Professor Bernardo Augusto
QUESTÃO 1
Notícias do além
Aquele que morrer primeiro e for para o céu deverá voltar à Terra para contar ao outro como é a vida lá no paraíso. Assim ficou combinado entre Francisco e Sebastião, amigos inseparáveis e apaixonados pelo futebol. Francisco teve morte súbita e, passado algum tempo, no meio da noite, sua alma apareceu ao colega:
QUESTÃO 1
— Nossa Senhora, Chico! Você veio mesmo!
— Estou aqui, Tião, para cumprir a minha promessa, trazendo-lhe duas notícias.
— Então me fala.
— O céu é uma maravilha, um colosso, uma beleza. Tem futebol todo dia.
— E a outra?
— A outra é que você está escalado para jogar no meu time amanhã cedo.
DIAS. M V R. “Humor na Marolândia”. In: ILARI, R. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001.
QUESTÃO 1
Esse texto pode ser analisado sob dois pontos de vista que incluem situações diferentes de interlocução: a primeira, considerando seu produtor e seus potenciais leitores; e a segunda, considerando os interlocutores Francisco e Sebastião. Para cada uma dessas situações, o produtor do texto tem um objetivo específico que se determina, não só pela situação, mas também pelo gênero textual.
QUESTÃO 1
Os verbos que sintetizam os objetivos do produtor nas duas situações propostas são, respectivamente,
a) entreter e seduzir.
b) divertir e informar.
c) distrair e comover.
d) recrear e assustar.
e) alegrar e intimidar.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
“Vais encontrar o mundo, 1disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, 2que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão diferente, 3que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e 4não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas.
Raul Pompeia, O Ateneu.
QUESTÃO 2
Na frase “disse-me meu pai” (ref. 1), ocorre ordem indireta, uma vez que seu sujeito está posposto ao verbo. No texto, há outros exemplos desse tipo de inversão.
Considere os seguintes trechos:
I. “que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho”; (ref. 2)
II. “que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental”; (ref. 3)
III. “e não viesse de longe a enfiada das decepções”. (ref. 4)
QUESTÃO 2
Configura também frase com sujeito posposto a que está citada em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III, apenas.
e) I, II e III.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é aprender a observar. Só que isso, infelizmente, não é ensinado. Hoje nossos alunos são proibidos de observar o mundo, trancafiados que ficam numa sala de aula, estrategicamente colocada bem longe do dia e da realidade. Nossas escolas nos obrigam a estudar mais os livros de antigamente do que a realidade que nos cerca. Observar, para muitos professores, significa ler o que os grandes intelectuais do passado observaram - gente como Rousseau, Platão ou Keynes. Só que esses grandes pensadores seriam os primeiros a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
dizer "esqueçam tudo o que escrevi", se estivessem vivos. Na época não existia internet nem computadores, o mundo era totalmente diferente. Eles ficariam chocados se soubessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo que os cerca e obrigados a ler teoria escrita 200 ou 2000 anos atrás - o que leva os jovens de hoje a se sentir alienados, confusos e sem respostas coerentes para explicar a realidade.
Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário. Sou a favor de observar primeiro, ler depois. Os livros, se forem bons, confirmarão o que
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
você já suspeitava. Ou porão tudo em ordem, de forma esclarecedora. Existem livros antigos maravilhosos, com fatos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser dosados com o aprendizado da observação.
Ensinar a observar deveria ser a tarefa número 1 da educação. Quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas da simples observação, auxiliada talvez por novos instrumentos, como o telescópio, o microscópio, o tomógrafo, ou pelo uso de novos algoritmos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
matemáticos. Se você tem dificuldade de raciocínio, talvez seja porque não aprendeu a observar direito, e seu problema nada tem a ver com sua cabeça.
Ensinar a observar não é fácil. Primeiro você precisa eliminar os preconceitos, ou pré-conceitos, que são a carga de atitudes e visões incorretas que alguns nos ensinam e nos impedem de enxergar o verdadeiro mundo. Há tanta coisa que é escrita hoje simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que dissemina essa ideia, o que é assustador. Se você quer ter uma visão independente, aprenda correndo a observar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
você mesmo.
Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz "vamos parar de discutir", no sentido de pensar e tentar "ver" o problema de outro ângulo? Quantas vezes a gente simplesmente não "enxerga" a questão? Se você realmente quiser ter ideias novas, ser criativo, ser inovador e ter uma opinião independente, aprimore primeiro os seus sentidos. Você estará no caminho certo para começar a pensar.
(Stephen Kanitz, Observar e pensar. Veja, 04.08.2004. Adaptado)
QUESTÃO 3
Observe a concordância dos verbos "existir" e "haver", nas frases a seguir.
I. Existem livros antigos maravilhosos.
II. Há tanta coisa que é escrita hoje simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que dissemina essa ideia.
QUESTÃO 3
É correto afirmar:
a) Se fosse empregado "haver", na frase I, este seria flexionado no plural, visto tratar-se de sinônimo de "existir".
b) Se fosse empregada a forma plural "tantas coisas", na frase II, o verbo "haver" permaneceria no singular.
c) Se fosse empregado "dever" como verbo auxiliar de "existir", na frase I, aquele seria conjugado no singular: "deve existir livros antigos maravilhosos."
d) "Haver" tem, na frase II, o mesmo sentido que tem na frase - havia escrito coisas importantes -, por isso a flexão no singular.
e) Na frase II, se fosse empregado o verbo "existir" e o plural "tantas coisas", seria indiferente flexionar o verbo no singular ou no plural (existe ou existem).
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Revelação do subúrbio
Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a
[vidraça do carro*,
vendo o subúrbio passar. O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa, com medo de não repararmos suficientemente em suas luzes que mal têm tempo de brilhar. A noite come o subúrbio e logo o devolve, ele reage, luta, se esforça, até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais e à noite só existe a tristeza do Brasil.
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.
(*) carro: vagão ferroviário para passageiros.
QUESTÃO 4
Considerados no contexto, dentre os mais de dez verbos no presente, empregados no poema, exprimem ideia, respectivamente, de habitualidade e continuidade
a) “gosto” e “repontam”.
b) “condensa” e “esforça”.
c) “vou” e “existe”.
d) “têm” e “devolve”.
e) “reage” e “luta”.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
V – O samba
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento.
(...)
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar-se.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
QUESTÃO 5
Na composição do texto, foram usados, reiteradamente,
I. sujeitos pospostos;
II. termos que intensificam a ideia de movimento;
III. verbos no presente histórico.
Está correto o que se indica em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.
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