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Endurecimento superficial

Marcelo F. Moreira

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ENDURECIMENTO SUPERFICIAL

Os processos de endurecimento superficial visam o aumento de dureza (ou

outras propriedades mecânicas) de uma região específica de um componente.

Normalmente, tal região sofrerá algum tipo de solicitação localizada. A solicitação

mais comum é o desgaste abrasivo e, assim, torna-se importante um aumento de

resistência ao desgaste da região por meio de um endurecimento localizado,

conservando as características originais do núcleo do componente.

A figura abaixo apresenta um exemplo de uma engrenagem de grande porte

em que seus dentes foram endurecidos superficialmente, visando-se uma redução de

desgaste e aumento de vida à fadiga.

Engrenagem endurecida superficialmente pelo processo de têmpera por indução.

Existem diversos processos de endurecimento superficial. Os mais comuns

são:

Encruamento por conformação mecânica a frio (“shot peening” ou

“roletagem”);

Tratamentos de eletrodeposição ou aspersão térmica (aplicação de “cromo

duro”, revestimentos cerâmicos e etc.)

Têmpera superficial e os

Tratamentos termoquímicos (cementação, nitretação, carbonitretação etc.)

Nesta aula, abordaremos os processos de têmpera superficial e suas variantes

e os tratamentos termoquímicos mais importantes industrialmente.

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Têmpera superficial

A têmpera superficial produz regiões endurecidas na superfície do componente (de

microestrutura martensítica) de elevada dureza e resistência ao desgaste, sem

alterar a microestrutura do núcleo.

Vantagens comparativas do endurecimento superficial em relação ao total:

Dificuldades técnicas decorrentes do tratamento térmico de peças de

grandes dimensões;

Diminuição do risco de trincas em peças de grandes dimensões;

Possibilidade de endurecimento apenas regiões submetidas ao desgaste;

Economia - Emprego de aços de baixa temperabilidade (aços ao carbono de

custo mais baixo) no lugar de aços de alta temperabilidade (custo mais

elevado);

Produtividade – o tratamento de têmpera superficial é mais rápido;

Os processos de têmpera superficial são classificados de acordo com o método

de aquecimento:

Têmpera superficial por chama

Têmpera superficial por indução

Têmpera por chama

O aquecimento é realizado por meio de chama oxiacetilênica até a austenitização

da camada desejada. O resfriamento é realizado com salmoura ou óleo por meio

de spray ou imersão.

Existem 4 métodos para a têmpera superficial:

Estacionário: Aquece-se apenas o local a ser endurecido com subsequente

resfriamento rápido, por meio de aspersão ou imersão. É o método mais

simples. Emprega apenas um maçarico e um tanque para resfriamento.

Giratório: o componente, de seção circular, gira a uma velocidade estabelecida

empiricamente, enquanto a tocha oxiacetilênica austenitiza a região ser

endurecida. Para um aquecimento mais rápido e homogêneo são empregadas

diversas tochas.

Progressivo: método direcionado ao tratamento de peças de grande porte. O

equipamento consiste de uma ou mais tochas de aquecimento e um dispositivo

de resfriamento por aspersão, montados em um carro que pode Ter sua

velocidade controlada. As velocidades variam, normalmente, de 5 a 30 cm/min.

Progresivo-giratório: O componente gira ao mesmo tempo em que a tocha

sofre deslocamento.

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Têmpera por indução

O aquecimento é realizado por meio de indução eletromagnética. O tempo de

aquecimento é da ordem de segundos. O resfriamento é realizado com salmoura

ou óleo por meio de spray ou imersão.

Se uma corrente alternada passa por um bobina, estabelece-se nesta um campo

magnético alternado, o qual induz um potencial elétrico na peça a ser aquecida.

Como a peça é um circuito fechado, a tensão induzida provoca um fluxo de

corrente. A resistência à passagem desta corrente provoca o aquecimento da

região a ser temperada.

A camada a ser temperada depende:

da forma da bobina de indução;

do número de voltas da bobina;

da freqüência do campo magnético;

da densidade de potência.

Camadas temperadas com profundidade entre 0,3 a 1,5 mm (dureza entre 58 e 62

HRC) oferecem boa resistência ao desgaste em componentes submetidos a

tensões leves e moderadas. Nestes casos, a profundidade de austenitização pode

ser controlada empregando-se freqüências entre 10 kHz e 2MHz, densidades de

potência na bobina entre 800 e 8000W/cm2 e tempos de aquecimento inferiores a

10 s.

Em componentes submetidos á tensões elevadas (> 30% σe) especialmente

aqueles submetidos à tensões cíclicas são recomendadas camadas mais espessas,

entre 1,5 e 6,5mm. Para estes resultados são empregadas freqüências entre 10

kHz e 1 kHz, densidades de potência entre 80 e 1550 W/cm2 e tempos de

aquecimento de até 140s.

Revenimento

O revenimento sempre deve ser realizado imediatamente após o resfriamento da

peça.

Normalmente o revenimento realizado após a operação de têmpera superficial

emprega temperaturas entre 150 e 300ºC (também chamado de alívio de tensões

pois não há queda acentuada da dureza).

Em alguns casos, o revenimento pode empregar aquecimento indutivo ou por

chama.

Em componentes com camadas endurecidas espessas (4 a 6mm), o calor residual

presente no núcleo, depois do resfriamento, pode ser suficiente para aliviar as

tensões de têmpera, tornando desnecessário o revenimento. Este procedimento é

conhecido como auto-revenimento.

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Têmpera por indução em eixo

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Exemplo de engrenagem temperada com um indutor em V (dente a dente) e

resfriamento com óleo. Note que parte da camada temperada (topo do dente) é

parcialmente revenida pelo passe posterior.

Engrenagem temperada por indução rompida em serviço por fadiga. A nucleação

de trincas de fadiga foi provocada pela ausência de camada temperara na base

dos dentes. Note que a engrenagem era submetida à esforços em ambos os

sentidos de rotação.

Referências bibliográficas

1- Heat Treater´s Guide 2nd editon ASM International

2- ASM Handbook – vol 4 - Heat Treatment 9th edition

3- IPT – Relatórios técnicos

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TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS

Os tratamentos termoquímicos promovem um endurecimento superficial pela

modificação da composição química e microestrutura em regiões superficiais.

Seu objetivo é o aumento de dureza e resistência ao desgaste de uma camada

superficial, mantendo-se a microestrutura do núcleo dúctil e tenaz.

Os tratamentos termoquímicos mais importantes industrialmente são:

cementação;

nitretação e

carbonitretação.

1. CEMENTAÇÃO

Consiste na difusão de carbono para a superfície do componente, aquecido em

temperaturas suficientes para produzir a microestrutura austenítica. A austenita é

posteriormente convertida em martensita por meio de têmpera e subsequente

revenimento.

A cementação é realizada somente em aços ao carbono e aços baixa-liga com

teores de carbono inferiores a 0,25%.

A cementação é classificada de acordo com o meio empregado para a difusão de

carbono: cementação gasosa, cementação líquida e cementação solida.

1.1- CEMENTAÇÃO GASOSA

É o mais importante processo de cementação industrial.

A aporte de carbono é fornecido pela atmosfera gasosa do forno, que inclui

hidrocarbonetos, como o metano propano e butano ou hidrocarbonetos líquidos

vaporizados.

A atividade de carbono é controlada de modo a produzir camadas superficiais com

teores de carbono entre 0,8 e 1,0% de C.

Os componentes, suportes e grelhas são limpos a quente em soluções alcalinas

antes de serem processados. Outra prática é o aquecimento ao ar até 400ºC

visando a eliminação de contaminantes orgânicos.

As variáveis mais importantes do processo são a temperatura, o tempo e a

composição da atmosfera. Outras variáveis incluem o grau de circulação da

atmosfera no interior do forno e o teor de elementos de liga presentes no aço.

O coeficiente de difusão do carbono na austenita determina o tempo necessário

para a obtenção de uma determinada profundidade de camada:

tDp . = onde p é a profundidade da camada cementada em [m]; t, o

tempo em [s] e D, o coeficiente de difusão do C em [m2/s], definido como:

−=

TRQdDD

.exp.0 onde D0 é o coeficiente de difusão inicial [m2/s]; Qd, é a

energia de ativação para difusão em [cal/mol]; R é a constante dos gases [1,987

cal/mol.K] e T, a temperatura absoluta [K].

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Verifica-se que o coeficiente de difusão depende fortemente da temperatura do

processo. Por exemplo, o coeficiente de difusão do carbono a 925ºC é 40% maior

que a 870ºC.

O efeito combinado do tempo e temperatura na espessura de camada cementada

é apresentado na figura abaixo:

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Forno de cementação gasosa de operação descontínua (por lotes)

Forno de cementação gasosa de operação contínua

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1.2- CEMENTAÇÃO LÍQUIDA

As camadas cementadas pelo meio líquido são similares às obtidas com o meio

gasoso, entretanto, os ciclos são mais curtos devido ao período de aquecimento

ser mais rápido. Os banhos de sal apresentam coeficientes de transferencia de

calor muito elevados por apresentarem, simultaneamente, condução, convecção e

radiação.

A composição dos banhos é à base de cianetos e o processo dividido em duas

variantes:

Banhos de baixa temperatura – operam em temperaturas entre 845 e 900°C.

São mantidos com uma camada protetiva de carbono (carvão moído) e são

indicados para camadas com profundidades entre 0,13 a 0,25 mm.

Banhos de alta temperatura - operam em temperaturas entre 900ºC e 955ºC.

São indicados para profundidades de camada entre 0,5 mm e 3,0 mm,

entretanto, sua principal característica é o rápido desenvolvimento de camadas

entre 1 e 2 mm.

Composição dos banhos empregados em cementação líquida:

Composição dos banhos [%]

Constituinte

Banhos de baixa

temperatura (entre

845ºC e 900°C)

Banhos de alta

temperatura (entre

900ºC e 955ºC)

Cianeto de sódio (NaCN) 10 a 23 6 a 16

Cloreto de bário (BaCl) - 30 –55

Outros sais alcalinos terrosos

(Cloretos de cálcio e estrôncio)

0 a10 0 a 10

Cloreto de potássio (KCl) 0 a 25 0 a 20

Cloreto de sódio (NaCl) 20 a 40 0 a 20

Carbonato de sódio (NaCO3) 30 máx. 30 máx.

Aceleradores que não contenham

metais alcalinos terrosos (dióxido de

manganês, óxido de boro fluoreto de

sódio e pirofosfato de sódio)

0 a 5 0 a 2

Cianato de sódio 1,0 máx. 0,5 máx.

Densidade do sal fundido 1,76 g/cm3 a 900ºC 2,0 g/cm3 a 925ºC

Principais características:

Processo mais rápido (camadas entre 1 e 2 mm)

Tempos totais de ciclo mais curtos

Facilidade de manuseio das peças (uso de ganchos, ou cestas)

Oferece um controle preciso da camada cementada

Desvantagens do processo

Requer sistema de exaustão sobre o banho, uso de EPI e cuidados adicionais para

evitar contaminação por cianetos.

Neutralização dos banhos via processamento químico, após um determinado

período de operação

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1.3- CEMENTAÇÃO SÓLIDA

Na cementação sólida os componentes são colocados no interior de uma caixa

metálica com tampa, na presença de misturas carbonetantes sólidas.

As misturas carburantes ou preparados para cementação são compostos por:

carvão vegetal e carbonatos como substâncias ativadoras (carbonato de bário,

carbonato de cálcio, carbonato de potássio e carbonato de sódio).

Temperaturas do processo entre 850 e 950ºC

Mecanismo:

Em temperaturas elevadas o C combina-se com o oxigênio presente na caixa

formando CO2:

C + O2 → CO2

O CO2 reage o carbono conforme a reação de Bourdoard:

CO2 + C → 2 CO

O CO gerado decompõe-se em carbono atômico que difunde-se no metal:

2 CO → 2 C + O2

A formação de CO é favorecida pela presença dos carbonatos.

As considerações favoráveis ao emprego da cementação em caixa envolvem:

possibilidade de ser realizada em uma grande variedade de fornos;

é mais adequado para peças que são resfriadas lentamente a partir da

temperatura de cementação e

o processo oferece uma série de técnicas de isolamento de componentes

submetidos à cementação seletiva.

Por outro lado a cementação sólida é menos limpa e menos precisa que os outros

processos de cementação. Adicionalmente,

é um processo mais lento que os processos de cementação líquida e

gasosa;

não é adequada para a realização de têmpera diretamente da temperatura

de cementação;

não é adequada para componentes com camadas finas e/ou com tolerâncias

estreitas e

exige um maior trabalho manual para montagem e desmontagem do

aparato.

Operação:

Os compostos para cementação sólida comuns são reutilisáveis e contêm de 10 a

20% de carbonatos de metais alcalinos e carvão vegetal moído ou coque. O

carbonato de bário é o catalisador principal e responde por 70% do teor dos

carbonatos.

As temperaturas de operação estão entre 815ºC e 955ºC.

Os componentes devem posicionados no interior da caixa, de maneira

eqüidistante. A distância recomendada entre as peças e entre elas e as paredes da

caixa deve ser de, no mínimo, 25 mm e deverá ser preenchida pelo composto de

cementação

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A profundidade de camada obtida em função do tempo de cementação a 925ºC

é apresentada na figura baixo:

Microestrutura obtida após cementação

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TÊMPERA APÓS A CEMENTAÇÃO

a) Resfriamento lento da cementação e têmpera convencional entre 750 e 850ºC

γ

γ + Fe3C

α + Fe3C

γ + α

0,2%C 0,8%C

T T

tempo%C

cementação

Têmpera

revenimento

É o procedimento de têmpera após cementação mais empregado.

O resfriamento lento (ao ar) após a cementação refina o tamanho de grão da

microestrutura.

A temperatura austenitização para a têmpera fica entre 750 e 850°C e produz uma

microestrutura de martensita na superfície (0,8%C) e martensita e ferrita no núcleo

(0,2%C).

b) Resfriamento lento da cementação e têmpera convencional na faixa de 900-950ºC

γ

γ + Fe3C

α + Fe3C

γ + α

0,2%C 0,8%C

T T

tempo%C

cementação Têmpera

revenimento

Tem como objetivo principal o aumento de resistência mecânica do núcleo por

meio da microestrutura de martensita de baixo carbono no núcleo e aumento de

dureza da camada cementada (martensita de alto carbono).

O resfriamento lento (ao ar) após a cementação refina o tamanho de grão da

microestrutura.

Devido ao emprego de temperatura de austenitização para têmpera na faixa de

900 - 950ºC há grande probabilidade de presença de austenita retida na camada

cementada.

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c) Têmpera direta

γ

γ + Fe3C

α + Fe3C

γ + α

0,2%C 0,8%C

T T

tempo%C

cementação

Têmperarevenimento

O objetivo principal é redução de custos de operação e manuseio.

A temperatura de cementação é da ordem de 900ºC.

A operação de têmpera é realizada diretamente da temperatura de cementação e

como não existe resfriamento lento após a cementação o tamanho de grão da

austenita que sofrei cementação permanecerá o mesmo após a têmpera.

Este procedimento é adotado em aços para cementação ligados (ex. SAE 4023,

4118, 4320, 4620, 4820, 8620, 8615, 8822, 9310). A adição de elementos de liga

(particularmente Cr e Mo) forma carbonetos que minimizam o crescimento de grão

da austenita durante a etapa de cementação.

REVENIMENTO

O revenimento após a têmpera de componentes cementados tem como objetivo

principal aliviar as tensões de têmpera mantendo a dureza e resistência ao

desgaste.

A faixa de temperatura empregada é normalmente de 170 a 300ºC.

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2- NITRETAÇÃO

A nitretação é um tratamento termoquímico que visa o endurecimento superficial

pela difusão de nitrogênio e conseqüente formação de nitretos.

A nitretação é realizada em temperaturas abaixo do campo austenítico e não é

necessário um tratamento subsequente de têmpera para aumento de dureza.

As principais características da nitretação são:

aumento da dureza superficial;

aumento da resistência ao desgaste e resistência ao “galling”;

aumento da resistência à fadiga e

aumento da resistência à corrosão de aços convencionais (não inoxidáveis).

Adicionalmente, a nitretação provoca menores distorções e deformações que

outros tratamentos superficiais, devido ao emprego de temperaturas mais baixas.

Os melhores resultados são obtidos em componentes fabricados com aços (com

teores de C entre 0,2 e 1,2%) contendo elementos de liga formadores de nitretos

(alumínio, cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio). Outros elementos como Ni,

Cu, Si e Mn possuem pequeno ou nulo efeito sobre as características da camada

nitretada. Aços contendo 0,85 a 1,5% de Al apresentam os melhores resultados de

resistência ao desgaste. Estes aços são conhecidos como “nitralloys”.

A nitretação pode ser realizada por três processos:

nitretação gasosa;

nitretação líquida e

nitretação iônica (plasma)

2.1- NITRETAÇÃO A GÁS

O meio nitretante é gasoso, composto, basicamente, por amônia (NH3).

A reação global do processo é dada por:

2 NH3 → 2 N + 3 H2

A temperatura de nitretação gasosa para todos os aços está entre 495 e 565ºC.

Os aços temperados e revenidos são tratados antes da nitretação, sendo que a

temperatura mínima de revenimento deve ser 30ºC superior à temperatura de

nitretação.

Antes de serem nitretados, os componentes são submetidos a uma limpeza

desengraxante com vapor.

Os tempos de tratamento variam entre 10 h e 100 h e as profundidades de

camada típicas estão entre 0,05 mm à 0,5 mm.

Existem duas práticas de nitretação gasosa:

Estágio único – em que os componentes são tratados em temperaturas

entre 495ºC e 525ºC e é formada uma camada dura e frágil de nitretos na

superfície, denominada camada branca.

Duplo estágio (processo Floe) – tem como objetivo reduzir a espessura de

camada branca formada no primeiro estágio.

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Gradientes de dureza Knoop

Forno de nitretação gasosa

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Microestrutura obtida em um aço SAE 4140 temperado e revenido e submetido à

nitretação gasosa de único estágio (a) e de duplo estágio (b).

2.2- NITRETAÇÃO LÍQUIDA OU EM BANHO DE SAL

As aplicações dos processos de nitretação gasosa e líquida são muito similares. O

processo gasoso é recomendado para camadas mais espessas e aplicações em

que a camada branca não é desejada pois oferece a opção de nitretação de duplo

estágio.

Como na nitretação gasosa, os aços submetidos à nitretação líquida são aços com

teores de carbono entre 0,1 e 1,3% de C, podendo apresentar microestruturas

ferríticas, perlíticas, bainíticas ou martensíticas. Os melhores resultados de

resistência ao desgaste são obtidos com aços “nitralloys” (contendo Al e Cr).

O meio nitretante é um banho de sal fundido à base de cianetos, operado em

temperaturas entre 510 e 580ºC.

Componente Composição [%]

Cianeto de sódio (NaCN) 60 a 70

Cianeto de potássio (KCN) 30 a 40

Carbonatos, cianatos e aditivos até 10

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Microestrutura de um componente fabricado em aço baixo carbono após

nitretação líquida

Exemplos de componentes automotivos em que os processos de endurecimento

superficiais foram substituídos por nitretação líquida (Heat Treater´s Guide ):

Componente Requisitos Material e processo

utilizado originalmente

Problema

resultante

Solução adotada

Arruela de

pressão

Suportar

pressão sem

sofrer

deformação ou

“galling”

Aço SAE 1010,

carbonitretado em

contato com bronze

Empenamento

do aço e

colagem deste

com o bronze

Aço SAE 1010

nitretado por 90

min a 570ºC

seguido de

resfriamento

rápido em água

Eixo Resistir ao

desgaste na

região de

rolamento

Aço 4140 temperado

por indução nas regiões

de rolamento

Custo de

inspeção

elevado

Aço SAE 1040

nitretado por 90

min a 570ºC

Componente

do cinto

(macho)

Resistir ao

desgaste

superficial

Aço SAE 1020

cementado

Distorções e

problemas com

fragilidade

SAE 1020

nitretado por 90

min seguido de

resfriamento

rápido em água

Eixo came Resistir ao

desgaste

superficial

SAE 1045 temperado

por indução, polido e

fosfatizado

Alto custo do

processo e

materiais

SAE 1010

nitretado 90 min a

580ºC

Desvantagens do processo

Assim como o processo de cementação em banho de sal, os banhos de nitretação

apresentam cianetos de sódio e potássio, exigindo cuidados especiais de

manuseio, operação e descarte destes sais.

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Gradientes de dureza Knoop

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2.3- NITRETAÇÃO IÔNICA ("PLASMA NITRIDING")

Consiste em um processo sob vácuo (pressão entre 1 a 10 torr) no qual a

introdução de nitrogênio na superfície do metal é obtida pelo plasma gerado pela

alta tensão entre a carcaça do forno e as peças a serem tratadas. Esta diferença de

potencial ioniza o gás à base de nitrogênio formando íons N3+, que são acelerados

em direção a superfície das peças.

Características:

O processo de nitretação iônica, em comparação ao processo de nitretação

gasosa, apresenta um controle mais preciso do potencial de nitrogênio na

superfície do metal. Por meio deste controle é possível selecionar a camada branca

ε (Fe2-3N) ou γ (Fe4N) ou, ainda, evitar completamente a formação de camada

branca.

O processo de nitretação iônica vem substituindo a carbonitretação gasosa devido

ao melhor controle dimensional das peças tratadas e a minimização ou eliminação

da usinagem final após o tratamento.

A microestrutura inicial influencia no perfil de dureza após a nitretação. A

microestrutura de martensita revenida nos aços-liga apresenta os melhores

resultados.

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Informações operacionais:

As temperaturas de operação estão entre 375 e 650°C.

O gás de processo é uma mistura de N2, H2 e, em alguns casos, pequenas

quantidades de metano (CH4). O H2 tem o papel de ajustar o potencial de

nitrogênio (balanço da composição).

Após o aquecimento da carga, o gás de processo é admitido com uma vazão

previamente calculada com base na área total das peças á serem tratadas.

A pressão é normalmente regulada entre 1 e 10 torr.

O resfriamento é realizado com a recirculação do gás de processo ou N2.

Aplicações:

A dureza após a nitretação depende da presença de elementos de liga formadores

de nitretos. Os aços mais empregados são da série "nitralloys" e possuem em sua

composição aproximadamente 1%Al e 1-1,5%Cr.

Outras aplicações envolvem o uso aços-liga contendo Cr, aços inoxidáveis, aços

ferramentas, componentes obtidos por metalurgia do pó e ferros fundidos.

Vista geral de componentes sendo tratados em um forno de

nitretação iônica

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3- CARBONITRETAÇÃO

Variante de baixo custo do processo de nitretação gasosa em que ocorre a difusão

simultânea de C e N para a superfície do metal.

O gás admitido no forno consiste de misturas com diferentes proporções de

amônia e gás natural ou metanol.

O processo é realizado em aços aquecidos em temperaturas da ordem de 570°C.

Os tempos de tratamento variam entre 1 h a 3 h.

A profundidade de camada endurecida varia entre 0,07 e 0,2 mm

As aplicações da carbonitretação são mais limitadas que os processos de

cementação e/ou nitretação. Normalmente a carbonitretação é aplicada em

componentes de baixa responsabilidade submetidos a situações de desgaste

leves. Os exemplos típicos são componentes de eletrodomésticos (como lâminas,

eixos, engrenagens etc.)

Existem diversas variantes do processo de carbonitretação:

Nitemper

Processo Alnat-N

Nitrocarbonetação negra

Nitrocarbonetação austenítica

Nitrocarbonetação via plasma

Microestruturas obtidas na carbonitretação

Referências bibliográficas

4- Heat Treater´s Guide 2nd editon ASM International

5- ASM Handbook – vol 4 - Heat Treatment 9th edition

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23Lista de exercícios – tratamentos termoquímicos

1- Para a fabricação de um eixo rotativo de aço SAE 1050 é necessário a aplicação de

um tratamento superficial. Os eixos foram temperados e revenidos a 450°C para

atingir-se um limite de escoamento de no mínimo de 1000 MPa. Nesta aplicação,

além da resistência mecânica, são exigidas elevadas resistências ao desgaste e à

fadiga. O componente não é submetido ao impacto. A curva de revenimento para

o aço SAE 1050 é apresentada abaixo:

a) Qual o tratamento termoquímico mais indicado?

b) Você faria alguma alteração no aço ou em seu tratamento original?

2- Um componente de aço SAE 1020 (∅ 50 mm) foi cementado durante 4h a 930°C

para a obtenção de uma camada cementada de 1,2 mm e com teor de carbono de

0,8 %.

a) É possível a realização da operação de têmpera diretamente da temperatura de

cementação, isto é, sem resfriamento após a cementação? Justifique sua resposta.

b) Especificar o ciclo térmico de têmpera mais indicado para esta peça (especificar

o ciclo térmico completo).

c) E se o aço foi substituído pelo SAE 8620, qual o ciclo de têmpera mais indicado.

3- Por que o potencial de C vigente nos processos de cementação é normalmente

mantido entre 0,8 e 1,0%. Justifique sua resposta.

4- Apresente alternativas de aços e o tratamentos termoquímicos para um eixo

comando de válvulas de um motor 16 válvulas? Nesta aplicação, além da

resistência mecânica, são exigidas elevadas resistências ao desgaste e ao impacto.

Especificar um ciclo térmico típico deste tratamento.

5- Um determinado lote de peças, fabricadas com o aço SAE 1020 cementado e

temperado, apresentou dureza (medida após a têmpera) de 50 HRC. A dureza

normalmente obtida é de 62 HRC. Pergunta-se:

a)- Apresente duas hipóteses que possam justificar o ocorrido. (1,0 ponto)

b)- Citar duas ações corretivas para produzir a microestrutura objetivada na

camada.

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6- Sobre o tratamento termoquímico de nitretação:

a)- Qual o teor de carbono típico dos aços passíveis de nitretação?

b)- Qual a vantagem do emprego de aços da classe “nitralloy”?

7- Qual o tratamento termoquímico normalmente indicado para componentes de

eletrodomésticos?

a) Quais as razões que justificam a aplicação deste tratamento nestas aplicações?

b) Especificar um ciclo térmico típico deste tratamento.

8- Um componente com 100 mm (4 pol.) de diâmetro usinado em aço SAE 1020 foi

cementado durante 4 horas para a obtenção de uma camada com 1,2 mm e 0,8%

de C. Sua microestrutura após a têmpera e revenimento deve ser constituída por

martensita revenida na superfície (camada cementada) e uma mistura com,

aproximadamente, 50% de martensita revenida e 50% de ferrita no núcleo. Com o

auxílio do diagrama Fe-C abaixo, especificar os ciclos térmicos (temperaturas,

tempos e meios de resfriamento) de têmpera e revenimento necessários para a

obtenção da microestrutura especificada.