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A ESPECIFICIDADE DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Ms. Maria Clara Ramos Nery
1.Relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e de uma
instituição social e as transformações presentes na estrutura social.
Para pensarmos a Sociologia da Educação, devemos pensar e compreender um elemento
histórico fundamental da Sociologia enquanto ciência. A Sociologia enquanto ciência vai surgir
no século XIX, como uma resposta intelectual para os problemas que a sociedade estava
apresentando. Neste sentido, temos elementos importantes a considerar. Um deles é, justamente,
a significação do século XVIII, para o surgimento da Sociologia como ciência. Este século, é o
século onde temos a presença de uma dupla revolução: a Revolução industrial, de caráter
econômico e social e a Revolução Francesa, de caráter eminentemente político, onde temos a
burguesia, enquanto classe social, tomando o poder na França e expandindo-se para todo o
mundo, ou seja, internacionalizando-se.
O outro elemento é que os processos destas duas revoluções, são significativos, porque
foram a força motriz da consolidação do modo de produção capitalista. Este modo de produção
tem como característica básica, a posse privada, particular dos meios de produção. Afirma
Meksenas:
Esse modo de produção que se originou do comércio e da manufatura foi responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento das atividades produtivas, dando origem à moderna industria. A intensa urbanização do nosso século é fruto desse processo e o aparecimento de classes sociais também o é. Agora, sob a sociedade capitalista, a fonte de riquezas não é mais a terra, mas sim a propriedade de fábricas, máquinas, bancos, isto é, a propriedade dos meios de produção. Assim, os poucos proprietários dos meios de produção se constituem na classe empresarial (burguesia) enquanto uma imensa maioria de pessoas não-proprietárias se constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca sua capacidade de trabalho por salário (Meksenas, 2005, p:29)
Ou seja, tudo o que uma sociedade necessita para produzir seus bens, são de controle privado,
de posse particular de uma minoria, os detentores dos meios de produção. Este aspecto é de
fundamental importância, na medida em que esta transformação no contexto das sociedades
contemporâneas, principalmente as sociedades do mundo Ocidental, fez com que a sociedade se
tornasse um problema. Haviam muitas questões de ordem social para serem resolvidas. Então,
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no século XIX, surge a Sociologia, como uma resposta intelectual para os problemas que a
sociedade estava a apresentar.
Temos então agora, a partir do século XIX, notadamente em 1839, ano em que Augusto
Comte nomeou a então física social de Sociologia, uma ciência com objeto e métodos de
investigação, que buscará responder às principais questões que se apresentavam no universo
social de então. Encontramo-nos numa sociedade marcada por contradições, consequentemente
por crises de caráter econômico, político e também cultural. É uma sociedade onde temos a
vigência do conflito. Outro não poderia ser o contexto de surgimento então da Sociologia, como
dissemos anteriormente.
A Sociologia em seu primeiro momento podemos verificar que tem um caráter
conservador, na medida em que encontrar-se-á preocupada com a ordem que se perde com o
advento do modo de produção capitalista, neste sentido a grande preocupação é com o
restabelecimento com a antiga ordem. Por isso podemos dizer que seu caráter no período de seu
surgimento pode ser considerado enquanto conservador. Segundo Maksenas(2005), pode-se
afirmar que a sociologia é fruto de uma época, de nova organização social, de uma
transformação social. A nova ordem social está instaurada, portanto, é necessário ser explicada,
entendida.
Os autores considerados clássicos da Sociologia são: Karl Marx (1818-1883), Émile
Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). Estes autores objetivaram desenvolver
teorias que até hoje se constituem enquanto base explicativa e de interpretação da sociedade
capitalista. Estas teorias são: a teoria crítica ( Karl Marx), a teoria funcionalista ( Emile
Durkheim) e, a teoria compreensiva(Max Weber), dizendo de outra forma: sociologia crítica,
sociologia funcionalista e sociologia compreensiva, respectivamente.
Como podemos pensar a educação no contexto desta nova sociedade e desta nova ciência?
Deve ficar entendido que os processos culturais no contexto das sociedades capitalistas,
fazem com que tenhamos forte concepção de que a ciência é a fonte de toda e qualquer
explicação para o estar no mundo. Segundo Maksenas(2005), nesse sentido a própria vida
moderna só poderá ser entendida sobre a ótica da ciência, melhor dizendo, sobre a ótica dos
métodos científicos e, neste processo a educação também vai sofrer transformações na medida
em que passa a refletir valores que tem a ciência como base, deixando então de refletir valores
religiosos anteriormente presentes no contexto da sociedade feudal. Afirma Maksenas:
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Será nesse contexto ideológico da nascente sociedade industrial que nasce uma nova instituição responsável por essa educação: a escola. Percebemos que uma das características da revolução ideológica capitalista foi transportar uma educação que durante o feudalismo ocorria na família e na Igreja para a instituição da escola. Nasce assim a escola: uma instituição com normas específicas, agentes próprios ( diretores, professores, alunos, orientadores pedagógicos etc.) e toda uma hierarquia. A escola se propõe o objetivo de preparar os indivíduos para a vida em sociedade ao mesmo tempo que desenvolve suas aptidões pessoais. Com isso, nasce também nova estrutura de ensino: muitas salas de aula, muitos alunos numa só sala, provas, notas, porcentagens de freqüência, carteiras em filas, diplomas. Tudo com o objetivo de educar uma massa cada vez maior de indivíduos, tentando adapta-los aos valores dessa nova sociedade capitalista do século XVIII. A escola que conhecemos hoje é, portanto, produto dos séculos XVIII e XIX, período em que aparece a idéia da necessidade de educação publica e obrigatória para todas as pessoas (Maksenas, 2005, p:30).
Como podemos ver e depreender das considerações de Maksenas ( 2005), surge no
contexto social, na nova ordem capitalista a necessidade de explicar a realidade, mas também a
necessidade de criar-se espaços para preparar indivíduos que se adaptem à nova ordem
estabelecida, ao novo sistema. A escola será então de certa forma a instituição que terá este
papel de preparação de indivíduos que devem estar adequados ao sistema social.
Pelo que podemos depreender das considerações acima, é importante verificar a relação
de interdependência presente entre contexto social, o surgimento da ciência e o surgimento da
escola enquanto instituição. Neste sentido toda transformação nas estruturas sociais originou
novas formas de ser enfocada a realidade social vivenciada por indivíduos e grupos e novas
instituições sociais, com funções específicas, sendo a escola uma das principais instituições.
Neste sentido, deve-se compreender também que teremos “novas sociologias” e dentre elas
surge a Sociologia da Educação, que se constitui na ciência que vai investigar, interpretar e
analisar a escola como instituição social, considerando os processos sociais que a envolvem.
Salienta Demeterco que: “[...]todas as transformações vividas pela sociedade trouxeram novos
temas para discussão no campo da Educação, entendida aqui por Meksenas, como o conjunto
de várias “maneiras de transmitir e assegurar a outras pessoas os conhecimentos de crenças,
técnicas e hábitos que um grupo social já desenvolveu a partir de suas experiências de
sobrevivência” (Demeterco, 2007, p:7)”. De certa forma o campo de estudos da Sociologia da
Educação pode ser diversificado, mas mesmo em sua diversificação ele necessita de
instrumental teórico-metodológico detalhado e específico, que permita a compreensão dos
elementos presentes no contexto social, histórico, político, cultural e econômico sobre o qual se
assenta a educação.
1.2 –A educação como processo socializador
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O que podemos entender por socialização? Anteriormente já nos referimos a esse
respeito, quando tratamos da relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e
de uma instituição social e as transformações presentes na estrutura das sociedades. Neste
sentido creio que podemos pensar que a socialização é o processo de adequação do indivíduo ao
sistema social. Viver em sociedade significa estar de certa forma “enquadrado” ao sistema
social, seguindo as regras e normas sociais estabelecidas,.
O processo de socialização permite a manutenção e a sobrevivência da sociedade. Na
medida em que indivíduos e grupos pautam sua conduta pelas normas e regras previstas
socialmente encontram-se adaptados a sociedade e esta então pode manter-se coesa e em
harmonia como nos diriam os positivistas e os funcionalistas.Neste sentido o processo de
socialização é o fator que permite verificarmos a existência de vínculos sociais que
consolidados mantém a sociedade harmonicamente constituída e em ordem.
A educação, pode e deve ser concebida como uma das principais instâncias de
socialização das novas gerações. A educação permite que nos constituamos enquanto seres
sociais em nosso estar no mundo, pois deve ser compreendida, segundo (Oliveira,2005) como
processo social de caráter permanente no contexto das sociedades humanas, que é responsável
pelo nosso ajustamento aos padrões culturais vigentes. Claro está então, que uma das principais
tarefas da educação no contexto das sociedades encontra-se no fato, de fazer com que nossos
interesses individuais sejam realizados através dos interesses sociais. Neste sentido a educação,
enquanto fonte de socialização nos faz verificar que sozinhos nada conseguimos, precisamos
dos outros e precisamos de certa forma estarmos adequados às regras coletivas.
Afirma Meksenas (2005): “[...] o ser humano só desenvolve potencialidades em contato com
outras pessoas, com o meio social. A convivência no grupo, por sua vez, só é possível se o
indivíduo acatar certas regras comuns a todos, se for capaz de “abrir mão”de alguns de seus
desejos para ter outros, socialmente aceitos(MEKSENAS, 2005, p:40)”. Viver em sociedade
nos pede justamente isto, que de certa forma consigamos “abrir mão”de alguns de nossos
desejos em nome do coletivo.Neste sentido, podemos dizer que o processo de socialização se
realiza em sua plenitude na medida em que podemos realizar este gesto, pois a função social da
educação é justamente evitar a contradição sempre presente entre os interesses pessoais e os
interesses sociais(Meksenas, 2005).
A educação deve fazer com que o indivíduo internalize idéias e procedimentos que
fazem parte do meio social, pois a educação enquanto instância transmissora dos padrões morais
aceitos socialmente permite a própria reprodução da sociedade. Afirma Meksenas: “A educação
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é una: deve inculcar no indivíduo idéias que fazem parte do meio social em que vive. Como
vimos, a sociedade se caracteriza por ser um corpo cuja tendência natural é o progresso e a
harmonia; a garantia dessa tendência nos é dada pela moral social, que impõe ao indivíduo a
conduta exigida pela sociedade. Nesse contexto, a educação se caracteriza por ser o ato de
transmissão dessa moral (Meksenas, 2005, p.41)”.
Ao mesmo tempo, a educação é múltipla, na medida em que envolve uma soma de
conhecimentos diferentes, que variam de indivíduo para indivíduo, considerando-se o contexto
social. Embora seja una, dentro desta mesma unidade encontramos uma diversidade de
conhecimentos. Novamente, afirma Meksenas: “A educação é múltipla, além de uma, porque,
ademais dos valores comuns a todos os indivíduos de uma sociedade, que ela transmite, existe
uma soma de conhecimentos distintos, que variam de classe para classe social ou de profissão
para profissão. Portanto, apesar de ela ser uma, pode existir dentro dessa unidade uma certa
diversidade ou especialização de conhecimentos(Meksenas, 2005, p.42)”. Os aspectos citados
pelo nosso referido autor, de certa forma nos demonstram a dialeticidade presente na educação
enquanto processo socializador.
1.3 A educação como processo de controle social
Vimos a educação em sua função socializadora, mas é importante verificarmos que a
educação também possui, junto com outras instituições sociais, a função de realizar o controle
social. Não podemos separar a educação de sua função de controle social, que se encontra
sempre relacionado com uma forma disciplinar de reger as condutas, que virá a garantir a
permanência e sobrevivência das sociedades.
O que podemos entender por controle social? São todos os mecanismos que coagem
indivíduos e grupos a agirem, a se comportarem de conformidade com as regras e normas
estabelecidas pela sociedade. Em sociedade temos sempre algum tipo de controle, que pode ser
de caráter individual ou ser de caráter social, pois não podemos viver numa sociedade sem
qualquer forma de controle, na medida em que ninguém saberia ao certo o seu padrão adequado
de comportamento, a norma de conduta a seguir e assim por diante. Não dá para vivermos em
sociedade sem que existam formas de controle, pois este mesmo controle rege nossa conduta e
estabelece repertórios de ações individuais e coletivas e padrões sociais de comportamento, que
nos permitem circular com certa segurança no meio social, no exercício de nossos papéis
sociais.
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Os padrões sociais de comportamento,ou padrões de comportamento, podem ser
entendidos enquanto “regularidades”, regularidades estas que são impostas pela sociedade para
todos os indivíduos e que vão determinar as condutas dos indivíduos e grupos, determinada
pelos padrões culturais. Segundo Oliveira (2005), a educação tem por finalidade ajustar os
educandos aos padrões culturais vigentes. Este processo de adequação permite que os
educandos possam ser capazes de estarem integrados na sociedade de forma adequada ao
próprio desenvolvimento da cultural. Sendo assim, a sociedade se mantém em ordem.
Temos em sociedade elementos formais de controle social e elementos informais de
controle social. Comparando o direito, com a educação, podemos entender o direito, enquanto
elemento formal de controle social, na medida em que suas normas e regras, se encontram no
campo do obrigatório, não sendo, portanto, facultativo. A educação pode ser considerada
enquanto elemento informal de controle social, na medida em que se encontram presentes
elementos que se inserem no campo do facultativo, no campo da cultura, mas salientamos que
mesmo no campo do facultativo, encontramos determinações que estabelecem condutas e
padrões comportamentais aceitos socialmente, neste sentido, deve ficar entendido que o
conjunto de normas e de regras presentes na sociedade, sobrepõem-se ao indivíduo, fazendo
com que ele se adapte ao meio social. Reiteramos que a educação possui esta função social, ou
seja, prepara indivíduos para se adequarem ao sistema, sendo assim as normas e regras sociais
exercem papel norteador das condutas, permitindo a construção de específicos repertórios de
ações individuais e coletivas.
PONTO FINAL
Neste capítulo vimos a relação de interdependência entre o surgimento de uma ciência e
de uma instituição social que é a escola e as próprias transformações presentes na estrutura
social que fizeram com que a escola surgisse para preparar aos indivíduos a adequarem-se ao
sistema, portanto, é importante sempre fazermos a relação entre estrutura social e suas
conseqüências, pois nada encontra-se constituído fora de seu efetivo contexto. Vimos também a
educação como processo socializador, onde este mesmo processo permite e garante a
sobrevivência da sociedade, na medida em que a educação se constitui enquanto uma das
principais instâncias de socialização das novas gerações.
Ao mesmo tempo, no decorrer deste capítulo vimos a educação como processo de
controle social, onde em sua função socializadora a educação também tem a função de realizar o
controle social, forma disciplinar de reger as condutas, que possibilita a garantia e a
permanência das sociedades. Portanto, a sociologia da educação nos permite perceber a relação
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entre contexto social e o que ele origina no contexto das sociedades. A educação encontra-se
contida na estrutura social, portanto ela em todas as suas funções, refletirá o que encontra-se
presente num contexto mais amplo.
ATIVIDADE
Como uma atividade de estudo, cremos que a seguinte questão se faz importante: na
constituição de nossa personalidade individual, devemos considerar os determinantes sociais?
Procure fundamentar sua resposta com base no que foi trabalhado do texto, onde vimos a
própria função social da educação, processos de socialização e mecanismos de controle social.
Disserte a respeito.
Com base no que vimos, disserte sobre a especificidade da Sociologia da Educação.
Observe que no texto encontram-se todos os elementos que lhe permitem visualizar o que é de
mais específico deste campo da sociologia.
EXERCÍCIOS DE AUTO-ESTUDO
1)-A Sociologia como ciência que possui objeto de investigação e método, surge como resposta
intelectual às transformações sociais ocorridas com a consolidação do capitalismo. As
revoluções que marcaram este período foram:
a)-( )Revolução Francesa e Revolução industrial
b)-( )Revolução industrial somente
c)-( )Revolução francesa somente
d)-( )Nenhuma das respostas é a correta.
2)-No contexto da sociedade capitalista a fonte de riqueza é:
a)-( )a propriedade de terras
b)-( )propriedade de fábricas
c)-( )propriedade de capital
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
3)-A Sociologia em seu surgimento apresenta um caráter:
a)-( )libertador
b)-( )crítico
c)-( )conservador
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
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4)-A instituição social que nasce com a sociedade capitalista é:
a-( )a família
b)-( )a escola
c)-( )a igreja
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
5)-O processo de socialização permite:
a)-( )a transformação da sociedade
b)-( )a mudança social
c)-( )a manutenção e a sobrevivência da sociedade
d)-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta
6)-Controle social pode ser entendido como:
a)-( )mecanismos que coagem indivíduos e grupos a agirem, de conformidade com as normas
e as regras sociais.
b)-( )mecanismos de integração que fazem com que indivíduos não se sintam coagidos a
agirem de conformidade com as normas e regras sociais
c)-( )mecanismo de socialização que permite que a liberdade individual se sobreponha a
liberdade coletiva.
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
Como questão de reflexão deixamos a pergunta: qual o papel da educação no contexto
da nossa vida? Qual o papel fundamental da educação no contexto das sociedades?
DICA DE ESTUDO
Uma importante dica de estudo é a leitura do livro de Paulo Meksenas, onde trabalha
no segundo capitulo a educação segundo o funcionalismo, onde você encontrará elementos que
lhe permitem visualizar a função social da educação, na medida em que ela é fator de
socialização.
BIBLIOGRAFIA
DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.
Iesde/Brasil.
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MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005). Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo.
Editora Ática.
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OS TEÓRICOS CLÁSSICOS E SUAS CONCEPÇÕES SOBRE A
EDUCAÇÃO – principais pressupostos teóricos.
Ms. Maria Clara Ramos Nery
Anteriormente vimos a especificidade da Sociologia da Educação, vimos também a
função social da educação. Neste momento de nossa disciplina, vamos trabalhar com os
clássicos da Sociologia – Marx, Durkheim e Weber, e suas concepções acerca da educação, o
que trazem de específico e suas contribuições.
Karl Marx (1818-1883) e a educação
Primeira mente, devemos ter claro que a principal questão sociológica se traduz por ser
a relação indivíduo e sociedade. Neste sentido, cremos que se torna necessário trabalhar os
autores clássicos da sociologia e a forma como eles respondem a esta principal questão
sociológica. Vamos começar com Karl Marx (1818-1883). Para Marx, a sociedade determina o
indivíduo através das condições materiais de existência. Pode-se verificar então que estamos
diante de uma concepção de caráter determinista.
O critério de compreensão da relação indivíduo e sociedade em Marx, é como vimos o
critério econômico. Para nosso autor de referência somos determinados em função de nossas
condições materiais de existência e, somente neste sentido a sociedade determina o indivíduo.
Neste sentido, para o marxismo o pensamento, a visão de homem e de mundo, são resultado das
condições materiais. Portanto, o mundo material deve ser considerado como anterior ao espírito
e este mesmo espírito deriva das condições materiais.
Observem o que nos afirma Silva:”O materialismo marxista considera o mundo como uma
realidade dinâmica, um complexo de processos, que exige observarmos a realidade
dialeticamente, isto é, em que ponto a realidade influencia a idéia e a idéia influencia a
realidade. Assim, o espírito não é conseqüência passiva da ação da matéria, podendo reagir
sobre aquilo que o determina, libertando o ser humano por meio de sua ação sobre o mundo,
permitindo, assim, no futuro, a ação revolucionária (SILVA, at all, 2006, p.49)”. Pode-se
perceber então, que em Marx encontramos a presença da ação do homem no mundo, ou seja, o
homem, a partir de sua compreensão da realidade, partindo desta mesma realidade, teria o papel
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de exercer em seu estar mundo uma ação transformadora. Uma pergunta importante deve ser
feita: é a idéia que faz o real, ou o real que faz a idéia?
Numa concepção marxista, é o real que faz a idéia, pois é no campo da realidade concreta, que
se encontram as condições de possibilidade para realizações. Não é tendo por base as idéias que
a vida do homem no mundo será explicada e sim através da atividade material humana, da
práxis, que vamos compreender as idéias, a visão de homem e de mundo. Marx assinada que;
“as idéias dominantes na sociedade, são as idéias da classe dominante”.(Silva, 2006).
Compreendido o próprio ponto de partida da concepção marxista da relação indivíduo e
sociedade vamos agora trabalhar a questão da educação. Como Marx via a educação? Como
uma concepção marxista trabalha com a educação?
Primeiramente, torna-se necessário repetir que em Marx, são as relações sociais de
produção, as relações econômicas fatores determinantes da sociedade. Toda formação social
possui uma infra-estrutura, onde temos as relações sociais de produção e uma superestrutura,
onde temos três instâncias, a instância ideológica, jurídico-política. A infra-estrutura determina
a superestrutura social, que por sua vez, legitimaria as relações sociais de produção presentes na
infra-estrutura. Considerando a superestrutura, em Marx, podemos verificar que a educação, faz
parte da superestrutura social, na instância ideológica.
O termo ideologia aqui para nós assume aspecto fundamental. Em Marx, a ideologia
constitui-se enquanto uma distorção do pensamento que se origina das contradições sociais e
que oculta estas mesmas contradições, que por sua vez se manifestam nas idéias, visões de
mundo e de homem, crenças e nas próprias categorias de conhecimento. Afirma Silva (2006):
“A ideologia impede que o proletário tenha consciência da própria submissão, porque camufla
a luta de classes ao representar, de forma ilusória, a sociedade, mostrando-a como uma e
harmônica. Além disso, segundo Marx, a ideologia esconde que o Estado, longe de representar
o bem comum, é a expressão da classe dominante(SILVA, at all. 2006, p:43)”. Podemos então
verificar que a ideologia se constitui enquanto uma visão “falsa” da realidade, na medida em
que escamoteia, esconde aspectos desta mesma realidade.
Já dissemos que a educação encontra-se na esfera superestrutural da sociedade, e é
atinente à esfera ideológica. Marx, não trabalhou especificamente com a educação, mas
podemos ver, considerando que as idéias dominantes na sociedade, são as idéias da classe
dominante, no marxismo então, a educação, ou o processo educativo seria transmissor da
ideologia dominante. Afirma Silva, o seguinte:
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A esperança de Marx por uma nova sociedade não pode ser construída sem a presença da ação educativa. No Manifesto, ele deixa claro que a educação deve ser levada em consideração no momento de se elaborar qualquer projeto de superação das relações sociais burguesas. É preciso, segundo ele, arranca-la da influência da classe dominante, do modo burguês de ver o mundo, se não quisermos que as crianças sejam transformadas em “simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho”(Marx, 1984, p.32). Entre as medidas a serem implementadas para que um novo tipo de educação seja desenvolvido, é preciso uma “educação pública e gratuita de todas as crianças”. Pensando a educação como parte de sua utopia revolucionaria.Marx identificou nela uma arma valiosa a ser empregada em favor da emancipação do ser humano, de sua libertação da exploração e do jugo do capital – a construção da sociedade comunista(Silva at all, 2006,p.52).
Pode-se verificar que a concepção marxista acerca da educação e do próprio papel dela
no contexto da sociedade capitalista, envolve uma concepção de caráter crítico e, neste sentido,
também se pode dizer que a concepção marxista permitiu a que se tivesse uma percepção do
processo educativo de caráter mais questionador, neste sentido a sociologia da educação
modifica-se com as questões levantadas pelo marxismo, enquanto instância supraestrutural de
caráter ideológico. Cabe salientar que em Marx o que se expressa de forma clara é a
transformação da sociedade capitalista, para uma forma mais igualitária e justa de sociedade.
Em Marx, a educação é um instrumento, no contexto da sociedade capitalista, pelo qual
os dominados internalização os valores e visão de mundo da classe dominante, mas isto não nos
retira a possibilidade de refletirmos acerca de uma pedagogia que possa ser um meio pelo qual
se pode superar a ordem social capitalista, sempre desigual e, marcadamente excludente. Afirma
Silva (2006): “Tomando as idéias de Marx para uma educação que vise à realização e à
formação de uma personalidade humana unificada e plena, é necessário considerar a educação
não um problema individual, privado, sujeito a um processo de aperfeiçoamento espiritual, e,
sim, um problema social, dependente da transformação da estrutura econômica da
sociedade.Como, para ele, o homem é a essência que se faz a si mesmo, a prática educativa
pode se tornar uma atividade favorável não apenas para formar pessoas, como também para
transformar a sociedade(Silva, att all, 2006,p.51)”.
Sendo entendido o que nos coloca Silva, pode-se verificar que a educação com um
papel social marcadamente crítico, questionador da ordem vigente.A educação pode contribuir
para a mudança da ordem social na medida em que permite através do processo de ensino
aprendizagem o próprio rompimento com dominação estabelecida pela classe dominante.
Paulo Freire, foi um dos pedagogos brasileiros que buscou transformar o papel
“conservador” da educação, dando-lhe um caráter transformador, na medida em que o processo
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de ensino-aprendizagem se fazia a partir da própria realidade do aluno, realidade esta marcada
pelos laços fortes da desigualdade social. De qualquer forma é importante percebermos que em
Marx a transformação da sociedade envolve a presença da ação educativa. A sociedade
capitalista, com suas contradições, não pode ser transformada, superada, sem consideração do
processo educativo no que ele tem de supraestrutural e, sendo assim de legitimador da
“nova”ordem social.
EMILE DURKHEIM (1858-1917) e a educação
Como Emile Durkheim, responderá à principal questão sociológica, que é a relação
indivíduo e sociedade? Em Durkheim, encontramo-nos também diante do determinismo. Só que
o determinismo de nosso referido autor é diferenciado se consideramos Marx. Em Durkheim a
sociedade determina o indivíduo através das normas, regras sociais, que são produzidas
coletivamente. Neste sentido nossa maneira de pensar, de sentir, de agir, encontram-se
determinadas pela sociedade. Para Durkheim a educação se constituiria como a principal fonte
de socialização, na medida em que, ela (a educação) permitiria a internalização das normas e
regras presentes na sociedade. Neste sentido, encontramos em Durkheim a concepção de que o
processo de socialização é o mesmo que o processo de educação, pois é pelo ato de educar que
os indivíduos e grupos acabam por interiorizar todos os elementos da moral que encontram-se
presentes no meio social. Afirma Atisiano:
Essa socialização, segundo Durkheim, compõe o processo de aprendizagem social que permite a absorção das formas de viver da sociedade, seja pensamentos, atitudes, símbolos e regras. No bojo dessa socialização, está a moral da sociedade, a qual é constituída por alguns tipos de regras, direitos e deveres, sistema de recompensa e castigo, etc. Essa mesma moral também faz parte da linha mestre de ensino nas escolas, ou seja, as práticas pedagógicas adotadas na educação não são desvinculadas da estrutura social à qual pertence. Os mesmos princípios desenvolvidos na sociedade, por meio de outras instituições sociais, são adotados na escola, a fim de acompanhar “a constituição e as necessidades do organismo social” (Tura, 2001, p.49). O fim último da escola como reguladora social é “difundir uma moral laica racional, que proporcionasse a coação social” (Souza, 1994,p.8)(ATISIANO, 2006, p.33).
Conforme nos afirma Atisiano(2006), podemos verificar, que a escola, enquanto
instituição social reflete os elementos presentes na sociedade e o processo de ensino-
aprendizagem é o processo que também permite e estabelece formas de regulação social
adequando indivíduos e grupos à própria estrutura da sociedade. Deve-se verificar que a
instituição do Estado é reguladora da ordem social, estabelecendo-se a ordem no contexto das
sociedades complexas. A educação, na medida em que é uma das funções do Estado, também é
reguladora da moral vigente na sociedade.
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Segundo Demeterco(2007), Durkheim focalizou em sua concepção sociológica as
estruturas bem como as instituições sociais, considerando as novas relações de poder que se
instauravam em sua época. Estava preocupado com elementos de desagregação social que
concebia estarem presentes em sua sociedade. A educação para ele se constituía num processo
contínuo que permitiria a ordem e a estabilidade social, uma vez que determinados valores
éticos fossem passados e internalizados por indivíduos e grupos.
A educação enquanto instituição social reflete elementos da sociedade na qual se
encontram contidos indivíduos e grupos. Afirma Demeterco, com relação à educação numa
concepção durkheimiana: “Deve procurar restabelecer o consenso, a manutenção e a
continuidade do grupo social, transformando o homem num ser social, interiorizando os
valores e as maneiras de ser, pensar e agir do seu grupo. Isso tudo serviria para se criar e
manter mecanismos de regulação social, valorizando então a disciplina, a obediência e o
respeito à autoridade (Demeterco, 2007, p:15)”. Podemos verificar antão como dissemos
anteriormente que para Durkheim a educação se constitui então, no principal elemento de
socialização, na medida em que, permite a adequação pela internalização dos valores, normas e
regras sociais, de indivíduos e grupos ao contexto social mais amplo.
O fato social na concepção de Durkheim
Na abordagem de Durkheim, encontramos como objeto de investigação sociológica o
fato social, que podemos definir enquanto o conjunto de normas e de regras estabelecidas
coletivamente. Constituem-se em toda maneira de pensar, de agir e de sentir, que exercem sobre
indivíduos e grupos coerção exterior, que são independentes das concepções individuais. Neste
sentido, possuem uma força coercitiva sobre indivíduos e grupos, independentemente de suas
vontades individuais. Os fatos sociais, segundo nosso autor de referência, possuem como
características, serem coercitivos, exteriores e genéricos, sem estas características não
encontramo-nos diante de um fato social, segundo a concepção de Durkheim, pois estas
características são condicionantes e explicativas do fato social (Atisiano, 2006). Que relação
podemos fazer entre o fato social e a educação?
A educação, em Durkheim, tem poder coercitivo sobre indivíduos e grupos fazendo com
que estejam adequados às normas, aos costumes, aos hábitos estabelecidos na sociedade, neste
sentido, fazer parte da sociedade é estar agindo de acordo com o socialmente
determinado e, podemos verificar que a escola, enquanto instituição social é força motriz
da absorção do que encontra-se presente no contexto social. Afirma Atisiano o seguinte:
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Para Durkheim, a educação exerce coerção sobre os indivíduos, obrigando-os a se conformarem aos seus conteúdos, costumes e hábitos, desenvolvidos na escola e presentes na sociedade, isto é, para que sejamos aceitos na coletividade em que vivemos, é preciso que nos adaptemos às posturas por ela determinadas. A educação também se apresenta de forma exterior ao indivíduo, ou seja, não cabe a ele decidir ou desejar ser educado conforme os padrões estipulados pela sociedade, isso já é definido antes mesmo do seu nascimento, tem existência própria. E, por fim, a educação tem um aspecto geral, não se trata de um caso isolado e, sim de um mecanismo adotado da maior parte dessa sociedade. O sistema educativo de determinada sociedade tem características imbricadas de costumes, hábitos e crenças, condizentes com a realidade social, política, econômica e cultural. Quando Durkheim o caracteriza como um fato social, não basta observar o comportamento individual para entender sua extensão. Ele definiu as três características citadas acima para que entendamos que um fato social só é explicado por meio de outro fato social a partir da investigação das instituições e a explicação do seu funcionamento. A educação – fato social e instituição, apresenta-se independente dos indivíduos, ela é uma força maior do que eles, que lhes dita comportamentos exigidos pela sociedade. Note-se também que Durkheim era ciente da importância dos indivíduos para a constituição a sociedade, do fato social ou de uma instituição, todavia, não era parte que lhe interessava, e sim a influência que o todo tinha sobre as partes, por isso, tanta ênfase nas instituições e suas diretrizes(ATISIANO, 2006, p.30).
Atisiano(2006), estabelece a própria definição das características dos fatos sociais, a
coercibilidade, a exterioridade e a generalidade, sendo que esta característica é a mais
sociológica das características se assim podemos dizer, na medida em que é a partir da
generalidade que os indivíduos e grupos reproduzem sem si as regras, normas, costumes,
crenças etc, presentes na sociedade, que estabelecem padrões comportamentais e repertórios de
ações coletivas, que permitem a ordem e a coesão social. Salienta a autora, que em Durkheim a
preocupação fundamental não encontrava-se na priorização dos indivíduos, mas das instituições
sociais e suas determinações, pois a manutenção da ordem, coesão e consenso sociais lhe era
importante.
O que verificamos ser uma tônica no pensamento de Durkheim, encontra-se no fato de
que no contexto das sociedades complexas, caracterizadas por uma divisão do
trabalho(especialização) que é mais desenvolvida do que nas sociedades denominadas de
simples, as várias instituições presentes na sociedade acabam por exercerem suas funções
determinadas a fim de integrar aos indivíduos. A educação para Durkheim, envolve então, a
ação que as gerações adultas exercem sobre as gerações mais jovens, que ainda não se
encontram preparadas para a vida social. A educação tem por objetivo fazer com que se
desenvolva na criança e nos jovens características notadamente morais, em estrita consonância
com os valores exigidos socialmente.
Durkheim, não estava preocupado com a transformação da sociedade capitalista, mas
sim com a sua regulação. Concebe a educação enquanto elemento que integra a sociedade, na
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medida em que deve existir para manter a ordem social. Não é tarefa da educação a
transformação da ordem social, notadamente da ordem social capitalista, mas sim a própria
reprodução dos valores morais, éticos dessa sociedade. Nesse sentido a educação numa
concepção durkheimiana não tem a função de mudar, mas sim de reproduzir. (Meksenas, 2005).
Max Weber (1864-1920) e a educação
Vimos anteriormente a concepção de Durkheim acerca da significação da educação no
contexto social. Agora vamos trabalhar com as concepções de Max Weber sobre a educação,
abordando alguns aspectos importantes de sua teoria. Como Weber concebe a relação indivíduo
e sociedade? Principal questão sociológica? Em Weber, não estamos diante de determinismos,
pois em sua concepção da relação indivíduo e sociedade, podemos dizer que trás para “dentro”
da sociologia o indivíduo enquanto “construtor” de seu universo social. Para Weber o indivíduo
em interação, trocando sentidos e significados, compartilhando esses mesmos sentidos e
significados, constrói a sociedade. Este é um primeiro momento, na concepção da relação
indivíduo e sociedade em Weber. O indivíduo como construtor do universo social, somente num
segundo momento é que teremos a determinação do social sobre o individual.
Weber, recusará uma concepção determinista, na medida em que enquanto seres
humanos em nosso ato de nomear as coisas, damos-lhe existência, damos-lhe vida, porque
atribuímos significados. O homem em seu estar no mundo então, constrói seu próprio universo
– o universo social, que por sua vez exercerá sobre nós sua determinação e, nesta determinação
Weber também considera os aspectos de caráter econômico.
O ponto de partida de Weber para compreender a sociedade, se constituía na
compreensão da ação do homem. Para ele era necessária investigar, interpretar e analisar a ação
do homem em seu estar no mundo e os sentidos e significados que seriam força motriz desta
mesma ação.Para ele, seu ponto de partida encontra-se na ação social e na concepção de que a
sociologia é uma ciência compreensiva.
Dialoga com a teoria marxista, mas afasta-se de Marx na medida em que ao explicar a
sociedade parte das relações estabelecidas pelos homens no contexto da sociedade capitalista e
não centraliza sua análise em determinantes econômicos. Considera a existência de inúmeros
grupos sociais em sociedades diferentes, que envolvem culturas diferentes e que, portanto,
devem ser consideradas também na ação educativa. Não nega taxativamente a luta de classes,
mas considera que não se encontra nela todas as causas e conseqüentes transformações
sociais.E, ainda, em Weber a sociedade não é uma força exterior sobre indivíduos e grupos que
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lhes determina, mas o próprio resultado de processos interativos. Afirma Rodrigues: “A
sociologia do alemão Max Weber(1864-1920) tem como premissa a idéia de que a sociedade
não é apenas uma “coisa” exterior e coercitiva que determina o comportamento dos
indivíduos, mas sim o resultado de uma enorme e inesgotável nuvem de interações
interindividuais. A sociedade para Weber não é aquilo que pesa sobre o indivíduo, mas aquilo
que se veicula entre eles. As conseqüências dessa visão para a sociologia da educação, é claro,
serão bastante significativas(RODRIGUES, 2007, p.51)”. Chama a atenção Rodrigues, para a
concepção diferenciada que Weber realiza, considerando-se os determinismos de Marx e
Durkheim, embora Weber não tenha produzido uma teoria sociológica sobre a educação.
Para Weber, segundo Rodrigues (2007), os homens vêem o mundo no qual se
encontram inseridos a partir de seus valores. São os valores que são compartilhados que são
internalizados pelos indivíduos, ou seja, são subjetivados de formas distintas, de acordo com o
processo de interação em que indivíduos estão inseridos. O mesmo meio social pode ter
significados, sentidos diferenciados para os indivíduos e, portanto, pode originar diferentes
formas de agir, na medida em que agimos conforme assimilamos os elementos culturais e
também conforme os diferentes tipos de racionalidade empregados. Afirma Rodrigues: “A
realidade é concebida por Weber, então, como o encontro entre os homens e os valores aos
quais eles se vinculam e os quais articulam de modos distintos no plano
subjetivo(RODRIGUES, 2007, p.52-53). Sendo assim, a sociedade não se constitui em um
bloco mas numa rede onde encontram-se presentes inter-relações. Pode-se verificar então que
em Weber, os valores que internalizamos são força motriz de nosso agir, então, agimos em
função dos valores que internalizamos em nossa interação com o outro.Afirma Weber, citado
por Rodrigues:
[...]por “ação” (incluindo a omissão e a tolerância) entendemos sempre um comportamento compreensível com relação a “objetos”, isto é, um comportamento especificado ou caracterizado por um sentido (subjetivo) “real” ou “mental”, mesmo que ele não seja quase percebido. (..)A ação que especificamente tem importância para a sociologia compreensiva é, em particular, um comportamento que: I. está relacionado ao sentido subjetivo pensado daquele que age com referência ao comportamento de outros;2.está co-determinado no seu decurso por esta referência significativa e, portanto, 3. pode ser explicado pela compreensão a partir deste sentido mental (subjetivamente)(WEBER, apud RODRIGUES, 2007, p.54)
Segundo Rodrigues(2007), agir em sociedade envolve sempre algum grau de
racionalidade por parte de quem age e esta mesma racionalidade envolve a racionalidade de
cada indivíduo que se encontra referida a racionalidade de outros indivíduos, porque estamos
em interação.
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Tipos de ação social
Em Weber, podemos perceber, segundo Nery (2007) que a concretude das normas e
regras sociais se realiza somente quando essas normas e regras encontram-se presentes em cada
indivíduo pelo processo de interação e internalização e se manifestam em cada indivíduo sob a
forma de motivação. Cada indivíduo age em sociedade tendo como ponto de referência um
motivo que pode ser determinado pela tradição, pelo afeto e pela racionalidade. Neste momento
de sua teoria Weber estabelecerá os tipos de ação social que se realizam em nossa vida em
sociedade, pois o objetivo que se expressa na ação social é o que nos permite o desvendar seu
próprio sentido, uma vez que cada indivíduo acaba por considerar no seu agir a resposta ou a
reação de outros indivíduos. São quatro os tipos de ação social estabelecidos por Weber:
- ação social tradicional – é a ação que é determinada por um costume, por um hábito, na qual o
ator social obedece a reflexos que são enraizados de longa prática. É a que é determinada por
hábitos, costumes e crenças e que acaba por ser transformada em uma segunda natureza. Neste
tipo de ação social reproduzimos padrões sociais que são consagrados pelos costumes e pelas
tradições que vivenciamos em nossa convivência social;
- ação social afetiva – tem como característica fundamental ser emotiva, ser determinada por
afetos ou até mesmo por estados sentimentais. Afirma Nery (2007): “Pode ser uma ação reativa
de caráter emocional do ator social em dada circunstância, em dado instante de sua vida, não
sendo determinada por um objetivo ou por um sistema de valores(NERY, 2007, p.39).”
-ação social racional com relação a valores: tem como característica fundamental ser a ação
que é determinada pela crença consciente em um dado valor que é considerado significativo por
parte do ator social. De certa forma, agimos de conformidade com os nossos princípios morais e
éticos e acabamos por “racionalizar” nosso agir de conformidade com estes princípios.
- ação social com relação a fins – tem como característica básica ser ação que realizamos
enquanto atores sociais tendo como referência, ou motivação nossos objetivos considerando os
meios que dispomos para atingi-los.
Em nosso viver em sociedade, enquanto atores sociais, no exercício de nossos papéis
sociais encontramo-nos diante destas formas de agir, ou seja, estas ações sociais funcionam
como forças motivacionais de nosso agir cotidiano.
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Weber é um autor que procurou investigar, interpretar e analisar a sociedade moderna,
complexa, a sociedade capitalista, portanto. É uma sociedade que se pauta pela racionalidade.
Weber irá nos falar de uma modernidade desumanizante (Carvalho, 2006), na qual prevalece o
que denomina de desencantamento do mundo. O homem da “modernidade racional” é um
homem desencantado, pois vive no mundo do império da lei e da razão e, educar neste mundo
tem aspectos diferenciados do que educar antes dessa transformação, no entanto, afirma
Carvalho:
Se o destino do homem é enfrentar a vida racionalizada, isto exige uma virilidade tamanha para podermos aceitar, sem ilusões políticas, religiosas, filosóficas, educacionais, o caráter inelutável desse processo. Significa aceitarmos tudo o que há de mais terrível e doloroso, como também de mais alegre e exuberante na existência. Aqueles que concebem a metafísica, isto é, que constroem mundos para além desse, que profetizam e esperam a superação do espetáculo da finitude, desprezando o que ocorre aqui e agora, supondo existir outra vida, igualam-se ao “homem da ordem”: o homem burocrático. Carismática e dionisíaca, portanto, é a educação que afirma sem reserva, o fatum, que aceita que ele se afirme por meio do homem que espelha o mundo, que traduz a vida, que nos dá chance de formar a personalidade. Segundo o ponto de vista de Max Weber, se é possível construir uma ação educativa na modernidade, ela deve estar fundada num questionamento permanente de suas próprias condições(CARVALHO, 2006, p.71-73).
A educação para Weber, no contexto de uma sociedade marcadamente racionalizada
estaria em estreita relação com a estratificação social, com meios de distinção e de obtenção de
certas honras que envolvem o poder e o dinheiro(Rodrigues, 2007). Afirma Rodrigues: “ No
modelo ideal weberiano a educação é, conforme o caso, socialmente dirigida a três tipos de
finalidades: despertar do carisma, preparar o aluno para uma conduta de vida e transmitir
conhecimento especializado(RODRIGUES, 2007, p.66)”. O primeiro tipo de educação – do
carisma, não se aplicaria as pessoas normais, não se constituindo, portanto, numa pedagogia,
pois não se pode ensinar o carisma, não se pode preparar para o carisma, este pode ser
concebido enquanto um “dom” pessoal. O segundo tipo – conduta de vida, Weber denomina de
pedagogia do cultivo. Forma o homem culto. Afirma Rodrigues:
Ao segundo tipo, Weber chama de pedagogia do cultivo. Ela procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está sendo preparado, e que implica em prepara-lo para certos tipos de comportamento interior(ou seja, para a reflexividade) e exterior ( ou seja, um determinado tipo de comportamento social). Tal processo educacional assumia o aspecto de uma “qualificação cultural, no sentido de uma educação geral, e destinava-se ao mesmo tempo, à composição de determinado grupo de status( sacerdotes, cavaleiros, letrados, intelectuais humanistas, etc.), e à composição do aparato administrativo típico das formas tradicionais de dominação política(RODRIGUES, 2007, p.67).
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Neste segundo tipo, podemos verificar que envolve aqui uma educação para a
qualificação cultural, onde uma educação geral parece ser prioritária. E o terceiro tipo de
educação é denominado por Weber, segundo Rodrigues (2007), uma pedagogia do treinamento,
envolvendo uma racionalização da vida social e a própria burocratização do aparato público de
nominação de caráter político. Neste tipo de educação envolve um preparo especializado no
sentido de transformar o indivíduo num técnico, num perito. Entendemos que a pedagogia do
treinamento é predominante no contexto da modernidade, ao mesmo tempo em que é uma
pedagogia que envolve a ascensão social e a obtenção de status privado.
Afirma Rodrigues: “ Weber via na pedagogia do treinamento, imposta pela
racionalização da vida, o fim da possibilidade de desenvolver o talento do ser humano, em
nome da preparação para a obtenção de poder e dinheiro. A racionalização é inexorável,
invencível, e a educação especializada, a lógica do treinamento, para Weber, também é. Para
ele, não há nada que se possa fazer a respeito(RODRIGUES, 2007, p.69)”. Neste sentido
encontramos em Weber um certo pessimismo com relação à sociedade moderna. Também pode-
se perceber em Weber que lhe é imprescindível o enfrentamento do mundo burocrático, onde
encontra-se presente a racionalidade, para que a vida e o mundo social não deixem de ser uma
possibilidade. Para Weber esta deveria ser a responsabilidade da ação educativa (Rodrigues,
2007).
PONTO FINAL
Neste capítulo, vimos os teóricos clássicos e suas concepções sobre a educação, bem
como seus principais pressupostos teóricos. São autores clássicos da sociologia que são
importantes para que compreendamos a forma como responderam à principal questão
sociológica. Marx, Durkheim e Weber, estabeleceram através de suas teorias, elementos que até
hoje fazem parte da compreensão sociológica, na medida em que podemos ainda aplica-los em
vários momentos, quer compreendamos as classes sociais, os fatos sociais e as ações sociais.
Eles nos permitiram entender de melhor forma a relação indivíduo e sociedade e, vermos as
determinações sociais sobre as ações de indivíduos e grupos no contexto das sociedades. Sem
estes autores certamente não teríamos instrumentos consistentes para compreendermos nosso
próprio agir, nossas idéias e visões de mundo. Como pensar a educação se não estamos em
contato com os pressupostos teóricos dos clássicos da Sociologia e da Sociologia aplicada à
Educação? Estas são questões importantes que nos permitem pensar os clássicos e seus objetos
de investigação sociológica dentro de parâmetros adequados à uma ciência que surge
fundamentalmente para conservar uma ordem social vigente, mas que aos poucos vai se
transformando em uma forma de análise mais crítica da realidade social.
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Saber a diferença entre os autores clássicos da Sociologia nos permite termos
parâmetros de análise e de compreensão da realidade, inclusive da realidade social
contemporânea, pois é sempre a partir dos clássicos que a sociologia atual se estabelece. Eles
foram a base de toda uma estrutura de conhecimento que nos permitiu investigar, interpretar e
analisar a realidade envolvente.
TEXTO COMPLEMENTAR
O desenvolvimento do diploma universitário das escolas de comércio e engenharia, e o
clamor universal pela criação dos certificados educacionais em todos os campos levam à
formação de uma camada privilegiada nos escritórios e repartições. Esses certificados apóiam as
pretensões de seus portadores de intermatrimônios com famílias notáveis ( nos escritórios
comerciais as pessoas esperam naturalmente a preferência em relação à filha do chefe), as
pretensões de serem admitidos em círculos que seguem “códigos de honra”, pretensões de
remuneração “respeitáveis” em vez da remuneração pelo trabalho realizado, pretensões de
progresso garantido e de pensões na velhice e, acima de tudo, pretensões de monopolizar cargos
social e economicamente vantajosos. Quando ouvimos de todos os lados, a exigência de uma
adoção de currículos regulares e exames especiais, a razão para isso é, decerto, não uma “sede
de educação” surgida subitamente, mas o desejo de restringir a oferta dessas posições e de sua
monopolização pelos donos dos títulos educacionais. Como a educação necessária à aquisição
do título exige despesas consideráveis e um período de espera de remuneração plena, essa luta
significa um recuo para o talento (carisma) em favor da riqueza, pois os custos “intelectuais”
dos certificados de educação são sempre baixos, e com o crescente volume desses certificados
os custos intelectuais não aumentam, mas decrescem (...). Por trás de todas as discussões atuais
sobe as bases do sistema educacional, se oculta em algum aspecto mais decisivo a luta dos
“especialistas” contra o tipo mais antigo de “homem culto”. Essa luta é determinada pela
expansão irresistível da burocratização de todas as relações públicas e privadas de autoridade e
pela crescente importância dos peritos e do conhecimento especializado. Essa luta está presente
em todas as questões culturais íntimas (Weber, Burocracia, citado por Rodrigues, 2007, p.68).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Qual a contribuição dos clássicos da Sociologia para que possamos compreender a
educação hoje?
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EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO
1)-A principal questão sociológica no contexto da atualidade é:
a)-( )a relação indivíduo e sociedade
b)-( )a relação entre indivíduos e grupos
c)-( )a relação entre sociedade e capitalismo
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
2)-O objeto de investigação sociológica em Marx, Durkheim e Weber, respectivamente é:
a)-( )classes sociais, fatos sociais e ação social
b)-( )ação social, fatos sociais e classes sociais
c)-( )fatos sociais, classes sociais e ação social
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.
3)-Em Marx a educação encontra-se, considerando a relação entre infra e superestrutura:
a)-( )esfera infraestrutural da sociedade
b)-( )esfera superestrutural da sociedade
c)-( )esfera econômica da sociedade
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
4)-Em Durkheim os determinantes do social sobre o individual se fazem a partir das:
a)-( )regras e normas sociais
b)-( )instituições sociais
c)-( )classes sociais
d)-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta
5)-Os tipos de ação social estabelecidos por Weber são:
a)-( )ação social carismática, ação social afetiva, ação social tradicional
b)-( )ação social racional-legal, carismática, afetiva e racional conforme valores
c)-( )ação social tradicional, afetiva, racional conforme valores e racional conforme fins
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.
6)-Em Weber podemos falar de uma pedagogia do:
a)-( )treinamento
b)-( )do espaço escolar
c)-( )do espaço social onde temos a esfera pública
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta.
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ATIVIDADE
Caro aluno, como atividade de estudo, procure fazer um quadro comparativo
envolvendo a concepção da relação indivíduo e sociedade em Marx, Durkheim e Weber, bem
como a concepção de educação.Você verá que feito este quadro comparativo terá elementos
fundamentais dos autores mencionados neste capítulo.
DICAS DE ESTUDO.
Como dica de estudo, sugerimos a leitura do livro de Alberto Tosi Rodrigues, intitulado
Sociologia da Educação, datado de 2007, editado pela editora Lamparina.
BIBLIOGRAFIA
ATISIANO, Regiane Aparecida (2006). A Educação sob o enfoque de Émile Durkheim. In
Sociologia e Educação. Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.
CARVALHO, Alonso Bezerra de. A Sociologia Weberiana e a Educação. In Sociologia e
Educação. Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.
DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.
Iesde/Brasil.
MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.
NERY, Maria Clara R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Editora do Iesde.
RODRIGUES, Alberto Tosi. (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.
SILVA & CARVALHO, Wilton Carlos Lima da & Alonso Bezerra de (2006) .
(2006).Contribuições do Materialismo Histórico para a Educação. In. Sociologia e Educação.
Leituras e Interpretações. São Paulo. Avercamp. Editora.
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EDUCAÇÃO ENQUANTO INSTÂNCIA CONSERVADORA
Vimos anteriormente os teóricos clássicos da sociologia e suas concepções acerca da
educação. Agora vamos trabalhar com a educação em seu aspecto conservador e em seu aspecto
de libertação, de transformação da realidade social vivenciada por indivíduos e grupos.
As tendências conservadoras da educação.
A partir de Durkheim tivemos a origem de uma série de teorias pedagógicas, na medida
em que a concepção sociológica de educação de caráter funcionalista influiu em muitas das
abordagens sobre a educação no contexto da denominada pedagogia moderna. São denominadas
de conservadoras, na medida em que têm como fundamento base a noção de que a sociedade é
uma soma de indivíduos que deverão ser preparados para serem adequados à vida social através
do processo educativo. São conservadoras também, porque não concebem a transformação do
mundo atual, ou seja, não envolve a transformação da sociedade capitalista, com suas
contradições e desigualdades, mas pregam sua reprodução através da adequação dos indivíduos
ao sistema, à vida social (Meksenas, 2005). São três, segundo Meksenas as tendências que
merecem destaque na contemporaneidade: a pedagogia tradicional, a pedagogia nova e a
pedagogia tecnicista.
Algumas palavras sobre a pedagogia tradicional.
Na pedagogia tradicional podemos considerar que o indivíduo é um “assimilador” que
deve ser adaptado ao contexto social envolvente. Parte do princípio de que o indivíduo deve
assimilar os conhecimentos acumulados no decorrer do desenvolvimento do homem em seu
estar no mundo. Afirma Meksenas: “Parte do princípio de que a melhor forma de adaptar e
preparar o indivíduo para a vida em sociedade é fazer com que assimile uma série de
conhecimentos referentes à cultura e a ciência, acumulados no decorrer do desenvolvimento da
civilização humana (MEKSENAS, 2005, P.52). O aluno seria neste contexto um simples
receptor de informações, que lhe permitam o enriquecimento de sua cultura individual, que lhe
possibilite desenvolver funções úteis no contexto da sociedade. Se recobramos Weber neste
momento era justamente isto que Weber condenava, se assim podemos dizer no contexto das
sociedades modernas, o próprio surgimento de “cultos especialistas”.
Aqui estamos diante da simples transmissão de conhecimentos acumulados
historicamente. Nestes aspectos a figura do professor vai assumir papel central, na medida em
25
que é o grande transmissor de informações que são necessárias aos alunos. Ele é o “dono” de
um saber acumulado que deve transmitir. Ele, professor, portanto, detém todo o poder, cabendo
ao aluno ouvi-lo silenciosamente, para poder enriquecer sua cultura individual. Aquele que de
melhor forma apreender as informações fornecidas encontrar-se-á apto para concorrer no
mercado de trabalho, bem como estará mais bem adaptado ao sistema, podendo galgar os mais
promissores postos na escala social. Aqui, encontramos a ascensão social intimamente ligada à
educação, mas esta mesma ascensão social constitui-se por ser não uma obra coletiva, mas uma
obra de caráter individual, pois depende fundamentalmente do esforço individual(
Meksenas,2005).
Estamos diante do conhecimento enciclopédico. Afirma Meksenas: “Em resumo, o
professor, que deve transmitir as verdades científicas, passa a ser centro do processo
educativo. A aula deve, portanto, girar em torno da figura do professor que deve ser também a
autoridade responsável pelo bom desempenho do ensino e da ordem dentro da sala de aula. Ao
aluno, cabe apenas acatar as decisões sem questioná-las(MEKSENAS, 2005, p.52). Que
capacidade crítica desenvolve o aluno para a compreensão de seu estar no mundo? Que
questionamentos da realidade social vivenciada pode realizar sendo apenas um receptor de
informações? São questões que de certa forma devem nos acompanhar quando nos deparamos
com a pedagogia tradicional? Embora possamos pensar que não haja mais lugar para este tipo
de pedagogia, no contexto de uma sociedade capitalista, marcadamente concorrencial e no
próprio contexto de uma sociedade informacional, será que este tipo de pedagogia tem
decretado o seu final, a sua inadequação? Entendemos que não. Em muitos cursos ainda existe
esta forma de pensar e, ainda muitos educadores professam esta forma de agir pedagógico.
Algumas palavras sobre a pedagogia nova
Na pedagogia tradicional, verificamos que a melhor forma de adequar o indivíduo para
a vida em sociedade é fazer com que ele assimile os conhecimentos referentes aos
conhecimentos acumulados no desenvolvimento da civilização. Já na pedagogia nova o que
temos como principal pressuposto é fazer com que em vez de acumular os conhecimentos
produzidos pela humanidade ele deva aprender a maneira como esses conhecimentos se criam.
O aspecto fundamental no contexto da pedagogia nova, encontra-se no fato de que o
indivíduo deve saber das formas e métodos que permitam chegar às informações produzidas e
acumuladas pela civilização humana. Nesta forma de pedagogia o fundamental objetivo diz
então respeito ao ato de ensinar o aluno a produzir conhecimento e não a simplesmente
transmiti-lo. Afirma Meksenas: “ Se o objetivo não é transmitir conhecimento, mas ensinar o
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aluno a produzi-lo, então a figura do aluno deve ser tão importante quanto a do professor. Este
passa a se ver como orientador. A aula expositiva não se faz necessária. Mais importantes que
a exposição do professor se tornam os trabalhos em grupo, a dinâmica, o debate, pois todas
essas técnicas levam à valorização da experiência, da prática, enfim, do aprender
fazendo(MEKSENAS, 2005, p.51). Podemos perceber que encontramos aqui uma forma mais
dinâmica do próprio processo de ensino-aprendizagem, na medida em que o aluno acaba por
possuir um papel mais ativo, mais construtor diríamos assim de sua aprendizagem sob a
orientação do professor. Há o reconhecimento do papel ativo do aluno na absorção das formas e
métodos que lhe permita chegar às informações.
No contexto da pedagogia nova haveria na relação professor-aluno no que concerne ao
processo de ensino-aprendizagem uma relação de cunho mais democrático. Mas esta
democracia que se supõe existente acaba por não se referir, segundo Meksenas (2005), à
igualdade de oportunidade para todos, ou seja, não envolve o questionamento da realidade
presente nas sociedades capitalistas marcadamente desiguais, pois a democracia que se faz
envolve a liberdade de ascender socialmente, mantendo-se a competição, não sendo
questionada, ou não levando ao questionamento a realidade de uma sociedade capitalista, da
realidade social vivenciada, mantendo-se de forma camuflada o princípio da adaptação do
indivíduo à sociedade, sem que seja construída uma consciência crítica que leve à sua
transformação.
Algumas palavras sobre a pedagogia tecnicista.
Estamos diante de uma nova pedagogia de caráter conservador – a pedagogia tecnicista.
Ela encontra-se diretamente relacionada com os determinantes de mercado da sociedade
capitalista. Tem como pressuposto o fato de que o indivíduo encontra-se adaptado à sociedade,
recebendo informações a partir dos determinantes de estímulo-resposta. As informações se
constituiriam no estímulo, estimulo ao qual deve o indivíduo apresentar uma resposta adequada
(Meksenas, 2005).
Neste tipo de pedagogia encontramos o fato de que encontra-se a cargo dos especialistas
da educação estabelecer e elaborar os estímulos e os programas de ensino. O papel do professor
se modifica, na medida em que a ele fica restrita a aplicação dos estímulos e dos programas em
sala de aula. O professor agora tem o papel de ser o instrutor de ensino, o próprio treinador se
assim podemos dizer. Afirma Meksenas: “O professor-instrutor representa o elemento que
treina ou adestra o aluno a realizar com êxito uma tarefa qualquer(MEKSENAS, 2005, p.54)”.
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Podemos verificar que no contexto da sociedade capitalista, de acordo com as próprias
necessidades do sistema o papel do professor foi se alterando paulatinamente.
Esta pedagogia tem como objetivo principal o rápido treinamento do aluno para sua
também rápida profissionalização. Afirma Meksenas (2005): “As aulas passam a se organizar
através de recursos audiovisuais, textos programados ou livros didáticos que se estruturam no
eixo pergunta-resposta. Ao aluno não cabe o direito ao debate ou questionamento. Apenas
reação aos estímulos que o instrutor lhe determinar. Nesse contexto não se valorizam as aulas
expositivas(pedagogia tradicional) nem os trabalhos em grupo(pedagogia nova), ao contrário,
o aluno se vê muitas vezes sozinho diante de um texto que deverá seguir com perguntas e
respostas. Nem instrutor nem aluno debatem(MEKSENAS, 2005, p.54).
Pela afirmação de Meksenas, podemos verificar que não encontramos a forma dialógica
do processo de ensino-aprendizagem. Esta ausência do diálogo é fator obstaculizador do
advento de uma consciência crítica que permita a ação transformadora da sociedade.Trata-se de
uma tendência pedagógica conservadora, como se tratavam as anteriores tendências que vimos.
Em todas o objetivo primordial é a adaptação e adequação do indivíduo à sociedade, mas na
mesma forma em que indivíduos e grupos se encontram adaptados à sociedade, reproduzem esta
mesma sociedade em suas condutas, em suas visões de mundo e de homem em seu ato de viver
coletivamente, mantendo-se assim a ordem estabelecida, sem questionamentos e sem
transformações radicais em sua estrutura, mantendo-se assim a configuração social que se
alicerça na desigualdade e na exclusão, como é o contexto da sociedade capitalista.
Como se manifestam as tendências pedagógicas conservadoras no contexto da educação
brasileira? (Algumas palavras)
Na escola brasileira, segundo Meksenas(2005), não podemos encontrar considerando-se
as práticas pedagógicas uma das três tendências aplicadas em seu sentido puro, no sentido de
serem aplicadas exclusivamente. Encontramos um universo híbrido que envolve as três
tendências pedagógicas modernas, na medida em que historicamente não aplicamos um dos
modelos em sua totalidade.
Nas salas de aula brasileira, podemos encontrar a mistura das três técnicas – pedagogia
tradicional, nova pedagogia e pedagogia tecnicista, o que pode significar que ainda em termos
das salas de aula brasileira encontramo-nos diante de um processo de ensino-aprendizagem de
caráter conservador, na medida em que são essas tendências que se mesclam e se confundem.
Verificando este aspecto, podemos questionar como questiona Rodrigues: “Como compreender
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os debates e conflitos sociais que envolvem a educação contemporânea sem levar em conta a
configuração atual dos conflitos em torno da economia e do Estado capitalista? Como entender
a escola e o ensino atuais sem entender o confronto hoje colocado entre os interesses privados
e a regulamentação do Estado?(RODRIGUES, 2007, p.91)”
Responder a estas questões, envolverá a construção de uma consciência crítica da realidade
social vivenciada. Afirma ainda Rodrigues: “As concepções de mundo, as idéias e os valores
que as pessoas compartilham entre si e que ensinam a seus filhos e alunos não são dádivas do
céu; são construídas na teia cotidiana de relações e interações. São invenções do homem, são
construções sociais. E são sempre resultado dos conflitos e dos consensos que se estabelecem
na sociedade, são fruto das relações de poder e da violência (física ou simbólica) que alguns
grupos ou classes são capazes de exercer sobre outros (RODRIGUES, 2007, p.91)” O processo
de ensino-aprendizagem com todos aqueles que nele se encontram envolvidos não pode ficar
imune aos questionamentos da ordem social. É por este aspecto que podemos conceber a
educação brasileira como ainda conservadora, repetimos, na medida em que nas salas de aula as
três tendências pedagógicas encontram-se mescladas e, portanto, em pleno século XXI, não
temos ainda o verdadeiramente novo na educação.
PONTO FINAL
É importante, que com este capítulo, caros alunos, vocês possam compreender que os
processos de ensino-aprendizagem relacionado com aqueles que nele se encontram envolvidos
não está isento dos próprios questionamentos da ordem social. Pensar a educação e seu
consecutivo processo de ensino-aprendizagem é sempre manter a relação com a estrutura social
mais ampla, sob pena de não podermos compreender os elementos constitutivos da realidade
que perpassam os processos educativos. Neste capítulo vimos as tendências conservadoras da
educação na tridimensionalidade de suas faces, para que possamos compreender e até mesmo
nos questionarmos acerca de nossa própria prática. Compreender as três faces conservadoras da
educação presentes em nossa realidade educacional nos permite verificarmos em nossa
realidade cotidiana de professores, de pedagogos até que ponto estamos de certa forma somente
reproduzindo práticas que não possibilitam o surgimento de uma educação de caráter mais
libertador, que envolveria indivíduos e grupos na luta pela cidadania e pela própria busca de
melhores e mais dignas condições de existência.
TEXTO COMPLEMENTAR
29
Podemos afirmar que a pedagogia tradicional sempre foi o eixo central da escola
brasileira, desde os tempos das primeiras escolas leigas e públicas que se estabeleceram por
ocasião da vinda de D. João VI para o Brasil em 1808. Nas décadas de 1920 e 1930, o cenário
cultural e educacional do Brasil passa por mudanças significativas. Dos vários acontecimentos
que mudaram o rumo de nossa educação, merece destaque a criação, em 1924, da ABE
(Associação Brasileira de Educação). Nessa associação aparece um grupo de educadores
liderados pelo sociólogo Fernando de Azevedo, que se articulam em torno do “Movimento
Renovador do Ensino”. Eles serão os primeiros porta-vozes da pedagogia nova no Brasil. Com
isso, podemos afirmar que nas décadas de 1920/1930 surgem no país as primeiras idéias da
pedagogia nova. Entretanto, por não se conseguirem viabilizar, as propostas dessa pedagogia
serão pouco adotadas. Apenas recentemente começam a ser mais debatidas entre nós e passam,
junto com a pedagogia tradicional, a fazer parte das práticas escolares.
A pedagogia tecnicista começa a ser muito difundida e até se torna um dos pilares da
proposta metodológica para o ensino oficial brasileiro no período subseqüente a 1970. Com a
instauração do regime militar em 1964 a tônica que tecnocratas e generais procuram dar ao
ensino vai na linha profissionalizante da mão-de-obra: capacitar trabalhadores de modo rápido.
Na verdade, a maior preocupação dos introdutores da tendência tecnicista no Brasil era evitar ao
máximo que a escola fosse local de debate e questionamento da vida nacional e, nesse contexto
político, a proposta tecnicista parecia ser a ideal.(MEKSENAS, 2005, p.55-56).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Em que aspecto as concepções conservadoras da educação contribuem para a
manutenção da ordem vigente no contexto da sociedade brasileira?
EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO
1)-Na pedagogia tradicional o aluno é basicamente um:
a)-( )assimilador
b)-( )transmissor
c)-( )receptor
d)-( )nenhuma das alternativas é a correta
2)-No contexto da pedagogia nova, o aluno deva:
a-( )transmitir os conhecimentos acumulados
b-( )aprender a maneira como esses conhecimentos acumulados se criam
30
c-( )receber ensinamentos da forma como os conhecimentos são transmitidos
d-( )nenhuma das alternativas anteriores.
3)-A pedagogia tecnicista se encontra diretamente relacionada com:
a-( )os determinantes de mercado da sociedade capitalista
b-( )a escola nova e suas formas de transmissão de conhecimentos
c-( )a escola tradicional e suas formas de transmissão de conhecimentos
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
4)-A pedagogia tecnicista encontra-se diretamente relacionada com:
a-( )rápido treinamento do aluno para uma rápida profissionalização
b-( )rápido desenvolvimento escolar
c-( )rápido desenvolvimento nas formas de transmitir conhecimento
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
5)-No contexto da pedagogia tecnicista podemos verificar que:
a-( )a educação encontra-se a cargo de especialistas
b-( )a educação encontra-se a cargo de instituições religiosas
c-( )a educação encontra-se a cargo da família
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
6)-Na pedagogia tradicional o centro do processo educativo é:
a-( )o professor
b-( )o aluno
c-( )o especialista
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.
ATIVIDADE
Caro aluno, procure fazer um quadro comparativo abrangendo as três tendências
pedagógicas da educação, envolvendo o item concepção de educação. Você verá que terá de
forma clara a diferença das três tendências pedagógicas presentes no contexto da educação
brasileira.
DICAS DE ESTUDO.
31
Sugerimos, como dica de estudo a leitura do livro de Paulo Meksenas SOCIOLOGIA
DA EDUCAÇÃO – Introdução ao estudo a escola no processo de transformação social. Datado
de 2005, editado pelas editoras Loyola.
BIBLIOGRAFIA.
MEKSENAS, Paulo. (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao Estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo Edições Loyola.
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 2007. São Paulo. Editora Lamparina.
32
TENDÊNCIA PROGRESSISTA DA EDUCAÇÃO E AS
DETERMINAÇÕES DA ESTRUTURA SOCIAL SOBRE A
EDUCAÇÃO.
Em nossa abordagem anterior vimos as tendências conservadoras na educação. Nesta
parte de nossa disciplina trabalharemos fundamentalmente com dois aspectos que são
importantes as tendências progressistas da educação e as determinações da estrutura social sobre
a educação. Estes temas encontram-se relacionados, na medida em que as tendências
educacionais ou pedagógicas na se encontram refratárias aos determinantes estruturais que se
apresentam no contexto social envolvente.
É, como vimos em nossas abordagens anteriores, principalmente na abordagem de
Marx, que a partir da incorporação dos pressupostos marxistas a pedagogia possuirá concepções
mais críticas a respeito do processo educativo, do processo de ensino-aprendizagem e sua
relação com a sociedade. Esta mudança notadamente começa a ocorrer a partir da década de 70,
onde muitos sociólogos procuraram desenvolver concepções mais críticas acerca da educação e
de seu próprio papel na sociedade.
A sociedade capitalista é uma sociedade marcadamente desigual e excludente, na
medida em que nela encontram-se presentes o próprio processo da luta de classes, onde temos
uma relação desigual entre capital e trabalho. Desigual porque na medida em que o capital,
representado pela burguesia, tenta conservar seu status quo, seus privilégios, sendo dono dos
meios de produção, o trabalho, representado pela classe trabalhadora, detentora unicamente de
sua força de trabalho, tenta transformar sua realidade que é sofrida na medida em que sofre as
contradições do modo de produção capitalista. Neste sentido a relação entre estas classes é
marcadamente antagônica e desigual.
Considerando estes aspectos e verificando que a escola é antes de tudo uma instituição
social que não é refratária ao que se encontra presente no contexto social mais amplo, pode-se
depreender que a desigualdade presente na estrutura social perpassa os espaços da escola, pois a
classe que detém o poder econômico no contexto das sociedades, detém também o poder
ideológico, jurídico e político desta mesma sociedade. Neste sentido considerando-se a relação
entre infra e superestrutura social, podemos observar que a escola sendo superestrutural
reproduz as relações presentes no contexto da infra-estrutura e exerce também o papel de
legitimadora destas mesmas relações, relações estas que são desiguais, mas ocorre que todo
sistema origina em si sua força contrária, este é um aspecto dialético presente na própria vida –
33
tudo está pleno de seu contrário e, assim podem-se construir concepções e visões de homem e
de mundo de caráter mais progressista dentro do próprio ambiente escolar, no contexto das
relações cotidianas, ou seja, no mundo da vida.
A escola não necessariamente deva reproduzir as relações presentes no contexto da infra
estrutura, enquanto instância superestrutural que é, ela pode também ser a força contrária que
sendo dinâmica permita uma análise crítica da realidade social vivenciada por indivíduos e
grupos e, em sendo assim levar aos caminhos que possibilitem transformações nos processos de
desigualdades sociais presentes na sociedade, principalmente através do processo de
conscientização do aluno de sua própria realidade social vivenciada. A escola não pode resumir-
se a um papel meramente reprodutor da ordem vigente, ela também é fonte ou força motriz de
concepções e visões do processo de ensino-aprendizagem mais progressistas que levariam a
transformação da sociedade e consequentemente da própria escola.
Na escola enquanto instituição social, que reproduz as contradições presentes no
contexto da sociedade mais ampla, encontramos também segundo Meksenas(2005), quando se
refere a Georges Snyders forças progressistas que estão presentes nas resistências ao sistema
que os alunos podem apresentar, na presença de professores progressistas e questionadores da
ordem vigente, com uma nova concepção de mundo e de homem para além do próprio sistema e
encontramos a pressão dos denominados movimentos populares. Já dissemos anteriormente que
a escola por ser uma instituição social não é refratária ao que se passa na sociedade, portanto,
também incorpora em seu interior os movimentos que buscam questionar e transformar a ordem
instituída.
Devemos compreender que o processo educativo pode ter caráter conservador ou
inovador dependendo do contexto histórico e social no qual se encontra contido. Segundo
Oliveira (2005), a educação se constitui enquanto uma verdadeira técnica social, como uma
metodologia que tem por finalidade influenciar o comportamento humano, visando a que se
adapte aos padrões instituídos de interação e de organização social. Afirma Oliveira:”A
educação como processo social deve ser aberta, democrática, para preparar ou equipar as
pessoas ou grupos para a mudança social, isto é, para o aperfeiçoamento progressivo do
homem e a construção de um mundo melhor(OLIVEIRA, 2005, p.28). Na atualidade, neste
contexto de uma sociedade pós-moderna, onde as certezas caíram por terra, a escola pode ser
um espaço de resistência com reflexões e compreensões de uma realidade social complexa,
globalizada e marcadamente excludente.
Concepção libertadora da educação
34
A pedagogia libertadora, como é denominada esta nova concepção da educação
questiona drasticamente as formas de educação conservadoras, para ela há nestas formas de
educação o processo de domesticação dos alunos, no sentido de adaptá-los ao sistema, fazendo
com que o aluno entenda sua condição sócio-histórica como natural e não como construção
humana que o homem realiza em seu estar no mundo, na medida em que pauta-se pela
transmissão do conhecimento não trabalhando com elementos de cunho mais questionadores da
ordem social, política, econômica e cultural na qual o aluno encontra-se inserido. Afirma
Meksenas:
Em outras palavras, a pedagogia libertadora não está preocupada apenas com a cultura individual do aluno, nem em modelar o seu comportamento para viver na sociedade capitalista, ao contrário: a proposta da pedagogia libertadora é partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano para que ele possa compreender criticamente a sua classe social de origem de modo a ter uma prática transformadora da realidade que o cerca. Em resumo, a preocupação central é aprender a ler nas desigualdades do capitalismo os caminhos que possam levar à alteração dessa mesma sociedade. Nesse sentido, a pedagogia libertadora é progressista: coloca como eixo central a relação educação-política(MEKSENAS, 2005, p.87)
Pode-se verificar a diferença da forma de pensar a educação no contexto da pedagogia
libertadora. Entender de forma crítica o seu cotidiano, permite ao aluno a construção de uma
consciência crítica e questionadora da realidade na qual ele vive. Se observamos bem no
contexto da sociedade brasileira a educação libertadora não nasceu no contexto da instituição
escola, mas fora dela. Nasceu no contexto dos movimentos sociais em sua luta, nasceu no
contexto da busca por melhores condições de trabalho da denominada classe trabalhadora.
Afirma Meksenas: “ Nesse contexto, a pedagogia libertadora aparece como a pedagogia dos
oprimidos: pessoas da classe trabalhadora que foram excluídos prematuramente da escola.
Não por acaso, essa tendência nasce da prática de alfabetização e adultos (MEKSENAS, 2005,
p.88). Meksenas demonstra claramente que a pedagogia libertadora tem sua nascente nos
segmentos excluídos dos bancos escolares em função de entrada prematura no mercado de
trabalho.
Determinações da estrutura social sobre a educação – algumas palavras.
Vimos anteriormente os pressupostos de uma educação libertadora. Neste sentido
podemos perguntar: o que ocorre no contexto de nossa sociedade que a educação não assume
um caráter mais progressista, libertador? Pensarmos neste aspecto é pensarmos justamente a
questão da estrutura social, pois, repetimos a escola, o próprio processo educativo não se
encontra ausente das determinações presentes na estrutura social.
35
Segundo Oliveira(2005), a estrutura social se constitui no conjunto de partes que estão
concatenadas, encadeadas, que permitem a formação do todo. Afirma Oliveira: “Dito de outro
modo, estrutura social é a totalidade dos status existentes em um determinado grupo social ou
em uma sociedade ( OLIVEIRA, 2005, p.35)”. Pelo que podemos observar a estrutura social
envolve então as partes que são constitutivas de uma totalidade, neste sentido podemos verificar
que toda estrutura social envolve elementos econômicos, ideológicos, jurídicos e políticos,
formando uma totalidade.
Afirma Oliveira: “Cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel
correspondente à posição social que ocupa. O conjunto de todas as ações que são realizadas
quando os membros de um grupo desempenham seus papéis sociais compõe a organização
social. Esta corresponde, portanto, ao funcionamento do organismo social (OLIVEIRA, 2005,
p.35). Estamos diante, então de dois conceitos fundamentais – estrutura social e organização
social, sendo que a estrutura envolve os atores sociais no exercício de seus papéis sociais e a
organização social, que envolve o próprio funcionamento do denominado organismo social.
Neste sentido, pode-se observar, seguindo-se Oliveira (2005), que a estrutura social acaba por
nos dar uma idéia, uma visão de estática, é o que está presente, já a organização social, nos dá
uma idéia de dinâmica, na medida em se encontram envolvidos os atores sociais e as relações
que estabelecem. Segundo Nery (2007), é um espaço de caráter pluridimensional no qual se
encontram posicionados os atores sociais.
Pensar na estrutura social é também pensar no modo de produção que constitui a
estrutura. É importante que recobremos a concepção marxista acerca da estrutura social. Na
concepção marxista temos de forma clara a formação social composta da infra e da
superestrutura social. É importante que vejamos a relação entre estas duas “forças” que formam
a sociedade. A relação é a seguinte: a infra-estrutura, onde se encontram as bases econômicas da
sociedade, as relações de produção, determina a superestrutura, neste sentido a forma como os
homens se organizam para produzir os bens que necessitam (modo de produção) é a base infra-
estrutural de toda e qualquer sociedade, mas como dissemos anteriormente a infra-estrutura
determina a superestrutura, que por sua vez é composta das instâncias ideológica, jurídica e
política. Vamos ver alguns aspectos referentes à superestrutura social, principalmente no que diz
respeito às suas instâncias.
Na instância ideológica encontramos presentes todas as instituições que de certa forma
transmitem valores, hábitos, conhecimentos, crenças presentes na sociedade – a escola, a igreja,
os partidos políticos, etc., fazem parte da instância ideológica da formação social; a instância
36
jurídica envolve a lei; e a instância política, envolve as relações de poder, configurada na
instituição do Estado, no contexto das sociedades modernas.
Ocorre que a superestrutura, determinada pela infra-estrutura, tem papel legitimador das
relações que se encontram presentes na própria infra-estrutura, sendo assim muitas das idéias
que professamos podem legitimar as relações de desigualdade presentes na base da formação
social. A lei pode também exercer esta mesma forma de legitimação, bem como a instituição do
Estado. Em resumo: a infra-estrutura, determina a superestrutura e a superestrutura, legitima,
ratifica as relações presentes na infra-estrutura social.
O que podemos pensar da educação? Como podemos ver a educação faz parte da instância
ideológica, neste sentido pode transmitir todos os valores, hábitos e crenças presentes na
sociedade. Se a sociedade é desigual, a educação poderá transmitir os valores da classe que tem
poder dominante. Neste sentido, segundo Nery(2007), a educação na sociedade desigual,
desigualdade esta estabelecida na estrutura social, leva a que indivíduos e grupos internalizem
os valores daqueles que são dominantes e exercem o poder na estrutura da sociedade. Neste
sentido, se consideramos Marx, podemos dizer que no contexto de uma sociedade de classes a
educação vai transmitir os valores da classe dominante. Afirma Oliveira:
A educação depende do modo de viver total de uma sociedade. Assim, a espécie de educação difere de acordo com os tipos de sociedade(...)Por isso, não só são diversos os sistemas educativos e as instituições educacionais, assim como cada sociedade tem seus próprios tipos ideais de homens e heróis culturais, que os jovens seguem como exemplo.(...) O modo de produção da sociedade determina não só o sistema de estratificação social ( castas, estamentos ou classes sociais) e de educação, como também o modo de pensar e agir dos indivíduos na sociedade. No entanto, esta determinação não é absoluta. A educação dada dentro de uma determinada sociedade, muda com o correr do tempo, à medida que a sociedade muda. Só a partir do surgimento e consolidação do modo de produção capitalista é que a educação se desenvolveu em complexos sistemas de ensino(OLIVEIRA, 2005, p.50-51)
Oliveira, chama a atenção para o fato de termos uma relação de interdependência entre a
estrutura social e a educação ou até mesmo sistemas de ensino. Já dissemos anteriormente que a
educação não é refratária ao que se encontra presente no contexto social mais amplo e,
salientamos que é compreendendo a relação entre estrutura e educação que podemos
compreender porque não existe essa isenção da educação com os determinantes presentes na
sociedade. De certa forma podemos até mesmo dizer que há também uma relação de
interdependência entre estrutura social e o próprio sistema escolar.
TEXTO COMPLEMENTAR
37
Como vimos, ma questão central para a sociologia é a de identificar qual o peso que têm
sobre as relações sociais da vida cotidiana as estruturas sociais já estabelecidas, consolidadas, já
institucionalizadas. Isto é, saber em que medida um determinado fenômeno social como, por
exemplo, uma reforma ( burocrática, política, cultural) do sistema de ensino, é resultante do
modo atual pelo qual as instituições sociais já estabelecidas ( o Estado, as Igrejas, o mercado
etc.)estão organizadas ou, por outro lado, é resultante das ações inovadoras de sujeitos sociais
interessados em modificar o funcionamento dessas instituições. É preciso levar em consideração
a autoridade ( capacidade de fazer-se obedecer) e a legitimidade (o que dá fundamento à
obediência)das instituições, isto é, das estruturas da sociedade e, ao mesmo tempo, o modo
como as disputas se dão entre os diferentes sujeitos (grupos, classes, etc.) que atuam na vida
social. Os processos sociais gerais são, no fim das contas, resultado da interação entre os
sujeitos e as estruturas.
Assim, o sociólogo precisa ter sempre um olho para as estruturas (aquilo que está
estabelecido) e outro olho para os processos (aquilo que está em mudança). Permanência e
mudança são resultantes da tensão que sempre existe entre o peso das instituições e a
capacidade de ação dos sujeitos. Pois as práticas dos sujeitos, estarão, com certeza, orientadas
para manter ou mudar os conteúdos das estruturas(RODRIGUES, 2007, p:86).
PONTO FINAL
Caros alunos, vimos neste capítulo uma abordagem sobre as tendências progressistas da
educação e as determinações da estrutura social sobre a mesma educação. Neste sentido é
importante que vocês todos retenham o seguinte aspecto: que termos tendências progressistas ou
tendências conservadoras acerca da educação, envolve sempre trabalharmos com os
determinantes da estrutura social. Como poderemos pensar a educação, repetimos, se não
trabalhamos com os determinantes estruturais que estão a lhe envolver? É sempre importante
que este aspecto esteja presente toda vez que vamos pensar a educação enquanto instituição
social contida numa sociedade. As instituições sociais são praticamente determinadas por um
contexto social mais amplo e da mesma forma o refletem. Este é o ponto central através do qual
devemos trabalhar, quando nos propomos, investigar, interpretar e analisar a educação enquanto
instituição social.
EXERCÍCIO DE AUTO-ESTUDO
1)-A proposta da pedagogia libertadora consiste em:
a-( )partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano para que ele possa entender
criticamente a sua realidade social
38
b-( )partir dos problemas enfrentados pelo aluno para a manutenção da ordem social vigente.
c-( )partir dos problemas enfrentados coletivamente para buscar uma transformação da
realidade social vivenciada por indivíduos e grupos;
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
2)-A pedagogia libertadora, de caráter progressista envolve;
a-( )trabalhar com os determinantes da sociedade capitalista, para a manutenção da ordem
social vigente
b-( )a construção de uma consciência crítica e questionadora da realidade social na qual o
aluno vive;
c-( )a construção de uma consciência profissional na qual o aluno perceba-se como
significativo transmissor de conhecimento
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta
3)-A pedagogia libertadora trabalha com a concepção de que:
a-( )cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel correspondente à
posição que ocupa.
b-( )cada um dos participantes de uma estrutura desempenha o papel correspondente à sua
classe social, visando a manutenção da ordem estabelecida;
c-( )cada um dos participantes de uma estrutura não pode desempenhar o papel
correspondente à sua classe social, na medida em que esta forma de educação não aborda a
questão das classes sociais
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.
4)-A organização social sempre nos leva a ter uma idéia de:
a-( )dinâmica
b-( )estática
c-( )de equilíbrio
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.
5)-A escola, os partidos políticos, a igreja, fazem parte da instância:
a-( ) política
b-( )ideológica
c-( )econômica
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta
6)-Segundo Oliveira, podemos verificar que temos:
a-( ) uma relação de interdependência entre estrutura social e a educação
39
b-( )uma relação de independência entre estrutura social e a educação
c-( )uma relação de dependência entre estrutura social e a educação
d-( )nenhuma das alternativas anteriores é a correta.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Uma questão importante para reflexão, envolve questionarmo-nos: Por que no contexto
da realidade brasileira, não teve impulso e desenvolvimento uma concepção de educação de
caráter mais progressista?
ATIVIDADE
Caro aluno, considerando tudo o que vimos, procure responder por que no contexto da
sociedade brasileira a concepção de educação de caráter libertador não se sobrepôs à educação
de caráter conservador? Procure fazer uma dissertação abordando este aspecto para que você
possa recobrar todo o conteúdo ministrado neste capítulo.
DICAS DE ESTUDO
Caros alunos, sugiro a leitura do livro de Pérsio Santos de Oliveira – Introdução à
Sociologia da Educação, da editora Ática, datado de 2005, 3ª. Edição. É um livro básico de
Sociologia da Educação, que possui exercícios que vão auxiliá-los numa maior compreensão de
nossa disciplina.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora
Ática.
MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo.Edições Loyola.
NERY, Maria Clara R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Editora do Iesde.
RODRIGUES, Alberto Tosi. (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.
40
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E A EDUCAÇÃO
Neste momento de nossa disciplina, vamos trabalhar agora com as instituições sociais e
a educação. Vamos abordar a família como primeira instituição socializadora, a instituição
religiosa como também instituição socializadora, a instituição do Estado, como instituição de
controle social de caráter formal e os meios de comunicação social em sua relação com a
educação. É importante termos claros os elementos fundamentais destas instituições em sua
relação com a educação, para que possamos compreender os aspectos que envolvem a educação
enquanto instância de adequação do indivíduo ao meio social envolvente.
Estamos contidos numa realidade social e por assim estarmos a ela devemos nos
adequar, sob pena de sentirmo-nos desadequados ao nosso meio social e, sendo assim
sofreremos por esta mesma desadequação fundamentalmente em nosso psiquismo ,pois
sentirmo-nos não enquadrados ao nosso meio social envolve sofrimentos de ordem psíquica que
fazem com que nossa personalidade possa em certos momentos se desintegrar e encontrar-se um
“ego esburacado”, como nos diz fundamentalmente a psicanálise. Por tanto a educação em sua
concepção mais ampla, de certa forma protege-nos contra a desfragmentação do ego. Vamos ver
agora alguns elementos contribuintes para a manutenção de nossa mesma estrutura psíquica.
Segundo Oliveira (2005), desde que nascemos, somos colocados no mundo, enquanto
indivíduos iniciamos nosso aprendizado das regras presentes no contexto da sociedade e
aprendemos quais os procedimentos mais adequados para nela vivermos e convivermos
adequadamente. Vamos aprendendo na medida em que nos desenvolvemos pelo processo de
interação com o outro e com o meio as regras significativas que nos permitem circular no
espaço social de forma adequada e construindo padrões de comportamento que são considerados
fundamentais para nossa vivencia em sociedade, neste sentido a educação é um processo
contínuo que não se encerra no contexto de nossa existência.
Durkheim, em sua teoria sociológica, já nos falará que recebemos a sociedade como por
herança, com todos os seus valores, hábitos, crenças, normas de trato social, normas jurídicas,
religião e assim por diante. Neste sentido são as gerações anteriores que deixam para as novas
gerações instrumentos sociais através da educação que lhes permitem circular dentro do espaço
de possibilidades que é o espaço social. Pensarmos em termos das instituições sociais é
pensarmos, segundo Oliveira (2005), em todo um conjunto de regras, repetimos, e de
procedimentos que se encontram padronizados e que são aceitos pela sociedade e de certa forma
garantem a própria sobrevivência desta mesma sociedade. Afirma Oliveira: “[...[instituição
41
social é um conjunto de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos, aceitos e
sancionados pela sociedade e que têm grande valor social. São os modos de pensar, de sentir e
de agir que a pessoa encontra preestabelecidos e cuja mudança se faz muito lentamente, com
dificuldade ( OLIVEIRA, 2005, p.62). Pelas palavras de Oliveira, podemos depreender a
significação das instituições sociais para indivíduos e grupos, pois não nos encontramos
distantes de todo um universo envolvente, que construímos e que nos constitui, que é a
sociedade.
Em toda e qualquer instituição social, seja ela a família, a igreja, a escola e os próprios
meios de comunicação de massa, encontramos a presença de regras e de certos procedimentos
que são padronizados e que contribuem para que seja mantida a organização dos grupos e a
própria “satisfação das necessidades dos indivíduos que dele participam ( OLIVEIRA, 2005,
P.63)”.Portanto, compreender as instituições sociais é de fundamental importância para até
mesmo compreendermos a nós mesmos e nossas circunstâncias.
Oliveira (2005), assinala para dois elementos importantes quando trabalhamos com as
instituições sociais. A presença do grupo social e da instituição social, enquanto realidades de
caráter distinto, mas fundamentalmente interdependentes. O grupo social diz respeito a reunião
de indivíduos que interagem atendendo às suas necessidades. E quando trabalhamos com as
instituições sociais, estamos trabalhando com todo um conjunto de regras e de normas, que se
encontram padronizadas no contexto social, que permitem que indivíduos e grupos, possam
construir específicos repertórios de ações individuais e coletivas, que lhes permitam circular
adequadamente no contexto social mais amplo. Afirma Oliveira: “Assim, os grupos sociais (
família, Igreja, escola, por exemplo) são reuniões de indivíduos, isto é, referem-se a indivíduos
com objetivos comuns, em um processo de interação mais ou menos contínuo. Já as instituições
sociais referem-se às regras e procedimentos padronizados dos diversos grupos( OLIVEIRA,
2005, p.63)”. A diferenciação que faz Oliveira, é extremamente significativa, na medida em que
nos permite clarificar os aspectos específicos do grupo social e das instituições sociais.
A primeira instituição socializadora - a família e a educação
Devemos compreender que a família é a principal instituição socializadora com a qual
temos efetivo contato. É instância socializadora de caráter informal. Entendamos aqui neste
momento de nossos estudos que a educação é mais abrangente do que simplesmente pensarmos
na escola ou em nosso processo de escolarização (Demeterco, 2007). É pela educação que nos
socializamos, é pela educação que perdemos nosso caráter eminentemente biológico e
internalizamos todos os elementos de nosso caráter social. Pois o homem é sempre
42
tridimensional, ou seja, é um ser biológico, psíquico e social. É, então, pela educação que vamos
perdendo paulatinamente elementos puramente biológicos de nosso ser e vamos adquirindo
elementos sociais que nos permite estar no mundo de forma mais integrada e, podemos dizer
que até mesmo nossa personalidade individual vai se configurando em função desta interação
que fazemos com o outro e com nosso ambiente.
Há certo consenso entre autores em conceituar família como um grupo de pessoas ligadas por laços de casamento e/ou afetivos, por consangüinidade ou adoção, constituindo um único lar, onde seus membros interagem uns com os outros por meio de seus papéis de pai, de mãe, marido, esposa, filho e filha, e relacionam-se com os demais grupos da sociedade.A organização pai-mãe-filhos é chamada tradicionalmente de família nuclear, em oposição à chamada família extensa, que seria composta pelos mesmos elementos da família nuclear acrescida de agregados de vários tipos, como avós, primos, empregados e ouros. No Ocidente, há muito tempo a família nuclear tem sido o padrão encontrado. Alguns autores afirmam, inclusive, que a família extensa jamais existiu por aqui. De qualquer forma, a família é vista como a mais antiga instituição que compõe a sociedade ( DEMETERCO, 2007, p:26).
É através dos contextos sócio-históricos que temos a própria constituição da família.
Entendemos que família e educação em muitos momentos de nossa vivencia social possuem
objetivos que são comuns (Demeterco, 2007). O conceito de família como dissemos
anteriormente envolve a própria criação do homem em seu viver histórico e social, portanto,
segundo Demeterco(2007), não é um objeto material, mas praticamente é uma idéia, idéia esta
que acaba por se constituir no próprio modo de se ordenar e até mesmo de se integrar a vida
social.
Qual ou quais as funções específicas da família? Segundo Oliveira(2005), podemos
compreender que a família possui algumas funções que lhe são específicas no universo da
formação dos indivíduos. Possui a função sexual, a função reprodutiva, a função econômica e a
função educacional. A função sexual e a função reprodutiva, garante satisfações sexuais do
homem e da mulher e também garantem a própria reprodução da espécie. A função de caráter
econômico garante todos os meios de sobrevivência, garante as condições materiais necessárias
ao desenvolvimento dos indivíduos. A função educadora, segundo Oliveira (2005), envolve a
transmissão dos valores, hábitos, crenças, ritos e mitos que são padrões culturais presentes na
sociedade e, é por esta razão que a família é sempre concebida como a primeira instituição
socializadora.
Oliveira(2005), assinala para a função socializadora da família na constituição da
personalidade dos indivíduos em sua fase inicial, notadamente na infância, primeira fase de
socialização. Assinala para o fato de que no processo de socialização considerando-se a família
encontramos duas fases distintas. Afirma Oliveira: [...] a socialização primária: aquela que o
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indivíduo sofre na infância, convertendo-o em um novo membro da sociedade; na socialização
primária, como já dissemos, destaca-se principalmente o papel da família que transmite
conteúdos cognitivos que variam de uma sociedade para outra; a socialização
secundária:aquela que ocorre posteriormente e que leva a interiorizar setores particulares do
mundo objetivo da sua sociedade.( OLIVEIRA, 2005, p:66). Pelo que nos salienta Oliveira,
podemos verificar que a socialização primária e a socialização secundária constituem-se como
instâncias que se encontram imbricadas com a função da família no contexto das sociedades.
No contexto da atualidade, podemos verificar que a instituição da família conforme nos
diz Oliveira (2005), vem perdendo suas próprias funções pedagógicas, embora esteja a exercer
forte influência na formação das gerações mais jovens e das crianças enquanto instituição de
socialização. A família na atualidade, mantendo-se enquanto fundamental instituição de
socialização está de reconfigurando, homem e mulher no papel social de pai e de mãe estão
experenciando novas formas de exercício destes mesmos papéis. Na medida em que a mulher
agora é integrante do mercado de trabalho e atua neste de forma mais ativa, sendo também
mantenedora do lar, favorece à reconfiguração acima mencionada. As atribuições familiares
agora parecem estar sendo cada vez mais divididas entre homem e mulher. O homem não tem
mais o papel de exclusivo ordenador e mantenedor do lar, mas o de “companheiro” e de
administrador conjunto, se assim podemos dizer. Também, concebemos por estes aspectos que
há uma certa crise no contexto da família, sem que ela perca seu papel significativo de primeira
instância de socialização.Afirma Oliveira (2005):
A família é a primeira agência de controle social da qual a criança participa, ocorrendo aí uma socialização baseada em contatos primários, mais afetivos, diretos e emocionais. Ela é uma instituição basicamente conservadora e, como tal, no mundo de hoje, não tem encontrado condições de rápida adequação à nova realidade social em que está inserida. E é justamente aí que se encontra um dos principais aspectos da crise que abala a família nas sociedades modernas, em vertiginoso processo de mudança social. Dessa forma encontramos famílias que tem normas rígidas, hierarquia bem definida e pouca flexibilidade quanto à educação dos filhos, como também encontramos famílias com poucas regras, onde os pais não se envolvem muito com o estabelecimento de limites para os filhos – pode ser, por exemplo, que não haja horários para comer ou dormir. Encontramos, ainda, famílias cuja característica é o relacionamento íntimo entre os seus membros; passam muito tempo juntos e os papéis de cada um nem sempre são muito bem definidos. Há muito carinho e assistência entre os familiares, bem como espírito de lealdade ( OLIVEIRA, 2005, p:66).
Oliveira, assinala, então, para aspectos presentes na estrutura familiar de hoje, no
contexto das sociedades contemporâneas, que acabam por exigir novas configurações da
instituição família. Há uma crise pelas variadas formas que a família assume no contexto social
envolvente. A família nuclear não é mais a forma predominante, sem contar que é cada vez mais
crescente o que se uso denominar de conflito de gerações que estão nas sociedades atuais no
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cerne da instituição familiar. De certa forma, também, a Educação não é mais atributo
exclusivo da esfera familiar, esta agora também disputa com a escola e outros agentes sociais a
função de socialização de seus membros (Demeterco, 2007).
A instituição religiosa e a educação
Para pensarmos a instituição religiosa e a educação, devemos portanto, pensar a respeito
da própria função da religião no contexto das sociedades. A religião possui uma dupla função:
uma função social, que podemos compreender até mesmo como uma função socializadora, na
medida em que enquanto grupo social adapta indivíduos e grupos ao contexto social envolvente,
pois dá-se como força constituinte da coesão e do ordenamento social. Quando fazemos
referência à função social da religião e de fundamental importância que compreendamos que a
religião é vivenciada coletivamente, através de crenças expressas, ritos visíveis, culto exterior e
cerimônias públicas. É, portanto, construção humana que se manifesta coletivamente, na medida
em que é parte integrante da sociedade que a influencia e é influenciada por ela. E, uma função
psicossocial, na medida em que se constitui enquanto um universo que possibilita o encontro de
uma estrutura de plausibilidade para indivíduos e/ ou grupos.
A sociedade é fruto das relações que se estabelecem entre os grupos humanos, que
buscam sobreviver em seu sentido imediato e histórico. É a partir da necessidade de
sobrevivência imediata e histórica que cerca a todos os seres humanos, que se constituem
universos de representações coletivas. Devemos, segundo Oliveira (2005) compreender a Igreja
enquanto um especifico grupo social, na medida em que nele encontramos indivíduos que
possuem uma mesma fé e que se encontram ligados pelas mesmas regras, bem como encontram-
se ligados à um mesmo líder espiritual. Neste sentido, toda e qualquer Igreja, tem como função
específica a formação religiosa de indivíduos e grupos.
É sempre necessário que todo indivíduo possua um referencial no qual posa se apoiar e
estabelecer a lógica de seus procedimentos e agir dentro dos espaços de interlocução que lhe são
facultados no interior do contexto por ele vivenciado. Neste sentido ele necessita de um discurso
que uma vez internalizado lhe permita a construção do referencial que para ele funcionará como
guia e possibilitará a que possa situar-se dentro dos parâmetros aceitos pela sociedade.
Os valores morais, éticos, culturais, as regras e as normas presentes no universo social
possuem esta função, que permite aos indivíduos interagir e organizar seus padrões
comportamentais dentro do estabelecido, do permitido, do aceito e não aceito, demonstrando
também este aspecto a característica normativa da Igreja em sua função social. Neste sentido
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devemos compreender que toda e qualquer Igreja se consubstancia a partir das determinações da
realidade social, pois a religião é “coisa” social, conforme nos diriam os funcionalistas.
O contexto do campo religioso nacional brasileiro da atualidade, denota que estão
ocorrendo rupturas com relação às concepções das igrejas tradicionais e históricas, pela
pluralidade das relações presentes no campo social, político, econômico e cultural. A partir
desta pluralidade, marca da secularização, as referidas igrejas distanciaram-se das necessidades
objetivas e subjetivas de seu público-alvo, levando à busca de espaços alternativos de discurso
fácil, que internalizados pelos indivíduos e grupos os constituem subjetivamente.
Por estes aspectos acima mencionados, podemos verificar a própria função educativa da
religião, no sentido de que ela reproduz todos os elementos presentes no contexto social mais
amplo, constituindo personalidades, na medida em que é internalizada por indivíduos e grupos
e, por sua vez, também permitem a construção de repertórios de ações individuais e coletivas
fazendo com que se possa circular adequadamente no contexto social mais amplo.
A instituição do Estado e a educação
Entendamos, caros alunos que a instituição do Estado, possui o poder de coerção, no
sentido de que é a única instituição no contexto das sociedades complexas que tem para si o
atributo de recorrer à violência física para cumprir com todos os seus objetivos (Oliveira,
2005).Então, podemos compreender que a instituição do Estado, é a instituição significativa de
controle social, pois ela tem na lei o elemento fundamental de execução de suas funções.
Observemos que determinados costumes quando passam para a esfera da lei, se constituem
enquanto obrigatórios, neste sentido encontra-se presente um processo de coercibilidade no que
concerne à vontade individual. Nenhum de nós pode pensar ou dizer se quer ou não cumprir
determinada lei, esta exerce um poder coercitivo sobre os indivíduos, pois todos nós estamos
obrigados a cumprir certa lei.
Afirma Demeterco(2005):
O Estado é uma das principais partes da estrutura social e também uma das mais influentes sobre todo o andamento e a organização da sociedade. Tem importantes funções externas e internas, ligadas à administração pública e relações internacionais. Ao conceito de Estado ligam-se os conceitos de soberania e de autonomia. A soberania do Estado é assegurada pelo monopólio da regulamentação da força dentro de suas fronteiras; só ele tem autoridade e poder legítimos para regulamentar o uso da força, em qualquer circunstância. Assim, pode-se resumir as funções do Estado como sendo:a garantia da soberania nacional do país, a manutenção da ordem e a promoção do bem-estar social. Na sociedade atual, as funções do Estado aumentam na mesma proporção
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que essa sociedade se diversifica e se torna cada vez mais complexa(DEMETERCO, 2007, p.69-70).
Demeterco(2007), salienta para o aspecto da primordial função do Estado, em nosso
entendimento, que se constitui na de ser a instituição que tem a seu cargo a manutenção da
ordem social.
É no contexto do século XX, que vamos ter o crescente desenvolvimento nas sociedades
modernas do próprio compromisso do Estado para com a educação. Neste sentido, segundo
(Oliveira, 2005), o Estado, cada vez mais teve a seu cargo os compromissos com as funções da
educação, envolvendo estas funções planejamento e integração da educação aos contexto da
sociedade envolvente. Cabe ao Estado, portanto, a prática de uma política educacional que torne
efetiva a própria realização desta tarefa que incumbe ao Estado.
Oliveira (2005), define política educacional, enquanto as medidas de caráter político
que são impostas no campo da educação. A esta política cabe a ampliação do número de
escolas, o número de salas de aula, a manutenção de condições para que significativo
contingente populacional a ela tenha acesso. Neste sentido, podemos depreender que a educação
de certa forma, deve estar subordinada às próprias condições do país e de sua época. Vejamos
agora o que nos dizem os artigos 205 e 206 de nossa Constituição sobre a educação, para que
tenhamos clara as atribuições do Estado acerca da própria política educacional:
Art.205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art.206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial e profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; VI – gestão democrática de ensino público na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade.
Podemos então observar que o Estado em sua política educacional estabeleceu
instrumentos que demonstram estar a educação adequada a nova realidade política, social e
econômica da sociedade, neste sentido podemos verificar que a própria sociedade deve fornecer
à educação todos os recursos necessários, na medida em que a educação não é refratária as
alterações presentes no contexto social mais amplo. Entendamos que é ao Estado que cabe
estabelecer as diretrizes à educação obrigatória. Mas no caso brasileiro, encontramos embora a
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Constituição seja demasiadamente clara, um verdadeiro caos, encontra-se instalado na educação
brasileira, na medida em que encontramos descasos por parte do poder público para com a
educação, notadamente marcada, como nos diz Demeterco (2007), pelo fracasso escolar, pela
má remuneração dos professores e pelo péssimo estado das escolas públicas. Neste sentido a
educação, a educação deveria ser repensada no contexto de nossa sociedade por parte dos
segmentos administrativos do Estado, elaboradores das políticas educacionais.
Os meios de comunicação social e a educação
No contexto da atualidade, não podemos negar a forte influência dos meios de
comunicação de massa nas sociedades. Podemos observar que estes fornecem informações que
não se encontram mais restritas à regiões ou partes determinadas do mundo, neste sentido
podemos dizer que o mundo não possui mas espaços que nos são desconhecidos, encontra-se
interligado e de dentro de nossas casas podemos chegar ao absurdo de vermos uma guerra em
andamento em qualquer lugar do mundo, como pudemos ver a guerra dos Estados Unidos
contra o Iraque.
No campo das comunicações, do campo dos meios de comunicação de massa podemos
dizer que o mundo é uma “aldeia global”, onde a maioria dos segmentos sociais tem acesso à
informações dos lugares mais distantes, mais remotos. Este fato altera drasticamente até mesmo
o processo educativo. Este fortalecimento das informações e dos meios de comunicação de
massa, perpassam este mesmo processo educativo fazendo com que em muitos momentos
tenhamos que repensar nossas próprias práticas educativas. Afirma Oliveira: “Até algum tempo
atrás, a família e a escola eram, sem dúvida, as grandes instituições encarregadas da educação
assistemática e sistemática. Com o surgimento e desenvolvimento dos poderosos veículos de
comunicação de massa – televisão, rádio, cinema e imprensa ( jornais e revistas) – essa
situação alterou-se substancialmente(OLIVEIRA, 2005, p.78)”. Este aspecto exige de nós,
como dissemos anteriormente atitudes questionadoras com relação à educação, ao processo
educativo.
As informações transmitidas pelos meios de comunicação de massa, o são enquanto
uma forma de transmissão de caráter fácil, na medida em que se constituem em uma forma de
lazer, permitindo que as pessoas entrem em contato com assuntos da atualidade. Esta facilidade
e esta certa ausência de elaborações mais aprimoradas no contato com os meios de
comunicação, fazem com que no contexto das sociedades acabem por gozar de forte prestígio
junto à população ( Oliveira, 2005).
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Afirma Oliveira o seguinte: “Com isso, as instituições sociais básicas no processo de
socialização ( família, Igreja e escola), estão perdendo a influência sobre as gerações mais
jovens, já que os conhecimentos transmitidos por elas não coincidem, muitas vezes, com o
interesse dos jovens. Assim é que o ensino transmitido pela escola, vem sendo afetado pelos
maiôs de comunicação de massa, principalmente a televisão( OLIVEIRA, 2005,p:78)”. Novas
necessidades principalmente na geração mais jovem são criadas pela influência principalmente
da televisão. Novas formas de ver o mundo, novas maneiras de pensar, de sentir e de agir são
veiculadas, fazendo com que, repetimos, novas necessidades sejam criadas e, neste sentido a
escola deveria acompanhar este processo, por esta razão ela deve ser repensada diante da
influência dos meios de comunicação de massa.
Observemos, que hoje a criança leva para a escola uma série de informações sobre os
mais variados temas e, a escola não pode deixar de acompanhar todo este processo. Os
professores hoje, devem constantemente estar atualizados para fazer frente ao acumulo de
informações que seus alunos trazem de seus lares, através dos meios de comunicação de massa.
Se assim não procederem estarão de certa forma alicerçados numa ilusão, bem como a
instituição escolar. Ilusão esta que envolve pensar que todo o conhecimento é adquirido através
do ensino, mas a realidade está a nos dizer que muito do que as novas gerações conhecem
encontra-se fora e para além da escola. Afirma Oliveira: “A concorrência movida pelos meios
de comunicação à família e à escola, ameaçando o status dessas agências tradicionais de
educação, não deve ser encarada como uma competição destruidora. A família e a escola são
instituições que necessitam apenas adaptar-se à realidade dos dias atuais( OLIVEIRA, 2005,
p.81). Oliveira assinada para a necessidade da re-adaptação da escola à realidade social
envolvente.
PONTO FINAL
Caros alunos, neste capítulo vimos as instituições sociais e a educação. Neste sentido
devemos pensar e termos como uma conclusão desta parte de nossos estudos que toda a
instituição social envolve sempre o fornecimento de regras, normas e também de determinados
procedimentos que por serem coletivos são padronizados e contribuem para que a organização
social seja devidamente mantida. Pensarmos as instituições sociais é trabalharmos com todo um
conjunto de normas e de regras sociais que homogeneízam comportamentos, padrões
comportamentais, fazendo com que a sociedade encontre-se em ordem, na medida em que
padronizações comportamentais e de repertórios de ações individuais e coletivas, permitem uma
maior coesão e ordenamento social. Esta idéia é importante de ser retida por todos os alunos e,
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que possam ter clara a própria função da instituição social. Da mesma forma, a família tem
como “responsabilidade” social fundamental ser a instância socializadora de caráter informal.
QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO
1)-A escola enquanto instituição social, é uma instituição em que:
a-( )o contexto social é reproduzido
b-( ) o contexto social não é reproduzido, pois a escola é refratária às determinações sociais
c-( )o contexto social não é reproduzido, pois a escola não é refratária as determinações do
social.
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
2)-Na escola, enquanto instituição social, segundo Oliveira o processo educativo, pode ter um
caráter marcadamente:
a-( )transformador e liberal-progressista
b-( )conservador ou inovador dependendo do contexto históricos
c-( )marcadamente conservador
d-( )nenhuma das alternativas é a correta
3)-A proposta pedagógica libertadora envolve, fundamentalmente:
A( )a concepção de que o aluno não é agente de transformação histórica
b-( )a concepção de que o aluno é agente social que propicia a conservação da ordem vigente
c-( )a concepção de que é a partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano que
formamos uma consciência crítica de forma a gerar uma prática transformadora da realidade.
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
4)-A estrutura social envolve:
a-( )o papel correspondente à posição que o ator social ocupa no contexto de uma sociedade
dada;
b-( )o conjunto de ações sociais não determinados pela posição que o indivíduos ocupa no
contexto social
c-( )o conjunto e ações sociais determinadas pelos sujeitos sociais em relação de
independência das posições sociais que ocupam no contexto das sociedades
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
5)-A relação entre infra e superestrutura pode ser resumida da seguinte forma:
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a-( )a superestrutura determina a infra-estrutura e esta legitima e ratifica as relações
peresentes na superestrutura.
b-( )a infra-estrutura é determinada pela superestrutura, sendo que a infra estrutura determina
as relações presentes na superestrutura;
c-( )a infra estrutura determina a superestrutura, e esta legitima e retifica as relações
presentes na infra-estrutura;
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
6)-É correto dizer, segundo Oliveira que:
a-( )-o modo de produção da sociedade determina não só o sistema de estratificação social e
de educação, como também o modo de pensar e de agir dos indivíduos no contexto das
sociedades;
b-( )o modo de produção da sociedade não determina o sistema de estratificação social e de
educação, mas determina o modo de pensar e de agir de indivíduos no contexto das sociedades
c-( )o modo de produção da sociedade determina o sistema de estratificação social, bem
como determina as relações sociais de produção, sem os determinantes presentes no contexto
social mais amplo;
d-( )nenhuma das alternativas é a correta.
TEXTO COMPLEMENTAR.
A tecnologia dentro da sala de aula
O avanço da concepção moderna da educação, esteve relacionado a várias outras
grandes mudanças que ocorreram no século XIX. Uma delas foi o desenvolvimento da
impressão e o advento da “cultura dos livros”. A distribuição em massa de livros, jornais e
outros meios impressos foi um aspecto tão característico da sociedade industrial quanto o foram
as máquinas e as fábricas. A educação trouxe as habilidades da leitura, da escrita e da
aritmética, abrindo o acesso ao mundo da mídia impressa. Nada representa melhor a escola do
que o livro escolar ou livro-texto. Para muitos, tudo isso está destinado a mudar com o uso
crescente dos computadores e das tecnologias multimídia na educação. Será que a internet, o
CD-ROM e o vídeo irão substituir cada vez mais o livro didático? E será que as escolas
continuarão existindo em um formato semelhante ao atual se, na hora de aprender, as crianças
libarem o computador em vez de ouvirem o professor? Há quem diga que as novas tecnologias
não apenas se somarão ao currículo existente, como acabarão enfraquecendo-o e transformando-
o, pois os jovens de hoje já estão crescendo em uma sociedade voltada para a informação e para
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a mídia, estando bem mais familiarizados com as tecnologias desta do que a maioria dos adultos
– inclusive seus professores. Alguns estudiosos que observam esse fenômeno falam de uma
“revolução na sala de aula” – o advento da “realidade virtual do desktop” e da sala de aula sem
paredes. Poucas dúvidas restam em relação ao fato de que os computadores ampliaram as
oportunidades na educação. Eles oferecem às crianças a chance de trabalharem de forma
independente, de pesquisarem tópicos com ajuda de recursos on-line e de aproveitarem
softwares educativos que permitem a elas progredirem em seu ritmo. No entanto, a visão ( ou
pesadelo) de salas de aula com crianças que aprendem exclusivamente através de computadores
individuais ainda não se transformou em realidade. Na verdade, a imagem da “sala de aula sem
paredes” parece bastante distante por uma simples razão: não existem computadores suficientes
na escola ou em casa! Mesmo escolas que possuam muitos recursos precisam desenvolver
programas de revezamento que estabeleçam horários para que os alunos possam utilizar as
estações de trabalho. Em escolas que contam com um número limitado de computadores, é
provável que os alunos passem apenas alguns minutos por semana diante de um computador, ou
tenham aulas de tecnologia da informação em pequenos grupos. A maioria dos lares ainda não
possui um computador. Em segundo lugar, a maior parte dos professores ainda vê os
computadores como um suplemento para as aulas tradicionais, e na como um instrumento para
substituí-las. Os alunos podem utilizar os computadores para concluir tarefas que estejam dentro
do currículo-padrão, como produzir um projeto de pesquisa ou investigar os acontecimento do
dia. Mas são poucos os educadores que encontram na tecnologia da informação um meio capaz
de substituir o aprendizado e a interação com professores humanos. O desafio para os
professores é aprender a integrar as novas tecnologias da informação às aulas de uma forma
significativa e sensata em termos educacionais. (ANTHONY GIDDENS. Sociologia. Pgs. 407-
408, 2005.)
QUESTÃO DE REFLEXÃO
Caros aluno uma questão para reflexão que consideramos importante é: a educação no
contexto de uma sociedade capitalista, marcadamente excludente tem o papel fundamental de
levar à transformação da ordem social? Fundamente sua resposta.
ATIVIDADE
Já que neste momento de nossos estudos estamos trabalhando com a questão da
educação e as instituições sociais, com base no texto complementar que trata das novas
tecnologias no contexto da sala de aula, responda: como os professores no contexto da
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sociedade brasileira e da educação brasileira podem se preparar para esta “nova forma de
ensino-aprendizagem?
DICAS DE ESTUDO
Como dica de estudo, sugiro a leitura do livro de Anthony Giddens – Sociologia, da
Editora Artmed, publicado em 2005, no que concerne à educação no contexto das sociedades
contemporâneas. Este livro é muito importante e de forte auxilio se quisermos conhecer a
própria abrangência da sociologia, dos estudos em sociologia.
BIBLIOGRAFIA
DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba.
Iesde Editora.
GIDDENS, Anthony (2005). Sociologia. São Paulo. Editora Artmed.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora
Ática.
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A RELAÇÃO ENTRE MUDANÇA SOCIAL E A EDUCAÇÃO. A relação entre mudança social e a educação nos permite compreender que o processo
de socialização nunca se completa, na medida em que a capacidade humana de transformar sua
realidade é algo que está sempre presente. O homem está sempre construindo seu mundo e
sendo construído por ele. Essa nossa capacidade faz com que sempre nos encontremos diante de
um universo dinâmico e a realidade na qual vivemos nunca pode ser pensada em termos
definitivos, mas sempre relativizados.
Certamente, não podemos distanciar a mudança social da educação, na medida em que
são partes que se encontram imbricadas. As mudanças sociais, segundo Demeterco (2007),
possuem como características serem permanentes, serem coletivas, pois tendem a afetar todo o
grupo social, alteram a estrutura social e, são transformadoras da história do grupo. Neste
sentido, resumindo, a estrutura social nunca permanece igual. Ela passa por processos de
mudança social. A mudança social, como o termo indica, significa transformações nas formas
de vida presentes nas sociedades (Oliveira, 2005). Devemos compreender também, como nos
assinala Oliveira(2005), que a intensidade das mudanças sociais encontram-se inter-relacionadas
com as características típicas de cada sociedade. Nas sociedades complexas, como as nossas
sociedades as mudanças sociais são rápidas e intensas.
Afirma Oliveira: “O ritmo da mudança social depende do maior ou menor número de contatos
sociais com outros povos, do desenvolvimento dos meios de comunicação e também de certas
atitudes individuais e sociais, que o aceleram ou dificultam. A multiplicidade de contatos com
os povos de costumes, padrões de vida e técnicas diversas faz acelerar as mudanças sociais(
OLIVEIRA, 2005, p.87). Segundo nosso autor, há duas formas de se estabelecer a mudança
social: através de forças que são endógenas ( internas), ou seja, por transformações que ocorrem
dentro da sociedade, ou por forças exógenas(externas), por transformações que ocorrem fora da
sociedade, ou seja, por outras sociedades, no contexto da difusão cultural. Oliveira (2005),
considera que difundir técnicas é mais fácil do que a difusão de valores éticos, religiosos,
morais, etc., na medida em que estes se encontram impregnados por reações de caráter emotivo,
que muitas vezes são difíceis de assimilar.
Observemos que no contexto das sociedades um elemento cultural quando é
considerado significativo e encontra-se de pleno acordo com a própria cultura de uma dada
sociedade é certamente, de mais fácil assimilação. A aceitação de novos valores culturais é
determinada pelo elemento – novidade. Toda a novidade é mais fácil de aceitar. Afirma
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Oliveira:”As novidades se referem quase sempre a aspectos não-essenciais da
cultura(OLIVEIRA, 2005, p.88). Pelo que podemos compreender, neste momento de nossos
estudos, é que existem muitos fatores que são causadores de mudança, mudanças estas que
alteram o próprio traço marcante da sociedade. As mudanças de caráter tecnológico, não se
constituem enquanto tal em apenas mudanças das técnicas utilizadas, elas fomentam também
modificação nos hábitos, nos costumes, e, até mesmo nas formas de ver o mundo. O que
queremos dizer e demonstrar neste momento é a relação de interdependência existente entre
mudanças de caráter técnico e mudanças estritamente de caráter cultural, embora devamos
compreender que as mudanças de caráter cultural se fazem de forma mais lenta no contexto
social, na medida em que podem haver formas de resistências. Salientamos, novamente, que a
educação não se encontra refratária a todos estes processos, ou seja, das mudanças endógenas e
das mudanças exógenas. Afirma Oliveira:
As invenções e a difusão cultural são processos que ocasionam as mudanças sociais, pois suscitam modificações nos costumes, relações sociais e instituições. Essas alterações pode ser de pequeno porte, passando até despercebidas, ou podem alterar quase todos os setores da vida social. A invenção de uma nova tinta pode causar alterações somente no campo artístico; mas a invenção da televisão, por exemplo, influenciou as diversões, a política, a educação, os hábitos familiares, a propaganda,etc. Mudanças gradativas não destroem as instituições sociais existentes. Geralmente, visam apenas a melhorá-las. Já as mudanças profundas e violentas alteram todo o sistema de relações sociais. As mudanças gradativas, que procuram melhorar as instituições sem destruí-las, sem romper com os costumes, são chamadas de reformas. A mudança social profunda e violenta, que destrói ou procura destruir a ordem social existente, substituindo-a por outra contrária, chama-se revolução(OLIVEIRA, 2005, p.90).
No contexto da sociedade atual, pelo impacto da aplicação das novas tecnologias nas
mais diversas áreas, estamos experenciando uma verdadeira revolução e esta mesma revolução
de caráter técnico está também modificando nossa visão de mundo e de homem, na medida em
que o mundo não é mais restrito, regionalizado, mas é amplo e estamos também experenciando
um intenso processo de difusão cultural.
O processo de desenvolvimento econômico e sua influência na educação
Nesse momento de nossos estudos devemos entender a íntima relação entre
desenvolvimento econômico e sua influência na educação. Numa sociedade desenvolvida
economicamente a educação também encontrar-se-á desenvolvida, no sentido do atendimento
aos recursos necessários para o desenvolvimento de políticas educacionais de caráter inclusivo.
Já nas sociedades em desenvolvimento, como se costume denominar encontramos uma certa
defasagem entre elementos de desenvolvimento econômico e a existência de políticas
educacionais mais adequadas e, por assim dizer, a caminho do desenvolvimento. Nenhuma
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sociedade poderá dizer-se desenvolvida se não tiver também uma educação desenvolvida, ou
seja, um elevado grau de desenvolvimento educacional de sua população. Afirma Oliveira: “Há
necessidade de se incrementar o processo educativo, mas, acima de tudo, é necessário se fazer
o mesmo com o desenvolvimento econômico. Para promover o desenvolvimento, a educação
deve caminhar paralelamente com outros fatores: aumento do processo de industrialização,
melhor distribuição de terras no campo, programas sanitários e melhor distribuição da renda
nacional. Só a existência de uma moderna infra-estrutura econômica é que vai permitir um
desenvolvimento maior da sociedade nos seus vários aspectos(OLIVEIRA, 2005, p.97)”.
No contexto de nossa realidade social brasileira, o que observamos é que não encontramos
elementos de desenvolvimento em vários setores da sociedade, saneamento, saúde,
redistribuição de renda e, a própria educação. E, neste sentido podemos observar que a
sociedade carece de políticas públicas que lhe garanta e determine o que podemos denominar de
ritmos de desenvolvimento. Encontramos em nossa sociedade uma contradição – somos um país
subdesenvolvido, na medida em que muitos outros fatores não estão sendo atendidos pelas
políticas governamentais e, no entanto, a prática discursiva realizada por parte de nossas
autoridades, parece priorizar a educação, mas, salientamos que a educação em si mesma não é
força propulsora de desenvolvimento de um país.
Esta é a contradição que se apresenta: não se atende à elementos básicos de garantias de
melhores condições de vida por parte principalmente dos segmentos subalternos da sociedade e
costuma-se colocar a educação como principal problema nacional. Há ainda uma nova
contradição – a educação, não possui investimentos claros que lhes possibilite elevado grau de
desenvolvimento para atender aos anseios da sociedade, principalmente repetimos, no que
concerne aos segmentos subalternos da população brasileira.
Devemos considerar sempre a educação como um investimento, na medida em que é
elemento fundamental para a formação de capital humano e de capital familiar, segundo
Oliveira (2005), e a instituição do Estado no contexto das sociedades é a instituição que
concorre para a formação do capital humano e social do trabalhador através da instância escolar.
O processo de globalização e a educação
Pensarmos o processo de globalização e a educação é pensarmos numa característica
específica do modo capitalista de produção que é a busca de novos mercados. Em variados
períodos de nossa história mundial experenciamos este processo de busca de novos mercados
consumidores. Esta busca de novos mercados ocorreu nos séculos XVI, XIX e XX. Hoje, século
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XXI, encontramos ainda esta busca inerente ao sistema sócio-econômico capitalista, mas agora
de caráter diferenciado, no sentido de que agora estão presentes as novas tecnologias da
educação e invenções eletrônicas que como resultado traz o encurtamento das distâncias.
Estamos diante da globalização.
Como podemos definir a globalização? Segundo Johnson(1997), a globalização se constitui
num processo onde a vida social nas sociedades Ocidentais é de certa forma afetada por
influências internacionais, que envolvem os mais amplos aspectos, políticos, comerciais e
culturais. Giddens, ao trabalhar com as dimensões da globalização afirma o seguinte:
A globalização é muitas vezes retratada apenas como um fenômeno econômico. Muito disso se deve ao papel das corporações transnacionais, cujas operações massivas se expandem através de fronteiras nacionais, influenciando os processos de produção global e a distribuição internacional do trabalho. Alguns assinalam a integração eletrônica dos mercados financeiros globais e o enorme volume de fluxo de capital global. Outros se concentram na abrangência sem precedentes do comércio mundial, envolvendo uma variedade de bens e serviços muito maior do que antes. Embora as forças econômicas sejam uma parte integrante da globalização, seria errado sugerir que elas sozinhas a produzam. A globalização é criada pela convergência de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos. Foi impelida, sobretudo, pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação que intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas ao redor do mundo(GIDDENS, 2005, p.61).
Considera-se a forma mais poderosa de globalização a de caráter econômico. No
contexto da economia globalizada as empresas denominadas de transnacionais realizam suas
transações econômicas simultaneamente em vários países diferentes e acabam por explorar as
condições locais. A globalização em sua dimensão econômica pode ser entendida enquanto
também um complicador das relações econômicas, na medida em que é concentradora de
riquezas, de poder econômico e, é um forte desestabilizador das relações de trabalho, no
contexto do capitalismo industrial. Com o processo de globalização entendemos que se
agudizam os fatores de precarização do mundo do trabalho. Este processo de
transnacionalização do capital financeiro internacional teve início basicamente nos anos 70 e
intensificou-se com o colapso do socialismo nos anos de 1989-1991, estabelecendo-se o
processo de interligação mundial dos mercados, segundo Oliveira (2005).
É importante salientar que a globalização não se restringe apenas às determinações
econômicas do capital financeiro internacional, mas temos também implicações de caráter
político e de caráter cultural, onde estamos nos deparando com o enfraquecimento das tradições
e das próprias identidades culturais, na medida em que identidades híbridas estão se
constituindo. Ou seja, estamos vivenciando um processo de diversidades culturais de impactos
57
nunca antes vistos em nossa história Ocidental. Segundo Giddens (2005), a globalização está
afetando nossa vida cotidiana, na medida em que está a gerar mudanças na natureza de nossas
próprias experiências.
Afirma Giddens: “Como as sociedades nas quais vivemos passa por profundas
transformações, as instituições estabelecidas que outrora as sustentavam perderam seu lugar.
Isso está forçando uma redefinição de aspectos íntimos e pessoais de nossas vidas, tais como a
família, os papéis de gênero, a sexualidade, a identidade pessoal, as nossas interações e nossas
relações de trabalho. O modo como pensamos nós mesmos e nossas ligações com outras
pessoas está sendo profundamente alterado pela globalização(GIDDENS, 2005,
p.68).Considerando-se notadamente as implicações de caráter cultural, vamos nos deparar com a
educação. Neste sentido, devemos perceber no contexto de uma sociedade globalizada,que a
educação não se encontra imune a este processo, na medida em que as exigências de um
profissional mais qualificado se fazem cada vez mais presentes.
A educação no contexto da atualidade, também está a responder às necessidades de uma
economia de mercado, cada vez mais globalizada e também mais excludente. Cada vez mais no
contexto das sociedades está a se pregar o fim da escola pública, da escola gratuita e mantida
pelo Estado. Estamos diante de uma lógica da privatização, cabendo ao estado a garantia da
educação para os segmentos subalternos da população, através de bolsas de estudo em escolas
particulares, ou financiando os estudos desse segmento para que posteriormente à formatura
retornem ao Estado o benefício recebido.
A escola dentro do contexto de uma sociedade globalizada está sendo repensada, na
medida em que ela está passando paulatinamente a funcionar aos moldes de uma empresa ou
microempresa, no sentido de que, salienta Meksenas(2005), deve funcionar como estimuladora
da competição, pois encontra-se contida num contexto marcadamente concorrencial, bem como
não deve depender dos recursos advindos do Estado e por fim, contar com financiamentos
privados, com ajuda da comunidade ou com a ajuda de voluntários, que se intitulam “amigos da
escola”. Afirma Meksenas: “Estimula a iniciativa individual ao mesmo tempo que nega valores
e trabalhos coletivos(MEKSENAS, 2005, p. 127). Este é um aspecto muito importante
salientado por Meksenas, na medida em que no contexto das sociedades globalizadas agudiza-se
a concepção individualista de homem e de mundo e, desta forma, podemos até mesmo dizer que
os vínculos sociais se tornam cada vez mais flexíveis.
A prática discursiva da denominada qualidade total passa a fazer parte integrante da
própria prática discursiva das escolas em seus setores administrativos, demonstrando este
58
aspecto a transformação da concepção de escola, transformação esta que a vincula ao
funcionamento de uma empresa que deve gerar lucros.
Toda uma concepção de homem e de mundo está sendo alterada pelo processo de
globalização. Cada vez mais estamos nos firmando em uma concepção individualista,
concorrencial, de elevado nível de competição, que está a exigir, repetimos, cada vez mais
intensa qualificação para o trabalho, para o mercado. A escola não foge à estas múltiplas
determinações advindas com o processo de globalização.
PONTO FINAL
Neste capítulo vimos fundamentalmente que nosso processo de socialização não é
completo ao longo de nossa vida; vimos também que a própria estrutura social não permanece a
mesma e sempre a mudança se faz, no contexto das sociedades, na medida em que a
intensidade das mudanças sociais que se estabelecem, encontram-se em relação de
interdependência com as características típicas de toda e qualquer sociedade do mundo
Ocidental capitalista. Vimos também, trabalhando com elementos estruturais que o
desenvolvimento econômico possui influência no processo educativo, demonstrando na
concretude da realidade que a sociedade não poderá dizer-se desenvolvida economicamente se
não tiver como conseqüência uma educação desenvolvida. No que concerne ao processo de
globalização e a educação, vimos que no século XXI encontramos nova forma de expansão do
capital, na medida em que na atualidade são as novas tecnologias que fazem toda a
diferenciação no processo de expansão do capital financeiro internacional. Estes aspectos são
importantes de serem considerados e analisados pela ótica da educação na medida em que,
como sabemos a educação não se encontra indiferente a tudo o que acontece no contexto da
sociedade.
QUESTÕES DE AUTO – ESTUDO
1)-A adoção de novas tecnologias, também pode ser relacionada com uma revolução, na medida
em que se alteram drasticamente muitos elementos presentes em nossa realidade. Alterando-se
materialmente nossa realidade, pelo emprego de novas tecnologias, temos:
a-( )conseqüente alteração na visão de mundo e de homem de indivíduos e grupos
b-( )conseqüente alteração na visão da economia por parte dos técnicos na sociedade
c-( )conseqüente alteração na circulação do capital no contexto da circulação financeira
d-( )nenhuma das alternativas é a correta
59
2)-O processo de desenvolvimento econômico encontra-se em relação de interdependência com:
a-( )a economia
b-( )a educação
c-( )a vida subjetiva de indivíduos e grupos
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
3)-No contexto da realidade nacional, encontramos defasagem entre:
a-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas educacionais mais
adequadas
b-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas econômicas mais
adequadas
c-( )elementos do desenvolvimento econômico e a existência de políticas públicas mais
adequadas
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
4)-A educação no contexto da formação do capital humano pode e deve ser vista enquanto um:
a-( )elemento motivador
b-( )um investimento
c-( )um fator moderador
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
5)-Segundo Johnson a globalização pode ser definida como:
a-( )um processo de nacionalização do capital financeiro internacional
b-( )um processo de internacionalização do capital financeiro internacional
c-( )um processo onde a vida social nas sociedades Ocidentais é afetada por influências
internacionais
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
6)-A escola no contexto de uma sociedade globalizada está sendo pensada como:
a-( )uma empresa ou microempresa
b-( )uma estrutura a ser estudada
c-( )uma infra-estrutura a ser repensada
d-( )nenhuma das alternativas anteriores.
TEXTO COMPLEMENTAR
60
A ascensão do individualismo.
Na era atual, os indivíduos têm muito mais oportunidade de moldar suas próprias vidas
do que antes. Antigamente, a tradição e o costume exerciam uma forte influência sobre a
trajetória de vida das pessoas. Fatores como classe social, gênero, etnicidade e até filiação
religiosa poderiam fechar certos caminhos para os indivíduos ou ainda abrir outros. Nascer
como filho primogênito de um alfaiate, por exemplo, poderia significar que um jovem
aprenderia o ofício de seu pai e o praticaria por toda a sua vida. A tradição sustentava que a
esfera natural da mulher era dentro de casa; sua vida e identidade eram largamente definidas
pela identidade de seu marido ou pai. No passado, as identidades pessoais dos indivíduos eram
formadas no contexto da comunidade em que nasciam. Valores, estilos de vida e éticas
predominantes nessa comunidade, forneciam diretrizes relativamente fixas, segundo as quais as
pessoas viviam suas vidas.
Nas condições da globalização, no entanto, estamos diante de um movimento rumo a
um novo individualismo, no qual as pessoas devem ativamente se autoconstituir e construir suas
próprias identidades. O peso da tradição e os valores estabelecidos estão perdendo importância à
media que as comunidades locais interagem com uma nova ordem global. Os “códigos sociais”,
que antes guiavam as escolhas e as atividades das pessoas, afrouxaram-se significativamente.
Hoje, por exemplo, o filho primogênito do alfaiate poderia escolher quantos caminhos desejasse
para erigir seu futuro, as mulheres não estão mais restritas ao domínio doméstico, e muitas das
outras sinalizações que moldavam a vida das pessoas têm desaparecido. As estruturas
tradicionais de identidade estão dissolvendo-se e novos padrões de identidade estão surgindo. A
globalização está forçando as pessoas a viver de um modo mais aberto e reflexivo. Isso significa
que estamos constantemente respondendo e nos ajustando às mudanças de ambiente ao nosso
redor; como indivíduos, evoluímos com e dentro de um contexto mais amplo em que vivemos.
Até as pequenas escolhas que fazemos em nossas vidas cotidianas – o que vestimos, como
gastamos nosso tempo de lazer, como cuidamos de nossa saúde e de nossos corpos – são parte
de um processo em curso de criação e recriação de nossas auto-identidades(ANTHONY
GIDDENS. Livro Sociologia, editado pela Artmed, no ano de 2005).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
No contexto de uma sociedade globalizada, marcadamente excludente qual a função que
está assumindo a educação enquanto instituição de formação de indivíduos e grupos?
61
ATIVIDADE
Como atividade, considerando fundamentalmente o que trabalhamos sobre o processo
de globalização e a educação, procure traçar um paralelo da concepção de escola anterior à
globalização e da concepção de escola na vigência da globalização, para que você possa ter
clara a própria dimensão que a escola assume no contexto de uma sociedade marcadamente
globalizada e por conseqüência excludente. Qual o papel do aluno? Qual o papel do professor?
DICAS DE ESTUDO
Sugerimos a leitura do livro de Paulo Meksenas – Sociologia da Educação – Introdução
ao estudo da escola no processo de transformação social. Das edições Loyola, publicado no ano
de 2005.
BIBLIOGRAFIA
GIDDENS, Anthony (2005). Sociologia. São Paulo. Editora Artmed.
JOHNSON, Allan G. (1997).Dicionário e Sociologia. Guia prático da linguagem sociológica.
Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.
MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo. Edições Loyola.
OLIVEIRA, Cláudia Regina de (2005). Neoliberalismo, globalização e pós-modernidade. In:
Sociologia Textos e Contextos. Canoas. Editora da Ulbra.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora
Ática.
62
EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: aspectos sociológicos da
educação contemporânea.
Vimos anteriormente alguns determinantes da relação entre mudança social e a
educação abordando mudança social e o processo educativo, o processo de desenvolvimento
econômico e sua influência na educação e finalmente o processo de globalização e a educação.
Neste momento vamos abordar a educação contemporânea em seus aspectos sociológicos
trabalhando com as noções de estrutura, sujeito, processos sociais e as relações de poder
vinculadas com a educação.
No contexto da atualidade uma eficiente análise sociológica da educação envolve a
consideração de alguns conceitos que são fundamentais como os conceitos de estrutura, de
sujeito, de processos sociais e da relação entre o poder e o processo educativo, portanto, uma
análise sociológica da educação não pode prescindir da consideração destes conceitos sob pena
da ausência da eficácia. Os conceitos acima referidos a partir do século XX, permitem a
construção de um instrumental analítico que nos permitem visualizar a educação e mesmo o
processo educativo sem pressupostos compartimentarizados, polarizados, fazendo com que o
estudioso da educação possa realizar uma análise não restrita à superficialidades, mas uma
análise mais essencial e profunda.
O conceito de estrutura social
O conceito de estrutura é de fundamental importância para uma análise sociológica,
para uma análise que visa a compreensão da vida social, da vida de indivíduos e grupos no
contexto das sociedades. Não existe sistema social que esteja isento de uma estrutura, ela nos
permite explicar as diferenças entre os mesmos sistemas sociais e os padrões sociais que regem
as experiências de indivíduos e grupos no contexto das sociedades, em suma, o conceito de
estrutura nos coloca diante da compreensão da vida social.
Segundo Johnson(1997), a estrutura de todo e qualquer sistema social envolve a análise
de características que lhe são básicas, as relações e a distribuição. As relações de certa forma
são os elementos que ligam entre si as partes do sistema social, que nos permite visualizar o
sistema enquanto uma totalidade. É pelas relações sociais que se estabelecem que podemos
compreender a totalidade do sistema social, na medida em que as relações se constituem no
grande elo de ligação entre as partes que constituem o todo. Afirma Johnson: “As “partes”
podem variar das posições que indivíduos ocupam a sistemas inteiros, como grupos,
63
organizações, comunidades e sociedades ( JOHNSON, 1997, p.98). Neste sentido, Johnson nos
demonstra que as relações sociais são de caráter variável, estando intimamente relacionadas
com a estrutura, ou seja, as partes tem características estruturais.
No contexto das sociedades podemos verificar várias estruturas, por exemplo, as
estruturas de poder, as estruturas dos próprios papeis sociais que desempenham indivíduos e
grupos, as estruturas educacionais, as estruturas religiosas, as estruturas da comunicação e assim
por diante. Então, toda e qualquer estrutura nos demonstra a própria freqüência e duração do
processo de interação entre os diferentes membros da unidade social, ou seja, a estrutura nos
demonstra as formas de ligação que indivíduos e grupos estabelecem no contexto das interações
que desenvolvem no contexto da sociedade (Jonhnson, 1997).
Um outro aspecto de caráter significativo, como dissemos anteriormente é a
característica da distribuição.A distribuição encontra-se relacionada à estrutura, ou seja, é um
aspecto estrutural. É pela distribuição que podemos verificar as várias distribuições dos
indivíduos no contexto do sistema social, que podemos observar, por exemplo, os próprios
níveis de renda, de prestígio e de acesso à educação, etc. A distribuição certamente nos falará de
um lugar ocupado pelo indivíduo no contexto do sistema social.
Trabalharmos com uma análise estrutural da sociedade, envolve toda uma percepção da
própria significação dos sistemas de relações que indivíduos e grupos estabelecem e que nos
permite a compreensão da realidade social em sua essência. Como poderemos compreender a
sociedade sem compreendermos sua estrutura? Como poderemos compreender a relação entre
sociedade e educação sem que possamos compreender as relações sociais e a distribuição dos
próprios atores sociais no contexto do sistema social em sua totalidade? São questões que se
fazem importantes, na medida em que a educação não se encontra solta no espaço, ela encontra-
se inserida numa estrutura. Numa análise sociológica nada se encontra solto no ar, nem
indivíduos, nem grupos, nem o sistema educacional. Para que possamos compreender
adequadamente a educação no contexto das sociedades, devemos compreender de antemão a
estrutura social na qual se encontra inserida, sob pena de nossa análise ficar a dever em termos
da profundidade e abrangência de suas dimensões.
O conceito de sujeito
Pensarmos o sujeito no contexto sociológico é pensarmos em termos do agente. O
sujeito social encontra-se inserido em uma estrutura, encontra-se inserido em um espaço social e
com ele interage. Não se encontra “solto”, não pode ser visto em seu “si mesmo”, mas contido
64
no emaranhado das relações sociais que regem a vida cotidiana. O sujeito pode ser
compreendido enquanto uma personalidade que se socializa, que é levada a adequar-se ao seu
meio social envolvente e que de certa forma sofre em si os determinantes deste mesmo meio.
Compreender o sujeito social no contexto da atualidade é de certa forma compreender o
indivíduo contido numa estrutura, que o determina e é determinada por ele. Alain Touraine, nos
fala do sujeito da seguinte forma: “ O sujeito não é simplesmente uma forma da razão. Ele só
existe mobilizando o cálculo e a técnica, mas da mesma forma a memória e a solidariedade e,
sobretudo, batalhando, indignando-se, esperando, inscrevendo a sua liberdade pessoal em
combates sociais e liberações culturais. O sujeito, mais ainda que razão, é liberdade, libertação
e negação (TOURAINE, 2003, p.75)”. Vejam caros alunos, a própria definição de sujeito que
nos faz Touraine, é agente, não é um ser meramente passivo que sofre as influências do meio
social em que vive, é construtor de seu mundo, mas também, repetimos é constituído pelo
próprio mundo que ele cria. Aqui estamos diante de uma relação que podemos dizer entre
criador e criatura, na medida em que construímos todo um universo social que sobre nós terá
suas influências.
Segundo Touraine(2003), o sujeito não se constitui fora do espaço social, fora da
relação que estabelece com as estruturas sociais vigentes, ele se faz neste processo de interação
intensa com a estrutura na qual encontra-se contido. São significativas as palavras de Touraine,
quando afirma que:
A construção do sujeito não culmina jamais na organização de um espaço psicológico, social e cultural perfeitamente protegido. O afastamento da mercadoria e da comunidade nunca está totalmente acabado. O espaço da liberdade se vê constantemente invadido e o sujeito se constitui não somente por aquilo que rejeita, mas também pelo que afirma. Ele não é nunca senhor de si mesmo e do seu meio e sempre faz alguma aliança com o diabo contra os poderes estabelecidos, com o erotismo que subverte os códigos sociais e com uma figura supra-humana, divida, de si mesmo. Aqueles que reduziram o ser humano àquilo que ele faz o encerram da dependência em face da técnica, das empresas e dos estados. O sujeito deve trapacear com as categorias da prática social. Longe de ser o arquiteto de uma cidade ideal, ele faz postiças combinações sempre limitadas e frágeis entre a ação instrumental e a identidade cultural, extraindo a primeira do mundo da mercadoria e a segunda do espaço comunitário( TOURAINE, 2003, pgs.79-80)
Touraine fala de nossas fragilidades enquanto agentes de transformação. Para nosso
autor de referência o sujeito se constitui no espaço social, o sujeito se constitui no espaço da
luta, na sua realidade cotidiana, podemos dizer que se constitui também pelos fantasmas de um
mundo construído que o subjuga e o submete. Touraine, também nos demonstra a não
passividade do sujeito que se constitui nos processos sociais, na sua relação com as estruturas
sociais. É no seu fazer que o sujeito vai se constituir na abordagem contemporânea de Touraine,
65
ao mesmo tempo em que o sujeito, enquanto agente de transformação histórica é dotado de
fragilidades, mas mesmo assim se constitui paulatinamente, repetimos, no decorrer de sua luta.
O conceito de processos sociais
Pensarmos os processos sociais é justamente pensarmos acerca da interação entre os
sujeitos e as estruturas sociais. É pensarmos nesta relação de reciprocidade, é pensarmos como
dissemos anteriormente na relação que se estabelece entre criador e criatura. Da mesma forma,
pensarmos em processos sociais também envolve dirigirmos nosso olhar para as mudanças que
ocorrem na estrutura, naquilo que encontra-se em efetiva mudança, pois somos impregnados por
estas mesmas mudanças. Afirma Rodrigues o seguinte quando faz a relação entre os sujeitos
sociais e os processos sociais: “Assim, o sociólogo precisa ter sempre um olho para as
estruturas ( aquilo que está estabelecido) e outro olho para os processos ( aquilo que está em
mudança). Permanência e mudança são resultantes da tensão que sempre existe entre o peso
das instituições e a capacidade de ação dos sujeitos. Pois as práticas dos sujeitos, estarão com
certeza, orientadas para manter ou mudar os conteúdos das estruturas( RODRIGUES, 2007,
p.86). Os processos sociais, então, sento a relação entre o sujeito e as estruturas nos permite
uma visão adequada da realidade, na medida em que consideramos partes que são significativas
para uma análise de cunho sociológico na contemporaneidade, a relação sujeito e estrutura
social.
Lá no início de nossa abordagem, quando trabalhamos com os clássicos da sociologia,
vocês devem lembrar que colocamos como a principal questão sociológica a relação indivíduo e
sociedade. Na contemporaneidade esta relação se mantém, mas agora sobre nova configuração,
ou seja, a relação sujeito e estrutura social, que caracteriza todo e qualquer processo social, ou
seja, que caracteriza todo e qualquer processo de mudança no contexto das sociedades
complexas, globalizadas e marcadamente excludentes.
Relações entre de poder e o processo educativo.
Rodrigues(2007), em sua abordagem faz algumas questões que são significativas para
que possamos pensar as relações de poder e o próprio processo educativo. Questiona da seguinte
forma: “Como compreender os debates e conflitos sociais que envolvem a educação
contemporânea sem levar em conta a configuração atual dos conflitos em torno da economia e
do Estado capitalista? Como entender a escola e o ensino atuais sem entender o confronto hoje
colocado entre os interesses privados e a regulamentação do Estado?(RODRIGUES, 2007,
p.91). Nossa maneira de pensar o mundo, nossa forma de interagir com a realidade social
envolvente, são expressões de nossas construções sociais. Nossa visão de mundo e de homem
66
encontra-se intimamente relacionada com os conflitos e os próprios consensos que se
estabelecem no interior da sociedade, de certa forma são resultado das relações de poder e de
força, podendo ser física ou simbólica que indivíduos e grupos podem exercer uns com relação
aos outros.
As relações educacionais, não se encontram ausentes das determinações presentes na
estrutura de poder vigente no contexto das sociedades. De certa forma são resultado do poder
econômico e do poder político que se encontram estabelecidos no próprio contexto da estrutura
social. Pensar os processos educacionais é fundamentalmente considerar estes aspectos, na
medida em que a educação não está ausente dos determinantes de poder presentes no contexto
social envolvente. Não podemos pensar os processos educativos, sem exercer uma análise
acerca das estruturas de poder vigentes no contexto da sociedade. O que temos hoje? Uma
sociedade capitalista, globalizada, excludente e, a presença de uma concepção de Estado que
está minimizando cada vez mais sua participação no contexto social de supridor das garantias de
benefícios sociais, principalmente aos segmentos subalternos da sociedade. Neste sentido,
entendemos que as relações de poder e de força , principalmente considerando-se a instituição
do Estado se agudizam, notadamente no campo da estrutura econômica. Os processos
educativos se ressentem desta realidade.
Por outro lado, não podemos deixar de considerar o mundo das idéias, que é o mundo
trabalhado pela educação. As relações de dominação no campo ideológico encontram-se
presentes também no processo educativo. Afirma Rodrigues:
As idéias e valores, o mundo da cultura, enfim, o conteúdo que ao fim e ao cabo é ensinado nas relações educacionais, são fruto da luta cotidiana por interesses econômicos e poder político. O próprio método, a pedagogia com a qual se ensinam esses conteúdos contém, à luz da análise sociológica, um viés ideológico. Os grupos e classes dominantes procuram sempre fazer com que as idéias e os valores aceitos por todos sejam os seus próprios valores e idéias. As práticas pedagógicas, isto é, os princípios e métodos que informam as técnicas educacionais estão sujeitas ao conflito ideológico vigente uma dada sociedade.(RODRIGUES, 2007, p. 92).
Caros alunos, vejam nas palavras de Rodrigues, que os processos educativos não são neutros no
contexto das sociedades. Vejam que as relações de poder presentes no contexto social mais
amplo, perpassam a esfera educacional abrangendo a quase totalidade de seus processos, de suas
metodologias, de sua pedagogia. Pensar a educação sem pensar as relações de poder
estabelecidas é realizar uma análise sociológica da educação pela metade, pois devemos
compreender que aquele segmento que na sociedade detém o poder econômico, acaba por deter
o poder cultural e o poder político desta mesma sociedade, como dissemos anteriormente. Para
67
entender a educação no contexto de hoje, faz-se necessária a compreensão dos denominados
processos de reestruturação econômica e cultural presentes(Rodrigues, 2007).
PONTO FINAL
O que é importante pensarmos a respeito da educação contemporânea? É importante
pensarmos sobre conceitos que na atualidade da interpretação sociológica da realidade são
fundamentais, como os conceitos de estrutura, de ação, de processos sociais e poder. Foi
justamente o que buscamos trabalhar neste capítulo, para que vocês caros alunos, consigam
compreender o que é importante enquanto instrumento de análise no campo da sociologia nos
dias atuais. Creio que podemos dizer: “chaves analíticas”. O que vimos acerca dos conceitos que
estudamos neste capitulo, foi que os conceitos funcionam como chaves analíticas que nos
permitem compreender a realidade, compreender sociologicamente a realidade. Fazer uma
interpretação sociológica da realidade adequada envolve usar de chaves analíticas também
adequadas.
QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO
1)-Pensar acerca da estrutura, envolve trabalhar com os elementos básicos que são:
a)-( )as relações e a distribuição
b-( )a relação e a educação
c-( )a relação e a cultura
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
2)-A distribuição é sempre um aspecto
a)-( )relacional
b-( )estrutural
c-( )dimensional
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
3)-Pensar o sujeito, em termos sociológicos envolve pensar o:
a-( )sistema estrutural
b-( )o agente
c-( )a contingência
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
4)-O sujeito segundo Touraine, não se constitui:
68
a-( )fora do espaço social
b-( )no espaço social
c-( )na dimensão estrutural da sociedade
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
5)-Pensarmos os processos sociais é pensarmos acerca da relação de reciprocidade entre:
a-( )sujeitos e as estruturas sociais
b-( )aspectos econômicos e estruturas sociais
c-( )aspectos educacionais e estruturas sociais
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
6-As relações educacionais não se encontram ausentes das determinações presentes na:
a-( )estrutura de poder
b-( )na estrutura econômica
c-( )na escola
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
TEXTO COMPLEMENTAR
A defesa do sujeito
Há grande continuidade que vai da consciência moral, eu submete o indivíduo a
deveres, até à consciência política, que conduz ao sacrifício por uma causa coletiva ou
transcendente E, como escapar a essas duas ordens de deveres sem abandonar-se a um
individualismo puro, que se vê cada vez mais invadido pelos estímulos do consumo de massa,
ou ao contrário, levado pelas pulsões impessoais do desejo?
Aqui é necessário voltar ao nosso ponto de partida. O indivíduo das sociedades
hipermodernas se acha constantemente submetido a forças centrífugas, ao mercado de um lado,
à comunidade de outro. A oposição entre essas forças resulta muitas vezes na divisão do
indivíduo, que se torna ou um consumidor ou um membro fiel da comunidade. O sujeito se
manifesta em primeiro lugar e antes de tudo pela resistência a essa divisão, pelo desejo de
individualidade, isto é, de reconhecimento de si mesmo em cada comportamento e em cada
relação social. Em algumas regiões da América Latina, por exemplo, há grupos étnicos lutando
por sua sobrevivência econômica e pelo reconhecimento de sua cultura. Às vezes proclamam a
sua vontade de defesa comunitária. Na maioria dos casos, porém, dissolvem-se nas camadas
inferiores da sociedade urbana, procurando um emprego, recursos e possibilidades de educação
69
para os filhos. Mas há casos também de grupos que procuram combinar a defesa da própria
identidade cultural com uma maior participação no sistema econômico e político. A essa altura,
eles se tornam capazes de ação coletiva e até de um movimento social. Estes procuram
conscientemente uma resposta à pergunta que apresentei sob forma genérica: Como combinar
cultura e economia? Isso supõe a abertura da comunidade e a reconstrução, além do mercado, de
um sistema de produção, de um sistema de ação histórica. Mas essa abertura e essa
reconstrução, essa superação da comunidade pela cultura e do mercado pelo trabalho, supõem a
intervenção de uma ação coletiva. Não há possibilidade de construção do sujeito fora da
referência a tal ação coletiva. Eis porque o ponto central de minha reflexão é aquele onde a
idéia de sujeito se une à de movimento social(ALAIN TOURRAINE, do livro Podemos Viver
Juntos?Iguais e diferentes. Publicado em 2003 pela editora Vozes).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Pensar a educação é considerarmos fundamentalmente o sujeito enquanto atente de
transformação. Para Touraine o sujeito não se encontra forma do espaço social, o sujeito nele
está contido, mas de que forma o sujeito se constrói segundo nosso autor de referência neste
espaço social?
ATIVIDADE
Caro aluno, como atividade procure responder as seguintes questões: Como podemos
pensar a constituição do sujeito hoje? Quem é o sujeito? Como este se constitui no contexto
social? A educação encontra-se imune às relações de poder e de força presentes no contexto das
sociedades?
DICAS DE ESTUDO
Como dica de estudo, deixo a indicação do livro de Alain Touraine: Podemos viver
juntos? Iguais e diferentes. Publicado no ano de 2003, pela editora Vozes. É uma obra
significativa que analisa principalmente os elementos que constituem os sujeitos na
contemporaneidade. O autor referido, faz toda uma discussão acerca do conceito de sujeito.
Quem é o sujeito hoje? É uma pergunta fundamental que se faz o autor e que nos permite
compreender a própria interação entre sujeito e estrutura enquanto formadora dos mais diversos
processos sociais.
BIBLIOGRAFIA
70
JOHNSON, Allan G. (1997).Dicionário e Sociologia. Guia prático da linguagem sociológica.
Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.
RODRIGUES, Alberto Tosi (2007). Sociologia da Educação. São Paulo. Editora Lamparina.
TOURAINE, Alain. (2003). Podemos viver juntos? Iguais e diferentes. Petrópolis. Vozes.
.
71
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS QUE CONTRIBUEM PARA
PENSARMOS A EDUCAÇÃO.
Anteriormente trabalhamos praticamente com os aspectos sociológicos da educação
contemporânea onde de fundamental importância para que se possa pensar a educação no
contexto de uma abordagem sociológica o conceito de estrutura, o conceito de sujeito, o
conceito de processos sociais e as relações de poder e o processo educativo. Agora vamos
trabalhar com alguns autores significativos, não porque tivessem abordado diretamente a
educação, mas porque suas teorias no contexto da contemporaneidade são de fundamental
importância para que possamos pensar o homem e sua sociedade. Pierre Bourdieu, Michel
Foucault, Anthony Giddens e Norbert Elias, são autores que na sociologia contemporânea tem
tido significação pela abrangência de suas teorias. Estes autores nos permitem refletir acerca dos
mais variados aspectos sociais e também, trabalhando-se com relações acerca da própria
educação.
Verificaremos aspectos da Sociologia Contemporânea, na medida em que a concepção
sociológica na contemporaneidade é diferenciada da que se praticava há algum tempo atrás. Não
que os autores clássicos da sociologia não sejam ainda significativos. Eles o são, mas os autores
mencionados acima revisitaram e realizaram uma re-leitura dos clássicos, criando algo novo no
contexto dos estudos sociológicos, mais próximos de nossa realidade social atual, mais de
acordo com os processos sociais contemporâneos.
NORBERT ELIAS –(1897-1990)
Em sua produção sociológica Elias, vai se dedicar a problemas fundamentais para que
se pudesse compreender as características específicas do mundo ocidental.) o objeto de análise
da sociologia de Elias envolvem a sociedade de corte, onde aborda o Antigo Regime, o processo
civilizador, onde demonstra quais são as forças motrizes que moveram o homem à civilização,
demonstrando os aspectos essências desta mudança. Envolve também as relações de poder e o
conceito de habitus, as relações de interdependência entre o eu e o nós, analisa a morte, o
tempo, o lazer e os esportes ( Nery, 2007). A sociologia de Elias é denominada por muitos
estudiosos de sua obra, como uma sociologia processual. Para Elias era importante estabelecer
uma relação de interdependência entre a estrutura de personalidade e a estrutura social,
recusando-se a uma concepção polarizada da relação individuo e sociedade, portanto. Afirma
Elias:
72
Por mais certo que seja que toda pessoa é uma entidade completa em si mesma, um indivíduo que se controla e que não poderá ser controlado ou regulado por mais ninguém se ele próprio não o fizer, não menos certo é que toda a estrutura de seu autocontrole, consciente e inconsciente, constitui um produto reticular formado numa interação contínua de relacionamentos com outras pessoas, e que a forma individual do adulto é uma forma específica de cada sociedade [...] o indivíduo sempre existe em nível mais fundamental, na relação com os outros e essa relação tem uma estrutura particular que é específica de sua sociedade. Ele adquire sua marca individual a partir da história dessas relações, dessas dependências, e assim, num contexto mais amplo, da história de toda a rede humana em que cresce e vive. Essa história e essa rede humana estão presentes nele e são representadas por ele, quer ele esteja de fato em relação com outras pessoas ou sozinho, quer trabalhe ativamente numa grande cidade ou seja um náufrago numa ilha a mil milhas de sua sociedade (ELIAS, 1994,p:31)
Deve ser observada a relação de interdependência sempre presente na concepção de
Elias, na medida em que podemos dizer que o meu eu individual é também constituído pelo meu
eu social.Para a consecução de seus objetivos, Elias propõe o conceito de configuração social,ou
figuração social como é concebido por alguns autores. Ele irá de certa maneira se opor ao
conceito de sociedade, na medida em que o conceito de sociedade tem caráter estático para
nosso autor de referência, pois o conceito de configuração é dinâmico, uma vez que o indivíduo
não pode ser pensado em oposição à sociedade.
O conceito de interdependência é significativo na medida em que é também inerente ao
conceito de figuração no contexto da obra de Elias, uma vez que acaba por se constituir em um
dos elementos que se encontram presentes nas relações sociais que analisadas em seu conjunto,
são o que nosso autor denominará de figuração. Neste sentido as relações de interdependência
existente entre os atores sociais passam a ser devidamente explicadas pelo conjunto das relações
que os atores sociais estabelecem entre si, permitindo a formação de grupos sociais , sendo que
cada qual possui a sua dinâmica específica(Brandão, 2006).
A sociologia processual
Norbert Elias, trabalhará em sua sociologia numa perspectiva de longo prazo, esta
perspectiva lhe permite a articulação entre os elementos de personalidade dos indivíduos e as
estruturas sociais (Nery, 2007). Elias, trabalhará de forma diferenciada a história, na qual
encontram-se inseridos indivíduos e grupos. Trabalha não com uma abordagem de cunho
determinista, para ele a análise histórica envolve uma perspectiva de longa duração, como nos
diz Brandão (2006), na medida em que as transformações sociais de caráter significativo
acabam por ocorrerem após longos períodos de tempo.
73
Elias critica o fato de os historiadores trabalharem com a concepção de época, pois é
justamente este aspecto que para nosso autor retira todo o dinamismo da construção humana de
seu mundo, na medida em que não é encarada de forma processual (Nery, 2007). A História,
passa a ser para nosso autor, um processo que reflete todo o fluxo das interações existentes e
que se realizam entre indivíduo e sociedade. Esta forma processual de conceber podemos
verificar nas palavras do próprio Elias, quando afirma que: “O padrão social a que o individuo
fora inicialmente obrigado a se conformar por restrição externa é finalmente reproduzido, mais
suavemente ou menos, no seu íntimo através de um autocontrole que opera mesmo contra seus
desejos conscientes. Desta forma, o processo sócio-histórico de séculos, no curso do qual o
padrão do que é julgado vergonhoso e ofensivo é lentamente elevado, reencena-se em forma
abreviada na vida do ser humano individual(ELIAS, 1995, p:134)”.
Neste sentido, podemos dizer que em Elias, as mudanças que se encontram presentes
nos costumes sociais acabam por ser internalizadas pelos indivíduos, moldando sua maneira de
pensar, sua maneira de sentir e sua maneira de agir(Nery, 2007). Portanto, encontramo-nos
diante de um autor que de forma alguma poderá ser considerado determinista, pois sempre está a
considerar o papel do indivíduo no contexto social mais amplo, na medida em que se encontra
em estreita relação de interdependência com o seu contexto, é por esta razão que teremos em
Elias a sociedade dos indivíduos. Elias, não irá negar a coercibilidade presente na estrutura
social, mas observe-se que ele coloca esta mesma coerbilidade em relação de interdependência
com as estruturas da personalidade. Em sua consideração da história, ou seja da estrutura social
em interdependência com a personalidade individual, encontramos a própria formação de uma
Segunda natureza que é inerente aos indivíduos e grupos no contexto da sociedade.
Afirma Brandão: “Quando ele afirma que “muito do que fazemos é cego, sem
finalidade e involuntário”, ?Elias apenas está explicitando a idéia de que as figurações
formadas, pelos e entre os indivíduos na sociedade, são processos não planejados nem
intencionais. As relações de interdependência, que emergem dessas figurações, podem até ser
intencionais, mesmo assim, poderão produzir conseqüências não intencionais, ou terem sido
originadas de outras interdependências humanas não intencionais (Brandão, 2006, p.87).
Nestas palavras de Brandão, cremos que pode ser entendida a questão da Segunda natureza de
que nos fala o próprio Elias.
O conceito de habitus
É no conceito de habitus, que se encontra explícita a questão da Segunda natureza que
envolve aos indivíduos na relação de interdependência existente entre personalidade individual
74
e personalidade social. Segundo Nery(2007), para Elias, os controles sociais paulatinamente são
condicionados e internalizados pelos indivíduos desde a infância, possibilitando um processo de
autocontrole..
O habitus , será o fator que indicará os padrões de comportamento que são
paulatinamente desenvolvidos, aceitos e também exigidos socialmente para o convívio no
interior das denominadas configurações sociais, que se expressam de forma decisiva na
formação das imagens do eu e do nós e sobre a produção e reprodução das identidades-eu e nós
ao longo das gerações(Nery, 2007).
Elias, em sua sociologia processual nos permite fazer uma análise de caráter
psicossociológico, que será sempre necessária para que possamos abordar os processos
educativos e a própria função social da educação no contexto das sociedades contemporâneas. A
abrangência de sua abordagem sociológica pode nos permitir compreender a escola, ou as
instituições escolares enquanto estruturas que abrigam personalidades individuais e como estas
estão em relação de interdependência, permite a compreensão da formação de uma Segunda
natureza que pode estar a influenciar maneiras de pensar, de sentir, de agir, e também padrões
comportamentais em processos interativos, como é o processo educacional.
PIERRE BOURDIEU (1930-2002), sua concepção sociológica e a educação.
Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês cuja contribuição foi fundamental
principalmente no campo da teoria sociológica de caráter mais geral e da interação entre
educação e cultura. Sua formação envolve a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia e a
Estatística. Sua principal contribuição encontra-se no fato de que estabeleceu a relação dialética
entre estruturas sociais e estruturas mentais que se encontra presente no processo de
dominação(Nery, 2007). Neste sentido procurou trabalhar profundamente com os elementos de
mediação entre o agente social e a sociedade. Podemos dizer então, que procurou trabalhar a
relação entre ator social e estrutura social, dando significativa contribuição à sociologia
contemporânea.
Afirma Nery: [...]Bourdieu vai trabalhar em suas concepções com o que pode ser
denominado como lógica da prática, no sentido de que as ações de indivíduos e grupos
presentes na sociedade possuem uma lógica que lhes é intrínseca, determinada pela estrutura
da sociedade e pelas relações de poder nela presentes. Assim, pode-se constatar que a obra de
Bourdieu afirma-se como inovadora no campo das ciências sociais. Seus objetos de análise são
vários – por exemplo, sociedades tribais, os sistemas de ensino, os processos de reprodução, a
75
lógica da distinção, reprodução, poder simbólico, capital, campo, habitus,etc.( NERY, 2007).
Nery deixa clara a abrangência da abordagem da sociologia de Bourdieu, na medida em que
procura articular dialeticamente ator social e estrutura social. Salientamos que em Bourdieu o
conceito de habitus, de campo e de reprodução, são significativos, para que também possamos
compreender a educação. Vamos agora ver estes conceitos para que depois possamos fazer a
relação com a educação.
O conceito de habitus em Bourdieu
O conceito de habitus em Bourdieu é um conceito significativo, na medida em que
permite com que trabalhemos as formas que indivíduos e grupos orientem sua ação no contexto
das sociedades enquanto resultado das relações sociais, ao mesmo tempo em que envolve a
reprodução das relações objetivas que causaram a orientação das ações dos mesmos indivíduos
e grupos.Afirma Bourdieu, citado por Ortiz, em sua definição de habitus:
Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente “regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso sejam o produto de obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro (BOURDIEU, apud ORTIZ, 1983, p.15)
Pelo que pudemos observar, vamos verificar que o conceito de habitus, acaba por
representar uma relação de reciprocidade, reciprocidade esta presente entre o mundo objetivo da
estrutura social e o mundo subjetivo das individualidades(Nery, 2007).Entendamos este aspecto,
caros alunos, no sentido de que o habitus se constitui enquanto um sistema de esquemas
individuais que se constitui através do contexto social, mas esta constituição sendo internalizada
por indivíduos e grupos, se manifesta como estruturante das mentes, na medida em que é
adquirido, formado pela experiência prática, no contexto da realidade cotidiana.
Neste sentido o habitus é social e individual, expressando a relação de interdependência
presente entre o ator social e a sua realidade social mais ampla. Afirma Nery: Os indivíduos
incorporarão determinado habitus, em função da estrutura do contexto social, das relações
presentes no contexto social. É um conceito que faz a mediação entre internalização e
exteriorização e demarca a relação de interdependência presente entre indivíduo e
sociedade.(NERY, 2007, p.59). Nery aponta para o aspecto da relação de interdependência entre
ator social e realidade social. Para Bourdieu a realidade social tem força estruturante da mente
76
de indivíduos e grupos, na medida em que estes internalizam esta mesma realidade que irá por
fim dirigir suas ações.
Subjetividade e objetividade encontram-se em Bourdieu em relação de
interdependência. Os indivíduos expressam socialmente seu habitus de classe, por exemplo.
Refletem em seu comportamento elementos da estrutura social, neste sentido, podemos dizer
que até mesmo reproduzem em suas práticas sociais os determinantes estruturais mais
abrangentes. As visões de homem e de mundo, por exemplo, não encontram-se isentas das
determinações da realidade objetiva.Afirma Busetto:
As disposições tratadas por Bourdieu, na sua definição de habitus, devem ser entendidas como competências, atitudes, tendências e formas de perceber, pensar e sentir adquiridas e interiorizadas pelos indivíduos em virtude de suas condições objetivas de existência. É profundamente interiorizado e não implica consciência dos agentes para ser eficaz, sendo capaz de inventar outros meios de desempenhar as antigas funções diante de situações novas e, assim ele permite aos agentes se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social. Possibilita ao agente, a elaboração de estratégias antecipadoras que são conduzidas por esquemas inconscientes, ou seja, esquemas de percepção, de apreciação e de ação resultantes do trabalho pedagógico e de socialização, ao qual o agente é submetido, e de”experiências primitivas”(como a primeira educação familiar), que estão ligadas ao agente e têm um peso desmesurado em relação às experiências posteriores(BUSETTO, 2006, p.119-120).
Busetto(2006), deixa claro alguns aspectos significativos do conceito de habitus
em Bourdieu, neste sentido o habitus envolve a interiorização da exterioridade, sendo
esta a estrutura social mais ampla. Repetimos, interiorizamos as estruturas sociais
envolventes e adquirimos nossas competências, formulamos nossas estratégias a partir
deste processo de interiorização ou internalização. Podemos até mesmo dizer, que a
estrutura educacional é também produtora de um habitus.
O CONCEITO DE CAMPO
O conceito de campo é um conceito significativo na obra de Bourdieu. O campo em
Bourdieu, pode ser entendido enquanto espaço de luta, espaço no qual se travam as relações
sociais considerando-se os interesses específicos de indivíduos e grupos. Os atores sociais
agirão dentro de um campo que é determinado socialmente equacionando a relação existente
entre ação de caráter subjetivo e ação de caráter objetivo, envolvendo esta a estrutura da
sociedade. Há sempre na sociologia de Bourdieu o que está objetivamente estruturado, na
medida em que o campo não envolve o que se encontra determinado pelas ações individuais dos
atores sociais (Nery, 2007). Neste sentido, também, podemos dizer que é no contexto do campo
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que o habitus se estrutura, esta é a relação que podemos verificar entre campo e habitus,
segundo Busetto(2007).
A REPRODUÇÃO
Para Bourdieu é de fundamental importância a dimensão social na qual se constituem
as relações entre os atores sociais e as estruturas de poder. Estas que se reproduzem, ou
reproduzem o próprio sistema objetivo de dominação, que é interiorizado como subjetividade.
Nesse sentido a sociedade deve ser apreendida como estratificação de poder. Quando Bourdieu
escreve sua obra A Reprodução, define a escola como o espaço onde encontramos formas de
serem legitimadas as desigualdades sociais presentes na estrutura mais ampla, na medida em
que esta mesma escola deve ser entendida de acordo com as dimensões das classes sociais. É
um espaço social que segundo nosso autor, encontra-se relacionado com a reprodução das
relações de dominação presente na sociedade.
Bourdieu, na obra acima citada vai contestar a concepção de que a escola seria a
promotora de ascensão social e de liberdade para o indivíduo. Em sua pesquisa sobre a escola
francesa e sua estrutura constata que ela em realidade não promovia a liberdade individual e
nem favorecia a ascensão social, na medida em que nela estavam reproduzidas
fundamentalmente as relações de classe, neste sentido, enquanto espaço de reprodução
favoreceria a própria legitimação das desigualdades sociais.
Afirma Busetto: “Do ponto de vista da análise, deixa claro que a escola e sua prática
somente podem ser entendidas e compreendidas quando relacionadas ao conjunto das relações
entre as classes sociais. E, mais ainda, a caracteriza como um campo que, mais do que
qualquer outro, está orientado para a sua própria reprodução, dado que, entre outras razões,
ela tem o domínio da sua própria reprodução, embora submetida às pressões externas,
geralmente advindas das estratégias dos diferentes grupos e/ou classes sociais na obtenção ou
ampliação de capital cultural(BUSETTO, 2006, p.127). Busetto, nos deixa claro então a
significação da escola na concepção sociológica de Pierre Bourdieu. Ela não se manifesta
enquanto uma instituição neutra, mas uma instituição que acaba por produzir e reproduzir as
relações de classes pertencentes à estrutura social.
Neste sentido, ela(escola) não miniminiza as desigualdades sociais, mas as reproduz, na
medida em que pode ser concebida como espaço que transmite cultura. Mas que cultura ela
transmite? A cultura da classe dominante no contexto das sociedades. A estratégia em que esta
78
transmissão se manifesta, encontra-se no fato de que ela apresenta de certa forma a sua cultura,
o próprio conhecimento, enquanto neutros e legítimos, que possuem um caráter de
universalidade, escondendo o fato de que a cultura transmitida pela escola é produto do
denominado arbitrário cultural, na medida em que a cultura transmitida é socialmente
interessada ou atende socialmente aos interesses dos segmentos dominantes da sociedade. São
significativas as palavras de Busetto, quando aponta que:
Então, não é por acidente que os filhos das classes dominantes têm mais sucesso na obtenção da cultura escolar e, consequentemente, ingressam mais ampla e facilmente na universidade. Como membros de famílias portadoras de considerável capital cultural, tanto intelectual quanto material, eles adquirem um habitus social bastante concordante com o habitus escolar. Daí a facilidade deles na aquisição dos procedimentos, esquemas operatórios de pensamento e linguagem mais enfaticamente exigidos pela escola, uma vez que, para eles, ao contrário dos filhos pertencentes a segmentos sociais culturalmente desfavorecidos, a experiência escolar é um prolongamento da vida familiar e do seu grupo social. Enquanto, para os filhos das classes dominantes, a cultura escolar é a sua própria cultura – porém, reelaborada e sistematizada – para os filhos das classes dominadas, a cultura da escola é experimentada como uma “cultura estrangeira”. Na transmissão de conhecimentos, a escola se orienta, segundo Bourdieu, pela “pedagogia do implícito”, isto é, o sucesso do aluno na aquisição da cultura escolar supõe, de forma implícita, a posse de um capital cultural herdado pelos alunos oriundos das famílias das classes dominantes. A escola, assim, contribui com a reprodução social, ou seja, a garantia da dominação pelos setores sociais dominantes(BUSETTO, 2006, p.128)
Busetto (2006), analisando Bourdieu, nos deixa claro o aspecto da forma como a escola
reproduz a dominação de classes presente no contexto da sociedade. Estabelece a relação
diferenciada que indivíduos e grupos da classe dominante concebem a escola e nela encontram
uma própria extensão de sua visão de mundo e os indivíduos e grupos da classe dominada de
certa forma a esta concepção devem se submeter, na medida em que a escola lhes transmite uma
cultura “estrangeira”, uma cultura que não se coaduna com a sua própria visão de mundo. Este
aspecto é de suma importância se objetivamos compreender a diferença da própria aquisição de
conhecimentos entre os segmentos dominantes e os segmentos dominados.
Considerando o processo de “democratização” do ensino, pode-se verificar uma forte
elevação de diplomados no contexto da sociedade, neste sentido, segundo Busetto(2006) a
instituição escolar na função social de reprodutora da cultura dominante, acaba por substituir
paulatinamente, as desigualdades de acesso ao ensino agora, pelas desigualdades de currículos,
alicerçadas nas escolhas de cursos e unidades de ensino que possuem um determinado poder
simbólico. Neste sentido os alunos pertencentes aos segmentos dominantes da sociedade, podem
escolher o que podemos chamar das melhores e mais eficientes instituições escolares, as que
possuem maior capital cultural, enquanto que os alunos pertencentes aos segmentos dominados
da sociedade circulam num espaço de escolha reduzido, na medida em que somente podem
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escolher aquelas instituições que se coadunam com suas condições materiais de existência e que
acabam por ter um baixo capital cultural.
MICHEL FOUCAULT – e a educação
Michel Foucault (1926-1984), escreveu várias obras tratando os elementos que se
encontram presentes no que ele classifica de uma sociedade disciplinar. Segundo Nery(2007)
Foucault, se nos apresenta como um “desvelador-revelador”, do que é cotidiano, trabalhando
funamentalmente com as estratégias de poder-saber presentes no que podemos denominar de
mundo da vida. Afirma Nery: Há no pensamento foucaultiano a fundamentação no relacional,
no sentido da percepção de que a constituição do sujeito encontra-se diretamente vinculada
com a constituição da sociedade, pois as forças que compõem o indivíduo subjetivamnte são
também dadas pela objetividade da realidade social, o que significa dizer que as sociedades
estabelecem formas específicas de configuração dos sujeitos (NERY, 2007). Pode-se observar
que Foucault vai também estabelecer a relação de interdependência presente entre o sujeito e a
própria estrutura da sociedade. As estruturas sociais então, são constituintes dos sujeitos, na
medida em que é através dela que se criam visões de homem e de mundo, que dirigirão as
condutas, as formas de agir na sociedade, por parte de indivíduos e grupos. .
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
Segundo Nery (2007), tentar clarificar a problemática da constituição do sujeito, que é
determinada por realidades sociais específicas, por contextos sócio-históricos específicos, vai
se constituir em toda linha argumentativa de nosso autor de referência em toda a sua
diversidade. Afirma Nery:
Foucault, parte da verificação das diferentes formas de objetivação do sujeito como formas de investigação, interpretação e análise: objetivação do sujeito vivente – o sujeito produtivo, biológico, econômico, do discurso; objetivação do sujeito dividido de si mesmo e perante os outros – objetivação que transforma o sujeito em objeto passível de ser dividido e, as formas pelas quais o ser humano é transformado em sujeito – o ser humano torna-se sujeito. A constituição do sujeito moderno, a constituição do indivíduo, são explicados por Foucault a partir dos modos de objetivação e modos de subjetivação do indivíduo. Caros alunos, este deve ser um aspecto que deve ficar bem claro no âmbito da análise de Foucault. Foucault, nos permite perceber que - a objetividade da coexistência social, origina a constituição de uma subjetividade, de uma concepção do sujeito, a qual é sempre contextualizada(NERY, 2007,p:70)
Podemos verificar que Foucault, parte do sujeito concreto, do sujeito contido em uma
realidade, em uma estrutura que sofre os efeitos desta mesma estrutura, estrutura esta que é
constitutiva de subjetividades. É de sujeitos inseridos num universo mais amplo de que vai nos
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falar Foucault. Há em nosso autor de referência a relação de determinação da realidade objetiva
sobre a realidade subjetiva. Afirma Nery, que: “[...]a objetividade da coexistência social
origina a constituição de uma subjetividade, de uma concepção do sujeito, a qual marca dado
período histórico e, chegando ao nosso período histórico, encontramos o produtor, o
consumidor de bens materiais e simbólicos, que na objetividade da realidade social, não é
mais sujeito, na concepção plena da palavra, mas objeto,receptáculo das múltiplas
determinações presente em nossas sociedades disciplinares(NERY, 2005, p.5)”.É no contexto
das sociedades disciplinares que o sujeito encontra-se submetido às estruturas sociais, políticas,
econômicas e culturais. Neste sentido podemos dizer que enquanto submetidos às estruturas
somos efetivamente produto destas mesmas estruturas que se impõem sobre nós. Foucault, não
vai deixar muito espaço para o império da vontade individual, esta encontra-se submersa nas
estruturas, se assim podemos dizer.
PODER E RESISTÊNCIA
Pensarmos o poder e a resistência em Foucault, é pensarmos de forma dialética, no
sentido de que todo o sistema origina em si mesmo sua força contrária. Todas as formas de
poder denunciadas por Foucault, envolvem elementos de resistência. O poder em Foucault deve
ser concebido enquanto uma estratégia, pois é sempre um exercício, é sempre instauração de
uma tensão, de um confronto sempre existente entre poder e resistência.(Nery, 2005). Este é um
campo significativo da abordagem de Foucault, na medida em que objetiva mostrar que as
formas de poder encontram-se contidas em todos os setores de nossas vidas, tendo inclusive se
constituído em nossa realidade vivenciada o que Foucault, denomina de “tecnologia geral do
indivíduo”, manifesta em nossa contemporaneidade por formas particulares de controle do
corpo, que é sistemático e também silencioso, o que podemos também denominar de controle
disciplinar.
Afirma Nery:
Todo poder, na concepção de Foucault, gera o que poderíamos dizer de sua força contrária, ou seja, formas de resistência. Esta resistência não mais no sentido macro mas no sentido micro, ou seja, resistências que se fazem no centro da realidade cotidiana de indivíduos e grupos. Para que fique claro, devemos pensar em termos de micro-revoluções que fazemos em nossa realidade cotidiana. O poder como planejamento de uma ação envolve alguns elementos significativos: é sempre formador de um contra-poder; é sempre contido por formas específicas de resistência; é, sempre uma relação de força. E, sendo assim é multiplicação permanente de utilização de forças, ou seja, é sempre difuso, se espalha por variados espaços da existência cotidiana de indivíduos e grupos. Forma-se, portanto, na produção do pensamentos, no âmbito dos discursos, nas atitudes, nas idéias, nas palavras e nos atos, ou seja, o poder constitui um campo de micro-poderes(Nery,2005,p.5).
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O aspecto fundamental que nos aponta Nery, é justamente a constituição no contexto da
estrutura social de micro-poderes, que perpassam toda a realidade cotidiana de indivíduos e
grupos, ao mesmo tempo estes micro-poderes que se fazem inclusive no âmbito dos discursos,
podem ser também fontes de resistências, mas salientamos que em Foucault, as estruturas de
poder que submetem aos indivíduos é fonte geradora de subjetividades, subjetividades estas
que, portanto, são construídas historicamente. Como podemos pensar as instituições escolares
tendo como referência Foucault?
O conceito de dispositivo, presente na concepção de Foucault é significativo para
respondermos à questão proposta. O fundamental dispositivo é denominado por Foucault de
“poder-saber”, na medida em que este envolve uma racionalidade interna de produção, envolve
uma lógica de procedimentos. É pelo dispositivo que as determinações sociais encontram-se
como que naturalizadas. É significativo o entendimento do dispositivo enquanto uma forma de
poder que subjuga e sujeita, na medida em que também é uma prática que estabelece rupturas e
que pode fazer surgir formas de luta que se encontram contra o processo de dominação que
pode se instaurar (Nery, 2005). Se pensarmos a instituição escolar, encontramos nela poderes
disciplinares e o dispositivo “poder-saber”, como que formando mentes e controlando os
corpos, naturalizando as contradições presentes no contexto social, ao mesmo tempo ela
também poderá ser um espaço de resistência, porque o poder é relacional e as subjetividades são
constituídas nesta relação, em espaço sócio-histórico específico.
ANTHONY GIDDENS(1938- ) e a educação
O britânico Anthony Giddens é um dos sociólogos mais produtivos da atualidade. Suas
obras envolvem as abordagens de campos mais diversificados, construindo uma teoria
sociológica específica alicerçada no conceito de reflexividade, na medida em que a realidade
nos atinge, mas ao mesmo tempo em que isto ocorre manifesta-se em nos formas específicas de
elaboração desta mesma realidade e, desta forma sempre somos capazes de criar algo de novo,
uma terceira via que nos permite circular adequadamente nos espaços sociais. Em Giddens, são
significativos os aspectos de estrutura social e sistema social, sua teoria envolve a dualidade
entre ação – e estrutura, dualidade esta significativa no contexto da sociologia hoje. Neste
sentido a estrutura é internalizada pelos atores sociais e são de certa forma exteriorizadas em
suas subjetividades por estes mesmos atores sociais
TEORIA DA ESTRUTURAÇÃO
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Giddens vai romper com a concepção polarizada entre objetivismo e subjetivismo,
trabalhando com estes elementos em uma relação de interdependência, embora existam entre
eles uma tensão de caráter reflexivo no plano social. Apresenta uma concepção da vida social de
caráter descontinuísta e a concepção reflexiva da denominada regularidade social. Neste sentido
pode-se verificar que em Giddens a concepção de estrutura, encontra-se diretamente vinculada
ao conceito de ação, ou seja, estrutura e ação possuem em nosso autor de referência uma relação
de interdependência, repetimos. Cabe salientar que ação e estrutura, no contexto da sociologia
contemporânea de hoje, são as duas chaves analíticas mais significativas ( Nery, 2007). Afima
Nery:
É processual a noção de estrutura em Giddens, dizendo estas respeito às práticas que são padronizadas e são recorrentes no agir de indivíduos e/ou grupos, situadas no tempo e no espaço. Considerando este aspecto pode-se observar que os indivíduos vivem e se organizam através de processos que são dinâmicos no campo da interação social, mas ao mesmo tempo, também constatam-se a presença de limites à autonomia de ação dos indivíduos, os quais acabam por estabelecer o que se denomina de regularidade da conduta. A conduta dos indivíduos não seria, portanto, nem mecânica, nem aleatória, pois existe o elemento que conduz à padronização no tempo e no espaço, ao mesmo tempo, também, não é rígida, pois existe um espaço “permitido” de autonomia nas ações (NERY, 2007, p.68).
Em Giddens, encontramos espaço para uma autonomia do indivíduo, na medida em que
ele é capaz de elaborar a realidade que o cerca e agir, no campo da interação social. Mas esta
autonomia na possui um caráter total, ela é de certa forma, se assim podemos dizer também
limitada pela regularidade da conduta que se encontra estabelecida no processo de interação,
mas o que é fundamental perceber é que a padronização dos comportamentos e condutas de
indivíduos e grupos não se faz de forma rígida, na medida em que existe um espaço que
estabelece o que “é permitido”, no contexto da estrutura social. Afirma Nery: Neste sentido a
concepção de estrutura encontra-se sempre falando-nos de uma duplicidade, no sentido de que
levam à viabilidade da ação e ao mesmo tempo limitam esta mesma ação(NERY, 2007, p.68).
Toda a concepção de Giddens, no contexto da teoria da estruturação nos permite
verificar a ausência da rigidez no que diz respeito às padronizações sociais. As padronizações
sociais possuem um caráter dinâmico, no tempo e no espaço, na medida em que não nos
encontramos distanciados de nossa realidade social envolvente. Nosso autor de referência na
medida em que articula teoria da ação e processos de reprodução social, desarticula o conceito
de estrutura, na medida em que distinguindo, de um lado, o estrutural enquanto o conjunto de
regras e de recursos organizados de maneira recursiva e, de outro lado os próprios sistemas
sociais, ou seja, o conjuntos estruturais, que podem ser entendidos enquanto relações entre os
atores sociais ou coletividades reproduzidas e organizadas como práticas sociais dotadas de
regularidade ( NERY, 2007).
83
Para Giddens a tecnologia da informação está sendo integrada aos processos
educacionais. Este não é um campo isento de preocupações, na medida em que aqueles que não
estiverem familiarizados com o próprio uso do computador, ou que não tiverem acesso a eles,
possam sofrer as conseqüências de uma forma de pobreza informacional. Este é um aspecto
importante, na medida em que se sabe que nem todos tem acesso às tecnologias da informação.
Outro aspecto importante que considera Giddens, é o processo de privatização do ensino
na medida em que cada vez mais empresas privadas estão se incorporando à administração das
atividades educacionais. As instituições escolares estão sendo foco de interesses comerciais na
atualidade, o que pode fazer com que os pressupostos básicos do processo educativo possa ser
redefinido.
Para Giddens, a forma com que estão organizadas as escolas e o próprio sistema de
ensino tendem a manter as desigualdades de gênero. Ainda se mantém regras que tendem a
especificar o espaço do masculino e o espaço do feminino no contexto das instituições
escolares, bem como ainda se trabalham com textos que veiculam idéias estabelecidas acerca de
gênero. Embora haja ainda a presença destes elementos há no que concerne ao desempenho
escolar uma maior eficiência das meninas com relação aos meninos. O fracasso escolar parece
estar associado aos indivíduos do sexo masculino, na medida em que também problemas de
ordem social são determinantes destes aspectos, problemas sociais maiores como o crime, o
desemprego e a própria ausência de uma figura paterna atuante.
As novas tecnologias, para nosso autor de referência e a economia do conhecimento,
como ele assim denomina, estão a modificar a forma como compreendemos a educação e o
próprio ensino escolar: de certa forma a educação formal parece estar cedendo lugar à noção de
aprendizado que se estende por toda a vida ( Giddens, 2005). Ao longo da vida, os indivíduos e
grupos parecem ter mais oportunidades de se desenvolverem em atividades que envolvam o
aprendizado e o treinamento fora dos espaços tradicionais das salas de aula ( Giddens, 2005).
Este é um aspecto importante, pois no contexto da atualidade a escola não é mais a única fonte
de transmissão de conhecimento, de saberes, no contexto das sociedades contemporâneas, outras
fontes estão sendo experenciadas por indivíduos e grupos.
PONTO FINAL
Caros alunos, neste capítulo vimos alguns autores contemporâneos que na dimensão de
suas teorias nos permitem inclusive pensarmos o contexto do espaço educacional. Na
contemporaneidade das concepções sociológicas, pensarmos a educação envolve também entrar
84
em contato com as novas teorias que nos fazem aprofundar em elementos analíticos nossa
própria forma de ver a educação hoje. Os autores que vimos nos permitem então, a partir da
dimensão de suas teorias podermos ter o que chamamos de chaves analíticas que nos levam a
repensar a educação em nossa realidade. Os autores mencionados nos demonstram novas
dimensões de análise que não podem deixar de fazer parte integrante de uma concepção
sociológica contemporânea de educação. Sem compreendermos os autores mencionados e os
fundamentos de suas teorias dentro dos seus aspectos básicos, que obedecem aos limites do
presente livro, não podemos avançar em nossas análise e forma de ver a educação inserida no
contexto social envolvente.
QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO
1)-A sociologia de Norbert Elias, é considerada por muitos como uma sociologia:
a-( )processual
b-( )funcional
c-( )estrutural
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
2)-O habitus em Norbert Elias, se constitui enquanto uma:
a-( )estrutura
b-( )um processo social dentro da estrutura
c-( )uma segunda natureza
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
3)-O conceito de habitus em Bourdieu representa:
a-( )uma reciprocidade entre o mundo objetivo da estrutura social e o mundo subjetivo da
individualidade
b-( )uma segunda natureza
c-( )uma estrutura
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
4)-Em Bourdieu:
a-( )objetividade e individualismo encontram-se interdependentes
b-( )objetividade e estrutura são interdependentes
c-( )objetividade e subjetividade são interdependentes
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
85
5)-Em Foucault é de fundamental importância o estudo:
a-( )das relações de poder presentes na realidade cotidiana
b-( )das relações de poder somente presentes na estrutura
c-( )das relações de poder somente presentes na esfera social
d-( )nenhuma das alternativas é correta
6-)-Para Giddens, como estão organizadas as escolas e o sistema de ensino, tendem a:
a-( )manter a desigualdade de gênero
b-( )manter a transformação da estrutura
c-( )manter as relações de classe
d-( )nenhuma das alternativas anteriores.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
O emprego das novas tecnologias no contexto da educação, no contexto da realidade
brasileira estão a efetivamente democratizar o processo educativo?
ATIVIDADE
Caro aluno, como atividade, sugerimos fazer um quadro comparativo de cada um dos
autores citados, trabalhando fundamentalmente com a concepção de indivíduo e sociedade em
cada um dos autores. Procure fazer este quadro comparativo, considerando o item, repetimos, -
relação indivíduo e sociedade. Para que você mesmo possa construir um eficiente instrumento
de estudo, na medida em que com este quadro você possa ter claros os aspectos distintivos de
cada um dos autores por nós mencionados.
DICAS DE ESTUDO
Como dica de estudo, sugerimos a leitura do livro de Norbert Elias – A Sociedade dos
Indivíduos. É uma obra importante para que você possa ter clara a relação de interdependência
entre estrutura social e estrutura de personalidade. É uma obra significativa que nos permite
desenvolver uma concepção mais aprofundada da própria relação indivíduo e sociedade.
BIBLIOGRAFIA
86
BRANDÃO, Carlos da Fonseca. (2006). A Sociologia Figuracional de Norbert Elias. In:
Sociologia e Educação – leituras e interpretações. São Paulo. Avercamp Editora.
BUSETTO, Áureo (2006). A Sociologia de Pierre Bourdieu e sua análise sobre a escola. In:
Sociologia e Educação – leituras e interpretações. São Paulo. Avercamp Editora.
ELIAS, Norbert. (1995). A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.
GIDDENS, Anthony. (2005) Sociologia. São Paulo. Artmed.
NERY, M.C.R. (2007). Sociologia Contemporânea. Curitiba. Iesde Editora.
.
87
A EDUCAÇÃO NO BRASIL
Neste momento de nossos estudos, entendemos que convém um olhar sobre a educação
em nossa sociedade. Discutimos durante todos os capítulos do presente material vários aspectos
que fazem parte da sociologia e da sociologia da educação. Convém agora refletirmos sobre a
educação em nossa realidade. Caber salientar que no contexto do presente século, a educação
figura como um significativo componente de crescimento econômico. Segundo Meksenas
(2005), se faz necessário pensar também a educação como fator de diminuição das
desigualdades sociais tão presentes e agudas em nossa sociedade.
Os problemas brasileiros no que tange a educação são muitos, mas o que se apresenta de
forma mais aguda é sem sombra de dúvidas o fracasso escolar. No contexto da sociedade da
informação, onde recursos tecnológicos estão sendo cada vez mais usados, em nossa sociedade
ainda deparamos com o fantasma do fracasso escolar. Podemos até mesmo dizer que estamos
diante de um problema social de ordem estrutural, na medida em que esse mesmo fracasso
escolar reproduz todo um processo de desigualdade social presente em nossa realidade. Até
mesmo podemos dizer que é reflexo da aguda desigualdade social presente em nosso país.
Este fracasso escolar deve ser pensado e refletido sociologicamente, a Sociologia da
Educação pode dar sua contribuição. Pensar sociologicamente o fracasso escolar nos remete
para a estrutura familiar, neste sentido, nos remete para o próprio capital cultural familiar. Há
sim um contribuinte familiar para o fracasso escolar, neste sentido o capital cultural familiar de
alguma forma tem força determinante na forma como os pais irão perceber a educação de seus
filhos. Ao mesmo tempo o capital cultural familiar encontra-se em estreita relação com as
condições materiais de existência das famílias e, aqui encontramos outro determinante, o
determinante da desigualdade social presente em nossa realidade, como dissemos anteriormente.
Segundo Meksenas(2005), 93% das crianças ricas concluem seus estudos fundamentais
e seguem posteriormente em seus estudos, enquanto que 63% das crianças das classes
trabalhadoras o conseguem e nem sempre seguem em seus estudos. Ora, este fato assinalado por
Oliveira, demonstra claramente a marca da desigualdade social, que se lembramos Bourdieu a
escola irá reproduzir, pois reproduz o que se encontra presente na estrutura envolvente. Os
filhos dos trabalhadores no contexto da sociedade brasileira, muito cedo deixam seus estudos
para integrarem-se no mercado de trabalho, foi também por esta razão que em nossa sociedade
foram criados os denominados ensinos supletivos, para atender às necessidades dos segmentos
sociais subalternos da população, já que os segmentos dominantes desta forma de ensino, não
tinham e não tem necessidade.
88
Seguindo-se a lógica de Bourdieu ele vai nos demonstrar e alertar para o fato de ser a
escola uma das estratégias de manutenção do status social ou de ascensão social. O
investimento feito pelas famílias na escolarização de seus filhos, encontra-se diretamente
relacionado às condições de possibilidade que os fazem perceber a escola enquanto forte
instrumento de mobilidade social. Pode-se perceber então, que para as classes sociais a escola o
próprio papel da escola não se restringe somente à transmissão de conhecimentos, mas contribui
para a manutenção de um dado status social. Não nos esqueçamos que o capital cultural familiar
está diretamente relacionado com a condição de classe e, se nos encontramos em uma sociedade
marcadamente desigual e excludente o capital cultural familiar no que concerne aos
investimentos na educação dos filhos obedecerá a essa mesma determinação de classe. Neste
sentido, seguindo-se Bourdieu, podemos perceber que na escola encontramos o domínio da
reprodução social e a legitimação das desigualdades sociais. Este é um aspecto pelo qual
podemos pensar e refletir sociologicamente os ín dices apresentados por Meksenas(2005).
Outro aspecto significativo, encontra-se relacionado com a própria instituição do
Estado. Como são os investimentos do Estado brasileiro no campo da Educação? Não são os
índices ainda adequados às necessidades da maioria da população. O Brasil ainda é um dos
países que menos investe em educação, considerando-se ainda outros países latino-americanos.
No contexto da atualidade as escolas públicas não estão tendo adequados investimentos
funcionando em condições precárias. Se associamos educação à desenvolvimento, podemos
verificar que nos investimentos feitos para a educação no Brasil ainda estamos carecendo de
melhor aproveitamento dos recursos produzidos socialmente, ainda estamos carecendo de
políticas públicas que priorizem o universo educacional e que permitam o acesso à instituição
escolar por parte de considerável contingente da população brasileira.
Os problemas da desigualdade social refletem-se no contexto da sala de aula. Pode-se
perceber que segundo Oliveira(2005), encontramos uma inadequação entre a escola e o seu
aluno, especialmente o aluno que é mais carente principalmente economicamente. Afirma
Oliveira: “Com base em pesquisas e estudos realizados recentemente, sabemos que muitos dos
fracassos dependem do preparo das crianças.As crianças culturalmente marginalizadas, que
provêm de lares economicamente desfavorecidos, nascem e crescem em ambientes que não lhes
proporcionam a estimulação e o treinamento que seriam necessários para seu bom
desenvolvimento social e intelectual( Oliveira, 2005, p.125). Nos dizeres de Oliveira podemos
depreender que a ausência de condições materiais de existência sofrida pelas famílias dos
segmentos subalternos da sociedade brasileira, não permite e isto é natural e quase óbvio a
construção de um significativo capital cultura, na medida em que fundamentalmente não
permite um significativo capital econômico.
89
Outro aspecto importante, diz respeito à mobilidade social. Há na sociedade brasileira
uma prática discursiva que atribui também à escola, ao ensino formal, portanto, papel
significativo no que concerne à mobilidade social. O que estamos vendo em nossa realidade?
Que a educação no contexto da mobilidade social e no contexto da própria neutralização das
desigualdades sociais não está a cumprir com estes objetivos. Afirma Oliveira: “O efeito direto
da educação sobre a mobilidade social e os ganhos é muito baixo. A origem social de classe,
isto é, a classe social de onde as crianças provêm, é uma variável que explica com bastante
clareza a trajetória educacional e ocupacional das pessoas (Oliveira, 2005, p.127). Não há
como termos dúvidas quanto a este aspecto assinalado por Oliveira. Para que tenhamos uma boa
educação e o fim do fracasso escolar, os investimentos na melhoria da condição de vida da
população devem ser mais substanciais por parte do Estado, na medida em que o rendimento
escolar e a própria concepção da importância dos estudos encontra-se diretamente relacionado
com as condições materiais de existência ( Oliveira, 2006).
No contexto de uma sociedade marcadamente excludente como a nossa, as
determinações da estrutura sócio-econômica da população, são fatores contribuintes para um
certo grau de declínio da educação no Brasil, notadamente no ensino fundamental, basicamente
pelas razões que colocamos acima, mas também porque parece não haver vontade política de
melhorar substancialmente o sistema educacional brasileiro, fato contraditório no contexto de
um mundo globalizado em que a qualificação é fundamental. Neste sentido, podemos perguntar:
como teremos profissionais devidamente qualificados no contexto da sociedade se o ensino
fundamental não é atendido em suas necessidades mais básicas pelo Estado?
No contexto da realidade brasileira persiste ainda o analfabetismo. Notadamente ele
demonstra uma situação de atraso bem como marginaliza considerável contingente da
população. No que tange ao analfabetismo temos a ele ainda acrescido o denominado
analfabetismo funcional que se caracteriza pelo fato de uma pessoa não possuir os recursos
mínimos para operar um computador e seus programas básicos(Demeterco, 2007),
principalmente quando verificamos que a maioria da população brasileira não tem condições
materiais para adquirir seu computador. Pensarmos a educação no Brasil hoje, é pensarmos,
refletirmos de forma crítica sobre determinantes claros de nossa realidade social envolvente.
Demeterco (2007), assinala para mais um outro problema que temos presente em nossa
realidade, quando aponta para o preconceito que é vivenciado dentro da escola enquanto um
problema da Educação brasileira, na medida em que assume graves proporções na realidade
vivendiada por milhões de alunos que são segregados em função de sua condição racial, social
ou educacional. A escola de certa forma como anteriormente dissemos, reproduz o que se
90
encontra presente no contexto da sociedade, no contexto da estrutura social. Há preconceitos
fortes em nossa sociedade com relação à pobreza, parece que temos no imaginário coletivo uma
associação entre miséria e criminalidade. Este tipo de preconceito perpassa as paredes das salas
de aula. Da mesma forma, podemos falar do preconceito racial, que é presente no Brasil de
forma sub-reptícia, que é velado, mas se manifesta em muitas formas de expressões, piadas com
relação aos negros, inferiorização dos negros, etc., em suma não vivemos uma democracia
racial, na medida em que segundo Demeterco(2007), este fato se expressa fundamentalmente
nos indicadores sociais do país, notadamente àqueles que dizem respeito à educação e à
remuneração salarial. Há também profundas diferenças de gênero principalmente no que à
remuneração pelo trabalho. São fatores, repetimos, que também perpassam as paredes das salas
de aula.
Estamos novamente no palco da desigualdade social, que também diz respeito à
Educação. As conseqüências da desigualdade social, pelo que estamos vendo são enormes.
Afirma Meksenasw(2005): “As conseqüências dizem respeito a modelos de vida, nos quais a
maior parte da população trabalhadora perdeu o direito de sonhar e de projetar uma vida
digna. A ausência de perspectivas econômicas, políticas, sociais e culturais produz o aumento
brutal da violência e do desrespeito às leis(MEKSENAS, 2005, p. 131). Meksenas, alerta para o
que se pode produzir no contexto da desigualdade social. Salienta o autor para o fato de que a
desigualdade social não se constitui enquanto sinônimo de pobreza, ela é sim sinônimo de
concentração de renda, isto é, de produzirmos riqueza sem a devida distribuição desta. Afirma
Meksenas: “Assim, o combate à desigualdade social requer que os governantes de um país
tenham a coragem de priorizar as políticas públicas de redistribuição da riqueza acumulada (
MEKSENAS, 2005, P. 132). A distribuição de renda, faz-se com a priorização de políticas
públicas que envolvam educação, saúde, alimentação, habitação, lazer, transporte etc., conforme
consta em nossa Constituição Federal.
Meksenas(2005), alerta para outro aspecto da educação no Brasil, fruto da desigualdade
social: No Brasil uma criança leva em média 9 anos para concluir a 6ª série do ensino
fundamental, parte das crianças repetem três anos em seu ensino fundamental até concluir a 6ª
série. O que este fato salientado por Meksenas indica? Uma forte presença da desigualdade no
contexto da educação. Mekisenas(2005), alerta para o fato da presença da desigualdade no
campo educacional brasileiro.
Gostaríamos no âmbito do capítulo final, que envolve a Educação no Brasil, poder falar
de progressos, mas a realidade objetiva, que constitui nossas subjetividades, não nos permite.
Vivemos em uma sociedade marcadamente desigual e excludente. Desigualdade e exclusão
91
estas que se encontram presentes nos processos educativos e nos investimentos Estatais para a
educação. É grave a realidade educacional brasileira em todos os níveis, do ensino fundamental
ao ensino superior e, a sociologia da educação, por ser sociologia deve analisar criticamente a
realidade social envolvente, sob pena até mesmo de não ser uma sociologia.
Pensar a educação no Brasil hoje, é pensarmos diretamente na desigualdade social que
faz parte da estrutura de nossa sociedade. Andamos muito pouco para a frente, no que concerne
a educação. Uma questão fundamental fica para nossa reflexão: pode a educação superar as
desigualdades sociais? Pelo que vimos no contexto da sociedade brasileira, há um problema
mais premente a ser atacado que é o problema de uma estrutura social desigual que remete seus
tentáculos à todos os outros campos da sociedade, educacional, cultural, social e econômico.
Pensemos a este respeito. Pensemos.
PONTO FINAL
Caros alunos, neste capitulo de nosso livro buscamos trabalhar especificamente com a
educação em nossa realidade nacional, procurando detectar mais problemas do que esperanças,
pois se não pensamos, refletimos acerca de todos os problemas que envolvem o campo
educacional brasileiro certamente ficam encurtadas as possibilidades de transformá-lo. São
inúmeros os problemas relacionados com a educação em nosso país, mas o que mais chama a
atenção é justamente a ausência de políticas educacionais que efetivamente gerem a
democratização do ensino, demonstrando a ausência da relação que em nossa realidade existe
entre desenvolvimento econômico e processo educacional. É importante refletirmos sobre estes
aspectos, na medida em que a realidade somente começa a se transformar na medida em que se
torna realidade pensada, realidade refletida.
QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO
1)-São inúmeros os problemas no que tange à educação no contexto da realidade brasileira, mas
o que deve ser salientado é:
a)-( )o fracasso escolar
b- ( )o desenvolvimento econômico
c- ( )o desenvolvimento social
d- ( )nenhuma das alternativas anteriores
2)-Os problemas oriundos da desigualdade social, no que concerne à educação, conforme nosso
texto:
92
a-( )refletem-se na estrutura do estado
b-( )reflete-se na sala de aula
c-( )reflete-se no corpo administrativo das escolas
d-( )nenhuma das alternativas é a correta
3)-Há duas formas de analfabetismo no contexto de nossa realidade nacional:
a-( )analfabetismo estrutural e analfabetismo social
b-( )analfabetismo e analfabetismo funcional
c-( )analfabetismo funcional e analfabetismo social
d-( )nenhuma das alternativas é a correta
4)-A escola:
a-( )reproduz o que está presente na sociedade envolvente
b-( )reproduz o que está presente nas relações subjetivas de poder
c-( )reproduz o que está presente na superestrutura social,
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
5)-Meksenas, alerta para o que se pode produzir na escola, com relação à
a-( )desigualdade social
b-( )igualdade social
c-( )igualdade de gênero
d-( )nenhuma das alternativas anteriores
6)-Paulo Meksenas, com relação à desigualdade social não a concebe como sinônimo de
pobreza, mas sim como sinônimo de:
a-( )de concentração de renda
b-( )de concentração de capital social
c-( )de concentração de capital cultural
d-( )nenhuma das alternativas anteriores.
TEXTO COMPLEMENTAR
Nas sociedades que transformam o sucesso e o êxito econômico em valores supremos, o
status social dos que são afastados provisória ou definitivamente do mercado de trabalho, ou
que exercem uma atividade intermediária situada entre o emprego permanente e o desemprego,
só pode ser desvalorizado.
93
Os indivíduos que se vêem confrontados com essa situação humilhante podem,
evidentemente, atribuir à sociedade a responsabilidade na preservação das desigualdades e das
injustiças, ou aos efeitos da crise econômica no desenvolvimento de novas formas de pobreza, e
assim elaborar auto-justificativas e racionalizações quanto ao auxílio e à intervenção que
recebem.
A idéia de uma causalidade econômica e social pode de fato levar aqueles que ocupam
os últimos degraus da hierarquia social a provar ao seu meio que eles não são individualmente
responsáveis por sua condição social. Essa explicação é todavia incapaz de recuperar
inteiramente sua dignidade e protegê-los do processo dos profissionais da ação social e de todos
os que associam a preguiça e a má vontade à pobreza.
É por essa razão que os indivíduos atendidos pelos serviços sociais, quando falam de si
mesmos, sentem necessidade de lembrar o caso dos “falsos pobres”, ou seja, das pessoas que
não fazem nenhum esforço para procurar um emprego e que se aproveitam da assistência. O
medo de serem comparados a “essa gente”, que, ao menos em parte, pode-se dizer que é
responsável por sua situação, e a necessidade de se distanciarem dessas pessoas são sinais da
interiorização de uma identidade negativa que marca profundamente as relações com o
outro.(texto de Serge Paugam, de seu livro Desqualificação Social, ensaio sobre a nova pobreza,
2003, p. 281).
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
A desigualdade social presente no contexto de nossa sociedade leva à profundas formas
de desqualificação de indivíduos e grupos. Como o Estado brasileiro poderia minimizar as
profundas conseqüências da desigualdade social para significativo contingente populacional da
sociedade brasileira?
ATIVIDADE
Caro aluno, como atividade deixamos para vocês a tentativa da resposta à seguinte
questão: pode a educação superar as desigualdades sociais? Tente respondê-la considerando o
que se encontra neste material instrucional. Consulte autores aqui abordados. É um bom
exercício de reflexão, na medida em que a realidade precisa mais de perguntas adequadas que
levem sempre a respostas adequadas.
94
DICAS DE ESTUDO
Como dica de estudo, deixo para vocês a indicação do livro Desqualificação Social,
ensaio sobre a nova pobreza. De Serge Paugam, publicado no ano de 2003.
BIBLIOGRAFIA.
DEMETERCO, Solange Menezes da Silva (2007). Sociologia da Educação. Curitiba. Editora
Iesde.
MEKSENAS, Paulo (2005). Sociologia da Educação. Introdução ao estudo da escola no
processo de transformação social. São Paulo. Edições Loyola.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de(2005).Introdução à Sociologia da Educação. São Paulo. Editora
Ática.
95
SER PROFESSOR
Caros alunos, este é um capítulo de nosso livro diferente, porque ele se traduz enquanto
uma reflexão. Reflexão que devemos fazer sobre o nosso futuro ou presente “fazer”, ou seja, ele
propõe uma reflexão acerca de ser professor. O que é ser professor no contexto de uma
realidade social, política, econômica e cultural como a nossa realidade brasileira? O que é ser
professor num contexto em que pelo emprego de novas tecnologias a própria escola está se
tornando uma empresa ou microempresa? Cremos que devemos pensar a este respeito.
Certamente não temos respostas prontas, talvez tenhamos mais perguntas do que respostas, mas
as perguntas adequadas à realidade se traduzem enquanto conhecimento mais eficaz acerca da
realidade que queremos compreender, que queremos enfim questionar. Georges Gudsdorf,
afirma o seguinte: “O teórico considera a educação como um trabalho em larga escala; o
professor sabe, por experiência, que essa perspectiva técnica e industrial não passa de uma
longínqua aproximação do fenômeno. A realidade fundamental continua sendo esse diálogo
aventuroso, durante o qual dois homens de maturidade desigual confrontam-se, mas onde cada
um a seu modo, dá testemunho perante outro das possibilidades humanas (GUDSDORF, 1987,
p.26)”. As palavras de nosso autor referido são lapidares quando buscamos pensar o “ser
professor.
Para pensarmos o “ser professor” o próprio Gudsdorf, escreve uma obra em que aborda
a duas questões fundamentais: professor para que?
Professor para quem? Estas são duas questões de caráter fundamental, na medida em que nos
faz refletir de forma mais essencial sobre nossa prática, sobre o nosso ato de ser professor. Para
que somos professores? Para garantirmos nossa sobrevivência? No contexto da realidade
brasileira a situação do professor não é muito privilegiada, então este tipo de resposta a esta
pergunta, não nos permite chegarmos a abrangência do que ela efetivamente representa. Ela nos
exige maior profundidade, de certa forma nos exige estarmos na frente do espelho de nós
mesmos e nos perguntarmos: professor para que?
No contexto de nossa realidade como é a situação dos professores? Andando de escola
em escola para exercer o seu ofício e também, e porque não dizer garantir sua sobrevivência. Há
muito que ser professor no contexto de nossa realidade deixou de ser um sinal de certo status
diante da estrutura social. Hoje o professor é um trabalhador como outro qualquer, apenas é um
trabalhador que lida com elementos da produção de conhecimento e com elementos que
permitem a formação intelectual e porque não dizer moral de outro ser humano. Há uma forma
96
de nomear o professor hoje por alguns sindicatos vinculados à classe dos professores – o
operário da educação.
Somos operários sim, porque estamos sempre construindo, construindo recursos para
que nossos alunos tenham a posse de um saber e possam se manejar de forma mais livre e
coerente no contexto de suas realidades sociais vivenciadas. Operários porque estamos sempre
construindo novas formas nos processos de ensino-aprendizagem que possibilitem aos nossos
alunos a compreensão do mundo e nesta mesma compreensão a capacidade de relacionar
conhecimentos, de relacionar estrutura social e sujeito social. Operários porque estamos
buscando construir sujeitos que estão no mundo em interação, trocando sentidos, trocando
significados e construindo o que nós denominamos de universo social, que terá influência sobre
nossa constituição.
Operários, porque trabalhamos com o sentido único da construção, a construção na qual
estamos operando é nosso próprio aluno. Este ser em formação que necessita de nosso auxilio e
de nossa mão firme para lhe dizer a diretriz, o caminho a seguir , com toda a segurança, sem a
sombra da dúvida em nossas almas, mas da permanência da dúvida metódica que produz a
ciência. Afirma Gudsdorf: “Toda aprendizagem de um saber é uma evocação do ser. O aluno,
aquele que não sabe, e no entanto, o sujeito e o objeto de uma vocação para o saber, que é
também um apelo do ser. O desenvolvimento intelectual é a contrapartida, talvez o reverso,
talvez a expressão ou o símbolo de uma odisséia da consciência pessoal. Cada homem é assim,
o herói de seu próprio romance de formação, cujas peripécias situam-se entre afirmações-
limite, idênticas para todos e que se impõem, sem discussão ao consenso
universal(GUDSDORF, 1987, p. 19)”. Professor para que? Para que possamos auxiliar na
construção de sujeitos, de seres capazes de transformar o mundo, compreendendo suas
fragilidades, compreendendo a fragilidade e as múltiplas determinações da estrutura social,
sujeitos que sabem que é coletivamente que se transforma a realidade, na medida em que:
SONHO QUE SE SONHA SÓ, É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ. SONHO QUE SE
SONHA JUNTO, É REALIDADE, como nos diz Raul Seixas.
Num mundo em que vivemos tão individualista, determinado pelos ditames do eu, no
contexto de uma sociedade narcisista e egocêntrica esta frase de nosso músico brasileiro, tem
muito significado. E nós professores, enquanto operários, temos sobre nós a incumbência de
levar a que nossos alunos percebem a própria significação do coletivo no contexto de uma
sociedade globalizada, egóica e marcadamente excludente.
Professores para quem?
97
Esta é a outra questão de fundamental importância. A quem nós destinaremos todo
nosso trabalho, toda nossa busca? Quem efetivamente no contexto de nossa realidade desigual
necessita de nosso poder-saber? A chamada elite dominante no contexto das sociedades
desiguais, tem seus próprios intelectuais, tem seus próprios professores, se assim podemos
dizer. Quem acompanhará os segmentos subalternos da população brasileira? Quem a eles se
vinculará, no sentido de aos poucos ser o elementos facilitador para as suas descobertas
enquanto sujeitos capazes de modificar toda uma estrutura? Quem com eles trabalhará as
questões dos processos sociais, onde temos a efetiva relação de interdependência entre estrutura
social e sujeito? A resposta depende de uma profunda análise de nosso efetivo papel social no
contexto de nossa sociedade. Não é nunca uma resposta pronta, acabada, é sempre uma resposta
em construção.
A pedagogia crítica, tão machucada no contexto de nossa sociedade necessitaria que
respondêssemos a esta questão da forma mais honesta e fiel que possamos responder.
Você já se perguntou neste sentido? A quem efetivamente você destinará todo o seu saber?
Paulo Freire, vai inclusive nos falar em uma pedagogia da autonomia, uma pedagogia onde
teríamos então sujeitos capazes de não serem ambivalentes e em sentido sociológico, traduzirem
adequadamente toda a sua realidade social vivenciada.
Você já pensou nas dimensões de uma pedagogia da autonomia no contexto de nossa
realidade? Você já pensou nos embates que você poderá travar na medida em que sua
concepção de sujeito norteia toda a preparação de suas aulas, todas as palavras que você escreve
no quadro, todas as suas indicações de leitura. Toda a temática do trabalho em grupo que você
solicita?
Ser professor, no contexto de uma realidade social como a nossa, uma dura realidade,
envolve questionar-se acerca do desempenho de seu trabalho e acerca da própria realidade
social vivenciada. Ser professor, exige ser um observador do espírito humano ao mesmo tempo
em que exige ser um questionador. Ser professor, envolve saber que a realidade é infinita e que
nossa capacidade humana de compreende-la é finita. São importantes novamente as palavras de
Gudsdorf, quando aponta que:
Existem grandes e pequenos espíritos. Sem dúvida, a educação pode, de certo modo, alargar e desenvolver o espaço mental, apoiando-se nas possibilidades naturais. Mas deve levar em conta, de início, a envergadura própria de cada um, que consagra diferenças intrínsecas, como também limites impossíveis de serem transpostos. A experiência do professor, adquirida através da prática e da sagacidade, é, na verdade, esse dom de discernimento dos espíritos que, ao pressentir as possibilidades de cada um, propõe-lhes fins ao seu alcance, assim como os meios de alcança-los, através da utilização das suas capacidades(GUDSDORF, 1987,p.20)”
98
Gudsdorf, está a nos demonstrar que ser professor é lidar com a própria descoberta de
capacidades, capacidades humanas também infinitas. Questionar-se: professor para que? E
professor para quem?, envolve estarmos comprometidos até mesmo com um projeto de
sociedade, um projeto de sociedade que prioriza, repetimos a construção de sujeitos, de atores
sociais aptos na capacidade de compreensão do real.
Uma nova pergunta, aos moldes de Hegel, deve ser feita: É a idéia que faz o real ou o
real que faz a idéia? Parece uma pergunta um tanto boba, mas ser professor sabendo para quem
destinará sua prática, envolve responde-la de forma mais crítica. Ora, é o real que faz a idéia.
Na prática discursiva que vivenciamos no contexto de nossa sociedade individualista,
certamente a resposta viria em seu sentido contrário, mas a realidade não é assim. Lidamos com
seres de carne e osso, que necessitam sobreviver e ter condições materiais de existência para
enfrentar as contradições presentes em sua realidade. A idéia não faz o real, porque são sempre
necessárias condições de possibilidade para que a idéia se realize e todos nós professores
comprometidos com nossa prática sabemos disso, é preciso ter-se condições de plausibilidade,
condições de possibilidade para que tenhamos idéia sobre as coisas, idéias sobre os outros.
Ser professor hoje, fatalmente não é fácil e nem pode sê-lo. É um constante desafio à nossa
postura em nosso estar no mundo. Voltemos para as questões iniciais; Professor para que? E,
professor para quem? Pense em respondê-las. E, novamente recorremos a Gudsdorf, para que
possamos compreender a dimensão da educação para o denominado espírito humano, afirma
nosso autor de referência:
Cada homem tem uma história, ou ainda, cada homem é uma história. Cada vida se apresenta como uma linha de vida. O ensino seria um aspecto do período ascendente dessa história: assinala o crescimento mental, intrinsecamente ligado ao crescimento orgânico. Sua função é permitir uma tomada de consciência pessoal no ajustamento do indivíduo com o mundo e com os outros. Vemos, aqui, que o sistema escolar não se basta; as lições do professor compõem-se com outras influências, impossíveis de enumerar, na mesma obra de aperfeiçoamento progressivo e aleatório. A formação de um homem, se for exatamente compreendida como a vinda ao mundo de uma personalidade, como o estabelecimento dessa personalidade no mundo e na humanidade, torna-se um fenômeno de uma amplitude cósmica(GUDSDORF, 1987, p.13)
Importante o que nos aponta Gudsdorf, ser professor, ter como fonte de seu trabalho
toda uma descoberta das múltiplas dimensões do humano é encontrar sim “um fenômeno de
uma amplitude cósmica”. Isto é importante, na medida em que nos deparamos também, com a
99
dimensão da nossa própria responsabilidade social que envolve nosso ato de ensinar. Pensemos
a respeito destes aspectos.
TEXTO COMPLEMENTAR
(...)Não cabe dúvida de que o cérebro necessita do abraço para seu desenvolvimento, e
as mais importantes estruturas cognitivas dependem deste alimento afetivo para alcançar um
nível adequado de competência. Não devemos esquecer, como Leontiev destacou há bastantes
anos, que o cérebro é um autêntico órgão social, necessitando de estímulos ambientais para seu
desenvolvimento. Sem aconchego afetivo o cérebro não pode alcançar seus ápices mais
elevados na aventura do conhecimento.
Se o cérebro é o órgão social por excelência, é preciso reconhecer que os sentidos se
constroem a partir da vivência cultural, em permanente interação com o meio ambiente e a
linguagem. A cultura nada mais é do que um grande dispositivo para acondicionar cérebros e,
por isso, não é de forma alguma acidental que se prefira uma determinada mediação perceptual
sobre as outras, dependendo dos interesses predominantes de poder. É isto que a sociedade
ocidental faz ao favorecer a percepção visual-auditiva acima da percepção táctil.
Encher a vida cotidiana de ternura exige uma inversão sensorial que vai desde a
vivência perceptual mais próxima até a desarticulação de complexos códigos que nos indicam
corredores preestabelecidos de semantização do mundo. É necessária uma inversão sensorial
para ressignificar a vida diária, para aceder, como nos grandes ritos iniciáticos, a uma alteração
do estado de consciência que nos obrigue a deslocar as fronteiras dentro das quais foi
aprisionado nosso sistema de conhecimento(RESTREPO, Luis Carlos apud ASSMANN, Hugo.
2001, p.31)
PONTO FINAL
Caro aluno, neste capítulo não teremos nosso costumeiro ponto final, na medida em que
todo o capitulo pode ser entendido como ponto final, na medida em que ele mesmo é conclusivo
e busca chamar para uma reflexão mais ampla acerca do ser professor.
QUESTÕES DE AUTO-ESTUDO
100
Neste capítulo, por sua estrutura e por seu objetivo de ser uma chamada à reflexão, não
cabem caros alunos, questões de auto-estudo, o capítulo em sua íntegra propõe-se a ser uma
questão ampla de auto-estudo.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Todo o capítulo se constitui numa questão para reflexão. E, isto é importante que você
caro aluno considere. Cada um lerá o capítulo com todas as suas dimensões, com ele dialogará e
elaborará por certo sua própria reflexão.
ATIVIDADE
Leia atentamente ao texto complementar colocado no capítulo, para que você possa
refletir sobre mais uma dimensão que abrange o nosso “ser professor”.
DICA DE ESTUDO
Como dica de estudo deixo a indicação da leitura do livro Professores Para Que? Para
uma Pedagogia da Pedagogia de George Gudsdorf, publicado em 1987 pela editora Martins
Fontes. É um livro importante que trabalha com questões importantes no campo da pedagogia.
BIBLIOGRAFIA
ASSMANN, Hugo. (2001) Reencantar a Educação. Rumo à sociedade aprendente.
Petrópolis. Editora Vozes.
GUDSDORF, Georges. (1987)Professores para que? Para uma pedagogia da pedagogia.
São Paulo. Martins Fontes.
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na confecção de nosso livro texto, procuramos envolver elementos que permitam uma
compreensão mais globalizante da realidade. Certamente são inúmeros os livros de Sociologia
da Educação que encontramos e que foram publicados. Procuramos seguir alguns pressupostos
que consideramos importantes, sendo que o mais significativo diz respeito a trabalhar com
elementos que permitam ao aluno estabelecer uma visão da realidade individual e coletiva mais
ampla e mais questionadora, permitindo que ele possa aos poucos em sua compreensão da
realidade pelos instrumentos que dispõe investigar, interpretar e analisar de forma mais
abrangente o real.
Procuramos trabalhar dos clássicos aos autores contemporâneos, na medida em que suas
teorias fundamentalmente contribuem para que se possa pensar a educação e, aqui salientamos
não que tenham sido estabelecidas especificamente teorias acerca da educação, mas teorias que
nos permitem pensar a educação enquanto chaves analíticas que podemos dispor para abranger
o universo educacional adequadamente em suas múltiplas dimensões.
Buscamos também trabalhar alguns elementos que mais levassem à reflexão do que
propriamente um trabalho com elementos fechados das teorias. Não que a teoria não esteja
presente, mas buscamos trabalhar de certa forma para além das teorias, dando as mãos aos
questionamentos que sempre se fazem necessários quando trabalhamos com a Sociologia da
Educação, na medida em que esta não pode ser considerada de forma fechada e
compartimentarizada, pois é múltipla e possui várias faces, permitindo que possamos ver a
educação nas mais diferentes faces sem que esta visualização careça de aprofundamentos.
A sociologia da educação, área do conhecimento nova, nos permite aplicando a
sociologia e principalmente a sociologia em sua dimensão critica, pensar a educação em sua
multiplicidade e em sua especificidade enquanto contida no contexto de uma estrutura social,
pois a educação encontra-se em estreita relação com os determinantes de uma estrutura social,
na medida em que podemos dizer que: conforme é a sociedade assim estará configurada a
educação. Pensar no campo da Sociologia da Educação é pensar a educação em sua dupla face,
estruturante e estruturada, compondo a formação de indivíduos e grupos no contexto das
realidades sociais.
102
GABARITO POR CAPITULO DAS QUESTÕES DE AUTO-
ESTUDO.
Capitulo 1
1-A
2-B
3-C
4-B
5-C
6-A
CAPITULO 2
1-A
2-A
3-B
4-A
5-C
6-A
CAPITULO 3
1-A
2-B
3-A
4-A
4-A
6-A
CAPÍTULO 4
1-A
2-B
103
3-A
4-A
5-B
6-A
CAPITULO 5
1-A
2-B
3-C
4-A
5-C
6-A
CAPITULO 6
1-A
2-B
3-A
4-B
5-C
6-A
CAPITULO 7
1-A
2-B
3-B
4-B
5-A
6-A
105
INTRODUÇÃO
Caros alunos, neste nosso livro trabalharemos inicialmente com os elementos que
denotam a especificidade da Sociologia da Educação, ao mesmo tempo em que veremos a
educação enquanto processo socializador e também a educação enquanto processo de controle
social. Num segundo momento trabalharemos os principais pressupostos dos clássicos da
sociologia, dos autores como Marx, Durkheim e Weber e em que aspectos suas concepções nos
permitem compreender a educação enquanto fenômeno social estruturante e estruturado.
Num novo momento deste trabalho, abordaremos as formas com que temos em nossa
sociedade os elementos da concepção conservadora da educação no contexto de nossa realidade
social, no sentido de trabalharmos com três formas de pedagogia – a pedagogia tradicional, a
pedagogia nova e a pedagogia tecnicista, que são formas conservadoras com que a educação se
manifesta no contexto de nossos bancos escolares. Após trabalhamos com os elementos da
tendência progressista da educação ao mesmo tempo em que trabalhamos as determinações da
estrutura social sobre a mesma educação. Este é um aspecto importante, na medida em que a
própria tendência progressista da educação envolve a consideração da estrutura social
abrangente para que se possa partir para pensar a educação no contexto notadamente da
sociedade brasileira.
Num outro momento deste trabalho, buscamos trabalhar com as instituições sociais e a
educação, apresentando-se aqui os meios de comunicação de massa também enquanto
instituição social, na medida em que se constituem enquanto um poder estruturante de forte
influência no campo educacional e as instituições sociais como a família, a instituição religiosa,
o Estado e a educação. No próximo capítulo procuramos trabalhar com elementos da
globalização e sua relação com a educação, sem deixarmos de considerar os processos de
desenvolvimento econômico e a sua influência no contexto da educação, em nossa abordagem
da relação entre mudança social e a educação.
Trabalhamos também com uma abordagem acerca da educação contemporânea,
centralizando a análise nos aspectos sociológicos da educação contemporânea, abrangendo
conceitos chaves como o conceito de estrutura, de sujeito, de processos sociais e da relação
entre o poder e o processo educativo, que envolvem sempre toda e qualquer análise sociológica
que se queira crítica da realidade social vivenciada por indivíduos e grupos. Logo trabalhamos
com teorias contemporâneas que contribuem para pensar-se a educação, para tanto abordamos
autores como Norbert Elias, Pierre Bourdieu, Michel Foucault e Anthony Giddens, no que estes
106
autores geraram “luz” para que possamos pensar também a educação no contexto das
sociedades complexas, globalizadas e marcadamente excludentes.
Trabalhamos também aspectos da educação no Brasil. Buscamos neste capítulo uma
reflexão acerca de alguns elementos fundamentais da educação no contexto da realidade
brasileira atual, como por exemplo o analfabetismo funcional e estrutural e, por último,
propomos uma reflexão acerca do ser professor. Este é um capítulo diferencial dos demais, pois
ele é uma proposta, mais do que todo um trabalho com teorias e práticas acerca da educação.
Nossa intenção foi justamente fomentar a reflexão, a reflexão sempre necessária acerca de ser
professor no contexto de uma realidade social principalmente como a nossa realidade social
brasileira. O último capítulo então e uma proposta, nada mais que isto, uma proposta para se
pensar o ser professor e o que efetivamente isto significa.