Teoria do Conhecimento em Maturana e Varela
BIOLOGIA DA COGNIÇÃO
Augusto Rodrigues de Sousa
SUMÁRIO
1. Introdução2. Biografia, Contexto e Percurso Intelectual2. O problema do conhecimento: O mundo-
idéia ou representação?3. O sujeito Cognoscente: um sistema que
tem algo a dizer4. O Comportamento Humano5. Domínios Lingüísticos e Consciência
Humana6. A Árvore do Conhecimento7. Considerações Finais
1. Introdução
Se conhecer é distintivo da natureza humana, o agente, o
sujeito do conhecer humano é o próprio homem
Todos os homens tendem ao saber
ARISTÓTELES. Metafísica
Esta constatação, à primeira vista ingênua e tautológica, no entanto, levou Humberto
Maturana e Francisco Varela à reformulação dos conceitos da
epistemologia tradicional.
1. IntroduçãoParmênides: a univocidade do ser
RACIONALISMO CONCEITUALSÓCRATES, PLATÃO...
Heráclito: um universo instável do qual não se pode dizer muito
de forma apodítica.EMPIRISMO
ARISTÓTELES
Einstein e a Teoria da Relatividade
Ambas as visões de mundo (racionalista e empirista) pecam
por excesso
1. Introdução
A razão entendida como uma atividade lógica
A “aura” certeza
A razão humana dogma para o conhecimento.
1. Introdução
Maturana e Varela propõem uma reavaliação deste binômio razão-
certeza
Razão Certeza
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Humberto Maturana(1928, Santiago- Chile)
Ph.D. em Biologia (Harvard, 1958),
Professor da Universidade do Chile,
Fundador do Instituto de FormaciónMatríztica
Campos de Ação
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Humberto Maturana
Biologia da Cognição, Autopoiese,
Biologia do Amor, Educação,Pensamento Sistêmico, Filosofia
Ética, Política, Transdisciplinaridade
Temas recorrentes
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Francisco J. Varela(1946, Santiago – 2001,
Paris)
Ph.D. em Biologia (Harvard, 1970)
Diretor do CNRS (Paris)Professor da École
PolytechniqueFundador do Instituto Mind &
Life
Campos de Ação
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Humberto Maturana
Biologia da Cognição, Autopoiese,
Biologia do Amor, Educação,Pensamento Sistêmico, Filosofia
Ética, Política, Transdisciplinaridade
Temas recorrentes
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Um trabalho a duas mãos
Uma nova abordagem biológica a partir da interação com o
meio
“De Máquinas y Seres Vivos: Uma Teoría de la Organizacíon
Biológica”
A separação pelo Regime Militar
A árvore do Conhecimento
Caminhos diversos
2. Biografia, contexto e Percurso Intelectual
Contexto intelectual
EDGAR MORINComplexidade
NORBERT WIENERCibernética, Inteligência
Artificial
FRITJOT CAPRAPensamento Sistêmico
ERNST VON GLASERSFELD
Psicologia, Construtivismo
EVAN THOMPSONFilosofia da Mente,
Cognição
STUART KAUFFMANBiologia, Evolução, Vida
3. O Problema do conhecimento
O que é o real?
“ Na tradição cultural do Ocidente, na qual a ciência moderna e a tecnologia surgiram, nós falamos, na vida diária, de realidade e do real, como um domínio de entidades que existem independentemente do que façamos como observadores.”
MATURANA, Humberto. La objetividade: un argumento para obligar.
Santigao, Chile: DolmenEdiciones S.A., 1997, p. 39. (Tradução nossa)
3. O Problema do conhecimento
A objetividade: certeza como empecilho
“ Tendemos a viver num mundo de certezas, de solidez perceptiva não contestada, em que nossas convicções provam que as coisas são somente como as vemos e não existe alternativa para aquilo que nos parece certo. Essa é nossa situação cotidiana, nossa condição cultural, nosso modo habitual de ser humanos”MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento – As bases biológicas da compreensão humana. Traduçao: Humberto Mariotti e Lia Diskin. São Paulo, SP: Palas Athena, 2001, p. 22.
3. O Problema do conhecimento
A luta histórica: racionalismo e
empirismoRACIONALISMO
Parmênides
O Cogito Cartesiano
A matemática
Unilateral no pensamento única fonte e no dogmatismo
EMPIRISMO
Heráclito
D. Hume
As ciências naturais
Unilateral: não reconhece nenhum conhecimento que
não seja experimental
3. O Problema do conhecimento
Maturana e Varela: Uma via média
A solução do problema do conhecimento passa pela compreensão exaustiva do
homem e de seu funcionamento biológico
4. O Sujeito Cognoscente
Os aforismos-chave
“Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer”
“Tudo o que é dito, é dito por alguém
4. O Sujeito Cognoscente
O “Alguém que diz” : ser vivo cognoscente
O sujeito cognoscente, é primeiramente um ser vivo,
tudo o que se aplica a um ser vivo, aplica-se também a ele
O conhecer: processo complexo e unitário, que
envolve todas as dimensões daquele que conhece
4. O Sujeito Cognoscente
“para compreender a organização do ser vivo é necessário, primeiramente, compreendê-lo em sua
materialidade”(MATURANA, 2001,p.41)
Uma fenomenologia biológica
Uma viagem
Distinção e Unidade
Tudo é agrupamento
4. O Sujeito Cognoscente
O ser vivo é uma rede
Podemos distingui-lo a partir de sua organização
autopoiética
Organização e Estrutura
4. O Sujeito CognoscenteAutopoeise
O sistema produz constantemente a si mesmo
Por ser autopoiético o ser vivo é autônomo
Autônomo e Dependente: um paradoxo
4. O Sujeito Cognoscente
A célula como unidade fundamental para
compreender o ser vivo
Sistemas fechados e autônomos, mas em relação com o meio e
com outras unidades autopoiéticas
Acoplamento EstruturalOntogenia
Autopoiese
Fechamentooperacional
Acoplamentoestruturalmeio/ser
Acoplamentoser/ser
4. O Sujeito Cognoscente
4. O Sujeito Cognoscente
Este processo impulsionou a rede de relações com o
meio que possibilitou:
o processo reprodutivo; a hereditariedade;
a diversidade (ou variedade genética)- consequência
natural do processo reprodutivo
4. O Sujeito Cognoscente
A série de reproduções
possibilitou a filogenia
A Filogenia possibilitou o
processo evolutivo: DERIVA NATURAL
Determinismo Estrutural
4. O Sujeito CognoscenteA ontogenia recapitula a filogenia
5. O Comportamento Humano
Determinismo Estrutural e Sistema Nervoso: o
representacionalismo sem fundamentação
Clausura Operacional do Sistema Nervoso
5. O Comportamento Humano
Entre Cila e Caribdes: o fio da navalha entre
compreensões reducionistas
5. O Comportamento Humano
Afinal, que é o comportamento?
Chama-se comportamento às mudanças de postura ou
posição de um ser vivo, que um observador descreve como
movimentos ou ações em relação a um determinado
ambiente
MATURANA, 2001, p.152
Aquilo que tradicionalmente foi definido de modo representacionista
não encontra apoio na estrutura biológica do humano.
5. O Comportamento Humano
Uma nova abordagem do conhecimento:
Falamos em conhecimento toda vez que observamos um comportamento efetivo (ou adequado) num contexto
assinalado. Ou seja, num domínio que definimos com uma pergunta
(explicita ou implícita) que formulamos como observadores
Maturana, 2001, p. 195
A descrição dos fenômenos humanos é apenas descrição. Todo conhecer implica,
desse modo, um universo conceitual e gnosiológico pré-definido.
5. O Comportamento Humano
Os comportamentos não são resultantes de um processo de
interferência e determinação do meio sobre o indivíduo
Os domínios comportamentais humanos tem sua raiz na
capacidade de comunicação dos sujeitos entre si
Para Maturana e Varela a comunicação não se efetiva a
partir da transmissão-recepção de uma informação
5. O Comportamento Humano
Uma nova abordagem da comunicação:
Cada pessoa diz o que diz ou ouve o que ouve segundo sua
própria determinação estrutural (e não por um conduto
que liga emissor-receptor)
Maturana, 2001, p.218
Os fenômenos sociais resultam da manutenção de certa regularidade
comunicativa
5. O Comportamento Humano
Uma nova abordagem da cultura:
Entendemos por conduta cultural a estabilidade transgeracional de
configurações comportamentais ontogeneticamente adquiridas na
dinâmica comunicativa de um meio social.
MATURANA, 2001, p.218
A linguagem, dessa forma, é uma dimensão de relevo na biologia da
cognição de Maturana e Varela
6. DOMÍNIOS LINGUÍSTICOS E CONSCIÊNCIA HUMANA
Domínios LingüísticosLingüística
Toda descrição semântica parte de um “observador” do
fenômeno, que lhe dá um significado
Todo ato comunicativo não passa de um componente do acoplamento estrutural entre organismos, é a partir de um
observador que estes atos podem ser vistos como
significados de uma conduta
6. DOMÍNIOS LINGUÍSTICOS E CONSCIÊNCIA HUMANA
A representação acontece apenas no campo linguístico do
acoplamento estrutural, e não no Sistema Nervoso como sede da
capacidade cognitiva.
A Linguagem: eminentemente, mas não exclusivamente, humana, ainda que o ser humano esteja em
um patamar evolutivo mais elevado
6. DOMÍNIOS LINGUÍSTICOS E CONSCIÊNCIA HUMANA
O modo de vida social peculiar dos seres humanos e o intenso
acoplamento lingüístico desenvolvido entre estes,
possibilitou o surgimento de um fenômeno completamente novo: a
mente e a consciência
6. DOMÍNIOS LINGUÍSTICOS E CONSCIÊNCIA HUMANA
Todo o percurso empreendido até este ponto nos direciona para a
questão: qual fenômeno apareceu primeiro, a linguagem ou a
consciência?
Vida Social
Linguagem
Consciência
7. A Árvore do Conhecimento
No longínquo caminho percorrido pelos biólogos, eles foram, ao
mesmo tempo, armando e graduando um sistema explicativo com capacidade de mostrar como
surgiram os fenômenos próprios dos seres vivos, os fenômenos sociais e, finalmente, a linguagem, como fruto
dos fenômenos sociais
7. A Árvore do Conhecimento
A experiência do cotidiano do conhecer nos permite dar uma
explicação de sua própria origem
7. A Árvore do ConhecimentoNão existem certezas!
Deixar de lado referenciais fixos e absolutos
THOMAS KUHN
KARL POPPER
GASTON DE BACHELARD
7. A Árvore do Conhecimento
Estamos imersos no mundo, e nosso processo cognitivo criando
nosso mundo (nossa visão de mundo) nos coloca no centro de
toda sua vivacidade
Uma tradição biológica nos faz ver um mundo comum... Nossas
diferenças culturais nos apresentam mundos diversos
O conhecer nos coloca em vigília contra as certezas
7. A Árvore do Conhecimento
Toda a reflexão de Maturana e Varela nos conduz para a
Biologia do Amor, visto como aceitação do outro (o outro
como mundo, o outro ser humano, o outro ser vivo)
Na aceitação do processo autopoiético do outro e do
acoplamento social que vivemos que crescemos na
socialização e na humanização
7. A Árvore do Conhecimento
Um sistema autopoiéticoauto-mutilador é um sistema doente
Uma nova postura ética diante do mundo que geramos e que nos gera:
é preciso decidir se queremos promover o círculo doentio e vicioso
da morte ou o círculo sadio e virtuoso da vida.
Considerações Finais
Admirar-se: encantamento e imbricação
O enfretamento da incerteza
A biologia humana não é um casulo determinista, mas um
elemento que constitui o homem enquanto homem
Reducionismo ou envolvimento?
REFERÊNCIAS- ARAUJO, Lindenberg Medeiros. Teoria do Conhecimento em Maturana e
Varela- movimento autopoiese e realidade.- ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução para o italiano de Giovanni Reale.
Tradução para o português: Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002- MARIOTTI, Humberto. Autopoiese, Cultura e Sociedade. São Paulo, 1999- MATURANA, Humberto.La objetividade: um argumento para obligar.
Santiago, Chile: DolmenEdiciones S.A., 1997- MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento-
as bases biológicas da compreensão humana. Tradução: Humberto Mariotti e Lia Diskin. 3ª ed. Tradução: Juremir Machado da Silva. São Paulo: Palas Athena, 2001.
- MORIN, Edgar. O Método III- O Conhecimento do Conhecimento- 3ª ed. Tradução: Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005.
- ____________. Sete Saberes necessários para a educação do futuro. Tradução: catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne.- 2ª Ed. São Paulo: Cortez, Brasília: UNESCO, 2000.
Obrigado!
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