Memória coletiva como suporte para o Turismo cultural : fronteiras porosas nas Folias de
Reis em Nova Friburgo/RJ
DUTRA, Adriana da Rocha Silva1
SANCHES, Diego Bonan2
DAZZI, Camila3
Eixo temático 9: Paisagem e Cultura- Patrimônio, Turismo e Memória
Palavras-chave: Folia de Reis; Religiosidade Popular;
Introdução
Envolvendo em sua realização dança e música e símbolos quase mágicos como a
Bandeira, a Folia de Reis é uma manifestação cultural de grande complexidade. A encenação
do caminho percorrido pelos Reis Magos até a manjedoura do recém-nascido Menino Jesus,
foi, e continua sendo, uma das histórias bíblicas mais encenadas do Ciclo Natalino. No Brasil, a
expressividade maior de fé da Folia de Reis é durante esse período que se inicia com ensaios,
passa pelas jornadas e finaliza com a festa de arremate, evento que marca o fim do ciclo. A
Folia de Reis atualiza a memória da narrativa bíblica da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus
que se apresenta como um ritual itinerante do catolicismo popular.
Tendo a Folia de Reis como uma cultura complexa e polissêmica, observa-se que a
mesma é o “resultado das vivências, das reinterpretações, das ressignificações e das
circularidades culturais” (MENDES, 2007) atrelada a memória e seu valor simbólico atribuído
aos bens e suas razões que motivaram as relações, construções, acontecimentos e saberes
(MENESES, 2004). Portanto, o uso do patrimônio cultural pelo turismo remete à reflexões
necessárias à sua proteção, sendo a memória coletiva que permeia o universo das vivências
experienciais e as trocas ocorridas um arcabouço desse patrimônio.
1 Turismóloga, graduanda, CEFET/RJ Nova Friburgo [email protected] Turismólogo, graduando, CEFET/RJ Nova Friburgo [email protected] 3 Historiadora da Arte, Professora Drª, CEFET/RJ Nova Friburgo, [email protected]
Atentou-se para as fronteiras porosas e sua relevância que se desvelam através de
especificidades e pontos de intercessão observados durante trabalho de campo realizado para
o projeto de pesquisa “Religiosidade Popular e Turismo Étnico-Cultural: Identificação e
Registro da Folia de Reis em Nova Friburgo/RJ e suas relações com a umbanda”. Nesse sentido,
constatou-se, em alguns Grupos de Folias de Reis uma religiosidade sincrética referenciadas a
partir da Umbanda constituída de “elementos multiculturais que contribuíram para sua
construção. Isto é, a bricolagem de estruturas culturais distintas que permitiram o
amalgamento religioso das etnias ameríndias, europeias e africana” (OLIVEIRA, 2007 p. 21); e
também do Catolicismo que fazem com que os devotos possuam “uma identificação global
com a fé católica” (HIGUET, 1984, p. 24 apud MENDES, 2007).
Logo, observa-se que essa diversidade cultural pode contribuir para a implementação do
Turismo Cultural como oportunidade de salvaguarda do patrimônio através do uso da
memória como atrativo turístico.
Metodologia e resultados
As conclusões se baseiam em resultados preliminares, uma vez que o o projeto de pesquisa
encontra-se em andamento. Para subsidiar os levantamentos furtou-se da “triangulação de
fontes” a partir de registros imagéticos, entrevistas, questionários, documentos revelando-se
como uma rica fonte de dados, dando apoio ao processo de compreensão da manifestação
cultural, ao exemplificar a imaterialidade da cultura local, o saber fazer.
Conclusões
Os traços percebidos da Umbanda em meio aos Grupos de Folia de Reis de Nova Friburgo
denotam uma vasta diversidade cultural no município que é formada sob a égide de diversas
etnias, onde os Grupos de Folia tornam-se uma referência importante não só como um dos
elementos formadores da identidade local, bem como um atrativo turístico, desde que se
implemente ações adequadas e sustentáveis mediante a prática do Turismo Cultural, que se
vislumbra como mais um gerador de renda e inclusão social dos Grupos e das comunidades.
O Turismo Cultural, se bem pensado, pode ser um modo privilegiado de promover a
valorização das “cerimônias e preservar seu conteúdo religioso” (JURKEVICS, 2007 p.78). A
cultura, portanto, deve ser compreendida não como um ‘bem’ a ser “embalsamado e
mumificado”, mas sim como um “recurso econômico”, tal como preconizado nas Normas de
Quito: “Trata-se de incorporar a um potencial econômico um valor atual, de por em
produtividade uma riqueza inexplorada, mediante um processo de revalorização que, longe de
diminuir sua significação, puramente, histórica ou artística, a enriquece [...]”. (OEA, 2000,
p.111).
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