Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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Repensando as práticas discursivas de estudantes universitários no Facebook
Liliane Alves da Silva1 (UPE)
Resumo: Diante da necessidade de refletir sobre as práticas discursivas emergentes no ambiente virtual, o presente artigo tem como principal finalidade descrever as práticas de leitura e escrita de estudantes universitários no Feed de notícias, página do Facebook. Além disso,
procura-se compreender como estas práticas se desenvolvem e de que forma elas podem ser relacionadas com o letramento dos graduandos. Palavras chave: Práticas discursivas, letramento digital, Facebook
Abstract: Faced with the need to reflect on the discursive practices emerging in the virtual environment, this paper has as main purpose to describe the practices of reading and writing of college students on the News Feed in the Facebook page. In addition, we seek to understand how these practices are developed and how they can be related to the literacy of undergraduates. Key works: discursive practices, digital literacy, Facebook
Introdução
As práticas discursivas em ambiente virtual têm sido alvo de muitas pesquisas
desde o surgimento das diversas tecnologias, visto que estas favoreceram o
desenvolvimento de atividades cada vez mais inovadoras no que se refere à leitura
e à escrita. As práticas comunicativas nesse ambiente tornam-se mais interativas
despertando, dessa forma, o interesse de crianças, jovens e adultos.
A principal motivação para a realização deste trabalho foi a partir do
momento em que observamos as publicações feitas, constantemente, pelos
1 Liliane Alves da SILVA, graduanda em Letras
Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Garanhuns [email protected]
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estudantes universitários no mural do Facebook, as quais, em muitos casos,
refletiam seus posicionamentos frente aos temas mais discutidos na sociedade.
É interessante perceber que a interação entre as pessoas utilizando as mídias
digitais tem se tornado cada vez mais crescente. Por isso, faz-se necessário discutir
a relevância das práticas de leitura e escrita nestes ambientes, porque essas
atividades exercem um papel fundamental para que a interação se realize de forma
eficaz.
Nos dias atuais, uma pessoa letrada não se restringe apenas àquela que possui
a habilidade de ler e escrever, mas sim a todas que conseguem desenvolver, como
também compreender, práticas sociais que envolvem a escrita. Considerando a
importância de refletir sobre as práticas discursivas de estudantes universitários no
site Facebook, nossa pesquisa objetivou compreender como elas se desenvolvem,
além de tentar estabelecer uma possível relação com o letramento digital. Para a
concretização deste estudo baseamo-nos nas pesquisas feitas por Bazerman (2011)
sobre leitura e escrita, estudos sobre letramentos por Kleiman (2007) e letramento
digital por Ribeiro (2009) e Soares (2002).
O presente artigo encontra-se organizado da seguinte forma: no primeiro
tópico serão apresentados os métodos utilizados para a concretização da pesquisa.
Em seguida, será feita uma breve reflexão sobre a leitura/escrita como forma de
interação, após será feita uma abordagem sobre letramento como prática social,
prosseguindo com as redes sociais mediadas pelo Facebook, as práticas discursivas
dos estudantes no site citado anteriormente e, para concluir, serão expostas as
considerações finais.
Caminho percorrido para a realização da pesquisa...
A pesquisa sobre as práticas discursivas em ambiente digital, do ponto de
vista das ciências da linguagem, tende a adotar uma perspectiva etnográfica,
caminho que também foi seguido neste trabalho. Para a realização do presente
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estudo e para cumprir os nossos objetivos, foi feito um momento de observação in
loco das práticas de leitura e escrita de um grupo constituído por 40 estudantes
universitários no Feed de notícias, bem como a aplicação de um questionário a um
grupo de 10 graduandos, usuários do Facebook. Após isso, tentamos relacionar os
dados encontrados com os pressupostos teóricos que embasaram a pesquisa.
Perspectivas teóricas sobre a leitura/escrita como forma de
interação
Tanto o surgimento quanto a disseminação das tecnologias de informação e
comunicação tem possibilitado a interação entre pessoas, as quais se comunicam
através da linguagem verbal e não verbal. No entanto, a modalidade escrita da
língua se tornou essencial para o desenvolvimento de atividades no ambiente
digital. Desse modo, como afirma Bazerman (2011, p. 11) “a escrita fornecer-nos os
meios pelos quais alcançamos os outros através do tempo e do espaço, para
compartilhar nossos pensamentos, para interagir, para influenciar e para
cooperar.” Em todos os âmbitos sociais a escrita tem um papel relevante e,
atualmente, tornou-se difícil conviver sem ela, especialmente, quando se trata do
ambiente virtual onde a interação ocorre, sobretudo, por meio de textos escritos.
Segundo Melo e Bezerra (2011, p. 31), “a internet, como vimos, mantém o
status da escrita como elemento central para a comunicação e interação na
contemporaneidade.” Por meio dela nos deparamos com inúmeras informações.
Além disso, as pessoas se sentem livres para produzir textos diversificados com
espontaneidade, pois na internet elas têm liberdade de escolher qual a variedade
da língua desejam utilizar, dependendo do que pretendem fazer ou da
possibilidade que o site oferece. Se for um site de relacionamento como é o caso
dos que mediam as redes sociais, os usuários terão uma liberdade maior para
expressar-se por meio da linguagem do modo que desejam. Nesse caso, como
assegura Bazerman (2011, p.13) “nossos textos são atos de nossa vontade,
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motivados pelos nossos desejos e intenções.” Sendo assim, os textos, como
corroboram Koch e Elias (2009), são eventos sociocomunicativos que passam a
existir a partir do momento que o processo interacional tem início. Ainda, para as
autoras acima mencionadas a escrita possui três focos: um na concepção de língua
enquanto sistema, que predetermina o que sujeito vai produzir. Desse modo, o
texto é codificado com base, apenas, em regras gramaticais. Esse ponto de vista
aceita a ideia de que o leitor decodifica o texto sem necessitar de outros
conhecimentos.
No segundo foco, a escrita é apresentada como a expressão do pensamento e
o sujeito é psicológico, individual, capaz de controlar suas ações e suas vontades
no momento em que escreve. Como se percebe, nessa concepção os conhecimentos
prévios do leitor não são levados em consideração e o foco tem como centro o
escritor. O último foco tem como base a interação, porque o produtor ao escrever
mobiliza estratégias diferenciadas reconhecendo, assim, que o leitor poderá ter
conhecimentos acerca do assunto abordado no texto.
Portanto, sempre que escrevemos temos objetivos que precisam ser atingidos.
Por isso a necessidade de compreender que nossos textos só serão interpretados se
reconhecermos a escrita como uma forma de interação. Como ressaltam Koch e
Elias (2009, p. 35), “o sentido da escrita, portanto, é produto dessa interação, não
resultado apenas do uso do código, nem tão somente das intenções do escritor.” A
leitura também só tem sentido se houver interação autor-texto-leitor seguindo,
desse forma, a proposta sociointeracionista em que o leitor deixa de ser passivo e
participa ativamente na produção de sentido dos textos. De modo a considerar que:
A leitura é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. (KOCH; ELIAS, 2006, p.11)
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Quando falamos em ambiente digital, a leitura torna-se mais complexa e
exige do leitor de telas habilidades para lidar com várias recursos semióticos
presentes nos textos, que são próprias do meio em que eles circulam. Pode-se dizer
que o acesso às tecnologias faz com que as formas de interação por meio da leitura
e da escrita aumente cada mais, visto que para transitar no espaço virtual faz-se
necessário ler e escrever constantemente.
Letramento como prática social
Nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido feitas acerca do letramento. Em
sua concepção, esse termo foi associado à habilidade que uma pessoa possuía de
compreender práticas sociais de leitura e escrita. Hoje ele é bem mais abrangente
por não limitar-se somente a essas práticas. Para Kleiman (2007, p.4) “os estudos
do letramento, por outro lado, partem de uma concepção de leitura e de escrita
como práticas discursivas, com múltiplas funções e inseparáveis dos contextos em
que se desenvolvem.” Essas novas concepções relacionam o letramento aos
contextos sociais e históricos, sendo estes uma realidade complexa que envolve
relações de poder. De acordo com essa perspectiva, não existe apenas um tipo de
letramento, mas múltiplos letramentos desde aqueles que são utilizados pelas
pessoas no cotidiano até os mais complexos, que estão no ambiente acadêmico.
Os sujeitos que têm a habilidade de mover-se de um letramento a outro são
mais valorizados em nossa sociedade, especialmente, quando são capazes de
interagir nos ambientes digitais de maneira eficiente, os quais oferecem muitas
informações apresentadas através de textos diversificados.
Com o início dos Novos Estudos do Letramento realizados, no Brasil, por
diversos pesquisadores como Kleiman (2007), Soares (2002), Ribeiro (2009), entre
outros, a concepção de que letramento refere-se à alfabetização sofreu
modificações e, atualmente, ele vai além da habilidade de ler e escrever, pois o
letramento está diretamente relacionado com o uso da escrita que os indivíduos e
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as comunidades fazem em diversas situações. Desse modo, o letramento é visto
como um processo que está em constante aperfeiçoamento e um sujeito letrado é
aquele que possui a capacidade de interagir em contextos diversificados.
Nesse processo como afirma Kleiman (2007, p.2), “estão todos os que utilizam
a língua escrita em seu cotidiano.” Já que na maioria dos ambientes precisamos da
escrita para interagir nos ambientes que frequentamos. Para a autora supracitada,
as atividades que envolvem ou pressupõem o uso da escrita configuram-se em
eventos de letramento, que para a pesquisadora:
Não se diferencia de outras situações da vida social: envolve uma atividade coletiva, com vários participantes que têm diferentes saberes e os mobilizam (em geral cooperativamente) segundo interesses, intenções e objetivos individuais e metas comuns. (KLEIMAN, 2007, p. 5)
Dessa forma, pode-se dizer que os grupos possuem letramentos, que são
influenciados pelos aspectos inerentes aos contextos em que estão inseridos.
Podemos compreender o letramento como algo coletivo e não apenas individual,
considerando assim, que as pessoas, além de aprenderem de forma individual,
aprendem através do contexto, dos significados, bem como dos usos que
estabelecem e por meio das relações que mantêm uns com os outros.
As diferentes estratégias de letramento tornaram-se essenciais na vida de
todos os seres humanos. Estes geralmente o adquirem por meio das práticas sociais
que realizam individualmente ou em grupos nos quais estão inseridos.
Dentre os diversos tipos de letramento, destacaremos neste trabalho o
letramento digital, que segundo Ribeiro (2009), é uma estratégia correspondente a
uma parte do letramento que se refere às habilidades que são necessárias e
desejáveis aos indivíduos que realizam atividades no ambiente virtual, sejam elas
individuais e coletivas, exigindo do usuários habilidades específicas. Assim,
[...] pode-se concluir que a tela como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo
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letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de leitura e escrita na tela. (SOARES, 2002, p. 152)
Como se percebe, as pessoas capazes de realizar ações e manter uma
comunicação eficiente em ambientes digitais, seja no computador ou em outras
tecnologias semelhantes possuem o letramento digital. Ribeiro (2009) ainda
assegura que uma pessoa alcança um certo grau de letramento quando aprende
diferentes ações que vão desde gestos e o uso de periféricos das máquinas, até a
leitura dos gêneros mais sofisticados que são publicados em ambientes on-line e
expostos pelos monitores. A autora também corrobora que no ambiente digital
existe uma distância curta entre a leitura e a escrita e que o letramento digital
está dentro de um continuum amplo e sem linearidade, porém possuidor de uma
rede de possibilidades, uma vez que muitas ações são realizadas no universo
virtual.
As redes sociais mediadas pelo Facebook
As redes sociais em ambiente virtual agrupam, cada vez mais, um grande
número de pessoas que são conectadas com o objetivo de manter relacionamentos
sociais como a amizade, trabalho ou compartilhamentos de informações. Todas
essas ações contribuem para a construção da estrutura social. Atualmente muitos
recursos têm sido utilizados para facilitar a interação entre as pessoas, entre eles
destaca-se:
O Facebook, um site de relacionamento que inicialmente restringiu o acesso a estudantes universitários regulamente matriculados, é descrito pela representante do site, Chris Hughes, como um veículo que permite que os estudantes se apresentem de uma nova maneira em um novo espaço [...] enfatizando diferentes aspectos de personalidade. (MILLER, 2012, p. 93)
Nos últimos anos o número de usuários do site acima referido tem aumentado
no Brasil e no mundo. Por esta razão, faz-se necessário observar, como também
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estudar as práticas discursivas e as diferentes formas de interações que são
realizadas por meio dele.
Um número significativo de estudos estão sendo feitos acerca deste site,
porém ainda existe muito a ser pesquisado nele, já que, atualmente, ele vem se
destacando por fazer parte do contexto social de muitos brasileiros, incluindo
pessoas cultas como professores e estudantes universitários, entre outras, mesmo
tendo surgido para uso particular de estudantes da Universidade de Harvard.
A representante do Facebook Chris Hughes, ao ser entrevistada por um
jornalista da New Yorker, afirmou que o site acima referido se tornou rapidamente
um ambiente de autopromoção, um lugar para se vangloriar e se mostrar e
competir pela atenção dos outros tanto quanto por sua companhia. (MILLER, 2012).
Descrevendo as práticas discursivas de estudantes universitários no
Durante a observação feita no Feed de notícias, percebemos que a maioria
dos estudantes escrevem textos em linguagem formal, enquanto que um número
bem menor utiliza o internetês, uma variedade muito usada na internet,
sobretudo, pelos jovens quando estão conversando com seus amigos através do
bate papo. Observa-se que alguns graduandos conservam a variedade padrão ao
escreverem textos em seus murais, como este estudante que escreveu um texto
refletindo sobre um dos assuntos mais temidos por muitas pessoas:
Fonte: www.facebook.com
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Por meio de questionamentos ele ajuda seus colegas a refletirem como estão
vivendo e se desejam continuar do mesmo jeito. Foi possível notar que quando os
estudantes desejavam abordar assuntos que eles consideravam importantes,
geralmente, a variedade utilizada era a padrão. A variedade não padrão, nesse
caso, o internetês, é mais utilizada pelos estudantes quando comentam as
postagens dos seus amigos, ou quando escrevem no mural algo sobre a sua vida
pessoal. Vale ressaltar que este é apenas um breve comentário sobre as variedades
que os universitários recorrem ao produzirem seus textos no Facebook. Isso revela
que a linguagem utilizada na internet não está pautada, apenas no uso do
internetês, como algumas pessoas afirmam.
Por meio da escrita e compartilhamento de textos visuais e verbais, os
universitários revelam o que estão vivenciando no momento em que estão
conectados, à medida que demonstram o posicionamento em relação aos assuntos
polêmicos que circulam na sociedade. Os graduandos escrevem diariamente,
textos com o objetivo de fazer anúncios, divulgar eventos, parabenizar os seus
amigos, entre outros.
As postagens feitas pelos estudantes, geralmente, são as que eles consideram
mais significativas com propósitos de aconselhar, provocar humor, denunciar
injustiças, refletir sobre valores, chamar atenção ou fazer uma crítica a algum
acontecimento social. As piadas, nesse ambiente, como também outros gêneros
possuem uma nova forma, ou seja, são compostos por imagem e texto.
Como se percebe, as publicações que são compartilhadas frequentemente no
Feed de notícias possuem propósitos diversificados e alguns estudantes escrevem
um texto ou um comentário relacionado a esses gêneros. Essa prática é uma forma
de fundamentar as suas intenções e relacioná-las aos propósitos dos gêneros
compartilhados. A palavra “curtir” nessa página equivale a “gostei” ou “concordo”,
muitas vezes dependendo do sentido que o leitor deseja atribuir. Após os
compartilhamentos, os amigos dos usuários acima referidos utilizam essa palavra
para mostrar que leram e observaram e, em muitos casos, que concordam com os
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propósitos das postagens compartilhadas. Alguns gostam de escrever tudo que
fizeram durante o dia. Assim, por meio de suas publicações. Segundo as palavras de
uma das estudantes entrevistadas:
Através dessas observações, notamos que o Facebook é um dos lugares
favoritos para os graduandos, pois neste ambiente eles conseguem expressar seus
sentimentos com liberdade. Percebemos isso nas palavras de um dos estudantes ao
responder que:
As publicações são lidas pelos seus amigos que, geralmente, comentam ou
apenas clicam na opção curtir. Desse modo, as atividades realizadas constituem-se
em formas de interação com os amigos, grupos, familiares, entre outros. Ressalta-
se também, que alguns estudantes compartilham as publicações feitas por seus
amigos. Isso significa que eles se identificaram. Sendo assim, a identificação torna-
se um dos critérios para que os estudantes compartilhem as postagens, já que elas,
de certa forma, refletem sentimentos semelhantes aos seus. Além disso, conforme
as palavras de uma estudante, a:
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Diversos acontecimentos são compartilhados pelos universitários, seja por
meio das publicações, ou das postagens. Isto revela que eles estão atentos a
realidade social à medida que denunciam ou criticam os acontecimentos de maior
repercussão na mídia e na sociedade.
Dando continuidade à discussão sobre as práticas discursivas dos estudantes
universitários, usuários do Facebook, perguntamos quais as principais motivações
para os compartilhamentos, e se os mesmos estabelecem alguma relação com o
estado emocional vivenciado por eles em cada período de suas vidas. Todos
afirmaram que, na maioria das vezes, as publicações refletem os seus sentimentos,
pois na opinião de uma estudante:
Outro aspecto relevante nas práticas discursivas dos estudantes no Facebook são as
informações compartilhadas ou publicadas no mural, que nem sempre se referem à
vida pessoal dos graduandos. Na maioria das vezes, essas informações tratam dos
acontecimentos que provocam discussões, em que os usuários posicionam-se contra
ou a favor de um determinado assunto. Conforme observa-se neste comentário
feito por um estudante:
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Fonte: www.facebook.com
Ao utilizar as letras maiúsculas, o estudante faz uma crítica severa, além
demonstrar de forma bem explícita a sua posição. Como é possível notar, o
referido site tem se tornado um espaço onde as pessoas podem expressar seus
pontos de vista de forma espontânea.
O questionário aplicado aos estudantes refletiu de forma bastante acentuada
tudo que foi possível observar na página Feed de notícias. Todos afirmaram que
seus compartilhamentos e publicações mantinham uma intíma relação com os
sentimentos vivenciados por eles no momento em que estavam conectados. Dos
dez, apenas dois deles alegaram não publicar textos falando sobre sua vida pessoal.
Considerações finais Partindo do pressuposto de que o letramento também se dá por meio de
estratégias que envolvem a leitura, a escrita e outros recursos semióticos. Este
estudo buscou analisar e descrever as práticas discursivas desenvolvidas por
estudantes universitários no Feed de notícias, página do Facebook. Observa-se que
as práticas de leitura/escrita dos estudantes podem desenvolver o senso crítico
diante das diversas realidades sociais.
Percebemos que as interações virtuais, mesmo sendo perigosas na opinião de
algumas pessoas, podem contribuir para a reflexão sobre o posicionamento que
devemos ter em relação aos problemas sociais, como é o caso dos estudantes
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universitários que publicam textos com objetivos diversificados, revelando assim,
sentimentos como indignação, tristeza, alegria, entre outros. Nota-se, então, a
importância de refletir sobre as práticas discursivas, já que elas podem contribuir
para que os estudantes possam desenvolver o letramento digital.
De acordo com essas reflexões, percebe-se a importância de repensar as
impressões que temos com relação ao uso da linguagem no ambiente virtual, pois
elas são reduzidas muitas vezes a considerações alarmistas, especialmente, quando
se referem às práticas interacionais realizadas por adolescentes e jovens, as quais
são mediadas pelo computador (BEZERRA, 2011), porque sabemos que o
desenvolvimento de práticas discursivas nesse ambiente pode auxiliar a
aprendizagem. Por isso, é importante relacionar essas práticas às estratégias de
letramento, ou até mesmo utilizá-la no ambiente escolar.
Percebe-se que a web tem como componente central o texto seja ele verbal
ou visual, este compõe a interface da tela do computador. Por essa razão, os
usuários das mídias digitais estão sempre em contato com textos que precisam ser
lidos, bem como compreendidos para que a interação ocorra de forma eficaz. Para
isso, faz-se necessário que os usuários de sites, como o Facebook, desenvolvam
práticas que exigem deles o letramento digital.
A partir do que foi exposto, é possível afirmar que as práticas discursivas
desenvolvidas pelos graduandos no Facebook podem ser relacionadas às estratégias
de letramento, uma vez que elas envolvem tanto a leitura quanto a escrita, desde
a mais formal até a informal, porque até neste espaço os estudantes conseguem
diferenciar, em algumas ocasiões, o que é adequado e o que não é adequado no
que se refere ao uso de variedades na escrita. No entanto, as observações aqui
apresentadas são preliminares, visto que o Facebook possui muitas formas de
interação que podem ser estudadas de modo mais detalhado.
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