TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DO ALUNO MONITOR NO
CONTEXTO DO PROJETO EDIGITAL
Maria Lidiana Ferreira Osmundo, Universidade Federal do Ceará
Juliana Silva Arruda, Fundação Getúlio Vargas
Raquel Santiago Freire, Universidade Federal do Ceará
RESUMO
No atual contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de não apenas
incorporar as tecnologias digitais na escola, mas de torná-las parte ativa no processo de
ensino-aprendizagem e reconhecer que os jovens podem elaborar, produzir e avaliar
conteúdos que lhes proporcionam desenvolvimento pessoal e educacional. Com o
desenvolvimento de novas metodologias utilizadas no processo de ensino, vê-se cada
vez mais a inserção de tecnologias no contexto escolar e em sua rotina como uma forma
de relacionar o processo de ensino-aprendizagem com a linguagem utilizada pelos
alunos dos dias de hoje. As dificuldades resultantes das mudanças proporcionadas pela
inserção das tecnologias digitais no contexto escolar e em sua rotina podem ser
amenizadas por uma formação do corpo docente e discente que integre as atividades
envolvendo os conteúdos curriculares e o uso de recursos digitais em sala de aula. Nesse
contexto, o Projeto EDigital, realizado em uma escola pública no município de Aquiraz,
apresentou uma nova proposta de desenvolvimento desse processo, focando as ações
não apenas na formação de professores e gestores, mas também na formação de 36
alunos monitores, os quais atuam na escola como agentes facilitadores do trabalho
pedagógico em sala de aula, auxiliando outros alunos e professores no uso de
ferramentas digitais, como netbooks, incluindo novas tecnologias no currículo escolar,
além de desenvolver habilidades profissionalizantes a estes alunos. O presente artigo
apresenta de forma mais detalhada como se deu esse processo de formação,
desenvolvido por meio da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação,
TDIC, como forma de potencializar o processo de ensino-aprendizagem, demonstrando
também os resultados desse processo em relação ao desenvolvimento de habilidades
técnicas e pedagógicas e autonomia dos referidos alunos, observando as consequências
da utilização das TDIC para o aprendizado.
Palavras-chave: formação; aluno monitor; tecnologias digitais
1. Introdução
A educação no Brasil é marcada por um processo de mudança constante. As
tecnologias fazem parte dessa mudança, pois trazem novas formas de representação do
conhecimento, da comunicação e, sobretudo, da aprendizagem. Se antes, no modelo
tradicional, a aprendizagem se concentrava na figura do professor, hoje, com estudos de
vários autores, dentre eles Vygotsky (1994) e Healey (2013), o professor é, além de
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participante do processo ensino-aprendizagem, quem age intermediando esse processo,
se comportando como responsável por alavancar o potencial dos alunos.
No atual contexto, as instituições educacionais enfrentam o desafio de não
apenas incorporar as novas tecnologias na escola, mas de torná-las parte ativa no
processo de ensino-aprendizagem e reconhecer que os jovens podem elaborar, produzir
e avaliar conteúdos que lhes proporcionam desenvolvimento pessoal e educacional.
Estes jovens, por sua vez, nasceram no ambiente tecnológico e são capazes de
manusear máquinas com facilidade e de desempenhar o papel de auxiliar os professores,
durante as aulas, no uso pedagógico das tecnologias, inserindo novas ferramentas no
currículo escolar.
É dentro dessa perspectiva de possibilidades de uso de tecnologias nos
ambientes educacionais que surge o projeto EDigital, resultado do interesse da
Companhia Energética do Ceará - COELCE, em parceria com o Instituto UFC Virtual,
pertencente à Universidade Federal do Ceará. O principal intuito foi realizar um
trabalho de cunho social e educativo que pudesse aliar tecnologia e educação abordando
o tema Sustentabilidade. Para isso, foi necessário desenvolver dois cursos de formação,
um de professores e outro de alunos monitores, nos quais foi possível tornar familiar o
ambiente tecnológico para os envolvidos, promovendo a interação destes com a
tecnologia, tendo netbook como um intermediador e como uma ferramenta de
aprendizagem.
O artigo tem seu foco na formação de alunos monitores, que foi desenvolvida
utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação, TDIC. Dessa forma, o estudo
tem como objetivo descrever os conhecimentos dos alunos antes e depois do curso de
formação, observando as consequências da utilização das TDIC para o aprendizado. O
curso contou com 36 estudantes, pertencentes a uma escola pública das séries finais do
ensino fundamental, em Aquiraz, no Ceará.
2. Referencial teórico
De acordo com Flores (1996) a Informática deve habilitar e dar oportunidade ao
aluno de adquirir novos conhecimentos, facilitar o processo ensino/aprendizagem, e
servir como um complemento de conteúdos curriculares, visando o desenvolvimento
integral do indivíduo. Em virtude disso, será abordado o papel das TDIC na educação,
as dificuldades de incluir tecnologia na escola e a importância do aluno monitor no
contexto escolar.
2.1.Tecnologia na escola
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As tecnologias fazem parte da construção histórica da humanidade. Desde o
início dos tempos o ser humano foi movido pela vontade de construir algo novo e de se
diferenciar dos outros seres vivos pelo seu raciocínio e sua capacidadede se adaptar a
diferentes contextos. O papel das TDIC é de estender as habilidades humanas e ampliar
o potencial de seus sentidos, proporcionando uma maior rapidez e praticidade em suas
tarefas. Com a ajuda das tecnologias, é possível que o homem tenha acesso a
informações sobre lugares antes impossíveis, faça tarefas de forma rápida e tenha
acesso a informações por diferentes meios.
As mudanças constantes no contexto da educação caracterizam-se por uma
valorização da informação. De acordo com Silva & Cunha (2002), na Sociedade da
Informação, existem obstáculos e discussões sobre como fazer com que as pessoas
interajam nesse novo contexto, pois é exigido um profissional com senso crítico, que
possa ser criativo, que tenha a capacidade de pensar e de trabalhar colaborativamente.
Embora a mudança na Educação seja lenta e quase imperceptível (VALENTE, 2002),
ela tem o papel de formar esse profissional e, para isso, não se sustenta apenas no que é
transmitindo do professor para o aluno, mas na construção do conhecimento pelo
próprio aluno, de modo a fazer com que este jovem desenvolva novas competências,
como capacidade de inovar, de criar e de recriar, de se adaptar, além de desenvolver
autonomia e comunicação.
É necessário situar a escola frente às exigências do mundo contemporâneo, pois
os jovens possuem uma relação direta com a tecnologia, porém, os grupos sociais têm
acessos diferenciados. Pretto (1999) afirma que em uma sociedade em que há
diferenças sociais e econômicas - como no Brasil - a escola pública assume o papel de
realizar a inclusão digital para a maioria de seus alunos, onde é possível o acesso aos
laboratórios de informática e à internet de modo igualitário.
Segundo Alonso e Vasconcelos (2012) as TDIC potencializam a socialização e
a colaboração, através do uso das diversas ferramentas de informação e comunicação
disponíveis. Sendo assim, o essencial não são os recursos tecnológicos isolados, e, sim,
as atividades colaborativas que as tecnologias proporcionam. As TDIC, sozinhas, não
modificam a qualidade do ensino e da aprendizagem, mas podem modificar a estrutura
e a dinâmica da realidade escolar. Exemplo disso são os trabalhos desenvolvidos pelo
programa Um Computador por Aluno (UCA), lançado oficialmente em 2007,
beneficiando aproximadamente trezentas escolas públicas com 150.000 laptops
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educacionais, em que ocorre a apropriação dos recursos tecnológicos pelos alunos e
pelos professores de forma processual.
Projetos trabalhados em escolas UCA, tais como "Conhecendo meu bairro", os
alunos pesquisaram sobre seus bairros, utilizando o laptop educacional, estudando
localização, tirando fotos e fazendo um levantamento de todo o processo desenvolvido
através do suporte computacional, comprovam alternativas para o uso de ferramentas
que favorecem a aprendizagem, sendo um recurso significativo no sistema educacional
(AMORIM, et al 2013). São projetos como este que os alunos podem alavancar os seus
conhecimentos e ir além do que é proposto, criando músicas, raps, e conseguindo
ultrapassar o meio estruturado e esquematizado de uma aula.
Observado isso, de acordo com estudos de Castro-Filho e Freire (2007), as
TDIC contribuem na área educacional, pois proporcionam diferentes formas de
comunicação e modos particulares de expressão, ocasionando mudanças na própria
estrutura escolar. Além de serem responsáveis por possibilitar maneiras novas de
expressão, comunicação e linguagem e de criar um contexto propicio para
aprendizagem colaborativa.
Deve-se atentar para o fato de que o professor precisa ter o conhecimento sobre
os potenciais educacionais do computador e ser capaz de incluir, de forma adequada,
atividades que utilizem esta ferramenta de modo a colaborar com o ensino-
aprendizagem. Para que as tecnologias sejam aproveitadas e utilizadas em contextos de
aprendizagem é importante uma formação bastante ampla dos educadores. Não é
apenas criar condições para que o professor exerça domínio sobre o computador ou
sobre o recurso educacional, mas pensar em uma formação que contemple discussões
de como eles podem planejar atividades contextualizadas e também colaborativas
juntamente com os alunos.
A presença do aluno monitor ligado ao professor pode ser uma mudança
pedagógica importante no âmbito da escola, pois, de acordo com Valente (2002), é
necessária a passagem de uma Educação totalmente baseada na transmissão da
informação, na instrução, para a criação de ambientes de aprendizagem nos quais o
aluno realize atividades e faça parte da construção do seu conhecimento.
Dentro dessa nova perspectiva, o aluno é capaz de impulsionar a expansão dos
seus processos de aprendizagem, descobrindo caminhos novos, definindo suas rotas de
aprendizagem, propiciando a reflexão sobre os resultados e buscando novas estratégias
para a geração de conhecimento. E, uma vez produzido e adquirido o próprio
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conhecimento, o aluno monitor tem o papel não somente de auxiliar o professor, mas
também de colaborar para que, em conjunto, por meio da interação, seus colegas de
escola se desenvolvam de modo similar.
3. Contexto do projeto EDigital
O processo de ensino-aprendizagem é favorecido pelo uso das tecnologias
quando estas auxiliam a forma como o aluno representa seu pensamento e se comunica,
proporcionando uma maior facilidade na resolução de problemas, bem como o
desenvolvimento de projetos. Dessa forma, cada vez mais surgem novos trabalhos e
estudos sobre o tema e novos recursos digitais para que os professores possam utilizar
no dia a dia escolar (FERNANDES et al, 2009).
O projeto EDigital alia tecnologia e educação e tem como objetivo promover a
inclusão digital de professores e alunos dentro de um contexto de possibilidades de uso
de tecnologias digitais nos ambientes educacionais. Para isso, foram desenvolvidas duas
formações, a de professores e a de alunos monitores. O programa de formação foi
pensado de modo que os computadores fossem acrescentados ao uso pedagógico na
Escola de Ensino Fundamental Professor Ernesto Gurgel, localizada no município de
Aquiraz com apoio da Universidade Federal do Ceará, Secretaria Municipal de
Educação local e Coelce.
O plano de trabalho pedagógico proposto para o ano de 2013 teve suas ações
programadas para um período de 5 meses, de agosto a dezembro. Durante esse período
foi feito acompanhamento pela equipe de formação da UFC Virtual, visando a
ampliação do trabalho de forma pedagógica com os recursos digitais, integrando-os ao
currículo escolar. O projeto continua em andamento, sem previsão de término.
As atividades realizadas passaram pela formação presencial de professores na
aplicação da tecnologia em sala de aula; formação de grupos de alunos monitores
pautada no protagonismo juvenil e corresponsabilidade pelo projeto; ações para
melhoria da infraestrutura na escola; desenvolvimento do projeto pedagógico com uma
turma do 7° ano utilizando os computadores e as suas ferramentas na construção de
materiais digitais com foco nos conteúdos escolares, desenvolvidos a partir do tema
Energia Elétrica e Sustentabilidade.
O presente artigo terá foco na formação de alunos monitores, relatando as
observações, o resultado de sondagens realizadas, o perfil dos alunos antes e após a
formação e a avaliação de todo o processo vivenciado pelos participantes do estudo.
3.1.Formação do aluno
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A formação de professores impõe, de certo modo, uma nova organização da
rotina de sala de aula, diferindo das aulas ministradas anteriormente, estabelecendo
novas relações entre a teoria e a prática. Esta mudança favorece condições para o
trabalho coletivo e interdisciplinar, possibilitando que o aluno, a cada nova descoberta,
seja de competência técnica ou pedagógica, se situe criticamente na sociedade, na escola
e no espaço tecnológico.
No panorama atual, é notório perceber que houve um grande aumento na
produção das TDIC, e hoje são bem mais acessíveis, ou seja, grande parcela das pessoas
tem acesso a computadores conectados à rede, além de outros recursos, como celulares
e tablets. A grande característica desses recursos é que eles possibilitam uma maior
comunicação entre os usuários, permitindo assim maior interação e troca de informação.
É nessa perspectiva que surge a web 2.0, esse termo não se relaciona apenas com
atualizações técnicas, mas, também, com a forma em que ela é percebida pelos usuários.
A partir desse novo contexto, os sites e os ambientes de aprendizagem deixam de ser
rígidos e se tornam plataformas em que é possível uma maior contribuição e
comunicação entre os usuários, pois há mais liberdade de escrita e colaboração, gerando
interação.
O papel do aluno, dentro dessa tendência colaborativa, ganha uma nova
definição, eles têm a participação ativa na produção de conhecimento, de materiais,
causando mudança na interação aluno-aluno e aluno-professores. Muitas vezes, esses
alunos se comportam de forma mais aprimorada do que os próprios professores, pois
buscam esses tipos de informações com mais habitualidade.
Esta geração já se relaciona com as novas mídias de forma diversa e
já existem sinais de um novo processo de produção de conhecimentos, ainda
praticamente desconhecidos pela escola. (PRETTO, 1999, p. 79)
Como Amiel e Morceli (2007) também “vemos o aluno monitor como uma
intervenção escolar.” O que nos faz acreditar no papel do monitor em uma escola como
peça-chave para a introdução das novas tecnologias.
Com o intuito de contribuir para que educadores se apropriem de novas
tecnologias e para que possam se adequar às novas tendências socais e educacionais
vigentes, temos como uma das soluções possíveis, a formação de alunos monitores.
Quando professores e alunos trabalham juntos, as ações da escola podem ser
melhoradas, de modo a aprimorar a utilização das tecnologias colaborativamente.
Os sujeitos da pesquisa foram 36 alunos, do 6° ao 9° ano, escolhidos para fazer
uma formação de dois meses (outubro e novembro de 2013), contabilizando 20 horas.
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Todos os encontros ocorreram de forma presencial no laboratório de informática, com o
objetivo de capacitar alunos para auxiliar professores na utilização de recursos digitais
em sala de aula. Os alunos foram selecionados pela escola a partir de critérios como
comportamento, boas notas e disposição em ajudar os colegas. Foram abertas duas
turmas, em dois horários, nos turnos manhã e tarde, de forma que os alunos
selecionados pudessem frequentar o curso no contra turno.
No desenvolvimento da formação, foram apresentados diferentes conteúdos,
como conceitos básicos de informática e uso responsável da internet. Além disso, foram
realizadas atividades como criação de textos e pesquisas na web, e atividades básicas
como salvar arquivos no computador ou em pendrives, por exemplo.
No projeto em questão a escola, juntamente com os professores, demonstrou
interesse de fazer com que sua rotina se torne dotada de tecnologia digital. Foi com esse
desejo aliado à facilidade dos alunos de manusear as máquinas, que a formação dos
alunos monitores deu-se início. Essa formação foi planejada para envolver não somente
os docentes, mas também o corpo discente no processo de apropriação dos recursos
digitais, com o intuito de aliar a teoria à prática na escola. Além disso, esses alunos são
capazes de desempenhar o papel de auxiliar os professores no uso pedagógico das
tecnologias, inserindo novas ferramentas no currículo escolar.
Durante a formação foi possível trabalhar criticamente questões relevantes e
atuais sobre assuntos ligados à tecnologia e à Internet, de modo a alcançar os objetivos
planejados. Assim, foram debatidos temas, de forma abrangente, como voluntariado,
segurança e uso responsável da internet, desempenho e ações de competência do aluno
monitor e exploração de recursos e de aplicativos do netbook.
Dentre alguns assuntos discutidos e estudados, foi dada ênfase em: regras e
postura ética do aluno monitor frente aos compromissos assumidos na monitoria; pensar
sobre as informações e as possibilidades oferecidas pela internet; formação em
conceitos básicos de informática, a exemplo da utilização de projetores, caixas de som,
pendrives, aplicativos de escritório, como editores de textos, planilhas eletrônicas,
apresentações com slides e outras ferramentas disponíveis; familiarização com o
netbooks e com recursos digitais da internet; e, por fim, foi possível também
potencializar o protagonismo juvenil, envolvendo o monitor em atividades,pelas quais
ele se tornou corresponsável e agente essencial no desenvolvimento.
No período da formação, em novembro de 2013, houve a XI Feira de Ciência e
Cultura da escola. Com isso, foi pensada em uma forma de os estudantes colocarem em
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prática os assuntos trabalhados até o momento. Eles se dividiram em grupos, composto
por entrevistadores, escritores e fotógrafos, nomeados por eles mesmos, e foi construído
um blog (http://escolaernestogurgelvalente.blogspot.com.br/). Este é totalmente
alimentado, ainda hoje, pelos alunos.
Dessa forma, o blog teve início com a cobertura, em tempo real, das atividades
realizadas durante a Feira Cultural da escola, tendo como temática principal os avanços
tecnológicos nos dias atuais. Com o desdobramento dessa atividade, em 2014, durante
uma visita dos formadores à escola, foi discutido o interesse dos alunos para com o
blog, buscando torná-lo em uma espécie de jornalzinho da escola, relatando os eventos
estudantis, as conquistas de olimpíadas dos alunos e até mesmo algumas notícias do
bairro.
Foi observada a capacidade de intervenção dos alunos nas atividades e a
autonomia dos mesmos. E é dentro desse contexto de redefinições de estruturas na
escola que se propõe apresentar uma investigação dos benefícios trazidos pela formação
de alunos, intitulados alunos monitores, dentro do projeto EDigital.
4. Metodologia
Foi desenvolvida uma metodologia de natureza qualitativa, em que houve
observações durante as aulas, registradas em um diário de campo, e foram realizados
questionários, nos quais os alunos responderam algumas perguntas referentes ao uso de
tecnologias (computador, celular, câmera digital, webcam, aparelhos de mp3 e internet)
no seu cotidiano, onde costumavam utilizar a internet, se trabalhavam com tecnologias
digitais na escola, dentre outras.Estes foram analisados, configurando-se na
interpretação da realidade.
Tomou-se como base os autores Bogdan e Biklen (1994), que definem o estudo
qualitativo como rigoroso e sistêmico, onde as hipóteses e as indagações da pesquisa
surgem no momento em que o estudo se desenvolve, tendo como meta principal a
construção do conhecimento e não somente a emissão de opiniões sobre o contexto.
5. Resultados
A seguir serão apresentados os resultados obtidos no trabalho de formação dos
alunos-monitores do projeto EDigital, objetivando uma apresentação mais detalhada
sobre o perfil dos alunos e as aprendizagens desenvolvidas.
5.1.Perfil do aluno monitor
Dos 36 alunos inscritos para essa formação, 29 realizaram a pesquisa, pois nem
todos estavam presentes, aproximadamente 80% do total. A partir das respostas ao
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questionário, percebeu-se que mais da metade dos alunos (o equivalente a 55%), possui
email, 59% dos alunos possuem computador em casa, e 52% possuem acesso à internet
em suas casas.
Assim, concluiu-se que um pouco mais da metade desses alunos já utilizam a
tecnologia no seu cotidiano, mesmo que, em muitos casos, os usos sejam destinados à
diversão e ao entretenimento. Outra constatação é que, apesar dos alunos conviverem e
utilizarem a tecnologia, poucos fizeram algum tipo de formação voltada para o uso da
mesma, demonstrando ter conhecimento informal, adquirido de forma prática, com a
experimentação.
Os alunos durante a avaliação mencionaram o uso do computador para trabalhos
escolares (13%), apesar de, até o início do projeto, relatarem que não utilizavam o
laboratório de informática da escola.
Por fim, 62% dos alunos disseram estar cientes do papel de monitoria na escola,
demonstrando interesse e motivação em estar participando do projeto. Apresentaram
disponibilidade em ajudar e vontade de enriquecer seus conhecimentos, como vemos
neste depoimento de uma aluna:
Espero tanto aprender quanto ensinar e expandir meus conhecimentos de tal
forma que não surpreenda só os outros, mas a mim mesma. (Informação
verbal).
Por intermédio da formação dos alunos monitores foi viabilizado um meio de
agregar o conhecimento informal dos alunos sobre as tecnologias ao processo de
aprendizagem, dentre outros ganhos secundários que serão apresentados
subsequentemente.
5.2. Avaliação sobre a formação e atividades desenvolvidas
Ao final, foi realizada outra pesquisa, com a intenção de saber se os resultados
esperados pela equipe de formadores foram atingidos. Essa segunda pesquisa contou
com 27 alunos, relatando satisfação, que a formação atendeu às expectativas iniciais.
Uma única aluna expressou descontentamento, mas não declarou o motivo, no entanto,
ela relata ainda que aprendeu a utilizar o editor de texto com segurança, a internet e
outros programas.
Os alunos realizaram uma análise crítica das atividades, sendo capazes de julgar
a necessidade de uma internet com maior qualidade, de um número mais expressivo de
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aulas de monitoria e demonstraram o desejo de estender o projeto para toda a
comunidade local.
Um dos pontos avaliados que recebeu um significativo destaque segundo os
alunos foi a importância de substituir os livros por materiais digitais, como os objetos de
aprendizagem. Desta forma, é possível verificar que os estudantes possuem a concepção
equivocada de que a tecnologia vem substituir o livro didático ou recursos já utilizados
cotidianamente na sala de aula.
Com esta última pesquisa, foi possível afirmar que, ao final da formação, os
alunos mostraram ter conhecimentos sobre o desempenho da função de monitor na
escola, mostrando comprometimento, responsabilidade e motivação em ajudar os
colegas e os professores. Dessa forma, considera-se que a formação foi muito bem
aceita pelos envolvidos no projeto.
6. Conclusões
O cenário educacional inclui diferentes atividades que dependem de vários
fatores para que se desenvolvam: a relação entre alunos e professores; as relações entre
professores e alunos, a metodologia, a concepção de educação e de escola e, no caso, da
inserção das tecnologias, a apropriação técnica e pedagógica.
Diante das demandas e dos interesses citados pelos alunos, o EDigital se
apresentou como uma possibilidade de contemplar os anseios dos envolvidos,
motivando-os a participarem ativamente do seu próprio processo de aprendizagem.
Durante o desenvolvimento do projeto foram observadas transformações satisfatórias
nos alunos monitores. Eles se mostraram comprometidos com o projeto, interessados
nas questões pedagógicas da escola, de modo a auxiliar na utilização e conservação dos
netbooks educacionais e demonstraram competência em atividades interdisciplinares
com o uso da tecnologia. Embora inicialmente tímidos, manifestaram autonomia através
das produções temáticas durante a formação e mostraram bom desempenho em relação
a colaboração entre eles mesmos, comprovando que podem colaborar também com os
demais colegas da escola. Provaram estar abertos a mudanças, ao diálogo e interessados
no novo conhecimento que puderam adquirir durante a formação.
Foi possível notar também o desenvolvimento do senso crítico, revelado através
de suas posturas, seus novos valores, frutos da formação. Pode-se concluir chamando-os
de alunos exemplares, capazes de desenvolver autonomia intelectual e de construir
conhecimentos em equipe, além de se desenvolverem de modo cognitivo, social e
moral.Os alunos apenas demandavam um ambiente com as condições facilitadoras para
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desenvolverem seus potenciais. Ao se proporcionar tal ambiente, por meio da
intervenção realizada pela equipe, foi possível ver aflorar tais habilidades e aptidões até
então latentes.
Propõe-se para pesquisas futuras, com o grupo de monitores, a prática em sala
de aula com atividades planejadas juntamente com os professores para o uso dos
computadores em atividades pedagógicas. E buscando novas formas de explorar a
criatividade dos alunos monitores, será proposta uma oficina de audiovisual, fazendo
com que emerjam novas formas de conhecimentos e ganhem um novo instrumento de
comunicação que lhes proporcione liberdade de expressão, facilitando, inclusive, o
diálogo no ambiente escolar.
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