PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Título Miscelânea de Contos
Autor Eliane Maria Cooper Furusho
Escola de Atuação C.E. Ângelo Gusso
Município da escola Curitiba
Núcleo Regional de Educação Curitiba
Orientador Beatriz Ávila Vasconcelos
Instituição de Ensino Superior FAFIPAR
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção didático-pedagógica Unidade Didática
Relação Interdisciplinar
Público alvo Alunos do Ensino Médio
Localização R- Júlio Pedroso de Morais, n. 10
Apresentação Os resultados da segunda edição dos “Retratos da Leitura no Brasil” (2008), tem evidenciado a necessidade de se buscar alternativas diversas para o enfrentamento da falta de leitura em nosso país. O que se propõe aqui, é trabalhar com o conto, por se tratar de um gênero de narrativa curta, e por representar abundantemente as diversas realidades sociais. O conto, além de provocar tensões condicionadoras das várias situações humanas em determinado espaço de tempo, poderá despertar no aluno o prazer pela leitura. Para alcançar esta proposta optou-se por utilizar o Método Recepcional de Bordini e Aguiar. Este método oferece oportunidades de debates e reflexões sobre a obra lida e possibilita ao aluno a ampliação de seus horizontes de expectativas. Oportuniza também receber bem textos novos e buscar por outros. Capacita o aluno a indagar sobre as leituras realizadas em relação ao seu próprio horizonte cultural, assim como, ao das pessoas com quem interage. Portanto, o método é inteiramente social ao pensar o sujeito em constante dialogismo com os demais.
Palavras-chave leitura; conto; Método Recepcional; horizontes de expectivas.
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APRESENTAÇÃO
Nesta Unidade Didática iremos percorrer o seguinte caminho: tomaremos o
tema família e iremos observar a sua ocorrência em diversos gêneros como na
música, nos filmes, na entrevista e nos contos seleciondos de Artur Azevedo, Mário
de Andrade e Clarice Lispector. Dessa maneira, além de mostrarmos aos alunos as
características de alguns gêneros textuais, ampliaremos a percepção deles sobre a
família, conforme nos contam os vários autores e suas obras. Como esta proposta
está baseada no Método Recepcional de Bordini e Aguiar (1988), é importante que o
professor conheça o método e as etapas que comporta.
Partindo dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção, Bordini e Aguiar
(1988), elaboraram o Método Recepcional. Esse método proporciona momentos de
debates e reflexões sobre a obra lida, possibilitando ao aluno a ampliação de seus
horizontes de expectativas. Através dessa abordagem o aluno poderá fazer leituras
compreensivas e críticas, receber bem textos novos e buscar por outros, indagar
sobre as leituras realizadas em relação ao seu próprio horizonte cultural, assim
como, ao das pessoas com quem interage. Portanto, o método é inteiramente social
ao pensar o sujeito em constante interação com os demais. O Método Recepcional
comporta cinco etapas que deverão ser aplicadas pelo professor para que haja
sucesso. Cabe ao professor, baseado em seu plano de trabalho docente, determinar
o tempo de aplicação de cada etapa do método. Seguem-se assim, as cinco etapas
a serem desenvolvidas: (Bordini & Aguiar, 1988):
1) Determinação do horizonte de expectativas do leitor – momento em que o
professor verificará os interesses dos alunos e o nível de leitura, com a
intenção de prever as abordagens que fará.
2) Atendimento do horizonte de expectativas – nesta etapa o professor
apresenta leituras que sejam próximas do conhecimento de mundo e das
experiências do aluno, e objetiva agradar-lhes quanto aos textos escolhidos e
quanto às estratégias de ensino.
3) Ruptura do horizonte de expectativas – momento em que serão introduzidos
“textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos
alunos”, fazendo com que eles se distanciem do senso comum em que se
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encontravam e ampliem sua visão de mundo.
4) Questionamento do horizonte de expectativas – nesta fase o professor leva o
aluno a um questionamento e a um entendimento do que já lhe foi
apresentado nos dois momentos anteriores, ajuda-o a superar os obstáculos
textuais e traz a temática para a vida real dos jovens leitores.
5) Ampliação do horizonte de expectativas – última etapa em que os alunos
tomarão consciência das mudanças e das aquisições obtidas através desta
nova abordagem com a literatura, possibilitando-lhes a busca de novos textos
que os levarão a uma ampliação de seus conhecimentos.
Dessa maneira, seguindo o Método Recepcional, num processo gradativo e
contínuo, espera-se formar um leitor crítico, mais competente, apto a ler e
compreender uma obra mais esmerada. Essa abordagem abrirá espaço para
atividades de reflexão, pois “o professor não ficará mais preso à linha do tempo da
historiografia, mas fará a análise contextualizada da obra, no momento de sua
produção e no momento de sua recepção (historicidade)” (DCE, 2008, p. 76).
Para atender à primeira etapa do Método Recepcional, que é o de determinar
o horizonte de expectativas será feita uma atividade lúdica com os alunos
intitulada: Teste suas prioridades. O objetivo é apenas chamar a atenção para o
tema que será desenvolvido e conceituar a palavra família.
Para o atendimento do horizonte de expectativas será pedido aos alunos
que ouçam a música Família da Banda Titãs que será analisada oralmente e de
forma coletiva. Também será pedido a eles que assistam ao programa de televisão
A Grande Família, da Rede Globo e que anotem quais são os pontos de conflitos
nesta família e como estão estereotipados os seus personagens. A classe poderá
assistirir também, se possível, ao seriado da televisão norte americana Eu, a patroa
e as crianças, (Don Reo, 2001). E por fim, serão discutidos alguns aspectos da
entrevista da educadora Tania Zagury, concedida à revista Veja (31/03/99).
Para a ruptura do horizonte de expectativas, será proposta a leitura dos
seguintes contos: Plebiscito de Artur de Azevedo, (1973), O peru de Natal de Mário
de Andrade (1999) e Feliz Aniversário de Clarice Lispector, (2009). Esses contos
foram selecionados por despertar uma profusão de sentimentos e revelar as
profundezas da alma das personagens. São situações do cotidiano, onde as
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pessoas se perdem e se encontram em labirintos formados pelo círculo familiar.
Quer pela linguagem, meticulosamente elaborada, quer pela trama, o valor estético
e o senso comum do aluno poderão aqui ser despertados. Propõe-se nesta etapa,
fazer a análise estrutural dos contos, trabalhar a intertextualidade, e o foco
narrativo.
Para a fase do questionamento do horizonte de expectativas será feito
uma análise comparativas entre todos os discursos oferecidos aos alunos nas fases
anteriores. É o momento também dos alunos compreenderem as particularidades do
gênero conto. No tocante à composição textual, o aluno deverá fazer uma
autoavaliação e perceber que houve um grau de dificuldade de leitura que o ajudou
a ampliar os seus horizontes. No tocante à temática “família”, pela diversidade de
textos apresentados somados às vivências familiares de cada aluno pode-se chegar
ao momento da catarse, isto é, ao momento de observar e compreender como os
discursos apropriados podem conduzir o indivíduo a uma nova visão de si mesmo e
de seus familiares, percebendo que os laços que os unem podem ser, ora de afeto,
ora de aprisionamento mas que são imprescindíveis para o crescimento físico,
afetivo e social de cada indivíduo. Neste momento, com o pensamento aprimorado,
os alunos estarão prontos para a sua produção textual. Serão apresentadas as
seguintes opções: escrever um conto sobre a família moderna ou com a temática de
sua preferência; produzir um vídeo de um conto lido. Se houver possibilidade, as
produções poderão ser disponibilizadas no Blog do professor ou do colégio.
Na última fase, de ampliação do horizonte de expectativas, para que não
haja um fechamento do campo de leitura, os alunos terão a oportunidade de
pesquisar em bibliotecas e trazer para a sala de aula outras modalidades do gênero
conto, tais como: contos de humor, contos fantásticos, contos de mistério e terror,
contos realistas, contos psicológicos, contos religiosos, contos cômicos, contos
minimalistas e qualquer outra forma de conto estruturado de acordo com a técnica
da narrativa. A partir daí as aulas de literatura estarão abertas às necessidades e
contribuições dos alunos “de modo a incorporar as suas ideias e as relações
discursivas por eles estabelecidas num contínuo texto-puxa-texto”.(DCEs, 2008,
p.77).
Obs.: Verificar cronograma de implementação na página 29 desta unidade.
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Unidade 1
Teste as suas prioridades
Você está sozinho em casa quando:
1. O telefone toca.
2. O seu irmãozinho chora.
3. Alguém bate na porta da frente.
4. Começa a chover e tem roupa no varal.
5. A torneira da cozinha está aberta e jorra água.
Em que ordem você resolve os problemas?
Anote sua ordem, e veja abaixo como você tomou sua decisão.
Cada situação representa algo em sua vida.
Resposta:
1. O telefone representa .............. seu namorado(a).
2. O irmãozinho representa .................. sua família.
3. A visita representa .................. seus amigos.
4. A roupa lavada representa ...... seus estudos.
5. A água corrente representa ..... dinheiro.
O resultado te fez pensar? Bateu com as suas prioridades?
Confessa...A roupa do varal molhou toda, né?
E o seu irmãozinho foi consolado?
Em todas as épocas da humanidade o tema família esteve presente nas mais
diversas manifestações artísticas das quais temos conhecimento. A família foi e
continua sendo representada na pintura, na escultura, na música, na literatura e de
muitas outras formas com intensa criatividade e olhares diferentes.
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Enfim, o que vem a ser família? Vamos tentar conceituá-la oralmente?
Veja agora o que diz o dicionário on line: http://pt.wikipedia.org/wiki/Familia
“A família é a unidade básica da sociedade formada por indivíduos com
ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos.”
Unidade 2
MÚSICA
A música “Família” da banda Titãs desperta com profusão lembranças de
cenas do cotidiano de uma família, as quais nem sempre são de harmonia, mas que
mesmo geradas pelo estresse, mostram o amor que envolve seus membros. Veja o
vídeo da música que se encontra no seguinte endereço:
www.vagalume.com.br/titas/familia.html
Família
Titãs
Composição: Arnaldo Antunes/Toni Bellotto
Família, família
Papai, mamãe, titia,
...Almoça junto todo dia,...
Mas quando a filha
Quer fugir de casa
Precisa descolar um ganha-pão...
Mas quando o neném
Fica doente...
Procura uma farmácia de plantão...
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A mãe morre de medo de barata...
O pai vive com medo de ladrão...
Jogaram inseticida pela casa...
Botaram cadeado no portão...
Observe as partes da música dos Titãs que foram selecionadas, o que será
que elas nos dizem? Você acha que esta família está de acordo com a definição do
dicionário? A sua família tem alguma semelhança com esta da música?
SERIADOS
O tema família também está presente em muitos seriados de televisão. São
programas cujo conteúdo se baseia em uma ficção contínua, em uma trama já
preestabelecida, onde os personagens interagem entre si, sempre dentro de um
mesmo contexto, mas com histórias diferentes. O sucesso de um seriado depende
da cumplicidade do espectador, que pode ou não se identificar com o contexto, com
um ou outro personagem, ou com o ambiente apresentado e se apegar ao roteiro ou
à visão de mundo idealizado e construído pelo autor. Podemos citar, “A grande
família” como uma série famosa da televisão brasileira e “Eu, a patroa e as crianças”
como destaque na televisão norte-americana. Vocês conhecem outros seriados
semelhantes a estes?
ATIVIDADE
Assistam durante a semana ao programa de televisão da Rede Globo “A
Grande Família”. Anotem quais são os pontos de conflito desta família, como se
comportam e como estão estereotipadas as principais personagens (Lineu, Nenê,
Tuco, Bebel e Agostinho). Tragam suas anotações para a sala de aula, elas
contribuirão com a análise que o professor fará da excêntrica família de Lineu.
Se desejar, você poderá ouvir também a música feita para o seriado,
disponível no seguinte endereço: http://www.vagalume.com.br/a-grande-familia/a-
grande-familia.html
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Outra sugestão de atividade é que você assista ao seriado “Eu, a patroa e as
crianças”, temporada 2, episódio 3, disponível no endereço
http://www.youtube.com/watch?v=cWAlfX0_rmM. Neste episódio, a mãe viaja e o pai
tenta fazer com que as coisas funcionem impondo algumas regras. As crianças se
rebelam e para não perder o controle da situação o pai propõe então que: se os
filhos conseguissem ficar uma semana sem pedir nada para ele (dinheiro, comida,
levar para a escola, etc.), dali em diante não haveria mais regras na casa. É
evidente que os filhos não conseguem cumprir o acordo, voltando-se então às
regras já estabelecidas. Este é mais um seriado em que o padrão comportamental
das figuras em um ambiente familiar poderão ser analisados.
ENTREVISTA
Para compreendermos melhor essa tumultuosa relação entre pais e filhos,
vamos acompanhar alguns trechos da entrevista da educadora Tania Zagury para a
revista Veja, na edição de 31/03/99. A entrevista na íntegra poderá ser acessada no
seguinte endereço: http://veja.abril.com.br/310
A educadora alerta dizendo que a superproteção e a permissividade dos pais
impedem que os jovens amadureçam na idade certa. Algumas décadas atrás
chamava-se de adolescente o jovem entre 13 e 18 anos. Hoje, adolescer dos 11 aos
20 anos é comum. Dessa maneira surge a figura do “adolescente velho” , aquele
jovem que mesmo aos vinte e muitos anos não assume as responsabilidades da
vida adulta. Tania enfatiza ainda que os pais não estabelecem limites para os filhos,
que crescem superprotegidos. Esses jovens tem muito mais liberdade dentro de
casa do que se tinha na época deles. Desse modo, o que se observa são relações
familiares que sofrem intensas e conflitantes mudanças.
Veja – Por que a adolescência está mais longa?
Tania – Trata-se de um fenômeno mundial. De maneira geral, nas últimas décadas a população vem se alimentando melhor, o que promoveu um amadurecimento físico mais veloz. Com isso, o processo da puberdade – uma das marcas da entrada na adolescência – foi adiantado. Ao mesmo tempo, as crianças se desenvolvem intelectualmente de forma mais precoce. A televisão faz com que elas exercitem raciocínios e presenciem situações com as
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quais só tomariam contato mais tarde. A conversa das crianças está muito parecida com a dos adultos, nos assuntos e até mesmo na linguagem. Antes, a criança era criança por mais tempo. Hoje ela começa a imitar comportamentos adultos muito cedo. Tudo isso antecipa a entrada na adolescência.
Veja – E o que adia a saída da adolescência?
Tania – A concorrência no mercado de trabalho está cada vez mais acirrada. Exige profissionais mais bem preparados. Além do mestrado e do doutorado, tem até pós-doutorado. É possível chegar aos 30 e poucos anos apenas estudando. A conseqüência é uma demora maior na emancipação do jovem, que acaba ficando mais tempo na casa dos pais. Muitas vezes, esse jovem não amadurece e continua se comportando como um adolescente.
Veja – Não há também alguns pais que tentam prolongar a adolescência dos filhos?
Tania – Sim, para satisfazer à própria carência afetiva. Um exemplo é aquela mãe sem vida própria, que vive só para o filho. Como ela não quer que o filho saia de casa e fique independente, acaba contribuindo, mesmo sem querer, para que ele não deixe a adolescência. Em casos assim, o problema é dos pais.
Veja – Qual é o problema de a adolescência estar mais longa?
Tania – Cada fase da vida é ótima e tem seus encantos, desde que vivida no momento adequado. Não tem a menor graça um homem crescido fazendo brincadeiras idiotas, como universitários que obrigam um calouro a se embebedar. É o retrato da imaturidade, da falta de responsabilidade e da falta de capacidade de respeitar o outro. São comportamentos adolescentes em adultos.
Veja – E os pais estão preparados para lidar com esses "adolescentes-velhos"?
Tania – Ninguém morre porque o filho passa mais tempo na adolescência. Mas a maioria dos pais gostaria que seu filho estivesse trabalhando aos 20 e poucos anos, assumindo sua vida. Mesmo que ainda esteja estudando ou não consiga emprego, o jovem pode assumir responsabilidades em casa. Agora, um filho dessa idade que não contribui em nada para a família é extremamente complicado. Os pais vão envelhecendo, precisam terminar algumas tarefas, sentir que realizaram alguma coisa. Experimentar a sensação de ter criado os filhos. Não que alguém se aposente do papel de pai, mas é uma função que muda de caráter. Ser pai de um adulto funciona mais como uma troca de experiências e idéias.
Veja – Uma pessoa de 25 anos, por exemplo, pode ser considerada adolescente só porque mora com os pais?
Tania – Não. Se o jovem ajuda nas tarefas domésticas, lavando louça, fazendo compras, enfim, assumindo responsabilidades em casa, é sinal de amadurecimento. Agora, se ele não ajuda em nada, joga roupa suja para todo lado, pede tudo para a mãe, continua um adolescente. O adulto geralmente apresenta três características básicas. Primeiro, sabe que o mundo não vive em função dele. Tem consciência de que precisa dar sua contribuição, seja em casa, seja para a sociedade, com seu trabalho. Segundo, é financeiramente independente. Não precisa ser sustentado por ninguém. Terceiro, é afetivamente maduro, capaz de manter um relacionamento amoroso mais estável. Aos 17 anos, é normal que os namoros não durem mais que um mês. Aos 20 e tantos anos, denota certa imaturidade.
Veja – E o que fazer com um filho crescido que continua adolescente?
Tania – Os pais devem deixar a superproteção definitivamente de lado. Eles têm de parar de
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fazer todas as vontades do filho e de dar tudo a ele. Não é fácil, porque o jovem ficou acostumado com isso e não vai querer perder as mordomias. Mas é preciso ser firme. Se ele não quiser estudar, é necessário dar um prazo para que arranje um emprego. Cortar a mesada ajuda. Sem dinheiro, o filho será obrigado a sair para a vida. Um adolescente-velho em casa costuma causar conflitos. Além de brigas permanentes entre o jovem e os pais, começam a acontecer discussões entre o pai e a mãe. É muito comum que um dos pais insista em fazer as vontades do filho, agravando os desentendimentos do casal.
Veja – Está mais difícil ser adolescente ou ser pai de adolescente?
Tania – Ser pai de adolescente está mais complicado. Os pais não sabem como administrar a liberdade dos filhos. Eles têm medo de dizer não, de errar, de provocar traumas. Nada disso existia no passado.
Veja – A educação liberal acabou se tornando permissiva?
Tania – Sim. O engano mais freqüente dos pais é acreditar que a melhor forma de fazer o filho ser feliz é deixá-lo agir como bem entender. Isso é uma distorção do que é ser liberal. Os pais estão com dificuldades para compreender que podem ter autoridade sem que sejam autoritários. Autoridade é fundamental. O filho precisa de alguém que o oriente até a idade adulta, com padrões de comportamento que sirvam de referência. Os pais estão muito inseguros, têm medo de errar. Acham que qualquer "não" cria trauma. Esse medo de traumatizar pode causar imobilidade. E os filhos vão se tornando mais resistentes a aceitar limites e autoridade. É comum, por exemplo, o jovem levar a namorada ou o namorado para casa e se trancar no quarto. Muitos pais se sentem desconfortáveis com essa situação, mas acabam cedendo para não chatear o filho. É por isso que os jovens querem alongar a adolescência ao máximo. Afinal, eles não têm quase nenhuma responsabilidade.
A partir das observações feitas através da entrevista, da música dos Titãs e do programa A grande família, e com base nas próprias experiências familiares, vamos debater as seguintes questões:
1. Como você acha que era a relação entre pais e filhos no tempo de seus
bisavós?
2. E a família atual? Que tipo de relacionamento apresenta?
3. Quais são os pontos de tensão que podem se constituir em uma família?
4. Esses conflitos podem ser diminuídos? De que modo?
5. Você considera importante a instituição familiar nos tempos atuais? Por quê?
6. Como você idealiza a sua futura família?
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Unidade 3
CONTOS
Em 1894 o escritor Arthur de Azevedo, escreveu uma série de contos em que
retratava de forma humorada as agruras e os comportamentos da sociedade da
época. Vamos ler um desses contos intitulado Plebiscito, que envolve um momento
de tensão entre pai, mãe e filhos, antes disso porém, vamos conhecer um pouco
sobre o autor.
Arthur Azevedo
(1855-1908)
Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo, nascido em São Luís do Maranhão a 07 de julho de 1855, é uma das grandes figuras do humorismo brasileiro. Foi jornalista, comediógrafo, contista e poeta. Em toda sua obra campeia um fino e gracioso humorismo. Autor dos "Contos Possíveis", "Contos Efêmeros", "Contos fora de moda", "Contos em verso", "Contos Cariocas" e "Vida alheia", espalhou também sua verve em dezenas de revistas teatrais e de esfuziantes comédias, entre as quais sobressaem "O Dote", "A Almanjarra", "A Véspera de Reis", "O Oráculo", "Vida e Morte", "Entre a Missa e o Almoço", "Entre o Vermute e a Sopa", "Retrato a Óleo" e "O amor por Anexins". Trabalhou nos principais jornais da época, no Rio de Janeiro, tendo fundado e dirigido "A Gazetinha", "Vida Moderna" e "O Álbum". Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, em que ocupou a cadeira n. 29, para a qual tomou Martins Penna como patrono, faleceu no Rio de Janeiro a 22 de outubro de 1908.
LEITURA
PLEBISCITO
A cena passa-se em 1890.
A família está toda reunida na sala de jantar.
O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.
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Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.
Os pequenos são dous, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
Silêncio.
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
- Papai, que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequeno insiste:
- Papai?
Pausa:
- Papai?
Dona Bernardina intervém:
- Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar, que lhe faz mal.
O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.
- Que é? que desejam vocês?
- Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
- Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
Se soubesse, não perguntava.
O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:
- Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
- Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
- Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
- Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.
- Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!
- A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!...
- A senhora o que quer é enfezar-me!
- Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, falou, e o menino ficou sem saber!
- Proletário - acudiu o senhor Rodrigues - é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.
- Sim, agora sabe porque foi ao dicionário; mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
- Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!
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- Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: - Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicionário, meu filho.
O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:
- Mas se eu sei!
- Pois se sabe, diga!
- Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!
o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta.
No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário...
A menina toma a palavra:
- Coitado de papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é tão perigoso!
- Não fosse tolo - observa dona Bernardina - e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!
- Pois sim - acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão - pois sim, mamãe; chame papai e façam as pazes.
- Sim! Sim! façam as pazes! - diz a menina em tom meigo e suplicante. - Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangaram-se por causa do plebiscito!
Dona Bernardina dá um beijo na filha, e vai bater à porta do quarto:
- Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.
casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço.
- É boa! - brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio - é muito boa! Eu! eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!... A mulher e os filhos aproximam-se dele.
O homem continua num tom profundamente dogmático:
- Plebiscito...
E olha para todos os lados a ver se há ali mais alguém que possa aproveitar a lição.
- Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecido em comícios.
- Ah! - suspiram todos, aliviados.
- Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!..
AZEVEDO, Artur. Contos. SP: Ed.Três,1973.
ATIVIDADES
A partir da leitura, faça uma análise das atitudes dos protagonistas, dê a sua
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opinião e justifique suas ideias num exercício de argumentação. Utilize também este
momento para discutir o comportamento humano e responda as seguintes questões:
1. Que sensações e impressões vocês tiveram ao ler o conto?
( ) apreensão ( ) ternura ( ) medo ( ) estranheza
( ) alívio ( ) autoritarismo ( ) alegria ( ) tempos antigos
Resposta pessoal.
2. Os fatos narrados no conto são totalmente fictícios ou assemelham-se
à vida real?
Resposta pessoal.
3. Como você caracteriza a família do senhor Rodrigues?
R- Constitui-se de uma família patriarcal, composta de pai, mãe e filhos, onde o pai
representa o papel de cidadão supostamente culto e respeitado.
4. Sabendo que, Artur Azevedo foi um talentoso expositor dos costumes
brasileiros de seu tempo e um ferino crítico social na segunda metade
do século XIX, o que pretendia retratar neste conto?
R- Além de retratar de forma humorada a sociedade da época, Artur Azevedo faz
uma crítica à pobreza verbal que assolava o Brasil no século XIX.
SUGESTÃO: Veja o conto Plebiscito interpretado por Antonio Abujamra no seguinte
endereço: http://www.youtube.com/watch?v=egIIOMkyLBg
Pesquisem na Internet, ou consulte o professor de história para saber: O que
é plebiscito? Será que já houve plebiscito no Brasil? Em que época? O que
pretendia? Tragam suas anotações para a sala de aula.
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PLEBISCITO
A palavra plebiscito é originária do latim plebiscitu (decreto dos plebeus). Na Roma
Antiga, os votos passados em comício eram obrigatórios para a classe dos plebeus.
Atualmente, plebiscito é a convocação dos cidadãos que, através do voto, podem
aprovar ou rejeitar uma questão importante para o país. Ou seja, o plebiscito é um
mecanismo democrático de consulta popular, antes da lei ser promulgada (passar a
valer).
No Brasil, o último plebiscito ocorreu em 21 de abril de 1993. Nesta ocasião, o povo
foi consultado sobre a forma e o sistema de governo (Monarquia, República,
Presidencialismo, Parlamentarismo). Através da consulta popular, o povo brasileiro
decidiu manter a República Presidencialista.
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/plebiscito.htm acesso em 16/06/2011.
LEITURA
Sua família tem por tradição fazer a ceia de Natal? Vocês costumam comer
peru nesta data? Esta comemoração acontece em sua casa ou na casa de
parentes? Este encontro familiar é alegre ou enfadonho para vocês? Você lembra de
alguma história interessante sobre este dia para nos contar?
A grande mídia nos faz crer que a época de Natal é sempre comemorada em
todos os lares com muita alegria, trocas de presentes, uma grande família em volta
da mesa farta, e é claro, o indispensável peru, de preferência daquela marca.
O escritor Mário de Andrade, quando escolheu como tema do seu conto uma
ceia de Natal, trouxe à tona os encontros e desencontros das mais profundas
relações familiares. Neste conto, veremos o que acontece numa sociedade patriarcal
onde a relação pai/filho é revelada pelo autor através de uma abordagem
extremamente psicológica, fazendo brotar sentimentos que deveriam calar-se nas
profundezas da alma.
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MÁRIO DE ANDRADE
Biografia, obras e estilo literário
Mario de Andrade nasceu em São Paulo, no ano de 1893. Professor, crítico, poeta, contista, romancista e músico, formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, passando a lecionar neste mesmo local posteriormente. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Durante sua trajetória, Mario de Andrade fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore e também passou por vários cargos públicos, entre estes, foi diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.
Apesar de ter sido uma pessoa com inúmeras ocupações, este artista modernista sempre tinha tempo para ajudar os escritores que ainda não eram conhecidos.
Enquanto viveu, ele lutou pela arte com seu estilo de escrita puro e verdadeiro. Certo de que a inteligência brasileira necessitava de atualização, este escritor modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a consciência artística e a dignidade intelectual.
Foram de sua autoria os versos de Paulicéia Desvairada, considerada o marco inicial da poesia modernista no Brasil. Uma outra obra deste artista que se destacou por sua contribuição ao movimento modernista foi o livro Macunaíma, romance onde é mostrado um herói que tem as qualidades e defeitos de um brasileiro comum.
Suas obras estão agrupadas em dezenove volumes com o título de Obras Completas. As principais são:
PoesiaHá uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), Paulicéia Desvairada (1922), Losango Cáqui (1926), Clã do Jabuti (1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941), Lira Paulistana (1946), O Carro da Miséria (1946), Poesias Completas (1955).
RomanceAmar, Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928).
ContosPrimeiro Andar (1926), Belasarte (1934), Contos Novos (1947).
CrônicasOs filhos da Candinha (1943).
EnsaiosA Escrava que não é Isaura (1925), O Aleijadinho de Álvares de Azevedo (1935), O Movimento Modernista (1942), O Baile das Quatro Artes (1943), O Empalhador de Passarinhos (1944), O Banquete (1978).
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Reconhecido por sua contribuição na criação de idéias inovadoras, Mário de Andrade morreu em São Paulo no ano de 1945.
http://www.suapesquisa.com/biografias/mariodeandrade/ acesso em 30/06/2011.
O PERU DE NATAL
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.(…)
ANDRADE, Mário de. Contos Novos. Itatiaia,1999.
ATIVIDADES
Após a leitura do conto na íntegra, que poderá ser feita em casa, respondam
as seguintes questões:
1. Que elemento comum identifica o conto Plebiscito e o conto Peru de Natal?
R- A figura do pai.
2. Que tipo de sentimentos podem ser depreendidos no conto de Mário de
Andrade?
( ) Pesar pela morte do pai. ( )Libertação da figura castradora do pai. ( )
Amor genuíno pelos familiares. ( ) Prazer por desfrutar de coisas antes
impossibilitadas. Resposta pessoal
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3. O narrador utiliza expressões bastante peculiares para caracterizar o pai,
identifique algumas dessas expressões.
R- “natureza cinzenta de meu pai”, “desprovido de qualquer lirismo”, “duma exemplaridade
incapaz”, “acolchoado no medíocre”, “um bom errado”, “quase dramático”, “o puro-sangue
dos desmancha-prazeres”
4. Se o próprio personagem Juca coloca que “...sempre fôramos familiarmente
felizes,...” , então qual a razão do seu conflito?
R- O fato do pai ser econômico e não possibilitar um aproveitamento da vida.
5. Durante a ceia, a lembrança do pai toma conta da mesa, e faz com que
principie “uma luta baixa entre o peru e o vulto de papai” o que disse Juca
para afugentar o fantasma do pai e a família voltar a uma “felicidade
gustativa”?
R- Ele disse: “... Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar por
nós, papai lá no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não mencionar mais o peru) contente
de ver nós todos reunidos em família.”
6. Você acha que ao final Juca havia se tornado “hipócrita e político”, como ele
mesmo menciona, ou tomara consciência de que “papai fora muito bom”?
R- resposta pessoal
FOCO-NARRATIVO
Foco narrativo, ou ponto de vista, é o elemento estrutural da narrativa que compreende a
perspectiva através da qual se conta uma história. É, basicamente, a posição a qual o narrador,
enquanto instância narrante ou voz que articula a narração, conta a história. Os pontos de vista
mais conhecidos são dois: Narrador- Observador e Narrador-Personagem.
Tipos de Foco Narrativo
Narrador-Observador
O Narrador-Observador é aquele que conta a história através de uma perspectiva de fora da
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história, isto é, ele não se confunde com nenhum personagens. Este foco narrativo se dá,
predominantemente, em terceira pessoa e pode ser dividido em:
• Narrador-Observador Omnisciente: É o narrador que tudo sabe sobre o enredo, os
personagens e seus pensamentos. A omnisciência do narrador pode ou não se limitar a
apenas um dos personagens da história.
• Narrador-Observador Câmera: Este narrador não tem a ciência do que se passa nas
mentes dos personagens da história, mas conhece tudo sobre o enredo e sobre qualquer
outra informação que não sejam intimas da psique dos personagens.
Narrador Personagem
O Narrador-Personagem é aquele que conta a história através de uma perspectiva de dentro
da história, isto é, ele, de alguma forma participa do enredo, sendo um dos personagens da
história, usando a Primeira Pessoa (eu ou nós) para se contar historia. Pode-se classificar o
Narrador-Personagem em:
• Narrador-Personagem Protagonista: Este narrador é a personagem principal da
história, narrando-a de um ponto de vista fixo: o seu. Não sabe o que pensam os outros
personagens e apenas narra os acontecimentos como os percebe ou lembra.
• Narrador-Personagem Testemunha: É o Beenor que vive os acontecimentos por ele
descritos como personagem secundária. É um ponto de vista mais limitado, uma vez
que ele narra a periferia dos acontecimentos, sendo incapaz de conhecer o que se passa
na mente dos outros personagens.
Narrador Intruso e Neutro
Uma das características de ambos os focos narrativos é a possibilidade de fazer comentários
sobre a sua vida e a vida dos personagens ou sobre o cenário da narrativa. O narrador que faz
este tipo de comentário é chamado de Intruso; o que não o faz, de Neutro.
Nada impede de que, numa mesma história, exista mais de um foco narrativo. O autor deve ter
cautela ao executar a mudança do ponto de vista, evitando possíveis confusões no enredo e
mau entendimento dos leitores.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Foco_narrativo 08/07/11
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ATIVIDADES
1. Agora que você entendeu o que é foco narrativo responda: Que tipo de narrador
encontramos nos contos: O peru de Natal e Plebiscito?
R- Em O peru de Natal Juca é o Narrador-Personagem protagonista. No conto Plebiscito
encontramos um Narrador- Observador Câmera.
2. Escolha uma das situações abaixo e desenvolva-a utilizando dois tipos diferentes
de foco narrativo.
– Duas amigas se encontram, depois de muito tempo, no supermercado.
– O professor de literatura está recolhendo os trabalhos e você esqueceu o seu.
– Um rapaz encontra uma nota de cinquenta reais no chão.
LEITURA
Feliz Aniversário, conto de Clarice Lispector, está incluído na obra Laços de
Família, de 1960. Neste conto, a infelicidade é a matéria secreta que perturba e
lateja na felicidade de uma festinha de aniversário de D. Anita, uma senhora que
completa oitenta e nove anos. Seus familiares reúnem-se para comemorar a data na
casa de Zilda, a filha com quem a aniversariante mora. Aos poucos chegam no
apartamento de Copacabana filhos, noras e netos, vindos da Olaria e também de
Ipanema para a festa da velha senhora. As cadeiras estão dispostas ao longo das
paredes, decoradas com balões coloridos e menção ao “Happy Birthday”. Vejamos
um fragmento do conto:
Feliz Aniversário
A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados — e esta vinha com o seu melhor vestido
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para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.
Tendo Zilda — a filha com quem a aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. "Vim para não deixar de vir", dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda — a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante — e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.
E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.(...)
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. RJ: Rocco, 2009.
Após a leitura completa do conto Feliz Aniversário, responda:
1. O que é mais realçado no conto de Clarice Lispector: as ações ou o
universo interior das personagens?
R- A narrativa centra-se, geralmente, no espaço mental, interior das personagens.
2. O título Feliz Aniversário condiz com a história narrada?
R- O título do conto não passa de uma grande ironia, porque os laços que envolvem
os familiares naquele momento demonstram estar enfraquecidos, desgastados e
estruturados sobre a artificialidade e o fingimento.
3. Na sua opinião, quais foram os motivos que levaram os membros da
família de D. Anita ao ressentimento, culminando com a deterioração
dos laços familiares ao longo dos anos? Resposta pessoal.
4. Transcreva o momento em que D. Anita está ciente de que todos ali
lhe são indiferentes, não parecendo ser seus filhos, e demonstra todo o
seu rancor com uma atitude repulsiva.
R- “Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua
família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão.”
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5. Nesse, como em outros contos de Clarice Lispector, realiza-se a
epifania, isto é, momento em que a personagem defronta-se
repentinamente com uma verdade. Um acontecimento que pode ser
corriqueiro desperta uma uma ação iluminadora na consciência da
personagem e revela-lhe algo inesperado.
Transcreva o momento epifânico de D. Anita.
R- “Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos não passavam da carne de seu
joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o
único a ser a carne de seu coração.”
D. Anita, a velha senhora de Clarice Lispector, desperta a simpatia, pela
coragem e pelo olhar crítico que despeja sobre os sentimentos vazios de sua família.
A riqueza do conto está em ampliar o nosso olhar para a sociedade atual e refletir
um pouco sobre a existência do homem. Esta deveria ser pautada não pelas
convenções sociais, mas pela valorização do ser humano dentro daquilo que lhe é
mais inerente: a família, que por sua vez deve proporcionar aos seus elos um
caminhar na existência com amor e dignidade.
DEBATE
Na sua opinião, até que ponto os homens podem construir o seu próprio
destino, uma vez que estão submetidos à várias limitações? Que parte do nosso
futuro realmente nos pertence? Quais são as limitações próprias da adolescência? E
na velhice, que exemplos podemos encontrar no cotidiano dos idosos que limitam a
sua total liberdade de viver como desejariam?
DICA
A Revista Portal da Divulgação, traz uma entrevista com uma adolescente de
16 anos, que é convidada a assistir ao filme Elsa & Fred O filme aborda alguns
aspectos tabus na velhice, veja pela internet as impressões da jovem, e se puder,
assista ao filme.
22
Revista Portal da Divulgação, n.8, Mar. 2011
http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php Acesso em
28/07/2011.
CARNEVALE, M. Elsa & Fred. [Filme-DVD]. Argentina/Espanha, 2005.
Informe-se também sobre o Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. - 1. ed., 2.
reimpr. - Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
Unidade 4
Por meio da literatura também podemos experienciar que a família é um
núcleo de convivência, unido por laços afetivos, que costuma compartilhar o mesmo
teto. Todavia, esta convivência pode ser feliz ou insuportável, pois os laços afetivos
podem refletir o encanto do amor ou a tristeza da desarmonia. E a morada sobre o
mesmo teto pode ser um centro de referências e crescimento ou um mero
alojamento. A família foi e sempre será o fundamento da sociedade. Ela transcende
a qualquer partido político, sociedade, associação ou a qualquer outro gênero de
agrupamento humano; ela é constituída por relações de amor, onde cada um tem
que cumprir o seu papel para que ela flua harmoniosamente. Descendo o palco da
própria vida, observamos que a família é uma realidade dinâmica, em evolução
permanente, nunca a mesma. Percebemos que cada família é um mundo à parte,
com propostas e jeitos próprios, que não se repetem e não se copiam.
O CONTO
O Conto é uma narrativa curta que caracteriza-se por registrar um único
conflito do qual poucas personagens participam. Por ser conciso e denso, o conto
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deve causar muita emotividade no leitor. Neste tipo de narrativa, cada palavra pode
estar recheada de significados e até mesmo uma vírgula e um ponto podem conter
uma pista. Um conto é um instante na vida das personagens, seu passado ou futuro
e as descrições não importam muito para o contexto do drama. O espaço da ação é
restrito, isto é, não costuma mudar de lugar. O desfecho tende a ser
meticulosamente condensado, e deve culminar numa revelação, a qual pode ser
chamada de epifania.
A ORIGEM
Nos primórdios do tempo, ainda quando o homem abrigava-se em cavernas,
e reunia-se com os seus para comer e aquecer-se em volta da fogueira, com gestos
e pouquíssimas palavras costumava contar e ouvir histórias que de alguma maneira
o haviam tocado profundamente. Dessa forma, oral e rudimentar, nasceu o conto.
No Antigo Egito, Os contos mágicos, por volta de 4000 a.C. já desempenhavam um
papel destacado, passando pela cultura greco-romana, sem deixar de destacar as
Mil e uma noites que aparecem na Pérsia (séc. X), reaparecendo no Egito (séc. XII).
Porém, foi somente no século XIV que o conto se afirmou como uma categoria
estética, depois de passar da oralidade para a escrita. Com os contos do
Decameron em 1350, Bocaccio rompeu barreiras com o seu forte erotismo e
conseguiu traduzi-lo para outras línguas. Chegamos assim, no século XIX
quando o conto começou a ser divulgado nos jornais e se firmou com seu estudo
através de Grimm e de Edgar Allan Poe, contista e teórico do conto. A publicação de
contos nos jornais e o aparecimento de autores que começaram a discutir a
realidade do conto modificaram e projetaram este tipo de narrativa, que ganhou nova
força, adaptando-se aos novos tempos. Com o surgimento da Internet, com todas
suas qualidades e defeitos, esse processo acelerou. O conto, por ser breve e
intenso, ocupa hoje um maior espaço no mundo virtual, dentro dos sites destinados
à literatura. Se acrescentarmos a isso os blogs, as páginas não especificamente
literárias, os cyberdiários, alguns chats e fotologs, veremos que o conto está
crescendo compulsivamente, com grande força.
Enquanto isso, os contos vão sendo escritos. Nosso país tem uma lista
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imensa de grandes contistas, além de Mário de Andrade e Clarice Lispector,
estudados aqui, podemos mencionar Rubem Braga, Guimarães Rosa, Dalton
Trevisan, Otto Lara Resende, Rubem Fonseca, Murilo Rubião, Lygia Fagundes
Telles e inúmeros outros.
Se formos a uma livraria ou biblioteca facilmente encontraremos antologias
que reúnem contos por nacionalidade: o conto brasileiro, o conto árabe, o conto
francês, etc.; ou antologias que os reúnem por subgêneros: contos de mistério, de
terror, policiais, maravilhosos, de amor, de ficção científica, etc.
Veremos, então, as partes que formam o enredo e servem como espinha dorsal do
conto.
Apresentação
Elemento que abre o conto, introduzindo personagens, espaço, ambiente, ações,
etc. Alguns contos modernos começam abruptamente, entrando diretamente no
assunto, procurando surpreender o leitor, para provocar um impacto desde o
primeiro momento. Na apresentação, que geralmente coincide com o início da
história, aparecem pontos de referência para o leitor, situando-o, ambientando-o e
de certa forma indicando o caminho que será seguido.
Complicação - I
Pode ser definido como o momento em que surge um fato novo que muda o rumo da
história, provoca uma reação do personagem ou personagens, cria um clima instável
que necessariamente requer uma solução. Esse fato que muda destinos e provoca
modificações no rumo da história é parte integrante da complicação. Esta parte é,
também, o próprio desenvolvimento do enredo. Desenvolve-se a história, mostrando
o que acontece com o personagem ou personagens, o movimento dele ou deles
dentro da narrativa, procurando solucionar o desequilíbrio causado por determinada
peripécia.
Clímax
Momento de maior tensão e intensidade dentro da narração. Pico máximo dos
acontecimentos, facilmente identificado pelo leitor, momento de auge no qual as
ações atingem sua máxima expressão. Toda a estrutura do enredo parece
direcionada para o momento culminante da história.
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Desenlace
Conclusão da narração. Os conflitos desenvolvidos alcançam, ou não, um estágio de
solução. O desenlace pode ser feliz, trágico, engraçado, diferente, surpreendente. O
desfecho nem sempre traz uma solução à questão provocada pela peripécia. Muitas
vezes, o final é aberto e deixa o caminho livre para a imaginação do leitor.
ATIVIDADE
Agora você terá a oportunidade de escrever um conto com o assunto de sua
preferência e disponibilizá-lo no blogue do professor ou do colégio. Fique atento!
pois o seu conto poderá ser lido por milhares de pessoas de seu relacionamento, ou
não. Portanto, vá pensando no conflito que as personagens viverão e como será o
seu desfecho. Planeje também a organização dos fatos, isto é, a estruturação do
enredo em partes (introdução, complicação, clímax e desfecho). Não esqueça de
manter o ponto de vista ou foco narrativo. Apresente poucas personagens e tempo e
espaço bem reduzidos. Verifique se a linguagem empregada está de acordo com o
perfil do narrador e das personagens.
Outra sugestão é que você se reuna com alguns colegas para produzir um
vídeo de um dos contos lidos e disponibilizá-lo também no blog. Use a sua
criatividade e imaginação!
Unidade 5
Você sabe o que é um conto minimalista ou miniconto?
Segundo Marisa Queiroz, ”Um Conto Minimalista foi criado por um escritor
impaciente para um leitor preguiçoso!”
Procure na Internet, qual é o mais famoso miniconto, quem é o seu autor e
quais são as suas características. Traga a sua pesquisa para a sala de aula. Você
seria capaz de escrever um miniconto?
Já leu contos fantásticos, de humor, realistas, religiosos, ou de mistério e
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terror? Que tal uma busca na biblioteca do colégio para ampliar o conhecimento
sobre outras modalidades do gênero que se somarão às aqui já registradas as quais
poderão nos tornar um leitor mais consciente, crítico e capaz de extrair prazer do ato
de ler?
SUGESTÕES DE LEITURAS:
– Os cem melhores contos do século,seleção de Italo Moriconi (Objetiva).
– Os 100 melhores contos de humor da literatura universal, organização de
Flávio Moreira da Costa (Ediouro).
– O conto brasileiro contemporâneo, organização de Alfredo Bosi (Cultrix).
– Os cem menores contos brasileiros do século, organização de Marcelino
Freire (Atelie Editorial).
– Venha ver o pôr-do-sol, Lygia Fagundes Telles (José Olympio).
– Felicidade Clandestina, Clarice Lispector (Rocco).
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AVALIAÇÃO
Nesta unidade didática faremos uso da avaliação formativa, que por ser contínua
e diagnóstica, possibilita ao professor a intervenção pedagógica ao longo do
processo e de acordo com o desempenho do aluno. Os alunos serão avaliados
dentro da oralidade, da leitura e da escrita.
A oralidade será vista em função da adequação do discurso aos diferentes
interlocutores e situações. Cabe ao professor verificar a participação do aluno
nos diálogos e debates que se apresentam atentando para a argumentação,
clareza de ideias e fluência da fala.
Para a leitura serão avaliadas as relações dialógicas entre os textos, a
compreensão dos textos lidos, o reconhecimento de posicionamento ideológico
no texto, a localização das informações explícitas ou não, o reconhecimento do
gênero textual, o significado das palavras desconhecidas a partir do contexto e
se houve uma ampliação do horizonte de expectativas do aluno.
Para a escrita será avaliada a adequação à proposta e ao gênero solicitado, a
elaboração de argumentos consistentes, a coesão e a coerência do texto, o uso
dos conectivos, a paragrafação e a estruturação entre as partes do enredo.
( cf. DCEs 2008)
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ORIENTAÇÕES/RECOMENDAÇÕES AO PROFESSOR
As respostas das atividades são sugestões das quais os alunos poderão se
aproximar. Deve-se levar em conta as diferenças de leituras de mundo e o
repertório de experiências dos alunos.
PROPOSTA DE AVALIAÇÃO
➢ A unidade didática estimulou o gosto pela leitura no aluno?
➢ A unidade didática desenvolveu a competência leitora do aluno?
➢ A unidade didática desenvolveu a sensibilidade estética, a imaginação, a
criatividade e o senso crítico do aluno?
➢ A unidade didática estabeleceu relações entre o lido e o conhecimento de
mundo do aluno?
➢ A unidade didática exercitou os conhecimentos de foco narrativo na
análise literária?
➢ Através da unidade didática o aluno foi capaz de compreender as
particularidade do gênero conto?
➢ A unidade didática possibilitou ao aluno produzir narrativas do gênero
conto e disponibilizá-las na internet?
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CRONOGRAMA DE IMPLEMENTAÇÃO
Cronograma de implementação do projeto na escola, com previsão para o mês de
setembro de 2011.
Atividades
Determinação Atividade lúdica Teste as suas prioridades 1
Atendimento
Música Família – Titãs 1
SeriadosA Grande Família 1
Eu, a patroa e as crianças 1
Entrevista Tania Zagury 1
Debate 1
Rompimento
Plebiscito 2
O peru de Natal 2
Feliz Aniversário 2
Questionamento
1
Discussão sobre a temática família 1
Compreensão das particularidades do conto 1
Produção de Texto 2
Apresentação das produções 2
Ampliação
Horizonte de Expectativas
Hora Aula
Leitura e análise dos contos
Análise comparativa entre música, seriados, entrevista e contos
Pesquisa sobre outras modalidades do conto: minimalista, fantástico, realista, mistério, terror, humor, psicológico, etc.
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REFERÊNCIAS:
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura e Formação do
leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária.
São Paulo: Ática, 1994.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Língua Portuguesa.
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. 2008.
BULHÕES, Antonio. O jantar. In: O moderno conto brasileiro; ANTONIO, João.
(org.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 11-16.
AZEVEDO, Artur. Plebiscito. In; Contos. São Paulo: Três, 1973. p. 217-219.
ANDRADE, Mário de. O peru de Natal. In; Contos novos. Belo Horizonte: Itatiaia,
1999. p. 71-75.
LOBATO, Monteiro. A colcha de retalhos. In: Contos (extraídos de Urupês). Curitiba:
Posigraf, 1997. p.33-39.
LISPECTOR, Clarice. Feliz aniversário. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco,
2009. p. 54-67.
Retratos da Leitura no Brasil. Disponível em:
<http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/48.pdf>. Acesso em 22 nov.
2010.
Wikipédia. Hans Robert Jauss. Disponível em:
www.wikipedia.org/Hans_Robert_jauss. Acesso em 10/10/2010.
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