Jhessyka de Bessa Cotrim
Thalita de Arajo
GUIA DE CONVERSAO PARA
ESTRANGEIROS PARA A COPA DO MUNDO DE
2014
Braslia
2013
Resumo
Este trabalho tem o objetivo de criar subsdios tericos e prticos para a produo de um
guia de conversao para estrangeiros durante a realizao da Copa do Mundo em 2014,
abordando temas e situaes do dia a dia, como saudaes, expresses idiomticas e a
comunicao em aeroportos, hotis etc. A inteno aqui demonstrar que possvel difundir a
lngua portuguesa a partir de pequenas aes, como caso da produo de manuais especficos
que auxiliam na comunicao eficaz entre estrangeiros e brasileiros, evitando possveis
incompreenses ou desentendimentos. Nossos pressupostos tericos so baseados nas relaes
entre cultura, identidade e espao, que so, em nosso ponto de vista, essenciais para que haja
uma comunicao intercultural eficiente durante o citado evento esportivo de 2014.
Palavras-chave: Cultura; Expresses cotidianas; Portugus para estrangeiros; Copa do
Mundo.
Sumrio
Introduo.....................................................................................................................................-
Captulo 1: Lngua, Povo e Cultura...............................................................................................-
1.1. Lngua portuguesa e suas faces histricas, polticas e sociais................................................-
1.2. A formao do povo brasileiro e sua relao com o portugus.............................................-
1.3. Cultura: o conceito sob diversas perspectivas e sua relao com a lngua............................-
Captulo 2: Copa do Mundo de 2014 no Brasil............................................................................-
Captulo 3: Expresses idiomticas..............................................................................................-
3.1. Noes de espao...................................................................................................................-
Captulo 4: Encaminhamentos prticos para a produo de guia de conversao para
estrangeiros....................................................................................................................................-
Consideraes finais.......................................................................................................................-
Referncias bibliogrficas...............................................................................................................-
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Introduo
O Brasil tem crescido muito em todos os aspectos nos ltimos anos, um sinal desse
crescimento a posio que o Pas ocupa no cenrio internacional como integrante de vrias
organizaes importantes como: Organizao das Naes Unidas ONU; Mercado Comum do
Sul MERCOSUL; Agrupamento Brasil, Rssia, ndia, China e frica do Sul BRICS.
Em todas essas organizaes, o Brasil tem posio de destaque, seja por sua economia
ou poltica. Somos um pas que desperta interesse dos estrangeiros nas mais diversas reas,
inclusive nos investimentos. Muitos desses estrangeiros vm para o Brasil em busca de emprego
ou estudo, e um forte indicador dessa presena no Pas a quantidade de convnios firmados
entre universidades brasileiras e estrangeiras e a grande procura por cursos de portugus como
segunda lngua.
Foi pensando nisso e em outros fatores que houve o desejo e a necessidade de se criar
um curso de graduao que formasse profissionais capacitados para trabalhar com o portugus
como segunda lngua. O curso foi criado na Universidade de Braslia UnB e, nesse ano de
2013, completar 15 anos de existncia, sendo que se trata do nico curso de graduao com esta
habilitao no Pas.
nesse contexto de ascenso da lngua portuguesa no mundo que reside a relevncia do
nosso trabalho, pois nosso objetivo trazer tona subsdios capazes de fomentar a produo de
um guia de conversao para estrangeiros de todas as nacionalidades durante a realizao da
Copa do Mundo em 2014.
de conhecimento geral que, ao chegarmos a um determinado pas, muitas vezes
trazemos conosco concepes e preconceitos acerca da cultura, povo e lngua, entretanto quando
nos deparamos com a realidade em contexto de imerso, temos a oportunidade de refazer nossos
esquemas a respeito de todos os aspectos citados acima.
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Contudo existem na linguagem muitos rudos que podem atrapalhar o entendimento
entre estrangeiros e nativos, como o caso das expresses idiomticas, que podem causar mal-
entendido e mal-estar se no forem utilizadas em contextos especficos e muito bem explicadas.
As expresses lingusticas so estruturas culturalmente marcadas na lngua e dependem
muito mais de um conhecimento cultural/lingustico do que conhecimento gramatical/estrutural
da lngua-alvo. Tendo em vista essas consideraes, nosso trabalho poder contribuir no campo
prtico da comunicao/entendimento intercultural eficaz entre estrangeiros e nativos.
Esse trabalho composto por quatro captulos. No primeiro, faremos um panorama da
lngua, abordando sua formao, sua posio no ranking das lnguas mais faladas no mundo e
outras caractersticas pertinentes ao desenvolvimento de insumo terico desse tema.
Analisaremos as distintas definies de cultura e a formao do povo brasileiro, para podermos
ter uma perspectiva da dimenso da lngua no cenrio internacional e, assim, traar rumos
coerentes e reais para a confeco de um material que auxilie, de fato, os estrangeiros durante a
estadia no Brasil.
No segundo captulo, discutiremos o histrico do futebol, sua relao com a linguagem
e a escolha do Brasil como sede do segundo evento esportivo mais importante do mundo. Dentro
da discusso, faremos um pequeno retrato das cidades que sediaro jogos e a expectativa dos
brasileiros sobre os estrangeiros que viro participar do evento em 2014.
No terceiro captulo, trataremos das expresses idiomticas e noes de espao que
variam de cultura para cultura. Buscamos embasamento terico no livro Dimenso Oculta, do
antroplogo Edward Hall, que trouxe vrias contribuies para o nosso estudo. Esperamos
demonstrar que o esporte capaz de unir pessoas e ultrapassar barreiras e pode ser um agente
ativo e positivo no ensino e difuso da lngua portuguesa no mundo. Vamos trabalhar tambm
outros tipos de expresses, deixando claro que essas estruturas exercem importncia dentro da
lngua e a sua aplicabilidade no ensino de portugus como segunda lngua.
Finalmente, no quarto captulo, sero apresentados os encaminhamentos prticos para a
confeco/produo do guia de conversao para estrangeiros, com base nos insumos tericos
apresentados.
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Nas consideraes finais, retomaremos os nossos objetivos e faremos reflexes
apresentando as possibilidades da aplicabilidade do material durante a Copa do Mundo nas
cidades-sede.
Captulo 1
Lngua, Povo e Cultura
A lngua, em todas as suas variedades, em todos os modos em que
aparece na vida cotidiana, constri um mundo de significados.
Quando voc se depara com diferentes significados, quando voc
se torna consciente dos seus prprios e trabalha para construir uma
ponte para outros cultura o que voc est fazendo. A lngua
preenche os espaos entre ns com sons; a cultura forja conexo
humana atravs deles. A cultura est na linguagem e a linguagem
est impregnada de cultura. (AGAR, 1994)
1.1. Lngua portuguesa e suas faces histricas, polticas e sociais
Quando falamos em lngua, temos que pensar que ela mais do que um meio de
comunicao entre pessoas, ela um caracterizador e identificador do povo que a fala. Com o
portugus no foi diferente, veremos que a lngua portuguesa, hoje, pode ser diferenciada em
duas lnguas e so elas: Portugus do Brasil (PB) e Portugus Europeu (PE), essa separao fez-
se necessria por conta das grandes diferenas entre a lngua falada/escrita no Brasil e a lngua
falada/escrita em Portugal.
Para entendermos essa separao, importante relembrar os rumos que a histria tomou
e, a partir da, tudo ficar mais claro, pois apesar de nosso estudo estar ligado intimamente rea
da Lingustica, outras reas como Histria, Sociologia e Antropologia contriburam muito para o
desenvolvimento da nossa pesquisa.
Portugal, h muitos sculos, foi um pas pioneiro nas grandes navegaes, ele tinha por
objetivo descobrir novas rotas martimas para as ndias por contas das especiarias e tambm
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desejavam encontrar novas terras. Foi em uma dessas viagens que se depararam com o pas que
hoje chamamos Repblica Federativa do Brasil.
A partir dessa descoberta, a Coroa Portuguesa logo se interessou pela nova terra, pois
havia muitas riquezas que chamaram a ateno dos portugueses: a terra frtil, o pau-brasil e o
ouro. Entretanto, a terra recm-descoberta a qual inicialmente deram o nome de Vera Cruz j era
habitada por ndios, os quais os portugueses chamaram de brbaros e desalmados por terem
lngua, cultura e religio diferentes dos padres aceitveis por eles.
Como a terra j era habitada, os portugueses tinham que impor sua supremacia de
alguma forma, e a maneira escolhida, alm da colonizao, explorao fsica e outras formas
condenveis, foi a imposio da lngua portuguesa como obrigatria, ou seja, lngua oficial,
negando a eles o direito de legitimar sua lngua e cultura por meio do uso.
Essa imposio foi criada pelo Marqus de Pombal, no sculo XVIII, ele proibia o uso
de qualquer lngua que no fosse o portugus. A histria nos revela que, por conta da
miscigenao de povos indgenas e africanos, surgiu uma lngua chamada lngua geral, que se
difundiu por todo o territrio, chegando a ameaar a supremacia da lngua portuguesa e o
domnio portugus sobre o povo.
Aps a constatao dessa e de outras ameaas, como os jesutas, o Marqus tomou a
deciso de que todos os documentos oficiais, incluindo jornais e folhetins, e o ensino nas escolas,
deveriam ser feitos em lngua portuguesa, pois, se no fosse assim, os transgressores sofreriam
punies severas por parte do governo.
Com isso, o uso do portugus se tornou obrigatrio. Entretanto, o acesso lngua formal
era elitizado, ou seja, todos deveriam falar e escrever portugus, mas apenas uma pequena
parcela da populao tinha acesso ao aprendizado formal da lngua.
A partir da, a lngua portuguesa realmente tornou-se a lngua oficial do Brasil, s que
ao longo do tempo, com as transformaes sociais e polticas pelas quais passamos, o portugus
falado aqui foi se distanciando cada vez mais do portugus falado em Portugal, como dissemos
no incio do captulo.
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Podemos levantar vrias hipteses a respeito das causas desse distanciamento, como por
exemplo: a influncia das lnguas indgenas e africanas, a dimenso territorial do pas, o contato
com povos rabes, holandeses e espanhis, entre outros. Esse contato fez com que fssemos
abrasileirando a lngua, tornando-a nica e capaz de representar o povo que hoje a tem como
lngua materna. Essa noo de tornar a lngua portuguesa em brasileira uma outra discusso,
aqui nossa inteno no fazer uma extensa linha do tempo com todos os fatos histricos, ou em
teorias da Sociolnguistica (apesar de todas reas perpassarem mais ou menos significativamente
nosso estudo) e sim ressaltar os aspectos pertinentes para o entendimento da formao da lngua
portuguesa no Brasil.
O que queremos demonstrar que o portugus, desde que foi institudo como lngua
oficial do Brasil, sofreu inmeras mudanas que contriburam para chegarmos ao estgio de ser
uma das oito lnguas mais faladas do mundo, segundo dados da Comunidade de Pases de Lngua
Portuguesa CPLP. Por isso, podemos dizer que o portugus do Brasil tem ganhado destaque no
cenrio internacional devido ao quadro favorvel que apresentamos no que diz respeito poltica
e economia. Esse destaque pode ser percebido pelo interesse dos estrangeiros em cursos de
portugus do Brasil, e, foi pensando nessa demanda, que, professores da UnB criaram o primeiro
e nico curso de graduao do Brasil voltado para estrangeiros, surdos e indgenas, intitulado
Letras Portugus do Brasil como segunda lngua PBSL.
Neste ano de 2013, o curso completar 15 anos de existncia e os alunos formados
encontraro um campo bastante favorvel, graas visibilidade do Brasil no cenrio
internacional e aos eventos esportivos que iremos sediar em 2013, 2014 e 2016. Tais eventos
contriburam para a circulao de estrangeiros de todas as nacionalidades no Pas,
especificamente nas doze cidades-sede que recebero jogos, como o caso de Braslia, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, So Paulo, Porto Alegre e outras.
Depois desse pequeno levantamento de informaes, podemos fazer o seguinte
apontamento: a nossa lngua est em processo avanado de consolidao e prestgio entre os
estrangeiros, somos um pas economicamente confivel e com um dos sistemas polticos mais
estveis do mundo. Sendo assim, somos capazes de receber com qualidade os estrangeiros e
consolidar nossa posio favorvel diante do mundo, criando mecanismos para que o portugus
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possa se destacar ainda mais no mundo, podendo chegar a ter status de lngua franca, como o
caso do ingls.
1.2 A formao do povo brasileiro e sua relao com o portugus
Para falarmos a respeito da formao do povo brasileiro, usaremos como base terica a
obra do antroplogo Darcy Ribeiro intitulada O povo brasileiro a formao e o sentido do
Brasil, escrita em 1995. Escolhemos essa obra por ser muito rica em informaes e ainda se fazer
atual, atendendo aos objetivos do trabalho.
Para iniciar nossa reflexo, usaremos um pequeno trecho do que Darcy sustenta em seu
livro: Somos muito mais marcados hoje pelas nossas semelhanas do que pelas diferenas, pois
somos parte do mesmo processo histrico e civilizatrio. Podemos, a partir dessa afirmao,
pensar que o autor coloca todos na mesma situao, na qual trata todos os indivduos como
iguais, mas, na verdade, o que ele prope que realmente somos plurais desde a nossa formao
enquanto pas. O fato de termos vrios Brasis em um s algo que merece ateno, pois
sofremos com a discriminao advinda da mistura de raas, desigualdade social, separao entre
as reas urbanas e rurais, conflitos entre classe dominante e classe dominada e com processos de
explorao. Com isso, vemos que sempre houve uma tentativa de uniformizar a populao que
aqui vivia, sendo ela nativa ou estrangeira, percebemos, at hoje, que a mdia tenta impor uma
cultura nica para todo o Pas, deixando de lado dados como extenso territorial e miscigenao
do povo brasileiro e sua formao histrica.
No livro, Darcy revela que existe um Brasil crioulo que nasceu nos engenhos
nordestinos, um Brasil caboclo que nasceu da mistura dos ndios genunos com outros mestios,
um Brasil sertanejo que tinha como caracterstica a criao de gado e o garimpo e um Brasil
sulista que tinha caractersticas como a heterogeneidade cultural e era formado por gachos,
matutos que tiveram papel importante no aportuguesamento lingustico e no abrasileiramento
cultural da regio Sul, incluindo os gringos, que eram os povos germnicos, italianos, poloneses,
japoneses, libaneses e outros.
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Essas informaes nos fazem refletir a respeito da criao de uma identificao prpria,
ou seja, s nos confirma aquilo que trazemos ao longo da nossa formao acadmica como
verdade, somos um povo batalhador, que foi se recriando e criando uma identidade prpria ao
longo do tempo. No somos mais apenas misturas de outros povos, hoje somos brasileiros
nascidos aqui, com uma lngua oficial, que ensinada nas escolas e aprendida no dia a dia no
meio familiar. Isso s aconteceu graas luta dos povos por sua independncia e legitimao da
prpria cultura. fato que, na poca da colonizao, os ndios no foram tratados com respeito
no que concerne a suas lnguas e costumes, eles foram colocados apenas como ndios, tendo suas
identidades tnicas totalmente ignoradas, e, por no aceitarem ser escravizados, eles foram
separados de seus familiares e eram forados a trabalhar com os ndios de outras tribos que
tinham lnguas totalmente diferentes. Por isso, eles no podiam se comunicar nem se organizar
para fazer motins, por exemplo, e isso os forou a aprender a lngua dos capatazes para poderem
entender as ordens e no serem punidos. Por causa dessa situao a que foram submetidos, eles
foram os principais disseminadores da lngua portuguesa no Brasil.
Os novos brasileiros, pessoas que haviam nascido aqui, precisavam de uma
identificao nacional, pois, apesar de terem sofrido certa descriminao e preconceito por no
serem ndios ou portugueses, tinham que encontrar maneiras de se diferenciar e uma delas foi a
cor. Essas informaes so interessantes por explicarem a relao que temos hoje com a lngua,
pois, devido s ocupaes de diversas maneiras no territrio, a mentalidade e os costumes foram
se perpetuando ao longo dos anos, e isso refletido na relao que a populao tem com a
prpria lngua, pois no difcil ouvirmos a seguinte afirmao: No sei portugus, no sei falar
direito ou no tenho cultura. Essa uma concepo que se encontra ultrapassada, caindo em
desuso com vrios estudos lingusticos. Segundo as teorias de Noam Chomsky de competncia e
desempenho, todas as pessoas nascem com capacidade para aprender qualquer lngua, o que seria
a chamada competncia, e a partir da comunidade (pas) em que ela est inserida, ela vai
aprender os parmetros lingusticos, ou seja, o que pode e no pode, esse seria o desempenho que
ser lapidado com o acesso ao ensino formal da lngua.
Com essa breve explicao, queremos dizer que todos ns que nascemos aqui e
aprendemos o portugus desde pequenos, somos bons falantes da lngua e somos conhecedores
de sua estrutura. importante dizer que, quando afirmamos que somos conhecedores das
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estruturas, estamos falando em sua maioria do conhecimento inconsciente. Isso muito fcil de
provar com teste simples, por exemplo: pedimos para uma criana sem muitos anos de
escolarizao analisar o seguinte enunciado: Ontem vamos festa nos. Ela com certeza no
entender o sentido do enunciado, pois essa no uma estrutura do portugus, nossa lngua tem a
ordem Sujeito, Verbo e Objeto SVO.
Essa crena de no sabermos nosso prprio idioma tem mudado ao longo do tempo,
graas mudana de postura dos estudiosos dentro da prpria academia, que tm estudado mais
os fenmenos de variao e aquisio da linguagem e tm atuado diretamente na formao da
nova gerao de profissionais que iro trabalhar em sala de aula, mais prximos da populao,
contribuindo para que haja uma revoluo no pensamento dos brasileiros, aumentando a nossa
autoestima e diminuindo o que Nelson Rodrigues chamou de complexo de vira-lata.
Essas quebras de paradigma nos ajudam a conceber a lngua portuguesa como lngua
estrangeira (LE) e ou segunda lngua (L2) de um pblico especfico, como ser o caso dos
estrangeiros que viro para o Brasil no prximo ano.
A postura dos profissionais em relao a sua prpria lngua um fator muito importante
para os estrangeiros que se interessam pelo portugus, pois, medida que protagonizamos nossa
prpria histria e assumimos uma identidade coerente com o que encontramos no cotidiano,
somos capazes de difundir no apenas a lngua per si, mas a lngua como cultura.
Vamos nos aprofundar nessa questo da cultura um pouco mais adiante, entretanto
vlido dizer que a nossa relao com o portugus est intimamente ligada noo de cultura e
como nos enxergamos enquanto brasileiros, pois como disse Darcy Ribeiro (1995):
Ns os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma s gente, pertencente
a uma mesma etnia. Essa unidade no significa porm nenhuma uniformidade. O
homem se adaptou ao meio ambiente e criou modos de vida diferentes. A urbanizao
contribuiu para uniformizar os brasileiros, sem eliminar suas diferenas. Fala-se em
todo o pas uma mesma lngua, s diferenciada por sotaques regionais. Mais do que uma
simples etnia, o Brasil um povo nao, assentado num territrio prprio para nele
viver seu destino.
Portanto, temos que aproveitar essa abertura para no apenas ensinar a nossa lngua,
mas deixar para trs os esteretipos, que vm acompanhando o imaginrio dos estrangeiros
acerca dos brasileiros.
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1.3. Cultura: O conceito sob diversas perspectivas e sua relao com a lngua
Cultura um termo que associado a vrias reas do conhecimento. Esse conceito, na
maioria das vezes, enobrece certo tipo de conhecimento em detrimento de outro, apesar dessa
viso simplista ser a mais repetida pelas pessoas sem o conhecimento mais profundo acerca do
tema, temos que levar em conta a origem de tal pensamento, para que possamos chegar, de fato,
a um conceito que melhor represente os nossos objetivos, que so: entender a cultura que os
brasileiros dizem ser a sua, fazer uma relao entre cultura e lngua, pois acreditamos que a
lngua est intimamente ligada cultura e uma no pode existir se no tiver a outra como apoio.
E, por ltimo, analisar o comportamento dos professores em relao cultura nas aulas de
portugus como LE ou L2.
Primeiramente, temos que dizer que o conceito de cultura trabalhado em reas como a
Antropologia, Sociologia, Sociolingustica, Comunicao, Psicologia, Etnografia e inmeras
outras. Essa informao pertinente, porque nos mostra que as diversas cincias se interessam
em entender e aplicar esse conhecimento de maneira a contribuir para a melhoria e
aperfeioamento de suas reas. Isso explicaria o porqu de no existir um conceito nico de
cultura que satisfaa a todas as necessidades das reas do conhecimento.
Vamos usar como referncia os estudos de Laraia (2004), que nos traz contribuies
importantssimas acerca do tema, pois, em seu livro Cultura: um conceito antropolgico, ele faz
um histrico desde a primeira concepo de cultura formulada por Edward Tylor (1871), passa
por Frans Boas (1858-1949); Alfred Kroeber (1876-1960), que tem como principal preocupao
desfazer a confuso entre o orgnico e o cultural at chegar aos dias atuais.
Todas essas vises so interessantes, pois contriburam muito para a evoluo do
conceito, porque foi por meio de tais evolues que hoje somos capazes de entender o que a
cultura representa para a sociedade brasileira. A maneira como nos relacionamos com os outros e
com ns mesmos est muito ligada questo cultural, fato que mostra o carter adaptvel da
cultura. vlido ressaltar que, desde a vinda dos portugueses para c, o entendimento de cultura
que tnhamos era imposto basicamente pela cultura erudita da igreja, que era e ainda muito
valorizada na nossa sociedade. No queremos aqui definir nada como sendo uma verdade
incontestvel, pois precisamos partir do geral para chegarmos ao especfico.
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Por isso, comearemos com os dois conceitos de cultura definidos por Lyons. Um seria
a dicotomia erudio versus barbarismo e o outro seria a cultura como legado social de um
grupo. Essa pequena distino introduz a relao da lngua com a cultura, pois ambas precisam
coexistir para fazerem sentido, j que por meio da lngua que expressamos nossos pensamentos
e classificamos o mundo. Segundo Sapir (1949):
A lngua um guia para a realidade social. Muito embora, a lngua no seja
considerada, em geral como o interesse essencial para os estudiosos de Cincias Sociais,
ela condiciona de forma poderosa todo o pensamento a respeito de processos e
problemas sociais (apud Wierzbicke, 1992)
Essa viso interessante, porque, a partir dela comeamos a entender a dimenso do
que ensinar cultura para um estrangeiro, pois, como professores, muitas vezes nos falta uma
formao cultural slida e adequada, e acabamos tratando do assunto de forma enciclopdica e
dissociada das outras reas do conhecimento.
Gostaramos de deixar claro que a formao cultural que defendemos no apenas
saber fatos histricos ou mesmo tursticos do Brasil, como a feijoada, caipirinha e samba, que
assumiram fora do Pas um papel de esteretipos do que ser brasileiro. O que defendemos o
conhecimento dos significados que so associados a determinados comportamentos, e isso abarca
as expresses idiomticas, a lngua, regionalismos e variaes. Segundo Galloway (1985), apud
Omaggio, 986:359) ensinar uma lngua estrangeira implicaria em ensinar formas de ser agir,
pensar, enfim, de ler o mundo.
Esses aspectos so importantes para a aquisio satisfatria de uma lngua estrangeira,
pois Laraia (2004) coloca-nos que a cultura dinmica, pois est em constante modificao, e
necessrio que, enquanto professores, possamos atingir o objetivo mximo do processo de
ensino/aprendizado de uma lngua estrangeira, que inserir o indivduo (aprendiz) dentro de um
nvel de participao mnimo dentro da comunidade. Isso significa oferecer o acesso a
conhecimentos culturais e sociais, proporcionando ao indivduo a condio de comunicar-se com
eficcia com os outros membros da comunidade. Podemos complementar esse raciocnio com
contribuies do prprio Laraia, ao afirmar que: os indivduos participam diferentemente na sua
cultura, e essa participao limitada.
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Esse um bom insumo terico para desmistificarmos, de vez, o que os estrangeiros
esperam de um tpico brasileiro: para ser brasileiro, preciso gostar de feijoada e caipirinha, ser
bom de futebol, saber sambar e outras exigncias que correspondem apenas a uma parcela da
populao, e sabemos que, muitas vezes, assumimos uma identidade que no a nossa para que
possamos nos sentir parte do grupo. E nesse ponto que a lingustica traz sua contribuio no
que diz respeito ao conceito de cultura dentro do ensino de portugus como LE ou L2, pois esta
rea do saber encara a cultura como um processo e no como um produto, levando em
considerao a experincia de vida dos indivduos e sua relao com o meio. Pensando nessa
relao entre lngua e cultura, fica evidente o carter heterogneo do nosso estudo, pois na
medida em que vamos discorrendo sobre esses vrios assuntos, eles vo se entrelaando,
formando uma rede que se complementa.
Clair Kramsch (1998) uma estudiosa que trata da relao entre linguagem e cultura,
sua viso muito interessante, pois liga o social linguagem, casando conhecimentos que
extrapolam os limites da lingustica, ela diz: a linguagem a principal forma atravs da qual
conduzimos nossa visa social. Quando ela usada em contexto de comunicao, ela est
embebida de cultura de mltiplas e complexas maneiras. Essa afirmao interessante, pois nos
leva seguinte reflexo: tudo significado na cultura por meio da lngua, entretanto
interessante fazermos uma pequena observao acerca da afirmao de Kramsch (1998), quando
a autora diz que a linguagem usada em contexto de comunicao, nos vem um pequeno
estranhamento, pois no conseguimos enxergar outro contexto de uso da linguagem sem ser para
a comunicao. Acreditamos que esses processos podem acontecer inconscientemente, sem que
o falante (seja ele nativo ou estrangeiro) perceba esse ato, pois entendemos que ele sempre
comunicar algo ao usar a linguagem, e essa comunicao pode ou no ser verbalizada, apesar de
a comunicao utilizar a linguagem, assim como a cultura emprega a lngua para fazer sentido,
essa pequena observao no desqualifica, de maneira alguma, as contribuies da autora para o
nosso estudo. Isso muito interessante, pois coaduna com a posio de Pedroso (1999), que
desenvolve seus estudos no que ele chama de comunicao intercultural, que seriam as atitudes
perante as outras culturas, reduzindo o etnocentrismo e permitindo aes de respeito, criando
posicionamentos mais abertos nos aprendizes de LE ou L2.
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Propomos, por meio de todos os conhecimentos expostos acima, que deve haver uma
aprendizagem cultural por meio de estudos mais embasados teoricamente, ou seja, uma aplicao
dos conhecimentos tericos que esto sendo produzidos na academia, extrapolando os seus
muros e indo para a prtica dos docentes. Um exemplo muito interessante de estudo sobre cultura
de Poter e Samovar (1997), que propem a existncia de uma cultura material, cultura mental e
cultura social. Cada uma dessas culturas parte de um todo e devem ser entendidas e utilizadas
da melhor maneira possvel, adequando-se s necessidades de cada situao.
Portanto, a cultura um conceito plural e coletivo, que contribui para a formao
intercultural dos alunos e que deve ser trabalhada de maneira mais consciente e planejada pelos
professores, pois, somente assim, seremos capazes de aprender a respeitar as diferenas e viver
em sociedades menos etnocntricas e mais abertas ao novo. Para finalizar, gostaramos de trazer
o que Oliveira (2001) diz sobre a convivncia entre sociedades globalizadas como as que
vivemos hoje: a interao com o outro faz com que o indivduo se desenvolva, e que sem esse
outro o homem no se constri.
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Captulo 2
Copa do Mundo de 2014 no Brasil
A Copa do Mundo da FIFA (Federao Internacional de Futebol Associados) um dos
maiores acontecimentos esportivos do mundo, tendo como objetivo unir as melhores selees de
futebol de todo o mundo em competies realizadas a cada quatro anos em um ou mais pases-
sede.
O Brasil foi o nico pas a participar de todas as competies e o maior ganhador de
ttulos, com cinco vitrias em seu currculo. Com isso, percebemos que o evento traz embutidos
em sua realizao vrios aspectos que influenciam na vida das pessoas que moram no Pas como:
a construo de aeroportos, reformas e construes de estdios, estradas, aumento do contingente
de hotis, investimentos na economia por parte de empresas privadas. Tudo isso atinge
diretamente a economia e a poltica do pas-sede, reforando ou no suas caractersticas positivas
e sua capacidade de receber um evento com o porte da Copa do Mundo, que, atualmente, feita
com a participao de trinta e duas selees durante o perodo de um ms.
Para entender o motivo de o futebol ser to bem aceito e gozar de tanto prestgio pelos
brasileiros e para entendermos essa relao do nosso povo com o futebol, vamos fazer um breve
histrico a respeito do esporte. Vrios estudos apontam que os jogos com bola eram praticados
em muitas culturas antigas, mas no se pode dizer que era o futebol, pois estes jogos no
possuam regras estabelecidas.
Os primeiros sinais da existncia de um jogo que, provavelmente, deu origem ao futebol
so de, aproximadamente, dois mil e quinhentos anos antes de Cristo, na China. Era considerado
como um treino militar em que os soldados chutavam, aps as guerras, os crnios de inimigos
mortos. Posteriormente, o jogo comeou a ser praticado em um campo quadrado com oito
jogadores em cada equipe, em que nas extremidades havia duas estacas ligadas por um fio,
formando o gol. A bola era de couro, revestida com cabelo e o objetivo do jogo era transferir a
bola de um p a outro sem deixar que casse no cho at as duas estacas.
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Na Grcia, foi criado um jogo chamado Episkiros, em que se dividiam duas equipes de
oito soldados militares cada, em um terreno retangular. No Japo, o jogo era chamado kemari e
era muito similar ao atual. No entanto, era praticado por indivduos da corte imperial, que
deviam evitar o contato fsico, e a bola era feita de fibras de bambu.
Na Itlia, surgiu um jogo conhecido como gioco del calcio, em que a violncia era
muito frequente. Por ser um jogo barulhento e violento, foi proibido pelo rei da poca, sendo
punidos os jogadores que insistissem na prtica. Aps alguns anos, foi criada uma nova maneira
de o jogo ser praticado, usando regras, impostas por juzes, que administravam os conflitos
dentro do campo, proibindo a violncia entre os jogadores.
possvel que esses esportes violentos citados acima tenham dado origem ao futebol
americano, que, nos Estados Unidos da Amrica, conhecido simplesmente como football,
importado da Rugby School. O football e o rugby so, hoje, esportes bem diferentes e, na
Europa, o nome rugby usado para mencionar o jogo que deu origem ao futebol americano.
Tanto o rugby quanto o futebol americano utilizam muito pouco os ps durante as partidas, isso
os difere muito do soccer, como chamado nos Estados Unidos e do futebol praticado no Brasil.
O futebol chegou ento Inglaterra, onde comeou a criao de regras, estimulando a
prtica e as tcnicas do esporte. Acredita-se que o futebol saiu da Itlia e chegou Inglaterra por
volta do sculo XVII e, em 1885, o futebol foi profissionalizado no pas. O esporte foi to bem
aceito em todos os pases que foi necessrio criar uma organizao internacional, a Federation of
International Football Association FIFA, especialmente para a modificao e criao de leis, se
necessrio fosse. Atualmente, a FIFA conta com cerca de duzentos pases associados, que fazem
do futebol um meio para a integrao nacional e internacional.
O futebol como conhecemos hoje foi trazido para o Brasil, no ano de 1894, por Charles
William Miller e Oscar Cox. O primeiro, paulistano e filho de um escocs com uma brasileira, e
o segundo, filho de ingleses. Ambos foram estudar na Inglaterra, onde comearam a praticar o
esporte. Quando voltaram para o Brasil, trouxeram, alm de duas bolas de futebol e um uniforme
completo, as regras usadas na prtica do esporte.
O futebol foi, aos poucos, agradando sociedade e tornou-se um esporte popular
praticado em quase todo o mundo, contando com diversos times e campeonatos nacionais e
15
internacionais. Hoje, transmitido por diversos meios de comunicao de massa, contando com
inmeros programas esportivos que o tornam um dos esportes mais assistidos pela populao.
A partir da, surge a identificao do povo brasileiro com o esporte, apesar de, no incio
de sua histria no Brasil, o futebol era praticado apenas pela elite branca e jogado por estudantes
ou jovens estudantes de classe alta.
O nome futebol (football) utilizado na maioria desses pases, mas em apenas quatro o
nome dado outro: nos Estados Unidos, Canad e Austrlia o esporte conhecido como soccer e
na Itlia, como calcio. A palavra football tem origem inglesa e sua designao, segundo o
Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa (2002), foot = p e ball = bola, dando o nome ao
esporte foot-ball, que foi grafado dessa maneira por cerca de 30 anos. Assim, tornou-se futebol o
nome dado ao esporte pela maioria dos pases que o praticam. Isso mostra a forte influncia do
Brasil no nome do esporte e tambm as transformaes sofridas pelo vocbulo ao longo de sua
histria, pois alm do nome, diversos termos passaram por modificaes e fazem, hoje, parte do
vocabulrio da lngua portuguesa, mas antes, alguns deles, utilizados na imprensa sobre os jogos,
eram em ingls.
Todos os dias, ouvimos nas ruas palavras e expresses diferentes das que so ditas no
contexto normal da maioria das pessoas. Grias e jarges so muito utilizados entre os jovens ou
entre um grupo especfico de falantes. A linguagem futebolstica interfere no cotidiano das
pessoas, que passam a incorporar diversas palavras e expresses faladas por jogadores,
comentaristas esportivos e locutores. At mesmo aqueles que no so to admiradores do futebol
acabam por absorver essas unidades.
Esses termos e expresses, geralmente, recebem significao diferente no cotidiano e
sua semntica pode estar relacionada a vrios assuntos e contextos. Exemplos disso podem ser
quando se fala que algum: pisou na bola, est fazendo firula, deixou algum de escanteio,
est driblando o desemprego. Expresses como essas so bem comuns na linguagem cotidiana
e j fazem parte do vocabulrio de muitas pessoas.
Outra questo interessante quando a linguagem futebolstica comea a ser utilizada
para se referir ao sentido sexual. Nesse caso, muitas vezes, os termos so falados com malcia.
16
Quando se fala que uma pessoa faz marcao cerrada sobre outra ou aquela pessoa esconde o
jogo ou ainda no deu assistncia, entra no campo das relaes entre homem e mulher.
Uma expresso famosa a dita por Osmar Santos pimba na gorduchinha que nada
mais do que chutar a bola, mas que pode remeter a outros sentidos, dependendo da inteno do
falante.
Em entrevista dada revista Lngua Portuguesa (2006, p.10), Ivan Proena diz: A bola
a mulher: h que se trat-la bem, com afeto, com intimidade, dormir com ela, para conserv-
la ao seu lado, sempre. Essa relao feita entre a bola e a mulher representa a fora que a bola
tem como smbolo no futebol e tambm a fora da mulher em relao busca por um objetivo,
ou seja, o jogo da conquista.
Aproveitando a riqueza desse vocabulrio, nessa altura do campeonato, vale lembrar
que muitos termos j deixaram de ser mencionados, muitos ainda so e outros ainda sero, pois
essas mudanas contnuas precisam acontecer para que no se tornem repetitivos e cansativos
demais na linguagem do futebol. Isso se d devido ao acompanhamento que se faz da
dinamicidade da lngua e dos falantes, que tambm so torcedores.
Segundo Mauro de Salles Villar (2006, p.9), diretor do Instituto Antnio Houaiss de
Lexicografia, acepes e vocbulos novos entram nas lnguas vivas diariamente e isso
necessrio para que a linguagem, seja do futebol ou de outro segmento, no se canse.
importante perceber que a linguagem futebolstica apresenta um vocabulrio bastante
variado e rico, contando com termos e expresses usados no dia a dia das pessoas, que vo, cada
vez mais, incorporando-se ao lxico da lngua portuguesa.
Para demonstrar que a linguagem do futebol apresenta grande riqueza vocabular e
expresses que j se incorporaram lngua portuguesa, exemplo disso so as construes
lingusticas apresentadas neste captulo entre aspas, que so tpicas do futebol e do uso dirio da
maioria dos falantes ao se comunicarem.
Verifica-se, desse modo, a fora do futebol no auxlio de enriquecimento da lngua, pois
quanto mais uma palavra utilizada por seus falantes mais ela tem chances de se valer de novos
significados e se tornar aceita em meio aos usurios da lngua.
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interessante ressaltar que as transformaes semnticas ocorrem devido grande
utilizao feita pelo pblico que batiza os termos empregados no esporte, garantindo sua
aceitabilidade. Elas possuem uma relao de dependncia com a cultura de cada regio ou pas,
pois uma determinada expresso pode no ser significativa aos membros de uma comunidade
lingustica, mas sim, para outra. Um exemplo o famoso chapu que deixa de ser um
acessrio utilizado na cabea por homens e mulheres e se torna a jogada em que a bola lanada
sobre a cabea do adversrio com a inteno de dribl-lo durante o lance.
Por esse motivo, surgem diversos neologismos na lngua, aportuguesam-se e
incorporam-se muitos estrangeirismos, que, por sua vez, tero maior significao e aceitabilidade
aos falantes da lngua que os utiliza.
Segundo o professor Francisco Plato Savioli (2006), esse jogo com as palavras feito
pelo futebol com grande xito. Salienta em reportagem concedida revista Lngua Portuguesa
(2006, p.16): O futebol tira ou acrescenta, com muito sucesso, sentidos aos termos que adota
[...] O esporte criou um espectro lexical to grande que virou o exemplo mais popular de que o
sentido dado s palavras nunca ser nico. (SAVIOLI, 2006, p.17)
Com isso, vemos que, como afirma Savioli (2006), os termos e expresses do futebol,
originados do cotidiano da sociedade brasileira, podem ser usados no enfoque da valorizao e
do ensino da lngua, que o foco do presente estudo.
Outro exemplo passvel de citao o do professor Luiz Csar Saraiva Feij, que em
um dos seus livros, Balanando o vu da noiva, faz um estudo da linguagem figurada do futebol
brasileiro a partir dos contedos gramaticais, filolgicos, lingusticos e de comunicao, diz que
a prpria expresso da gria do futebol balanando o vu da noiva, que significa marcar um
gol, explicada a partir dos aspectos da feminilidade, sensualismo, sexualidade, fazendo um
paralelo com outras expresses como beijar as redes, abrir as pernas, beijar o vu da
noiva. Expresses como essas podem servir de instrumento para ensinar, por exemplo, de
acordo com Feij, as figuras de linguagem anttese (futebol e sensualidade) e metforas, que
remetem o estudante a outras significaes, alm de mostrar como esses termos j esto
incorporados lngua.
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Podemos analisar, para enriquecer nosso estudo, o seguinte enunciado produzido por
um apresentador esportivo: Fica patinando agora no gramado! O que podemos dizer a respeito
desse enunciado? Quem patina o patinador e no o jogador de futebol, sendo assim, segundo a
gramtica normativa, o apresentador teria cometido um barbarismo (cruzamento), e o correto
seria dizer: Fica patinhando agora no gramado. J sob a perspectiva da lingustica, a
preocupao saber se no uso, os falantes aceitam esse tipo de expresso e se a consideram mais
habitual. provvel que os falantes no aceitem essa expresso como usual, pois no a utilizam
no cotidiano. Frases como essas so construdas a todo instante entre os participantes da
linguagem futebolstica e tambm em outros meios. O que deve ser almejada a comunicao
entre os usurios da lngua, valorizando a socializao e a identidade dos diversos ambientes.
Vale ressaltar que a fala dos jogadores, locutores, comentaristas, escritores e crticos
esportivos apresenta muita expressividade, mas , muitas vezes, considerada desvio da norma
culta sob a perspectiva da gramtica normativa. Mostraremos como o ensino-aprendizagem da
lngua portuguesa, sob a perspectiva da Sociolingustica, v esses desvios, reconhecendo que
no se pode dissociar a lngua de seu contexto histrico-social.
Linguagem, cultura e sociedade esto ligadas entre si por traos indissolveis. Isso
porque todo indivduo est inserido em uma sociedade e traz consigo marcas culturais e,
ainda sim, possui linguagem. A linguagem considerada base construtiva na
identificao de um indivduo e disseminadora de toda diversidade e heterogeneidade
lingustico-cultural. (PESSOA, 2005)
Conforme observamos na afirmao de Pessoa, ocorre, muitas vezes, a no valorizao
das diferentes linguagens culturais. A linguagem do futebol um dos exemplos de linguagem
que sofre um estigma social e lingustico, pois, dependendo da maneira pela qual analisada e
interpretada, vista como uma linguagem pobre e medocre.
Podemos inserir em nossa anlise as contribuies da Sociolingustica que entende o
erro sob uma perspectiva diferente da gramtica normativa, ou seja, o que ocorre entre os
falantes de uma comunidade lingustica so maneiras diferentes de utilizao da lngua. Nessa
perspectiva, se a comunicao entre os interlocutores for efetiva, ento, pode-se afirmar que no
h erro do ponto de vista expressivo.
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Mesquita (2002, p.566) ressalta em sua gramtica, bem diferenciada das demais, que o
erro no deve comprometer a comunicao, sendo a clareza um elemento fundamental, que vem
a ser a qualidade essencial da expresso lingustica de quem fala ou escreve.
Bagno e Freitas (2001), muitas vezes, colocam que h preconceitos e mitos que esto
arraigados no ser humano. Um dos mitos mencionados a respeito da lngua nica,
principalmente no Brasil, mito esse nada cientfico, mas ideolgico. O que os autores querem
dizer que o conceito de erro est muito distorcido na mente das pessoas, ou seja, o que para um
falante a maneira encontrada em determinado momento para se comunicar e expressar seus
sentimentos pode ser para outro, motivo de preconceito ou chacota. Esse preconceito chamado,
por Bagno, de crculo vicioso do preconceito lingustico, considerado uma transferncia de
ideologia que liga a escola sociedade.
Concordamos com Bagno por saber que o ensino da lngua portuguesa, na prtica
escolar, est comprometido pelo aparelho ideolgico da elite, com relao s classes menos
privilegiadas e dominadas. necessrio que o educador interfira nessa relao, possibilitando
aos aprendizes e tambm aos usurios da lngua, a libertao dessa viso errnea, preparando-os
para conviver com as diferenas de seu prximo, o que muito importante em um contexto de
Copa do Mundo no qual a convivncia com as diferenas ser inevitvel. Portanto, o esporte
tambm pode ser utilizado como assunto nas aulas de lngua portuguesa, cabendo ao professor
criar meios e utilizar recursos lingusticos que atraiam e motivem seus estudantes ao
aprendizado.
Falando um pouco mais do Brasil, que foi escolhido como pas-sede da Copa do Mundo
de 2014, importante conhecermos caractersticas das doze cidades que sediaro jogos ao longo
da realizao do evento. Comearemos com Belo Horizonte, que foi projetada no final do sculo
XIX, Belo Horizonte conhecida por seu potencial econmico, que atrai milhares de turistas de
negcios anualmente. Terceiro centro industrial do Pas, tambm a porta para o turismo cultural
em cidades histricas como Ouro Preto, Mariana, Sabar, Congonhas e Caet. Possui clima
agradvel, belas paisagens e arquitetura ecltica.
Em relao a Braslia, podemos ressaltar que sua populao composta por pessoas
vindas de todos os cantos do Pas. Possui uma rica diversificao cultural e gastronmica, alm
20
de ocupar o posto de terceira cidade mais rica do Pas. Tombada como Patrimnio Cultural da
Humanidade pela Unesco, a cidade inaugurada em 1960 foi projetada pelo arquiteto Lcio Costa,
com edificaes desenhadas por Oscar Niemeyer.
Temos Cuiab, que conhecida como cidade verde, por conta de sua generosa
arborizao. o principal centro industrial, comercial e de servios do estado de Mato Grosso,
alm de ser a porta de entrada de belssimas regies tursticas, como a Chapada dos Guimares e
a regio norte do Pantanal, bero da fauna e da flora regional.
Acerca de Curitiba, cidade no Brasil que mais prima pelo planejamento urbano,
podemos dizer que possui boa estrutura de transportes e acessibilidade garantida, o que facilita
percorrer em um dia suas principais atraes, como o parque da Pedreira Paulo Leminski e a
pera do Arame.
Fortaleza um destino turstico dentre os mais procurados, destacando-se pelas belezas
do seu litoral. So quinze praias, sendo que uma das mais frequentadas a de Iracema, onde,
alm de prdios histricos como a Igreja de So Pedro, o Estoril e a Ponte Metlica, o visitante
encontra o Centro Drago do Mar de Arte e Cultura.
Na regio Norte do Pas, temos a cidade de Manaus, com muita natureza e prdios
histricos compondo a paisagem da capital amazonense, ponto de partida para passeios
ecolgicos que apresentam a Floresta Amaznica. Parques ecolgicos, passeio de barco at o
encontro dos rios Negro e Solimes, trekking na mata agradam os turistas mais radicais,
enquanto museus e o Teatro Amazonas cuidam da diverso daqueles que preferem algo mais
tranquilo.
Natal possui belas praias e dunas que atraem anualmente mais de dois milhes de
turistas brasileiros e estrangeiros. Por conta do ar puro e do clima privilegiado, a capital do Rio
Grande do Norte ficou conhecida como Cidade do Sol. Com mais de 800 mil habitantes, a cidade
passa atualmente por um crescimento demogrfico e imobilirio que fortalecem a economia
local.
Porto Alegre uma cidade grande que ainda conserva os ares e as tradies de uma
cidade pequena. Os parques so frequentados por muitos e so ideais para tomar chimarro, um
21
forte representante da cultura local. H tambm churrascarias e restaurantes tradicionais italianos
e alemes para quem aprecia culinria.
Recife cortada por rios, canais e dezenas de pontes ligando seus bairros e apresenta
diversos atrativos tursticos, como praias e monumentos histricos. Olinda, municpio vizinho,
abriga um patrimnio histrico valioso. Igrejas, museus e feiras de artesanato completam o
cenrio.
Rio de janeiro mais conhecido como Cidade Maravilhosa. um dos principais centros
econmicos, culturais e financeiros do Pas. Internacionalmente conhecido por diversos cones
culturais e cartes postais, como o Po de Acar, o Cristo Redentor, alm das praias de
Copacabana e Ipanema, ser palco da final do Mundial.
A cidade de Salvador conhecida por sua beleza natural e pela boa receptividade do
povo, sendo umas das principais cidades tursticas do Brasil. Sua orla conhecida por ter guas
calmas e cristalinas. Devemos ainda ressaltar que o carnaval baiano famoso em todo o mundo,
com festas de rua tanto na orla quanto na cidade histrica, Pelourinho.
So Paulo hoje uma metrpole global. Com mais de onze milhes de habitantes, a
capital paulista recebe cerca de 90 mil eventos anuais. O espao cultural da cidade tambm
amplo, com diversos cinemas, museus, centros culturais, teatros e casas de espetculos.
importante ressaltar que todas as informaes foram retiradas de sites do Governo e
tambm da Federao Internacional de Futebol Associados FIFA e foram disponibilizadas com
adaptaes. Fizemos uma grande anlise de contedos a respeito das cidades e descobrimos que
o povo brasileiro tem vrias expectativas em relao Copa: alguns dizem que ser um ponto
positivo para o Brasil, por conta dos investimentos que sero feitos e pela visibilidade que o Pas
ter mundo afora, enquanto outros dizem que ser algo ruim, pois os investimentos sero apenas
destinados aos estrangeiros e que no ganharemos nada com isso. Mas vale lembrar que a
presena desses estrangeiros ser uma realidade e nada melhor do que os recebermos bem, dando
possibilidades para que eles se comuniquem conosco de maneira eficiente, evitando o mximo de
rudos possveis durante essa convivncia que ser por pouco tempo, mas, que poder, de fato,
consolidar valores e crenas acerca da populao brasileira em sua totalidade.
22
Captulo 3
Expresses Idiomticas
O portugus do Brasil uma lngua que conta com vrios recursos que auxiliam na
comunicao dos falantes, um deles a expresso idiomtica. Definida por Eugenia Magnlia
como estrutura de carter metafrico, cujo estudo feito a partir de suas manifestaes na lngua,
abrindo caminho para o conhecimento de valores culturais, assim como para a compreenso da
viso de mundo expressas nas lnguas. Acrescentamos ainda a viso de Lakoff (1987) e Johnson
sobre funcionamento da metfora, que abordam as expresses idiomticas e do maior
importncia semntica do sentido e aos valores culturais.
A partir dessa pequena definio, podemos afirmar que expresso idiomtica tem valor
cultural dentro do portugus do Brasil e os falantes incorporam essas expresses de acordo com
o uso e o contexto em que so empregadas. A lngua, portanto, tem vrias faces que necessitam
ser melhor compreendidas para que possamos, ento, difundi-la, seja por meio de cursos de
portugus , seja por meio de iniciativas menores, como o caso da que propomos nessa pesquisa:
criar um guia de conversao para estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2014.
O estudo de expresses idiomticas nasce com Vinogradov (1958), estudioso que
investiga estudos fraseolgicos, os quais chamou de idiomticos. No Brasil, pesquisadores como
Ortiz Alvarez, que publicou sua tese intitulada Expresses idiomticas do portugus do Brasil e
espanhol de Cuba: Estudos contrastivos e implicaes para o ensino de portugus como
segunda lngua, trazem vrias contribuies na rea, pois abordam a evoluo desse mecanismo,
sua aplicabilidade ao ensino e as vrias implicaes desse conhecimento no desenvolvimento do
processo de ensino-aprendizagem de lngua materna e lngua estrangeira. Tambm podemos
destacar a atuao de Xatara (1997) Roncolatto (2001) e Succi (2006) em suas obras. Esse
pequeno levantamento nos mostra que estudiosos da lngua h muito tempo se interessam pelo
assunto, e que existe uma gama de contribuies e reflexes, que contriburam para o
amadurecimento desse estudo.
Para a nossa pesquisa, escolhemos, dentre as vrias vertentes de estudo sobre expresses
idiomticas, a que defende que estas so construdas no mbito social e se perpetuam pelos atos
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de comunicao dos falantes, pois, quando pensamos em portugus como segunda lngua,
encontramos vrias dificuldades na introduo desse assunto, j que, ao mesmo tempo em que
expresses idiomticas perpassam a comunicao, tambm so usadas em contextos especficos
em que apenas o conhecimento gramatical no capaz de fornecer a um estrangeiro a
possibilidade de utilizar-se dessas estruturas em um contexto comunicacional. Estudos apontam
para a dificuldade dos professores em trabalhar esse aspecto em suas aulas, pois, ao mesmo
tempo em que o professor um falante da lngua e conhece muito bem tais expresses e seus
contextos de uso, no esto respaldados pelos materiais existentes no mercado, por exemplo: nos
livros didticos raramente so citadas e exemplificadas e, quando aparecem, esto voltadas para
o pblico jovem. Isso limita muito a atuao do professor que acaba por no fornecer todo o
funcionamento da lngua aos aprendizes, diminuindo o seu conhecimento prtico de lngua, e que
por vezes ser cobrado, em situaes de comunicao, o conhecimento pragmtico da lngua.
Pensando em todos esses outros aspectos, existem outras definies como a de
Benveniste (1971) que critica Saussure, quando este diz que a unio de significante arbitrria,
pois para Benveniste essa unio necessria. J Chafe (1979, p.42) define que idiomatismos so
estruturas lingusticas que trazem uma combinao morfolgica sem que sozinhos seus
componentes constituam unidades semnticas, posto que, em conjunto, formam uma nova
unidade semntica em determinada lngua.
Xatara, citada anteriormente, define expresso idiomtica como lexia complexa
indecomponvel, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradio cultural. Segundo a
autora, o fenmeno indecomponvel, porque uma combinatria fechada de distribuio
restrita. As expresses idiomticas tem carter conotativo, porque
sua interpretao semntica corresponde a pelo menos um primeiro nvel de abstrao,
que calculada a partir da soma de seus elementos sem considerar os significados
individuais destes e por fim so cristalizados por que suas significaes so estveis
devido ao uso. (XATARA, 1998, p.2)
Rodolfo Ilari (2001, p.78) tem como idiomticas expresses compostas de diferentes
palavras, cujo sentido vale para o lado e no pode ser obtido pela montagem dos sentidos das
palavras que os compe (...) uma caracterstica prpria das expresses idiomticas que elas
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apresentam um forte grau de fixidez, isto no podemos substituir as palavras que a compe por
outras, sem mudar sua ordem, nem intercalar outras palavras.
necessrio entender essas vrias relaes, pois as pessoas comeam a fazer sentido a
partir do momento em que entendemos os seus pontos de vista e modos de encarar situaes
desconhecidas (LARAIA, 2001), isso se aplica ao conhecimento das expresses idiomticas no
ensino, pois entender o ponto de vista do outro significa compreender as construes lingusticas
do povo que consideramos diferente de ns. Portanto, para entendermos esses processos de
significao, necessrio procurar em estudos fraseolgicos as evidncias da dificuldade de
haver expresses metafricas com equivalentes plenos em outras lnguas, isso ocorre porque os
valores semnticos so distintos, sendo a significao culturalmente sensvel.
Sabendo que as caractersticas so culturais, podemos nos apoiar em caractersticas
prototpicas que carregam majoritariamente propriedades de um grupo ou categoria. Podemos
ainda utilizar o conceito de iconicidade de Martelotto (2008) para enriquecer nosso estudo, pois
ele trabalha com um princpio que pode ser definido como relao motivada e natural entre
forma e funo, entre expresso e contedo.
Portanto, necessrio saber fazer a diferenciao entre expresses idiomticas que tm
as caractersticas citadas acima e as expresses que aqui chamaremos de cotidianas, pois essas
no so a juno de duas ou mais palavras com outro sentido, essas so as expresses usuais de
cordialidade como: bom dia, boa tarde e boa noite, que tm um significado juntas, mas que j se
originaram com um sentido nico.
3.1. Noes de espao
Noo de espao um assunto que difere muito de pas para pas e de cultura para
cultura, sendo uma das maiores problemticas nas relaes entre as pessoas, pois o
desconhecimento das regras que muitas vezes so internalizadas pelas pessoas, so muito difceis
de ser descritas e ensinadas em aulas de lngua, j que a homogeneizao de comportamentos
pode gerar o que chamamos de esteretipos que no levam em conta as diferenas. Existem
contrapontos a essa crtica, como o caso de autores que defendem que os esteretipos facilitam
25
a vida, pois a partir deles que podemos associar algumas caractersticas que ajudam em nosso
comportamento em relao ao outro.
Esse conhecimento acerca da noo de espao ser muito necessrio, pois em um
evento como a Copa do Mundo, no qual estrangeiros com vrios padres de comportamento e
vrias definies de espao estaro unidos em um mesmo territrio e tero que conviver,
aprendendo a respeitar uns aos outros, visando sempre o menor conflito possvel. Pensando
nisso, Edward Hall, em sua obra Dimenso Oculta, nos traz vrias contribuies a respeito das
noes de espao, considerando sempre que os modos de comportamento em pblico diferem
muito de povo para povo. Vrios exemplos so citados no livro, como o caso de rabes que tm
uma noo de espao diferente em relao ao corpo e seus direitos a ele associados. Eles lidam
diferentemente com o ego tambm, para eles natural que, em algumas situaes, haja silncio
em um grupo sem constrangimento, pois o ficar em silncio nada mais do que uma maneira de
expressar que querem ficar sozinhos com seus pensamentos. Enquanto ns, brasileiros, temos a
necessidade de sempre nos comunicarmos e, quando existem duas ou mais pessoas reunidas,
continuamos em constante comunicao, mesmo que seja a respeito de assuntos banais, como
o tempo que para ns um iniciador de uma conversa, ou mesmo o modo de quebrar o gelo,
enquanto que, para um estrangeiro, que mora em pas onde o clima definir sua rotina, como no
caso de nevascas, tem outra conotao. Cabe ainda destacar que os americanos, alemes,
franceses, japoneses tambm so citados no texto. Um exemplo interessante o dos americanos e
alemes quanto questo do que chamamos intromisso, onde uma pessoa, apesar de estar em
um ambiente pblico, preza por sua particularidade, defendendo que sua conversa no deve ser
ouvida pelos demais. Podemos fazer um paralelo, ento, com a cultura brasileira, na qual a
conversa e a interao entre as pessoas em lugares pblicos no tem conotao alguma de
particular, pois, quando queremos privacidade, vamos a lugares realmente reservados.
Essa contribuio muito importante, pois exemplos de boas maneiras de um povo
podem transmitir embaraos aos outros. Os rabes, por exemplo, no sentem desconforto em
fitar as pessoas nos olhos, pois, para eles, isso um sinal de respeito, j para muitos norte-
americanos isso um sinal de desconforto e um jeito de deix-los pouco a vontade, h vrios
nveis de envolvimento e no h constrangimento por parte das pessoas que se envolvem
(HALL, 1999). Podemos citar outro exemplo do povo rabe, que considera o espao pblico
26
como realmente pblico, e que d direto a ele a partir da sua necessidade, ou seja, pra eles no
existe intromisso ao se aproximarem de uma pessoa sozinha, no esto ferindo ou ultrapassando
um espao inviolvel como pensam os americanos.
Acreditamos que saber trabalhar esses aspectos no ensino de portugus como lngua
estrangeira seja na produo de materiais didticos ou na atuao em sala de aula, enquanto
professores nativos, traz aos estrangeiros noes no apenas de espao, como proposto no livro,
mas tambm noes de respeito e tolerncia em relao ao diferente dos padres
comportamentais aceitos por ns, pois segundo Hall, essas noes podem facilitar a comunicao
entre pessoas de um mesmo grupo e dificultar o dilogo entre pessoas de grupos distintos.
27
Captulo 4
Encaminhamentos prticos para a confeco do guia de conversao para
estrangeiros
Este captulo tem o objetivo de mostrar o passo a passo da confeco do guia a que nos
propusemos no incio do trabalho. Para a produo do contedo, usamos como orientadores os
pressupostos tericos construdos nos captulos anteriores, pois a nossa inteno foi colocar em
prtica conceitos como cultura e identidade de maneira simples e eficiente, para que os
estrangeiros, que so o pblico-alvo do presente guia, sintam-se, de fato, amparados pelos
contedos expostos.
importante ressaltar que a produo de um material como esse, traz imbricado em
suas pginas o posicionamentos dos autores enquanto brasileiros, suas concepes do que so
situaes cotidianas etc. Procuramos fazer ao longo da produo do material o desvencilhamento
de preconceitos, esteretipos e representaes que no refletiam a realidade vivida pelos
brasileiros e tambm dos esteretipos acerca dos estrangeiros que viro para a Copa do Mundo.
Esse posicionamento muito importante, para que possamos, de fato, trabalhar questes
essenciais a comunicao eficiente entre brasileiros e falantes de outras lnguas, atendendo a
necessidade dos estrangeiros que viro para o Brasil durante a Copa do Mundo. O guia foi
dividido da seguinte forma: Capa, que traz o ttulo, nome das autoras, ano e local da publicao.
Vale ressaltar que no usamos ilustraes na capa por acreditar que o uso de tais imagens seja
mais eficiente em outros momentos dentro do guia como podemos ver na ilustrao abaixo:
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A contracapa composta por uma imagem de um mapa do Brasil, onde a diviso do
Pas feita sinalizando os estados e suas respectivas capitais como mostra a imagem abaixo.
Pensamos ser importante fornecer essas informaes aos estrangeiros para que eles possam
utiliz-las em alguma situao de comunicao com um brasileiro ou at mesmo com outros
estrangeiros.
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O sumrio feita a organizao do material em tpicos que consideramos importantes
constarem do contedo do guia. Todos os tpicos foram pensados de maneira a facilitar a
comunicao dos estrangeiros com os brasileiros, pois a primeira parte que achamos pertinente
constar do guia foi uma introduo na qual detalhamos os objetivos do material e ressaltamos
algumas caractersticas do Brasil. Em seguida, temos um tpico mais elaborado a respeito do
Pas, com informaes prticas como a quantidades de estados, sua posio no cenrio poltico
da Amrica Latina e ainda trazemos um convite para conhecer o Museu do Futebol, que fica no
Estdio do Pacaembu, em So Paulo.
Vejamos a organizao do Sumrio:
O prximo tpico que consta no guia so as cidades-sede. Nesta parte, trabalharemos as
caractersticas de Belo Horizonte, Braslia, Cuiab, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo, cidades que tm caractersticas prprias
como pontos tursticos, fatos histricos e curiosidades. Por isso, entendemos que a caracterizao
desses diversos ambientes rica, pois o guia foi planejado com o intuito de atender aos
estrangeiros em todas as cidades-sede da Copa do Mundo, sendo distribudo nos aeroportos no
desembarque dos estrangeiros no Brasil.
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A seo seguinte intitulada Frases bsicas. Nela, so trabalhadas frases que serviro de
orientao para a comunicao dos estrangeiros em inmeras situaes, como apresentaes e
saudaes, como os seguintes exemplos: Muito prazer, bom-dia, boa-tarde, boa-noite;
pedidos e agradecimentos: obrigado(a), por favor e foi mal importante ressaltar que
esse ltimo vocbulo est marcado como uso informal. Pedidos simples como: com licena,
pode me dizer, pode me dar, quanto custa? e onde est?. Tudo isso seguido de
preferncias e conversas sociais com os seguintes exemplos: gosto (de) /adoro, no gosto
(de)/detesto. Essas categorias j facilitam muito a comunicao dos estrangeiros, pois com
frases simples como essas eles sero capazes de interagir com os brasileiros e outros estrangeiros
e, assim, estaro inseridos nos contextos comunicacionais a que forem expostos.
Um seo que trata de saudaes pode ser vista no exemplo abaixo:
As expresses idiomticas so trabalhadas em uma seo dividida em duas partes: uma
que consta de expresses cotidianas j consagradas pelos falantes portugueses por meio do uso,
como, por exemplo: quebrar um galho, lavar as mos, trocar os ps pelas mos e muitas
outras; e uma segunda parte na qual esto as expresses no futebol, onde so abordadas as
expresses futebolsticas, usadas pelos tcnicos, jogadores e torcedores na maioria do Pas.
Exemplos de expresses no futebol so: comer a bola, na marca do pnalti, bater na trave,
tirar o time de campo e muitas outras. Podemos ver esse exemplo em prtica nas ilustraes
abaixo:
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Esse conhecimento muito importante para um estrangeiro que ainda no domina as
estruturas da lngua e nem conhece os valores pragmticos do portugus, pois para o
entendimento de tais expresses necessrio conhecer as situaes de uso, j que o emprego de
tais expresses em contextos distintos, no oferece sentido algum para os falantes nativos da
lngua e, com isso, seu sentido fica prejudicado e, consequentemente, a comunicao ser
ineficiente. Vale ressaltar que a maioria dos exemplos tem uma traduo em ingls e espanhol
quando esta possvel, pois devemos levar em conta que expresses idiomticas so muito
difceis de serem traduzidas para outras lnguas, por que o significado pleno da expresso
encontra-se na pragmtica da lngua de origem e no na converso de palavras agrupadas.
O prximo tpico interessante e com certeza o que mais ajudar aos estrangeiros, no
sentido de aplicabilidade, pois ao pensarmos na produo desse guia no idealizamos os
estrangeiros que tero acesso ao material, e tivemos que pensar, ento, como um falante de uma
lngua distante conseguir se comunicar com as outras pessoas apenas com as informaes
escritas em portugus, sem nenhuma sinalizao de como se fala aquela palavra, qual o seu
som. Isso nos intrigou bastante e resolvemos, aps vrias pesquisas, fazer uma seo voltada
para a pronncia. A dinmica consiste em selecionarmos as palavras consideradas com maior
grau de dificuldade em serem pronunciadas, com sons ambguos, e criamos um pequeno
glossrio com essas palavras e seus respectivos sons. Usamos, como auxlio, a tabela do alfabeto
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fontico internacional para. Depois colocamos vrias informaes extras, como os nmeros,
tempo, hotel, meios de transporte, refeies, compras e servios, futebol, ligaes de emergncia,
banco, sade. Esses tpicos serviro para auxiliar os estrangeiros em situaes estratgicas.
Vejamos algumas imagens do guia sobre os itens citados acima:
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Consideraes Finais
Todas as lnguas tm caractersticas que as tornam nicas e, consequentemente, as
diferem das demais lnguas. No caso do portugus, no diferente. Pudemos constatar que o
nosso idioma uma lngua de caso, com um padro de ordem Sujeito, Verbo e Objeto SVO,
procltica e tem uma relao ntima com a cultura, pois, por meio desta, significada de acordo
com os padres da comunidade que a fala.
O Brasil um pas que tem traos multiculturais muito fortes, que se fazem presentes no
povo, cultura, religiosidade e na lngua. Para um estrangeiro conseguir assimilar todas essas
formas diversas que o povo brasileiro tem em sua identidade muito difcil, pois no possvel
classificar todas essas vertentes sem produzir esteretipos e criar barreiras lingusticas e
culturais, pois o desconhecimento tambm gera a insegurana e o preconceito em relao ao
diferente.
Entretanto, com base em informaes e esclarecimentos a respeito da cultura alvo,
como sua organizao social, noes de espao, relao com a lngua e relao com os
estrangeiros, que conseguiremos, durante a realizao da Copa do Mundo, desvencilharmo-nos
de esteretipos e representaes errneas que no fazem jus ao povo brasileiro como um todo.
No o nosso objetivo aqui pormenorizar cada um desses aspectos, mas sim trabalh-los de
forma otimizada em tpicos aplicveis realidade dos estrangeiros.
A lngua , com certeza, um dos instrumentos de comunicao mais eficientes que os
seres humanos desenvolveram, porque a partir dela que expressamos nossos pensamentos,
desejos, pontos de vista e tudo o que necessrio para poder haver uma organizao social.
Entretanto, esse mesmo mecanismo que tem o poder de trazer identificao a determinado grupo,
tambm capaz de promover excluso e desentendimentos aos falantes que no dominam a
lngua estrangeira em um contexto de imerso.
A necessidade de comunicar-se dos estrangeiros motivou nosso estudo, pois
constatamos por meio da reviso literria feita, que apesar de muitas vezes os estrangeiros
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dominarem as estruturas gramaticais, eles no conseguem comunicar-se em situaes reais de
uso da lngua, porque no tiveram acesso ao seu conhecimento emprico, como o caso das
expresses idiomticas, que assumem um significado pragmtico na nossa lngua, por meio dos
contextos de uso.
Por isso, propomo-nos a criar subsdios tericos e prticos para a produo de um guia
que facilite a estadia dos estrangeiros no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, abordando
expresses que j esto cristalizadas no portugus do Brasil, formas de saudaes e frases
bsicas que podero auxiliar os estrangeiros nas mais diversas situaes que eles encontraro no
seu dia a dia, como pedir um txi ou em uma conversa informal no shopping.
Essas pequenas noes de espao, comunicao e tempo dos brasileiros podero ser
encontradas no guia que foi concebido com o intuito de estabelecer uma comunicao eficiente
entre brasileiros e estrangeiros, por meio de orientaes lingusticas. A ideia que o manual seja
entregue a todos os estrangeiros nos aeroportos para que, a partir de sua chegada, eles possam
sentir-se orientados, caso haja necessidade de comunicao com brasileiros em situaes
especficas.
No mercado brasileiro, ainda no existem muitos manuais ou guias que orientem os
estrangeiros que chegam ao Brasil para participar da Copa do Mundo. Na verdade, o que existem
so materiais que priorizam algumas cidades brasileiras, como o caso do Rio de Janeiro e da
Bahia, que so as cidades mais visitadas por turistas estrangeiros.
Nosso guia visa a melhor estadia do estrangeiro em qualquer uma das doze cidades-
sede, apresentando situaes genricas que podem acontecer em qualquer uma das cidades. O
fato de o manual ser bilngue ajudar muito os falantes de ingls e espanhol, pois eles podero ter
acesso a estruturas equivalentes em suas lnguas. Acreditamos, portanto, que iniciativas como
essa de criar um material voltado para estrangeiros em situaes especficas, podero despertar
em outros estudiosos da lngua portuguesa como lngua estrangeira o desejo de elaborar e
aprimorar materiais para a rea de LE, pois existem poucos trabalhos como esse. Entendemos
que quanto mais materiais forem criados, melhores eles podero ser, pois novos olhares e
perspectivas sero incorporados ao modo de conceber o ensino de portugus como segunda
lngua.
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Estamos em um grande momento, no qual os holofotes do mundo esto voltados para
ns. Portanto, se aproveitarmos esse espao para mostrar o quanto estamos bem preparados para
receber os estrangeiros no apenas com estrutura fsica dos estdios, aeroportos, hotis etc.,
mas tambm com uma poltica lingustica forte, que capaz de fortalecer a lngua portuguesa
com medidas eficientes e que ao mesmo tempo capaz de difundi-la em outros pases por meio
dos estrangeiros que viro para o Brasil em 2014 , poderemos consolidar nossa posio de
destaque nos campos da poltica e da educao, para que, por fim, acabemos com a viso de um
pas que apenas preocupa-se com questes relativas ao turismo, demonstrando que defendemos e
valorizamos nossa lngua, por meio de posturas legtimas de defesa da nossa cultura como um
todo.
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