Portugal de Lés a Lés de bicicleta em 4 dias
De Trás-os-Montes ao Algarve, a Nacional 2 atravessa 32 municípios, passa pelo
interior das povoações e liga paisagens tão diferentes como as vinhas do Douro, as
planícies do Alentejo ou as praias do sul do país.
Breve História da EN-2
De todas as estradas de Portugal há uma com uma mística e algo de lendário que a distingue das outras, e a quem foi dado o nome de Estrada Nacional nº2. Foi Projetada como ligação entre Chaves e Faro num percurso vertiginoso pela espinha dorsal do país sendo a estrada nacional mais extensa de Portugal e a única que o atravessa de lés a lés. É difícil encontrarmos a história da Estrada Nacional 2 já que muito pouco ou quase nada se encontra escrito sobre ela. Foi Estrada Real nos finais do séc. XIX, em 1884 era a Estrada Distrital nº 128 e o seu percurso ia de Faro a Castro Verde, em 1910 era a Estrada Nacional nº 17 e o seu percurso já ia de Faro a Beja, posteriormente foi a Estrada Nacional nº 19-1ª, assumindo definitivamente o título de Estrada Nacional 2 em 1944. Nos troços do Alentejo e Algarve dominou o piso de terra e empedrado até aos anos 1930 altura em que o alcatrão veio substituir os antigos pisos. O troço do Alentejo entre Odivelas e Torrão manteve até o piso empedrado até 2010 altura em que ganhou um tapete betuminoso. A estrada Nacional 2 pode-se considerar o equivalente Português da Route 66 nos EUA, mas à escala de Portugal dadas as nossas reduzidas dimensões, não temos o Middle West, mas este pode ser substituído por Trás-os-Montes em que as pontes não atravessam o Mississipi mas sim rios como o Douro e o seu vale, património da humanidade, e em que os motéis de estrada característicos da Route 66, dão lugar a uma qualquer casa de pasto com dormidas no 1º andar, mas é no capitulo gastronómico que a nossa EN-2 ganha, pois os hambúrgueres e os hot dogs da Route 66 dão lugar aqui à mais rica gastronomia do interior do nosso país desde Trás os Montes ao Algarve passando pelas Beiras e Alentejo. A Estrada Nacional nº 2 atravessa Portugal de cima abaixo como uma verdadeira espinha dorsal que o foi, tem o seu início no Km 0 em Chaves bem lá no norte do país junto a Espanha, e termina no Km 737 na cidade Faro junto ao oceano Atlântico, depois de ter serpenteado por montes e vales perdidos do interior dum país esquecido pelo progresso e pelas auto estradas ou itinerários principais. A estrada Nacional nº 2 marcou uma época e fez parte da história dessa época tem por isso muitas histórias por contar, o troço abrangendo o itinerário que liga Almodôvar a São Brás de Alportel foi classificado em 2003 como Estrada Património, como reconhecimento pelo valor desta via e pelo riquíssimo património que a envolve. Pena é que este troço ou toda a sua estrada na íntegra não sejam divulgadas e aproveitadas para fins turísticos que poderiam revitalizar muitas das zonas que os 737 km atravessam no seu épico percurso que cruza onze distritos Vila Real, Viseu, Coimbra, Leiria, Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Setúbal, Beja e Faro.
Atravessa vários rios: Tâmega, Douro, Paiva, Mondego, Zezere, Tejo……..
Desafio
De 29 de abril a 2 de maio de 2017, um grupo de 5 associados fez a mítica EN2
de Chaves a Faro (qual Route 66 à portuguesa), unindo de Norte a Sul o país em
bicicleta numa jornada em (apenas) 4 dias! São 4 grandes etapas! 4 GranFondos! Um
total de cerca de 40 horas de esforço para 739 kms de extensão e uma altimetria
positiva equivalente a 5,1x o cume da Serra da Estrela.
Um pormenor, já que estávamos em Chaves, “recuámos” até à fronteira e
foram mais 11kms. Assim foi da fronteira ao mar, mesmo!
Foram eles:
António Santos
Eduardo Ferreira
Nélson Costa
Pedro Silva
Vitor Gomes
EN2 – Percurso Total
Chaves – Faro
735km
9200D+
1ª Etapa (29 abril) Chaves – Viseu
Chaves-Vidago-Vila Pouca de Aguiar-Vila-Real-Peso da Régua-Lamego-Castro Daire-
Viseu
https://www.relive.cc/view/963249462
2ª Etapa (30 abril) Viseu – Vila de Rei
Viseu-Tondela-Santa Comba Dão-Penacova-Vila Nova de Poaires-Góis-Pedrogão
Grande-Sertã-Vila de Rei
https://www.relive.cc/view/964925122
3ª Etapa (1 maio) Vila de Rei – Torrão
Vila de Rei-Sardoal-Abrantes-Ponde de Sôr-Montargil-Mora-Montemor o Novo-
Alcaçovas-Torrão
https://www.relive.cc/view/966344259
4ª Etapa (2 maio) Torrão-Faro
Torrão-Ferreira do Alentejo-Aljustrel-Castro Verde-Almodôvar-São Brás de Alportel-
Faro
https://www.relive.cc/view/967690828
BRUTAL!
Talvez o termo mais elucidativo para descrever o que foi esta viagem!
Pela diversidade da paisagem, pela duração, pelas sensações, pela história,
por termos conseguido! Sabíamos que não ía ser fácil!
Começamos no vale do Tâmega, numa altura do ano em que a natureza está
em todo o seu esplendor. As primeiras montanhas em direção ao vale do Douro, que
atravessámos no Peso da Régua com as encostas cobertas de vinhedos, classificadas
pela Unesco como património da Humanidade, mas é nosso! Muito nosso, construído
ao longo de séculos pela força humana, com o rio por ali a serpentear, domado pelas
barragens!
Continuação entre montes e vales passando por Lamego e Castro D’Aire até
chegar a Viseu, onde pernoitámos no fim da 1ª etapa. Daqui saímos no domingo bem
cedo sob uma chuva, que por ser o último dia de abril nos lembrou que “Abril, águas
mil!”.
Não havia vivalma na rua, e nós lá íamos em cima de 8 kgs de carbono e
alumínio rumo a Vila de Rei, centro geodésico de Portugal! Sempre entre montanhas
e vales, longas distâncias, onde o único “barulho” era o dos pássaros! Zonas rurais
onde o tempo parou, notando-se um certo abandono, que urge contrariar! Passagem
por Pedrogão Grande, o grande lago da barragem do Cabril, no Zêzere; Góis e umas
quantas aldeias aninhadas no maciço da Lousã. Horizontes infinitos sob um céu azul
que nós conhecemos!
Final do 2º dia, após 180kms, tantos como no 1º, chegamos ao destino, tendo
o clima melhorado ao longo do dia. Repor energias, dormir para no 1º de maio rumar
ao Torrão.
Uma mudança enorme da paisagem. Atravessámos o Tejo em Abrantes,
entrando na planície. Uma transição da montanha para o suave ondular Alentejano,
passamos por Ponte de Sôr, Montargil, Mora, Montemor-o-Novo, Alcáçovas e paragem
no Torrão para pernoitar com 198kms feitos. Foi um dia longo e ainda falta o
Caldeirão.
Último dia, 175kms pela frente até Faro! Começa-se com entusiasmo, mas
passado algum tempo há que refreá-lo, não comprometer a chegada a Faro! Após
Aljustrel, Castro Verde, Almodôvar, a pouco e pouco o terreno vai empinando e a
estrada começa a serpentear por entre os montes da serra do Caldeirão, Ao longe, à
direita vê-se a serra de Monchique, a paisagem é de cortar a respiração! Todo o
barrocal Algarvio por ali, uma aldeia de vez em quando, até que começamos a
descer!!!
Grande sensação, agora é difícil não terminar! Faltam 30, 20 ,10 kms!
Passámos Barranco do Velho, São Brás de Alportel e ao longe avistamos o mar! Todos
em fila rumo a Faro!
E chegámos!!!
Todos! Sem quedas, sem furos, sem nada! Apenas nós! Após milhões de
rotações da pedaleira, durante 746kms e 34h em movimento, chegamos ao destino!
Saímos 5, chegámos 5! Mais o condutor do veículo de assistência, claro!
elemento preponderante para o sucesso desta travessia, que foi incansável no apoio
que nos prestou ao longo de 4 longos dias!
Sentido de desafio cumprido! Arrumar as coisas e rumo à ilha de Faro! Uns
mergulhos nas águas cálidas e transparentes com sabor a sal, o sal que nos ensopou a
roupa nos últimos dias!!!
E pronto, amanhã é dia de trabalho! Ou descanso?
Um Grande obrigado à Celisa Costa, Isabel Martins, Pedro Quaresma, Raquel, Rogério
Araújo e Carlos Batista