Sustentabilidade em transporte e logísticaRelatório de Inteligência Analítico - abril 2013
Sustentabilidade
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A logística no transporte está em expansão nas
empresas e é considerada uma tendência natural
aos negócios. Iniciativas para diminuir os gargalos
do setor estão sendo tomadas pelo governo federal
para superar problemas estruturais do país.
A cadeia de fornecedores desse setor está
sendo reavaliada pelas empresas e orientada para
a realização de atividades que incluam o conceito
de sustentabilidade. Nessa linha, a exigência de
adequação passa por vários caminhos, entre eles, o
de conservação dos recursos naturais e o de melhor
uso de energia. Em muitos casos, os fornecedores
em logística são formados por pequenos negócios.
Esse relatório destaca que quem atua no setor de
logística pode optar por adotar uma série de ações
sustentáveis, que vão desde a eficiência energética
até iniciativas que levem em conta os 3 Rs (Reduzir,
Reutilizar e Reciclar). Assumir a responsabilidade de
aderir às práticas de sustentabilidade socioambiental
é uma atitude que facilita a inserção do pequeno
negócio no novo ciclo de desenvolvimento do país.
Resumo Executivo
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Sumário
Sustentabilidade em transporte e logística
Restrições
Conclusão
Fontes
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Logística
SUSTENTABILIDADE EM TRANSPORTE E LO-
GÍSTICA
Logística é um termo que nasceu na Antiguidade,
a partir da necessidade de assegurar uma organi-
zação eficiente da movimentação de tropas, arma-
mentos e demais recursos materiais para batalhas
militares em ambientes quase sempre hostis e de
difícil acesso (TOSO JÚNIOR, [20-?]). A lógica apli-
cada ao deslocamento das tropas como fundamento
da estratégia de sobrevivência nas campanhas mi-
litares é a mãe da logística moderna (DIAS, 2005).
A Logística tem a função de assegurar um ade-
quado suprimento de recursos e matérias-primas
de modo a garantir o melhor desempenho opera-
cional em ambientes empresariais. Também é parte
do fluxo logístico a relação com clientes, de forma a
garantir um correto movimento de entregas, dentro
de prazos e condições pré-estabelecidas.
O Transporte Rodoviário de Cargas é uma parte
essencial dos fluxos de logística, uma vez que parte
importante das matérias-primas e recursos utiliza-
dos são transportados por caminhões, vans e até
motocicletas.
A movimentação de cargas necessita de plane-
jamento logístico para garantir eficiência no cálcu-
lo de rotas, na definição de meios de transporte e
na ocupação adequada desses meios. O Transpor-
te Rodoviário e a Logística são ramos de negócios
complementares e, muitas vezes, realizados dentro
de uma mesma empresa. Para uma adequada mo-
vimentação de cargas, tornando-se necessário rea-
lizar o planejamento logístico.
Empresas cobram de seus fornecedores uma
operação mais amigável sob o ponto de vista da
sustentabilidade, o que significa menor emissão de
gases (dióxido de carbono, que vem da queima de
combustíveis derivados de petróleo), redução na
geração de resíduos como embalagens e paletes,
redução no uso de água e cálculo de rotas que evi-
tem proximidade a reservas ambientais ou bairros
estritamente residenciais, além de evitar proximida-
de de escolas e outras áreas com grande fluxo de
crianças, entre outras providências.
As políticas governamentais para estimular a
competitividade da economia brasileira buscam re-
duzir a dependência do modal rodoviário, ao investir
em infraestrutura ferroviária e hidroviária para as
movimentações de longa distância. Esse direciona-
mento deve ter como resultado maior competição
entre as transportadoras rodoviárias de pequeno e
médio porte, que passarão a atuar ainda mais con-
centradamente nos meios urbanos, enfrentando
restrições crescentes para carregamento, movi-
mentação e descarga dos caminhões e utilitários.
Essas restrições visam melhorar a mobilidade urba-
na, aumentando a eficiência econômica sem preju-
dicar a qualidade de vida.
Desta forma, a Logística é um instrumento im-
portante no desenvolvimento para uma economia
globalizada, em que a competição se dá em merca-
do aberto. Assim, como na Antiguidade, o transpor-
te de bens e pessoas constitui atividade básica da
logística, que se transformou numa sofisticada área
de estudos. Uma dessas atividades procura agre-
gar conhecimento e produzir tecnologias para fazer
frente ao fenômeno da intensa urbanização que
ocorre em todo o mundo: é a logística do transporte
urbano de cargas.
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Transporte de cargas
Logística e TRCTransporte Rodoviário de Cargas e Operação Lo-
gística são atividades econômicas complementares
que evoluem para uma fusão livremente estimulada
pelo mercado.
São três as atividades básicas do Operador Lo-
gístico: controle de estoque, armazenagem e gestão
do transporte (MENDES, 2003). Para isso, o Operador
Logístico pode ter infraestrutura própria de armaze-
namento e distribuição de mercadorias, ou podem
atuar apenas na função básica de gerenciadores,
com capacidade de planejamento e coordenação,
e terceirizar as questões operacionais. Tradicional-
mente, o Transportador se encarrega exclusivamen-
te do deslocamento de cargas do ponto de origem
ao ponto de destino.
Com o aperfeiçoamento do processo just-in-time
(no tempo certo, na hora certa), que visa reduzir
o período (e o custo) de estocagem de matérias-
-primas e produtos acabados em qualquer fase da
vida útil da mercadoria, as atividades de logística e
transporte de carga convergem, facilitando a con-
tratação dos serviços pelos clientes, principalmente
a indústria, a agropecuária e os comércios atacadis-
ta e varejista. De maneira bem simplificada, pode-se
dizer que (MENDES, 2003):
O Operador Logístico pode oferecer serviços de
transporte (com frota própria ou terceirizada), como
coleta e distribuição de mercadorias; ou
O Transportador de Carga pode incluir no serviço
que oferece a gestão das informações sobre o fluxo
das mercadorias e a etapa de estocagem (em arma-
zém próprio ou de terceiros contratados).
Nos dois casos, existe a busca por mais eficiên-
cia na gestão de múltiplas atividades que estimulam
a tendência entre o Operador Logístico e o Trans-
portador de Carga. Contribui para essa tendência
o desenvolvimento tecnológico de instrumentos de
análise eficazes para proporcionar redução de cus-
tos e ampliar os ganhos de qualidade nas operações
de Transporte e Logística.
Taboada (2006) define para a logística do trans-
porte de cargas outros conceitos que participam da
atividade, reconhecendo-a como “o processo de co-
ordenar o fluxo, material e de informações, do ponto
fornecedor ao ponto de consumo, de forma eficiente
e efetiva, em correspondência às necessidades dos
clientes”. A dimensão econômica fica evidente no
uso das expressões “eficiente”, “consumo” e “clien-
tes”. Mas, a identificação dos impactos que a ativi-
dade causa no meio ambiente tem determinado a
revisão detalhada da logística para incluir também o
conceito de sustentabilidade.
Ambiente ComplexoAs empresas multinacionais e nacionais respon-
dem à demanda crescente por sustentabilidade ins-
tituindo políticas de responsabilidade socioambiental
verticalizadas, que induzem a adoção de procedi-
mentos sustentáveis também por fornecedores de
materiais e serviços. A pesquisa “Reflexões sobre o
atual estágio da sustentabilidade das empresas bra-
sileiras”, recém-publicada pela Fundação Dom Ca-
bral, afirma que “90% das empresas acreditam que
a sustentabilidade deve ser uma prioridade empre-
sarial” (LAURIANO; CARVALHAES; OLIVEIRA, 2013).
Na pesquisa, foram entrevistados 172 executivos de
companhias de todo o país, sendo 31% de pequenos
negócios. O estudo também mostra que “61% das
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empresas afirmam discutir sobre sustentabilidade
fora de suas organizações, com stakeholders como
fornecedores, consumidores, reguladores, ONGs
etc.” (LAURIANO; CARVALHAES; OLIVEIRA, 2013).
A exigência de alinhamento dos fornecedores com
uma agenda de conservação dos recursos naturais.
O status de prioridade à sustentabilidade e a discus-
são do tema com fornecedores também ocorrem si-
multaneamente a uma mudança de comportamento
que valoriza esforços de transformação em toda a
cadeia de valor das empresas, como mostra pes-
quisa da Fundação Dom Cabral, intitulada “Gestão
da Cadeia de Suprimentos como Diferencial Com-
petitivo”. Segundo o estudo, “o que vem ocorrendo
é uma sistemática substituição de esforços isolados
de empresas por uma visão inovadora, segundo a
qual o sucesso vem da capacidade de as organiza-
ções fazerem uma gestão eficaz de relacionamento
entre parceiros” (SOUZA FILHO et al., 2012).
Para o setor de transporte rodoviário de cargas,
duas conclusões da pesquisa “Reflexões sobre o
atual estágio da sustentabilidade das empresas bra-
sileiras” apontam uma tendência que merece uma
análise cuidadosa:
• “a maior parte da amostra (55% das em-
presas) concentra 80% de suas aquisições em
30 fornecedores ou menos, sendo que 14% delas
possuem compras concentradas em menos de dez
fornecedores” (LAURIANO; CARVALHAES; OLIVEIRA,
2013);
• “a frequência de entrega pelos fornecedo-
res das duas principais categorias de itens (de com-
pras das empresas) é de pelo menos uma vez por
semana em 65% das situações, sendo que as entre-
gas diárias dos fornecedores ocorrem em 22% dos
casos” (LAURIANO; CARVALHAES; OLIVEIRA, 2013).
Esses dados demonstram que as grandes em-
presas são usuárias intensivas de serviços de
transportes e contratam pequenos negócios nessa
área (já que 65% recebem os dois principais itens
de compras pelos menos uma vez por semana), ao
mesmo tempo em que concentram as contratações
de fornecedores. Sendo a sustentabilidade uma
prioridade para as empresas, trata-se de um tema
que influencia a contratação de fornecedores num
regime de “gestão eficaz de relacionamento entre
parceiros”.
Transporte e Aquecimento GlobalA mudança de visão sobre o desenvolvimento
econômico, para restaurar o equilíbrio das relações
do homem com o meio ambiente, possui importan-
tes consequências para quem é empreendedor no
setor de transporte rodoviário de cargas. Uma vez
que toda atividade econômica implica o desloca-
mento de materiais, sejam recursos naturais em
estado bruto - documentos, embalagens, bebidas,
alimentos ou produtos industrializados -, evidencia-
-se que o transporte de cargas é um elo importante
para a economia em todas as etapas. Por isso, pro-
voca impactos sobre o meio ambiente, tanto no que
se refere ao consumo e descarte dos insumos uti-
lizados para a prestação do serviço, quanto no pró-
prio uso das áreas públicas e privadas que estão na
origem, no itinerário e no destino das mercadorias
transportadas.
A questão da eficiência no transporte tornou-
-se complexa porque é uma atividade que exige o
consumo intensivo de derivados do petróleo – parti-
Logística
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cularmente o diesel e a gasolina. São combustíveis
que produzem gases de efeito-estufa (GEE), causa-
dores de poluição e do aquecimento global, sendo o
dióxido de carbono (CO²) o principal deles. Como se
vê no Gráfico 1, produzido pela Empresa de Pesqui-
sa Energética para o Balanço Energético Nacional
2012, o diesel é o combustível mais consumido pelo
setor no Brasil, incluindo transporte de passageiros
(BRASIL, 2012).
Eficiência EnergéticaA influência das emissões alterou o conceito de
eficiência energética e esse conceito é fundamen-
tal na avaliação sobre os serviços de transporte,
tanto do ponto de vista da competitividade econô-
mica quanto da sustentabilidade socioambiental. O
Plano Nacional sobre Mudança do Clima e o Plano
Nacional de Logística e Transportes (PNLT) (BRASIL,
2008; 2007) “enfatizam a necessidade de reduzir o
volume de frete transportado por rodovias, substi-
tuindo esse modal por um modo de transporte mais
eficiente do ponto de vista de energia” (FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS, 2011). Ações do governo federal
Gráfico 1: Consumo de Energia nos Transportes. Fonte: Brasil, 2012.
Transporte de cargas
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buscam cumprir essa diretriz, a exemplo dos inves-
timentos em ferrovias e hidrovias, e principalmente
ao dar incentivos para a produção de etanol e bio-
diesel, visando substituir gradativamente o diesel de
petróleo para reduzir as emissões de GEE.
O PNLT prevê a diminuição da participação do
modal rodoviário na matriz brasileira de transporte
de cargas dos 58% de 2010 para 33% até 2025,
como se observa no Gráfico 2. O investimento pla-
nejado na estruturação dos outros modais significa,
porém, que os caminhões e utilitários vão deixar de
predominar na prestação desse serviço, especial-
mente no meio urbano, onde o transporte de cargas
não sofre a concorrência direta dos outros modais.
No entanto, permanece a necessidade de reduzir
o consumo dos derivados de petróleo e estimular
entre os empreendedores o aumento da eficiência
energética, ou seja, deve-se perseguir a meta de
gerar menos emissões de GEE para transportar mais
carga (FRANÇA; RUBIN, 2005).
Biodiesel, etanol e GNVVale a pena ter em conta também os progressos
Gráfico 2: Matriz de Transporte de Carga Atual e Futura no Brasil. Fonte: Brasil (2007b, p. 37)
Logística
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do Programa do Biodiesel, liderado pela Petrobras. É
um grande programa empresarial e tecnológico para
substituir o combustível derivado de petróleo. O bio-
diesel já é adicionado ao derivado de petróleo numa
proporção de 5% (diesel B-5), da mesma forma que
o álcool anidro é misturado à gasolina. Além disso,
estimuladas pelos governos federal e estaduais as
montadoras estão investindo em modelos híbridos
de caminhões e utilitários – motores movidos a eta-
nol e biodiesel e também GNV (gás natural veicular).
Ampliam-se, assim, as opções para os transporta-
dores de carga participarem ativamente do esforço
para redução das emissões de gases-estufa (AGÊN-
CIA SENADO, [20-?]).
Desde a década passada, as montadoras desen-
volveram modelos de veículos mais compactos para
atender às restrições crescentes de circulação nas
cidades (FRANÇA; RUBIN, 2005). Esses modelos são
genericamente chamados Veículos Leves de Car-
gas (VLC, até 6m30 x 2m20) e Veículos Urbanos de
Cargas (VUC, 5m50 x 2m20) como, por exemplo, o
modelo/ano 2005 Acello 715C da Mercedes-Benz.
Procedimentos úteisEm operações simples ou complexas, existem
algumas maneiras de aumentar a eficiência ener-
gética, com a redução do consumo de combustível
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES,
2007; VOLKSWAGEN, 2012):
a) Manutenção preventiva e revisão periódica:
um programa de manutenção organizado, cumprido
nos prazos indicados pelas montadoras, tem cus-
to previsível e garante o funcionamento do veículo
bem regulado com a máxima eficiência, o que evita
o desperdício de combustível e diminui a emissão
de poluentes. Dispensando a manutenção corretiva,
que torna-se mais cara porque retira o veículo de
circulação de maneira imprevisível.
b) Calibragem dos pneus: na medida do possí-
vel, viagens com significativas diferenças de peso
transportado devem ter a calibragem adequada dos
pneus, de modo que o veículo tenha sempre o me-
lhor desempenho na estrada ou na cidade.
c) Dimensionamento correto da frota: é mui-
to comum encontrar o transportador que primeiro
compra o caminhão, depois procura encaixá-lo no
empreendimento. Uma visão objetiva do negócio é
Imagem 1: Modelos compactos. Fonte: MERCEDES BENZ ([2013]).
Transporte de cargas
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fundamental para garantir uma boa relação custo/
benefício na hora de comprar ou trocar algum veícu-
lo. Antes de decidir, é preciso ter clareza sobre o que
demanda esse investimento e qual a melhor forma
de torná-lo um bem rentável para o empreendimen-
to. Por exemplo:
• a que operação se destina o caminhão ou
utilitário? Que tipo de carga vai transportar?
• o grau de aproximação/fidelidade do cliente
que poderá ser atendido com a nova aquisição vale
o investimento?
• o motorista está habilitado para conduzir o
modelo escolhido?
•que restrições de tamanho/peso existem ou
podem existir na área em que o novo veículo vai cir-
cular com mais frequência?
d) Roteirização: Existem softwares sofisticados
para definir roteiros de coleta e entrega, além de ar-
mazenar outras informações referentes ao transpor-
te rodoviário de carga. Mas, são normalmente caros
e exigem equipamentos igualmente sofisticados
para integrá-los. Pequenos negócios podem adotar
soluções mais simples. Os smartphones permitem,
por exemplo, acessar on-line o GoogleMaps, que
é gratuito e permite visualizar roteiros com até 25
pontos, incluindo a programação de horários previs-
tos para picos de trânsito, localização de escolas no
trajeto etc.
Outros aplicativos, igualmente gratuitos e de fácil
acesso, constituem comunidades de usuários nas
cidades para traçar roteiros que desviam de conges-
tionamentos obras e outros eventos que provocam
estrangulamento do trânsito, substituindo aparelhos
de GPS com vantagens notáveis. Um deles é o Waze
(http://www.waze.com/).
Soluções assim, mesmo quando adotadas iso-
ladamente, produzem resultados expressivos na
direção desejada, garantindo economia e uma re-
lação saudável com clientes, fornecedores e o meio
ambiente.
A sustentabilidade socioambiental de um empre-
endimento de transporte rodoviário de cargas não
se limita, porém, à redução do consumo de diesel
ou gasolina. Como em qualquer outra atividade, o
transportador pode assumir diariamente compro-
missos simples para diminuir outros impactos am-
bientais.
Figura 1: Telas do Waze. Fonte: Waze (2012).
Logística
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Limitação dos Recursos Naturais Água, madeira e minérios são matérias-primas
básicas para se produzir qualquer coisa. Esses três
tipos de recursos naturais são limitados na nature-
za, que aos poucos vai perdendo a capacidade de
repor seus depósitos de materiais, porque é muito
maior a velocidade da extração para beneficiamen-
to e consumo pela superpopulação humana. Essa
situação é responsabilidade comum a todos e se
intensificou nos últimos 30 anos. Para que não fal-
te água de qualidade, nem florestas para manter o
equilíbrio da atmosfera, nem minérios para produzir
quase tudo que consumimos, é necessário que cada
indivíduo (família, empresa e comunidade) tenha
mais atenção à qualidade dos processos cotidia-
nos que envolvem o uso direto de recursos naturais
(NOGUEIRA-NETO, 2010). Uma das fórmulas mais
conhecidas para fazer a sua parte pela sustentabili-
dade socioambiental é a identificada pela sigla 3 Rs,
que se refere às práticas de Reduzir (o consumo),
Reutilizar (materiais) e Reciclar (resíduos). Veja al-
guns exemplos de aplicação dessas práticas numa
empresa de transporte rodoviário de cargas:
1. Reduzir o consumo
Água em volumes consideráveis é usada na la-
vagem de caminhões, de pátios, e na rega de jar-
dins. Para essas finalidades pode-se reaproveitar a
água de chuva, instalando sistemas eficientes para
captação por meio de calhas nos telhados ou de
tanques e cisternas (AKATU, [20-?]).
Papel: O desenvolvimento da correspondência
eletrônica dispensou em sua maioria os memoran-
dos, cartas e outras formalidades escritas. Mais re-
centemente, a certificação digital permitiu a oficiali-
zação de contratos e demais registros formais sem
a necessidade de assinatura física dos contratantes
(AKATU, [20-?]).
Energia elétrica: Boa parte das empresas tem
chuveiros para uso dos colaboradores. O chuveiro
é um dos utensílios com o maior consumo relativo
de energia elétrica (REVISTA DO IDEC, 2013). Essa
energia pode ser gerada internamente na empresa,
com a instalação de um sistema de aquecimento de
água baseado em energia solar.
2. Reutilizar
Muitos materiais de consumo que descarta-
mos podem ser reutilizados em novas funções. O
caso mais clássico é o das garrafas PET, que são
aplicadas num grande número de novos produtos
– um deles é um sistema caseiro de aquecimento
de água a partir da luz solar (AKATU, [20-?]). Veja
outros exemplos:
Paletes servem para movimentação de materiais
nas instalações das empresas; muitas vezes são
descartados, mas podem ser reaproveitados na pró-
pria operação (AKATU, [20-?]).
Papelão é intensamente usado para embalagem
e proteção no transporte de mercadorias. Material
de alto consumo sem maiores desgastes permite o
reaproveitamento com economia de recursos (AKA-
TU, [20-?]).
3. Reciclar usados, transformando-os em no-
vos produtos ou matérias-primas
O ciclo de vida de muitos produtos não termina
necessariamente ao final do processo de uso. A ma-
téria-prima pode ser recuperada e reutilizada para
outros fins, reduzindo o consumo dos recursos na-
turais e da energia necessária para sua extração e
beneficiamento. No setor de transporte, alguns itens
Transporte de cargas
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importantes são recicláveis:
Óleos lubrificantes são uma fonte de poluição
das águas e do solo quando descartados sem os
cuidados necessários. Para evitar essa forma de
agressão ao meio ambiente, é necessário solicitar a
coleta do material por uma empresa especializada,
em que o óleo é novamente refinado. Esse é o único
destino legal para os lubrificantes e aditivos, segun-
do o Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL,
2005). O óleo reciclado pode ser usado para pro-
dução de novos materiais, como a base as fáltica,
num processo que contribui também para reduzir
a importação do petróleo leve que é matéria-prima
dos lubrificantes.
Pneus de caminhões podem ser recondicionados
mais de uma vez, a depender das condições de uso.
A matéria-prima comporta várias formas de reapro-
veitamento, como combustível alternativo em fornos
da indústria de cimento, fabricação de calçados,
dutos, móveis, tapetes, pisos e asfalto-borracha.
Para evitar a poluição e o desperdício, a Associação
Brasileira da Indústria de Pneumáticos instituiu em
1999 o Programa Nacional de Coleta e Destinação
Figura 2: Processo de reciclagem dos óleos lubrificante. Fonte: Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais (2013).
Logística
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de Pneus Inservíveis. Mais de 400 milhões de pneus
já foram coletados e reciclados pelo programa. Sai-
ba mais e confira os pontos de coleta em www.reci-
clanip.com.br (RECICLANIP, [20-?]).
Autopeças também podem ser encaminhadas às
recicladoras para reaproveitamento das matérias-
-primas, como plásticos e metais, ou a restauração
para um novo ciclo de vida. A reciclagem de veículos
e autopeças ainda engatinha no Brasil, mas vai ga-
nhar impulso com a aplicação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), que prevê a es-
truturação de um sistema de logística reversa para
“coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo
ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação
final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010). É
mais uma forma de contribuir para a redução da ex-
tração de recursos naturais do meio ambiente.
RESTRIÇÕES
A sustentabilidade econômica no transporte ro-
doviário de cargas está intimamente ligada à forma
como a empresa se relaciona com a sociedade, so-
bretudo no respeito a legislações nacional, estadual
e local que regem a atividade.
Em vigor desde 2007, a Política Nacional de Mo-
bilidade Urbana prevê que os Planos Diretores de
Transporte e Mobilidade devem definir as normas
a serem seguidas pelos prestadores de serviços de
transporte de cargas urbanas e suas operações as-
sociadas (carga e descarga, estacionamento e ro-
tas), de maneira a reduzir os impactos ambientais
inerentes a essas atividades, como vibrações, ruído,
contaminação do ar, contaminação do solo, resíduos
sólidos e líquidos, acidentes com cargas perigosas
e outros (BRASIL, 2007a).
As restrições de acesso, de proibição e rodízio de
veículos, sinalização vertical e horizontal devem ser
reconhecidas e respeitadas pelos motoristas e em-
presas de transporte. Essas recomendações devem
constar nos treinamentos que direcionam para uma
condução correta ao volante. As pesadas multas e
penalizações decorrentes das infrações são uma
fonte de custos que podem determinar o insuces-
so do empreendimento. Por isso, o planejamento da
viagem e da entrega é tão importante para o negó-
cio.
“A empresa não pode mais impor prazos impos-
síveis de cumprir em condições normais”, alerta
Adalberto Panzan, diretor da ADS Micrologística e
da Associação Brasileira de Logística (Abralog), com
mais de 30 anos de atuação no setor1. Segundo ele,
essa prática muitas vezes transferia para o moto-
rista riscos operacionais que custavam caro para a
própria transportadora e o cliente.
Agora, os trabalhadores no transporte estão am-
parados também por um dispositivo legal que regu-
lamenta os intervalos de descanso na estrada, para
evitar jornadas exaustivas e perigosas.
No atual cenário de crescente competição e
maiores restrições legais, Adalberto Panzan, sugere
que as “pequenas e médias transportadoras devem
se especializar, identificar nichos de negócios, de-
senvolver tecnologias próprias para ter sustentabili-
dade econômica e conquistar espaço”2. Há mais de
uma década o Panzan colhe os benefícios do desen-
1 - Adalberto Panzan, diretor da ADS Micrologística e da Associação Brasileira de Logística (Abralog). Entrevista concedida a Sávio de Tarso por telefone, São Paulo, 8 abr. 2013.2 - Idem.
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volvimento sustentável na ADS Micrologística, em-
presa de São Paulo (SP) especializada na logística
reversa de produtos eletroeletrônicos – um ramo da
indústria que cresce vertiginosamente, e não para
de gerar novos modelos de negócio com vida útil
cada vez menor, sendo freneticamente substituídos
e necessariamente reciclados.
CONCLUSÃO
A aplicação cada vez mais intensiva da Logís-
tica no Transporte é uma tendência natural, em
decorrência da expansão da economia brasileira e
dos esforços para a superação dos problemas es-
truturais do país. A adoção de tecnologias que me-
lhoram o desempenho empresarial qualifica o setor
de transporte rodoviário de cargas para integrar um
mercado mais competitivo e eficiente, capaz de
conquistar espaços na economia globalizada. As-
sumir a responsabilidade de aderir às práticas de
sustentabilidade socioambiental é uma atitude que
facilita a inserção do pequeno negócio no novo ci-
clo de desenvolvimento, em que o respeito ao meio
ambiente é elemento central das relações com as
demais empresas e a sociedade.
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Texte
Fontes
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A produção deste relatório é realizada em parceria com o Centro Sebrae de Sustentabilidade.
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