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S A N T U R I O D O D IV I N O
S E N H O R
D A
S E R R A
D E
S E M ID E
H is t r ia D e v o o
e
E s p i r i t u a l id a d e
J O O P A U L O F E R N A N D E S R E G I N A A N A C L E T O
T E R E S A
O S R I O D E M E L O
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SODVN
S
D
aD
d
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J
TD
SODN
S
SD
SD
H
D
S
2
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H i s r r i a ,
Devoo
e
E s p i r i t u a l i d a d e
utor s
Joo
P a u l oFernandes
M a r i aTeresa Osrio
de
M e lo
Reg ina
Anac le to
Contactos
Comisso Adminis t r a t iva do Santu r io do Divino Senhor da Ser ra
R ua D . Ma n u e l
Bastos
P i n a
Senhor
da
Serra
Se m ide
3220 M i r a n d a
do
Corvo
Tel:
23 9
549
27 6
som e n te
a o
dom ing o)
Hrna i l ; sd iv inosenhordase r ra@gmai l .com
Link:
http://www.sdivinosenhordaserra.pt.vu
Agradecimentos
Arquivod a
Bibl ioteca M u n i c i p a l
d eC o i m b r a
M u s e u
N a c i o n a lM a c h ad o d eCastro
Fam l i aLour e nc o
G.C. - G R F I C A DEC OIM BRA, LDA.
Palheira - Assafarge,
3001-453 C O I M B R A
Tel. 239 802450 Fax 239802459
Emai l :
p ro d u c a o @ g ra f i c a d e co i m b ra . p t
Depsi to Lesai: 331537/11
UMA
LOUVVEL
INICIATIVA PASTORAL
O
local abenoado
do
Divino
Senhor da
Serra
um
exemplar p erfei to
d os
muitos santur ios que,
nos
sculos
precedentes ao nosso, polvilharam os montes e vales de
Por tuga l .
Dando
incremento
secular devoo
do
povo local
a um velho crucif ixo cu l tuado em pequenina capela , o
Bispo D . M anuel de Bas tos P ina abenoou a romar ia de
Agosto, real izada ao jei to do povo s imples das redonde-
zas, com a
adeso
de
mu i tos popu l a res
de
Co im br a . Para
c um pr i r o modelo t rad icional de santur io, concorre a
sua
localizao
p roeminente e o panorama rasgado que
dal i
sed e s f r u t a .
A t rad io, docu menta da na casa ep iscopal , re lata-nos
a prt ica devocional e a sp romessas de sermes que pre-
encheram
as
p r imei ras dcadas
do
sculo passado.
O Sr.
P. Antnio
Pedro dosSantos desaudosa memria , sentiu
anecess idade
de
g a r a n t ir
ao
local , templo
e
espaos adja-
centes, as
condies
que a
nossa poca requer ,
b em
como
abelezad e am b ien t e que nos
a j u d a
ain tu i ros ag rado .
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E
hoje?
Tenho para
mim que o
actual Capelo
P.Joo
Paulo
Fernandes e aqueles que o a c o mp a n h a m nas iniciativas
sonhadas perceberam
o que
importa adquirir: qualidade
valor.
A s
pessoas de h o j e ainda quando se l imitam ao
tur ismo re l igioso que rem ser iedade competncia acolh i-
mentoatencioso
naquilo
que lhes
oferecido.
A
presente
publicao comprova
essa
ateno na resposta.
So prioritrios o
zelo
pela dignidade do culto aliexer-
cido
e o
cuidado
na
doutr inao minis t rada
ao s
fiis
que
al i
acorrem. Mas a par desse empenhamento
pastoral
vemos o
interesse pelos aspectos histricos artsticos
e
tradicionais qu e agora se disponibilizam ao visitante e ao
leitor.
A
cultura
quando
verdade ira isenta
e
acessvel
f requentemente por ta aber ta para a f para o louvor
para
a aco de graas.
Felicito os Auto res a quem agradeo a excelncia do
trabalho
e
congratulo-me
c o m o
Capelo .
L B I N O CLETO
BispoEmrito
de
Coimbra
M I L G R O S
I M G E M
D O S E N H O R D S E R R
O E x.
m t>
Sr
Nncio concede
10 0
dias de
Indulgncias
a
guem rezar
m P N .
e A v e M .
dianie
d e s t a Imagem.
C o l e c o
F am l i a
L o u r e n o )
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fie
fot^ci
3
O
S E N H O R
DA
SERRA:
ARTE EPATRIMNIO
R E G I N A
A N A C L E T O
FLL/C/CEPESE
A part i r de uma data indeterminada, mas que se pode
situar
e mtorno da pr imeira metade do sculo XVII, em
Ceira, terra
que se
s i tua
nas
proximidades
de
Coimbra,
o
casal Martim
o u M a r t i n h o ) A v e su a
m u l h e r M a r i a
G u i l h a l m e d e t i n h a m a posse de umCristo que passou a
ser alvo de grande devoo.
Devido a conflitos e desaguisados acontecidos entre os
muitos que acorr iam a sua casa para venerar e implorar
graas
i m a g e m , ou por qualquer outra razo,ospossui-
dores resolveram desfazer-se d e l a
e
esconderem-na
num
local e r m o.
Na viz inhana da zona
onde
o casalvivialocalizava-se
o
mosteiro
de
Sem i d e , oc u pa d o
por
m onj a s bened i t i na s
e um certo dia,quando os seus criados andavam a apa-
nhar lenha, e ncontraram a imagem e le varam-na para o
cenbio, a f im de a l i sercultuada. O local do achamento
parece
que
ficava
den tro da rea de jur isdi o do mos-
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teiro
e as
religiosasfizeram
a
erguer
um a
cruz
que
passou
a
ser conhecida pelonomede
Cruz
de Longe .
A
com unidade, para que a Cruz pudesse continuar a
se r
venerada pelos m uitos
q ue
persistiam
em
acorrer ali,
a
fim de pedir a proteco do Senhor, acabou por m and ar
construir um pequeno coberto abobadado no c i m o do
monte que ficava sobranceiro ao complexo monstico. O
alpendre, posteriorm ente, e no contexto de um a evolu-
o habitual, deve ter visto fechados trs dos seus lados
e
virado capela num a data
que se
situa entre
1553-1563;
mas ,
ao
longo
do s
tempos,
foi
recebendo acrescentos
e
modificaes feitos a
esmo. Tambm
se lhe iam
apondo
casas
destinadas
a dar
pousada aos, cada
v ez
mais nume-
rosos, romeiros que ac orriam ao Santurio.
Na sequncia da desam ortizao, o Sa ntur io e as
esmolas dos
fiis cont inuaram
a
passar pela administra-
o m o n aca le
foram
estasque permit i r ama sobrevivn-
cia
da sltim as religiosas a perma necer no m osteiro que,
apesar disso, seviram obrigadasa vender todas aspratas
pertencentes
ao
DivinoSenhor
da
Serra.
A 21 de Agosto de 1896 m orreu a ltim a residente,
D. Maria dos
Prazeres
Pereira Dias e a
capela
passou a
se r adm inis trada pela Fazenda Pblica; contudo, nesse
mesmo ano e graas a uma portaria do governo, o bispo
de Coimbra pde n o m e ar
um a
comisso destinada
a
receber
e a
adm in is t rar
os
donativos
que os
mui tos fiis
entregavam
na ermida.
D.
Manuel Correia
de
Bastos Pina (Costeira, Carre-
gosa, 1830.11.19-Costeira, Carregosa, 1913.11.19) fo i
sagrado Bispo a 12 de Ma io de 1872,tendo,de imediato,
assumido a cadeira episcopal da diocese conimbricense.
Hom em culto, de aprim orado gosto artstico e dinm ico,
n o descurou, a par com aevangelizao,o engrandeci-
mento mater ial
da sua
diocese.
Foio
57.
(61.)bispode
Coimbra
e o
22.
(25.)
conde
de Arganil, ttulo outorgado a D. Joo Galvo e a todos
os
prelados m ondeguinos daqu i
em
diante para
todo
o
sempre , por D. Afonso V, atravs de um decreto assi-
nado a 25 de Setembro de 1472.
Da actividade desenvolvida pelo Bispo-conde salien-
tem-se
asobras
levadas
a
cabo
no
seminr io
da
Sagrada
Famlia
(seminr io maior de Coimbra) onde, para alm
de ter ajardinado, de acordo com projecto previamente
elaborado por Antnio Barata, o largo fronteiro estru-
tura,
acrescentou
ao
edifcio
velho as
chamadas casas
nova e novssima. A par destes trabalhos, como conside-
rasse
ultrapassados
o s
curriculam inistrados
no
seminrio,
modificou-os
e, alm de outras, introduziu-lheas disci-
plinas
de
Arte
Sacra e de
rcheologia
Chist,
esta ltima
leccionada, desde 1904,
por
Eugnio
de
Castro.
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Realizou-seem Lisboa, no ano de
1882
aExposiod e
Arte Ornamental e a diocese de Coimbra enviou, a fim
de
serem apresentadas
na
mostra, muitas pratas
e
alfaias
litrgicas.
Aps
o
retorno
dos
artefactos,
o
Bispo-conde
resolveu
reunir
no
edifcio
da S e no
mbito
de um con-
texto museolgico epocal, as peas mais representativas,
no s aspertencentes aocabido, mastambm as dealgu-
mas outras
freguesias
da suadiocese. O
enorme
evalioso
esplio de ourivesaria, actualmente pertena do Museu
Machado de Castro, entrou na posse dessa instituio,
apenasdepois da m orte do p relado, em 1913, como resul-
tado da aplicao das leis republicanas de apropriao
dos bens da Igreja.
A S Velha necessitava de reformas urgentes: a sua
integridade
fsica perigava.
D .
M an ue l
deu
corpo
tarefa
de recuperao,
com o
auxlio m onetrio
da
rainha
Dona
Amlia
e com a colaborao, digam os, cientfica de
Antnio Augu sto Gonalves aco mpanha do pela pliade
de artistas da Escola Livre das Artes do Desenho.
Mestre Gonalves, homem dotado de grande capaci-
dade de iniciativa e de vasta cultura , dava aulas na Asso-
ciao
dos Artistas, o que lhe permitiu aperceber-se, em
vir tude
do
contacto mantido
com os
operrios,
do
inte-
ressequ e estes demonstravam em ampliaros seus conhe-
cimentos. Consciente
de que
aquele
local
no era o
mais
conveniente para desenvolver certas capacidades abso-
lutamente necessrias aos artistas e como no havia em
Coimbra
um a
escola
de
Belas Artes, acabo u
por fundar,
em
1878, a Escola Livre das Artes do Desenho alfobre
de
muitos homens ligados
aos
mais diversos mesteres,
que marcaram o panorama art st ico de Coimbra e no
s
at cerca dos
finais
da terceira dcada de Novecentos.
A Escola Livre aprovou os seus estatutos, embora com
carcter provisrio, na Assembleia-geral de 25 de Outu-
bro
de 1880.
Em 1897, aquando das Bodas de Prata da sagrao
episcopal
do Bispo Bastos Pina, a diocese quotizou-se, a
fim
de lhe
poder oferecer
uma
lembrana condigna. Con-
tudo , o prelado, dando expresso s dou trinas preconi-
zadas
pelo Papa Leo X I I I na Encclica
erum
Nofarum,
preferiu uti l izar esse capital na construo de umBairro
Operrio, o primeiro a ser programado no pas , projec-
tado
po r
Monteiro
de
Figueiredo
e
composto
po r
quinze
moradias , escola ecapela, dedicada a Nossa Senhora de
Lurdes. Foi este bairro, construdo na zona de Montes
Claros, que esteve na base do desenvolvimento urba no da
rea
e na
formao
da
actual parquia
de
Nossa Senhora
deLurdes.
A
relao
do
Bispo-conde
co m
Mestre Gonalves,
a
desenvolver-se
no campo artstico e no no ideolgico,
levou-o
a encarreg-lo de, em 1898, riscar um
albergue
destinado a dar gua rida aos romeiros, a erguer-se ju nto da
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velha capelinha do Senh or da Serra e pago pelasesmo-
lasoferecidasao Santu rio. A fim de tomar contacto com
o local, para
melhor
dar
corpo
obra,AntnioAugusto
Gonalves de slocou-se ao Senhor da Serra na companhia
de
Monsenhor
Jos
Maria dos Santos. No ano seguinte,
em Julho, antes da romaria, as hospedarias (afinal parece
que
se construiu mais do que um a ) j se encontravam
concludas e uma delas tinha capacidade para acomodar
200
pessoas.
Mas, l no cimo do monte,
onde
cus e terra quase
se
tocam, o prelado no se quedou por estes edifcios.
Constatando
que o
pequeno templo
no
servia para
dar
resposta
a uma romaria to concorrida como a que acon-
tecia em Agosto de cada ano, pensou em fazer construir
um a
igreja
condigna.
Com efeito,aromaria ,ta lcomooperidicoResistncia,
em
1902,
arefere era
viva
e
pitoresca: Anda
a
cidade
[de
Coimbra] desde o dia 15,cheia do s ranchos do s romei-
ros, que vo ou voltam do Senhorda Serra,cuja romaria
anual
acaba hoje.
A estrada da Beira anda animada daqueles grupos,
que vo de me rendas
cabea,
ou voltam com a imagem
do Senhor, cuidadosamente metida na fita do chapu.
Quando chegam Portela,selevam anim ais, atraves-
sam
o rio a vau, sem se imp ortarem com os risos e os
ditos,
que
lhes gritam
de
cima
os que vo
pelaponte
ao
verem as mulheres levantarem cuidadosamente, e bem
alto,
as saias para lhas no molhar o rio.
Depois
l vai
tudo
at s
Vendas
de
Ceira
e
da,
ladeira acima,
at ao
alto
do
monte, donde
se
avista
o
telhado alegred ahospedaria da capela,ecomeaasentir-
-se
a
carcia
do
vento
fresco.
Param
a
ouvir
um
sermo, depoisoutro.
Lino da Assuno descreve o
efeito
cmico dos ser-
mes pregados
ao
mesmo tempo,
em
pleno
ar e
plenosol.
Ainda hojeafama doplpito para quem mais berra.
O quadro no deixariade sersingularssimo,edigno
dum pincel custico.
O cu
lmpido
e
azul,
o sol
claro
e
abrasador
e a
planura
do
cmoro apinhado
de
homens, suando den-
tro nos grossos jaquetes de briche, e de mulheres com
saias
de
seriguilha pela cabea deixando cair sobre
as
tes-
ta s deprimidas as farripasdum cabelo empastado como
linho antes
de ser
cardado. Aqui,
no
plpito
do
adro
o
pregador
c onfun dindo a sua voz com o eco de outra que
lhe
vem l dedentrode junto do altar. Mais alm outro,
na beira
du m
carro, encostado
a uma
pipa,
e a
quem
o
festeiro abriga com um enorme chapu vermelho, que
mais
vermelhas torna as bochechas luzidias do pregador.
Debaixo du m toldo de barraca e sobre um a mesa, v se
outro
gesticulando, alagado em gua que lhe encharca
a sobrepeliz e estola, procuran do dom inar com a voz as
14
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metforas
do viz inho, que
sobre
uma
cadeira
sombra
dos pinheiros conta dezenas de milagres acontecidos em
favor
dos
devotos
que
mandam pregar sermes.
E,
aca-
bado um sermo, retira-se o grupo que o encomendou e
aproxima-seoutro
que o
prometeu.
E
todas estas
vozesj
roucas
procurando dominar o rudo confuso dos descantes,
da sgui tar ras ,
das
algazarras
dos
beberres,
das
altercaes
das
rivalidades
estimuladas pelo lcool
e at das
in jr ias
e grosserias
das
rixas travadas pela posse duma mulher,
oupelaliquidao develhascontasquevieram abertasl
desde asaldeias.E o sol deAgosto dardejando inclemente
sobre oslargos chapusetornandoescurososrostos luzi-
diose afogueados e
ainda mais negros
os
beios enegreci-
dos pelo vinho e pelo p; e como comentrio s palavras
dospadres quasefonos, queclamam pela
justia
emise-
ricrdia divinas ,asvozesvibrantesdastricanasde Coim-
bra, menos devotas emais alegres, bailando e cantando
ao som das
violas
o
Manuel
ceguinho
o u o
h
ladro ladro
Por
fim
entram
na
capela onde
o
Cristo agoniza
numa
cruz
de
pedra, deixando cair
a
cabea para mostrar
o cabelo negro que cresce, como diz a lenda, todos os
anos.
Pelasparedes, pregadasem ripasde madeira, vem-
-setranas
de
cabelo
de
todas
as
cores, votos
que
fazem
osdoentes,
por
saberem
que este o
sacrifcio
que
mais
gosto
d ao Senhor daSerra .
16
Antnio Augusto Gonalves,
que
fora, como
se
refe-
riu,
o
responsvel pelas hospedarias
e que
trabalhava
com
o prelado na interveno da S Velha, incumbiu-se de
projectar anova
fbrica
eclesial.
A construo do
templo,
que se processou em duas
fases, iniciou-seem 1900, tendo sido adjudicada acons-
truo
dafachadae docorpoda igrejano dia l deNovem-
bro desse ano a Abel Simes
Mizare la
pela quantia de
3.990$900 ris. Quatro anos depois (Agosto
de
1904),
a nave e o campanrio j se encontravam concludos.
O antigo templo setecentista permaneceu no meio da
nave e s quando esta se final izou que o demoliram.
N a
zona
do
arco cruzeiro levantou-se, ento,
uma
parede
provisria destinada a cerrar a nave, de molde a que a
estrutura pudesse funcionar como templo
at
conclu-
s o da abside,acompanhada pela sacristiaepela casada
administrao.
Contudo,
a
construo
no
parou.
A
fbrica eclesial
ia-se completando
e, em
1907, Gonalves desloca-se
ao
Senhor da Serra,a fim de,
in
loco,observar aobra que se
andavaafazer;
tratava-se
da
concluso
da
capela-mor
e dos
anexos,estruturaque seiniciaraem Janeiro ouFevereiro
desse
ano e que
fora
tambm arrematada pelo mesmo
Mizarelapela quantia de 1.300$000 ris. Era conhecida
a
interferncia
directa
e
constante
do Bispo-conde na
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fe i turado Sa ntur io , mas a imprensa local, longe de
esca-
motea rofacto, sublinhava-o.
Carac t e r i za res t i l is t icame nte
a
igreja
que se
e rgueu
nos
pr imeiros anosdeNovecentosno
Senhor
da Serra, torna-
-se
ta re fa
difcil, direi mesmo quase impossvel, porque
e la n o apre sen ta un idade . Mas , quem melhor adescre-
ve u foi o seu au to r quandodisse qu e no houve nunca
o propsito de const ru i r u m a Capela qu e
fosse
escrava
dum estilo. Teve-se ape nas em vista uma construo agra-
dvel. Quem
olhar
pa r ao esguioda torre supor-se-em
f ren te dum gt ico
f l amejan t e ;
qu em exam inar os capi t is
e cachorros
julgar-se-
em f r en te du ma cons t ruo rom-
nica .
Ofor rodocorpodacapela dum certo sabor rom-
nico mas j o da
capela-mor,apainelado
como , parece
do
sculo XVII .
Quando
se observa, mesmo super f i c i a lmen te , este
templo, no pode deixar de
notar,
ne m m e s m odiss imu-
lar,
o parale l ismo exis tente ent re a SVelha aemin iense
e aigrejado Divino Senhor da Ser ra ; mas esta s imil i tude
no
pode causa r e s t r anheza
se se
tiver
em
conta
que
Mes-
t re Gonalves foi o responsvel pelo restauro da primeira
epelo projecto
da
segunda. Desde
a
agulha (demolida
na
velha catedral),
aos
cachorros,
aos
capitis,
aos
lunetos
e
at ao
re tbulo
e
azule ja r ia
da capela-mor,
esta
a
mos-
trar-se nu m lambr i l de pseudocorda-seca, tudo
joga
em
unssono.
Constru iu-se a capela , mas es tava despida, nua e
fr ia :
sem mobil ir io . O rnament-la e inserir-lhe retbulos tor-
nava-se imper ioso.
Em Coimbra
procedia-se,
na
a l tu r a ,
demolio
da
igreja
da
Miser icrdia velha
que se
si tu-
ava sobre
o
medievo templo
de S.
Tiago,
ali na
Praa
do
Comrcio.Osdois re tbu los la te ra is existentesno templo
de ixa r amde t e rservent ia ,
f icaram
de sact ivados, acabando
por ser
comprados para
o
Senhor
da
Ser ra
por
150$000
ris
ea d a p t a d o sa olocal,em 1908, po r
J o a qu im
d eAbreu
Couce i ro . A sua talha insere-se no cham ado estilo joa-
nino e , face scaracter s ticas apresenta das, a f e i t u r a das
peas aponta para os inciosd oscu lo XV III.
Um dos
retbulos f icou povoado
com o seu
orago,
o
Cris to Redentor , maspa r aooutro,Joo Ma chado, que
t an tas
e tore pet idas vezest em assinalado oprestgio da
escola coimbr co m produes genia is e de ve rdade i ro
t r i un fo pa r a o seu conce i tu ado nome escu lp iu uma ima-
ge m
da Senhora da Piedade,
estofada
nas of icinas de pin-
t u ra deAntn io
Eliseu,
a r t i s t ade reputado mr i to . A
imagem,
que custou 180$000ris, foi ocupa r o seu
lugar,
em 1912,
ano em que
chegou
ao
Santur io .
Em 1943 procedeu-se
ao
res tauro
dos
colaterais,
que
deve
te r
passado pelo
redouramento e ,
anos depois ,
j
nof inda rdo sculo (1996), o ento proco, padre
Ant-
ni o
PedrodosSantos, despende u 150.000$00 numa nova
reparao.
18
19
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A ut i l izao de retbulos decorre da necessidade de
dignificar o
microcosmo
em que o
sagrado
se
concentra
com
maior intensidade, deofereceru m cenrio condigno
Eucaristia e de identificar o altar atravs da referncia
ao santo ou ao mistrio a que est dedicado.
E se o
problema
do s
colaterais
j se
encontrava resol-
vido, a
verdade
que na
abside faltava
o
retbulo-mor.
Mais
uma
vez,
Antnio
Augusto
Gonalves o respon-
svel pelo projecto e, em 1908 durante o tempo em que
decorreu a romaria (Agosto), o esboo aguarelado esteve
exposto, a fim de ser ratificado por todos q u a n t o s pas-
savam pelo Senhor
da
Serra.
No
desenho,
que
revelava
conhecimentos do s seus recursos decorativos , encon-
trava-se patente a admirao do autor pelo esti lo gtico e
a
filiao no re tbulo da catedral velha mo ndeguina .
A estrutura reveste a form a de trptico,onde se indivi-
dual izao Corpus , queconst i tu iocentro narrat ivo,a ser
ocupado com o antigo Cristo de Mar t imA v e deM a r i a
Gu i l ha l m e, rematado
por uma
abbada complementada
po r dossel rendilhado.
Lateralmente , em dois nichos de maior envergadura,
aparecem,
cada um por banda , S. Pedro e S. Paulo qu e
se encontram, respectivamente, ladeadospor uns outros
menores, povoados porSantoAg ost inho e SoJe rnimo
e
por Santo Ambrsio e So Gregrio Mag no.
A pa rt i r do sculo XV, a f im de tornar mais visvel o
Co rpus , pa ssou a acrescentar-se aos retbulo s a predela;
no Senhor da Serra el a evidencia-se divididae m peque-
nos
oratr ios que,
no
caso vertente, mostram
a
Ado-
rao do s pastores , a Fuga para o Egipto , Cristo no
Jardim
da s
Oliveiras ,
a
Flagelao
e a
Vernica .
Os
quatro Evangelistas, de vulto redondo, preenchem peque-
nos nichos.
Como estamos perante um retbulo de
matr iz
cris-
tolgica, Cristo ressuscitado
e
dois anjos rematam
o
coroamento.
Merece destaqu e
a
m o l d u r a ,
e m
escul tura ornam ental ,
que bordeja toda a construo re tabula r eondese podem
ver lees, anjos, ursos, porcos,
amores
aves, homens sel-
vagens, etc. entrelaados
em
fo lhagem, a lguma
a
sair
de
est ru turasqu efazem lem bra r cestos de vime. Os smbolos
eucarsticos ma terializ ado s no pelicano , nas videiras, nas
parras
e nas uvas tambm marcam presena.
Opin tor , inspirando-senogosto f lam engo , patenteno
retbulo da SVelha aem iniense,
u t i l i zo u
u m f u n d o azul
onde se destaca a exuberncia doura da das msulas e dos
ba l daqu i no sdest inados
a
albergar
as
escul turas
de
vu l to ,
bem como
os
pseudodossis
dos
relevos
da
predela
e do
Corpus , a lembrar f i l igranados de requintada peca de
ourivesaria.
21
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A
imprensa local,
tal
como acontecia
com
todos
os
trabalhos executados por alunos da Escola Livre, estru-
tura
que, a dada altura, se mescla com a Brotero, no se
cansavade inserir notcias relacionadas com afeitura do
retbulo queentretanto(1808) comearaa sertrabalhado
nas
oficinas
da Escola Brotero. Tratava-se de um magn -
fico altarde castanho , desenhado porAntnioAugusto
Gonalves
dentro
doestilo gtico eexecutado sob ares-
ponsabil idade de Joo M achado.
Em 1910-11,Jos Paulo, artista tamb m ligado EL AD
e
Brotero, onde
er a
assistente
na
oficina
de
marce-
naria, dirigida por Machado, deslocou-se ao
Senhor
da
Serra,
a fim de, sob o seu olhar atento , se assentar o altar.
Os
alunos
da
Escola Livre seguiram
de
perto, quer
colaborando, quer colhendo ensinamentos, a feitura do
Santurio impulsionado pelo Bispo-Conde
e
gizado
po r
Mestre
Gonalves. Manuel Pedro de Jesus, artista ligado
ao trabalho do
ferro
e que contr ibuiu para que Coimbra
fosse apelidada por Feliciano Gu imares a cidade das
grades ,
encarregou-se de bater, a fim de serem colocadas
sobretudo nas portas, as ferragens decorativas qu e mu ito
honram aarte coimbr . Ogradeamentoquevedaoadro
comeou a ser aplicado em 1931, tendo sido pago por ele
a quantia
de 16.492 00.
As obras dos primeiros tempos foram sofrendo uma
paulatina paralizao e, em 1913, o
Dirio de
Coimbra
chamava
a ateno para a necessidade de concluir o ret-
bulo d capela-mor com o
trabalho
de pintura e
dou-
radura
indispensvel para
que ele
ficasse completo,
at
porque representa
dois
anos de trabalho de umadezena
de artistas novos e que primaram em conseguir nele o
melhor xito .
Depois da implantao da Repblica, quando se veri-
ficou
a nacionalizao dos
bens
da
Igreja,
a Comisso
Adm inistrativa dos pertences do Santu rio foi extinta,
mas,
por via da
forte personalidade
do
bispo Bastos
Pina,os trabalhos foram-secontinuandoat sua morte,
acontecida
em
Novembro
de
1913. Seg uiram -se ano s
de
marasmo e, em 1918, durante um curto lapso de tempo,
vivificou no San turio uma Irmandad e que, apesar de
quase mo men tnea, aind a teve capacidade para adjud icar
a
concluso
do
retbulo
conhecida f irma conimbricense
de Eliseu& Filho que,
como
sem pre, ali revelaramcrdi-
to s
qu e
tanto
os dist inguem .
J referi,
e volto a acentuar , embora salvaguardando
a diferenade qualidade e de sumptuosidade, aligao
quase umbilical
do
retbulo
da
capela
do
Senhor
da
Serra,
com o da velha catedral conimbricense. Mestre
Gonalves trabalhara na S, estivera ligado interveno
levada a cabo no grande retbulo executado por Olivier
deGand
e Jean d'Ypres e, por isso, e no s, facilme nte se
explicam asanalogias.
23
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As
catedrais medievas enriqueciam
as
aberturas
co m
vitrais que, para alm de lhes conferir imponncia, coa-
vam a luz enchendo-as co m sombras coloridas e convi-
dativas
meditao. No novo templo, a erguer-se l no
pncaro da serra, havia que tentar imitar os tempos de
outrora; por isso, nas oficinas da Escola Brotero, o qu-
mico C harles
Lepierre,
en to professor naquele estabele-
cimento de
ensino,
tentavaproduzir,com os
seus
alunos,
asvidraas brilhantes capazesdetornar intimista a igreja
e de lhe
conferir espiritualidade. Deparam-se
co m
in-
meros problemas impeditivos de concretizar aempresa,
mas,m esmo assim, ainda colocamnasventanas osvitrais
que representam
os
quatro evangelistas
e no
culo
o do
Divino
Salvador . Infelizmente,
os
originais perderam-
-se, qui com excepo do do culo, mas recentemente,
em 1996, o ento responsvel pelas almas e pelos bens
doS anturio, padreAntnioPedrodos Santos encomen-
dou, em
Itlia,
na casa Grassy Vetrate d'Arte, vidraas
co midn tica temtica para fechar aqueles espaos emais
quatro destinados
a
vedar
a s
frestas
da
nave
do
templo.
Trs anos m ais tarde, na janela do coro, vindo da mesma
casa, fo i
aposto
um
vitral alusivo
morte
de
Cristo
que
custou690.000$00.
Asoficinas
d a
B rotero, relativamente
igreja
do
Divino
Senhor
da
Serra, funcionaram
como
verdadeiros labora-
trios, pois tam bm fo i
a ,
nas de cermica,que Antnio
24
Augusto Gonalves deu corpo ao lambril de azulejos que
reveste a nave, historiados com a vida de Cristo. Parece-
-mepoder dedu zir, atravs da co nsulta do seu acervo e da
da
imprensa local, que eles foram assentes em duas eta-
pas.
A p rim eira, e mais vasta,decorreu at cerca de 1913
e asegunda,em 1919-1920.
E
penso assim, porque
na
Gazeta
de
Coimbra
se
pode
ler: com
destino
capela do
Senhor
da
Serra acabam
de
sair
das
oficinas
de
cermica
da
Brotero dois belos pane
au x representando os quadros Ecce
Homo
e Flagelato
pr
nobis
cujo desenho se deve ao notvel artistaconim-
bricenseAntnio Augusto Gonalves.maisu m aprodu-
oque
honra sobremaneira
as
oficinas
da
Escola Brotero
e tambm a arte coimbr e o Jornal de Coimbra ainda
acrescenta que esta obra de uma perfeio tcnica e
artstica inexcedvel,honrado sobremaneira aqueles que
nela cooperaram
e
evidencia
a
competncia
do
autor
em
assuntos
desta natureza .
Ambos
osperidicos saramna
primeira da sre feridas datas.
Nos apontamentos
goncalvianos
relacionados com o
Senhor da Serra e depositados na Biblioteca Municipal
deCoimbra,
entre
outrasnotas,registei
as
seguintes:
Em
19Abril 1919 Recebi da C omiss o da M iseric rdia de
Semide
124$ escudos, imp ortn cia
de
10,3383
m2 de
azu-
lejos que ultimamente executei para oSenhor da Serra ;
Em
19M aro 1919=G ratif icaoaAf fonso Pessoa pelos
25
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ltimos q uadros
d eazulejo(10,3383m2) =
10$00 ;
e Em
20
Abril 1919 =gratificao
que dei ao S.
Pinto =20$00 .
Afonso Pessoa, ligado s oficinas da escola e artfice
conhecido, colaborou
com
Gonalves nesta empreitada,
tal como aconteceu com o arquitecto Silva Pinto, este
tambm mui tasvezes cham ado a dar o aval cientfico
construo.
Quando, em 1907, se ergueu a abside do templo,
apuseram-lhe,
de um lado e do outro duas estruturasd e
apoio aos servios cultuais e burocrticos: a sacristia e a
casa da administrao. Para a pr imei ra mandaram
fazer
um arcaz com os seus gavetes, destinado a guardar os
paramentos e Joo M achado esculpiu, em pedra, o magn-
fico
lavabo. Antnio Augusto Gonalves ofereceu
a
ima-
gemdoSenhor Crucificado. Simultaneamente, o mesmo
Machado trabalhou tambm as quatro pias dest inadas
gua benta, colocadas, as de p, uma de cada lado da
porta principal e as outras no corpo da capela, insertas
naparede,a olado direitodecadauma dasporta s laterais.
Nos
ltimos anosdadcadadenoventadosculoXX,
o responsvel pelo San tu rio, Padre Pedro, alterou a lgica
inicial,transferindoasacristia paraazona inferiorda
casa
da adm inistrao. Decorrente desta deslocao, dado que
o
p-direito
docmodo er a
menor,
o
lavabo ficou embe-
bido no solo, perdendo a sua proporcionalidade e, con-
sequentemente, a inerente dignidade da pea alterou-se.
26
A sacristia foi transformada em Capela do
Santssimo
Sacramento
e,
simultaneamente,
da
Reconciliao.
O
velho
Cristo
de
Antnio
Augusto Gonalves preside
ao
altar; para tapar
as
aberturas foram encomendados
ao s m esmo s artistas italianos da oficina Grassy Vetrate
d'Arte, osvitrais, datados de 2001 e que, conjuntamente
co m
os da
sacristia, custaram 1.900.000$00.
Ergue-se
ainda,noadro doSanturio a nastraseirasdo
templo,
uma
pequena capela
com a
invocao
do
Senhor
dos Passos. Construda em 1943, alberga,naactual idade,
para almdo Orago, os ex-votosdos tempos modernos:
fotografias.
MasoSanturio,
onde
andano ar no sei quemsica
celeste
feita
do zumbido de abelhas, de chilreio de pas-
sarinhos,de oraes de
crentes ,
impe-se
pelo
seu
todo
embora a capela do Divino Senhor da Serra que, c de
longe parece
um
grande corvo poisado
no
vrtice
da
serra,
erg uend o para o ar, a perder-se no
azul
dos cus, o
bicoalvo
e
esguio ,
se
assuma
com o
eixo central
de
todo
o complexo.
27
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ORIENT O BIBLIOGRFIC
Fontes:
ABMC.
Acervo de
Antnio
Augusto Gonalves.
Obras de consulta:
G O M E S ,
Marques D . M anoel Corra de Bastos
Pina,
Bispod e Coim-
bra, Conde d Arganii. Esboo biograpfuco, Aveiro Minerva Central
1897.
MACEDO, Francisco Pato
de, O
re tbuio
da S
Velha
de
Coimbra,
ern Portugale spanha entre a uropa e aim-mar. Actas do IV Simp-
sio
Luso-Espanhol de
Histria
daArte Coimbra
IHAUC
1988 p.
303-319.
N V S Campos O DivinoSenhordaSerradeS emide , Coimbra Gr-
f ica
Conimbricense 1920.
Publicaesperidicas:
Despertar
(O )
Dirio de Coimbra
Gav e t a de Coimbra
Jorna
de Coimbra
Notcias de Coimbra
Resistncia
Tribuno
(O )
Popuiar
28
r u z d e L o n g e
29
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M o s t e i r o d e S a n t a M a r i a d e S e m i d e. V i s t a gera l
3
A n t n i o A u g u s t o G o n a l v e s .
A
c a p e l a
d o
D i v i n o S e n h o r
d a
S e r r a
e m
1 8 8 2
A B M C .
D e s e n h o a
lpis
3
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A n t n i o A u g u s t o G o n a l v e s . A l a d o
princip l
d a c a p e l a d o D i v in o S e n h o r d a S e r r a
A B M C .
A g u a d a )
A n t n i o A u g u s t o G o n a l v e s . A l a d o l te r ld a c a p e l a d o D i v in o S e n h o r d a S e r r a
A B M C . A g u a d a)
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C a p e l a d oD i v i n o S e n h o rd a S e r r a b s i d e e a n e x o s
C a p e l a
d o D iv in o S e n h o r d a S e r ra F a c h a d a
princip l
C a p e l a d o D iv in o S e n h o r d a S e r r a C a c h o r r a d a d a a b s id e
5
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C a p e l a d o D i v i n o S e n h o r d a S e r r a . F r e s t a d a a b s i d e
C a p e l a d o D i v in o S e n h o r d a S e r r a . C a p i te l d a a b s i d e
C a p e l a d o
D i v in o S e n h o r
d a
S e r r a . R e t b u l o m o r
7
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C a p e l a
d o
D i v in o S e n h o r
d a
S e r r a . P o r m e n o r
d o
r e t b u lo - m o r
A n t n i o A u g u s to G o n a l v e s . D e s e n h o parc ia ld o c o r p o a z u l e ja r d o r o d a p d a n a v e d o
templo
A B M C .D e s e n h o a lpis
A z u l e j o d an a v e d otemplo. P o r m e n o r
9
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C h a r l e s
L e p i e r r e
(?).
D i v in o S a l v a d o r
Vitral
d o c u l o d a n a v e d o
t em p lo
G r a s s y
V e t ra te
d Arte . S
Mateus. V i t ral
d e u m a d a s
f r es tas
d a n a v e d o
t em p lo
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G r a s s y
V e t r a t e d A r t e .
Morte
d e C r i s t o .
Vitral
a
v e n t a n a
d o c o r o
4
A n t n i o A u g u s to G o n a l v e s . C a p e l a d o S a n t s s i m o S a c r a m e n t o . C r is t o c r u c if ic a d o .
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G r a s s y
V e t r a t e d Ar te . C a p e l a d o Sant ss imo Sacram ento . ltima C e i a Vi t ra l
44
C a p e l a
d o
S e n h o r
d o s
P a s s o s
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O M
M A R U S -
C Q W S IA
B S T O S P I N
B I S P O C O H D C O E C 0 1 H 3 R A
AT9
9 3
S a n t u r i o d o D i vi n o S e n h o r d a S e r ra - B u s t o d e D . M a n u e l C o r r e i ad e B a s t o s P i na
Santurio do Divino S e n h o rd a S e r ra Busto de P a d r e Antnio P e d r o do s S a n t o s
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EX
VOTOS NARRATIVOS
M R I T E R E S OSRIO D E M E L O
icenci d em
Histrico Filosficas
Um a abordagem sociolgica do universo esttico mos-
tra
que a produo artsticatem como
referncia
no
condicionante
o
quadro
de
valores
de um
dado cenrio
espcio-temporal.
Os valores constituem uma unidade
diferenciada
e
antropocntrica.
Arte, M oral, Religio, Poltica, E conomia,
so
expresses dessa unidade,
os
seus domnios
no se
confundem mastodosem anam de uma mesma realidade
essencial
que tambmo seuprprio fim oHo me m.
A
arte popular
reveladora desta proximidade, desta
relao entre a Arte e os demais valores que constituem
a
ma triz axiolgica
de um
grupo social,
O ex-voto narra-
tivo
milagre ,
na
linguagem popular
representauma
interessante expresso
de
arte popular
e,
sendo
um
arte-
facto que evidencia uma vertente religiosa,reflecte, por
outro lado, uma estrutura social
cujo
trao dominante
a ruralidade.
51
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O
ex-voto
no
apenas
um
produto
de
arte
com as
suas
carac ter s t icas pecul iares; tam bm um testemunho
do seu
tempo. Assim sendo,
no tem
apenas
um a
dimen-
so esttica; tem igualmente uma dimenso histrica
ganhando ,por isso,oestatuto deobjecto histrico.
Rober t Chester Smith , autor de um estudo sobree x-
-votos provenientes de vrios santurios portugueses,
considera que em Portugal existe um notvel acervo de
pin turapopula r , dos mais ricos da Europa . Porm, nem
sempre
foi
reconhecido
o
valor esttico
e
histrico destes
objectos.
O
prim eiro estudo sistem tico sobre
os
ex-votos
deve-se
a
Antnio Augusto
da
Rocha Peixoto que,
em
1905, pu blico u Tabulae Votivae Hoje, como todosos pro-
dutos da cul tura popular , susc i tamum olhar novo reco-
nhecendo-se as suas virtudes estticas e o seu interesse
histrico. Os ex-votos constituem um a herana colectiva
epara a
u s u f r u i r
e transmitir aos vindouros indispens-
ve l
que acomu nidade se reconhea responsvel pela sua
preservao
e
valorizao.
Divulgando
o
ncleo
de
quadros votivos
do
Santur io
do
Senhor
da Serra estamos aintervirnuma rea
quase
ignorada ou no reconhecida no seu valor real. Os ex-
-votos
so objectos nobres que, pela sua dimenso cultu-
ral,valea pena proteger.
52
No seu significado ma is lato o conc eito ex-voto
representa tudo
o que o
crente oferece
divindade
em
reconhecimentopor graa
recebida.
Na extenso
abran-
gente
do
conceito cabem
no
apenas objectos
mas
t ambm
comportamentos. So ex-votos as figuras de cera ou as
simples velas,
a s
t ranas
de
cabelo,
os
cordes
de
ouro
ou
outras jias, os quadros votivos, imagens de santos, foto-
grafias
pessoais, edificaes - por exemplo, o Convento
de
M a f ra - registos deazulejos normalmente colocados
nas fachadasd ascasas, nos ptios, escadas ouarcos, mais
frequentes aps
o
terramoto
de
1755 porque
o
receio
de
ser
atingida por alguma calamidade
dominava
e angus-
tiava a populao crente, e ainda comportamentos de
automort i f icao - longos percursos feitos a p dejoe-
lhos,
sem
falar...
-
missas, oraes, etc.
Segundo Eur ico Gama, o ex-voto to velho como
o h o me m que sempre ter concebido representaes
acessveis
s suas capacidades perceptivas e a quem atri-
bui
poderes
que
transcendem
oslimitesda sua condio
h u m a n a .
Angstias
existenciais, interrogaes
sobre
a origem
esentido da vida, a conscincia da vu lnerabilida de e da
transitoriedade
da
prpria vida, geram
na
conscincia
h u m a n a um a at i tude s imul taneamente ansiosa eindaga-
53
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tiva.
O
homem questiona
equestiona-see
busca respos-
tas. O m istrio foi sempre um desafio ao pensamento e
imaginao: criadeuses
e
mitos
imagem
da sua
prpria
natureza
e dos seus prprios cenrios e a eles recorre no
desejo
profundo decompreendera natureza e na necessi-
dade
urgente de se sentir protegido.
Jos Leite
de
Vasconcelos escreve: Assim com o hoje
quem se v doente ou na imin ncia de um perigo ou
doena invoca
os
santos,
a
Virgem
ou Cristo,
assim
na
Antiguidadeum a
pessoa
n as
m esmas circunstncias invo-
cavaos
deuses, fazendo-lhes
votos,
isto
,
promessas
de
objectos
(...) que depois lhes levava, quando se supunha
atendida .
Tambm
as
pinturas rupestres
das
cavernas
pr-histricas
e as
ofertas
s
divindades
do
Antigo Egipto
sero exemplos
de
antepassados histricos
dos
ex-votos.
De
facto,
os que
hoje encontramos
em igrejas,
capelas
e
museus,teroa sua origemremotanos ex-votosdopaga-
nismo e deles no diferem substancialmente. So, eles
tambm, aexpressode uma relao entre o crente que
promete
um a o ferta especificada e o sagrado que dever
responder-lhe favoravelmente;
de uma
relao contratual
ede
troca
-
promessa
- em que os
desempenhos
das
partes envolvidas parecem condicionar-se.
A
ddiva divina
- a
graa
-
co rrelativa
da
contra-ddiva humana
- a
oferta votiva
- mas no so
equivalentes, isto
, em
ter-
mos reais
a
relao entre
o
divino
e o
humano
uma
relao assim trica . Assim
a
define Joo
de
Pina
Cabral
em obra de referncia sobre esta temtica.
Nos
seus dram as pessoais
e
familiares,
o
recurso
media-
o
dos
santos
- os
santos advogados
-
constitui tamb m
uma prtica frequente
dos
crentes.
Se a
mediao
for bem
sucedida, o santo receber em troca a
oferta
votiva .
Os
ex-votos, qualquer
que seja a sua
expresso,
tm
uma funo gratulatria e tornam pblica a relao de
troca.
Aformamais comum doquadro votivo op ainel rec-
tangular, geralmente em madeira, no
qual
se historia o
milagre.
As narrativas so ingnuas e muito econmicas,
temticae estilisticamente.
A m aioria das situaes retratadas so enferm idade s
que
ocorrem
no
espao
domstico.Com
menosfrequn-
cia
o local do sucesso um cenrio exterior ao lar: o
campo - acidentes compessoasouanimais - e o mar -
naufrgios e
outras tragdias.
Normalmente, o painel exibe na zona inferior uma
descrio
sumria do
evento.
Esta inscrio comea,
quase
sempre, pela expresso
MILAGRE
QUE FEZ, por
vezes
substituda pela sigla
M .Q.F., ou
simplesmente pela
palavra MILAGRE,tambm
podendo
esta
ser
substituda
pela letra
M .
Nesta narrativa textual
referem-se o
motivo
55
7/24/2019 Santurio do Divino Sr da Serra.pdf
30/60
queesteve
na
origem
da
splica,
o
nome
do
ofertante
e
a data do acontecimento; expressa-se ainda a dedicao
do
painel
aoente
sagrado
cuja intervenofoi
solicitada.
So frmulas discursivas estereotipadas
que
recorrem
a
expresses repetitivas mas que constituem geralmente,
matria
bem
valiosa para
os
linguistas
-
assim
o
assinala-
ra mdiversos autores e ocomprovou, em 1895,
Jos
Leite
de
Vasconcelos
como
refere
Agostinho
Arajo.
As
com-
ponentes visuais igualmente se vo repetindo e apenas
esteticamente seregistam algumas singularidades.
A composio pictrica
pode
integrar uma nica
cena ou apresentar zonas diferenciadas como , com fre-
quncia o caso dos milagres por doena em que se faz
a representao, separada,
de uma
trilogia:
o
enfermo,
o
ou osseus familiarese o entevotivo -
Cristo,
aVirgem
Mar ia
os mais diversos Santos conforme a peculiaridade
do problema em causa. Estas f iguras sagradas so coloca-
das
geralmente, direita no
plano
superior do
quadro.
Com
menos frequncia
se
vem
aocentroou
esquerda,
representados
num
quadro
ou num
retbulo integrando
a
decorao
do
espao domstico.
A
representao
de
pormenores arquitectnicos
e
decorativos, mobilirio, vesturio e outros adereos,
objectosde usodomstico,
alfaias
agrcolas, etc., conferea
estes ex-votosumvalor etnogrfico, iconogrfico eantro-
polgico particularmente importante. AgostinhoArajo,
56
autor
j
referido, elaborou
um estudo
sobre
o
trajo
a
par-
ti rdaspinturas votivas.Outrosestudos confirmamoreal
interesse destes artefactos.
A
pintura, aplicada directamente sobre
o
suporte
- em
madeira
papel, folha-de-flandres
-
tecnicamente
inci-
piente, esteticamentenaf.Oleo,aaguarelae olpisso os
materiaispreferencialmente usados.Asmanchas cromticas
so
fortes
por
vezes
mesmo agressivas nos seus contrastes.
Muito raramente os ex-votos so assinados. Em regra,
os
seus autores
so
artistas modestos, annimos,
mas com
talento reconhecido eque,por isso,soescolhidos para
darexpresso v isua l svivncias religiosas.
So pouco frequentes ospainis votivos anterioresao
sculo X V I I . N a
primeira metade
do
sculo
X IX
atingem
o
auge
e
alguns, raros,
so
mesmo obra
de
notveis pin-
tores, como
o
caso
de Domingos
Sequeira. Porm,
na
segunda metade do mesmo sculo, a burguesia foi desva-
lorizando
este tipo
de
oferta que,
at ao
sculo
XX,
conti-
nuar
a serpreferida pelos estratos sociais mais modestos,
nomeadamente
dos
meios rurais.
Pode dizer-seque a fotografia representa ogolpe fa ta l
na
produo
dos
painis votivos.
Mas
pela
fotografia no
sef iguram osacontecimentos, apenasa spersonagens que
57
7/24/2019 Santurio do Divino Sr da Serra.pdf
31/60
neles
intervm. Perde-se
a
riqueza intrnseca
dos
quadros
votivos
enquanto objectos histricos de memria.
Em sntese,
nos
ex-votos narrativos
os
dramas vivi-
dosso historiados visual e textualmente com recurso a
esteretipos
que
condicionam
o
artista
e no lhe
deixam
espao
para revelar o seu esprito criativo.
Enquanto
cenas
tipificadas, no
transmitem
a
intensidade
dos
sentimen-
to s experienciados mas tornam pblicos os milagres .
Traduzem,na sua
essncia,
uma mudana,
marca domi-
nante
dos
episdios
a que se
referem:
a um
estado
de dor
sucede-se afelicidade sentida porquea dor foi dominada.
A
causa
natural desta mudana no se
conhece
nem se
indaga.
Para
o
devoto,
se o
sofrimento termina
e a ale-
gria
consequente o invade, isso deve-se interveno do
sobrenatural.
Alm
das
missas, novenas
e
sermes,
os
votos
ao
Senhor Santo
Cristo
do Santurio do Senhor daSerra
assumiram,
ao
longo
dos
tempos,
as
mais diversas
formas:
sacrifcios,ofertasemdinheiroou emgneros, fotografias
ou, ainda, ofertas de objectos. Entre estes ltimos
mere-
ce mdestaque os painis votivos que, em 1920, constitu-
am
um interessante conjunto de vinte e um exemplares.
58
Assim
o testemunhou Campos Neves que jentodava
notcia
do
desaparecimento
de
alguns. Hoje,
a
coleco
in tegradezassete peas, marcas evidentesda devoo ao
Senhor Santo Cristo cuja fama milagreira
era
outrora
confirmada pelos milhares de romeiros provenientes de
diferentesregies
do
pas que,
em
Agosto, vinham
parti-
ciparnas celebraes em sua
honra.
No actual conjunto de ex-votos narrativos do Santurio,
exceptuando dois exemplares do sculo XX, osrestantes
datam do
sculo
X I X ,sendoo
mais antigo
do ano de
1822
f i g . i .
A
narrativa textual destes ex-votos
nem
sempre cum-
pre
os critrios habituais da sua composio: dedicao
expressa ao
ente sagrado
que fez o
milagre,
refernciaao
motivo que determinou orecurso proteco do mesmo,
identificao do
ofertante, data
do
sucesso
e, com
fre-
quncia, o local de origem do mesmo ofertante ou da
ocorrncia.
Verifica-se que apenas dois ex-votos no registama
datado
milagre
e que
tambm apenas dois
no
iniciam
o
texto com a
frmula convencional.
Os
restantes uti l izam
uma das
expresses: M IL A G R E
Q U E FEZ(S), M
E
q FEZ(S)
ou M.Q.F.
A
dedicatria expressa-se
sob a
forma,
por
vezes
abreviada, de um dos registos:
S E N H O R
DASERRA ou
DIVINOSENHOR
DA
SERRA.Destaca-se
um
exemplar
59
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32/60
cuja
legenda
se
reduz
a PELAS A L MA S
reproduzindo,
a
composio pictrica,
a
habitual figurao
da s
Alminhas
f i g . 1 7 .
Num
dos
ex-votos
no
explicitado
o
motivo
que
levou
invocao
da
proteco divina, referindo-se vaga-
mente V E N D O S E E M H U A F L I O fig.4). E m dois
dos
painis
o
motivo
no
consta
da
legenda
mas
infere-
-se,
da composio pictrica,
tratar-se
de uma enfermi-
dade , eventualmente do ofertante. As enfermidades
so o motivo dominante das tbuas votivas do Senhor
da Serra. Enfermidades de pessoas, mas no s. Numa
das tbuas
fig.3)
diz-seque o devoto TENDO HUM BOI
M
TO
DOENTE invocou a proteco do Senhor e o ani-
m alLOGO SAROV. Noutro caso
fig.5)
historia-seumaci-
dente ocorrido
fora do
espao domstico,
no
campo.
Por
f im,
um terceiro ex-voto conta-nos a histria de um pote
que caiu de grande altura e no partiu POR GRAA DO
DIVINO
S E N H O R DA
SERRA
f ig.15) .
Paraalm da tbua votiva, o crente levava ao Santurio
outras ofertas. Na composio textual de um dos ex-
-votos
pode
ler-se:
OERECERO
A OM
SENHORH U M A
J U NTA
DE BIS
fig.7) cu j a
representao ocupa metade
dopainel
-
para traduzir
o
valor material
da oferta?,
para
expressar
a grandeza da graa recebida?
O ente sagrado,oSenhor daSerra,no est
f i gu ra d o
num dos quadros votivos (fig.15). Nos restantes, quatro
60
representam
Cristo
Crucificadoaocentro dopainel, trs
no canto superior esquerdo e todos os outros ao lado
direito comomais comum.Emgeral,o
ente
votivo apa-
rece emoldurado
por uma
cercadura
de
nuvens, delas
irrompendo como
se
fora
uma
apario.
No
conjunto
dastbuas votivas
do
Santurio
do
Senhor
da
Serra cinco
no
reproduzem este
modelo:
Cristo Crucificado
no
envolto por essa moldura. Em trs painis vem-se duas
f iguras
ladeando
a
Cruz, certamente Maria
e
Joo,
o
dis-
cpulo amado.
A
identificao
do
ofertante
- que
pode
ser
simulta-
neamente,e defactoo namaior partedoscasos, quem
bene f i c iou
da
graa
- no
est assinalada
em
todos estes
ex-votos mas apenas em dois se verifica esta omisso. Em
quatro deles distingue-se entre
o
ofertante
e o
enfermo
que recebeu ofavorda interveno divina, como o caso
da
legenda
que
parcialmente
se
transcreve: M IL A G RE
QU E O
SENHOR
DASERRA FSA M A N O E L
PIMENTA
E
M ARIA BRANCA (...) RESSUSCITANDO
LHE H U M A
FILHA D A I D A D E D E 8ANNOS
fig.7).
P orvezes, aiden-
t if icaodo ofertante no explcita mas pode
inferir-se
ou colocar-se como hiptese. Assim, a legenda que acom-
panha a representao pictrica de um dos painis voti-
vos fig.10)
- M I L A G R EQUEFEZOSENHORDASERRA
A H U M A
R E L E G I O Z A
DE
S EM IDE
-permite admitirque
61
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o ofertante ter sido a comun idade cenbica de Sem ide
ou a
prpria religiosacuja identidade
no
registada.
As
referncias tpicas, constituindo em geral um dos
elementos
integrantes
da
composio textual,
no
esto
assinaladasem todas as tbuas votivas do Santurio.
A composio textual encontra-se, por regra, na zona
inferior
do
quadro. Pode ver-se
no
Senhor
da
Serra
um
modelo curioso
fig.9)
que no correspond e regra: a
legenda dispe-se em moldura oval cercando a represen-
tao
pictrica. Esta moldura completa-se com a inclu-
so, aos cantos, de elementos florais, resu ltand o um
todo
decorativo de belo efeito e revelador de alguma criativi-
dade
e
cuidado esttico
do
artista,
no
muito comuns.
Como
j foi
referido,
a
figurao
dos
milagres relati-
vo s a enfermidades abrange, geralmente, trs espaos: o
do
ente votivo,
o do
enfermo muitas vezes acamado
e o
do sseus familiare s ou o utras p ersonagens. E uma trilogia
que est presente em oito dos ex-votos do Santurio do
Senhor
da
Serra.
Os
restantes
s o
alheios
a
este esquem a.
Duas das tbuas votivas, pela forma de representao
do
mobilirio,
dos
adereos
do
leito
e das
vestes cuida-
das,parecem oferta s provenientes de grupo social no to
marcado pela ruralidade e mais prximo de uma classe
mdia. A confirm-lo, a indicao numa destas tbuas
da profisso
do
enfermo
PROFESSOR
EMPEREIRA
fig.ll).
62
A data do sucesso , normalmente, registada na
legenda destes artefactos. Nos exem plares do San turio
encontram-se trs que no esto datados, dois que, para
alm d o ano , registam o dia e o m s e os restantes assina-
lam apenaso ano.
Segun do A ugusto da Rocha Peixoto, as dimenses
mais comuns
dos
quadros votivos
s o 35x50 cm. Do
conj unto exposto no S antu rio do Senhor da Serra, o ex-
-voto
de
maior dimenso
tem
37,5x44,5
cm. e o de
menor
dim enso 22,5x31,5 cm . Predom inam os que tm valores
prximos deste ltimo.
Com uma nica excepo em tela, a made ira constitui
o m aterial de suporte destas pin turas votivas. Alg umas
foram reproduzidasno revestimento em azulejo dosban-
co s
incrustados
no
m uro
que
limita
o
adro
da
capela.
Reprodues ne m sempre fiis aos ex-votos originaisq ue
lhes
serviram
d e
modelo,
t m
sido alvo
de
actos
de
vanda-
lismo,a olongo dos tempos. Oferecem,por isso,u mcen-
rio
triste do que pode resultar da ausn cia de civismo e
sensibilidade cultural . Nunca demaisenfatizaro quanto
urgente alertar
as
conscincias para
a
responsabilidade
individuale colectiva na divulgao e proteco dosvalo-
res patrimoniais, testemunhos de um passado pleno de
saberes,
sentimentos e memrias.
63
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34/60
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Jvtvido
fie
Ikt
n
2
mi
i g u r
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O V S ia
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F i g u r a 9
_
QVJpF Z O SENHORDA
SERRA
AHtJMA REIaEGOZA DO CONVEN
DE S K 2 V D K .
ANJVQ I1K
1 H G /
F i g u r a
1
QUE FEZ O
SENHOR
DA
SERRA
A J O Z l - J PEREIRA M A
DO LUGEAR DO L AP O E
PROFESSOR
E M PE REIRA.QUE
rANDO
G R A V E M E N T E
DOENTE
APEQUERO SADE
DE DE2.GA4BRO
DE
1875
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11
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6
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MU K OVUIMAlfl l
i g u r a i
M N M 5788; Artes Grficas921
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SANTO
CRISTODA SERRA
OLHAR
O BELO COMUNGAR
A
V E R D A D E
SEGUIRA VIDA
J O O P U L O
F E R N N D E S
pelo
No Portugal da poca Moderna urna dasprincipais
manifestaes da f dos homens
passa pelas deslocaes
quotidianas a santurios onde se veneram relquiasou
imagens
deCristo deNossaSenhoraou dossantos.Nos
sculos
XVII
e
XVIII
a f das
gentes
marcada pelacres-
cente devoo popular ao Crucificado em sua paixoe
morte alimentada pela pregao franciscana
e
pela afec-
tividade
do
povo
portugus
que no
esqueceu
de
colo-
car
em
lugar
de
honra
no
escudo nacional
as
chagas
do
Redentor e sereflecte denorte a sul do
pas
naiconogra-
fia daarte religiosa presente napintura em retbulos nos
altarese nos templos.
mbor
continuassem a ser procurados os principais
lugares
daCristandade como Roma eJerusalm ostemplos
de
predileco encontravam-se
a
alguns dias
de
viagem
integrados navida regional. Estes centros deperegrinao
81
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maiores
ou
menores, conforme
a
grandeza
das
narrativas
dos
milagres,situavam-seno exterior daspopulaes, em
capelas
e ermidas isoladas, em altitudes elevadas, tocadas
pelo cu, propcio aoencontro entre Deus e ohomem.
Nestes templos, o
fiel,
num desejo de renovao
inte-
rior, acorria para procurar a proteco divina; "ouvir" e
pagar
missas e/ou sermes; obter perdo; fazer
e
cum-
prir promessas. Algumas
vezes
depositando os seus ex-
-votos de carizfigurativo-narrativo, peas que ilustravam a
situao
em que o
milagre
se
realizou,
em
tbuas votivas;
outrasvezes, entregando as mortalhas e objectos de cera,
conforme asdoenas ou aspartes do corpo que tinham
sido agraciadas;
ou
outros objectos, como azeite
e
cera.
nestecontexto
de
romaria
e
vivncia
de f que
surge
e sedesenvolve o culto ao Divino Senhor da Serra de
Semide,o Senhor Crucificado.
Desde do sculo
XVII
at s aparies de Nossa
Senhora,emFtima,oSenhordaSerrafoi omaior Santu-
rionaregiodocentrodopas. Poralturadasaparies
da Senhora mais brilhante
que o
sol a
este templo, acorriam
maisde vinte mil peregrinos Assim, o afirmam os jornais
de
Coimbra por altura da romaria de Agosto de 1916,
data em que romeiros, de todas as idades e de ambos os
sexos,
se
cruzavam para
o Senhor da
Serra desde Ceira,
Tremoa, Almalagus ou Semide, acantarolar asquadras
populares dedicadas
ao
Divino
Senhor,
numa simbiose
dereligiosoeprofano.NoacervodoSanturio, encontra-
mos uma recolha dessas quadras, feita por Luiz Correia
de
Oliveira,
que
aqui indicamos
e de que
iremos fazer
uso
ao longo deste
texto:
AoSenhordaSerravai
Gente de quatro naes
Cavaleiros
e
Fonsecas
Gonalves e
Sacristes
Ao
Senhor
daSerravai
Gente
detoda anao
Ningum
l vai que no tenha
Penasno seucorao
Divino Senhor da Serra
Seucaminho pedras tem
Se
no
fossem
os
milagres
J no vinha c ningum
Divino SenhordaSerra
Mandai Agosto mais
cedo
Querover as
moas bailar
No
areal
do Mondego
83
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44/60
SenhordaSerraacudi-me
Que eu no sei
dondeestou
Ou os ares abaixaram
Ou aterraalevantou
Ao
Senhor
da
Serra
vai
Gentede toda anao
Ninguml vai que no chore
Da
raiz
do
corao
AoSenhordaSerravai
Gentede
toda
a
comarca
Ninguml vai que no chore
Quando
doSenhorse
aparta
Osromeiros vinham, de modo especial,detrs
distri-
tos:Coimbra,AveiroeLeiria.Que odigamasgentesdo
Baixo
Mondego, ou das terras gandaresas ou ainda as que
so banhadas pelo Lis.
Ei-los,
no ms deNovembro, paraanovena dossantos,
masprincipalmente em Agosto a romaria deste ms,
est
l igada
festa
da
Assuno
de
Maria, padroeira
do
Mos-
teiro de Semide, por isso, as gentes visitavam as monjas ,
subindo depoisaoSanturio) paraaromaria de 15 a 23,
vivendo
afesta ao
Divino Senhor,
A
subida
rdua,
mas
deslumbrante pela paisagem, fei ta
a p, a
cavalo
ou em
carros
d ebois parao sabastados. No
de
muitofci l acesso,
o
Senhor
da
Serra. Para
se l
chegar,
mister trepar
um a
ladeira
ngreme
e
longa. Parece
qu e Nosso Senhor quere
significar
ao s
romeiros
que,antes de erguerem o seu espirito para ocu,tem
de erguer o corpo. E a experincia mostrar-he-Ka que, se custa
desprender
o
esprito
e
elev-lo
aoAlto, no custa menos levar
ao
Senhor
da
serra, o
pobre
barro
de que
somos formados,
e
qu e cada
qual
de ns vai deslocando como pode, pelavida
fora
P.Campos Neves).
L vo os
romeiros,
uns a
rezar
em
agradecimento pelo benefcio alcanado, outros a pedir
asgraas necessitadas. Pelo caminho, encontrandotantas
vezesos
pobres
com
quem
o
Senhor
se
identif ica,pratica-
vama caridade.
J no Santurio, deslumbrados pela natureza, cen-
trados na s chagas
do
Santo Cris to ,
a
grandeza
do seu
amor ,
vinham entregar
o seu
donativo quer fosse
em
gnero
ou
em
dinheiro pela graa recebidafei taem hora de aflio:
o salvamento de um pescador, a cura de uma doena
grave,omilagrenum acidentedetrabalho. Entregavam-se
tranas de cabelo, votos fei tos pelos doentes:
feita
a pro-
messa e alcanada a graa, chegava a hora de a cumprir.
Entregava-se
odinheiro de uma junta deboispor se ter
obtido a graa de o filho f icarlivre da
tropa.
Da romaria
de
1897,
a
nvel
de
esmolas assim
se
registou, conforme
a
obra do P.Campos Neves:em dinheiro,prata,cobree
papel,
832 505 ris; ouro
(quatro
libras) 18 ris;
objectos:
sete
fios
85
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45/60
co m duzentas e
vinte
e cinco
contas
de ouro; um par de
argolas
e um anel de ouro e uma garganta de prata, 30 quilos de cera,
18 0 mortalhas.
Ao
chegar,
o
romeiro andava
de
joelhos,
no
recinto,
com
areia colocada para
o
efeito,
volta
dotemplo.
Colo-
cavaas suas preces, as penas e as dores, junto da imagem
milagrosa, como rezam os ditos populares: Divino
Senhor
da
Serra/
Eu no vos
peo
fazenda/
Peco-vos
que me ds
gente
Daquela
co m
quem
m eentenda Ao Senhor da
Serra
vai
Gente de toda a nao Ningum l vai que no chore/ Da
raiz
do corao Ao
Senhor da Serra
vai
Gente
de toda a
nao Ningum l vai que no tenha
Penas
no seu corao.
EscutavaaPalavrade
Deus,
a sdoutrinado Evangelho.
Ouvia a missa. Confessava-se.Rezavao tero ou outro tipo
de
devoo. Escutava
o s sermes de
voto,maioritariamente
s chagas do Redentor, que chegaram a ser 700 por ano
cumprimento de promessas
fei tas
pelos devotos, segundo
o livro respectivo, em agradecimento pela cura obtida,
pelo regresso
de uma
viagem atribulada,
por um
parto
difcil
ou por um parto feliz, f icar livre de dividas, no ir
para
a
guerra,
no
exercer
o
servio militar, entre tantas
outras questes fami l ia re s ;maleitas dogado...).Aqui per-
maneciam dias consecutivos, muitos toda
a
novena,
num
ambiente de religiosidade, marcado pela partilha de usos
e costumes, pela chanfana
moda
do Senhor da
Serra,
pelos cantares e pelo folclore. Eis uma cultura de um
86
povo crente, manifestando as suas particularidades epo-
cais.
Um a religiosidade
maisafectiva
qu ereflectiva, mais experi-
mental que
nocional,
mais concreta que abstracta. Fenmeno
complexo
de
grande interesse
scio-culturaleeclesia l .
Realmente, desde cedo
a
imagem
do
Santo Cristo
da
Serras eassumiud egrande venerao,porque,porestavene-
randa imagem, faz
Deus muitosprodgios
e milagres, como
m a n i f e s t o
pelos ex-votos, de ontem, presentes no
Corredor
passagem semi-circular por detrs do retbulo, e como
canta o povo:
Quem
vai ao Senhor daSena E no vai ao
corredor/
E como ir ao
Cu
E no ver
Nosso
Senhor.), m as
tambm pelosdehoje,napequena capeladoSenhordos
Passos,
nas
cercanias
do
edifcio principal,
onde
abundam
asfo tog ra f ia sdaqueles que receberam a bno do Divino
Senhor. Junto do Senhor Crucificado se
fazia
uma expe-
r i nc iade f, que se queria repetir ano aps ano com esta
ce r teza no
corao:
Oh admirvel poderdaCruz Oh inefvel
glria da
paixo
A vossa
Cruz
a
fonte
de todas as
bnos,
a origem de todas as graas, e por Ela encont ram os crentes na
debilidade a
fora,
na humilhaoa
glria,
na
morte
a
vida S.
LeoMagno).
Hoje,os tempos so outros, os perodos ureos de aflu-
nciade peregrinos deixam saudade.Nosculo passado,
nos
anos
60,
registou-se
um
decrscimo acentuado.
Mas
muito
se tem feito nas ltimas dcadas para incrementar
o culto, reviver constantemente esta devoo e tradio.
7/24/2019 Santurio do Divino Sr da Serra.pdf
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Lembremoso trabalho apostlico do reverendo capelo
P.
Antnio Pedro
dos
Santos, coadjuvado pelas
Comis-
ses
Administrativas. Lembremos
a
criao
da
Ordem
do
Romeiro
do
Divino
Senhor da
Serra, fundada
por
este
sacerdote em 1991 eaprovada canonicamente em 2001,
pelo bispo
de
Coimbra,
D.
Albino
Cleto, tendo
como
finalidade principal oculto aoDivino Senhor daSerra.
Lembremos
a
Liga
dos
Amigos
dos
Campos
do
Mondego
(LAAM) empenhada em renovar o culto secular, mar-
cando presena todos
osanos.A
acorrem
a
p, desde
a
Cruz
de
Longe, trajados
a
rigor como noutros tempos:
romeiros que chegavam de comboio ou camioneta a Tr-
moae,depois, subiama p,vivendooespritodoromeiro,
no
s no Santurio,mas no decurso do "arraial",com
farnel
e um p de dana, relembrando os bailaricos do
sculopassado.
Ontem,como hoje, neste templo, Deus, que ps a Sua
tenda
no
meio
de ns
(cf.
Jo ,
14),
vem ao
encontro
de
cada
peregrino derramando as suas bnos, o seu amor
Encontro que encaminha cada romeiro profundidade
do corao da f, junto da Cruz do Seu Filho, novo Tem-
plo para a humanidade Na terminologia de Gregrio de
Nissa,
neste
lugar santo
reconhecemos
os
vestgios
da grande
bondade do Senhor
para
connosco, os sinais salvficos de
De us
que nos vivi ficou as recordaes da
misericrdia
do
Senhor
em
relao a
ns
Eis oobjectivod e
todo
o trabalho levadoa
cabo pela Comisso Administrativa actual: proporcionar
este encontro
salvfico
Em
Ano
Paulino (2008-2009),
com S.
Paulo, procla-
mmos que
Cristo
morreupor ns Em AnoSacerdotal
(2009-2010), como Santurio
Jubilar,
centrmos
o
nosso
olhar
n'Ele, o Divino Senhor Crucificado, o Sumo e
Eterno Sacerdote Ele prprio, ao fixar o nosso olhar,
com
amor
que salva,
convida-nos
a
permanecer
com
Ele,
para que,conhecendo-Omelhor, mais o possamos amar
e compartilhar.
Onosso
olhar cruzou-se
com o de
Nossa
Senhora de Ftima, na sua imagem peregrina, e com Ela
adormos
o seu
Filho.
E
tambm
com Ela que desejmos
este
ano
(2011) comear
um
plano pastoral centrado
na
meditao apartir das setes
ltimas
Palavras
proferidas
do
altodaCruz.
Se
durante todo
o ano se
acorre
ao
Santurio, mor-
mente, nagrande RomariadeAgostoqueaconteceuma
experincia
forte
de f, de orao e amor: a celebrao
daeucaristiae dosacramentoda reconciliao, adorao
eucarstica, acelebrao da liturgia das horas, e a
recita-
o do tero; umaexperinciadepenitnciaeconverso;
de
caridade
e
piedade,
de
evangelizao
eformao
crist.
Ao p da Cruz do Senhor, continua-se a contemplar as
Santas Chagas pelas quais fomos curados
e a
escutar
a s
Suas
Palavras.
89
7/24/2019 Santurio do Divino Sr da Serra.pdf
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Esta
grande experincia de f, orao e amor
inicia-
-senos primeiros instantes em que o peregrino, com esse
desejo interior,
se faz ao
caminho
em
direco
ao
San-
turio: peregrina Peregrinar toca o serhumano naquilo
que
nele
mais profundo.
O
poeta Miguel Torga
usa o
termo peregrinao para definir
a
vida.
O
prprio Cristo
fo i peregrino que saiu do Pai e veio ao mundo para dar
a vida emabundncia epassou deste
mundo
parao Pai
cf.
Jo
16,28).
N'Ele somos peregrinos, nesta
Igreja
que
peregrina at ao santurio celeste atravsdos santurios
da terra.Aperegrinao um acto de culto, a f i rma D.
Antonino Dias:
operegrino caminhapara
o
Santurio para
ir ao encontro de Deus, para estar na sua presena, prestando-
- lhe a h omenagem da sua adorao silenciosa, abrindo-lhe o seu
corao,
realizando numerosos actos de culto atinentes quer
s f r da liturgia quer da piedade popular. A sua piedade
assume
a
forma
de
louvor
e
adorao
ao Senhor
pela
suabon-
dade e
pela
sua
santidade;
ou a forma de
aco
de graas
pelos
donsrecebidos;
de cumprimentode um
voto
ou promessa a que o
peregrino se tinha obrigado perante oSenhor; de splicas de gra-
as necessrias para
a
vida;
de
pedido
de
perdo pelos pecados
cometidos;
de
passar
uns momentos de olhar fixo no fixo olhar
da
imagem, como
se de
pessoa presente
se
tratasse.
N a
verdade,
ao
olharaCruzdoSanto
Cristo
daSerra tem-seacerteza
de que sinalsanto da presena divina e do amorprevidente
de Deus;
testemunha da orao que
de
gerao
e m
gerao,
se
90
elevou diante dela como
vo z
suplicante
do
necessitado, gemido
do aflito, jbiloagradecido
dequem
alcanou graa
e
misericr-
dia. Ao admirar a imagem de Jesus de Naza rReis dos
Judeus, fica esta prece: s o
caminho
que nos leva ao
Pai
a verdade que ilumina os nossos coraes, a fida da qual nos
al imentamos e
uivamos;
s a luz que dissipa as nossas trevas, a
porta que nos
introduza
na nova Jerusalm
O cristo ao peregrinar proclama a sua condio de
caminhante sobre a terra, com as suas tristezas e alegrias,
sentindo-se atradopor um novo cu e nova terra,peregrino
do eterno. O caminhante recebe um
poder
especialque
emana
do
Santurio. Caminhar para
e
estar
no
Santurio
renova espiritualmente, alcana graas especiais, leva
converso pessoal
e
comunitria. Afirmava
o
ento Car-
deal Joseph Ratzinger:pre m
questo
o
prprio modo
de
viver;
a
deixar
Deus entrar nos critrios da prpria vida; a no julgar
simplesmentedeacordo com asopiniescorrentes
(...)
a noviver
como
vivem
os outros, a n o fazer como fazem os outros; a no
se
sentir justificado em ac es duvidosas, amb guas, perversas,
simplesmente porque h
quem
ofaa. No.Subir ao Santurio
significa
comear a ver a prpria vida com os olhos de Deus e a
procurar o
bem
mesmo quando no agradvel; significa n o
apostar no juzo da
maioria,
mas no
juzo
d e Deus. Por outras
palavras: significa procurar um novo estilo de vida, um a vida
nova que
leve
a
abandonar
a auto-suficincia, a descobrir e a
a
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