Ana Filipa Alves dos Santos
QUALIDADE DE VIDA E SOLIDÃO NA TERCEIRA IDADE
UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PORTO, 2008
Ana Filipa Alves dos Santos
QUALIDADE DE VIDA E SOLIDÃO NA TERCEIRA IDADE
UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PORTO, 2008
Ana Filipa Alves dos Santos
QUALIDADE DE VIDA E SOLIDÃO NA TERCEIRA IDADE
Monografia apresentada à Universidade Fernando Pessoa, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de licenciada em Psicologia (Ramo Clínico), sob orientação da Mestre Sónia Alves.
Idosos...
Rostos e olhos enrugados,
Faces descoloridas...
Corações que entesouram tanta
Experiência, sabedoria e bondade!
Idosos...
Muitas vezes renegados
Pelos amigos, pela família,
Abandonados à própria sorte,
Guiados por mãos estranhas,
Alimentados e vestidos
Com dedicação por desconhecidos,
Que ouvem suas histórias de outrora,
Narradas com um fio de voz...
Um fio de voz que traduz
Muita esperança no coração
De quem hoje é uma criança
Que exibe a sua vivência,
Passeia a sua experiência,
Segurando a mão que o acolhe
E o acaricia...
Idosos!
Idosos... No ocaso da vida,
Que já atravessaram tempestades
E confortaram corações,
Eu quisera ser poeta
Para descrever a emoção
De conviver com vocês,
De aprender sobre e com vocês!
Sorrir hoje e sempre,
Agradecida pelos ensinamentos
Que me tornaram a vida
Mais florida!...
Arneyde T. Marcheschi
i
Resumo
No sentido de compreender e conhecer melhor a população idosa, assim como as
vivências a ela associadas, realizou-se um estudo cujo objectivo foi o de analisar a relação
entre a Qualidade de Vida (QDV) e a Solidão numa amostra de idosos do Centro Social e
Paroquial de São Pedro de Loureiro.
Para isso, contou-se com a participação de 35 idosos com idades compreendidas entre
os 74 e os 86 anos (M=79,06; DP= 3,523), sendo que 24 indivíduos são do sexo feminino e
os restantes 11 do sexo masculino. Todos os participantes responderam ao Easycare - Escala
de Avaliação de Qualidade de Vida e Bem-Estar no Idoso (Sousa & Figueiredo, 2000), à
Escala da Solidão da UCLA (Neto, 1989) e a um questionário sócio-demográfico elaborado
para o efeito.
Os principais resultados demonstram que os idosos de um modo global, revelam ter
uma boa QDV e percepcionam pouca solidão. Para além disso, os resultados sugerem não
existir relações significativas entre a QDV e a solidão, com excepção das dimensões da QDV
e da solidão, as quais se relacionam de forma positiva e significativa.
ii
Agradecimentos
O presente trabalho não seria possível sem o apoio e a disponibilidade de todos aqueles
que contribuíram, directa e indirectamente, para a sua elaboração.
Aos meus pais e irmão, por toda dedicação, esforço, amor, sacrifício e orgulho que
sempre depositaram em mim. A vocês, devo tudo que sou. Obrigados pelo apoio integro e
único.
A vocês, avó Teresa e avó Virgínia, presentes na minha eterna saudade, o meu
muito obrigado, por sempre acreditarem em mim e me terem dado forças para continuar este
longo percurso.
A todas as minhas amigas e colegas em especial à Zaida, Goreti e à Joana por todo o
apoio e companheirismo ao longo desta caminhada. Obrigadas por encontrarem dentro de
mim a amizade, por me acompanharem onde quer que eu fosse, envolvendo a sensação de
companhia e apoio necessário. Obrigadas por aceitarem a minha sabedoria interior como a
melhor conselheira.
À D. Olinda e Sr. Ferreira por me acompanharem desde o inicio nos bons e maus
momentos, dando-me sempre forças para continuar a lutar mais e mais…
À minha orientadora de monografia, de estágio e sempre professora Mestre Sónia
Alves pela atenção, ensinamentos, compreensão e carinho demonstradas aquando as minhas
falhas. Obrigada por ter cooperado comigo.
Ao Centro Social Paroquial São Pedro de Loureiro por me ter acolhido, e em
particular ao vice-presidente deste centro, Sr. Costa, à assistente social Dra. Isabel Taveira
pela disponibilidade e carinho oferecido e a todas as funcionárias pela ajuda e apoio durante a
recolha de dados. Sem eles, esta investigação não se teria realizado.
E muito em particular a todos os idosos que integram este estudo, pela colaboração
e disponibilidade.
iii
E como os últimos são os primeiros….. a ti, Helder, meu amor, por acreditares em
mim e tornar o impossível numa certeza. Apesar do teu cepticismo em relação à psicologia,
obrigado por estares sempre ao meu lado, pelo apoio incondicional que sempre me ofereces-
te em qualquer decisão que tomava. A ti, que ao longo deste oitos anos de partilha me tens
feito chorar, rir, acreditar, lutar e acima de tudo me tens feito feliz!
A todos os meus agradecimentos
Ana Santos
iv
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 2
II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1. Envelhecimento ............................................................................................. 5
1.1 Caracterização do Processo de Envelhecimento ................................ 5
1.1.1 Envelhecimento Biológico ............................................................ 11
1.1.2 Envelhecimento Psicológico ......................................................... 13
1.1.3 Envelhecimento Social .................................................................. 16
1.1.4 Reforma ......................................................................................... 17
1.1.5 Relações Familiares ....................................................................... 17
1.1.6 Redes Sociais ................................................................................. 18
2. Qualidade de Vida na 3ª idade: Um Constructo Multidisciplinar ..................... 20
2.1 Conceito da QDV ............................................................................. 20
2.2 Envelhecimento e QDV ................................................................... 24
2.3 Solidão e Envelhecimento ................................................................ 30
2.3.1 Conceito de Solidão ...................................................................... 30
2.3.2 Factores associados à Solidão ....................................................... 36
2.3.3 Diferentes Tipos de Solidão .......................................................... 38
3. Solidão, QDV e Envelhecimento ...................................................................... 39
III. ESTUDO EMPÍRICO
4. Estudo Empírico ................................................................................................ 45
v
4.1 Justificação do Estudo ...................................................................... 45
4.2 Objectivo .......................................................................................... 46
4.3 Hipótese de estudo ............................................................................ 46
4.4 Variáveis do Estudo ......................................................................... 46
4.5 Método ............................................................................................. 46
4.5.1 Participantes .................................................................................. 46
4.6 Material ........................................................................................................... 47
4.6.1 Questionário Sócio-Demográfico ................................................. 47
4.6.2 Escala de Qualidade de Vida e Bem-Estar no Idoso (Easaycare) 47
4.6.3 Escala da Solidão da UCLA ......................................................... 50
4.7 Procedimento .................................................................................................. 51
5. Análise dos Dados e Interpretação dos Resultados ........................................... 53
5.1 Caracterização Sócio-Demográfica da Amostra .............................. 54
5.2 Caracterização da Qualidade de Vida e da Solidão e a relação entre
estas duas dimensões .............................................................................. 56
6. Discussão dos Resultados ................................................................................. 60
IV. CONCLUSÃO/LIMITAÇÔES DO ESTUDO/ORIENTAÇÕES PARA
A PRÁTICA ........................................................................................................ 65
V. BIBLIOGRAFIA
VI. ANEXOS
vi
ÍNDICE DOS ANEXOS
Anexo I: Questionário Sócio-Demográfico;
Anexo II: Escala de Qualidade de Vida e Bem-Estar no Idoso (Easycare) de Daniela
Figueiredo e Liliana Sousa;
Anexo III: Escala da Solidão da UCLA de Félix Neto;
Anexo IV: Pedido de autorização aos autores dos Instrumento de Avaliação;
Anexo V: Pedido de Autorização ao Director de Centro Social e Paroquial de são Pedro
de Loureiro:
Anexo VI: Consentimento Informado.
vii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Caracterização da Amostra em Função do Género ............................... 54
Tabela 2: Caracterização da Amostra em Função da Idade .................................. 54
Tabela 3: Caracterização da Amostra em Função da Escolaridade ...................... 55
Tabela 4: Caracterização da Amostra em Função do Estado Civil ....................... 55
Tabela 5: Caracterização da Amostra em Função da Última Profissão
Exercida ................................................................................................................ 55
Tabela 6: Caracterização da Amostra em Função do Apoio ................................ 56
Tabela 7: Caracterização da Amostra em Função da Domiciliação ..................... 56
Tabela 8: Resultados obtidos nas sub-escalas do Easycare .................................. 58
Tabela 9: Correlações entre as diferentes sub-escalas do Easycare com a
Escala da Solidão da UCLA ................................................................................. 59
Tabela 10: Resultado das Diferenças de Solidão entre Grupos, o Grupo 1 (menos sós) e
o Grupo 2 (mais sós) face ás Diferentes Sub-Escalas do Easycare ....................... 60
ÍNDICE DE FIGURA
Figura 1: Modelo da Qualidade de Vida na Velhice ........................................... 25
ÍNDICE DE QUADRO
Quadro 1: Sentimentos associados à Solidão ...................................................... 32
viii
ÍNDICE DE SIGLAS
QDV………………………………………… Qualidade de Vida
SPSS………………………………Statistical Package for Social Sciences
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
1
I. INTRODUÇÃO
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
2
Introdução
Dada a tendência do crescimento da população idosa, Portugal enfrenta
actualmente uma realidade que começa a ganhar um impacto social relevante: baixas
taxas de natalidade e de mortalidade, com o aumento significativo dos idosos no
conjunto da população do país (Paúl & Fonseca, 2005). Dada a situação, importa
promover um envelhecimento aliado ao conceito de bem-estar e de Qualidade de Vida
(QDV1) (Sousa et al., 2003).
O envelhecimento tem um grande impacto na vida dos indivíduos, não só pelas
transformações características desta fase que perturbam o bem-estar e a QDV, mas
também pelas alterações que ocorrem nas estruturas físicas, na cognição e nas relações
sociais (Parente et al., 2006).
A associação dos conceitos QDV e envelhecimento revela-se complexa, uma vez
que os dois conceitos dependem de inúmeros factores. O crescente envelhecimento da
população tem vindo a despertar interesse nesta temática, nomeadamente no que diz
respeito à QDV no idoso (Paúl & Fonseca, 2005).
A QDV é hoje em dia um tema de extrema importância, uma vez que viver não se
restringe apenas a uma forma de subsistência, mas sim uma forma de promoção da
saúde em vez da doença (Squire, 2005). Assim sendo, a promoção da QDV nas pessoas
idosas implica a adopção de estilos de vidas adaptados às alterações biológicas e
psicológicas do envelhecimento (idem).
Deste modo, envelhecer com autonomia, independência, ter um papel social
activo, boa saúde física e psicológica, contribui para a promoção de uma boa qualidade
de vida (Paschoal, 2000, citado por Paschoal, 2002).
Para os idosos, os serviços sociais e de saúde, as características pessoais
(mobilidade/capacidade) e comportamentais, os contactos pessoais, a família e o
desempenho de actividades, proporcionam satisfação e QDV (Paúl & Fonseca, 2005).
No entanto, o conceito de QDV varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com
o contexto social, experiências prévias e outros factores pessoais. Os idosos estão, deste
1 No decorrer deste estudo optou-se pela utilização da abreviatura QDV
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
3
modo, sujeitos a condições próprias do processo de envelhecimento que resultam numa
diminuição da QDV, como por exemplo, limitações físicas que levam a um aumento da
dependência na satisfação das necessidades fundamentais, o afastamento do seu meio
habitacional (quando os idosos são institucionalizados, implicando a adaptação a esse
novo espaço para ele completamente desconhecido) e a solidão a que são sujeitos quer
pela incapacidade de resposta familiar, quer pela própria sociedade, que os afasta,
(Rocha et al., 2002), quer pela diminuição das redes sociais que se traduz na falta de
comunicação e manutenção de contactos mínimos (Sousa et al., 2004).
Este trabalho encontra-se dividido em três partes fundamentais: no primeiro
capítulo, procurou-se fazer o enquadramento teórico, tendo em conta os aspectos
relacionados com o envelhecimento, onde são abordadas definições sobre este conceito
e as alterações decorrentes deste processo.
No segundo capítulo, é feito um pequeno enquadramento teórico às variáveis
estudadas (QDV e solidão) definindo-se os conceitos, abordando-se teorias e
relacionando as mesmas entre si (QDV e envelhecimento; solidão e envelhecimento).
Ainda neste capítulo são apresentados estudos realizados neste domínio, nomeadamente
sobre a relação entre a QDV e a solidão na 3ª idade.
Após o enquadramento teórico, é descrito num terceiro capítulo o estudo empírico
realizado, onde se descreve o método utilizado (participantes, material e procedimento),
apresentam-se os resultados obtidos e a respectiva discussão destes. Apresentam-se,
ainda, as limitações inerentes a este estudo, bem como, algumas implicações futuras
para a prática clínica.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
4
II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
5
1. Envelhecimento
1.1 Caracterização do Processo de Envelhecimento
Hoje em dia torna-se difícil designar onde começa e acaba a terceira idade, uma
vez que se antigamente o que se tinha em conta era a idade de reforma (65 anos),
actualmente isso não acontece porque as pessoas reformam-se cada vez mais cedo por
motivos que não se prendem com a idade, mas sim pelo desemprego, situações
incapacitantes e reformas antecipadas, o que torna difícil distinguir quem é e não é uma
pessoa idosa (Duarte et al., 2005).
Para Agree e Freedman (2001), o envelhecimento é um processo individual e
colectivo, uma vez que cada ano de existência de vida de cada indivíduo marca o
envelhecimento, assim como o aumento da porção da população considerada idosa.
Deste modo, o envelhecimento envolve inúmeras variáveis (fisiológicas, estilo de
vida e doenças crónicas) que se relacionam entre si e influenciam a forma como se
envelhece, pois o envelhecimento e um processo insidioso e linear que varia na forma e
intensidade de individuo para individuo (Mazzeo et al., 1998, citado por Faria &
Marinho, 2003). Além disso, o envelhecimento tem implicações na funcionalidade, na
autonomia, na mobilidade e consequentemente na QDV da população idosa (Carvalho,
1999).
Para melhor se definir o envelhecimento humano, é preciso considerar que este é
um fenómeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude da
sua existência, modifica a sua relação com o tempo, o seu relacionamento com o mundo
e a sua própria história (Teixeira, 2006).
Walsh (1989, citado por Sousa & Figueiredo 2003, p. 109) define de modo
curioso, contudo realista, a forma como a aproximação da velhice é sentida: “a velhice é
temida quase tanto como se teme não viver suficiente para a atingir”. Para este sentir
contribui substancialmente, a forma como a sociedade ocidental estereotipa e,
consequentemente, desqualifica os idosos (antiquados, rígidos, senis, aborrecidos,
inúteis e dependentes).
O envelhecimento é um processo que acompanha toda a vida humana, de
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
6
deterioração endógena e irreversível da estrutura e funcionalidade de vários órgãos e
tecidos. É, igualmente, reconhecida a contribuição de factores extrínsecos para o
envelhecimento e para o modo como se envelhece. Trata-se de um fenómeno inevitável,
inerente à própria vida, equivalente à fase final de um programa de desenvolvimento e
diferenciação (Martins, 1999).
Traduz-se no declínio de capacidade e funções, conduzindo à diminuição da
aptidão de adaptação a factores de stress internos e externos. A velhice constitui a
última etapa da vida, sendo, por isso, um momento em que o declínio se torna mais
visível e acentuado, agravando-se a vulnerabilidade ao aparecimento de doenças (Rowe,
1985, citado por Sousa & Figueiredo, 2003).
Falar de envelhecimento implica falar no envelhecimento populacional.
O “envelhecimento populacional” é uma realidade contemporânea que surge como
factor relevante na nossa sociedade, traduzindo-se pelo aumento da importância dada
aos idosos. Não se trata só do aumento do número de indivíduos com idades avançadas,
mas também a ocorrência deste fenómeno numa sociedade que segundo Brito (1993,
citado por Faria & Marinho, 2003), a velhice é perspectivada como algo sem interesse
social, pois tem pouco para dar e muito para receber.
Desde há alguns anos que o chamado “envelhecimento populacional” tem vindo a
assumir particular importância. A tomada de consciência desta problemática motivou a
sociedade para a implementação de acções na área da saúde e da acção social, de modo
a proporcionar uma vivência mais positiva da terceira idade (Vieira, 2003).
O documento do Instituto Nacional de Estatística (INE), (2002) – “O
Envelhecimento em Portugal” alerta para as novas questões ligadas ao envelhecimento.
A problemática do envelhecimento e das pessoas idosas, exige uma nova reforma da
gestão da idade. O envelhecimento da população é um facto constatado pela sociedade.
Cerca de 16% da população portuguesa possui uma idade igual ou superior a sessenta
anos e em 2020 o número de idosos ascenderá aos cem mil de acordo com o Instituto
Nacional de Estatística (INE, 2002),
Nos países desenvolvidos, a melhoria das condições de vida tem aumentado a
esperança média de vida dos indivíduos (Oliveira, 2005).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
7
Contudo, este crescimento é acompanhado por um aumento da prevalência de
doenças crónicas, sobrecarregando os sistemas de saúde e de segurança social
(Fernandéz-Ballesteros, 2002).
Atendendo a que o envelhecimento é um processo que acompanha a vida humana
e que a velhice constitui a última etapa da vida, sendo por isso, caracterizada como um
momento em que o declínio se torna mais visível e acentuado, agravando-se a
vulnerabilidade ao aparecimento de doenças (Rowe, 1985, citado por Sousa &
Figueiredo, 2003).
Deste modo, a temática do envelhecimento bem-sucedido tem sido muito
abordada e considerada de enorme importância nesta etapa de vida.
Segundo Freire (2000), o envelhecimento bem-sucedido caracteriza-se como
sendo uma competência adaptativa generalizada para responder com flexibilidade aos
desafios. Esta capacidade envolve várias dimensões: emocional (capacidade para lidar
com acontecimentos de vida stressantes, por exemplo, saúde e funcionamento físico,
problemas pessoais); cognitiva (capacidade para resolver problemas); comportamental
(capacidade de resolução de problemas).
Segundo Fernandes (1999, p.21), “o envelhecimento bem sucedido é uma
competência adaptativa, trata-se da capacidade generalizada para responder com
flexibilidade aos desafios. Esta capacidade envolve várias dimensões: emocional
(estratégia para lidar com factores de stress), cognitiva (capacidade de resolução de
problemas) e comportamental (desempenho e competência social”.
Em suma, as teorias do desenvolvimento bem sucedido “vêem o sujeito como pró-
activo, regulando a sua qualidade de vida através da definição de objectivos e lutando
para os alcançar, acumulando recursos que são úteis na adaptação à mudança e
activamente envolvidos na manutenção do bem-estar” (Seabra, 1995, p. 183).
Deste modo, é primordial ajudar o idoso a adaptar-se à nova realidade, pois a sua
capacidade de adaptação influencia o sucesso ou insucesso do idoso. Esta adaptação vai
desde a promoção de uma vida saudável, manutenção das actividades na terceira idade,
sentimento de satisfação com a as suas actividades e com a vida em geral. Tudo isto
pressupõe que o idoso envelheça num ambiente activo e saudável, promovendo um
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
8
contínuo investimento (Simões, 1982, citado por Oliveira, 2005).
Considerando, então, o envelhecimento como um complexo processo de adaptação
a mudanças físicas, sociais e psicológicas, que acompanha e se intensifica com a idade,
e que um envelhecimento bem sucedido é um objectivo a alcançar, emerge um tópico
pertinente, Stevering e Ormel (1998, citados por Sousa & Figueiredo, 2003) consideram
que os critérios a utilizar para avaliar se o envelhecimento foi, ou não, bem sucedido. Os
principais pontos de discussão são os padrões a considerar: factores funcionais, aspectos
ideais, indicadores objectivos ou subjectivos, critérios múltiplos, entre outros.
Para Dias Cordeiro (1982), o envelhecimento é como um processo geral de
matéria viva no homem que se manifesta a todos os escalões do seu organismo, vai
desde o molecular até ao nível psicológico. A terceira idade leva a um estatuto marcado
pela limitação senil. Daí que alguns autores considerem a delimitação entre o normal e o
patológico existente na terceira idade como sendo um problema artificial. A senilidade é
vista como um fenómeno patológico, não seria mais do que um simples exagero da
evolução ou da aceleração do processo normal de senescência. A senescência é o
processo natural do envelhecimento, o qual compromete progressivamente aspectos
físicos e cognitivos.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) a terceira idade tem início entre
os 60 e os 65 anos. Esta idade é percebida como marco do início da velhice, porém a
idade cronológica e biológica difere de indivíduo para indivíduo, logo não deve ser
padronizada (Duarte, et al., 2005).
De acordo com Oliveira (1999), o mais importante na definição de idoso não tem a
ver com a idade cronológica, mas sim com o estado de saúde. Mesmo assim, o autor
divide o grupo etário dos idosos em três partes: os idosos jovens, entre os 65 anos até
aos 75 ou 80 anos de idade; os idosos velhos, a partir dos 75 ou 80 anos até aos 90 anos
e por último os idosos muito velhos que se enquadram na faixa etária acima dos 90
anos.
No entanto, a questão de classificar os idosos e dentro deste grupo proceder a
desagregações em classes pode não corresponder à realidade, se não, veja-se o que diz
Santos (1999), em relação à existência de divergências a nível teórico quanto à
delimitação do inicio do envelhecimento. Estas discordâncias, conforme refere a autora,
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
9
vão muito para além da ciência, passando pela legislação até chegar aos indivíduos.
Aliás, conforme referem Cunha, et al. (1986, citados por Santos, 1999), por norma, os
indivíduos quando questionados sobre envelhecimento costumam situá-lo dez anos à
frente da sua idade actual, o que sugere a existência de outros critérios que concorrem
na definição do conceito.
Sendo assim, as pessoas de idade apresentam, por vezes, uma certa rigidez e
inflexibilidade de ideias, com desconfiança, com uma certa tendência à projecção, falta
de mobilidade do pensamento, labilidade afectiva, retraimento e, não obstante,
passividade (Dias Cordeiro, 1982).
Várias propostas para definir envelhecimento têm sido apresentadas, apesar das
divergências de opinião sobre este assunto. No entanto, parece existir consenso no que
respeita à universalidade deste fenómeno.
Deste modo, apresentarei algumas das propostas de definição de envelhecimento
para a sua melhor compreensão.
Como nos refere Berger (1995a), o envelhecimento refere-se à senescência como
um processo multifactorial que arrasta uma deterioração fisiológica do organismo,
podendo levar a uma quantidade de afecções, resultantes do desequilíbrio homeostático
instalado pela redução das reservas necessárias para resistir às agressões e manter as
funções vitais.
Para Zimerman (2000), envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e
sociais do indivíduo. A forma natural e gradual das transformações que ocorrem ao
longo da vida, poderão estar associadas às características genéticas individuais, e
principalmente do modo de vida de cada um.
Segundo Brink (2001, p. 472), o envelhecimento é “…um fenómeno biológico e
psicológico universal, associado a conotações positivas e negativas, determinadas pelo
ambiente cultural”. Nesta perspectiva, e em termos físicos, o envelhecimento normal
pode ser considerado um declínio diferencial relacionado com as funções biológicas,
resultando finalmente a morte. Em termos psicológicos, o envelhecimento normal
considera o desenvolvimento do indivíduo dentro dos papéis e expectativas específicas
de cada idade para os quais está culturalmente determinado (Brink, 2001).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
10
Na perspectiva de Lidz (1983), o envelhecimento compreende três fases: o idoso
(sem alterações psicossomáticas, isto é, apesar da reforma do individuo é válido); a
senescência (ocorrem transformações significativas ao nível orgânico e psicológico), e,
por fim, a senilidade, em que o idoso se torna quase completamente dependente.
De acordo com a psicossomática, o envelhecimento reveste-se de enorme
complexidade, na qual está em causa o disfuncionamento do organismo e envolve
factores biológicos, psicológicos e relacionais, sendo importante tentar apreendê-lo na
sua globalidade, pois é necessário relacionar as situações de vida e o funcionamento do
organismo, a nível biológico e relacional (Agostinho, 2004).
Na teoria psicanalítica de Belsky (1990, citado por Agostinho, 2004), o
envelhecimento está associado à ocorrência de eventos stressantes, por exemplo
adoecer, morte do cônjuge, entrar na reforma. Tais eventos apresentam-se como testes
funcionais psicológico, demonstrando a capacidade do ego em se adaptar, na medida em
que é provável o individuo desenvolver mecanismos de defesa para enfrentar esses
eventos, quando as experiências vividas por ele na infância não foram boas. Daí que o
mesmo autor considere a idade avançada como sendo um período de stress propício a
distúrbios psicológicos (Agostinho, 2004).
Em oposição, a teoria de Yung considera a última metade da vida mais importante
que a primeira, defendendo que esta transição tem como objectivo preparar o sujeito
para a morte, considerando o culminar da vida (Agostinho, 2004).
Deste modo, os diferentes conceitos apresentados sobre o envelhecimento,
reflectem que o envelhecer é uma realidade a que todo o ser humano fica sujeito quando
atinge esta etapa de desenvolvimento do seu ciclo vital.
O envelhecimento tem causas ainda desconhecidas, tratando-se, segundo
Fernandes da Fonseca (2001), de um fenómeno meramente fisiológico, consequência da
exaustão da própria vitalidade celular e aparecendo como consequência de várias
manifestações patológicas (infecciosas, tóxicas entre outras), sustentadas pelo cérebro.
Todavia, além das alterações físicas, o envelhecimento é acompanhado por
alterações psicológicas e sociais que podem ser melhoradas ou reduzidas, considerando
o contexto em que o idoso está inserido (Martins & Valente, 2004; Sequeira & Silva,
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
11
2002).
O envelhecimento é um processo complexo cujo funcionamento não se reconhece
em pormenor, diferencial (especifico de cada pessoa), universal (inerente a todo o ser
vivo) e contínuo (embora com movimentos diferentes) (Fernandes, 1999; Oliveira,
2005).
Deste modo, não ocorre de forma idêntica em todos os indivíduos, pois enquanto
uns tendem a apresentar padrões habituais de envelhecimento, outros tendem a alcançar
um elevado nível de funcionamento nos domínios físicos, psicológico e social (Sequeira
& Silva, 2002).
Envolve inúmeras variáveis (genéticas, estilo de vida e doenças crónicas) que
interagem entre si e influenciam a forma como se envelhece (Mazzeo, 1998, citado por
Faria & Marinho, 2004).
Para Schroots e Birren (1980, citados por Fonseca, 2006), o processo de
envelhecimento está associado a diferentes factores. Para estes autores, este processo
está relacionado com uma componente biológica (senescência), que reflecte uma
vulnerabilidade crescente e de onde resulta uma maior probabilidade de morrer; uma
componente social, relativa a papéis sociais apropriados às expectativas da sociedade
para este nível etário; e uma componente psicológica, definida pela capacidade de auto-
regulação do indivíduo face ao processo de senescência (Fonseca, 2006).
O envelhecimento biológico, em particular, refere-se às transformações físicas
que reduzem a eficácia dos sistemas orgânicos e funcionais do organismo, provocando
uma diminuição gradual da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático. Este
equilíbrio homeostático reduz a reserva funcional colocando o idoso mais susceptível ao
surgimento de doenças crónicas (Netto & Ponte, 2000, citados por Figueiredo, 2007).
1.1.1 Envelhecimento biológico
O envelhecimento biológico está relacionado com alterações nas estruturas e nas
funções do corpo. O organismo da pessoa idosa pode sofrer alterações biológicas, isto é,
alterações físicas (Rodrigues & Diogo, 2000, citados por Granja, 2006).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
12
O envelhecimento biológico pressupõe uma série de alterações nas funções
orgânicas e mentais devido aos efeitos da idade avançada, fazendo com que o indivíduo
perca a capacidade de manter o equilíbrio e todas as funções fisiológicas começam a
diminuir (Straub, et al., 2001 & Leite, 1990, citados por Teixeira, 2006).
Deste modo, e em termos físicos, podemos dizer que o envelhecimento pode ser
separado da doença, uma vez que existe uma relação entre o normal e o patológico, pois
existem transformações nesta fase de vida que não devem ser consideradas como
patológicas (por exemplo, as rugas) (Figueiredo, 2007).
Deste modo, o normal e o patológico sobrepõem-se, uma vez que o
envelhecimento normal acima de um certo limiar é considerado patológico. Assim
como, por exemplo, um certo grau de descalcificação dos ossos na velhice não se
considera doença até alcançar um determinado limite (Figueiredo, 2007).
Deste modo, o envelhecimento normal pode ser considerado um declínio
diferencial que está relacionado com o tempo das funções biológicas, tanto do
organismo como das suas partes, resultando posteriormente em morte.
Em termos psicológicos, o envelhecimento normal considera o desenvolvimento
do indivíduo dentro de papéis e expectativas específicas de cada idade para os quais está
culturalmente determinado (Brink, 2001).
A evolução do envelhecimento biológico é variável, estando este associado ao
surgimento de incapacidades, de doenças e essencialmente à demência senil (Pimentel,
2005).
Lidz (1983) divide o envelhecimento em três fases sucessivas que podem ser, ou
não, progressivas: Fase do idoso, o individuo ainda se considera autónomo; Fase da
senescência, o indivíduo começa a ter necessidade de procurar ajuda de outras pessoas;
Fase senilidade, o indivíduo é um ser completamente dependente de cuidados de toda a
ordem. Importa, aqui, fazer referência ao conceito de senescência e senilidade.
Filho (1996, p.60) entende por senescência “as alterações orgânicas, morfológicas
e funcionais que ocorrem em consequência do processo de envelhecimento; por
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
13
senelidade, as modificações determinadas pelas afecções que frequentemente acometem
os indivíduos idosos” (Filho, 1996, citado por Granja, 2006).
1.1.2 Envelhecimento psicológico
O envelhecimento psicológico pressupõe a diminuição das faculdades psíquicas e
físicas, que proporcionam ao idoso um sentimento de desadaptação ao meio, perda de
objectivos de vida, afastamento e progressivo isolamento dos familiares e amigos,
dependência económica e física, sentimentos de solidão e de inutilidade (Mestre, 1999).
Segundo Zimerman (2000) para além das alterações visíveis no corpo, o
envelhecimento proporciona ao ser humano uma série de mudanças psíquicas que
podem resultar em dificuldade de se adaptar a novos papéis; falta de motivação e
dificuldade de planear o futuro; necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afectivas e
sociais; dificuldade de se adaptar às mudanças rápidas, que podem ser dramáticas;
alterações psíquicas que requerem tratamento especializado; baixa auto-imagem e auto-
estima.
Por outro lado, a inteligência e a capacidade de aprendizagem, desde que
exercitadas, podem continuar a progredir (Pimentel, 2005).
Assim, importa dizer que estas características são determinadas pela
hereditariedade e pela história de vida de cada indivíduo. As pessoas mais saudáveis e
optimistas adaptam-se mais facilmente às transformações trazidas pelo envelhecimento
(Zimerman, 2000).
Para Berger (1995), o envelhecimento psicológico pressupõe dois aspectos: o
aspecto deficitário e o aspecto reactivo.
Quando falamos em aspecto deficitário, referimo-nos à tendência natural que cada
indivíduo possui para a progressiva redução das capacidades cognitivas do sujeito.
O aspecto reactivo refere-se à situação vital e social do envelhecer, prendendo-se
com as capacidades sensório-motoras, e outras, que afectam o envolvimento do
indivíduo no seu campo de acção na sociedade.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
14
Assim, a velhice engloba factores psicológicos compostos essencialmente por
duas componentes situacionais: os papéis profissionais e as interacções sociais neste
período de vida. No que respeita aos papéis profissionais, é a reforma a principal
mudança partilhada pela maioria das pessoas que atingem a idade e, que se vêem
retirados da actividade profissional e colocados numa situação de reforma. A reforma
arrasta consigo uma alteração brusca de papéis profissionais formais, determinando o
fim de estes para a maioria dos idosos (Mota, 1995).
Gera-se um processo de adaptação em que as pessoas envelhecem de forma
consistente com o seu estilo de vida anterior e com a resolução das crises passadas. Para
alguns, a adaptação não bem sucedida, podendo daí resultar insatisfação e desespero.
Os idosos vêem-se tendencialmente a perder capacidades ou a ter privações
sucessivas, tais como na saúde, na actividade profissional, com o cônjuge e com o meio
social, que se associa a um sentimento de perda dos meios pessoais para fazer face ao
stress de origem interna, como à angústia, ou ao stress de origem externa, como as
situações de mudança.
Estas circunstâncias causam no idoso fragilidade e uma maior vulnerabilidade
psico-afectiva. (Mota, 1995).
Deste modo, o envelhecimento não deve ser encarado de uma forma negativa, pois
a forma como se manifesta é desigual para cada indivíduo e a forma como se manifesta
poderá estar associada como modo como cada um encara essa mudança (Berger,
1995a).
Petersen e Suzanne Reichards (s/d, citados por Costa, 1998) falam do envelhecimento
psicológico, identificando cinco diferentes tipos de características nos idosos:
A. Construtivos: os idosos construtivos são aqueles idosos que estão bem
integrados a nível pessoal, familiar e social. A vida destes idosos foi envolvida
por estabilidade e responsabilidade, sofrendo poucas tensões. Apresentam uma
personalidade de distinção, de autocontrolo, mas no entanto conscientes das suas
realizações, frustrações e limites. São indivíduos optimistas, que não lamentam o
passado e querem continuar a construir, pretendendo ainda grandes realizações.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
15
B. Dependentes: estes idosos vivem uma vida com padrões acima das suas
responsabilidades. São passivos e optimistas, cautelosos com novas amizades e
pouco ambiciosos. A aposentação proporcionou-lhes a ausência de
responsabilidades e não sentem disposição para qualquer tipo de actividade.
C. Defensivos: são idosos que apresentam um comportamento social muito
reservado. As suas actividades profissionais nunca foram fonte de prazer, mas
sim um caminho para conseguirem atingir um futuro promissor. Adoptam uma
atitude pessimista face à velhice, evitando a reforma e trabalhando arduamente.
D. Hostis: idosos pouco ambiciosos e competentes, revelando constante
sentimento de fracasso. São agressivos, competitivos e preconceituosos,
atribuindo a culpa do seu insucesso aos outros. O envelhecer assusta-os,
criticando os jovens pela sua postura. São pessoas que se agarram arduamente ao
trabalho.
E. Pessimista: são pessoas que vivem em constante conflito e são
constantemente vítimas das circunstâncias. São hostis consigo próprios e não se
interessam pelos outros. Consideram a velhice uma etapa triste da vida, mas
nada realizam para mudar ou construir de novo. Não receiam a morte porque ela
representa a possibilidade de libertar-se dessa vida sem sentido, insatisfatória.
Dias Cordeiro (1987, p.235, citado por Mota, 1995), refere que “a involução é,
pois, pela profunda mudança nos planos corporal, psicológico, familiar e
socioprofissional, bem como pelo esforço que a personalidade terá de despender na
adaptação ás novas condições de vida, um momento de alto risco para o equilíbrio e o
bem-estar psicológico da pessoa”. Isto significa que o envelhecimento psicológico é
considerado um processo complexo que está intimamente relacionado com factores
pessoais, provocando no indivíduo uma readaptação a diferentes níveis.
Para Oliveira (2005), o envelhecimento psicológico dá essencialmente
importância ao estudo de crenças e expectativas da sociedade relacionadas com a
terceira idade.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
16
1.1.3 Envelhecimento Social
Paralelamente às alterações físicas e psicológicas que se ocorrem na terceira idade,
estão associadas as transformações ao nível dos papéis sociais, exigindo a adaptação do
idoso às novas condições de vida (Figueiredo, 2007).
Segundo Fontaine (2000), o envelhecimento social refere-se ao papel, estatuto e
hábitos da pessoa relativamente aos membros da sociedade.
Para Lima e Viegas (1988, citados por Mota, 1995, p.153), ” a concepção do
envelhecimento enquanto fase do processo de desenvolvimento do ciclo vital,
corresponde a uma transformação social que pode conferir ou retirar prestígio aos
indivíduos”.
O envelhecimento social tem a ver com os papéis que são exigidos pela sociedade
na qual o indivíduo está inserido Rossell, et al., (2004) pois diariamente o idoso
confronta-se com os fantasmas do envelhecimento, que o atormentam e se traduzem no
medo da solidão, do desconhecido e da morte (Duarte, 2002).
Esses fantasmas surgem como resultado de ideias pré-concebidas e erradas sobre
a velhice (Papalia & Olds, 2000).
Costa (1998, p.50) cita que “ (…) por mais que o Homem envelheça, por mais que
a sociedade determine sua idade e classifique-o como velho, enquanto viver, ele não
deixará de “ser”, de “existir” como pessoa e de ter direito a um espaço dentro da
sociedade”.
De acordo com Cavan e Vargas (1998, citados por Vieira, 2005) o equilíbrio
social do idoso e o seu ajustamento ambiental depende de quatro factores: um bom
contacto social (não menosprezando o idoso como alguém “acabado” e “inútil”);
ocupação com significado (não ser considerado como inapto pela sociedade e ter
alguma ocupação); ter segurança social (ter apoios financeiros do estado, fundamental
para o seu equilíbrio e adaptação); e um estado de saúde satisfatório (de uma forma
global, tanto física como mentalmente).
Em seguimento e neste contexto de análise, importa referir que a velhice
caracteriza-se pela mudança de papéis e pela perda de alguns deles, tais como a perda
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
17
do seu estatuto profissional, mudança nas relações familiares e nas redes sociais
(Figueiredo, 2007).
Importa referir que o funcionamento físico e cognitivo tem efeitos psicossociais,
que muitas vezes determina o estado emocional do idoso e a sua capacidade de viver
independente (Papalia & Olds, 2000).
1.1.4 Reforma
A reforma marca a entrada na velhice e consequentemente a perda de papéis
sociais activos. Esta mudança de papéis implica a diminuição de recursos económicos, a
diminuição de oportunidade de contactos sociais e um maior tempo livre (Figueiredo,
2007).
Todas estas mudanças despoletadas pela reforma vão permitir ao sujeito uma nova
reformulação de valores, rotinas e objectivos. O grande desafio centra-se em reorganizar
o seu quotidiano, descentrando-se da profissão e centrando-se na vida familiar (Sousa,
et al., 2004).
Deste modo, é cada vez mais o número de reformados que ingressam no mercado
de trabalho remunerado ou arranjam outra ocupação em tempo parcial, o que está
associado ao aumento do tempo de vida autónoma e independente após a reforma
(Sousa, et al., 2004).
Para além dos efeitos económicos da reforma, esta está associada a mudança de
papéis sociais no idoso, o que deste modo é frequente reacções de stress e depressão
(Gall & Szwabo, 2002, citados por Teixeira, 2004).
1.1.5 Relações familiares
Nesta fase de vida também se verificam alterações na estrutura familiar, já que os
filhos adultos, abandonam o lar e exigem outro tipo de atenção e apoio (por exemplo,
cuidar dos netos, ajuda económica/doméstica). Com a saída dos filhos de casa, os pais
enfrentam um novo desafio, entrando numa nova fase do ciclo vital, a família pós-
parental (Figueiredo, 2007).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
18
Deste modo, os filhos que vivem fora do lar paterno, quando adultos e no fim da
vida, constituem o pilar de apoio para os pais (idosos). Este facto deve-se a uma maior
necessidade por parte dos progenitores, que sentem necessidade de apoio e têm mais
tempo disponível, para criar e educar os seus netos (Sousa et al., 2004).
No quotidiano da relação familiar, os avós podem desempenhar múltiplos papéis
como forma de amenizar, proteger e apoiar os membros da família.
Em relação ás relações conjugais, o que acontece é que no fim da vida, o casal
volta a ter a mesma composição: o casal sozinho. Nesta fase a tendência para a
proximidade e dependência entre os membros do casal é uma constante. Nesta etapa, os
objectivos alteram-se, passando o casal a dar mais importância aos cuidados e atenção
mútua (Sousa et al., 2004).
A satisfação conjugal na velhice depende de vários factores, tais como a saúde e
uma relação de dependência entre os cônjuges. A doença e a morte são encaradas como
algo negativo, e que exige uma reestruturação dos padrões de funcionamento. A reacção
emocional perante a morte de um cônjuge, pode incluir sentimentos de revolta, negação,
alivio e culpa, que podem dar lugar a sintomatologia depressiva (Figueiredo, 2007).
Nalgumas circunstâncias, a viuvez pode levar ao desenvolvimento de processos
mórbidos, e, inclusive, à morte (Montorio & Izal, 1999, citados por Figueiredo, 2007).
A viuvez é um factor que se encontra muito associado à solidão, não só porque
inicialmente é sentida mais profundamente, muito mais quando não é mediada pelos
filhos. A diminuição do estado de saúde associada a uma pobre condição física e
problemas psíquicos (por exemplo, depressão), reduzem o bem-estar e qualidade de
vida do idoso, promovendo o isolamento e a dependência (Parente et al., 2006).
1.1.6 Redes sociais
Para muitos idosos a rede social é sinónimo de família, sendo os seus vínculos
constituídos essencialmente por familiares multigeracionais, pois são estas redes
multigeracionais que dão resposta aos idosos. Por outro lado, os idosos também são
portadores de outras redes sociais, onde os familiares existem a par de outro tipo de
vínculo (Figueiredo, 2007).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
19
Existem também idosos que não possuem qualquer tipo de redes sociais pessoais,
ou porque não constituíram família, ou porque nunca tiveram filhos ou irmãos, ou em
resultado de conflitos e afastamentos das relações familiares. Neste caso, as relações
sociais com outro tipo de vínculo são pautadas por amigos, vizinhos e conhecidos
(Figueiredo, 2007).
De um modo geral, com o passar da idade as relações sociais e a troca de apoio
social diminuem. Segundo Carstensen (1992) e a Teoria da Selectividade Sócio
emocional, as pessoas seleccionam as relações nas quais tem maior satisfação e desejo
de investir, pois à medida que as pessoas envelhecem tem tendência a desinvestir nas
relações menos importantes (Carstensen, 1992, citado por Figueiredo, 2007).
Deste modo, o sentimento de solidão surge associado à diminuição das redes
sociais. È um conceito que se encontra fortemente relacionado com o isolamento social
e com o viver só (Sousa et al., 2004): pois a presença de uma vasta rede social não
significa a existência de relações próximas ou a ausência de solidão, viver sozinho não
significa estar sozinho ou sentir solidão, pois nem todos os que vivem sozinhos estão
isolados, embora a maioria dos isolados vivam sós (Figueiredo, 2007).
Para além disso, relacionar solidão e isolamento social com recursos do idoso e
acontecimentos de vida, verifica-se que as pessoas que vivem sós estão mais
vulneráveis a sentir solidão, a solidão e o isolamento são mais comuns nos idosos
(devido à deterioração da saúde) e as mulheres tendem a sentir mais solidão que e
isolamento que os homens (Figueiredo, 2007).
O idoso e a solidão andam frequentemente a par, não só pelas incapacidades que
os acompanham, mas também pelos sentimentos que são desenvolvidos quer pelos seus
próprios preconceitos quer pelas suas próprias atitudes sociais mais comuns para com
este grupo etário (Correia, 1993).
As relações sociais oferecem suporte social, influenciando positivamente o bem-
estar psicológico, refere Ramos (2002), e reduzem o isolamento e aumentam a
satisfação com a vida das pessoas (Carvalho et al., 2004 & Ramos, 2002, citados por
Bones et al., 2006).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
20
Deste modo, o contacto com outras pessoas pode influenciar a ter hábitos
saudáveis, a contribuir para o aumento de um sentido de controlo pessoal, influenciando
positivamente o bem-estar psicológico (Ramos, 2002, citado por Bones et al., 2006). O
suporte social que as redes sociais oferecem, reduz o isolamento e a aumentam a
satisfação com a vida das pessoas (Carvalho et al., 2004, citados por Bones et al., 2006).
2. Qualidade de Vida na 3ª idade: Um constructo multidisciplinar
2.1 Conceito da Qualidade de Vida
O termo QDV surge nos anos 60 anos como objectivo de superar as limitações da
concepção existente, na qual o bem-estar estava relacionado com aspectos económicos.
A QDV de cada época vem definida pelos valores que cada grupo social atribui à forma
de viver. Com a constante evolução da sociedade também as variáveis que definem a
QDV evoluem, dependendo de aspectos culturais, económicos e sociais (Dosil, 2004).
De acordo com Boer (2002), a QDV refere-se ao bem-estar geral quotidiano das
pessoas e pode ser dividido em três componentes principais: saúde física, mental e
social.
Muitos autores definem QDV como sendo o nível de satisfação com a vida, na
qual depende do envolvimento de vários factores, como os hábitos de vida, de
actividade física, da percepção de bem-estar, das condições físicas e ambientais, do
relacionamento familiar e da amizade (Neri, 2001).
Segundo Pimentel (2001), quando se fala em QDV a questão da saúde física é
considerada como uma componente de extrema importância. No entanto, os problemas
físicos acarretam também consequências a nível psicológico, como por exemplo, as
dificuldades na locomoção que podem traduzir-se na perda de autonomia e levam a
situações de auto-estima.
Neste sentido, estes autores revelam os resultados de um estudo relativos a um
Inquérito Nacional de Saúde, realizado entre 95/96 pelo Ministério da Saúde,
abrangendo uma população de 14512 indivíduos da Região Norte onde, destacam o
agravamento progressivo das condições e queixas de saúde com o avançar da idade.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
21
Para Paúl e Fonseca (1999) a saúde dos idosos assume-se uma prioridade.
Hoje em dia, vive-se mais tempo e em melhores condições de saúde, tornando os
idosos, mais vulneráveis a contraírem doenças crónicas de saúde.
Por outro lado, Rue e McCreary (1991) referem os idosos como o grupo
populacional mais frequentador dos serviços de saúde, com elevado número de
internamentos e maiores consumidores de medicamentos, quando comparados com
outros indivíduos (Dean & Holstein, 1991, Rue & McCreary, 1991, citados por Santos
& Trindade, 1997).
O conceito QDV é uma das dimensões da vida humana, que todos os indivíduos
desejam desde a sua nascença até á morte. È definida como as reacções avaliativas de
uma pessoa à sua vida, em termos de satisfação ou de efeito negativo (Weinberg &
Gould, 2001).
Ballesteros (1994, citado por Vieira, 2003), descreve QDV como um sentimento
de bem-estar pessoal, mas associado a determinados indicadores objectivos,
nomeadamente biomédicos, psicológicos e sociais.
Segundo Neri (2001), a QDV também pode ser dividida segundo duas dimensões:
a dimensão objectiva e a dimensão subjectiva.
A dimensão objectiva pode ser verificada por observadores externos, mediante
parâmetros conhecidos e replicáveis (por exemplo, as condições físicas do ambiente,
lazer e educação, as características da rede informal e as competências comportamentais
do indivíduo).
A dimensão subjectiva pode ser verificada de maneira indirecta, com base numa
relação dos indivíduos sobre as condições objectivas de que dispões, sobre o grau em
que lhes parecem satisfatórias e sobre os seus efeitos no bem-estar individual e
colectivo.
Segundo Boer (2002), o termo bem-estar surge relacionado com o conceito QDV,
no entanto de acordo com a literatura, o bem-estar está associado ao estado de saúde e
tem uma forte conotação física, enquanto que a QDV, como já foi dito anteriormente,
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
22
está associada a uma vertente mais subjectiva, tendo em conta a opinião que cada
individuo tem em relação à satisfação com a sua vida.
Avaliar a QDV do idoso implica a adopção de múltiplos critérios de natureza
biológica, psicológica e sócio-estrutural, pois vários elementos são apontados como
determinantes do bem-estar na 3ª idade: longevidade, saúde biológica, saúde mental,
satisfação, controle cognitivo, competência social, produtividade, actividade, eficácia
cognitiva, status social, suporte económico, continuidade de papéis familiares,
ocupacionais e continuidade de relações informais com os amigos (Pereira, 2002)
Assim, QDV dever ser conceptualizada como um constructo multidimensional,
que inclui dimensões subjectivas (percepções da pessoa) e/ou objectivas (componentes
externos observáveis) (McIntyre, Barroso & Lourenço, 2002).
Segundo Ribeiro (1997, p.260), para intervir na promoção da QDV temos de
considerar alguns pressupostos subjacentes ao próprio conceito de QDV, como sendo:
a) A QDV não é ausência de doença;
b) A QDV manifesta-se ao nível do bem-estar e da funcionalidade;
c) A QDV define-se por uma configuração de bem-estar que é uma dimensão
auto-percebida;
d) A QDV abrange aspectos físicos, mentais, sociais e ambientais;
e) A QDV é um processo dinâmico.
Assim, o termo QDV é uma das dimensões da vida humana em que o indivíduo
procura activamente uma vida saudável, desenvolvida à luz do bem-estar ou satisfação,
reflectindo a função física, mental, intelectual de cada indivíduo, o que o habilita a
participar nas actividades (Anderson et al., 1998, citados por Henriques & Sá, 2007).
Trata-se portanto de um conceito multidimensional, bipolar complexo e mútavel.
È multidimensional porque inclui pelo menos três dimensões: a física, a psicológica e a
social. No entanto outras dimensões podem ser acrescentadas, o WHOQOL inclui uma
dimensão espiritual (a percepção da pessoa sobre o significado da sua vida, ou sobre as
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
23
crenças pessoais que estruturam e qualificam a sua experiência existencial) (Paschoal,
2000 citado por Paschoal, 2004).
Em relação à bipolaridade, considera-se que o construto possui dimensões
positivas e negativas que se podem aplicar a diferentes situações, tais como o
desempenho de papéis sociais, a mobilidade, a autonomia, a dor, a fadiga e a
dependência. Outras características que podem ser acrescentadas são a complexidade e
mutabilidade, pois ser multidimensional, bipolar e subjectivo o conceito torna-se difícil
de avaliar (Paschoal, 2000 citado por Paschoal, 2004).
Segundo a OMS (1998) ter QDV não é ter ausência de doença, mas também se
revelam importantes factores como a longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer,
relações familiares, disposição, prazer e espiritualidade.
Deste modo e dada a versatilidade e subjectividade do conceito, podemos concluir
que ter QDV é proporcionar um conjunto de condições, para que os indivíduos possam
desenvolver ao máximo as suas potencialidades, vivendo, sentindo, trabalhando e
produzindo (Santos et al., 2002).
2.2 Envelhecimento e Qualidade de Vida
Biologicamente, o envelhecimento compreende os processos de transformação do
organismo que ocorrem após a maturação sexual e que implicam a diminuição gradual
da probabilidade de sobrevivência. Esses processos são resultantes da interacção, pois
iniciam-se em diferentes épocas e ritmos e apresentam resultados diversos para as
diferentes partes e funções do organismo (Neri, 2001).
O envelhecimento e o desenvolvimento são aceites pela psicologia como eventos
correspondentes, pois tanto um como o outro são processos adaptativos presentes ao
longo de todo o curso da vida, em que há oposição entre ganhos e perdas (Conte &
Lopes, 2005).
O envelhecimento bem-sucedido é influenciado pelas oportunidades educacionais
e sociais, pela saúde física e mental e pelo estilo de vida, variáveis que exercem papel
importante na determinação e no ritmo do envelhecimento. As capacidades intelectuais
básicas podem manter-se desde que as condições biológicas e intelectuais permaneçam.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
24
As especialidades cognitivas do domínio profissional, da vida diária e da sabedoria em
relação às questões existenciais crescem. A personalidade conserva sua estrutura e seus
mecanismos de auto-regulação na velhice e são mantidos desde que a integridade do
organismo e a interacção social estejam presentes (Neri, 2001).
Um envelhecimento saudável do ponto de vista biológico, psicológico e social
inclui as experiências e as influências histórico sociais ocorridas ao longo da vida (Neri,
2001).
Com o aumento da idade, além de todas as transformações observadas, o tempo
gasto com actividades físicas também vai sendo reduzido, o que pode causar dores e
desconforto físico, redução da mobilidade e, até mesmo, a dependência física, in-
fluenciando negativamente na qualidade de vida e tirando muitas vezes das pessoas
idosas o que lhes restou de autonomia e independência (Conte & Lopes, 2005).
A preocupação com a QDV e o estilo de vida das pessoas em todas as faixas
etárias, sobretudo nos idosos, cresceu em importância no final do século passado e
início do novo milénio e está associada a factores como o estilo de vida, a satisfação no
trabalho, as relações familiares, a disposição, a espiritualidade, a dignidade, as relações
familiares, o bem-estar físico, psicológico, social e cognitivo (Shephard, 1997; Silva,
1999; Gubiane, 2000, citados por Conte & Lopes, 2005).
Tendo em conta a inexistência de investigações na área da QDV e devido à
escassez de modelos teóricos nesta área, Meneses (2005) considera que a maior parte
das investigações são feitas sem qualquer consenso entre os modelos.
De acordo com o estudo em questão, falaremos do modelo de Lawton e o modelo
Shumaker, Anderson e Czajkowski (1990, citados por Meneses, 2005).
O modelo de Lawton (1991, citado por Neri, 2001) sobre a qualidade de vida na 3ª
é um modelo que desenvolve algumas das dimensões conceptuais da QDV, sendo elas:
a competência comportamental, condições ambientais, qualidade de vida percebida e
bem-estar subjectivo (Figura 1).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
25
Figura 1: Modelo da Qualidade de Vida na Velhice (Lawton, 1991, citado por Neri, 2001, p. 64)
A competência comportamental representa a avaliação sócio-normativa do
funcionamento do indivíduo, no que respeita à saúde, funcionalidade física, cognição,
comportamento perante a sociedade e utilização do tempo.
As condições ambientais dizem respeito à adaptação e compatibilidade do idoso
ao meio ambiente, de modo a que o idoso se sinta bem no local em que se encontra
inserido.
A QDV percebida diz respeito à percepção da saúde, doenças relatadas, consumo
relatado de medicamentos, dor e desconforto, alterações percebidas na cognição e auto-
eficácia nos domínios físico e cognitivo.
O bem-estar subjectivo refere-se ao domínio das percepções, das expectativas, dos
sentimentos e dos valores (Neri, 2001).
A QDV é influenciada pelo estilo de vida de cada um, e um estilo de vida saudável
inclui a actividade física regular, considerada uma componente importante. São
incluídos, ainda, bons hábitos alimentares, sono adequado, controle de peso e baixo
consumo de álcool e de tabaco (Sharkey, 2001, citado por Conte & Lopes, 2005).
Essa constatação é reforçada por evidências científicas de que a actividade física
regular pode trazer benefícios para a saúde física e mental (Pate, 1995, citado por Conte
& Lopes, 2005).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
26
O baixo nível de actividade física habitual e outras características do estilo de vida
influenciam no risco de doenças crónicas e de morte prematura. Mudanças na maneira
de viver e a adopção de um estilo de vida mais activo promovem melhor saúde e
longevidade (Paffembarger & Lee, 1996, citados por Conte & Lopes, 2005).
Nesse sentido, o modelo de Lawton (1991) contempla os domínios (físico, social,
psicológico e ambiental) da qualidade de vida apresentados pelo grupo WHOQOL
(2000).
O domínio físico diz respeito à funcionalidade física e da saúde. Os seus
subdomínios são dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade,
actividade da vida quotidiana, dependência de medicação, ou de tratamentos, e
capacidade de trabalho.
A capacidade funcional é um importante elemento do domínio físico, definida
como sendo a condição de um indivíduo realizar as actividades associadas ao seu bem-
estar. Pode, também, ser definida como o grau de facilidade com que um indivíduo
pensa, sente, age ou se comporta em relação ao seu ambiente e ao gasto de energia.
O domínio psicológico refere-se às emoções (positivas e negativas), à auto-estima,
à imagem corporal, à capacidade de pensar e aprender, à espiritualidade e às crenças
pessoais.
O domínio social envolve as relações pessoais com a família e amigos e o suporte
social que compreende o apoio que recebe a partir destas relações pessoais. O domínio
ambiental refere-se à segurança física e protecção, ambiente no lar, recursos financeiros,
cuidados de saúde, participação e oportunidades de recreação e lazer, ambiente físico e
transporte (WHOQOL, 2000).
Outro modelo explicativo da QDV de Shumaker, Anderson e Czajkowski (1990,
citados por Meneses, 2005) em que sugerem que a qualidade de vida é influenciada por
vários factores, e que, por isso, é fundamental fazer a distinção conceptual entre esses
factores moderadores e qualidade de vida.
Os factores moderadores estão divididos em três categorias (Shumaker et al.,
1990, citados por Meneses, 2005):
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
27
1. Contextual (por exemplo, factores socioculturais, estrutura económica, entre
outros);
2. Interpessoal (por exemplo, apoio social e stress);
3. Intrapessoal (por exemplo, saúde física, sintomas e competências de coping).
Assim, segundo Santos, Fernandes e Henriques (2002), avaliar a QDV indica a
adopção de múltiplos critérios de ordem biológica, psicológica e sociocultural, dado que
existem vários indicadores de bem-estar na terceira idade, das quais se destacam a
longevidade, saúde biológica, saúde mental, satisfação, controlo cognitivo, competência
social, produtividade, actividade, eficácia cognitiva, status social, continuidade de
papéis familiares e continuidade das relações informais.
Apesar destes indicadores, é importante o ambiente onde o indivíduo está inserido,
uma vez que “só a partir de uma análise transaccional da unidade ecológica
pessoa/ambiente podemos compreender o bem-estar subjectivo dos idosos, sendo que
cada cenário dita de forma única a experiência de envelhecimento” (Sequeira & Silva,
2002, p.506).
Deste modo, algumas das condições psicossociais que justificam uma fraca QDV
no idoso, inclui as perdas (luto), a pouca satisfação com a vida, as preocupações
económicas, o isolamento social e a solidão (Gall & Szwabo, 2002, citados por
Teixeira, 2004).
Um estudo realizado em Portugal, por Paúl e Fonseca (2005), com o objectivo de
avaliar a condição psicossocial de idosos rurais, permitiu que:
- A QDV física varia com as actividades da vida diária, favorecendo o seu
desempenho;
- A QDV psicológica varia com as variáveis sócio-demográficas, com o género,
com o estado civil, com o nível de escolaridade, com o rendimento e com o nível sócio-
económico. Os homens são favorecidos; quanto ao estado civil, os casados são os
privilegiados; em relação ao nível de educação e rendimento, estão favorecidos os mais
instruídos e com um nível socio-económico mais elevado;
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
28
- Os mesmos autores realizaram, ainda, uma outra investigação onde se
propuseram avaliar a satisfação e a QDV em idosos portugueses. O que puderam
concluir, foi que os idosos rurais revelam um nível de autonomia mais elevado do que
os idosos urbanos. Concluíram, também, que os idosos urbanos apresentam atitudes
mais negativas face ao envelhecimento.
Um outro estudo realizado por Botelho (2005) sobre a funcionalidade dos idosos,
revela que a maior parte dos idosos é independente em locomoção e não apresentam
estados de demência, metade dos idosos apresenta um estado de nutrição dentro da
normalidade, embora se verifique uma tendência para o aumento de peso. Cerca de
metade dos idosos usufruem de acompanhamento social e são autónomos na realização
de actividades instrumentais.
Por último, num estudo realizado por Sousa, Galante e Figueiredo (2003), as
autoras concluíram que a maioria dos idosos revelam percepções positivas em relação à
QDV e bem-estar. Concluíram, igualmente, que a dependência aumenta com a idade e
que as mulheres apresentam valores de incapacidade superior aos homens, concluindo
ainda que muitos idosos alcançam um envelhecimento bem-sucedido.
Deste modo, a saúde continua a estar intimamente ligada com o conceito QDV, na
perspectiva de Paúl e Fonseca (2005), particularmente no idoso.
Portanto, é importante promover a qualidade de vida, verificando até que ponto os
cuidados prestados influenciam esta variável.
Foram realizados alguns estudos com o objectivo de se definir quais as
dimensões que deveriam ser incluídas nas investigações da QDV.
Young (2001) apresenta o resultado de um estudo feito no Canadá em que
identificou as áreas consideradas pelos idosos como condicionadoras de QDV:
independência, saúde, abuso de idosos, mobilidade, transportes, educação, informação,
isolamento, solidão, cuidados domésticos, segurança e vida activa.
A OMS (1993, citado por Teixeira, 2004) construiu um instrumento, World
Health Organization Quality of Life Assessement Instrument (WHOQOL), que permitia
uma avaliação transcultural da QDV que inclui os seguintes domínios: o domínio físico
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
29
(dor, energia e fadiga, actividade sexual, sono, descanso e funções sensoriais óptimas);
domínio psicológico (sentimentos positivos, pensamentos, aprendizagem, memória e
concentração, auto-estima, imagem e aparência corporal e sentimentos negativos); nível
de dependência (mobilidade, actividades da vida diária, dependência da medicação ou
tratamentos, dependência de substâncias não alcoólicas, capacidade de comunicação,
capacidade de trabalho, relações pessoais, apoio social); ambiente (segurança física,
satisfação no trabalho, disponibilidade e qualidade dos serviços sociais e de saúde,
oportunidades para adquirir novas informações e destrezas, disponibilidade e
participação em actividades de ócio, ambiente físico e transporte); Espiritualidade,
religião e crenças pessoais.
Apesar de se tratar de um instrumento utilizado na avaliação da QDV, o
WHOQOL apresenta algumas limitações, no que se refere à sua tradução para a língua
portuguesa, uma vez que se encontra igualmente traduzido na língua brasileira, e neste
sentido, algumas das questões que este instrumento coloca podem ser mal entendidas
pelos sujeitos e gerar respostas erradas.
2.3 Solidão e Envelhecimento
2.3.1 Conceito de solidão
A solidão é um constructo muito complexo e subjectivo, que facilmente se
confunde com isolamento, abandono, clausura, entre outros. Todavia, é muito difícil
defini-la, pois trata-se de um fenómeno complexo e amplo muito frequente na
população, existindo diversas abordagens teóricas e metodológicas que se debruçam
sobre este tema.
Segundo Neto (2000), a solidão constitui um lado perturbante da atracção.
Afirma, ainda, que se trata de uma experiência dolorosa pela qual se passa quando as
relações sociais não são adequadas.
Neto (2000) refere que vários autores têm tentado definir solidão. No entanto,
salienta que este conceito tem um carácter intuitivo para a maior parte das pessoas, isto
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
30
é, cada pessoa analisa o seu estado de solidão tendo em conta a situação em que se
encontra exposta, pois para muitos o termo solidão significa estar só.
Pepleau e Perman (1982, citados por Neto, 2000) consideram três aspectos: a
solidão como uma experiência subjectiva que pode não estar relacionada com o
isolamento objectivo; esta experiência subjectiva é psicologicamente desagradável para
o indivíduo; a solidão resulta de uma forma de relacionamento deficiente.
Num estudo sociológico da solidão, Ussel (2001) considera que tem de se ter em
conta que o trabalho e a família são os dois eixos principais que estruturam e definem a
existência humana. Assim sendo, qualquer alteração que ocorra nestes dois eixos é
susceptível do aparecimento de diversos problemas, quer de âmbito instrumental ou
emocional, entre os quais se inclui o sentimento subjectivo de solidão.
Segundo Neto (2000, p. 322), a solidão….”É uma experiência comum e é um
sentimento penoso que se tem quando há discrepância entre o tipo de relações sociais
que desejamos e o tipo de relações sociais que temos”.
O mesmo autor cita as seguintes definições:
Sullivan (1953, p. 322): “ A solidão…é a experiência excessivamente
desagradável e motriz ligada a uma descarga desadequada da necessidade de intimidade
humana, de intimidade interpessoal”.
Lopata (1969, p. 322), diz que “a solidão é um sentimento sentido por uma
pessoa… (experenciando) um desejo por uma forma ou um nível de interacção diferente
do que se experencia no presente”.
Weisss (1973, p. 322), define que a “solidão é causada não por se estar só, mas por
se estar sem alguma relação precisa de que se sente a necessidade ou conjunto de
relações”.
Perlman e Peplau (1981, p. 323), definiram o termo solidão como “ uma
experiência desagradável que ocorre quando a rede de relações sociais de uma pessoa é
diferente nalgum aspecto importante, quer qualitativa, quer quantitativamente”.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
31
Young (1982, p. 323), define solidão “como a ausência percepcionada de relações
sociais satisfatórias, acompanhadas de sintomas de mal-estar psicológico que estão
relacionados com a ausência actual ou percepcionada …Proponho que as relações
sociais possam ser tratadas como uma classe particular de reforço… Por isso, a solidão
pode ser vista como uma resposta à ausência de reforços sociais importantes.”
Roock (1984, p. 323), diz que a solidão é “uma condição estável de mal-estar
emocional que surge quando a pessoa se afastada, incompreendida, ou rejeitada pelas
outras pessoas e/ou lhe foram parceiros sociais apropriados para as actividades
desejadas, em particular actividades que lhe propiciam uma fonte de integração social e
oportunidades para intimidade emocional”.
Segundo Neto (2000), a solidão pode ser encarada enquanto traço de
personalidade, sendo as pessoas solitárias as que referem história de sentimentos
frequentes e intensos de solidão. Pode também encarar-se enquanto um estado
psicológico em que as pessoas experenciam solidão durante diferentes períodos de
tempo em diferentes momentos da sua vida. È de referir que o indivíduo pode ter
momentos de solidão ou ter uma experiência com a solidão, ou ainda, pode ser uma
pessoa só ou sentir-se sozinha.
De acordo com um estudo realizado por Russell e colaboradores (1984, citados
por Neto, 2000, p.325), “ as medidas de solidão social e emocional estão ligadas,
respectivamente, à falta de amizade e de relações intimas e que a solidão social e
emocional partilhavam um núcleo comum de mal-estar, mas tinham também elementos
únicos de experiência subjectiva.”
Numa perspectiva global, pode-se afirmar que a solidão representa, actualmente,
um dos problemas mais frequentes da nossa sociedade, resultante do conceito de vida da
sociedade moderna que tende a valorizar tudo o que é material, secundarizando a função
afectiva.
Rubenstein e Shaver (1982, citados por Neto, 2000), através de um inquérito
realizado à população em geral, verificaram que a solidão é uma experiência que pode
estar associada a sentimentos como, o desespero, depressão, aborrecimento, impaciência
e auto-depreciação. Esses diferentes sentimentos podem ser observados no quadro
abaixo.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
32
Quadro 1: Sentimentos associados à solidão (Neto, 2000)
DESESPERO DEPRESSÃO ABORRECIMENTO IMPACIENTE
AUTO-DEPRECIAÇÃO
Desesperado Triste Impaciente Pouco atractivo Aterrorizado Deprimido Aborrecido Severo consigo Desamparado Vazio Desejo de estar noutro
local Estúpido
Assustado Isolado Inquieto Envergonhado Sem esperança Pesaroso Zangado Inseguro Abandonado Melancólico Incapaz de se
concentrar
Vulnerável Alienado
Deste modo, a solidão pode estar associada a uma baixa auto-estima. As pessoas
solitárias são pessoas com uma visão pessimista delas própria e das outras pessoas.
São tímidas e sem assertividade, não respondentes e insensíveis nas interacções
sociais. A solidão estaria associada à falta de assertividade, sociabilidade inibida e à
timidez (Neto, 1992).
Neto (1992) afirma que uma pessoa que se sente sozinha experiencia angústia,
insatisfação e exclusão.
Segundo dados do INE (2001), em Portugal, 19% dos idosos vivem sós.
Segundo Walker (1996, citado por Ussel, 2001), entre 10 a 14% dos idosos
confessa sentir solidão, enquanto uma percentagem um pouco mais elevada, cerca de
um terço da população idosa, declara sentir solidão de forma ocasional.
Um estudo realizado pela Marktest e tendo por base os últimos dados do Instituto
Nacional de Estatística (INE) referentes a 2006, tinha por objectivo verificar qual a
situação dos idosos a residirem em Portugal. Como primeira conclusão, verifica-se que
43,4% dos inquiridos entende que é hoje pior do que era há cinco anos atrás. Só 25,7%
responderam que a situação melhorou e 24,6% acha que se manteve inalterada.
As questões económicas e a solidão são os dois problemas identificados como os mais
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
33
graves para a população mais idosa. Para 35,8% dos inquiridos as questões económicas
são as mais relevantes, enquanto que para 26,4% a solidão é mais preocupante.
Para 27,1% do total das pessoas que participaram na sondagem os problemas, que
apresentaram como mais relevantes foram as questões relacionadas com a assistência
médica e a falta de equipamentos de apoio para a terceira idade.
O estudo tentava também identificar possíveis soluções para os problemas dos
idosos, pedindo sugestões aos inquiridos. A resposta mais consensual foi,
previsivelmente, a de um aumento das reformas, resposta dada por 39,6% dos
entrevistados.
A criação de mais apoios à família para manterem os idosos em suas casas e, por
outro lado (quase na sua antítese), a criação de lares de terceira idade foram as outras
sugestões (25,3% e 24,4%, respectivamente).
As outras hipóteses passavam pela criação de apoios domiciliários, de mais
centros de dia e que os medicamentos prescritos para a população idosa deveriam ser
grátis (11% das respostas) (Alves & Soares, 2007).
Alguns estudos referidos por Larson (1990, citado por Melo, 2001), mostram a
relação entre a quantidade de tempo passado só e a adaptação. Estas descobertas
sugerem que alguma quantidade de tempo passado só está relacionada com uma melhor
adaptação social.
No quotidiano, o isolamento é encarado como uma situação que se desencadeia
quando os pensamentos, sentimentos e acções estão menos sujeitas aos modelos de
ordem social. O isolamento representa uma separação relativamente às actividades
interpessoais, tais como: falar, partilhar e amar. Em todos os períodos da vida, esta
separação é acompanhada por um sentimento de solidão e aborrecimento. Com o passar
dos anos, as pessoas sentem-se menos sós, na medida em que terão mais oportunidades
de reconciliar as realidades íntimas e públicas construindo um “eu” capaz de
permanecer afastado do real social imediato. Existe na nossa cultura o estereótipo de
que as pessoas idosas são pessoas solitárias, e a tendência geral é para a solidão
diminuir com a idade, uma vez que a idade proporciona maiores habilidades sociais e
expectativas mais realistas acerca das relações sociais (Neto, 2000).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
34
Muitas vezes, a solidão ocorre associada a transições de vida significativas e serve
como meio para a busca e para a descoberta dum novo relacionamento com os outros na
sociedade (Larson, 1990, citado por Melo, 2001).
A solidão é um sentimento que é determinado pelas expectativas individuais em
relação aos contactos sociais.
Segundo Berger (1995, p.387), a “solidão é uma experiência excessivamente
penosa que se liga a uma necessidade de intimidade não satisfeita, consecutiva a
relações sociais sentidas como insuficientes ou não satisfatórias”.
Num estudo realizado por Emídio e colaboradores (1989, citados por Monteiro &
Neto, 2006), relatam os resultados obtidos um estudo sobre a solidão da população
portuguesa, referindo que os idosos são o grupo mais vulnerável, não só pelas perdas,
mas também pelas dificuldades nos contactos sociais devido a doenças físicas, pelas
privações inerentes à falta de recursos económicos e pela perda de amigos ou familiares
que morrem ou vão viver para outros locais. Estes resultados permitem inferir que o
grau de solidão experenciado pelos sujeitos pode ser influenciado pela sua idade.
Mcnis e White (2001, citados por Fernandes, 2007) realizaram um estudo com 20
indivíduos com idades superiores a 75 anos, encontrando cinco grandes temáticas que
descrevem a experiência de solidão.
Assim, referem que:
- A solidão acontece quando os idosos experenciam a perda ou ausência de um
relacionamento próximo como resultado da morte ou separação;
- A solidão acontece quando se vivência um estado de dor, e desolação
acompanhada da percepção do fim de um relacionamento amoroso;
-A solidão é evitada ou ilimitada usando estratégias de coping, que podem ou não
resultar em mecanismos compensatórios;
- A solidão acontece quando o indivíduo se apercebe de seu estado de dependência
ou a sua aproximação, e o decréscimo das capacidades funcionais;
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
35
- A solidão é um estado de sofrimento silencioso onde a pessoa está relutante ou
incapaz de verbalizar a sua própria solidão.
Savikko e colaboradores (2005, citados por Fernandes, 2007), em 2002 na
Finlândia realizaram um estudo com 3915 indivíduos idosos, com idade igual ou
superior a 75 anos, com o objectivo de observar a prevalência e as atribuições causais da
solidão. Os dados demonstraram que 39% da amostra reportava sentimentos de solidão,
sendo que 5 % sofria de solidão sempre ou quase sempre e que esta sensação subjectiva
de solidão era sentida mais intensamente entre os idosos mais velhos que viviam em
zonas rurais do que os que viviam em meios urbanos. Verificou-se, ainda, que os
factores que potenciam a solidão foram o declínio físico a nível funcional, a viuvez e os
baixos rendimentos. As causas subjectivas mais comuns que podem estar na origem da
solidão são a doença, a morte do companheiro e a falta de amigos. Pode-se ainda
concluir deste estudo que as mulheres sofrem mais de solidão do que os homens, não só
porque estas exteriorizam mais os seus sentimentos, como também a sua esperança de
vida é mais elevada o que as predispõe mais à viuvez e a outras perdas. Em resumo,
neste estudo o autor afirma que a solidão pode estar ligada a acontecimentos de vida
naturais (como a viuvez) e a factores ligados ao envelhecimento (diminuição da saúde e
capacidade funcional, por exemplo). Por outro lado, pode também estar associado a
mudanças sociais como a diminuição de rendimentos e o isolamento social.
Quando falamos em solidão, importa referir que as relações entre a solidão,
isolamento e viver sozinho são complexas, não só por estes conceitos se relacionarem,
mas também porque são sinónimos, isto é, a existência de uma vasta rede social não
implica e existência de uma relação próxima ou ausência de solidão; viver sozinho não é
sinónimo de estar sozinho nem de solidão, isto é, nem todos os que vivem sozinhos
estão isolados, mas a maior parte dos isolados vivem sós (Sousa et al., 2004).
Victor et al. (2000, citados por Sousa et al., 2004) através do modelo de relações
entre recursos, acontecimentos de vida e solidão/isolamento social verifica a influência
de vários factores sócio-demográficos: as pessoas que vivem sós estão mais sujeitas à
solidão; solidão e isolamento são comuns nos idosos (não só pela idade, mas também
por factores que lhe estão associados, como a deterioração da saúde); as mulheres são
mais propensas a sentir solidão e isolamento. Por outro lado, as redes sociais e pessoais
são mais protectoras, fomentando as relações de amizade próximas ao invés das
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
36
relações familiares (por exemplo, a falta do cônjuge e dos filhos) pode levar a um maior
isolamento, e as amizades íntimas podem ocupar o lugar da família.
No que se refere a acontecimentos de vida, a viuvez é um factor muito associado á
solidão. A solidão é mais profunda nos momentos iniciais. A perda de papéis
importantes também aumenta os níveis de isolamento e solidão. O baixo estado de
saúde, a má condição física e a depressão fortalecem a solidão e o isolamento.
2.3.2 Factores associados à solidão
♦ Idade
Relativamente à idade existe na nossa cultura o estereótipo que as pessoas idosas
são pessoas solitárias (Neto, 1992). Mas, segundo alguns autores, a solidão pode ocorrer
desde cedo (Rubin, 1982, citado por Neto, 1992), podendo ocorrer na infância (Ellison,
1978 citado por Neto, 1992), em crianças com sete e oito anos de idade (Asher et al.,
1984; Asher & Wheeler, 1985, citados por Neto, 1992). Segundo investigações
recentes, a tendência geral que se encontra é para a solidão diminuir com a idade,
obtendo contrariamente, as pessoas idosas pontuações mais baixas de solidão (Neto,
2000). No entanto, esta constatação não significa que pessoas em idades muito
avançadas não sintam solidão, mas talvez porque os jovens necessitem de falar mais dos
seus sentimentos (Neto, 1992), pois encontram muitas transições sociais, tais como
deixar a casa dos pais, entrada na faculdade e a procura do primeiro emprego. À medida
que a idade avança, a vida social das pessoas tem tendência a tornar-se mais estável,
acarretando a idade maiores habilidades sociais (Neto, 2000).
♦ Género
É frequentemente assumido do ponto de vista do senso comum que as mulheres,
comparativamente aos homens, são mais emotivas e, consequentemente, com maior
tendência para reacções emocionais negativas.
Contudo, estudos efectuados sobre solidão não são concludentes com as diferenças
de género na solidão. Tendencialmente, os estudos que utilizam a Escala de Solidão da
UCLA (University of Califórnia at los Angeles) não encontraram diferenças nos scores
de solidão segundo os sexos (Neto, 1992), sendo que esta escala não questiona
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
37
directamente os indivíduos sobre se sentem sós, mas procura avaliar a solidão
indirectamente.
Quando se recorre à avaliação directa, o sexo feminino tende a assinalar mais
frequentemente a solidão que os homens. A reticência dos homens em assinalarem a
solidão directamente está em consonância com os estereótipos sexuais. Segundo os
quais não se espera que os homens exprimam as suas fraquezas emocionais (Neto,
1992).
♦Estado civil
Segundo Weiss (1982, citado por Neto, 1992) as pessoas que não estão casadas
sofrem mais de solidão do que as casadas. Para além disso parece que, a solidão nas
mulheres não casadas era maior nas pessoas viúvas e divorciadas que nas solteiras.
A solidão parece, pois, ser determinada mais pela perda de uma relação conjugal
que pela sua ausência (Neto, 2000). Nos casais, as mulheres apresentam mais solidão,
no entanto, quando se verifica uma ruptura na relação, ou por separação, ou por morte
ou por divórcio, os homens apresentam-se mais sós.
Relativamente a outras características, segundo Weiss (1982, citado por Neto,
2000), a solidão é mais comum entre as pessoas pobres do que entre as ricas. Boas
relações podem manter-se mais facilmente quando as pessoas têm tempo e dinheiro para
actividades de lazer. Não aparecem diferenças na solidão entre pessoas que residam em
zonas rurais e as que residiam em zonas urbanas.
2.3.4 Diferentes tipos de solidão
Face à não uniformidade em relação à leitura que se possa fazer da solidão, várias
tipologias para definir diferentes formas de solidão têm surgido.
Deste modo, Moustakas (1961, citado por Neto, 2000, p.324), foi o primeiro a
avançar com o primeiro factor de classificação, procedendo à distinção entre ansiedade
solidão e ansiedade existencial. Segundo este autor, a primeira é aversiva e resulta de
uma alienação básica entre o homem e homem, ao passo que a solidão existencial faz
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
38
parte integrante da existência humana, implicando momentos de auto-confrontação e
proporcionando o auto-crescimento.
Shaver e colaboradores (1985, citados por Neto, 2000, p.324), diferenciam a
solidão enquanto traço da solidão enquanto estado. A solidão pode ser encarada
enquanto traço de personalidade, sendo as pessoas solitárias as que referem uma longa
história de sentimentos frequentes e intensos de solidão. Pode também encarar-se
enquanto estado psicológico em que as pessoas experenciam solidão durante diferentes
lapsos de tempo em diferentes momentos da sua existência. O indivíduo pode ter uma
curta experiência de solidão ou pode ser uma pessoa só.
Weiss (1973, citado por Neto, 2000, p.324) apresenta um terceiro factor de
classificação, distinguindo a solidão social, em que uma pessoa se sente insatisfeita
devido à falta de apoio das redes sociais de amigos e de pessoas conhecidas, da solidão
emocional em que se está insatisfeito e só por causa de uma relação pessoal, íntima.
Segundo este mesmo autor, não é possível aliviar uma forma de solidão substituindo-a
por outra forma de relação. Por exemplo, se um casal acaba de emigrar para um novo
país onde não conhece ninguém, passará pela experiência de solidão social, mesmo se
no casal houver uma mútua relação íntima. Do mesmo modo, uma pessoa pode ter uma
extensa rede social, mas sentir-se só porque não tem uma relação amorosa.
Um estudo desenvolvido por Russel e colaboradores (1984, citados por Neto,
1992, p.18) demonstrou que a “solidão social e a solidão emocional se associam
respectivamente à falta de amizade e de relações íntimas. Estes dois tipos de solidão
provocam “mal-estar” no indivíduo, mas são o resultado de experiências subjectivas
diferentes”.
Outras características:
Weiss (1982, citado por Neto, 1992) verificou que a solidão é mais frequente nas
pessoas pobres do que nas pessoas ricas, sendo o estatuto social elevado, quer para
homens quer para mulheres, um factor responsável pela diminuição de se sofrer de
solidão (Peplau & Perlman, 1982, citados por Neto, 1992).
Noutros estudos (Cutrona, 1982, citado por Neto, 1992) verificou-se que
indivíduos de raça negra e outras minorias étnicas, apresentavam maior solidão.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
39
No entanto num inquérito de Rubenstein e Shaver (1982, citados por Neto, 1992),
verificaram que determinadas características sócio-demográficas não se relacionam com
a solidão. Não se verificaram diferenças na solidão em pessoas que residiam em zonas
rurais em zonas urbanas.
Neto e Barros (1992), num estudo realizado a professores, puderam concluir que
os professores que têm mais tempo de serviço e que se encontram na conclusão da sua
carreira profissional sentem-se mais sós.
3. Solidão, Qualidade de Vida e Envelhecimento
Torna-se cada vez mais importante estudar o fenómeno do envelhecimento, uma
vez que entre 2020 e 2025, os idosos podem vir atingir cerca de 18% da população,
enquanto que a população jovem rondará os 16% e este aumento tem consequências a
vários níveis da sociedade, nomeadamente no plano económico, social, médico e
psicológico (Oliveira, 2005).
O aumento da esperança média de vida tem implicações para a QDV, podendo
trazer consequências nas dimensões da vida humana, física, psíquica e social. A
longevidade cada vez maior no ser humano acarreta uma situação de ambiguidade, o
desejo de viver cada vez mais e ao mesmo tempo o medo de viver num meio de
dependência e incapacidade. O aumento da idade aumenta a ocorrência de doenças,
assim como declínio funcional, aumento da dependência, perda de autonomia
isolamento e depressão. No entanto se os indivíduos envelhecerem com autonomia, com
boa saúde física e desempenhando papéis sociais activamente, estão de certo modo a
promover e a proporcionar QDV (Paschoal, 2000 citado por Paschoal, 2004).
Para se envelhecer com qualidade é necessário ser criativo, respondendo às
pressões do ambiente e mobilizando os recursos adequados para a promoção de um
envelhecer saudável. Enquanto as competências físicas estão intactas o bem-estar e a
QDV é considerável, mas quando a saúde diminui o nível de QDV também diminui.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
40
A QDV nos idosos não depende apenas do passado, mas sim do presente e de um
futuro mesmo sendo limitado. A QDV na velhice está associada à ausência de doença, o
suporte social e o bom funcionamento cognitivo e físico (Hortelão, 2004).
No entanto torna-se difícil definir QDV nesta faixa etária, porque existem diversas
formas de ser velho e diferentes padrões de envelhecimento. À medida que o indivíduo
envelhece, acentuam-se algumas perdas biológicas e alteram-se padrões metabólicos
(por exemplo, o sono) (Fleck et al., 2008). A proximidade da morte, a insegurança em
relação a doenças e o crescente risco de dependência são aspectos importantes das
perdas e do sentido de auto-eficácia (Neri, 2000, citado por Fleck et al., 2008)
Mas, segundo Fonseca (2005), todas as fases da vida são marcadas por perdas e
ganhos, embora a intensidade e frequência das perdas e ganhos vai aumentando à
medida que a idade cronológica vai avançando.
O modo como é vivida esta fase final do ciclo de vida decorre do contexto em que
se desenrolou toda a trajectória de vida e da forma como se estruturam as relações
sociais, familiares e outras. As dificuldades relacionais ao longo da vida são
condicionantes de sentimentos de solidão e isolamento na velhice e geradoras de estados
psicológicos depressivos e patológicos (Quaresma et al., 2004).
Podem-se apontar algumas características que, frequentemente, são atribuídas aos
idosos, nomeadamente a crise de identidade, a diminuição da auto-estima, dificuldade
de adaptação a mudanças, falta de motivação para planear o futuro, atitudes infantis,
tendência à depressão, à somatização e diminuição das faculdades mentais (Richard &
Mateev-Dirkx, 2004, citados por Oliveira, 2005).
Estas características apontadas aos idosos poderão estar relacionadas com o estilo
de vida adaptado ao longo da vida, assim, a velhice terá mais qualidade de vida para as
pessoas que promovam relações positivas com familiares e amigos e que tenham uma
rede social e pessoal mais funcional e alargada (Sousa et al., 2004).
É usual fazer a associação entre a velhice e a solidão, uma vez que as perdas na
terceira idade ocorrem em vários domínios e dentro do mesmo espaço de tempo (Rente
& Oliveira, 2002).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
41
Segundo Berger (1995, citado por Fernandes, 2002), a solidão é uma experiência
penosa que está associada a uma necessidade de intimidade não satisfeita, advinda de
relações sociais sentidas como insuficientes ou insatisfatórias.
De forma a amenizar a solidão sentida é fundamental que o idoso possa ter
relações sociais, contribuindo de forma positiva para o seu estado físico, social e
psicológico e possibilitando um envelhecimento com qualidade de vida, mantendo o
indivíduo satisfeito e activo no contexto social (Viorst, 2000, citado por Rente &
Oliveira, 2002).
De acordo com Fernandes (2002), a solidão é determinada pelas expectativas do
indivíduo em relação ao contexto social.
Segundo Capitanini (2000, citado por Rigo & Teixeira, 2005) as perdas
psicossociais como a reforma, a síndrome de ninho vazio e a viuvez, juntamente com as
limitações físicas, aumentam a solidão na velhice.
Rigo e Teixeira (2005) referem que a solidão não é um estado natural e
permanente do sujeito idoso, mas um sentimento com origem nas suas actuais condições
de vida.
Correia (1993, citado por Fernandes 2002, p. 52) afirma que a solidão é “um
sentimento vivido de forma muito especial pelos idosos pois, enquanto que nas outras
idades se vão encontrando compensações, nesta fase não existem alternativas e a solidão
domina a vivência do idoso”.
Estas transições de vida representam intensos períodos de auto-reflexão e
constituem oportunidades de crescimento pessoal (Cantor & Kihlstrom, 1987, citados
por Bauer & McAdams, 2004). No entanto, este crescimento está dependente do modo
como o indivíduo encara a transição (Bauer & McAdams, 2004).
De acordo com Viorst (2000, citado por Rente & Oliveira, 2002) o
envelhecimento é uma das mudanças mais difíceis para o ser humano. Isto deve-se ao
facto de que a aceitação das perdas provocadas pela idade requerer uma avaliação do
passado, envolvendo aspectos positivos e negativos da vivência do indivíduo, ao mesmo
tempo que se tem em consideração os desejos e as possibilidades para o futuro.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
42
É nesta fase que, segundo o autor, a preocupação com a morte e com a destruição
estão mais presentes, tendo o idoso uma sensação mais intensa da sua própria
mortalidade e da iminência da morte.
È indispensável desenvolver com os idosos projectos, fazendo-os descobrir que,
longe de ser o fim, a velhice deve ser encarada como uma saudável etapa da vida que
pode e deve ser vivida plenamente. A confiança e a segurança são factores decisivos no
equilíbrio psíquico do idoso, para que este possa sentir-se parte integrante de um grupo
social sólido e solidário e ser amado (Jeammet, 1989).
Aprender a envelhecer deveria significar aprender a viver. O conhecimento das
mudanças do próprio organismo torna-se fundamental para a adaptação.
Mudanças de atitude permitem um posicionamento mais saudável e algumas
posições tais como o zelar pela saúde, o conhecer as mudanças físicas e emocionais que
o idoso vivência, a procura de actividades intelectuais, a estimulação da memória, a
condução de hábitos alimentares saudáveis, maiores contactos afectivos e sociais e
apoio psicológico, quando necessário, deveriam ser consideradas de forma mais
atenciosa (Jeammet, 1989).
Deste modo e tendo em conta um estudo realizado por Hortelão (2004), este
conclui que a dimensão central que se encontra extremamente associada ao bem-estar e
à QDV dos idosos, independentemente do contexto em que estes se encontram inseridos
(institucionalizados ou na comunidade), é a solidão.
Este autor conclui que os idosos institucionalizados sentem-se mais sós, não só
porque já não têm objectivos de vida e muitos deles sem nada para fazer, com uma
rotina solitária, mas também porque dias após dia sentem-se cada vez mais sós. Os
idosos residentes na comunidade, isto é, na sua própria habitação sentem que a vida
ainda é um desafio, apresentam uma melhor percepção sobre a sua QDV e bem-estar, o
seu quotidiano ainda é estimulante e sempre que a saúde o permitir, estes preferem viver
sós mas nunca esquecidos nem abandonados pela família.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
43
III. ESTUDO EMPÍRICO
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
44
4. Estudo empírico
A investigação científica é um processo que permite resolver problemas ligados ao
conhecimento dos fenómenos do mundo real no qual nos vivemos É um método
particular de aquisição de conhecimentos, uma forma ordenada e sistemática de
encontrar respostas para questões que necessitam duma investigação (Fortin, 1999).
Neste capítulo, e na sequência do enquadramento teórico, iremos apresentar o
estudo empírico por nós realizado sobre a QDV e a Solidão numa amostra de idosos do
Centro Social e Paroquial de São Pedro de Loureiro, assim como a relação entre estas
duas variáveis. Contudo, inicialmente será apresentada a justificação do estudo, ou seja,
a sua pertinência no panorama demográfico actual, as variáveis independente e
dependente consideradas neste estudo, bem como os objectivos formulados.
Posteriormente, serão apresentadas as hipóteses formuladas para o presente estudo, os
participantes, o material administrado e as suas qualidades psicométricas e o
procedimento seguido. No final serão apresentados os resultados do estudo, a discussão
destes e uma reflexão sobre as limitações do presente estudo, bem como algumas
orientações para a prática.
4.1 Justificação do estudo
Dada a complexidade deste ciclo de vida e o aumento da população idosa (Paúl &
Fonseca, 2005, INE, 2002 & Simões, 2006), torna-se cada vez mais pertinente intervir e
estudar este fenómeno. Trata-se de uma população pela qual ainda há muito para fazer,
mas que as políticas dirigidas neste sentido não vão de encontro às necessidades desta
população. É importante adoptar medidas que proporcionem um final de vida com mais
qualidade, pelo que é útil realizar trabalhos sobre o envelhecimento de forma a dar um
contributo para a desmistificação de estereótipos existentes acerca dos idosos (Oliveira,
2005)
Deste modo, e indo encontro de Spar e LaRue (1998), a opção por esta temática
prendeu-se com o facto de querer saber mais sobre esta fase do ciclo vital, tentando
compreender de que forma os idosos percepcionam a sua QDV, a solidão e relação entre
estes dois aspectos, neste grupo etário.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
45
4.2 Objectivo
O objectivo geral deste estudo foi, então, o de analisar a relação entre a QDV e a
Solidão numa amostra de idosos.
4.3 Hipótese do estudo
H1: Existe uma associação entre a Solidão e a QDV (em todas as suas dimensões:
incapacidade física, QDV percebida pelo sujeito, área funcional, mobilidade, cuidados
pessoais, controlo esfincteriano, total de incapacidade, escala geriátrica da depressão e
diminuição cognitiva), sendo que quanto maior for a solidão pior a QDV percebida
pelos participantes (Victor et al., 2000 & Savikko et al., 2005).
4.4 Variáveis do estudo
Variável Independente: Solidão (operacionalizada através da Escala da Solidão
UCLA, Neto, 1989)
Variável Dependente: QDV nas suas diferentes dimensões: Incapacidade Física;
Área Funcional; Mobilidade; Cuidados Pessoais; Controlo Esfincteriano; Total de
Incapacidade; Escala Geriátrica de Depressão; e o Teste de Diminuição Cognitiva,
(operacionalizada através da Escala Easycare, Sousa & Figueiredo, 2000).
4.5 Método
O método de investigação do presente estudo é o método correlacional, uma vez
que este método se situa entre os métodos descritivos e os estudos experimentais
(Almeida & Freire, 1997). Em relação aos métodos descritivos, o método correlacional
permite ao investigador ir para além da descrição dos fenómenos uma vez que consegue
estabelecer relações entre as variáveis, quantificando tais relações.
4.5.1 Participantes
Foi estudada uma amostra aleatória simples, em que os elementos da população
têm igual probabilidade de se incluir na amostra (Almeida & Freire, 1997).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
46
Neste estudo participaram 35 indivíduos idosos, sendo 24 do sexo feminino e 11
do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 75 e os 86 anos de idade
(M=79,06; DP=3,523).
4.6 Material
Neste estudo foram adoptadas três medidas de recolha de dados, sendo elas, o
Questionário Sócio-Demográfico, (cf. anexo I), a Escala de Qualidade de Vida e Bem-
Estar no Idoso (Easycare) da autoria de Daniela Figueiredo e Liliana Sousa (2000) (cf.
anexo II) e a Escala da Solidão da UCLA da autoria de Félix Neto (1989) (cf. anexo
III).
1) Questionário Sócio-demográfico
Este questionário é constituído por oito questões, com o objectivo de obter
informação acerca da idade, naturalidade, estado civil, habilitações literárias, última
profissão exercida, grau de satisfação relativamente à rede de apoio, constituição do
agregado familiar e local de domiciliação.
2) Escala de Qualidade de Vida e Bem-Estar no Idoso (Easycare)
A estrutura formal do Easycare divide-se em oito domínios que englobam 28
questões de aplicação obrigatória (Sousa & Figueiredo, 2000). Neste instrumento, cada
uma das 28 questões varia diferentemente nas suas pontuações e respostas, sendo que as
pontuações mais elevadas indicam maior incapacidade (Sousa & Figueiredo, 2000). Os
grupos de questões pela qual o Easycare é constituído apresentam-se da seguinte forma
(Sousa & Figueiredo, 2000) (cf. Anexo II):
• O primeiro grupo de questões (1-4) refere-se à incapacidade física abordando
eventuais problemas no domínio da visão, audição, mastigação/linguagem. Estas
questões tentam recolher informação sobre eventuais dificuldades que possam decorrer
do uso de determinados “aparelhos” (óculos, “aparelho” auditivo, prótese dentária).
Possui uma pontuação mínima de 0 e uma pontuação máxima de 12;
• O segundo grupo de questões (5-7) refere-se à qualidade de vida tal como é
percebida pelo próprio sujeito, considerando a saúde, a solidão e a habitação. Possui
uma pontuação mínima de 3 e uma pontuação máxima de 15;
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
47
• O terceiro grupo de questões (8-13) incide sobre a área funcional. Deve-se ter
em conta a possibilidade da pessoa idosa não realizar habitualmente uma determinada
tarefa ou actividade. Deste modo, deve-se averiguar se a pessoa se sente capaz de a
realizar, caso venha a ser necessário (por exemplo, a um homem que nunca tenha
cozinhado dever-se-á perguntar, havendo necessidade, se o conseguiria fazer). Possui
uma pontuação mínima de 0 e uma pontuação máxima de 23;
• O grupo seguinte de questões (14-19) é referente à mobilidade, ou seja, se a
pessoa idosa sente algumas dificuldades ou mesmo incapacidade em desempenhar uma
actividade (por exemplo, sair de casa e caminhar na rua). A pontuação mínima a atingir
é 0 e a máxima é de 41;
• O quinto grupo de questões (20-22) recai sobre as actividades de cuidados
pessoais. Este grupo apresenta uma pontuação mínima de 0 e a pontuação máxima de
19;
• O sexto grupo de questões (23-24), controlo esfincteriano, que faz referência ao
facto de existirem dificuldades ou mesmo incapacidade em situações de
acidentes/descuidos com a bexiga e intestinos por parte da pessoa idosa. Possui uma
pontuação mínima de 0 e uma pontuação máxima de 17;
• O sétimo agregado de questões, que se refere à incapacidade que engloba 17
questões que se referem às questões da 8 à 24 e englobam as variáveis descritas nos 4
factores descritos anteriormente: funcional, mobilidade, cuidados pessoais e controlo
esfincteriano. Este factor de incapacidade implica a soma de todas estas questões que
fazem parte dos referidos factores, consoante a resposta do sujeito, variando entre 0 de
pontuação mínima e uma pontuação máxima de 100 valores. Este resultado é obtido
então a partir da soma das questões 8 até à 24, sendo que pontuações mais elevadas
significam maior incapacidade;
• O oitavo grupo de questões, avalia a depressão que engloba as questões 25 a 28
do Easycare, cada sintoma de depressão é cotado com 1 ponto. Deste modo, a
pontuação mínima é de 0 valores e a pontuação máxima é de 4 valores.
As pontuações de resposta nas 7 primeiras sub-escalas são todas de acordo com
uma escala do tipo Lickert, sendo a sua cotação muito simples. Pontuações mais
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
48
elevadas indicam menos QDV, não existindo valores normativos a partir dos quais seja
possível considerar que o idoso não tem problemas.
Fazem ainda parte desta escala mas de uma forma opcional, o Teste de
Diminuição Cognitiva e a Fixação de Objectivos. O primeiro engloba 6 questões, sendo
que os resultados podem assumir valores de 0 a 28. Entre 0 e 10 considera-se
normalidade ou diminuição ligeira; se os valores variam entre 11 e 28 assume-se
diminuição moderada a grave. Esta parte foi aplicada com o objectivo de verificar se os
idosos apresentavam diminuição cognitiva significativa.
A Fixação de Objectivos, que se trata de uma parte que foi feita para alterar as
percepções dos profissionais acerca das prioridades da pessoa idosa e encorajá-los a
responder de forma criativa às necessidades expressas pela pessoa idosa. Importa
referir, que a fixação de objectivos não foi administrada aos participantes deste estudo,
uma vez que a prioridade do investigador não era alterar as percepções dos profissionais
acerca das prioridades da pessoa idosa (Sousa et al., 2003) mas sim verificar a forma
como os idosos percepcionam a sua QDV.
Em relação às qualidades psicométricas, podemos afirmar que o Easycare possui
boas qualidades psicométricas. As autoras, optaram por uma das técnicas de análise
exploratória de dados que permite definir grupos de variáveis correlacionadas, a que se
chama análise em componentes principais (ACP)2. O objectivo desta técnica é a
obtenção de um pequeno número de combinações lineares (componentes principais) de
um conjunto de variáveis originais.
Trata-se de um dos métodos mais simples de análise multidimensional, pois não
tem grandes pressupostos estatísticos e espera-se somente que as variáveis originais
sejam correlacionadas (quanto mais correlacionadas, melhor é o resultado da análise).
No caso específico do Easycare os valores encontrados variavam entre 0.00 e 0.79.
Assim as variáveis com correlações mais baixas não tinham associação entre si, por
exemplo, ouvir bem e ser capaz de tomar os medicamentos apresentavam uma
correlação de 0.00.
2 Segundo Anastasi (1977), trata-se do estudo da validade de Construto, através do método de análise factorial. Para Almeida e Freire (1997, p.160) “este método tem grangeado maior uso e reconhecimento”.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
49
Por sua vez, as variáveis que envolvem capacidades próximas estavam bem
relacionadas, por exemplo, usar a sanita e deslocar-se da cama para a cadeira, obtêm
uma correlação elevada (0.79).
No entanto, as autoras consideram que existia pouca clareza na interpretação dos
resultados e procederam ao cálculo das contribuições de cada variável para cada factor,
através da rotação varimax3 (normalizada) (Sousa et al., 2002, p.5).
Através da análise factorial resultou a extracção de quatro factores (actividades da
vida diária, saúde e qualidade de vida, competências cognitivas e mobilidade) com uma
variância total de 62,2.
Por fim, e de modo a estudarmos a coerência e a uniformidade das respostas do
inquérito, ou seja, a consistência interna da análise, foram calculados os α’s de
Cronbach4.
Estes apresentam valores bastante satisfatórios para os grupos de Actividades de
Vida Diária e Mobilidade (α=0.87). Para os outros dois factores (Competências
Cognitivas e da Saúde e Qualidade de Vida) os α’s de Cronbach apresentam valores
globais moderados (α = 0.45 para competências cognitivas e α =0.57 para a qualidade
de vida). No entanto, o mesmo não se verifica com os itens de cada um destes grupos,
na medida em que, apresentam valores significativamente elevados. O valor do ά para a
escala global foi bastante bom (α =0,92).
Assim, pode-se dizer que, o instrumento Easycare, é um instrumento válido, fiel e
sensível para avaliar a Qualidade de Vida e Bem-estar dos idosos.
3) Escala da Solidão da UCLA
A escala da solidão da UCLA que avalia a solidão e os sentimentos associados à
mesma, é uma escala que se insere numa abordagem unidimensional, uma vez que
percepciona a solidão como um fenómeno unitário que varia sobretudo, na intensidade
experenciada (Neto, 1992).
3 A rotação varimax é uma rotação ortogonal, mantém o ângulo entre os eixos, e os factores mantêm-se independentes. Esta rotação tenta maximizar a variância nos novos eixos. Os valores não foram tornados públicos pelas autoras da adaptação portuguesa (Sousa & Figueiredo, 2000). 4 Segundo Anastasi (1977) trata-se do estudo da fidelidade, através do método de consistência interna.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
50
A solidão foi avaliada recorrendo à versão portuguesa da escala de solidão
(Russell, Peplau & Cutrona, 1980 citados por Neto, 1992). Esta escala na sua versão
final, ficou constituída por 18 itens de escolha múltipla do tipo likert em 4 pontos, em
que 1 corresponde a “nunca”, 2 “raramente”, 3 “algumas vezes” e 4 corresponde “a
muitas vezes”. A pontuação mínima obtida pode ser de 18 pontos e a máxima de 72
pontos. A pontuação total é obtida é através da soma dos 18 itens e reflecte o índice de
solidão. Assim, o maior número de pontos alcançados traduziria solidão, enquanto que a
pontuação baixa seria reflexo da satisfação social, logo indicador de ausência de
solidão. É de salientar que algumas das questões, para efeitos do seu tratamento
estatístico, são cotadas de forma inversa (os itens, 1, 4, 5, 8, 9, 13, 14, 17 e 18).
A escala definida desta forma mostrou possuir uma elevada consistência interna
com um coeficiente α de 0.96 (Neto, 1992), traduzindo uma excelente fidelidade.
Os seus autores (Russell, Peplau & Ferguson, 1978, citados por Neto, 1992)
consideram-na como um instrumento com boas qualidades psicométricas, de fácil
utilização e um estímulo para serem desenvolvidas investigações empíricas sobre a
solidão.
Contudo, a escala levantou um conjunto de problemas: (1) há possibilidade de
enviasamento das respostas já que todos os itens possuem a mesma direcção, reflectindo
que os scores altos são reflexo da insatisfação social; (2) problema de desejabilidade
social; e (3) não apresentar valores de uma validade discriminante (Neto, 2000).
Em relação à validade da versão portuguesa da escala da solidão foi examinada
relativamente a vários critérios. A correlação entre uma questão de auto-avaliação
acerca da solidão e a nota global obtida para a solidão é altamente significativa (r=0,46;
p <0.00). Os sujeitos com scores mais altos na escala da solidão descrevem-se como
sentindo-se mais sós do que as outras pessoas (Neto, 1992; 2000).
A validade da escala da solidão foi igualmente fornecida pela ligação dos scores
da solidão com outros estados emocionais. O score da solidão está significativamente
correlacionado com o sentir-se abandonado (r=0.35), aborrecido (r=0.13), angustiado
(r=0.24), ansioso (r=0.19), culpabilizado (r=0.17), deprimido (r=0.29), desvalorizado
(r=0.36), frustrado (r=0,38), incompreendido (r=0.38), insatisfeito (r=0.35), insociável
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
51
(r=0.45), rejeitado (r=0.44), triste (r=0.19), envergonhado (r=0.28) e com não sentir
amor (r=0.23) (Neto, 1992/2000).
Ao nível da validade desta escala nota-se a existência de uma correlação negativa
entre a solidão e o auto-conceito, e uma correlação positiva entre a solidão e a ansiedade
social (Neto & Barros, 1992).
4.7 Procedimento
A primeira fase deste estudo consistiu no pedido de autorização via electrónica aos
respectivos autores dos instrumentos de avaliação, para que permitissem a sua utilização
(cf. Anexo IV).
Posteriormente, solicitou-se a autorização formal através da carta (cf. Anexo V) ao
Director do Centro Social e Paroquial de São Pedro de Loureiro para recolha de dados e
administração dos instrumentos, explicando-se a natureza do estudo e garantindo-se o
respeito por todas as normas éticas e deontológicas no que se refere ao sigilo e à
confidencialidade dos dados recolhidos.
Foi também elaborada uma carta de consentimento informado (cf. Anexo VI),
onde foi feito o pedido de participação de cada idoso. Posteriormente, esta autorização
foi preenchida pelo próprio idoso, pela investigadora ou pelo seu representante legal.
A intervenção para a recolha dos dados teve início com uma breve apresentação da
investigadora e qual o objectivo do estudo. Antes do preenchimento da escala Easycare
e da escala de solidão da UCLA, todos os envolvidos responderam a um questionário
sócio-demográfico. De seguida foi aplicada a escala Easycare e a escala de Solidão da
UCLA explicando-se aos intervenientes os propósitos das escalas e que se tratava de
uma intervenção individual e anónima.
A realização dos questionários teve lugar nas casas dos próprios idosos. A
investigadora dirigiu-se até ao local com as funcionárias do Centro Social e Paroquial
de São Pedro de Loureiro5, sempre que a entidade acolhedora e a investigadora
5 Para o bom desempenho dos serviços prestados, esta valência dispõe de 2 viaturas, onde se deslocam 10 funcionárias até as casas dos utentes para prestar os serviços necessários. Estas vão no máximo 2 vezes ao domicilio do utente, dependendo do tipo de serviço prestado. Diariamente é prestado todo o serviço de apoio domiciliário, desde a limpeza e arranjo da casa, passando pelos cuidados de higiene pessoal e da roupa e
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
52
possuíam disponibilidade para o fazer. A aplicação dos questionários teve a duração de
aproximadamente 8 semanas entre 30 de Outubro de 2007 e 4 de Janeiro de 2008, sendo
que por unidade o tempo dispendido foi de 20 a 25 minutos. Antecipadamente à
realização do inquérito por questionário, foram explicados aos idosos, e eventualmente
aos familiares, os objectivos do estudo e o carácter confidencial das respostas. O
preenchimento dos questionários foi realizado pela investigadora, uma vez que uma
grande maioria dos idosos inquiridos eram iletrados e também para uma melhor gestão
do tempo.
Durante a administração dos questionários verificou-se que alguns itens da Escala
da Solidão da UCLA suscitaram algumas dúvidas por parte de alguns utentes. No
esclarecimento dessas dúvidas, tentou-se evitar o enviezamento do estudo, procurando
não reformular o seu conteúdo, mas tentando esclarecer as eventuais dúvidas.
No geral todos os participantes mostraram-se receptivos no preenchimento dos
questionários, apesar de se verificar que muitos dos inquiridos se mostravam
desconfiados, ansiosos e cuidadosos nas respostas dadas.
No final, agradeceu-se a todos os participantes o tempo disponibilizado na
participação deste estudo.
5. Análise dos Dados e Interpretação dos Resultados
De acordo com o objectivo proposto para este estudo, os resultados obtidos através
do tratamento estatístico das respostas dadas no Easycare e na UCLA serão
apresentados a analisados seguidamente. Os principais resultados foram obtidos através
do programa SPSS for Windows, versão15.0.
Foram realizadas análises correlacionais (tendo em conta o r de pearson) com o
objectivo de verificar a associação entre a variável dependente e variável independente.
Posteriormente, e pelo facto de não se terem encontrado valores muito
significativos, sentimos a necessidade de clarificar alguns aspectos, cuja finalidade era
entrega ao domicílio das refeições já confeccionadas. O serviço de limpeza e tratamento da roupa é assegurado diariamente por 2 funcionárias que executam essa tarefa na lavandaria desta instituição.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
53
verificar se existem ou não diferenças estatisticamente significativas e, para tal
procedeu-se à análise diferencial do Easycare (através do teste t de Student Independent
Samples Test) em função do grau de solidão percebida (UCLA).
Caracterização sócio-demográfica da amostra
A partir da observação da tabela 1 é possível constatar que a amostra é constituída
por 35 indivíduos, sendo 11 do sexo masculino e 24 do sexo feminino, correspondendo
a uma percentagem de 31,4 % e 68,6 %, respectivamente. Estes resultados revelam as
características do perfil sócio-demográfico da população idosa, isto é, a maioria dos
idosos são do sexo feminino (Fernandes, 2002 & Oliveira, 2005).
Tabela 1
Caracterização da amostra em função do género
Género N % Masculino 11 31,4 Feminino 24 68,6
Total 35 100
Analisando a tabela 2, pode-se verificar que os sujeitos têm idades
compreendidas entre os 74 e os 86 anos, sendo que a média de idades é de 79,06 com
um desvio padrão de 3,523.
Tabela 2
Caracterização da amostra em função da idade
Idade Mínima Máxima M DP 74 86 79,06 3,523
No que se refere à escolaridade (tabela 3), 37,1 % (N= 13) são analfabetos, 22,9
% (N=8) sabem ler e escrever e 40 % (N=14) tem a 4ª classe.
O nível de escolaridade varia os 0 e os 4 anos, sendo a média de 1,69 anos
(M=1,69; DP=0,471).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
54
Tabela 3
Caracterização da amostra em função da escolaridade
Escolaridade N % Analfabeto 13 37,1
Sabem ler e escrever 8 22,9 4ª classe 14 40
Total 35 100
A tabela 4 mostra-nos que os sujeitos que constituem a amostra são
maioritariamente viúvos, representando 19 sujeitos num universo de 35 e com
percentagem de 54,3 %. Seguem-se os sujeitos casados, com 28,6 %, e os divorciados,
com 14,3 %. O estado civil solteiro representa apenas 2,9 % da amostra.
Tabela 4
Caracterização da amostra em função do Estado Civil
Estado Civil N % Solteiro 1 2,9
Divorciado 5 14,3 Viúvo 19 54,3 Casado 10 28,6 Total 35 100
No que diz respeito à profissão (tabela 5) 51,4 % da amostra, ou seja, 18 sujeitos
são agricultores. Segue-se a situação de doméstica com 17,1 %, os operários da
construção civil com 11,4 % e os artesãos e costureira com 5,7 %. As categorias que
obtiveram menos percentagem foram os carteiros, revisores da CP e GNR com apenas
2,9 % da população total.
Tabela 5
Caracterização da amostra em função da Última Profissão Exercida
Profissão N % GNR 1 2,9 Revisores (CP) 1 2,9 Carteiro 1 2,9 Costureira 2 5,7 Artesão 2 5,7 Construção Civil 4 11,4 Doméstica 6 17,1 Agricultura 18 51,4 Total 35 100
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
55
No que se refere ao apoio (tabela 6), 100 % (N=35) sentem que estão a ser
apoiados.
Tabela 6
Caracterização da amostra em função do apoio
Apoio N % Sim 35 100 Não 0 0
Total 35 100
No que se refere à domiciliação (tabela 7), 100 % (N=35), referem que a
domiciliação é realizada em casa dos utentes.
Tabela 7
Caracterização da amostra em função da Domiciliação
Domiciliação N % Em casa 35 100 No lar 0 0 Total 35 100
5.2 Caracterização da QDV e da Solidão e a relação entre estas duas dimensões
Após a análise das sub-escalas do Easycare e da UCLA (tabela 8), verificou-se
que a sub-escala Incapacidade Física, apresenta um valor mínimo de 0 e um valor
máximo de 8 e uma média de 1,34, o que nos revela que a incapacidade física percebida
pelo sujeito é de uma forma geral boa (1,34 num máximo de 12 pontos).
A sub-escala QDV Percebida pelo Sujeito, apresenta um valor mínimo de 6 e um
valor máximo de 14 e uma média de 10,37, o que nos revela que os indivíduos
percepcionam a sua qualidade de vida ligeiramente inferior (10,37 num máximo de 15
pontos).
Em relação à Área Funcional, esta está compreendida entre um valor mínimo de 0
e um valor máximo de 21 com uma média de 7,77, o que nos revela que os indivíduos
percepcionam a sua área funcional como sendo boa (7,77 num máximo de 23 pontos).
A sub-escala Mobilidade, apresenta um valor mínimo de 0 e um valor máximo de
36 e uma média de 8,83, o que nos revela que os indivíduos percepcionam a sua
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
56
mobilidade como sendo boa, apresentando-se de um modo geral capazes de realizar
todas estas tarefas referentes à mobilidade (8,83 num máximo de 41 pontos).
A sub-escala Cuidados Pessoais, apresenta um valor mínimo de 0 e um valor
máximo de 19 e uma média de 2,03, o que nos revela que os indivíduos não apresentam
grandes limitações relativamente a esta sub-escala (2,03 num máximo de 19 pontos).
Em relação à sub-escala controlo Esfincteriano, esta apresenta um valor mínimo
de 0 e um valor máximo de 8 com uma média de 1,49, não se verificando por isso por
parte dos inquiridos qualquer problema no controlo dos esfíncteres (1,49 num máximo
de 17 pontos).
Em relação à sub-escala total de Incapacidade, esta apresenta um valor mínimo de
0 e um valor máximo de 82 com uma média de 1,60. Estes dados indicam que, em geral,
os inquiridos apresentam um baixo índice de incapacidade (1,60 num máximo de 100
pontos)
Em relação à Escala Geriátrica da Depressão, esta apresenta um valor mínimo de 0
e um valor máximo de 4 com uma média de 1,60. Estes dados revelam que, de um
modo global, os inquiridos não apresentam sintomatologia depressiva (1,60 num
máximo de 4 pontos).
O teste de Diminuição Cognitiva, apresenta um valor mínimo de 0 e um máximo
de 6 com uma média de 2,57, o que de um modo geral, os inquiridos apresentam uma
situação de normalidade ou diminuição ligeira (2,57 num máximo de 28 pontos).
Em relação à Escala da Solidão da UCLA os participantes apresentam um valor
mínimo de 22 e um máximo de 61 com uma média de 39,46 e um desvio padrão de
11,4. Este valor mostra-nos que os inquiridos não revelam níveis de solidão
significativos, dado que o score total varia entre 18 e 72, o que nos permite dizer que os
participantes se mostram socialmente aceites.
Deste modo, e através da análise dos valores médios obtidos nas diferentes sub-
escalas do Easycare e UCLA, podemos verificar que os idosos inquiridos apresentam
valores médios abaixo dos esperados, o que significa que parecem ter uma boa QDV e
percepcionarem pouca solidão. Apenas a sub-escala QDV Percebida pelo Sujeito se
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
57
aproxima mais do valor máximo esperado, significando menor qualidade de vida
percepcionada.
Importa ainda referir, e tendo em conta a análise das médias e desvio padrão,
verificamos que nas sub-escalas incapacidade física, mobilidade, cuidados pessoais,
controlo esfincteriano e total de incapacidade o desvio padrão é maior que a média.
Assim, o desvio padrão informa sobre a qualidade com que a média representa
os dados, isto é, quanto menor for o seu valor mais perto se encontra da média. Deste
modo, segundo Pestana e Gageiro (2005), um elevado desvio padrão significa que os
valores se desviam da média, sendo portanto uma má representação dos dados.
Tabela 8
Resultados obtidos nas sub-escalas do Easycare
Sub-escalas do Easycare M DP Mínimo Máximo Incapacidade física 1,34 1,55 0 8 QDV percebida pelo sujeito 10,37 2,34 6 14 Área Funcional 7,77 7 0 21 Mobilidade 8,83 10,75 0 36 Cuidados pessoais 2,03 4,69 0 19 Controlo esfincteriano 1,49 2,08 0 8 Total de incapacidade 1,60 2,3 0 82 Escala geriátrica da depressão 1,60 1,3 0 4 Teste de diminuição cognitiva 2,57 1,8 0 6 UCLA 39,46 11,4 22 61
Importa referir que de acordo com o Easycare, scores mais elevados indicam
maior incapacidade, isto é, quanto maior o score da QDV, menor é a mobilidade e a
incapacidade, e maior é a solidão.
De acordo com a tabela 9 e analisando a correlação entre as duas sub-escalas do
Easycare com a UCLA, verificamos que os resultados mostram que existem correlações
positivas significativas entre a sub-escala mobilidade e a sub-escala total de
incapacidade com a UCLA, o que significa a infirmação da hipótese formulada (existe
uma associação linear negativa e significativa entre a solidão e a QDV), revelando ainda
associação diferente da esperada, pois o que seria esperado era existirem correlações
negativas significativas o que se verifica é que quanto menor a mobilidade e menor o
índice de incapacidade maior a solidão.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
58
Após o tratamento estatístico anteriormente realizado e como não se verificaram
resultados muito significativos, procedeu-se à recodificação da variável da solidão
(UclaR), dividindo amostra em dois grupos: grupo 1 (menos sós: UCLA < 50) e o grupo
2 (mais sós: UCLA ≥ 50), tendo em conta que o score total é 100 e cuja finalidade era
verificar se se encontravam algumas diferenças estatisticamente significativas no que se
refere à QDV.
Tabela 9
Correlações entre as diferentes sub-escalas do Easycare com a Escala de Solidão da UCLA
UCLA
Sub-escalas do Easycare r p Incapacidade Física 0,321 0,060 QDV Percebida - 0,158 0,365 Área Funcional 0,257 0,137 Mobilidade 0,401 0,017* Cuidados Pessoais 0,274 0,111 Controlo Esfincteriano 0,262 0,129 Total de Incapacidade 0,380 0,024* Escala da Depressão -0,021 0,904 Diminuição Cognitiva 0,096 0,582
(*) p ≤ 0, 05; (**) p ≤ 0, 01
Tendo em conta as análises descritivas e diferenciais (tabela 10), verificam-se
diferenças estatisticamente significativas na QDV percebida, na mobilidade e no total de
incapacidade, face aos diferentes grupos de solidão. Verifica-se que na sub-escala QDV
percebida os indivíduos que pontuam mais alto são os “menos sós”, sendo que quanto
mais alta a pontuação menor a QDV percebida, isto é, pior os indivíduos percepcionam
a sua QDV. Por outro lado, o grupo dos “mais sós” apresenta um valor médio mais
baixo, isto é percepcionando mais positivamente a sua QDV. Estes resultados não
deixam de ser paradoxais e inconsistentes, uma vez que quanto menos solidão os
inquiridos apresentam pior percepcionam a sua QDV percebida e quanto mais solidão
os indivíduos apresentam melhor percepcionam a sua QDV percebida.
Na sub-escala mobilidade os indivíduos que pontuam mais alto são os “mais sós”,
sendo que quanto mais alta a pontuação menor a mobilidade, isto significa que a quanto
mais sós os indivíduos se sentem mais fraca é a sua capacidade para realizar as tarefas
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
59
com autonomia e independência. Por outro lado, quanto “menos sós” os indivíduos se
sentem maior a capacidade para realizarem as suas tarefas sem ajuda.
Na sub-escala Total de Incapacidade os indivíduos que pontuam mais alto são os
“mais sós”, o que significa que o grupo dos indivíduos “mais sós” menos incapazes se
sentem, porque maior é o valor médio obtido na sub-escala total de incapacidade. Por
outro lado, quanto menos sós os indivíduos se sentem menor o seu índice total de
incapacidade. Segundo Leinonen et al. (2001, citados por Almeida, s/d), consideram
que ao passo que a idade avança as capacidades físicas e cognitivas diminuem assim
como a sua incapacidade para realizar actividades da vida diária.
É de referir que em todos os casos as diferenças são significativas para p ≤ 0.01.
Tabela 10
Resultado das diferenças de solidão entre grupos, o grupo 1 (menos sós) e o grupo 2 (mais sós) face ás diferentes sub-escalas do Easycare.
UclaR N M DP t gl p Incapacidade Física Menos sós
Mais sós 27 8
1,26 1,63
1,65 1,18 - 0,580 33 0,57
QDV percebida Menos sós Mais sós
27 8
10,78 9
1,928 2,777 2,067 33 0,047*
Área Funcional Menos sós Mais sós
27 8
6,96 10,50
6,75 7,61 - 1,266 33 0,214
Mobilidade Menos sós Mais sós
27 8
6,56 16,50
8,82 13,61 - 2,463 33 0,019*
Cuidados Pessoais Menos sós Mais sós
27 8
1,70 3,13
4,85 4,22 - 0,747 33 0,46
Controlo Esfincteriano
Menos sós Mais sós
27 8
1,48 1,50
2,86 2,78 - 0,016 33 0,99
Total de Incapacidade
Menos sós Mais sós
27 8
16,7 31,63
19,34 25,18 - 1,79 33 0,083
Escala da Depressão Menos sós Mais sós
27 8
1,78 1
1,37 0,76 1,529 33 0,136
Diminuição Cognitiva
Menos sós Mais sós
27 8
2,44 3
1,85 1,7 - 0,76 33 0,45
* p ≤ 0,05; ** p ≤ 0,01; *** p ≤ 0,001
6. Discussão dos resultados
Após a recolha dos dados e do tratamento estatístico, e tendo em conta os
resultados obtidos é importante a realização da discussão dos resultados, pois, segundo
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
60
Ribeiro (1999), o objectivo da discussão é discutir e interpretar os resultados, sem
perder de vista a questão de investigação. Importa referir que, no âmbito desta temática
e de acordo com a pesquisa realizada, os estudos encontrados foram muito poucos e por
isso, a realização dos resultados, será realizada tendo em conta estudos que mais se
aproximam dos objectivos propostos.
De acordo com a caracterização sócio-demográfica da amostra em função do
género verificou-se o predomínio do sexo feminino. Verifica-se, quanto á escolaridade
que existe uma aproximação entre os analfabetos e os que têm a 4ª classe, sendo em
maioria os que possuem a 4º classe. Quanto ao estado civil houve a predominância de
viúvos.
Estes resultados, em certa medida, são apoiados pelo estudo realizado por Savikko
e colaboradores (2005, citados por Fernandes, 2007) uma vez que considera que as
mulheres viúvas sofrem mais de solidão. Apesar de não ser um objectivo do nosso
estudo, verificar quem se sente mais só (homens ou mulheres), o investigador pode
constatar aquando o preenchimento dos questionários que as mulheres se sentiam mais
sós, não só por maioritariamente dessa parcela da amostra serem mulheres viúvas. Em
contrapartida nada faziam para colmatarem essa solidão, isto é, não saiam para
conviver, não se relacionavam com outras pessoas e muitas das vezes, mesmo a pedido
dos filhos para irem a suas casas, o pedido era rejeitado, referindo que “só me sinto bem
em minha casa”.
Em relação á última profissão exercida, verificou-se que a maioria trabalhava na
agricultura. No que concerne ao apoio, toda a amostra referiu estar totalmente apoiada.
Em relação à análise das sub-escalas do Easycare com a UCLA verificou-se que
de um modo global os idosos apresentam uma boa QDV e sentem-se pouco sós. No
entanto na sub-escala QDV Percebida que diz respeito à qualidade da sua saúde, da sua
solidão e da adequabilidade da sua habitação, os idosos percepcionam-na pior, o que
está totalmente de acordo com o que o investigador observou.
No que respeita à relação entre a escala da QDV com a escala da Solidão,
verificamos que não existe uma relação estatisticamente significativa na maioria das
suas sub-escalas. No entanto, nas sub-escalas mobilidade e total de incapacidade,
verificou-se uma correlação positiva significativa com a UCLA.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
61
Assim infirmamos a H1 (existe uma associação linear negativa e significativa
entre a solidão e a QDV), ou seja, verificou-se uma associação positiva entre as duas
sub-escalas do Easycare (mobilidade e a incapacidade física). Esta associação poderá
significar que os idosos consideram que o nível de solidão não diminui a sua QDV, pois
o facto de se sentirem mais sós não impede que sejam capazes de realizar determinadas
tarefas, ou seja, as pessoas que apresentam menor dificuldade de mobilidade
demonstram vivências de solidão mais baixas.
Deste modo, o resultado do presente estudo não vai de encontro ao do estudo
Sousa e Colaboradores (2003), em que consideram que de um modo geral, à medida que
se aproxima o avanço da idade, verifica-se o aumento da sua incapacidade ao nível da
mobilidade e ao nível da incapacidade global.
No entanto e apesar de não ter sido um objectivo proposto no nosso estudo nem ter
sido feita a comparação da QDV em idosos institucionalizados com idosos domiciliados
a viverem em casa com os seus familiares, os resultados da nossa investigação parecem
ir ao encontro dos estudos de Coimbra e Brito (1999), referindo que a QDV dos idosos
residentes em casa é superior à dos que estão institucionalizados. Este estudo vai de
encontro com os resultados obtidos na nossa investigação, uma vez que os resultados
apontam para uma boa QDV. Estes resultados parecem apontar para que os idosos que
recebem apoio domiciliário poderão estar satisfeitos com os apoios prestados pelo
centro.
Outro aspecto poderá estar relacionado com o facto de que as pessoas mais sós
poderão sentir uma maior motivação para a mobilidade com o intuito de estabelecer
novas relações sociais e afectivas.
Por outro lado, os resultados do nosso estudo demonstram que os idosos
inquiridos, de um modo geral, não se sentem sós, o que está em total desacordo com
aquilo que o investigador observou, pois a maioria dos idosos refere experenciar
momentos de solidão, sendo estes momentos colmatados com a presença das
funcionárias do centro pois referem “ser o único momento em que encontram
acompanhados, que falam com alguém e que têm carinho”. Este facto poderá estar
relacionado com a desejabilidade social, pois a maioria dos indivíduos têm dificuldade
em fazê-lo ou não querem confrontarem-se com a realidade. Em consequência a isso,
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
62
alguns idosos mostram-se relutantes e com dificuldades no preenchimento dos testes,
fazendo com que, muita vezes, as respostas dadas não correspondam ao estado vivencial
do individuo.
O facto de os inquiridos se sentirem sós poderá estar relacionado com a
monotonia dos hábitos destas pessoas, uma vez que a sua maioria já não tem qualquer
actividade laboral, possuem alguma dependência física, o que faz com que passem o seu
dia-a-dia em casa.
Outro aspecto patente nesta população prende-se com a falta de estabelecimento
de contactos regulares e frequentes com a família, vizinhos e com os amigos, pois este
facto leva a que os idosos se sintam mais sós. As pessoas idosas que dizem viver em
situação de solidão, associam este sentimento à falta de amor, afecto, falta de
companhia, ao isolamento, ao abandono por parte das pessoas que os rodeiam,
principalmente por parte dos filhos e ainda à falta de saúde.
Aquando a recolha da amostra, o investigador pode constatar que a maior parte
dos inquiridos respondia contrariamente à realidade vivida, isto é, o investigador pode
verificar que se tratava maioritariamente de uma população que apesar de ter uma vasta
rede de familiares, encontrava-se esquecida no tempo por eles. Os filhos que foram para
fora trabalhar e que refizeram as suas vidas longe da terra natal, a perda do cônjuge e a
falta de recursos, quer económicos quer sociais.
Outro factor também importante que poderá estar na base da solidão, poderá ser o
facto de o grau de instrução aumentar os níveis de solidão, pois no nosso estudo a
maioria tem apenas a 4ª classe e é analfabeto. Segundo Savikko e Colaboradores (2005)
quanto maior a instrução/escolaridade menor é a solidão sentida.
Os idosos desta investigação quando questionados acerca da satisfação em relação
à vida, do sentimento de felicidade e do sentimento de vazio, pode observar-se que
muitos dos questionados manifestaram expressões fortes de sensibilidade e choro,
apesar de muitos destes casos terem respondido afirmativamente à questão: por
exemplo: “Sente que a sua vida é vazia?” A resposta era não. Assim, os idosos desta
investigação não apresentam sintomatologia depressiva, revelando estar satisfeitos com
as suas vidas. O grupo de idosos também não apresentou qualquer comprometimento
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
63
cognitivo, apresentando uma situação de normalidade ou diminuição ligeira. Estes
dados são apoiados pelo estudo de Sousa e Colaboradores (2003).
Deste modo e de acordo com o que se observou, podemos dizer que se trata de
uma população com alguma fragilidade a nível emocional e afectivo e presença de
elevado sentimento de solidão.
Quando questionados quanto á satisfação pelos serviços prestados pela equipa do
centro, referiam estar excessivamente satisfeitos, pois estes serviços (limpeza,
manutenção das instalações, entrega das refeições e tratamento de roupa) eram
executados com o maior profissionalismo e competência por parte das funcionárias. Por
sua vez, todos os idosos se mostraram totalmente satisfeitos com o desempenho dos
serviços prestados, concluindo que gostavam de todas as funcionárias e que valorizavam
todos os momentos que passavam juntos. Mas para além destes serviços prestados e
tendo em conta que nem todos os utentes beneficiam de todos os serviços, a equipa do
centro prestava adicionalmente outro tipo de ajudas sempre que necessário, tais com, ir
ao supermercado e à farmácia, ajudar o utente a administrar o seu próprio dinheiro,
auxiliando o idoso no pagamento das contas, ajudar o idoso a movimentar-se dentro da
sua habitação, cuidar da sua higiene pessoal (lavar e vestir) e alimentar o idoso sempre
que este esteja incapaz de o fazer.
Deste modo, podemos referir que as instituições ou as equipas de apoio
domiciliário procuram dar resposta ás necessidades das pessoas idosas, criando
condições e agindo nesse sentido. No entanto é importante que estas entidades não
promovam o bem-estar dos idosos com base na dependência dos mesmos.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
64
IV. CONCLUSÃO/ORIENTAÇÕES PARA A
PRÁTICA/LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
65
7. Conclusão
Enriquecer a última etapa da vida, introduzindo nela um sentimento de bem-estar e
de sentido para a vida dos idosos, é um grande desafio para a sociedade perante o
envelhecimento populacional que tem vindo a crescer.
A longevidade associa-se a doenças crónicas e incapacidades, exigindo mais
serviços médicos e outras formas de cuidados pessoais e sociais. Envelhecer com
sucesso poderá ser possível à perspectiva do envelhecimento associado à dependência, à
doença, à incapacidade e à depressão. Assim, o aumento da expectativa de vida deverá
estar directamente relacionado com uma boa QDV, com autonomia e integração na
sociedade e na família, aproveitando as capacidades individuais do idoso (Almeida, s/d).
Ser idoso é uma condição geral dos indivíduos que tem o privilégio de experenciar
esta fase da vida. A condição de ser idoso compreende-se na sequência das histórias de
vida, corresponde a padrões diferentes de comportamento e contextos.
As várias formas de envelhecer incluem idosos bem sucedidos e activos, mas
também idosos cuja autonomia está comprometida pela doença ou pelo meio onde
vivem (Paúl & Fonseca, 2005).
Viver uma boa velhice significa viver um processo contínuo de adaptação e
aprendizagem com os ganhos e perdas em busca da integridade e do bem-estar (Neri,
2000, citado por Penna & Espírito Santo, 2006).
Quando o indivíduo envelhece existem alguns factores psicossociais que
interferem na QDV como a perda da posição social, a pobreza que por vezes dificulta as
condições mínimas de sobrevivência, o que consequentemente limita a participação dos
idosos na sociedade. Foi conceptualizada a solidão como um sentimento distinto do
sentir-se só. A solidão foi vista como um sentimento complexo, não observável que
envolve um conjunto de sentimentos, pensamentos e acções. È uma experiência pessoal
interna e desagradável. A escolha desta população é justificada pelo facto de considerar
os idosos com vivências e expectativas psicológicas e sociais diferentes o que os leva a
vivenciar outras dificuldades.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
66
A solidão é um sentimento presente nesta fase de vida não só pelo escasso
contacto que estas pessoas têm com o meio, associado ao medo, perda de amigos,
parentes e cônjuges, mas também devido a incapacidades físicas que fazem com que se
sintam inúteis, improdutivos e inferiorizados. Deste modo aos idosos sentem-se como
“um fardo” para os seus amigos e familiares levando ao seu isolamento como forma de
preservação (Penna & Espírito Santo, 2006).
Assim, podemos concluir que os idosos integrados no nosso estudo apresentam
preocupações disfarçadas e divididos pelas dificuldades de adaptação a mudanças
resultantes do seu próprio envelhecimento. Verificamos ainda que estes idosos estão
conscientes das suas limitações, tais como a diminuição progressiva de algumas funções
(diminuição das capacidades visuais, auditivas, motoras) o que de certo modo pode
levar ao isolamento social. A solidão causa stress nos idosos, o que por sua vez
contribui para aumentar o sentimento de estar só (Hortelão, 2004).
As percepções face ao envelhecimento deste grupo de idosos, passa por
preocupações ao nível da saúde, sentimento de abandono e outros aspectos que
gostariam de ver melhorados para uma melhor QDV (acessos a casa, melhores
condições de habitabilidade, de saúde, solidão e melhores recursos económicos). Nestes
idosos assiste-se a uma rede social de apoio muito pequena, pobre competência
comportamental e capacidades cognitivas. Os seus afectos e os seus sentimentos de
valor próprio encontram-se deprimidos. No entanto e contradizendo tudo isto,
consideram o seu bem-estar e QDV estável e positiva.
O presente estudo teve como objectivo principal analisar a relação entre a QDV e
a solidão numa amostra de idosos. Tendo em conta os objectivos deste estudo e a
metodologia, foi possível retirar as seguintes conclusões.
De acordo com os resultados deste estudo podemos concluir que apesar de não ser uma
amostra representativa, os resultados evidenciam não existir correlações/diferenças
estatisticamente significativas negativas entre a QDV e a solidão. Verifica-se no entanto
uma correlação significativa positiva entre a mobilidade e o total de incapacidade com a
UCLA. A principal conclusão que se retira da análise dos dados é que os sujeitos, em
geral, apresentam índices de capacidade bons. Na sua maioria são autónomos e
percebem uma boa qualidade de vida e consideram não ser afectados pela solidão.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
67
8. Limitações do estudo/Orientações para a prática
Dado o crescente aumento da população idosa é cada vez mais importante e
necessário apostar e investir nesta população, de modo a que a qualidade dos serviços
prestados melhore contribuindo, assim, para um aumento da QDV dos idosos.
Seria importante a implementação de mais estudos nesta área, como forma de
chamar atenção para os idosos, estudando e tentando compreender de que forma se pode
melhorar a sua QDV e a solidão sentida nesta fase de vida. Deste modo, e em
investigações posteriores seria importante a realização de investigações longitudinais
neste âmbito, isto junto de idosos institucionalizados comparativamente com idosos que
se encontram na sua habitação, de modo a se poder avaliar a evolução da percepção da
QDV e da solidão nos idosos, aumentando o número da amostra uma vez que a
representatividade do grupo masculino e feminino ser igualmente reduzida, e
considerando outras variáveis que não foram incluídas no estudo, mas também
importantes.
Outra limitação prende-se com o facto de a amostra, deste estudo, ter sido
recolhida aleatoriamente contribuindo, para que não sejam controladas algumas
variáveis parasitas.
Devem, ainda, ser tidos em conta, em investigações posteriores, aspectos como a
desejabilidade social. Isto porque no processo de recolha de dados, os questionários
foram preenchidos pelo investigador e as respostas dadas pelo entrevistado poderão ser
condicionadas pela questão da desejabilidade social.
Segundo O’ Connor (1989, citado por Paschoal, 2000), os idosos tendem a
inventar mais nas respostas a questionários e entrevistas do que os mais jovens, e
também têm tendência a considerar de forma optimista os seu estado de saúde e bem-
estar (Paschoal, 2000), o que de certa forma vai de encontro com a experiência
subjectiva da investigadora e os dados objectivos dos instrumentos.
Houve ainda alguma dificuldade em encontrar um instrumento que avaliasse a
QDV no envelhecimento e que estivesse aferido para a população portuguesa, o que
valida a necessidade de se criarem mais instrumentos de QDV adaptados ao
envelhecimento. Comparativamente com outros instrumentos que medem a QDV,
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
68
constatou-se que alguns possuem um valor global de QDV. No entanto, tal não acontece
no Easycare, o que poderá indicar uma limitação na medida em que a interpretação dos
resultados não é tão clara. Este instrumento não refere áreas como as psicossociais e
espirituais, tendo no entanto potencialidades ao nível da clínica.
Foram ainda encontradas outras limitações no instrumento utilizado aquando a sua
aplicação. Pois seria importante em algumas questões a existência de outras opções de
resposta, por exemplo, na questão número 12, onde se pergunta ao idoso se “consegue
usar o telefone?”, não tendo como opção de resposta o facto de o idoso não possuir
telefone, o que se verificou na maior parte dos casos.
No que se refere à análise descritiva das sub-escalas do Easycare verificou-se que
nas sub-escalas incapacidade física, mobilidade, cuidados pessoais, controlo
esfincteriano e o total de incapacidade o valor do desvio padrão é maior que a média, o
que significa que o que poderá significar que estes indivíduos pontuam valores que se
desviam dos valores normativos. Estes resultados poderão apontar para a especificidade
desta população, uma vez que se trata de uma população bastante envelhecida e com
baixa escolaridade, encontrando-se ao abrigo sobretudo do cônjuge (quando ainda é
vivo), dos vizinhos e da rede de apoio formal. Estes resultados também poderão apontar
como foi dito anteriormente para aspectos relacionados com a desejabilidade social, o
que não deixam de contribuir para mais um limitação do nosso estudo.
Apesar deste estudo apresentar limitações, esta não devem ser desencorajadoras,
mas sim, servir um ponto de partida para outros estudos Com isto, pretende-se uma
compreensão mais global para que futuramente se possa dar uma intervenção adequada,
válida e objectiva a esta população, indo assim, ao encontro das suas motivações,
necessidades e interesse.
Deste modo, é importante investir na QDV dos idosos de modo a proporcionar-
lhes novas aprendizagens como forma de melhor passagem do tempo, fomentar e
fortalecer os laços familiares entre os idosos e a sua família. Assim, este estudo
constituiu uma experiência enriquecedora, não só pelo tema escolhido, visto ter sido um
desafio, uma vez que ao longo do percurso académico nunca foram realizados pela
investigadora estudos neste domínio e também pelo contacto com esta população que
foi bastante gratificante.
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
69
Neste sentido, é emergente a intervenção psicológica junto desta população, uma
vez que, aquando da recolha de dados e devido à faixa etária avançada, verificou-se que
a maioria dos participantes apresentavam algumas limitações, tais como, dificuldades de
compreensão, fragilidades a nível afectivo e algumas funções cognitivas
comprometidas.
Deste modo seria importante a realização de algumas actividades junto dos idosos
de modo a desenvolver a sua criatividade, promovendo o lazer e proporcionando prazer,
realização pessoal, formação e conhecimento (Coelho, 2003). Uma actividade que
salientamos é a pintura, uma vez que estimula e prolonga as capacidades psíquicas e
físicas, despertando-os para novos interesses (Coelho, 2003)
O papel do psicólogo, revela-se assim muito importante, não só realizando um
trabalho com uma vertente mais clínica, mas também motivar o idoso para a sua
participação nestas actividades, fazendo-o perceber que os últimos dias da sua vida não
devem ser encarados e passados com desânimo, angústia e solidão. O trabalho do
psicólogo pode passar por fazer trabalhos de estimulação cognitiva, através de
exercícios específicos de modo a combater o declínio cognitivo característico associado.
O desenvolvimento de várias actividades adequadas a várias situações e com
objectivos específicos de modo a promover o auto/hetero conhecimento, aumentar
pensamentos positivos, relaxamento, treino de memória, estimulação cognitiva e
proporcionar actividades que façam rir, proporcionam bem-estar e prazer, promovendo
a produtividade e a satisfação pessoal (Lima, 2004).
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
70
V. BIBLIOGRAFIA
Qualidade de Vida e Solidão na 3ª idade
71
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