O projeto se desenvolveu a partir de questionamentos sobre a proposição de espaços coletivos dentro de áreas sub-utilizadas da cidade. Na tentativa de resgatar um grande espaço livre dentro da malha urbana, revela as características inerentes ao sítio, qualificando- o com novas atribuições para que este possa vir a se configurar como um lugar de fato, passível de uso e reconhecimento do sujeito.
Para que isso seja possível, há uma intenção de busca por elementos da cidade que façam o papel de conectores internos da proposta de projeto e externos com a cidade. São edifícios que já estabeleciam vínculos com a história e/ou dinâmica urbana e que são partes do conjunto das latências a serem potencializadas através da intervenção. Tal conjunto mantém duas relações a serem evidenciadas, novamente interna e externa, a potencialização dos edifícios em relação à área e da área em relação à cidade, cada qual como elementos a serem manifestados dentro de seu contexto.
A construção de um percurso novo dentro da área, a reformulação da relação entre os edifícios já existentes, a nova articulação entre os edifícios propostos e deles com os antigos, a abertura de espaços livres e o diálogo desses novos atributos entre si e com o entorno fazem parte das diretrizes que guiaram o desenvolvimento do projeto.
Para tal ação, vale ressaltar a idéia de que espaço se diferencia de lugar por qualidades distintas impressas no conceito de cada um. Parte-se do pressuposto de que espaço mantém uma relação mais virtual com o sujeito enquanto lugar torna a relação mais íntima para quem o frui. Dentro dessa chave, lugar deveria ser acompanhado de elementos que gerem uma compreensão maior do sujeito em relação ao que este reconhece como familiar. Dessa forma, o resgate de objetos arquitetônicos existentes e de como trabalhar a intervenção relaciona-se à construção de um novo caráter ao espaço para configurar uma nova relação do sujeito com a cidade que habita.
releitura | inserçãoreleitura | manutençãoreconfiguração | conjunto
camada | adição
base | elementos existentes
1|4
N
100 200 400m
área de intervenção
áreas livres
linha do trem
vias principais
vias secundárias
equipamentos
´Área de intervenção | antigas indústrias Sanbra|
500 1000 2000m
N
CONEXÕES DE UM ESPAÇO LATENTE | PRESIDENTE PRUDENTE
Partindo do fato de que as edificações mantidas não
estabelecem uma linguagem arquitetônica semelhante entre si, a
solução para dar unidade entre o conjunto existente foi aplicar
elementos que possuam um denominador comum sobre ele, para que
possam ser reconhecidos como partes de uma mesma ação.
Elemento de repetição mantido durante o projeto
Aplicado às pré-existências /adicionados
Denominador comum
Garantir homogeneidade ao projeto
´Área de intervenção | armazém do antigo IBC | O salão do antigo IBC ( Instituto Brasileiro do Café)
atualmente é um espaço pertencente à prefeitura da
cidade, dentro do qual são realizados os principais
festivais culturais de Presidente Prudente, assim como
alguns eventos particulares
As edificações do território que pertencia à SANBRA encontram-se em
estado de abandono e deterioração, ocupando uma área sub-utilizada
considerável dentro de seu contexto.Do conjunto de edificações foi preservada a chaminé, o edifício
adjacente a ela e o galpão que na imagem aparece como o primeiro da
esquerda à direita a frente de uma das duas bases de concreto
N
2|4
A planta mostra a implantação dos edifícios existentes em cinza, assim como os elaborados na propostas - estes em tom mais escuro. O eixo principal que
atravessa a área é cortado por eixos secundários, onde elementos de cobertura aparecem para demarcar essa mudança. Além desse encontro, a intersecção dos
eixos secundários com eles mesmos geram espaços de inflexão desses caminhos, como rótulas.É possível observar os espaços criados a partir do jogo de planos
de piso, implantação e disposição da vegetação e dos elementos do projeto como um todo.
CONEXÕES DE UM ESPAÇO LATENTE | PRESIDENTE PRUDENTE
corte AA
477
473
472
A
A
3|4
Figura 3: Intervenção em elemento existente (edificação atrelada à chaminé).
A intenção é unir as edificações
existentes através de elementos em
comum em sua ação e/ou materialidade.Nesse caso o beiral de entrada da
edificação é substituído por uma marquise
d e a ç o d e m a i o r e x p r e s s ã o
proporcionalmente ao que se ancora,
gerando um plano visual que corta a
edificação. Engastada e auxiliada por
tirantes, a cobertura gera um espaço de
estar em sua sombra, além de indicar a
entrada do edifício, que possui dimensões
de 15x20m e pé-direito de 12m.
Figura 2: Edificação em seu estado atual (maquete eletrônica).
Figura 1:Edificação em seu estado atual.
Figura 6: Intervenção em elemento existente (galpão SANBRA).Figura 5: Edificação em seu estado
atual (maquete eletrônica).
Figura 4: Edificação em seu estado atual.
Para entender a intervenção neste
galpão, vale ressaltar que este, dentro do
projeto, funciona como armazém e apoio de
um plantio de pequeno porte, voltado para
especiarias e pequenas hortaliças, que
ajudam no abastecimento da escola de
culinária - nova edificação criada - e/ou a
alguns eventos que possam acontecem no
salão do IBC.São pequenas chapas de aço que
percorrem as fileiras do cultivo, começando
do edifício (algumas entram pelas portas
enquanto o restante inicia-se um com
recuo) e terminando numa diagonal que as
atravessa, que serve de passagem entre as
fileiras. Depois da passagem, as linhas
ainda continuam, seguindo o ritmo das
chapas, mas agora somente como
divisórias entre as fileiras.
Figura 9: Intervenção em elemento existente (galpão IBC).
Figura 8: Edificação em seu estado atual (maquete eletrônica).
Figura 7: Edificação em seu estado atual.
O galpão do antigo IBC possui 22
pórticos e madeira treliçados e espaçados a
aproximadamente 5,6 m, revestidos de
placas de zinco como vedação.A proposta para intervir nesta
edificação parte da idéia de destacar a
estrutura, reforçando a importância
arquitetônica da obra. Para isso, as
vedações são desprendidas dos pórticos
para seu interior, 3 metros nas laterais e 5 m
no outro comprimento. Isso cria uma caixa
de concreto que se liga a estrutura através
de travamentos unidos às novas
esquadrias.Nas fachadas leste e oeste da caixa
criada, são adicionadas módulos de
aberturas que funcionam como portas para
a área externa. Esses módulos deslizam no
sentido norte/sul e permitem uma
integração com o ambiente interno com as
atividades externas, criando diferentes
espacialidades em torno do galpão.
Figuras 10 e 11 |Atualmente os edifícios que compõe a antiga SANBRA se encontram em estado de deterioração, salvo alguns elementos. Tal fato contribuiu na escolha dos edifícios a permanecerem e a serem demolidos dentro da proposta deste trabalho.
Dentro da área do antigo IBC se encontra um galpão único, 140x35m, utilizado atualmente como centro de eventos da cidade e com interesse arquitetônico/ histórico relevante para a cultura da cidade.
Afim de constituir uma seqüência relacionada às edificações já estabelecidas e criar um percurso que articule o projeto como unidade, foram mantidos edifícios de interesse para tal intuito: iniciando pelo salão do antigo IBC (localizado ao sul do mapa) temos o primeiro elemento preservado; avançando, foi mantido um galpão de armazenagem que indica a direção de leitura entre os edifícios dentro da proposta e, finalmente, a chaminé atrelada a outra edificação marcando um dos pontos referenciais de fim/início do passeio pela área. N
50 100 200
Figura 11: Edifícios mantidos e demolidos
área de intervenção
edificações existentes
Figura 10: Edifícios existentes
área de intervenção
edificações mantidas
edificações relevantes para o entorno
Figura 12 |
Figura 13|
Figura 14|
Figura 15 |
Figura 16 |
Figura 17|
Figura 18|
Em relação às vias já existentes, foi ampliada a rua adjacente a oeste da área de intervenção e criado um canteiro central em toda sua extensão .
Uma nova via atravessa o projeto no sentido leste/oeste e ganha grande importância no sentido de conectar os lados da cidade de maneira funcional, além de atrair um fluxo de veículos e de pessoas para o projeto.
As outras vias dentro do projeto são ruas sem saída, próprias para o abastecimento de produtos para as edificações e para acesso aos bolsões de estacionamento marcados também no esquema.
As edificações existentes mantidas também tiveram como critério a relação espacial entre si: são unidas por um alinhamento que atravessa a área de um extremo a outro.
Mais ao norte se encontra a chaminé e a edificação unida a ela. No meio temos o galpão de apoio ao plantio e ao sul, o edifício do antigo IBC.
A mesma linha serve para a organização da implantação dos novos edifícios, perpendiculares entre si.
Listando no mesmo sentido das existências, temos primeiro o edifício da biblioteca, depois o da escola de culinária ( que também possui restaurante para a população) e logo acima a edificação de cunho privado, com possível restaurante, quiosques de alimentação e exposições.
Analisando as implantações num conjunto total, podemos extrair outras lógicas de implantação, além da perpendicularidade e do alinhamento entre si.
A biblioteca se relaciona com a chaminé e com a construção ao seu lado, já que ambas edificações contêm acervo de arquivos, documentos e livros. A escola passa a ter uma ligação maior com o edifício de apoio ao plantio e com o restaurante, já que estes podem prestar auxílio uns aos outros quanto às funções.
O salão do IBC se localiza fisicamente mais afastado do restante do conjunto, porém ainda pode se comunicar mais diretamente com a escola, que possivelmente se conformará como apoio deste nos grandes eventos e festivais. O salão está mais ligado às áreas livres em seu entorno imediato, podendo ser integradas às atividade de seu interior.
Partindo de uma inflexão em relação ao alinhamento entre os edifícios, o eixo principal possui uma extensão de aproximadamente 900m. A intenção é que atravesse a área no sentido longitudinal, conectando lado norte a lado sul de maneira direta, para a menor travessia possível do perímetro de projeto.
O eixo atravessa as edificação, configurando aberturas destas, como entradas e saídas, mantendo seu plano de piso no interior destas.
Ele continua como plano de piso em uma área fora do perímetro projetual (sentido norte), partindo do pressuposto de que a área que se limita com o projeto ao norte - hoje praticamente início de uma zona rural - fará parte de um sentido de expansão urbana.
Tais vias são traçadas a partir das ruas, trazendo o fluxo de pedestres para dentro do parque de forma mais indireta.
Formam um jogo de diagonais onde o elemento que comanda as intersecções é formado por uma espécie de «rótula». Cada diagonal interrompida por ela reaparece em outra aresta com outra inflexão. Já o caminho que passa por cima desta, mantém sua inclinação original, diferenciando-se pelo plano de piso que se sobrepõe.
Tanto em gestos diretos (a partir de ruas leste e oeste) quanto em indiretos (a partir de ruas ao norte e ao sul), os caminhos partem da relação de fluxos já existentes em ruas do entorno para articular o projeto.
Figura 11: Edifícios mantidos e demolidos
Figura 13:Relação espacial entre edifícios existentes Figura 14: Relação de implantação das novas edificações
Figura 16: Relação de conjuntos entre edificações que se formam a partir da implantaçãoFigura 15:Relação da implantação entre os edifícios existentes e os novos.
Figura 12: Proposta do viário a partir do projeto e estacionamentos.
Figura 17: Via principal de pedestres. Figura 18: Vias secundárias de pedestres50 100 200
N
CONEXÕES DE UM ESPAÇO LATENTE | PRESIDENTE PRUDENTE
4|4
N
25 50 100
30m
20m
15m
10m
5m
alta
média
baixa
verde escuro
verde claro
amarelo
diâ
metr
o d
a c
opa
densi
dade d
a c
opa
colo
raçã
o d
a
A edificação da escola proposta no projeto
se organiza a partir da circulação de pessoas e
serviços: as pessoas circulam pelo centro desta,
formada por três pátios, que se dispõem no
sentido longitudinal do edifício. As entradas
acontecem perpendicularmente a eles e a
circulação de abastecimentos de mantimentos
paralelamente, agora nas laterais externas da
maior dimensão, envoltas por uma espécie de
pele, como uma chapa perfurada que garante a
ventilação contínua ao longo desse espaço de
d i s t r i b u i ç ã o .
Os pátios permitem aberturas internas ao
edifício, garantindo circulação cruzada com as
fachadas laterais.
circulação: distribuição de mantimentos
circulação: distribuição de mantimentos
circulação e estar: pátios internos
carga e descarga: escola
carga e descarga: restaurante
restaurante: uso da cidade
entrada
entrada
A biblioteca é cortada por um dos caminhos
secundários, fazendo com que parte de sua
disposição se faça a partir dessa diagonal.Tanto a fachada oeste quanto grande parte
da fachada sul e da norte não possuem aberturas
para evitar a exposição do acervo à luz mais forte
do dia.Assim como a escola, o principal material
usado na edificação é o concreto aparente,
mantendo a linguagem física entre os edifícios
propostos no projeto.
controle entrada/saída
acesso à internet
leitura e estar uso interno
entrada
entrada
A edificação reservada para uso privado é
composta por um volume estruturado por empenas
de concreto, separando seus espaços interno.É previsto o uso desse espaço a um local de
exposição vinculado a um restaurante.
Fora o volume, na cota mais alta de sua
implantação são previstos pequenos espaços para
comércio, em 5 cubos de 6x6m unidos por uma
cobertura.Os acessos público e de serviços para o
edifício de maior volume são separados: enquanto
o usuário entra por rampas que rasgam a laje, os
serviços são trocados por meio de um elevador que
acessa diretamente a rua de carga e descarga.
entrada público
entrada serviçosarmazenamento
recebimento carga/descargaáreas molhadas
espaços livres parapossíveis arranjos
pequenos comércios/lanchonetes
O s e s p a ç o s chamados«ró tu las» são elementos de encontro dos caminhos secundários em relação ao eixo principal.
Esse lugares induzem o passante a percorrer um caminho indireto em relação ao seu percurso, na intenção de revelar espaços ao invés de ligar um ponto a outro , fazendo com que o sujeito tenha opções de fruição dos espaços livres a p a r t i r d o s c a m i n h o s escolhidos.
A água é um elemento q u e r e f o r ç a e s s e direcionamento, assim como a juda na regu lação da temperatura.
Além de usar a água
como marcação dos caminhos
secundários quando estes se
cruzam, essa aparece em mais
dois momentos.O primeiro momento é
como parte do desenho do
plano de piso próximo à
chaminé, delimitado por
diagonais que são levadas a
direção dessa, evidenciando
sua marcação visual.
O ou t ro momen to
acontece entre o plantio e o
lado leste do parque, onde um
m u r o a t r a v e s s a n u m a
diagonal, funcionando como
divisor de espaços, além de
ser suporte para uma faixa de
água em seu topo - que pode
ser vista pela cota mais alta a
leste - enquanto em seu outro
lado, faz a água transbordar
para a área de plantio, para
que sirva de apoio à irrigação
do cultivo.
O muro, que atravessa
um desnível de 8 metros com
um comprimento de pouco
mais de 100 metros, marca sua
ação sobre o relevo da mesma
forma em que o grande banco
de concreto faz, conforme
mostra a f igura. Ambos
elementos demarcam sua
existência sobre o relevo,
redesenhando-o.
Da mesma maneira, a
implantação das quadras
aproveita de sua localização a
n o r d e s t e d a á r e a d e
intervenção, onde o relevo é
mais acidentado, para que
possa servir como elemento de
redesenho do sítio, moldando-
o com a circulação, os acessos
e a arquibancada, separando
as quadras a cada dois metros
de desnível.
O eixo principal é uma alternativa mais direta à passagem do sujeito pela área como toda.
Vale ressaltar que as v i a s d e p e d e s t r e s s e sobrepõem às vias de carros, priorizando a travessia desses na rua criada dentro da área de intervenção.
A perspectiva coloca a relação entre as edificações a partir do olhar de quem passar entre elas. As coberturas situadas no eixo marcam o cruzamento do caminho principal com o secundário, além de sombrearem partes da caminhada e marcarem acessos, como a da escola.
A edificação conhecida
c o m o s a l ã o d o I B C é
modificada dentro do projeto
para ter maior fluidez de
espaços em relação ao seu
entorno. A intervenção nesse
edifício faz com que as novas
aberturas permitam uma
interação de atividades com
seus espaços externos, além
de revelar sua estrutura como
parte dessa nova paisagem.
O lugar, além de abrigar
festivais e eventos da cidade,
ganha um uso mais cotidiano,
como mostra as imagens de
perspectiva, onde feiras
acontecem num espaço fluido
entre o interior do galpão e o
espaço delimitado pelo plano
de piso.
vegetação e relevo
CONEXÕES DE UM ESPAÇO LATENTE | PRESIDENTE PRUDENTE