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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rosane Raffaini Palma
Práticas da Equipe de Saúde ligadas à Resiliência
para a Unidade de Cuidado
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
São Paulo
2012
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Rosane Raffaini Palma
Práticas da Equipe de Saúde ligadas à Resiliência
para a Unidade de Cuidado
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do grau de mestre em
Psicologia Clínica, sob a orientação da Prof.
Dra. Maria Helena Pereira Franco.
São Paulo
2012
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Banca examinadora:
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“Os corpos não sofrem, as pessoas sofrem.”
Eric Cassel
“Não é suficiente curar os olhos sem a cabeça,
nem a cabeça sem o corpo, assim como não basta
curar o corpo sem a alma.”
Sócrates
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Dedicatória
A todos que foram ou são meus pacientes e
que confiaram a mim suas histórias de vida,
me levando a indagações continuamente.
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Agradecimentos
Agradeço aos meus filhos Maria Luiza e Eduardo, simplesmente por existirem e
me inspirarem como pessoa.
Agradeço ao meu marido Reinaldo, pelo carinho, paciência, compreensão e
incentivo nesta trajetória.
Agradeço à minha enteada, por comigo transformar dificuldades em desafios.
Agradeço ao meu genro Paulo e minha nora Fernanda, pela alegria que trazem
à minha família.
Agradeço à Professora Maria Helena Pereira Franco, por partilhar comigo
generosamente seu conhecimento e inquietação e por me orientar sempre para
muito além desta dissertação.
Agradeço às Professoras Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta e Isabel da Silva
Kahn Marin, pelas inúmeras orientações científicas e acadêmicas e pela
disponibilidade, honrando-me com sua presença na banca examinadora.
Agradeço, em especial, à equipe de saúde, que gentilmente participou desta
pesquisa de forma comprometida, interessada e muito profissional.
Agradeço aos meus colegas do curso de Pós-graduação da PUC-SP, que
compartilharam comigo meus anseios e esperanças nesta formação,
encorajando-me e incentivando-me em todos os momentos.
Agradeço minha colega Mariana Sarkis, pela disponibilidade e auxílio como
observadora na realização do grupo focal.
Agradeço, em especial, Ceres Araújo (Graduação), Maria da Glória Gonçalves
Gimenes (Especialização), Maria Helena Pereira Franco (Pós-Graduação) e
todos os professores que contribuíram para minha formação profissional,
deixando marcas no resultado deste trabalho.
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ), pelo apoio oferecido e pela oportunidade de realização desta
pesquisa.
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Resumo
Um novo enfoque vem sendo adotado pela psicologia, ao estudar processos e
percepções das experiências da vida, com ênfase na compreensão do aspecto
saudável do ser humano, que é a resiliência. Por considerar a família um
sistema em movimento, o presente estudo adotou o referencial teórico do
pensamento sistêmico, com o objetivo de identificar e compreender os
cuidados que as equipes de saúde prestam em relação à utilização de práticas
ligadas à resiliência para o paciente e sua família, ao lidar com uma doença. O
grupo focal foi utilizado como método de pesquisa qualitativa, considerando
que a energia gerada pelo grupo cria profundidade e diversidade de respostas.
Uma equipe multiprofissional de saúde participou do estudo, à qual foi proposta
a discussão de um caso clínico fictício, abordando queixa de dor crônica. As
respostas dos participantes foram analisadas por meio dos estudos sobre
resiliência familiar segundo Walsh. Para dar acolhimento às necessidades da
paciente fictícia ligadas à resiliência, a equipe mostrou-se interessada e, mais
do que isso, disposta a ocupar um lugar que originalmente caberia à família. O
grupo levou em conta a extração de significado na adversidade familiar e a
conexão entre a paciente e seus familiares, considerando a possível fragilidade
emocional decorrente de sua viuvez recente e a distância física entre a
paciente e os familiares. Mostrou ainda atenção à superação da adversidade,
flexibilidade, clareza nas informações, recursos sociais e financeiros,
expressão emocional aberta e resolução colaborativa dos problemas da
paciente, porém, com menos ênfase, considerando uma perspectiva de
trabalho ligada à unidade de cuidado. Não foram identificadas sugestões pela
equipe participante quanto às práticas ligadas à religiosidade ou espiritualidade
no enfrentamento da queixa.
Palavras-chave: resiliência psicológica, doença crônica, dor crônica.
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Abstract
A new approach to the study of the processes and perceptions of life
experiences is being taken by psychologists, with emphasis on the
understanding of the healthy aspect of human beings, the resilience. Seeing the
family as a dynamic system, the present study adopted the theoretical
framework of systems thinking, in order to identify and understand the care
provided by health teams with respect to the use of the concept of resilience
with patients and their families when dealing with a disease. A focus group was
used as qualitative research method, considering that the energy generated by
the group would result in deeper and more diverse answers. A multidisciplinary
health care team participated in the study, and was invited to discuss a fictional
case, addressing complaints of chronic pain. The answers of the participants
were analyzed based on the studies of family resilience, according to Walsh.
The team showed interest in addressing the needs of the fictional patient by
using the concept of resilience, and more than that, was willing to put
themselves in the place of the family. The group took into account the extraction
of meaning from the family adversities and the connection between the patient
and her relatives, considering the possible emotion instability resulting from the
recent loss, and the physical distance between the patient and her relatives.
They also focused attention on aspects such as overcoming adversities,
flexibility, clarity of information, social and financial resources, open emotional
expression and collaborative resolution of the problems of the patient, but with
less emphasis, considering a perspective of work related to the care unit. No
suggestions were made by the group with regards to religious or spiritual
practices to cope with the complaint.
Key-words: resilience, psychological; chronic disease; chronic pain.
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Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10
1. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 12
1.1 Resiliência ................................................................................................. 12
1.1.1 Sistemas de crença familiar ............................................................. 15
1.1.2 Padrões organizacionais .................................................................. 18
1.1.3 Processos de comunicação ............................................................. 20
1.2 Unidade de cuidado ................................................................................... 22
1.3 Equipe multiprofissional ............................................................................. 25
1.4 Doença crônica .......................................................................................... 30
1.5 Dor crônica ................................................................................................. 33
1.6 Fibromialgia ................................................................................................ 36
2. OBJETIVO .................................................................................................. 38
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 39
3.1 Grupo focal ................................................................................................. 39
3.2 Participantes .............................................................................................. 43
3.3 Procedimento de análise do observado no grupo focal ............................. 43
3.4 O caso fictício ............................................................................................. 44
3.5 Instruções para a equipe participante sobre o caso fictício ....................... 46
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO ............................................................................ 47
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 64
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 67
7. ANEXOS ...................................................................................................... 72
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar e compreender o cuidado
que as equipes de saúde prestam em relação à utilização de práticas ligadas à
resiliência na família, entendida como componente da unidade de cuidado.
Para a realização dessa pesquisa, considerou-se a família, um sistema em
movimento no tempo e adotou-se o referencial teórico de orientação sistêmica
com base nos trabalhos de Carter & McGoldrick (1989) e Cerveny (1997, 2000,
2004, 2010) no que diz respeito aos estudos da família e Patterson (2002a,
2002b) e Walsh (2005) nos estudos sobre resiliência.
Na China, a palavra crise é formada por dois ideogramas, que
simbolizam perigo e oportunidade. Uma crise, portanto, pode trazer como
possibilidade a atenção ao que de fato importa na vida e alavancar direções
anteriormente impensadas. A doença vista como crise leva à descontinuidade
no curso de desenvolvimento, acarretando mudanças qualitativas no
funcionamento familiar. A mudança dependerá da capacidade de
transformação, tendo por base o significado atribuído à situação vivida,
buscando adaptação.
De uma equipe multidisciplinar de saúde espera-se cautela, pois suas
ações envolvem grande complexidade e afetam todas as dimensões humanas:
emocional, física, cognitiva, social e espiritual. Por outro lado, a doença ainda
exige do pacienteelaboração do luto pela perda da saúde, da autonomia, da
independência e, em consequência, o reajustamento psicossocial.
Um olhar da psicologia para aspectos potencialmente saudáveis, ligados
à motivação e capacidades humanas, aconteceu especialmente a partir de
1988 quando McCubbin e McCubbin estudaram a tipologia das famílias
resilientes, seguidos por McCubbin, Thompson e McCubbin (1996),
investigando características e propriedades familiares que ajudariam em
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situação de crise e observando a importância do grupo familiar neste processo.
Pouca produção científica existe ainda sobre resiliência, mas um movimento
vem acontecendo nos últimos dez anos, na expectativa de que profissionais
insiram o construto da psicologia positiva em seus estudos.
Esse trabalho procurou entender os esforços de uma equipe para
encorajar processos individuais e familiares facilitadores ao lidar com a doença
vista como crise. Um caso exposto a uma equipe de saúde buscou suscitar
estímulos que provocassem nela, em reunião clínica, discussão sobre
hipóteses para conduta com uma paciente fictícia e sua família. O grupo focal
foi utilizado como técnica de pesquisa qualitativa, considerando que a energia
gerada pelo grupo cria maior profundidade e diversidade de respostas. Para
tanto, foram considerados os estudos mais recentes sobre resiliência de Walsh
(2005).
Uma paciente fictícia com dor crônica, mais especificamente
fibromialgia, foi escolhida como tema do caso a ser discutido para que os
participantes do grupo, formado por profissionais de saúde de uma clínica
especializada em dor, tivessem possibilidades equiparadas de intervenção, já
que a doença ainda não tem etiologia e fisiopatologia completamente
esclarecidas.
Em busca de trabalhos sobre o tema escolhido, a autora utilizou os
seguintes descritores: resiliência psicológica (resilience, psychological), doença
crônica (chronic disease), dor crônica (chronic pain), tendo encontrado na
Biblioteca Regional de Medicina-BIREME dois trabalhos, na Biblioteca Digital
de Teses e Dissertações quatro trabalhos e nos Periódicos Capes 232
trabalhos. Ao incluir o descritor catastrofização (catastrophization), foi alterada
a estratégia de busca e os resultados chegaram a 9.688 trabalhos, que
incluíssem apenas aqueles com seres humanos no PubMed. Esse resultado
denuncia que a investigação e a busca de compreensão ainda contemplam os
estudos da psicologia tradicional, com ênfase em aspectos psicopatológicos.
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1. REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 Resiliência
O termo resiliência, originário da física, significa propriedade pela qual a
energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a
tensão causadora de uma deformação elástica. O mesmo termo foi adaptado
ao campo da psicologia e, em particular, da saúde, relacionado à capacidade
de regeneração, adaptação e flexibilidade. Lidar com suas dores e tomar as
rédeas da própria vida torna alguém resiliente. A despeito das crises
enfrentadas como doenças, guerras, situações de risco ou traumáticas,
algumas pessoas conseguem uma adaptação satisfatória na vida afetiva, na
vida social e no trabalho (Fonagy et al., 1994).
Bowlby (1969), em seus estudos sobre apego, avaliou que competências
individuais em situação desfavorável são ligadas ao desenvolvimento humano.
Posteriormente, Bowlby (1990) desenvolveu o conceito de modelo operativo
interno para descrever processos internos que incluem construção de
significado, imagens e modelos mentais. Este modelo diz respeito à
representação das experiências da infância relacionadas à percepção de si e
do outro, não é estático e pode ser modificado e transformado conforme as
experiências vividas.
Segundo Araújo, Mello e Rios (2011), a resiliência engloba dois
constructos básicos: a adversidade (circunstâncias negativas da vida
associadas à dificuldade de ajustamento) e a adaptação positiva (competência
diante das exigências para ajustamento social). Trata-se de um processo
dinâmico, determinado pelo reconhecimento de fatores externos e internos que
permitem a potencialização das capacidades. Ressignificar o evento adverso
que tenha causado um desequilíbrio, considerando-o como possibilidade de
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desenvolvimento, individuação e fortalecimento de vínculo com a vida, é
atributo da resiliência. Existe, ainda, um conjunto de atributos relacionados às
competências necessárias à resiliência: inteligência, persistência, otimismo,
disciplina, generosidade, disponibilidade para o outro, capacidade amorosa,
flexibilidade adaptativa, consciência de protagonizar a sua história, se
responsabilizar por sua ação e a possibilidade de dar significado aos eventos.
A autora desse trabalho considera que novos horizontes para pesquisa
nas áreas de ciências humanas e sociais têm sido privilegiados, diante do
enfoque que a psicologia vem adotando ao estudar processos e percepções
das experiências da vida e de desenvolvimento, com ênfase na compreensão
do que seja saudável no ser humano, em oposição à psicologia tradicional com
enfoque nos desajustes e conflitos. Na perspectiva sistêmica, o conceito de
resiliência traz o desafio do conhecimento que justifique os aspectos da saúde
familiar.
Flack (1991) definiu a resiliência familiar como resultado do
comportamento adaptativo somado à mudança e crescimento, isto é, a
capacidade de transformação e flexibilidade da família perante a crise.
Consideram-se com isso características estruturais e funcionais e a capacidade
de adaptação de cada sujeito envolvido.
Hawley e DeHann (1996) também definem e abordam a resiliência como
processo. Dependendo do contexto, nível de desenvolvimento familiar, da
combinação interativa de fatores de risco ou protetores e da percepção
compartilhada na família, a resiliência familiar pode prosperar e se adaptar
diante do estresse.
Segundo o modelo proposto por McCubbin, Thompson e McCubbin
(1996), a resiliência familiar possui duas fases: fase de ajustamento (bom ou
mal), que ocorre durante o enfrentamento de uma situação estressante
(gravidade, recursos, funcionamento e enfrentamento familiar) e fase de
adaptação, que surge pelo desequilíbrio provocado na crise. Esta última fase
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tem por objetivo restaurar e regenerar a harmonia e o equilíbrio das relações
interpessoais (novos padrões de funcionamento, avaliações de estrutura de
crenças, cultura, convicções e expectativas, controle da crise, coerência
familiar, paradigma familiar, avaliação real da situação de stress, recursos
individuais, recursos familiares).
Com a evolução das pesquisas (Yunes, 2001; Patterson, 2002b; Walsh,
2005), a família passou a ser foco da atenção como possibilidade de oferecer
recursos e ser fonte de resiliência aos seus membros. Os cuidadores
profissionais passaram a considerar e reconhecer forças e habilidades na
família que facilitam a resiliência familiar, contribuindo para que esta família
adquira o senso de ser capaz. Walsh (2005) avaliou que a vida possui riscos e
desafios inerentes, como as transições do ciclo familiar. Mudanças sentidas
pelos membros da família como abruptas necessitam de reorganização de
fronteiras, revisão e atualização, provocam estresse e necessidade de novas
habilidades para o enfrentamento.
Somente por meio dos estudos de Patterson (2002a, 2002b), esforços
foram concentrados para compreender a diferença entre resiliência familiar
como traço ou capacidade e resiliência como processo familiar. Indivíduos se
desenvolvem e adquirem habilidades protetoras na família, portanto o traço
torna-se apenas um fator presente no processo de resiliência familiar. Os
significados familiares são considerados diferentes dos significados individuais
porque são construídos coletivamente, com base em um relacionamento
partilhado e permeado por cultura e valores, segundo Souza (2004).
A autora dessa pesquisa identifica que os estudos sobre resiliência têm
se tornado cada vez mais abrangentes, uma vez que situações difíceis
precisam ser entendidas e enfrentadas em uma perspectiva familiar. A
colaboração entre os membros de uma família permite-lhes uma competência
nova e uma confiança compartilhada. Fica facilitado assim um clima
capacitador. Os sintomas devem ser avaliados em um contexto longitudinal
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levando em conta seus significados e as reações de enfrentamento da família,
podendo esta desfrutar de sentimentos de orgulho e sensação de eficiência
pelas experiências de sucesso compartilhado. A abordagem vai além da
resolução de problemas, na medida em que a resiliência familiar proporciona
estrutura positiva e pragmática que orienta as intervenções não apenas para
reparar a família, bem como para fortalecê-la em desafios futuros. Os sistemas
de processos familiares saudáveis têm valorizado a identificação de
potencialidades e vulnerabilidades, além de intervenções para construir e
reforçar elementos fundamentais do processo no funcionamento eficiente da
família em crise.
Walsh (2005) construiu uma estrutura conceitual que denominou
“funcionamento familiar efetivo” para avaliação das práticas em resiliência
familiar. Essa estrutura foi entendida pela autora deste estudo como valioso
instrumento para seu objetivo e, com isso em mente, os três domínios
utilizados pelo autor são descritos e comentados a seguir:
1.1.1 Sistemas de crença familiar
Quando uma família compartilha seus pensamentos e sentimentos sobre
uma determinada situação, ela constrói um novo significado. Partindo da
crença de que o significado da adversidade é socialmente construído, ela
poderá enfrentar uma doença, tendo em vista um desafio compartilhado e
contando com colaboração mútua. A aceitação dos limites facilita que esforços
sejam concentrados no que é possível e possa estimular a esperança como
convicção projetada no futuro, independentemente da situação atual.
• Extrair significado da adversidade
As famílias mais resilientes são mais habilitadas para aceitar a
passagem do tempo, os ritmos e o fluxo da vida familiar. Os fundamentos de
uma família saudável são a valorização dos familiares e o orgulho da
identidade familiar.
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As transições do ciclo de vida, embora sentidas como perturbadoras e
muitas vezes dolorosas, podem catalizar crescimento e transformação e,
portanto, normalização e contextualização da adversidade e da angústia.
A mesma experiência pode ser percebida como facilitativa ou restritiva.
Famílias resilientes costumam buscar ajuda em seu grupo de apoio familiar,
social, religioso ou profissional, quando sentem necessidade. Buscar ajuda,
nesses casos, mostra força diante de obstáculos aparentemente insuperáveis.
O êxito pode ser alcançado, permitindo um enfrentamento mais efetivo e
subsequentes adaptações necessárias à vida e ampliando o repertório com
novas possibilidades.
Ao tentarem entender o porquê de terem sido atingidas por
adversidades, indivíduos procuram respostas em suas culturas para tanto.
Convidadas a refletir sobre suas crenças, famílias resilientes em crises
demandam uma investigação para considerarem outras possibilidades, que
não a má sorte.
• Perspectiva positiva
Iniciativa ativa e de perseverança pode ser pensada sob um prisma da
tenacidade, e encarado como rigidez ou obstinação ou pensada sob o prisma
da experiência de sobrevivência e persistência diante da adversidade, podem
ser em si uma fonte de orgulho.
A coragem de um indivíduo pode contaminar os outros membros do
grupo e servir de inspiração. Em situações opressivas, este recurso de
construção e manutenção da coragem, torna maior a força através dos elos
vitais.
O conceito de otimismo aprendido, introduzido por Seligman (1990), tem
grande relevância na estimulação de uma família resiliente. O pensamento
positivo deve ser reforçado por experiências bem-sucedidas e um contexto
estimulante. Seligman (1995) concluiu também que crianças que aprendem
habilidades como contestar seus pensamentos negativos e negociar com seus
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pares ganham fortalecimento das habilidades de comunicação familiar,
favorecendo a resiliência.
Famílias que atribuem o sucesso, em grande parte, a seus esforços,
recursos e competências possuem um senso de controle do que lhes acontece
na vida. Diante de erros ou fracasso, familiares podem vivenciar a experiência
da aprendizagem, ponderando sobre esforço insuficiente ou objetivo irrealista e
não a uma experiência de derrota.
A resiliência não acontece observando-se apenas o lado bom das
coisas. A preocupação e as realidades dolorosas são experimentadas e
precisam ser reconhecidas em situação de crise. As ilusões positivas diferem
da negação defensiva, pois informações sobre uma ameaça são incorporadas
e suas implicações absorvidas.
A confiança de que cada membro da família fará o melhor que puder
reforça resultados individuais. A busca incessante por soluções estimula o
otimismo e torna cada familiar participante ativo do processo de resolução dos
problemas.
A resiliência necessita que façamos um balanço da situação colocada.
Uma avaliação de recursos, desafios e restrições se impõe. Com isso, a
iniciativa deve ser ligada a aceitar o que não pode ser modificado, buscando
adaptação e direcionamento dos esforços ao que se pode dominar ou
modificar. Como exemplo, pode-se destacar a situação de proximidade da
morte. Quando um paciente está fora da perspectiva de cura, membros da
família podem escolher participar do processo de preparação para a morte,
focando no alívio de sintomas, procurando conforto e fechando laços afetivos.
• Transcendência e espiritualidade
A espiritualidade pode ser cultivada dentro ou fora de uma estrutura
religiosa. Ela tem o poder de trazer conforto ao se conviver com incertezas,
auxiliando na esperança da perspectiva de futuro. Essa experiência de crise
pode trazer consigo uma experiência de transcendência. É comum ouvirmos
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que pessoas ressignificaram suas vidas através de uma experiência adversa. É
importante, portanto, que uma família possa reconhecer o sentido positivo nas
situações difíceis, para o desenvolvimento da resiliência. Diante de uma
imagem religiosa de um Deus todo-poderoso e punitivo, profissionais
orientados e preocupados em conceituar as pessoas como seres
biopsicossociais-espirituais podem suscitar experiências espirituais vividas que
tenham trazido paz interior, conforto e comunhão.
Famílias incentivadas a enfrentar e se recuperar das adversidades
procuram recursos inventivos nas experiências vividas anteriormente, mitos e
histórias familiares ou têm necessidade de atitude de improvisação,
implementando soluções ainda não tentadas. Outras fontes de inspiração além
dos limites do cotidiano são personalidades de coragem e heróis que
incorporaram muitas das melhores qualidades da resiliência, conservando
vontade de vencer e superar dificuldades, de perseverar mesmo contundido e
de se recuperar do fracasso e da perda.
As crenças fundamentais da família emergem diante da incerteza e do
sofrimento. Aceitando o fato ocorrido e quaisquer cicatrizes que persistam, a
família tenta incorporar o que aprendeu e se esforça para que outros possam
aprender com sua experiência. À medida que o evento vai sendo assimilado, o
sofrimento pode passar a ser encarado como algo que os tornou melhores e
que lhes abriu novas oportunidades. Essas crenças compreendem, portanto, a
capacidade de uma família extrair significado da adversidade e, dentro de uma
perspectiva positiva, observar potencialidades e possibilidades ratificadoras.
1.1.2 Padrões organizacionais
São os padrões de interação e regras consistentes, com alguma
estabilidade e rotina, que garantem confiabilidade e a sensação de
continuidade no tempo. A ideia de coesão não parte de um modelo rígido e
inflexível de uma relação fusionada. Ao contrário, a conexão refere-se à
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manutenção da unidade familiar, com respeito pela autonomia dos membros da
família, flexíveis o bastante para manter relação de troca e suporte com a
comunidade e a família estendida e papéis alterados em novos arranjos, caso
seja preciso.
• Flexibilidade
A coesão e a flexibilidade sofrem influência da cultura na qual esta
família se insere do ponto de vista do desenvolvimento do ciclo vital familiar, do
contexto histórico e social e suas tradições. Uma estrutura estável, porém
flexível, mantém uma família em um bom funcionamento. Estabilidade de
papéis, regras e padrões de interação previsíveis e consistentes criam uma
confiabilidade mútua crucial, além de senso de continuidade. A resiliência
familiar requer a capacidade de contrabalançar estabilidade estrutural e
alterações imperativas quando os membros da família enfrentam crises e
desafios.
A mudança pode ser entendida como ameaçadora se considerarmos
que o medo do desconhecido pode suplantar a angústia presente na crise, que
é dolorosa, porém familiar. Essa experiência pode vir acompanhada de uma
sensação aguda de desamparo e falta de controle. Urge, então, explorar o que
é necessário e valorizado, construir habilidades e confiança em incrementos
pequenos e fáceis de administrar, além de aprender a errar com segurança,
tentar novamente até alcançar o êxito, bem como criar uma estrutura forte para
conter reações e tolerar incertezas.
• Conexão
Para observação do equilíbrio, deve-se examinar na unidade familiar, o
funcionamento da autonomia individual, tolerância com relação à separação,
proximidade saudável, colaboração e compromisso. Seus membros podem
estar profundamente conectados e unidos em uma crise e, ao mesmo tempo,
respeitarem-se em suas diferenças.
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Uma família resiliente tem seus membros em um contexto de segurança
e proteção, apoiando-se no crescimento e desenvolvimentos individuais. O
conforto e a segurança proporcionados por relacionamentos afetivos são
especialmente fundamentais no enfrentamento de eventos catastróficos.
• Recursos sociais e econômicos
Os vínculos com o mundo social são de vital importância na resiliência
familiar. Membros ativamente engajados e envolvidos com o que acontece no
seu meio relacionam-se com ele com maior esperança, recebem maior apoio,
serviços concretos e informações. Não é apenas o tamanho da rede ou a
frequência dos contatos que podem surtir tal efeito, mas a qualidade dos
relacionamentos, que devem identificar os conflitos e os rompimentos a serem
reparados.
O funcionamento familiar fica fortalecido se forem considerados os
recursos financeiros e examinarem os apoios e os equilíbrios estruturais que
vinculam o sistema familiar e profissional. Cuidadores que trabalham muito têm
sua energia drenada para a demanda do cuidado ou, se trabalharem menos,
tem sua remuneração diminuída e a renda familiar cai.
1.1.3 Processos de comunicação
Para lidar com situações de estresse e manter opções de enfrentamento
estratégico, a família necessita buscar e compartilhar informações. Essa atitude
ajuda na construção do significado da situação de forma compartilhada e
consciente.
Compartilhamento de sentimentos mantém um clima de confiança e
empatia. Compartilhar sucessos, mesmo que pequenos, estimula a confiança
familiar para enfrentar desafios maiores, enquanto compartilhar erros pode
reformular objetivo e estratégia na resolução dos problemas. Portanto,
solucionar problemas de forma colaborativa pressupõe o reconhecimento do
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problema, observar a importância e possibilidade de resolução, trocar ideias e
finalmente tomar decisão.
• Clareza
Levando-se em conta as diferenças culturais, a comunicação nas
famílias resilientes é clara, específica, direta e honesta. A comunicação
acontece de forma que os comportamentos sejam consistentes e congruentes
com a mensagem verbal. A clareza das regras familiares organiza as
interações, define e estabelece expectativas.
Diante de eventos estressantes, membros da família podem ter
percepções e entendimentos não convergentes. As experiências de crise
tornam-se mais administráveis e compreensíveis quando discutidas
abertamente e os significados dos eventos e suas implicações forem
compartilhados.
• Expressão emocional aberta
“Proteções” por meio do silêncio, do segredo ou da distorção criam
barreiras e bloqueiam a comunicação, dificultando as tomadas de decisão. Por
outro lado, expressões abertas de sentimentos positivos, como amor,
apreciação, respeito, têm a função de compensar interações negativas e
situações de conflito, próprios do momento de crise. O humor compartilhado
pode servir para apontar erros, diminuir a ansiedade e facilitar conversas.
• Resolução colaborativa dos problemas
Quando se enfrenta uma crise repentina ou desafios persistentes, há
que se encontrarem estratégias eficazes para resolução de problemas.
Identificando os processos eficazes para resolução de problemas, os membros
da família precisam, primeiramente, reconhecer o problema e se comunicar
sobre ele com o que podem constituir como recursos potenciais. A partir daí,
existe a necessidade de se pensar, pesar e considerar as possíveis opções,
recursos e impedimentos e decidir um plano de ação; monitorar os recursos e
avaliar o êxito, revendo esforços e cuidando que a boa comunicação
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permaneça com discussões criativas. Na resolução de problemas, o processo
de negociação pode ser tão importante quanto o resultado final.
Negociações bem-sucedidas utilizando mecanismos como: aprender a
ouvir e falar com paciência; evitar ou interromper ciclos negativos de crítica;
responsabilização e retraimento; validar sentimentos confusos como parte da
experiência; reexaminar e renegociar as expectativas periodicamente;
concentrar-se em objetivos atingíveis; dar passos concretos; acreditar no
sucesso e aprender com o fracasso podem tornar uma família mais resiliente
diante da crise.
Princípios básicos fundamentados nos estudos de Walsh (2005)
sustentam que a força individual interfere no contexto da família, episódios de
crise e estresse afetam além do indivíduo, processos familiares podem
promover tanto a recuperação quanto aumentar a vulnerabilidade individual.
Diante do exposto, a autora desse estudo considerou que, na tentativa
de entender quais podem ser os esforços de uma equipe multidisciplinar para
encorajar e fortalecer processos facilitadores de resiliência na família em crise
pela doença, os indicadores de Walsh (2005) oferecem possibilidades
instrumentais de investigação muito interessantes.
1.2 Unidade de cuidado
Segundo os estudos de Cerveny (1997, 2000, 2004, 2010), uma família
é formada por pessoas unidas por até cinco gerações (com consanguinidade
ou não), que compartilham uma história comum e que têm no passado os
alicerces que norteiam o futuro. Na trajetória evolutiva da família, cada membro
do sistema influencia o outro, sendo ao mesmo tempo influenciado, portanto
influências mútuas formam o cotidiano da vida familiar. Nessa dissertação, a
definição apresentada anteriormente foi utilizada e se aplica para a definição de
unidade de cuidado, já que a autora desse trabalho considera essa
23
permeabilidade entre os integrantes da família, uma vez que a teoria sistêmica
expande a visão de uma adaptação individual para processos transacionais.
O funcionamento e a estrutura da família passaram por transformações
inevitáveis nas últimas décadas. O papel de cada membro na família tem se
alterado significativamente, as fronteiras tem se afrouxado e seus contornos se
expandido, como verificamos nos recasamentos e na longevidade de seus
membros. Novas formas de adaptação e organização de experiências têm sido
necessárias, já que não podemos desconsiderar uma tendência de que
gerações repitam comportamentos, como forma de manter o controle dos
processos relacionais. Mudar pode causar grande sofrimento e ansiedade pela
instabilidade e, com isso, algumas famílias podem apresentar maior rigidez e
sistemas inflexíveis.
Observando o momento do ciclo vital de uma família, são considerados:
suas origens étnicas e raciais, sua inserção social e cultural, tipos de rituais
que cultivam, como esta mantém vínculos, como lida com crises e conflitos. O
sentido de ciclo é associado ao processo de vida e aos fenômenos que se
sucedem com determinado ritmo da história familiar. Transpor etapas do ciclo
vital pressupõe alteração, dificuldade, complicação, tensão e está ligado à ideia
de enfrentamento de uma crise.
Uma família é marcada por ganhos e perdas. Quando um membro da
família está doente, Carter e McGoldrick et al. (1989) destacam, entre os
comportamentos de enfrentamento familiar funcional durante a doença:
comunicação aberta; partilha de responsabilidades; planejamento realista do
futuro; valorização das capacidades restantes do paciente; acolhimento de um
paciente nutrido de medos reais e imaginários; flexibilidade de expectativa;
desenvolvimento de novos papéis no sistema familiar; adaptação ao desfecho
do tratamento; oferecimento de apoio social ao paciente; favorecimento do
encerramento de laços; apoio e amparo à solidão, perdas e finitude.
24
Famílias fusionadas, segundo Beavers e Hampson (1993), tendem a
reagir com exagero e intolerância à separação, além de vivenciar transtornos
internalizados, como ansiedade e depressão. Nas famílias desvinculadas, a
distância bloqueia a comunicação, a relação e as funções mutuamente
protetoras da família. Nesses casos, pressões por consenso podem interferir
negativamente na resolução de problemas. Os autores descreveram ainda
processos de sistemas com tendências “centrípetas” (buscam conexão e
satisfação para suas vidas dentro de casa) e “centrífugas” (buscam satisfação
fora de casa).
A autora dessa pesquisa acredita que uma família funcional consegue
observar e avaliar as necessidades do membro doente durante todo o percurso
instável e cheio de medos que a doença causa. Quando se sentirem
sobrecarregados, dependentes e limitados sobre alguns aspectos, invadidos e
enlutados em outros momentos por suas perdas (da saúde, da independência,
da imagem corporal), o doente e sua família buscam adaptar-se às inúmeras
novidades diárias que a doença impõe.
Uma família é considerada disfuncional quando não atende às
necessidades sociais, as mudanças no ciclo vital que precisam ser realizadas
não acontecem, seus integrantes não expressam com clareza seus
sentimentos, pautam-se pelo que não é dito ou não confiam nas palavras. No
caso específico de doença, a disfunção familiar acontece quando encontramos:
negação das mudanças ocorridas; culpabilização do paciente ou membros da
família; manutenção de um modelo mental de doença; reações tardias; medo
excessivo. Com isso, torna-se comprometido o equilíbrio e a situação familiar
passa a ser vista como ameaçadora. Nesse caso, as estratégias tornam-se
pouco efetivas ou insuficientes para garantir o bem-estar emocional e a
qualidade de vida das pessoas.
A doença tem sido estudada pela psicologia, que leva em conta a crise
que provoca na unidade de cuidado. A maneira como cada pessoa se relaciona
25
com a vida se reflete no modo como enfrenta as dificuldades, responde aos
eventos estressantes do momento e configura a confiança em si e no outro. A
mudança em uma direção ou outra dependerá da capacidade de transformação
dos significados familiares, compartilhados no tempo e no espaço, pelos quais
se interpreta a situação vivida, buscando adaptação. Significados familiares
referem-se à avaliação de suas capacidades, de situações de risco, de
estresse e de como os recursos disponíveis serão utilizados. Alguns
significados compartilhados por uma família podem facilitar a construção de
mecanismos protetores e torná-la resiliente, pois isso estimula a adoção de
crenças mais otimistas.
1.3 Equipe multiprofissional
O presente estudo se ocupa de uma investigação sobre a utilização de
práticas ligadas à resiliência por profissionais da saúde, nesta nova família que
rompe seu processo de vida natural pela doença de um dos seus membros.
Para humanização dos cuidados em saúde hoje, o grande desafio de
uma equipe multiprofissional é que esta vá além das aparências e procure
compreender o significado da vida atribuído por quem a vivencia e entender a
forma de inserção do indivíduo no mundo, enfim cuidar com competência
científica e humana, não bastando para um atendimento integrado o melhor
tratamento médico medicamentoso, nem as melhores acomodações. A equipe
multiprofissional pode iniciar um movimento de “com-fiar” (tecer com) e “com-
sentir” (sentir com) aproximando-se sem invadir os espaços íntimos familiares e
distanciando-se sem causar a eles a sensação de abandono.
A atenção da equipe às necessidades práticas, sociais, físicas e
emocionais da unidade de cuidado permite tornar efetivo o cuidado e
proporciona a elaboração e ressignificação da experiência vivida. Nesse
contexto é importante avaliar aspectos como: informações acerca da saúde
26
física do paciente; histórico de perdas; enlutamento por perdas relacionadas à
doença; estratégias de enfrentamento; reações emocionais; características de
personalidade do paciente e cuidadores informais; padrões de relacionamento
na família; sistema de crenças, mitos e legados familiares; presença de rede de
apoio. A intervenção a partir daí deve contemplar o alívio da ansiedade,
abertura da comunicação entre familiares e equipe, fortalecimento emocional
para o enfrentamento adequado com relação à crise da doença e
reorganização familiar, estabelecimento de canal para expressão e reflexão
sobre a dor e sofrimento.
A formação dos profissionais de uma equipe multiprofissional deve
preparar cada integrante a considerar formas sistêmicas e compartilhadas de
solução de problemas. Ao focalizar a integralidade de quem é atendido e sua
família, o olhar se expande para intervenções no domínio social, psicológico e
espiritual, levando em conta também o que existe de saudável naquele ser
doente. As demandas da saúde e o crescente desenvolvimento científico e
tecnológico produziram estratégias e mecanismos para efetivar o trabalho em
equipe, sendo respeitada a capacitação e a autonomia de cada profissional
envolvido e ao mesmo tempo sendo discutidas situações de interface. Segundo
Rumen (2009), a construção do conhecimento compartilhado diz respeito à
aceitação da incompletude e traz de forma inerente a abertura para o
conhecimento do outro pela escuta e troca profissional. As interconsultas e
discussões de caso tornam-se valiosos espaços de interação enriquecidos por
normas de atuação abertas aos questionamentos e devem estar presentes em
todas as áreas que formam uma equipe de saúde. Ficam assim
disponibilizados caminhos com enfoque incluindo as necessidades associadas
à doença, na busca de acolher o paciente e sua família na sua individualidade
e totalidade.
Para Rosso (2003), existem ações que podem aumentar o êxito na
resolução de problemas de uma equipe que são: focar no processo e não nas
27
pessoas; procurar delicadeza nos gestos e palavras; ser sincero e franco nas
próprias colocações; validar o que se entendeu, partindo do princípio de que
nem todas as pessoas se expressam bem. Silva (2006) descreveu outras
atuações eficazes na resolução de conflitos: analisar situações baseadas em
fatos concretos; aceitar as diferenças; focar interesses comuns; reconhecer os
sentimentos envolvidos; usar critérios objetivos; inovar quando soluções não
são de comum acordo; validar tudo o que foi acordado; ser respeitoso.
Uma reformulação curricular das universidades tem contemplado
treinamento para formação de equipes multiprofissionais, aperfeiçoando
habilidades específicas como: capacitação em comunicação, reflexões sobre
bioética, conceitos sobre cuidados paliativos e manejo de situações
estressantes, proporcionando articulação sobre novos saberes, práticas e
políticas. Tem sido ainda preparados profissionais mais conscientes da
importância do papel de cuidar, mesmo quando não podem curar. Kovács,
Macieira e Carvalho (2008) consideram que educar não é só instruir, mas
também formar pautado no conhecimento, na ética, respeitando a diversidade
de saberes e reconhecendo valores, direitos e realidades singulares. Além
disso, segundo Pessini (2002), quem cuida e se deixa tocar pelo sofrimento do
outro humaniza-se no processo e se transforma em um radar de alta
sensibilidade. Esta se torna uma chance preciosa para se adquirir sabedoria,
para muito além do conhecimento científico.
A habilidade de comunicação estudada, melhorada e treinada, torna-se
um recurso importante na assistência à saúde. Considerar aspectos como
escolaridade, gênero e cultura melhora a expressão e fortalece a comunicação
a ser estabelecida entre paciente, sua família e uma equipe de saúde.
Segundo Perdicaris (2009), não existe neutralidade na interação das
pessoas. O tom da voz, as palavras escolhidas, o silêncio, um olhar, um gesto,
a ênfase dada e a postura corporal informam tanto quanto o que é dito. É
28
necessário reconhecer as diferenças entre gêneros e sua interferência na boa
comunicação.
A autora desse estudo considera que a comunicação não verbal tem
extrema relevância na relação entre o profissional de saúde e o paciente,
oferecendo informações mais ricas do que é expresso pela fala. Enquanto
comunica ao profissional o que sente, o paciente identifica no cuidador
emoções, sinais de empatia, distanciamento e sensações obtidas pelo toque. O
profissional também pode ser informado pelo paciente sobre sua cultura,
gênero, classe social e qualidade nas relações familiares, enquanto fala sobre
suas dores. A interpretação do significado do silêncio pode desvendar raiva,
vergonha, confusão ou depressão. Portanto, ao transmitir uma mensagem, é
necessário haver simetria entre todas as formas de expressão, para assim
transmitir confiança. Coerência no que se é dito pelos profissionais da equipe,
com a possibilidade de informações serem repetidas quantas vezes forem
necessárias, oferece continência e diminui o nível de estresse vivido pelos
outros membros da equipe ou unidade de cuidado.
O nosso país consiste de uma população heterogênea e neste enfoque
Souza (2006) reconheceu que expressões regionais, crenças e ditos se
apresentam como códigos de linguagens, que espelham significações
singulares, o que pode dificultar a comunicação entre os integrantes de uma
equipe ou da equipe com o paciente e sua família. A utilização de uma
linguagem comum nas reuniões clínicas, que facilite o intercâmbio de saberes,
resulta geralmente em atuações não parciais ou fragmentadas.
Uma equipe multiprofissional tem o desafio de interpretar de forma
responsável o que é exposto pelos seus membros, incentivando o diálogo para
uma aproximação correta e pacientemente construída. Segundo Rumen
(2009), durante a criação de equipes os fatores de risco mais encontrados são
dificuldade de comunicação entre os profissionais, disputas de poder, conflitos
não resolvidos, divisão rígida e imposta no trabalho.
29
A condução de uma conferência familiar (reunião entre família e equipe
multiprofissional) pode constituir-se em valiosa ferramenta interdisciplinar, por
propiciar espaço para discussão, orientação e catarse no grupo familiar e tem
regras como: valorizar a manifestação familiar; reconhecer emoções (como
negação, raiva, culpa); ouvir a família; entender as necessidades do paciente;
perguntar ativamente assuntos pendentes. Quanto mais coesa estiver a
comunicação entre os membros da equipe, mais as famílias terão a
oportunidade de interação e o resultado do encontro fica facilitado. Forte (2009)
entende que os pacientes têm necessidades práticas e de informação muito
diferentes. Alguns pacientes e suas famílias optam por compartilhar as
decisões tomadas e assumem a responsabilidade pelo tratamento juntamente
com a equipe, enquanto outros preferem manter-se conduzidos no tratamento.
As decisões do paciente identificadas e consideradas proporcionam autonomia,
um princípio ético a ser respeitado. Qualquer membro da equipe pode e deve
assumir o cuidado do paciente e seus familiares quando solicitado por
afinidade ou identificação.
Lidar com a experiência do adoecimento, a dor, a impotência, a revolta e
o estresse como obstáculo à vida plena pode causar sobrecarga aos
profissionais da saúde, portanto é importante que a equipe, para desenvolver
um bom trabalho, seja também bem cuidada. Frustrações são inerentes a esse
processo de cuidar e os membros da equipe precisam saber pedir auxílio,
reconhecerem seus limites e terem a possibilidade de apoio, acolhimento e
supervisão para lidar com questões internas que as demandas mobilizam. A
desconstrução do modelo hierárquico dentro da equipe, a capacitação técnica
constante e o respeito mútuo são necessidades imprescindíveis para o sucesso
de uma equipe bem-sucedida. Em bases menos autoritárias adota-se, portanto,
uma postura menos burocrática em que se valoriza mais o processo do que o
resultado final.
30
Profissionais habilitados e organizados para diagnóstico e tratamento de
dor aguda ou crônica de pacientes internados ou ambulatoriais, ligados à
pesquisa e ensino sobre dor, formam um centro multidisciplinar de dor. A
postura da equipe deve ser de reconhecimento pela necessidade de
complementação dos saberes, considerando a complexibilidade de cada caso
e a atuação dos profissionais acontece por consenso. O corpo clínico varia
entre os serviços existentes constando, em geral, de médicos (anestesista,
psiquiatra, ortopedista, neurologista), fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro.
1.4 Doença crônica
Uma pessoa sofre ao ter seu corpo incompreendido na expressão da
dor, marcado por invasões, intervenções, sequelas e recaídas. A doença
crônica pode ser representada como um ataque à integridade física, social e
psíquica do sujeito e será partilhada com consequências imprevisíveis e
realidade desconhecida pela família.
Do ponto de vista sistêmico, a família precisa estar incluída no manejo
da doença crônica, juntamente com o paciente e a equipe de saúde. De uma
forma ou outra, o paciente e sua família necessitarão responder às exigências
avaliadas como excessivas diante dos recursos de ajustamento que a doença
impõe. A esse processo dá-se nome de processo de enfrentamento.
Reorganizar responsabilidades, lidar com implicações financeiras, reabilitação
física, agravamentos e remissões dos sintomas são demandas que exigem um
esforço adaptativo que mobiliza recursos psicossociais para lidar com a
enfermidade. Nem sempre a adaptação possível é positiva. É possível haver
uma adaptação utilizando-se a inibição da ação ou catastrofização com
ampliação dos estímulos de sofrimento e orientação pessimista.
Entre os fatores facilitadores no enfrentamento da doença pela família,
Franco (2008) levantou: estrutura familiar flexível; boa comunicação entre
31
família e equipe de saúde; conhecimento e ciclo da doença; participação e
sistema de apoio disponível. Por outro lado, os fatores complicadores no
enfrentamento: relacionamentos, interações e comunicação disfuncionais;
sistema de apoio indisponível ou inexistente; crises simultâneas à crise da
doença; escassos recursos econômicos, sociais, de comunicação; doenças
estigmatizantes.
Parkes (1998) identificou uma categoria de enlutados por causas não
reconhecidas, entre elas, a doença. Quem perde a saúde perde também
independência, autonomia, o papel no mundo, seus sonhos. Frequentemente
esses enlutados expressam uma sensação de vazio, isolamento ou mutilação,
precisando passar pelo reconhecimento da perda e aceitação para, só então,
adotar uma nova postura. Parkes (idem, p. 243) concluiu que: “Os tempos de
transição são também tempos de oportunidade e qualquer confronto com um
mundo desconhecido é tanto uma oportunidade para um domínio autônomo
como uma ameaça para o próprio ajustamento à vida” .
Três fios evolutivos precisam ser considerados e vinculados a um
contexto de desenvolvimento do indivíduo que é doente crônico e sua família: o
ciclo de vida do indivíduo, o ciclo de vida da família e o ciclo da doença, que
devem ser caracterizados em termos psicossociais e longitudinais. Segundo
Combrinck-Graham (1985), alguns momentos no ciclo de vida familiar
requerem altos níveis de coesão familiar e vínculos intensos, como nascimento
de filhos, criação de filhos pequenos, netos, casamentos, aumentando a
aproximação entre os membros, enquanto em outros momentos no ciclo de
vida familiar a unidade familiar enfatiza o ambiente extra-familiar. Com o
contexto de vida se alterando, é fundamental considerar o período
desenvolvimental de quando a doença acontece, para melhor compreensão
dessa dinâmica. Os momentos de transição no ciclo familiar são considerados
potencialmente mais vulneráveis, pela descontinuidade. Como exemplo: uma
doença afeta um provedor de uma dada maneira, quando seus filhos são
32
pequenos. O grupo familiar, então, precisará ser cuidadosamente observado,
pois poderá acontecer uma sobrecarga na demanda de recursos de
enfrentamento por parte de um ou alguns dos membros da família, implicando
esforço extremo de adaptação.
A fim de contextualizar a doença, o indivíduo e seus familiares, Rolland
(1995) categorizou a doença conforme uma tipologia psicossocial: início, curso,
consequências e grau de incapacidade da enfermidade. Assim ele a descreve:
• Início: As doenças crônicas são divididas entre aquelas que têm
início gradual e aquelas que têm início agudo. A maneira como
impactam o indivíduo ou a família difere pela necessidade de
ajustamento da estrutura familiar: papéis alterados, capacidade de
serem aceitos recursos externos, mobilização e capacitação dos
familiares. Existe, com isso, uma tensão e pressão maiores em
doenças de início agudo, enquanto o aparecimento gradual dos
sintomas permite um ajustamento familiar mais prolongado.
• Curso: Podem assumir três formas gerais: 1 – doença progressiva,
quando a sintomatologia progride e a incapacitação é gradual (risco
de exaustão pelo acréscimo de tarefas progressivamente); 2 – de
curso constante, com evento inicial e limitação residual (potencial
para exaustão familiar, porém sem novas demandas ao longo do
tempo); 3 – curso reincidente ou episódico, com alteração de
períodos estáveis sem sintomatologia e de duração variada (tensão
causada pela frequência crise-não crise).
• Consequências: A consequência mais amedrontadora é a morte do
doente, embora existam aquelas que não afetam a duração da vida.
As famílias possuem um impulso de aproximação e impulso de
afastamento do membro doente e o resultado final pode ser um
isolamento do familiar em relação aos demais, principalmente se a
situação é vista como ameaça diante da expectativa de perda. Em
33
casos de doenças que podem provocar morte súbita e aquelas não
fatais, interpretações familiares idiossincráticas têm terreno fértil.
• Incapacitação: Pode resultar do prejuízo da capacidade corporal de
desempenho e capacidade de realizar esforços motores, cognitivos e
sensoriais. A incapacitação está relacionada a uma equação ligada
aos sintomas que a doença apresenta, as exigências da vida
pregressa do membro doente e os recursos familiares para lidar com
esta crise. A intensidade e a frequência dos sintomas ligados à
doença especificamente tem implicação direta na adaptação do
indivíduo e sua família à nova realidade que se impõe e pode alterar
a maneira de este indivíduo interagir socialmente, podendo até torná-
lo incapaz nesse domínio. Diferentes tipos de incapacitação criam
demandas específicas, porém é primordial que o doente continue
assumindo as funções que se mantêm preservadas.
Uma escuta sensível e completa, capaz de discriminar nuances nas
singularidades e particularidades do portador de doença crônica, torna o
profissional mais capaz de resultados efetivos e benéficos na promoção da
saúde. Existe, ainda assim, um risco de que variados profissionais sejam
envolvidos no tratamento de um doente crônico, em diversos momentos do
adoecimento, dificultando o entendimento que se tem daquela família e o ciclo
de vida da doença.
1.5 Dor crônica
A palavra “dor” origina-se do latim dolore. O fenômeno foi explicado ao
longo da História como intrusão de fluídos mágicos, energia vital em
desequilíbrio, paixão da alma, castigo por pecados cometidos, iluminação e
sensação corpórea, segundo Carvalho (1999). A experiência dolorosa faz parte
34
do desenvolvimento humano e tem função de proteção na sobrevivência dos
indivíduos: na busca de adaptação diante da presença de estímulos nocivos,
na busca de integridade física ao limitar ações e movimentos, promovendo um
repouso útil à recuperação natural do organismo ou contribuindo para prevenir
o agravamento da condição do doente (Melzack & Wall, 1991). A dor crônica,
entretanto, não tem função de alarme, persiste por mais de seis meses, além
do tempo necessário para cura de uma lesão, e pode ser contínua ou aparecer
em intervalos de meses ou anos. A dor constante e intensa pode perturbar a
compreensão do que acontece e torna-se incapacitante, dado seu caráter
permanente, produzindo alterações de ordem fisiológica, emocional,
comportamental e socioeconômica (Portnoi, 2003).
Até meados do século XX, discussões ocorreram a respeito de a dor ser
uma sensação ou uma emoção. Essa controvérsia tem sido sanada com a
fusão cada vez mais presente do tratamento integrado entre corpo e mente. A
Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) conceituou a dor em
1979: “uma experiência sensorial e emocional desagradável é associada a
lesões reais ou potenciais dos tecidos orgânicos, ou descrita em termos de tal
lesão”, portanto a dor é sempre subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar
esse termo por meio de suas experiências prévias.
Tudo o que se tem estudado a respeito do conceito de dor atualmente
não relaciona a dor diretamente à lesão. Tratar um paciente com dor exige dos
profissionais que considerem conhecimentos que incluem desde a fisiologia do
paciente, até sua inserção na família, emoções, pensamentos, sentimentos e
crenças a respeito de dor.
A dor tem um caráter privado que diz respeito à estrutura e dinâmica de
personalidade do paciente, ao modo como cada um vivencia o fenômeno
doloroso, seu manejo de situações críticas, a fase do ciclo vital. A dor tem
também um caráter público que trata das diferentes percepções e contextos em
que a esfera social e cultural ocorre. Entre as possibilidades de compreensão e
35
intervenção para dor crônica, destacam-se os trabalhos psicoeducativos,
instrumentos de avaliação e técnicas de intervenção.
Trabalhos psicoeducativos podem despertar uma atitude ativa no
paciente com dor, com relação à sua saúde e uma sensação de algum controle
pela percepção de que parte do seu cuidado está em suas mãos, interferindo
na adesão ao tratamento.
Quadros psiquiátricos são comumente encontrados em pacientes com
dor crônica. Por esse motivo, investigações sobre ansiedade, depressão,
estresse, transtorno do sono e diminuição de libido constam da anamnese
detalhada realizada com o doente e seus cuidadores. Como exemplo: um
paciente com sono não reparador causado pela dor pode ter prejudicadas a
compreensão e a interpretação adequada da realidade e confundir os
cuidadores formais e informais a respeito das informações oferecidas e assim
instalarem-se repetidos ciclos de insucesso.
Portnoi (2000) sugere que sejam aplicados inventários e questionários
específicos para pacientes com dor, para explorar hipóteses levantadas na
anamnese, como recurso apenas complementar à avaliação psicológica, pois
oferecem informações destacadas do contexto psicodinâmico dos indivíduos
O conforto e bem-estar podem ocorrer no atendimento psicoterápico,
quando o paciente com dor crônica torna-se capaz de recuperar autonomia e
individualidade, participar de atividades no contexto familiar ou social, aceitar e
elaborar sua atual realidade, identificar gatilhos que possam interferir na
intensidade da dor.
Técnicas de hipnose, distração, relaxamento e imaginação dirigida têm
se mostrado muito eficientes no tratamento de dor crônica (Anderson et al.,
2006). Técnicas projetivas podem se utilizadas para favorecer o
reconhecimento da própria dor e ainda sua expressão e comunicação de forma
menos subjetiva.
36
A dor, portanto, não pode mais ser contextualizada como produto de
disfunção orgânica exclusivamente. Novas possibilidades de compreensão e
atuação sobre o fenômeno têm trazido resultados benéficos e efetivos,
evitando sofrimento por processos dolorosos. Tendo afetada a integridade do
corpo e ameaçada a integridade da pessoa, o paciente com dor tem sido cada
vez menos negligenciado no contexto da assistência médica no nosso país. Ao
reconhecer a multicausalidade dessa experiência subjetiva e suas
significações, modificações consistentes no trato da dor têm ocorrido com êxito.
1.6 Fibromialgia
A fibromialgia foi escolhida como tema do caso a ser discutido para que
todos os participantes do grupo tivessem possibilidades equiparadas de
intervenção, uma vez que a doença ainda não tem etiologia e fisiopatologia
completamente esclarecidas.
Fibromialgia deriva do latim “fibro” (tecido fibroso como ligamentos,
tendões ou fascias), e do grego “mio” (tecido muscular), “algos” (dor) e “ia”
(condição) ou seja, condição de dor que emana de tendões, músculos e
ligamentos.
Para definir critérios para a classificação da fibromialgia, o American
College of Rheumatology estudou 558 pacientes, sendo 293 pacientes com
fibromialgia e 265 pacientes do grupo controle. Atualmente, a síndrome de
fibromialgia é definida como uma forma de reumatismo não articular e é
caracterizada por dor músculo-esquelética generalizada, rigidez e dor à
palpação em locais anatômicos, específicos e característicos, denominados
pontos dolorosos ( Wolfe et al., 1990).
As pesquisas sugerem que a fibromialgia ocorre no sexo feminino em
torno de 73% a 89% das vezes e tem maior incidência entre 34 e 57 anos,
37
embora possa ocorrer independentemente de idade, sexo, nível
socioeconômico e cultura.
A etiologia da fibromialgia permanece obscura, pois ainda não surgiu
uma hipótese unificada que explicasse seus mecanismos fisiopatológicos.
Sintomas levantados como hipóteses são: infecções virais, traumas físicos e/ou
emocionais e mesmo a alterações no uso de alguns medicamentos. Considera-
se que estresse crônico ou pós-traumático pode desempenhar um papel
relevante na mediação e perpetuação dos sintomas da fibromialgia, agravando
sintomas. Segundo Portnoi (1999), fatores psicológicos podem estar
relacionados à síndrome de fibromialgia. Apesar da não elucidação dessa
relação, sabe-se que os sistemas de percepção e modulação da dor são
influenciados pela condição psicossocial dos doentes, pela gravidade dos
sintomas e pelo grau de incapacitação funcional. Existe grande possibilidade,
porém, de que as alterações psicológicas aconteçam por consequência da dor
crônica e que a presença de uma situação psicológica anormal não seja
requisito para o desenvolvimento da síndrome.
38
2. OBJETIVO
Essa pesquisa teve como objetivo identificar e compreender o cuidado
que as equipes de saúde prestam com relação à utilização de práticas ligadas
à resiliência na família, entendida como componente da unidade de cuidado.
39
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo envolve um universo de significados e, para tanto, foi
escolhida a técnica de grupo focal, com base nos estudos de Berthoud (2002),
que utilizou a técnica, especificamente, sob a ótica da psicologia.
A pesquisa observou os cuidados éticos, de acordo com a Resolução
196/96 do Ministério da Saúde sobre pesquisa com seres humanos e o projeto
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP, em reunião
ordinária no dia 20 de dezembro de 2011, com o número 430/2011.
3.1 Grupo focal
O grupo focal, técnica de pesquisa qualitativa, vem conquistando um
lócus privilegiado nas mais diversas áreas de estudo e tem sido empregado
para a estruturação de ações para promoção em saúde desde 1956, depois da
intervenção dos cientistas sociais Merton, Fish e Kendall, pois a técnica
anterior apenas era usada em pesquisas mercadológicas.
Como alternativa às técnicas de coleta de dados tradicionais, tais como
questionários e entrevistas individuais, bem como o grupo focal é utilizado para
o entendimento de como se formam as diferentes percepções e atitudes acerca
de um fato ou prática. Tem respondido a contento a uma nova tendência de
educação para a saúde, deslocando-se da perspectiva do indivíduo para a do
grupo social e da educação calcada em conteúdos e das abordagens
universais para a educação centrada na perspectiva cultural, porém não tem se
mostrado tão eficiente para estudar a frequência com que determinados
comportamentos ou opiniões ocorrem, por não oferecer resultados
quantitativos.
40
Segundo Berthoud (2002), o grupo focal é utilizado como técnica de
pesquisa qualitativa porque a energia gerada pelo grupo cria uma maior
profundidade e diversidade de respostas, ou seja, um esforço combinado de
pessoas que produz mais informações do que simplesmente a somatória das
respostas individuais.
O grupo focal foi estruturado originalmente com formação média com
dez participantes, ou seja, pequeno o suficiente para que cada um compartilhe
suas experiências e grande o bastante para propiciar diversidade de opiniões.
Deve ser composto, preferencialmente, de pessoas homogêneas e com
características específicas e desconhecidas entre si. Mais recentemente, os
grupos focais têm sido realizados também com pessoas que se conhecem,
com atenção especial para as estreitas relações parentais ou comerciais, que
podem dificultar ou inibir a franca manifestação ou exposição de ideias.
Trata-se de um tipo especial de grupo em termos do seu propósito,
tamanho, composição e dinâmica. Para serem atingidos os objetivos de
pesquisa, o material é colhido e transcrito por meio de debate, identificando
impressões, visões e concepções de mundo de seu público-alvo. Sua essência
consiste justamente em apoiar-se na interação entre seus participantes para
colher dados baseados em tópicos que são fornecidos pelo pesquisador. A
coleta de dados por meio de grupo focal tem como diferencial basear-se na
tendência humana de formar opiniões e atitudes na interação com outros
indivíduos, contrastando, nesse sentido, com dados colhidos em questionários
fechados ou entrevistas individuais.
As questões aventadas pelo pesquisador devem ser capazes de
instaurar e alimentar o debate entre os participantes, sem a preocupação com
a formação de consensos. Ele precisará, para tanto, estar munido de um
“Roteiro de Debate”, que consta de instruções para preparo do ambiente,
definição de questões a discutir e oferecimento de disponibilidade para
eventuais questões pendentes.
41
Algumas opiniões causam maior impacto e polêmica, gerando reações
que ora convergem, ora divergem. O importante é que todos tenham
possibilidade de apresentar suas concepções e que elas sejam discutidas e
refinadas. É fundamental que o moderador administre o diálogo e estimule um
ambiente de troca em que as pessoas se sintam à vontade para compartilhar
suas ideias e opiniões. Para um bom desenvolvimento do trabalho, um desafio
é administrar a situação de tal forma que certas pessoas não monopolizem a
discussão, não se sintam intimidadas pelo extrovertimento de outros, nem se
mantenham em condição defensiva, conduzindo a reunião para que esta
ultrapasse o nível superficial. O sucesso do grupo focal está relacionado
diretamente à definição clara do objetivo da pesquisa.
A discussão trabalhada no grupo focal não é meramente descritiva ou
expositiva. As gravações exigem um consentimento informado de todos os
participantes envolvidos e o direito ao sigilo deve ser assegurado anteriormente
ao início dos trabalhos.
O material obtido é a transcrição de uma discussão em grupo, focada
em tópicos específicos. Cabe esclarecer que muitas vezes o processo de
análise acontece de modo simultâneo à coleta de dados. Por adotar um
processo indutivo, em que as categorias e hipóteses explicativas se formam
tomando-se por base os dados, é procedimento habitual de pesquisa
qualitativa refletir e analisar resultados parciais, visando melhor adequar os
procedimentos de coleta de dados aos objetivos da pesquisa. Ao final, o
moderador constrói um relatório contendo todo o material audiovisual e textual
gerado na discussão e um resumo dos comentários mais importantes, além de
acrescentar suas conclusões e recomendações.
Pesquisas baseadas em grupos focais aplicam-se às categorias de
pesquisas qualitativas, assim descritas nos próximos tópicos:
42
• Exploratória: A abordagem exploratória busca testar aspectos
operacionais de uma pesquisa quantitativa ou visa como objetivo
estimular o pensamento científico.
• Fenomenológica: A abordagem fenomenológica tem como propósito
transferir o pesquisador para o ambiente que não lhe é familiar,
fazendo com que ele experimente o mesmo contexto da população
pesquisada.
• Clínica: A abordagem clínica tem o intuito de trazer à tona
sentimentos e sensações que talvez não fossem percebidos por meio
de métodos de pesquisa estruturados, lidando com informações
veladas, por vezes inacessíveis e inconscientes nos relacionamentos
interpessoais.
As duas maneiras básicas de se proceder à análise são os sumários
etnográficos e a codificação dos dados via análise de conteúdo. A diferença
principal entre esses dois procedimentos é que o primeiro repousa nas citações
textuais dos participantes do grupo, que vão assim ilustrar os achados
principais da análise, enquanto o segundo enfatiza a descrição numérica de
como determinadas categorias explicativas aparecem ou estão ausentes das
discussões, e em quais contextos isso ocorre. Cabe comentar que eles não são
excludentes entre si, sendo possível combiná-los em um só relatório de
análise.
Como em qualquer análise qualitativa, o primeiro passo é possibilitar a
imersão do pesquisador nos dados obtidos, por meio de uma leitura de todo o
material obtido (transcrição do vídeo gravado), seguida da anotação das
categorias qualitativas que sejam evidenciadas após esse primeiro contato
sistemático com os dados. A partir daí, é necessário que o profissional
envolvido na análise verifique seus achados e confira as semelhanças e
diferenças.
43
Esse método de pesquisa sofre críticas em relação à validade de seus
resultados e ao tempo excessivo de análise das respostas. Entretanto, elas são
rebatidas sob o argumento de que ele é muito útil quando os pesquisadores
buscam soluções criativas e inovadoras, coletando informações que não
seriam obtidas com facilidade por meio de outras técnicas e geram resultados
ilustrativos que fornecem um conjunto de ideias em relação ao tópico de
interesse.
3.2 Participantes
O presente estudo utilizou a técnica de grupo focal na categoria de
abordagem clínica, tendo o grupo sido formado pela equipe de saúde (doze
participantes) de uma clínica especializada em dor crônica. Essa equipe foi
selecionada para o grupo focal por adotar a prática de discussão de casos na
rotina do serviço, de forma multiprofissional. Médicos anestesistas, médicos
especialistas em dor, médica psiquiatra especialista em dor e acupuntura,
psicóloga especialista em dor, psicólogo com formação em musicoterapia,
enfermeira com pós-graduação em administração hospitalar, psicopedagogo e
coach, naturóloga com especialização em arteterapia e fisioterapeuta se
reuniram para a discussão, no mesmo formato da rotina já estabelecida
semanalmente, em lugar previamente selecionado e foram orientados por um
guia elaborado pela moderadora (a autora desse estudo), sem
necessariamente limitar-se ou obrigar-se a ele.
3.3 Procedimento de análise do observado no grupo focal
O moderador (a autora deste estudo) apresentou, como guia, um caso
clínico fictício sobre um doente com dor crônica e sua família, que foi colocado
em discussão pelos participantes. Foi-lhes indagado sobre quais práticas
44
(médicas ou não) seriam indicadas para aquele caso. A observação foi feita por
meio de filmagem, por uma equipe profissional contratada e orientada para sua
postura. Uma colega de mestrado acompanhou o trabalho do grupo focal,
como observadora.
O material obtido durante a reunião com a equipe foi analisado segundo
Walsh (2005), pelo instrumento construído para avaliação das práticas em
resiliência familiar denominado “funcionamento familiar efetivo”. Seus três
domínios, descritos no referencial teórico, estão citados abaixo:
� Sistema de crença familiar
• Extrair significado da adversidade.
• Perspectiva positiva.
• Transcendência e espiritualidade.
� Padrões Organizacionais
• Flexibilidade.
• Conexão.
• Recursos Sociais e econômicos.
� Processo de Comunicação
• Clareza.
• Expressão emocional aberta.
• Resolução colaborativa dos problemas.
3.4 O caso fictício
Cada participante recebeu uma folha com as informações:
“Marisa, 56 anos
Empresária (dona de um Buffet que abriu com o marido há 31 anos) com
vida financeira estável.
45
Viúva desde 51 anos (marido faleceu depois de infarto fulminante) e mãe
de dois filhos:
Filha, casada, com 34 anos, mora em cidade próxima (100 km) e tem
duas filhas de sete e quatro anos.
Filho, casado, com 32 anos, mora na mesma cidade da paciente e tem
um bebê de cinco meses.
É católica praticante e frequenta a igreja semanalmente (missa e grupo
de oração)
Sente dor há quatro anos. Os pontos sensíveis se encontram na nuca,
ombros, esterno, região lombar, quadris, canelas, cotovelos e joelhos. A
dor é descrita como profunda, irradiante, persistente, aguda e ardente.
Tem cefaleia.
Pontos dolorosos
desenhados pela
paciente
Além da dor e da sensibilidade dolorosa, apresenta queixa com sintomas
de rigidez articular, falta de concentração, cansaço, sono não reparador,
tristeza, irritação, diarreia, gazes, redução de prazer nas realizações,
medo por posições estáticas.
Assistência médica: 1 – clínico geral da família; 2 – ortopedista. Ambos
sem sucesso. O último médico disse: “tem que se acostumar com as
dores, pode? (sic)”
46
Tem por hobby a jardinagem e cuidava pessoalmente do jardim de sua
casa onde vive há 35 anos, o que não faz há pelo menos três anos por
causa da dor.
Marisa disse quando chegou à clínica: “Tratei da coluna por anos até
desconfiarem que talvez tenha fibromialgia e me mandarem aqui, porém
a minha dor maior é a desconfiança das pessoas achando que invento
doença por preguiça ou comodismo. Muito difícil lidar com isso! As dores
são intensas, constantes e extenuantes. Tiram a alegria de qualquer
pessoa. Espero poder encontrar um tratamento que me ajude. Peço que
Deus abençoe a cada uma destas pessoas que sofrem com esse
problema.”
3.5 Instruções para a equipe participante sobre o caso fictício
A autora desse trabalho falou aos participantes:
“Primeiramente quero dizer que se trata de um caso fictício. Não
esperamos consenso e diferentes pontos de vista podem ser levantados
sobre o assunto, não existindo assim certo ou errado, bom ou mau
argumento. Quero esclarecer sobre a duração de 30 minutos sobre a
discussão do caso fictício e enfatizo a importância da participação de
todos para o sucesso da pesquisa. Este vídeo será transcrito na íntegra
e nomes de vocês não serão identificados a partir daí. Nem mesmo a
banca avaliadora saberá quais as pessoas que fizeram parte deste
estudo. Gostaria que falassem a respeito das práticas recomendadas a
esta paciente por cada um pertencente a esta reunião clínica, sendo elas
fazendo parte da rotina do serviço ou não. Interessam-me práticas
pensadas e sugeridas pelos profissionais desta equipe multiprofissional
que considerem interessantes para o paciente fictício e seus familiares,
no sentido de proporcionar um atendimento satisfatório e integral.”
Em seguida, foram distribuídas as informações do caso fictício e deu-se
início à discussão.
47
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO
O caso apresentado em uma reunião clínica foi discutido de forma
multiprofissional. Os profissionais presentes eram das áreas de psicologia,
psiquiatria, medicina da dor, anestesia, psicopedagogia, acupuntura,
enfermagem, naturologia, fisioterapia, fizeram suas observações, trazendo
contribuições importantes.
O observado no grupo foi analisado conforme a orientação sistêmica,
considerando-se os pressupostos de que a unidade de cuidado (paciente e
família) é entendida como agente no processo de resiliência e pode atuar como
facilitador ou dificultador na adoção das práticas recomendadas pela equipe de
saúde.
Transformar dificuldades em desafios pode transcorrer de processos
intrapsíquicos ou processos sociais, razão pela qual consideramos tanto a
paciente, quanto sua família, protagonistas neste trabalho. Portanto, práticas
sugeridas à paciente e práticas sugeridas à família da paciente foram
analisadas, utilizando-se o que Walsh (2005) construiu como uma estrutura
conceitual que denominou “funcionamento familiar efetivo”. Extratos das falas
dos participantes são apresentados, para melhor compreensão da análise.
Sistemas de crença familiar
• Extrair significado da adversidade
“Acontece uma avaliação em que eu faço uma anamnese da vida
biopsicossocial dessa paciente com dor. Aplico alguns instrumentos na paciente:
Inventários de Beck e mais algumas escalas, escala de estresse da Marilda Lipp
e uma escala de enfrentamento da dor. Feito isso, eu fecho a avaliação e
discuto com ela os escores. Normalmente o paciente costuma concordar
48
comigo. Costuma acrescentar e se sente bastante acolhido quando ele se vê na
avaliação.”
Ao incluir uma anamnese da vida biopsicossocial da paciente, o
profissional indica que investigará conflitos não resolvidos, experiências
traumáticas do passado, segredos e perdas que podem irromper por meio de
sintomas dolorosos ou comportamentos destrutivos. Esse profissional
preparado pode, portanto, identificar influências familiares negativas, buscando
inspiração para esperança e ações corajosas na adversidade utilizando-se
histórias familiares multigeracionais positivas, mitos ou heróis. Em tal
avaliação, é preciso encontrar sugestões para intervenção ligadas à
fragmentação e alienação da paciente dentro da família à qual pertence.
“O primeiro passo seria que ela entendesse a questão física da dor
correlacionada aos aspectos emocionais. Veja, ela tem a perda do marido há
cinco anos e sente dor há quatro anos. Então aqui parece existir uma correlação
bastante grande. Não que ela não tivesse dor antes, mas algo como
exacerbação do sintoma, até pela distância que ela tem com os filhos. Talvez
pela frustração no tratamento, pela solidão. Existem várias hipóteses a serem
consideradas.”
“Também é importantíssima essa questão levantada, da perda do marido
recente, que tem uma associação com a exacerbação da dor. Essa relação com
a família, a partir dessa perda, vem incluir a família no tratamento e ver como
eles podem também ajudar o acolhimento dessa senhora, que talvez esteja
sentindo-se desamparada por conta dessa perda.”
O valor afiliativo apontado anteriormente é fundamental para o bom
funcionamento da família, existindo uma convicção de que as necessidades
humanas sejam satisfeitas por envolvimento e investimento mútuo, traduzidos
em cuidados genuínos dentro de um sistema familiar. Buscar ajuda neste caso
mostra força, permitindo um enfrentamento mais efetivo.
Sobre a morte do marido, uma detalhada anamnese precisa ser
realizada, como foi sugerido por um integrante da equipe. Segundo Franco
49
(2010), existe diferença sobre quanto tempo leva o luto, como deve ser sentido,
expresso, comunicado e entendido, uma vez que se trata de um processo de
construção de significado composto pelos domínios cognitivo, comportamental,
físico, espiritual e social. Nesse sentido, vale ressaltar que os fatores de risco e
os fatores de proteção do enlutado sejam compreendidos de acordo com o
contexto da morte, da cultura, da personalidade, do gênero, do tipo de apego,
existência ou não de luto antecipatório, tipo de vínculo, história de vida (perdas
múltiplas ou repetidas) ou patologização da tristeza. O profissional corre um
risco de reducionismo se deixar de considerar tantos fenômenos complexos
atrelados ao luto em si.
“Eu vi que a cliente é uma empresária que tem que administrar a empresa da
família. Eu exploraria com ela o presente, fazendo um realinhamento de
valores, crenças, equilíbrio de vida e trabalho e identificação de possíveis
conflitos que poderiam estar gerando a ansiedade e estresse.”
Partilhar pensamentos e sentimentos sobre determinada situação, como
foi sugerido, auxilia na construção de um novo significado. Um compromisso
compartilhado entre indivíduos da mesma família pode estimular atitudes que
apoiem a recuperação e mantenham a relação durante a provação da doença.
Os familiares podem desenvolver e compartilhar um forte senso de confiança
por meio de legados multigeracionais de responsabilidade. A crença de que
todos lutam para oferecer o melhor entre si, precisa ser estimulada até que se
sintam parceiros confiáveis.
“É interessante lembrarmos que é uma paciente que está quebrada
emocionalmente. Primeiro a gente precisa reestruturar essa paciente. Por isso,
a importância de ela entender e iniciar com o processo psicoterápico junto com
os medicamentos, porque ela precisa sentir que está à vontade, até dos outros
duvidarem. Então esse é um primeiro passo a ser trabalhado com essa paciente:
“(...) é minha dor, o que eu for fazer com ela vai ser uma escolha minha e da
equipe que eu estiver aderindo (...)”, ela é permeada por crenças irracionais.
São crenças que se o outro não acreditar em mim, é porque eu não sou boa.”
50
“Ela precisa sentir confiança e fazer uma dissensibilização, do que não é real, do
que não é funcional.”
A causa de um problema pode ser atribuída a falhas pessoais, como foi
o caso dessa paciente fictícia, portanto uma avaliação familiar ajudaria a
explorar padrões de explicação e atribuição de problemas. Famílias em que os
membros culpam-se uns aos outros costumam criar a figura do bode-
expiatório, causando isolamento, alienação e desconfiança entre seus
membros, assim dificultando a resiliência.
Esse grupo profissional esteve atento à perspectiva de extrair significado da
adversidade, considerando tanto a paciente como seu grupo familiar na
vivência do adoecimento.
• Perspectiva Positiva na Superação da Adversidade
“É preciso explicar para ela que esta é uma doença cíclica, mas que ela tem
muito pra melhorar, e que vai depender de uma aderência dela.”
“O segundo papel fundamental para o psicólogo seria alinhar as expectativas
do paciente.”
“O paciente não é passivo nesse tratamento. Tem que ser muito, muito
envolvido, senão ele não vai melhorar. Não pode depositar o problema dele
para a equipe. Ele tem que pegar o problema e ser muito ativo nessa
terapêutica.”
“Quando ela inicia o tratamento com as medicações, ela pode ter muitas
reações adversas. A equipe de enfermagem está sempre aberta para ajudar
nessas questões e para entender essas reações. Isso é um fator importante que
interfere na aderência ao tratamento. Então a gente está sempre junto aí.
Deixa essa porta aberta para que elas possam ligar e não parar com o
tratamento, antes de qualquer esclarecimento.”
“Quando você põe no concreto e mostra para ela: parte física, parte emocional,
parte social. Ela deixa de fazer as coisas de que ela gosta e você começa a
mostrar que isso está mudando, que isso está melhorando. Ela começa também
a aderir mais ao tratamento.”
51
A capacidade de perseverar pode ser, em si, uma ampla fonte de
orgulho. Manter a esperança, a coragem, o otimismo e o humor são valiosos
modelos de enfrentamento na adversidade. Essa experiência reduz tensões e
acontece pelo domínio do possível, por meio da aceitação do que não pode
mudado, com foco na força e no potencial e não pode ser confundida com
negação.
Familiares podem ser encorajados a fazer escolhas e encontrar
maneiras de participar ativamente do processo de adoecimento, descobrindo
aspectos nos quais possam influenciar o cuidado, o alívio e o sofrimento de seu
doente. O reconhecimento do que pode ser alterado e a aceitação dos limites
de atuação são fatores importantes na resiliência.
Verificou-se que este grupo profissional esteve atento à perspectiva
positiva na superação da adversidade por parte da paciente que foi, no entanto,
considerada alheia à vivência familiar de sua doença.
• Transcendência e Espiritualidade
Não foram identificadas sugestões da equipe de saúde para práticas
ligadas à religiosidade ou espiritualidade da paciente discutida no método
nesse trabalho. É sabido que a religiosidade pode ser um recurso terapêutico
poderoso para o aumento da rede de apoio, melhor enfrentamento e resiliência.
Além disso, é necessário haver uma investigação de como Deus é percebido
pela paciente, para que sejam desconstruídos aspectos nocivos que interfiram
na possibilidade de resiliência: se ele é ríspido, punitivo e se existiu a sensação
de ter sido desamparada anteriormente em outro momento de crise.
Se refletirmos sobre religião, entenderemos que rituais e cerimônias têm
a propriedade de oferecer aos seus participantes padrões consistentes para
expressão de crenças de maneira organizada, bem como uma vivência de
valores morais compartilhados e institucionalizados. A espiritualidade também
52
pode ser uma experiência rica no sentido de promover um senso de significado
e conexão com as outras pessoas e a natureza.
Com o sofrimento e as incertezas, vêm à tona crenças fundamentais dos
pacientes que podem ser incorporadas ao repertório auxiliando na aceitação,
aprendizado e crescimento com a adversidade.
A religião e espiritualidade podem influenciar o sistema imunológico pela
fé, oração e rituais. A saúde pode ser fortalecida por esta conexão e, portanto,
cada vez menos tem sido negligenciada.
A autora desse trabalho sugere que a equipe observada integre a
espiritualidade entre as observações e intervenções que têm como rotina no
serviço e a religiosidade, caso faça sentido ao paciente, como foi o caso.
� Padrões Organizacionais
• Flexibilidade
“A paciente tem queixa de medo por posições estáticas. O mais importante é
entender o que faz sentido para ela. Pelo que a gente vê aqui, a jardinagem é
um hobby. Não sei se a música faria sentido. Se fizer sentido para ela, é um
recurso que ela pode usar para se expressar ou como fator de relaxamento.”
“Parece que os movimentos favorecem o alívio da dor, então (...) trabalhar
alguma atividade física que traga além do relaxamento, algum prazer.”
“A gente fala que estar estático é a postura de árvore. Então, dentro da
arteterapia eu utilizaria materiais orgânicos: flores, folhas e faria um trabalho
com argila pela rigidez, por essa coisa mais concreta de modelar sendo diluída
com água posteriormente. Para permitir essa transformação pela perda do
marido, de remodelar esse contexto familiar, eu também usaria o óleo essencial
de camomila, porque ela é reguladora da parte digestiva e relaxante. Poderia
até orientar uma automassagem, com relaxamento para a questão do sono.
Evitar alimentos estimulantes, atividades estimulantes nesse período, para ter
uma recuperação melhor do sono.”
53
A mudança imposta pela crise é ameaçadora para a maioria das
pessoas e a perda do controle traz uma forte sensação de desamparo e
angústia. Profissionais de saúde podem colaborar ao se mostrarem mais
respeitosos com o desconforto e a hesitação de seus pacientes diante do medo
do desconhecido. Ao explorar o que é necessário e altamente valorizado entre
os membros de uma família, torna-se possível ajudá-los a encontrar maneiras
de conservar ou transformar esses elementos e aumentar a capacidade de
tolerar as incertezas.
Uma avaliação familiar a respeito de como transcorre um dia típico pode
ser útil para identificarmos pequenas rotinas que diminuam o descontrole e a
confusão no momento de crise pela doença. A capacidade de adaptação às
novas necessidades, regras flexíveis e alteráveis identificam famílias com
funcionamento saudável.
Chama a atenção, portanto, que esta equipe tenha se mostrado atenta
aos desconfortos da paciente, procurando soluções alternativas. A necessidade
de adaptação às novas exigências que a doença impõe é fundamental para a
resiliência. Rotinas e rituais podem oferecer um senso de continuidade em um
universo caótico.
Verificou-se que esse grupo profissional esteve atento às possibilidades
desejáveis de flexibilidade por parte da paciente que foi, no entanto,
considerada alheia à vivência familiar de sua doença.
• Conexão
“Muitas vezes esse paciente se questiona se realmente ele sente dor, porque a
Fibromialgia é um transtorno que a dor oscila. Então, o que ocorre às vezes, ela
acorda mais cansada, às vezes que ela tem uma rigidez muscular maior. Então
seria importante colocar para ela que embora tenha sido solicitada a avaliação
psicológica, em momento algum nós duvidamos da dor.”
54
“Veja que ela passou por vários outros profissionais. Então ela precisa ser
acolhida. Se ela sentir esse acolhimento, que normalmente os nossos pacientes
sentem, por passar pela primeira consulta com a enfermeira; que já fala da
importância da psicoterapia.”
São fundamentais no enfrentamento de eventos catastróficos como
perda, sofrimento físico, mental e grande mudança social, que o conforto e a
segurança sejam proporcionados por relacionamentos afetivos e generosos. A
equipe estudada mostrou, durante todo o grupo focal, oferecer este contexto de
segurança, confiança e proteção, mostrando interesse ativo pelas questões da
paciente.
“Em relação a essa família (...) a partir dessa perda (...) incluir a família no
tratamento e ver como eles podem também ajudar o acolhimento dessa
senhora, que talvez esteja sentindo-se desamparada por conta dessa perda.”
“Uma das maiores queixas que ela traz, é essa sensação que as pessoas não
acreditam na dor dela (...) que acham que é comodismo, que é preguiça da
parte dela. Abraçando a família, chamando, conversando, pontuando (...). Eu
acho que no final das contas é o que ajuda mais.”
“Eu vi que a cliente é uma empresária que tem que administrar a empresa da
família. Eu exploraria com ela o presente, fazendo um realinhamento de
valores, crenças, equilíbrio de vida e trabalho e identificação de possíveis
conflitos que poderiam estar gerando a ansiedade e estresse.”
Uma investigação da equipe de saúde a respeito do funcionamento
familiar, como foi sugerida anteriormente, pode auxiliar no entendimento sobre
o contexto de segurança, interesse, confiança, proteção e o grau de interesse
efetivo que acontece entre os seus membros. O crescimento e
desenvolvimento individual podem ser proporcionados por relacionamentos
afetivos generosos entre familiares, que têm interesse ativo um pelo outro e em
que a sensação de autovalor é nutrida e reforçada.
Em famílias saudáveis, os indivíduos são ao mesmo tempo conectados
e diferenciados. Eles assumem responsabilidade pelos seus sentimentos,
55
pensamentos e ações. Investigar sobre estilos familiares com padrão de
extrema conexão (tendência centrípeta) e padrão desvinculado (tendência
centrífuga) pode ser importante para compreensão do nível de independência,
competência, privacidade, diferenciação, grau de autonomia, tolerância à
separação e limites entre os membros de uma família.
Verificou-se que esse grupo profissional esteve atento durante todo o
grupo focal à perspectiva de conexão da paciente com relação à equipe de
saúde e, em alguns momentos, também esteve atenta à perspectiva de
conexão considerando a paciente e seu grupo familiar na vivência do
adoecimento.
• Recursos Sociais e econômicos
“Normalmente no final da avaliação, quando eu termino, peço que um membro
da família venha. Porque existe uma questão no inventário que é: quem
acompanha você, caso necessário? Quem se interessa pela sua dor?
Normalmente é essa pessoa que eu solicito que venha. Até para que tire
dúvidas, para que acompanhe, para que faça questões (...)”.
Como foram sugeridos anteriormente, os vínculos com o mundo externo
são essenciais em períodos de adversidade para a resiliência familiar. Além de
serviços concretos, esse apoio pode promover sensação de segurança e
solidariedade. Em caso de fragmentação social e falta de autoconfiança, é
necessário um envolvimento da equipe no sentido de construção ou
estabelecimento de novas conexões criativas dessas redes vitais, aumentando
a resiliência familiar. O tamanho da rede altera menos o resultado deste
esforço do que a qualidade dessas relações.
“Você tem que excluir outras potenciais doenças que poderiam causar uma dor
generalizada. Então têm exames laboratoriais que a gente pede rotineiramente.
Se tudo estiver normal, entraríamos então com esse diagnóstico de
Fibromialgia. Lembrando que para se tratar bem a Fibromialgia, é preciso ter
um tripé e esse tripé está baseado em tratamento farmacológico adequado que
56
vai contribuir com 30% de melhora, com a atuação da psicóloga (uma parte
fundamental) e a atividade física regular.”
“Eu acho que trabalhar no contexto interdisciplinar como a gente tem aqui, o
custo é uma barreira, sem dúvida nenhuma. Nós se tivéssemos como transpor
essa estrutura para o serviço público, romperia algumas dificuldades.”
“Tem medicações de custos mais acessíveis, tem medicações mais caras
também. A gente tenta aliar o tratamento ao bolso do paciente. Então a
Termografia é um ótimo exame, mas se eu tenho certeza do diagnóstico, eu
prefiro poupar esse dinheiro e encaminhar para quem vai fazer mais diferença
para o paciente.”
Investigar a respeito do quanto uma família é permeável o bastante para
permitir um intercâmbio com o mundo externo traz informação da possibilidade
de ampliação da rede de apoio para atividades comunitárias, atividades
religiosas, família ampliada e atendimento especializado. Levar em conta os
recursos financeiros e investigar apoios e equilíbrios estruturais melhora o
vínculo entre unidade de cuidado e profissionais de saúde, preocupação
encontrada nessa equipe.
A equipe mostrou-se atenta para identificar possibilidades com relação a
recursos sociais e econômicos da paciente, porém recursos poderiam também
ser investigados na unidade de cuidado.
� Processo de Comunicação
• Clareza
“Primeiro a gente faz o acolhimento, que é receber o paciente e, o paciente vai
passar todas as informações. A história: por que ele veio? Pra quê ele veio? O
que ele quer?”
“Quando ela inicia o tratamento com as medicações, ela pode ter muitas
reações adversas. A equipe de enfermagem está sempre aberta para ajudar
nessas questões e para entender essas reações. Isso é um fator importante que
57
interfere na aderência ao tratamento. Então a gente está sempre junto aí.
Deixa essa porta aberta para que elas possam ligar e não parar com o
tratamento, antes de qualquer esclarecimento”
“Não só informações, mas medicações que está tomando, o que já fez? Quer
dizer, colher todas as informações, o máximo possível, para tentar assim (...) ver
o que a gente pode ajudar nesse tratamento. Isso é entregue para o médico
durante a consulta.”
“Acho que o papel da psicóloga principal são dois na verdade: primeiro aplicar
os questionários e os inventários pra gente realmente saber melhor como o
paciente está na parte emocional. Ansiedade, pontuar a ansiedade, depressão e
estresse, principalmente. E segundo papel fundamental para o psicólogo, seria
alinhar as expectativas do paciente.”
“Elas já chegam me contando que elas têm esse diagnóstico. Eu costumo
perguntar: “mas o que a senhora entende por fibromialgia?”. Muitas vezes é
um conceito errado que elas têm. Então eu costumo explicar um pouquinho
sobre a doença, falo sobre o tripé para tratar fibromialgia (baseado em
tratamento farmacológico adequado, com a atuação da psicóloga e a atividade
física regular) e, além disso, explicar para ela que é uma doença cíclica. Mas
que ela tem muito pra melhorar, que vai depender de uma aderência dela. Que
ela já deve ter passado por bons profissionais também. Que então que não
existem milagres. Tem a parte de nós, da equipe multidisciplinar, e tem a parte
que vai depender da própria paciente também.”
“Ela tem que entender o que ela tem. Se possível dou um livro, um livro para ela
ler, para entender melhor sobre dor crônica e sobre essa abordagem
multidisciplinar. Ela tem que ser o personagem principal. Essa é a grande
questão de paciente com Fibromialgia. Se ela quiser, ela vai melhorar, mas tem
que ir atrás do psicólogo, da fisioterapia, do psiquiatra, eventualmente, e fazer
o tratamento médico.”
A clareza é valiosa estratégia de enfrentamento e resiliência por tornar a
comunicação eficiente distinguindo a realidade da fantasia, de forma direta e
honesta. Essa equipe esteve, por todo o tempo do grupo focal, preocupada que
essa paciente fosse muito bem informada e esclarecida a respeito da sua
possível doença e seus desdobramentos. A comunicação oferecida pela equipe
58
mostrou-se afinada, coerente e ofereceu à paciente continência em relação às
suas possíveis dúvidas e aflições.
“O primeiro passo seria que ela entendesse que a questão física da dor esta
correlacionada aos aspectos emocionais. Veja, ela tem a perda do marido há
cinco anos e sente dor há quatro anos. Então aqui parece existir uma correlação
bastante grande. Não que ela não tivesse dor antes, mas algo como
exacerbação do sintoma, até pela distância que ela tem com os filhos. Talvez
pela frustração no tratamento ou pela solidão.”
Foi destacada a distância da paciente em relação aos filhos, fator
relevante na compreensão da dinâmica que dificulta a ação da equipe junto à
unidade de cuidados.
“Para pacientes que tem essa queixa (desconfiança a respeito da veracidade da
dor por parte da família), eu explicaria para ela que a Termometria é e pode ser
um bom recurso para esclarecer a dúvida dela e da família. Mais até que do que
o diagnóstico.”
“Normalmente no final da avaliação, quando eu termino, peço que um membro
da família venha. Porque existe uma questão no inventário que é: quem
acompanha você caso necessário? Quem se interessa pela sua dor?
Normalmente é essa pessoa que eu solicito que venha. Até para que tire
dúvidas, para que acompanhe, para que faça questões (...)”.
Tomar decisões torna-se difícil quando membros da família procuram
proteger-se de informações dolorosas por meio do silêncio ou do segredo.
Compartilhar informações e reconhecer incertezas torna a relação da paciente
com seus familiares mais tranquilizadora, como os profissionais da equipe
sugeriram anteriormente.
A clareza das regras familiares organiza a interação entre seus
membros. Os esforços de intervenção para fortalecer a resiliência familiar se
concentram em aumentar a competência em expressar e reagir às
necessidades e satisfazer novas demandas na situação de crise por doença.
59
A maior parte dos profissionais dests grupo, embora atenta à
importância da comunicação, colocou ênfase na clareza entre a paciente e a
equipe, o que pode diminuir as possibilidades que seriam abertas, caso a
família fosse incluída no processo de cuidados.
• Expressão Emocional Aberta
“O primeiro passo seria que ela entendesse que a questão física da dor está
correlacionada aos aspectos emocionais. Veja, ela tem a perda do marido há
cinco anos e sente dor há quatro anos. Então aqui parece existir uma correlação
bastante grande. Não que ela não tivesse dor antes, mas algo como
exacerbação do sintoma, até pela distância que ela tem com os filhos. Talvez
pela frustração no tratamento ou pela solidão.”
“Existem várias hipóteses a serem consideradas. Ela vem perdendo qualidade
de vida (atividade de hobby, a jardinagem), o que poderia ser bastante
trabalhado junto com o SF36 (questionário específico sobre qualidade de vida).
São várias contingências correlacionadas à frustração e a perda.”
“Ela fala aqui (...). ‘Porém a minha dor maior é a desconfiança das pessoas
achando que eu invento a dor.’ Ela fala que a dor maior dela é ‘essa’. Para
pacientes que tem essa queixa, eu explicaria para ela que a Termometria é e
pode ser um bom recurso para esclarecer a dúvida dela e da família. Mais até
que do que o diagnóstico.”
Encorajar a expressão emocional aberta, usualmente, resulta em
enfrentamento e adaptação bem-sucedida. Tolerar sentimentos agradáveis e
perturbadores e manter-se, ainda assim, em clima de confiança, mostra uma
orientação para a união e bom padrão de funcionamento.
Em famílias com dificuldade de comunicação, os sentimentos
ambivalentes não são reconhecidos ou admitidos. Para lidar com momentos de
provação prolongados, padrões de comunicação em que existam desconfiança,
responsabilização ou crítica podem ser perturbadores.
60
Neste caso, ressalta-se o isolamento da paciente em relação à família,
que deixa de ser um componente da unidade de cuidados classicamente
definida.
• Resolução colaborativa dos problemas
“Essa relação com a família, a partir dessa perda, vem incluir a família no
tratamento e ver como eles podem também ajudar o acolhimento dessa
senhora, que talvez esteja sentindo-se desamparada por conta dessa perda.”
Famílias com bom funcionamento lidam com problemas na medida da
necessidade, conforme as crises surgem ou persistem. Investigar a capacidade
de uma família administrar conflitos e resolver problemas mostra se ela está
sendo resiliente ou não. Solucionar problemas de forma colaborativa pressupõe
o reconhecimento do problema, trocando ideias para finalmente tomar
decisões.
“Tem paciente que chega já com uma longa data de dor e já chega com um
diagnóstico. Eu costumo perguntar: O que a senhora entende por Fibromialgia?
Muitas vezes é um conceito errado que elas têm. Então eu costumo explicar um
pouquinho sobre a doença, sobre o tripé (baseado em tratamento
farmacológico adequado, com a atuação da psicóloga e a atividade física
regular) e explicar para ela que é uma doença cíclica. Que ela tem muito pra
melhorar, que vai depender de uma aderência dela. Que ela já deve ter passado
por bons profissionais também. Que então que não existem milagres. Tem a
parte da equipe multidisciplinar e tem a parte que vai depender da própria
paciente também.”
“Se os escores dos inventários (avaliação psicológica) derem muito alto, eu
encaminho para a nossa psiquiatra da equipe, para que ela tenha um
acompanhamento, se caso o de depressão estiver muito alto. Se ele estiver
dentro do padrão de estado depressivo, muitas vezes eu encaminho para um
acompanhamento psicoterápico.”
“O paciente não é passivo nesse tratamento. Tem que ser muito, muito
envolvido, senão ele não vai melhorar. Não pode depositar o problema dele
61
para a equipe. Ele tem que pegar o problema e ser muito ativo nessa
terapêutica.”
Processos de negociação englobam expor e aceitar diferenças, aprender
a falar e ouvir com paciência e compreensão e interromper ciclos negativos de
críticas e luta por poder e controle. Compartilhar sucessos, mesmo que
pequenos, estimula a confiança familiar para enfrentar desafios maiores. Dar
passos concretos e concentrar-se em objetivos atingíveis ajuda na superação
da adversidade e na resolução de problemas cotidianos ou grandes desafios.
Verificou-se que esse grupo profissional levou em conta a resolução
colaborativa dos problemas por sua parte em relação à paciente, com pouca
ênfase quanto a vivência familiar de sua doença.
No sentido da complementariedade dos saberes, a equipe mostrou-se
responsável, respeitosa e afinada. Para uma prática saudável da equipe
multiprofissional, é preciso ressaltar a importância da formação dos
profissionais envolvidos, seu treinamento e desenvolvimento da capacidade de
comunicação interna. A equipe observada tem características imprescindíveis
de responsabilidade, respeito e etiqueta nas relações entre seus membros,
demonstrando estabilidade e coerência. Vale lembrar que equipes com
imposição de modelos rígidos de divisão técnica de trabalho e conflitos de base
e disputas de poder provocam informações contraditórias e, com isso, elevam
muito o nível de estresse vivido pela unidade de cuidado.
No sentido do acolhimento às necessidades da paciente fictícia ligadas à
resiliência, a equipe mostrou-se interessada e, mais que isso, disposta a
ocupar um lugar que originalmente caberia à família. Mostrou levar em conta
extração de significado na adversidade familiar e a conexão entre a paciente e
seus familiares, considerou a possível fragilidade emocional decorrente de sua
viuvez recente e a distância física entre Marisa e os familiares. Mostrou ainda
atenção à superação da adversidade, flexibilidade, clareza nas informações,
62
recursos sociais e financeiros, expressão emocional aberta e resolução
colaborativa dos problemas da paciente, porem, com pouca ênfase
considerando uma perspectiva de trabalho ligada à unidade de cuidado. Não
foram identificadas pela autora sugestões dos profissionais de saúde para
práticas ligadas à religiosidade ou espiritualidade da paciente neste trabalho. É
sabido que a religiosidade, dessa paciente em questão, pode ser um recurso
terapêutico poderoso para melhor enfrentamento e resiliência. Teria sido,
nesse sentido, interessante valorizar esta permeabilidade da paciente com o
mundo externo por meio de atividades comunitárias e atividades religiosas.
Levando em conta o potencial da resiliência relacional, a equipe de
saúde pareceu se basear em um clima de confiança que estimulasse a
competência para expressão ampla de opiniões, sentimentos e ideias da
paciente Marisa. Do ponto de vista da autora, porém, um trabalho
multiprofissional em que a família participasse mais ativamente do processo do
tratamento da paciente seria ainda mais enriquecedor, no sentido de encorajar
a resiliência. A observação do funcionamento familiar pelo profissional facilitaria
a investigação sobre a existência de capacidades resilientes como:
administração de conflitos; resoluções de problemas; tolerância de sentimentos
perturbadores; senso de coerência; compartilhamento de crenças; confiança
entre seus membros; independência individual; esperança, coragem, otimismo
e humor compartilhados; interesse ativo entre familiares; regras flexíveis e
alteráveis; ausência de luta por poder e controle.
Esse trabalho abordou uma questão de relevância: como lidar com uma
unidade de cuidados na qual falta um elemento? A experiência de unidade fora
experimentada pela paciente em seu casamento que, com a viuvez, evidencia
a falta, a solidão. Para a paciente enfrentar com sucesso seus desafios, esta
precisaria de apoio da sua família e seu ambiente. A equipe de saúde em
alguns momentos sugeriu isso, para que buscasse e construísse vínculos entre
63
indivíduos, familiares, redes sociais estimulando parcerias que promovessem
orgulho e competência, apoiando os esforços de enfrentamento.
A constatação da solidão poderia explicar a postura predominante entre
os membros da equipe profissional, de não considerar os filhos da paciente
como participantes do processo de doença e tratamento, abrindo, assim, o
espaço para que a mesma equipe ocupasse com suas preocupações.
Como sugestão, a autora pensa que cabe à equipe de saúde avaliar sua
sobrecarga com relação a pacientes que se vinculam de maneira a substituir
seu grupo familiar pelos profissionais. Talvez seja interessante desenvolver
práticas que incluam os familiares, para que tenham um papel mais ativo no
processo de adoecimento, por meio do acolhimento e treinamento dessas
pessoas.
64
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como objetivo identificar e compreender o cuidado
que as equipes de saúde prestam com relação à utilização de práticas ligadas
à resiliência na família, entendida como componente da unidade de cuidado.
O caso fictício estudado nessa dissertação ressaltou a necessidade de
uma aliança terapêutica da paciente com a equipe de saúde, uma vez que,
após a viuvez, a unidade de cuidados (paciente e marido) ficou enfraquecida
pela ausência de conexão entre seus elementos. Talvez a solidão da paciente
justifique a pouca menção dos profissionais a respeito dos familiares restantes.
A equipe de saúde acabou tendo esse papel de unidade de cuidado (paciente e
equipe) que não é seu, em substituição ao vínculo original.
Tal fato poderá representar um complicador às relações entre a paciente
e a equipe porque as fronteiras ficam diluídas, ocasionando uma dificuldade de
posicionamento de forma a receber cuidados profissionais ou oferecê-los.
Fazer pagamentos e manter um distanciamento nos momentos de descanso do
profissional poderá causar na paciente em questão um estranhamento, pela
relação apresentar contornos borrados. Em contrapartida, sabe-se que o
encorajamento dos relacionamentos de apoio pode servir de inspiração mútua.
Portanto, a equipe de saúde poderá funcionar como grupo de apoio, no sentido
de ajudar a tornar essa paciente mais resiliente, na falta de uma família
atuante?
Pequenos sucessos construídos aumentam como onda a confiança na
unidade de cuidado para enfrentar novos desafios diários que a doença
apresenta. O sucesso atribuído a todos (equipe, família, paciente) deve fazer a
diferença com a percepção do esforço compartilhado, assim como algum
fracasso deve ser aceitável e esperado nessa situação de crise.
65
Deslocar a responsabilização, acreditar e ativar as suas possibilidades
de regeneração de forma colaborativa alivia o sofrimento e estimula a cura. Há,
no entanto, que haver muita cautela para não se atribuir qualquer fracasso à
dificuldade de recuperação e regeneração ou falha na força de vontade pela
unidade de cuidado.
Para mudanças permanentes ou adversidade persistente, é necessário
haver a perda de identidade anterior à doença e uma acomodação de um novo
padrão familiar. Uma doença requer mobilização imediata de recursos diante
do desequilíbrio inicial. Nesse sentido, o sistema de prestação de serviço deve
ser organizado de forma flexível para se tornar eficiente.
Abordagens psicoeducativas e grupos multifamiliares possuem grande
potencial para oferecer informações importantes, além de incluir a família no
processo de doença, oferecendo diretrizes para lidar com situações
estressantes. O contato de uma família com outra evidencia problemas comuns
e previsíveis, o que cria a expectativa de novos aprendizados e riqueza no
repertório para elaboração de soluções possíveis. Ações preventivas oferecem
a possibilidade da modificação das condições ou circunstâncias ambientais e
capacitam para o ajustamento inicial a uma transição estressante imposta pela
doença.
Profissionais colaborativos, esforçando-se para superar as barreiras que
ameaçam a missão comum de promover o funcionamento familiar e individual
saudável, têm maior eficiência quanto à resiliência.
A teoria de orientação sistêmica se dedica a ajudar famílias a
compartilharem de forma aberta seus sentimentos dolorosos e necessidades
não expressadas. Existe, nesse trabalho, um direcionamento para ajuda
profissional, quanto a um esforço de se manter um olhar atento à estrutura
social fragmentada, que aumenta o risco de colapso familiar.
Do ponto de vista sistêmico, a família precisa estar incluída no manejo
da doença crônica, juntamente com o paciente e a equipe de saúde. A atenção
66
da equipe às necessidades práticas, sociais, físicas e emocionais da unidade
de cuidado permite tornar efetivo o cuidado e com isso possibilitar a elaboração
e ressignificação da experiência vivida.
Essa pesquisa pode servir como ponto de partida para estudos futuros
no sentido de apoiar este novo conhecimento relacionado à capacidade de
regeneração e adaptação, que é a resiliência, bem como levar outros
pesquisadores a buscar respostas para alguns questionamentos como: quais
seriam as melhores práticas oferecidas à unidade de cuidado, que interfiram na
resiliência? Como preparar uma equipe para considerar formas sistêmicas e
compartilhadas de solução de problemas? Cabe a uma equipe multiprofissional
ocupar um lugar de apoio, quando um paciente é solitário?
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