CulturalRada
r
Música200 anos da norte de Haydynp.9
ArtesRio de Janeiro recebe duas boas exposiçõesp.7
CrônicaIvan lessa relembra seus tempos na extinta revista Senhorp.11
CinemaO novo Exterminador do Futurop.10
EspecialLançada a primeira edição das correspondências de Machado de Assisp.4
28 de Junho de 2009 R$ 8,90 www.radarcultural.com.br
As maiores instituições financeiras do país anunciaram na semana passada mudanças que, pela combinação de juros menores e pra-zos mais longos para pagamento, facilitam o
acesso dos brasileiros aos empréstimos. O Banco do Brasil foi o mais agressivo no relaxamento das condições de crédito, estendendo seu “pacote de bondades” a nove tipos de financiamento. Além disso, aumentou o limite de crédito de 10 milhões de correntistas (um terço de sua base de clientes pessoas físicas), que agora têm 13 bilhões de reais a mais disponíveis para financiar suas compras. “Selecionamos clientes que têm bom relacionamento com o banco e com maior propensão a consumir”, explica o vice-presidente de crédito, controladoria e risco global do BB, Ricardo Flores.De que servem todos os conhecimentos do mundo, se não somos capazes de transmiti-los aos nossos alunos? A ciência e a arte de ensinar são ingredientes críticos no ensino, constituindo-se em processos chamados de pedagogia ou didática. Mas esses nomes ficaram poluídos por ideo-logias e ruídos semânticos. Perguntemos quem foram os grandes educadores da história. Tenho meus candidatos. Chamam-se Je-sus Cristo e Walt Disney. Eles pareciam saber que educar é contar histórias. Esse é o verdadeiro ensino contextualizado, que galvaniza o imaginário dos discípulos fazendo-os viver o enredo
Gay TaleseEditor-Chefe
CARTA DO EDITOR
[email protected] espaço é seu.Escreva. Mande um e-mail. Deixesua opnião no site.E confira o que os leitores da Radar Culturalestão dizendo
Rada
r
Cultural
O Rei do Pop terá um sucessor?
Sim, Justin Timberlake
Sim, Chris Brown
Ainda está para nascer
Não, Michael Jackson é insubstituível
Os leitores Opininaram pelo site
10%
5%
15%
70%
BOMBAExcelente e esclarecedora a reportagem “A bomba nas mãos de insanos”. Realmente é assim que se apresentam ao mundo osgovernantes norte-coreanos. Será que a única forma que enxergam para extirpar a miséria de seu país é através da au-todestruição? Luiz Carlos CeglysSão Paulo, SP
CLARICE LISPECTOR“O presidente Barack Obama precisa agir rápido, antes que o ditador norte-coreano faça o mundo sentir sau-dade de George W. Bush.”João Paulo MedradoBelo Horizonte, MG
CHICO BUARQUEO gigante, mesmo ferido, ajuda os menos favorecidos com repatriamento e desperta nos mais favorecidos a necessidade de estudar pelo menos o idioma, concreti-zando que precisam se adaptar à situação do país, pois, nas
atuais circunstâncias, ruim aqui, pior se retornar.Miyoko OnishiNagoia, Japão
CINEMA ALTERNATIVOA frase “Nenhum governo pode dizer que é um sucesso sem uma oposição formidável” é tão atual que abraça todo o artigo. Nisso, até Gladstone haveria de concordar Lucia LeopardiAlegre, ES
VIK MUNIZParabéns pela melhor entrevista das páginas ama-relas dos últimos anos. Toda mulher que quer ter um marido por muitos anos e um casa-mento feliz deveria ler e reler essa ent-revista. Marco Antonio Brandão PontualVitória, ES
DOS LEITORES
MOMASabe que me identifiquei com alguns dos atributos masculinos descri-tos por Contardo Calligaris? É muito mais legal dizer que parti em busca de provisão alimentar Renata SathlerBauru, SP
2
CARTAS DO JOVEM MACHADO DE ASSIS
A correspondência do maior escritor brasileiro ganha a primeira ediçãocompleta, permitindo uma nova avaliação de sua trajetória
Victorhugo Amorim
Será possível que esteja para ruir o derradeiro bastião da Guerra Fria? Na se-gunda-feira da sema-na passada, o presi-dente Barack Obama liberou o valor das remessas de dinheiro e o número de via-gens que os cubano-americanos podem fazer à ilha, cumprin-do uma promessa de campanha. Também autorizou as empre-sas americanas a oferecer aos cuba-nos serviços de tele-fonia, inclusive con-exões por fibra ótica com os Estados Uni-dos. O embargo co-mercial continua em vigor pelo menos até o assunto ser exami-nado pelo Congresso. Os irmãos Castro re-agiram com cautela, mas não cuspiram na mão estendida. “Man-dei dizer ao governo americano, em priva-do e em público, que estamos dispostos a discutir tudo, direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos”, disse Raúl em um discurso na Venezuela, na quin-ta-feira. Só o tempo dará a medida da
sinceridade de suas palavras, mas não é prudente ver nelas o ponto de partida para uma transição para a democracia.As medidas de
Obama devem ser vistas mais como uma mudança de tática do que como uma re-viravolta na política oficial – mas, ainda assim, seu valor sim-bólico é enorme. Em-bute a esperança de que o apoio material ao povo cubano e a oferta de conexão com o mundo exte-rior levem a uma dis-tensão política. Os ir-mãos Castro podem ranger os dentes, mas desta vez será difícil se manterem turrões. O regime continua no controle, mas está fraco e ex-austo. Há racha en-tre os apparatchiks e a crise econômica internacional, combi-nada com três fura-cões no ano passa-do, deixou a ilha sem dinheiro em caixa. A dívida com os par-ceiros comerciais está perto de 30 bil-hões de dólares e não há como pagar. Para piorar, com o declínio
no preço do petróleo, fica difícil para Hugo Chávez manter o at-ual nível de subsídios que concede à ilha. O que Cuba quer dos EUA é fácil de enu-merar: os dólares dos turistas ameri-canos, mais crédito dos bancos interna-cionais e acesso ao FMI para negociar sua dívida externa.Será possível que
esteja para ruir o derradeiro bastião da Guerra Fria? Na se-gunda-feira da sema-na passada, o presi-dente Barack Obama liberou o valor das remessas de dinheiro e o número de via-gens que os cubano-americanos podem fazer à ilha, cumprin-do uma promessa de campanha. Também autorizou as empre-sas americanas a oferecer aos cuba-nos serviços de tele-fonia, inclusive con-exões por fibra ótica com os Estados Uni-dos. O embargo co-mercial continua em vigor pelo menos até o assunto ser exami-nado pelo Congresso. Os irmãos Castro re-agiram com cautela,
mas não cuspiram na mão estendida. “Man-dei dizer ao governo americano, em priva-do e em público, que estamos dispostos a discutir tudo, direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos”, disse Raúl em um discurso na Venezuela, na quin-ta-feira. Só o tempo dará a medida da sinceridade de suas palavras, mas não é prudente ver nelas o ponto de partida para uma transição para a democracia.As medidas de
Obama devem ser vistas mais como uma mudança de tática do que como uma re-viravolta na política oficial – mas, ainda assim, seu valor sim-bólico é enorme. Em-bute a esperança de que o apoio material ao povo cubano e a oferta de conexão com o mundo exte-rior levem a uma dis-tensão política. Os ir-mãos Castro podem ranger os dentes, mas desta vez será difícil se manterem turrões. O regime continua no controle, mas está fraco e ex-
ESPECIAL
3
28 de Junho de 2009
4
28 de Junho de 2009
Machado, o moço
O escritor flertava com irmportantes atrizes de teatro em sua época
O QUE ÉBRÁS CUBAS?
“Dear sir, hoje às 7 horas da manhã, poucos momentos antes de tomar o trem de Rio Claro para Campinas, me foi entregue com a sua carta
de 7 o exemplar de Brás Cubas que teve a bondade de me enviar. Li de Rio
Claro a Campinas, e, preciso dizer-
lhe? – a impressão foi deliciosa, e triste também, posso acrescen-tar. Sei que há
uma intenção lat-ente porém iman-ente em todos os devaneios, e não sei se conseguirei descobri-la. (...) O que é Brás Cubas em última análise? Romance? disser-tação moral? des-fastio humorístico? (...) Pretendo pas-sar dois dias em Campinas, e aqui
lerei o que me falta, que infeliz-
mente não é tanto quanto
desejaria.”
Carta de Capistrano de
Abreu, em 10 de janeiro de 1881
Nos anos 1860, Machado de Assis, ainda na casa dos 20, já conquistara certa fama. Conta-va com peças teat-rais encenadas e era aclamado como “o bardo das Crisáli-das”, livro de po-emas publicado em 1864. Também era um crítico respeitado – em 1868, José de Alencar consagrar-ia Machado como “o primeiro crítico brasileiro” em uma carta aberta publi-cada no Correio Mer-cantil. No entanto, o moço que ganhava a vida como jornal-ista do Diário do Rio de Janeiro enquan-to tentava cavar um emprego público es-tava ainda longe do escritor maior das le-tras brasileiras, cujo centenário de morte é lembrado neste ano. Machadinho – como o chamavam alguns amigos – ai-nda não havia publi-cado um só romance. O primeiro tomo da Correspondência de Machado de Assis (Academia Brasileira de Letras/Fundação Biblioteca Nacional; 320 páginas; ainda sem preço definido), cobrindo de 1860 a 1869, oferece um panorama desse período fundamental na formação do escri-tor. Com coordena-ção do filósofo e dip-lomata Sergio Paulo Rouanet – membro
da Academia Brasilei-ra de Letras – e orga-nização das pesquisa-doras Irene Moutinho e Sílvia Eleutério, o livro abre a primei-ra edição integral da correspondência de Machado, que se com-pletará no ano que vem, com mais dois volumes. “O Macha-do dessas primeiras cartas é muito dife-rente da convenção. No lugar da figura ensimesmada de ca-saca preta, surge um boêmio namo-rador”, diz Rouanet.Teve acesso ante-
cipado e exclusivo à íntegra do livro. São noventa cartas, nas quais predomina a correspondência pas-siva – só 23 foram escritas por Mach-ado. Os organiza-dores incluíram não só a correspondência privada, mas as car-tas abertas publica-das na imprensa (ou até em livros, como a pernóstica carta-prefácio do advogado e poeta Caetano Fil-gueiras, na primeira edição de Crisálidas). Esses documentos – muitos deles inéditos ou raros – foram re-cuperados por Irene e Sílvia de vários ar-quivos, museus e in-stituições de pesqui-sa, principalmente do acervo da própria ABL e da Biblioteca Nacional. A organiza-ção do volume per-mite uma leitura nova desse material. Sob a
diversidade de cor-respondentes e as-suntos, há um enre-do discernível, uma nítida evolução do protagonista: Mach-ado começa como o jornalista dândi que freqüentava teatros e ao que tudo indi-ca namorava atriz-es (embora as car-tas não permitam a identificação positiva de suas amadas) – para acabar com um emprego estável no Diário Oficial do Im-pério e casado com a portuguesa Carolina Xavier de Novais (só se conservaram duas cartas de Machado para a noiva, uma delas incompleta). O aparato de notas produzido pelos or-ganizadores auxilia a compreensão desse enredo, esclarecendo referências literárias e históricas e identifi-cando os personagens citados nas cartas.Nos anos 1860,
Machado de Assis, ainda na casa dos 20, já conquistara certa fama. Conta-va com peças teat-rais encenadas e era aclamado como “o bardo das Crisáli-das”, livro de poemas publicado em 1864. Também era um críti-co respeitado – em 1868, José de Alencar consagraria Macha-do como “o primei-ro crítico brasileiro” em uma carta aber-ta publicada no Cor-reio Mercantil. No
5
28 de Junho de 2009
FÉ CONFEITADA
“Em vez de ensinar a religião pelo seu lado sublime, (...) é pelas cenas impróprias e improveitosas que
(as procissões) a propagam. Os nossos ofícios e mais festividades estão longe de oferecer a majestade e a gravidade imponente do culto cristão. São festas de folga, enfeitadas e confeitadas, falando muito aos
olhos e nada ao coração.”
8 de Janeiro de 1883, carta aberta a um bispo
entanto, o moço que ganhava a vida como jornalista do Diário do Rio de Janeiro en-quanto tentava cavar um emprego público estava ainda longe do escritor maior das le-tras brasileiras, cujo centenário de morte é lembrado neste ano. Machadinho – como o chamavam alguns amigos – ai-nda não havia publi-cado um só romance. O primeiro tomo da Correspondência de Machado de Assis (Academia Brasileira de Letras/Fundação Biblioteca Nacional; 320 páginas; ainda sem preço definido), cobrindo de 1860 a 1869, oferece um panorama desse período fundamental na formação do escri-tor. Com coordenação do filósofo e diploma-ta Sergio Paulo Roua-net – membro da Ac-ademia Brasileira de Letras – e organiza-ção das pesquisado-ras Irene Moutinho e Sílvia Eleutério, o livro abre a primei-ra edição integral da correspondência de Machado, que se com-
pletará no ano que vem, com mais dois volumes. “O Macha-do dessas primeiras cartas é muito dife-rente da convenção. No lugar da figura ensimesmada de ca-saca preta, surge um boêmio namo-rador”, diz Rouanet.Teve acesso ante-
cipado e exclusivo à íntegra do livro. São noventa cartas, nas quais predomina a correspondência passiva – só 23 foram escritas por Mach-ado. Os organiza-dores incluíram não
só a correspondência privada, mas as car-tas abertas publica-das na imprensa (ou até em livros, como a pernóstica carta-pre-fácio do advogado e poeta Caetano Fil-gueiras, na primeira edição de Crisálidas). Esses documentos – muitos deles inéditos ou raros – foram re-cuperados por Irene e Sílvia de vários ar-quivos, museus e in-stituições de pesqui-sa, principalmente do acervo da própria ABL e da Biblioteca
Nacional. nização do volume permite uma leitura nova desse material. Sob a di-versidade de corre-spondentes e assun-tos, há um enredo discernível, uma níti-da evolução do pro-tagonista: Machado começa. Eu quero um ovo de codorna para comer. O meu problema ele tem que resolver. Eu que-ro um ovo de codorna para comer. O meu problema ele tem que resolver. Está difícil completar.R
ESPECIAL
6
28 de Junho de 2009
CIDADE CONQUISTADA
O Rio de Janeiro no século XIX: Machado de Assis já granjeara fama antes de completar 30 anos
ARTES
Com uma exposição sobre arte barroca e outra sobre vanguardas russas, Rio de Janeiro entra na rota das grandes exposições internacionais
Lucas Schuina
Entre as décadas de 50 e 90, o francês Jacques Boulieu ro-dou o mundo como executivo de uma multinacional do ramo da perfumaria. Em suas andanças da Ásia à América Latina, ele se apro-fundou numa paixão que nutria desde a infância, vivida entre os quadros colecio-nados por seus pais na França: a arte sa-cra. Boulieu comprou suas primeiras peças numa viagem à Ba-hia, em 1959. Então recém-casado com uma mineira também aficionada do gênero, Maria Helena, não parou mais de investir nisso. O casal, que reside no Brasil des-de aqueles tempos, acumulou 1 000 des-sas relíquias. Boulieu adotou a cidade mi-neira de Ouro Preto, paraíso inescapáv-el para os amantes desse tipo de arte, como um lar espiritu-al. E, agora, faz dela o palco de uma inicia-tiva extraordinária. Setenta peças de sua coleção poderão ser vistas publicamente pela primeira vez na
ENTRE A FÉ E A VANGUARDA
mostra Caminhos da Fé, que ocorre a ptir desta segunda-fei No Centro Cultural e Turístico da Federa-ção das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Boulieu e a mulher não só promoverão a exposição: suas obras serão doadas Garim-padas Lugares como Índia, Sri Lanka, Fili-pinas, Peru e Bolívia, elas compõem um panorama da arte re-ligiosa nas colônias europeias nos séculos XVI a XVIII. A divers-idade de origens pro-porciona uma visão comparativa do bar-roco brasileiro com seus equivalentes de outras paragens.Como nota Boulieu,
a arte religiosa do período é um teste-munho do êxito dos colonizadores por-tugueses e espan-hóis num de seus maiores objetivos: a conversão dos po-vos dessas regiões à fé católica. Ao tra-duzirem seu fervor nessas peças, os artesãos miravam-se nos exemplos euro-peus, mas não deixa-vam de imprimir ne-las elementos de sua
Entre as décadas de 50 e 90, o francês Jacques Boulieu ro-dou o mundo como executivo de uma multinacional do ramo da perfumaria. Em suas andanças da Ásia à América Latina, ele se apro-fundou numa paixão que nutria desde a infância, vivida entre os quadros colecio-nados por seus pais na França: a arte sa-cra. Boulieu comprou suas primeiras peças numa viagem à Ba-hia, em 1959. Então recém-casado com uma mineira também aficionada do gêne-ro, Maria Helena, não
28 de Junho de 2009
7
FÉ GLOBALIZADA O Arcanjo São Miguel mineiro (à esq.) e a Pietà vinda da Guatemala (à dir.): “O barroco brasileiro era superior”
De vez em quando, um sujeito formado em jornalismo apa-rece e vira para mim e diz: “Eu me lembro daquele artigo que você escreveu sobre o Spinoza na revista Senhor.” Faço um sor-riso modesto, encaro as sandálias dele, penso que mundo es-tranho este em que as pessoas se for-mam em jornalismo. O sujeito prossegue: “Que revista hem!” Eu vou mais longe: “Ainda vou proces-sar a Chauí por uso indevido”. Na ver-dade nunca escrevi uma única linha so-bre Spinoza. Na ver-dade, tenho a maior dificuldade de me lembrar da revista Senhor. Não guardei nenhuma. Lembro pouquíssimo dela. O que eu me lembro mesmo é que foi meio frustrante e gosto-so. Mas isso, como tudo mais, é opin-ião pessoal. Eu me lembro é do pesso-al. Da redação. Res-taurantes. A revista Senhor foi assim:
Em janeiro de 1959
eu tinha 23 para 24
anos, era chefe de
redação da Norton
Publicidade, ganhava
30 contos por mês.
Fui checar na cartei-
rinha de trabalho. Tá
lá. A revista Senhor
não assinou a car-
teira. É dado. Reca-
pitulando: era chefe
de redação, 9 às 5,
mais dois frilas ex-
celentes, duas agên-
cias. Master e Abae-
té, que menores,
não tinham condição
de pagar um reda-
tor tempo integral.
Então, na hora do al-
moço, ou depois do
trabalho eu passa-
va lá pegava os da-
dos, fazia o texto das
campanhas e fatura-
va 15 milhas em
cada uma. Lembro-
me da campanha de
lançamento de cigar-
ros da Lopes Sá,
para a Master. E dos
livros da Civilização
Brasileira, do queri-
do Ênio Silveira, na
Abaeté, onde o dire-
tor de arte, frila tam-
bém, era o Eugênio
Hirsch, simpaticís-
simo e que também
fazia umas capas
péssimas para a Civ-
Poucos estudantes absorvem as abstra-ções, quando apre-sentadas a sangue-frio: “Seja X a largura de um retângulo...”. De fato, não se apre-nde matemática sem contextualização em exemplos concretos. Mas o professor pode entrar na sala de aula e propor a seus alu-nos: “Vamos constru-ir um novo quadro-negro. De quantos metros quadrados de compensado pre-cisaremos? E de quantos metros lin-eares de moldura?”. Aí está a narrativa para ensinar áreas e perí-metros. Abundante pesquisa mostra que a maioria dos alunos só aprende quando o assunto é contextu-alizado. Quando fala-mos em analogias e metáforas, estamos explorando o mesmo filão. Histórias e casos reais ou imaginários.Professora por fa-
vor, me ajude. Me dê uma nota boa.R
28 de Junho de 2009
8
As linhas simples e precisas de Círculo
Branco, de Rodchenko, causaram impacto
MÚSICA
A PRESENÇA CONSTANTE DE HAYDN200 anos depois de sua morte, a influência do músico holandês permanece
Fabiano Moreira
“Pai” da sinfonia e do quarteto de cordas, mestre do classicis-mo vienense, admi-rado por Mozart, pro-fessor de Beethoven: idolatrado por seus contemporâneos e reverenciado pela posteridade, Joseph Haydn (1732-1809) é uma daquelas figu-ras musicais tão gi-gantescas que nem todas as hipérboles e elogios parecem con-seguir dar conta de sua real envergadura.Em 2004, o Festi-
val Internacional de Inverno de Campos do Jordão tomou-o como tema, e o pla-neta musical celebra o legado do composi-tor em 2009, ano do bicentenário de fa-lecimento. Contudo, a quantidade, a qual-idade e a importân-cia histórica das ob-ras de Haydn são tão avassaladoras que sempre parecemos estar em débito com esse artesão so-fisticado e inquieto.Não custa lembrar
que o primeiro texto sobre música publi-cado no Brasil tinha como tema o autor de A criação. Trata-se da Notícia históri-
ca da vida e das ob-ras de José Haydn, do francês Le Bret-on, editado no Rio de Janeiro, em 1820.A obra de Haydn
era bem conheci-da em nosso país Há alguns anos,
professores america-nos de inglês se re-uniram para carpir as suas mágoas: ape-sar dos esplêndidos livros disponíveis, os alunos se recu-savam a ler. Poucas semanas depois, foi lançado um dos vol-umes de Harry Pot-
ter, vendendo 9 mil-hões de exemplares, 24 horas após o lan-çamento! Se os alu-nos leem J.K. Rowl-ing e não gostam de outros, é porque es-tes são chatos. Em um gesto de realis-mo, muitos professo-res passaram a usar Harry Potter para ensinar até física. De fato, educar é contar histórias. Bons pro-fessores estão sem-pre eletrizando seus alunos com narra-tivas interessantes ou curiosas, carre-
gando nas costas as lições que querem ensinar. É preciso ignorar as teorias intergalácticas dos “pedagogos astro-nautas” e aprender com Jesus, Esopo, Disney, Monteiro Lo-bato e J.K. Row-ling. Eles é que sabem.Poucos estudantes
absorvem as abstra-ções, quando apre-sentadas a sangue-frio: “Seja X a largura de um retângulo...”. De fato, não se apre-nde matemática sem contextualização em exemplos concre-tos. Mas o profes-sor pode entrar na sala de aula e pro-por a seus alunos: “Vamos construir um novo quadro-negro. De quantos metros quadrados de com-pensado precisare-mos? E de quantos metros lineares de moldura?”. Aí está a narrativa para en-sinar áreas e perí-metros. Abundante pesquisa mostra que a maioria dos alunos só aprende quando o assunto é contex-tualizado. Quando falamos em analo-gias e metáforas, es-tamos explorando.R
Haydn: clássico
definitivo da música
erutdita
28 de Junho de 2009
9
CINEMA
NADA SE CRIA, TUDO SE IMITAJames Cameron não produziu, não escreveu e não dirigiu O Exterminador do Futuro – A Salvação. Mas não há cena do filme que não seja uma cópia de seu estilo e de sua visão
Isabela Boscov
pam os valores e dis-seminam a medioc-ridade entre homens e mulheres. Estamos diante da perda de identidade, de uma geração individual-ista e ignorante que nos empurra a pas-sos largos para o fim do mundo.Oferece um bom argumento contra a generaliza-ção dessa Na aus-ência de uma marca pessoal – e é esse o caso do diretor McG –, tanto melhor que o sucessor se limite a reproduzir as sin-gularidades e quali-dades do Quando um diretor assume uma série iniciada por outro cineasta, o esperado é que lhe imprima uma marca pessoal que justi-fique ter sido ele o escolhido. Não fazê-lo indicaria alguma medida de fracasso. Pois O Extermina-dor do Futuro – A Salvação (Termina-tor Salvation, Esta-dos Unidos, 2009), que estreia nesta sexta-feira no país, oferece um bom ar-gumento contra a generalização dessa tese. Na ausência de uma marca pessoal
A escritora Lya Luft descreve com mae-stria os absurdos e excessos do mundo em que vivemos (“É o fim do mundo”, 3 de junho). O Brasil sofre com as maz-elas sociais, mas no desabafo da escri-tora percebemos que caminhamos para o abismo da mazela moral e ética. As ab-errações impostas hoje como padrões pela sociedade detur-
O artigo nos leva a refletir sobre o rumo que estamos dando a nossa vida. É notório como supervaloriza-mos certas futilidades e nos tornamos sel-vagens e insensíveis diante de fatos como a fome e o descaso que milhares de pes-soas sofrem todos os dias. Estamos ficando desumanos, sofre-mos mais por um an-imal do que por uma criança solução. R
C H I L I Q U E
Há três meses, um episódio dos basti-dores de Salvação fez a festa de alguns milhões de pessoas no YouTube: um di-retor de fotografia foi mexer na luz bem no meio de uma cena de Christian Bale. Pela falha, foi puni-do com uma atitude ainda menos pro-fissional que a sua. Durante 3 minutos e 53 segundos, o ator xingou o sujeito aos berros, sem parar, à taxa de um palavrão a cada 5,8 segun-dos. Bale fez vários mea-culpa públicos, mas em vão: assim que ele abre a boca, em Salvação, o fa-niquito é a primeira lembrança que vem à mente de quem o ouviu – e a causa das várias risadinhas que têm sido ouvidas nas plateias em que o filme é visto, naquilo que deveria ser um momento dramático.
Net e pelas máqui-nas de extermínio que ela produz sem descanso. Durante um ataque a uma in-stalação da SkyNet, surgem dois fatos.
Bale como J.C.:
ninguém esquece o
chilique
28 de Junho de 2009
10
MEMÓRIAS DA REVISTA SENHOR
“O ponto alto da revista, para este criado que vos fala, era o almoço.
Nunca comi tão bem em minha vida”
ilização. Mas, enfim,
o que eu queria dizer
era o seguinte, 60
contos por mês era
uma nota. Pra dar
uma idéia: dava para
comprar um carro
novo por mês. Nada
mau. Eu gastava
tudo em disco im-
portado e mulheres
locais. Dinheiro bem
empregado. Só que
aos 23 anos todo
mundo é idiota. Prin-
cipalmente eu. Como
eu tinha assinatura
de revista americana
e já lera uma porção
de pocket books en-
trei numa crise exis-
tencial. Ou de iden-
tidade. Por aí. Foi
quando o Paulo Fran-
cis, que já era meu
amigo desde 1953,
me perguntou se eu
não queria ser reda-
tor de uma revista,
tal de Senhor, uma
mistura assim de Es-
quire, New Yorker e
Playboy. Quanto pa-
gam? Mal. Na minha
cabeça, eram 17 mil-
has. Ridículo, perto
do sessentão. Mas
topei, já que era uma
besta. Com cara ín-
tegra (vocês não têm
idéia do que é minha
cararante não estava
no gibi, saía na Sen-
hor. Me lembro de
um restaurante em
particular, na traves-
sa dos Barbeiros, o
Escondidinho. Nunca
comi tão bem em
minha vida. O ponto
alto da revista, para
este criado que vos
fala, era o almoço.
Oba! Epa! A casa
Heim, Dirty Dick’s,
o árabe da Senhor
dos Passos, um por-
rilhão deles. O fotó-
grafo era o Chinês,
o Armando Rosário.
Formidável o Chinês.
Posei muito para ele,
para a revista, essa
parte de serviços.
Ilustrando uma ma-
téria do Marcito
Moreira Alves intitu-
lada “Os Boas Vidas”.
Eu em close com um
chapeuzinho-esporte
acendendo um cigar-
ro por trás do volan-
te do meu carro. Eu
tinha carro, claro. Bo-
nito, Mercury, duas
cores, hidramático.
Meus pés ilustrando
umas meias xadrez,
muito sobre o ama-
relo, no bar do ho-
tel Miramar, aquele
do posto Seis. Eu de
longe com uma moça
ao lado no saguão
do Santos Dumont,
ela com meu pal-
etó. Era pra ilustrar
paletós. A moça eu
estava de olho nela,
trabalhava no DAC.
Foi pretexto. Não
deu em nada. Quer
dizer, deu – no mel-
hor sentido possível
– mas anos depois.Que mais? Eu es-
crevi uma matéria sobre o conjunto vo-cal The Hilo’s. Outra sobre o LP do João Gilberto. Outra que era uma tremenda enganação sobre os Beats and Angry Young Men, que cha-mei de Os Cansados e os Zangados. Coz-inhei tudo porção.R
A história da minha entrada na revista Senhor - e da minha demissão por incopetência
Ivan Lessa
De vez em quando, um sujeito formado em jornalismo apa-rece e vira para mim e diz: “Eu me lembro daquele artigo que você escreveu sobre o Spinoza na revista Senhor.” Faço um sor-riso modesto, encaro as sandálias dele, penso que mundo es-tranho este em que as pessoas se for-mam em jornalismo. O sujeito prossegue: “Que revista hem!” Eu vou mais longe: “Ainda vou proces-sar a Chauí por uso indevido”. Na ver-dade nunca escrevi uma única linha so-bre Spinoza. Na ver-dade, tenho a maior dificuldade de me lembrar da revista Senhor. Não guardei nenhuma. Lembro pouquíssimo dela. O que eu me lembro mesmo é que foi meio frustrante e gosto-so. Mas isso, como tudo mais, é opin-ião pessoal. Eu me lembro é do pesso-al. Da redação. Res-taurantes. A revista Senhor foi assim:Em janeiro de 1959
eu tinha 23 para 24 anos, era chefe de redação da Norton Professora, favor
CRÔNICA 28 de Junho de 2009
11
Progresso