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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO EM BUTLER E LAPLANCHE
Thalita Rodrigues1
Fábio R. R. Belo2
Resumo: A proposta deste trabalho surge do interesse das autoras3 em compreender as temáticas
relativas à subjetivação. A obra de Judith Butler, filósofa feminista estadunidense, tem importantes
reflexões e proposições acerca do processo de tornar-se sujeito, sujeitar-se, subjetivar-se. Butler
analisa como as normas de gênero são importantes nesse processo e dialoga com a psicanálise a fim
de propor uma perspectiva psicossocial que não favoreça análises unicamente no âmbito do micro e
nem tão somente no macro. Jean Laplanche, psicanalista francês, é um dos autores apontados por
Butler como fundamentais para a compreensão desse processo. Laplanche também se utiliza de
textos da filósofa em sua teoria sobre a formação do aparelho psíquico, como por exemplo para a
formulação do conceito “le sexual”. A partir dessas influências mútuas, apresentaremos pontos de
convergência quanto às concepções de subjetivação e formação do aparelho psíquico em Judith
Butler e Jean Laplanche. O trabalho consiste em uma pesquisa teórica principalmente das obras
“Mecanismos psíquicos del poder”, “Relatar a si mesmo” de Judith Butler e da coletânea “Sexual”,
e “Novos fundamentos para a Psicanálise”, de Jean Laplanche.
Palavras-chave: Subjetivação, Gênero, Feminismo e Psicanálise
Como se formam as subjetividades? Quais os mecanismos que atuam nesse processo? A
subjetividade é uma instância psíquica? Há algo das relações de poder que colaboram para a sua
existência? Se sim, como isso ocorre? Essas são perguntas que mobilizam a produção do
conhecimento em diversas áreas, a partir de diversos pressupostos, divergentes mesmo dentro de
uma mesma área como na psicologia, na filosofia, na psicanálise. É comum encontrarmos
proposições sobre a temática da subjetividade, e como ela se constitui, localizadas em dois polos:
posições que se configuram como ipsocentristas e aquelas que pensarão a subjetividade como
produto de relações histórico-sociais, contextuais. O interesse por encontrar teorias que conciliem o
micro e o macro, perspectivas que nomeamos como psicossociais, é o que tem mobilizado as
autoras desse texto que, a partir de trajetórias na psicologia, psicanálise, estudos feministas têm
buscado uma compreensão que não se restrinja a polarizações e rompam com as proposições
1 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil.
2 Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 3 Sendo autoras com identidade de gênero diferentes, optamos por generalizar/universalizar aqui, e em todo o texto, no
feminino.
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ipsocentristas.Nessa procura, nos deparamos com a obra “Mecanismos psíquicos del poder”4 de
Judith Butler. Essa obra apresenta uma profícua proposição acerca da produção das subjetividades
em diálogo com importantes autores ocidentais em diversas áreas do conhecimento e foi uma das
primeiras referências que utilizamos, para pensar a temática, a partir dessa posição que nomeamos
como psicossocial.
A psicanálise auxilia na reflexão sobre os mecanismos psíquicos de atuação das normas
sociais, a incidência do poder na configuração do psiquismo. Contudo, mesmo na psicanálise, há
uma considerável pluralidade de compreensões sobre o psiquismo: se o inconsciente é algo
fundamental e estruturante dessa teoria/prática/metodologia, o conceito está em disputa, não
havendo consenso sobre sua origem (Inato? Construído? O que o estrutura?). E é em meio às
diversas compreensões do psiquismo em psicanálise que Laplanche emerge como uma
potencialidade de compreensão da subjetividade de modo não ipsocentrista. Sua Teoria da Sedução
Generalizada (TSG) aponta para a importância da intersubjetividade na formação das pulsões, do
inconsciente, do psiquismo. A reformulação da TSG com a proposição do sexual, nas últimas
produções laplancheanas, favoreceu ainda mais leituras e proposições psicossociais que não só
rebatem posições (em psicanálise, mas não somente) ipsocentristas como também abre
possibilidades de reformulação da teoria psicanalítica, o que nomeamos como metapsicologia.
Assim, a metapsicologia laplancheana apresenta uma inovação com a proposição da tríade gênero-
sexo-sexual como integrantes da gênese do psiquismo do bebê, que possibilita diálogos com a teoria
feminista e outras teorias sociais.
Esse trabalho que visa investigar confluências entre Butler e Laplanche já consiste em um
movimento iniciado pelas próprias autoras em questão (Butler, 20145; Butler, 20156, Laplanche,
20157) que apontam alguns importantes elementos em comum sobre a concepção da subjetivação (a
produção das subjetividades). E, é a partir, principalmente dessas obras, que esse trabalho será
fundamentado.
Subjetivação, sujeição, submissão e opacidade: Butler e os mecanismos psíquicos do poder
4 BUTLER, J. Mecanismos psíquicos del poder: teorias sobre la sujeción. Tradução Jacqueline Cruz. Madrid: Ediciones
Cátedra, Universitat de Valencia e Instituto de la Mujer, 1997. 5 BUTLER, J. Seduction, Gender and the Drive. In: FLECHTER, J., RAY, N. (Orgs.). Seduction & Enigmas:
Laplanche, Theory, Culture. Londres: Lawrence & Wishart, 2014. p. 118-133. 6 BUTLER, J. Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética. Tradução Rogério Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica,
2015. 7 LAPLANCHE, J. O gênero, o sexo e o Sexual. In: Laplanche, J. Sexual: a sexualidade ampliada no sentido freudiano
2000-2006. Tradução José Carlos Calich et al. Porto Alegre: Dublinense. p. 154-189.
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Na obra “Mecanismos psíquicos del poder”, Judith Butler propõe reflexões sobre como as
relações de poder produziriam impactos psíquicos nas subjetivações, tendo gênero uma importância
fundamental nesse processo. Tais reflexões consistem em um “diálogo” entre grandes pensadores
ocidentais como Foucault, Hegel, Althusser, Nietzsche, Freud, dentre outros. A psicanálise figura
como uma das teorias base nesse processo, especialmente no que tange ao funcionamento psíquico,
em diálogo com as produções dos filósofos supracitados, dentre outros, com os quais a filósofa
dialoga. Devido ao foco do trabalho ser a aproximação entre Butler e Laplanche e ao espaço
reduzido para realizar tal proposta, focaremos, nesse texto, principalmente nas contribuições
referentes à psicanálise, embora as proposições dos demais filósofos sejam fundamentais para a
compreensão da obra em questão. Dito isso, iniciemos nosso percurso.
Butler conjuga psicanálise com Foucault, importante interlocutor, ao longo de toda a obra, e
a compreensão desse autor de que a submissão não só se impõe ao sujeito como também o forma.
Butler explicita que “se o efeito da autonomia está condicionado pela subordinação e essa
subordinação ou dependência fundamental é rigorosamente recalcada, então o sujeito emerge ao
mesmo tempo em que o inconsciente” (Butler, 2001, p.17, tradução nossa). O sujeito, portanto,
surgiria, simultaneamente, à emergência do inconsciente que, por sua vez, advém do recalcamento.
A proposição de Foucault (sujeição como submissão e formação do sujeito) dialoga com a
proposição psicanalítica, entendendo-a concretamente, de que ninguém se torna sujeito sem um
vínculo apaixonado com aqueles de quem depende de maneira essencial. E tal dependência se deve
à situação de desamparo inicial inerente aos bebês humanos. Butler aproxima os primeiros estágios
da vida e cuidados de uma criança com a formação política dos sujeitos, ambas pautadas na
submissão. Ou seja, a dependência, a submissão são situações inerentes à experiência humana em
sociedade e não se resumem apenas ao início de nossas vidas8. Assim, Butler explicita que a
submissão é obrigatória, uma vez que o desejo de sobrevivência e o desejo de “ser” são explorados
e inerentes às relações9. A submissão é a possibilidade de continuação de nossa existência. A autora
explicita que o amor de uma criança está estritamente ligado à dependência e à formação de
vínculos, fundamentais para as existências psíquicas e sociais e que “não existe a possibilidade de
não amar quando o amor está estreitamente ligado às necessidades básicas da vida” (Butler, 2001, p.
8 Por outro lado, esta situação de dependência primária condiciona a formação e regulação política dos sujeitos e se
converte no instrumento de sua submissão. Se é impossível que o sujeito se forme sem um vínculo apaixonado com
aqueles a quem está subordinado, então a subordinação demonstra ser essencial para o surgimento do sujeito (Butler,
2001, p. 18, tradução nossa). 9 Quem promete a continuação da existência explora o desejo de sobrevivência (Butler, 2001, p. 18, tradução nossa).
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19, tradução nossa). Contudo, se a submissão é condição de “ser”, esta condição precisará,
posteriormente, ser esquecida (recalcada) e negada.
A negação do que se amou e a repetição neurótica, a compulsão à repetição, são
fundamentais para que o Eu, formado a partir desse processo de dependência e cuidados, não se
desfaça. Ter que lidar com essas primeiras experiências está na ordem do mortífero, da dissolução,
mas também, paradoxalmente, dos desejos. Há, portanto, dimensões de nossa subjetividade que
desconhecemos, apesar de serem elementos sempre impulsionadores e atuantes em nossas ações.
Tais elementos (desejos) precisam, contudo, ser barrados, mediante o risco eminente de
desagregação da custosa formação do sujeito. Manter o sujeito, a unidade egóica, requer negar
aquilo que me constitui, mas que também desconheço. Resumindo esse paradoxo do processo de
subjetivação:
O “eu” somente pode emergir negando sua formação na dependência, as condições de sua
própria possibilidade. Sem dúvida, se vê ameaçado com o desequilíbrio precisamente por
essa negação, pela busca inconsciente da própria dissolução mediante repetições neuróticas
que reencenam as situações primárias que não somente se nega a ver, mas também, deseja
seguir sendo ele mesmo e, por isso, não pode ver. Óbvio que o fato de estar fundado sobre
algo que se nega a conhecer significa que está separado de si mesmo e que nunca poderá vir
ou permanecer, em sua totalidade, como sendo “si mesmo” (Butler, 2001, p. 21, tradução
nossa).
O sujeito só conseguirá relatar sua própria ontogênese a partir de uma perspectiva de terceira
pessoa, deslocando-se, uma vez que não é possível narrar algo que é anterior a nós mesmos. Ou
seja, relatar a própria constituição pressupõe falar de algo já acontecido, ou seja, a posteriori,
importante conceito para a psicanálise freudiana e laplancheana, conforme veremos no próximo
tópico. Tal ideia de desconhecimento total de si, a opacidade do sujeito, é desenvolvida na obra
Relatar a si mesmo: crítica a violência ética (Butler, 201510). Na obra em questão, a autora
explicita como formulações laplancheanas presentes na Teoria da Sedução Generalizada dialogam
com sua noção sobre o “Eu” e os impactos que uma compreensão da opacidade do eu tem para a
vida em sociedade: como nos organizarmos em torno de uma ideia de ética que pressupõe um
sujeito autônomo? O que seria a responsabilização quando sabemos que a subjetivação se dá a partir
de um profundo desconhecimento total de si?
Apesar dessa conceituação de opacidade do eu ser sistematizada na obra Relatar a si mesmo,
já podemos identificá-la em Mecanismos psíquicos del poder quando Butler (2001) propõe que o
10 BUTLER, J. Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética. Tradução Rogério Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica,
2015.
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poder age sobre o sujeito de duas formas: como o que o torna possível (formação) e como o que é
adotado e reiterado em suas ações. O sujeito é, portanto, tanto agente quanto súdito do poder. Ao
longo do processo de subjetivação, ocorre uma inversão e ocultação: o poder, agora, passa a ser
compreendido apenas como exercido pelo sujeito. Tais proposições foucaultianas do caráter
formativo e produtivo são, contudo, modestas no que tange à psiquê e, por isso, a autora retoma
como os processos de regulação social devem ser compreendidos conjuntamente com o “voltar-se
contra si mesmo” (Butler, 2001, p. 30), presentes nas formulações de auto-acusação, consciência e
melancolia. Assim, pensando esses processos conjuntamente, Butler propõe uma reflexão sobre o
processo de incorporação para compreender a topografia psíquica que ela assumiria. Partindo do
pressuposto de que as normas sociais são internalizadas, Butler se posiciona: “Sustento que o
processo de internalização produz a distinção entre vida interior e exterior, oferecendo uma
distinção entre o psíquico e o social que difere substancialmente de uma descrição da internalização
psíquica das normas” (Butler, 2001, p 31, tradução nossa). A existência se daria pela via da
submissão às categorias, termos e nome, o interno se fundaria e se diferenciaria desse exterior que é
constitutivo.
E como ocorre a ação do poder sobre o psiquismo, produzindo tanto a reflexividade quanto
as formas de sociabilidade? Primeiramente, a autora relata que o funcionamento da norma no
psiquismo não se dá através da coerção, mas sim de um modo insidioso e que estaria submetido às
relações sociais. A seguir, a autora explicita que a submissão psíquica é um dos tipos de submissão,
havendo outros. Para explicar a formação dos sujeitos a partir das normas, Butler retoma as
contribuições de Freud e Nietzsche. Em sua leitura de ambos os autores, a consciência seria um
produto da internalização da proibição, entendida tanto como privativa quanto produtiva. E como
acontece esse processo?
A proibição da ação ou a expressão volta “a pulsão” sobre si mesma, fabricando um âmbito
interno, o qual é a condição para a introspecção e a reflexividade. A pulsão que se volta
sobre si mesma se converte na condição catalisadora da formação do sujeito: se trata de um
desejo primário duplicado que aparece também esboçado na visão da consciência infeliz de
Hegel. Independentemente do que sejam os desejos ou pulsões primárias, os que realizam
esta volta sobre si mesmos, em todos os casos, produzem um hábito psíquico de
autocondenação que, com o passar do tempo, se consolida como consciência (Butler, 2001,
p. 33, tradução nossa).
Tal concepção de produção / construção da consciência está diretamente relacionada com as
ideias de repressão e recalque na medida em que ambos seriam mecanismos de defesa importantes
na estruturação do psiquismo. O recalque primário, por sua vez, seria compreendido como o
processo que institui o psiquismo, propriamente dito, ao permitir a divisão de instâncias psíquicas,
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(eu , id, super eu) e também permite o delineamento entre o mundo interior e o mundo exterior.
Recalque e repressão, contudo, são conceitos e processos diferentes: na repressão, o desejo estaria
às voltas, no recalque, o desejo seria excluído e constituiria o sujeito através de uma perda. Tal
perda é parte importante da subjetivação e se relaciona com as normas de gênero. A autora resgata a
ideia freudiana de que o heterossexual recalca o amor homossexual através de uma dupla negação:
“nunca amei ninguém de mesmo gênero” e “nunca perdi ninguém, do mesmo gênero que o meu,
que amei”.
Butler chama a atenção para a aproximação feita por Freud entre consciência exarcebada,
autocensura e melancolia. A melancolia, como um processo que auxilia na compreensão da
fundação do psiquismo, seria devido a um luto incompleto de certas formas de amor recalcadas. Ela
representa também um limite para o sujeito, indica a dissociação presente no mesmo: o sujeito não
reflete sobre a perda que nem sabe ter acontecido. Assim, a proposição psicanalítica dialoga com as
concepções nietzscheana e hegeliana de que o sujeito se cinde e se volta contra um desejo que ele
não supunha ser seu. É importante compreender que tal perda não se refere apenas a determinados
objetos, mas à possibilidade de amar. Butler relaciona, então, o recalque de determinadas formas de
amor à possibilidade de existência social, fundadas a partir de perdas que nem puderam ser
choradas porque não foram reconhecidas como possíveis e legítimas de existir.
Em termos psíquicos e psicanalíticos, a sanção social (possível/ impossível,
legítimo/ilegítimo, desejável/indesejável) seria realizada pelo “ideal do eu” e fiscalizada pelo “super
eu”. O recalque, enquanto sanção social, não atua proibindo o desejo, mas produzindo alguns
objetos como desejáveis e excluindo outros do campo da produção social. Butler argumenta, então,
que as relações sociais não se dão a partir da hipótese repressiva de Foucault, mas sim como um
mecanismo de produção baseado em uma violência originária: a impossibilidade de ser e amar
determinados sujeitos que transgridem a heteronormatividade.
A teoria da sedução generalizada: intersubjetividade e alteridade em Laplanche
Trata-se de pôr em relação uma realidade efetiva, que se traduz nos fatos concretos - a
“sedução”- e uma teoria da mais ampla repercussão, uma vez que, explicitamente, pretende
explicar a totalidade da psicopatologia e uma vez que, implicitamente, através da noção de
recalcamento, o que se encontra em perspectiva é a gênese do sujeito humano enquanto
possuindo um inconsciente e uma sexualidade (no sentido freudiano do termo) (Laplanche,
1988, p. 108).
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Laplanche, enquanto psicanalista da tradição francesa, que reconhece e valoriza a alteridade
como parte fundamental para o psiquismo, aponta importantes elementos da intersubjetividade
(Ribeiro, 1996). Sua releitura da teoria da sedução freudiana, a teoria da sedução restrita, resgata a
sedução enquanto elemento concreto das experiências vivenciadas pelos bebês no contato com os
adultos, mas não no sentido patológico, até então atribuída por Freud, em sua teoria, até 1897
(Laplanche, 1988; 1992). E o que seria a teoria da sedução restrita? Os elementos que a compõem
são a presença de um bebê, imaturo, em estado de despreparo fundamental; um adulto, considerado
perverso por Freud em duplo sentido (desvio quanto ao objeto, a criança, desvio quanto à função,
usufruto do corpo infantil não restrito aos órgãos genitais); a sedução se daria a partir de uma
sucessão de cenas (que terão papel fundamental na crise e abandono da teoria da sedução) 11; e, a
característica mais fundamental, a própria sedução, a passividade da criança frente ao adulto. Além
dessas características, a teoria da sedução freudiana é feita em três registros quais sejam temporal,
tópico e tradutivo.
A dimensão temporal diz respeito à noção de que nada se inscreve no psiquismo “senão na
relação de ao menos dois acontecimentos separados, no tempo, por um momento de mutação que
permite ao sujeito reagir de forma diferente da primeira experiência” (Laplanche, 1988, p. 111). É a
teoria do à posteriori (après-coup) ou teoria do traumatismo em dois tempos12. A dimensão tópica,
por sua vez, diz da fundação das instâncias psíquicas. O sujeito que sofre essa sedução ainda não
teria aparatos para lidar com a situação e, segundo Freud, a saída seria uma defesa patológica, o
recalcamento. É nesse processo de sedução primária e recalcamento que o indivíduo será parasitado
pela instância egóica. Conciliando as dimensões temporais e tópicas, é possível percebermos a
dinâmica psíquica desse ataque em dois tipos distintos de vulnerabilidade: no primeiro momento, da
sedução, que seria um ataque externo advindo do adulto em direção à criança, essa não teria meios
de defesa adequados para lidar com tal situação podendo “no máximo, bloquear o inimigo no lugar”
(Laplanche, 1988, p. 112). Já no segundo tempo, a posteriori, a pessoa (sujeito) teria os meios
necessários para lidar com o ataque, mas agora esse ataque seria de dentro, o que a deixa
desarmada, desprotegida13.
11 “Esta passagem de cena ate uma improvável cena primeira, originária, será um argumento no momento da crise de
1897” (Laplanche, 1988, p.110). 12 Apesar do abandono de Freud da teoria da sedução, essa dimensão (do à posteriori), permaneceu como fundamental
na psicanálise. 13Tal ideia é o que Laplanche trabalhará sobre a formação do psiquismo, da subjetivação, de uma estrangeira que me
constitui!
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Para Laplanche, a teoria da sedução freudiana é genial justamente por conciliar o mundo
interno e o mundo externo dos sujeitos “aqui tudo é exógeno e tudo é endógeno” (Laplanche, 1988,
p.112). E tal conciliação que se faz em caráter de intersubjetividade se relaciona com o
desenvolvimento da teoria tópica14 e a teoria do Ego (nesse momento da teoria da sedução
freudiana, essas são apenas incipientes, não desenvolvidas) que, por sua vez, tratam da dimensão
que nos interessa nesse trabalho: a formação do psiquismo, a subjetivação!
A partir dos limites15 da teoria da sedução restrita, o autor propõe a Teoria da Sedução
Generalizada16. Segundo o autor, a fundação do psiquismo e a formação do inconsciente estariam
relacionadas com a situação antropológica fundamental. E em que consistiria tal situação?
Tal situação consistiria em um desamparo fundamental do bebê humano para desenvolver-se
sozinho o que demandaria o cuidado e a atenção da pessoa adulta. Laplanche explicita que essas
relações de cuidado do adulto para com o bebê são desiguais e que esse seria um importante aspecto
na fundação do psiquismo, momento este no qual a pulsão se instalaria bem como o inconsciente.
Os cuidados realizados pelo adulto seriam responsáveis tanto pela autoconservação (nutrição,
limpeza, aliviar incômodos e afins) quanto seriam vias facilitadas de transmissão de algo que o
pequeno ser humano ainda não tem e se desenvolverá nesse contato17.
Assim, Laplanche afirma que através desses cuidados que estão, inicialmente, ligados à
concretude da manutenção da vida humana, há também a transmissão de um excesso, algo a mais, o
qual nem mesmo o adulto tem controle e ciência. Tal excesso seriam as mensagens enigmáticas que
portam e ou consistem em conteúdos pré-conscientes/ inconscientes do adulto e que serão
responsáveis pela implantação da pulsão, nos bebês, e pelo processo de instauração do inconsciente.
Ou seja, a pulsão não seria um dado a priori, inato, biológico aos pequenos humanos, mas algo
14 Não desconsideramos que a formação da subjetividade se relaciona com aspectos dinâmicos e econômicos. 15 Laplanche explicita os limites da teoria da sedução restritiva, quais sejam: concepção psicopatológica da sedução
(perversão do adulta-pai); constituição do recalque como patológico; a busca incessante (infinita) por cenas anteriores; a
compreensão de que a psicanálise ofereceria uma cura capaz de desfazer a defesa patológica, o recalque e o
inconsciente 16 A generalização que propomos se coloca, portanto, e antes de tudo, sob a forma de um questionamento teórico. Seu
primeiro fundamento é mesmo muito precisamente filosófico: uma reinterrogação do binômio atividade-passividade.
Freud teve o grande mérito, a grande audácia, de colocá-lo nas origens, tanto na teoria das pulsões quanto no
desenvolvimento da vida sexual.(Laplanche, 1988, p.117). 17 “(...) a confrontação adulta-criança engloba uma relação essencial de atividade-passividade, ligada ao fato de
inelutável que o psiquismo parental é mais “rico” que o da criança. Mas, de forma diferente dos cartesianos, não
falaremos de maior “perfeição” porque esta riqueza do adulta também pode ser considerada imperfeição: sua clivagem
de seu próprio inconsciente” (Laplanche, 1988, p. 118).
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veiculado18. Essa erogeneização realizada pelos adultos é o que Laplanche denomina como sedução
originária, responsável pelo início da subjetivação e/ou constituição do psiquismo19.
No final de sua vida, Laplanche propõe algumas inovações em sua teorização, sendo o
sexual, neologismo criado pelo autor (Le sexual), uma das mais fundamentais e que dialoga
diretamente com a proposta do trabalho. O adjetivo sexuel, em francês, equivale ao português
sexual. Em seu sentido substantivado, Laplanche quer distinguir o que é comumente atribuído à
sexualidade genital e deseja fazer notar o caráter mais amplo do sexual, atrelado ao inconsciente, ao
parcial20. O sexual seria a peça fundamental da compreensão do psiquismo. Essa seria a grande
inovação de Freud. Tal noção é tão valiosa que o autor se questiona: “O inconsciente, afinal, não é o
Sexual? A indagação é pertinente.” (Laplanche, 2015, 157). O sexual estaria diretamente
relacionado com o gênero e o sexo. A tríade gênero-sexo- sexual deveria ser objeto de estudos na
gênese da pequena humana, já que são eventos fundamentais na fundação do psiquismo. Para
conceituar o sexual, Laplanche (2015) propõe:
O gênero é plural. É geralmente duplo, com o masculino-feminino, mas não o é por
natureza. É muitas vezes plural, como na história das línguas e na evolução social.
O sexo é dual. Tanto pela reprodução sexuada como por sua simbolização humana, que esta
dualidade de maneira estereotipada em: presença/ausência, fálico/castrado.
O sexual é múltiplo, polimorfo. Descoberta fundamental de Freud que encontra seu funda-
mento no recalcamento, no inconsciente, no fantasma. É o objeto da psicanálise.
Proposição: O sexual é o resíduo inconsciente do recalcamento-simbolização do gênero
pelo sexo (p. 155).
A partir dessa proposição, Laplanche retoma sua Teoria da Sedução Generalizada e como a
noção de gênero reconfigura pontos importantes tanto em sua teoria como na psicanálise, em geral.
Inicialmente, Laplanche (2015) questionará “o primado da “base” sexuada” (165) ao afirmar que a
história do pequeno ser humano deve ser compreendida a partir da tríade gênero-sexo-sexual, nessa
18 É a confrontação de um indivíduo cujas montagens somatopsíquicas se situam de maneira predominantemente ao
nível da necessidade, com significantes emanando do adulta, ligados à satisfação destas necessidades mas veiculando
com eles a potencialidade, a interrogação puramente potencial de outras mensagens – sexuais. O trabalho de domínio e
de simbolização deste “significante enigmático” termina necessariamente em “fueros” inconscientes, que chamamos
“objetos-fontes” da pulsão (Laplanche, 1988, p. 120).
19 Pelo termo sedução originária qualificamos, portanto, esta situação fundamental na qual o adulta propõe à criança
significantes não-verbais tanto quanto verbais, e até comportamentais, impregnados de significações sexuais
inconscientes. Do que chamo significantes enigmáticos, não é necessário, não é necessário procurar longe para
encontrar exemplos concretos. O próprio seio, órgão aparentemente natural da lactação: podemos negligenciar ainda seu
investimento sexual e inconsciente maior pela mulher? Podemos supor que este investimento “perverso” não é
percebido, suspeitado, pelo bebê, como fonte deste obscuro questionamento: que quer ele de mim? (Laplanche, 1988,p.
119).
20 Os tradutores tentaram preservar essa diferenciação grafando com maiúscula (Sexual) quando traduziam sexuel e
mantendo a minúscula quando se tratava do sentido mais comum. Não concordamos com tal tradução e preferimos
manter a ambiguidade do termo em português.
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ordem, na qual o gênero antecederia o sexo e, o recalcamento do gênero pelo sexo, resultaria no
sexual.
O autor dá uma centralidade ao gênero quando afirma ser um importante elemento presente
nas mensagens enigmáticas advindas dos adultos. Ao falar de mensagens conscientes/ pré-
conscientes (responsáveis pela gênese da pulsão) emitidas pelos pais, permeadas pelos ruídos do
inconsciente dos adultos, Laplanche falava em uma comunicação estabelecida a partir das relações
de apego. Contudo,
Hoje, tento dar aqui um segundo passo, mais hipotético e que deve ser articulado com o
anterior. Porque a comunicação não circula somente pela linguagem do corpo, pelos
cuidados corporais; há também o código social, a língua social, há também as mensagens
do socius: estas mensagens são principalmente mensagens de designação do gênero. Mas
são também portadoras de muitos “ruídos”, todos aqueles trazidos pelos adultos próximos-
pais, avós, irmãos- suas fantasias, suas expectativas inconscientes ou pré-conscientes
(Laplanche, 2015, 168-169).
Pensar em designação reconfigura a noção de constituição do psiquismo, constituição
subjetiva, uma vez que a noção de identificação como (até então utilizada) deveria ser repensada
enquanto identificação por: o vetor da identificação não partirá mais da criança que se identifica
com o adulto, os pais, o sócius, afinal de contas, identificar-se pressupõe agência e instâncias
psíquicas que estão em formação justamente a partir destes, e simultaneamente a estes, contatos.
Com tal proposta, Laplanche sugere que troquemos a identificação primitiva, freudiana, pelo sócius
da pré-história pessoal.
A associação da teoria da sedução generalizada com a gênese da tríade gênero-sexo-sexual
aponta uma inovação na formação do psiquismo em psicanálise: a existência, metapsicológica, de
uma relação de poder sócio-historicamente relevante para a organização social. Tal reconfiguração
metapsicológica propõe aproximações psicossociais em que podemos compreender o psiquismo de
forma articulada às relações sociais e as relações sociais articuladas ao psiquismo, não de forma
binária (ou falamos do psiquismo e da subjetividade, ou falamos do social), mas de ambos
ocorrendo simultaneamente e se retroalimentando. Retomo aqui a proposição Laplancheana: o bebê
não é nem sucedido pelo adulto ou o adulto se lembra da criança que foi21: a simultaneidade desse
encontro é que é potente e produz a formação do psiquismo, a subjetivação do pequeno humano que
recebe mensagens enigmáticas vindas do adulto que, por sua vez, também entra em contato com
21 “Voltarei mais adiante a esse problema do enigma, pois, neste caso, o ser humano não é visto numa sucessão em que
a criança se torna adulta, ou então em que o adulta se recorda da criança que ele foi, e sim numa simultaneidade: é a
criança na presença do adulta que se interroga sobre essa diferença presente no adulta” (Laplanche, 2015, 163).
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suas experiências infantis reabertas a partir do encontro. O psíquico e o social coocorrem e a
proposição laplancheana para pensar as origens da vida psíquica é potente nesse sentido.
Aproximações entre Butler e Laplanche
Finalizamos esse trabalho de aproximações entre Butler e Laplanche utilizando a obra
Seduction,Gender and the Drive assim como nosso conhecimento sobre ambas as autoras. Na obra em
questão, a filósofa sistematiza o que considera serem as principais contribuições de Laplanche ao
pensamento psicanalítico. Butler explicita o potencial das concepções sobre as pulsões e da Teoria da
Sedução Generalizada com suas próprias concepções das relações de poder e subjetividade. O potencial
laplancheano consistiria em ir além do binarismo natureza versus cultura, atualizado em psicanálise pelo
binarismo instinto versus pulsão, e a explicitação do papel da alteridade para a constituição das pulsões e da
formação do aparelho psíquico: o adulto, portador de inconsciente, será propulsor da constituição do
psiquismo na criança. Um ponto, diretamente relacionado, é a proposição do psicanalista de que pulsão e
instinto não estão totalmente separados assim como também não podemos afirmar que a pulsão derive do
instinto. Ora, esse debate converge com as proposições de Butler acerca da performatividade de gênero: o
sexo não se separa do gênero, mas também não é possível afirmar que o gênero derive do sexo A busca por
uma ontologia dessas categorias (sexo e gênero) são, para a autora, desnecessárias e reafirmam o binarismo
natureza e cultura.
Butler apresenta três contribuições que a noção de pulsão oferece aos debates de gênero e
sexualidade: a) a teoria de Laplanche nos convoca a compreender as versões de edipização pautadas nas
designações primárias, realizadas por mães e pais, como uma alternativa interessante às noções de simbólico
lacaniano e a proposição da lei paterna; b) as mensagens enigmáticas advindas dos adultos são constituídas
também por relações de gênero o que traria consequências sociológicas e legais: a teoria não contribuir com
perspectivas que entendam a família por um viés heterossexual, com papéis pré-definidos de gênero que
seriam fundantes do psiquismo (lei paterna e simbólico lacaniano). As noções de lei paterna e simbólico
lacaniano compactuariam com discursos opostos à aquisição de direitos para a população LGBT (como o
casamento gay/lésbico, adoção de crianças por casais homoparentais, etc); c) o fato da pulsão estar ligada a
uma sexualidade não reprodutiva o que constituiria a grande diferença dessa para o instinto.
E como essas questões se relacionam com a subjetivação, tema desse trabalho?
As normas de gênero são relações de poder, as quais todos se submetem, se sujeitam e, portanto, se
tornam sujeitos (subjetivam). As normas são anteriores aos sujeitos. A diferença sexual, o corpo, o biológico
fazem parte da concretude das relações e serão alvo de cuidados pelos adultos. Os órgãos sexuais, assim
como todo o corpo, será alvo da sedução e erogeneização. Simultaneamente, estamos recebendo mensagens
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inconscientes dos adultos, que dizem respeito, entre outras coisas, às designações de gênero. São processos
que ocorrem simultaneamente, não sendo possível afirmar a anterioridade de um ou outro. E, é justamente
nesse processo que as mensagens enigmáticas serão metabolizadas, nunca em sua totalidade, pelas crianças,
que os objetos fontes da pulsão se constituíram e se configurarão no estrangeiro interno e, que, portanto, o
psiquismo começará a ser constituído.
Outro ponto de diálogo entre ambas as autoras, é a compreensão de uma vulnerabilidade
fundamental inerente aos seres humanos. Tal vulnerabilidade, afinal, que possibilita os cuidados do adulto.
Ambas as autoras também propõem uma desnaturalização da biologia, tanto com relação ao sexo quanto ao
instinto. Butler (201622) e sua proposição da performatividade de gênero e Laplanche e a concepção da tríade
gênero-sexo-sexual desconstroem a ideia de um inatismo biologizante.
Por fim, outro importante ponto de convergência entre Butler e Laplanche, segundo a própria
filósofa, é o quanto a perspectiva de Laplanche rompe com a lógica edípica, a presença de uma mãe e um
pai, como antecipado anteriormente. Diria que a teoria de Laplanche, assim como a de Butler, auxilia na
desconstrução de estereótipos de gênero na medida em que não atribui, necessariamente, identificações e
cuidados a gêneros específicos, uma vez que a sedução se dá a nível de significantes enigmáticos que advém
dos adultos, do socius. Tal constatação é relevante para pensarmos que, assim como o psiquismo se funda em
relação, de forma intersubjetiva, em contato com a alteridade, os conceitos e as teorias também são forjados
na realidade social e já dizem de uma leitura e interpretação humana para a realidade, seja psíquica ou
socialmente compartilhada. Basearmos nossa compreensão do psiquismo, ou do sexo, em uma imanência,
dessexualiza a teoria laplancheana ao dar como certa a existência, a priori, do biológico por si só.
Contudo, há um importante ponto de discordância entre ambas: apesar de sua proposta de
questionamento do primado da base sexuada, Laplanche (2015) apresenta, ao final do “Gênero, o sexo e o
sexual” a proposição de que a contingência evolutiva dos seres humanos terem tornado-se bípedes propiciou-
nos a percepção de apenas um sexo, o que contribui, em certa medida com a lógica fálica. Esta questão nos
soa dissonante com a construção de todo o raciocínio estabelecido até então pelo psicanalista e parece ser
uma tentativa de manter a dimensão da diferença sexual enquanto imprescindível ao nível filogenético,
apesar de abrir mão da primazia dessa diferença sexual como fundacional no nível ontogenético (o sexo
recalca o gênero, mas as mensagens enigmáticas tem ruídos desses e não daqueles).
22BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato
Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
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A importância da realização deste trabalho, de fazer trabalhar23 Butler e Laplanche, se dá em várias
esferas: a) contribui para a renovação teórica tanto nos estudos feministas e de gênero, historicamente
realizados a partir de uma perspectiva que prioriza questões sociais em detrimento de questões psíquicas e ou
psicológicas, quanto para os estudos psicanalíticos, que de forma oposta, prioriza questões psíquicas e ou
psicológicas; b) tem impactos sociais de compreensão de como fenômenos sociais se constituem, levando em
consideração, simultaneamente, perspectivas psico e sociais; c) também tem impactos clínicos, que estão,
obviamente, relacionados com as justificativas anteriores, de possibilitar uma ação da psicanálise
comprometida com questões políticas, críticas e éticas.
Referências
BUTLER, Judith. Mecanismos psíquicos del poder: teorias sobre la sujeción. Tradução Jacqueline
Cruz. Madrid: Ediciones Cátedra, Universitat de Valencia e Instituto de la Mujer, 1997.
______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução Renato Aguiar. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
______. Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética. Tradução Rogério Bettoni. Belo Horizonte:
Autêntica, 2015.
______. Seduction, Gender and the Drive. In: FLECHTER, J., RAY, N. (Orgs.). Seduction &
Enigmas: Laplanche, Theory, Culture. Londres: Lawrence & Wishart, 2014. p. 118-133. Disponível
em: https://www.lwbooks.co.uk/sites/default/files/free-chapter/FletcherRay_Butler.pdf. Acesso em:
30 jun. 2017.
LAPLANCHE, Jean. Teoria da sedução generalizada e outros ensaios. Tradução Dóris
Vasconcelos. Porto Alegre: Artes Médicas,1988.
______. Novos fundamentos para a Psicanálise. Tradução Cláudia Berliner. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
______. O gênero, o sexo e o Sexual. In: ______. Sexual: a sexualidade ampliada no sentido
freudiano 2000-2006. Tradução José Carlos Calich et al. Porto Alegre: Dublinense, 2015. p. 154-
189.
Subjectivacion process in Butler and Laplanche
Astract: This paper proposal arises from the authors interest to exam the problems relative to
subjectivation. The work of Judith Butler, north-american feminist philosopher, has important
reflections and propositions about the process of becoming a subject, to subject oneself, subjectify
oneself. Butler analyses how gender norms are important in this process and dialogues with
psychoanalyses in order to propose a psychosocial perspective. Jean Laplanche, French
psychoanalyst, is one of the authors pointed by Butler as cardinal to the understanding of this
23 Fazer trabalhar Freud, expressão que Laplanche utiliza nas suas (re) leituras do autor e que aqui tomamos “contra” ele
mesmo: fazer Laplanche trabalhar, colocar sua teoria em trabalho, à trabalho.
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process. Laplanche also uses the philosopher texts in his theory about the formation of the psychical
apparatus (e.g. the concept “le sexual”). From those mutual influences, we will present some
convergence points relative to the subjectivation conceptions and the psychical apparatus formation
in Judith Butler and Jean Laplanche. The work consists in a theoretical research presented,
particularly, in “The Psychic life of power”, “Giving an account of oneself”, by Judith Butler and in
the miscellany “Sexual” and “New Foundations for Psychoanalysis”, by Jean Laplanche.
Keywords: subjectivation, gender, feminism, psychoanalysis
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