ARTE E CONSUMO NO PÁTIO BATEL: PAUSA PARA REFLEXÕES CRIATIVAS!
Reinaldo Afonso Mayer
Entretenimento, cultura e arte são palavras que se aproximam de nossas vidas com funções
que nos completam como elementos sociais. A primeira detém imediatamente a nossa
atenção, nos distrai e quando nos satisfaz dedicamos a ela algum tempo. Há sempre uma
possibilidade de que “o entretenimento possa
também ser uma forma de desenvolvimento
cultural e intelectual. O apelo do
entretenimento, com a sua capacidade de usar
diferentes mídias e do seu potencial para
adaptações criativas, tem assegurado a
continuidade e longevidade de muitas formas, temas, imagens e estruturas sociais.1“. No
Shopping NovoBatel, em Curitiba, pudemos, recentemente, comprovar o valor maior destas
afirmações, ao entrar em um “santuário” que despertou, além da curiosidade natural da
grandiosidade apresentada, algumas colocações pontuais que extrapolam o comércio de
produtos. Há, naquele local, uma proposta diferente:
a oferta de uma experiência na qual lazer, entretenimento, cultura são tratadas e ofertadas como bens de consumo ao lado de marcas locais, regionais, nacionais e internacionais para brindar o mercado de Curitiba. Os diferenciais são complementados por um projeto arquitetônico, que associa a modernidade da arquitetura contemporânea aos traços do urbanismo curitibano, reconhecido em todo o mundo
2.
Nesta pequena viagem em um espaço comercial, de estrutura colossal e moderna, não
pudemos deixar de apreciar a obra criativa, pensada por
artistas com o fim de cumprir “as três funções básicas
das artes gráficas: Identificar o que é determinada coisa e
qual é sua origem para poder representá-lo visualmente;
informar indicando a relação de uma coisa com a outra;
apresentar e tornar um trabalho tão criativo a ponto de
torna-lo inesquecível”. Toda a “Arte Gráfica” ali disposta,
1 Recorte de uma definição pesquisada em http://pt.wikipedia.org/wiki/Entretenimento. 2 Definição de Mary Derosso, no endereço http://www.parana-online.com.br/colunistas/313/98608/
resultado de uma “Programação Visual”, atualmente conhecida como “Design Gráfico”, com
certeza utilizou profissionais especiais – artistas plásticos ou designers - que abusaram do seu
conhecimento e capacidade criativa com “liberdade de expressão para se aproximar mais do
cotidiano das pessoas, desenvolvendo e aplicando os
fundamentos da linguagem visual, na economia vigente,
para empresas ou serviços que visam atrair e seduzir
possíveis consumidores de algum produto.” Sendo assim,
neste lugar compartilhado, logo nos tornamos
consumidores frenéticos desta mistura envolvente, com
escritas e imagens que refletem conceitos
contemporâneos com criatividade e imaginação!
Em nossa reflexão anterior sobre a escrita3, pudemos perceber quem não há uma distinção
segura sobre estas duas grandezas, pois a escrita e a imagem sempre se revezaram para propor
o entendimento de um assunto ou mesmo de uma ação:
No início, a escrita era feita através de desenhos: uma imagem estilizada de um objeto significava o próprio objeto. O resultado era uma escrita complexa (havia pelo menos 2.000 sinais) e seu uso era bastante complicado.
Hoje, na era digital, temos expectativas e possibilidades mais simples, com novas ferramentas e
cores, pois dos pesados fardos dos livros
didáticos em nossas mochilas da escola,
estamos com o tablet em mãos, temos o
apoio da televisão e até de um projetor
multimídia em sala de aula. Nossos jovens,
então assumidos guerreiros digitais, mesmo
“antenados”, “distraídos” ou “vagarosos”, de
posse de um computador, até por
necessidade de uma comunicação melhor
acabada, para não ser imediatamente “zoada” nas redes sociais, já admitem que “além dos
símbolos, ícones e imagens, a palavra impressa é indispensável, todos sentem que precisam
3 Leitura atenta do material da disciplina Módulo Material Impresso, do curso Mídias na Educação, da UNICENTRO – Guarapuava, na Unidade 1, sob o título do Impresso à Hipermídia.
lidar com sujeitos, verbos e complementos, dar valor a determinadas palavras, juntá-las de
forma articulada e pessoal.4”. Se há um legado que podemos deixar para nossos alunos e
interlocutores, é o de parar um pouco, observar atentamente o espaço comum e rotineiro à
nossa volta e nos permitir extrapolações com a escrita e a imagem, que nos levem a observar
mais detidamente a natureza de tudo o que nos cerca. Para então relacionar este com outros
momentos imaginados, resultados de escritos e imagens,
cuja expressão imaginativa pode superar mesmo a beleza
de paraísos turísticos pelo mundo, das exposições de arte
ou dos museus temáticos.
Há, atualmente, em qualquer lugar ou espaço público,
formas de design5 gráfico intuitivo e aconchegante, que
nos fazem apreciar a vitrine de uma loja, prestar atenção
a uma propaganda diferenciada e até aplaudir algumas criações que nos chegam através dos e-
mails ou do facebook. E também nos motivar para usar esses recursos em nossas produções.
Claro que isso não é coisa nova, pois
a antiga escrita cuneiforme evoluiu para a escrita ideográfica não utilizava apenas rabiscos e figuras associados à imagem que se queria registrar, mas sim uma imagem ou figura que representasse uma idéia, tornando-se posteriormente uma convenção de escrita. Os leitores dependiam do contexto e do senso comum para decifrar o significado. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução.
Contradizendo Marshall McLuhan, que afirmou, lá em 1962, “que o
Cosmo da Impressão teria poucas oportunidades de resistir à aldeia
global que então se constituía, movida toda ela pela força das
imagens transmitidas pelo cinema e televisão, principalmente”,
pudemos constatar, no Pátio Batel, que “os textos passaram a
explicar as imagens e elas, por sua vez, foram capazes de ilustrar os
textos. Essa troca foi se tornando dialética entre a imaginação e a conceituação6 , que num
momento se negavam e num outro se reforçavam.” Ali, imensas fachadas se revezam,
4 Fragmento do artigo “O FIM DO LIVRO E A ETERNIDADE DA LITERATURA, de Carlos Heitor Cony, .publicado no jornal “ A FOLHA DE SÃO PAULO, em 08/09/2000.
5 A palavra design é um anglicismo (termo ou expressão da língua inglesa introduzida em nossa língua) que está sendo adotado aos poucos no Brasil para designar o campo da programação visual e as suas duas grandes áreas: projeto do produto e programação visual.
6 Definição, concepção, idéia, opinião. Representação de um objeto por meio de suas características gerais.
despojadas de suas “famosidades”, para mostrar produtos, onde a concepção da divulgação já
se constitui em um resultado artístico pensado para provocar reações em seus espectadores.
Assim, diante daquela parcela representativa do mundo da moda, pudemos visitar um padrão
de consumo de maneira requintada, tão bem retratado em filmes de sucesso7 que nos fizeram
compreender que há, com certeza, um fio condutor invisível
que mistura sonhos e realidades. As lojas e departamentos,
pela excelência da apresentação, nos induzem um universo
às vezes inatingível para um consumidor comum, mas com
certeza traz diferentes concepções que são apreciadas por
sua grandeza mágica, quando se oferecem com alternativas
gráficas de grande repercussão, apreciadas em todos os
lugares do mundo.
Por outro lado, pudemos perceber que há, em todos os corredores, uma intenção velada de
apresentar, de forma moderna, um conceito já presente desde o século 17, onde “as imagens
ganharam novas funções e passaram a representar o mundo com um repertório de esquemas
que elaboram e interpretam a realidade. Imagem e texto que caminham lado a lado na
divulgação do conhecimento e das ideias de uma época.” Sejam por motivos comerciais ou
aspirações culturais, elas pretendem extrair de qualquer visitante uma análise positiva e um
interesse permanente. Esse fato confirma que
a relação entre texto e imagem foi se consolidando com mais rapidez em função das invenções de novas máquinas e das novas técnicas de impressão, que mostrou ser possível estabelecer interessantes composições gráficas com textos e imagens, quando usados de forma adequada na transmissão de alguma informação.
Tanto isso é verdade que, em nosso material de referência, há uma sólida constatação:
“independente da mídia, impressa, televisiva ou digital, as duas linguagens se tornaram
inseparáveis”. Nos corredores do Pátio Batel, esta característica se torna imprescindível,
quando impressionantes e convidativos escritos mostram o outro lado de uma interessante
cultura alternativa: as lojas e departamentos, muitas delas multinacionais, ficam de frente para
retalhos de poemas locais – de autores paranaenses, que nos orgulham naquele espaço –
trazendo, para todos que passam, uma ideia comparativa, um misto de reflexão, admiração e 7 Em 2006, o filme O Diabo Veste Prada fez sucesso mundial e mostrou para o grande público como funciona o universo da moda. Desde então, diferentes longas e documentários com a mesma temática foram produzidos e conquistaram elogios da crítica e sucesso com os espectadores. Confira mais detalhes em: http://caras.uol.com.br/cinema/os-10-melhores-filmes-de-moda-desde-o-diabo-veste-prada#.UvPiIPldVic
imaginação. De Adélia Woellner8 a Paulo Leminski9, podemos, por um momento, reconhecer
que “no som do silêncio, a essência de todos os inaudíveis sons”, ou ainda, refletir sobre as
implicações de uma frase que mostra o valor da liberdade
na expressão criativa: “isso de querer ser exatamente aquilo
que a gente é ainda vai nos levar além”.
Este ensaio teve uma finalidade de mostrar que, em todas as
épocas, os artistas criam ambientes provocativos, digitais ou
não, com a mescla de escrita e imagem “que exploram e
experimentam com mais liberdade a relação estética entre
textos e imagens, chegando a espichar e distorcer fotocomposições para fundir imagem e
texto”. Então podemos deixar de lado um conceito ultrapassado de que “a imagem, antes vista
como mera função pedagógica, possibilitava ao analfabeto ler e entender informações, já que
não conheciam o significado das letras”. Hoje, quando imagens e textos nos provocam e exigem
criticidade e opinião, ultrapassamos a fase da simples leitura com o fim da obediência cega,
passamos a analisar contextos ou experimentar criações complementares. No Shopping
NovoBatel, confirma-se uma interessante análise profissional:
o bom planejamento visual ou design gráfico sempre deve transformar a complexidade em clareza e os dados abstratos em elementos visuais, ou seja, combinar imagens e textos, cores e texturas, de modo que se possa ler para entender e assimilar o conteúdo10.
Então, devemos nos integrar a esses ambientes de entretenimento, que são reais e criativos e
tem uma representação artística invejável, que nos
ajudam a experimentar conceitos novos e usar a
imaginação, em nosso dia-a-dia, para compreender
outros espaços, onde a escrita e a imagem nos
desafiam a um passeio agradável, para buscar
significados que nos permitam refletir, pesquisar e
evoluir sempre, além da nossa casa ou dos muros da escola.
8 Adélia Maria Woellner nasceu em Curitiba (PR), no dia 20 de junho de 1940. Pertence à Academia Paranaense de Letras e tem um vasto repertório poético no Paraná. 9 Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba em 24 de agosto de 1944 e faleceu em 7 de junho de 1989.) Escritor paranaense, poeta, crítico literário, tradutor e professor, é um dos ícones da nossa literatura. 10 Reflexão do designer gráfico digital Vincenzo Scapellini , em nosso material de consulta.
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