8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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INTRODUÇÃO GERAL
c
R. Ellenport
De acordo com Vesalius (1543), a
anatomia
deve ser corretamente considerada como a base só-
lida de toda a arte da medicina e como a sua intro-
dução essencial . Deve-se entender também que a
anatomia apresenta uma grande parte da termino-
logia médica ao estudante.
A anatomia é o ramo da biologia que lida com a
forma e a estrutura dos organismos. Está, portanto,
em íntima relação com a fisiologia, que estuda as
funções do organismo.
Etimologicamente a palavra anatomia significa
separação ou desassociaçãode partes do corpo. No
período inicial de seu desenvolvimento, a anatomia
era uma simples ciência descritiva, baseada em ob-
servações realizadas a olho nu e com o uso de ins-
trumentos simples de dissecação - bisturi, pinça e
outros. Naquela época o termo expressava adequa-
damente a natureza do objeto de estudo. Mascom a
expansão do objetivoda ciência e como crescimento
dos conhecimentos anatõmicos, tornaram-se ne-
.cessárias subdivisões e novos termos foram introdu-
zidos, para designar áreas específicas e métodos de
trabalho. Com a introdução do·microscópio, e seus
acessórios, tornou-se possível estudar detalhes mais
finos da estrutura de minúsculos organismos até
então desconhecidos. Este campo de pesquisa
desenvolveu-se rapidamente na ciência da
anatomia
microscópica ou histologia, como é convencional-
mente distinguida da anatomia propriamente dita
ou
macroscópica.
Da mesma forma, o estudo das
transformações que osorganismos sofrem durante o
desenvolvimento, logo obteve suficiente importân-
cia para ser considerado, em termos práticos, como
um ramo separado, conhecido comoembriologia. A
aplicação deste termo é geralmente limitada às fases
iniciais do desenvolvimento, quando são formados
os tecidos-eórgãos. O termo ontogenia é usado para
designar o desenvolvimento total do indivíduo. A
história ancestral ou filogenia das espécies é consti-
tuída pelas modificaçõesevolutivasque sofreu, mos-
tradas pelos registros geológicos.
A anatomia comparada é a descrição e a compa-
ração das estruturas dos animais, e estabelece os cri-
térios para a sua classificação. Através deste pro-
cesso- sendo objeto de estudo inclusiveformas ex-
tintas - tem sido possível demonstrar a inter-rela-
ção genética de vários grupos de animais e elucidar
o significado de muitas peculiaridades de estrutura,
que de outra maneira seriam obscuras. Asdeduções
relacionadas às leis gerais sobre forma e estrutura,
que derivam dos estudos de anatomia comparada,
'CAPÍTULO
1
constituem a ciência chamada morfologia ou ana-
tomia filosófica. Contudo, o morfologista .lida ~o-
mente comos dados anatõmicos que são necessános
para formar a base para as suas generalizações. O
conhecimento anatõmico necessário para a prática
médica e cirúrgica é, evidentemente, de caráter di-
ferente e precisa incluir muitos detalhes que não são
de interesse particular para o morfologista.
A
anatomia especial
é adescrição da estrutura de
um simples tipo ou espécie, por exemplo, antropo-
tornia, hipotomia.
A anatomia veterinária éo ramo que lida com a .
forma e a estrutura dos principais animais domésti-
cos.
É
geralmente estudada tendo em vista
à
forma-
ção profissional e, portanto, é de caráter altamente
descritivo.
São utilizados três métodos principais de estudo
- o sistemático, o topográfico e o aplicado. Este
livro usa a abordagem sistemática, onde o corpo é
vistocomo constituído de sistemasde órgãos ou apa-
relhos que são semelhantes em origem e estrutura e
estão associados na realizaçãode certas funções. As
divisõesda anatomia sistemática são: (1)
osteologia,
descrição do esqueleto (ossos e cartilagem), cujas
funções são apoiar e proteger as partes macias do
corpo; (2) sindesmologia, descrição das junturas,
cujas funções são dar mobilidade aos segmentos dos
ossos rígidos e mantê-Ios unidos através de fortes
faixas fibrosas, os ligamentos; (3)
miologia,
descri-
ção dos músculos e estruturas acessóriasque funcio-
nam para colocar os ossos e as articulações em mo-
vimento; (4) esplancnologia, descrição das vísceras
(incluindo os aparelhos digestivo, respiratório e
urogenital, o peritônio e as glândulas ertdócrinas);
(5) angiologia, descrição dos órgãos da circulação
(coração, artérias, veias, linfáticos e baço); (6)neuro-
logia, descrição do sistema nervoso; sua função é
controlar e coordenar todos os outros órgãos e es-
truturas; (7)
órgãos do sentido,
que põem o indiví-
duo em contato com o meio ambiente, e (8) tegu-
mento comum, que funciona principalmente como
um revestimento protetor do corpo, como uma
parte importante do sistema regulador de temp~~-
tura, voltado para as sensações e com poderes limi-
tados de excreção e absorção.
Ainda que a aquisição e a organização do conhe-
cimento anatômico seja fácil para os iniciante ,
quando aprendido por sistemas, os estudante do
campos de medicina precisam estar sempre atento
para aprender as relações das várias parte para
comcada uma e coma superfície do corpo, porque o
3
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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4
propósito final de seus estudos é visualizá-Ios em
espécimes vivos. Em adição. à dissecção. do corpo, o
estudo da anatomia topográfica é apoiado pela es-
tudo da anatomia da superfície, da anatomia seccio-
nal e da anatomia radiológica (00SS, 1966).
O termo anatomia topográfica designa os méto-
dos pelos quais as posições relativas das várias partes
do corpo são rigorosamente determinadas. Pressu-
põe um conhecimento bem sedimentado de anato-
mia sistemática. As considerações sobre os fatos ana-
tômicos e suas relações com a cirurgia, o diagnóstico
físico e outros ramos práticos são denominados ana-
tomia aplicada.
TERMOS TOPOGRÁFICOS
Para que a posição e a direção das partes do COI'pO
sejam indicadas precisamente, empregam-se certos
termos descritivos que precisam ser conhecidos
desde já. Assumimos, na explicação destes termos,
que sejam aplicados a um quadrúpede na sua posi-
ção ereta normal (Fig. l-I). A superfície orientada
em direção ao plano de apoio (solo) é denominada
ventral e a superfície oposta, dorsal; os relaciona-
mentos das partes nesta direção são. denominados
de forma correspondente. O plano mediano longi-
tudinal divide o corpo em metades similares. Uma
estrutura ou superfície que está mais próxima do
plano mediano do que uma outra é chamada medial
(ou interna) a ele, e um objeto ou superfície que está
mais distante da plano medial do que um outro é
chamado lateral (ou externo) a ele. Os planos para-
lelos ao medial são sagitais. Planos transversos ou
segmentares cortam o eixo mais longo do corpo
perpendicularmente ao plano mediano, ou um
órgão o.u membro em ângulos retos ao seu eixo mais
longo. Um plano frontal é perpendicular aos planos
mediano e transversal. O termo também é usado em
referência a partes dos membros ou de vários órgãos
cortados no mesmo sentido. O lado do corpo mais
próximo à cabeça é denominado cranial e o mais
VENTRAL
GERAL
próximo cauda, caudal; as relações de estruturas
com respeito ao eixo longitudinal do corpo são de-
nominadas em conformidade. Com respeito às par-
tes da cabeça, os termos correspondentes são rostral
e caudal. Certos termos são usados em sentido espe-
cial quando aplicados aos membros. Proximal e dis-
tal expressam distâncias relativas das partes em rela-
ção. ao eixo longo do corpo. Abaixo do carpa os
termos usados são dorsal e palmar e abaixo do tarso,
dorsal e plantar. Os termos superficial e profundo
profundus) são úteis para indicar distâncias relativas
Ipartir da superfície do corpo.
NOMENCLATURA
NAV, 1972)
Até 1895 não havia acordo geral sobre a nomen-
clatura da anatomia humana ou veterinária. Cada
nação possuía seu próprio sistema de terminologia,
ainda que houvesse uma base comum que se esten-.
dia através da história. Muitas estruturas possuíam.
nomes diferentes em diferentes países e muitas
eram denominadas com o nome da pessoa que havia
feito a sua primeira descrição. Em muitos casos o
mesmo órgão. estava associado com os nomes de di-'
ferentes anatomistas em países diferentes. A partir'
daquela data tem havido diversas Nomina Anatomi-,
cas; a primeira Nomina Anatornica Veterinária in-
ternacional foi publicada em 1968 (veja NAV 1968 e
1972 para asua história e membros).
Os seguintes princípios, que estão, em grande
parte, de acordo com os da N.A., têm servido como
guias no trabalho do Comitê Internacional sobre
Nomenclatura Anatõmica Veterinária (C.I.N.A.V.):
1. Fora um número muito li~ütado de exceções,
cada estrutura
anatõmica
deve ser designada por
um único termo.
2. Cada termo deve estar em latim na lista ofi-
cial, mas os anatomistas de cada país estão livres
para traduzir os termos oficiais do latim para a lín-
gua de ensino.
/ PLANO MEDIANO
CRANIAL
\ PLANO FRONTAL
Figura l-I. Termos de posição e direção.
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INTRODUÇÃO GERAL
3. Cada termo deve ser, dentro do possível, o
mais curto e simples.
4. Os termos devem ser fáceis de ser relembrados
e devem possuir, acima de tudo, valores instrutivos e
descritivos.
5.
Estruturas que estão muito relacionadas topo-
graficamente devem possuir nomes similares; por
exemplo, artéria femoral, veia femoral, nervo femo-
ra .
6. Os adjetivos diferenciais devem ser geral-
mente opostos, como maior e menor, superficial e
profundo.
7. Os termos derivados de nomes próprios
epó-
nimos) não devem ser usados.
Com respeito aos termos de direção, as seguintes
regras foram adoradas depois de longas delibera-
ções: os termos cranial e caudal aplicam-se ao pes-
coço, ao tronco, à cauda e aos membros, tão distais
5
quanto sejam da extremidade do antebraço e da
perna. Os termos dorsais e palmares são usados para
as mãos e dorsais e plantares para os pés. Na cabeça,
os termos rostral, caudal, dorsal e ventral são prefe-
ridos, com os termos anterior, posterior, superior e
inferior usados para poucas localizações, como o
globo ocular, as pálpebras e ouvido interno.
Medial
e lateral são usados em todo o corpo, exceto
que axial e abaxial designam os lados dos dedos nos
mamíferos domésticos, excluindo-se o cavalo.
Nenhuma nomenclatura científica pode ser con-
siderada completa e permanente enquanto houver
pesquisa em seu campo. Pesquisa em anatomia geral
dos animais domésticos é realizada ativamente em
todo o mundo e tem sido acelerada pelo interesse
nos problemas não abordados pela NAV. Espera-se,
portanto, que sejam necessárias freqüentes revi-
sões.
lUBLIOGRAFIA
Coss,C. M.1966.Cray's Anatomyof the Human Body.28th ed.,Lea
Febiger.
Phíladelphía.
Lint,
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Medicine. I.
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Nomina
Anatomíca
1966. 3rd ed. Excerpta Medica
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Nomina Anatomica veterinária. 1968. world Association of Veter-
inary Anatomists, Vienna.
Norruna Anatomica Veterinarta. 1973. 2nd ed. World Associaüon of
Vctcrínarv
Anatonusts. Vienna.
Singer. C. 1957. A short
history
of anatornv and phvsíology from the
Greeks to
Harvey.
Dover.
New
York.
Vesalius. A. 1543. De Hurnaní Corporis Fabrica rThe workings of .
lhe human body).
ANATOMIA NA RADIOLOGIA
M. A. Emmerson
A IMPORTÂNCIA DA ANATOMIA
PARA O RADIOLOGISTA
Para ser proficiente no campo da diagnose radiológica
temos que estar familiarizados com a anatomia ra-
diográfica .:
SCH~I:\ITZ E WILKENS
o
QUE É A
ANATOMIA RADIOGRÁFICA?
O posicionamento apropriado
do paciente é de
grande importância para o radiologista veterinário,
a fim de obter a melhor radiografia
possível.
A
melhor radiografia ainda é difícil de ser interpre-
tada; a radiografia fraca é quase impossível de ser
*No animal vivo, não é possível colocar o filme de raios X no plano
frontal ou mediano (veja a Fig. l-I). Portanto, o feixe de raios X
terá que passar inteiramente através da .cabeça, pescoço, peito, ab-
dome, pelve e cauda antes de atingir a sensiva emulsão do filme
de raios X. Quando o feixe de raios X passa de lado a lado, ou de
cima para baixo, o posicionamento é designado conforme segue:
Entrada
à
esquerda - saída
à
direita; lateral esquerda-direita.
Entrada
à
direita - saída
à
esquerda; lateral direita-esquerda.
Entrada nas costas - saída sobre a linha; dorsoventral.
Entrada sobre a linha - saída nas costas; ventrodorsal.
Para os apêndices, o uso do plano transversal não é suficiente.
interpretada com precisão.' Desta forma, para se
obter uma excelente radiografia, para fins diagnós-
ticos, o paciente tem que estar adequadamente posi-
cionado. A aquisição de conhecimentos anatõmicos
tridimensionais é, portanto, necessária para que se
seja científico ao invés de depender da sorte para a
obtenção da melhor chapa de raios X.
O tratamento das lesões internas de órgãos espe-
cíficos com enersia radiante (terapia de raios
X
por exemplo) eXige que o radiologista conheça a
posição do órgão
que está doente, e aproximada-
mente sua profundidade abaixo da superficie do
corpo, para que receba o efeito máximo do feixe de
raios X adequadamente direcionado.
Caso venham a ser usados implantes de energia
radiante, tais como sementes de radon ou agulhas
Os seguintes termos de
posicionarnento
são de uso comum:
Entrada anterior (cranial) - saída posterior (caudal); vista
anterior-posterior.
Entrada posterior (caudal) - saída anterior (cranial); vista
posterior-anterior.
Entrada lateral - saída medial; vista lateromedial.
Entrada mediaI- saída lateral; vista mediolateral.
A
terminologia usada para orientar o interpretador de vistas
oblíquas sobre radiografias terá que ser relegada ao estudo em
profundidade da radiologia veterinária.
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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6
de rádio ou de cobalto, a adequada colocação destes
materiais no órgão doente requ.er conhecimentos
anatômicos quanto ao órgão, bem como conheci-
mento da patologia da condição da doença. A ana-
tomia é básica para o sucesso na diagnose e no 'tra-
tamento das doenças dos animais quando se usa a
energia radiante.
POR QUE A ANATOMIA PRIMEIRO?
Torna-se logo óbvio, para a pessoa que se prepara
para a carreira nas ciências médicas, que o conheci-
mento da morfologia normal do corpo e a designa-
ção adequada das estruturas - através de nomen-
clatura aceita tanto local quanto universalmente - é
fundamental para o aprendizado, para a comunica-
ção- e, eventualmente, nas contribuições para o
avanço da ciência médica. As doenças, muitas das
quais são descobertas no início através de exames de
raios X ou fluoroscópicos, são muitas vezes designa-
das pOI' pelo menos uma parte de seu nome
anató-
mico (por exemplo, osteíte, nefrite, artrite, com o
osso, órgão ou articulação específica incluída na de-
signação). Que confusão caótica não seria se todos
tivessem nomes diferentes pará os órgãos do corpo,
as doenças, ou as anormalidades anatômicas
Portanto é axiornático que a anatomia seja básica e
fundamental para o desenvolvimento, a aplicação e
o avanço de todas as disciplinas da ciência médica e
da saúde, incluindo a radiologia.
O QUE É RADIOLOGIA?
Por definição, a radiologia é o ramo da
ciência
médica que lida com a aplicação diagnóstica e tera-
pêutica da energia radiante, incluindo raios roent-
gen, o rádio, e isótopos radioativos.*
Todas as utilizações da energia radiante na medi-
cina, tais como a radiografia, a fluoroscopia, a tera-
pia através de raios X e as utilizações terapêuticas ou
investigativas dos isótopos radioativos, estão incluí-
das na Ciência da Radiologia.
O QUE
É
RADIOLOGIA VETERINÁRIA?
A radiologia veterinária é o ramo da radiologia
que lida principalmente com as aplicações diagnósti-
cas e terapêuticas da energia radiante nas doenças
de todos os animais que por direito estão sob a juris-
dição do veterinário.
t
Isto inclui todas as espécies
domésticas, animais de zoológicos e espécies exóticas
utilizadas na pesquisa e normalmente designadas
como animais de laboratório (Medicina de Animais
de Laboratório).
Além dos raios roentgen, as fontes mais cornu-
mente usadas de energia radiante em medicina ve-
terinária são o rádio ou sementes ou agulhas de ra-
don, placas ou agulhas de cobalto 60 (incluindo o
fio) e os aplicadores beta.
*Das exigências do Conselho Americano de Radiologia para o cer-
tificado em radiologia.
+Definição .modifiéada do Conselho Americano de Radiologia
para ·satisfazer exigências da Medicina Veterinária.
GERAL
O QUE
É
O RADIOLOGtSTA?
O radiologista é qualquer pessoa qualificada por
treinamento nas ciências médicas e na física
radioló-
gica para usar a energia radiante nas áreas de diag-
nose, terapia e pesquisa da medicina.
O QUE SÃO RAIOS ROENTGEN
OU RÁIOS X ?
Os raios X foram descobertos em 1895 por Wi-
lhelm Conrad Roentgen, um físico alemão (Emrner-
son, 1952). A história da descoberta dos raios X é
uma das mais fascinantes na história da ciência. Os
raios X são ondas eletromagnéticas ou acúmulos de
energia na forma de ondas que se deslocam a
186.000 milhas por segundo. O comprimento da
onda dos raios roentgen é extremamente curto. Os
comprimentos de onda utilizados n,ilsdiagnoses mé-
dicas veterinárias são de 0,1 a 0,5 A Os raios gama
são fisicamente idênticos aos raios X curtos, mas são
emitidos por determinados elementos radioativos. O
conceito de importância para o estudante de anato-
mia é que o feixe de raios X é tão minúsculo que
pode. passar através dos átomos dos tecidosde um
animal e que apenas determinadas partes do feixe
de raios X serão paradas ou absorvidas pelos
eléctrons, prótons ou nêutrons em órbita nos tecidos
expostos. Desta forma, é importante que o radiolo-
gista veterinário aprenda anatomia em três dimen-
sões.
Exemplo:
À
sua frente há um cão anestesiado. Você recebe um
daqueles antiquados alfinetes de chapéus de senhoras e é solicitado
a ernpurrá-Io, de ponta, através do tórax, da esquerda para a di-
reita, entre a quarta e a quinta costelas, a meio do caminho entre o
ligamento supra-espinhoso e o esterno. Embora você não possa
realmente ver a ponta do alfinete penetrar e emergir de cada estru-
tura anatômica, você deverá ser capaz de visualizar em sua mente
(doravante citada como seu olho de raios X )cada estrutura que o
alfinete atravessa até emergir no lado direito do peito. Agora ima-
gine, literalmente, milhões de alfinetes passando através do peito. É
isto o que fazo feixe de raios X quando se tira uma chapa de raios
X ou radiografia do peito de um cão.
COMO OS RAIOS X MANIFESTAM
SUA PRESENÇA?
OS raios X manifestam sua presença, pelo menos,
de quatro modos diferentes: (1) efeito fotográfico;
(2) efeito fluorescente; (3) efeito biológico; e (4)
efeito ionizante.
EFEITO FOTOGRÁFICO.
Os raios X penetram na
matéria sólida; os de ondas de comprimento mais
curtas possuem um maior poder de penetração e são
conhecidos como raios duros . Na sua passagem
através da matéria, os raios X são absorvidos, sua
quantidade dependendo do número atômico e da
densidade da substância absorvedora. O osso, dado
o seu teor de cálcio, absorve raios X muito mais fa-
cilmente do que os tecidos moles do corpo. Os raios
que penetram no corpo fragmentam os cristais de
brorneto de prata, na emulsão de um filme de raios
X, de modo que, ao serem revelados, estes são rapi-
damente reduzidos ao preto da prata metálica. A
isto denomina-se radioluscência. Os raios absorvi-
dos por determinados tecidos (por exemplo, o osso)
não alteram os cristais de brometo de prata que são
dissolvidos e removidos no processo de fixação, dei-
xando o filme claro; desta forma, diz-se que o osso é
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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INTRODUÇÃO GERAL
radiopaco. Entre estes dois extremos temos muitas
gradações de opacidade, de modo que o filme to-
talmente processado torna-se agora um registro fo-
tográfico da capacidade de penetração dos raios X
em uma determinada parte do corpo. Este registro é
denominado um radiog-rama ou radiografia*, es-
quiagrama ou esquiagrafia*, roentgenograma ou
roentgenografia, ou, pelo leigos de chapa de raios
X* .
EFEITO FLUORESCENTE. Quando o feixe de raios X
atinge uma cartolina forrada com determinados
cristais, ela faz com que esses cristais fluoresçam ou
emitam luz visível. As variações da quantidade de
feixes de raios X que atingem os cristais fazem com
que a imagem surja no exame fluoroscópico.
EFEITO BIOLóGICO.
Deve-se lembrar que os raios
X são sempre destrutivos para os seres vivos.
Quando a destruição do tecido vivo não for maior
*Os termos marcados com um asterisco
(*)
são os mais comurnente
ouvidos ou usados.
7
do que possa ser reparado, muito pouca reação dos
tecidos é observada. Na pele não pigmentada, a
primeira reação visível é a vermelhidão ou eritema;
o sinal seguinte é a queda dos pêlos, ou depilação; e,
finalmente, vem a morte do tecido ou queimadura
por raios X. A irradiação por raios X, de todo o
corpo, altera a contagem sangüínea, é letal em altas
doses e pode causar mutações dos genes em doses
menores. Doses repetidas de raios X são acumulati-
vasoA exposição desnecessária aos raios X deve ser
religiosamente evitada.
EFEITO IONIZANTE. O último método de detectar a
presença de raios X é o método de ionização. De-
terminados gases recebem e retêm uma carga elé-
trica conhecida. Quando um dispositivo tal como
um medidor r , ou medidor roentgen, for colocado
em um feixe de raios X, as ondas eletromagnéticas
removem ou neutralizam a carga elétrica contida,
de modo que a perda de carga pode ser mensurada.
Tal dispositivo é usado para calibrar ou determinar
Figura 1-2. Feto de bovino imediatamente após o segundo trimestre
de
gestação.
Note a homogeneidade da densidade dos tecidos moles. Somente as estruturas calcificadas estão realçadas. O bezerro não possui nem ar
inspirado (pulmões e traquéia invisíveis)nem alimento deglutido (nenhum gás no estômago, intestinos, cólon ou reto). É difícil ver-se o
diafragma (separando o peito e o abdome).
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8
G R L
Figura 1-3. Feto de bovino; o mesmo da Fig. 1-2, porém no sistema circulatório foi injetado através das artérias umbilicais um meio
radiopaco.
Note o efeito que o sistema circulatório possui na delineação do tórax e do abdome. A circulação fetal está bem ilustrada. Ainda não há
nenhum ar nem gás nos tratos respiratório ou digestivo.
a quantidade de raios X, produzidos por um deter-
minado aparelho e usado para tratar de tumores e
outras
doenças,
A unidade de
mensuração
é o.
roentgen, designado. po.r um r minúsculo.
O ro.entgen,* é uma dose de exposição de radia-
ção.X ou gama, tal que a emissão.corpuscular asso-
ciada po.r 0,001293 g de ar produz, no.ar, íons car-
regando. uma unidade eletrostática de quantidade
de eletricidade de qualquer sinal.
COMO PODe A RADIOLOGIA
AJUDAR ME NA ANATOMIA?
A pressão. de conhecimentos sempre crescentes,
na medicina veterinária e outras ciências do.setor de
saúde, tem sido. um estímulo. para o. reexame dos
métodos
de ensino.da anatomia e de outras discipli-
nas profissionais. Uma resposta superficial a tal
pressão. é a de reduzir o tempo e o.
conteúdo
dos
.U.S. Dept. of Commerce, 1960: 1961.
cursos de anatomia. Entretanto, as fronteiras em
expansão, no campo clínico e outros relacionados
muito.provavelmente não.serão servidas pelo.ensino.
reduzido de anatomia, embora seja altamente
provável que avanços po.ssamser realizados na efi-
ciência da apresentação da anatomia. Para ser eficaz,
a anatomia terá que ser ensinada e aprendida como
uma disciplina tndimensional, para que o pratican-
te (ou cientista de animais de pesquisa, se for o
caso) seja capaz de visualizar as
modificações
(pato-
lógicas ou outras) que se realizam no. corpo. com
vida. Embora a mesa de dissecção. seja pro.vavel-
mente o.melhor lugar para se aprender a anatomia
tr idime nsional, o. exame fluo
roscópico
e ra-
diográfico
de determinadas estruturas ou
órgãos
pode muito.contribuir para a precisão.da foto.men-
tal a ser desenvolvida pelo. aluno. Por exemplo, é
muito.mais exata a determinação. das tensões trabe-
culares em um osso, através da radiografia, do.que
pela serragem do.ossoao meio. Umoutro. exemplo.é
o. notável melhoramento, no. conceito mental do
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INTRODUÇÃO GERAL
aluno, com relação ao suprimento sangüíneo.de um
órgão ou espécime específico que pode ser obtido
pela injeção, no sistema vascular, de uma tintura
radiopaca e a realizaçãode sua radiografia (Figs. 1-2
e 3). Ambos os exemplos apresentados criam uma
imagem mental mais precisa e contribuem grande-
mente para a eficiência de apresentação e na con-
servação de tempo.
Mais ainda, a anatomia radiográfica é uma ferra-
menta essencial para o praticante e o auxiliamuito a
visualizar anormalidades do corpo em vida, não
prontamente acessíveisa olho nu. Seria muito vanta-
joso para o veterinário neófito seos seus instrutores,
nas ciênciasmédicas veterinárias básicas,soubessem
mais sobre as doenças e as anomalias encontradas,
na prática, fase da medicina veterinária que ainda
exige mais homens-hora do que qualquer outro
campo reconhecido. Ser capaz de associar determi-
nadas áreas ou regiões anatômicas com os males de
animais, de ocorrência mais comum, é mais de-
sejável para o estudante do que a dependência na
memorização. Muitos instrutores, com considerável
experiência de ensino, podem lembrar-se de alunos
que podiam citar quase literalmente o texto ou
anotações, mas que, ao serem questionados um
pouco mais, eram incapazes de reconhecer a estru-
tura que foram solicitados a descrever. Tal conhe-
cimento , que é pura memorização, obviamente não
é conhecimento algum. Aanatomia útil é a anatomia
visual; o quadro das estruturas e as relações que
podem ser visualizadasmentalmente, e não as pala-
vrasutilizadas para descrever a estrutura. Os raios X
ajudam a desenvolver o quadro mental, ou melhor
ainda, o olho de raios X .
COMO PODE A ANATOMIA
AJUDAR ME NA RADIOLOGIA?
Para ser proficiente na interpretação radiográfica
(diagnose radiográfica ou de raios X), é preciso pri-
meiro ter algum conhecimento sobre a anatomia da
região que foi objeto dos raios X.Três elementos ou
compostos encontrados no corpo sadio e normal re-
sultam nas sombras de raios X vistas na chapa.
Eles são: (1) Ar - na boca, nariz, seios paranasais,
traquéia, pulmões, estômago, intestino delgado de
indivíduo em amamentação, cólon e reto. (2)Agua
- no sangue (ela é a resposta para a densidade dos
grandes vasos sangüíneos) e órgãos cheios de san-
gue, tais como o fígado, o baço e os rins e a bexiga
cheia de urina. Os fluidos fetais no útero grávido
aumentam a densidade desse órgão em relação à
do estado não grávido. E, por último, sãoobservadas
sombras no estômago ou intestino delgado logoapós
a ingestão de fluidos. (3) Minerais - de principal
significação é C l cálcio en~~n,trado ,nos.()ssos e, ~s
vezes, no músculo e no epitélio dos indivíduos mais
velhos. Isto é normalmente, mas nem sempre, atri-
buível a algum ferimento ou doença anterior.
Torna-se perfeitamente evidente, então, que um
conhecimento prévio da anatomia é absolutamente
necessário para se interpretar as valiosas informa-
ções diagnósticas disponíveis no exame radiográfico
ou fluoroscópico de um animaL Uma compreensão
precisa da morfologia dos ossos e articulações, suas
diferenças e sua idade, é primordial para a interpre-
9
tação precisa de uma radiografia. As variações no
suprimento sangüíneo de determinados órgãos
(Figs. 1-4e 5, A a E) ajudam o radiologista diferen-
ciar entre o normal e o patológico. A inflamação éa
reação do tecido vivoà irritação. Elaéacompanhada
por aumento no suprimento sangüíneo ou o sin-
toma cardial, rubor ou vermelhidão . A menos
que o' radiologista tenha alguma idéia do supri-
mento sangüíneo, conhecido corno normal a uma
parte, não será capaz de diagnosticar corretamente a
inflamação dessa parte quando ela for atingida por
algum processo de doença.
Pode-se ver, desta forma, que a anatomia 'é um
conhecimento básico essencial para o radiologista
consciente, e que a radiologia pode ser um grande
auxiliar para o anatomista e para o aluno de anato-
mia na obtenção do olho de raios X das várias
estruturas anatômicas, de modo que ele não precise
lembrar-se de palavras memorizadas.
O QUE E COMO DEVO ESTUDAR?
Infelizmente, o aprendizado de anatomia muitas
vezes é considerado como um feito de memória
pura. É bem certo que para começar, precisamos
memorizar determinados assuntos, e depois usar
repetidamente o que memorizamos a fim de retê-
Ias. Muitas pessoas, que são geralmente tidas como
bons anatomistas, não alegariam possuir memórias
particularmente boas. Na verdade, o estudo da ana-
tomia deve ser direcionado no sentido da aquisição
de uma boa compreensão do assunto e não 'na lem-
brança total de uma massa de minúcias. Qualquer
clínico pode assegurar que os detalhes anatõmicos
de que se lembra são bastante limitados àqueles que
ele usa com bast-ante freqüência. A vantagem de
ter-se conhecido outrora mais fatos situa-se, princi-
palmente, nos conhecimentos gerais aos quais esta
aquisição leva, a saber: (1) capacidade de com-
preender o fundamental e não a anatomia deta-
lhada envolvida nos problemas clínicosparticulares;
e (2)facilidade relativa de reaprender e expandir os
nossosconhecimentos em um determinando campo,
caso seja necessário.
O falecido Professor Harry Lewis Foust*, em de-
terminada ocasião,declarou a este escritor que uma
pessoa nunca aprenderá demais, que é melhor
haver aprendido algo que nunca será usado do que
de repente precisar de alguma coisa que nunca
aprendeu .
Como a anatomia á uma ciência visual, em que as
descrições verbais são sempre inadequadas, seu
aprendizado requer a observaçãocuidadosa, de pre-
ferência repetidamente e de perspectivas diferentes.
Na anatomia grosseira, então, o principal estudo
terá que ser efetuado na sala de dissecção, onde o
repetido trato e revisão é possíveLDiferentes pers-
pectivas podem ser obtidas através da correlação do
que é observado na chapa de raiosXao que é efeti-
vamente observado no espécime dissecado.
Exceto para fins de comunicações, ao prestar um
exame ou na conversa com os colegas, a anatomia
·Comunicação Pessoal - Harry Lewis Foust, ex-chefe do Depar-
tamento de Anatomia Veterinária, Iowa State University, Ames,
1927 a 1951.
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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10
Colo
uterino
Vagina
Figura 1-4.Arteriografia de um útero de bovino (espécime fresco injetado), vista dorsoventral, 9,5 dias após o início do estro,
ilustrando a magnitude do suprimento sangüíneo (hemodinâmica)aos órgãos reprodutivos da fêmea, especialmente ao ovário em
funcionamento.
O corno uterino direito foi o corno grávido para o primeiro e único bezerro desta vaca.A deJineaçãoretangular representa a área
reproduzida na Fig. 1-5A até E.
útil
é
a anatomia visual; o quadro de estruturas e
relações que podem ser observados no olho da
mente ou no olho de raios X , e não as palavras
utilizadas para descrever a estrutura.
o
veterinário neófito começa seu treinamento pro-
fissional pela osteologia - o estudo dos ossos ~ e
sindesmologia - o estudo das articulações e dos li-
gamentos. O aluno iniciante recebe uma caixa
de ossos e é solicitado a estudá-Ios. Isto pode
tornar-se pouco atraente , a menos que ele possa
receber demonstração de uma apresentação interes-
sante daquele ossoou articulação, em uma chapa de
raios X. Um osso, por seu teor de cálcio e elevada
radiopacidade, normalmente é a característica mais
marcante de uma radiografia. Poucosiniciantes em
QUANDO A ANATOMIA POUCO ATRAENTE
SE TORNA ESPETACULAR?
A estrutura que dá a uma massa de protoplasma
sua eventual beleza artística
é
denominada esque-
leto. O esqueleto é composto de ossose articulações.
GERAL
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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INTRODUÇÃO GERAL
Figura 1-5. Área útero-ovariana direita de uma vaca.
Vista dorsoventral.
A, Quatro horas após o início do cio (estro). O
folículo de Graaf está bem delineado pelas arteríolas,
e o meió de contraste da parte central do folículo é
provavelmente decorrente da ruptura, por pressão,
da arteríola do
cumulus oo phorus
Os pólos do ovário
aparecem ligeiramente mais densos do que o folículo
devido ao maior suprimento sangüíneo e ao aumento
associado do líquido intercelular. Note a natureza he-
licoidal e o maior tamanho da artéria útero-ovariana e
seus ramos. As setas indicam a camada vascular sub-
serosa, bem definida; a camada vascular miometrial é
muito definida, as arteríolas são de forma helicoidal e
ocorrem circunferencialmente ao redor do corno
uterino,
M, Três dias e um quarto após o início do cio (pós-
estro). O folículo rompeu-se, liberando o óvulo, e o
desenvolvimento inicial de um corpo amarelo ou
corous luteum (CL) de crescimento muito rápido com
um rápido crescimento da vascularização pode ser ob-
servado. Graus de vascularização e crescimento, atin-
gidos em apenas 30 horas após a ovulação. Note o
tamanho e a natureza tortuosa da artéria útero-
ovariana e seus ramos. Isto é 'comparável ao plexo
pampiniforme do macho.
A ilustração continua na página seguinte.)
II
\
\
,
,
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http://slidepdf.com/reader/full/sisson-anatomia-veterinaria-cap01 11/17
Figura 1-5.Área útero-ovariana direita de uma vaca,
vista dorsoventral Continuação),
C, Nove dias e meio após a vinda do cio (iníciodo
diestro). Área retangular aumentada da Fig. 1-4,
Note o tamanho e o número de vasossangüíneos para
o corpo lúteo e dentro dele (CL),O corpo lúteo atin-
giu seu tamanho máximo e doravante tornar-se-á me-
lhor organizado e gradativamente regridirá, até não
mais existir formação de novos folículos. Um método
de superar a ausência de cio ou a~estro é a extirpa-
çãomanual do corpo lúteo através do reto. Éperigoso
extirpar um corpo amarelo ou corpo lúteo neste
estágio do ciclo, por causa de uma possível hemorra-
gia fatal. Deve-seesperar até que o corpo lúteo mostre
sinais de organização e regressão e/ou até que haja
certeza de que o animal não está grávida. A extirpa-
ção manual do corpo lúteo antes do sétimo mês de
gravidez normalmente resulta em aborto.
D, Dezesseis dias e um quarto após o início do cio
(diestro tardio). A artéria útero-ovariana e seus ramos
são de tamanho menor, menos tortuosos e de menor
número, apesar da aparente persistência do supri-
mento sangüíneo do corpo lúteo (CL). Entretanto, o
corpo lúteo está mostrando sinais de organização e
regressão. Algumas arteríolas e capilares foram subs-
tituídos por fibroblastos, o que é evidenciado pela
maior radiodensidade do corpo amarelo , Como o
corpo lúteo regride, ele perde seu poder de evitar
novo desenvolvimento folicular; assim, agora não há
necessidade de extirpá-Io manualmente para iniciar o
cio ou estro .
A ilustração continua na página seguinte.)
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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INTRODUÇÃO GERAL
Figura 1-5. Área útero-ovariana direita de uma
vaca. Vista dorsoventral Continuação).
E, Oito horas após o início do proestro. Note a
redução pronunciada no tamanho do corpo
lúteo,
do cicloanterior. Também há uma redução notável
no tamanho, tortuosidade e número de ramos da
artéria útero-ovariana. Este corpo lúteo perdeu o
seu poder inibitório, pois um folículo de Graaf es-
tava presente no ovário esquerdo e a hemodinâmica
estava mudando para a área útera-ovariana es-
querda. O corpo lúteo acima continuará a regredir.
Seus vasos sangüíneos serão substituídos por fibro-
blastose, eventualmente, só haverá presença de te-
cido de cicatrizaçãobranco. Todo o tecido luteínico
terá sido removido e a estrutura agora será conhe-
cida como corpo branco ou
corpus albicans.
13
anatomia percebem que os exames de raios X do
sistema esquelético atualmente representam cerca
de 50 por cento dos casos em pequenos animais e
cerca de 95 por cento dos casos em grandes animais,
apresentados na radiologia clínica. Exames esquelé-
ticosem cães sãoos procedimentos costumeiros para
diagnosticar doenças ortopédicas, tais como a displa-
sia do cotovelo ou do quadril, pan-osteíte eosinofí-
lica, osteocondrite dissecante e as fraturas mais co-
muns. Exames de cavalos claudicantes incluem, ro-
tineiramente, as radiografias dos dedos e membros
em particular. A extensão da podridão dos cascos
no gado é mais facilmente determinada através de
uma ou duas radiografias. Para se interpretar ade-
quadamente estes males ortopédicos, primeira-
mente é necessário conhecer a aparência de um osso
normal e como ele vai aparecer em uma boa radio-
grafia. Visõesoblíquas de um osso, ou visõesem que
os pequenos ossos cárpicos ou társicos estão supeF-
postos são de interpretação muito difícil, a menos
que tenhamos desenvolvido nosso olho de raios X ,
estudado a morfologia distinta de cada um dos pe-
quenos ossos, e depois ser capaz de visualizá-los,
mentalmente, em sua perspectiva apropriada.
Muitas doenças de desenvolvimento envolvem o
esqueleto, de uma maneira ou de outra. Portanto, é
imperativo que o aluno aprenda os conceitos básicos
da formação dos ossos (osteogênese), e entenda por
que os ossos possuem a capacidade de se remodelar
para suportarem determinadas tensões neles exer-
cidas.
As articulações são absolutamente essenciaispara
a locomoção. A aparência radiográfica de uma arti-
culação é quase tão impressionante quanto a de um
osso. O denominado espaço articular inclui todas
as estruturas entre as placas de osso subcondral de
dois ossosadjacentes. Elas são a cartilagem articular,
a sinóvia, a gordura intracapsular, os ligamentos e
meniscos, em determinadas articulações, que o
aluno de anatomia tem obrigação de aprender.
Determinadas variações ósseas no esqueleto são
devidas a mudanças evolutivas. Um dos esqueletos
mais simples para se começar a estudar é o das espé-
cies de um único dedo (solípedes) (Fig. 15-22). É
muito mais fácil de se estudar o dedo simples e
maior do cavaloe extrapolar-se para as espéciescom
vários dedos, do que começar comas espécies meno-
res e com vários dedos, em especial, radiografica-
mente. No feto eqüino observado na Fig. 15-22, no-
tamos os grandes espaços, radioluscentes, entre os
ossos longos, as vértebras, e os ossos da pelve. Pelo
que foi dito até agora, você explicaria a razão por
que estas extensas áreas radioluscentes do feto não
podem ser demonstradas no adulto da mesma espé-
cie? Tenha certeza de que você sabe sua anatomia.
Ela é a base sobre a qual todas as demais disciplinas
médicas veterinárias são construídas. Ela é a base da
medicina veterinária, sua vocação escolhida.
Para você, o aluno: Estude anatomia de todas as
diferentes maneiras que você puder pensar além da
memorização, de modo que sob circunstâncias nor-
mais, bem como nas crises de vida ou morte você
possa imaginar um quadro preciso daquela parte do
corpo que lhe é solicitado tratar, mecânicaou quimi-
camente, por causa de doença.
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http://slidepdf.com/reader/full/sisson-anatomia-veterinaria-cap01 13/17
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VARIAÇÃO ANATÔMICA
L.
A. DiDio
A anatomia é a ciência que lida com a estrutura
dos organismos. Para fins de ensino, a anatomia
grosseira pode ser limitada ao estudo a olho nu, au-
xiliado pela dissecção, da arquitetura (estrutura ma-
croscópica) dos animais adultos normais (ou plan-
tas). Um estudo abrangente da anatomia inclui um
conjunto de várias ciências relacionadas, e é feito sob
o nome genérico de morfologia, o estudo da forma.
A estrutura e a arquitetura ou características mor-
fológicas dos animais não são uniformes, e portanto,
não podem ser padronizadas. Por exemplo, há mui-
tas diferenças na pele das mesmas espécies. Mesmo
no indivíduo, existem diferenças entre órgãos bila-
terais (ossos, músculos, articulações, víscera, vasos,
nervos). É um ditado anatômico que as variações são
os resultados mais constantes . Entretanto, é possí-
vel estabelecer um padrão médio ou normal para
qualquer grupo principal de animais, e reconhecer
os desvios do padrão.
Em cada grupo principal de organismos há um
plano geral de organização. As variaçôes nos deta-
lhes do plano geral são as características da espécie;
além do mais, é possível um plano constitucional
através do qual um indivíduo pode ser separado de
outro.
O plano geral de construção baseia-se em princí-
pios morfológicos: (1) zigomorfismo; (2) metarne-
rismo; (3) tubulação; e (4)
estratificação.
1. De acordo com o princípio de zigomorfismo,
cada animal pode ser dividido em metades direita e
esquerda ou antímeros (partes ou pares opostos). A
simetria bilateral grosseira não subsiste após ~m es-
tudo preciso e detalhado (Culdberg, 1897). Orgãos
pares ou homotípicos (dois órgãos, sendo um em
cada lado do corpo), tanto superficiais (olhos, ore-
lhas, tetas) como profundos (ovários, testículos,
rins), apresentam ligeiras diferenças de tamanho,
localização e relações. Os órgãos ímpares (estrutura
mediana unilateral ou única) também contribuem
para esta assimetria; fígado no lado direito, baço no
esquerdo e o coração predominantemente desviado
para a esquerda. A esta assimetria morfológica bila-
teral deve ser acrescida uma assimetria funcional
(predominância do uso de um lado ou do outro:
indivíduos direitos ou canhotos; a ovulação nos bo-
vinos ocorre mais freqüentemente no ovário di-
reito). Variações unilaterais são duas vezes mais fre-
qüentes do que nas estruturas bilateralmente simé-
tricas.
2. O princípio de metamerisrno dirige a homolo-
gia seriada (segmentar); isto é, os órgãos ou estrutu-
ras dispostos de acordo com uma série linear longi-
tudinal. Estas estruturas (por exemplo, vértebras,
costelas, membros torácicos e pélvicos) são denomi-
nadas homodinâmicas; elas são encontradas em uma
sucessão craniocaudal de segmentos semelhantes do
corpo. Nesta disposição, um tipo de polaridade
(presença de pólos) pode ser reconhecido; no pólo
cranial, encontra-se uma concentração do sistema
nervoso, enquanto que em certos animais, como no
homem, o pólo oposto ou caudal é rudimentar. O
metamerismo é melhor visto em embriões e torna-se
menos evidente nos adultos; ele pode ser traçado
principalmente no esqueleto, músculo, vasos e no
sistema nervoso.
O plano metamérico envolve o mesoderma dorsal
(somitos) e é reconhecível no tronco e no pescoço.
Na cabeça, o mesoderma ventral determina a dispo-
sição de estruturas tais como os arcos branquiais
(branquiomerismo). Na região faríngea, cinco arcos
branquiais podem ser encontrados. Eles são assim
denominados porque correspondern aos arcos que
sustentam as brânquias (guelras) dos peixes.
3. O princípio de tubulação determina a pre-
sença de um tubo dorsal e ventral no corpo dos ver-
tebrados. Do eixo de apoio do corpo, a coluna verte-
bral, arcos ósseos são emitidos em ambos os lados
para formar um tubo estreito dorsal ou neural e um
grande.tubo ventral ou visceral. O primeiro contém
o sistema nervoso e estruturas relacionadas, e o úl-
timo contém parte das vísceras. Estes dois tubos
estão circundados por um outro composto de pele e
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
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INTRODUÇÃO GERAL
músculos. Sabe-se que muitas vísceras e vasos, por
sua vez, são tubos cilíndricos.
4. O princípio de estratificação governa a dispo-
sição dos órgãos e suas partes em camadas (ecto-
derma mesoderma e endoderma) que são formadas
nos primeiros estágios de desenvolvimento.
No adulto, a pele tegumento comum) é formada
por uma camada externa de epidern;e. composta de
diversas camadas ou estratos côrneo, lúcido, granuloso,
espinhoso e basal}, seguida de uma camada m~is pro-
funda de cório (derme) e pela camada mais pr<.>-
funda a tela subcutânea (com a túnica areolar,
fáscia
superficial e túnica lamelar). ~rofundan;ente à tela
subcutânea, a fáscia muscular Circunda musculos dis-
postos em camadas. Na .maioria, os músculos
originam-se, inserem-se, Clrcund~m, ou f~rmam
camadas entre ossos (músculos Intercostais). Os
ossos estão cobertos por uma camada de periósteo, e
são formados por uma substância externa compacta:,
dentro da gual há uma
substânc~ esponjosa
e em mui-
tos, uma parte central não calcificada, a caoidade m~-
dular. Os ossos também podem formar comparti-
mentos (por exemplo, o crânio) ou grades (por
exemplo, o tórax) e eler;protegem, respectIv,amente,
os órgãos do sistema nervoso central e a~ vlsce:as.
Nos vasos, três camadas são reconhecidas: tunua
externa, túnica média e túnica íntima. Na maioria das
vísceras, paredes semelhantes são denominadas tú-
nica serosa túnica muscular e túnica mucosa. Por sua
vez cada urna destas túnicas é formada por subdi-
visÕes de camadas denominadas membranas.
É evidente que o estudo da anatomia ~e r~stringe
a determinados padrões inerentes aos animais, e que
devem ser esperados desvios desses padrões, tanto
quantitativos como qualitativos. .
Na anatomia comparada, a palavra homologia
refere-se a estruturas idênticas, que possuem a
mesma origem e localização em animais diferentes
(membros torácicos de um cavalo e asas de uma ave).
O termo analogia indica apenas identidade de fun-
ção (asas de insetos; pulmões de aves e guelras de
peixes). Órgãos homólogos não possuem nec.e~sa-
riamente a mesma função. Estes conceitos auxiliam
na compreensão das variações e de seu significado
morfológico.
Normal, em medicina veterinária e humana, quer
dizer sadio. Em anatomia, pode apresentar conota-
ções diferentes:
(I)
pode ser a estrutura mais fre-
qüente (mais de 50 por cento) sob o po~to de
vista estatístico; (2) pode ser a estrutura mais ade-
quada para realizar atividades ótimas, sob_as ~xi~ên-
cias fisiológicas. Estrutura e função estao mtima-
mente inter-relacionadas em todos os níveis, desde o
macroscópico até o microscópico; assim, a forma é
a imagem plástica da função (Ruffini, 1929) .em
cada fase e em cada momento. Sob o ponto de vista
evolutivo, é difícil acreditar em uma estrutura per-
manente e sem função; e (3) pode ser a melhor
estrutura como um resultado da seleção natural, sob
o ponto de vista idealista.
Atualmente, o ponto de vista estatístico prevalece;
assim, mesmo sem recurso às porcentagens, o no r-
15
mal é a forma estrutural mais freqüente. Ela é o
ponto de partida para a identificação de variações,
anomalias e monstros.
Normal pode ser considerado como indicativo de
estrutura regular. Às vezes implica co.rreção porque
o anormal pode significar deformidade. MUitas
vezes não é encontrada uma clara linha divisória
entre a anatomia e a patologia para se estabelecer
distinção entre uma estrutura normal e outra anor-
mal (ou patológica).
Ligeiros desvios do r.adrão mOl,-Eol.?gi;on<;>rn;al
de um órgão são denominados varraçoes . O orgao
desviado é considerado como sendo apenas uma
va-
riante. O desvio pode ser um aumento no número
de partes (por exemplo, un: .músculo com u~ nú-
mero superior à média de feixes), uma reduçao ?e
partes, ou uma modificação de formato: Um~ dis-
tinção é normalmente feita entre a modificação de
forma (normal) e a alteração de forma (patológica).
Órgãos rudimentares em um animal são os que
possuem um desenvolvimento melhor ou ~on;pleto
em outra espécie. Eles às vezes podem atingrr de-
senvolvimento completo nos primeiros estágios do
animal, e depois tornar-se hipertrofiados ou atro-
fiados.
A variabilidade dentro dos limites das espécies é a
regra. Por exemplo, há uma espécie Homo sapiens
(não um homem ideal, mas simplesmente ho-
mens), uma espécie Canis familiaris (não o cão e
sim cães ). Em outras palavras, a espécie não é fixa,
mas dentro de seus limites há uma variabilidade de
suas características. Naturalmente ocorrem muta-
ções nos genes que, por sua vez, produzem modifi-
cações nas estruturas controladas por aqueles genes.
O nível 'da observação influencia a identificação
das variações. Tanto mais próxima seja a observa-
ção, tanto mais eficaz será o reconhecimento de di-
ferenças, e, conseqüentemente, variações.
Variações podem ser encontradas nos desvios de:
(1) holotopia, a relação entre o órgão e o corpo como
um todo; (2) sintopia, a relação da estrutura e seus
órgãos adjacentes imediatos; (3) i~:liotopi~, a relação
das partes de um órgão entre
SI;
(4) histotopia, a
relação das camadas, túnicas ou tecidos de um órgão
entre si (Pernkopf, 1953).
As estruturas normais são relativamente constan-
tes. Às vezes a estrutura apresenta disposições dife-
rentes com porcentagens iguais de ocorrência, cau-
sando, destarte, dificuldade na designação do pa-
drão típico. Por exemplo, nos caninos, a veia mesen-
térica caudal sempre conduz para a veia mesentérica
cranial (100 por cento), mas ela é uma tributária
independente (50 por cento
±
9,1) ou é formada
pelo recebimento da veia ileocecocólica (50 por cento
±
9,1) (Oliveira, 1956). Quando uma estrutura apa-
rece em apenas 1 a 2 por cento da população, ela é
-Ienominada
raridade.
Por esses critérios, os vasos sangüíneos e linfáticos
são mais variáveis do que os nervos, músculos, ossos
ou ligamentos.
*Desta forma, variação normal é redundância.
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16
Um grave desvio do padrão normal, acompa-
nhado pela alteração ou depreciação da função, é
denominado anomalia; por exemplo, o lábio lepo-
rino, o palato fendido ou a costela cervical no ho-
mem.
Uma anomalia grave, incompatível com a vida, é
denominada monstruosidade, um monstro. Tais
mal formações são tratadas na teratologia. O pro-
gresso na medicina, principalmente na cirurgia,
tornou possível a sobrevivência de crianças nascidas
com anomalias, que de outra forma deveriam ter
sido consideradas como monstruosidades. Por outro
lado, alguns medicamentos administrados durante a
gestação causaram o aparecimento de malformações
nos recém-nascidos.
A
planta
Veratrum californicum,
comumente denominada heléboro falsa induz a
uma malformação congênita .do tipo ciclópia, nos
carneiros, quando ingerida pela ovelha no início da
gestação (Binns et aI., 1963; 1964).
Além das chamadas variações individuais exis-
tem fatores gerais de variação, a saber: (1) idade;
(2) sexo; (3) raça; (4) biótipo; (5) evolução; e (6) meio
ambiente.
Estes-fatores
são responsáveis pelo apare-
cimento de variações em todos os sistemas do corpo.
1. Idade. Além das bem conhecidas diferenças de
tamanho entre os animais recém-nascidos e adultos,
que podem resultar na idéia errônea de que o
recém-nascido é me rarnefite uma miniatura do
adulto, existem variações particulares microscópicas
e macroscópicas devidas à idade. (O timo cresce até a
maturidade sexual, e depois torna-se um órgão atro-
fiado em período relativamente curto, de acordo
com a espécie.) Até que se conheçam especifica-
mente as mudanças que ocorrem do nascimento até
a senilidade, não se pode apreciar o chamado nor-
mal (Getty e Ellenport, 1974). Algumas variações
dependentes da idade do indivíduo são bem conhe-
cidas: (a) abrasão, modificação do formato dá coroa
do incissivo nos eqüinos, bovinos e carnívoros; (b)
presença de números maiores de anéis nos cornos
dos bovinos velhos; (c) pêlos brancos na cabeça dos
eqüinos
idosos; (d) afilamento da borda rostral da
mandíbula dos eqüinos idosos; (e) perda da elastici-
dade cutânea, principalmente nos caninos e bovinos
idosos; (f) redução da bolsa cloacal na ave adulta; (g)
redução no tamanho do seio para-anal nos caninos
adultos ete.
2. Sexo. O dimorfismo sexual é facilmente reco-
nhecível em todas as espécies de animais domésticos.
Caracteres e diferenças sexuais secundárias, em
muitos órgãos estão presentes, além daquelas do sis-
tema genital. Por exemplo, a pelve óssea da fêmea
adulta é bastante diferente daquela do macho. Os
dentes caninos são bem desenvolvidos no eqüinos;
eles normalmente deixam de irromper nas éguas e,
quando presentes, são vestigiais (3 a 4 por cento das
éguas possuem caninos maxilar e mandibular, 20 a
30 por cento possuem apenas caninos mandibulares,
e 6 a 7 por cento possuem apenas caninos maxila-
res). Outras variações sexuais são: (a) o tubérculo
púbico dorsal é bem desenvolvido nos machos, prin-
cipalmente nos bovinos, e subdesenvolvido nas fê-
GERAL
me as e machos castrados; (b) a plumagem das aves é
mais longa e mais rica, no colorido, nos machos do
que nas fêmeas; (c) a altura das fêmeas (principal-
mente nas peruas e galinhas) é menor do que a dos
machos; (d) a crista e a barbeia são menores nas
fêmeas do que nos machos; (e) uma espora está pre-
sente nos machos
Gallus gallus domesticus).
3. Raça. Do ponto de vista genético uma raça de
animais pode ser considerada como uma população
que difere significativamente de outras populações
com relação à freqüência de um ou mais dos genes
que possui (Villee et aI., 1963). De acordo com os
mesmos autores, a raça pode ser definida fenotipi-
camente como uma população cujos membros, em-
bora variando individualmente, são distinguidos
como um grupo por uma determinada combinação
de características morfológicas e fisiológicas que
partilham por causa de sua descendência comum .
Pode-se colecionar milhares de animais da mesma
espécie, embora se ignore seu relacionamento; al-
guns podem ser ou não parentes próximos ou dis-
tantes, outros poderão não ter nenhuma ligação por
parentesco. A curva de variação para a altura de
uma tal população da espécie Canis [amiliaris não
pode ser válida para cada uma das numerosas raças
incluídas. Há muito tempo foi reconhecido que as
espécies de Linnaeus compreendiam vários grupos
diferentes de unidades secundárias - as raças ou
espécies elementares (Guyénot, 1950). Natu ral-
mente, as diferenças entre esses grupos são atribuí-
das ao fator racial de variação. De modo que, em
cada espécie, é possível utilizar várias características
por todo o corpo para se identificar determinadas
linhagens de animais ou raças do homem. Exem-
plos de variações de raça são: (a) a barbeia existente
no Bos indicus e ausente ou rudimentar em Bos tau-
rus;
(b) a prega prepucial umbilical presente em
Bos
indicus e fracamente desenvolvida em Bos taurus; (c)
a corcova presente em Bos indicus e ausente no Bos
taurus; (d) a prega prepucial longa e pendular em
Bos indicus e a curta e não pendular emBos taurus; (e)
a ausência de corno em três raças de
Bos taurus
(an-
gus mocho, Hereford mocho, shorthorn mocho); (f)
a direção dos chifres: vertical em Bos indicus (Ne-
lore), para cima e do tipo lira no Guzerá, para baixo,
para fora e para trás no Gir; a aurícula (do ouvido
externo) é pequena, móvel, longa e pendente emBos
indicus, exceto no Nelore, que apresenta uma curta e
móvel semelhante a (maioria) Bos taurus; (h) a aurí-
cula (do ouvido externo), os ossos da face, o número
de vértebras, a cor e a disposição do pêlo são dife-
rentes em
três
raças de porcos; (i) o delineamento
dorsal, a forma e o perfil do esqueleto da cabeça, a
altura, o comprimento e o peso· nas raças de eqüi-
nos; a cabeça
(dolicocéfala
no Colie e no cão de
caça russo; mesocéfala no setter;
braquiocéfala
nos
Boston terrier e no Pequinês), a altura (membros
longos no greyhound; membros curtos no basset e
no dachshund), a linha dorsal, o delineamento do
corpo, a aurícula (da orelha externa) diferem nas
raças de caninos.
8/9/2019 Sisson, Anatomia veterinária - Cap01
http://slidepdf.com/reader/full/sisson-anatomia-veterinaria-cap01 16/17
INTRODUÇÃO GERAL
4. Biótipo. A anatomia constitucional está rela-
cionada com os atributos físicos do corpo. Isto per-
tence especialmente às proporções de suas partes,
conforme exemplificado pelo baixo, alto, gordo ou
magro. Em outras palavras, pertence a seu biótipo
ou constituição.*
O biótipo, em sua conotação geral, refere-se às
características pertinentes morfológicas, bioquími-
cas, fisiológicas, psicológicas e patológicas (incluindo
a psiquiátrica) e às tendências do indivíduo. Ela
sobrepõe-se ao padrão biológico da personalidade
além de determinar características tais como saúde e
longevidade.
A construção física do corpo humano é determi-
nada pela hereditariedade e influenciada pelo meio
ambiente. A anatomia constitucional trata apenas
das características morfológicas do biótipo.
Usando-se um método de biornetria, três grupos
principais podem ser identificados entre os muitos
de transição em toda raça e em ambos os sexos: lon-
gitipo, braquitipo e mediotipo. As diferenças entre o
mesmo órgão nos tipos extremos - longitipo e bra-
quitipo - são mais notáveis do que as demonstradas
pelas raças e sexo.
5. Evolução. Num processo evolutivo muito
longo, a espécie Homo sapiens aumentou de altura,
enquanto sua constituição tornou-se menos maciça
(Villee et al., 1963). Sua capacidade cranial também
aumentou, os ressaltas ósseos acima das aberturas
orbitárias diminuíram, sua cabeça tornou-se orto-
metópica (tendência para uma fronte vertical, mais
pronunciada nas mulheres). Os cavalos são um bom
exemplo de ortogênese, isto é, evolução de linha
reta: do Eohippus ou vr ac oth eriuni (pequenos ani-
mais primitivos, que viveram no período Eoceno)
mudanças ocorreram no tamanho e forma, docu-
mentadas principalmente por esqueletos e dentes
fósseis, através do Oligoceno Miohippus), Mioceno
Merychippus), Plioceno Pliobip p us) até o
Pleistoceno Recente Equus).
6. Meio Ambiente. O desenvolvimento de carac-
teres econômicos (rendimento de leite, conformação
da carne) depende do meio ambiente (suprirrlento
alimentar ete.) em que o animal é criado e mantido
(Hammond, 1947). Uma melhoria na forma e qua-
=Constituíção (do latim cum e statuere ) implica a idéia de corre-
lação entre determinadas proporções das partes do corpo.
lidades dos carneiros Welsh para consumo foi con-
seguida através de melhores pastagens e de cruza-
mentos seletivos.
Variabilidade e Seleção. A seleção e o cruza-
mento de animais que mostram variabilidade em
qualquer estrutura parece aumentar a variação
(Hammond, 1952). Por exemplo, o cruzamento de
carneiros que ocasionalmente possuem quatro tetas
(ao invés de apenas duas) levou a uma raça com seis
tetas (Bell e Bell, 1923). Cruzando-se animais que
exibem um número de vértebras e costelas maior do
que nas linhagens normais, podem ser obtidos cor-
pos mais longos.
Variações Específicas: Estas são características
morfológicas de determinadas espécies, conforme
segue: (a) divertículo suburetral da vaca (não encon-
trado nas éguas, cadelas e porcas); (b) divertículo
prepucial do porco; (c) fossa uretral do cavalo; (d)
ausência da vesícula biliar no cavalo; (e) presença da
bolsa gutural no cavalo; (I) ausência de incisivos ma-
xilares nos ruminantes; (g) presença do osso do
pênis no cão; (h) ossificação da cartilagem do septo
interatrial nos bovinos velhos; (i) presença de fibras
musculares no ligamento sesamóide proxirnal do
bovino jóvem;
ossificação da esclera das aves
adultas; (k) membrana nictitante, ou terceira pál-
pebra, integralmente desenvolvida nos coelhos e
aves, parcialmente desenvolvidas no cavalo, menos
desenvolvida no bovino, e rudimentar nos cães e no
homem.
Em termos amplos, de acordo com Guyénot
(1950), há dois tipos de variações: (1) somáticas ou
somações que aparecem no corpo ou soma dos
animais e não são hereditários; e (2)germinativas ou
mutações que ocorrem nas células germinativas e
são hereditárias. Estas podem causar o apareci-
~ento de novas formas e já interpretaram, e ainda
lllterpretam,. um papel na evolução em contraste
com as somações.
De acordo com Fischer (1952), as chamadas varia-
ções anatõmicas são devidas a pares isolados de
genes e não transmitidas isoladamente através da
hereditariedade. Entretanto, a variabilidade é
transmitida hereditariamente, dependendo de fato-
res polirnéricos do genoma geral. A conformação
individual das variações é suprida, em sua maioria,
pelo denominado risco do desenvolvimento (Fis-
cher).
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