VICENTE FIDELES DE ÁVILA
TEXTO–SÍNTESE DE APRESENTAÇÃO
PROPOSTA DE PASTORAL PARA FORMAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO
[...] Embora «a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política», a Igreja
«não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça». Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção dum mundo melhor. É disto mesmo
que se trata, pois o pensamento social da Igreja é primariamente positivo e construtivo, orienta
uma ação transformadora e, neste sentido, não deixa de ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo [...] (PAPA FRANCISCO, Evangelii Gaudium, n. 183).
Com MENSAGEM ÀS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS E DEMAIS
DIRIGENTES DIOCESANO S E PAROQUIAIS DE PASTORAL (p . 3)
As expressões DES EN V O L V I M EN T O C O M U N I T Á RI O -L O C A L (DCL) e
DE S EN V O L V I M EN T O L O C A L (DL) t êm o mes mo s igni fi cado ( i t em 3, p . 10)
CAMPO GRANDE-MS, MARÇO DE 2014
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SUMÁRIO
MENSAGEM ÀS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS E DEMAIS DIRIGENTES
DIOCESANOS E PAROQUIAIS DE PASTORAL - p. 3
1. ANTECEDENTES - p. 4
2. EM QUE CONISISTE ESTA PROPOSTA DE PASTORAL? - p. 6
3. HÁ DIFERENÇA ENTRE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL) E
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO? - p. 10
4. POR QUE MOTIVOS HISTÓRICOS SURGIU O DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) À
MODA EUROPEIA? - p. 10
5. TRÊS QUESTÕES DE FUNDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO
PLANETA, FOCADAS EM DUAS ÓTICAS: NEOLIBERAL (1ª e 2ª) e ENDÓGENO-
EMANCIPATÓRIA (3ª) - p. 11
6. UMA QUESTÃO DE FUNDO PARA O DL ou DCL EM REALIDADES BRASILEIRAS E
SIMILARES - p. 12
7. POR QUE DISTINGUIR QUE NÃO É DO QUE É DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou
COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO? - p. 13
8. POR QUE DESENVOLVIMENTO NO LOCAL (DnL) NÃO É DESENVOLVIMENTO
LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)? - p. 13
9. POR QUE SÓ DESENVOLVIMENTO PARA O LOCAL (DpL) TAMBÉM NÃO É
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)? - p. 14
10. TRÊS PRESSUPOSTOS PARA BEM ENTENDER A AUTENTICIDADE DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL) - p. 14
11. AGORA: QUE É DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL
(DCL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO? - p. 15
12. COMO SE DELINEIAM OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)? - p. 20
13. POR QUE A SOLIDARIEDADE SE ASSEMELHA A MEDULA ESPINHAL DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)? - p. 23
14. POR QUE A EDUCAÇÃO FUNCIONA COMO SISTEMA CIRCULATÓRIO-
RESPIRATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL
(DCL)? - p. 24
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS - p. 26
16. OUTRAS PUBLICAÇÕES DO AUTOR SOBRE DL ou DCL - p. 26
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MENSAGEM ÀS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS E DEMAIS
DIRIGENTES DIOCESANOS E PAROQUIAIS DE PASTORAL
Saudações.
O presente Texto-Síntese lhes é endereçado com a esperança de que a concernente
Proposta de Pastoral mereça apreciações e mesmo implementação em âmbitos comunitário-
paroquiais (nos termos da Evangelii Gaudium-EG n. 28, abaixo aludida e retomada no próximo
item 2) que por ela se interessarem.
Quanto a que esta Proposta se configure efetivamente como de Pastoral, importa relevar
que é integralmente conectiva com fundamentais passagens bíblicas e compatível com a
Doutrina Social da Igreja sobre desenvolvimento. Essas conectividade e compatibilidade são
analisadas nos dois textos/ensaios a que se referem as subsequentes 2ª e 3ª notas de rodapé.
Além disso, ao longo do mesmo item 2 também se ressalta que a Proposta mantém
perfeita concordância com os enfáticos pronunciamentos (sobre engajamento social da Igreja) do
Papa Francisco aos: habitantes da favela Varginha do Rio de Janeiro, em 25/07/2013; jornalista
Gerson Camarotti, na entrevista também de 25/07/2013; e Comitê de Coordenação do Conselho
Episcopal Latino-Americano (CELAM), em 28/07/2013, outra vez no Rio de Janeiro.
E mais, essa mesma concordância se estende à Primeira Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium (EG), ainda do Papa Francisco, publicada em 26/11/2013, como se pode constatar
pelos parágrafos finais do aludido item 2.
Sobre expectativa de resultados, frisa-se que o Desenvolvimento Comunitário-Local
(DCL) aqui focado é processo de formação e ação comunitária para autodesenvolvimento e não
de assistencialismo imediatista, paternalista e/ou intervencionista, como avante sempre se
reitera. Então, e ainda pelo fato de nunca uma comunidade ser em tudo igual a outras, evidencia-
se que resultados em DCL só podem fluir dos próprios ritmos e dinamismos formativos,
deliberativos e operativos de cada uma delas, com participações e apoios externos, porém, sem
dirigismo, manipulação ou imposição. No entanto, até as iniciais sensibilização, mobilização e
organização, de qualquer comunidade que o comece a implementar, já se constituirão imediatos
e importantíssimos resultados, enquanto bases da solidarização comunitária para contínuas,
concretas, endógenas e coparticipativas iniciativas de autodesenvolvimento.
Em termos logísticos, cópias digitalizadas deste Texto-Síntese e dos acima mencionados
dois textos/ensaios estão livremente disponíveis por acesso à categoria “Assuntos Pastorais” do
Blog [sobre] Desenvolvimento Local - http://www.desenvolvimentolocalvfa.com.br/ .
O Blog também disponibiliza livre acesso a várias outras matérias não referenciadas neste
Texto-Síntese, concernentes ainda a “Desenvolvimento Local” e às demais cinco categorias
temáticas que o integram: “Comunidade-Comunitarização e DL”, “Educação”, “Filosofia”,
“Municipalização” e “Assuntos Universitários”.
Atenciosamente.
PROF. VICENTE FIDELES DE ÁVILA1
1 Doutorado em Política e Programação do Desenvolvimento (enfoque em Educação e Emprego) pela Université de Paris
I/Panthéon-Sorbonne, França (1980); Bacharelado (1963) e Licentia (1965) em Teologia pela PUG de Roma, Itália; Licenciaturas
(no Brasil) em Filosofia (1971) e Pedagogia (1972); Diretor Diocesano de Catequese da Diocese de Guaxupé-MG (1966-1971);
professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-UFMS (1993); cofundador e ex-docente dos Programas de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação (1993-2004) e em Desenvolvimento Local (1998-2010) da Universidade Católica
Dom Bosco-UCDB, de Campo Grande-MS. E-mail: [email protected] .
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1. ANTECEDENTES
Em doze anos de atuação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local da
salesiana Universidade Católica Dom Bosco-UCDB, de Campo Grande-MS, do seu início no
segundo semestre de 1968 até julho de 2010, assumi a principal responsabilidade docente da
disciplina curricular primeiramente denominada Formação Educacional para Desenvolvimento
Local e depois renomeada para Teoria do Desenvolvimento Local. Isso implicou formação de
grupo de estudos e pesquisa, assim como sistematização e publicação de livros e artigos (já
aludidos na anterior Mensagem), referentes a teorias conceituais e metodológicas sobre
Desenvolvimento Local (DL) endógeno-emancipatório, aqui com o mesmo sentido de
Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL), segundo o próximo item 3.
Esse trabalho acabou se tornando foco convergente de outras anteriores vivências. Dentre
elas, principalmente a da enorme precariedade infraestrutural da minha região rural à época em
que nasci e ao longo de décadas posteriores (quanto a trabalho, saneamento, saúde, educação,
locomoção, renda, etc.), em franco contraste com fantástico potencial de desenvolvimento
(sobretudo humano) ali latente, porém ignorado.
Como amostras desse potencial, presenciei muitos desafios ou apostas entre pessoas
quase analfabetas para complicados cálculos mentais em botequins, pelo prêmio de um
guaranazinho ou pequeno copo de cachaça com groselha.
Aliás, meu pai se alfabetizou autodidaticamente, inclusive à noite depois do trabalho e
com luz de tição de fogo para economia de querosene. Ainda assim, conseguiu equacionar todos
os cálculos da medição de terras e partilhas inventariais através das aritméticas operações de
adição, diminuição, multiplicação, divisão e fração, só vindo a conhecer a regra de três muito
depois. E, sem nenhuma máquina da calcular, por cerca de meio século exerceu a agrimensura
prática com absoluta competência e precisão, disponibilizando corretos resultados de complexos
cálculos em conclusos teores de Escrituras normais e inventariais, de pequenos sítios ou grandes
fazendas, à datilografia cartorial da época.
Além disso, tive a grata oportunidade da vida seminarística por treze anos (início de 1953
ao final de 1965), incluídos quatro anos de Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana-
PUG de Roma (1961-1965). Período este em que também frequentei longo e intenso curso de
Extensão Universitária sobre Sociologia do Desenvolvimento (mais de 300 horas), ministrado
no Pontifício Colégio Pio Brasileiro pelo igualmente brasileiro Pe. Pedro Calderan Beltrão (SJ),
um dos fundadores -em 1951- da atual Faculdade de Ciências Sociais da PUG. E ainda pude
realizar três Estágios Socioeducacionais, de dois meses cada, promovidos pelo referido Colégio
durante as férias da PUG: dois na Alemanha Ocidental em 1962 e 1963 (o primeiro patrocinado
pelo governo alemão) e um na França em 1964.
Já no primeiro estágio alemão, um acontecimento me abriu a mente para a questão do
autodesenvolvimento comunitário. Fiquei muito impressionado pela sofisticação com que a
reconstrução da Alemanha Ocidental estava acontecendo, passados apenas dezessete anos do
efetivo término da Segunda Guerra Mundial na Europa, em 7 de maio de 1945. E, pelo
impressionante motivo de que, em consequência da guerra, os alemães haviam perdido cerca de
85% de toda a sua anterior capacidade instalada, inclusive de população economicamente ativa,
como também quase um terço do seu antigo território, e respectiva população, para a
constituição da Alemanha Oriental.
Então, perguntei ao deputado que nos acompanhava, representante da infância e
juventude da região de Colônia no Parlamento federal, como é que os alemães ocidentais
estavam conseguindo tal proeza. Éramos um grupo de colegas brasileiros, coordenado pelo nosso
5
diretor de estudos no referido Colégio, o recentemente falecido Pe. Marcello de Carvalho
Azevedo (SJ).
Até um pouco zangado, ao desabafar que essa pergunta já lhe fora feita por muitos
estrangeiros achando que os Países Aliados injetavam avalanches de recursos na reconstrução da
Alemanha Ocidental, respondeu que não era assim. Que, além de certa fatia de onerosos
empréstimos provenientes do famoso Plano Marshall (posteriormente soube tratar-se de 3,3
bilhões de dólares pagáveis em 25 anos), o principal interesse de investimento dos Aliados,
naquele ainda ocupado país, se concentrava na transformação das aparências da Berlim
Ocidental em propaganda contra o regime soviético, reinante logo atrás do fatídico muro (à
época em fase final de construção) que dividia Berlim também em Oriental e Ocidental. E
concluiu, nestes aproximados termos: não se esqueçam de que, embora 85% do nosso potencial
instalado tenham sido efetivamente destruídos, restaram ainda 15% de massa cinzenta
(capacidade humana) que vêm conseguindo transformar escassos recursos financeiros em fatores
multiplicadores de progresso; isto é o que está acontecendo.
Depois, tive conhecimento e testemunhos reais, até por convivência em lares, dos
enormes esforços de cooperação e mobilização no imediato pós-Segunda Guerra Mundial, de
todos os alemães ocidentais para essa reconstrução. Até mesmo foram convocados pelo governo
e aceitaram trabalhar sete dias por semana, num determinado período, dos quais seis por
proventos estritamente necessários à sobrevivência (teto, comida, roupa, aquecimento, etc.) e um
de gratuita colaboração para a reconstrução de locais públicos.
Isso me despertou, em relação a Desenvolvimento Comunitário-Local, para o fato de que
o autêntico desenvolvimento nunca vem graciosamente de fora e só acontece quando as pessoas
de cada comunidade, no todo ou em representativa parte, se tornam massas cinzentas em organizado e dinâmico exercício de busca do bem comum, ou seja: a) se formam em
dimensões individuais e comunitárias de autoestima, autoconfiança, autocapacitação,
autossolidarização, auto-organização, automobilização e conseguem converter recursos
financeiros e outros, escassos ou muitos, em constantes fatores multiplicadores de progresso; b)
e, na contramão do assistencialismo degradante, também se transformam, individual e
comunitariamente, em empreendedoras de iniciativas geradoras, gestoras, aproveitadoras e
otimizadoras dos potenciais e potencialidades de toda ordem de recursos, tanto existentes na
localidade quanto possíveis de captação externa, para suprimento das constantes necessidades
requeridas pela própria dinâmica do progresso.
A partir daí, comecei a acreditar na possibilidade do desenvolvimento de regiões como a
em que nasci e quaisquer outras, com investimento nesse tipo de formação e transformação,
porque em todas há potencial latente a ser despertado e lapidado. No entanto, a ideia de como
implementá-lo em escala só veio bem depois, principalmente a partir do referido Mestrado,
mesmo porque logo em 1964 começou a repressora ditadura militar, que se estendeu até 1985.
Mas, ainda que em plena ditadura, dois outros relevados acontecimentos muito influíram
em minha orientação para o foco do Desenvolvimento Local (DL), ou Comunitário-Local
(DCL), na perspectiva das mencionadas formação e transformação:
O do intenso e gratificante trabalho catequético, por coparticipação de ativas e proativas
equipes, no período em que fui Diretor Diocesano de Catequese da Diocese de Guaxupé-MG,
de janeiro de 1966 a abril de 1971, já um pouco na linha da transcendentalização pela
emancipação humana, através da formação para autoconfiança e solidarização comunitária. A
expressão já um pouco se deve ao ainda trepidante estágio atualização da Igreja no imediato
pós-Concílio Vaticano II e à dura repressão da ditadura naquele período.
E o da providencial oportunidade de cursar o doutorado na Université de Paris I/Panthéon-
Sorbonne, de 1977 a 1980, justamente em Política e Programação do Desenvolvimento,
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voltado às realidades ditas terceiro-mundistas de então, em estreita convivência e intercâmbio
de atividades acadêmicas com colegas do Oriente Médio, da África e da América Latina.
No que respeita à relação do Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL) com Pastoral,
desde que comecei a ampliar e aprofundar o seu entendimento, percebi que a mesma procede de
sua própria essência conceitual e metodológica. Ou seja:
Do ponto de vista conceitual, o Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL) se harmoniza
perfeitamente com o preceito evangélico do AMOR A DEUS PELO AMOR DO PRÓXIMO (Mt
22,36-40), inclusive como nobre forma para a prática desse preceito, porque comporta amor
proativo-ativo, conforme o texto/ensaio abaixo nomeado2, portanto com simultaneidade de
prevenção e ação, mas sem nenhuma espécie de assistencialismo, como ponderado nos
próximos (sub)itens 5.2, 9 e 10.3. Ademais, outra análise de compatibilidade, cujo
texto/ensaio é também abaixo intitulado3, mostra que a Proposta em questão se sintoniza
integralmente com a ATUALIZADA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA em matéria de
desenvolvimento.
E quanto à ótica metodológica, além das duas compatibilidades supramencionadas, o
Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL) requer indispensável envolvimento de todas as
forças sociais, interna e externamente operantes no território de implementação, para a
formativa e endogeneizadora capilarização da progressiva cultura coparticipativo-
emancipatória do autodesenvolvimento nas dimensões tanto pessoais quanto comunitárias de
seus habitantes.
E sabidamente a ação da Igreja já é ou pode tornar-se uma dentre as mais privilegiadas
forças nesse sentido. Sua voz é ouvida urbana e ruralmente, assim como respeitada por
lideranças e bases populacionais.
2. EM QUE CONSISTE ESTA PROPOSTA DE PASTORAL?
Em fomento a que as paróquias (entendidas nos termos da Primeira Exortação Apostólica
Evangelii Gaudium-EG, n. 28, do Papa Francisco) motivem e ativem, em concretas e
interessadas comunidades de seus territórios, a implementação do Desenvolvimento
Comunitário-Local (DCL) enquanto formativo e transformativo processo de comunitarização solidária para coparticipativo e integral autodesenvolvimento.
Trata-se, pois, de fomento processual destinado aos âmbitos paroquiais, que implica
investimento formativo e esforço transformativo a serem: por um lado, dinamizados
segundo as lógicas conceituais e metodológicas básicas do Desenvolvimento Local (DL)
Endógeno-Emancipatório (sumariadas neste Texto-Síntese e explicitadas por outras
publicações4); e, por outro, configurados tanto como prática preceitual dos dois principais
mandamentos (amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, Mt 22, 36-40),
quanto do alicerçamento da Fé pelas Obras (Tg 2, 14-17), em consonância com a Doutrina Social
da Igreja para o desenvolvimento integral, atualizada pela encíclica Caritas in Veritate,
2 Notas sobre a Proposta de Pastoral para Formação em Desenvolvimento Comunitário-Local Endógeno-
Emancipatório e Ênfases Bíblicas à Sabedoria e ao Amor a Deus pelo Amor do Próximo, 2013a, disponível
pelo Blog http://www.desenvolvimentolocalvfa.com.br/.
3 Apontamentos sobre a Proposta de Pastoral para Formação em Desenvolvimento Comunitário-Local
Endógeno-Emancipatório e Atualizada Doutrina Social da Igreja sobre Desenvolvimento, 2013b, igualmente
disponível pelo Blog. 4 A maioria dos próximos enfoques reprisa abordagens originais constantes de outros livros, artigos e materiais,
inclusive os elencados no final deste texto, reiterando que suas cópias PDF são livremente acessáveis pelo referido
Blog.
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conforme os textos aludidos pelas notas de rodapé 2 e 3, como também pela recente Evangelii
Gaudium (EG) de 26/11/2013, sobretudo em seus Capítulos 2 e 4, este explicitando tal
atualidade na seção “A doutrina da Igreja sobre as questões sociais”, compreendida entre os nºs
182 e 185.
Também importa frisar que o Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL) assim
implementado lastreará as respectivas comunidades para progressivamente encamparem e de fato
comunitarizarem iniciativas que lhes sejam disponibilizadas pelas demais pastorais
sociocomunitárias específicas, como as referentes a criança, juventude, idoso, saúde, educação,
assistência social, emprego, renda, lazer, habitação, liturgia, família, etc.
Ademais, esta Proposta também vem de encontro ao que o Papa Francisco já enfatizara
em sua estada no Rio de Janeiro, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em julho de
2013, sobre a necessidade da SOLIDARIEDADE5, ativada pela PROXIMIDADE,
VIZINHANÇA ou “CERCANIA” da Igreja junto às populações, sobretudo para a solução dos
problemas e penúrias das comunidades periféricas.
Também pelo fato de a Proposta se destinar ao autodesenvolvimento de comunidades-
localidades especificamente definidas e inteiras (portanto, liderada por católicos, mas
envolvendo e/ou visando todas as pessoas de cada comunidade-localidade em que seja adotada,
independentemente das respectivas opções religiosas), também se converge para o que o Papa
Francisco destacou: a) em relação à urgência da formação de UMA CULTURA DO
ENCONTRO6 de todas as confissões religiosas e quaisquer outros interessados, visando ao
coparticipativo esforço de solução das carências humanas; b) e no sentido de que a Igreja se
dedique a tais iniciativas sem se curvar às tentações da IDEOLOGIZAÇÃO DA MENSAGEM
EVANGÉLICA, do FUNCIONALISMO e do CLERICALISMO7.
Sobre a mencionada questão da IDEOLOGIZAÇÃO e esta Proposta de Pastoral,
reitera-se que o delineamento conceitual e metodológico do Desenvolvimento Local foi estudado
e sistematizado ao longo de doze anos (de out./1998 a jul./2010) no Mestrado da UCDB. Assim,
a cada turma de novos mestrandos repetiam-se indagações sobre sua configuração ideológica,
principalmente em relação a capitalismo liberal e socialismo marxista, o que me motivou à
sistematização dos concernentes esclarecimentos pelo artigo “Paciência”, capitalismo,
socialismo e desenvolvimento local endógeno (ÁVILA, 2008).
Percebe-se, por ele, que as performances conceitual e operacional do Desenvolvimento
Local (DL) ou Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL) -já que não há diferença substantiva
entre estas duas denominações segundo o próximo item 3- não se coaduna nem com a ideologia
do capitalismo liberal, nem com a do socialismo marxista e, apesar da aparente paradoxalidade,
pela mesma razão basilar.
Ou seja, a fundamental e essencializadora propriedade do Desenvolvimento Local (DL)
ou Comunitário-Local (DCL) consiste no formativo e transformativo processo da contínua
comunitarização endogeneizadora de capacidades, competências e habilidades para o
desabrochamento do solidário e coparticipativo autodesenvolvimento pessoal-comunitário,
5 Fonte: Discurso na favela Varginha do Rio de Janeiro, em 25/07/2013 - http://estadao.br.msn.com/ultimas-
noticias/story-papa.aspx?cp-documentid=259254903 , acesso em 29/07/13.
6 Fonte: Entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, em 25/07/13, exibida pelo Fantástico de 28-07-13 da Rede Globo
- http://g1.globo.com/platb/blog-do-camarotti/2013/07/29/leia-a-entrevista-exclusiva-do-papa-francisco/ , acesso em
29/07/13.
7 Fonte: Pronunciamento ao Comitê de Coordenação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), reunido
em 28/07/13 no Rio de Janeiro - http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/story-papa.aspx?cp-
documentid=259301216 - acesso em 29/07/13.
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mediante ajudas externas, mas sem delas criar dependência e subjugo. Todavia, nem o
capitalismo liberal e nem o socialismo marxista admitem tal propriedade.
De um lado, o capitalismo ao mesmo tempo causa e até reconhece o fenômeno
comunitário carente, pobre, periférico, etc., como objeto do assistencialismo desenvolvimentista,
porém, nunca capaz de se motivar, capacitar, organizar e mobilizar para se tornar sujeito de seus
próprios rumos e meios de desenvolvimento em dimensão local-comunitária.
Do outro, o socialismo marxista nem mesmo admite ou permite a existência dos
fenômenos verdadeiramente comunitários e de comunitarização, na linha da propriedade atrás
mencionada, dado que sua utopia ideológica final é a da global coletivização comunista,
conduzida e controlada pelo Estado como máximo superego societário.
Então, ao invés de comunitarização de pessoas com valores intrínsecos, inclusive quanto
à capacidade de se agregarem solidariamente em função do bem comum já nesse horizonte de
microterritorialidade, o que o socialismo marxista prega é a compulsória entrega, voluntária ou
por coação, de indivíduos humanos à coletivização em nível de povo e país, sob o incondicional
comando do Estado socialista, cuja experiência histórica o testemunha de fato ideológica e
operacionalmente incorporado pelo dirigismo de seus expoentes máximos.
Estes, detendo as arbitrárias funções: de a todos comandar com mão de ferro rumo à
utópica-comunista perfeição vivencial e relacional da sociedade operário-proletária de massa; de
deliberar as formas e os meios de como assim agir, com base implícita ou explícita na ditatorial
lógica de que o fim justifica os meios; de os impor aos indivíduos encurralados no estatal
processo de coletivização -rumo à mencionada utopia global- sob regime de fechamento cultural
e inquestionável submissão; bem como de proibir e punir qualquer tipo de autônomas reuniões,
agremiações ou solidarizações de bases populacionais não submissas aos comandos superiores.
Em suma, para se galgar ao comunismo, a metodologia historicamente encampada pelo
socialismo marxista exalta a coletivização, mas veta e oprime qualquer possibilidade de
comunitarização: trata-se, pois, de coletivização pura. Mas, na do DCL se dá exatamente o
contrário, pelo fato de que sua ocorrência é de essencial indispensabilidade. Neste, a
coletivização decorre e se nutre de contínua e processual comunitarização no território de sua
implementação. Portanto, no DCL nunca haverá coletivização pura, como no caso do socialismo
marxista. Há, sim, coletivização comunitarizada por cultivados laços básicos de empatia,
entendimento e solidariedade em busca de soluções e respectivos meios de se desenvolver.
No que se refere a FUNCIONALISMO e CLERICALISMO, reitera-se que a formação e
o encaminhamento para o DCL, de acordo com a Proposta em tela, se configuram como
permanente processo de comunitarização enfaticamente endógeno-emancipatório justo para essa
finalidade, conforme breves alusões anteriores e detalhadas explicitações à frente, principalmente
ao longo de todo o item 11 e seguintes.
Nessa linha, o maior e mais importante resultado que se espera deste processo é o de que
cada comunidade, pela interação somativo-coparticipativa das pessoas que a integrem, bem
como na condição de sujeito (e não de mero objeto, como tem sido a praxe), se torne
continuamente capaz, competente e hábil de assumir, diagnosticar e gerenciar os rumos e meios
operacionais de seu autodesenvolvimento, nas simultâneas dimensões pessoais e comunitárias.
Mas, até começar a conseguir emancipação lógica, técnica e operacional para prospectar
e conduzir sua própria processualística de desenvolvimento, a comunidade precisará de externas
assistências, sem jamais confundir assistência com assistencialismo (cf. 5.2, 9 e 10.3). Neste
caso, o foco é o da assistência da Igreja em combinação com as de outras agências e agentes que
se adequarem a esta linha de trabalho.
Em verdade, todas as comunidades que optarem pelo Desenvolvimento
Comunitário-Local (DCL) continuarão sempre precisando de assistências externas, nunca de
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assistencialismos. Isso, porque à medida que forem evoluindo seus estágios de
autodesenvolvimento também e proporcionalmente se ampliarão e intensificarão as
complexidades e sofisticações típicas das novas opções e diferenciadas maneiras de continuarem
em dinâmico processo de sadio desenvolvimento.
No entanto, as assistências que sucessivamente se impregnarem no âmago de cada
comunidade (ou que nela se endogeneizarem) vão possibilitando progressivo lastreamento à
autocapacitação comunitária no sentido de que elas próprias (assistências) gerem (ou se
transformem paulatinamente em) multilaterais intercâmbios, parcerias, negociações e várias
outras formas de relacionamento social, cultural, econômico, técnico, científico e assim por
diante.
Portanto, em relação aos FUNCIONALISMO e CLERICALISMO aludidos pelo Papa
Francisco, esta Proposta de Pastoral, por um lado, não comporta nenhum cultivo de
dependência, tanto do pragmatismo de resultados quanto do paternalismo ou dirigismo clerical.
Mas, por outro, deve contar com as lideranças eclesiástico-hierárquicas, inclusive a imediata de
cada pároco nas comunidades sob sua jurisdição, para a iniciativa de sua implementação na
perspectiva do acima referido desenvolvimento integral (cf. ÁVILA, 2013b), também bíblica e
pastoralmente operacionalizado como amor de Deus pelo amor do próximo (cf. ÁVILA, 2013a).
E, retomando a Evangelii Gaudium (EG), convém reafirmar a total concordância desta
Proposta de Pastoral com todas as suas ponderações e orientações eclesiais a respeito da
evangelização por interatividades pessoais e meio-ambientais. Neste sentido, e pelo fato de essa
concordância se estender (no que lhe diz respeito) por toda a EG, eis algumas exemplificativas
passagens de sua explícita confirmação:
O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza
individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. [...] (EG-2).
E qualquer comunidade da Igreja, na medida em que pretender subsistir tranquila sem se ocupar
criativamente nem cooperar de forma eficaz para que os pobres vivam com dignidade e haja a inclusão
de todos, correrá também o risco da sua dissolução, mesmo que fale de temas sociais ou critique os
Governos. [...] (EG-207).
[...] Embora «a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política», a Igreja «não pode
nem deve ficar à margem na luta pela justiça». Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados
a preocupar-se com a construção dum mundo melhor. É disto mesmo que se trata, pois o pensamento
social da Igreja é primariamente positivo e construtivo, orienta uma ação transformadora e, neste
sentido, não deixa de ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo. [...]
(EG-183).
[...] O Evangelho convida, antes de tudo, a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-O nos
outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos. [...] (EG-39).
O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o
desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A
ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma
comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais [...]. (EG-67).
Esta salvação, que Deus realiza e a Igreja jubilosamente anuncia, é para todos, e Deus criou um
caminho para Se unir a cada um dos seres humanos de todos os tempos. Escolheu convocá-los como
povo, e não como seres isolados. Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem
por suas próprias forças. Deus atrai-nos, no respeito da complexa trama de relações interpessoais que a
vida numa comunidade humana supõe. (EG-113).
[...] não basta a preocupação do evangelizador por chegar a cada pessoa, mas o Evangelho também se
anuncia às culturas no seu conjunto, a teologia – e não só a teologia pastoral – em diálogo com outras
ciências e experiências humanas tem grande importância para pensar como fazer chegar a proposta do
Evangelho à variedade dos contextos culturais e dos destinatários [...] (EG-133).
10
[...] Sabemos que «a evangelização não seria completa, se ela não tomasse em consideração a
interpelação recíproca que se fazem constantemente o Evangelho e a vida concreta, pessoal e social,
dos homens» [...] (EG-181).
Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à
plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas «para nosso usufruto» (1 Tm 6, 17), para
que todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever «especialmente tudo o que diz
respeito à ordem social e consecução do bem comum». (EG-188).
[...] Precisamos de crescer numa solidariedade que «permita a todos os povos tornarem-se artífices do
seu destino», tal como «cada homem é chamado a desenvolver-se».[...] (EG-190).
E assim por diante, aquém e além das mencionadas passagens.
Ademais, reitera-se a menção, já feita no segundo parágrafo deste item, de que a
Evangelii Gaudium destaca dois capítulos de orientações específicas e minudentes à Igreja, em
relação ao foco temático da Proposta de Pastoral em questão: o Capítulo II (NA CRISE DO
COMPROMISSO COMUNITÁRIO), do nº 50 ao 109, e o Capítulo IV (A DIMENSÃO
SOCIAL DA EVANGELIZAÇÃO), do nº 176 ao 258.
Aliás, dentre as dez passagens acima transcritas, seis fazem parte desses dois Capítulos.
Portanto, ambos merecem especial atenção, mas sempre à luz e no contexto da dinâmica
evangelizadora como central alvo de toda a Exortação Apostólica.
3. HÁ DIFERENÇA ENTRE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)
E DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO?
Só varia a forma linguística, sem nenhuma diferenciação de conteúdo, ou seja, na
primeira apenas se explicita o termo comunitário, já essencialmente subsistente na realidade
fenomenológica da segunda. Isto, porque a atual e plena significação geográfico-territorial de
local se refere ao horizonte delimitativo das dimensões tanto geofísicas quanto fenomenológico-
relacionais de determinada territorialidade.
E territorialidade, por sua vez, se constitui de todos os explícitos, implícitos, materiais e
imateriais fenômenos, fatos, potenciais e potencialidades abrangidos pelo acima referido
horizonte, dentre os quais se destacando as existências e capacidades interacionais de dois
macropolos básicos para que se possa implementar desenvolvimento, o humano-
sociocomunitário e o ambiental-ecossistêmico.
Doravante, portanto, toda vez que aparecer a expressão Desenvolvimento Local (DL) já
estará significando substancial e automaticamente Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL),
e vice-versa.
4. POR QUE MOTIVOS HISTÓRICOS SURGIU O DESENVOLVIMENTO LOCAL
(DL) À MODA EUROPEIA?
O Desenvolvimento Local surgiu nos anos 1980 como estratégia de nivelamento
socioeconômico -de baixo para cima- das bases populacionais carentes dos países pretendentes à
participação na formação da hoje União Europeia.
E os principais acontecimentos históricos de desnivelamento social e econômico, nos
países europeus por aquela época, decorreram de:
4.1. Desmantelamento dos impérios coloniais europeus
As consequências desse desmantelamento na Europa pós-Segunda Guerra Mundial, em
relação principalmente à África e parte da Ásia, consistiram sobretudo em repatriamentos de
11
cidadãos metropolitanos instalados nas ex-colônias, bem como de acerto ou acomodação das
situações de ex-colonizados, com dupla cidadania ou simplesmente migrados para as respectivas
ex-metrópoles europeias.
E os principais motivos para tanto foram, e ainda continuam sendo até por gravíssima
clandestinidade emigratória, a facilidade linguística, o conhecimento dos hábitos de vivência,
assim como a busca de trabalho, estudo e realização de sonhos metropolitanos secularmente
sufocados pelo avassalador domínio tanto do passado colonizador quanto das atuais situações de
pobreza e ditatorial desumanização de muitas populações das ex-colônias.
4.2. Implosão do regime socialista na ex-União Soviética
Por um lado, essa implosão permitiu a mobilidade demográfica, também reprimida por
mais de sete décadas, e, por outro, transformou os chamados países desenvolvidos da Europa em
verdadeiros centros de atração para efeito de melhor emprego e renda, já que a aspiração e o
acesso a esse tipo de possibilidade também eram inviáveis no seio das próprias nações
incorporadas pelo regime soviético.
4.3. Periferização herdada da Segunda Guerra Mundial
As consequências dos anteriores dois acontecimentos se somaram às já herdadas da
periferização de rescaldos migratórios da Segunda Guerra Mundial, pelas hordas de operários
deslocados ou migrados -até o final dos anos 1960- da Itália, de Portugal, da Espanha, do Egito e
de vários outros rincões com mão de obra disponível em direção à reconstrução das regiões
economicamente mais fortes do noroeste europeu.
5. TRÊS QUESTÕES DE FUNDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO
PLANETA, FOCADAS EM DUAS ÓTICAS: NEOLIBERAL (1ª e 2ª) e ENDÓGENO-
EMANCIPATÓRIA (3ª) [Cf. Livro Cultura de sub/desenvolvimento e desenvolvimento
local, p. 57-61]:
5.1. A da relação dos países desenvolvidos com
suas próprias periferias, carências e pobrezas
Neste tipo de relação, o Desenvolvimento Local se reduz a canal de extensão das
prerrogativas básicas do desenvolvimento, já reinante em alta performance material, científica e
tecnológica nas zonas desenvolvidas, aos bolsões periféricos de comunidades carentes ou pobres
de determinado país já convencionalmente consagrado como desenvolvido.
Mas, trata-se de relação que não pressupõe alterações nas maneiras de convivência das
comunidades-localidades envolvidas com os opressores paradigmas de desenvolvimento em
curso nos seus próprios países: aliás, mudá-los para que, se são eles que, nacional e
internacionalmente, mantêm e alimentam a hegemônica performance de todos os hoje ditos
países desenvolvidos?
5.2. A da atual relação de dependência e subjugo do
mundo subdensenvolvido ao mundo desenvolvido
Como o mundo desenvolvido vê e trata o mundo subdesenvolvido, o Desenvolvimento
Local neste prisma, além de não pressupor alterações nas maneiras de relacionamento com os
atuais e opressores paradigmas de desenvolvimento, trará benefícios às comunidades-localidades
em que for implementado, mas apenas como lenitivo socioeconômico. Isto é, sem jamais criar
perspectivas de elas e o país que as integre se emanciparem do fatídico movimento implosivo da
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cultura da pobreza a que se refere o antropólogo Oscar Lewis ao analisar comunidades carentes
de Porto Rico e do México (apud ÁVILA, 2006a, p. 18). Isso, em razão de que (id., p. 37-52) a
cultura do sub/desenvolvimento deságua inexoravelmente na cultura da pobreza, que, por sua
vez, se concretiza e alimenta pela cultura da dependência ao subjugo externo.
E mesmo que se intencione o contrário, o pretenso Desenvolvimento Local nunca
ultrapassaria as fronteiras do assistencialismo, como na estória do oleiro que, ao receber
reclamações de que todos os seus potes trincavam logo nos primeiros dias de uso, engendrou a
fabricação também de resina para vedação das trincas dos potes que vendia. Assim, passou a
vender não só potes trincáveis, como também a correspondente resina de vedação, ao invés de
resolver o problema das trincas no próprio processo de fabricação dos potes (ÁVILA, 2006a, p.
75-77).
Por isso, o Desenvolvimento Local tem sido pensado também nesta ótica neoliberal (da
mesma forma que na primeira) como coisa só de comunidades periféricas, pobres ou carentes. E
não como processo para qualquer comunidade-localidade, caracterizada como bem definida e
com tudo o que abranja (de núcleo, periferia, pobreza e riqueza), que se preste não só a se
desenvolver como também a aprimorar seu processo de desenvolvimento, se já iniciado: “AFINAL
DE CONTAS E SOCIOCULTURALMENTE FALANDO, QUANDO E ONDE RIQUEZA SE TORNOU SINÔNIMO
DE DESENVOLVIMENTO E RICO DE DESENVOLVIDO?” (ÁVILA, 2006a, p. 60).
Se assim fosse, a questão cultural e socioeconômica da pobreza no mundo estaria em
permanente prioridade de solução, justamente a partir de todos os ricos do planeta e em termos
de hemisférios, continentes, países, comunidades e pessoas, e não o inverso como ocorre.
5.3. A da relação do mundo subdesenvolvido com suas próprias
chances de efetiva e emancipadamente se desenvolver
Trata-se de conquista e impregnação de cultura, capacidade, competência e habilidades
de autodesenvolvimento em comunidades-localidades concretas, e bem definidas, que as tornem
aptas a romper as amarras tanto internas quanto externas que as prendem ao
subdesenvolvimento.
Esta terceira ótica endógeno-emancipatória pressupõe, sim, alterações nas maneiras de as
comunidades-localidades envolvidas (e, por somatória, o próprio país que as integre) se
relacionarem, na condição de sujeitos e não meros objetos, com os alienígenas paradigmas de
desenvolvimento globalizante em curso, despencados em avalanche pelo mundo desenvolvido
sobre o mundo subdesenvolvido.
Nesta terceira ótica, o DL ou DCL é tarefa árdua, pacienciosa e implica perseverança por
parte tanto da própria comunidade, quanto dos Agentes Externos que se disponham a subsidiar e
acompanhar o trabalho comunitário-local na verdadeira condição de Pedagogos
Sociocomunitários, como tratados à frente em 12.1.2.
6. UMA QUESTÃO DE FUNDO PARA O DL ou DCL EM REALIDADES
BRASILEIRAS E SIMILARES (Kujawski, 1991, p. 203-204):
O princípio responsável pela crise não está na economia, mas na vida e na História do homem brasileiro contemporâneo: está na perplexidade hamletiana de não saber o que fazer. A desordem
política e a subversão moral não passam de desdobramento dessa mesma perplexidade vital: não
saber o que fazer. Eis aí por que vamos tão mal. Não por culpa da economia, da política ou da moralidade, e sim porque estamos em crise, perplexos e faltos de rumos em nossa vida mesma,
em nossa capacidade de projeção na História. Tão faltos de rumos, que alguns já não querem
andar, desconhecendo a sábia lição do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho. O caminho se faz ao caminhar”.
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7. POR QUE DISTINGUIR QUE NÃO É DO QUE É DESENVOLVIMENTO LOCAL
(DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO?
Porque a maioria das pessoas pelo mundo acha que quaisquer benfeitorias, melhorias ou
investimentos desenvolvimentistas feitos localizadamente (ou seja, numa região, num município,
num distrito, num bairro, numa determinada comunidade, etc.) já podem ser chamados de
Desenvolvimento Local. Mas, a seguir veremos que não é verdade.
Por isso, adoto a didática de tratar dessa questão por exclusão, ou seja, primeiro mostrar
que Desenvolvimento Local (DL) NÃO É nem Desenvolvimento No Local (DnL) e nem
Desenvolvimento PARA O Local (DpL) e só depois focar o que de fato É
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) endógeno-emancipatório. Esta didática facilita a
compreensão do efetivo DL por qualquer pessoa.
8. POR QUE DESENVOLVIMENTO NO LOCAL (DnL) NÃO É DESENVOLVIMENTO
LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)?
Desenvolvimento No Local (DnL) se refere a empreendimento ou iniciativa de
desenvolvimento, por gerar emprego, expectativa de arrecadação de impostos e circulação de
bens e dinheiro, mas que, em verdade, APENAS TEM O LOCAL COMO SEDE FÍSICA. Só fica no local
enquanto o lucro compensa. No momento em que a lucratividade baixa: ou quebra,
empresarialmente falando, ou vai embora, deixando à comunidade-localidade seus destroços-
fantasmas, por vezes muitos e graves problemas ambientais, assim como -e principalmente-
enorme frustração na população.
O modelo brasileiro de implantação tanto dos polos, parques ou distritos industriais
quanto de indústrias isoladas, a partir da década de 1940, vem fazendo com que até populações
dos centros mais avançados do país, como as principais capitais, hoje paguem muito caro por
esse tipo de desenvolvimento em termos de água, ar, saúde, transporte, atmosfera, clima, etc.,
como todos sabemos.
Mas, DnL deve ser evitado, banido? Nem sempre. Por vezes é necessário para que se
criem bases infraestruturais e econômicas para o Desenvolvimento Local propriamente dito, de
caráter endógeno-emancipatório. Todavia, a comunidade-localidade precisa estar bem
consciente: primeiro, de que ele de fato APENAS SE SITUA NO LOCAL, ou seja, está aqui hoje
podendo amanhã deslocar-se para a Índia, China ou qualquer outra região (deixando seus
funestos rastros para a localidade), como já ocorre muito com empresas dos países desenvolvidos
que migram de um país a outro pelo baixo custo de matérias-primas e abundância de mão de
obra barata; segundo, que, justo por APENAS SE SITUAR NO LOCAL, a geração de benefícios à
comunidade-localidade (além do que se compra, vende ou contrata) se apresenta aos investidores
tão somente como questão secundária, até descartável frente a outros interesses mais atrativos.
É muito comum o equívoco de se pensar que inclusive sadias e necessárias iniciativas de
desenvolvimento infraestrutural (por exemplo: oferta de energia, telefone, água de boa
qualidade, esgoto, serviços de saúde, escolas, opções culturais, locais de lazer, asfalto,
canalizações, etc.) já signifiquem de per si Desenvolvimento Local, só porque implementadas ou
implementáveis por agentes externos em localidades definidas. São iniciativas que também
podem se caracterizar como DnL e por vezes até DpL, este tratado no próximo item 9.
Ou seja, mesmo se constituindo iniciativas necessárias e sadias quando corretamente
realizadas, se implementadas de maneira inadequada podem até gerar graves problemas ao
Desenvolvimento Local, como o da exagerada valorização imobiliária com expulsões
compulsórias, ou lucrativamente motivadas, dos habitantes de suas áreas ou residências,
produzindo efeito multiplicador de novas áreas de problemas, quase sempre piores que as
anteriormente existentes nas localidades por eles deixadas.
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9. POR QUE SÓ DESENVOLVIMENTO PARA O LOCAL (DpL) TAMBÉM NÃO É
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)?
O DpL se refere a desenvolvimento que, além de também se situar no local como sede
física, gera atividades e efeitos benéficos às comunidades e ao ecossistemas locais, mas à
maneira bumerangue: brota como iniciativa de instâncias promotoras, vai aos locais-
comunidades, mas volta às instâncias promotoras em termos de consecução mais de suas
próprias finalidades institucionais que do real, endógeno e permanente desenvolvimento das
comunidades-localidades visadas.
Trata-se, pois, de processo que se caracteriza como assistencialismo e não assistência
propriamente dita, fenômenos estes radicalmente antagônicos como se pode constatar pelos
teores dos subitens 5.3 e principalmente 10.3.
Isso quer dizer que, de diferenciadas maneiras (porém, com iguais resultâncias), a grande
maioria das instituições promotoras do DpL alimenta o que se pode chamar de parasitismo de
mão-dupla, inclusive existencial. Ou seja, tanto elas quanto as comunidades-localidades
beneficiadas acabam se tornando reféns desse tipo de assistencialismo: as comunidades
assitencializadas (e não assistidas, conforme o subitem 10.3) por restarem sem o costumeiro
protecionismo e as instituições assitencializadoras porque poderão até perder a própria razão de
existir no caso do rompimento desse vicioso círculo assistencialista.
Isto relembra a estória dos potes trincáveis e respectivas resinas de vedação lá do subitem
5.2-§2º: para que uma elite se privilegie, a sociedade institui mecanismos socioeconômicos que
geram carências, pobrezas e misérias, pois o que injustamente excede para uns reflete no fosso
do que falta para a maioria. Mas, se as carências, pobrezas e misérias epidemicamente tomarem
conta de tudo, o desastre será total para todos. Então, a própria sociedade também cria os
mecanismos assistencialistas, como resina entorpecente de minimização do desiquilibrado-
equilíbrio da balança socioeconômica das bases populacionais.
Em esmagadora maioria, os programas, projetos e atividades desenvolvimentistas
realizados ou propostos (com explícitos ou implícitos objetivos de melhorias de comunidades-
localidades) por organismos e entidades internacionais e nacionais, públicos e privados têm-se
conotado como de Desenvolvimento PARA O Local (DpL), da mesma forma que os de caráter
político-eleitoral, assistencialista, promocionalista e filantrópico, de modo geral, pensados e
postos em prática por entidades/pessoas ora interesseiras, ora simplesmente abnegadas e ora até
especializadas em assistência/promoção humano-ambiental de cunho assistencialista.
Mas, nem sempre tais planos, programas, projetos e/ou atividades deixam positivos e
duradouros rastros quando encerrada a atuação das pessoas/agências que os idealizam,
patrocinam, promovem ou operacionalizam, mesmo quando de boa fé.
10. TRÊS PRESSUPOSTOS PARA BEM ENTENDER A AUTENTICIDADE DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)
10.1. Até etimologicamente o termo desenvolvimento implica cultura e posturas que
não apenas condições socioeconômicas: [Lat. des = tirar, inverter Port.] + [Gr. en =
in latino = em, no, dentro de em Port.] + [Lat. volvere = voltar-se em Português] + [O
sufixo mento, do latino mentu, que completa a formação do substantivo indicativo de
ação] => [DES+EN+VOLV(I)+MENTO].
Consiste, pois, em inverter a ação de se volver para dentro ou se interagir na direção
oposta à do fechamento para dentro: é processo de se abrir para fora de modo
interativo, enriquecedor e contaminativo (ÁVILA et al., 2001, p. 19-25).
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10.2. O alvo central do Desenvolvimento Local é o ser humano:
[...] como artesão do seu êxito ou fracasso, pois se requer que cada um, ao se tornar
responsável pelo seu próprio progresso, de toda ordem e em todas as direções, influencie o seu
entorno como fonte irradiadora de mudanças, de evolução cultural, de dinamização tecnológica e de equilibração meio-ambiental. Portanto, não se obtém desenvolvimento sem
que se visualize o homem, à luz da hierarquia de valores, em sua integridade como pessoa
humana, membro construtivo de sua comunidade e agente de equilíbrio em seu meio geofísico (id., p. 23).
10.3. Distinguir radicalmente ASSISTÊNCIA (social, técnica, tecnológica, científica,
cultural, sanitária, etc.), na condição de MOTOR-DE-ARRANQUE do Desenvolvimento
Comunitário-Local, lá onde e para tanto ela se torne necessária como ponto-de-
partida, de ASSISTENCIALISMO como CRIME (também de natureza social, técnica,
tecnológica, científica, cultural, sanitária, etc.), porque inibidor, degenerador e
assassino de iniciativas pessoais e comunitárias em perspectivas de curto, médio e
longo prazos.
11. AGORA: QUE É DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL
(DCL) ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO?
Invertendo a ordem dos componentes deste título, convém tratar primeiro do significado
da expressão endógeno-emancipatório para, em seguida, passar à abordagem tanto
exemplificativa geral quanto focada no essencial núcleo conceitual do autêntico
Desenvolvimento Local (DL) ou Comunitário-Local (DCL). Então:
11.1. Que significam Endógeno e Emancipatório?
O adjetivo endógeno expressa que o autêntico Desenvolvimento Local (DL) ou
Comunitário-Local (DCL) é gerado, isto é, se origina de dentro da própria comunidade a que se
refira (endo = dentro de; geno = de gênese, de origem). E emancipatório8 vem do verbo
emancipar ou romper dependência, livrar-se de amarras e similares.
Portanto, trata-se de desenvolvimento que se origina de dentro para fora da própria
comunidade em que esteja acontecendo, a fim de que ela de fato se libere inclusive de seu
pessimismo, de sua dependência de assistencialismos, de suas apatias e falta de iniciativas, etc., e
conquiste autoestima, autoconfiança, capacidades, competências e habilidades de se desenvolver,
tornando-se progressivamente sujeito (e não mero objeto) de seu próprio desenvolvimento.
Trata-se de desenvolvimento que parte da inteligência, do coração, da vontade, do esforço
e das iniciativas de pessoas que se comunitarizam (se conscientizam, se organizam, se
capacitam, se mobilizam e ativamente se coparticipam para tal), evidentemente com ajudas de
fora, mas nunca se tornando reféns da passiva esperança e apática dependência de que o
desenvolvimento lhe caia de cima para baixo ou lhe seja empurrado de fora para dentro. É
questão de formação, transformação e massa cinzenta (cf. parágrafos 5º ao 9º do item 1).
8 (Fonte) Gabriel Perissé: “Na antiguidade romana, um senhor podia emancipare (libertar) um escravo. A palavra
era composta pelo prefixo ex (indicando a ideia de „saída‟ ou de „retirada‟), pelo substantivo manus („mão‟,
simbolizando poder) e pelo verbo capere („agarrar‟, „pegar‟). Emancipar é „retirar a mão que agarra‟, é abrir mão
do poder sobre alguém. E emancipar-se será, portanto, dizer a quem nos oprime: „tire a sua mão de cima de mim!‟”.
(http://palavraseorigens.blogspot.com.br/2012/04/tire-mao-da-minha-emancipacao.html - postado em 19/04/12
e acessado em 07/10/13).
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Na verdade, depois destes esclarecimentos e dos significados tanto de DnL (item 8)
quanto de DpL (item 9), nem mais é preciso repetir a expressão endógeno-emancipatório em
relação a Desenvolvimento Local ou Desenvolvimento Comunitário-Local.
Por quê? Porque, nunca haverá verdadeiro Desenvolvimento Local ou Comunitário-Local
sem essas duas propriedades. Relembrando, a primeira, relacionada com sua gênese, é a de que
essa modalidade de desenvolvimento se origine de dentro para fora da comunidade que o adote;
e a segunda, referente à sua mais importante e nobre finalidade, consiste em que pelo
Desenvolvimento Local ou Comunitário-Local essa mesma comunidade se emancipe da passiva
dependência de assistencialismos, protecionismos, intervencionismos ou até exploracionismos
externos e (reenfatizando) se torne sujeito do seu próprio desenvolvimento.
Em verdade, estas duas propriedades constituem a essencial razão de ser do autêntico
Desenvolvimento Local (DL). Portanto, sem elas, quaisquer iniciativas e investimentos
desenvolvimentistas destinados a não importa que comunidade-localidade se reduzirão a meros
Desenvolvimento NO Local (DnL) e Desenvolvimento PARA O Local (DpL), como frisado nos
anteriores itens 8 e 9, bem como de possíveis explorações ora apenas socioeconômicas e ora até
mesmo colonialistas de determinadas localidades por agências e agentes externos.
11.2. Abordagem de Exemplificação Geral e Foco no Núcleo Conceitual
do Desenvolvimento Local (DL) ou Comunitário-Local (DCL)
Revendo o que já escrevi em relação a este subtítulo, pareceu-me que a abordagem
mais apropriada ao contexto desta Proposta de Pastoral é a que consta do artigo destinado a
todo o imenso público da vasta área educacional (ÁVILA, 2012, p. 29-35). Portanto, a transcrevo
do próximo parágrafo até o final deste item 11, apenas mudando o tipo de fonte (mas, sem os
demais recuos e diminuição de caracteres usuais em citações longas) para facilitar -a quem
interesse- a leitura e a identificação visual das páginas transcritas.
Eis, então, a transcrição da referida abordagem:
Inicialmente se observa que doravante não mais será acoplado à expressão
Desenvolvimento Local o destaque qualificativo ENDÓGENO-EMANCIPATÓRIO, porque
[como visto anteriormente] tais propriedades são essencialmente inerentes, em termos
de amplitude e profundidade, às dimensões teórico-conceituais e teórico-
operacionais do Desenvolvimento Local como vem sendo focado [...].
Mas já entrando no mérito do supramencionado título, uma forma de tornar
essa lógica bem inteligível é a de tratá-la por rápida comparação com o cultivo de
determinada árvore frutífera (ou comunidade-localidade em relação a processo de
DL), de boa família genética, mas plantada em terreno acentuadamente arenoso.
Ou seja, certo lavrador, que já tinha ouvido falar sobre a importância dos
frutos da aludida árvore, foi trabalhar numa fazenda e de imediato se deparou com
algumas delas já adultas, outras em formação e ainda outras nascendo. Então, disse
ao guia da fazenda que havia já pensado e decidido cultivá-las melhor para que
produzissem fartas colheitas de frutos grandes e sadios, ao invés dos raquíticos
que ali acabara de ver. Mas o guia, há anos empregado da fazenda, lhe retrucou,
pessimistamente, que aquelas árvores nunca vingavam naquela terra: cresciam, por
vezes ficavam viçosas e só produziam –quando produziam- frutos raquíticos até
murcharem e morrerem.
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Todavia, o lavrador recém-chegado lhe afiançou que isso não mais ocorreria,
porque a tudo que essas árvores já recebessem da natureza ele acrescentaria
intensas adubação, irrigação e pulverização. De fato, por alguns anos seguidos
regularmente as adubou, irrigou e pulverizou. Mesmo assim, começou a observar que
essas árvores até viviam um pouco mais que as de tempos anteriores, mas seus
frutos continuavam raquíticos, ácidos e pouco aproveitáveis. No entanto, e ao
contrário de se desanimar, o interessado lavrador, agora comprovadamente ciente
de que o problema não se reduzia à falta de adubação, irrigação e pulverização
(além de todas as demais condições que a própria natureza mais ou menos
prodigamente propiciava às árvores), quis saber sobre a principal causa desse
insucesso.
Passou a investigar e logo lhe ocorreu o eureka = caiu(-lhe)-a-ficha.
Descobriu que havia uma questão simples e óbvia, lá nas extensões e profundezas
das raízes, que punha a perder senão todos pelo menos a maioria de tudo
(condições, esforços e nutrientes) que, DE-CIMA-PARA-BAIXO E DE-FORA-PARA-DENTRO,
ele e a própria natureza forneciam a essas árvores: o solo era ainda muito arenoso,
portanto a maior parte dos nutrientes orgânicos e minerais naturais, bem como os
também por ele acrescidos (à maneira dos DnL e DpL anteriormente mencionados),
tão logo aplicados se infiltravam areia abaixo sem que as árvores tivessem tempo e
condições de captá-los, metabolizá-los e absorvê-los processadamente como seivas
e componentes vitais para se fortalecerem e gerarem bons e abundantes frutos.
Aliás, a falta de permanentes condições de contato e acesso a esses
nutrientes pelas raízes faz que as árvores atrofiem essas suas capacidades,
reduzindo-as a DEPENDENTES SOBREVIVÊNCIAS (POR MÁ-CAPTAÇÃO E MÁ-ABSORÇÃO,
porque sem completo processo de METABOLIZAÇÃO), quase que exclusivamente dos
nutrientes que vêm DE-CIMA-PARA-BAIXO e DE-FORA-PARA-DENTRO, por destinação
tanto da natureza quanto da ação humana. Suas raízes se confinam praticamente a
funções de sustentação física local (a de que cada árvore pelo menos se equilibre de
pé), sem cumprirem a outra dimensão do integral processo de captação,
metabolizção e absorção nutritiva de qualquer árvore sadia, aquela que vem DE-
BAIXO-PARA-CIMA e DE-DENTRO -PARA- FORA, por contato interativo também com as
condições do solo em que ela se finque.
Pensando bem, o enorme desperdício de tudo (insumos, serviços e atenções)
o que a árvore recebe DE-CIMA-PARA-BAIXO e DE-FORA-PARA-DENTRO se deve ao fato
de ela mesma não haver desenvolvido endogenamente (em suas próprias entranhas)
ao menos satisfatórias capacidades de captação, metabolização e absorção dos
nutrientes, mais rasa ou profundamente contidos e depositados no solo permeado
por suas raízes.
Com essas satisfatórias capacidades internalizadas –endogeneizadas- no seu
próprio metabolismo, cada árvore acaba aproveitando melhor inclusive tudo o que
tem dentro dela mesma, bem como lhe vem ou lhe é oferecido de fora (até não
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importando muito se DE-CIMA-PARA-BAIXO e DE-FORA-PARA-DENTRO). Isto, porque se
torna apta, a exemplo do sadio processo metabólico de qualquer ser humano ou
outro ser vivo normal com essa propriedade vital, a: primeiro, e já no concernente
momento dos primordiais contatos de captação desses aportes, se apropriar do que
lhe interessar para ser metabolizado e absorvido como seiva, vida e energia de
frutificação; mas, segundo e em ato-contínuo, escoimar e se livrar de tudo que lhe
seja indigesto ou que, se ingerido por imposição alheia ou ignorância própria, lhe
envenenaria, atrofiaria ou mataria em curto, médio ou longo prazo.
Portanto, o Desenvolvimento Local não apenas funciona como anteparo (ou
prato-de-fundo-de-vaso) do desenvolvimento comunitário-local, como também e
principalmente se essencializa em processo de formação e ativação das acima
mencionadas capacidades, competências e concernentes habilidades de viver,
produzir e bem aproveitar tanto condições reais quanto latentes potencialidades
para se desenvolver. Em verdade, uma vez entranhadas (ou endogeneizadas) essas
propriedades na cultura mental e comportamental de determinada comunidade-
localidade, já se minimiza ou até se dispensa aquela função exemplificativa do
prato-de-fundo-de-vaso, que não deixa os nutrientes se escaparem pelo ralo antes
que as raízes comunitário-locais os identifiquem e suguem.
Pelo contínuo exercício de contato, análise, discernimento e seleção do que
lhe interessa, bem como da escoimação, rejeição e expulsão (defecação no mundo
animal) do que não lhe aproveita, em matéria de autodesenvolvimento, essas
capacidades, competências e habilidades comunitário-locais acabam se
transformando em tentáculos com poderosas ventas de sucção, incorporação e aproveitamento de quaisquer tipos de aportes e insumos externos e internos,
dispensando paulatinamente artificiais represamentos como os que acontecem nos
referidos pratos-de-fundo-de-vaso.
Todavia, importa enfatizar que tais pratos-de-fundo-de-vaso quase sempre
são necessários no começo da implantação e implementação processual do DL no
âmbito de determinada comunidade-localidade, embora sua maior ou menor função
varie de acordo com os estágios de autoestima, autoconfiança, condições de
compromissos, iniciativas associativo-cooperativas e outras, em que se encontre a
comunidade-localidade em questão. Isso, porque -nesse contexto- o tal prato-de-fundo-de-vaso se essencializa naquela autêntica ASSISTÊNCIA (social, técnica,
tecnológica, econômica, financeira, etc., destacada [lá no anterior subitem 10.3 deste
texto] como motor-de-arranque do autodesenvolvimento comunitário-local), em
visceral oposição ao assistencialismo degenerador, de qualquer tipo e natureza,
[também] caracterizado [no mesmo anterior 10.3] como crime social, técnico,
tecnológico, econômico, financeiro ou não importa de que outro tipo.
Agora, chegou o momento de ir diretamente à seguinte descrição conceitual
do Desenvolvimento Local, destacada em Ávila (2006a, p. 80) e abaixo reproduzida
19
(que também aproveitou passagens de outras publicações do mesmo autor, a de
2001 [em coautoria], p. 68-69, e a de 2000, p. 68):
[...] o „núcleo conceitual‟ do desenvolvimento local consiste no efetivo
desabrochamento –a partir do rompimento de amarras que prendam as pessoas
em seus status quo de vida- das capacidades, competências e habilidades de
uma „comunidade definida‟ -portanto com interesses comuns e situada em [...]
espaço territorialmente delimitado, com identidade social e histórica-, no
sentido de ela mesma –mediante ativa colaboração de agentes externos e
internos- incrementar a cultura da solidariedade em seu meio e se tornar
paulatinamente apta a agenciar (discernindo e assumindo dentre rumos
alternativos de reorientação do seu presente e de sua evolução para o futuro
aqueles que se lhe apresentem mais consentâneos) e gerenciar (diagnosticar,
tomar decisões, agir, avaliar, controlar, etc.) o aproveitamento dos potenciais
próprios -ou cabedais de potencialidades peculiares à localidade-, assim como a
„metabolização‟ comunitária de insumos e investimentos públicos e privados
externos, visando à processual busca de soluções para os problemas,
necessidades e aspirações, de toda ordem e natureza, que mais direta e
cotidianamente lhe dizem respeito.
Como se vê, há nessa descrição conceitual, termos ou expressões já
destacadas, como desabrochamento, comunidade definida, agenciar e gerenciar.
Por outra, lá atrás já se falou relativamente bastante sobre o significado do
fenômeno metabolização, no sentido de que, segundo a citação supra, a
comunidade-localidade se torne sujeito/a “[...] discernindo e assumindo dentre
rumos alternativos de reorientação do seu presente e de sua evolução para o futuro
aqueles que se lhe apresentem mais consentâneos [...]”, em contraposição à habitual
maneira de ser tratada como mero objeto de desenvolvimento, explicitando a
significação (também na conceituação acima) do termo agenciar. No entanto,
restam ainda brechas para mais considerações interpretativas. Como exemplo,
retomo a ideia de desabrochamento e a ela acrescento os concernentes
significados de capacidade, competência e habilidade no contexto do DL aqui
focado.
Passemos a esses acréscimos interpretativos, já pelo termo/fenômeno
desabrochamento. Além do sentido já explicitado na mencionada descrição
conceitual, até mesmo a maioria de meus ex-alunos (todos considerados adultos)
deixava escapar aquele sorriso malicioso da sua relação com impotência sexual.
De fato, em nossa linguagem corrente, o verbo brochar (ou mais
apropriadamente broxar) é muito usado com essa significação, inclusive em
razão de suas nefastas consequências de murchamento, encaramujamento, retraimento, [...], etc.
Todavia, se a malícia ficar de lado, normalmente a maior dificuldade para
que as comunidades-localidades aprendam a implementar o seu próprio
desenvolvimento, em teoria e prática, resulta exatamente de murchamento,
20
encaramujamento, retraimento, [...], etc., impregnados em seus sentimentos e
cultura, tanto por falta de condições internas ou autoisolamentos quanto por
diferentes abandonos e todos os tipos de nefastos relacionamentos assistencialistas externos.
No mais, e em relação a isso, o termo/fenômeno desabrochamento
significa exatamente a ação de deixar-de-ser-brochado, ou a inversão do processo de brochamento, exigida pelo prefixo des, como no caso de descobrir,
com o sentido de tirar-a-cobertura (que foi posta onde está) e não o de apenas
ficar-sem-cobertura. Aliás, quando aplicado a uma flor, o verbo desabrochar é
extremamente rico de sentidos ativos, como os de volver-se para fora, abrir espaço, bem como atrair e envolver agentes fertilizadores internos e externos no processo de fecundação com vista à geração do almejado fruto. E isso tem
tudo a ver com qualquer comunidade-localidade que intencione o
Desenvolvimento Local como processo e fruto de todos os seus investimentos e
empenhos nessa perspectiva.
Por outra, e em termos de significados gerais nesta conceituação de DL:
CAPACIDADE significa saber algo; COMPETÊNCIA se refere a saber aplicar, realizar,
concretizar em sentido amplo o que se sabe; e HABILIDADE (OU COMPETÊNCIA
APURADA) quer dizer: saber aplicar, realizar, concretizar algo específico do que
se sabe com precisão focal, rigor técnico e destreza operacional. (Aqui termina a
transcrição).
12. COMO SE DELINEIAM OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)?
12.1. Na Perspectiva de Visão Geral:
12.1.1. Por estas lógicas metodológicas básicas
A indicada pelo poeta espanhol Antonio Machado (citado por KUJAWSKI apud ÁVILA,
2006a, p. 86 ): “Caminhantes, não há caminho. O caminho se faz ao caminhar”.
E a da “Metodologia do Alpinista”: por mais que o escalador de montanhas receba
ajuda enquanto está em baixo, só escalará os paredões se ele mesmo, quando estiver subindo,
fincar os grampos nas fendas das rochas, movimentar as cordas, carregar o seu equipamento e se
esforçar para dar cada seguinte passo. A equipe de baixo poderá até ajudá-lo por gritos ou rádio,
mas, jamais escalará os paredões em seu lugar. E mais, ele ainda deve se precaver para retomar a
subida caso algum grampo se solte ou se escorregue ao longo da escalada.
12.1.2. Por Agentes do DCL como Pedagogos Maiêuticos
As duas lógicas acima se aplicam ao caso do verdadeiro Desenvolvimento Local (DL) ou
Comunitário-Local (DCL). Os AGENTES EXTERNOS à comunidade poderão ou mesmo
deverão sempre ajudar (como o pessoal da referida equipe de apoio do alpinista, aquela lá de
baixo), mas é a comunidade mesma -cada comunidade- que se encarregará de progressivamente
se sensibilizar, organizar e mobilizar para constantemente fazer o seu próprio caminho de
desenvolvimento logo que por ele começar a caminhar, dele se tornando sujeito e não mero
objeto, como várias vezes tem sido frisado. Em verdade, também os AGENTES INTERNOS da
21
própria comunidade -como suas lideranças e demais pessoas com competências e
responsabilidades por iniciativas em domínios específicos- de forma alguma poderão impingir o
dirigismo metodológico nos processos de encaminhamento do Desenvolvimento Comunitário-
Local (DCL).
Todavia, isso não significa que tais AGENTES devam sentir-se de mãos atadas, sem nada
poder fazer, mesmo que lógica e/ou tecnicamente cientes de boas opções para encaminhamento
das iniciativas em que estiverem cooperando. Aliás, sem a ajuda deles a comunidade não
conseguirá romper as próprias limitações para projetar e operacionalizar seus potenciais e
potencialidades de autodesenvolvimento, até porque, se assim fosse, ela já estaria desenvolvida e
nem mais precisaria estar pensando em DCL.
Então, como agir sem impingir? É aí que, segundo Ávila (2006a, 86-94), entra a questão
da Maiêutica Socrática e suas modernas réplicas como PBL-“Problem-Based Learning”
(Aprendizagem Baseada em Problemas)9, Prática Reflexiva
10 e Aprendendo a Aprender (com a
ajuda do professor). Por esta dinâmica metodológica, também o Agente de DCL “[...] não é o
pedagogo ensinador, mas se constitui indispensável ajudante de quem se encontre na posição
de aprender a aprender” (id., p. 92).
Em suma, a Maiêutica Socrática consistiu na dialética11
, aplicada pelo Mestre Sócrates e
difundida pelo seu discípulo Platão, no sentido de que (ibid., p. 90-91):
[...] ao invés de enfiar o conhecimento na cabeça dos seus discípulos, era mais eficaz e prático fazer com
que eles mesmos parissem a sua própria sabedoria (o termo maiêutica se refere a parto ou ato de parir,
podendo ser interpretada como algo semelhante ao processo de indução do parto da sabedoria ou
conhecimento).
Aliás, pelo Dicionário Priberam12
, o substantivo feminino maiêutica vem do grego
maieutiké, que significa ciência ou arte do parto ou, ainda, arte de partejar.
12.2. Na Perspectiva das Quatro Dimensões Metodológicas Específicas
Com relação a estas quatro dimensões formuladas por Ávila (2006a, p. 94-99), cujas
denominações negritadas são abaixo sequenciadas, eis alguns principais exemplos de
aplicabilidade nos âmbitos das 1ª e 2ª, bem como de observações sobre finalidades e importância
das 3ª e 4ª. Portanto, no que respeita a:
1ª) Conscientização, mobilização e organização comunitária local:
saber do que se trata esse tipo de desenvolvimento;
desenvolver a autoconfiança e a autoestima de que em trabalho conjunto há muito potencial
de desenvolvimento em cada comunidade;
9 “[...] que consiste, de acordo com Moraes (1998), nas seguintes „[...] quatro concepções de ensino-aprendizagem: a
aprendizagem autodirigida, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem em pequenos grupos de tutoria e
aprendizagem orientada para a comunidade‟ ” (ibid., p. 92).
10 “[...] é a concepção metodológica sobre ensino-aprendizagem, originalmente defendida por Schön (1995), pela
qual a prática ilumina processualmente a teoria, ou seja, da reflexão na prática se evolui para a reflexão sobre a
prática, como também para a reflexão sobre a reflexão, e assim por diante, a exemplo do que ocorre com o
aprendizado na área da educação artística” (ibid., p. 92-93). 11 “Sobre Sócrates e sua maiêutica, assim se refere a Librairie Larousse (1980 : p. 501) –com tradução direta do
texto francês-: „Ele era hostil a todo ensinamento dogmático; seu método consistia em fazer com que seus
interlocutores descobrissem a verdade, pondo-lhes questões (ironia) e os obrigando a encontrar, por eles mesmos,
suas próprias contradições (dialética)‟ ” (ibid., p. 91). 12 Fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/mai%C3%AAutica , acesso confirmado em 13/11/2013.
22
formar e mobilizar o espírito de ação coparticipativa, captando das normais ou até
excepcionais diferenças comunitárias os fragmentos de tudo aquilo que possa ser trabalhado
em conjunto cooperativo;
conhecer os POR QUE E COMO funcionam as lideranças explícitas e implícitas no âmbito da
comunidade, tanto ativas, proativas e freativas quanto internas e externas;
pesquisar novas possibilidades de iniciativas para o desenvolvimento comunitário e perfis de
pessoas para liderá-las, coordená-las, gerenciá-las e/ou negociá-las com competência e
espírito comunitário;
descobrir que tipos de assistência formativo-informativa (por palestras, cursos, seminários,
treinamentos, etc.) são necessários para que progressivamente a comunidade, ou parte dela,
comece a se tornar capaz, competente e hábil de empreender novas possibilidades de
iniciativas que forem continuamente detectadas, etc.
2ª) Atividades e projetos em domínios específicos (tanto coletivo-comunitários quanto
individuais, por famílias ou grupos de associados em cada comunidade):
aprender a:
diagnosticar seus problemas, necessidades e aspirações;
priorizá-los dos mais para os menos necessários, dos mais fáceis para os mais difíceis,
daqueles para os quais há mais potencialidades na própria comunidade, etc.;
transformar os escalões de prioridade em propostas, projetos, programas e reais
atividades;
selecionar (também das ofertas vindas de fora) o que de fato interessa à comunidade e
rejeitar aquilo que é mero artifício ou entulho querendo ser enfiado goela abaixo;
tornar-se capaz de captar ajudas externas de todo tipo, mas apenas aquelas estritamente
necessárias e sem delas se tornar refém;
assumir de fato os processos de ação e gerenciamento do que estiver sendo planejado,
negociado ou executado, etc..
3ª) Sistemáticos acompanhamentos, controle e avaliação: para que os agentes responsáveis
por propostas, projetos, programas ou atividades, como acima mencionados, os mantenham
sempre em boas condições de operação, alimentando-os ou realimentando-os quando
oportuno, bem como até reajustando-os quando necessário, etc.
4ª) Celebração/comemoração:
as celebrações ou comemorações de conquistas, não importando se grandes ou pequenas, são
de capital importância para que cada comunidade se mantenha sempre unida, alerta e
motivada para outras conquistas;
mesmo que determinada conquista tenha sido conseguida por uma ou mais pessoas, se for
comunitariamente celebrada/comemorada, seu espírito e mérito acabam se tornando orgulho e
motivação para toda a comunidade em relação a outras conquistas e por outras pessoas: se
toda a comunidade ficou sabendo e se orgulha pelo fato de fulano, ou a família tal, ou o
grupo qual ter conseguido esse tipo de conquista, por que também eu não posso, por que
também nós não podemos?
23
e não só através de festas, como também por divulgação em quadros murais bem
posicionados, boletins de circulação comunitária, rádio comunitária, assim por diante e
sempre que possível.
Pelo exposto, o Desenvolvimento Local (DL) ou Comunitário-Local (DCL) não se
limita a condições econômicas. E isso implica SOLIDARIEDADE E EDUCAÇÃO como
principais fontes energizadoras, focadas a seguir.
13. POR QUE A SOLIDARIEDADE SE ASSEMELHA A MEDULA ESPINHAL DO
DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-LOCAL (DCL)?
Pela razão de que a solidariedade é para o Desenvolvimento Local ou Comunitário-Local
como a medula espinhal o é para nós humanos. Analogamente, portanto, é a “MEDULA
ESPINHAL MOTRIZ DO DL” (ÁVILA, 2006a, p. 101-103). Ou seja, é por ela que se
interconectam proativa e ativamente as energias em contínuo processo de comunitarização para
o bem comum, também capaz de influenciar o bem individual das pessoas direta e indiretamente
envolvidas.
Isso implica não confundir solidariedade, estado emocional reflexivo consciente de
relacionamento interpessoal cooperativo, com gregariedade, estado emocional instintivo-
impulsivo de relacionamento interpessoal defensivo.
Para compreensão mais acurada das distinções entre solidariedade, gregariedade,
coesão, coesão gregária e coesão solidária, as respectivas íntegras conceituais, de acordo com o
estudo sobre performances comunitárias de Coelho e Ávila (2009, p. 111), são:
Gregariedade:
[...] a gregariedade é impulsiva diante de qualquer ameaça ou até interesse de autopreservação:
vários se unem, quando se trata de união voluntária ou instintiva, mas cada um [também] com o
objetivo ou impulso de se preservar. [...] A gregariedade sem solidariedade foi sempre a “razão” de
todas as guerras, de todos os conflitos, de todos os desentendimentos, de todos os descalabros
ecológicos e do próprio subdesenvolvimento [...].
Solidariedade:
[...] representa o estado de ânimo (impressões, crenças e convicções) que gera volitivos, afetivos e
efetivos laços de mobilização e cooperação (nos âmbitos de uma pessoa para com outra, de um
grupo para com outros, dos membros de um grupo para com todo o grupo ou de membros para
com membros do mesmo grupo [...].
Coesão:
[...] se caracteriza pela real concretização do estado de mobilização e cooperação de um grupo de
pessoas, pequeno ou grande [...].
Coesão gregária:
[...] a que se efetiva com base em impulsos instintivos (ou algo bem próximo de sentimentos, interesses e finalidades primários-comuns) de autopreservação e/ou conservação de todo o grupo
ou de parte dele [...].
Coesão solidária:
[...] resultante de volitivos, afetivos e efetivos laços de mobilização e cooperação [...] para cuja
formação [...] boa dose de idealismo altruísta se soma a sentimentos, interesses e finalidades
comuns, conferindo à união do grupo significância e relevância social que transcendem as
imputadas aos esforços e dispêndios individuais implicados.
Por aí se vê que o Desenvolvimento Local requer necessariamente, e muito além da
instintiva coesão gregária, o estado de coesão comunitário-solidária, aquele pelo qual as
pessoas se aglutinam e comunitarizam (ou, apesar do respeito às diferenças: se entendendo,
24
capacitando, diagnosticando, deliberando, planejando, agindo e reagindo coparticipativamente),
portanto com total consciência e explícito querer a respeito do que fazem ou pretendem fazer. E
isso requer incessante investimento de trabalho formativo-educacional, em termos tanto de
Educação Comunitária quanto de todos os níveis e graus da Educação Escolar, como se vê a
seguir.
14. POR QUE A EDUCAÇÃO FUNCIONA COMO SISTEMA CIRCULATÓRIO-
RESPIRATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL (DL) ou COMUNITÁRIO-
LOCAL (DCL)?
Porque Educação e Desenvolvimento Local ou Comunitário-Local se interagem em
correlação de mão dupla: a Educação como sistema circulatório-respiratório do DL e o DL como
efetivo recurso de práxis socioeducacional em todos os sentidos, inclusive para a cidadania (art.
22 da LDBN nº 9394/96).
E não se trata só de EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA ou de campanhas/programas educacionais
esporádicos. Trata-se necessariamente também de EDUCAÇÃO ESCOLAR regularmente formadora
de sucessivas gerações.
Mas, como relacionar EDUCAÇÃO ESCOLAR com DESENVOLVIMENTO LOCAL ou
COMUNITÁRIO-LOCAL, se, por um lado, as escolas já estão abarrotadas DO QUE FAZER e, por outro,
até as quantidade e qualidade do que se faz vêm sendo constantemente questionadas pela
sociedade?
Mesmo assim, o fato é que no Brasil ainda há vasto espaço (praticamente inexplorado e
disponível) para a direta vinculação operacional da EDUCAÇÃO com o DESENVOLVIMENTO LOCAL
ou COMUNITÁRIO-LOCAL: É O CAMINHO DA METODOLOGIA EDUCACIONAL ESCOLAR POR
INTERAMBIENTALIZAÇÃO, cuja caracterização multipolar é esquematizada após esta de cunho
metodológico TRADICIONAL:
25
No fundo, a APRENDIZAGEM POR INTERAMBIENTALIZAÇÃO se processa na perspectiva
lógica da evolutiva EQUILIBRAÇÃO entre SENSORIAÇÃO e COGNIÇÃO. Pela SENSORIAÇÃO, os
sentidos contatam, captam e transmitem ao cérebro informações sobre propriedades quantitativo-
qualitativas da realidade fenomenológica. E, pela COGNIÇÃO, o cérebro processa as informações,
recebidas imediata ou remotamente através dos sentidos, transformando-as em conhecimentos,
que podem ser tanto estocados como também enriquecidos, ampliados e aprofundados por
contínuas e variadas comparações e associações com outros conhecimentos já acumulados, em
termos individuais ou da humanidade como um todo.
Nada de complicado nessa INTERAMBIENTALIZAÇÃO, porque a razão de ser de toda e
qualquer ciência (MATEMÁTICA, GEOGRAFIA, HISTÓRIA, BIOLOGIA, QUÍMICA, FÍSICA, etc.),
inclusive as curricular mente ministradas na Educação Básica, é a de entender lógicas e
significações presentes, passadas e futuras da natureza (universo).
E, ainda, todos e cada um de nós vivenciamos, do primeiro ao último instante de nossas
vidas, amostras reais das LÓGICAS E EXPRESSÕES: MATEMÁTICAS DE TODO O UNIVERSO;
GEOGRÁFICAS DE TODO O UNIVERSO; ECOLÓGICAS DE TODO O UNIVERSO; BIOLÓGICAS DE TODO O
UNIVERSO; HISTÓRICAS DE TODO O UNIVERSO; FÍSICAS DE TODO O UNIVERSO; etc.
Por que, então, não invertermos a orientação de nossa metodologia educacional escolar?
Ou seja:
partindo das lógicas e expressões fenomenológico-matemáticas, -geográficas, -ecológicas, -
biológicas, -históricas, -químicas, -físicas, etc., da realidade (ISTO É, DO BANHEIRO, DA
COZINHA, DO QUARTO, DO QUINTAL, DA RUA, DO ESGOTO, DO CÓRREGO, DA IGREJA, DA
FARMÁCIA, DO PÁTIO, DO SUPERMERCADO, DO CURRAL, DO CHIQUEIRO, DA VEGETAÇÃO, DO
RELEVO TOPOGRÁFICO, etc., etc.);
26
chegarmos às fórmulas e expressões científicas da MATEMÁTICA, da GEOGRAFIA, da
ECOLOGIA, da BIOLOGIA, da HISTÓRIA, da QUÍMICA, da FÍSICA, etc., como ciências
semiotizadas, inclusive nos livros didáticos?
Até agora, fazemos o contrário e o livro Educação escolar e desenvolvimento local, à
frente referenciado, trata disso.
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando redigi a conclusão do abaixo referenciado livro Formação educacional em
desenvolvimento local: relato de estudo em grupo e análise de conceitos, o primeiro sobre
DL, com plena e proposital consciência optei pelo subtítulo conclusivo “SE UTOPIA, UMA
BOA UTOPIA” (p. 92). E assim procedi, a fim de expressar o que já pensava, quando foi
publicada a sua 1ª edição no final do ano 2000, sobre a importância das ideias de
Desenvolvimento Local nele abordadas.
Isso, porque considerei e continuo a considerar que há dois tipos de utopia. O primeiro de
pura miragem, alucinação ou devaneio e o segundo constituído por qualquer ótimo
propósito/objetivo irrealizável no momento em que é formulado, porém, tornado possível de
perfeita concretização tão logo se criem, emerjam ou surjam as respectivas condições de efetiva
implementação.
E a quem pense que a implementação do Desenvolvimento Comunitário-Local (DCL)
exige muitas condições e prévios aparatos para se começar, fica esta importante observação. Tal
implementação começa exatamente quando agentes de cada comunidade (muitos ou poucos, não
importa) decidem entender ampla e profundamente o DCL. A entendê-lo além de mera
estratégia, ou seja, como nova política e filosofia de desenvolvimento, pela qual também se
investe diretamente em cada comunidade a fim de que o progresso integral flua inclusive de
baixo para cima e de dentro para fora dessas bases populacionais. E até mesmo para fecundar e
metabolizar investimentos que lhes sejam bem dirigidos de cima para baixo e de fora para
dentro de suas realidades específicas, pelas instâncias externas nacionais, regionais, estaduais,
municipais, e congêneres, assim como públicas e privadas.
Por esse ponto de partida é que cada comunidade-localidade começa a se entender,
programar e agir de acordo com as duas lógicas enfatizadas em 12.1.1, a de que, segundo o poeta
Antonio Machado, “Caminhantes, não há caminho. O caminho se faz ao caminhar” e também a
de que o DCL se processa, na comunidade que por ele optar, de modo semelhante ao da
“Metodologia do Alpinista”, pela qual nenhum assistencialismo é agraciado ou impingido em
sua busca e conquista de desenvolvimento.
16. OUTRAS PUBLICAÇÕES DO AUTOR SOBRE DL ou DCL (disponíveis pelo Blog http://www.desenvolvimentolocalvfa.com.br/)
a) Livros
ÁVILA. V. F. Cultura de sub/desenvolvimento e desenvolvimento local. Sobral-CE : Edições
UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú), 2006a.
....... Educação escolar e desenvolvimento local: realidade e abstração no currículo. Brasília :
Plano Editora, 2003.
....... (et al.). Formação educacional em desenvolvimento local: relato de estudo em grupo e
análise de conceitos. 2. ed., Campo Grande : Ed. UCDB, 2001.
....... A pesquisa na vida e na universidade. 3. ed. Campo Grande-MS : Editora UFMS, 2009.
27
....... No município sempre a educação básica do Brasil. 2. ed., Campo Grande-MS : Editora
UCDB, 1999.
....... Municipalização para o desenvolvimento. Campo Grande: Ed. UFMS/PREG, 1993.
b) Principais artigos
ÁVILA, V. F. Notas sobre a proposta de pastoral para formação em desenvolvimento
comunitário-local endógeno-emancipatório e ênfases bíblicas à sabedoria e ao amor a Deus pelo
amor do próximo. 2013a.
....... Apontamentos sobre a proposta de pastoral para formação em desenvolvimento
comunitário-local endógeno-emancipatório e atualizada doutrina social da igreja sobre
desenvolvimento. 2013b.
....... Dupla relação entre educação e desenvolvimento local (endógeno-emancipatório). Revista
Paidéia. Belo Horizonte : Universidade FUMEC, ano 9, n, 12, jan./jun. 2012, p. 13-49. (Este
artigo também poderá ser acessado -clicando em BAIXAR ESTE ARQUIVO PDF- por
http://www.fumec.br/revistas/index.php/paideia/article/view/1578/988).
....... “Paciência”, capitalismo, socialismo e desenvolvimento local endógeno. INTERAÇÕES -
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande-MS : UCDB, v. 9, n.1, jan/jun
2008, p. 88-98.
....... Realimentando discussão sobre teoria de desenvolvimento local (DL). INTERAÇÕES -
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande-MS : UCDB, v. 8, n.13, set.
2006b, p.133-140.
....... Pressupostos para formação educacional em desenvolvimento local. INTERAÇÕES –
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo Grande-MS : UCDB/PMDL, v. 1, n. 1,
set., 2000, p. 63-76.
....... Repensando a relação estado/municípios: uma sugestão para o governo de Mato Grosso do
Sul. SÉRIE-ESTUDOS - Periódico do Mestrado em Educação da UCDB (4). Campo Grande-MS
: UCDB, nov. 1996, p. 174-194.
....... Considerações sobre gestão integral de educação e outros serviços básicos no município.
Revista Brasileira de Administração da Educação. Porto Alegre : ANPAE-Associação Brasileira
de Administração da Educação, v. 5, n. 2, jul/dez. 1987, p. 54-85.
COELHO. I. S. e ÁVILA, V. F. Performances comunitárias e vieses teóricos sobre
potencialidades de participação no Jardim Sayonara –Campo Grande-MS- em ótica de
desenvolvimento local. INTERAÇÕES - Revista Internacional de Desenvolvimento Local.
Campo Grande-MS : UCDB, v. 10, n.1, jan./jun. 2009, p. 95-117.
PAULITSCH, R. J. e ÁVILA, V. F. Desenvolvimento local e educação política urbana para a
relevância rural. INTERAÇÕES - Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Campo
Grande-MS : UCDB, v. 4, n.7, set. 2003, p. 65-72.
OUTROS (também de livre acesso pelo mencionado Blog).
PROF. VICENTE FIDELES DE ÁVILA
28
“No processo de desenvolvimento, o alvo central é o
ser humano como artesão do seu êxito ou fracasso,
pois se requer que cada um, ao se tornar responsável
pelo seu próprio progresso, de toda ordem e em todas
as direções, influencie o seu entorno como fonte
irradiadora de mudanças, de evolução cultural, de
dinamização tecnológica e de equilibração meio-
ambiental. Portanto, não se obtém desenvolvimento
sem que se visualize o homem, à luz da hierarquia de
valores, em sua integridade como pessoa humana,
membro construtivo de sua comunidade e agente de
equilíbrio em seu meio geofísico” (ÁVILA et al., 2001, p. 23)
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