GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
OAC: OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA: O ESTUDO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO: A IGREJA SÃO FRANCISCO
DE ASSIS DE CALIFÓRNIA.
CALIFÓRNIA, PARANÁ
2008
SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
OAC: OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA: O ESTUDO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO: A IGREJA SÃO
FRANCISCO DE ASSIS DE CALIFÓRNIA.
MATERIAL DIDÁTICO DO PDE: OAC – Objeto de
Aprendizagem Colaborativa, apresentado à Universidade
Estadual de Londrina, como requisito para aprovação no
Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria
de Estado da Educação – Paraná, sob a orientação do
Professor Alberto Gawryszewski.
CALIFÓRNIA, PARANÁ
2008
MATERIAL DIDÁTICO DO PDE
OAC – OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA
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SUMÁRIO
1º - RECURSO DE EXPRESSÃO: ................................................................. 5 1.1 Problematização do Conteúdo: ........................................................... 5
2º - RECURSO DE INVESTIGAÇÃO: ......................................................... 10 2.1 Investigação Disciplinar ................................................................... 10 2.2 Perspectiva Interdisciplinar: ............................................................ 24 2.3 Contextualização: ............................................................................. 32
3º - RECURSOS DIDÁTICOS: .................................................................... 44 3.1 Sítios: ................................................................................................ 44 3.2 Sons: Áudio: ...................................................................................... 45 3.3 Proposta de Atividade: ..................................................................... 45 3.4 Imagens: ........................................................................................... 49
4º - RECURSO DE INFORMAÇÃO: ........................................................... 58 4.1 Sugestão de Leitura: ........................................................................ 58 4.2 Notícias: ........................................................................................... 59 4.3 Destaques: ........................................................................................ 60 4.4 Paraná: ............................................................................................. 61
3
MATERIAL DIDÁTICO DO CURSO DO PDE
OAC: OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA
1 - Identificação:
a - Autor: Simone Suely Batista Ferensovicz
b - Estabelecimento: Colégio Estadual Talita Bresolin. Ensino
Fundamental e Médio.
c - Ensino: Fundamental
d - Disciplina: História
e - Conteúdo Estruturante: Dimensão Cultural: Produção do
conhecimento histórico.
f - Conteúdo Específico: Produção do conhecimento histórico.
• O historiador e a produção do conhecimento histórico
• Temporalidade: permanências, mudanças, simultaneidades.
• Fontes, documentos: patrimônio material e imaterial, fontes
escritas, orais e imagéticas.
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1º - RECURSO DE EXPRESSÃO:
1.1 Problematização do Conteúdo:
O estudo do patrimônio histórico, material e imaterial, como resgate da
memória local, na formação do município.
A - TÍTULO: O ESTUDO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO: A
IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE CALIFÓRNIA.
B - TEXTO:
Segundo as Diretrizes Curriculares para o ensino de História na
Educação Básica, busca-se suscitar reflexões a respeito de aspectos políticos,
econômicos, culturais, sociais, e das relações entre o ensino da disciplina com a
produção do conhecimento histórico.
Dentro dessas diretrizes, fala-se que ao tratar o conhecimento como
resultado de investigação do passado, valorizamos diferentes sujeitos e suas
relações, onde o professor poderá utilizar-se de novos métodos, fazendo recortes
temporais, com documentos variados, levando aos alunos a problematização em
relação ao passado, podendo reconhecer e superar o conceito de História como
verdade absoluta. (Diretrizes Curriculares para o Ensino de História a educação
básica, SEED, Curitiba, 2006, p.29).
Um desses objetivos do ensino de História, é contribuir para que o
educando conheça e valorize a história da sua localidade. E uma das formas de
se conhecer essa História é fazendo um estudo do patrimônio histórico e cultural
local. Sendo assim, os trabalhos a serem desenvolvidos estarão mais próximos
aos interesses dos mesmos.
Esse trabalho permitirá a recuperação de memórias coletivas e
individuais do próprio aluno, da sua família e da comunidade em que está
inserido, permitindo a construção da sua própria consciência histórica.
O estudo da História local pode produzir a inserção do aluno na
comunidade da qual faz parte, criando sua própria historicidade e identidade.
Ajuda a gerar atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno,
além de ajudá-lo a refletir sobre fatos e construção da realidade que o cerca.
5
Segundo as autoras, Schmidt e Cainelli, o trabalho com espaços
menores facilita o estabelecimento de continuidades e diferenças com as
evidências de mudanças, conflitos e permanências e permite a multiplicidade de
diferentes vozes de sujeitos históricos.
“O trabalho com a história local pode produzir a inserção do
aluno na comunidade da qual faz parte, criar suas próprias historicidade
e identidade”.
“O estudo com história local ajuda a gerar atitudes
investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de ajudá-lo a
refletir acerca do sentido da realidade social.” (SCHIMIDT, Maria
Auxiliadora e Marlene Cainelli: Ensinar História, Editora Scipione, São
Paulo, 2004, p.113).
Dentre as propostas de conteúdos a serem trabalhadas nas escolas,
inclui-se o trabalho com a História do Paraná. Para tanto, este trabalho que
retoma a memória do patrimônio histórico local, recupera a história da cidade e
das pessoas envolvidas na sua construção da Matriz São Francisco de Assis, de
tradições de seus pioneiros paulistas e mineiros, que até hoje se verificam nas
festas da igreja, da população que formou o município. O município está inserido
na ocupação do norte do estado, falando inclusive do seu planejamento pela
Companhia de Terras Norte do Paraná.
Neste trabalho, o objeto de estudo é a Igreja São Francisco de Assis, de
Califórnia, localizada num ponto central da cidade. Além de sua arquitetura, a
praça ao seu redor é ponto de convergência da população municipal em diversos
eventos culturais, religiosos e esportivos.
Na praça, além de festas do padroeiro, que são feitas em outubro,
foram feitas as festas municipais, com barracas de diversas entidades
assistenciais, escolas e grupos da comunidade, para arrecadar fundos para as
mesmas.
O local de construção dessa igreja foi planejado desde a planificação da
cidade pela Companhia de Terras Norte do Paraná, tendo depois sido removida
para outro espaço. Assim, através de fotos antigas e recentes, o estudo do
patrimônio histórico remete a história local, onde os alunos poderão perceber as
mudanças e permanências, diferenças e semelhanças desse espaço onde vivem.
6
Assim sendo, o presente trabalho se justifica por estar relacionado ao
cotidiano da comunidade. A Igreja São Francisco de Assis é um importante
patrimônio histórico e cultural do município e através do estudo do mesmo, da
sua história, da relevância de sua importância para as pessoas que têm suas
memórias coletivas e individuais relacionadas com este local, da busca e coleta
de fotos e documentos que a este patrimônio se referem, este estudo,
efetivamente, contribuirá para a História do Município de Califórnia.
A Igreja Matriz São Francisco de Assis, como patrimônio histórico
material, possui uma arquitetura com vários elementos de diferentes estilos.
Mas os que estão mais presentes são elementos que tem a influência dos estilos
góticos e o barroco. Sendo assim, uma descrição desses estilos proporcionará a
interdisciplinaridade com o estudo de Artes e permitirá a compreensão da
utilização de determinados elementos eclesiásticos presentes na igreja. Também
fará com que os alunos reconheçam a origem desses estilos, permitindo uma
relação temporal entre passado e presente.
Já, o estudo das festas de São Francisco, que ocorrem todos os anos, na
cidade, na época da comemoração do Dia do Padroeiro (04 de outubro) e a
tradição envolvida nelas, poderá ser trabalhado com os alunos, como patrimônio
imaterial, pois embora se mantenha em alguns aspectos, ao longo dos anos vem
se modificando e agregando formas contemporâneas de apresentação na
comunidade. Como exemplo, as músicas, os brinquedos e a decoração. Assim
percebemos também, permanências e mudanças nos costumes da população o
que vai além da própria edificação da igreja. Essas festas transmitem de uma
geração para outra, embora com pequenas diferenças, o conhecimento para
fazer os doces, como uma tradição culinária, que se traduzem numa identidade
local.
“...o patrimônio imaterial ou intangível, isto é, os aspectos da vida social e
cultural da população, que são expressos através de festas, religiões,
formas de medicina, música, dança, culinária, técnicas, etc.” ( ABREU,
Regina e Mário Chagas. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos.
Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2003, p.24).
É importante ressaltar que quando se fala em patrimônio artístico e
cultural, na maioria das situações, nos referimos as igrejas, casas, prédios,
objetos, etc. São mais evidentes de serem observados. Mas, e quanto ao
patrimônio intangível ou imaterial? A descrição de um objeto imaterial não
7
significa que não haverá mudanças ao longo dos tempos, pois não se pode dizer
que não haverá diferenças culinárias num prato típico e tampouco, que a
dedicação e doação do tempo pela comunidade para as festas, sempre será a
mesma. Ainda assim, sobre o aspecto da regularidade, podemos dizer que as
festas de São Francisco, já estão arraigadas nessa comunidade há 47 anos e
merecem o reconhecimento de sua tradição cultural.
O patrimônio imaterial retrata também a emoção e o sentimento
agregados à memória e à construção de uma obra arquitetônica. Para
exemplificar, podemos dizer que as festas de São Francisco, em Califórnia,
começaram com o objetivo de construir a atual matriz. Mas hoje, embora a
renda obtida seja revertida para a mesma, essas festas têm caráter tradicional.
Já são esperados pela população todos os anos, sendo que, o aspecto culinário da
produção de doces, é comentado com grandes expectativas por todos.
Outro fato para se observar, é o interesse de participação dos
responsáveis pela organização e trabalhos diversos para a festa. Descrevem
como um momento de doação, de alegria por pertencer a um grupo, “de
devolver à Deus um pouquinho do que receberam”.
Essa forma de relatar a participação no evento festivo também foi
descrito por José Reginaldo Santos Gonçalves, que ao estudar as festas do
Divino Espírito Santo entre imigrantes açorianos, relatou que para os devotos,
trata-se de uma relação de troca com a divindade. Segundo seus estudos:
“... certamente não há como preservar uma graça recebida, mas é
possível, sim, preservar por meio de registros e acompanhamento,
lugares, objetos, festas, conhecimentos culinários, etc.”. (ABREU, Regina
e Mário Chagas. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. DP&A
Editora, Rio de Janeiro, 2003, p.27).
Outro aspecto desse trabalho será a identificação e historicidade do
padroeiro. A sua história de vida, contada em livros, cantada em música e
poesia, poderá ser utilizada também pela disciplina de Português, aproveitando
um símbolo local para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares, com
Artes e História.
Este trabalho, que é uma das exigências do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional), da SEED, proporciona mais uma das etapas de
formação continuada de professores. Conta com a participação das IES, que se
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responsabilizam por organizar cursos e com orientadores, específicos de cada
área, no desenvolvimento das pesquisas.
C - REFERÊNCIAS
• Diretrizes Curriculares de História para a educação básica, SEED,
Curitiba, 2006.
• SCHIMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene: Pensamento e
Ação no Magistério. São Paulo: Scipione, 2004.
• ABREU, Regina e CHAGAS, Mário (orgs.): Memória e Patrimônio:
ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro, DP&A Editora, 2003.
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2º - RECURSO DE INVESTIGAÇÃO:
2.1 Investigação Disciplinar
A - TÍTULO: O ESTUDO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E HISTÓRICO: A
IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE CALIFÓRNIA.
B - TEXTO:
A palavra História pode ser traduzida como procurar saber, ¨informar-
se¨.Para Heródoto, a palavra tem o sentido de ¨investigação¨. Por isso, há uma
necessidade de constante atualização dos professores, para fazer uma
investigação histórica, muitas vezes regional ou local, para que repensemos
nossa prática em sala de aula e o nosso conhecimento sobre fatos e conteúdos
trabalhados com os alunos. Jacques Le Goff, em seu livro (História e Memória),
faz ainda outras observações sobre o sentido e origem da palavra história, ¨ver¨,
¨testemunhar¨ e o historiador pode ser entendido como ¨aquele que vê ¨ou
¨aquele que sabe¨. E sobre tudo, aquele que investiga.
O ensino de História é fundamental para a vida da pessoa. Não se trata
somente de dominar um conteúdo ou de transmiti-lo. Esse conhecimento faz com
que nos reconheçamos como pessoas pertencentes a um lugar, que tem uma
identidade e que embora se transforme, também terão elementos que se
perpetuarão. Então, registramos fatos. Por isso construímos monumentos. E
assim, formamos nossa consciência histórica. Definimos-nos a partir da herança
recebida e a partir dela nos identificamos.
O estudo do patrimônio histórico vem ao encontro aos interesses dos
alunos e está ligada a história local, fazendo que experiências individuais e
coletivas constituam a base de um conhecimento sólido, vinculados à vida
cotidiana.
Esse estudo recupera a concepção da história dos alunos, bem como
valoriza pontos de referência e faz com que percebam a importância do
patrimônio histórico, tanto social como cultural, para a comunidade em que
estão inseridos.
Quando nos referimos à patrimônio histórico, não podemos deixar de
observar que ele faz parte do patrimônio cultural como um todo. No livro de
10
Carlos Lemos, ele cita Hugues deVarine-Bohan, que divide o patrimônio cultural
em três grandes categorias:
“... 1ª.: referente ao meio ambiente, como rios, fauna, flora, solo.; 2ª.:
refere-se ao conhecimento, as técnicas, ao saber e ao saber fazer. São
elementos não-tangíveis, como a capacidade de sobrevivência no meio
ambiente; 3ª.: são os chamados bens culturais, desde artefatos à
construções.”( LEMOS, Carlos. O que é Patrimônio Histórico.Editora
Brasiliense. São Paulo, 1981, p.08 e09).
Referente a essa terceira categoria, nós percebemos que as
construções estão constantemente sendo modificadas ao ritmo de evolução das
cidades. Então, se pergunta: por que preservar? Dentre o conjunto de opções,
estão o defender, conservar, valorizar. Assim, se concretiza um ditado antigo
que diz que: “preservamos o que amamos, amamos o que valorizamos e
valorizamos o que conhecemos.”
O Patrimônio Histórico e a preservação de monumentos, onde esse
conhecimento se retrata, sempre foi uma necessidade humana. Mas, a partir do
século XIX, e ainda mais no século XX, é que surgiram leis que determinavam a
sua preservação, caracterizando e dimensionando o que era patrimônio
histórico.
A França foi a primeira a criar , em 1837, uma Comissão de
Monumento Histórico, que classificava monumentos da Antiguidade: igrejas,
castelos e outros prédios da Idade Média, como patrimônios históricos. Também
é da França, a primeira lei sobre Monumento Histórico, criada em l913,
concentrada nos conjuntos arquitetônicos de vista histórica.
“Quando criou-se na França, a Primeira Comissão dos Monumentos
Históricos, em 1837, as três grandes categorias de monumentos
históricos eram constituídas pelos remanescentes da Antiguidade, os
edifícios religiosos da Idade Média e alguns castelos.”(CHOAY, Françoise.
A alegoria do patrimônio.Editora Estação Liberdade, São Paulo ,2006,
p.12).
Em 1931, a Carta de Atenas, preocupou-se com o avanço da tecnologia,
do crescimento das cidades, que poderiam prejudicar a preservação de locais
históricos. Nesse encontro, procurou-se fortalecer as ações de preservação de
monumento arquitetônicas em conjunto com o planejamento urbano das cidades.
11
“A Carta de Atenas, redigida pelo Escritório Internacional dos Museus da
Sociedade das Nações Unidas, em outubro de 1931, foi um documento
que definiu os critérios (...) voltados à orientação do crescimento das
cidades e ao avanço da tecnologia (...).” (KERSTEN, Márcia Scholz de
Andrade. Os Rituais do Tombamento e a Escrita da História. Editora da
UFPR, Curitiba, 2000, p.78).
Principalmente na Europa, nos séculos XIX e XX, é que o Estado tomou
para si, a obrigação de produzir leis de conservação e restauração de
monumentos e objetos históricos. A exemplo disso, A Carta de Veneza, de 1964,
propõe a restauração e preservação de monumentos edificados para além da
categoria de grandes construções civis ou edifícios religiosos. Além disso,
também organiza a metodologia para o estudo e o acervo da pesquisa nesses
locais.
“Foi justamente para evitar esse fabrico de bens artificiais que pretendem
substituir bens culturais próprios de outras épocas e de outras
tecnologias, para evitar outros abusos e, também para tentar normalizar
em todo o mundo os procedimentos preservadores que se reuniu, em
maio de 1964, em Veneza, o Congresso Internacional de Arquitetos e
técnicos em Monumentos Históricos.” ( LEMOS, Carlos. O que é
patrimônio Histórico. Editora Brasiliense, São Paulo, 1981, p.74).
PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL
Patrimônio Material: são os artefatos e construções feitos pelo
homem. Podem ser objetos variados, como utensílios domésticos, de caça,
vestuário, enfeites e adornos pessoais, prédios, igrejas, templos, casas, sítios
arqueológicos, etc.
Patrimônio Imaterial: está mais ligado ao campo das idéias, ao modo
de vida e organização social, como festas e celebrações, as expressões
diferenciadas, os modos de fazer enraizado no cotidiano das comunidades, os
lugares onde se concentram e reproduzem as práticas coletivas que são práticas
culturais, onde se possam atribuir valor e significado aos grupos. Essas práticas
também estão relacionadas à territorialidade, num determinado espaço e tempo.
12
“A preservação de um patrimônio imaterial pode ser pensada como tal a
partir da percepção dessa imaterialidade concernente a todo patrimônio e,
principalmente, em razão da ampliação da noção de patrimônio de modo
em geral. Retoma-se aqui a afirmativa feita inicialmente da noção de
patrimônio – como construção do homem a partir de suas práticas sociais e
representações culturais. O que há de novo na noção de patrimônio
imaterial – historicamente determinada – é o fato de se atribuir valor às
práticas culturais, até então investigadas e observadas por outras
disciplinas e outros saberes.”
“O Decreto Presidencial n. 3551, de 04 de agosto de 2000, institui o
Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem o
patrimônio cultural brasileiro” (Minas Gerais: Secretaria de Estado da
Educação. Reflexões e contribuições para a Educação Patrimonial, 2002).
Este questionamento sobre o que seria patrimônio material e imaterial,
vem do fato que ao pesquisar sobre a importância da Igreja São Francisco de
Assis para o município de Califórnia, sua história e construção, serão também
abordadas as festas da igreja, chamadas de Festas de São Francisco.
As leis sobre o patrimônio histórico no Brasil, foram decretadas pelo
Presidente Getúlio Vargas, em l937, através do Decreto n. 25, que se refere ao
patrimônio histórico, seu tombamento e preservação. A concretização desse
decreto se deve aos esforços de intelectuais mineiros e paulistas, inclusive Mário
de Andrade, que procuraram resgatar e valorizar a cultura nacional. Nessa
época foi criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Hoje, o órgão responsável pelo patrimônio cultural e histórico brasileiro e o
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O Estado Novo de Vargas interferiu na produção cultural do país.
Procurou construir uma identidade nacional, apoiando algumas manifestações e
proibindo e censurando outras.
“ O Estado Novo, dominado pela alta burocracia civil e militar
comprometida com a modernização conservadora, legislou de forma
agressiva e centralizadora, priorizando as discussões em torno da
nacionalidade. Sua ação teve por objetivo erigir símbolos que
identificassem a unidade da naca, dando-lhe visibilidade e, ao mesmo
tempo, ocultando as diferenças e conflitos.(...).
O Estado interferiu diretamente na produção cultural, proibindo e
censurado o que considerava impróprio à construção da imagem do país,
ao mesmo tempo em que encampou manifestações espontâneas como o
13
carnaval. Oficializou os desfiles e estimulou Escolas de Samba a
desenvolverem enredos que exaltassem a grandeza nacional(...).”
(KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os Rituais do Tombamento e a
Escrita da História. Editora da UFPR, Curitiba, 2000, p.83).
O SPHAN passou a tombar edificações dos séculos XVI, XVII e XVIII, e
obras do Aleijadinho e do Barroco.
Resgatava-se um momento da história que se considerava importante
para a imagem da cultura e identidade nacional, priorizando-se assim lugares
em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
“(...) O Rio de Janeiro, marco da consolidação do domínio português,
tornou-se no século XVIII, a mais importante cidade do Brasil, quando seu
desenho urbano foi emoldurado pelo estilo colonial .(...) O Estado de
Minas, pólo dinâmico da economia no século XVIII, considerado berço da
Inconfidência Mineira, foi transformado em centro irradiador de cultura e
catalisador das expressões estéticas. As cidades históricas de Minas
Gerais foram definidas como registros da nacionalidade, encontrados nos
lugares e momentos de luta pela Independência.” (KERSTEN, Márcia
Scholz de Andrade. Os rituais do Tombamento e a Escrita da
História.Editora da UFPR, Curitiba,2000, p.85.).
Priorizaram-se a preservação de patrimônios culturais materiais, com o
apoio legal do Decreto Lei nº. 25/1937, com o qual os integrantes do SPHAN,
procuram promover o tombamento de obras arquitetônicas.
(http://www.solei.adv.br).
Durante o período militar, a repressão e a censura contra à sociedade e
à cultura foram marcantes. Mas, apesar disso, algumas medidas importantes
foram tomadas, como as leis de preservação do patrimônio natural.
“A legislação em defesa do patrimônio natural definiu a criação de leis
que regulamentaram o patrimônio natural, influenciadas pelas lutas
internacionais em defesa do meio ambiente, que viriam a ter seu auge no
Brasil nos anos 80. A aprovação da Lei dos Sambaquis, que regulamentou
os achados arqueológicos e pré-históricos; o estabelecimento do Código
Florestal e da Lei de Proteção à Fauna, foram propostas embutidas no
discurso nacionalista de parte das forças armadas brasileiras, que
detinham o poder político com mão de ferro.” (KERSTEN, Márcia Scholz
de Andrade. Os Rituais de Tombamento e a Escrita da História. Editora
da UFPR, Curitiba, 2000, p.94).
14
Márcia Scholz de Andrade Kersten faz ainda um relato cronológico
das políticas públicas nacionais e paranaenses, referentes ao patrimônio cultural
e os seus órgãos responsáveis por esses patrimônios. Após a alteração do
Decreto Lei nº. 25, em 1975, o IPHAN teve que se subordinar ao Ministério da
Cultura, que passou a ter influência nas decisões sobre tombamento.
Em 1979, foi criada a Fundação Nacional Pró-memória e o órgão
responsável pelo patrimônio cultural brasileiro voltou a chamar-se de SPHAN,
recuperando um pouco de sua autonomia política.
Hoje, novamente chamado de IPHAN, ligado ao Ministério da Cultura,
contempla os mais diversos órgão nacionais de preservação da cultura e
abrange patrimônio material e imaterial como um todo, além de promover
projetos de recuperação e preservação de bens culturais e históricos, além da
memória popular, festas, fazeres, técnicas, linguagens, culinária, etc.
Na atual Constituição, podemos citar leis sobre o patrimônio histórico
brasileiro, tais como:
“A Constituição Federal – em seus artigos 215 e 216 - consagra esse
conceito abrangente de patrimônio, reconhecendo o princípio da
diversidade cultural na formação da nacionalidade, atribuindo ao Estado
o dever de garantir o acesso às fontes da cultura nacional, sua
valorização e difusão, para o pleno exercício de direitos culturais; e
incluindo, entre os bens que constituem o patrimônio cultural brasileiro,
as formas de expressão, os modos de criar, fazer e viver que referenciam
a identidade, a ação e a memória dos diversos grupos sociais, tanto
quanto os monumentos, conjuntos urbanos, sítios históricos e obras de
arte. A preservação desses bens culturais faz-se por meio de
tombamentos, registros, inventários e outras formas de acautelamento e
proteção” (Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte: Anais do
Seminário sobre Inventário de Bens Culturais – uma interpretação da
cidade, 2004).
O que leva um cidadão, na maioria das vezes, a não valorizar os bens
culturais, é a falta de conhecimento sobre o mesmo, porque nunca teve acesso
às informações que o orientasse e nem foi motivado para isso. A Igreja São
Francisco congrega em si toda uma simbologia, que será trabalhada com os
alunos, para que compreendam o valor dessa cultura e contribuam para a sua
preservação.
15
Falando em cultura, podemos definir seu conceito como sendo um
conjunto de práticas, símbolos, técnicas e valores que se preservam e são
transmitidos às novas gerações. Subentende-se que a cultura esteja ligada a uma
consciência coletiva. A palavra cultura vem do latim colere que quer dizer
morar, ocupar a terra, trabalhar, cultivar o campo.
“Cultura é todo o conhecimento que uma sociedade tem de si mesma e
sobre outras sociedades, ou seja, as maneiras como esse conhecimento é
expresso através da sua arte, realidade, religiões, esporte, tecnologia,
ciência, política, etc.” (Campos, Josilda Eva de: Patrimônio Cultural e
modernidade, 1997).
A cultura inclui todas as expressões de grupos que se organizaram, que
valorizaram este ou aquele aspecto religioso, político, artístico, culinário,
técnico, etc.
No livro de José Luiz dos Santos, (O que é cultura.), ele identifica duas
concepções de cultura: a primeira, relacionada com aspectos da vida social de
um povo ou nação, e a segunda, quando nos referimos ao conhecimento, as
idéias e crenças, assim como as maneiras como eles existem na vida social. É do
relacionamento entre essas duas concepções que se origina a maneira de
entender cultura, podendo ser um instrumento de estudo das sociedades
contemporâneas.
“ ...Assim cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência
social de um povo ou nação, ou então, de grupos no interior de uma
sociedade.” (SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura .Editora Brasiliense.
1ª Edição, 1983, p.24).
Ainda sobre essa questão cultural, Igreja São Francisco de Assis é um
patrimônio religioso, pois sua construção foi planejada desde a planificação da
cidade, pelo topógrafo Dr. Alberto Le Veillie Du Plessis, que trabalhava para a
CTNP, como um edifício católico, embora em outro local, chamado Largo São
Francisco. Isso se deve a nossa herança cultural portuguesa, pois mesmo nos
mais antigos povoados do país, a presença cristã se fazia sentir, tanto no
levantamento de igrejas, quanto na estipulação de feriados e festas religiosos.
“O catolicismo colonial foi marcado por manifestações
externas da fé, que implicavam longas missas celebradas pelo maior
número sacerdotes, procissões solenes e realização de ofícios, com
presença obrigatória de fiéis da freguesia. Para tanto, Páscoa, Natal e
festas de padroeiros transformavam vilas despovoadas em locais
16
animados”. (TRINDADE, Maria Etelvina de Castro e Maria Luiza
Andreazza. Cultura e Educação no Paraná, Coleção História do Paraná,
SEED, 2001, p. 23).
No Paraná, a preocupação com o patrimônio histórico aparece para
reinventar sua história, para firmar uma identidade.
O Paraná, desmembrado de São Paulo como a 5ª Comarca, em 1853,
parecia ser destituído de uma referência cultural. A região era tida como
passagem de gado dos ricos campos gaúchos, para uma área de comércio em
Sorocaba. Procurou-se reinventar o passado paranaense através de seus ciclos
econômicos, buscando marcas na arquitetura que rememorassem esse passado,
em igrejas, casas, edifícios, enfim, o que pudesse ser reconhecido como
patrimônio histórico, reforçando as características de um estado e sua gente.
Essa preocupação com a identidade paranaense, levou ao surgimento da idéia de
paranismo, descrita pelo historiador Romário Martins e seguida por muitos
paranaenses.
“Esse outro discurso refere-se ao movimento regionalista que
embasara a Emancipação Política do estado no século
anterior, a partir da valorização de alguns elementos
formadores da identidade paranaense: clima, terra e homem.
Elementos esses que seriam finalmente expressos e
consolidados na cristalização desse discurso no Movimento
Paranista, de grande importância das décadas de 1920 e
1930.” (TRINDADE, Etelvina Maria de Castro e Maria Luiza
Andreazza. Cultura e Educação no Paraná. Curitiba, SEED,
2001, p.91).
Assim, construiu-se a idéia de um Paraná de imigrantes europeus, da
colonização pelo litoral ou passagem de tropeiros, como se esses fatos tivessem
maior relevância que outros. Alguns grupos foram excluídos dos estudos
regionais, por questões raciais ou socioeconômicas.
“As unidades preservadas, na maioria bens arquitetônicos,
foram construídas desde o século XVII, mas, sobretudo, nos
século XIX e XX. Enfatizam a colonização pelo litoral, os
diferentes ciclos econômicos, a ocupação do território, o
17
movimento imigrante e o fortalecimento do Estado.”
(KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os Rituais do
Tombamento e a Escrita da História: Editora da UFPR,
Curitiba, 2000, p.20).
Ainda segundo Márcia Scholz, no Paraná, a maioria dos monumentos
edificados tombados está em Curitiba, onde foram construídos monumentos que
retratam o passado reinventado de seus ciclos econômicos, edifícios cívicos e
religiosos, locais com arquitetura moderna ou espaços históricos. Para além da
capital, existem bens tombados em cidades consideradas históricas como
Paranaguá, Antonina, Castro, entre outras.
No livro organizado por Circe Bittencourt, (O saber histórico em sala
de aula, 2005), há uma referência sobre o estudo da memória, onde Ricardo Oriá
observa que no final do século e milênio, houve uma preocupação com a
preservação da memória histórica e, por extensão, do patrimônio cultural.
Segundo ele, num estado como o Brasil, que se diz um país sem memória, as
atividades relacionadas com a preservação e investigação histórica são louváveis
e devem receber apoio.
“ A cada dia tomamos conhecimento de iniciativas destinadas à criação de
centros de memória, projetos de revitalização de sítios históricos
urbanos, instalação de núcleos de documentação e pesquisa, memoriais,
museus, programas de história oral, elaboração de vídeos e
documentários, etc.” ( BITENCOURT, Circe. O saber histórico em sala de
aula.Editora Contexto. São Paulo, 2005, p.128).
Vivemos num momento, onde vários seguimentos da sociedade lutam
pelo direito ao reconhecimento de sua história, direito a cidadania e participação
política. Assim, esses movimentos procuram fazer um resgate da memória e
afirmação da identidade.
Em muitos casos, a preocupação da preservação do patrimônio
histórico, principalmente de edificações, ficou a cargo de arquitetos,
antropólogos ou cientistas sociais. Nessa pesquisa, vamos observar o valor do
estudo do patrimônio histórico no processo de ensino-aprendizagem, a fim de
estimular, nos alunos, o senso de preservação da memória social coletiva e de
investigação, o que contribuirá para a formação e reconhecimento da
consciência histórica.
18
Nas Diretrizes Curriculares para o ensino de História da Educação
Básica, os conteúdos estruturantes se apresentam em três dimensões: política,
econômico-social e cultural, mas que na verdade entrelaçam-se, pois as ações e
relações humanas formam um processo histórico local, falamos de cultura, mas
relacionamos também à outras dimensões.
Nessas diretrizes, diz-se que através da dimensão cultural, nos
permitimos a conhecer conjuntos de significados que os homens atribuem à sua
realidade para explicar o mundo. Partir de um conhecimento prévio,
aproveitando a experiência dos alunos, o que possibilita a construção do
conhecimento de um pequeno espaço para outros maiores, de uma época para
outras no passado e com projeções futuras.
A produção do conhecimento histórico utiliza-se de uma investigação
local através de fontes e documentos orais e escritos e também de imagens que
se refiram ao patrimônio material e imaterial. Neste contexto, segundo as
Diretrizes Curriculares para o Ensino de História, trabalha-se as temporalidades
e verifica-se as permanências, mudanças e simultaneidades.
Sobre a questão da história local e a construção de identidades, Selva
Guimarães Fonseca, relatando o estudo de pesquisadores portugueses, Manique
e Proença, diz que devemos seguir uma metodologia para se estudar a história
local e regional, partindo desde o contato com o tema pelos alunos, passando
por etapas de pesquisa até a elaboração de uma síntese final.
“A proposta pedagógica dos autores portugueses, a nosso ver, caminha
no sentido de romper com a dicotomia produção/reprodução nas aulas de
História.” (FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática do Ensino de
História: Experiências, reflexões e aprendizado. Coleção: Magistério:
Formação e Trabalho Pedagógico. Editora Papirus. São Paulo, 2003,
p.160).
Desde a década de 1980, há uma discussão sobre o que deve ser
ensinado, se deveria ser aproveitado o conhecimento científico produzido pelos
pesquisadores acadêmicos, para os níveis fundamentais e médios, ou se também
era possível produzir conhecimento nesses níveis escolares, deixando a
passividade no ensinar e aprender. Com o avanço das discussões, chegou-se a
algumas conclusões, de que sim, era possível produzir conhecimento no nível da
educação básica, porém diferente do produzido pelos pesquisadores, mas que,
contudo, esse conhecimento era válido e importante. Assim, estudar a história
19
local, incentivar os alunos a desenvolver atitudes investigativas, vem ao
encontro também dos interesses das atuais diretrizes do ensino de História.
A pesquisa de como se trabalhar conteúdos em História, procura
ressaltar a importância do estudo do patrimônio local. Para isso, Maria
Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli, sugerem também uma metodologia de
como se deve trabalhar a história local, ao se falar em patrimônio e edifícios
históricos.
“Edifícios históricos – nome, localização, data da construção e reformas;
nomes de pessoas e ou empresas envolvidas na construção, causas da
construção, função do edifício, descrição dos aspectos relativos ao
exterior e ao interior da construção, estilo, descrição de detalhes
relativos à construção, como vitrais, inscrições e ornamentos; relação do
edifício com a história local, nacional e universal.” (SCHIMIDT, Maria
Auxiliadora e Marlene Cainelli. Ensinar História. Editora Scipione. 1ª
edição, 2004, p.115).
Portanto, não é só com o conteúdo que o professor deve se ocupar,
mas também das formas como esse conteúdo será abordado e trabalhado em
sala de aula.
Assim, a escola estará cumprindo seu papel ao socializar o
conhecimento e proporcionará aos alunos, o exercício da cidadania, na
valorização de elementos que compõem o nosso patrimônio cultural.
C - REFERÊNCIAS:
• BITENCOURT, Circe (org.): O saber histórico em sala de aula:
repensando o ensino. 10ª Edição. São Paulo: Contexto, 2005.
• BRESCIANE, Maria Stella. O direito à memória: patrimônio histórico
e cidadania (Cidades: espaço e memória). Secretaria Municipal de
Cultura/DPH, São Paulo: DPH, 1992.
• BURKE, Peter (org.): A escrita da História: novas perspectivas. Trad.
Maria Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 1992.
• CAMPOS, Josilda Eva de: Patrimônio Cultural e a Modernidade.
Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte do Paraná, 1981.
• CERNEV, Jorge: Liberalismo e Colonização: o caso norte do Paraná,
Londrina: Editora Eduel, 1997.
20
• CHUVA, Marica: Reflexões e contribuições para a educação
patrimonial ( Patrimônio Imaterial: Praticas culturais na construção
de identidades de grupos). Secretaria de Estado da Educação, Belo
Horizonte: SEE/MG, 2002.
• CHOAY, Françoise:A Alegoria do Patrimônio: 1925. Tradução de
Luciano Vieira Machado. 3ª Edição – São Paulo: UNESP, 2006.
• Diretrizes Curriculares de História Para a Educação Básica, SEED,
Curitiba, 2006.
• FENELON, Déa Ribeiro: O direito à memória: patrimônio histórico e
cidadania ( Políticas Culturais e Patrimônio Histórico). Secretaria
Municipal de Cultura/DPH, São Paulo: DPH, 1992.
• FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de
História: Experiências, reflexões e aprendizado. Coleção:
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico. Editora Papirus. São
Paulo, 2003.
• KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os Rituais do Tombamento e
a Escrita da História. Editora da UFPR, Curitiba, 2000.
• LE GOFF, Jacques: História e Memória. Trad. Bernardo Leitão.
Campinas, São Paulo. Editora da UNICAMP, 2003.
• LEMOS, Carlos: O que é Patrimônio Histórico. Editora Brasiliense,
São Paulo, 1981.
• MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de: O direito à memória e cidadania
(O Patrimônio Cultural entre o público e o privado). Secretaria
Municipal de Cultura/ DPH, São Paulo, 1992.
• SANTOS, José Luis do: O que é Cultura. – Coleção: Primeiros Passos.
Editora Brasiliense, São Paulo, 1983.
• SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar
História.1ª Edição. Editora Scipione, São Paulo, 2004.
• SILVA, Marcos S. da: A cidade e seus patrimônios (Textos, imagens
e sons). Projeto História. FFLCH/USP, São Paulo, 1996.
21
2.2 Perspectiva Interdisciplinar:
A - TÍTULO: PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL: O estilo gótico e
barroco nas construções religiosas.
B - TEXTO:
De acordo com as Diretrizes Curriculares, a produção do conhecimento
histórico, desenvolverá uma maior percepção das temporalidades, observando-
se permanências e mudanças num ambiente próximo à realidade dos alunos.
Assim, o estudo do patrimônio histórico material, através da
interdisciplinaridade de História e Artes, proporcionará a produção do
conhecimento histórico com investigação, aproveitando fontes escritas e
imagéticas. Conhecer a história da cidade e seu processo de construção faz com
que o aluno perceba-se como parte desse processo. É conhecer para pertencer a
um tempo e um espaço. Reconhecer e preservar o patrimônio histórico local.
Com a disciplina de Português, o tema sobre patrimônio histórico
cultural, bem como a escolha do padroeiro, sua música e biografia, permitirá
maior desenvolvimento da leitura, escrita e oralidade.
A Igreja São Francisco de Assis possui uma arquitetura influenciada
por diversos estilos, de épocas diferentes. Sendo assim, os que mais se destacam
são os estilos barroco e gótico, pois apresentam elementos que simbolizam o
cristianismo.
O ensino de História aliada à disciplina de Artes poderá trazer aos
educandos uma nova visão, ampliando a linguagem das artes visuais. Assim, o
conhecimento de estilos arquitetônicos, de sua intencionalidade, de sua
simbologia religiosa, permitirá aos alunos a valorização do patrimônio histórico
e cultural de seu município. É uma educação patrimonial, que aproxima o
indivíduo e o meio onde vive e proporciona reconhecer os valores históricos em
seus bens e monumentos.
O patrimônio edificado, como é a Igreja Matriz São Francisco de Assis,
conserva vivo um laço com o passado, relembra as gerações que nos
precederam. A beleza de um edifício ou mesmo a mais singela casinha tem seu
fundamento histórico. Remetem-nos a um passado que ainda se encontra
22
presente, que nos identifica como seres pertencentes a um determinado tempo e
lugar, com heranças culturais de outros tempos.
... “O que nos lembram então os edifícios antigos? O valor sagrado dos
trabalhos que os homens de bem, desaparecidos e desconhecidos,
realizaram para honrar a Deus, organizar seus lares, manifestar suas
diferenças. Fazendo-nos ver e tocar o que viram e tocaram as gerações
desaparecidas, a mais humilde habitação possui, da mesma forma que o
mais glorioso edifício, o poder de nos pôr em comunicação, quase em
contato, com elas. Ruskin utiliza uma metáfora coma qual Bakhtin mais
tarde nos haveria de familiarizar: os edifícios do passado nos falam, eles
nos fazem ouvir vozes que nos envolvem num diálogo.” (CHOAY,
Françoise: A Alegoria do Patrimônio. – p.140).
O Estilo Arquitetônico da Matriz São Francisco de Assis
A Igreja Matriz São Francisco de Assis de Califórnia inspira a
curiosidade das pessoas e muitos tentaram descrever sua arquitetura,
especulando sobre seus estilos.
Para o Padre Antônio Gomes da Silva Netto, que era o pároco até 2005,
e outras pessoas da comunidade, a matriz tem o estilo greco-romano, misturado
ao estilo bizantino de povos orientais ortodoxos, pois conta com arcos redondos,
abóbadas, colunas e várias outras ornamentações, que embelezam a parte
superior das colunas e desenhos angelicais, geométricos e de flores. Essa
descrição também foi feita por outros observadores, já que a paróquia possui
vários enfeites. Outros a acham parecida com o estilo árabe. Mas na verdade,
essa dúvida se deu por um erro na construção das torres da frente, que têm um
metro a mais do que foi planejado, lembrando minaretes.
Segundo a atual pesquisa, podemos observar que na verdade a Igreja
Matriz São Francisco de Assis possui elementos que remetem à idéia dos estilos
barroco e gótico, na maioria de sua estrutura arquitetônica. Segundo a
professora Juliana Suzuki, da Unifil de Londrina, a Igreja Matriz São Francisco
de Assis jamais seria uma igreja gótica ou barroca, pois foi construída no século
XX. Ela possui elementos eclesiásticos, que no caso foram “colados”, isto é,
23
foram modelados observando outras obras arquitetônicas. Sendo assim, o estilo
arquitetônico será aqui descrito, mas deixando claro que essa igreja apresenta
um ecletismo de estilos, de várias épocas diferentes.
Os estilos barroco e gótico estão ligados ao cristianismo. O estilo gótico
é um estilo arquitetônico que se desenvolveu entre os séculos XII e XV, na Idade
Média e colocava ênfase na beleza estrutural na iluminação da ala central das
igrejas. Surgiu em contraposição ao estilo românico, pesado e escuro.
(http://wikipédia.org/wiki/Arquitetura_do_barroco).
Um exemplo da arquitetura chamada gótica foi o trabalho de reforma
que fez o abade Suger, na França, entre 1135 a 1144, na Igreja de Saint Denis.
Duby revela que o abade Suger tinha grande preocupação com a iluminação e
decoração das igrejas, para exaltar o divino.
“Desta maneira, a basílica deixou de ser o que tinham sido até então as
igrejas monásticas românicas (...), dum espaço fechado, subterrâneo,
escuro, aonde os peregrinos desciam em fila indiana, afundando-se
aterrados na penumbra, para entreverem enfim corpos santos entre a luz
dos círios.” (DUBY, Georges. O tempo das catedrais: arte e sociedade
(980 – 1420). Editorial Estampa, 1993, p. 108).
A arquitetura gótica teve sua origem na França e se difundiu nas suas
catedrais. Depois, espalhou-se pela Europa de diferentes maneiras e acabou por
influenciar a arquitetura em vários países por onde o cristianismo se espalhou.
O estilo barroco tornou-se mais presente nos séculos XVII e XVIII. No
barroco, há uma exaltação dos sentimentos, onde a religiosidade é expressa de
um mundo feito por Deus e para Deus. A Igreja é mais do que um espaço para a
prática religiosa. É também um registro do fervor cristão.
“... O barroco foi o movimento de ânsia de novidade, amor
pelo infinito e pelo não finito, pelos contrastes e pela
audaciosa mistura de todas as artes. Foi dramático,
exuberante, teatral (...).”
“(...) apelava para o instinto, para os sentidos, para a
fantasia: isto é, tendia para o fascínio. Não foi por acaso que
nasceu como instrumento da Igreja Católica, que naquela
época se empenhava em recuperar os hereges, ou, pelo
menos, em consolidar a fé dos crentes, impressionando-os
24
com sua própria majestade.” (CONTI, Flávio. Como
reconhecer a arte Barroca. Livraria Martins Fontes. São
Paulo, 1986, p. 04).
Elementos da Arquitetura Eclesiástica
Estes são alguns dos vários elementos descritos no site da wikipédia,
que aparecem também na Igreja São Francisco de Assis de Califórnia:
Nave: do latim navis, é o corpo da igreja, espaço fechado de um
templo, onde se reúnem os fiéis.
Cúpula ou domo: do latim duomo (o lar de Deus), é uma abóbada
hemisférica, dando a sensação de um alcance maior da estrutura. A inovação no
estilo barroco é a cúpula oval.
Um domo pode ser considerado um arco que foi rotacionado em torno
de seu eixo vertical. Se este domo for pequeno, poderá ser construído de
materiais de marcenaria comuns, unidos por fricção e forças de compressão.
Deambulatório: também desiguinado charola. É originário do latim,
ambulatorium, local para andar, deambular. Em geral define-se como uma
passagem que circunda uma área central, inerentes a edifícios religiosos.
O termo também remete para a passagem presente no interior da
igreja ou catedral cristã, especialmente em estilo gótico.
Torre: do latim turris, que é uma estrutura alta.
No estilo gótico, a torre ajuda ao verticalismo acentuado,
estabelecendo uma ligação entre o céu e a terra, sendo ainda que se apresentem
duas torres gêmeas, a ladear a fachada no oeste.
No estilo barroco, uma terceira torre assume uma forma volumétrica,
que combina curvas côncavas com convexas, em forma de cebola, chamada de
Torre Bulbosa.
Numa igreja cristã, geralmente, uma das torres abriga os sinos, e, é
chamado de Torre Campanário ou Torre Sineira. Este modelo de torre, com
sinos, surgiu na Itália, a partir do século VII.
25
Ábside: do latim absis, significa arco ou abóbada. É o anexo aberto
para o interior da capela-mor, semicircular. Local onde se coloca o altar e as
cadeiras dos clérigos.
A ábside é o local apoteótico no interior da igreja, onde toda a
decoração converge numa profusão de mosaicos, esculturas e pinturas, onde
olhar do fiel é direcionado. É um elemento arquitetônico de destaque na
arquitetura religiosa bizantina, românica e gótica.
No estilo românico, apresenta-se na ábside a figura de Cristo e afrescos
de decoração. No estilo gótico, a decoração é mais exuberante, com estátuas de
santos.
Mosaico: é um embutido de pequenas pedras ou outras peças (de
vidro, mármore ou cerâmica), formando um determinado desenho. O objetivo do
mosaico é preencher algum plano, no chão ou na parede. Na Igreja Matriz São
Francisco de Assis tem um mosaico de cerâmica acima do portal de entrada,
com São Francisco pregando aos pássaros. É um mosaico de cerâmica.
O mosaico é uma arte decorativa, tendo-se utilizado de vários tipos de
materiais e aplicações ao longo dos tempos.
Altar: do latim, altare (plataforma). No culto católico, é a mesa onde se
celebra a missa. Para o catolicismo, o altar disposto nas igrejas e capelas é o
objeto consagrado e representa o túmulo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus,
termo que se associa ao sacrifício do filho, que foi imolado pela redenção da
humanidade.
Numa igreja católica, o altar-mor é o altar principal, geralmente mais
adornado, disposto em frente à entrada principal. Depois do Concílio Vaticano II,
os novos altares são antropocêntricos e os tradicionais, são chamados de
teocêntricos.
Rosácea: é um elemento arquitetônico gótico e ornamental, que
lembra uma rosa e suas pétalas, contando com uma traceira e vidros lisos ou
coloridos.
A rosácea transmite, através da luz e da cor, o contato com a
espiritualidade e ascensão ao sagrado. Normalmente, localiza-se sobre o portal
da fachada principal.
26
A rosácea tem uma vasta simbologia, muitas vezes representa o
feminino. O branco da rosácea representa a reverência, o segredo, a inocência, a
pureza e a paz. (http://pt.wikipédia.org/wiki/Arquitetura_do_barroco).
Na frente da igreja, tem um mosaico todo feito em cerâmica,
representando São Francisco pregando aos pássaros. Este mosaico foi
encomendado pelo Padre Agostinho Colla, que pretendia decorar a frente da
igreja. O padre, ao conversar com pessoas da comunidade da época, entre l966 a
l967, pretendia fazer uma decoração com a imagem de São Francisco pregando
aos pássaros. A idéia era mostrar o santo abençoando os animais. Estes são
relatos do Professor Luis Bachette, que conviveu com o Padre Agostinho Colla.
Como já havia fontes com azulejos decorados em outros locais, pensou-
se em fazer a decoração da mesma forma. Então, numa de suas viagens à São
Paulo, capital, o padre Agostinho Colla encomendou os azulejos decorados com a
imagem do padroeiro, para depois serem assentados na frente da paróquia.
O atual pároco, Pe. Luis Palhares fez uma análise do sentido religioso
da igreja. Segundo ele, a Igreja Matriz São Francisco de Assis possui doze
janelas e colunas laterais, referindo-se aos doze apóstolos, escolhidos por Cristo.
As quatro janelas da frente representam os quatro evangelistas: São
Lucas, São Marcos, São João e São Mateus.
As torres e a cúpula representam a Santíssima Trindade. As duas torres
da frente são: a da esquerda (o PAI) e a da direita (o FILHO), pois se refere a
Jesus, que está sentado a direita de Deus Pai, e a cúpula ao fundo, é o ESPÍRITO
SANTO, pois abaixo dela são feitos os sacramentos religiosos. E onde também
permanece a hóstia consagrada, que é o corpo de Cristo. Essa descrição do
padre é uma visão pessoal do que ele compreende segundo o seu conhecimento
sobre o estilo barroco que a igreja apresenta.
As paredes são espessas, para manter sua firmeza e resistência, têm 50
centímetros, sem estacas ou colunas de concreto. Para a construção foram
usados apenas tijolos, areia, cal, cimento e material de acabamento. A base de
sustentação das paredes são tijolos maciços duplos, mas comuns, colocados em
forma de sapatas inteiriças de pedra bruta e britados.
Segundo o livro tombo da igreja, para a conclusão da obra, o padre
Agostinho encontrou homens simples da comunidade, que com um raciocínio
27
prático de geometria, desenharam no chão o acabamento final das torres e da
cúpula. O Sr. Juscelino (que fez o desenho para o padre) era um agricultor,
conhecido por Batuque, que morava no sítio do Sr. Moacir Antônio de Souza, e
se dispôs a terminar a obra, utilizando um barbante. Puxava um fio e foi
desenhando a cúpula em forma de cebola, mantendo sempre a simetria do
desenho. Embora fosse analfabeto, tinha prática e conhecimento no ofício e com
o auxílio de pedreiros locais, concluiu a obra. Essa forma de construir também
faz parte da cultura imaterial.
As torres foram projetadas para a entrada e saída de ar de dentro da
igreja. A parte inferior serviria de entrada do ar externo e as janelas das torres
expeliriam o ar quente e viciado do interior.
O professor Luiz Bachete, morador local e uma das pessoas que
conviveram com o padre Agostinho Colla, fez o relato dessa construção.
Para dar mais beleza ao acabamento final, o reboque das torres foi
feito com um colorido, de pigmento de rocha natural com malacacheta moída,
vinda de Minas Gerais, que dava um toque natural amarelado, brilhando ao Sol
ou com a luz da Lua ou ainda com luzes artificiais. Na cúpula e na parte mais
alta das torres foram colocadas pastilhas azuis, para não serem pintadas (hoje,
com a reforma, a igreja foi pintada com tons amarelados e as partes mais altas
das torres estão sendo coloridas de tinta dourada).
O construtor da igreja foi o Sr. Mário Ubertini, ajudado por vários
pedreiros, dentre eles: Manuel Fernandes Garcia, José Fernandes Garcia,
Orlando Reis, Júlio Pacheco, João Batista dos Santos, Santino Ferreira Gudinho,
Valdomiro, Ernesto Joani, Pedro Nogueira, Valentim Tardivo, Reinaldo Peres de
Lima, Paulo Roberto Pereira, José Pasco, Antônio Domingues, Pedro Baffa,
Nilton Lino, entre outros.
C - REFERÊNCIAS:
• http://pt.wikipédia.org/wiki/Arquitetura_do_barroco
• CHOAY, Françoise: A Alegoria do Patrimônio: 1925. Tradução de
Luciano Vieira Machado. 3ª Edição – São Paulo: UNESP, 2006.
28
• CONTI, Flávio. Como reconhecer a arte Barroca. Editora Martins
Fontes. São Paulo, 1986.
• DUBY, Georges. O Tempo das Catedrais: arte e sociedade ( 980 –
1420). Editora Estampa. São Paulo, 1993.
• Livro Tombo da Igreja Matriz São Francisco de Assis de Califórnia.
2.3 Contextualização:
O HISTÓRICO DA IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE
CALIFÒRNIA E AS FESTAS DE SÃO FRANCISCO COMO PATRIMÔNIO
CULTURAL IMATERIAL.
O patrimônio imaterial está ligado à cultura de um povo através de
seus costumes, festas, culinária, ritos, cerimônias, expressões diferenciadas.
Está mais ligado ao campo das idéias e modos de fazer enraizado no cotidiano
das comunidades. Também não é permanente, pois recebe influência das
transformações sociais ao longo dos tempos. Pode-se reproduzir através de
práticas culturais coletivas, recebendo valor e significado de grupos.
“A história do indivíduo é sempre uma certa especificação da história
coletiva. Cada nova geração relê e refaz seu patrimônio cultural de
acordo com seus referenciais socioculturais. A memória individual está
articulada à grupal, que por sua vez, liga-se à memória coletiva, que
poderia chamar-se de tradição.” ( KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade:
Os rituais de tombamento e a escrita da História – p.28, 2000).”
A cidade de Califórnia foi planejada, como outras do norte do estado,
pela Companhia de Terras Norte do Paraná. Seu fundador e topógrafo foi o
francês, Dr. Alberto Le Veillie Du Plessis, fez a planta do patrimônio.
Em sua homenagem também foram dadas às cores da bandeira de
Califórnia, branca, azul e vermelha, recordando as cores da bandeira francesa.
Desenhadas as ruas e quadras, foi feito um largo na quadra nº. l6, no
centro da cidade, que foi chamado de Largo São Francisco. Esse nome foi dado
pelo Dr. Alberto, relembrando a cidade de São Francisco, na Califórnia dos
Estados Unidos, de onde ele veio e se formou, para trabalhar para os ingleses,
da CTNP. O próprio nome de nossa cidade foi uma homenagem ao Dr. Alberto,
29
que se referia a ela, no início de sua implantação, como um espaço seu, usando a
frase: “Vou para a minha Califórnia!”.
Nesse largo, foi celebrada a primeira missa, pelo padre João Müeller,
em l942. Este padre pertencia à irmandade dos Josefinos, ou seja, OSJ
(Congregação dos Oblatos de São José), que vinham de Ourinhos, no Estado de
São Paulo.
A Congregação dos Oblatos de São José foi fundada em l872, pelo Bispo
D. José Marello, na cidade de Asti, Itália, cujos membros são conhecidos com o
nome de “Josefinos de Asti”.
“Um dos objetivos dessa congregação era a revitalização eclesiástica
católica na Itália, que passava por mudanças políticas no final do século
XIX, com reflexos sobre a Igreja. Também tem a finalidade de ajudar o
clero diocesano, educar a juventude e difundir a devoção de São José.”
(ATALLAH, Antônio. Ide... Evangelizar. As ordens e congregações religiosas
que evangelizam no Brasil. Gráfica Diocesana, 4ª Edição. Apucarana,
1996).
Na primeira metade do século XX, a congregação veio para o Brasil,
participando da comunidade eclesiástica em São Paulo e depois, no Paraná.
Na cidade de Apucarana, atualmente, os padres josefinos cuidam do
Colégio e da Igreja São José.
Segundo o professor Luis Bachette, ao realizar a missa, o padre pediu
aos moradores uma imagem de santo. Trouxeram-lhe então, uma imagem de São
Francisco e a missa prosseguiu em louvor a este santo. Antigos moradores,
diziam que esta semana da primeira missa, era uma semana especialmente
dedicada a São Francisco, e, portanto, o padre João Müeller pediu uma imagem
deste santo.
Nesta época, a igreja de Califórnia pertencia à diocese de Ourinhos,
São Paulo. É importante lembrar que não havia estradas pavimentadas e o meio
de transporte mais eficiente, no período, era o trem, pois a CTNP, projetou a
cidade ao longo da linha férrea.
As informações a seguir foram retiradas do livro tombo da Igreja São
Francisco de Assis e dos relatos do professor Luiz Bachete.
A Igreja Matriz São Francisco de Assis foi criada no dia 08 de fevereiro
de 1958, pelo decreto nº. 557/I, do Bispo de Londrina Dom Geraldo Fernandes,
30
hoje Arcebispo. Ela começou a ser construída durante o serviço paroquial do Pe.
Severino Cerutti, mas o primeiro dirigente da matriz foi o padre Agostinho Colla,
que foi nomeado no dia 21 de janeiro de l960. Ambos os padres pertenciam a
Congregação dos Padres Josefinos.
O Pe. Agostinho tomou posse da paróquia em 14 de fevereiro de l960.
Antes da construção da atual Matriz São Francisco de Assis, havia uma
igrejinha com o mesmo nome, feita de madeira no Largo São Francisco. Essa
igreja, de madeira, foi levada para a atual Praça Independência e ampliada, para
que as cerimônias religiosas continuassem se realizando.
Quando a primeira Igreja, de madeira foi construída neste largo, ela
recebeu o nome de Igreja São Francisco de Assis. Alguns dizem que é pelo
santo, que primeiramente foi trazido para a missa e outros, já dizem que a igreja
recebeu o nome do próprio local, que era o Largo São Francisco. Enfim, este
nome prevalece até hoje.
Mais tarde, quando foi para se construir a casa paroquial, destinada
aos futuros párocos, o Sr. Menotti Bollinelli, um dos pioneiros do município,
doou para a Igreja uma data na quadra nº.23, lote 06. Como essa data ficava ao
lado da Praça Independência, quando foram construir a atual Matriz São
Francisco de Assis, resolveram construí-la nessa praça, ao lado da casa
paroquial e a prefeitura, então permitiu a sua construção neste local.
No antigo Largo São Francisco, foram construídos um parquinho
infantil e uma quadra de esportes, além da Rodoviária Municipal. Hoje, neste
local, se encontram a Creche Agenor de Mattos e o Posto de Saúde Municipal.
O projeto da Igreja Matriz São Francisco de Assis, foi feito pelos padres
da Congregação dos Oblatos de São José, que também projetaram outras igrejas
na região. Sua arquitetura relembra o estilo barroco de algumas igrejas
mineiras, nas quais, o projeto foi inspirado, além de observar o estilo
ortodoxo/romano de outras construções. O projeto inicial foi feito para a cidade
de Apucarana, mas eles preferiram fazer uma réplica da Igreja de Nossa
Senhora de Lourdes, da França.
Então, no final década de l950, quando o primeiro pároco, Pe. Severino
Cerutti veio para se instalar no município, iniciaram-se as obras da atual matriz.
O Pe. Severino tomou posse da paróquia em 14 de fevereiro de l958 e achou que
31
o projeto seria adequado à nossa paróquia, pois tem semelhança com a Igreja
São Francisco de Assis, de Ouro Preto, Minas Gerais. Ele também pertencia aos
josefinos, dos Oblatos de São José, assim como o seu sucessor, o Pe. Agostinho
Colla, que também muito se empenhou nas obras da igreja, realizando festas do
padroeiro e arrecadação de cereais, como o arroz e também de café.
O padre Agostinho Colla relata no livro tombo, que em março de l960,
inicia-se a construção da cúpula de concreto, feita pelo senhor Nilton Lino e
ajudado pelo pedreiro Lúcio. Ao senhor Nilton Lino, o padre faz elogios, pela
responsabilidade e habilidade, descrevendo-o como um homem de “reta
consciência e capaz em sua profissão e hábil”, pois o arquiteto Batista Giovino,
de Jacarezinho, que havia desenhado a cúpula, só tinha dado o projeto da
ferragem e foi preciso muita competência dos pedreiros para construí-la.
As obras de conclusão da igreja ocorreram em l978, segundo o livro
tombo. O Pe. Lourenço Palomares, ao tomar posse da paróquia, procurou saber
sobre os anseios da comunidade. Foi dito a ele então, que naquele momento,
havia um grande interesse por parte da população, para que as obras na
paróquia fossem concluídas.
Quando o padre Lourenço Palomares tomou posse, como pároco local,
em 30 de janeiro de l977, segundo ele, a igreja por fora, tinha apenas um reboco
chapiscado e por dentro, os vidros estavam quebrados. A parede estava suja, e o
coro, as altares laterais, a sacristia e a secretaria, ao fundo da igreja, estavam
sem reboque, em estado bruto, segundo as descrições do padre no livro-tombo.
A partir de então, ele se propôs a concluir as obras na Igreja e construir um
salão de festas para o lazer da população. Para isso, neste período foram
realizadas três festas, além da arrecadação de cereais, que só de arroz, no ano
de 1977, foram mais de cem sacas.
Um ano e meio depois de assumir a paróquia, o Pe. Lourenço
Palomares concluiu as obras da igreja e do salão paroquial.
Em 04 de outubro de l978, outro padre assume a paróquia, por três
meses. Foi o Padre Gualter Farias Negrão. Ele faz um relato sobre as
comemorações de São Francisco no livro-tombo, dizendo que embora fossem
feitas atividades diferenciadas na igreja, nada era feito em caráter profano, tudo
era feito em caráter religioso, referindo-se a alvorada festiva com fogos e
fanfarra às 05h00min horas da manhã. Nessa alvorada festiva participavam os
32
alunos do Colégio Talita Bresolin, saudando o padroeiro. Depois às 09h00min
horas, foi feita uma missa na Creche Municipal, onde uma grande abundância de
flores foi abençoada para que a população as levasse para casa.
O período oficial do Pe. Negrão na paróquia foi de10 de outubro a 31
de dezembro de l978.
No mesmo dia, 31 de dezembro de l978, o Padre Tito Cerasoli assumiu
como novo pároco.
O Pe. Tito não escreveu no livro-tombo, mas prosseguiu com a
atividade religiosa e também com as festas da igreja, permanecendo na
comunidade por sete anos.
Em 17 de fevereiro de l985, o Padre Silvestre Wolff tornou-se
responsável pela paróquia. O seu relato se refere principalmente sobre a
comunidade de Califórnia. Ele observou que a comunidade era pobre e que nem
sempre se arrecadava o necessário para a manutenção da igreja, nem no dízimo
e nem nas festas. Durante o período que cuidou da paróquia, fez alguns reparos
na rachadura da parede da igreja e ela foi pintada por duas vezes, em l987 e
l995.
Em l990, foi construída a atual casa paroquial, com recursos locais e
uma verba no valor de l0 mil dólares, que veio da Alemanha. Nessa época,
também foi feito um calçamento de paralelepípedo ao redor do Salão Paroquial e
o mesmo recebeu uma pintura.
O padre relata no livro tombo também, que no município de Califórnia
estava ocorrendo um grande êxodo rural e que com isso algumas das diaconias
rurais iriam ser fechadas. Ele deixa até um ditado para descrever sua atuação:
“O povo faz o padre e o padre faz o povo!”.
Em 08 de março de l999, assume a paróquia o Padre Antônio de
Almeida, que procura fazer um reforma geral na igreja, trocando desde o piso
até a reestruturação das paredes que apresentavam novas rachaduras. Também
procurou reorganizar os serviços eclesiásticos. Ainda, antes de sair da paróquia,
participou dos projetos de revitalização da nova praça, que já estava sendo
planejada na prefeitura. No seu relato deixa claros a situação financeira da
igreja e dos seus bens e veículos adquiridos durante seu ministério.
33
O Padre Lino Batista de Oliveira vem em substituição ao Padre Antonio
e permanece à frente da paróquia entre 26 de junho a 15 de outubro de 2004.
O atual pároco é o senhor Luis Carlos Palhares, que também fez uma
reforma interna na igreja, decorando-a. Esses esforços ainda deverão continuar
de acordo com as verbas que a mesma adquirir.
As Festas de São Francisco
As festas da igreja são chamadas de Festas de São Francisco e são
realizadas em outubro. Esta festa é tradicional e de grande porte para o
município. Participam dela, em média, 40 pessoas, nos trabalhos mais diversos.
Alguns são responsáveis pela fabricação de doces artesanais, biscoitos, bolos,
pães, pudins e rocamboles, durante o mês todo. Estes quitutes são vendidos
assim que são feitos e, às vezes, no dia mesmo da festa, alguns deles já se
acabaram.
A festa é feita durante um final de semana, com churrascos, almoço no
domingo, apresentações de músicos e barracas de venda de doces e outros
alimentos. A festa ocupa o espaço da praça e do salão paroquial e atrai um
grande número de pessoas da comunidade e da região.
Um valor equivalente a 13% dos lucros é enviado para a Diocese de
Apucarana, segundo o relato do Padre Luis Palhares e o restante fica para a
comunidade eclesiástica local, pagando gastos ou investindo em reformas.
Esta festa conta com a participação voluntária de membros da igreja e
da cidade. Algumas entidades assistenciais colaboram com a festa e seus
integrantes participam efetivamente da mesma, como é o caso do Rotary Club e
da APAE. São feitas doações de alimentos para a festa e de animais, para um
leilão na praça, principalmente de gado.
Antigamente eram feitas duas festas por ano, principalmente na época
da construção da igreja matriz, devido aos altos gastos de sua construção. Mas,
hoje, como a festa conta com a doação de prendas da comunidade, o que
sobrecarregava os colaboradores, ficou decidido, que seria feita apenas uma
festa anual, em outubro, em homenagem ao padroeiro.
Os doces desta festa são tradicionais, relembrando receitas caseiras de
seus pioneiros paulistas e mineiros. Doces de amendoim, abóbora, mamão, leite,
34
pau-de-mamão, (que conta com um processo de retirada da celulose, após ser
ralado), dão uma característica quase singular o que os tornou famosos. Várias
cidades, como Mauá da Serra, Marilândia do Sul, Apucarana, Rio Bom, Faxinal,
Arapongas, Jandaia de Sul, Cambira, Curitiba, e também moradores de outros
estados, como do Mato Grosso do Sul, São Paulo e até Rondônia, fazem suas
encomendas na época da festa. Muitas dessas pessoas foram moradores locais
ou são parentes de pessoas de Califórnia, e guardam na memória, o gosto por
esses doces, dizendo muitas vezes, que não se encontram doces como os daqui.
As festas de São Francisco são realizadas desde 1960, portanto há 47
anos. Ela é planejada desde o início do ano e consta no calendário municipal de
eventos. Um mês antes, as pessoas já se organizaram em grupos, responsáveis
por várias atividades.
Este ano, eu, professora Simone Suely Batista Ferensovicz, acompanhei
os preparativos e a realização da festa para a minha pesquisa do PDE, sobre
patrimônio material e imaterial. E o que aqui vem descrito, faz parte das minhas
observações, de uma pesquisa anterior feita com alunos da 8ª série do Ensino
Fundamental e dos meus relatos documentados de como ocorreram estes fatos,
bem como as fotos que foram tiradas durante o processo. Recebi informações do
grupo organizador da festa e da secretaria da igreja de forma prestativa e
generosa.
O padre anuncia nas missas que serão feitas coletas de doação e quem
puder entrega pessoalmente na Igreja ou para grupos que são responsáveis por
coletar alimentos de casa em casa. Esses alimentos são chamados de prendas.
Nas dependências da paróquia, as cozinheiras iniciam, entre duas a
três semanas de antecedência, o fabrico de quitutes. São feitos
aproximadamente oito tachos de doces por dia, chegando até a 180 tachos,
nestas semanas de trabalho, principalmente de leite em pedaços ou em
canudinhos, e de pau-de-mamão, que são os mais vendidos, embora todos os
tipos sejam apreciados. Com o amendoim são feitos três tipos de doces: só de
amendoim cru e açúcar, do tipo torrado e moído (paçoquinha) e amendoim com
leite. Também fazem doces de mamão e abóbora, ralados ou pedaços, colocados
na cal, para formar uma película em volta do mesmo.
O doce de pau-de-mamão tem um processo tradicional de ser feito.
Primeiramente é buscado em sítios da área rural, o caule do mamão. Depois,
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retira-se a ponta e a raiz do caule, se limpa e rala-se a parte central. Essa massa
é cozida com vinagre, para se extrair a celulose da planta. Então, lava-se
diversas vezes, num saco branco de algodão, para se retirar todo o vinagre e até
que a massa fique bem branquinha. Coloca-se em pacotes plásticos e guarda-se
no freezer, até o momento de misturá-lo ao doce de leite em fervura. Para o
retoque final, acrescenta-se um pouco de coco ralado e vai mexendo no tacho
até dar o ponto, para depois colocá-lo no mármore e corta-se em pedaços. Os
ingredientes, como já foram descritos, são doados pela comunidade em forma de
prendas. Mas, hoje em dia, a maior parte do leite é comprada pelos festeiros.
Por que são esses os doces da festa do padroeiro e não outros?
Porque uma grande parte das pessoas que formaram a população de
Califórnia, eram imigrantes mineiros e paulistas e esses hábitos culinários
faziam parte dos seus costumes. Quando vieram para cá, procuraram mantê-los.
No livro-tombo da igreja, o Padre Lourenço Palomares fez algumas anotações
sobre as origens de seus paroquianos. E nos seus registros, ainda que
superficiais, consta que a maior parte das famílias eram de São Paulo e Minas
Gerais.
Neste ano de 2007, a organizadora da festa é a senhora Giorgina
Aparecida dos Santos, conhecida como Regina, que também se responsabiliza
pela venda dos doces e compra das embalagens. Ela já vem organizando a festa
à três anos e o presidente da festa esse ano é o senhor Carlos Neves, que é o
responsável pela economia e finanças da festa. O senhor Pedro Baffa cuida dos
churrascos, o Basílio Ferensovicz Filho e Germano se responsabilizam pelas
bebidas, contando sempre com um grande grupo de pessoas para ajudarem.
O interessante nesta festa, é que, embora as pessoas doem o seu tempo
e trabalho durante tantos dias, o clima é de alegria, pois os mesmos sentem-se
gratificados por ajudarem. Algumas doceiras, como a dona Araíde, que cuida do
ponto exato dos doces no tacho, são convidadas a ajudar. Mas, tanto ela, quanto
os demais participantes festeiros se oferecem para o trabalho. Alguns dizem que
doam para Deus um pouco do receberam. Tem pessoas que ajudam parte do dia,
outros, alguns dias, mas muitos trabalham ininterruptamente, durante todo o
período de organização e da festa propriamente dita.
Na média, são feitos 16 mil doces em pedaços e em canudos, 300 pães
caseiros, entre 90 a 100 bolos, 100 rocamboles, 40 pudins e um grande número
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de biscoitos de polvilho. Só para os doces de canudinho, são feitos 24 tachos de
doce de leite mole e se gasta 80 quilos de farinha para a massa.
Outro exemplo são os pastéis, onde se consomem por volta de 80 quilos
de carne moída e mais de 100 quilos de farinha.
Para o preparo desses alimentos são gastos em média 300 quilos de
farinha, 1.500 quilos de açúcar, 2.300 litros de leite, de 40 a 50 dúzias de ovos,
de 5 a 6 sacas de amendoim, entre outros.
O almoço, no domingo da festa conta com saladas variadas, maionese,
churrascos, arroz e farofa. Os cartões do almoço são vendidos antecipadamente
e dão para quatro pessoas. Este almoço pode ser buscado e levado para casa ou
pode-se almoçar no salão paroquial, onde muitos permanecem toda à tarde,
festejando até o horário do leilão de gado.
O leilão de gado foi conduzido pelo professor José Paulo Voltarelli, que
anunciava o lote de animais, iniciando por um valor aproximado ao valor de
mercado e a população interessada ia dando os lances.
Para citar um exemplo do que é preparado na churrasqueira, no dia da
festa, temos um dado de 2005, onde foram assados 130 frangos, 15 leitoas em
pedaços, 20 pernis de bois, dando aproximadamente 1.100 quilos de carne.
Na praça ficam espalhadas as barracas: de venda de doces, de pastel,
do churrasco, do churrasquinho. Neste ano, as barracas ficaram na rua e
próximas ao salão paroquial, já que a praça foi reformada.
A festa deste ano de 2007 foi feita em três dias: na sexta-feira, dia 05, à
noite, teve a última missa do tríduo de São Francisco. Depois, inicia-se um show,
com o grupo musical Bailanta. As barracas já foram abertas e assim continuou
no sábado, dia 06 e no domingo, dia 07 de outubro, o dia todo e à noite.
Antigamente, as festas contavam com diversas barracas, como as de
bingo, de brincadeiras, como o coelho na toca e havia um costume que hoje já
não se usa, que era dar para as crianças, um cartucho surpresa, cheio de doces
e iguarias. Era feito um canudo, de mais ou menos trinta a quarenta
centímetros, de cartolina colorida, com enfeites nas pontas, Era muito cobiçado
pelas crianças, que não sabiam o que iam encontrar, mas o desejavam,
justamente por isso.
37
Esta festa, embora tenha a participação de grande parte da
comunidade de Califórnia, não é uma unanimidade, pois é feita para a Igreja
Católica e, sendo assim, algumas pessoas de outras igrejas não participam.
Este ano também, como a praça foi remodelada e grande parte de seu
espaço foi gramado, as barracas foram mudadas de local, ocasionando o
descontentamento de algumas pessoas, pois estavam acostumadas com o uso de
toda a praça ao redor da igreja.
Como o texto se refere também a patrimônio imaterial, podemos
perceber que, embora as festas continuem elas se modificam ao longo dos anos,
com costumes que são mantidos ou outros que são acrescentados.
C - REFERÊNCIAS:
• KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os rituais do tombamento e a
escrita da História/ Márcia Scholz de Andrade Kersten; [revisão
Antônia Schwinden] – Curitiba: Editora da UFPR, 2000.
• Livro Tombo da Igreja Matriz São Francisco de Assis de Califórnia.
• LEMOS, Carlos. O que é Patrimônio Histórico. – Coleção: Primeiros
Passos. Editora Brasiliense, São Paulo, 1981.
• ATALLAH, Antônio, Ide... Evangelizar. As ordens e congregações
religiosas masculinas que evangelizam no Brasil. Gráfica Diocesana,
4ª Edição. Apucarana, 1996.
38
3º - RECURSOS DIDÁTICOS:
3.1 Sítios:
1º Sítio:
A - Título: Patrimônio Cultural - Instituições Brasileiras
B - Endereço: http://www.patrimoniocultural.org.br/instituições_br.htm
C - Comentário: Apresenta instituições brasileiras e internacionais de proteção
e conservação do ao patrimônio cultural.
2º Sítio:
A - Título: Bens Tombados – Administração de Conteúdo: Patrimônio Cultural
no Paraná
B - Endereço:
http://www.patrimôniocultural.pr.gov.br/modules/conteúdo/conteúdo.php?
conteúdo=259
C - Comentário: Refere-se à conservação do patrimônio imaterial e aos
aspectos imateriais da cultura no Paraná, tendo também diversos links sobre o
tema.
3º Sítio:
A - Título: O Edital de Arte e Patrimônio – 2007.
B - Endereço:
http://www.forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.rede/arte-e-
patrimônio
C - Comentário: O edital de Arte e Patrimônio – 2007 é uma iniciativa do
Ministério da Cultura e do IPHAN, com apoio da Petrobrás, que financia projetos
de artes visuais e patrimônio histórico.
3.2 Sons: Áudio:
* Título: São Francisco
39
* Intérprete: Padre Marcelo Rossi
* Título do CD: Canções para louvar um novo milênio
* Número da faixa: 01
*Nome da Gravadora: Universal Music CD
*Ano: 2000
*Disponível: http://www.padremarcelorossi.org.br/principal/home/
*Texto: ““... Onde houver tristeza que eu leve a alegria.
Onde houver trevas que eu leve a luz.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé...”
*Comentário:
O estudo sobre o patrimônio da Igreja São Francisco de Assis, bem
como de seu histórico proporciona a investigação da biografia e obra do
padroeiro. Sendo assim, a sua oração interpretada como música, pelo Padre
Marcelo ajudará no conteúdo.
3.3 Proposta de Atividade:
A - TÍTULO: O ESTUDO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO MATERIAL E
IMATERIAL DA IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE
CALIFÓRNIA.
B - TEXTO:
* Objetivos:
- Reconstruir a memória coletiva e individual, com um estudo sobre
patrimônio material e imaterial referente à Igreja Matriz São Francisco de Assis
e suas festas, acompanhando o histórico de formação do Município de Califórnia.
- Recuperar documentos, fotos, imagens que se refiram ao objeto de
estudo.
- Promover entrevistas com moradores locais e pessoas que
presenciaram a construção do monumento histórico e que também participam
das Festas de São Francisco.
40
- Observar permanências e mudanças, nos costumes e tradições da
população, bem como, na paisagem e evolução do município através de fotos
antigas e recentes.
- Organizar pesquisas com os alunos sobre fatos relacionados ao
ambiente do patrimônio histórico cultural, material e imaterial, promovendo
atitudes investigativas.
- Construir um material didático escrito, para servir de fundamentação
teórica sobre o patrimônio local, para ser usado por professores e alunos do
município, bem como da comunidade local.
- Formar um arquivo desse material, que poderá permanecer num
ambiente público, como a escola, a prefeitura ou no próprio local do patrimônio
histórico. No caso de Califórnia, ficará na secretaria da Igreja Matriz São
Francisco de Assis.
* Recursos utilizados:
- Pesquisas com fontes escritas e orais, fotos, documentos, livro tombo
da igreja, livros sobre patrimônio cultural material e imaterial, internet, música
com a oração de São Francisco e sua biografia, por ser o padroeiro do município,
produção de uma nova planta baixa da igreja para estudo e arquivo.
* Metodologia:
- Encontros de orientação
- Pesquisas de fundamentação teórica sobre patrimônio histórico
cultural, material e imaterial, suas leis de preservação e tombamento.
- Pesquisa sobre o histórico do município
- Pesquisa de campo, acompanhando e fotografando os preparativos e a
Festa de São Francisco.
- Recolhimento de informações e dados da festa na secretaria da Igreja
- Pesquisa na internet sobre as influências do estilo gótico e barroco da
Igreja Matriz São Francisco de Assis, o que ocasionou um ecletismo na sua
construção, bem como de aspectos da arquitetura eclesiástica e sua simbologia.
41
- Música e biografia do padroeiro São Francisco de Assis.
* Desenvolvimento da Atividade:
* 1ª Aula:
- Construir uma linha de tempo, desde a formação do município, para
situar os alunos dentro de diferentes espaços temporais.
- Trabalhar conceitos de dia, mês, ano, século e milênio com os alunos.
- Utilizar fotos do início da abertura do município e atuais para que
percebam as transformações e mudanças desse processo.
- Apresentar o histórico do município.
* 2ª Aula:
- Mostrar a planificação do município feita por seu fundador, o Dr.
Alberto Le Veillie Du Plessis, localizando os locais da construção da Igreja
Matriz São Francisco de Assis.
- Mostrar fotos da igreja em construção e atuais.
- Apresentar o conceito de patrimônio histórico material.
- Apresentar o histórico da igreja e o porquê da escolha do padroeiro.
* 3ª Aula:
- Fazer uma visita à Igreja para observação.
- Apresentar aos alunos os conceitos da arquitetura eclesiástica, sua
simbologia e as influências dos estilos barroco e gótico na Igreja, mostrando o
ecletismo da construção.
42
- Trabalhar o estilo gótico e barroco, juntamente com o professor de
Artes e Português, para ampliar e reconhecer o vocabulário, bem como ampliar
a linguagem visual.
* 4ª Aula:
- Apresentar o conceito de patrimônio histórico imaterial.
- Mostrar fotos da festa, de seus quitutes e apresentar o histórico das
Festas de São Francisco como patrimônio imaterial do município.
- Orientar os alunos para entrevistas com pessoas que participam das
atividades da festa e na busca de novas fotos para ampliar o arquivo sobre o
tema.
* 5ª Aula:
- Trabalhar a música e biografia de São Francisco de Assis,
relacionando ao feriado municipal de 04 de outubro, juntamente com o professor
de Português, explorando a escrita e a oralidade.
* 6ª Aula:
- Pesquisa e investigação: produção de material escrito sobre
patrimônio cultural material e imaterial do município, inclusive incentivar na
pesquisa de fatos, fotos e documentos sobre outros patrimônios municipais,
como igrejas, prédios, costumes, festas, etc.
C - REFERÊNCIAS:
• LEMOS, Carlos: O que é Patrimônio Histórico? Editora Brasiliense,
São Paulo, 1981.
• KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os Rituais do Tombamento e
a Escrita da História. Editora da UFPR, Curitiba, 2000.
• Diretrizes Curriculares de História Para a Educação Básica, SEED,
Curitiba, 2006.
43
3.4 Imagens:
ABERTURA DA ATUAL AV. GETÚLIO VARGAS – 1942 – ACERVO - PROF LUIS BACHETE
ABERTURA DO MUNICÍPIO DE CALIFORNIA – 1942 - ACERVO PROF LUIS BACHETE
AV. GETÚLIO VARGAS – 1944 –ACERVO - PROF LUIS BACHETE
DA ESQUERDA PRA DIREITA Dr. ALBERTO LE VEILLIE DU PLESSIS,
JOSÉ CHICANOSKI E O MATEIRO – 1942 – ACERVO - PROF LUIS BACHETE
44
INICIO DA COLONIZAÇÃO DE CALIFORNIA VISTA DA RUA JÕAO VOLTARELLI – 1942 – ACERVO - PROF LUIS BACHETE
PRAÇA INDEPENDENCIA ONDE SERIA CONSTRUIDA A ATUAL IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS - ACERVO - PROF LUIS BACHETE
PRIMEIRA CASA DE CALIFORNIA (Dr Alberto Le Veillie Du Plessis) – 1942 – ACERVO - PROF LUIS BACHETE
SAÍDA PARA O BAIRRO JACUCACA – 1942 - ACERVO PROF LUIS BACHETE
45
PRIMEIRA IGREJA DE MADEIRA SÃO FRANCISCO DE ASSIS DE CALIFORNIA – ACERVO - PROF LUIS BACHETE
FOTO DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS – ACERVO - IGREJA SAO FRANCISCO DE ASSIS
FOTO DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS 2 - ACERVO- IGREJA SAO FRANCISCO DE ASSIS
FOTO DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS 3 -ACERVO IGREJA SAO FRANCISCO DE ASSIS
FOTO DA IGREJA SÃO FRANCISCO ANTES DA REFORMA - ACERVO IGREJA SAO FRANCISCO DE ASSIS
46
FOTO AÉREA DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS E DE SUA PRAÇA NA DÉCADA DE 1980 – ACERVO - SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
FOTO FRONTAL DA IGREJA MATRIZ SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
FOTO LATERAL DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 2007- FOTO SIMONE BATISTA FERENSOVICZ
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MOSAICO COM SÃO FRANCISCO DE ASSIS PREGANDO AOS PÁSSAROS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
CRUZ NO TETO DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 2007- FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
FOTO DO INTERIOR DA IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 2007- FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
48
FABRICAÇÃO DE DOCES PARA A FESTA DE SÃO FRANCISCO - 2007 – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
FABRICANDO DOCES PARA A FESTA DE SÃO FRANCISCO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
MESA COM DOCE DE PAU-DE- MAMÃO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
DOCES DA FESTA DE SÃO FRANCISCO - 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
BOLOS E ROCAMBOLES DA FESTA DE SÃO FRANCISCO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
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BISCOITO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO - 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
PREPARO DO DOCE DE PAU-DE-MAMÃO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
PÃES DA FESTA DE SÃO FRANCISCO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
PRATELEIRAS DE DOCES DA FESTA DE SÃO FRANCISCO – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
50
PREPARAÇÃO DO SALÃO PARA O ALMOÇO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
PREPARAÇÃO DO ALMOÇO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
PREPARAÇAO PARA O ALMOÇO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
CHURRASCO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - 2007 2 –FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
51
CHURRASCO DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
LEILÃO DE ANIMAIS DA FESTA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – 2007 - FOTO SIMONE SUELY BATISTA FERENSOVICZ
4º - RECURSO DE INFORMAÇÃO:
4.1 Sugestão de Leitura:
* KERSTEN, Márcia Scholz de Andrade. Os rituais do tombamento e a escrita da
História. Bens tombados no Paraná entre 1938-1990. Curitiba: Editora da
UFPR, 2000.
* Comentário: A autora apresenta detalhes da formação e evolução da política
do patrimônio cultural e artístico no Brasil e no mundo. Apresenta também os
monumentos tombados no Estado do Paraná.
* CHOAY, Françoise: A Alegoria do Patrimônio: 1925. Tradução de Luciano
Vieira Machado. 3ª Edição – São Paulo: UNESP, 2006.
52
* Comentário: O texto do livro traz um documentário do patrimônio cultural no
mundo, apresenta as observações e estudos de vários autores.
* LEMOS, Carlos. O que é Patrimônio Histórico. – Coleção: Primeiros Passos.
Editora Brasiliense, São Paulo, 1981.
* Comentário: O autor apresenta os fundamentos do que é patrimônio histórico,
subdividindo e classificando patrimônio material e imaterial.
4.2 Notícias:
A - TÍTULO: LIVRO REÚNE PROJETOS PREMIADOS EM CONCURSO
SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL.
B - REFERÊNCIA: Ministério da Cultura – Revista Eletrônica do IPHAN:
http://www.revista-iphan.gov.br
C - TEXTO:
“O projeto Tesouros do Brasil tem o objetivo de estimular os jovens a
descobrir e valorizar o patrimônio cultural do país. Ele amplia a abordagem
cultural, presente em iniciativas anteriores da FIAT, para o patrimônio brasileiro
nas suas mais diversas acepções de bens materiais históricos artísticos ou
naturais, ou bens imateriais como a memória de uma comunidade ou povoado.”
D - COMENTÁRIO:
A notícia refere-se a um projeto de iniciativa privada, mas que
promoveu a participação de jovens do Ensino Fundamental e Médio, de escolas
públicas e particulares, publicando suas pesquisas sobre o patrimônio cultural
material e imaterial do Brasil.
4.3 Destaques:
A - TÍTULO: BRASIL É ELEITO PARA O CONSELHO DO ICCROM.
53
B - REFERÊNCIA: http://www.portal.iphan.ov.br/portal/montarPáginaInicial.do
C - TEXTO:
“Cresce a representação brasileira em instituições internacionais de
preservação”.
“O Brasil se tornou hoje (09/11) um dos 25 países-membros do
Conselho do ICCROM (Centro Internacional de Estudos para a Conservação e
Restauração de Bens Culturais). Esse é mais um ganho de uma série de esforços
para a inserção das questões patrimoniais brasileiras na pauta de instituições
internacionais de preservação. Recentemente, em 25 de outubro, o Brasil foi
eleito um dos 21 representantes do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco,
que é assessorado pelo ICCROM. Esse Comitê delibera sobre a inscrição de
regiões na lista do Patrimônio da Humanidade – título que causa grande impacto
na identidade cultural dos locais reconhecidos e mobiliza os seus representantes
em Ouro Preto ou em Brasília. (...).”
D - COMENTÁRIO:
O ICCROM foi criado em 1956, em Nova Deli, numa conferência da
UNESCO, com a missão de criar condições efetivas da conservação do
patrimônio cultural em todo o mundo.
4.4 Paraná:
A - TÍTULO: A COLONIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ E A FORMAÇÃO
DO MUNICÍPIO DE CALIFÓRNIA
B - TEXTO:
Em 1923, numa missão composta por vários representantes oficiais de
companhias inglesas que vieram para o Brasil, entre eles o Lorde Lovat, a região
Norte do Paraná, por suas terras férteis, despertou grande interesse para a
colonização.
Em sua viagem ao Norte do Paraná, Lorde Lovat foi acompanhado por
Gastão de Mesquita Filho, engenheiro responsável pela construção da Estrada
54
de Ferro Ourinhos - Cambará. Aí encontrou o Dr. Willi Davis, então prefeito de
Jacarezinho (era janeiro de 1924).
(...) No entanto, o interesse do ilustre visitante foi desviado para as terras
situadas mais à frente, igualmente fertilíssimas e que eram oferecidas
pelo Governo do Estado do Paraná, a preços baixos, face à inexistência de
estradas e, portanto, às dificuldades de acesso. (CERNEV, Jorge.
Liberalismo e Colonização: O caso do Norte do Paraná. Eduel, 1997;
p.39-40).
Depois de informar à sua empresa na Inglaterra, Lorde Lovat, Artur
Tomas, João Sampaio e Antonio de Moraes Barros, organizou a Companhia de
Terras Norte do Paraná, subsidiária da companhia inglesa, em 1925.
A colonização da região Norte do Paraná aconteceu de forma
espontânea, dirigida e planejada. Segundo Sergio Odilon Nadalin, essa
colonização foi organizada nos moldes mais racionais, com o governo
promovendo a vinda de imigrantes nacionais e estrangeiros.
“De certa forma, a história do Norte do Paraná, exemplificou essa
tendência”. No momento em que ainda se instalava vários núcleos
urbanos de imigrantes estrangeiros, a atração exercida pelas terras
férteis, do lado de cá do Rio Itararé, levou à aquisição de glebas por
fazendeiros paulistas e mineiros (...).
“(...) O exemplo notável foi o da Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná, de origem inglesa, mas nacionalizada durante a Segunda Guerra
Mundial. Desde l925, foi iniciada a compra de terras no Norte do Estado,
para serem divididas, preparadas para a ocupação, ligadas às áreas
viárias existentes. Desde então, foi adquirida uma área contínua que
corresponde à décima - sexta parte da área total do Estado, propiciada a
vinda de colonos em grande número, não só nacionais, como
estrangeiros e planejadas a edificação das cidades (...).”
(NADALIN, Sérgio Odilon.Paraná: Ocupação do Território,
população e migrações. Curitiba: SEED, 2001).
A CTNP primeiramente queria investir em fazendas de algodão,
montando até uma usina de beneficiamento de algodão em Bernardino de
Campos. Mas o que mais se desenvolveu na região foi o cultivo do café.
Para que os colonizadores pudessem adquirir suas terras, a CTNP tinha
uma estrutura de apoio: os compradores vinham por ferrovia até Cambará,
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Cornélio Procópio ou Jataizinho, e depois, com uma jardineira ou com um meio
de transporte disponível, eram levados a conhecer as terras.
Segundo dados da própria Companhia, os colonizadores compravam as
terras, pagando 10% do valor do imóvel e o restante deveria ser pago em quatro
anos com juros de até 8% ao ano. Eles ainda poderiam explorar e vender a
madeira de suas terras.
A partir de l929, quando os funcionários da Companhia de Terras Norte
do Paraná (CTNP), atingiram os limites de suas terras (adquiridas do Governo do
Estado do Paraná), onde hoje é a cidade de Londrina, o Norte Paranaense
experimentou um das mais notáveis atividades de colonização.
A CTNP, partindo de Londrina, em direção à oeste, vai fundando 63
cidades e patrimônios, sendo também responsável pela demarcação de 35.103
lotes rurais, que tinham em média menos de 30 alqueires, além de mais 70.000
lotes urbanos, com 500m². O Patrimônio de Califórnia do Sul ficava neste trecho
de terras, que iam até o Município de Tibagi.
“(...) de quinze em quinze quilômetros criaram-se
patrimônios e vilas, de cujo impressionante desenvolvimento surgiu
grande número de cidades e municípios (...). Sabáudia, São José do Caiuá,
Bom Sucesso, Paranacity, Califórnia, São Pedro do Ivaí e São Jorge, em
1954 (...)” (Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná.
Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná, 1975, p. 253).
O Patrimônio de Califórnia do Sul foi criado em 1942. O nome de
Califórnia foi uma homenagem ao engenheiro e topógrafo Dr. Alberto Le Veillie
Du Plessis que loteou a região, pois dizia, segundo antigos moradores, quando ia
para o loteamento: “Vou para a minha Califórnia!”
Até 1944, as terras onde se situava o Patrimônio de Califórnia,
primeiramente pertenciam ao Município de Londrina, quando ocorreu um
desmembramento e passou a pertencer ao município de Apucarana.
Em 1949, foi elevado à categoria de distrito de Araruva, atual
Marilândia do Sul. Houve mais um desmembramento e Califórnia conseguiu sua
autonomia política e em 26 de novembro de l954, foi publicada a criação do
Município de Califórnia.
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A instalação do município ocorreu em 17 de dezembro de l955, quando
ocorreram as primeiras eleições e foi eleito Silvio Pedra Ramos como primeiro
prefeito do município.
O Dr. Alberto morava no Estado da Califórnia, quando foi contratado
pela CTNP, embora fosse de nacionalidade francesa.
Muito antes da criação do Patrimônio de Califórnia, algumas famílias
de safristas exploravam a região, desde 1932, com a criação de suínos.
A CTNP tinha como responsabilidade a liquidação das terras ilegítimas
e segundo um acordo com o governo estadual, ela deveria pagar pelas terras
ilegítimas a quem mostrasse título de posse ou já estivesse morando na região.
Assim, famílias de posseiros receberam o título de proprietários.
O patrimônio de Califórnia, criado em 1942, fazia parte do território do
município de Londrina. Como suas terras eram distantes da capital e a maioria
das paisagens eram picadas abertas no mato, eram terras consideradas baratas,
segundo as pesquisas de Ruy Christovam Waschowicz. (Waschowicz, 1982:
p.162).
“Começando pelas terras mais próximas, situadas na parte oriental, logo
após a transposição do Rio Tibagi; os lotes foram sendo demarcados e
colocados à venda, de forma racional, de tal maneira que a ocupação do
território se deu de maneira ordenada, não permitindo o aparecimento de
núcleos distantes e isolados entre si.” (CERNEV, Jorge. Liberalismo e
Colonização. O caso Norte do Paraná. Londrina: EDUEL, 1997- p.43).
Em 1942, os pioneiros iniciaram a derrubada das matas e a
demarcação dos terrenos, iniciando o povoamento, principalmente com colonos
mineiros e paulistas, que migraram para o novo patrimônio. As primeiras casas
foram construídas onde hoje passa a BR 376, no trecho denominado de Avenida
Ponta Grossa e também junto à ferrovia.
Nos primeiros tempos de trabalho, o Dr. Alberto contou com os
serviços do topógrafo José Chikanoski, que após os serviços de engenharia foi
embora, sendo substituído pelo topógrafo Menotti Bollinelli.
O Dr. Alberto Le Veillie Du Plessis fez a planta do município,
destacando as áreas onde mais tarde foram construídas a primeira igrejinha de
madeira, (já chamada de Igreja São Francisco), no Largo São Francisco, e
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depois, a atual Igreja Matriz São Francisco de Assis, na Praça Independência, no
Município de Califórnia.
O Sr. Menotti Bollinelli acabou adquirindo muitos lotes de terra
urbanos e rurais. Tornou-se também procurador do Sr. Clóvis Botelho Vieira e D.
Maria Vitória Vieira, sua esposa. O lote da construção da Casa Paroquial, que
ficava em frente a Praça Independência, pertencia a este casal, antes de serem
repassados à Arquidiocese de Jacarezinho, em 1949, da qual, a paróquia de
Califórnia pertencia. Assim sendo, a Igreja Matriz São Francisco de Assis, que
primeiramente foi construída de madeira, no Largo São Francisco, acabou sendo
transferida para a atual Praça Independência, para que ficasse ao lado da Casa
Paroquial.
Califórnia tem dois feriados municipais: dia do padroeiro, (04 de
outubro), e, dia criação do município (26 de novembro). Ambos foram instituídos
pelo prefeito municipal Cirineu Dias, em 21 de maio de 1984, em sessão
legislativa da Câmara de vereadores.
Como o estudo do patrimônio material e imaterial remete-se a
formação do município de Califórnia, o estudo da planta inicial e do histórico de
formação do município e de sua população, ajudará aos alunos na maior
compreensão do tema.
Califórnia está situada na microrregião de Apucarana, parte integrante
da mesorregião geográfica do norte central paranaense, com 790 metros de
altitude, 23º39’S de latitude, 51º21’WGR. Sua área terrestre é de 145,951 Km².
Tem atualmente uma população de 7.524 habitantes no município, segundo
dados do IBGE, de 2007. Limita-se ao norte e oeste com Apucarana e ao sul e
leste com Marilândia do Sul.
C - REFERÊNCIAS:
* CERNEV, Jorge. Liberalismo e Colonização. O caso Norte do Paraná. Londrina:
Eduel, 1997.
* Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná - Companhia de
Melhoramentos Norte do Paraná, 1995 - (publicação comemorativa do
cinqüentenário da Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná.
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* NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e
migrações. Curitiba: SEED, 2001.
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