PLANTAR, COLHER, COMER
Avaliação de impactos dos sistemas agroflorestais para a segurança
alimentar de famílias assentadas a na região canavieira pernambucana
Realização e parcerias:
Núcleo de Agroecologia e Campesinato – NAC
Núcleo de Estudos do Consumo e Economia Familiar - NECEF
Departamento de Ciências Domésticas - DCD
Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
Apoio: Edital CNPq/MDS 24/2013
Brasília, 13/14 agosto de 2015
Local da Pesquisa
Região Mata Sul de Pernambuco
• Rio Formoso
• Ribeirão
• Tamandaré
• Sirinhaém
Caracterização da Região Estudada: concentração da terra
Índice de Gini: 0,92 (concentração quase absoluta)
Monocultivo:um deserto verde
A cana-de-açúcar ocupa 92,07% das terras da Mata Sul pernambucana
Região da Mata Sul: 29,2% pop. = IA moderada , 9,6% pop. = IA grave
Fonte: DN/UFPE, IPSA, SUASAN, 2011. AVALIAÇÃO DA IN)SEGURANÇA ALIMENTAR NAS REGIÕES DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Insegurança Alimentar Grave-Pernambuco, 2011
• “Antes era ganhar de manhã e comer de noite... cambitando cana”
• “Trabalhava alugado no engenho; Cortava cana, comida fraca; “não era vida boa não”
• “A fome era feia e triste. Trabalhava no engenho e a única fonte era o barracão. No
engenho, tinha terra para plantar mas a comercialização era difícil. O povo não tinha
experiência de vender e era mais para o consumo”
• “Em 1995, no acampamento, a fome era feroz. O que enchia a barriga era o mangue e o
rio. Faziam campanha na cidade para levar comida para o acampamento. Muita gente
desempregada”.
A problemática da fome na opinião dos agricultores
“(...) a exploração da cana-de-açúcar se processa num
regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si,
engolindo terras e mais terras, consumindo o húmus do
solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o
próprio capital humano”(CASTRO, 2006).
Resistência Camponesa: conquista da terra
Região N° de assentamentos N° de famílias Área
(ha) Área média
(ha)
Pernambuco 334 23.248 267.992,50 11,53
Zona da Mata Sul 94 10.403 97.868,61 9,40
Local do estudo 20 1.981 31.779,60 16,04 Fonte: INCRA, 2014
Um marco para as famílias estudadas
Resistência Camponesa:
Transição Agroecológica papel do Centro Sabiá
“(...) quando chegamos na terra não tinha nada. Eu só acreditava na cana e no veneno.
Resolvi mudar e fui pegando aquele sistema (SAF)... arranquei 3ha de cana” (AGRICULTOR, 2014).
Geral Avaliar os impactos de experiências de agricultura de base ecológica para a segurança
alimentar de famílias assentadas em áreas de reforma agrária em Pernambuco
Específicos Realizar um inventário da agrobiodiversidade manejada pelos camponeses,
identificando suas diferentes finalidades, sociais, econômicas e ambientais
Estudar o potencial das experiências de agricultura ecológica para as satisfações das
necessidades do consumo de alimentos do grupo familiar
Analisar a contribuição das experiências da agricultura ecológica para o abastecimento
do mercado local e geração de renda para as famílias assentadas.
Objetivos
Metodologia
Enfoque agroecológico
Utilizamos o pluralismo metodológico e epistemológico para analisar as estratégias
de produção e consumo utilizadas pelas famílias assentadas na região da Mata Sul
Pernambucana
Pelos princípios da pesquisa participante
Contexto histórico social dos sujeitos da pesquisa
Problematização da realidade
Diálogo entre sujeitos
Ferramentas de pesquisa
Trajetórias de desenvolvimento: evolução dos processos de mudanças da percepção
das famílias e dos agroecossistemas
• Observação participante
• Entrevistas semiestruturadas e estruturadas
• Linha do tempo do “agroecossistema familiar”
• Mapas do “agroecossistema familiar”
• Transecto no “agroecossistema familiar”
• Calendário agrícola e a produção de alimentos
• Mapa do Espaço da Alimentação
• Ranking de preferências de plantas/animais produzidos e usados na alimentação
Ferramentas de pesquisa
Pesquisa exploratória Entrevista semiestruturada
Mapa do agroecossistema familiar
Caminhada na parcela Linha do Tempo
Eixo Agrobiodiversidade
Agrobiodiversidade
Este estudo está focado na agrobiodiversidade associada a segurança alimentar,
analisamos:
Diversidade ecológica associada a riqueza de espécies com uso direto ou indireto na
alimentação-plantas, animais nativos e domesticados
Diversidade ecológica, associada a heterogeneidade espacial dos agroecossistemas
familiares, ou seja, o conjunto de subsistemas existentes para a produção de alimentos
Diversidade genética-variabilidade existente dentro de cada uma das espécies vegetais
e animais
Representação de um
agroecossistema antigo (AGRICULTOR, 2014)
Representação de um
agroecossistema atual (AGRICULTOR, 2014)
Quadro 1 – N° de subsistemas para produção vegetal e animal manejados por família,
2014-2015.
Famílias N° subsistemas Produção vegetal N° subsistemas produção animal Total
AM 7 2 9
C 7 1 8
CG 3 3 6
CQ 5 3 8
IJ 2 0 2
JB 6 1 7
JO 6 3 9
JR 8 1 9
LA 4 1 5
MD 2 1 3
PM 3 3 6
ZCA 4 1 5
MD 2 1 3
PM 3 3 6
ZCA 4 1 5
Famílias
N° de espécies e variedades (com repetição) TOTAL
sem
repetição
Área
Preservação
1
Área
Preservação
2
Quintal Horta
1
Horta
2
SAF-
1 SAF-2 SAF-3
Sítio
1 Sitio 2
Roça-
1
Roça -
2 TOTAL
AM 11 8 8 4 8 3 11 53 32
C 17 10 11 33 4 2 6 83 61
CG 10 24 15 49 49
CQ 2 29 44 12 13 100 81
IJ 29 12 41 41
JB 5 18 31 22 30 2 108 84
JO 3 17 17 19 2 17 75 50
JR 2 1 17 4 19 6 3 14 66 52
LA 27 20 11 13 71 54
MD 39 14 53 53
PM 24 1 2 27 26
ZCA 2 19 48 6 75 64
TOTAL 14 1 93 147 12 260 71 41 12 2 122 26 801 647
Quadro 2 – Número de espécies vegetais e variedades nos subsistemas existentes nos agroecossistemas
familiares estudados – 2014-2015
Quadro 5 - Número de espécies animais e raças nos subsistemas existentes nos agroecossistemas
familiares estudados – 2014-2015 (com exceção da pesca tradicional no mar/mangue)
Família Aves Abelhas Peixes e crustáceos
(tanque) Suínos Caprinos TOTAL
AM 2 1 3
C 1 1
CG 1 1 1 3
CQ 9 9
IJ 0
JB 2 2
JO 2 1 4
JR 2 2
LA 1 1
MD 19 19
PM 2 2 1 5
ZCA 1 1
TOTAL 22 5 21 1 1 50
Manejo da agrobiodiversidade
Eixo Comercialização
Usinas: mercado empregador comprador de matéria-prima
Feiras convencionais: “comercialização na pedra”
Atravessadores: venda da produção no “olho”
Acesso a Mercados (antes)
“ O meu problema era plantar a cana, colher a cana e vender ao
usineiro. Para, no final, eu ficar sem cana, sem dinheiro, fraco. O
camarada trabalha que somente um infeliz e leva uma vida ruim.
Meu sistema era cana, veneno e fogo, na intenção de ganhar
dinheiro. Só que era uma ilusão” (AGRICULTOR, 2014)
Venda em feiras agroecológicas e convencionais
Porta a porta
Por encomenda
Nas comunidades
Comercialização em pontos de lanche e em eventos
Entregas para o PNAE e para o PAA (baixo acesso).
Acesso a Mercados (atual)
Feira agroecológica de Sirinhaém
Atualmente existem 40 pessoas trabalhando diretamente nas quatros
feiras agroecológicas
Deste total 23 mulheres e 17 homens - (16 jovens)
Na gestão da feira verifica-se o protagonismo feminino. Participação nas
seguintes funções: coordenação, secretaria e tesouraria
Constituição de fundos para manutenção das feiras
Troca de produtos entre os feirantes
.
Organização e participação nas feiras agroecológicas
Somatório do apurado bruto anual das 12 famílias estudadas é de R$
146.880,00
Isto representa uma renda média anual de R$ 12.240,00
Corresponde uma renda média mensal de R$ 1.020,00 para cada família. (23%.
Superior ao salário mínimo nacional).
Receita monetária obtida com a comercialização de
produtos ecológicos
“(...) é de onde eu tiro a minha renda, eu não tenho salário sou
agricultor (....) a feira é a minha vida porque é aonde vendo meus
produtos e trago da feira alguma coisa que eu não tenho aqui no
sítio. Quer dizer, pra mim é o meu emprego, é o meu salário, é
de onde eu tiro meu pão de cada dia”(Agricultor, 2014).
Opinião dos agricultores sobre comercialização nas feiras
agroecológicas
Eixo autoconsumo
Origem dos produtos para alimentação (antes)
Mercados convencionais
Quintais das residências
Alimentação: antes PRODUTOS PRODUTOS
Macaxeira Quarenta
Milho Farinha
Feijão Arroz
Batata Aratu
Banana Traira
Caju Tilápia
Charque
Camarão
“A comida era fraca porque o dinheiro era pouco e
tinha que economizar para passar a semana. A gente
comprava carne, mas comia bem pouquinho. Desde
1978 que se compra comida fora, do supermercado;
o que não se produzia, comprava”(Agricultora, 2014).
Quadro 4 – Tipos de alimentos por subsistema - Percentual das espécies – 2014-2015
Tipos de alimentos
Percentual (%) das espécies por subsistemas
TOTAL Áreas de
Preservação Quintais Hortas SAFs Sítios Roças
Frutas 0,75 8,24 3,62 37,33 0,87 6,62 57,43
Plantas medicinais 0,50 1,62 6,49 1,62 0,12 0,37 10,74
Verduras 0 0 2,25 0,12 0 0,37 2,75
Legumes 0 0 2,00 0 0 1,50 3,50
Tubérculos 0 0,25 0,62 0,87 0 0,87 2,62
Raízes 0 0 0,75 0,62 0,25 6,87 8,49
Leguminosas 0 0 0,25 0,00 0 0 0,25
Cereais 0 0 0,25 0,37 0 0,50 1,12
Temperos 0,12 0,37 3,00 1,50 0,00 0,37 5,37
Cocos 0,37 0,62 0,37 2,75 0,37 0,50 4,99
Outros 0,12 0,50 0,25 1,37 0,00 0,50 2,75
TOTAL 1,87 11,61 19,85 46,57 1,62 18,48 100,00
Quadro 4 – Tipo nutricional dos alimentos produzidos no agroecossistema - Por
subsistemas – 2014-2015
Nutrientes
% de espécies por subsistemas
TOTAL Áreas de
Preservação Quintais Hortas SAFs Sítios Roças
Vitaminas 46,67 73,12 42,14 81,50 63,64 41,33 64,29
Carboidratos 0 2,15 6,92 4,02 0 49,33 12,73
Proteínas 0 0 0 0 0 0 0
Medicinais 26,67 13,98 33,33 3,49 9,09 2,00 10,86
Condimentares 6,67 3,23 14,47 2,95 0 2,00 5,12
Outros 20,00 7,53 3,14 8,04 27,27 5,33 6,99
TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Qtde. Espécies/ervas medicinais Usos
01 Erva cidreira Chá e suco
02 Erva babosa Chá
03 Hortelã folha larga Chá e suco
04 Hortelã folha miúda Chá
05 Espinho cigano Lambedor
06 Pau cardoso Lambedor
07 Vick Chá
08 Alcachofra Chá
09 Alfavaca Chá
10 Louro Comida
Espécies medicinais manejadas pelas famílias
Alimentos ecológicos processados
Polpas de frutas Mandioca - Manuê
“Quando eu cheguei aqui, eu não tinha nada. Só era cana e
eu não ia vender a cana dos outros. Hoje tudo que tem aqui
é nosso, nós se deita em cima da comida” (AGRICULTOR, 2014).
“Economizo com a diversificação da produção porque antes
comprava quase tudo e hoje produzo”. (AGRICULTOR, 2014).
Alimentos industrializados
Produtos da Pesquisa
Publicação de artigos, participações em congressos e seminários
Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão (Jepex)
Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA, Belém)
Seminário Internacional de Agroecologia (UFRPE, Recife-PE)
Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS, Chile)
Grupo de Trabalho da ABA-Agroecologia – Campesinato e Soberania Alimentar
Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Gravatá-PE)
Oficinas no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)
OBRIGADO!
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