava um bocadinho desconsiderada
porque nós achávamos que para efeitos de formação o mercado já estava muito
competitivo, há muitas empresas a fornecerem formação. Percebemos é que depois as
empresas, num momento inicial, davam, ou chamavam os técnicos para formação
independentemente da preparação dos mesmo técnicos em que eles se preparavam
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naqueles conteúdos mas depois os clientes começaram a ser mais exigentes e já
recorriam às empresas que lhes levariam uns técnicos com uns conhecimentos
ligeiramente diferenciados. E a partir daí nós percebemos essa oportunidade e a
Ergonomia começa agora a fazer alguma diferença nessa formação e portanto temos
essa oportunidade de colaborar, normalmente, em regime de parceria, porque essa é
outra parte do problema…como é uma empresa nova nós não conseguimos comunicar,
ou melhor, não somos tão eficientes a colocar este serviço no cliente e então a nossa
estratégia foi conhecermos algumas empresas que já têm uma carteira de clientes
razoável, vamos perguntar-lhes se para este âmbito destas temáticas eles querem ir
connosco… ou nós queremos ir com eles, se eles também estão interessados em
levarmos esse cliente com essa formação. E tem, de alguma forma, resultado,
nomeadamente há uma empresa do parque industrial da AutoEuropa que é a ATEC, que
no fundo vem revolucionar um bocadinho a formação para a área industrial e levou-nos
num projecto em particular para um cliente onde temos estado ao longo do último ano,
foi um problema de formação que abrangeu todos os operadores e estamos todas as
sextas-feiras a com esses operadores oito horas para fazer formação só em Ergonomia e
Higiene e Segurança no Trabalho. E portanto o mercado da formação não é o mais
expressivo, está a ser através de parcerias e não através de uma relação directa nossa
com o cliente. E pronto, foi mais ou menos desta forma que nós fomos evoluindo na
preparação do nosso pacote de serviços a dar às empresas. Outros pontos, em termos de
serviços, que nós ainda não atacámos mas que finalmente começam agora a ter alguma
relevância, ou algum retorno em termos do cliente que é…falei na parte dos serviços
que nós organizamos, ou que preparámos para responder aos problemas das empresas
na área da produção, depois no mercado da formação e na área do produto apareceu,
recentemente, uma empresa a pedir isso…e quer uma outra área, sendo esta mais a área
de especialização da Professora Y, que nós queríamos desenvolver, mas sabendo que o
mercado não estava muito receptivo a isso, estávamos a aguardar o momento ideal e
apareceu, recentemente apareceu essa oportunidade e portanto isso revela que a reflexão
inicial estava de alguma forma correcta, alinhada…ela teria era que ser filtrada por uma
questão estratégica que é “não vamos avançar tudo ao mesmo tempo”, temos que ir
consolidando a nossa imagem no mercado para que possamos ser conhecidos por um
tipo de serviços mais comuns e depois ir aumentando essa diferenciação através de
outras coisas que nós podemos ser capazes de oferecer, como isto, como a avaliação do
produto. E pronto, são estas as três, basicamente, áreas que nós temos vindo a trabalhar
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recentemente. Num cliente em particular, e ainda regressando à formação, houve a
hipótese de nós alterarmos um bocadinho a coisa, ou seja, a forma clássica como o
pedido para formação acontece é “nós precisamos que os senhores venham falar sobre
um tema” e normalmente a nossa reacção é ok, o que é que nós sabemos sobre este
tema, preparamos, em termos de conteúdos, esse tema e vamos ao cliente dizer “ok, isto
é o que há a saber sobre esse tema” e às vezes não há uma correspondência tão directa
quanto isso entre os conteúdos abordados na formação e as necessidades específicas
daquele cliente. Então isso alertou-nos para “temos que fazer alguma alteração a isto”,
porque se nós queremos atingir níveis de satisfação com o nosso serviço nos clientes,
temos que de alguma forma tentar fazer uma correspondência entre as necessidades do
cliente e os conteúdos da formação que levamos. E alterámos um bocadinho a forma, ou
testámos essa alteração, na forma como vamos dizer ao cliente “sim senhor, vamos
ajudá-lo no processo de formação”…e fizemos uma experiência recente com um cliente
que nos pediu isso, em que fizemos uma primeira visita, em que dissemos ao cliente
“sim senhor, nós vamos comprometer-nos em ajudá-los para esse objectivo que têm,
criar competências nessa área mas primeiro nós precisamos de fazer uma visita quase de
auditoria para percebermos quais é que são as vossas necessidades e depois ajustamos
os conteúdos às vossas necessidades. Normalmente isto é acompanhado por uma
proposta ligeiramente mais cara porque este serviço de auditoria não está contemplado
numa formação normal…
Comentário entrevistador: É um processo de diagnóstico…
Comentário entrevistado: Exactamente…Mas este surpreendentemente o cliente
achou interessante a ideia e estamos a desenvolver precisamente neste momento essa
situação que vai ser também muito interessante para nós podermos avaliar que
diferenças é que vão acontecer no plano clássico e nesta nova forma de abordagem. E eu
acho que isso é um factor de inovação importante para nós Ergonomistas porque o que
nós, do ponto de vista do conhecimento científico, ouvimos sempre, e é quase
redundante no discurso dos nossos professores, é na área da Ergonomia, da intervenção
empresa raramente o Ergonomista pode descansar numa receita. Eu…por exemplo, no
âmbito mais ligado à Higiene, se eu trabalho num ambiente quem tem um determinado
contaminante, eu sei que, na maioria das situações eu tenho que proteger o operador, é
esta a reacção do Técnico Superior, é “ok, tenho que fazer protecção individual”…nós
na Ergonomia não procuramos muito soluções standard, as tais receitas, porque a
especificidade da situação é tão particular de outra que…até poderia haver a suspeita
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que poderíamos transferir para lá a solução, mas não, há sempre alguma uma
especificidade muito própria da outra situação que merece uma solução à medida. E o
trabalho do Ergonomista é um bocadinho isso, é ser constantemente criativo
para…estudando cada uma das situações, desenvolver soluções à medida do cliente e
essa também é alguma dificuldade pelas quais as empresas não estão ainda muito
receptivas porque, obviamente se eu vou criar soluções à medida, eu preciso de um
tempo para criar conhecimento para suportar essa solução, e esse tempo tem que ser
pago. E portanto o serviço, quando bem estruturado por parte do Ergonomista, é
comparativamente a outras propostas, ligeiramente mais caro porque o tempo que nós
demoramos a desenvolver a solução é maior e portanto esse tempo tem que ser pago…
Comentário entrevistador: Claro…
Entrevistado: Não faz sentido ser de outra forma…E isso cria-nos alguma dificuldade
também de entrarmos no mercado…Há uns quantos meses atrás…há uma empresa, que
sabendo que está ainda a insistir muito…e há uma situação curiosíssima, a empresa
identificou que seria através de uma intervenção Ergonómica que poderia resolver um
conjunto de problemas e consultou-nos para nós apresentarmos uma proposta. As
nossas propostas são sempre apresentadas depois de uma visita ao cliente…que na
verdade é um esforço da nossa parte porque significa deslocação, às vezes significa
estadia, mas enfim, mas é dessa forma que nós asseguramos que estamos a propor uma
coisa com capacidade de implementação e não…um modelo, um protocolo que já
fizemos para não sei quantas vezes. E na parte da quantificação que é um problema, que
já aqui vamos falar, em termos do custo…preparámos aquela proposta e quando
calculámos que preço é que vamos pedir ao cliente, pensámos que aquilo seria um preço
mais que justo porque até era um projecto com alguma duração, o cliente disse “não,
nós não vamos ter essa capacidade para suportar isso, agradecemos a vossa atenção mas
infelizmente não vamos poder”, e ele continua à espera de outras propostas, tem
consultado outras empresas porque nós ainda somos poucos e vamo-nos conhecendo
uns aos outros e sabemos dessa consulta….
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …Contactou a faculdade para eventualmente saber se haveria
disponibilidade de algum estudante estagiário para realizar o trabalho…não havendo
estagiários disponíveis sabemos que aguarda pela disponibilidade dum estágio
profissional, portanto a empresa está altamente interessada em desenvolver este tipo de
intervenção, não tem é…não preparou foi o volume - euros necessários para suportar
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este projecto. Obviamente que isto em termo de empresa faz todo o sentido, no meu
orçamento de 2008 eu não tenho dinheiro para pagar este estudo eu tenho que ir
encontrar uma forma mais económica para o fazer, mas é uma boa notícia a empresa
estar completamente dedicada àquele objectivo mas não ter recursos para o fazer,
pensando que isto poderia ser feito com um décimo daquele valor que nós
apresentámos…não faço ideia…mas são indicadores interessantes. A outra parte que
nós tivemos alguma dificuldade em estarmos de acordo ou verificarmos se estávamos a
fazer como o mercado, como o resto das empresas fazem, é a formação do preço.
Nenhum de nós, nem eu nem a Y, tivemos uma experiência na área da consultoria
anterior e às vezes isso ajuda para estimar que preços, valor hora que nós vamos fazer
para este projecto ou para aquele…e portanto foi tudo, foi uma experiência que foi
sendo ganha à medida que os projectos nos iam aparecendo e à medida em que os
clientes diziam sim ou não. E há uma percepção que agora faz parte, é uma
sensibilidade quase, se quiseres, que nós temos para um preço, embora ele esteja ali
numa margem mas é sempre muito difícil fazer porque é sobretudo pelo preço que as
empresas decidem…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: Nós temos confiança que as propostas que fazemos têm…são
diferenciadoras em relação à nossa concorrência mais directa…e diferenciadora pela
direccionalidade quase que as propostas têm para o problema que o cliente nos reporta e
porque vamos lá visitar e portanto vamos saber um bocadinho mais sobre a realidade do
cliente para podermos ajustar a nossa resposta. O preço é sempre um factor decisivo, é
lógico não é, nos tempo que correm pesa mas às vezes o mais barato vai sair caro àquele
cliente e nós ainda não descobrimos a forma de confrontar e….
Comentário Entrevistador: Sugerir isso às pessoas, aos clientes….
Entrevistado: E tem que ser também por aí o nosso caminho mas ainda não temos
ideias de como o fazer porque normalmente o cliente é soberano nessa decisão…o que
nós fazemos é disponibilizamo-nos tantas vezes quanto o cliente quer para
esclarecermos as dúvidas que ele tem em relação à nossa proposta…e já houve
situações até que foram um bocadinho desconfortáveis para nós onde pela distância que
tinha que ser vencida fomos várias vezes a esse cliente o que de alguma forma nos
animou relativamente ao desfecho final…
Comentário Entrevistador: Claro…
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Entrevistado: E depois a decisão acabou por ser negativa, ou seja, não nos adjudicaram
o projecto mas depois percebemos que no fundo o que ele estava a fazer era confrontar-
nos com uma série de questões que resultavam da análise de outras propostas que
entretanto lhes estavam a chegar… e queriam ver como é que a nossa proposta se
posicionava face a essas informações que as outras propostas tinham. E eu penso que aí
ficou a consciência que a nossa proposta seria de maior qualidade e a decisão deles era
“vamos prejudicar, se calhar, um bocadinho a qualidade para conseguirmos ir com este
preço que nós conseguimos assegurar”. E isso tocou-nos e obviamente fez com que nós
tivéssemos que fazer uma revisão do nosso preço e neste momento é quase doloroso
sentir isso… nós estamos muito abaixo de um valor que nós julgaríamos justo para
remunerar o nosso trabalho. Mas porque é, ou melhor, não é a única forma mas foi a
forma que nós decidimos…implementar para que pudéssemos apresentar ainda, se
calhar no primeiro semestre deste ano, uma carteira de clientes razoável, prejudicando-
nos em termos do preço mas pelo menos podemos aparecer no mercado a dizer “já
fizemos projecto para este, para aquele e para aquele e os resultados foram estes, estes e
estes”. E é mais um investimento da nossa parte para podermos, se calhar, trabalhar essa
questão e depois mais tarde podemos aumentar um bocadinho o preço, embora isso,
têm-nos avisado que é um risco muito grande porque é difícil fazer isso…
Comentário Entrevistador: Começar com um preço e aumentar…
Entrevistado: Mas é um teste porque nestas questões pode ser que trabalhando um
preço baixo com o cliente, é claro que nós queremos que esse cliente regresse mais
tarde…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: E se calhar para esse cliente vai ser difícil apresentar o preço justo na
medida que ele irá ser muito diferente deste que nós estamos a fazer agora, mas outros
novos clientes poderão vir a ser já alvo desse novo preço e portanto será mais fácil
trabalhar por aí…estamos a experimentar essa estratégia porque não estávamos a
conseguir encontrar adjudicações suficientes para que nós nos sentíssemos confortáveis
e conhecidos aí no mercado. E foi assim de uma forma geral as dificuldades que nós
temos tido neste momento. Depois há aquelas dificuldades clássicas que é num
momento não há nada, não há um projecto que nos ocupe e depois, entretanto, aparecem
duas adjudicações e entretanto o nosso tempo começa a ser difícil de ser dividido entre
projectos. E isto porquê?! Porque, por enquanto, nós ainda não temos capacidade para
contratar…Neste momento temos a ajuda da S no âmbito do estágio dela mas é
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impossível nós sermos justos e dizer “ok, vamos contratar agora uma pessoa com
contracto de trabalho de seis meses ou um ano, o que for, porque nós não sabemos o que
é que vai acontecer para o mês que vem…
Comentário Entrevistador: Claro, ainda há uma grande flutuação a nível das
solicitações do mercado…
Entrevistado: E porque os projectos têm uma duração muito reduzida que não
permitem que… a segurança nessa contratação. Se um projecto acontecesse para seis
meses aí sim, nós já sabemos que vamos precisar de um recurso a seis meses então
vamos lá…E portanto isso significa muito envolvimento da nossa parte também na
componente técnica do trabalho…Depois isso resulta menos disponibilidade para a
parte mais da gestão e do pensar e antecipar necessidades futuras…e é sempre um
compromisso delicado porque ao mesmo tempo que queremos intervir na parte técnica
porque as nossas competências obviamente que são importantes para garantir a
qualidade daquele trabalho, por outro lado, sabemos que enquanto estamos a fazer o
trabalho técnico não estamos disponíveis para encontrar novos clientes, para trabalhar a
empresa no fundo, não é…e é este tempo que tem que ser repartido por “n” actividades
que às vezes é difícil perceber se estamos a fazer bem ou não, ou se estamos a
prejudicar, embora estejamos a dar resposta ao actual, não estar a trabalhar no futuro
pode comprometer isso…enfim…são riscos.
Pergunta: Quando vocês abriram a empresa existia alguma outra empresa que
fornecesse os mesmos serviços?
Resposta: Ah, essa também foi uma dificuldade que era, quando nós tentámos fazer o
nosso plano de negócios uma das partes que, obviamente um plano de negócios tem e
obriga é “conheça a sua concorrência” e nós…houve uma altura que achámos que não
tínhamos concorrência directa, que o que nós estávamos a apresentar ao mercado era de
tal forma inovador que não poderíamos, ou que não reconhecíamos ninguém no
mercado que fosse nosso concorrente. E na verdade não é bem assim…Na altura a
reflexão não produziu nada que…nesses termos, ou seja, não conseguimos identificar
nenhuma empresa. (interrupção) Nessa altura, na identificação da concorrência,
achámos que não tínhamos porque ninguém prestava os serviços da forma como nós
estávamos a prepará-lo. Depois obviamente que numa reflexão futura não foi bem
assim…foi, há empresas que já fazem ou têm no seu catálogo de serviços…vendem
também Ergonomia e já são mais do que aquelas que supostamente as pessoas…ou a
ideia geral têm que as pessoas…, e todas elas obviamente …é quase exigência que
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assim aconteça, todas elas são, ou têm Ergonomistas licenciados na FMH como o
elemento âncora dessa empresa. A primeira, talvez, que começou a vender alguns
serviços de Ergonomia é a ESSION que já falámos….Depois, não sei se
cronologicamente vou ser correcto na ordem, mas...talvez a PERCENTIL que é da
Catarina…o Luís Coelho, que nunca me lembro como se chama a empresa dele…
Pergunta: Não é a SIMULACRO ?
Resposta: Essa é a do…a SIMULACRO é do Araújo, José Araújo…Como é que se
chama a empresa do Coelho? (Pergunta feita a terceira pessoa presente na sala) …Daqui
a nada lembro-me…e o Araújo com a SIMULACRO, depois a Praxis D da Marta Dias
que terá sido talvez a última, depois aparecermos nós, embora…enfim, cada uma destas
não vende apenas serviços na área da Ergonomia e por isso é que nós nos achávamos, e
nos achamos, inovadores no mercado, somos a empresa que presta exclusivamente
serviços para este objectivo. As outras têm um conjunto de outros serviços que na
verdade até são os serviços que as suportam…porque pela nossa experiência, então isso
é evidente…estes projectos de Ergonomia vão aparecendo, não permitem às
empresas…ou não permitiam, porque pelos vistos se as coisas tiverem bem organizadas
é possível sobreviver prestando apenas prestando estes serviços… E então essa
análise…essa concorrência que existe, óbvio…nós encaramo-la com respeito mas
também com alguma tranquilidade porque o mercado não é muito grande mas nós ao
conhecermo-nos sabemos, ou antecipamos que nível de resposta é que as outras
empresas estarão preparadas para dar…e estamos convencidos que o nosso nível de
resposta consegue ser melhor em termos de qualidade do que os nossos concorrentes. A
outra parte que interessa e que à bocado andámos a falar…do preço, é que pode não ser
o factor decisivo da adjudicação e portanto aí sempre que nós apresentamos um preço
mais elevado do que a concorrência a empresa que solicita essa proposta adjudicará à
concorrência e não a nós, mas confiamos que em termos da qualidade da resposta nós
estamos bem posicionados…e tem sido também essa informação que as empresas,
potenciais clientes, nos têm dito, que a proposta estava muito bem elaborada, em termos
de metodologia, em termos daquelas coisas todas que eles valorizam mas que no
momento decisivo do preço…é isso que lhes interessa mais, por razões que cada um
saberá.
Pergunta: Então consideras que a empresa inovou ao nível dos serviços, dos produtos
finais oferecidos aos clientes e também ao nível dos processos utilizados para conceber
esses produtos, ou não?
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Resposta: Nós achamos que sim, e estamos convencidos que sim porque…mas não é
nada que seja patente nossa. Aquilo que nós fazemos é um respeito muito grande por
aquilo que as regras de como fazer bem Ergonomia mandam. E não abdicamos…
daí…não vamos pelas facilidades e portanto estamos altamente convencidos que se nós
seguirmos o protocolo que os livros nos ensinam, nós vamos estar lá, vamos chegar
aquela solução…que é aquele trabalho difícil que há pouco falava que é não confiamos
nas soluções que já existem no mercado, não é um confiar no sentido de dizer…em
determinadas circunstâncias não podemos indicar que aquilo resolveria a situação ou
seria a resolução do problema, não é isso…é…obviamente se o mercado já dispõe
aquela solução não aconselhar nesse sentido mas no âmbito da indústria dada a
particularidade e a especificidade de cada situação não é possível garantir um bom
trabalho ao cliente se o nível de reposta for apenas para a identificação das soluções
standard, das receitas, e é isso que nós estamos dispostos a fazer, é trabalhar com o
cliente o conhecimento, a informação que ele tem e transformar isso no conhecimento
relevante para lhe dizer “É isto que precisa, isto e aquilo”. É seguir o protocolo que nos
é ensinado e ser trabalhador no fundo, porque custa chegar lá, não é fácil mas enfim…é
a nossa profissão, não nos podemos queixar sobre isso.
Pergunta: Mudaste de concelho de residência ou concelho de trabalho por causa da
empresa?
Resposta: Sim. Quer dizer…sim, de facto sim. A minha…eu tenho residência em
Setúbal e não dá muito jeito estar lá do outro lado e fazer estes quilómetros todos os
dias mas enfim, não foi a única razão…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: Já haviam outros motivos na minha vida particular que me fariam estar
em Lisboa mas em rigor sim…não estou a ir a Setúbal, estou agora aqui por
Lisboa…porque é um custo completamente estúpido para além de que vir numa fila de
trânsito para Lisboa de manhã e não dá satisfação a ninguém…
Pergunta: Que factores a nível de recursos e apoios de formação contribuíram para a
formação da empresa? Tiveram algum tipo de apoios?
Resposta: Apoios da família, nomeadamente da Y, estamos neste espaço por esse
consentimento…recursos próprios…e de facto há uma coisa que não tem uma
relevância muito grande na nossa actividade, mas há pessoas que nos apoiam quase
moralmente, não é…nos incentivam “vão, vão para a frente com isso porque vocês
sabem fazer isto e aquilo”…os amigos, no fundo a classe dos amigos dão-nos esse
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estímulo e há pessoas que também acreditam no projecto como por exemplo o nosso
contabilista que nos tranquilizou a dizer “deixem….os meus serviços depois nós
falamos quando vocês tiverem capacidade para mos pagar mas até lá não se preocupem
com a minha remuneração…vão lá caminhando, vão lá fazendo pela vida da empresa
que quando vocês tiverem capacidade logo…” portanto isto são pequenas coisinhas que
todas juntas…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …vão fazendo alguma diferença. E basicamente…acho que não me
estou a esquecer de nenhum apoio mais relevante…mas é o que é o normal, não é…a
família, os amigos e os malucos, costuma-se dizer não é?!
Pergunta: Pronto, ao nível de empregados já percebi que não têm…nunca contrataram,
ainda não têm…
Resposta: Não…
Pergunta: Aceitam um estagiário por ano é isso?
Resposta: Não existe uma regra…
Pergunta: Ou foi uma situação excepcional?
Resposta: Excepcional não, foi trabalhada. Nós de alguma forma…a nossa expectativa
era que a empresa viesse a desenvolver…ou melhor, perante o número de propostas que
nós estávamos a apresentar aos potenciais clientes era nossa expectativa que uma
percentagem destas propostas viessem a ser adjudicadas…e havendo a oportunidade de
termos connosco um estudante estagiário na altura a coincidência com o período em que
o estudante estagiário estaria disponível e o número de projectos que nós tínhamos em
antecipação, permitiu-nos ter essa esperança até porque havia, e há, um projecto que nós
queremos desenvolver nosso…e foi por isso que nós fomos buscar a S…tendo aliciado
a S para vir trabalhar connosco e não ir para outro sítio qualquer…mas não, foi
intencional, a procura foi intencional, não foi uma atitude passiva que obedece a uma
regra de um estagiário por ano…foi…” nós agora dava-nos muito jeito termos uma
ajuda” e essa ajuda veio através do estudante estagiário, pela disponibilidade que havia
e pelas características que nós conhecíamos da S porque se não fosse a S não seria outra
pessoa, não era uma questão de escolha…
Comentário Entrevistador: Não era uma questão que fosse…
Entrevistado: Era, era…
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Pergunta: Relativamente ao volume de negócios, que está em evolução obviamente,
mas actualmente a empresa gera lucros que se sustente a si própria e a todas as despesas
inerentes? A nível de recursos humanos, recursos materiais…
Resposta: A facturação tem estado a crescer, felizmente sim…comparativamente ao
ano anterior sim. Os lucros que nós geramos são…na verdade geramos, ou seja, o preço
pelo qual nós remuneramos os nossos serviços são normalmente superiores ao custo que
isso tem para a empresa mas porque o nosso custo para a empresa está muito abaixo
daquilo que seria o custo real e o custo justo e portanto é nesse esforço é que as coisas
vão resultando…portanto é um cuidado constante que é apurarmos e não termos no
fundo…honrarmos todos os nossos compromissos em termos dos custos fixos que
temos e gerirmos por aí…e fazendo isso à custa de uma remuneração baixa… de nós, de
nós próprios. Pronto, basicamente isso é….ah, as receitas dão para assumirmos os
nossos custos fixos mas não remuneram ainda…com a devida qualidade o nosso
envolvimento, e…mas isso também era esperado, foi previsto que houvesse um período
em que a coisa tinha que ser assim…infelizmente não há outra hipótese.
Comentário Entrevistador: Claro…salvo raras excepções em que as empresas
também começam logo ali…
Comentário Entrevistado: A crescer…
Comentário Entrevistador: …a ter os ordenados ideais…
Comentário Entrevistado: Chorudos….
Comentário Entrevistador: …a cada um dos sócios…
Pergunta: Quais são os projectos futuros aqui para a empresa? E as expectativas
iniciais foram superadas ou estão ainda em fase de superação?
Resposta: As expectativas não…as minhas não, não foram, eu pensava, e aliás isso
era…é uma reflexão recorrente com outros colegas do ISCTE, eu pensava que este
período de rampa de lançamento da empresa atingisse um stedytsep mais, mais, mais
depressa e está a ser um esforço muito prolongado, são dois anos, basicamente, que nós
estamos a chegar em termos do início da sociedade da empresa…e estimávamos que
nesta fase nós já estivéssemos a navegar…como é que se diz…em fase de cruzeiro. E
não está a acontecer…porque também se calhar as nossas expectativas vão sendo
corrigidas em função do que existe agora, queremos fazer sempre mais, mais, mais….
Comentário Entrevistador: Depende da actual situação do país também…
Entrevistado: Exacto…mas ainda há espaço para crescermos muito mais
obviamente…não há qualquer dúvida para isso…não apenas em termos de volume mas
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em termos da diversidade daquilo que oferecemos…E isso significa um projecto em
particular que nós queremos…que seja nosso ou que tenha a nossa marca, e que vai
ajudar-nos a nós, mas vai também ajudar a classe profissional em geral…tem a ver com
uma especificidade em termos quase técnica relacionada com a profissão porque o
aspecto central da nossa profissão é a nossa competência em olhar, sobretudo, para esta
área, para o trabalho e perceber com a análise do trabalho o que é que o Ergonomista
deve respirar dessa observação que está a fazer…e sistematizar essa informação para
que ela resulte nessa construção dessa solução. E temos reparado que há colegas que ao
dispersarem um bocadinho a sua atenção nesta fase de recolha de informação não
garantem bons resultados, portanto essa preocupação não é apenas inerente à nossa
actividade mas uma aposta que nós fazemos para a classe em geral para garantirmos que
a qualidade da resposta vai ser transversal aos Ergonomistas e isto permite afirmar a
classe…e nós julgamos que afirmando a classe do ponto de vista da qualidade da sua
resposta também estamos a contribuir para a consolidação da imagem da empresa não
é…se conseguirmos chegar a este produto e disponibilizando-o a outros é obvio que
isso representa uma vantagem enorme para nós…estamos nós convencidos disso. E esse
é um projecto que nós acarinhamos com alguma particularidade. Outros projectos são
um pouco na sequência daquilo que há pouco também dizia, a aposta na diversificação
dos nossos serviços, por exemplo na área do produto e noutros segmentos do mercado
que de acordo com algumas opiniões de observadores…são uma matéria que o futuro
vai trazer também para o nosso país…e estamos a tentar posicionarmo-nos para isso,
antecipando…ou melhor, tendo estado atentos a esses observadores, estamos a tentar
reunir competências e informação, suficiente e relevante, para que no momento chave
estejamos preparados para dar essa resposta. E são estas três áreas…o desenvolvimento
desse quase protocolo de observação, ou de análise do trabalho, esta aposta na
antecipação das necessidades futuras e o desenvolvimento desta área do produto que
seria bom para nós.
Pergunta: Está bem…já percebi. Desde que vocês abriram até agora acham que as
mentalidades das pessoas têm mudado relativamente à importância que eles atribuem às
questões da Ergonomia, relacionadas com o trabalho, ou não? Têm vindo…têm
observado essa mudança?
Resposta: Eu…eu não sei se…
Pergunta: Acha que é uma preocupação crescente das empresas?
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Resposta: Eu acho que isso sim, acho que é…não sei se é muito evidente, mas parece-
nos que sim porque…mas temos alguma dificuldade em diferenciar se é desde que nós
existimos ou se é pelo facto das pessoas quando procuram alguma coisa sobre
Ergonomia já também nos encontrarem e fazerem chegar até nós esse pedido ou se isso
já acontecia mas só que nós não éramos considerados ou porque não existíamos ou
porque ainda éramos muito recentes…embora ainda o sejamos. Essa avaliação é
estranha…eu quero confiar que sim porque o confronto que…na generalidade…com o
que acontece na generalidade é cada vez maior, é pela televisão, é pelos jornais, é pelas
campanhas que organismos com responsabilidade promovem para sensibilizar as
pessoas para a importância que é a segurança e a saúde no trabalho…e isso tem que ter
algum resultado. Por outro lado, as empresas chegam a uma determinada altura em que
percebem que afinal o trabalho que os seus operadores estiveram a fazer está a produzir
efeitos que não são bons para os índices de competitividade daquela empresa porque a
seguir começam a ter que lidar com períodos de absentismo elevado, com doenças
profissionais, com insatisfação dos trabalhadores, com erros no produto, com a falta de
qualidade do produto e portanto…depois quando esses efeitos são identificados as
empresas começam a relacionar ou têm a possibilidade de relacionar uma coisa com a
outra e aí aproximam-se e pedem. Eu queria, eu gostava que isso pudesse ser verdade,
que as empresas estão a ficar mais conscientes…mas não estou muito seguro…nós
contribuímos para isso porque existimos e porque estamos a confrontar as empresas,
através do nosso site, com uma série de resultados do trabalho que não são bons para
elas e portanto este choque é para despertar nelas o alerta de que se calhar têm que
acautelar isto. O ideal para nós nem era apenas que acontecesse assim, que as pessoas
quando percebem que…que as empresas quando percebem que há ali uma série de
efeitos que não deveriam lá estar nos chamassem, é bom que nos chamem mas o que
nós gostaríamos que no futuro também acontecesse era que percebendo que o futuro das
empresas pode apresentar esses efeitos elas trabalhassem na preparação ou no
planeamento e aí ainda não tivemos nenhum projecto que nos envolvesse na fase de
planeamento e é outra das expectativas…mas isso nós estamos convencidos que
podemos vir a trabalhar isto de uma outra forma com empresas que já tenham sido
nossas clientes porque já conhecem o tipo trabalho que nós fazemos e na preparação de
um novo projecto, de um novo produto, a empresa sabendo que pode acautelar…estou a
evitar dizer acautelar porque a S diz que falo muito em acautelar…a empresa pode
antecipar isso e saber “ok, se chamarmos nós conseguimos corrigir na origem estes
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problemas que depois não queremos que aconteçam no futuro”…mas pronto resumindo,
não sei se houve alguma evolução…até porque o nosso país está a mudar um bocadinho
em termos de tecido produtivo, não é….as empresas estão a deslocar-se, portanto,
aquelas que se mantêm por cá, provavelmente, são empresas com um nível de
organização já muito considerável e de uma forma ou outra estas preocupações já
existiriam porque é de facto…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …importante para a empresa preparar o trabalho, as condições de
trabalho para que ele não desenvolva estes impedimentos perante a intervenção que as
pessoas têm lá…mas enfim…o que é que eu posso dizer…sendo nossa expectativa
também não é um marasmo completo porque senão nós não estávamos a apresentar
propostas…não sei se isso se deve ao facto de uma evolução ou se já era assim e apenas
nós estamos a ser considerados por essas empresas, não consigo avaliar bem isso.
Pergunta: Ok…Para além da empresa tem outras actividades profissionais
actualmente? Quais?
Resposta: Sim…muito marginal…uma é a colaboração numa…com uma instituição de
ensino privada que é o ISEC, obviamente falando de Ergonomia numa cadeira
Ergonomia que eles têm, depois outra responsabilidade é na Associação Portuguesa de
Ergonomia e excepto essas duas não…portanto é a empresa, a APERGO e essa
colaboração na docência.
Pergunta: Não colabora em mais nenhuma…porque no currículo…deu aulas em várias
instituições, actualmente só no ISEC?
Resposta: Ah…Sim porque eu não quero…embora de vez em quando surja a
oportunidade de nós participámos nesses planos de formação de Técnicos Superiores de
Higiene e Segurança no Trabalho mas isso retira-nos algum tempo em termos de
empresa…e não…foi uma aposta que é não…vou abdicar um bocadinho disso…se isso
fosse o negócio da empresa ok mas não é porque essa, normalmente, é uma formação a
título particular…e prescindo para me concentrar um bocadinho mais nestes
problemas…
Pergunta: Ok…Aqui a última questão desta parte era para me dar um exemplo de
empreendedorismo representativo na sua área. Eu lembro-me que na altura quando
falámos, falou-me da SIMULACRO não era, porque inovava na questão da segurança
para as crianças. Mantém-se?
Resposta: Sim, sim, sim… É um bom exemplo.
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Pergunta: Relativamente a atributos pessoais, quais são as qualidades que considera
importantes para se criar e desenvolver uma empresa, com tudo o que isso implica e
acarreta? E porquê?
Resposta: Então…ter alguma resistência às adversidades porque são constantes, os
problemas…ou seja, a única certeza que temos é que vão aparecer problemas e portanto
é preciso ultrapassá-los e ter alguma resistência, algum suporte para lhes dar a
volta….Por outro lado é um misto de…ter uma boa reserva de confiança porque há
momentos em que nós podemos pôr tudo em causa mas tendo essa
consciência…mesmo assim é preciso seguir em frente e achar que na altura a coisa se
vai resolver…Ter alguma capacidade de antecipação também, no sentido de quantos
mais cenários eu antecipar que podem…que eu posso ser confrontado no futuro melhor
preparado estou para os enfrentar…de alguma forma já pensei, ou já me confrontei ou já
experimentei qualquer coisa, nem que seja ao nível da reflexão…Atributos pessoais é
um bocadinho por aí…que é a capacidade de resistência, a confiança mesmo que
desprotegido…e achar que, enfim, que tem…que tem a resposta correcta ou que tem…a
resposta correcta para a situação, achar que consegue lá chegar. Outras situações que eu
acho que são essenciais…é… a nossa vida faz-se com um suporte financeiro e ponto
final. E se nos dedicamos a um projecto destes… prepararmos a nossa vida para
podermos prescindir desse incoming durante uns tempos porque a não ser que seja um
caso de um sucesso extremo ele vai estar muito…
Comentário Entrevistador: Demorar algum tempo até ter um lucro compensável…
Entrevistado: Exactamente, exactamente. E portanto é preparar isso para não destruir o
outro suporte porque ele é necessário para o resto não é…porque sem esse suporte, ou
da família, ou dos amigos, tudo se destabiliza…porque depois não há, precisamente,
essa base de sustentação. Então é antecipar essa situação e preparar-se para isso…E ter
a consciência que vai deixar de haver horários, não há das nove às cinco, não é assim…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …não há um horário, não há propriamente…não se obedece a um ritmo
de semana, embora seja bom ter essa disciplina porque a cabeça também precisa de
descansar mas perde-se um bocadinho essa, essa divisão que é feita, semana e fim-de-
semana…Outro atributo que eu acho importantíssimo que nós tivemos que trabalhá-lo,
eu pessoalmente tive que trabalhá-lo bem, é…nós rapidamente mudamos de técnicos
para nós termos que apresentar competências ao nível comercial. Nós temos que saber
vender os nossos serviços senão nem a proposta vai acontecer…e trabalhar a relação
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com o cliente é qualquer coisa que não sendo inata nós não estamos preparados para a
ter na sua…como ela deve ser feita e isso foi, é um processo que nós estamos a ter,
estamos a aprender ainda e é…mas é algo muito delicado e que eu me senti menos
preparado para isso…mas é obrigatório, eu tenho que deixar, nós, enquanto
responsáveis pela empresa, temos que deixar de pensar apenas…ou sermos puristas em
termos técnicos para pensarmos nessa relação comercial…
Comentário Entrevistador: Empatia talvez….
Entrevistado: É…e perceber…enfim, perceber dessas estratégias comerciais, como é
que eu vou…ou…mas aqui, se calhar, também é uma personalidade ou é um traço de
personalidade próprio…eu sou muito persistente numa ideia em que eu pense que é…o
cliente apresentou-me um problema e eu penso que a resolução para aquele problema é
esta ideia que eu tenho e sou muito convicto daquela ideia, independentemente daquela
ideia estar a dar, não só aquilo que o cliente pediu, mas mais “n” coisas, e eu penso
“então se eu forneço mais n coisas ao cliente melhor para ele” mas às vezes o cliente
não está interessado nas “n” coisas, só quer aquela que ele pediu e esse purismos técnico
se nós conseguirmos também dar ao cliente mais aquelas coisas, embora seja
satisfatório enquanto profissional, não é isso que faz sentido numa relação comercial. É
um exemplo, materializando um bocado essa suspeita…e isso tem que ser corrigido.
Portanto, a pessoa que se dedica a um negócio tem que ter alguma preparação nesta
relação comercial…e que de facto, é uma coisa que, embora nós tenhamos ouvido
durante a formação em empreendedorismo, não é trabalhada ao nível da competência,
nós temos que ir à procura dela posteriormente. E eu ainda sinto algumas dificuldades
nisso…e tenho corrigido mas faz parte do processo.
Pergunta: Relativamente à família, pronto, referiu à bocadinho que a sua família o
apoiava…eles apoiaram-no na sua decisão desde início da criação da empresa, desde a
saída da AutoEuropa? De que forma é que eles o apoiaram?
Resposta: Sim…quer dizer, não foi assim um apoiar que….ou melhor, regra geral a
minha família não me tem impedido de decidir para aqui ou para ali…normalmente eu
apresento a ideia, ou apresento…enfim…sim, discuto a ideia mas já vou muito
determinado naquilo porque, normalmente, já pensei muito e portanto não…salvo raras
excepções, volto atrás nessa decisão. Portanto já vou muito determinado naquela ideia e
se calhar um bocadinho por conhecerem essa forma de ser…nesta situação em particular
não houve nem uma resistência, nem um apoio incondicional…disseram “sim, se tu
achas que é isso que queres fazer e se achas que estás preparado para o fazer vai em
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frente porque não vale a pena estares numa situação profissional que não desejas e que
te sentes insatisfeito”, foi uma aceitação e não foi um apoio condicional do género “Vai,
vai, vai que nós estamos cá para apoiar”. É óbvio, a família está sempre mas foi mais
uma aceitação.
Pergunta: E qual foi o ponto de vista deles, dos seus pais, relativamente à criação do
próprio emprego? Há famílias que são renitentes que preferem “não, trabalha porque
tens sempre alguém que paga”, há outros que dizem “Não, vai…arrisca”.
Resposta: Na verdade, e eu não tinha sido ainda muito confrontado com a ideia até ao
momento que eu percebi que na verdade todos nós fizemos um bocadinho isso. A
começar pelos meus pais, eles eram empregados na agricultura por conta de outrem,
decidiram, em determinada fase da vida, implementar um negócio próprio, na altura,
uma taberna em Évora. Uma das minhas irmãs…empregada fabril numa unidade lá de
produção em Évora resolveu, a determinada altura da vida, fazer um acordo com a
empresa e apostar no ramo da restauração com o marido; a outra irmã continua também
a trabalhar por conta de outrem mas incentivou o marido a criar um negócio próprio,
uma sapataria e portanto a família…
Comentário Entrevistador: Bem…pelo menos tiveram todos um percurso…
Entrevistado: Foi…e portanto quando eu…enfim…começámos a pensar nisto…disse
“ah, afinal tenho algum suporte familiar de empreendedorismo sem ter consciência do
mesmo não é…porque achávamos que aquilo era uma resposta que a pessoa estava a dar
aquela condição de vida que naquele momento lhe parecia desfavorável e então ia à
procura de uma solução melhor….
Comentário Entrevistador: Claro….
Entrevistado: Enfim, é normal….De maneira que, se calhar também por isso, não
houve muita estranheza porque nós todos acabámos por fazer alguma coisa e felizmente
todos os exemplos estão a ser bem sucedidos e eu gostaria que o meu também fosse,
como é óbvio. Mas eles, se calhar, também percebem melhor porque eles próprios estão
envolvidos…
Comentário Entrevistador: Já fizeram essa decisão.
Entrevistado: Exactamente.
Pergunta: Então acha que foi influenciado pelo percurso dos restantes elementos da
família? Ou acha que não…que como não tinha consciência não chegou a ser
directamente influenciado?
Resposta: Não sei…se calhar a influência está…
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Pergunta: É que às vezes as conversas…há pais que dizem “eu acho que é bom todos
criarmos, passarmos pela fase de criar uma empresa”, há pais que falam isso com os
filhos, há pais que não, que dizem “quando fores grande é melhor…”. Acha que eles o
influenciaram de alguma forma?
Resposta: Dessa forma declarada não…no sentido de me dizerem “então se estás a ser
confrontado com este problema, se calhar, criares uma empresa resolve”…acho que
nunca me confrontaram, ou nunca discutimos nestes termos…
Comentário Entrevistador: Em termos dos percursos de vida deles de forma
indirecta…
Entrevistado: Aí talvez isso lá estivesse não é…no sentido de procurarmos uma
autonomia própria, de procurarmos desenrascarmo-nos na vida sem ter muito, muitas
contas a dar a outrem…aí se calhar talvez esses ensinamentos que faziam parte do nosso
dia-a-dia tenham tido agora a sua manifestação e a sua concretização. Mas de facto
nunca tinha pensado nisto nestes termos, nunca tinha estruturado o raciocínio desta
forma, não sei…se calhar até lá, muito atrás, o momento decisivo foi ainda em Évora e
não propriamente cá em Lisboa. Mas não sei…
Pergunta: Pronto, passando agora para a parte dos factores sociais, apoios e barreiras,
acha que actualmente a nossa sociedade, de uma forma geral, apoia, ou não, os
empreendedores? Porquê? E se me podia dar exemplos específicos de situações que
tenham ocorrido.
Resposta: Não, acho que sim. E sem dúvida nenhuma, até… por um lado porque está a
haver oferta formativa que dinamize este processo, esclarece as pessoas nesse processo
de formação da empresa e prepara-as para quem ou tem a motivação ou quer vir a estar
preparado para isso. Por outro lado, em termos dos instrumentos ou ferramentas que o
estado e o governo disponibilizam há cada vez mais programas que apoiam e
incentivam quer a criação da empresa quer o crescimento das empresas já existentes.
Portanto acho que esses instrumentos estão também a permitir que as ideias que vão
nascendo encontrem depois a possibilidade de serem concretizadas. Por outro lado a
disponibilidade e…no mercado financeiro de investidores ou de dinheiro que pode ser
investido para dinamizar a concretização desses projectos, aí na parte já do interesse
privado, também permite isso embora no nosso país não seja tão dinâmico quanto eles
dizem que noutros países acontecem. Mas que existe dinheiro existe, o que se diz é que
esse dinheiro não está a encontrar ideias suficientemente boas para ser aplicado, de
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maneira que existe. Depois os concursos…por exemplo o BES Inovação, enfim, estão
todos os anos a aparecer…
Comentário Entrevistador: O AUDAX também está com alguns programas…
Entrevistado: Exactamente. Estão sempre a aparecer motivos que confrontam pessoas
com essa necessidade de não fecharem na gaveta as ideias que eventualmente
tenham…e possam ser bem sucedidas nos negócios. E acho que até têm sido bem
articuladas as várias ferramentas e as várias acções que têm sido feitas porque hoje em
dia começa a haver também por parte do ensino universitário essa preocupação, em não
apenas investir na formação científica mas encontrar ali uma fonte de incentivo à
transformação desse modelo de aluno também num potencial empreendedor, e portanto
acho que as coisas estão bem alinhadas e é bom que assim seja porque isso significa
uma transformação no tecido empresarial no nosso país e no reforço de competências
nesse mesmo tecido a médio prazo, acho que é uma boa aposta nesse sentido.
Pergunta: Acha que ainda podiam evoluir mais as coisas…podia-se fazer mais a
nível…o estado podia promover mais algum tipo de iniciativas nesse âmbito?
Resposta: Eu não sei porque…de facto a ideia de…quando alguém está convencido que
a sua ideia de negócio faz sentido, estar à procura da oportunidade do estado apoiar é
quase contraditório à iniciativa do empreendedor, ou seja…
Comentário Entrevistador (após uma interrupção): Estávamos a falar das questões
dos apoios…ah, exactamente, a última parte era “ah…o estado a apoiar…”…
Entrevistado: Acho que é quase contraditório à iniciativa…acho…enfim, não
sei…estou a generalizar…mas das pessoas que eu conheço ninguém ficou à espera de
um apoio por parte do estado para iniciar o seu projecto. Não sei se da outra vez falei,
há uma colega minha do ISCTE que trouxe uma ideia que ela já alimentava num
período em que ela esteve em Londres, e implementou o projecto, a empresa dela
também já está formada, chama-se P e a ideia era tratar para o nosso mercado a
simplificação da linguagem para que o utilizador comum de uma carta das finanças, de
um aviso da conservatória não sei do quê, quando recebe a carta perceba a mensagem
que lá vem e não seja uma mensagem cheia de decretos e de alíneas e segundo isto e
segundo aquilo…e é…enfim, no primeiro confronto toda a gente acha a ideia brilhante
porque de facto é um serviço que vem simplificar a vida das pessoas…se eu percebo
melhor o conteúdo de uma carta que me é enviada eu automaticamente tenho uma
resposta mais adequada, ou mais participativo…
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Comentário Entrevistado: Claro…e até poupa tempo aos próprios serviços em
esclarecerem e tirar dúvidas…
Entrevistado: Correcto, correcto. A implementação da….a operacionalização dos
serviços em termos de vender este produto às empresas, tem sido um processo também
complicado embora ela seja uma pessoa extremamente empenhada…e é verdade que
isto faz falta mas…esta passagem…e ela não esteve cá à espera de incentivo nenhum, a
única coisa que ela fez, porque estava a receber o subsídio de desemprego, foi antecipar
as mensalidades que está previsto e darem por atacado o conjunto de mensalidades que
ela teria a receber para formar a empresa…Acho que não faz muito sentido estar à
espera disso, não é determinante, se ajudar melhor, mas não é determinante.
Pergunta: Está bem…Há aqui uma questão, mas pronto…o tempo de criação da
empresa é relativamente reduzido para…isto faz sentido com pessoas que têm a
empresa há dez anos…que era, antigamente as coisas eram diferentes ou não? Mas acho
que isso…
Resposta: Claro….pois…Não o nosso processo foi…e nós não fizemos na…ou melhor,
não fizemos aquele processo da empresa na hora em que se sai já com a empresa
formada.
Comentário Entrevistador: Foram pelas formalidades…
Entrevistado: Nós queríamos um nome…
Comentário Entrevistador: Claro…eu acho… a empresa na hora tem aquela lista ali
muito restrita…é um processo instantâneo, mas pouco personalizado talvez…
Pergunta: Pronto, não recorreram a qualquer tipo de apoio para a criação da M…da
empresa peço desculpa…
Comentário Entrevistado: Também vais falar com a M?
Comentário Entrevistador: Já falei…
Comentário Entrevistado: Ai já? Que é para eu…
Comentário Entrevistador: Também é muito gira a iniciativa dela, no âmbito do
exercício e saúde e ela é impecável, aliás todos com quem tenho falado têm sido assim,
cinco estrelas…
Pergunta: Acha que no interior é mais fácil, talvez esta questão não se aplique, mas há
pessoas que dizem “se isto fosse no interior isto era muito mais fácil ter apoios para esta
iniciativa”…há áreas em que isto faz sentido, há outras que não…ou nas ilhas…às vezes
há fundos mesmo das regiões autónomas que apoiam…
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Resposta: Na nossa não…a não ser agora com o QREN. Os incentivos que o QREN
disponibiliza privilegiam as regiões que estão fora da área metropolitana de Lisboa, aÍ
se calhar sim, mas para a formação da empresa e para nós, não faria muito sentido
termos a sede noutro sítio porque….
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …Se tivesse sentido era deslocarmo-nos mais para Norte porque, ao que
parece, a iniciativa…
Comentário Entrevistador: Outra metrópole, nunca para o interior onde não houvesse
conhecimento nem…
Comentário Entrevistador: Exactamente, exactamente…
Pergunta: Se tivesse de escolher um aspecto que mais tivesse influenciado o seu
percurso de empreendedor, qual escolheria? E se tivesse que pôr por ordem os vários
aspectos qual seria a ordem?
Resposta: Então, o primeiro aspecto, sem dúvida, foi a insatisfação com a situação
profissional…achar que eu tinha mais coisas para dar e que conseguia dar mais
coisas….então, a ordem será…portanto…esse em primeiro não é…a insatisfação com a
situação profissional em primeiro, em segundo lugar talvez venha a vontade de querer
fazer coisas diferentes…e em terceiro lugar aquela aspiração de fazer coisas que nos
fazem tornar muito satisfeitos connosco próprios, ou seja, eu fiz nascer um projecto, eu
construí, a sensação de construir qualquer coisa, de fazer coisas…bem, eu penso que foi
sobretudo isso, a procura…dessa transformação em termos profissional e a nível pessoal
um motivo de satisfação de que eu passei por aqui mas não deixei as coisas como
estavam, fiz uma coisa diferente…
Comentário Entrevistador: Querer fazer a diferença não é?
Comentário Entrevistado: Exactamente, exactamente…
Pergunta: Houve algum aspecto que tivesses abdicado durante este percurso de
dedicação à empresa e que se tivesse arrependido?
Resposta: Não, não…Há sempre dias em que estamos mais…ou menos bem dispostos
do que outros mas a sensação de “não faria isto” não…
Comentário Entrevistador: Ok…
Entrevistado: Até à data não…
Pergunta: Passando aos factores académicos, com que idade é que começou a
trabalhar? Qual foi o primeiro trabalho que teve? E em que área…remunerado, regime
de voluntariado?
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Resposta: O primeiro, primeiro foi ainda em Évora, eu…numa rádio, na rádio local,
numa rádio local lá em Évora…e para aí o quê? Eu estava ainda no secundário, portanto
devia ter para ai uns dezasseis, dezassete anos…e nessa altura não era
remunerado…Esse foi o primeiro e depois era mais o quê?
Entrevistador: Era a área basicamente…e na base de regime de voluntariado
Entrevistado: Ah… era na rádio local.
Pergunta: Ok…Relativamente à licenciatura, porque é que concorreu para Ergonomia?
Quais foram as outras opções de candidatura?
Resposta: O porquê foi por uma razão muito estranha…eu tinha uma grande fixação,
enquanto estava no secundário, que era a Educação Física e o Desporto e todos os
professores de Desporto, porque eu era da área de Desporto, quando eles falavam da sua
experiência do ISEF, na altura tinha sido a escola deles, eu tinha…vivia muito aquela
caracterização toda e portanto a ideia de ir para o ISEF era qualquer coisa que estava
muito presente na minha vontade…E na altura tinha um grande interesse na área da
ginástica e por aí…e portanto a fixação foi “eu tenho que ir para aquela faculdade
porque eu quero ter um período da minha que eu quero viver estas coisas todas”…e
nesse momento quando eu vou concorrer, os critérios mudam e passa a ser determinante
o currículo desportivo da pessoa no âmbito federado, ou seja, tínhamos que apresentar
justificações de termos sido federados nalguma coisa e isso era discriminatório. E eu
não tinha tido essa oportunidade de ser federado em nenhuma modalidade e portanto, na
altura não entrei. Eu disse “não vou abdicar, existem outros, eu vou ver o que é que lá
existe porque se não vou para Educação Física vou para outra coisa qualquer” e então as
opções foram a Ergonomia, a Educação Especial, na altura Educação Especial e
Reabilitação…
Comentário Entrevistador: Eu também ainda tirei de Educação Especial…
Entrevistado: …e acho que não concorri a mais nada porque eu não queria ir para
outra….ah…não, mentira…e depois concorri também para a UTAD e para a Guarda.
Pergunta: Para que cursos?
Resposta: De Desporto, Educação Física e Desporto.
Comentário Entrevistador: Que giro…
Entrevistado: Houve um destes resultados que…ah, porque eles lá, o critério de
entrada não tinha a ver com o currículo desportivo, em termos federados, mas com
provas desportivas. E então fui lá fazer as provas e tal…e entrei para uma delas, não me
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recordo qual, penso que a UTAD. E depois disse “ Não, não vou lá para cima, vou para
Lisboa e…
Pergunta: Na nossa não se pediam pré–requisitos na altura?
Resposta: Não, mudou-se…
Pergunta: Era a questão se eram federados ou não?
Resposta: Não, não interessava. Até à data eram para os da Natação, Atletismo….E
depois naquele ano, desde que não se apresentasse o currículo federado…E portanto foi
um bocado esse processo, decidi entrar em Ergonomia…o primeiro ano é aquele ano
clássico…é “vou ver o que isto tem para me dar” e…continuei a ficar…
Pergunta: Converteu-se?
Resposta: Sim.
Pergunta: Não quis mudar a meio nem nada?
Resposta: Não. Houve uma altura em que…eu não tenho assim muita consciência da
forma como o fazia, a não ser uma ideia assim muito, muito por alto, mas alguns
professores dizem que eu era um aluno muito crítico e que…enfim, era um bocado
insatisfeito com a condição de ser aluno de Ergonomia e não questionar o porquê de
estar ali, e eles tinham que provar que…eu tinha que fazer a prova se gostava daquilo ou
não. E talvez por esse confronto e essa tentativa de encontrar uma resposta para
justificar os próximos anos…essa tentativa de procura….essa procura….tenha
consolidado, no fundo, o interesse, porque na verdade uma das áreas em que eu me
revia, em alternativa, seria na área da gestão empresarial. Tinha que ser assim…tinha
que ser assim uma coisa qualquer que tivesse a ver com as empresas. E na altura, a
Ergonomia apresentava-se precisamente com este cenário, que era uma área que
havendo na faculdade para a qual eu queria ir, era a área mais próxima de uma relação
possível com as empresas…então foi por aí. E depois não hesitei.
Pergunta: E nunca Gestão do Desporto?
Resposta: Não. Na altura…eu não estava bem informado, mas não fazia…
Pergunta: Ainda não tinham ramo?
Entrevistado: Mas eu acho que ainda não havia ramo. Ele só aconteceu para meio do
nosso percurso, é que começou a haver a Gestão do Desporto…Pois, porque já no meu
ano, 2006/2007…não, 98…97 foi quando acabei, 92/97…quando nós acabámos já
houve colegas que acabaram como em Gestão do Desporto, portanto foi para aí a meio
que eles tomaram essa decisão…
Comentário Entrevistador: Foi a meio que houve…
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Entrevistado: Acho que é no terceiro ano que eles optavam se seguiam…
Comentário Entrevistador: É…o de Gestão ele também, na altura, ele disse-me….eu
não me lembro do período de licenciatura dele, mas o que ele diz é que a diferenciação
foi pelo estágio, ou seja, a formação era comum e depois diferenciava no estágio.
Comentário Entrevistado: Então é isso…
Comentário Entrevistador: Nem sequer havia a nomenclatura de Gestão do
Desporto…uma coisa que surgiu…
Comentário Entrevistado: Ah, mas essa de Gestão é anterior. Ele deve ter saído para
aí em 93, coisa assim não era? Esse colega da Gestão…
Comentário Entrevistador: Chama-se J…
Comentário Entrevistado: Porque na minha altura acho que já não se fazia apenas
pelo estágio…fazia-se…a decisão era anterior, para aí no terceiro ano…
Comentário Entrevistador: Ah, já havia mesmo uma ramificação em que eles
optavam e tinham mesmo já…
Entrevistado: Isso tinha a ver com as propedêuticas e eles substituíam lá as
propedêuticas por umas mais próximas da área…acho eu…já não me recordo bem…
Pergunta: Mas de qualquer forma a Gestão do Desporto nunca poderia ter sido uma
hipótese?
Resposta: Nunca me fez por isso…não, não…
Comentário Entrevistador: E aqui viu a relação…pronto, a relação com a parte das
empresas e isso…
Comentário Entrevistado: Mas agora que dizes isso terá sido uma estupidez
provavelmente, porque na altura não considerei sequer…não havendo informação
disponível, depois como comecei com Ergonomia, nunca questionei a coisa….”não vou
mudar agora”, não é? Mas por acaso teria sido…
Comentário Entrevistador: Também era uma boa opção…
Comentário Entrevistado: Pois era…pois é…
Comentário Entrevistador: Na próxima vida vai aliar o Desporto e à Gestão…
Comentário Entrevistado: Pois é…vou pensar nisso. Porque era juntar as duas coisas
que de facto faziam sentido, para mim, naquela altura.
Pergunta: Durante a licenciatura na FMH participou em actividades fora do âmbito da
faculdade?
Resposta: Sim, sim, sim…Tudo o que eu podia ter feito naquela faculdade eu fiz. A
primeira que eu me recordo foi…a Câmara de Oeiras convidou a faculdade a ir com
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uma equipa a um concurso que estava a dar na televisão na altura e que era realizado em
Itália. E então eu fui integrado nessa equipa porque estava na classe do professor
Granger, de Ginástica Acrobática, então o professor Sidónio Serpa era, no fundo, lá o
mestre, o nosso treinador e foram identificadas uma série de pessoas lá na faculdade,
penso eu que também pela proximidade que nós tínhamos à Associação de Estudantes, e
porque era já…e eu estava para aí…terá sido, se calhar, o meu segundo ano, acho
eu….Depois comecei a participar na Associação de Estudantes e no CODAPTEC e daí
até pertencer à Tuna também foi um pulinho, então fiz assim nestas iniciativas, mais da
borga…participei. Depois, nos órgãos de gestão, fui o estudante lá do Conselho
Directivo, tive no Pedagógico, enfim, nesses percursos normais que o estudante
minimamente atento, ou preocupado, ou querer participar na vida da faculdade fez. E
depois eu, como estudante deslocado de Évora…
Comentário Entrevistador: Tinha mais tempo disponível do que os outros que eram
de cá.
Entrevistado: … e vivia na residência, portanto, para mim, fazia todo o sentido eu
envolver-me com estas iniciativas porque era também uma forma de eu preencher o
meu tempo…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …de uma forma construtiva, achava eu…e ainda bem que o fiz porque
isso…na altura nós não temos essa consciência e só sabemos porque os outros nos
dizem, dizem “Ah, é bom que faças porque vais atingir um conjunto de experiências que
vão ser relevantes para o teu futuro” e de facto assim é…
Pergunta: Acha que alguma dessas experiências proporcionou algum ganho a nível da
visão empresarial, de lidar com as pessoas?
Resposta: A Associação sem dúvida, o CODAPTEC idem. Na Associação eu
tinha…pertenci à direcção e depois fui um dos presidentes da Associação, e então tinha
que gerir pessoas, não no sentido do trabalho que elas faziam mas no sentido da
motivação que essas pessoas tinham para contribuir para Associação…porque é…todos
gostávamos de pertencer à Associação mas depois organizar os contributos dos vários
era complicado. E o CODAPTEC…porque houve um projecto…dois projectos
interessantíssimos que aconteceram durante a minha passagem por lá…a professora Ana
Paula Batalha tinha sempre um secretário, que era no fundo um aluno que a ajudava a
executar alguns projectos. E houve um ano, acho que em 95, que houve a possibilidade
de nós participarmos num concurso, num festival de dança em Macau, e era preciso
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encontrar recursos para levar oito pares, para aí…pelo menos oito pares e acho que nós
fomos mais porque tinha que ficar alguém de fora, para Macau, com viagem de avião e
estadia e tal, embora a organização do festival já assegurasse algum apoio…e esse
trabalho todo, estive muito envolvido nele e foi muito gratificante na tentativa de reunir
dinheiro…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: O objectivo era dinheiro e prepararmo-nos para ir para lá e dizer muito a
preparação do projecto e querer que as coisas acontecessem assim e planear as
coisas…E depois foi outra participação nossa, numa iniciativa que aconteceu nas Ilhas
Terceira e São Miguel, portanto nos Açores…
Comentário Entrevistador: Que giro…
Entrevistado: Por altura da comemoração do aniversário, não sei quantos, da ANA,
acho eu…e então também estive envolvido…E foi sobretudo isso, por essa exposição
que eu tive, que na altura revelou-se…nessa altura apenas para cumprir aquele
objectivo, mas que depois veio-me dar alguma tarimba para situações futuras.
Pergunta: Ou seja, acha que a participação e organização de projectos pode contribuir
para uma visão empreendedora?
Resposta: Sem dúvida nenhuma, porque aquilo que nós…
Pergunta: Planear até à operacionalização e até ao concretizar as ideias, acha que é
importante para um estudante?
Resposta: Porque a consciência que nós temos de apenas idealizar, ou antecipar o
acontecimento das coisas, e nós podemos fazer uma antecipação rigorosíssima, mas no
momento em que nós começamos a aplicar o plano, vamo-nos confrontar com uma série
de acontecimentos inesperados que é preciso saber gerir…e no fundo é essa
competência que é determinante nalgumas situações de negócio real, é dizer “E agora?
Como é que eu resolvo este problema?” e a resposta tem que ser dada, não pode ficar à
espera de…e numa escala muito diferente isso acontece também nesses casos, o pôr as
mãos na massa tem essa vantagem de pôr a pessoa à prova, não apenas para verificar se
aquilo que planeou, foi de facto bem planeado e está a acontecer na devida forma mas
também se a pessoa consegue repor um desvio inesperado no caminho que ela acha que
deve ser agora, aquele que deve traçar…fundamental…
Pergunta: E achas, por exemplo, que algum docente, nalguma disciplina, promoveu
essa realização de projectos, que aproximasse o vosso contacto com a realidade ou não?
Não tinham cadeiras que…façam projecto de uma coisa que queiram
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implementar…pensem nos patrocínios, pensem no espaço, pensem em tudo. Houve
alguma disciplina…durante a licenciatura?
Resposta: Eu não tenho essa consciência porque se calhar também, na altura, a
conjuntura da faculdade permitia que isso acontecesse de uma forma paralela porque
havia outras…outros organismos lá dentro que tinham essa responsabilidade, como por
exemplo, a Associação. E então, as iniciativas, por exemplo, do Mês Cultural, a
faculdade já confia que durante aquele mês há uma série de reflexões que acontecem
sobre um determinado tema e portanto isso não é tratado na cadeira X ou Y. Que eu me
lembre não…mas se calhar estou a ser injusto com algum docente que o fez. Mas aquilo
que me ocorre, que foi a primeira vez, que…mas ainda assim foi no âmbito da
Associação, acho eu, que eu me envolvi em qualquer coisa só exclusiva da Ergonomia,
foi na preparação de umas Jornadas de Reflexão sobre, e isso é uma questão que nos
acompanha, acho eu, desde o início, que é se a Ergonomia é ou não importante, se o
Ergonomista está ou não…
Comentário Entrevistador: A professora C falou-me dessa iniciativa.
Comentário Entrevistado: Foi? Bem, então isto deve ter acontecido, para aí, em 93…
Comentário Entrevistador: Era para explicar às pessoas o que era, porque é que era
importante, onde é que fazia sentido, onde é que…
Entrevistado: E então…aí foi, no fundo, necessário falar….conhecer que Ergonomistas
é que já estavam por aí, chamá-los à faculdade, discutimos com isso, nós os alunos,
preparámos um questionário que distribuímos aos alunos todos procurando uma
avaliação dos alunos face ao desempenho dos docentes…portanto, foi uma primeira
avaliação dos docentes, improvisada pelos estudantes de Ergonomia…enfim, os
resultados não devem ter sido muito significativos, mas foi importante por isso, se
calhar, por nos exigir que preparássemos uma reflexão que não apenas teria que
decorrer da opinião pessoal mas que era consubstanciada na verificação dos dados que
nós apresentávamos, que X alunos estavam satisfeitos com o docente X e não estavam
satisfeitos com o método, estavam insatisfeitos com isto e com aquilo…
Pergunta: Fora do âmbito da faculdade, mas mesmo assim durante o período de
licenciatura, tiveste outras actividades que proporcionassem contacto com o mundo
empresarial? Por exemplo, trabalhador estudante, estágios em empresas, trabalhos de
Verão em empresas?
Resposta: Trabalhos de Verão, mas se calhar não com o mundo empresarial assim de
uma forma linear, mas com um bocadinho de esforço vamos lá! Houve uma altura em
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que, pura coincidência, houve uns colegas nossos, da área da Gestão do Desporto, que é
o António Sacavém, Ana Casinhas da Gestão do Desporto e depois o Frederico Raposo,
integraram uma equipa de animadores do Paquete Funchal e então faziam as férias, no
Paquete Funchal, no Verão e na Páscoa. E depois…enfim, a vida deles começou a
ter…modificou-se e disponibilidade deles alterou-se, e começaram a levar substitutos da
faculdade para esses paquetes. E a função, a nossa função era criar alguma dinâmica
com os passageiros, organizar torneios disto e daquilo, jogos culturais, organizar as
pessoas quando o barco atracava num porto para os autocarros, para fazermos as
excursões, enfim…essas coisas. E a ARCÁLIA que é a empresa, o armador do navio,
acho eu que é assim que se chama, começou a achar muito interessante o perfil das
pessoas que vinham da faculdade porque tinham ali quase um dois em um…além de
sermos desenrascados já nos conhecíamos muito bem uns aos outros e criámos uma
empatia muito grande entre nós e com os passageiros…e isso foi muito giro…e
ensinou-me uma relação profissional diferente, que é, havia alturas em que…no navio
nós estamos sempre em serviço, independentemente de estarmos de estarmos com uma
actividade em curso ou não, temos que estar sempre disponíveis para o passageiro.
Então esta relação, quase com o cliente, tem que ser trabalhada nos momentos em que
não estamos de serviços, mas temos à mesma que agradar o passageiro, portanto, temos
que manter ali uma postura, temos que ser…manter alguma distância para não haver cá
confusões…de toda a espécie, e portanto isso permite-nos trabalhar a um nível
diferente. E foi…
Comentário Entrevistador: E depois também se faz o transfer, facilmente, para as
questões empresariais, quer dizer, esse aspecto da relação é importantíssimo…
Entrevistado: Foi uma série de coincidências que aconteceram num período de
formação da faculdade e aliás, que eu tenho dito a todas as pessoas da minha família,
amigos que é “não prescindas de participar em tudo o que a faculdade te proporcione
porque é durante o tempo da faculdade que te vai acontecer tudo na vida”, porque foi
essa a minha experiência, todos os anos havia uma novidade na minha vida, em termos
de iniciativas, que eu fazia à custa de estar naquele ambiente…se não fosse ali…ainda
bem que foi atitude cega de ir para a FMH porque foi…foi por isso que eu tive estas
experiências todas e que terão tido o seu contributo para que aquilo que acontece hoje
seja de facto assim…foi muito gratificante, nomeadamente essa dos paquetes…fazer
férias a ser pago é muito bom.
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Pergunta: Na realização dos trabalhos de grupo com os colegas de turma, quais eram
os aspectos que considerava mais importantes? E que papel é que costumava assumir
nos trabalhos de grupo?
Resposta: Eu hoje digo de líder, mas eu na altura não tinha muito essa consciência…e
nem eu queria assumir esse papel e isto eu não percebo muito bem porquê. Quando a
tarefa nos era dada havia uma certa dificuldade em perceber de que forma é que nós nos
podíamos organizar para responder melhor a aquela tarefa. E normalmente o que
acontecia era, havia uma certa anarquia e depois alguém, e algumas vezes fui eu, fazia o
trabalho todo e dizia “ok, eu….assim, assim, assim e assado”. Mas eu nunca senti que
tivesse sido muito bem sucedido ao nível dessa organização porque outras das minhas
dificuldades é, quando eu me apercebo de alguma dificuldade, que outros elementos,
que me acompanham na altura têm, em vez de os ajudar a pescar, eu faço a pesca por
eles…porque acho que estou a ter mais trabalho, erradamente…
Comentário Entrevistador: A perder mais tempo ensinando e rectificando…
Entrevistado: E o meu objectivo é entregar aquilo e tal…E isso é ainda hoje uma coisa
que eu constantemente trabalho, ou tento trabalhar, não sei se sou bem sucedido, mas já
na altura eu sentia assim e revela uma incompetência, de eu não conseguir organizar as
coisas, ou de eu não conseguir fazer com que os outros se organizem,
basicamente…Portanto, o papel, que nesses trabalhos de grupo, eu assumia era, se
calhar, diversificado mas às vezes eu tinha que assumir um bocado a liderança da coisa,
não me reconhecendo como líder e não me querendo impor como líder…
Comentário Entrevistador: Quando acontecia, acontecia de forma natural, não era
nada imposto…
Comentário Entrevistado: Sim, sim, sim….acho que sim. E talvez das vezes em que
eu comecei mais a ter consciência dessa importância, terá resultado de uma chamada de
atenção dum dos docentes, no caso o professor DC…em que nós tentávamos justificar
muito “ah…atrasámo-nos porque tivemos alguma…” e ele disse basicamente, por
outras palavras “azar o vosso, tivessem organizado”… “mas os outros e tal…” “mas não
interessa, tu fazes parte do grupo, tu tens que assumir essa responsabilidade, respondes
pela qualidade do grupo, portanto tens que acautelar uma série de coisas”…mais uma
vez com o acautelar….”tens que antecipar uma série de coisas e planear o vosso
trabalho”…hoje és tu, amanha será outro, não podes sacudir a água do capote”…e ele,
de vez em quando confrontava-nos assim com umas ideias …
Comentário Entrevistador: Chamadas à realidade e como as coisas são mesmo…
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Entrevistado: É, é….Mas pronto…não sei. Não era aquela “eu…é quem vai definir o
que é que nós temos”, não era nada disso. Até porque trabalhei, acho que nunca
conservei o mesmo grupo…e portanto significava que ora estava com um perfil de
pessoas, ora com outro, e se calhar uma vez ou outra até havia um outro líder no grupo e
aí acho que deixo a coisa encaminhada…porque também é mais…não diria mais segura
nem mais confortável, mas às vezes sabe bem variar…e não assumir a liderança.
Comentário Entrevistador: Claro…
Pergunta: Houve algum docente, alguma disciplina que achas que tenha influenciado a
decisão da criação da empresa, mesmo que tenha acontecido alguns anos depois?
Algum docente, pela sua postura das suas atitudes, alguma disciplina?
Resposta: Havia uma imagem, mas aí nem era directamente de um docente, ou seja,
através de um docente da casa, nós éramos confrontados, ou pela nossa participação em
seminários, éramos confrontados com aquelas pessoas que nós lemos em termos dos
artigos e tal. E sabíamos que alguns casos dessas pessoas faziam consultoria, ou tinham
empregos delas próprias, e era como se aquilo significasse o topo da carreira…
Comentário Entrevistador: O alto da camada mesmo.
Entrevistado: Exactamente. E talvez tenha sido essa imagem da…eles fazem este
caminho todo e depois vendem o seu conhecimento no final da sua profissão…das
primeiras ideias quando a coisa começou cá…a construir-se cá dentro. Portanto, isto
justifica que este projecto era remetido para um futuro, em relação ao presente em que
nós estamos, muito mais lá para a frente, depois de adquirir uma experiência
profissional…até porque o meu plano, pensava eu enquanto estudante ou até há muito
pouco tempo, nem era fazer esta sequência, eu queria ter saído da faculdade como saí e
ter oportunidade de estagiar numa indústria de relevância…ou relevante. Aconteceu na
AutoEuropa…queria lá estar…
Pergunta: O estágio foi realizado na AutoEuropa? Ah, e depois ficaste lá a trabalhar?
Resposta: Sim. A minha expectativa na altura era “eu quero adquirir experiência mais
ou menos cinco anos e depois…ter experiência profissional sendo Ergonomista e depois
quero ter uma experiência na área da docência, na universidade. Na altura o meu
objectivo era “oxalá que haja uma oportunidade de eu ir para a FMH porque é lá que faz
sentido este projecto…ou a minha participação, a minha colaboração na licenciatura
porque quero ajudar a fazer outras coisas de forma diferente”…fazer essa carreira
académica e depois de esgotada todo esse percurso, então vender o meu conhecimento
ou ajudar através desta empresa ou enfim, de uma empresa à imagem desta. E as coisas
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estão a acontecer de uma forma diferente, não por minha vontade, mas porque a
determinada altura eu percebi que a minha colaboração com a FMH não seria possível,
portanto isso…não era um sonho, era um objectivo destruído…não vale a pena estar a
insistir nisso…e portanto foi quase a antecipação do próximo passo. Mas isso,
regressando à questão central, não foi um dos nossos docentes que me tenha dado essa,
ou que tenha feito…
Comentário Entrevistador: O clique…
Entrevistado: …o clique mas foi através deles no fundo que nos puseram em contacto
com outras pessoas.
Pergunta: Ok…Houve alguma disciplina em que por exemplo, mesmo que de forma
implícita e indirecta, incentivasse esse tipo de vontade? Por exemplo, nos trabalhos de
grupo, algum docente que incentivasse os alunos a criar alguma coisa de inovador, a
lucrarem com algum produto? Havia alguma disciplina em que isso era…
Resposta: Não me lembro qual mas ou era…devia ser a… como é que se chamava a
disciplina do professor F? Ah…era ADE, Antropometria e Design Ergonómico, e no
âmbito da cadeira do professor F nós tínhamos objectivos, ou trabalhos que ele nos
propunha que não tinham uma única solução, a solução variava de acordo com a nossa
criatividade ou com a inovação que nós quiséssemos dar a aquilo. E foi, na minha
opinião, das poucas, e eu acho que devia ser desenvolvida essa competência, das poucas
disciplinas onde…mais próximo o estudante de Ergonomia está daquilo que ele pode vir
a fazer na realidade…embora ainda num ambiente muito laboratorial. Mas….mas essa
necessidade de, perante uma série de informações, nós termos que seleccionar aquilo
que é relevante para podermos trabalhar esses aspectos relevantes e transformá-los
noutra coisa, talvez tenha sido isso que também ajudado a consolidar isto que eu quero
não é…porque significa que eu vou ter possibilidade no meu futuro profissional não
estar sempre a fazer a mesma coisa…pensava eu.
Comentário Entrevistador: Tipo, a criatividade para adaptar aos diferentes perfis…
Entrevistado: Exactamente. Talvez a disciplina dele tenha sido aquela que, terão,
eventualmente, existido outras situações mas a dele…dava-nos essa possibilidade de
desenvolvermos mais essa componente criativa.
Pergunta: E relativamente a colegas, houve algum colega que tivesse influenciado
nessa decisão? Houve algum que dissesse “eu também quero, um dia quero criar…”?
Resposta: Há um colega que ainda hoje está muito próximo de nós, que é…além da Y,
que já falámos disso…que é o FS, nós fomos colegas….
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Comentário Entrevistador: Tive com ele também…
Comentário Entrevistado: Foi?
Comentário Entrevistador: Sim…Ele foi receber lá um prémio este ano por causa das
questões do curso profissional…
Comentário Entrevistado: Exactamente…
Comentário Entrevistador: Eu tive com ele…
Entrevistado: … E ele sempre foi muito…aliás, quando eu fui estagiar para a
AutoEuropa eu fui acompanhado de um Ergonomista que era ele…embora…
Pergunta: Ele trabalhava lá?
Resposta: Foi incluído neste projecto. Foi um projecto ganho pela professora A e ela
introduziu um Ergonomista e um estagiário e depois acabei por ficar eu. Mas ele sempre
nos incentivou muito porque ele sente também que em algumas coisas, do nosso
contributo nas empresas, precisam de ser corrigidas e acha que devem ser corrigidas da
forma como nós, nós os dois vemos as coisas e nós dois vemos as coisas dessa forma
porque tivemos o mesmo processo de formação, não porque sejamos duas pessoas
muito particulares, não…nós fomos colegas de turma, depois eu atrasei-me um
bocadinho mais em relação a ele…mas…
Pergunta: Colegas de turma da faculdade?
Resposta: Sim…Mas ele tem sido sempre um grande, um grande apoio e um grande
incentivo…e pronto, é mesmo…uma pessoa que nunca diz não a algumas coisas que
nós precisamos. Está sempre disponível para dar, na medida do que ele tem a
possibilidade e nas competências dele, tem sido muito cinco estrelas…mesmo.
Pergunta: Acha que o estágio e o seminário influenciaram na decisão da criação da
própria empresa? O seminário não sei se fez…na minha altura havia…
Resposta: Nós…fazíamos só o relatório de estágio, no fundo caracterizávamos aquilo
que se tinha passado na empresa, ou o que tínhamos feito mas não fazíamos
seminário…Mas ainda assim não, na altura…não me lembro disso ter feito diferença
nenhuma…
Pergunta: E a experiência de Erasmus na Finlândia, ajudou de alguma forma ou não?
Resposta: Para o objectivo da criação da empresa acho que não…terá consolidado um
desejo, que ainda não deixou de existir, que é, uma coisa é nós funcionarmos no nosso
mercadozinho português, porque nos sentimos confortáveis aqui porque de alguma
forma temos mais facilidade em conhecer as empresas, ou a forma como as empresas se
implementam aqui ou ali…e o Erasmus confrontou-me com uma coisa que é a pura das
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realidades que é, se nós não adquirirmos uma experiência fora da nossa zona de
conforto não estamos a ver a realidade, estamos a ver uma outra coisa que só nós
julgamos a realidade…e ter uma experiência, um período de uma experiência
profissional num outro país, numa outra realidade…
Comentário Entrevistador: Permite alargar os horizontes…
Entrevistado: Exactamente, e eu gostaria ainda de fazer isso, não sei se será possível
mas gostaria de ir um bocadinho para outro sítio para depois no regresso poder trazer
esse…esse ar fresco…digo eu…E então não tanto para o nível da criação da empresa
mas para reunir outra preparação profissional e outro posicionamento profissional.
Pergunta: Resumindo e concluindo então, olhando para o período da licenciatura, o
que é que…se tivesses que dizer o que é que houve no curso que tivesse fornecido
alguma preparação para a criação e manutenção de empresas? Nada?
Resposta: Infelizmente, que eu faça uma relação directa, muito pouca coisa…
Comentário Entrevistador: Também não tem que haver…
Comentário Entrevistado: Pois…
Comentário Entrevistador: A faculdade à partida não é directamente
vocacionada…não é como o ISCTE, que eles saem de lá…pronto mas às vezes…
Entrevistado: Mas não era…agora já começa, se calhar a abrir…
Comentário Entrevistador: Com a questão da Gestão do Desporto e com a introdução
de outras competências…
Comentário Entrevistado: Exactamente…
Pergunta: Mas então achas que…
Resposta: Na altura não…hoje…enfim, hoje se calhar também as coisas já vão ser
tratadas de outra forma, embora nós tivéssemos cadeiras muito da área da gestão, ou que
pretendiam dar-nos a visão do funcionamento das empresas…mas não estavam a
considerar alinharmos, portanto de Ergonomia, como um potencial
empreendedor…Porque, se calhar, isto também, naturalmente, faz parte da afirmação da
profissão não é…porque é que eu estou a dizer a estes estudantes que estão ainda a
consolidar a sua profissão, porque é que eu estou preocupado em prepará-los já com
iniciativas de eles próprios criarem o seu próprio…
Comentário Entrevistador: Primeiro têm que mostrar o que é que fazem dentro das
empresas para depois puderem criar e serem contratados…
Comentário Entrevistado: Se calhar é um processo de amadurecimento um bocadinho
que… agora…
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Comentário Entrevistador: Uma área que é desconhecida fará algum sentido não
é…completamente descabido numa fase inicial.
Comentário Entrevistado: Exactamente…
Pergunta: Achas que era importante introduzir-se, depois de consolidada a identidade
profissional, achas que era importante introduzirem-se aspectos que preparassem os
alunos, num período de licenciatura, para a criação da própria empresa?
Resposta: Sim, mas não exclusivo da própria empresa porque a outra capacidade ou a
outra competência que eu acho que poderia vir a ter algum resultado em termos de
sucesso era o intra-empreendedorismo, que era prepará-los…
Comentário Entrevistador: Dentro da própria empresa marcar a diferença e inovar
e…
Entrevistado: Exactamente…E se queres que te diga, essa é uma forma que eu acho
que é muito eficiente para os Ergonomistas serem bem sucedidos nas empresas porque o
ambiente onde eles vão trabalhar é um ambiente hostil, ou seja, normalmente se nós
trabalhamos numa área que a engenharia, nós chegamos à empresa e temos tudo aquilo
que nós temos que fazer previsto, temos que fazer assim, assim e assado e o resultado
vai ser assim…portanto, não temos que ser criativos no processo de trabalhar. O
Ergonomista não é assim, ele tem que cativar, ele tem que implementar instrumentos,
ele tem que implementar protocolos e portanto é muito um trabalho às suas custas e se
calhar essas noções fazem falta para ele perceber como é que com aqueles recursos que
ali tem como é que ele se vai organizar perante aquela gente toda. Acho que era
fundamental…E até porque há uma…das orientações ou metodologias que a Ergonomia
diz que tem alguma relevância fazendo as empresas, que é a Ergonomia participativa.
No fundo é conseguirmos encontrar respostas para os problemas envolvendo os recursos
e as pessoas da empresa naquela procura, e não fazer recair apenas no Ergonomista o
estudo, ou a tentativa de resolver aquele problema. E o objectivo da Ergonomia
participativa é dispensar cada vez mais o Ergonomista para que ele só alinhe, de vez em
quando, aquela equipa que está responsável pelo problema. E com isto a empresa
poupa-se no fundo…se calhar só precisa ter um Ergonomista para, de vez em quando,
alinhar aquilo que precisar ser alinhado, mas os problemas, a massa, o volume grande
dos problemas está a ser tratado por diferentes equipas e não apenas por uma pessoa.
Isso faz com as coisas sejam resolvidas muito mais depressa, e essa competência de eu
olhar para a minha própria empresa e desenvolver quase o meu serviço dentro da minha
própria empresa, prova-o, na perspectiva de cliente fornecedor…acho que poderia vir a
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ser muito bem sucedida na nossa formação…acho que faria muito sentido…e se
calhar…até pode ser uma proposta…porque há cadeiras, ainda continuam a haver
cadeiras na área da gestão de empresas, agora não sei quais, no meu tempo eram Cultura
Ergonómica, Gestão de Recursos Humanos…e Cultura Organizacional acho eu…não
sei, agora acho que já há menos, mas provavelmente pode haver espaço para
isso…agora com Bolonha também não sei….
Pergunta: Depois do período de licenciatura, antes de abrirem a empresa, foi procurar o
curso Pós-Graduação de Empreendedorismo e Criação de Empresas, de certa forma para
responder a essa falta de ferramentas e instrumentos na…
Resposta: Sim….porque eu tinha consciência que formar uma empresa tinha outros
“Q’s” para além de uma vontade muito grande…
Comentário Entrevistador: Alguns procedimentos formais…
Entrevistado: E além disso perceber como…além…porque os procedimentos formais,
enfim, o curso não permite, ou melhor, eles estão muito acessíveis mesmo sem fazer o
curso… basta nós querermos ser informados e a informação está disponível. O que o
curso nos dá é…ou, o que eu fui buscar ao curso é… a áreas como o marketing, como a
parte mais financeira da coisa, que durante a minha licenciatura, e durante a maioria das
licenciaturas, nós não somos confrontados, e que em termos de negócios faz toda a
relevância…é preciso saber…
Comentário Entrevistador: A questão financeira é crucial…
Entrevistado: E se calhar é preciso não saber fazer mas preciso de entender como é que
aquela coisa se processa, o que é que eu tenho que acautelar para fazer, como é que eu
faço para conhecer as necessidades do meu mercado, ou como é que o devo fazer…e
isso só ali é que eu tive essa oportunidade. E ainda assim acho que não fiquei, nem por
sombras, a ser autónomo neste processo…tenho sensibilidade para a coisa e sei que é
importante ir à procura daquele conjunto de informação…mas não estou autónomo, não
criei essa competência e acho que deveria reforçá-la ainda mais…Mas por exemplo, por
sugestão da professora VT, eu um dia perguntei-lhe “Oh professora, não acha que eu
agora devia pensar no MBA?” e ela disse assim “então olhe, vou devolver-lhe a
questão; acha que a sua empresa quer que vá fazer o MBA?” e eu disse “eu acho que
sim…porque é melhor para a empresa se eu estiver preparado para lhe dar resposta aos
problemas”, e ela disse “mas tenha a consciência que durante o MBA não vai estar
disponível para a empresa. Portanto a empresa não quer que vá fazer o MBA”…e o que
é que ela estava a dizer era “vá primeiro ganhar a experiência no contexto específico da
39
sua actividade de negócio, para depois, pensar no futuro se é relevante ou não ir
complementar essa formação…porque a sua empresa precisa de si agora, não é daqui a
dois anos quando terminar o MBA…se calhar já não existe se for fazer o MBA”. E
pronto, obviamente…uma coisa é o desejável, o qual gostaríamos de saber tudo, outra
coisa é a possibilidade que temos, e não sendo autónomo, por exemplo, em estudos de
Marketing…ao menos já estou sensível para que isso é relevante para a actividade da
empresa…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: E vamos tratando da questão à medida que conseguimos.
Pergunta: Ou seja, quando acabou a pós-graduação, o ano de finalização da pós-
graduação coincidiu com a abertura da empresa?
Resposta: Sim.
Comentário Entrevistador: 2006? Ok
Pergunta: Apenas o ajudou a adquirir ferramentas e conhecimentos, não contribuiu
para essa decisão…essa decisão já tinha vindo antes?
Resposta: Já estava. Aliás, nós no início do curso, uma das coisas que fazemos, é uma
apresentação e preenchemos um questionário, onde eles nos pedem que sejamos
sinceros em relação aos projectos….
Comentário Entrevistador: Para o que os procuraram…
Entrevistado: E uma das coisa precisamente é a expectativa na criação, porque o
curso…ele está muito bem alinhado para uma vertente muito prática…ao longo do ano
nós iniciamos a construção de um plano de negócios, que é transversal às várias
cadeiras…portanto, experimentamos um bocadinho dessas competências todos o que é
fantástico.
Pergunta: O que é que foi mais importante então…dentro dos vários aspectos e
conteúdos abordados na pós-graduação para uma aplicação directa aqui…e na própria
gestão?
Resposta: Relevante foi todo o ganho adquirido com a experimentação real da
construção de um plano de negócios, porque a pós-graduação…para aí dois meses ou
um mês depois de nós começarmos as aulas, exige que…nos organizemos na turma em
grupos de trabalho identificando um negócio que nós vamos desenvolver ao longo do
ano…portanto, quase que ainda não nos conhecemos, já estamos a ser influenciados
para nos organizarmos em grupos de trabalho…e isso faz com que nós tenhamos que
estar muito tempo uns com os outros, falar e almoçar para… enfim, descobrirmos as
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afinidades ali pessoais, meramente pessoais, para dizer “ok, então vamos trabalhar em
conjunto, embora aí discutir uma ideia de negócio”. Identificada essa ideia de negócio,
as várias cadeiras, que vão começar a entrar, vão-nos ajudar a definir aquilo que nós
devemos desperdiçar e aquilo que nós devemos manter…no fundo evoluir com a
ideia…e esse processo faz com que nós sejamos confrontados com ideias que à partida
não estávamos muito convictos com as mesmas e depois quando nós vamos
operacionalizar aquela ideia do ponto de vista, por exemplo, das receitas e dos custos no
plano financeiro, temos que alterar completamente a estratégia…o modelo que nós…o
grupo a que eu pertenci no ISCTE, nós tratámos de um projecto que tinha a ver com
residências para seniores, que é uma coisa que estão a haver projectos agora aí que é
uma coisa fantástica. Nós identificámos essa oportunidade no mercado e a ideia inicial
era construir…já nem me lembro, mas imaginem que a ideia inicial era construir vinte
vivendas aí num espaço. Quando nós fomos apurar os custos que a construção das
vivendas tinham que ter e as receitas esperadas em relação a esse projecto…o projecto
não era viável, não tinha lá os indicadores que iniciavam a sua viabilidade económica.
Então a partir daí tiveram que acontecer alterações à nossa ideia de negócio para tornar,
ainda assim dentro daquela actividade, aquilo viável. Então…dispensámos vivendas,
começámos a pôr apartamentos com opção de vivenda, depois já não éramos nós a
construir, passámos a construção a outra empresa, para tornar a ideia viável e portanto
essa aprendizagem só se consegue quando o aluno é confrontado com estas coisas. E de
facto foi fundamental, para um processo de aprendizagem, como é que nós resolvemos
os problemas do ponto de vista também da viabilidade financeira do mesmo. Porque
não vale a pena ir para a frente com um ideia que é destrutiva do ponto de vista
financeiro…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …porque significa…
Comentário Entrevistador: Não tem pernas para andar…
Entrevistado: Exactamente…E é fundamental, e o curso acho que hoje ainda está
melhor do que aquele que eu fiz, porque vão, no fundo, consolidando algumas
coisas…porque uma das queixas que nós apresentávamos era…nós às vezes estamos a
sentir que nos exigem decisões para as quais nós ainda não estamos preparados para
tomar, porque lá aquilo parece verdade…porque há um conjunto de tutores que vão
assistir às nossas apresentações, e cascam nos projectos…e quase que nos ofendem, do
tipo, “você é um burro, não percebe nada…”, não dizem assim mas “vocês não fazem
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ideia do que estão para aqui a dizer, têm que ir para casa trabalhar mais porque isto
aqui…”…. e destroem ali o nosso negócio num abrir e fechar de olhos. E portanto, a
preparação que se exige para uma apresentação é bastante próximo daquilo que nós
calculamos que seja necessário na realidade quando o empreendedor vai a uma capital
de risco defender a sua ideia…porque lá é assim, tem que acontecer não é…a a capital
de risco não vai investir se achar que aquilo não tem…Essa é uma valia fundamental
que aquele curso dá. A outra valia é terem docentes como aqueles que eles têm…a
professora Virgínia Trigo é a imagem do empreendedorismo…
Comentário Entrevistador: Ela é mesmo impecável…
Entrevistado: E que tem…experimentou isto não é…ela não sabe apenas sistematizar
informação e dos livros e tal…ela sabe porque experimentou e essa experiência que ela
dá, retirada também de outras culturas em que ela tem muita afinidade, é uma coisa
deliciosa.
Comentário Entrevistador: Ela já como pessoa é muito…já motiva não é…
Comentário Entrevistado: Pois é…
Comentário Entrevistador: Se começarmos a falar ela já por si já….
Pergunta: Pronto, além da pós-graduação directamente relacionada com a área da
Gestão, também realizou um mestrado e um curso de Especialização na área da Higiene
e Segurança no Trabalho, bem como um curso prático em Epidemiologia. Acha…estes
tiveram alguma decisão na criação da empresa ou não? Foi só para complementar
conhecimentos e não para o bichinho…
Resposta: Não, não.
Pergunta: Ok. O que aprendeu na pós-graduação, relativamente à criação de empresas,
acha que devia ser integrado na licenciatura? Acha que era positivo para os alunos
algumas partes?
Resposta: Algumas partes sim….nomeadamente na relação do que há pouco falámos,
que é, eu não tenho apenas que passar a mensagem do empreendedorismo para fazer
coisas por conta própria não é…eu posso fazer empreendedorismo dentro da minha
empresa…e isso pode ser uma chave do sucesso muito importante….acho que sim.
Pergunta: Ok. Acha que…a ligação à APERGO e às actividades desenvolvidas no
contexto associativo contribuíram para a criação desta empresa?
Resposta: Aí sim porque…na APERGO uma das possibilidades que eu tenho, ou que
as pessoas que pertencem à APERGO têm é de falarem nas iniciativas que nós
participamos, nos congressos, com muitas pessoas que nos dão alguma…quase que
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servem como um barómetro daquilo que o mercado pode vir a ser…as pessoas que
estão em organismos públicos ou não, e que vão lançar campanhas sobre isto e sobre
aquilo…e permitem no fundo verificar que existe a oportunidade desta ideia ou deste
negócio vingar…que não é apenas uma questão pessoal, que isto pode fazer sentido do
ponto de vista dos negócios. Portanto, a APERGO permite isso pela proximidade que
nos dá com essas pessoas, não significando isso que tenhamos clientes seguros não
é…porque não tem nada ver uma coisa com a outra…mas que permite isso, permite
essa facilidade.
Pergunta: Ok…Já residiste em outro país? Sempre em Portugal?
Resposta: Sempre, com excepção do período em que estive lá na Finlândia mas…
Pergunta: A criação da empresa até ao momento surgiu, nunca como uma necessidade,
mas como uma escolha, embora houvesse aquela insatisfação na AutoEuropa? Até ao
momento não foi uma necessidade pois não?
Resposta: De facto ela também é a criação do próprio posto de trabalho não é…porque
no momento em que eu decido que vou sair da AutoEuropa, depois a construção da
empresa aparece como o meu posto de trabalho, embora se não tivéssemos criado a
empresa, estou convencido que…não era…eu estaria noutro sítio qualquer, portanto não
é uma obrigação, de forma nenhuma…embora tenha tido como consequência uma
situação favorável que é o meu posto de trabalho este momento. Porque também podia
tê-la criado e pôr alguém a geri-la e a fazer pela empresa.
Pergunta: Já tinhas trabalhado por conta própria antes de criar aqui a empresa?
Resposta: Never…
Pergunta: Para finalizarmos, quais são os aspectos que consideravas relevantes
implementar-se no Ensino Superior, na FMH propriamente dita, para se promover o
empreendedorismo e a criação do próprio negócio? Além dos aspectos que já poderão
existir actualmente. Entendamos aqui empreendedorismo e/ou intraempreendedorismo.
Resposta: Vou pensar alto porque não tenho nenhuma resposta ainda muito
consolidada. Na actual circunstância eu não sei se faz muito sentido prescindir de algum
tempo, que está agora entregue a uma preparação do aluno para as suas competências
centrais na sua actividade profissional, em função do contributo que este exemplo do
empreendedorismo poderá ter para o seu futuro profissional, ou seja, seria necessário ter
uma cadeira que falasse de um conjunto de aspectos que esta temática necessita que
sejam abordados para poder fazer a diferença. Não estou muito seguro se isso deva
acontecer no primeiro ciclo ou no segundo ciclo. E porquê? Nesta altura, o plano de
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formação de três anos, não sei se não era melhor ele concentrar-se em fazer passar uma
série de aspectos, ou competências, para que a pessoa saiba exercer a sua profissão
exemplarmente…e deixar para um segundo ciclo de formação esta possibilidade de
diferenciação. Por outro lado a desvantagem é não agarrar todas as pessoas no primeiro
ciclo de formação, porque no segundo ciclo só vou buscar quem já tem um emprego
específico…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: …no primeiro ciclo eu agarro todos, essa é a desvantagem. Portanto, nas
situações em que isso comprometer um bocadinho o processo de preparação
profissional, não sei por onde é que teríamos que pender…
Pergunta: E se em vez de uma cadeira, a introdução de uma cadeira, que obriga a
existir mais espaço de horário obviamente, e aí tentavam prescindir de outras que nessa
fase são importantes, se fomentassem competências a este nível, mas transversais a
todas as áreas porque cada professor na sua cadeira pode fomentar aos alunos uma visão
diferente daquela que às vezes é fomentada e isso é…não precisa de mais tempo,
preciso de mudanças de postura talvez…Isso achas que era possível? Achas que faria
sentido?
Resposta: Acho mas acho que, se calhar aí, nós não íamos aos estudantes todos. Vou
dar-te um exemplo para ver se estamos a falar da mesma coisa. No Verão…foi no Verão
passado não foi S, que tu fizeste aquele curso na FCT?
Resposta de uma terceira pessoa presente na sala: Que eu fiz? Sim…
Entrevistado: Foram duas semanas…onde...um campus, duas semanas em que o tema
é empreendedorismo. A S foi fazer à FCT mas ainda assim eram alunos,
independentemente do seu nível de formação que estavam a frequentar, mas que tinham
interesse em ouvir aquilo, ou experimentar, ou…enfim…e não era uma coisa que
abrangia toda, toda a massa, ou todos os alunos da faculdade…
Comentário Entrevistador: Ou seja, podia haver coisas optativas…Diz S…
Comentário terceira pessoa na sala: Todos os alunos da FCT receberam um e-mail
a…
Comentário Entrevistado: Sim, mas só foi quem quis. Não tinhas essa…não é
obrigação mas não tinhas essa cadeira lá…
Comentário Entrevistador: Ou seja que eles pudessem optar de acordo com os
interesses deles porque nem toda a gente tem que ter essa opção não é?
Comentário Entrevistado: Exactamente.
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Comentário Entrevistador: Até há uns que são bons a trabalhar por conta de outrem e
há outros que deviam ter interesse. Eventualmente poderem optar…
Comentário Entrevistado: Isso era talvez o modelo que não exigiria prescindir de
espaço entregue às outras cadeiras, porque sendo opcional…tinha-se era que encontrar,
se calhar, uma forma eficiente dele depois reverter a favor do aluno de alguma forma
não é…mas não só ao nível da sua preparação mas dar-lhe… sei lá…
Comentário Entrevistador: Uma mais valia…
Comentário Entrevistado: Em termos profissionais…uma mais
valia…exactamente…Acho que faz sentido e se calhar, ali na FMH, é o modelo que
neste início poderá fazer sentido, pelo menos…em todas as áreas, hoje o mercado,
mesmo da Educação Física, está a mudar, o Exercício e Saúde é o grande empregador
da malta que sai dali…
Comentário Entrevistador: Ela por exemplo, lembro que…agora não tem a ver
propriamente com…mas a Doutora T, ela disse que uma das coisas que era giro e que
acha que na altura que fez falta e que continua a fazer, é exactamente irem
empreendedores de diferentes áreas, com algum sucesso, falar aos alunos…porque uma
coisa tão simples, e que caracteriza a nossa população, é aversão ao risco. Enquanto os
americanos arriscam, tudo serve para fazerem um negócio, se não resultar não faz mal,
avançasse para outra coisa, os portugueses não…à partida, a maior parte dos
portugueses…também existem vários relatórios que constatam esta tendência, não
arriscam…se vêem que poderá haver uma falha, que poderá falhar, à partida voltam
para trás, enquanto existem outros povos, a nível da Europa e Estados Unidos, que
não…e o facto de dizer aos alunos “não, isto é uma alternativa. Não fechem esta porta
porque isto é uma alternativa e eu fiz isto, fiz este percurso, tive este êxito, tive estas
contrariedades mas as ideias”…isso já se faz noutros países, quer dizer, nos Estados
Unidos faz-se há imenso tempo, o ir lá…vai o Bill Gates a uma escola e fala mas diz-
lhes “ eu consegui isso mas não foi fácil” e as coisas poderiam ter sido completamente
diferentes e isso…pronto, mas foi uma ideia que ela…
Comentário Entrevistado: Pois, não é só a parte cor-de-rosa que as pessoas vêem
quando a coisa já está resolvida, porque há todo o processo e era uma forma fácil
porque isso não ocupa…
Comentário Entrevistador: Não ocupa não…Isso não ocupa e é interessante porque
enquanto que há pessoas que podem ter tido essa experiência, a maior parte não teve, a
maior parte dos professores não criou uma empresa, não marcou a diferença dentro de
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uma empresa, não é…isso era muito importante para os alunos mostrar-lhe…”esta
pessoa fez isto e conseguiu isto, quer dizer, não é uma porta que vocês…é uma porta, é
uma alternativa que vocês têm…”…
Comentário Entrevistado: Mas às vezes, e se calhar também é importante, agora que
estamos a falar, é mostrar também exemplos de não sucesso, porque é que aquilo
falhou…
Comentário Entrevistador: Exactamente…e analisar
Comentário Entrevistado: A pessoa dar a cara...
Comentário Entrevistador: Exactamente…
Comentário Entrevistado: Porque uma das nossas características, e sobretudo aqui na
nossa profissão, nós fechamo-nos um bocado no casulo sob a…não é vergonha, mas
temos alguma…toda a gente é um bocadinho assim, temos alguma dificuldade em
expormos a nossa ideia à crítica dos outros sob a pena de ela vir a ser destruída e de
alguém não concordar com a mesma, mas nós não temos que obter a concordância
geral…as coisas são mesmo assim, há pessoas que têm opiniões diferentes…ou naquela
circunstância eu tive que fazer assim, mas se fosse hoje já faria de maneira diferente e
portanto, não faz mal eu ter errado, interessa é olhar para as coisas…
Comentário Entrevistador: Foi um ponto de aprendizagem, não foi um motivo de
derrota e de anulação da existência da auto-estima…
Comentário Entrevistado: E eu sou mau por isso…
Pergunta: Ok…Até que ponto então, depois isto tudo, é que achas que o
empreendedorismo é um dom pessoal ou que se pode aprender, pode-se ganhar?
Resposta: Pode…ou melhor, aprende-se, eu sou a prova disso, que é…não acho que
seja uma questão inata…o teu “nervosinho” é que pode estar inato, mas se não buscas as
ferramentas para o transformares em coisas positivas….
Comentário Entrevistador: Não se transforma em nada….
Comentário Entrevistado: Exactamente. Acontece, de vez em quando, vai havendo
assim algumas coisas mas ele não se transforma, portanto, nesse processo de
transformação é a preparação que faz a diferença…de maneira que acho que é
fundamental, não é qualquer coisa que só haja alguns iluminados a fazer, aprende-se e a
prova é que esses processos estão a ser agora alvo de oferta…por parte das instituições.
Pergunta: Acreditas é que pode haver uma característica ou outra, algum atributo
pessoal, que de facto propiciem à aquisição dessas…Ou não, podemos trabalhar uma
pessoa que não tem nada a ver, que todos aqueles atributos que consideramos
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importantes, que ela não os tenha, tem os opostos, é possível ensinar essa pessoa ou
não? Tem que haver uma predisposição mesmo que essa a nível de uma ou outra
característica…perseverança, empatia, auto-estima, a confiança…
Resposta: Vou dar-te um exemplo que aconteceu no ISTEC. Inicialmente nós éramos
um grupo de cinco pessoas, que estávamos a tratar daquele projecto dos seniores…não
diria a meio, mas seguramente, a meio ou até um bocadinho mais que meio, houve
aquilo que sempre nos avisaram que poderia acontecer, acontece sempre todos os
anos…Houve dois elementos do grupo que se incompatibilizaram e uma das pessoas
que, cuja a incompatibilidade era mais acentuada era eu porque estranhava a ausência e
o completo alheamento do contributo desses dois elementos, sempre com grandes
poderes justificativos em relação à sua ausência de contributo. E a mim fez-me um
bocadinho de impressão e então provoquei um bocadinho de discussão e para
tentarmos…fazer com que a ideia continuasse a ser desenvolvida, a sugestão que nos foi
dada foi “dividam-se em dois grupos. Vocês continuam a trabalhar os três e eles os dois
vão fazer um projecto à parte”. Nessa altura, eu também para tranquilizar a minha
consciência, enfim, um processo de defesa, eu disse “não acredito que dali possa nascer
uma grande ideia porque eles não mostraram essa convicção e esse papel dinamizador e
de…no nosso grupo”. O certo é que a ideia, na minha opinião e também por outras
razões, de facto o júri não sabia nada disto, a ideia deles foi a que ganhou o concurso no
nosso ano. Os dois primeiros prémios foram deste grupo, resultou o primeiro dos dois
incidentes e depois ficámos nós em segundo lugar com menção honrosa. E…se fosse
uma questão de opinião eu dizia que não, alguém que não tem, que nós pensamos que
não tem traços de empreendedor não tem grande sucesso enquanto empreendedor. A
prova daqueles dois colegas foi isso, enquanto trabalhavam connosco no grupo, nós não
lhes reconhecíamos essas características, depois eles os dois juntos conseguiram levar
uma ideia para a frente e torná-la vencedora de um concurso…
Comentário Entrevistador: É como se eles tivessem bloqueados pela presença de
outras pessoas, por alguma razão de incompatibilidade, que é completamente normal, e
depois sozinhos foram, os dois elemento facilitador um do outro e….
Comentário Entrevistado: É estranho porque é que isso acontece mas de facto é
isso…Na minha opinião eles não tinham aquela matéria…
Comentário Entrevistador: Tudo o que era preciso para…
Comentário Entrevistado: Exactamente. E depois…e obviamente que isto também
serviu de lição para nós…
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Comentário Entrevistador: Claro, claro…
Entrevistado: Isto, basicamente, diz que “não acredites em tudo aquilo que vês porque
lá no fundo…”
Comentário Entrevistador: …as coisas podem mudar…
Pergunta: Relativamente a este trabalho, à entrevista, há alguma coisa que queiras
acrescentar, alguma sugestão, algum aspecto que achas que não tenha sido abordado e
fosse importante abordar?
Resposta: Ah…sim, sim…Eu não referi isso…estava agora a fazer uma passagem
geral…nos projectos de sociedade, como é o caso, nós…toda a gente diz isto mas eu
não sei uma forma de resolver a questão…um projecto de sociedade é quase como um
casamento…em que as pessoas têm que estar uma com a outra…à partida num
casamento gosta-se e já há ali uma certa facilidade, mas este gostar, se calhar,
representa o interesse que as duas pessoas têm por fazer o projecto andar, que é a
empresa. Mas por vezes há dificuldades de convivência no projecto…
Comentário Entrevistador: Estás a falar relativamente à forma de constituir a
empresa…
Entrevistado: Sim…no momento em que nós escolhemos o nosso sócio há que ter
muita certeza de nós, de facto, conseguimos caminhar com essa pessoa, porque isso
pode ser impeditivo de um projecto ser bem, ou mal sucedido…
Comentário Entrevistador: Sem dúvida…
Entrevistado: …porque, como diríamos quase no princípio, a única certeza que nós
temos quando formamos a empresa é que vai haver muitos problemas no dia-a-dia e se a
pessoa que nos acompanha não nos dá alguma tranquilidade também na resolução
destes problemas e é fonte acrescida de problemas…isso é quase motivo suficiente para
dizer “se calhar vale a pena pôr aqui um bocadinho de água fria e pensar este projecto
mais tarde ou com outra pessoa”…porque é de facto um processo doloroso do ponto de
vista pessoal…e não vale a pena estar a trazer para o projecto espinhos que nos
agridem…
Comentário Entrevistador: Claro…
Entrevistado: É talvez assim uma nota de… quase conselho, ou que isto possa servir de
atenção para quem quiser formar um projecto em parceria, em sociedade.
Comentário Entrevistador: Isso por acaso é…concordo plenamente.
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