POEMAS EM SUSPENSÃO SOBRE BURACOS
dedicatória:
à quem queira querer tomar(inclusive alguém de mim)
quando eu estava quase rindo,foi essa a bebida que eu recebi:
(guarde com você essas cores)
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imagine aqui o som da poesia desinventada
DANÇAREMOS
NEM
QUE SEJA
AO
SOM
DE
BRITADEIRAS !
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do lá ao sívesti um pivôentre o turbilhão e a plenitudeem fuga do roteiroonde não sei quem foi é que criou
que lugar onde buscono heterocentrismo vaziojulgava cheia e nunca entrei na poesia
distraída que iame alimentei em movimentosem saber sentimento
[o que é estar anos luz distante de alguém?]
se procurando pouco especialse procurando muito espacialse procurando muito especialse procurando muito espacial
mas quem criou o roteiro? quem criou o roteiro? quem criou o roteiro?quem é que criou o roteiro?
[...]
pergunte se tiver coragematé esgotar a fraseassim se rima toda a margeme se continua fácil fica a poesia ecoa a mesma dúvida em tessitura de outra rima
com o laço em roupa de pretensãoo que te assusta mais:parar ou seguir o roteiro de outra vida?
a mãe é marmas o mar também é pai
o pai é marmas o pai também é mãe
a mãe é paimas o pai também é mãe
que foi pai em marque também foi mãe
que leva ao paique toma a mãe
ao movimento que te embalaque não é o teu
[e se?]
parar de navegarencarar a náusea de olhar pra fora transformarem sí
do lá ao si
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ARE
ECO
(OCO?))
ECCE
YOU
( ( (( ( ((((( ( ( ( ( ((HOMO? ))) ) ) ))))) ) ) ) )) ) )
ICI
AN
((ECHO?)
AQUI
espancaram um travestiespancaram o travestiespancaram a travesticinco jovens rapazes saudáveis espancam travesti
perseguem o travestiperseguem a travestiperseguem um travestitravesti desorientado pega no carro
investigação apontapro travestique travesti recebeum tiro disparado por um rapaz policial saudável
no vinte de junhoe todos os outros diasrasgam travesticomem travestiesfolam travesti corpo encarceradopor ser
travesti
enquanto homicida fica livreem fraude processuale falso testemunho
que bastaa bestapra culpartravesti
mas zida quer justiçazida aguardamedidas administrativasem lutopara ATravesti
Que tem nomeLaura Vermont
à presença de Vermont
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a tocadora de roda
flores biancas
imagine o color irna cor da flor
moldes: há vida! nesses e sussurra
outono (porque hoje)abraço (porque você) lugar da minhae s t a ç ã o preferidah a q u a n t o t e m p o a c o n t e c e i s s o q u e a c o n t e c e ha q u a n
t o i s s o t e m n o m e i s s o n ã o t e m n o m e é a m o r t e m n o m e si m e d e f l o r e s b r a n c a s i m h a q u a n t o te m p o q u e t e a m o?
distanciando
Não fala assimNão olha assimPodia ter faladoPodia ter olhado
FicaNãoVaiNãoSei
Vento sopra contra mim olhando o que não foi passado No buraco do que devia ter sido e há quanto tempo acontece
isso que acontece isso que acontece como que aconteceisso de amar outra mulher e distanciando isso que acontece
desde que acontece e distanciando vi e distanciando não vejovocê que distanciando pergunta distanciando onde distanciando
distanciando s dis t a nci a a nnnnnnndodistan cia d
dis10 11
nos aconchegos armados tentei ver a telapela cor do outrocanto
que na verdade era gritoque na verdade era espinhodela que já viu tantoquanto
a verdade que sobrado restosob o manto
que não é lugar que prestaatençãopara respirar
a floricultura da luz eraprivacidadedo cheiro
no susto de enquadrar cidade em pleno terceiro dia
laranja comorosa amarela como verde azul cinzabranco
faz a fonte e ali, qual a cor que te ria?
cidade etérea
espectroesperaetérea
esterilestereoetérea
espectador
estéticoetérea
esperaeternoetérea
externoesterco etérea
estanqueestrumeetérea
exposiçãoextornoetérea
estranhoestanque
etérea
extaseestrelaetérea
espantoespaço
etérea
a casa
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Olho pro laranja e depoisMinha pele branca esburacadaQue finge que não sabeMas o tempo ainda não tirou as peles dos meus porosMas o tempo ainda não tirou os poros da minha peleAinda não tirou os poros da minha peleOs porosPoros na minha peleque na verdade é buracoque na verdade é buracoDos privilégios violentos Onde vi, que já viPrivilégios violentosQue marcam buracos na minha peleBuracosBuracos na minha peleO tempo marcou buracos na minha peleBuracos que vistoVisto Perdido eloVisto vistoSem poderdesverLembra? Você lembra?Você lembra do buraco na sua pele?Você lembra dos buracos na sua pele?Você lembra os buracos em pele?Afinal você é pele ou buraco?pedra pele antes de todos os santosque se esqueçao senhordo bom fim
postal para nós turistas brancos em salvador
estado im/pré/processavel(ou, uma luta silênciosa com o meu corpo)Cansei das imagens. Dos símbolos e das letras. É como se algo se amassasse com movimentos própriosem cinza na parte de trás dos meus olhos até o canto superior e posterior do meu crânioe em movimentos circulares chegasse ao meu zigomáticoou nos meus ouvidosé como se espremesse ao mesmo tempo nos meus ouvidosna parte de dentro dos meus ouvidosdescubro uma parte dentro dos meus ouvidos.Descubro mais um osso. Mais um nome.Droga. Quando a saturação é de dentro pra fora....Quando não resta nada pra vazar....Quando tomaram conta antes de você se dar conta.Elas andam em mim. Por mim.Continuo mastigando-as com o maxilar. Com os braços esticados, rumino. Por dentro. Estou viciada. É o gosto entediante do nada.Tento nomear o gosto da minha própria língua. Que gosto tem um dente?E então já logo me distrai. Continuo a respirar...PulmãoNão vou arrancar meus olhos.Não hoje. Tardou.A massa escorre pra dentroNo meio do meu peito.Isso é um coração ou um computador? Contorna minha costelaQuase sai pelo estomagoAlcança meu ventreE toca o chão com meus pés.Tomo consciência dos meus dedos.Reafirmo minha insignificância.Malditos pés.Não vou arrancar meus pés.Não hoje.Sinto, com raiva, minhas canelas.Presas.Dentes rígidos. Correntes voltam ao meu ventre todo o desejo da transgressão.Em cárcere.Tenho um útero também.
Dos pulsos esqueci. Quem escreve, que não eu?Cerro os pulsos que não pulsam. Isso é um coração ou um computador?Ombros e braços.TroncoCanelas.E pés.Percebi joelhos
Ainda não fui mutiladaAinda não fui mutiladaAinda não fui mutilada
Que gosto tem o céuDe dentroDa noiteDa boca por detrás do rostoDo sol cadavérico.Arranque de mim essa imagem!E num looping começa tudo de novoE de novoAd infinitumNuma fita de mobius que a massa cinza faz do meu corpo É como se algo se amassassem em movimentos própriosEm cinzaEscorreIsso é um computador ou um coração?Osso zigomático Por trás do ouvidoCoraçãoDescobri mais um ossoDa noiteDe dentroQue céu tem o gostoDa bocaDo cuDo solTambém tenhoE úterocinzaNão vou arrancarNão hojeRespireiPulmãoApertadoQueimaCinza! Cinza! Compute o gosto do céu por de trás do crânio!Depressa!Em movimentos circularesCHEGA! 16 17
eles pegaram a musicapico picotaram tudofoi
credo que cheiro de coro, falaram no meio de tudofalaram de tudo que não era elalá, no meio de tudo
quem era ela que tava la. ela não tava
agora ela ta
das duasloucaumaamor.
salvou minha via vida, ou, interrompeu o caos necessário
cortaram tudono pico de tudo ficou sem ela não vai.
não me deixa, não vousemaqui fazo pico de tudo
me salva
a outra de quemfoi, ela que foieu não tava lamas quem que eu amava que estavacomigo?
anjos de olhos escurossaltei no rio e caiu a cortina no tino do picode tudo cortarama luz acendeverdegrama sintética
nem respiraruminono pico de tudo cortou a fita
sintética
encena
elesempre diz:cuidado com elaelas que roubam o monopólio da atençãoele disseé minha sãominhasminhas, meueueueu e.
ele que diz
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i l a m e n t o
s o
Naquela noite sonhei que andava e via um túmulo com um busto de alguém que não identificava. Usava uma tiara de cor azul, vermelha, não sei. Cores de um chá que já tomei
Era o meu túmulo que fui visitar de onde saiu um coelho que corria sem saber pra onde iaNinguém sabe (todos sabem!) onde acabar
Mais fácil assim, visitar a mimSem dor, sem luto de todos que amariaE, sem pressa do fim,meu peito já não doía
Acordei leveSem vertigem, sem corpo que caiaE, ao notar que sou breveminha cabeça já não doía
visitar a própria morte dói menos
PressentimentoPresente de passagem no passado presente pressente passageirop as sa gentepossui gente passo ligeiro
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de rendas brancas às costas o entrelaço está no encontro que ficou das diagonais sem contemplar quase encosta
e levanta para o que releva logo antes de fechar
não há mar que traga o amor da mãe pro mundo
da saudade a suplica e sobrevive e sobrevive a complexidade do movimento
que tira o lugar dela que marca o lugar dela que lava o lugar dela
ela que renascida fora da razão de rendas brancas às costas cata a r r a st a flui re flui
se contemplar não se conta se a onda não se isola no ato que sorri no rosto que corre pro mundo aberto onde lembrar vem de junto urgência pra lá
demorei num lugar -de morarum lugar demorado-de morarna morada do modo -demorar
desmorei
em morar no desmonteda demora
que morou na ação da moradaque hora demorada
por morar oraçãode magia
demasia demagogademoração
no modo de morar desmorrei
desmorro no amormorada no morro
desmoronei:morro
lugar fotografia de menino ao mar
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UM A-DEUS
[colchetes] ou: um canto de antes do nao-roteiro ou: um luto de deus ou: saudade ou: criança ou: de encontro ao antes [colchete]
ela brilhou sol
peixe fino penteia o cabeloem baixo mar
pelo, pedra amar e l a que cabe
no gesto presente do mar
na primeira manhã do mundoo silêncio de antes
que eu possalembrar
reto mar
que amanhã vai
tomar as medidas do lá sol
brilhou no profundo do corpo que fui
antes que eu possa lembrar
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Você já viu o céu se afastar?Se afastar da janela e ficar brancoem plena noite.Branco não,cinza:Buraco
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