A África de Mia Couto
RESPONSABILIDADEAMBIENTAL
LITERATURA
RAÇÃOVi RAÇÃOViAno 6 · no 42Maio/2008 · R$ 5,00www.revistaviracao.org.br
atitude e ousadia jovematitude e ousadia jovemMudança,Mudança,
Levante a suaLevante a suaSaiba o que rolou na
1a Conferência Nacionalda Juventude
Saiba o que rolou na1a Conferência Nacional
da Juventude bandeira!bandeira!
Dicas para salvarnosso planeta
A África de Mia Couto
RESPONSABILIDADEAMBIENTAL
LITERATURA
Dicas para salvarnosso planeta
pelo Brasil
Rede Sou de Atitude Maranhão
São Luís (MA) – www.soudeatitude.org.br
Associação Imagem Comunitária
Belo Horizonte (MG) – www.aic.org.br
Universidade Popular – Belém (PA)
www.unipop.org.br
Centro Cultural Bájò Ayò
João Pessoa (PB)
Ciranda
Curitiba (PR) – www.ciranda.org.br
Catavento – Fortaleza (CE)
www.catavento.org.br
Casa da Juventude Pe. Burnier
Goiânia (GO)
www.casadajuventude.org.br
Companhia Terra-Mar
Natal (RN) – www.ciaterramar.org.br
Centro de Referência Integral de
Adolescentes
Salvador (BA) – www.criando.org.br
Diretório Acadêmico Freitas Neto
Maceió (AL)
Fundação Athos Bulcão
Brasília (DF) – www.fundathos.org.br
Girassolidário – Campo Grande (MS)
www.girassolidario.org.br
Jornal O Cidadão
Rio de Janeiro (RJ)
Secretaria de Cidadania e Direitos
Humanos – Vitória (ES)
Agência Uga-Uga – Manaus (AM)
www.agenciaugauga.org.br
Grupo Atitude – Porto Alegre (RS)
Veja quem faz a Virapelo Brasil
QUEM SOMOS
Viração é um projeto social de educomunicação,
sem fins lucrativos, criado em março de 2003 e filiado
à Associação de Apoio a Meninos e Meninas da Região Sé.
Recebe apoio institucional da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da
Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Além de
produzir a revista, oferece cursos e oficinas de capacitação
em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com
jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil.
Para a produção da revista impressa e eletrônica
(www.revistaviracao.org.br), contamos com a participação
dos conselhos editoriais jovens de 21 capitais, que reúnem
representantes de escolas públicas e particulares, projetos e
movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses
quatro anos estão o Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore,
em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido
pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da Andi, a
Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens.
Participe você também desse projeto.
Veja, abaixo, nossos contatos nos Estados.
Paulo Pereira Lima
Diretor da Revista Viração – MTB 27.300
CONHEÇA OS 21 VIRAJOVENS
EM CAPITAIS BRASILEIRAS
• Belém (PA) – [email protected]
• Belo Horizonte (MG) – [email protected]
• Brasília (DF) – [email protected]
• Campo Grande (MS) – [email protected]
• Cuiabá (MT) – [email protected]
• Curitiba (PR) – [email protected]
• Florianópolis (SC) – [email protected]
• Fortaleza (CE) – [email protected]
• Goiânia (GO) – [email protected]
• João Pessoa (PB) – [email protected]
• Maceió (AL) – [email protected]
• Manaus (AM) – [email protected]
• Natal (RN) – [email protected]
• Porto Alegre (RS) – [email protected]
• Recife (PE) – [email protected]
• Rio de Janeiro (RJ) – [email protected]
• Salvador (BA) – [email protected]
• São Luís (MA) – [email protected]
• São Paulo (SP) – [email protected]
• Teresina (PI) – [email protected]
• Vitória (ES) – [email protected]
Apoio Institucional
ará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Espírito Santo, Brasília... Jovens indígenas,
quilombolas, ciganos, de partidos, organiza-
ções, grupos culturais. Esse foi o maior encontro da
juventude brasileira. O palco de tanta diversidade?
Só podia ter sido na 1a Conferência Nacional de
Juventude, que aconteceu em Brasília em abril e
reuniu 2,5 mil jovens de todos os cantos do Brasil.
A Vira, é claro, participou de todas as etapas
preparatórias fazendo a cobertura das conferên-
cias estaduais e municipais com “as galeras” da
Agência Jovem de Notícias espalhadas por todos
os cantos do nosso imenso país e que não
deixaram passar um lance sequer.
Para a Conferência Nacional, um batalhão
de 50 jovens produtores de comunicação de vários
estados do Brasil (teve gente que chegou a Brasília
de avião, outros de ônibus e até quem viajou mais
de 48 horas), foi convocado para a super cobertura,
mais conhecida pelos corredores da Conferência
como “Galera da Mídia Jovem”.
Tinha informação de todos os jeitos e para todos
os gostos: jornal mural, a moçada do vídeo, da rádio,
da web. Na ocasião, a galera formou a Rede Nacional
de Jovens/Adolescentes Comunicadores e Comuni-
cadoras. O presidente Lula não deu as caras como
estava previsto e deixou todo mundo na expectativa.
Confira nesta edição especial tudo o que rolou nas
plenárias, nos grupos de trabalho, nos momentos de
integração e nos shows. E claro, confira as prioridades
de políticas públicas escolhidas pelos delegados. E para
conferir tudo o que rolou, clique na Agência de Notícias
da Conferência: www.revistaviracao.org.br/juventude.
Boa leitura!
ATENDIMENTO AO LEITOR
Rua Augusta, 1239 – Conj.11
Consolação – 01305-100 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-6188
HORÁRIO DE ATENDIMENTO
das 9 às 13h e das 14 às 18h
E-MAIL REDAÇÃO E ASSINATURA
VIRAÇÃO
é publicada mensalmente em São Paulo (SP)
pelo Projeto Viração da Associação de Apoio a Meninas
e Meninos da Região Sé de São Paulo, filiada ao Sindicato
das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas
de São Paulo; CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52;
Inscrição Estadual: 116.773.830.119;
Inscrição Municipal: 3.308.838-1
P
Diversidade tem cor:Diversidade tem cor:verde, amarelo, azul e branco.verde, amarelo, azul e branco!
Brasil!Brasil!
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 424
• MANDA VÊ 6
• MAIS IGUAL 14
• QUE FIGURA! 30
• SEXO E SAÚDE 31
• VIRARTE 32
• PARADA SOCIAL 34
• RAP DEZ 35
Capa livremente inspirada na obra
Operários (1933), de Tarsila do Amaral
MAPA damina
MAPA daminaR
GRG
Vítor Massao
QUE FIGURA
Cartão virtual no portal da Vira:
www.revistaviracao.org.br
HENRIQUE CASTRICIANO
Conselho Editorial
Eugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel
Leão, Immaculada Lopez, João Pedro
Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino
Equipe Pedagógica
Aparecida Jurado, Cássia Vasconcelos,
Isabel Santos, Juliana Rocha Barroso,
Maria Lúcia da Silva, Nayara Teixeira,
Roberto Arruda, Robson Oliveira
e Vera Lion
Diretor
Paulo Pereira Lima
Equipe
Adriano Sanches, Bianca Pyl, Carol
Lemos, Camila Caringe, Cristina Uchoa,
Gisella Hiche, Rafael Stemberg, Rassani
Costa, Sálua Oliveira, Vitor Massao
e Vivian Ragazzi
Administração/ Assinaturas
Thays Alexandrina
Marketing
Maria Fernanda dos Santos
Midiadores da Vira
Acássia Deliê (Maceió – AL), Alex Pamplo-
na (Belém – PA), Gardene Leão de Castro
(Goiânia – GO), Graciema Maria (Natal –
RN), Ionara Talita da Silva (Brasília – DF),
Ismael Oliveira (Teresina – PI), Ivanise
Andrade (Campo Grande – MS), João Paulo
Pontes e Bruno Peres (Porto Alegre – RS),
Leonardo Henrique (Cuiabá – MT), Lizely
Borges (Curitiba – PR), Maria Camila Florêncio
(Recife – PE), Marcelo Monteiro de Oliveira,
Maxlander Dias Gonçalves, Patrícia Galleto,
Thiago Martins e Vitor Bourguignon Vogas
(Vitória – ES), Niedja Ribeiro (João Pessoa –
PB), Pablo Márcio Abranches Derça (Belo
Horizonte – MG), Raimunda Ferraz (São Luiz –
MA), Renata Souza (Rio de Janeiro – RJ),
Renata Gauche e Clarissa Diógenes (Fortaleza
– CE), Scheilla Gumes (Salvador – BA) e Eric
Silva e Ubirajara Barbosa (São Paulo – SP)
Colaboradores
Lentini, Márcio Baraldi, Natália Forcat,
Novaes, Paloma Klysis e Sérgio Rizzo
Consultor de Marketing
Thomas Steward
Projeto Gráfico IDENTITÀ
Adriana Toledo Bergamaschi
Marta Mendonça de Almeida
Fotolito Digital SANT’ANA Birô
Impressão Editora Referência
Jornalista Responsável
Paulo Pereira Lima – MTB 27.300
Divulgação Equipe Viração
E-mail Redação e Assinatura
Preço da assinatura anual
Assinatura Nova R$ 48,00
Renovação R$ 40,00
De colaboração R$ 60,00
Exterior US$ 50,00
• TUBERCULOSE: CHEGA 8
• DE PRECONCEITO
Apesar de parecer uma doença
do século passado, ela continua
existindo. A boa notícia é que tem cura.
Leia a entrevista que o pessoal de Recife
fez e aprenda como se prevenir e tratar
• OLHAR SOBRE A ESCOLA 10
A seção Imagens que Viram deste mês
traz fotos de alunas e alunos da 8ª série
do CEU Azul da Cor do Mar, de São Paulo
(SP), mostrando cenas de sua escola
• JOVENS ATIVISTAS 15
Saiba como foi o curso de Ativismo
e Direitos Humanos para Jovens
Vivendo com HIV/aids, que teve como
principais temas políticas públicas,
diversidade e cidadania
• CONFERÊNCIA NACIONAL 16
• DA JUVENTUDE
Quatro dias de mobilização,
trabalho, propostas e muita troca
de experiências. Confira a cobertura
do evento, feita por 50 jovens de
16 estados brasileiros
• PROFISSÃO: VETERINÁRIA 28
Jovem de Fortaleza (CE) sonha
em cursar a faculdade e bate um
papo com uma profissional,
que fala sobre o curso,
dia-a-dia e desafios
• POETA EDUCADOR 30
O homenageado é Henrique
Castriciano, poeta potiguar
grande entusiasta da
educação popular
5nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
Escreva para nosso endereço:
Rua Augusta, 1239 – Conj. 11
Consolação – 01305-100 – São Paulo (SP)
Tel: (11) 3237-4091 / 3567-8687 / 9946-8166
ou para o e-mail:
achou de nossas reportagens e seções.
Suas sugestões são bem-vindas!
Aguardamos sua colaboração!
Mande seus comentários
sobre a Vira, dizendo o que
COLABORAÇÃO EM TODA PARTE
Lílian Rosa de Lima Borgato – São Paulo (SP)
screvo para informar que o número três do jornal da escola
Gonçalves Dias saiu, e entre os alunos foi um grande sucesso,
principalmente com alunos dos primeiros anos (muitos são novos
na escola), mas os que participaram o ano passado da confecção
do jornal acabaram fazendo a propaganda para os que não
conheciam, foi realmente muito bom! Encaminho algumas notíci-
as, reportagens e entrevistas do jornal. Ah! Foram os terceiros
anos que produziram o jornal este mês, o mesmo grupo que não
participou em nada ano passado. A passos lentos acho que
chegaremos no objetivo!
João Felipe Scarpelini – Roma, Itália
ou empreendedor social, escrevo para a revista Capricho,
mas faz dois anos que estou morando no exterior trabalhando
com consultoria especializada em identidade jovem. Gostaria de
colaborar com o projeto Vira justamente por acreditar na idéia e
adorar a proposta.
Marilene Rosa de Jesus – São Paulo (SP)
ou Marilene e adoro escrever, gostaria muito de poder
escrever algo para os jovens, podem ser frases de incentivos,
um conto, não sei ao certo. Moro em São Paulo, na zona sul.
Tenho 41 anos, espero que isso não venha me barrar de poder
colaborar com a equipe da revista.
Um grande abraço e muita sorte a todos!
“E
“S
“S
A Vira entra no debate de
gêneros e levanta a bandeira da
igualdade, que deve estar também
na forma de escrever. Por isso, todas
as palavras que tiverem variação de
feminino e masculino iremos incluir os
dois gêneros, e não somente o mascu-
lino. Por exemplo: a/o jovem,
o/a professor/a e assim por diante,
de forma que contemplaremos
a todas e todos!
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 426
CLEOMAR FELIPE,
professora de Sociologia
“Ações afirmativas são políticas públicas que devem
sua existência, em grande parte, à luta dos movimentos sociais
e políticos para inserir segmentos excluídos da sociedade, na tentativa
de mudança, porque historicamente e socialmente, há uma hierarquia de cor e
por trás dessa relação de cor tem uma relação de poder, de opressão, de exclusão,
tem exploração. Por isso, para uma tentativa de mudança social, as ações afirmativas
vêm como medida extremamente necessária nesse momento.”
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 426
ANA PAULA DA SILVA,
CEIÇA TEÓFANES e
MARIA ISABEL DANTAS DA SILVA,
do Virajovem João Pessoa (PB)*
fotos VIRAJOVEM JOÃO PESSOA (PB)
QUAL SUA OPINIÃO SOBRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS?
Ações afirmativas são medidas especiais e temporárias tomadas peloEstado e/ou pela iniciativa privada, espontânea ou compulsoriamente,
para eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdadede oportunidades e tratamento, além de compensar perdas provocadas pela discriminação
e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.No Brasil, o assunto ganhou peso em 1999, com o projeto de lei 73/99
levantado no Congresso Nacional, que instituía cotas étnicas para oacesso às universidades federais. Até hoje, o projeto está parado.
DEYSE, estudante de Pedagogia
“Para a comunidade negra é um avanço, sobretudo com relação ao acesso ao nível
superior. Percebemos que estamos em menor número na universidade, mas por outro
lado, se a gente olha particularmente a questão financeira, tem também branco pobre
que não tem acesso à universidade. Então eu acredito mais nas ações afirmativas assentadas na
observância às relações econômicas do que com relação à cor, porém é uma forma das minorias
lutarem mesmo por igualdade de acesso à educação superior.”
HELBER TAVARES,
estudante da pós-graduação em Letras
“É a construção de uma nova perspectiva de
sociedade que nos permite repensar as ideologias
que nos foram impostas ao longo do processo de
formação do país. As ações afirmativas são uma forma
de remodelação da sociabilidade estabelecida, a partir do
momento que uma pessoa desfavorecida tem a possibilidade
de ingressar na universidade, e isso remodela hierarquias sociais através de
um processo de conscientização. A ação afirmativa é repensar as relações
sociais e de poder no país.”
QUAL SUA OPINIÃO SOBRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS?
E você, o que achadas ações afirmativas?
E você, o que achadas ações afirmativas?
7nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
FIQUE POR DENTRO
Diferenças de estudo
entre brancos e
negros é grande
Para se ter uma idéia
sobre que realidade as
ações afirmativas buscam
transformar, a média de
estudos dos brasileiros
brancos é de 7,7 anos e a
dos negros é de 5,8 anos.
O analfabetismo entre
negros maiores de 15 anos
é de 16%, enquanto que
para os brancos é de 7%.
No ensino superior, 10,5%
dos jovens de 18 a 24 anos
estão matriculados nas
universidades, sendo que
94 % dos negros desta faixa
etária não estão matriculados
nestas instituições de ensino.
7nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
JOSÉ AMARO,
estudante de Física
“Esses incentivos nos
ajudam a crescer não só em
nível de estrutura, mas também
no que se refere às pesquisas
científicas, com programas de
incentivo a bolsas de estudo.”
NIEDJA RIBEIRO,
professora de Artes Cênicas
“As ações afirmativas constituem medidas
especiais e temporárias que buscam remediar
um passado discriminatório, uma política
compensatória que acelera o processo de
igualdade. É uma promoção de direitos e um
instrumento de inclusão social. O mundo deve isso
aos negros, um povo que teve seus direitos
brutalmente violados ao longo da história do país. As ações
afirmativas são ações éticas-políticas-sociais que o povo
precisa entender e não ficar discutindo cotas sem nenhum
fundamento. Se as universidades federais já têm sua cota
para brancos, por que não para negros e negras?”
ELI, estudante de curso de Formação Política
“Nós vivemos num país onde a maior parte da população
é negra e que falta primeiramente uma conscientização
de nós negros enquanto povo, um maior conhecimento
de nossa história e cultura. Portanto,
dentro dessa perspectiva, eu acho que o
primeiro ponto a se trabalhar é a
própria educação, o próprio
reconhecimento da cultura negra a
partir das escolas. A partir do
momento que nós criarmos a cota
para negros poderemos
pensar num país melhor.”
*Integrantes de um dos 21 Conselhos Jovens da Vira
espalhados pelo País ([email protected])
Essa desigualdade também
transparece nos salários:
segundo o último relatório da
Organização Internacional do
Trabalho (OIT), “A Hora da Igualdade
no Trabalho”, apesar de avanços em
alguns indicadores sociais, a situação
de desemprego persiste na população
negra brasileira: a renda mensal
é 50% inferior à branca.
Fonte: Wikipedia, Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (IPEA), Fundo de
Desenvolvimento das Nações Unidas
para a Mulher (Unifem) e Organização
Internacional do Trabalho (OIT)
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 428
Você sabe o que é tuberculose, como se
transmite e que tem cura? Pois é, muita
gente se acha suficientemente informa-
do, mas a verdade é que ainda existem estig-
mas que geram preconceitos e mitos por falta
de informação. Estima-se que no Brasil exis-
tam 43 milhões de pessoas infectadas e
130 mil novos casos por ano, e aproximada-
mente 72% das mortes são homens.
A tuberculose é uma doença contagiosa
que, na maioria dos casos, atinge os pulmões
(tuberculose pulmonar), podendo também se
localizar nos rins, ossos, pleura, meninges,
gânglios e outros órgãos (tuberculose
extrapulmonar).
TUBERCULOSE
Fique ligada/o numa doençaque andava esquecida,
mas que anda fazendo estragona vida de muita gente
CAMILA FLORÊNCIO e
ALEXANDRA MARIA GALDINO,
do Virajovem Recife (PE)*
tem cura,preconceito tambémtem cura,
preconceito também
Márcio Baraldi
9nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
É muito comum quando pensa-
mos em alguém com tuberculose
lembrarmos daquele estereótipo
de alguém que fuma, bebe bebidas
alcoólicas, bem magro e pobre.
Ou mesmo nos equivocarmos na
forma de como proceder com
alguém que tem. São muitas as
dúvidas. São muitas as neuras.
Por isso, fizemos uma pesquisa,
conversamos com Ronaldo Vas-
concelos Nunes, enfermeiro e
coordenador do programa Munici-
pal de Controle da Tuberculose de
Olinda (PE), e selecionamos algu-
mas perguntas mais comuns que
responderemos a seguir.
Como se transmite a
tuberculose?
A tuberculose é uma doença
infecciosa causada pelo complexo
Mycobacterium Tuberculosis.
A transmissão ocorre pela inalação
do bacilo de koch (conhecido assim
pelo cientista que os descobriu,
Robert Koch) passado pelo ar que
respiramos, através da tosse,
espirro ou fala. Ocorre também,
com menor freqüência, pela
ingestão de leite contaminado
provenientes de vacas infectadas
ou pelo contato com animais
bovinos doentes.
Quais os principais sintomas?
Os mais freqüentes são:
tosse por mais de três semanas
(muitas vezes acompanhada de
escarro), febre baixa (geralmente
no final da tarde), fraqueza no
corpo, perda de apetite, suores
noturnos, dores no peito, nas
costas e, às vezes, escarro com
sangue. Na tuberculose extrapul-
monar, os sintomas variam confor-
me o órgão atingido; em geral é
febre, fraqueza e emagrecimento.
As pessoas que apresentam alguns
desses sintomas são chamadas
de sintomáticos respiratórios.
Como é dado o diagnóstico?
Uma vez que a pessoa
apresenta os sintomas, o médico
ou enfermeiro solicitará exame
de escarro (baciloscopia). Outros
exames como raio x de tórax e
teste tuberculínico também podem
ser solicitados, quando necessá-
rios. O exame dando positivo indica
tuberculose pulmonar e o paciente
é classificado como bacilífero.
Como é o tratamento?
O tratamento, assim como
o exame, é gratuito. Ele dura pelo
menos seis meses. Após 15 dias
de tratamento regular, o paciente
já não transmite mais e começa
a apresentar algumas melhoras.
Isso é bom, mas com a melhora,
as pessoas tendem a achar que não
precisam mais do tratamento e
abandonam. Aí mora o perigo!
Depois de um tempo ele voltará
a apresentar os sintomas e corre o
risco de ter resistência aos antibió-
ticos, porque esses bacilos estarão
mais fortalecidos e pode transmiti-
los. A pessoa que se infectar com
eles também apresentará resistên-
cia, dificultando bem mais a cura.
Por isso, é importante não aban-
donar o tratamento.
Uma pessoa pode adquirir
o bacilo e não desenvolver
a doença?
Sim. A doença só ocorre
quando o corpo apresenta uma
baixa imunidade, daí o bacilo se
instala no pulmão, por exemplo.
Uma pessoa pode guardar o bacilo
durante anos em seu corpo.
O desenvolvimento da tuberculose
é favorecido por fatores como
precárias condições de vida,
desnutrição, enfraquecimento
por desgaste físico, alcoolismo
ou doenças como aids, diabetes
e câncer. Isso explica alguns dos
estigmas acima referidos. Uma
pessoa alcoólatra ou fumante vai
apresentar uma baixa imunidade,
assim como pessoas pobres que
geralmente vivem em péssimas
condições. Uma outra questão
importante é a co-infecção, no caso
de pessoas soropositivas. E dentre
as doenças que podem se manifes-
tar na aids, está tuberculose. No
Brasil, são cerca de 10 mil pessoas
que sofrem com elas. Mas deve-
mos salientar que por ser uma
doença transmitida pelo ar, qual-
quer um/a pode pegar. É claro,
em alguns casos a probabilidade é
maior, mas jamais devemos excluir
a possibilidade de nos infectar.
O que uma pessoa que
convive com alguém que
tem tuberculose deve fazer?
Sempre que for falar com
alguém que tenha tuberculose,
ao entrar no cômodo, certifique-se
de que está bem arejado. Se for
de manhã, abra bem as janelas
para que os raios de sol entrem
(eles diminuem o tempo de vida
do bacilo, porque algumas gotícu-
las podem ficar suspensas no ar,
ou em cima dos móveis). Não é
necessário separar copos, talheres
e pratos, por que não oferecem
risco de transmissão. Esse tipo
de atitude acaba gerando traumas
percebíveis em pessoas que já
tiveram tuberculose. Cuidados
são sim necessários, mas é preciso
estar atento para não realizar
atitudes preconceituosas. E é bom
deixar bem claro que tuberculose
não é uma gripe mal curada!
Há como prevenir tuberculose?
Felizmente sim. Uma delas
é a vacinação com BCG, adminis-
trada no braço direito da criança
ainda na maternidade ou centro
de saúde. Esta vacina é obrigató-
ria. Mas a principal forma é identi-
ficar os sintomáticos respiratórios
e impedir que as pessoas abando-
nem o tratamento. Isso iria impedir
a proliferação e quem sabe um dia,
a extinção dessa doença. Por isso,
é importante que cada um/a faça
sua parte. Você pode ajudar a
identificar sintomáticos respirató-
rios e incentivá-los a não abando-
nar o tratamento. Nessas horas, as
pessoas precisam de apoio, porque
é quando a maioria das pessoas se
afastam ou têm atitudes preconcei-
tuosas mesmo sem querer. Infor-
me-se e as informe... Multiplique!
Camila Florêncio, do Centro
de Jovens – BEMFAM-PE,
e Alexandra Maria Galdino,
do Grupo Jovens da Cidadania,
são integrantes do Virajovem
Recife, um dos 21 Conselhos
Jovens da Vira pelo País
.
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4210
Qual imagem significa
CARLOS EDUARDO FERNANDES JUNIOR,
de São Paulo (SP)
Durante o ano letivo de 2007 foi desenvolvido um
trabalho sobre a linguagem fotográfica e a sua
inserção em nosso cotidiano. Este trabalho foi di-
rigido às/aos estudantes das oitavas séries do C.E.U. Azul
da Cor do Mar, em Itaquera, em São Paulo. Durante os
seis meses de execução do projeto, as/os estudantes ex-
perimentaram na teoria e na prática as especificidades
da fotografia jornalística, publicitária e artística, resul-
tando na exposição Escola, na qual responderam atra-
vés de fotografias a seguinte pergunta: “Qual imagem
significa a sua escola?” Estas imagens nos ajudam a pen-
sar sobre o espaço que estamos construindo e que prá-
ticas sociais são estas que perpetuamos dentro do am-
biente escolar, confirmando, sobretudo, a capacidade de
pesquisa dos estudantes do ensino básico.
Lílian de Souza – “Letras e Cores”
Marco Aurélio de
Araújo – “Espaço”
Adeílson Freitas Lima – “Por onde eu entro?”
.
Qual imagem significa
IMAGENSIMAGENSque viramque viram
11nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
a sua escola?Luana Água
Nova Ramos da
Silva – “Big
Brother”
Thuany Tamy de
Vasconcelos – “União”
Jefferson Barros
da Silva – “Inocência”
Helimária Martins de Oliveira – “Afinidade”
Franciele Duarte
Santana – “Sombra”
a sua escola?
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4212
Aescola é um laboratório para aprender
com os mestres e também criar novas
formas de viver e ajudar a comunidade.
Para fertilizar a escola como campo de experiên-
cia, Manoel Rodrigues e mais três jovens do
Projeto Mandalla Escolar resolveram literalmente
plantar uma nova idéia junto a 40 estudantes
da Escola Estadual Liceu de Maracanaú (CE).
A pegada é praticar agricultura orgânica e colher
os frutos da terra que vão parar nos pratos da
merenda escolar! Os participantes do Projeto
Mandalla Escolar se envolvem em todo processo
do plantio; desde o planejamento e coordenação
BIANCA PYL e
GISELLA HICHElevam suas propostaspara Brasília
levam suas propostaspara Brasília
Arq
uiv
o M
andalla E
scola
r
13nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
financeira até o momento de colocar as sementes na terra.
O projeto busca dialogar com todas as disciplinas da grade curri-
cular, dando sentido às aulas de matemática, ciências e outras.
O projeto Mandalla Escolar foi aprovado pelo programa
Geração MudaMundo, em janeiro de 2008, o que deu a Manoel
a oportunidade de semear sua idéia em outros lugares do país e
batalhar por políticas públicas que apóiem o jovem empreendedor
a mudar a realidade do país. Durante a I Conferência Nacional de
Políticas Públicas de Juventude, de 27 a 30 de abril de 2008,
Manoel deu seu recado: “Estou aqui como delegado do meu
município para pautar a questão do empreendedorismo juvenil.
Isso deve ser Política Pública, o governo deve financiar diretamen-
te o jovem, e não uma organização que irá repassar para o jovem”.
Também do Ceará, mas com outras reivindicações para o jovem
empreendedor, Rogério Chaves, o Babau, coordenador nacional
do MH20 (Movimento Hip Hop Organizado) também foi levar o
recado da moçada do Hip Hop: “Que se reconheça o movimento
Hip Hop como manifestação cultural e que se crie em todo municí-
pio espaços culturais para abrigar projetos artísticos da juventude
com gestão compartilhada e financiamento do estado”. Se esta
proposta se tornar uma política do estado, certamente será mais
fácil que projetos como o do pessoal do MH20 ocorra em outras
partes do país? E o que se ganha com isso? Muito! Para começar,
é só dizer que eles realizaram em 30 bairros pobres da região
metropolitana de Fortaleza o Craques X Crack. Trata-se de um
campeonato de futebol de rua com três jogadores de cada lado
e dois caixotes fazendo as vezes do gol. No intervalo dos jogos,
música alta, rap e informação para a garotada sobre os perigos do
uso de drogas, em especial o crack. Crianças e adolescentes vêem
em ativistas como Babau, sujeito resolvido, popular e apaixonado
(ele ainda dança bem), um modelo concorrente ao do traficante.
Babau rivaliza a tentação da grana alta do tráfico e vira inspiração.
Afinal de contas, como ex- integrante de uma gang, ele trocou o
time da violência pelo da cultura. O crack, segundo o ativista,
chegou há 13 anos em Fortaleza e desde então “dizima” os jovens
da periferia, que viciam-se facilmente, roubam e prostituem-se
para sustentar o vício e sonham em levar a “vida boa” do passa-
dor de drogas. Babau e o pessoal do MH20 oferecem uma ativida-
de que é divertida e muito mais saudável para a moçada. Apostan-
do nesta iniciativa, Babau também levou para a Conferência em
Brasília, a proposta de participação da Sociedade Civil e em
especial do Hip Hop no Programa Nacional de Segurança e Cidada-
nia (PRONASCI) do Ministério da Justiça e a luta contra a redução
da Maioridade Penal. Eles vêem que para afastar o jovem e as
crianças das drogas, é preciso investir em esporte e cultura.
Babao e Manoel são dois exemplos de pessoas que trabalham
com o empreendedorismo juvenil em áreas distintas, mas que
seguindo suas aptidões conseguem mudar a visão que se tem dos
jovens no Brasil. Cada vez mais, fica mais claro que com oportuni-
dade, as pessoas podem usar sua criatividade para desenvolver
projetos interessantes. Em entrevista com o pessoal que fez a
cobertura jovem da Conferência Nacional de Políticas Públicas
de Juventude, em Brasília, o coordenador da área de empreende-
dorismo juvenil do Ministério do Trabalho, Alisson Araújo contou
que atitudes seu ministério tomou para ajudar as iniciativas
juvenis: “Nós firmamos convênios com organizações sociais para
que a gente possa trabalhar o perfil empreendedor dos jovens,
a qualificação em empreendedorismo e a auto-gestão de algum
negócio. As organizações já têm alguma experiência de fundo de
quintal ou uma fabriqueta de confecção, ou skate, prancha de surf.
A gente vê que há uma demanda para isso e cria um empreendi-
mento para que esses jovens possam criar seu próprio negócio”.
VALORIZAÇÃO DOTRABALHADOR JOVEM
VALORIZAÇÃO DOTRABALHADOR JOVEM
Carolina Gabardo Belo
Giovani Simões tem 17 anos e mora
no município de Ibirama, em Santa
Catarina. Ele acredita que o aumento da
criminalidade na sua cidade é conseqü-
ência da falta de ocupação dos jovens de
lá. “Muitos jovens saem do colégio e vão
procurar o primeiro emprego, não conse-
guem porque não têm uma especializa-
ção na área”, diz. Para isso, ele acredita
que cursos profissionalizantes durante o
Ensino Médio ajudam na capacitação e
na busca pelo primeiro emprego. Bem
longe da cidade de Giovani, em Reden-
ção, no Ceará, mora Eliane da Silva. Ela
participa das mobilizações juvenis da
CUT no estado e luta pela despreca-
rização da jornada de trabalho, fim do
preconceito com os empreendedores e
trabalhadores jovens e ampliação das va-
gas para estágio. Os dois participaram
das discussões sobre trabalho, durante
a Conferência Nacional da Juventude.
O trabalho foi o segundo tema com
mais propostas apresentadas nas confe-
rências livres (428) e estaduais (78) de
todo o Brasil, atrás apenas da educação.
Ao todo foram 506 propostas, que abor-
dam desde a capacitação profissional à
erradicação do trabalho infantil e ainda
a qualificação profissional..
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Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4214
ERIC SILVA, do Virajovem São Paulo*
ADRIANO SANCHES e RASSANI COSTA,
da Redação
Não me sinto bem no palco,
pareço um cantor.” Foi com
esta frase que o escritor
moçambicano Mia Couto conversou
com as/os alunos do colégio Dante
Alighieri em São Paulo.
De uma simplicidade marcante,
o escritor interagiu com as/os
alunas/os e o público em geral e
respondeu a diversas perguntas
dos mais variados temas, mas em
sua maioria ligados à literatura.
Mia expôs a idéia dos estereóti-
pos e como passamos a ver o mun-
do através da pré-concepção. Ele
exemplificou dizendo que seu pró-
prio nome causa confusão – segun-
do ele, a sonoridade feminina e o
fato de ser de Moçambique fazem
com que muitas pessoas esperem
uma mulher negra, e quando ele
aparece, acabam tendo grande
surpresa – um homem branco,
de olhos azuis. Mia conta que isso
aconteceu numa viagem que fez
com o presidente de Moçambique
a Cuba. Ao chegar no país, recebeu
presentes como vestidos e brincos.
O escritor moçambicano é o mais
importante autor do continente na
atualidade e autor de obras literárias
de destaque no cenário internacio-
nal, como O Último Vôo do Flamingo
e O Outro de Pé da Sereia.
Mesmo sendo de origem européia,
Mia não vê o continente africano
como sociedade de pessoas negras.
Para ele, as pessoas não devem
lutar por diferença racial e sim pela
identidade nacional. Quando foi
questionado por uma aluna sobre
a idéia de raças, Mia disse que os
afro-brasileiros devem lutar para ser
inteiramente brasileiros porque já
não são mais africanos. “A concep-
ção de ser africano no continente é
muito diferente do que os negros
do Brasil acreditam”, acrescenta.
A facilidade de Mia Couto
ilustrar suas narrativas por meio
de histórias impressiona e prende
a atenção. Um dos motivos que faz
com que a literatura africana tenha
bons autores é a diversidade de
histórias que o povo tem para
contar, e essas histórias muitas
vezes fazem parte do cotidiano
do povo moçambicano.
Na época da ditadura militar
em Moçambique, Mia atuou como
militante e diz ter sido feliz por ter
tido a oportunidade de lutar por algo
que acreditava, ao contrário da
guerra civil que aconteceu pós-
ditadura e que segundo ele foi uma
época ruim, pois o momento era
confuso e de difícil compreensão.
Para o escritor a literatura não
tem o poder de transformar – o
poder da mudança deve partir da
pessoa, além do ambiente vivido.
Uma pessoa da platéia
quis saber sobre sua religiosidade.
Mia defendeu que é ateu, mas que
possui grande contato com curan-
deiros na África e que está sempre
aberto a viver diferentes experiên-
cias no campo da religião. Defendeu
o lance de ser religioso porque a
palavra religião tem o significado
de religar com algo maior e
essa é sua busca.
Ainda no contexto da religião,
Mia Couto concluiu mostrando de
forma poética como faz para enxer-
gar outras experiências religiosas.
“Quando a pessoa está na cidade e
olha para o céu, não vê nada porque
as luzes da cidade ofuscam o brilho
das estrelas, mas quando vão para o
campo percebem o brilho que cada
estrela tem. Assim somos nós, se
deixarmos o brilho interno apagar,
conseguiremos observar todas as
estrelas que estão ao nosso redor.”
*Integrante de um dos
21 Conselhos Jovens da
Vira espalhados pelo País
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Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4214
Durante palestra em colégiode São Paulo, o ícone da literaturade Moçambique fala sobreafricanidade, religião e literatura
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As várias facesAs várias facesdede
Mia CoutoMia Couto
15nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO 15no 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
São Paulo protagonizou o
primeiro curso de Ativismo
e Direitos Humanos para
Jovens Vivendo com HIV/aids,
entre 30 de abril e 4 de maio, reali-
zado pelo Grupo de Incentivo à Vida
(GIV), com o apoio do Fórum de
ONG Aids do Estado do São Paulo,
do grupo de trabalho de Crianças
e Adolescentes do Fórum de ONG
Aids de São Paulo, da Associação
Civil Anima, do Fundo das
Nações Unidas para a Infân-
cia, do Fundo de Populações
das Nações Unidas (UNFPA)
e do Programa Nacional
de DST e Aids.
O evento contou com
34 jovens soropositivas/os
representando as cinco
regiões brasileiras. Elas e
eles mostraram que não são
apenas responsáveis pelo
futuro do país, mas sim
por modificar e melhorar o
presente, e que a luta deve se
dar agora, como foi dito nas
palavras do grande ativista
Kleber Mendes, de Curitiba (PR).
O curso teve a presença de
convidadas/os que há mais de
20 anos iniciaram a luta em favor
das pessoas que vivem com o HIV/
aids, luta essa que muitos jovens
estão assumindo agora, e são cada
vez mais motivadas/os a exercerem
sua cidadania e se assumirem
enquanto seres de direitos e deveres.
Todas/os tiveram muito trabalho:
as atividades começavam pela
manhã e terminavam no início da
noite. Falaram de
medicamentos, consen-
so juvenil, diversidade,
políticas públicas para
jovens, ativismo e
Direitos Humanos. Paulo
Lima, da Revista Viração,
reforçou a importância da
comunicação em nossas
vidas. No encerramento, o
Grupo VHIVER, de Belo Horizonte
(MG), bateu um papo com a galera a
vivendo com HIV/aids; inter-
venção no funcionamento das
casas de apoio; intervenção
no sistema educacional; e a
criação de redes municipais de
jovens vivendo com HIV/aids.
Em alguns momentos
as palavras são poucas
para expressar a energia
que envolveu as/os que
estavam no curso, e só quem
estava presente pode entender
a cumplicidade que se formou
entre essas e esses jovens que
cansaram de ser vítimas da
dor, do preconceito e da exclusão,
e que dividiram mais do que choros,
beijos, abraços e risadas: uniram
forças para enfrentar o mundo,
que lhes é tão cruel.
São jovens vivendo com
HIV/aids, que transmitem amor,
esperança, afeto, alegria, coragem,
e vontade de viver. E acreditam que
esta luta renderá bons frutos, pois
não lutam apenas contra a aids, mas
sim por um mundo mais justo e com
mais qualidade de vida.
respeito do III Encontro Nacional
de Jovens Vivendo com HIV/aids,
que acontecerá em agosto, na
cidade de Belo Horizonte.
No período da noite rolaram
vários encontros culturais, como
teatro, shopping, muita música e
curtição no videokê de um barzinho
e, para fechar tivemos uma super
festa de confraternização!
De volta ao trabalho, finalizamos
com algumas propostas efetivas:
criação da rede nacional de jovens
Roda para transformar o presente
EDSON SANTOS, do Escuta Soh!
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Jovens vivendo com HIV/aids participam de cursode Ativismo e Direitos Humanos em São Paulo
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Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4218
Conferência Nacional
Mais de 50 jovens estão em Brasília,
vindos de 14 Estados diferentes, para realizar
a cobertura da etapa nacional da Conferência de
Juventude. Confira quem é quem:
Coordenação
Paulo Lima, da Viração
Fernada Papa, da Fundação Friedrich Ebert
Jonas Valente, da Secretaria Nacional de Juventude
Equipe
• Adriano M. Sanches, Bianca Pyl, Eric Silva e
Victor Massao, Revista Viração
• Amanda Cylke e Sonia Itoz, do Projeto Voz Ativa,
do Colégio Emilie de Villeneuve
• Alinne Abrahão, do CEDECA Emaús (PA) e
Alex Afonso da Cruz Pamplona,
da Universidade Popular (PA)
• Kenned Lima, Raquel dos Anjos e Fábio Pena,
da ONG Saúde e Alegria (Rede Mocoronga)
• Pablo Abranches, do Grupo Cultural Entreface,
Associação Imagem Comunitária (AIC) e
Virajovem de Belo Horizonte (MG)
• Tainara Lira Marquês de Castro,
do Coletivo Hip Hop Chama (MG)
• Marcos Donizetti Da Silva,
da Oficina de Imagens (MG)
• Ivanise Hilbig de Andrade, da Agência Girassolidário
e do Virajovem de Campo Grande (MS)
• Carolina Gabardo Belo e Felipe Ferreira Martins,
da Agência Ciranda pelos Direitos da Criança e
do Adolescente e do Virajovem de Curitiba (PR)
• Jorge de Oliveira Jr., do Centro Cultural Escrava
Anastácia e do Virajovem de Florianópolis (SC)
• Juliana Gonçalves de Souza, Janaína Alves Queiroz,
Maria Telma Barbosa de Freitas, Taynara Silva Barbo-
sa, Clarissa Diniz Diógenes e Francisco Rones Costa
Maciel, da Catavento Comunicação Ambiental e
do Virajovem de Fortaleza (CE)
• Luana Amorim Gomes e Ceila da Silva Rodrigues,
da Casa da Juventude Pe. João Bosco Burnier/
Virajovem
EQUIPE DA COBERTURA JOVEM DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE
Conferência Nacionallevante sua bandeira!levante sua bandeira!
em todo o país. Todo o material publicado foi retirado diretamente do site da Agência Jovem de Notícias(www.revistaviracao.org.br/juventude). Confira um pouco do que rolou na Conferência Nacional!
A 1a Conferência Nacional de Juventude, que rolou de 27 a 30 de abril, em Brasília (DF),contou com a participação especial de cerca de 50 jovens representantes de
30 organizações juvenis e 16 Estados. Elas e eles formaram um grupo queproduziu notícias no formato de texto, imagens, áudio e vídeo para alimentar
uma rede de publicações e sites de notícias de todo o Brasil. A cobertura feitapor essas/esses jovens repórteres comunitários foi promovida pelo Projeto/Revista
Viração em parceria com a ONG Catavento Educação e Comunicação, Ciranda – Centralde Notícias dos Direitos da Infância, a Fundação Friedrich Ebert e a Fundação Athos Bulcão.
O processo de conferências livres, municipais e estaduais e nacional reuniu 400 mil pessoas
19nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
da Juventude:
• Samuel Guimarães Lopes, Gilson Scharnik e
Beatriz Caitana, do Instituto Internacional
de Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC)
• Alexander Almeida Pereira, do site Voz
dos Adolescentes
• Camila Galdino da Silva, Jovens Feministas
da Paraíba
• Alessandro Muniz Fontenele, da Companhia
Terramar e do Virajovem de Natal (RN)
• Camila Florêncio, Bemfam e do Virajovem
de Recife (PE)
• Fabiana Born De Oliveira, da Universidade
Federal Fluminense (RJ)
• Gizele de Oliveira Martins, Jornal O Cidadão
e do Virajovem do Rio de Janeiro
• Vanessa Junqueira, da ONG Imagem e Cidadania
• Fábio Henrique de Moraes Souza, Saber Viver e
da Agência Escuta Soh!
• Loran de Jesus Santos, da Cipó Comunicações
• Karen Krsna Peres Barbosa, Centro de Referência
Integral de Adolescentes (CRIA) e do Virajovem
de Salvador (BA)
• Raimunda Ferraz, da Rede Sou de Atitude/ Agência
Matraca e do Virajovem de São Luís (MA)
• Marcelo da Cruz Santos,
do Cenpec – Jovens Urbanos
• Geanne Neves e Luiz da Silva Jorge Filho,
da ONG CECIP (RJ)
• Ana Valéria Loiola, da Cidade-Escola Aprendiz
Suelen Aparecida Xavier Pimenta, da Ação Educativa
• Amélia Luana da Silva Rodrigues, Fernanda Carva-
lho, Guilherme Pereira, Nathan F. Pereira,
Régia Vitória da Costa Silvia Bertoldo Guerreiro,
Danuse Queiroz e Ionara Talita Silva,
da Fundação Athos Bulcão
• Fátima Ribeiro, da ONG Ciranda – Entretecendo
Caminhos e Movimento de Intercâmbio
de Adolescentes de Lavras (MG)
• Monicky Mel Araújo, de Santa Cruz do
Capibaribe (PE)
• Élida Oliveira, da Secretaria de Criança e
Adolescente do Estado do Paraná
• Thais Chita, do Instituto Paulo Freire
• Fátima Falcão, da Revista Onda Jovem
da Juventude:
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4220
Muitos jeitos, cores,Muitos jeitos, cores,
Talvez seja mais interessante
pensar numa Conferência
Nacional das Juventudes.
Quem transita pela ExpoBrasília,
pavilhão onde está acontecendo o
evento vai ter a sua atenção chama-
da pela multiplicidade de expressões
juvenis reunidas nesse espaço. É
provável que essa seja uma das
coisas que mais se destacam no
evento. Os sotaques são os mais
diversos e é prazeroso ouvir os sons
fortes dos “tês” de Pernambuco e
Paraíba, ou um mineiro “trem”.
Por todo canto, a alegria resisten-
te dos muitos nordestinos e as falas
tão cheias de influências dos paulis-
tas. A cara do país é a cara dos
jovens espalhados pelo encontro.
JORNAL MURAL: NA MINHA TERRA TEM...
Aequipe Virajovem não pára e no segundo e terceiro dia da CNJ três
trabalhos interativos foram montados para garantir o espaço direto
de participação dos jovens. O primeiro foi o Virou Notícia, onde os aconte-
cimentos mais quentes da cobertura jovem foram colocados à vista de
todos que passassem pela redação da Vira.
Também tivemos o Vira Aí, espaço livre para recados, mensagens,
sugestões e críticas, para a galera usar a imaginação e dizer o que der
na telha. E o mais aclamado, o Jornal Itinerante, rodou no dia 29 pelo
pavilhão em busca da diversidade regional da juventude, todas as belezas
dos povos e da terra de origem da moçada com o tema “Na Minha Terra
Tem...”. Até o Secretário Nacional de Juventude,
Beto Cury, deixou as belezas de sua terra,
Minas Gerais. Foi um dia cheio de emoção na
Conferência Nacional de Juventude.
ARTIGO: POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO
Thiago Victor
Quando se propõe a discussão sobre política e
participação, devemos o mais que possível ser
minuciosos, abrangentes, inteirados, críticos e sensatos
para que possamos ter coerência e precisão tanto nas falas,
como nas conseqüentes ações.
Quando dizemos participação política ou política e participação, devemos
pensar naqueles R$ 0,02 de troco do pãozinho e que provavelmente você não deve
cobrar e deixa passar, aquele troco no banco e as duas horas em pé na fila, também
não questionados provavelmente. Quer dizer, às vezes questionamos, mas só com o
colega da fila e não com o gerente e em seguida tomando as providências cabíveis.
Se pararmos para pensar na maior financiadora de golpes de direita e mestra mor
da mídia “boicotista”, a TV Globo, veríamos a verdadeira participação política com sua
decadência e queda dolorosa... Aí, a Malhação, novela que expõe a juventude mais
insuportável e ilusória que pode existir, não teria a mínima audiência.
A nossa participação está na mobilização que move fronteiras, no questionamento e contestação intermináveis,
na reivindicação e efetivação dos nossos direitos mínimos e em diversas outras formas, não somente no plenário,
nos partidos políticos, secretarias, enfim, está em todos os espaços e, antes de tudo, em nós mesmos.
Conferência tem nas diversidades uma característica forte
21nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
NADANDO CONTRA A MARÉ
Acelebração da mensagem poética da banda
Cordel do Fogo Encantado marcou o último
dia de atividades culturais da 1o Conferência
Nacional da Juventude. O show da terça-feira
agitou o público, levando a emoção até os ossos
da galera que cantava e pulava diante do palco.
Após o show, a banda concedeu
uma entrevista a galera da
Cobertura Jovem. Confira!
COBERTURA JOVEM
DE NOTÍCIAS: A Confe-
rência da Juventude
aqui em Brasília tem
o lema: qual a sua
bandeira. Qual a
bandeira do Cordel?
Cordel do Fogo
Encantado: O Cordel tem
uma musicalidade basica-
mente percussiva e vem de
uma região que representa
muitos estereótipos. A gente vem
tentando criar com uma maior liberda-
de possível, por isso a gente abre o show com
a música em que o cara sai da prisão, simboli-
zando essa liberdade, para tentar buscar uma
musicalidade não necessariamente ancestral,
nem necessariamente arcaica, nem tradicionalista,
que é uma prisão que a música nordestina,
através do rock regional, se encontra por não
poder dialogar com essa coisa contemporânea.
COBERTURA JOVEM DE NOTÍCIAS: Dentro
deste cenário político, fale um pouco como
é a música hoje, porque há uns
tempos a música teve um grande
significado, na época da ditadura.
Fale qual é o papel da música agora
em 2008 dentro deste cenário,
principalmente para essa juventude
que discute política?
Cordel do Fogo Encantado: A gente
nada contra a maré. É essa coisa de
viver no mundo capitalista tendo que
vender poesia, botar preço no que não
tem preço, poderíamos dizer assim:
negociar o sublime, que é a poesia,
a música. Mas a gente está inserido
nisso e nada contra a maré, porque
é uma relação de guerrilha mesmo.
Todas as juventudes marcaram presença...
...elaborando propostas de prioridades
para diversos temas
idéias, juventudesidéias, juventudes
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4222
JOVENS DE DIFERENTES REGIÕES COLOCAM
EDUCAÇÃO NO FOCO DAS DISCUSSÕES
No dia Internacional da Educação, 28 de abril, a juventude
presente na 1a Conferência Nacional da Juventude colocou
em pauta o assunto que mais trouxe propostas: a educação.
Para Graciliano Augusto da Silva, Alagoas (AL), é difícil acabar
com a evasão escolar sem pensar diversas questões. “No Nordeste,
as crianças trabalham na enxada a manhã inteira, vão para a escola
e lá recebem uma merenda que é um copo de leite misturado
com água e três bolachas”, diz.
Para Dimitry Soares, da Secretaria de Educação de Minas Gerais
(MG), o Brasil dá muita atenção ao ensino superior e deixa de lado a
educação básica. “Não adianta pensar só em formar uma pessoa para
trabalhar, precisamos garantir que todos, desde crianças, tenham
acesso à educação de qualidade”.
UMA BOA
CONVERSA DE RODA
Aatual secretária de Juventude
do Paraná e ex-presidente do
Instituto de Ação Social do Paraná,
Thelma Alves de Oliveira, participou de
um bate-papo com as/os jovens da Viração.
Muitos não sabem que o Paraná foi um dos
Estados que mais mobilizou jovens na Conferência.
Thelma disse que vários fatores ajudaram a grande
mobilização do Paraná. “Quando a Conferência foi
citada, já tinha uma grande preocupação com esse grupo
de juventude, quase 90 mil jovens foram mobilizados em
cerca de 200 municípios, por isso o sucesso do
encontro estadual”, disse a entrevistada.
Ela ainda disse que existiu uma dinâmica bem
diferenciada na Conferência do Paraná: “Fizemos uma
grande ciranda entre todos os GTs (Grupos de Trabalho)
para todos os grupos ficarem cientes de todas as propos-
tas apresentadas, com isso toda a diversidade era
representada e se unia”.
Outro fato importante foi a parceria com a
Educativa, uma força muito importante na
região, porque ela é uma emissora de TV e
Rádio AM/FM pública com uma boa audiên-
cia, que abriu vários tipos de programas
para divulgação, com espaço ideal para
debater os temas da Conferência Estadual.
A maior bandeira defendida pelo
Estado é lutar para que a maioridade não
seja reduzida de 18 para 16 anos, por isso,
o pessoal que representa o Paraná no
evento fez um abaixo-assinado que teve
400 assinaturas dos participantes.
Thelma termina com uma mensagem
para todos(as): “A prioridade é a proteção
da juventude brasileira e acreditar que ela
tem o poder de transformação”.
“Juventude
tem o poder de
transformação”,
diz a secretária de
Juventude do Paraná,
Thelma Oliveira
23nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
JUVENTUDE NEGRA: É HORA
DE PREPARAR, REPARAÇÕES JÁ!
Em 2008 completam-se 120 anos de uma abolição
não concluída, onde os índices de desemprego,
subemprego e repetência escolar, morte precoce, baixa
representação política, entre outras, são maiores entre
os e as jovens negras e negros. O Estado se beneficiou
do trabalho escravo e não se preocupou em reparar os
danos causados por 400 anos de sucessivos massacres
e injustiças contra o povo negro. Para responder a essas
questões, surge o Fórum Nacional de Juventude Negra,
no I Encontro Nacional de Juventude Negra, realizado na
Bahia em 2007. O Enjune mobilizou cerca de 620 jovens
vindos de 17 estados brasileiros com a finalidade de
ampliar as discussões sobre os aspectos étnico-racial da juventude.
Na Conferência Nacional de Juventude, o Fórum Nacional de Juven-
tude Negra estruturou espaço de articulação política da juventude
negra na conferência. O escritório de articulação política é um espaço
para dar visibilidade da juventude negra dentro da conferência, denun-
ciar os altos índices de morte de jovens
negros no país e provocar os conferen-
cistas para discutirem políticas
públicas referentes à juventude
negra. Segundo Leidy Rap do
movimento negro de São
Paulo, “o governo só vê os
jovens negros nos óbitos, é
preciso dar visibilidade para
os números, sendo que de
todas as mortes jovens
do país, 87% são de
jovens negros”.
GOVERNO FEDERAL LANÇA
CONFERÊNCIA GLBT
Olançamento da 1ª Conferência de
Políticas Públicas para a população
GLBT foi feito pelo Secretário Especial
de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi,
durante a Conferência Nacional da
Juventude. O evento contou com forte
presença da Juventude GLBT, que
estava em Brasília participando
da Conferência.
“É realmente um momento históri-
co”, celebrou o E-JOVEM, grupo mem-
bro do CONJUVE e da Comissão Organi-
zadora da Conferência GLBT. “Esse
compromisso do governo com a Confe-
rência mostra a disposição de fortalecer
o programa Brasil Sem Homofobia e
criar um Plano Nacional de Políticas
Públicas para a população GLBT”,
disse Deco Ribeiro, do E-JOVEM.
Em seu discurso, o ministro destacou
como inadmissível que um homossexu-
al seja assassinado a cada três dias no
Brasil, por causa da homofobia. E que
nenhuma democracia seria completa
sem dar a devida atenção à comunidade
GLBT. Chega de preconceito!
CORDEL DA JUVENTUDE
AConferência Nacional de Juventude uniu em um único espaço
vários tipos de manifestações culturais de todos os cantos do Brasil.
Confira o Cordel criado por Expedita Freitas, do Ceará, que foi depositado
na nossa caixa de sugestões e pautas da Redação:
I Conferência Nacional de Juventude
Para assegurar políticas públicas
Tivemos atitude
E nos envolvemos nesta luta
Meu amigo e minha amiga
Chegou a nossa vez
Vamos mostrar nossa bandeira
E mostrar quem foi que fez
Termino cumprimentando
A todos que estão aqui
Você que está de fora
Pode a juventude aplaudir
Expedita Freitas (CE)
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4224
PROPOSTAS DA JUVENTUDE
Ao final do encontro, foram apresentadas
as 22 prioridades dos jovens brasileiros,
representados no evento por mais de 2 mil
delegados eleitos nas etapas preparatórias, que
envolveram mais de 400 mil pessoas em todo o Brasil.
As 22 prioridades incluem os seguintes temas: Ensino
Superior, Educação Profissional e Tecnológica, Educação Básica,
Trabalho, Cultura, Sexualidade e Saúde, Meio Ambiente, Política e
Participação, Tempo Livre e Lazer, Esporte, Segurança, Drogas, Comu-
nicação e Inclusão Digital, Cidades, Família, Povos e Comunidades
Tradicionais, Jovens Negros e Negras, Cidadania GLBT (diversidade
sexual), Jovens Mulheres, Jovens com Deficiência, Fortalecimento
Institucional da Política Nacional de Juventude e Juventude do Campo.
Confira as propostas ao lado e fique de olho!
Beto Cury, Secretário Nacional da
Juvetude, discursa na Conferência
25nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
1 Jovens negros 634
e negras
2 Educ. básica (eleva- 547
ção da escolaridade)
3 Fortalecimento 531
institucional
4 Meio Ambiente 521
5 Esporte 520
6 Juventude 515
do campo
7 Trabalho 471
8 Educação Superior 455
RESULTADO DO MOMENTO INTERATIVO
PRIORIDADES DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE JUVENTUDE
Reconhecimento e aplicação, pelo poder público, transformando em
políticas públicas de juventude as resoluções do 1º Encontro Nacional
de Juventude Negra (ENJUNE), priorizando as mesmas como diretri-
zes étnico/raciais de/para/com as juventudes.
Destinar parte da verba da educação no ensino básico para o modelo
integral e pedagógico do Centros Integrados de Educação Pública.
Aprovação pelo Congresso Nacional do marco legal da juventude: re-
gime de urgência da PEC n.º 138-B/2003, Plano Nacional de Juventude
e Estatuto dos Direitos da Juventude PL 27/2007.
Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que inclua o
“Programa Nacional de Juventude e Meio Ambiente”, institucionaliza-
do em PPA (Plano Plurianual), com a participação dos jovens nos pro-
cessos de construção, execução, avaliação e decisão, bem como da
Agenda 21 da Juventude que fortaleça os movimentos juvenis no en-
frentamento da grave crise ambiental global e planetária, com a cons-
trução de sociedades sustentáveis.
Ampliar e qualificar os programas e projetos de esporte, em todas as
esferas públicas, enquanto políticas de Estado, tais como os progra-
mas Esporte e Lazer da Cidade, Bolsa Atleta e Segundo Tempo com
núcleos nas escolas, universidades e comunidades, democratizando o
acesso ao esporte e ao lazer a jovens, articulados com outros progra-
mas existentes.
Garantir o acesso à terra ao jovem e à jovem rural, na faixa etária de 16
a 32 anos, independente do estado civil, por meio da reforma agrária,
priorizando este segmento nas metas do Programa de Reforma Agrá-
ria do Governo Federal, atendendo a sua diversidade de identidades
sociais, e, em especial aos remanescentes de trabalho escravo. É fun-
damental a revisão dos índices de produtividade e o estabelecimento
do limite da propriedade para 35 módulos fiscais.
Reduzir a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redu-
ção de salários, conforme campanha nacional unificada promovida
pelas centrais sindicais.
Defendemos que a ampliação do investimento em educação é fator
imprescindível para construirmos uma educação de qualidade para
todos e todas e que consiga contribuir para o desenvolvimento do País.
Para tanto, defendemos o investimento de 10% do PIB em educação.
Para atingir este percentual reivindicamos o fim da desvinculação das
receitas da união (DRU) e a derrubada dos vetos ao PNE (Plano Nacio-
nal de Educação). Reivindicamos que 14% dos recursos destinado as
universidades federais seja destinado exclusivamente à assistência es-
tudantil por meio da criação de uma rubrica específica. Defendemos
Item Tema Proposta Votos
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4226
9 Cultura 453
10 Política e 428
Participação
11 Jovens mulheres 37
12 Segurança 365
13 Política e 360
participação
14 Outros temas 336
15 Fortalecimento 313
institucional
também a ampliação dos recursos em assistência estudantil para es-
tudantes do PROUNI e para estudantes de baixa renda de universida-
des privadas. Garantir a transparência e democracia na aplicação dos
recursos.
Criação, em todos os municípios, de espaços culturais públicos, des-
centralizados, com gestão compartilhada e financiamento direto do es-
tado, que atendam às especificidades dos jovens e que tenham pro-
gramação permanente e de qualidade. Os espaços, sejam eles cons-
truções novas, desapropriações de imóveis desocupados ou organiza-
ções da sociedade civil já estabelecidas, devem ter condições de abri-
gar as mais diversas manifestações artísticas e culturais, possibilitan-
do o aprendizado, a fruição e a apresentação da produção cultural da
juventude. Reconhecer e incentivar o hip hop como manifestação cul-
tural e artística.
Criar o Sistema Nacional de Juventude, composto por Órgãos de Ju-
ventude (Secretarias/coordenadorias e outros) nas três esferas do Go-
verno, com dotação orçamentária específica; Conselhos de Juventude
eleitos democraticamente, com caráter deliberativo, com a garantia de
recursos financeiros, físicos e humanos; Fundos Nacional, estaduais e
municipais de Juventude, com acompanhamento e controle social, fi-
cando condicionado o repasse de verbas federais de programas de pro-
jetos de juventude à adesão dos estados e municípios a esse Sistema.
Implementar políticas públicas de promoção dos direitos sexuais e di-
reitos reprodutivos das jovens mulheres, garantindo mecanismos que
evitem mortes maternas, aplicando a lei de planejamento familiar, ga-
rantindo o acesso a métodos contraceptivos e a legalização do aborto.
Contra a redução da maioridade penal, pela aplicação efetiva do Esta-
tuto da Criança e do Adolescente – ECA
Garantir uma ampla reforma política que, além do financiamento pú-
blico de campanha, assegure a participação massiva da Juventude nos
partidos políticos, com garantia de cota mínima de 15% para jovens de
18 a 29 anos nas coligações, com respeito ao recorte étnico-racial e
garantindo a paridade de gênero; Mudança na faixa-etária da elegibili-
dade garantindo como idade mínima de 18 anos para vereador, prefei-
to, deputados estaduais, distritais e federais e 27 anos para senador,
governador e presidente da República.
Fim da obrigatoriedade do serviço militar, e criação de programas al-
ternativos de serviços sociais não obrigatórios.
Criar o Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude que confira
status de Ministério à Secretaria Nacional de Juventude, exigindo que a
adesão de estados e municípios seja condicionada à existência de ór-
gão gestor específico e respectivo conselho de juventude. A partir de
dezembro de 2009, os recursos do Fundo Nacional de Juventude, do
ProJovem e demais programas de juventude, apenas continuarão a ser
repassados aos estados e municípios que aderirem ao Sistema.
Item Tema Proposta Votos
27nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
16 Povos e 303
comunidades
tradicionais
17 Cultura 283
18 Cidadania GLBT 280
19 Jovens com 239
deficiência
20 Jovem do 274
Campo
21 Segurança 277
22 Cultura 247
Assegurar os direitos dos povos e comunidades tradicionais (quilom-
bolas, indígenas, ciganos, comunidades de terreiros, pescadores arte-
sanais, caiçaras, faxinalenses, pomeranos, pantaneiros, quebradeiras
de coco babaçu, caboclos, mestiços, agroextrativistas, seringueiros,
fundos de pasto, dentre outros que buscam ser reconhecidos), em es-
pecial da juventude, preservando suas culturas, línguas e costumes,
combatendo todas as práticas exploratórias e discriminatórias quanto
a seus territórios, integrantes, saberes, práticas culturais e religiosas
tradicionais.
Estabelecimento de políticas públicas culturais permanentes direcio-
nadas à juventude, tendo ética, estética e economia como pilares, em
gestão compartilhada com a sociedade civil, a exemplo dos Pontos de
Cultura, que possibilitem o acesso a recursos de maneira desburocra-
tizada, levando em consideração a diversidade cultural de cada região
e o diálogo intergeracional. Criação de um mecanismo específico de
apoio e incentivo financeiro aos jovens (bolsas) para formação e capa-
citação como artistas, animadores e agentes culturais multiplicadores.
Incentivar e garantir a SENASP/MJ a incluir em todas as esferas dos
cursos de formação dos operadores/as de segurança pública e privada
em nível nacional, estadual e municipal no atendimento e abordagem
e no aprendizado ao respeito à livre orientação afetivo-sexual e de iden-
tidade de gênero com ampliação do DECRADI – Delegacia de Crimes
Raciais e Intolerância.
Ratificação imediata da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência da ONU como emenda constitucional.
Garantia de políticas públicas integradas que promovam a geração de
trabalho e renda para o jovem e a jovem do campo, com participação
da juventude na sua elaboração e gestão. Assegurando o acesso a ter-
ra, à capacitação e ao desenvolvimento de tecnologia sustentável apro-
priada à agricultura familiar e camponesa voltada para a mudança de
matriz tecnológica. Transformar o Pronaf Jovem em uma linha de cré-
dito para produção agrícola e não agrícola.
Assegurar, no âmbito das Políticas Públicas de Segurança, prioridade
às ações de prevenção, promoção da cidadania e controle social, refor-
çando a pratica do policiamento comunitário, priorizando áreas com
altas taxas de violência, promovendo a melhoria da infra-estrutura lo-
cal, adequadas condições de trabalho policial, remuneração digna e a
formação nas áreas de Direitos Humanos e Mediação de Conflitos, con-
forme as diretrizes apontadas pelo PRONASCI.
Estabelecimento de cotas de exibição e programação de 50% para a
produção cultural Brasileira, sendo 15% produção independente e 20%
produção regional em todos os meios de comunicação (TV aberta e
paga, rádios e cinemas). Valorização dos artistas locais garantindo a
preferência nas apresentações e prioridade no pagamento. Entender
os cineclubes como espaços privilegiados de democratização do áudio
visual.
Item Tema Proposta Votos
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4228
ResponsabilidadeAmbiental
ResponsabilidadeAmbiental
Veja algumas dicasmaneiras para salvar o meu,o seu, o nosso ambiente
Falar de responsabilidade
ambiental e desenvolvimento
sustentável agora é moda.
Raro é ver quem realmente vista a
camisa e viva de verdade a pro-
posta. Nessa nossa vida corrida,
saímos por aí consumindo de tudo e,
às vezes, nem paramos para pensar
nas conseqüências do nosso consu-
mo inconsciente.
Mas, como a gente é jovem,
temos garra pra caramba e uma
força revolucionária gigante dentro
de nós, além de uma cabeça boa que
guarda tudo, como diria nossa avó,
porque não reciclar nossas idéias e
começar a agir diferente a partir de
agora?
Já que “tudo muda o tempo
todo no mundo”, como canta Lulu
Santos, que seja para melhor e
tenha dedo nosso nisso!
Bora animar de dar um “up”
nesse mundão de meu Deus! Você
vai ver como pode ser mais simples
Veja algumas dicasmaneiras para salvar o meu,o seu, o nosso ambiente
do que imagina! Ajudar a salvar o
planeta é só uma questão de disposi-
ção. E não precisa ser nenhum super-
herói. Qualquer mortal que seguir e
divulgar pelo menos essas 5 dicas
abaixo já estará cooperando. Tome
nota! Para melhorar o planeta...
11. USE MENOS PAPEL!
Procure sempre fazer backup de seus
arquivos online, em pendrives ou mídias
regraváveis ao invés de CDs, que levam até
450 anos para se decompor. Imprima somente
o necessário, e, de preferência, reduza a fonte
para caber mais na mesma folha e utilize frente e
verso sempre que possível. Ao contrário do que
se pensa, as sacolas de papel não são mais
sustentáveis que as de plástico. Elas consomem
mais energia em sua produção. Mas... ainda têm
a vantagem de poderem ser usadas na
compostagem e demorarem apenas de
3 a 6 meses para se decomporem na natureza.
Só que isso não faz com que as árvores que
foram derrubadas para que o papel existisse
voltem a nascer. Use menos papel.
LEANDRA BARROS,
do Virajovem Vitória (ES)*
29nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
Botando em práticas essas 5 dicas,
para começar, você já dá um passo rumo
a um desenvolvimento mais sustentável e
começa a dar mais moral para a preservação
do planeta. E, não se grile se seus colegas
começarem a chamar você de “eco-chato”
ou “eco-chata”. Praticar um consumo cons-
ciente é “chique demais”, como diriam os
mineiros, “trilegal”, como diriam os gaúchos,
“porreta”, para os baianos, e “muuuito mas-
sa”, como nós, capixabas, dizemos por aqui.
Veja algumas dicas maneiras para
salvar o meu, o seu, o nosso ambiente.
Só não esqueça que tudo tem que
começar em você! Como deve ter dito
uma sábia (mãe): “Não queira mudar o
mundo se você não arruma o seu quarto”!
Integrante de um dos 21 Conselhos
Jovens da Vira espalhados pelo País
.
TÁ na MÃO• Responsa Ambiental:
www.responsabilidadeambiental.com.br/
• Blog maneiro – Meu Ambiente:
meuambiente.wordpress.com/
• Mude o mundo: www.mudeomundo.com.br e
www.mudeomundo.org.br
• Jogo para aprender a economizar em casa:
jogos.wwf.org.br/casaeficiente/
3
45
22. NÃO ACEITE SACOLINHAS PLÁSTICAS
E EVITE COPOS DESCARTÁVEIS!
Grande parte das sacolas plásticas não são
biodegradáveis e podem demorar séculos para
se decompor na natureza. Além disso, quando
caem no mar os animais marinhos as confundem
com algas e muitos morrem asfixiados.
O melhor mesmo é levarmos nossa própria bolsa,
sacola de feira retornável, mochila ou até mala
de rodinha (como é comum nos supermercados
da Europa) para as compras. O copo plástico
demora cerca de 50 anos para se decompor.
Que tal deixar uma caneca ou copo reutilizável
no trabalho ou sempre carregar na mochila
para evitar o descartável. Se não tiver jeito,
ao menos utilize o mesmo copo
o máximo que puder.
3. ECONOMIZE ENERGIA!
Abra as janelas e aproveite
a luz natural durante dia.
Apague a luz quando sair
de um local à noite. Não deixe
seus aparelhos eletrônicos
em standby (com aquela luzinha
vermelha acesa). Troque suas
lâmpadas incandescentes
por fluorescentes. Elas reduzem
o consumo em 60%.
4. GASTE MENOS ÁGUA!
Primeiro a clássica: feche a torneira
ao escovar os dentes. Junte bastaaante
roupa suja antes de colocar a máquina
de lavar para funcionar. Não demore
tanto no banho. Prefira o balde à
mangueira ao lavar o carro.
Prefira a vassoura e a pá à mangueira
ao varrer o quintal. Prefira o regador
à mangueira ao molhar as plantas.
Nunca prefira a mangueira! Ela sempre
desperdiça água. Deixemos as man-
gueiras para os bombeiros.
5. PRESERVE SUA FAMÍLIA!
Para quem é casado, se as coisas estão mal
no seu casamento, converse, vá com calma,
fale a verdade com jeitinho, ceda mais uma vez.
Perdoe, aumente a dose de compreensão e
o tamanho do seu pavio, chore até dormir,
não durma brigado que faz mal, escreva para
desabafar, grite no travesseiro, tome um bom
banho, respire fundo, peça ajuda, sorria e siga em
frente! Faça de tudo, mas EVITE O DIVÓRCIO!
Além de fazer mal para o psicológico e para o
coração de todas as pessoas envolvidas,
faz um mal tremendo para o Meio Ambiente.
O divórcio aumenta o número de domicílios e,
conseqüentemente, o consumo de energia
e água, além de aumentar a produção de lixo,
já que alguns objetos que eram compartilhados
são jogados fora, enquanto, para a nova
casa são comprados novos
utensílios domésticos.
Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4230
o poeta EducadorHenrique Castriciano,
o poeta EducadorHenrique Castriciano,QUE FIGURA
Henriqueta Leopoldina Rodrigues de Souza,
na madrugada de um sábado marcado pelas
dores do parto, deu à luz, em 1874, a um
menino que anos depois viria a ser o respeitado
intelectual e educador Henrique Castriciano.
O filho de Elói Castriciano de Souza, comerciante
e político de Macaíba (RN), muito cedo revelou sua
preferência pelos livros, descobrindo grande talento
para a poesia. Seu primeiro livro de versos foi
publicado em 1892, com apenas 18 anos, mesmo
ano em que contraiu a tuberculose, enfermidade que
matou primeiro sua mãe, depois seu pai, quando
tinha somente 7 anos.
Após a grande perda familiar que foi a morte de
Henriqueta, em 1879, a avô materna Didinha veio
buscar os 4 netos e os levou para o Recife, dois anos
antes da morte do pai. O jovem Castriciano sempre
fora uma criança doente, sendo encaminhado pelos
avós, como era costume das famílias de posse
daquele tempo, para uma viagem de cura pela Suíça,
retornando à sua cidade natal 11 anos depois, com
seus 16 anos. Apesar de estudioso ávido e compene-
trado, a frágil saúde atrasou-lhe, formando-se com
30 anos, no Rio de Janeiro. No entanto, já tinha 4
livros de versos e uma peça publicados à época.
Comovido e entusiasmado com tudo que vira
sobre educação popular em seus anos na Suíça, em
1909 viajou pela Europa levando a idéia de buscar
informações de uma escola para meninas, cultivan-
do o sonho de um espaço destinado à valorização e
integração da mulher no plano social. O resultado foi
...ALESSANDRO MUNIZ, do Virajovem Natal (RN)*
a criação, em 1911, de uma Liga de Ensino e a fundação da Escola Doméstica de Natal em
1914, que hoje engloba o complexo educacional com duas escolas e uma faculdade.
Castriciano colaborou muitos anos com a imprensa natalense, sendo redator do jornal
A República por mais de 30 anos, além de escrever para outros jornais. Na política, teve
papel igualmente ativo como secretário de governo, procurador geral do Estado e vice-
governador duas vezes, tendo presidido ainda o Congresso Legislativo do Estado.
Na vida marcada pela incerteza da saúde comprometida, era um adolescente melancólico
e, em sua vida adulta, continuou em certa medida um solitário, tornando-se um solteirão
inveterado. Morreu aos 73 anos praticamente sozinho, após dois longos anos de sofrimento
internado em hospitais de Natal. Terminava uma vida que nunca seria esquecida graças à
suas contribuições inestimáveis ao Rio Grande do Norte e ao Brasil.
Integrante de um dos 21 Conselhos Jovens da Vira
espalhados pelo País ([email protected])
.
Novaes
31nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
Agalera do Rio de Janeiro entrevistou Luciana Kamel, psicóloga
e assessora de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar
de Aids (Abia) e Adriano De Lavor, jornalista especialista em Comuni-
cação e Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP),
que atualmente trabalha na Fundação Fiocruz. Confiram as duas visões
sobre sexualidade e saúde.
SEXO E SAÚDE
Como você encara o aumen-
to ou descoberta da diversida-
de sexual por parte das/os jovens?
Luciana: É natural que os jovens
descubram seus desejos, sua forma de
prazer de modo menos censurado
como acontecia há 20 anos, mas ain-
da hoje a homossexualidade não é
respeitada e os jovens ainda sofrem
preconceito, discriminação e, em al-
guns casos, sofrem violência das mais
diversas sem motivo. Simplesmente
porque decidiram a sua felicidade ao
se relacionarem afetiva e sexualmen-
te com pessoas do mesmo sexo.
O que podemos fazer para
incentivar entre elas/eles
a sexualidade saudável?
Luciana: A escola tem um papel im-
portante nesse sentido, muitas vezes
os jovens não são acolhidos em casa e
a escola acaba sendo um espaço de
socialização onde eles passam a mai-
or parte do seu tempo. Algumas inicia-
tivas em escolas já vêm abrindo cami-
nho de diálogo nesse sentido e já vêm
apontando resultados. A imprensa
(tanto escrita, como programas de rá-
dio, televisão, internet), peças de tea-
tro com esquetes que abordam temá-
ticas que são conversas freqüentes
entre os jovens acabam sendo estraté-
gias importantes. Aqui na Abia, temos
um grupo de teatro com jo-
vens (Cia da Saúde) que se
apresentam nas escolas e
também nas vias públicas
levando informação de pre-
venção das dst/aids de forma
lúdica, descontraída aos
outros jovens.
Adriano: É importan-
te discutir o assunto
nas escolas, nos proje-
tos sociais, nos pro-
gramas de TV, nos
sites, nos blogs. Só se
conhece aquilo que se
debate. Neste sentido, o
papel das escolas e daque-
les que promovem iniciati-
vas para o público jovem é
importantíssimo!
Integrantes de um
dos 21 Conselhos
Jovens da Vira
espalhados pelo País
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RENATA SOUZA e GUSTAVO BARRETO,
do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*
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Revista ViRAÇÃO · Ano 6 · nº 4232
VIRA ARTER KASSIA NOBRE, do Virajovem Maceió (AL)*
– Mari, olha só que cabelo desarrumado o seu, amiga!
– A Mari é assim mesmo!
– Assim como? Alguém podia me explicar?
A Mariana não era igual e também não era única. Pode-
ria ser diferente das amigas.
– Mari, olha que gatinho!
– É, pode ser...
Definitivamente, Mariana era diferente.
– Mari, você é infeliz?
– Acho que sim. Sou tão diferente. Não penso e não sinto
igual a vocês. Quero mudar!
– Primeiro deixa este cabelo crescer, lixa estas
unhas e usa um pouco de maquiagem!
Passam os dias e Mariana está igual.
– Feliz Mari?
– Estou! Procurei um psicólogo. O Dr.
Viana, ele é o máximo!
– Ah! Agora sim, você vai ser igual a
gente. Conta como é lá?
– Olha só, no próximo dia, irei mos-
trar meus poemas e falaremos sobre
artes.
– E quando você vai mudar?
– Não sei, só sei que é muito legal e
estou me identificando com tudo.
E o silêncio toma as amigas.
– Minha gente, vocês viram o filme com
aquele ator lindo e maravilhoso?
– Ainda não! Vamos todas!
Mariana era diferenteE Mariana não entendia, não era para ela ser
normal, a terapia não estava funcionando.
– E lá vou eu, chegando atrasada. O Dr. Viana não
vai perdoar.
– Mariana Alencar?
– Sim, sou eu.
– Você chegou muito atrasada, vai ter que esperar
mais meia hora.
– Tudo bem.
– Nossa! Como aqui está frio, não gosto de frio.
Muito prazer, meu nome é Laís, e o seu?
– Mariana, prazer. Você veio para o Dr. Viana?
– Sim, claro. Ele é ótimo! Hoje vou mostrar todos os
meus contos
– Eu também! Só que poesias. Olha só.
– São muito boas. Posso ficar com algumas, quero
colocar no meu blog.
– Claro, aproveite e anota o endereço dele.
– Aqui está. Prazer Mariana.
– Prazer.
E à noite, ela entra no blog e lá está a sua poesia.
Toda orgulhosa, lê e relê tudo. E comenta, com uma
admiração por aquela nova pessoa que conheceu.
– Mariana, você tem que ir para esta exposição, vai
ter recital de poesias e bandas experimentais.
– Ah, vou sim, Laís, mas nunca fui a um lugar assim.
– Não há problemas, lá estarão meus amigos, vou
apresentá-los.
– Alô Mariana. É a Lia. Tudo certo para o barzinho hoje,
não é?
– Sabe o que é Lia, estou morrendo de sono.
– Não acredito Mari!
– É sim, deixa para a próxima.
– Mari, você vai adorar meus amigos, eles são excêntri-
cos e divertidos. Boa Noite, galera! Esta é a Mariana.
– Olá! Pode sentar, aceita um copo de vinho?
– Claro que aceito.
Já passava da meia-noite, Mariana não quis ir para
casa. A noite estava perfeita. Conversa sobre
livro, cinema e poesia. Mariana sorria e
sorria.
– Vamos todos para o meu apartamento!
Lá tem mais bebida!
Em um momento da noite, Mariana
estava olhando para Laís. Seus olhos
se cruzaram numa força que elas não
saberiam explicar. As mãos encosta-
das e o impulso era o magnetismo de
suas bocas. Era paixão. E, elas, logo
descobriram.
– Mari, você está feliz?
Agora sim, Laís. Agora sim.
Integrante de um dos 21 Conselhos
Jovens da Vira espalhados pelo País
Mariana era diferente
Lentini
Lentini
33nº 42 · Ano 6 · Revista ViRAÇÃO
Mudança, atitudee ousadia jovem
CUPOM DE
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4. BOLETO BANCÁRIO
(R$2,95 de taxa bancária)
THIAGO LUIZ LAPA, do Virajovem Curitiba (PR)*
CREM
AÇÃO
Por tanto tempo busquei o que queria
Que agora a memória me falha.
Os seres humanos apreciam porcarias,
Como animais que não se agasalham.
Busco o dia da sabedoria,
Mesmo sem a certeza de nada.
Encontrei agora o que queria?
Ou apenas outra porta fechada?
O nunca, jamais existiria,
Se o agora não fosse apenas uma data,
O ontem me angustiaria,
Como o futuro me maltrata.
O saber é um rio que deságua,
Bebe dele aquele que não se engasga.
Tristemente vive quem não se embriaga
De água assim bem aventurada.
Mas, se sei de algo, é por acaso.
Pois de mim nunca ouvi grandes verdades,
De minha boca, saem apenas maldades
Que ferem a mim e a outros em todo caso.
Meu corpo será queimado no final,
Ficarei triste, pois este será o fim de todo o mal.
Revendo a pequena trilha que percorri,
Espero jamais retornar ao lugar onde nasci.
Estagiário da Ciranda – Central de Notícias dos Direitos da Infância
e Adolescência e integrante de um dos 21 Conselhos Jovens da Vira
espalhados pelo País ([email protected])
Quando cheguei, emergindo lento
Do meu casulo sangrento,
Pra mim havia tudo planejado,
E todas as bajulações já haviam
sido preparadas.
Como em um labirinto infame
De nuvens negras a me envolver,
Lembro-me dos dias sem cálculos,
Dádivas de coincidência e inertes
seqüelas temporais no nada.
A carne ainda exala o cheiro
da desconfiança e
Aromas repugnantes lacrimejando
olhares selvagens.
Quantas lágrimas misturam-se a
lama que
Até os tornozelos me cobre?
Quão mal cheirosos eram os lírios e
as éguas mortas?
Horror, horror... Caminhando a
passos lentos,
Meus grandes olhos, pedras vivas e
desgastadas pelo tempo
Fecham-se ao ver tombar carcaças
vazias recheadas de vermes.
Na escuridão sou torturado pela dor,
Meus joelhos agora estão também
na lama
Da eternidade vazia de formas.
Onde foi que deixei minha mente?
Vejo o líqüido viçoso
Onde lentamente todos os vermes
se alimentam.
São veleiros de prata que flutuam
E entram em minha boca morta.
Carne
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Com mais de 2 mil pessoas politizadas e militantes reunidas em um
único espaço, a Conferência Nacional da Juventude, que rolou em
abril em Brasília (DF), foi um momento histórico de reconhecimento
da juventude como sujeito de direitos e importante foco de políticas públi-
cas. Logo, também é um momento de fortes articulações políticas e ações
em bloco. Por todo evento, correram abaixo-assinados a fim de pressionar
o Congresso Nacional a aprovar e colocar nas pautas de votação importan-
tes reivindicações dos movimentos. A concentração de um número tão
grande de pessoas contribui na força de pressão para que essas
discussões voltem a foco.
Um das mais importantes e significativos é o abaixo-assinado pela
votação e aprovação do Projeto de Emenda Constitucional 138/03, que
prevê a inclusão do termo juventude como prioridade absoluta do Estado
e da sociedade brasileira, como grupo social que necessita de políticas
públicas específicas e uma atenção diferenciada. O documento foi entregue
ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia.
Segundo a Conselheira Nacional de Juventude, Luciana Martinelli, a apro-
vação da PEC estabelece um importante marco legal e histórico do reconhe-
cimento da juventude enquanto sujeito social e de direitos. “A PEC 138/03 é
importante porque coloca a juventude como um segmento populacional
específico e que precisa ter seus direitos garantidos e valorizados”, explica.
Essa proposta representa uma reforma constitucional histórica, não só
pela valorização legal das novas gerações, mas também por ser resultado
da intervenção social e sua influência no poder público.
como prioridadeabsoluta
como prioridadeabsolutaAbaixo-assinados correm
pela Conferência Nacionalda Juventude para reforçar
desejos de direitos garantidos
.
JuventudeJuventude
MÔNICA SANTANA, da Cipó –
Comunicação Interativa
(www.cipo.org.br/)
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Roteiro produzido por Ariane Bastos Araújo, Carlos Rangel Neves Otto e Ligia Martins, do Virajovem Goiânia (GO)
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