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Diretoria
Humberto Cota VeronaPresidente
Ana Maria Pereira LopesVice-Presidente
Clara Goldman RibemboimSecretria
Andr Isnard LeonardiTesoureiro
Conselheiros efetivos
Elisa Zaneratto RosaSecretria Regio SudesteMaria Christina Barbosa VerasSecretria Regio NordesteDeise Maria do NascimentoSecretria Regio SulIolete Ribeiro da SilvaSecretria Regio NorteAlexandra Ayach AnacheSecretria Regio Centro-Oeste
Conselheiros suplentes
Accia Aparecida Angeli dosSantosAndra dos Santos NascimentoAnice Holanda Nunes MaiaAparecida Rosngela Silveira
Cynthia R. Corra Arajo CiaralloHenrique Jos Leal FerreiraRodriguesJureuda Duarte GuerraMarcos RatinecasMaria da Graa MarchinaGonalvesPsiclogos convidadosAluzio Lopes de BritoRoseli GoffmanMaria Luiza Moura Oliveira
Psiclogos convidados
Aluzio Lopes de BritoRoseli GoffmanMaria Luiza Moura Oliveira
Prticas em Psicologiae Polticas Pblicas
O TRABALHO DO/A PSICLOGO/A NO
SISTEMA PRISIONAL: O RESGATE DAS
RELAES INTERPESSOAIS NO PROCESSODE REINTEGRAO SOCIAL TAMBM POR
MEIO DE GRUPOS
Centro de Referncia Tcnica em Polticas Pblicas (CREPOP)
Conselho Federal de Psicologia (CFP)
Braslia, 2010
Plenrio responsvel pela publicao
Conselho Federal de Psicologia - XIV Plenrio
Gesto 2008 2010
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O TRABALHO DO/A PSICLOGO/A NO SISTEMA
PRISIONAL: O RESGATE DAS RELAES
INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE
REINTEGRAO SOCIAL TAMBM POR MEIO DE
GRUPOS
Karine Belmont Chaves
Trabalho como psicloga no Sistema Prisional (SP) h
cerca de sete anos. Iniciei em 2002, contratada por uma
empresa quando o SP no Paran foi terceirizado. Em outro
momento, o governo do estado reassumiu a administraodireta e participei de teste seletivo. Em 2008, o governo fez as
contrataes por meio de concurso pblico, o que favoreceu a
possibilidade de um trabalho contnuo e melhores condies
para o funcionrio. Fiquei extremamente feliz com a
possibilidade de continuidade do trabalho.Quando me formei em Bauru-SP, em 1999, comecei a
trabalhar em clnica. Fiz especializao em Psicologia Clnica e
adorava a rea, mas, por sentir falta de renda fixa, procurei
outro trabalho. Vim para Foz do Iguau para trabalhar na
penitenciria onde estou at hoje. Um trabalho desafiador. Na
minha formao ainda no se dava nfase a essa rea, e cursos
de especializao eram quase inexistentes. Tive de estudar por
conta prpria. Tive boas instrues de psiclogas que j
atuavam no SP e de uma grande mestra: a psicloga Margarete
Rodrigues, que se aposentou neste ano e ainda desenvolve
atividades importantes. Apaixonei-me tanto pela rea quetambm dou aulas de Psicologia Jurdica em cursos de
graduao.
Atuo na Penitenciria Estadual de Foz do Iguau (PEF),
uma unidade penal (UP) de segurana mxima, destinada a
presos do sexo masculino em regime fechado. So trs galerias,
que somam 124 celas, com capacidade para quatro presos cada,
num total de 496 presos. Alm da questo primordial da
segurana, o Departamento Penitencirio (Depen) organiza
suas unidades penais visando a cumprir as disposies previstas
na Lei de Execuo Penal (LEP). Alm dos funcionriosresponsveis pela equipe de segurana, da qual fazem parte os
agentes penitencirios, e da equipe administrativa, a PEF conta
com uma equipe tcnica composta por duas psiclogas, duas
assistentes sociais, duas advogadas, um mdico, uma dentista,
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uma enfermeira e duas auxiliares de enfermagem, objetivando
oferecer aos presos tratamento penal no qual tenham a garantia
de seus direitos, sendo-lhes oferecida assistncia mdica,
odontolgica, social e psicolgica. Para que tenham acesso a
educao, o estado mantm parceria entre as Secretarias de
Justia e Cidadania (Seju) e a Secretaria de Estado da Educao
do Paran (Seed), que tem nas unidades penais uma extensodo sistema de ensino Educao de Jovens e Adultos (CEEBJA),
sendo oferecido aos presos oportunidade de escolarizao
(embora o espao fsico de algumas unidades seja reduzido,
no sendo possvel que todos os que ali cumprem pena estudem
ao mesmo tempo). Existe ainda uma preocupao no que tange necessidade de profissionalizao dos presos, bem como de
atividades ocupacionais.
A Psicologia est inserida dentro deste contexto
jurdico, desempenhando papis de avaliao e tratamento,
desenvolvendo, alm do polmico exame criminolgico,atividades psicoteraputicas e, ainda no que se refere
Psicologia Criminal, estudando e analisando intervenes
possveis, perante as pessoas presas e a instituio prisional
como um todo.
Conhecendo um pouco sobre a realidade brasileira, sei
que tenho boas condies de trabalho no panorama nacional,
pois o Paran tem feito significativos investimentos nessa rea,
mas essas condies ainda so limitadas para o
desenvolvimento de algumas aes importantes dentro do
Sistema Prisional. Duas psiclogas para atender
aproximadamente 500 presos e ainda atender a outrassolicitaes, como as avaliaes, fundamentando pareceres e
laudos, bem como a participao nas reunies de Comisso
Tcnica de Classificao e Tratamento (CTC) que ocorrem
semanalmente, discutindo casos, baseadas em uma proposta de
individualizao da pena, tal como a participao na reuniosemanal do Conselho Disciplinar (CD), um quantitativo
insuficiente.
Os casos dos presos que do entrada na unidade para
cumprir sua pena passam pela reunio da CTC, em que so
analisados os histricos pessoais, criminais, familiares ecomportamentais e so feitas sugestes de encaminhamento
para intervenes necessrias e disponveis. Por exemplo: se o
preso analfabeto, encaminha-se para alfabetizao; se no tem
profisso, para curso profissionalizante; se tem hiptese de
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ser, de fato, um espao mais humanizado e, diante disso,
possibilitar que o outro se encontre, em seu significado pessoal
e social. Humanizar o sistema, resgatar as relaes baseadas no
respeito pelo outro no tarefa simples como pode parecer.
Porm esta tarefa no simples, nem para aqueles que se
vestem dessa responsabilidade da segurana, nem para os
demais funcionrios, nem para os prprios presos.
Existe um sistema que incorporou valores, que dita
regras de convivncia e cobra posturas. Os presos no esto ali
para sofrer mais julgamentos, nem de outros presos nem da
sociedade. Mas a criminalidade faz isso. Ela tambm rejeita
alguns, segrega outros, que nega serem iguais. Criminosos.
Aqueles em que de fato a identidade est vestida. Eu gosto at
de mudar o modo de referenci-los: de criminoso, para pessoa
que cometeu um crime, diferente de quando se remete a ele
como um todo. Pois bem. O crime estigmatiza. Separa. Como
possibilitar que essas pessoas presas estudem, convivam nummesmo lugar, at mesmo na priso? Este o lugar de
reaprender a conviver e respeitar. Mas as barreiras no so
fceis: vencer estigmas preexistentes, derrubar paredes
impermeveis. E no s existentes entre os que esto presos,
existentes tambm em cada pessoa. Principalmente nos
machos. A cultura absorvida urge ser revista. Tarefa rdua.
Processo lento. De vrias discusses, de discursos que querem
atingir, mas muitas e muitas vezes no convencem. Trabalho
contnuo, permanente, sobre as barreiras.
O SP s vezes perpetua o crcere. D menos trabalho do
que possibilitar qualquer abertura. Menos atividade, menos
risco. Nesse sentido, um fator determinante nos trabalhos o
perfil dos profissionais. Se forem acomodados, a mudana
quase impensvel.
O Departamento Penitencirio do Paran conta com a
Escola Penitenciria (Espen) e a Diviso de Servios Tcnicos
e Assistenciais (Dist), que estudam e coordenam as aes
psicossociais, alm de outras funes, auxiliando o
desenvolvimento dos trabalhos e propondo melhorias nos
atendimentos realizados. Busca-se eficincia no desempenho e
nos resultados e sistematizao das atividades tcnicas e
assistenciais nas unidades penais, por meio de trocas e
discusses, das quais surgiu por exemplo o Manual de
Procedimentos do Psiclogo.
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Mas existe um espao possvel de criatividade. Os
profissionais de cada UP podem planejar e sugerir projetos que
favoream o desenvolvimento da pessoa que se encontra presa
nas unidades penais onde trabalham.
Nesta UP a rotina no setor de Psicologia est organizada
da seguinte forma: segunda-feira so realizadas triagens com
presos que do entrada na unidade; tera-feira, atendimento
individual e elaborao de pareceres; quarta-feira, reunio da
CTC e realizao de exame criminolgico; quinta-feira,
atendimentos individuais; sexta-feira realizao dos grupos e
oficinas.
A sociedade tem a iluso de que os presos contam com
psiclogos (como se fosse uma regalia), mas de fato no
oferecemos a eles nenhum trabalho psicoterpico
superestruturado. Os atendimentos se baseiam na proposta de
trabalhar algum foco, breve, e h atendimentos de apoio em
situaes de crise, no sendo possvel um trabalho de longa
durao que possa contemplar todas as pessoas que ali esto
presas. Muitas vezes faltam at salas especficas para os
atendimentos, bem como para outras atividades que podem
acontecer dentro do sistema, pois no raro a construo fsica
das unidades penais desconsidera os espaos para intervenes
numa perspectiva de humanizao, estando focadas na questo
da segurana.
Os atendimentos psicolgicos individuais hoje, em sua
grande maioria, ocorrem em parlatrio (aqueles telefones de
comunicao atravs de vidros, dos filmes americanos), e
muitas das salas de aula (eventualmente usadas para grupos
psicoteraputicos) so separadas por grades do teto ao cho. Os
parlatrios so espaos secos. Desconsideram qualquer
necessidade de setting teraputico. Muitas vezes a
necessidade de acompanhamento por agentes, em prol da
segurana, limita o estabelecimento de um vnculo genuno,
visto que no conseguimos lhes fornecer condies ticas de
confidencialidade e sigilo.
Diante de um nmero expressivo de pessoas presas e de
poucos profissionais, os grupos so oportunidades de oferecer-
lhes alguma interveno psicoteraputica.
Finalmente chegamos aos grupos. Entendo o contexto
acima como necessrio para compreender o funcionamento do
Sistema Prisional. Os grupos so espaos de possibilidades.
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comportar-se de acordo com as regras? O sistema ainda tem
muito que crescer, muito contaminado, desgastado, hoje, por
sua construo histrica. Mas a humanizao abre
possibilidades. Renova, revigora. Pensar em atividades que
auxiliem seu desenvolvimento, com responsabilidade, uma
tarefa para a Psicologia.
Em mdia a UP onde trabalho tem dois grupos em
funcionamento s sextas-feiras, A metodologia de trabalho
utilizada : cerca de 20 presos participantes/cada, com durao
dos encontros variando de 1h30min a 2 horas,alguns grupos
tm durao de 10 encontros, outros de trs meses, e as oficinas
so momentos nicos. Temos duas salas de aula improvisadasque so ocupadas pelos professores de segunda a quinta-feira e
a Psicologia tratou de ocupar o dia disponvel. Espao
conquistado com a direo e a segurana, enfrentando
resistncias. Os presos muitas vezes manifestam interesse nos
grupos ao saber, por meio de outros, ser selecionados econvidados a participar. As CTC tambm sugerem nomes para
participar. Os dependentes qumicos so indicados para grupos
voltados sua problemtica. Existem ainda outros critrios no
rgidos. No fundo, acredito que quase todos eles deveriam ter a
oportunidade de participar. A segurana nos auxilia a
selecionar do ponto de vista comportamental, se tm potencial
agressivo. O controle requisito mnimo para convivncia.
Nunca so obrigados. Quando querem desistir, conversa-se
com eles, mas sempre respeitada sua deciso. uma
oportunidade, no uma imposio. No h consequncias para
quem no quer participar, mas pode-se ver um diferencial emmuitos dos que participam, apresentando vontade, interesse de
mudar ou aprender algo. Mas claro que h presos que apenas
querem passear, sair um pouco de suas celas.
O profissional fica na sala com 20 presos e um agente
penitencirio. Sim, existem riscos: fui refm num dessesgrupos, em 2003, mas, resisto. E prefiro ainda que aconteam.
Em muitas cidades os grupos simplesmente no acontecem.
um trabalho de resistncia (resilincia), de reflexes internas e
posicionamento. Algumas vezes me reconheo em ciclos, de
reenergizao. Algumas (muitas) vezes desanimo com asbarreiras, com as limitaes, fico sem energia. Me desgasto,
mas insisto. Bato contra a parede. Recuo. Descanso, poupo
energias e, quando vejo, l estou eu tentando novamente.
Muitos sentimentos so mobilizados numa rea de atuao com
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tantas questes sociais e humanas. Os funcionrios todos se
deparam com dificuldades e limitaes, at porque essa
clientela rene muitos pontos inquietantes. uma rea de
trabalho cheia de dificuldades, limitaes, frustraes. Mas
tambm cheia de desafios.
O modo de trabalhar que descobri foi criando e
recriando projetos. Organizamos um grupo, desenvolvemos,
analisamos os resultados, conclumos. Encontramos
dificuldades, a energia se desgasta, Pensamos em uma
alternativa. Energia renovada: outro nome, outra temtica,
outra proposta. Um novo trabalho. Novos participantes. E
diante de pequenas vitrias, insistimos.
Quando a energia da luta acaba, alguns grupos se
encerram. Depois, particularmente sinto falta do trabalho. Me
sinto impotente, muitas vezes, mas quero ousar. No consigo
imaginar que sairo sem possibilidades de qualquer reflexo.
Se eles ficam presos, escutam muitas vezes vozes contaminadas
de possveis companheiros de cela, comprometidos com a
cultura do crime. Os grupos so possibilidades de resgat-los
para a sociedade da qual de fato fazem parte e que, em alguns
casos, por um momento (ou uma vida), negou sua existncia.
Um dos projetos iniciais e permanentes na unidade onde
trabalho se chama:
GRUPO DE ORIENTAO PARA LIBERDADE.
Pblico-alvo: So selecionados 20 presos que esto
aptos progresso de regime (aguardando a realizao ou
resposta do pedido de progresso, por terem cumprido
determinado tempo de pena) e que, portanto, podem sair da
unidade a qualquer momento por determinao judicial, para
outra unidade ou para a liberdade.
Objetivo: Este trabalho visa a oferecer pessoa que se
encontra presa um espao de dilogo, orientaes e
informaes acerca da vida em sociedade, bem como fomentar
suas reflexes a respeito da vida em liberdade, visto que muitas
pessoas que se encontram presas distanciam-se da realidadesocial, ou foram presas por j estar distantes dos objetivos
coletivos.
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Metodologia: Organizado pela Psicologia, mas de
carter multidisciplinar, cada encontro de responsabilidade de
um profissional do sistema ou convidado da comunidade. Cada
grupo participar de dez encontros, com profissionais do
sistema e convidados que fazem parte da comunidade e podem
contribuir para que as pessoas presas reflitam sobre seu retorno
ao meio social. A durao dos grupos de 1h30min a 2 horas.So abordados temas como: mercado de trabalho, vida em
sociedade, motivao para a vida, doenas sexualmente
transmissveis, sade bucal, a importncia da educao, famlia,
autoestima, entre outros.
Em mdia so organizados quatro grupos por semestre,atingindo a populao de (20+20+20+20 x 2) 160 presos ao
ano. Foi absorvido como prtica e hoje tem carter permanente
de funcionamento, sendo desenvolvido tambm em outras
unidades penais do estado.
Relato de experincia: Este grupo foi criado pela
Psicologia em 2003, quando minha parceira na poca, a colega
psicloga Glucia Emlia Warken de Souza, batizou-o. A
proposta inicial era ser desenvolvido pela Psicologia, e, anos
depois, com o interesse de outras reas em participar, bem
como diante do interesse em aproximar a comunidade, no
processo de reintegrao social, o grupo passou a ter carter
multidisciplinar. organizado em dez encontros, com
profissionais diferentes. Foi incorporado pela direo, e h anos
acontece na unidade, bem como tem sido implantado em outras
unidades penais do estado. Neste grupo, diversos profissionais
podem dar sua contribuio. A dentista fala sobre higienebucal, por exemplo, a enfermeira, sobre vrias temticas da
sade, o Servio Social, sobre a importncia da famlia ou
sobre recursos sociais disponveis, orientaes de cidadania, a
Pedagogia, sobre a questo da Educao, entre outros.
Tambm sentimos a necessidade de que outras pessoase instituies participassem, e ento abrimos espao para a
comunidade. Convidamos por exemplo, o Pr-Egresso e o
Conselho da Comunidade, que hoje so nossos parceiros, e
assim iniciamos uma articulao com a rede disponvel, isso
porque entendemos o processo de reintegrao social com anecessidade de mobilizao da comunidade. A sociedade
tambm precisa despertar para a responsabilidade sobre as
pessoas que esto presas, afinal de contas, elas voltaro para o
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convvio, e precisam ser acolhidas, pois a excluso tambm
fator que influencia a reincidncia criminal.
A ideia inicial deste grupo era de poder oferecer
pessoa presa, aps tanto tempo de encarceramento, alguns
momentos em que pudessem ouvir e tambm falar com a
sociedade. Muitas vezes, pelas limitaes das instituies
prisionais, essas pessoas passam um tempo significativo de
suas vidas no convvio com semelhantes, mas muitas vezes sob
influncia da criminalidade. Muitas vezes em convvio com
pessoas altamente comprometidas com seus valores
antissociais, e nossa funo intervir. Mostrar outras
possibilidades. Ento, diante da realidade de que muitaspessoas estavam prestes a sair, sem que lhes tivesse sido
oferecidas oportunidades de crescimento, pensamos neste
grupo. Quando sabamos que a pessoa presa estava prestes a
progredir de regime, providencivamos sua insero no grupo,
para que pudesse sair com algumas reflexes sobre suaretomada da liberdade. Os participantes costumam gostar das
temticas apresentadas e, muitas vezes, no haviam participado
de palestras ou de qualquer grupo anteriormente e
experimentam importante momento de relacionamento
interpessoal, alm de outros conhecimentos.
Segue descrio de outros grupos e trabalhos
desenvolvidos tambm com o auxlio de outros profissionais do
Sistema Prisional, bem como em articulao com outras
instituies. Alguns destes j aconteceram, e alguns continuam
em andamento. Seu relato pode contribuir para que outros
profissionais visualizem possibilidades de interveno, bem
como suas dificuldades, podendo usar sua criatividade e
habilidade tcnica para aprimorar nossa interveno.
Psicocine
Organizado inicialmente com a exibio de um filme
por encontro, seguido pelo debate sobre a temtica abordada.
Esse recurso bastante conhecido da Psicologia, e uma
estratgia utilizada em muitos locais e com populaes
diversas, por sua riqueza e pela facilitao de abordagem.
Atualmente no organizamos mais um grupo unicamente
destinado aos filmes, mas o utilizamos como recurso pontual
em outros grupos, pois muitas vezes esgotvamos as
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autorizao dos juzes da Vara de Execues Penais e da Vara
da Infncia e da Juventude. Foi um momento importante, noqual este preso relatava aos adolescentes os prejuzos em sua
vida pelo caminho da criminalidade e se dizia ladro
aposentado, tendo perdido todos os vnculos de sua vida,
inclusive no tendo acompanhado o desenvolvimento de seus
filhos. Tambm se pretendia a construo pelos presos de umacartilha educativa, mas o trabalho foi interrompido por
mudanas tcnicas, bem como devido progresso de regime
dos presos envolvidos.
Grupo de Apoio ao Dependente Qumico
Pblico-alvo: So selecionados presos que
apresentavam dependncia qumica em seu histrico de vida, o
que frequentemente contribui para o envolvimento criminal e
seu agravamento.
Objetivo: Proporcionar reflexes, e apoio diante da
problemtica das drogas.
um grupo que participou numa unidade de Francisco Beltro. Feedbacksraros, mas importantes.
Metodologia: Os encontros acontecem semanalmente,
pelo perodo de dois meses, com durao mdia de 1h30. Sousados recursos como dinmicas de grupo e filmes, bem como
so convidados profissionais do municpio que atuam na rea
(Caps-Ad por exemplo). baseado na identificao de seus
integrantes, na troca de experincias por meio de seus relatos e
na abordagem de temas que favoream o desenvolvimentopessoal, bem como seu fortalecimento.
Grupo de Dana de Salo
Pblico-alvo: presos que sejam casados ou tenham
relacionamento estvel e recebam frequentemente visitas de
suas companheiras, visto que estas so convidadas a participar
junto com eles.
Objetivo(s): Fornecer ao preso e a sua companheira
aprendizado de estilos de dana de salo (forr, valsa, salsa,
entre outros) e proporcionar, por meio desse espao, o
desenvolvimento de posturas individuais (autoestima,
autoimagem e autoconceito), bem como a melhoria de aspectos
do relacionamento conjugal (vnculo, intimidade e seduo, por
exemplo).
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Metodologia: Seleo de dez presos, com suas
companheiras. Os encontros sero semanais e com duraomdia de duas horas. A professora utiliza tcnicas especficas
do ensino de dana de salo, com acompanhamento da
Psicologia.
Relato de experincia: Uma das experincias mais
bonitas e ricas que tive com grupos. Criado junto com uma
voluntria, professora de dana, estudante de Educao Fsica,
depois de termos assistido ao filme Vem danar, com Antonio
Banderas. A ideia era que um nmero de presos danasse com
suas companheiras, e que as aulas pudessem favorecer sua
autoestima e desenvolver melhoria na relao conjugal. Ogrupo encontrou muitas dificuldades, que parecem simples,
como o horrio da semana em que suas companheiras
pudessem vir para as aulas, visto que algumas tm filhos ou
trabalho e no conseguiam estar presentes. Mas, mesmo com
nmero reduzido de casais, as aulas eram fantsticas, e at osfuncionrios acabavam por se envolver a atividade aconteceu
sem qualquer problema de segurana. Num desses momentos,
eu disse ao diretor, depois, que por alguns instantes a priso
nem parecia priso. Foi uma experincia fantstica. Aconteceu
apenas uma vez, tendo em vista a necessidade de uma
profissional de dana.
Grupo Re-parar para Re-construir
Pblico-alvo: Presos reincidentes desta UP, ou seja,
presos que j estiveram presos na Penitenciria Estadual de Fozdo Iguau e, por algum motivo, voltaram a cometer novos
delitos, ou so evadidos da Colnia Penal Agrcola e foram
recapturados.
Objetivo: Aplicao de tcnicas psicoteraputicas e de
outros tipos de interveno que facilitem e possibilitem areflexo sobre a histria de vida de cada um, focalizando seus
projetos de vida, bem como o funcionamento social e outras
questes ligadas a reintegrao social.
Metodologia: Organizado pela Psicologia, com
aplicao de tcnicas psicoteraputicas que visem a suamobilizao em relao temtica social, no resgate e na
reflexo sobre os valores e as normas sociais.
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Relato de experincia: Um dos grupos em que tive mais
dificuldade de trabalhar, um dos mais desgastantes, pois muitasvezes seus valores so de fato comprometimento com a cultura
do crime. Diante da reincidncia criminal, demostram muitas
vezes a escolha por esse estilo, sendo mais resistentes e
menos permeveis a medidas teraputicas.
Grupo Agentes multiplicadores de sade
Objetivo: Aprimorar conhecimento sobre questes de
sade, bem como ampliar a rede de conhecimento, com foco na
preveno de doenas, bem como em orientaes sobre
cuidados com higiene pessoal, repassando-as populao
carcerria.
Metodologia: So selecionados presos que se mostram
colaborativos e se interessados em auxiliar em diversas
atividades. Os selecionados participam de palestras e recebem
material de estudo e divulgao sobre questes de sade. No
convvio com os outros presos, podem multiplicar o
conhecimento, visto que tm acesso facilitado, sem barreiras,
com grandes possibilidades de aceitao das orientaes.
Relato de experincia: O projeto foi interrompido, pois
alguns presos multiplicadores foram embora. Verificamos anecessidade de apoio dos agentes penitencirios, bem como da
disposio tcnica para sua capacitao, alm da mobilizao
dos presos com perfil adequado.
Oficina de Sexo Seguro
Pblico-alvo: Presos recm-chegados na UP.
Objetivo: Com base na proposta de aconselhamento, so
oferecidas orientaes sobre DSTs/Aids, seguindo a proposta
de trabalho preventivo, devido ao nmero significativo de
pessoas que so infectadas pela exposio dentro do sistema
penitencirio. Tem como objetivo, ainda, trabalhar no s os
temas relacionados s doenas sexualmente transmissveis e
Aids (preveno e tratamento), mas tambm temas ligados a
relacionamento sexual-afetivo.
Metodologia: Os presos so convidados a participar de
uma oficina, que ocorre em um nico encontro, com durao
mdia de 1h30. So organizados grupos de 20 presos, no
fixos. desenvolvido pela Psicologia, podendo contar com a
participao de outros profissionais da rea de sade. So
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utilizados recursos didticos, com folders e cartazes do
Ministrio da Sade. Eventualmente os profissionais participamde treinamentos destinados a sua capacitao, na Secretaria de
Sade no municpio. As questes de relacionamento so
fundamentadas pelo conhecimento da Psicologia, com
embasamento terico da terapia de casal.
Relato de experincia: Alm de existir troca de
informaes e reflexes sobre relaes afetivas e sexuais, as
oficinas acabam como um grande bate-papo, em que eles falam
de sua intimidade, das relaes, e mostram interesse em
aprender mais sobre relacionamento humano do que sobre
preservativo em si. Os presos se mostram interessados nodesenvolvimento da temtica, com participao ativa, dando
exemplos, fazendo perguntas e interagindo de modo
significativo. Normalmente preciso finalizar, pela questo do
tempo, mas sempre h demanda de contedo. H indicativos de
reflexos na relao com muitas de suas companheiras.Esta oficina j foi feita tambm com as mulheres nos fins
de semana antes da visita, ou depois, mas o nmero de pessoas
que compareceu foi pequeno, talvez por falta de hbito de
participar desse tipo de atividade, bem como pela existncia de
outros compromissos e pelo horrio, motivos listados por elas.
necessria uma pesquisa antes de ser implantado, para avaliarsua viabilidade perante as companheiras.
Finalizando, acredito que a Psicologia pode contribuir.
Sempre. Os grupos so espaos possveis e ricos, mesmo diante
de obstculos, so oportunidades de relao interpessoal, num
lugar de paredes rgidas como a priso.
Reforo que as medidas teraputicas desenvolvidas no
sistema necessitam de envolvimento da administrao e da
equipe de profissionais de cada unidade.
Atualmente os projetos so desenvolvidos com a
parceria com a psicloga Monica Cielo Vedoim e com o apoio,
o consentimento e a participao da equipe de profissionais
administrativos, alm da equipe tcnica, na qual se incluem:
Coordenao Depen: Cezinando Vieira Paredes
Direo PEF: Ivan Vidalk Graczyk
Chefe de Segurana: Aldair Andretti e agentes penitencirios
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Advogadas: Ana Paula Garcia Marchante e Daniela Cristina
Fabro da Silva
Assistentes Sociais: Luclia Beraldo e Lucir Barbosa de
Oliveira Barbieiro
Dentista: Carina C. dos Santos de Assis
Enfermeira: Maria do Carmo Santos CorreaMdico: Fbio de Fiori
Pedagoga: Luz Marina Pretz (Seed CEEBJA ) e professores
E os parceiros:
Pr-Egresso: Jusilei Soleide Natick (diretora)Conselho da Comunidade: Luciane Ferreira (diretora)
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