PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM NOVO
PROCESSO DE ESTAMPARIA DIGITAL SOB A ÓTICA DO BUSINEES PROCESS
Área temática: Gestão da Produção
Fernando Antônio Forcellini
Gisele Cristina Bessa
Mauricio Uriona Maldonado
Ricardo Zanchett
Resumo: O propósito deste artigo é apresentar o desenvolvimento de um mapa referente ao processo de
negócio estamparia digital. Apesar deste processo já fazer parte de algumas empresas têxteis em todo o mundo,
para o caso da empresa em estudo, com mais de 50 anos de atividade no ramo têxtil, localizada no norte de
Santa Catarina, é um processo novo e que até então não havia sido implantado em seu parque industrial. Será
através do mapeamento de processos que se espera fornecer suporte ao gerenciamento de negócios da empresa
têxtil estudada, para que possa alcançar êxito na implantação do seu mais novo processo de negócio. Como
estamparia digital é novidade para seus colaboradores, pois estes operam outros maquinários e dominam
técnicas referentes a outros tipos de acabamentos têxteis, muito se questionou sobre quais seriam as
necessidades do processo de estamparia digital; os métodos envolvidos; as matérias-primas adequadas;
qualificação necessária para mão de obra técnica e operacional; padrões de qualidade e entre outros. Para
tanto, lançou-se um projeto, com intuito de estruturar todo o processo interno, antes mesmo da máquina digital
estar em funcionamento. O principal desafio lançado foi: como obter um processo de estamparia de tecidos, a
partir da tecnologia digital, de modo a garantir resultados tais como qualidade; custo e prazo, competitivos no
mercado? Para atender a este propósito, o principal meio utilizado foi o mapeamento do processo de negócio
(BPM).
Palavras-chaves: BPM, Estamparia Digital, Mapeamento de Processos.
ISSN 1984-9354
1. INTRODUÇÃO
Por muitas décadas as organizações tradicionais ignoraram, ou então, não empregaram os
esforços necessários aos seus processos. Em decorrência e como regra geral, acreditavam que os
funcionários tinham foco restrito em tarefas e a visão mais geral da organização era de
responsabilidade unicamente da alta administração, ou seja, exclusiva dos gerentes e diretores. Os
funcionários em geral realizam tarefas comandadas por seus chefes (HAMMER, 1998).
Com a globalização da economia surge também a concorrência globalizada, forçando as
organizações a buscarem novas e modernas metodologias de gestão e trabalho, sintonizadas com
as demandas e exigências desse novo mercado. O BPM – Business Process Management, é um
novo modelo de gestão que vêm ganhando espaço nas organizações modernas, proporcionando
ganhos e melhorando o desempenho dos negócios.
Enquanto na visão tradicional de gestão o foco são os núcleos de especialidade dentro da
organização, ou seja, departamento comercial é responsável pela colocação de pedidos, o
departamento financeiro pela análise de crédito, o departamento de PCP pelo planejamento da
fábrica, o departamento de compras pela aquisição das matérias primas, o almoxarifado pelo
armazenamento, entre outros, o BPM é uma disciplina que visa inverter a lógica de gestão para
um ponto de vista focado na cadeia de agregação de valor interfuncional, onde os interesses do
processo estão acima dos interesses departamentais, alterando de forma significativa o modo
como à cadeia de valor é percebida.
Com o BPM a estrutura funcional é substituída por uma visão interfuncional, buscando
identificar os processos de ponta-a-ponta e como esses poderiam ser melhores gerenciados
visando eliminar os efeitos maléficos dos conflitos internos. Assim sendo, BPM torna-se uma
mudança filosófica da maneira de gerenciamento da organização.
Nesta nova filosofia de gestão absolutamente focada nos processos, as necessidades e
anseios do cliente são tratados pelos donos de processo e não por gerentes de departamento,
como responsabilidades de prestação de contas sobre o desempenho de todo o fluxo de atividades
que agregam valor para transformar insumos em produtos ou serviços.
Em uma organização moderna, um processo é visto de ponta-a-ponta e de maneira
necessariamente interfuncional, onde funcionários de diversos departamentos diferentes
desenvolvem atividades e são gerenciados pelo dono do processo, que possui autonomia para
modelar, analisar e transformar a cadeia produtiva interna visando o atendimento direto das
necessidades do cliente, sem a resistência das barreiras departamentais.
Para Kim e Jang (2002), reforçado por Müller, Diesel e Sellito (2010), quando se mapeia
um processo busca-se compreender e comunicar o fluxo de atividades e as transformações que
ocorrem internamente ao processo. Posteriormente, é possível reestruturar e visualizar processos
complexos de modo a identificar atividades que não gerem valor aos clientes e propor melhorias
em serviços e produtos. O produto resultante do mapeamento de processos é um mapa geral de
processos.
Soliman (1998) define mapeamento de processos como uma técnica utilizada para os
detalhes dos processos de negócios, focando os elementos importantes que influenciam no seu
comportamento real. A gestão utiliza o mapeamento do processo para ver o negócio em um piscar
de olhos, sem perder a noção dos detalhes e implicações deste no processo.
Diante da importância que o BPM representa para a gestão de processos, considerando
também a necessidade de mapear o processo antes mesmo de sua efetiva implantação,
identificou-se a seguinte oportunidade de pesquisa: o método BPM, pode ser aplicado a novo
processo, mesmo antes de sua implantação no sistema de produção?
Nesta oportunidade de implantação de um novo processo dentro da empresa estudada,
buscou-se fazê-lo sob a ótica da visão do BPM, não analisando unicamente uma máquina, mas
sim um processo.
A metodologia tradicional desta empresa, quando surge a necessidade de aquisição de
altos investimentos em recursos físicos como máquinas e equipamentos, é dar inicio a um estudo
do projeto. Primeiramente identifica-se a veracidade da necessidade do investimento, em seguida
são realizados os cálculos de custo beneficio; retorno sobre o investimento; se existem linhas de
créditos com taxas de juros acessíveis e entre outros. Se o resultado for positivo, então se segue
em frente e são elaboradas as premissas técnicas da máquina ou equipamento, bem como as
premissas comerciais e financeiras. Em seguida analisam-se no mínimo três e no máximo cinco
fornecedores de máquinas (marcas diferentes). Esta análise consiste em promoções de conversas
técnicas com fornecedores, visitas técnicas em empresas que já possuem a máquina ou
equipamento e testes para uma verificação técnica completa. Ao final a tabela das premissas
técnicas, comerciais e financeiras é preenchida com as informações de cada fornecedor e então é
realizada a análise da primeira melhor colocada, segunda melhor colocada e assim por diante. Em
seguida este projeto é encaminhado ao comitê da diretoria da empresa, que irá submeter o projeto
a uma avaliação e decidirá pela sua aprovação, postergação de aprovação ou reprovação. O
objetivo do presente artigo é complementar esta metodologia com um mapeamento do processo
(BPM). Ou seja, após o projeto aprovado, propor uma segunda fase do projeto denominada de
mapeamento do processo de negócio no qual o investimento aprovado está inserido, um olhar
global sobre o processo que ainda não existe implantado na empresa. Então resumindo, a
primeira fase o objeto de análise é o recurso que se pretende investir, ou seja, a máquina ou
equipamento, já na segunda fase (fase esta que será abordada neste projeto), o objeto de análise é
o novo processo de negócio no qual a máquina ou equipamento é uma parte importante, porém o
foco da análise é algo maior e completo: o processo.
Buscando explorar esta oportunidade de pesquisa, este trabalho tem como objetivo
principal mapear o processo de estamparia digital, sob a ótica de visão do BPM, antes de sua
implantação efetiva na produção, possibilitando melhor planejamento e implantação de um
processo que é novo para a empresa. Antes de iniciar o processo de mapeamento através do
BPM, realizou-se um Benchamarking com empresas têxteis que já trabalhavam com o processo
de estamparia digital. O intuito deste benchmarking era prover a equipe de conhecimento para
gerar informações úteis para o processo de mapeamento. Também foram promovidos debates
técnicos com fornecedores de máquinas de estamparia digital, de corantes produtos químicos de
preparação para estamparia digital. O intuito também era o de promover o conhecimento de como
trabalhar com este processo e gerar informações necessárias para elaboração do mapeamento. Em
seguida aconteceu a elaboração do mapeamento de processo propriamente dita, ou seja, foi
desenhado como deverá funcionar o processo de estamparia digital, assim que a máquina estiver
instalada, sempre considerando as particularidades da empresa. O desenvolvimento das
adequações necessárias nos processos: anteriores e posteriores ao processo de estampar,
sinalizado no mapeamento de processo, será trabalhado em eventos kaizens.
O principal desafio lançado para o desenvolvimento do mapeamento foi: como obter um
processo de estamparia de tecidos, a partir da tecnologia digital, de modo a garantir resultados
tais como qualidade; custo e prazo, competitivos no mercado? Para atender a este propósito, o
principal meio utilizado foi o mapeamento do processo de negócio (BPM).
2. REFERÊNCIAL TEÓRICO
Antes da aplicação da metodologia BPM e do mapeamento do processo em estudo, é
indispensável busca subsídios na literatura, a fim de ampliar e a profundar o conhecimento sobre
o tema, bem como, apoiar-se em conceitos e descobertas já consagrados por pesquisadores.
2.1 Business Process Management - BPM
Vernadat (1996) define processos de negócios como sendo uma sequência (ou um
conjunto parcialmente ordenado) de atividades empresariais, cuja execução seja disparada por um
evento e que gerará uma quantidade observável de resultados.
Para Georgakopoulos e Tsalgatidou (1998), os processos de negócios são coleções de uma
ou mais atividades que realizam objetivos de negócios ou políticas de objetivos tais como o
cumprimento de um contrato e ou a satisfação de uma necessidade específica do cliente.
Harmon (2004) contribui e sintetiza afirmando que um processo é algo a ser executado
manualmente, por empregados, por um sistema computacional ou por máquina, ou ainda uma
combinação destes elementos.
Mesmo existindo na literatura muitas definições para processos de negócios, pode-se
valer de uma definição simples e de fácil entendimento, o qual descreve um processo de
transformação de recursos de entradas em recursos de saídas com objetivos previamente
estabelecidos, sendo que para isto utiliza uma ou muitas atividades.
2.2 Gestão de Processos de Negócios
Assim como outros métodos, a evolução da Gestão de Processos de Negócios, tradução da
expressão em Inglês Business Process Management – BPM se difundiu e ganhou notoriedade de
forma gradativa. Essa evolução pode ser contextualizada em três grandes movimentos, muitas
vezes também chamados ondas (SMITH; FINGAR, 2003).
O primeiro movimento surgiu na década de 1920, com a teoria administrativa de
Frederick Taylor. Neste período, os processos estavam implícitos nas práticas do trabalho e
poderiam ser colocados em manuais e a administração de processos era chamada de Métodos e
Procedimentos.
O segundo movimento surgiu na última década, com os processos de reengenharia e
também com a implantação dos sistemas de gestão organizacional, como por exemplo, o sistema
ERP (Enterprise Resource Planning). É consenso entre autores que, mesmo com o fluxo de
trabalho centrado em documentos e com sistemas de administração financeira, raramente
administradores tinham controle total do ciclo de vida dos processos.
No terceiro movimento surge o BPM, proporcionando às companhias e seus
colaboradores a possibilidade de aperfeiçoarem os processos de negócios constantemente.
Considera-se que a mudança é o primeiro objetivo de projeto. Com processos de negócios ágeis,
a cadeia de valores pode ser monitorada e continuamente melhorada.
Os autores reforçam que o terceiro movimento, não pode ser considerado reengenharia de
processos, nem uma aplicação de integração empresarial, administração de workflow ou outro
pacote de aplicativos. Pode ser considera sim a síntese e extensão destas técnicas e tecnologias
em um todo unificado, formando uma nova base para a construção de uma vantagem competitiva
sustentável e permanente.
Muehlen (2005), afirma que a tarefa central do BPM é criar um alinhamento entre os
elementos individuais dos processos – Entradas (informação e recursos), saídas, estrutura e
objetivos. O autor enfatiza que se o alinhamento entre estes componentes for conseguido, o
desempenho total de todos os processos poderia ser aumentado em termos qualitativos (rapidez
de adequação à mudanças ambientais) e em termos quantitativos (menores ciclos, menor
desperdício e eliminação de retrabalho).
Harmon (2004) reforça que BMP proporciona o alinhamento dos objetivos estratégicos da
organização, projetando e implementando arquiteturas de processos, estabelecendo sistemas de
medidas dos processos.
BPM pode ser considerado como metodologia para gerenciamento sistemático centrado
no cliente, objetivando medição e melhoria de todos os processos da organização por meio de
times multifuncionais e com delegação de autonomia aos funcionários, também conhecido com
empowerment (LEE; DALE,1998).
Zairi (1997), argumenta que o BPM está correlacionado aos aspectos principais da
operação do negócio e proporciona agregação de valor e alavancagem do negócio. O autor relata
que esta condição desejável se dá devido às regras implementadas pelo BPM, que são:
BPM requer que as atividades principais sejam mapeadas e documentadas;
BPM cria foco nos clientes por intermédio de conexões horizontais entre
atividades-chave;
BPM emprega sistemas de informação e documenta procedimentos para assegurar
disciplina, consistência e continuidade de resultados com qualidade;
BPM utiliza mensuração de atividades para avaliar o desempenho de cada
processo individualmente, bem como estabelece objetivos e níveis de entrega que
podem incorporar metas corporativas;
BPM emprega o método de melhoria contínua para a resolução de problemas e a
geração de benefícios adicionais;
BPM utiliza as melhores práticas para assegurar o atingimento de altos níveis de
competitividade;
“BPM emprega a mudança cultural, não se atendo apenas aos melhores sistemas de
informação e à estrutura organizacional mais adequada.”
2.3 O ciclo BPM
A ABPMP (Association of Business Process Management Professionals), define que um
ciclo BPM envolve 6 etapas. No entanto, a quantidade de etapas pode variar conforme a
maturidade conhecimento da empresa na utilização do BPM.
1ª Etapa: Planejamento e estratégia – é etapa de desenvolver uma estratégia dirigida para
processos, deve estar alinhado com os objetivos da empresa e para isso, é necessário ter
conhecimento sobre as metas da empresa.
2ª Etapa: Análise de processos de negócio – é a etapa de validação das informações antes da ação
propriamente dita. Nesta etapa as metas e objetivos são mensurados e suas variáveis, como
fatores externos, são identificadas.
3ª Etapa: Desenho e modelagem: nesta etapa é possível identificar as falhas, repetições e fases
desnecessárias. O desenho do processo é sua materialização, possibilitando a visualização do
todo, bem como dos envolvidos e suas respectivas tarefas.
4ª Etapa: Implementação de processos – é à hora da ação, quando o desenho é posto em prática e
pequenos ajustes são executados.
5ª Etapa: Monitoramento e controle – nesta etapa são obtidas informações sobre o desempenho
através de métricas, possibilitando o planejamento de ações de refinamento.
6ª Etapa: Refinamento – obtidos resultados da etapa anterior, torna-se necessário fazer uma
melhoria, ou mesmo, redesenho de determinado processo. O refinamento deve ser contínuo
facilitando o aprimoramento dos processos e o alcance dos objetivos da organização.
Figura 1 – ciclo BPM
Fonte: ABPMP
É possível compreender por meio da figura 1 evidencia da possibilidade de melhoria
contínua que o BPM proporciona a um determinado processo. Seguindo uma sequencia lógica de
etapas, com a introdução da gestão por processo, as organizações podem quebrar paradigmas e
adaptarem-se rapidamente as mudanças do mercado globalizado.
3. METODOLOGIA
Para Cervo e Bervian (2002, p. 23), “método, em seu sentido amplo, é a ordem que se
deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou um resultado
desejado”.
Ruiz (2002) destaca que enquanto o método define as etapas fundamentais da pesquisa,
mais gerais, menos específicas, a técnica representa os diversos procedimentos peculiares,
específicos a cada objeto de pesquisa, contidos dentro das diversas etapas do método.
Quanto aos objetivos este estudo foi abordado de forma descritiva. Raupp e Beuren
(2004, p. 81) “a pesquisa descritiva configura-se como um estudo intermediário entre a pesquisa
exploratória e a explicativa, ou seja, não é tão preliminar como a primeira e não tão aprofundada
como a segunda. Nesse contexto, descrever significa identificar, relatar, comparar, entre outros”.
O tema deste estudo foi abordado de forma qualitativamente. Para Richardson (1989, p.
38), a abordagem qualitativa “difere, em princípio do quantitativo à medida que não emprega um
instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema. Não pretende numerar
ou medir unidades ou categorias homogenias”.
Quanto aos procedimentos de coleta de dados, este estudo caracteriza-se como um estudo
de caso. Gil (1999, p. 73) diz que, “o estudo de caso é caracterizado pelo profundo e exaustivo de
um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo,
tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de delineamento considerados”.
O trabalho foi realizado em uma empresa têxtil localizada no norte de Santa Catarina.
Iniciou-se com o mapeamento do processo, ou seja, nesta etapa fez um levantamento de
informações técnicas referentes ao processo de negócio de estamparia digital. De posse destas
informações, foi iniciado o processo de mapeamento, constituindo o diagnóstico atual do
processo – “AS IS”, figura 2. A modelagem foi realizada com auxilio de papel, canetas coloridas
e post-it. Esta forma facilitou o processo de criação do mapa, pois este é um momento onde
surgem várias discussões, dúvidas, falta de informações, falhas de interpretação, divergências e
entre outros. Após ser concluído o mapa do processo atual, este foi transcrito para o software
Microsoft Visio 2010. A ferramenta usa foi: Formas de Fluxograma Multifuncional. Durante a
construção do mapa do estado atual, foram identificadas necessidades de diversas melhorias e
modificações no processo, para comportar a nova máquina de estamparia digital e atingir o
principal objetivo: produzir tecido estampado com tecnologia digital, apresentando
competitividade no tripé: qualidade, custo e prazo.
A próxima etapa foi elaborar o mapa do estado futuro – “TO BE”, figura 3. Nessa etapa
foram consideradas todas as melhorias identificadas no mapa do estado atual do processo,
resultando então em uma nova configuração de processo.
4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
Conforme exposto anteriormente, lançou-se um projeto, com intuito de estruturar todo o
processo de estamparia digital, antes mesmo que a máquina estivesse instalada na empresa. Após
a implantação do processo, a empresa busca entregar, a partir da tecnologia digital, maior
qualidade nas estampas, menor custo e prazos competitivos no mercado de artigos têxteis
estampados.
4.1 Plano de ação
Após reunir a equipe numa sala de reuniões, usou-se a técnica brainstorming para dar
inicio ao projeto e elaboração do plano de ação (quadro 1).
Nº O quê? Por que? Como?
1 Bechmarking Para promover o conhecimento de
como trabalhar com este processo.
Visitando três empresas destaque
nacional em estamparia digital.
2 Debates técnicos Para promover o conhecimento de
como trabalhar com este processo.
Debates técnicos com
fornecedores de maquinários, de
corantes e outros produtos
químicos usados na preparação do
tecido.
3 Mapeamento do processo de
estamparia digital.
Elaboração do mapa de processo,
ou seja, como funcionará a
estamparia digital considerando as
particularidades da empresa em
questão, assim que a máquina
estiver 100% instalada.
Após as ações 1 e 2, que servirão
como pesquisa e levantamento de
informações necessárias para a
construção do mapeamento do
processo de estamparia digital.
4 Adequações necessárias nos
processos: anteriores e posteriores
ao processo de estampar.
Para adequar a empresa e o setor de
acabamento ao novo processo.
Através de evento kaizen.
Quadro 1 – Plano de ação de lançamento do projeto
Fonte: os autores, 2014.
4.2 Mapeamento do estado atual - diagnóstico (AS IS PROCESS)
Nesta etapa mapeou-se o processo atual, ou seja, o “as is” do processo. A figura 2 apresenta o mapeamento do processo.
Figura 2 – As is process
Fonte: os autores.
4.3 Adequações identificadas no mapeamento do processo atual – diagnóstico (AS IS PROCESS)
Após realização do mapeamento do processo estado atual, foram identificadas diversas necessidades de adequações e melhorias
apresentadas no quadro 2.
Nº O quê? Por que? Como?
1 Necessário desenvolver outro tipo
de ponto para a costura das
emendas de rolo a rolo de tecido.
Exigência dos cabeçotes da estampadora digital que são
altamente sensíveis. Cada cabeçote danificado custará R$
25.000,00 para substituição.
Foram adquiridos novos maquinários de costura, com
ponto de baixo relevo. Precisa ser testado assim que a
máquina digital for instalada.
2 Necessário aumentar a
profundidade das cubas do foulard.
Tecido precisa de mais contato com o banho de preparação. Para
melhoria da fixação do corante sobre o tecido.
Projetar; e confeccionar duas cubas internamente.
3 Necessário desenvolver receitas
para a preparação por composição
de artigo (tecido).
Como funciona e para que serve a “preparação”?
Resposta: O banho formará um filme sobre toda a superfície do
tecido. É necessário para fixar o corante após processo da
estamparia digital.
Foram desenvolvidas duas receitas, uma para tecidos de
algodão e outra para tecidos de viscose. Receitas já
cadastradas no SAP.
4 Necessário reduzir índice de
defeitos de “ourela mal cortada”.
Ourela do tecido deverá ser bem alinhada e com o mínimo de
variação.
Motivo: Cabeçotes da digital são altamente sensíveis com relação
a este tipo de variações.
5 Necessário melhorar alinhamento
das laterais dos rolos de tecido.
As variações que existem no processo de enrolamento atual, não
atenderão ao processo da digital.
Motivo: Cabeçotes da digital são altamente sensíveis com relação
a este tipo de variações.
Enrolar tecido já na saída da rama e embalar. Será
possível fazer rolos de até 120kg. Sendo instalado talha
para descarte ergonômico.
Obs.: Haverá economia de movimentação e tempo de
processo, enrolando na saída da rama e não mais no
bobinador.
6 Necessário providenciar capas
plásticas para acondicionamento
dos tecidos.
Tecido deverá ficar 100% protegido de umidade devido às
reações químicas que resultarão em problemas de qualidade no
momento de estampar.
Comprar capas plásticas de fornecedores externos.
7 Necessário tratamento diferenciado
para rejeições de estampas de logo
marca.
Os desenhos de logo marca precisam ser preservados, assim
como seus consumidores e clientes. Ou seja, tecido com estampa
de logo marca poderá ser liberado somente de 1ª qualidade, caso
contrário deverá ser encaminhado para picar.
Criou-se uma norma técnica, informando que p/ os casos
de rejeição de tecido estampado c/ logo marca, este
deverá ser encaminhado para picar. Será transformado
em resíduo têxtil.
8 Necessário reduzir tempo de setup
na máquina de revisão (bobinagem
do rolo) e estamparia digital.
Para reduzir tempo de processo. Acoplamento da máquina de revisão junto à máquina
rama (transformando duas máquinas em uma máquina).
Aumentando o tamanho de rolo na saída da revisão.
Instalar talha para pegar rolo da máquina de revisar e
descartar na caixa de movimentação de rolo.
Quadro 2 – Adequações identificadas no mapeamento do processo atual - diagnóstico
Fonte: os autores, 2014.
4.4 Mapeamento do estado futuro – (TO BE PROCESS)
De posse das informações sobre as adequações necessárias, mapeou-se o processo futuro, ou seja, o “to be” do processo. A figura 3
apresenta o mapeamento do processo.
Figura 3 – To be Process
Fonte: os autores, 2014.
5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de estamparia digital é uma etapa importante e que agrega valor ao produto final do
sistema produtivo. Em se tratando de estamparia, é que mais há de moderno; inovador e dinâmico no
mercado mundial. A estamparia digital entrou para o segmento têxtil e do vestuário, de modo a desafiar
a demanda de alta performance exigida pelas tendências do mundo fashion da moda. O processo de
estamparia digital orientado sob a ótica de visão do BPM, bem como, por meio da proposta de
mapeamento, terá condições de responder de forma ágil as crescentes mudanças do mercado. Assim, o
BPM permite enxergar o processo como um sistema, composto por diversas atividades
interconectadas, que trabalhando de forma harmonizada entregam valor ao cliente.
O BPM aplicado neste estudo permite enxergar a organização sob a ótica de processos, assim é
geri-los de forma a promover resultados mais alinhados às expectativas dos clientes e acionistas.
Atualmente, o processo de estamparia digital está em fase de implantação no sistema produtivo da
empresa em estudo, já dentro da concepção gerencial do BPM. Assim que o novo processo estiver
totalmente implantado, o mesmo será monitorado através de alguns indicadores como: a rejeição de
tecido estampado, pontualidade na entrega, perdas do processo e custo dos insumos químicos por
produção de tecido estampado.
Por meio do BPM, antes mesmo do processo estar em funcionamento, um processo pode ser
visualizado e mapeado, possibilitando que sua implantação seja mais bem planejada, maximizando o
resultado do processo, sem que a empresa passe por experiência do tipo, tentativa do erro e do acerto.
Mesmo reconhecido a importância do BPM, é preciso tomar cuidado e não sair pela empresa
mapeando todos os processos. Esta atividade exige dedicação dos colaboradores e tem custos
envolvidos. Portanto é importante priorizar quais processos realmente tem necessidades. Neste sentido,
é válido ressaltar que a gestão de processos sob a ótica do BPM é uma nova filosofia de trabalho, por
tanto, sua efetiva utilização requer uma mudança de comportamento, o que geralmente é obtido a
médio e longo prazo.
O processo de estamparia digital sob o enfoque do BPM pode trazer ganhos para o sistema
produtivo, como diminuição de custos, aumento da qualidade e do atendimento de prazos. Como o
objeto de análise não é somente a máquina em si, mas todo o processo, logo se identificaram os
maiores problemas enfrentados por outras empresas que possuíam a mesma máquina, porém através do
BPM desenhou-se um processo de estamparia digital interno visando à obtenção de um produto de alta
qualidade, custos acessíveis e no menor tempo possível.
Quanto aos custos, o processo proposto foi desenhado para: evitar desgastes físicos de
cabeçotes, ficando este abaixo do tempo de vida útil assegurada pelo fabricante; evitar quebra de
cabeçotes devido à causa de ourela mal cortada; ou devido à causa do tipo de ponto de costura usado
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nas emendas de rolo a rolo de tecido; ou ainda devido à causa de baixa qualidade no alinhamento de
enrolamento do tecido. Para todos os tipos de causas que possam gerar a quebra de cabeçotes, foram
estudadas e implementadas as soluções. O que é um diferencial competitivo de outras empresas que
geram a troca de 2 cabeçote por mês devido ao mal uso ou acidentes devido as causas já mencionadas
anteriormente, enquanto que a empresa em estudo, após as melhorias apontadas no mapeamento e
implementações realizadas através de eventos kaizens, tem um histórico de quebra de cabeçotes de 2
por ano. Após um ano de uso da máquina, o fornecedor recomenda a troca de 2 cabeçotes por mês,
devido ao desgaste natural gerado pelo uso. O histórico da empresa em estudo, no segundo ano de uso
da máquina de estamparia é de substituição de 1 cabeçote a cada 2 meses, devido à causa de desgaste
natural. Resultado que coloca o processo de estamparia digital da empresa a frente da concorrência.
No tocante a qualidade, o processo de estamparia digital busca eliminar ou minimizar ao
máximo as causas geradoras de baixa fixação do corante sobre o tecido. Originando o problema de
baixa solidez, quando o cliente fora lavar a peça em sua residência. Este problema foi corrigido através
de um maior contato do tecido com o banho de preparação (através do aumento de profundidade da
cuba), atividade esta que é realizada num máquina subseqüente à máquina de estamparia digital. Outro
aspecto é a eliminação de problemas com reações químicas no momento de estampar, causados pela
umidade do tecido. Ações como capas protetoras e outra ação que é tida como sigilo industrial,
originaram melhorias que destacam o processo de estamparia digital da empresa em estudo, de outras
concorrentes.
Em relação ao tempo de processo, foram apontadas e implementadas melhorias tais como
enrolar o tecido diretamente na saída da máquina rama, resultando a eliminação de uma etapa do
processo (antes era usada à máquina de revisão para enrolar o tecido, depois se acoplou esta máquina
revisora junto à máquina rama, transformando duas máquinas em uma) para enrolar diretamente na
saída da rama. Também instalou-se um acessório para pegar o rolo de tecido e descartá-lo dentro da
caixa de movimentação. Esta melhoria permitiu aumentar consideravelmente o tamanho do rolo. O que
antes não era permitido devido a exigências de ergonomia, já que o próprio operador é que pegava o
rolo manualmente e descartava este mesmo rolo na caixa de movimentação. Antes o peso médio era de
25kg, depois passou para 50kg. O tamanho de rolo também impactou positivamente na máquina de
estamparia digital, antes a cada 20 minutos fazia-se setup de rolo de tecido, agora a cada 40 minutos
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é realizado o setup de rolo. O aumento do tamanho do rolo de tecido reduziu em 50% o setup tanto na
máquina de revisão quanto na máquina de estamparia digital. Melhoria que impacta em redução de
tempo e conseqüentemente no custo.
Por fim, acredita-se que a efetiva implantação da proposição abordada neste artigo, traga
ganhos para o desempenho do processo de estamparia digital e por consequência ganhos para todo o
sistema produtivo da empresa, contribuindo para a manutenção e ampliação dos objetivos estratégicos
da empresa.
6. LIMITAÇÕES DO ESTUDO
O estudo proposto teve como objetivo de visualizar o processo de estamparia digital a luz do
BPM, mesmo antes deste ser implantado no sistema produtivo. Por hora, a implantação dos
apontamentos e achados neste estudo ainda necessitam ser colocados em prática, visto que o processo
ainda está em fase de implantação. Sendo assim, recomenda-se que estudo posterior a implantação
sejam realizados a fim de validá-los, ou mesmo, dentro da filosofia do BPM, inseri-los novamente no
ciclo buscando o aperfeiçoamento contínuo do processo.
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