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No reinado do Rei Henrique II, numa propriedade próxima de Locksley Village, na Inglaterra, a cerca de duas milhas da famosa antiga cidade de Uttoxeter, no Condado de Stafford e quase na beira da Floresta Real de Needwood, vivia um fidalgo de nome William Fitzooth, Conde de Huntingdon. O Conde William era um guerreiro valente e homem de honorável fama. Como muitos dos cavaleiros e nobres naquela época con-turbada, ele passava a maior parte do tempo longe de casa, lutando nas grandes guerras e mesquinhas querelas que eram sempre comuns na In-glaterra ou França, na Normandia, Irlanda ou País de Gales. Mas, duran-te os breves intervalos de paz, ele costumava voltar e ficar à vontade no seu castelo-forte, e nessas ocasiões seu deleite predileto era treinar e en-sinar seu robusto filho, o jovem Robert.

Quando o menino tinha apenas cinco anos, o pai costumava sentá-lo na sua frente para cavalgar com ele em seu magnífico corcel de guerra negro pelas coleantes veredas de samambaias da Floresta de Needwood. Afora guerrear, o que o Conde mais gostava de fazer era caçar — fosse com falcão ou com cão, de arco ou de lança —, e ele sempre levava Ro-

1robin hood – seu nascimento e meninice

O Conde Huntingdon, bom nascimento,De sangue nobre oriundo,Para Marion foi, com bom intento,Pelo nome de Robin Hood

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bert consigo quando cavalgava floresta adentro com seus homens e seus cães. Muitas vezes o menino gritava de alegria quando via o pai varar com a lança e pregar ao chão um porco selvagem que os grandes cães haviam acuado para o seu caminho. E ainda quando, perscrutando a verdejante clareira com seus agudos olhos azuis, ele via um grande veado saltar as-sustado pelos latidos da cainçalha. Então o pai, que esperava com múscu-los tensos e nervos firmes, levantava seu possante arco de teixo e envia-va a flecha direto à cabeça do animal, com as penas roçando-lhe a face. No instante seguinte, com um zumbido surdo, a seta liberta varava o om-bro do macho, que, malferido, se empinava e caía de joelhos, moribundo. Vez ou outra, Robert atirava com o seu próprio pequeno arco nos esqui-los que tagarelavam brincando entre os ramos folhudos. Ele já era atira-dor certeiro desde aquele tempo, e alegrava o coração de seu pai vê-lo derrubar muito esquilo, martinete ou zibelina.

Naqueles dias longínquos, não existiam escolas externas. Os filhos dos ricos barões eram treinados desde os mais tenros anos em exercícios parabélicos e nas regras da cavalaria. Eram ensinados a ser bravos, dignos e corteses, a cavalgar e a lutar. Robert cresceu rapidamente e tornou-se um adolescente alto, destro no uso das armas. Mas pouco sabia sobre o mundo maior. Ele se comportava como convinha a um filho de Conde, com gentileza porém com autoridade, mas fora criado quase na floresta, entre aldeões e camponeses. Deles aprendeu muitas e boas lições — a desferir e a receber duros golpes, a ser simples e direto na fala, a dar a cada homem o seu real valor, a desprezar o covarde e amar o sujeito bra-vo e honesto, mesmo que fosse de classe inferior. Apesar de sua origem fidalga, ele era um aldeão de coração.

Até os doze anos, Robert gozou de vida alegre e despreocupada, en-tristecida apenas pelas longas ausências do pai. Menino como era, ele pra-ticava com espada e lança, pois naqueles dias um homem que não apren-desse a defender-se na mocidade se veria em triste situação. Mas, de todas as armas, era o grande arco que ele mais amava. Fabricava seus próprios arcos e flechas e usava-os constantemente, e não demorou até que nin-guém tivesse mão mais firme e olho mais certeiro. No conhecimento da

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madeira, ele se tornara igual aos velhos mateiros, os guardas-florestais do Rei. Era dono de humor brejeiro, gostava de boa companhia e de espor-tes viris. Estava sempre presente nas feiras e nas festividades em Locks-ley e nas aldeias vizinhas, quando os robustos aldeões, em lutas corpo a corpo ou com porretes, disputavam prêmios como um carneiro, um tou-ro, um anel de ouro de lei ou uma pipa de vinho. Mas ele nunca ficava mais feliz do que quando pisava no macio solo argiloso e florido da Flo-resta de Needwood, que se estendia por milhas e milhas densamente co-berta de faias, carvalhos e nogueiras.

Quando Robert tinha doze anos, chegou a notícia da morte de seu pai. O Conde William juntara-se ao exército com o qual o Rei Henrique estava invadindo a Irlanda. Desembarcando em Waterford, o Rei marcha-ra em direção a Dublin para combater um famoso príncipe nativo de nome Strongbow, e durante o assalto a um dos castelos inimigos o Conde William fora derrubado e caíra de cabeça de seu cavalo, atingido por uma flecha farpada e envenenada que lhe varara um olho através de uma fenda no elmo. Assim Robert tornou-se órfão, pois sua mãe morrera no ano ante-rior.

Foi por volta dessa época que Thomas Becket, Arcebispo de Canter-bury, foi vilmente assassinado. O Rei Henrique atingira a idade de qua-renta anos, e tinha quatro filhos vivos: Henrique, de dezoito anos; Ri-chard, de quinze; Geoffrey, de quatorze; e John, de seis. Esses eram os filhos da Rainha Eleanor.

Robert chorou amargamente quando soube que seu pai estava mor-to, e por muitos dias lamentou-se e sentiu-se revoltado contra o mundo inteiro. Mas, por fim, se encheu de coragem, convencendo-se de que dali em diante tinha de desempenhar o papel de homem. Com o correr do tempo, sua dor ficou menos aguda; mas crescia-lhe no coração o temor secreto de que o tio, agora seu tutor, não se mostrasse digno da sua con-fiança. Esse temor mostrou-se bem fundado, pois o tio era um esbanja-dor irresponsável, tanto que, quando o rapazinho chegou aos quinze anos, seu castelo e suas vastas terras, seus servos e seu gado já estavam todos penhorados. Assim, o tutor de Robert, para escapar dos transtornos que

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o aguardavam, voltou-se para as guerras, deixando para seu jovem sobri-nho a opção de seguir o mesmo rumo — ou quiçá procurar asilo nas flo-restas do seu próprio condado, ou nas dos condados vizinhos de Nottin-ghan, Derby e York.

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