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PLANO DE MANEJO
RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS
Volume 3
- ANEXOS –
Brasília - DF, 02 de setembro de 2014
ii
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
DIRETORIA DE CRIAÇÃO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Presidente da República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Ministra de Estado de Meio Ambiente - MMA Izabella Teixeira
Presidente do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO Roberto Ricardo Vizentin
Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação -
DIMAN/ICMBio Sérgio Brant Rocha
Coordenação Geral de Criação, Planejamento e Avaliação de Unidades de
Conservação – CGCAP/DIMAN/ICMBio Lilian Letícia Mitiko Hangae
Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo –
COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Alexandre Lantelme Kirovsky
Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação – DISAT / ICMBIO – Acordo de Gestão
João Arnaldo Novaes Júnior
Coordenação Geral de Populações Tradicionais – CGPT/DISAT/ICMBio - Acordo de Gestão
Leonardo Tortoriello Messias
Coordenação de Produção e Uso Sustentável – COPROD/DISAT/ICMBio - Acordo de Gestão
Cecil Roberto de Maya Brotherhood de Barros
Chefe da RESEX Tapajós-Arapiuns Mauricio Mazzotti Santamaria
Tapajoara – Organização das Associações da Reserva Extrativista Todas as Comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns
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Equipe Técnica da Elaboração do Plano de Manejo:
Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns
Alexandre Kirovsky – COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Elildo A.R. Carvalho Jr – Analista Ambiental ICMBio
Wolfgang Meier – Economista – IARA Nilson da Silva Vieira – Engº. Agrônomo
Nilvanda Alves de Lima – Advogada Rosária Sena Cardoso Farias – Advogada – Chefe da Reserva Extrativista do
Renascer Carlos Eduardo Guidorizzi de Carvalho – Analista Ambiental ICMBio
Gustavo Pinheiro Rego – Analista Ambiental PARNA Juruena Jackeline Nóbrega Spínola – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns
Colaboradores:
Rosinaldo Santos dos Anjos – TAPAJOARA Leônidas Bentes Farias – TAPAJOARA
Alexandre Goudinho Imbiriba – TAPAJOARA Edivaldo Cícero Gama Lima – TAPAJOARA
Célio Aldo – TAPAJOARA Cleida Silva – TAPAJOARA
Lêda Luz – GOPA/GIZ Valéria Bentes – GDA
Luzia Fati – ISAM/PMS Cleiton Adriano Signor -- ICMBio
Instituições participantes do Grupo de Trabalho – GT Plano de Manejo
Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns – TAPAJOARA
Grupo de Defesa da Amazônia – GDA Universidade Federal do Pará – UFPA
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém - SSTR
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aveiro – STTR-Aveiro Prefeitura Municipal de Santarém – ISAM/PMS
Prefeitura Municipal de Aveiro – PMA Associação Intercomunitária da Região do Tapajós – MAÍRA
Associação dos Produtores Rurais da Margem Esquerda do Tapajós – APRUSPEBRAS
Associação comunitária do Nuquini – ASCON Associação YANE-CAETÉ
Associação Intercomunitária dos Rios Arapiuns, Maró e Aruã – AIRAMA Associação Comunitária de Vila Franca – ACOVIFRAN
Associação dos Comunitários de São José I – ACOSJORA Associação dos Pequenos Agricultores Rurais do Mentai no Arapiuns –
APEPROMA Conselho Nacional dos Seringueiros- CNS
iv
Consolidação e Formatação do Texto Final:
Msc. Cesar Haag - Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental da RESEX Tapajós-
Arapiuns Alexandre Lantelme Kirovsky – COMAN/CGCAP/ICMBio
Revisão Desiree Silva – COMAN/CGCAP/ICMBio
Maria Goretti M. Pinto - COMAN/CGCAP/ICMBio
Diagnóstico Meio Socioeconômico Jarine Rodrigues Reis – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos
Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns Caroline Yoshida – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais
da RESEX Tapajós-Arapiuns. Dinael Cardoso dos Anjos – TAPAJOARA
Alexandre Imbiriba Goudinho – TAPAJOARA Leonidas Bentes Farias - TAPAJOARA
Consolidação do texto final do Diagnóstico Socioeconômico
Msc. Marcelo Rodrigues – Consultor Msc. Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ
Diagnóstico Meio Físico Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil
Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Rogério Rodrigues - COMAN/CGCAP/ICMBio
Diagnóstico Meio Biológico
Inventário da Ictiofauna
Luciano Fogaça de Assis Montag- UFPA Bruno da Silveira Prudente- UFPA Cristiane de Paula Ferreira- UFPA Guilherme Moreira Dutra- - MPEG Naraiana Loureiro Benone- UFPA
Thiago Augusto - UFPA Pedroso Barbosa- UFPA
Tiago Octavio Begot Ruffeil – UFPA
Inventário da Avifauna Alexandre Aleixo - MPEG
Sidnei Dantas- UFPA
Rodrigo Teixeira- MPEG
v
Inventário da Mastofauna André Luís Raveta – MPEG
Inventário da Herpetofauna
Teresa Cristina Sauer de Avila Pires - MPEG Marinus Steven Hoogmoed- MPEG
Annelise Batista D´Angiolella- MPEG Ariane Auxiliadora Araújo Silva- MPEG
Jerriane Oliveira Gomes- MPEG Marcélia Basto da Silva- MPEG
Marcelo José Sturaro- MPEG Victor Tasso Gomes Ferreira- MPEG
Inventário de Plantas
Ana Luisa Albernaz - MPEG Jerriane Oliveira Gomes- MPEG
Angelo Dourado- MPEG Carlos da Silva Rosario - Parabotânico responsável pela identificação das
plantas nas comunidades de Nova Canaã e Alto Mentai Carlos Alberto Santos da Silva - Parabotânico responsável pela identificação
das plantas nas comunidades de Quem Dizia e Capixauã
Consolidação do texto final dos Inventário de Biodiversidade Noella Markstein - consultora
Mapas:
Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil Rogério Rodrigues – COMAN/CGCAP/ICMBio
vi
PLANO DE MANEJO RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
VOLUME 3 – ANEXOS
SUMÁRIO
Anexo 1: Documento Técnico Orientador da COMAN para elaboração de Planos de Manejo.
Pág. 01
Anexo 2: PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX. Pág. 05
Anexo 3: Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisas de Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Relatório 1: Ictiofauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Relatório 2: Avifauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Relatório 3: Mamíferos de médio e grande porte na RESEX Tapajós Arapiuns
Relatório 4: Herpetofauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Relatório 5: Mamíferos voadores (morcegos) na RESEX Tapajós Arapiuns
Relatório 6: Plantas na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág. 20
Pág.14
Pág.44
Pág. 73
Pág. 86
Pág.104
Pág. 121
Anexo 4: Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Pág. 140
Anexo 5: Decreto de Criação da RESEX Tapajós-Arapiuns. Pág. 210
Anexo 6: Relatório “Caçando Onças na RESEX Tapajós-Arapiuns”. Pág. 213
Anexo 7: Relatório do Programa de Capacitação de Conselheiros da RESEX Tapajós-Arapiuns – Momento Legal.
Pág. 232
Anexo 8: Portaria de Renovação do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns
Pág. 271
Anexo 9: Informe de Gestão da RESEX Tapajós-Arapiuns 2013 Pág. 275
Anexo 10. Instrução Normativa ICMBio 029/2012. Pág. 283
vii
Anexo 11: Parecer 015/2013 COPT/DISAT/ICMBIO. Pág. 290
Anexo 12: Resolução 01/2013 do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns Pág. 298
Anexo 13: Tabela de Petrechos de pesca de utilização permitida pelo Acordo de Gestão.
Pág. 300
Anexo 14: Estrutura Organizacional do ICMBio 2011 Pág. 302
Anexo 15: Memorial Descritivo do Zoneamento da RESEX Tapajós-Arapiuns Pág. 304
Anexo 16: Acordo de Gestão da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns Pág. 326 Anexo 17: Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU) da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns Pág. 333
1
- ANEXO 1 -
Documento Técnico Orientador de Diretrizes da COMAN para
elaboração de Planos de Manejo
2
Diretrizes para elaboração de planos de manejo de unidades de
conservação federais
A partir da experiência dos servidores da COMAN/DIMAN em elaboração de planos de
manejo de UCs e com objetivo de estabelecer diretrizes gerais comuns a todas as categorias de
UCs, numa perspectiva de simplificação, eficiência e agilização dos processos, orientações
foram levantadas, discutidas e estruturadas. Após avaliação e chancelamento superior, as
orientações deverão se transformar em diretrizes institucionais do ICMBio para elaboração de
planos de manejo.
Entende-se que, independentemente da categoria da UC, todos os planos de manejo
devem seguir três etapas básicas comuns: i. organização do planejamento, ii. diagnóstico e iii.
planejamento. Assim, foram elaboradas orientações de caráter geral, que perpassam todo o
processo de elaboração do plano, bem como orientações específicas, pertinentes a cada uma
das três etapas.
Diretrizes Gerais:
1- Alinhar o Plano de Manejo (PM) ao planejamento estratégico do ICMBio;
2- Articular a elaboração do PM com os macroprocessos institucionais;
3- Agrupar a elaboração de PMs de UCs limítrofes, visando reduzir o passivo de PMs,
sempre que possível;
4- Buscar servidores dentro da instituição, nas UCs, CRs e Centros, para atuarem como
“pontos focais” do plano de manejo, com vistas a disseminar o conhecimento e a prática
de elaboração de PMs e dar mais celeridade ao processo de elaboração de planos;
5- Considerar diferentes métodos na elaboração do plano de manejo para contemplar
diferentes categorias de UC;
6- Garantir um processo participativo;
7- Considerar os aprendizados anteriores sem julgamentos preconcebidos;
3
8- Capacitar os atores envolvidos, sobretudo os técnicos, em todas as etapas;
9- Registrar todo o processo de construção do PM, visando subsidiar a reflexão e o
aprendizado institucional;
10- Ajustar previamente os PMs de UCs de fronteira às exigências do Conselho Nacional de
Defesa – CDN/GSI;
11- Dissociar ações de pesquisa, subsídios para o diagnóstico, do cronograma e orçamento
do PM;
12- Submeter todos os PMs publicados à avaliação anual de sua implementação.
Diretrizes Específicas:
Etapa 1: Organização do Planejamento (OP)
1- Proceder à organização do planejamento (UC e COMAN) antes de elaborar TDR e
licitação, quando for o caso;
2- Garantir a participação de toda a equipe da UC no processo;
3- Analisar as informações prévias sobre a UC para orientar o processo de planejamento;
4- Conduzir a OP com base na realidade da UC e orientá-la pelos desafios de gestão;
5- Produzir relatório de dados existentes sobre a UC de acordo com os itens previstos para
o diagnóstico.
Etapa 2: Diagnóstico
1- Garantir participação intensiva dos servidores da UC;
2- Produzir diagnóstico com base em dados pré-existentes da UC, voltados aos objetivos
da categoria e aos desafios de gestão e para a gestão;
4
3- Se houver necessidade de novos levantamentos, esses devem ser direcionados para
responder problemas da UC.
Etapa 3: Planejamento
1- A equipe da UC e COMAN deve coordenar a construção do planejamento. Em caso de
necessidade pode-se proceder à contratação externa somente para auxiliar o processo;
2- Planejar em função dos objetivos da UC, priorizando as atividades vinculadas a esses
objetivos;
3- Construir normas para as atividades, no que couber.
5
- ANEXO 2 -
PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX
6
7
8
9
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11
12
13
- ANEXO 3 -
Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisa de
Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns
Relatório 1. Ictiofauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns,
Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil
Relatório 2. Avifauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns
Relatório 3. Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns
Relatório 4. Herpetofauna na Resex Tapajós-Arapiuns
Relatório 5. Mamíferos Voadores (Morcegos) na Reserva Extrativista
Tapajós-Arapiuns
Relatório 6. Plantas na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns
14
RELATÓRIO 1
Ictiofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Baixo Tapajós,
Estado do Pará, Brasil
Luciano Fogaça de Assis Montag1*; Bruno da Silveira Prudente1; Cristiane de Paula
Ferreira2; Guilherme Moreira Dutra3; Naraiana Loureiro Benone1; Thiago Augusto
Pedroso Barbosa1; Tiago Octavio Begot Ruffeil1
1 Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Belém, Pará. 2 Universidade Federal do Pará, Instituto de Geociência, Faculdade de Oceanografia, Belém, Pará. 3 Museu Paraense Emílio Goeldi, campus de pesquisa. Coordenação de Zoologia, Belém, Pará. * Autor
para correspondência: E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A região neotropical abriga a maior riqueza de espécies de peixes de
águas continentais do mundo, onde de acordo com Reis et al. (2003), existem
aproximadamente 4.500 espécies válidas e mais 1.500 espécies ainda não
descritas, totalizando aproximadamente 6.000 espécies de peixes para esta
região, com sua grande maioria distribuídas em território brasileiro (Buckup et
al. 2007). Esse número reflete a grande diversidade de hábitats, bem como uma
longa e complexa história evolutiva desses organismos.
Considerado o maior sistema fluvial do mundo, cobrindo uma área de
aproximadamente sete milhões de quilômetros quadrados a bacia Amazônica,
comporta aproximadamente 2.500 espécies de peixes (Schaefer, 1998; Reis et
al., 2003). No entanto, as lacunas de amostragem em áreas remotas, como
suas diferentes mesobacias e microbacias, e a existência de problemas
taxonômicos complexos dificultam na elaboração de estimativas precisas sobre
a riqueza da ictiofauna amazônica. (Vari & Malabarba, 1998; Lowe-McConnell,
1999; Lundberg et al., 2000; Reis et al., 2003; Buckup et al. 2007).
O crescimento explosivo da população humana mundial, ocorrido nos
últimos séculos, gerou uma crescente necessidade de exploração dos recursos
15
naturais causando um aumento na degradação dos hábitats (poluição,
eutrofização e assoreamento), além da introdução de espécies exóticas que
estão entre as principais consequências para os ambientes aquáticos (Araújo,
1998; Bastos & Abilhoa, 2004; Gomiero & Braga 2008; Aquino et al., 2009;
Rodrigues et al., 2010). Dessa forma, um dos principais desafios para a
humanidade é lidar com a "crise ambiental” e a gradativa perda da diversidade
biológica (Simões et al., 2008), sendo a existência de Unidades de
Conservação (UC), mesmo de uso direto, como as reservas extrativistas, uma
importante iniciativa para combater esses problemas ambientais (Ferreira et al.,
2005).
Áreas protegidas nas quais os organismos aquáticos têm sido
intensamente inventariados tem demonstrado a importância desse esforço no
levantamento de informações relevantes para o manejo e conservação da
biodiversidade como um todo (Agostinho et al., 2005).
A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns foi criada por Decreto
presidencial s/n publicado em 09 de setembro de 1998, com uma área de
647.610 ha de superfície, sendo que a maior parte de suas terras pertence ao
domínio da União. A Reserva Extrativista está definida no Art. 18º dessa Lei
como: “(...) uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja
subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de
subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos
básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o
uso sustentável dos recursos naturais da unidade”.
A RESEX Tapajós-Arapiuns ocupando uma área de 647.610 ha, tendo o
rio Arapiuns, principal afluente da margem esquerda do rio Tapajós, tem como
principais afluentes os rios São Pedro, Mentai e Maró/Inambu, sendo este
último o que possui a bacia mais desabitada e com melhor potencial de
preservação (ICMBio, 2008). A falta de estudos nos rios da reserva resulta em
uma subestimativa da diversidade de peixes nesta bacia.
Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo, fornecer uma lista de
espécies de peixes da RESEX Tapajós-Arapiuns, levando em consideração a
complementaridade dos diferentes ambientes dos principais sistemas de
drenagem, rios Tapajós, Mentai e Maró, além das estimativas de riqueza de
16
espécies baseada em cinco estimadores de incidência. Esta lista contribuirá
para o atual conhecimento sobre a ictiofauna desta Unidade de Conservação
situada no noroeste Paraense.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns está localizada nos municípios
de Santarém e Aveiro, na região oeste do Estado do Pará, entre as
coordenadas geográficas 02º20’ a 03º40’ S, e 55º00’ a 56º00’ W (Figura 1).
O clima da região é tropical úmido (tipo Ami de Köeppen), com
temperatura média anual de 26 e 27º C, a umidade relativa do ar em torno de
86% e precipitação anual variando entre 1.287 e 2.538 mm, sendo fortemente
sazonal. A estação chuvosa vai de dezembro a julho, com médias mensais
variando entre 170 e 300 mm, e a estação seca vai de agosto a novembro, com
médias mensais inferiores a 60 mm. O clima é fortemente influenciado pelo
fenômeno El Niño, e quando este ocorre o período de seca é mais longo e
intenso, o que deixa a vegetação extremamente vulnerável a incêndios
florestais.
O relevo da RESEX mostra-se predominantemente plano, sendo mais
acidentado ao sul e sudoeste da reserva. Em termos de relevo podemos
distinguir para região duas principais zonas, sendo a primeira uma faixa de
planície mais baixa de aproximadamente 10 km de largura ao longo do rio
Tapajós, que ocorre em menor grau ao longo do Arapiuns, juntamente com um
planalto que ocupa boa parte do interior da Reserva. A presença desse planalto
tem sido o principal responsável por limitar a extensão dos rios localizados na
margem esquerda do rio Tapajós. Por causa desse planalto, os rios da margem
esquerda do Tapajós se estendem apenas até a sua base, com exceção do rio
Amorim, que avança no interior da Reserva. O interior da unidade é drenado
principalmente por afluentes da margem esquerda do rio Arapiuns. Os três
principais rios no sentido leste-oeste são as bacias do rio São Pedro, do Mentai,
e do Maró/Inambu.
A RESEX abriga diversas fisionomias florestais. A tipologia predominante
é a floresta ombrófila densa, sendo que também ocorrem manchas de savana
17
(conhecidas localmente como campos da natureza), igapó e floresta aberta com
palmeiras. Os rios da região são classificados como rios de águas claras (Sioli,
1984), com seus principais afluentes drenando dos escudos brasileiros.
Figura 1 – Localização da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, Baixo
Tapajós, Pará, Brasil, com destaque para os diferentes sítios de coleta e seus
respectivos pontos de amostragem.
Coleta de dados
As coletas foram distribuídas em três sítios de coleta, totalizando 41
pontos de amostragem localizados nos rios a sistemas de planícies alagáveis
do interflúvio Arapiuns-Tapajós incluindo sete diferentes tipos de ambientes
(igarapés, igapós, praia, lago e corredeira e remanso) (Figura 2). Ao longo da
primeira expedição, realizada no período de 10 a 25 de junho de 2011 (período
de estiagem), foram amostrados 18 trechos de igarapés, sendo nove deles no
curso principal e afluentes do rio Maró, e nove no curso principal e afluentes do
igarapé Mentai, ambos afluentes da margem direita do rio Arapiuns. Segundo o
zoneamento da Resex Tapajós-Arapiuns os dois sítios de amostragem estão
localizados na Zona I descrita como área habitacional, agrícola e manejo
florestal comunitário (Plano de Manejo Resex Tapajós-Arapiuns, 2008). Na
segunda expedição, realizada no período de 04 a 09 de abril de 2012,
18
representando o período chuvoso, foram amostrados 23 trechos de igarapés e
rios, todos afluentes da margem esquerda do rio Tapajós, no igarapé do
Amorim, localizados também na Zona I descrita no Plano de Manejo.
A coleta dos espécimes foi realizada utilizando-se redes de mão, bateria
de redes de espera com malhas de 15, 30, 35, 40 e 50 mm entre nós opostos,
redes de arrasto e tarrafa, este último utilizado como coleta ocasional (Figura 3).
Os três métodos de coleta padronizados (rede de mão, rede de espera e
rede de arrasto) foram utilizados dependendo do tipo de ambiente: em áreas de
lagoa/remanso profundos, foram utilizadas as baterias de redes de espera. As
baterias de redes permaneceram expostas por aproximadamente quatro horas
durante os períodos crepusculares. Para os igarapés de águas rasas – até 1,5
metros de profundidade, os peixes foram coligidos utilizando-se redes de mão e
redes de arrasto com malha de 0,05 cm entre nós opostos, com um esforço
total de quatro horas de amostragem distribuídas entre quatro coletores (Tabela
1).
Tabela 1 – Metodologia utilizada e descrição dos ambientes onde foram coligidos os espécimes para o levantamento da ictiofauna da Reserva Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil.
Bacia Rio Métodos
de Coleta
Hábitat amostrados
Coordenadas Substrato Dominância de
Vegetação Adjacente
Ig. Maró Ig. Mentai
Rede de espera e rede de
mão
Rede de espera e rede de
mão
Igarapés e remansos de rios
Igarapés e remansos de rios
03o 08´33,3" S a 03o 11' 12,2” S
55o 49'23,9" W a 55o 51'25,7" W
02o 46'38,8" S a 02o 48'46,3" S
55o 35'55,8" W a 55o 35'55,3" W
É possível encontrar trechos
dominados por solos argilosos
até trechos com solos mistos
(arenoso e argiloso) com
folhiço submerso
A vegetação aquática é restrita as
áreas ripárias sendo encontrada
vegetação anfíbia e emergente
Rio Tapajós/Ig. e
do.
Amorim
Rede de espera, rede de arrasto
Lago, praias, rio, igapós e igarapés
2o 42'57,8" S a 2o
49'58,8” S
55o 10'11,5" W a 55o 10'22,7" W
Dominância de trechos arenosos,
porém alguns trechos dominância de material
argiloso.
Trechos com alta heterogeneidade de
hábitats. Pode-se encontrar
vegetação submersa fixa, flutuante fixa, emergentes e
anfíbias.
Tapajós
Arapiuns
19
Figura 2: Alguns representantes dos ambientes amostrados durantes os meses de
julho de 2011 e abril de 2012, na RESEX Tapajós-Arapiuns. A e B - Igarapés; C e D -
Remansos.
C D
A B
20
Figura 3: Métodos de coleta utilizados durante inventário da ictiofauna da Reserva
Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil. A – Rede de
arrasto, B – Rede de espera, C – Tarrafa e D – Rede de mão.
Após as coletas, os peixes foram fixados em formaldeído diluído em água a
10%, conservados em álcool 70% e estão sendo incorporados à coleção
ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi – MCT/MPEG, Belém, Pará.
Os peixes foram identificados com por meio de chaves dicotômicas,
catálogos e descrições de espécies (Gery, 1977; Kullander, 1986; Buckup,
1993; Planquette et al., 1996; Lópes-Fernández & Winemiller, 2000; Casatti,
2002; Malabarba, 2004; Chernoff & Machado-Allison, 2005; Ferraris, 2005;
Kullander & Ferreira 2005; Britski et al., 2007; Covain & Fisch-Muller, 2007;
Litmann, 2007; Oyakawa & Mattox, 2009; Aquino & Schaefer, 2010; Sousa &
Birindelli, 2011; Birindelli et al., 2011; Vari, 1982; Vari, 1989; Vari, 1992; Vari,
1995).
A B
C D
21
Exemplares jovens ou danificados onde não foi possível obter uma
identificação ou morfotipagem segura foram identificados na lista taxonômica. A
classificação seguiu Reis et al. (2003), exceto para Serrasalmidae considerados
como uma subfamília de
Characidae e aqui foi apresentado como uma família distinta, seguindo Calcagnotto et
al. (2005) e Mirande (2009; 2010). A separação em morfoespécies foi necessária,
pois nem todas as espécies puderam ser determinadas.
Análise dos dados
Devido a não padronização amostral e o uso de diferentes métodos de
coleta, as análises de dados foi baseada na presença/ausência das espécies
nas estações de coleta. Foi utilizada a técnica de ordenação NMDS (Non-
metric Multidimensional Scaling) para diferenciar a composição de peixes entre
dois ambientes, sendo estes (i) igarapés e (ii) rios e ambientes associados
(lagos, igapós, praias, remansos e corredeiras). Foi aplicado o coeficiente de
similaridade de Jaccard para os dados de presença/ausência. Em seguida, foi
feita uma Análise de Similaridade (ANOSIM) para testar a hipótese de não
haver diferença entre os grupos de amostras (Clarke & Warwick, 1994), neste
caso, os dois tipos de ambiente. Foi considerado um nível de significância de
5%.
Para a estimativa da riqueza de espécies da RESEX Arapiuns-Tapajós foi
utilizado o programa EstimateS (Versão 5.0.1) (Colwell, 1997). Foram utilizados
os seguintes estimadores de riqueza de espécies: ICE, Chao2, Jackknife1,
Jackknife2 e Bootstrap. Os dados foram aleatorizados 100 vezes. A
aleatorização foi necessária para que a remoção do efeito da ordem das
amostras, calculando-se a média das aleatorizações excedentes, produzindo,
uma curva lisa de acumulação de espécies e permitindo uma comparação mais
eficaz dos estimadores utilizados (Colwell, 1997).
Os estimadores aqui empregados são algoritmos não paramétricos que
estimam o número de espécies ainda por serem coligidas baseados numa
quantificação de espécies raras (Toti et al., 2000).
O ICE (Incidence-based Coverage Estimator) é um estimador de riqueza
baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra. É uma modificação
22
dos estimadores Chao & Lee, baseados em dados de abundância e que tinham
a característica de superestimar a riqueza de espécies, principalmente quando
o número de amostras era baixo (Colwell & Coddington, 1994; Colwell, 1997). O
conceito de cobertura de amostra refere-se à soma das probabilidades de
encontro das espécies observadas, dentro do total de espécies presentes, mas
não observadas (Colwell, 1997). O estimador ICE é baseado em incidência,
utilizando espécies encontradas em 10 ou menos amostras (Lee & Chao, 1994).
Os outros estimadores utilizados na estimativa de riqueza de peixes da
RESEX é o Chao2, Jackknife1, Jackknife2 e Bootstrap, todos são baseados em
incidência e utilizam o número de únicos e duplicatas, que são o número de
espécies encontradas em somente uma ou duas amostras, respectivamente,
para as estimativas de riqueza (Colwell, 1997).
RESULTADOS
Foram amostrado um total de 1.537 exemplares de peixes pertencentes
a 32 famílias, 78 gêneros e 99 espécies, onde foi possível observar um
predomínio das ordens Characiformes (65%) seguidos por Perciformes (17%) e
Siluriformes (8%) (Tabela 1 e 2) com dominância das famílias Characidae (14
spp.) e Cichlidae (11 spp.), representando 25% do total de espécies coletadas.
Das espécies coletadas, as mais abundantes (consideradas aqui, de
forma arbitraria, como aquelas que tiveram 48 ou mais indivíduos coletados e
representaram mais de 60% dos indivíduos coletados) foram: Hyphessobrycon
sp., Aequidens sp., Characidae gen., Apistogramma sp., Brycon pesu,
Bryconops sp., Poecilia sp., Helogenes marmoratus e Microcharacidium
weitzmani.
23
Tabela 2 – Lista de espécies de peixes coletadas na RESEX Arapiusn-Tapajos, PA. Os táxons estão apresentados em ordem alfabética. Ip = igarapé; Re = remanso; ? = ambiente não registrado; La = lago; Pr = praia; Cr = corredeira. (*)
espécies coligidas por captura acidental sem identificação do ambiente. Rio Maró Rio Mentai Rio Tapajós
Táxon/Autoridade Ip Re Ip Re ? Ig Ip Lg Pr Cr ? Total Characiformes Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcirostris(Cuvier, 1819) - 1 1 Acestrorhynchus microlepis(Jardine, 1841) 1 4 1 6 Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969 1 1 Acestrorhynchus sp. 2 2 Anostomidae Leporinus gr. friderici (Bloch, 1794)* 1 1 Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794) 1 1 Leporinus fasciatus(Bloch, 1794) - 1 1 Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850) 1 1 Characidae Brycon pesuTroschel & Müller 1845 28 36 64 Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864) 1 1 2 Bryconops sp. 20 33 7 60
24
Characidae gen. (jovem) 40 - - - 37 15 1 - 93 Charax gibbosus (Linnaeus, 1758) - - - 1 - - - - - - - 1 Hyphessobrycon sp. 193 - 215 - - - - - - - - 408
Iguanodectes spilurus (Günther, 1864) 20 - 15 - - - - - - - - 35 Jupiaba anteroides(Géry, 1965)* - - - - 1 - - - - - - 1 Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908) - - - - - - - 4 11 - - 15 Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) - - 2 - - - - - - - - 2 Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908 - - - - - - - 7 1 - - 8 Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864) 1 - - - - - - - - - - 1 Moenkhausia sp.* - - - - 1 - - - - - - 1 Triportheus albus (Cope 1872) Crenuchidae
- - - - - - - 8 5 - 2 15
Crenuchus spilurusGünther, 1863 7 - - - - - - - - - - 7 Elachocharax junki (Géry, 1971) 1 - - - - - - - - - - 1 Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993 Curimatidae
48 - - - - - - - - - - 48
Curimata inornataVari, 1989* - - - - - - - - - - 1 1 Curimata vittata (Kner, 1858) - - - - - - 1 - - - - 1 Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948) - - - - - 4 - 5 - 1 - 10 Curimatidae gen. - - - - 1 - - - - - - 1 Curimatopsis crypticusVari, 1982 1 - - - - - - - - - - 1 Cyphocharax sp.* Erythrinidae
- - - - 1 - - - - - - 1
Erythrinidae gen. (jovem) 5 - - - - - - - - - - 5 Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801) 17 - 21 - - - - - - - - 38 Hoplias curupiraOyakawa & Mattox, 2009 1 - - - - - - 1 - - - 2 Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Hemiodontidae
- 1 - 2 1 - 1 - 1 - - 6
Argonectes sp. - - - - - - - - - 3 - 3 Bivibranchia sp. - - - - - 1 - 8 2 18 5 34 Hemiodus goeldi Steindachner, 1908 - - - - - - 4 13 10 2 - 29 Hemiodus immaculatus Kner, 1858 - - - - - - - 2 - - - 2 Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) - - - - - 1 - 5 - 6 8 20 Micromischodus sugillatus Roberts, 1971 Lebiasinidae
- - - - - - - 3 - - - 3
Copella arnoldi (Regan, 1912) - - 1 - - - - - - - - 1 Copella nattereri (Steindachner, 1876) 6 - 8 - - - - - - - - 14 Lebiasinidae gen. (jovem) - - 1 - - - - - - - - 1 Nannostomus sp. 13 - 13 - - - - - - - - 26 Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 Serrasalmidae
- - 18 - - - - - - - - 18
Myleus sp. - 1 - - - - - - - - - 1 Myleus torquatus(Kner, 1858) - - - - - - - 1 - - - 1 Myloplus asterias(Müller & Troschel, 1844)* - - - - 1 - - - - - - 1 Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819) - - - - - - - 1 - - - 1 Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992 - - - - - - - - - 1 - 1
25
Serrasalmus sp. Ciprinodontiformes Poeciliidae
- 1 2 - - - - - 3
Poecilia sp. Rivulidae
- - - - - - - 52 8 - - 60
Rivulus sp. Clupeiformes Engraulididae
9 - 18 - - - - - - 1 - 28
Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865) Pristigasteridae
- - - - - - - - - 1 - 1
Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920) Gymnotiformes Gymnotidae
- - - - - - - - - 2 - 2
Gymnotus coropinaeHoedeman, 1962 13 - - - - - - - - - - 13
Gymnotus sp. Hypopomidae
10 - 3 - - - - - - - - 13
Brachyhypomus sp. 18 - 2 - - - - - - - - 20
Hypopygus lepturusHoedeman, 1962 Rhamphichthyidae
6 - 4 - - - - - - - - 10
Gymnorhamphichthys petitiGéry & Vu-tân-Tuê, 1964 Perciformes Cichlidae
- - 1 - - - - - - - - 1
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) - - - - - - - 1 6 - - 7 Acaronia nassa (Heckel 1840) - - - - - - - 7 1 - - 8 Aequidens sp. 1 - 91 - - - - 2 - - - 94
Apistogramma sp. 37 - 50 - - - - - - - - 87
Cichla sp. - - - - - - 1 - - - - 1 Cichla temensis Humboldt, 1821 - - - - - - - - 1 1 - 2 Geophagus proximus (Castelnau, 1855) - 2 - - - - - - - - - 2 Geophagus sp.* - - - - - - - - - - 9 9 Geophagus surinamensis(Bloch, 1791) - - - - - - - 4 22 - - 26
Laetacara sp. 3 - - - - - - - - - - 3 Mesonauta festivus (Heckel, 1840) Sciaenidae
- - - - - - - 10 2 - - 12
Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802) - - - - - - - - - 7 - 7 Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) Pleuronectiformes Achiridae
- - - - - - - - - 1 - 1
Achirus sp. Rajiformes Potamotrygonidae
- - - - - - - - 1 - 1 2
Potamotrygon sp.* Siluriformes Auchenipteridae
- - - - - - - - - - 3 3
Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) - 1 - - - - - - - - - 1 Ageneiosus sp. - - - - - 1 - 1 - - - 2
26
Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864) - 4 - 1 - 1 - 1 - - - - 7 Tetranematichthys sp. Callichthyidae Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) - - 1 - - - - - - - - 1
Cetopsidae Helogenes marmoratus Günther, 1863 19 - 27 - - - - - 2 - - 48 Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) - - - - - - - - - 1 - 1 Doradidae Hassar orestis (Steindachner, 1875) - - - - - 6 - 2 - 2 1 11
Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912) - - - - - - - 3 - 21 - 24
Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855) - - - - - 1 - - - - - 1 Heptapteridae Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988 1 - - - - - - - - - - 1 Loricariidae Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer - - - - - - - - - 1 - 1
Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909) - - - - - - - 5 1 - 4 10
Loricariichthys sp. - - - - - - - 1 - - - 1
Peckoltia sp. - - - - - - - 3 - - - 3
Pimelodidae Hypophthalmus marginatusValenciennes - - - - - - - - - - 3 3
Hypophthalmus sp. - - - - - - - 1 - - - 1
Pimelodus sp. - - - - - - - 1 - - - 1
Sorubim elongatus - - - - - 1 - 1 - - - 2 Pseudopimelodidae Microglanis sp. - - 2 - - - - - - - - 2
Trichomycteridae Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882) 1 - - - - - - - - - - 1
Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 1 - - - - - - - - - - 1
Tetraodontiformes Tetraodontidae Colomesus psittacus - - - - - - - - - - - - Número de indivíduos
Número de espécies 26 7 19 5 7 11 4 33 18 20 10 99
- - - - - - - 474 11 493 7 27 19 44 234 112 79 37 1537
27
Diferenciação das espécies em dois ambientes: igarapés e rios e
ecossistemas alagáveis associados
O NMDS mostrou que a ictiofauna é bem diferenciada entre os sistemas i) igarapés
e ii) rios e ambientes associados. O baixo valor de stress encontrado (stress =
0,12) mostra que a matriz de dados bióticos foi bem representada. O ANOSIM
confirma esse resultado (R = 0,53; p < 0,01).
Estimativas de riqueza de espécies
As amostras nos dois ambientes (igarapés e rios) geraram estimativas
similares para o número de espécies de peixes da RESEX, em ambos os
casos, as curvas de acumulação de espécies não tenderam à estabilidade
(Figuras 5A e 5B). Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma sutil
estabilidade em comparação aos demais estimadores. As curvas dos
estimadores Chao2 e principalmente ICE apresentaram um acentuado
crescimento inicial, mas tenderam à estabilidade conforme o aumento do
número de amostras. A curva de acumulação de espécies das demais
estimativas acompanhou a curva do coletor (Sobs).
Apesar do número dos indivíduos terem sido maior nos igarapés, a maior
riqueza de espécies foi obtida nos rios e sistemas alagáveis associados (1.011
28
indivíduos distribuídos em 36 espécies contra 462 indivíduos distribuídos em 60
espécies), demonstrando que o aumento do esforço de amostragem nos
igarapés não significou um aumento no número de espécies coletadas.
Nas 13 estações de coleta em igarapés foram coligidos 1.011 indivíduos
distribuídos em 36 espécies. A espécie mais abundante foi Hyphessobrycon sp.
com 408 indivíduos, seguido de Aequidens sp. e Apistogramma sp., com 93 e 87
indivíduos respectivamente.
As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5A estão
baseadas na combinação dos dados de ambos os métodos (rede de mão e
arrasto) e entre os igarapés dos três sítios de amostragem (Igarapés Mentai e
Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados.
Para os igarapés a estimativa Bootstrap foi a mais baixa de todas, com
estimativa de aproximadamente 42 espécies e a Chao2 apresentou a maior
estimativa, com aproximadamente 68 espécies. As estimativas dos outros três
estimadores apresentaram valores intermediários aos de Bootstrap e Chao2. O
estimador Jack2 ficou muito próximo ao Chao2, com estimativa de
aproximadamente 64 espécies (Tabela 3; Figura 5).
29
Figura 5 – Estimativas de riqueza de espécies de peixes através do método de
rede de mão, rede de arrasto e rede de espera nos igarapés (A), nos rios e suas
planícies alagáveis (B) e na combinação deles acrescida com coletas ocasionais
(C) para RESEX Arapiuns-Tapajós, PA. Sobs = Número de espécies observadas.
30
Nas 26 estações de coleta em rios e sistemas alagáveis foram coligidos
462 indivíduos distribuídos em 60 espécies. A espécie mais abundante foi
Brycon pesu com 64 indivíduos, seguido de Poecilia sp. e Bryconops sp., com 60
e 41 indivíduos respectivamente.
As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5B estão
baseadas na combinação dos dados dos métodos (rede de mão, rede de arrasto
e rede de espera) e entre os ambientes dos três sítios de amostragem (Igarapés
Mentaí e Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados.
Para os rios e sistemas associados à estimativa Bootstrap também foi a
mais baixa de todas, com estimativa de aproximadamente 73 espécies e a
Jackknife 2 apresentou a maior estimativa, com aproximadamente 107 espécies.
As estimativas dos outros três estimadores apresentaram valores intermediários
aos de Bootstrap e Jacknife2. Os estimadores ICE e Chao2 tiveram estimativa
muito próximas com 96 e 95 espécies, respectivamente (Tabela 3; Figuras 5).
Tabela 3 - Estimativa de riqueza de espécies de na RESEX Arapiuns-Tapajós e número de espécies raras para cada ambiente e na combinação deles. Entre parênteses a porcentagem de espécies capturadas segundo os estimadores.
Parâmetros Igarapés Rios Total
Amostras 13 26 41* N. de espécies coletadas 36 60 99 **
N. de indivíduos coletados
1011 462 1537 ***
Únicos 17 30 49
Duplicatas 3 11 19
ICE 58 (62%) 96,24 (62%) 165,43 (60%)
Chao 2 67,38 (53%) ± 21,51
94,86 (63%) ± 17,18
166,49 (59%) ± 26,44
Jackknife 1 51,69 (70%) ± 5,33 88,85 (68%) ± 4,94
146,8 (67%) ± 10,09
Jackknife 2 63,75 (56%) 106,79 (56%) 178,58 (55%)
Bootstrap 42,4 (85%) 72,47 (83%) 119,18 (83%)
*foi adicionado duas amostras de captura ocasional sem o reconhecimento do ambiente. ** nove espécies foram coligidas somente por captura ocasional (Ver Tabela 1). *** 64 indivíduos foram coligidos em capturas ocasionais
31
Uso e conservação da ictiofauna
Dentre as 99 espécies amostradas, 43% são consideradas como sendo
utilizadas na pesca comercial, 9% exploradas para fins de aquariofilia e 2%
utilizadas como iscas na pesca de subsistência local (Tabela 4). Além disso, todas
as espécies amostradas são nativas da bacia amazônica e nenhuma está na lista
de espécies ameaçadas (nacional ou internacional).
Tabela 4 – Espécies coligidas (em ordem alfabética) na Reserva Extrativista TapajósArapiuns com seus respectivos nomes comuns e se há uso na aquariofilia (ornamental) ou na pesca comercial ou subsistência (alimentação). Fonte: www.fishbase.org.
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) acará ornamental Acaronia nassa(Heckel 1840) acará - Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819) peixe-cachorro alimentação
Acestrorhynchus microlepis (Jardine, 1841) peixe-cachorro alimentação
Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969 peixe-cachorro - Acestrorhynchus sp. peixe-cachorro - Achirus sp. soia alimentação
Aequidens sp. acará - Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) mandubé alimentação
Ageneiosus sp. mandubé alimentação
Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865) sardinha alimentação
Apistogramma sp. acarazinho ornamental
Argonectes sp. - - Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864) cangati alimentação
Bivibranchia sp. - - Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) pirapucu alimentação
Brachyhypomus sp. ituí - Brycon pesu Troschel & Müller 1845 - - Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864) piquira alimentação
Bryconops sp. piquira alimentação
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) tamoatá alimentação
Characidae gen. (jovem) - - Charax gibbosus (Linnaeus, 1758) piaba - Cichla sp. tucunaré alimentação
Cichla temensis Humboldt, 1821 tucunaré alimentação
Colomesus psittacus (Bloch & Schneider, 1801) baiacu - Copella arnoldi (Regan, 1912) - ornamental
Copella nattereri (Steindachner, 1876) - ornamental
Crenuchus spilurus Günther, 1863 - - Curimata inornata Vari, 1989 branquinha alimentação
Curimata vittata (Kner, 1858) branquinha alimentação
Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948) branquinha alimentação Curimatidae gen. branquinha -
Espécie/Autoridade Nome comum Uso
32
Curimatopsis crypticus Vari, 1982 branquinha - Cyphocharaxsp. branquinha - Elachocharax junki (Géry, 1971) - - Erythrinidae gen. (jovem) - - Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801) jeju alimentação
Geophagus proximus (Castelnau, 1855) acará alimentação
Geophagus sp. acará alimentação
Geophagus surinamensis (Bloch, 1791) acará alimentação
Gymnorhamphichthys petiti Géry & Vu-tân-Tuê, 1964 - - Gymnotus coropinae Hoedeman, 1962 sarapó isca Gymnotus sp. sarapó isca Hassar orestis (Steindachner, 1875) bacu - Helogenes marmoratus Günther, 1863 - - Hemiodus goeldi Steindachner, 1908 charuto alimentação
Hemiodus immaculatus Kner, 1858 charuto alimentação
Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) charuto alimentação
Hoplias curupira Oyakawa & Mattox, 2009 traíra alimentação
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) traíra alimentação
Hyphessobrycon sp. - - Hypophthalmus marginatus Valenciennes, 1840* mapará alimentação
Hypophthalmus sp. mapará alimentação
Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer, 2010 acari - Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962 ituí - Iguanodectes spilurus (Günther, 1864) - - Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920) apapá alimentação
Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882) - - Jupiaba anteroides (Géry, 1965) piaba - Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908) - - Laetacara sp. - - Lebiasinidae gen. (jovem) - - Leporinusgr. friderici (Bloch, 1794) aracu alimentação
Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794) aracu alimentação
Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) aracu alimentação
Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909) - - Loricariichthys sp. acari - Mesonauta festivus (Heckel, 1840) acará-festivo ornamental
Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993 - - Microglanis sp. - - Micromischodus sugillatus Roberts, 1971 charuto alimentação
Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882) piaba ornamental
Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908 piaba ornamental
Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864) piaba ornamental
Moenkhausia sp. - - Myleus sp. pacu - Myleus torquatus (Kner, 1858) pacu alimentação Myloplusasterias (Müller & Troschel, 1844) pacu alimentação
33
Nannostomus sp. - - Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912) - - Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988 - - Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802) pescadinha alimentação
Peckoltia sp. acari ornamental
Pimelodus sp. - - Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) pescada-branca alimentação
Poecilia sp. - - Potamotrygon sp. raia alimentação
Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819) piranha alimentação
Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 piaba - Rivulus sp. - - Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850) aracu alimentação
Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855) bacu - Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992 piranha alimentação
Serrasalmus sp. piranha alimentação
Sorubim elongatus Littmann, Burr, Schmidt & Isern, 2001 surubim alimentação
Synbranchus marmoratus Bloch, 1795 mussum - Tetranematichthys sp. - - Triportheus albus (Cope 1872) sardinha-papuda alimentação
DISCUSSÃO
Lista de espécies
Os dados de diversidade de táxons superiores (famílias e gêneros) e
espécies mostram que, quando comparados com outros inventários na região
amazônica, o sistema Arapiuns/Tapajós apresenta, proporcionalmente, uma
maior diversidade geral. Um exemplo disso é o inventário realizado no Parque
Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, onde foram registradas 207
espécies de peixes, distribuídas em 93 gêneros e 26 famílias, amostrados em 86
pontos de coleta (Bernard, 2008). Se comparado aos dados obtidos nesse
estudo, onde foi inventariada 99 espécies de peixes, distribuídas em 78 gêneros
e 32 famílias em 41 pontos de coleta, podemos observar que, em termos gerais,
o número de espécies foi proporcional ao número de pontos amostrados. No
entanto, a riqueza de gêneros e famílias foi consideravelmente mais significativa,
indicando que, embora em número de espécies essas subbacias sejam
semelhantes, em termos de diversidade de táxons superiores, a Resex Tapajós
Arapiuns apresenta uma ictiofauna mais diversa.
34
Um resultado inverso, no entanto, foi observado quando os dados deste
estudo foram comparados a um inventário realizado no Baixo Rio Urubamba,
tributário do Rio Ucayali, localizado na porção sudoeste da bacia amazônica,
sudeste do Peru (Carvalho et al., 2011). Isso por que, em 22 pontos de coleta,
este estudo inventario um total de 98 espécies, distribuídas em 22 famílias.
Pode-se observar que, nesta porção da bacia amazônica, a diversidade geral de
espécies é duas vezes maior que do presente estudo, mas que essa diversidade
apresenta uma distribuição mais conservadora dentro das famílias
predominantes nesses hábitats, como a família Characidae, a mais abundante
nos dois estudos, mas onde a riqueza de espécies foi quase três vezes maior na
região peruana que no sistema Arapiuns/Tapajós.
Diversos fatores podem explicar essas variações nos padrões de
diversidade dentro da bacia amazônica, dentre eles o tipo de formação geológica
onde estão inseridas as cabeceiras desses sistemas. Os sistemas do Amapá,
que tem suas cabeceiras no Escudo das Guianas, e do Tapajós, com cabeceiras
no Escudo do Brasil, são caracterizados por águas claras que carregam carga
mínima de sedimento e baixos níveis de sedimentos; O rio Arapiuns, no entanto,
apresentam suas águas pretas, devido aos compostos orgânicos e ácido húmico
provenientes da decomposição do material da floresta de terra firme inundada,
uma vez que suas nascentes estão dentro na Planície Amazônica. O sistema do
rio Ucayali, tem sua formação na Cordilheira dos Andes, suas águas brancas
carregam grandes quantidades de sedimentos carreados das montanhas com
altos níveis de nutrientes que se dispersam na várzea durante as enchentes,
aumentando a produção biológica das florestas alagadas, macrófitas e algas e,
consequentemente, da fauna associada a esses ambientes (Barthem&Goulding
2007).
Independentemente dos números obtidos nesse e em outros estudos, o
fato mais relevante é que os diferentes padrões de diversidade encontrados
refletem a não apenas as extensas dimensões na qual a bacia amazônica se
estende, mas também a grande diversidade de ambientes e particularidades
químicas e geológicas de cada uma das subbacias que se unem para formar o
maior sistema fluvial do mundo.
35
Estimativas de riquezas
Os estimadores baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra
(ACE e ICE) são relativamente novos no campo de estimativas de riqueza
(Longino et al., 2002). Em quase todos os casos, as estimativas apresentam
comportamento diferenciado, com a curva de espécies atingindo a assíntota em
alguns casos e não em outros. No presente trabalho, todas as estimativas de
riqueza utilizadas tenderam a não estabilidade, incluindo a curva de acumulação
de espécies observadas. Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma
sutil estabilidade que as demais curvas. Nos demais estimadores, a inclinação
das curvas acompanhou a curva de acumulação de espécies observadas.
A curva do estimador ICE e Chao2 apresentou um acentuado crescimento
inicial (nos primeiros 10% de amostras), seguido de uma queda, atingindo a sutil
estabilidade somente após a inclusão de um número significativo de amostras.
Este comportamento faz com que o estimador ICE e Chao2 seja pouco confiável
quando temos um número baixo de amostras, uma vez que ele pode
superestimar o número de espécies (Bragagnolo & Pinto-da-Rocha, 2003).
Segundo Toti et al. (2000), podemos considera que um bom estimador de
riqueza de espécie quando: 1) deve alcançar (ou pelo menos chegar perto) à
estabilidade com menos amostras do que são necessárias para a estabilidade da
curva de acumulação de espécies observadas, 2) não deve apresentar
estimativas que difiram amplamente dos outros estimadores, e 3) deve
apresentar estimativas próximas às extrapolações visuais razoáveis da
estabilização da curva de acumulação de espécies observadas (Toti et al., 2000).
Como não atingimos a estabilidade da curva de acumulação de espécies, as
aplicações das considerações de Toti et al. (2000) ficam restritas, definindo que
com exceção ao Chao2, todas as estimativas utilizadas no presente estudo, não
apresentaram um bom desempenho.
Os ambientes e a ictiofauna
Os hábitats de peixes variam muito, não só em características físicas, tais
como pH, salinidade, temperatura, teor de oxigênio e luz, mas também diferem
imensamente no espaço disponível (Bone & Moore, 2008) e na disponibilidade
36
de alimento entre períodos hidrológicos ou pluviométricos distintos (Goulding,
1980; Lowe-McConnell, 1999; Abelha et al., 2001; Novakowski et al., 2008).
Devido à variação na disponibilidade de recursos alimentares, estudos de
alimentação em ambientes naturais permitem o reconhecimento de categorias ou
guildas tróficas distintas, além de possibilitar inferências sobre sua estrutura, o
grau de importância dos diferentes níveis tróficos e as relações entre seus
componentes (Novakowski et al., 2008).
No presente estudo também foi possível observar a presença de sete
guildas tróficas, sendo a distribuição dessas na região estudada fortemente
relacionadas as características do ambiente. São elas:
Espécies filtradoras que dominam áreas abertas de áreas alagadas ou rios
As áreas abertas dos grandes rios e de áreas alagadas há um aumento
considerável da comunidade zooplanctônica, como consequência do incremento
dos processos fotoautotróficos (Baxter, 1977). Dentre o zooplâncton, os
microcrustáceos são os mais encontrados nos conteúdos estomacais de peixes
filtradores. Destacamos duas espécies da RESEX com capacidade para filtrar o
plâncton (especialização nos rastros branquiais): Hypophthalmus marginatus e
Hypophthalmus sp.
Espécies insetívoras que dominam igarapés cobertos por floresta
Foram registradas 23 espécies insetívoras em igarapés cobertos por floresta que
devido à baixa produção primária do sistema, os recursos alimentares são
dominantemente vindos da floresta (alóctone). Em ambientes tropicais, os
invertebrados terrestres, principalmente insetos adultos, são importante recursos
alimentares para os peixes (Fugi et al. 2005), destacando os insetos das ordens
Hymenoptera, Coleoptera, Hemiptera e Homoptera (Peretti & Andrian, 2004), que
são utilizados quando caem na superfície da água durante o voo. Este recurso
torna-se disponível sazonalmente, principalmente em períodos de revoadas
(Benneman, 1996). Os insetívoros de igarapés registrados para a RESEX Tapajós-
Arapiuns foram: Crenuchus spilurus, Elachocharax junki, Microcharacidium
weitzmani, Copella arnoldi, Copella nattereri, Nannostomus sp., Pyrrulina brevis,
Gymnotus sp., Brachyhypomus sp., Hypopygus lepturus, Gymnorhamphichthys
37
petiti, Callichthys callichthys, Helogenes marmoratus, Nemuroglanis pauciradiatus,
Microglanis sp., Ituglanis amazonicus, Synbranchus marmoratus, Laetacara sp.,
Aequidens sp., Apistogramma sp., Hyphessobrycon sp., Iguanodectes spilurus e
Jupiaba anteroides.
Espécies piscívoras que dominam igarapés cobertos por floresta
Na maioria dos ambientes aquáticos, peixes de pequeno porte com grande
capacidade reprodutiva e elevada plasticidade alimentar, torna-se um recurso muito
disponível para os peixes de hábito piscívoro. Nos pequenos igarapés foi possível
encontrar seis espécies piscívoras, são elas: Acestrorhynchus microlepis,
Acestrorhynchus minimus, Acestrorhynchus sp., Erythrinus erythrinus, Hoplias
curupira, Charax gibbosus
Espécies frugívoras que dominam ambientes alagados Foram registradas cinco espécies frugívoras na RESEX Arapius-Tapajós, Myleus
sp., Myleus torquatus, Myloplus asterias, Triportheus albus e Auchenipterichthys
longimanus que, principalmente no período de inundação, utilizam a vegetação
ripária na alimentação. Itens da vegetação ripária, principalmente os frutos e
sementes, têm sido registrados como recursos alimentares para peixes,
particularmente em rios tropicais (Albretcht & Caramaschi, 2003 e Alvim & Peret,
2004). Algumas espécies tem sido apontadas como potenciais dispersoras de
sementes, como é o caso de Lithodoras dorsalis, no baixo Tocantins (Barbosa,
2012) e Auchenipterichthys longimanus em rios afogados da Amazônia Oriental
(Freitas, 2010).
Espécies insetívoras que dominam os grandes dos rios e áreas alagáveis
Os invertebrados aquáticos, especialmente larvas de insetos (Lowe-McConnell,
1987) tais como Chironomidae e Ephemeroptera, representam um recurso
alimentar para peixes dos grandes rios e áreas alagadas (Hahn et al. 2004). Os
Chironomidae estão entre os invertebrados aquáticos mais consumidos pelos
peixes, fato associado à elevada abundância deste grupo em muitos ambientes
aquático (Higuti & Takeda, 2002). Registramos para a RESEX 20 espécies
insetívoras dos grandes canais, são elas: Argonectes sp., Bivibranchia sp.,
Hemiodus goeldi, Hemiodus immaculatus, Hemiodus unimaculatus,
38
Micromischodus sugillatus, Brycon pesu, Bryconops caudomaculatus, Bryconops
sp., Hassar orestis, Nemadoras leporhinus, Scorpiodoras heckelii,
Tetranematichthys sp., Moenkhausia collettii,Moenkhausia cotinho, Moenkhausia
oligolepis, Moenkhausia sp., Achirus sp., Anchovia surinamensis e Ilisha amazônica
Espécies piscívoras que dominam os canais dos rios e áreas alagadas
Os piscívoros registrados para a RESEX que estão associados aos canais dos
rios e suas área alagadas foram: Acestrorhynchus falcirostris, Boulengerella
maculata, Pimelodus sp., Sorubim elongatus, Pachypops fourcroi, Plagioscion
squamosissimus, Potamotrygon sp., Cichla sp. Cichla temensis, Hoplias
malabaricus, Ageneiosus brevifilis, Ageneiosus sp.
Espécies detritívoras ou raspadoras de fundo
O consumo de algas, principalmente as perifiticas, são consumidas em
grandes quantidades pelos peixes, principalmente pelas famílias Curimatidae e
Loricariidae, aqui representadas pelas espécies: Curimata inornata, Curimata
vittata, Curimatella immaculata, Curimatopsis crypticus, Cyphocharax sp.,
Hypoptopoma elongatum, Limatulichthys griseus, Loricariichthys sp., Peckoltia
sp.
Uso e conservação da ictiofauna
Os dados obtidos no presente estudo reforçam a idéia de que a região
apresenta um forte potencial pra a pesca comercial e de subsistência,
corroborando os estudos de Barthem & Golding (2007), que destacam a
importância de caracídeos, bagres e ciclídeos como os principais grupos de
peixes importantes para o consumo.
Os limites das unidades de conservação mesmo de uso direto
desempenham um papel na manutenção dos estoques pesqueiros, por utilizarem
diversos ambientes como áreas de desova, crescimento e alimentação.
A pesca comercial é muito desenvolvida no rio Tapajós e seus principais
tributários, tendo na cidade de Santarém, o principal ponto de descarga de
pescado comercializado (Ferreira et al. 1998). Além disso, a pesca artesanal
39
também é bastante desenvolvida pelos moradores das comunidades ribeirinhas,
que tem nos peixes uma importante fonte de proteínas (Piperata, 2007).
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RELATÓRIO 2
AVIFAUNA Alexandre Aleixo¹; Sidnei Dantas2; Rodrigo Teixeira1
¹Museu Paraense Emilio Goeldi, Coordenação de Zoologia, Caixa Postal 399, CEP 66040-170, Belém-PA
2Curso de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal do Pará / Museu Paraense Emílo Goeldi, Belém, PA.
INTRODUÇÃO Na região amazônica brasileira são conhecidas, até o momento, cerca de 1300 espécies de aves, das quais mais de 630 são endêmicas desse bioma gigantesco (Aleixo et al., em prep.). A avifauna da Amazônia não se distribui de modo uniforme, os grandes rios, e muitos rios menores, limitam a distribuição de diversas espécies, que em muitos casos são substituídas por espécies irmãs na margem oposta do rio. Isso cria áreas entre os grandes rios denominadas Centros de Endemismo (CE), sendo reconhecidas atualmente nove CEs na Amazônia (Silva et al., 2005; Borges e Silva, 2012). Além da barreira dos rios, outros fatores causam a heterogeneidade da distribuição das espécies no bioma. Diversas espécies são pontuais, muito raras, restritas a áreas pequenas, como microbacias, ou especialistas em ambientes pontuais, como bambuzais, florestas de areia branca e campinas. Desse modo, é essencial que, num levantamento, se cubra a maior quantidade possível de ambientes para se ter uma ideia melhor da composição da avifauna. A área localizada entre os rios Tapajós e Madeira, conhecida como Centro de Endemismo Rondônia (CE Rondônia), abriga uma impressionante avifauna, para as quais há informações de poucas localidades. Inventários rápidos em áreas diversas nessa região têm registrado entre 265 e quase 500 espécies (Santos et al, 2011; Dantas et al., 2011; Whitaker, 2008). A presença de várias unidades de conservação no CE Rondônia é um importante instrumento de proteção à biodiversidade local, mas ela está ainda começando a ser conhecida, de modo que inventários em qualquer região são de fundamental importância para uma compreensão da distribuição e raridade das espécies envolvidas. No presente relatório, apresentamos os resultados de duas expedições de levantamento de aves na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (RESEX TapajósArapiuns), localizada na margem esquerda (oeste) do Rio Tapajós no município de Santarém, Pará.
MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em duas excursões, a primeira de 12 a 25 de junho de 2011, e a segunda de 29 de março a 11 de abril de 2012. A primeira excursão foi realizada em dois pontos da Resex Tapajós-Arapiuns, descritos a seguir:
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Comunidade Nova Canaã (03º09'S; 55º49'W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor da comunidade. As áreas amostradas incluíram áreas contínuas de floresta alta de terra firme de solo parcialmente arenoso, bem como florestas alagáveis de igapó às margens do rio Maró. De um modo geral, todas áreas visitadas se encontravam em bom estado de conservação, embora áreas antropizadas como capoeiras em diferentes estágios sucessionais e roçados também estivessem presentes, tendo sido igualmente amostrados. Comunidade Alto Mentai (02º47'S; 55º36'W): O ponto de coleta de dados se situava num raio de 4-5 km da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada nas proximidades do rio Mentai. Próximo à comunidade, uma área de floresta baixa crescendo em solo arenoso, com aspecto de campinarana, também foi amostrada. A segunda excursão foi realizada nos pontos abaixo: Comunidade Tucumatuba (03º05'39"S; 55º32'08,3"W): O ponto de coleta de dados se localizava a cerca de 40 km a oeste da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada. Próximo ao acampamento, havia uma área pequena de floresta de solo arenoso, com aspecto de campinarana, com árvores baixas e moitas de liquens no solo. Comunidade Capixauã (02º35'12,6"S; 55º11'42,6"W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor dessa comunidade. As áreas amostradas incluem um fragmento de floresta de terra firme de solo parcialmente arenoso, cercada por uma matriz de vegetação arbustiva de baixo porte, com aspecto de cerrado (árvores de tronco rugoso e retorcido, etc). A floresta nessa área é de copa mais baixa que a da Tucumatuba, com sub-bosque mais denso, com maior presença de palmeiras. Foi amostrada também uma área de campo aberto, uma formação em solo arenoso com predominância maciça de gramíneas, com árvores e arbustos esparsos e pequenos. Em todas as localidades acima, o levantamento qualitativo consistiu em caminhadas diurnas e noturnas através de ambientes e vegetações distintos na área de estudo com o objetivo de registrar as aves presentes a partir de contatos visuais e auditivos. Durante este levantamento, diversas espécies de aves observadas foram documentadas com a gravação digital de suas vocalizações por um gravador Marantz® PMD 670 ou Sony PCM D50, acoplados a um microfone direcional Sennheiser® ME-88 ou ME-66. Em cada localidade também foram utilizadas redes de neblina de 12 x 2 m para a captura de aves com o objetivo de complementar o levantamento qualitativo descrito acima. A cada dia de amostragem, redes instaladas nas proximidades dos mesmos transectos percorridos durante o levantamento qualitativo permaneciam abertas durante a manhã por um período de pelo menos 6 horas (geralmente entre 6:00 – 12:00 hs). Um total de 15 redes de neblina foi utilizado ao longo de 18 dias (09 dias em cada excursão), permitindo um esforço total 1600 h/rede para a Resex. Parte igualmente importante do inventário da avifauna local foi a coleta de espécimes testemunho de algumas espécies registradas visualmente e/ou gravadas, notadamente aquelas de difícil identificação e de ocorrência previamente não documentada na região. As coletas foram realizadas com o auxílio de redes de neblina e uma espingarda calibre 16. Para cada espécime coletado, os seguintes dados foram registrados durante sua dissecação: localidade de coleta (com coordenadas obtidas a partir de GPS), peso, estágio na muda de penas, sexo, tamanho das gônadas, presença ou ausência da bursa de Fabricius, grau de ossificação do crânio, quantidade de gordura, cor da íris e partes nuas e finalmente habitat e estrato da vegetação onde o espécime foi coletado. Para cada espécime coletado, uma amostra de tecido foi também preservada em álcool etílico absoluto imediatamente após o sacrifício do animal. Geralmente, essas amostras incluíram partes do fígado, coração e
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músculo peitoral. Todos os espécimes coletados foram depositados na coleção ornitológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em Belém, Pará.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 372 espécies na Resex Tapajós-Arapiuns (312 na 1ª campanha, 285 na 2 ª). Em Nova Canaã, foram registradas 259 espécies; no Alto Mentai, 245; na área próxima à comunidade Tucumatuba foram registradas 182 espécies, e na comunidade Capixauã, 217. As espécies registradas encontram-se no Anexo 1. Das espécies registradas, quatro encontram-se listadas em algum grau de ameaça na lista vermelha da IUCN: Penelope
pileata (Vulnerável), Morphnus guianensis (Quase Ameaçada), Pyrilia vulturina (Vulnerável) e Neomorphus squamiger (Vulnerável). Com exceção de M. guianensis, essas espécies são também endêmicas da Amazônia brasileira. Outras espécies merecem destaque para conservação, podendo ser agrupadas em diversas categorias de interesse, listadas abaixo: 1) Espécies endêmicas da Amazônia Brasileira: Psophia viridis, Pyrrhura
amazonum, Pyrilia vulturina, Neomorphus squamiger, Capito brunneipectus,
Hypocnemis striata, Phlegopsis borbae, Rhegmatorhina berlepschi,
Dendrocolaptes hoffmannsi, Xipholena lamellipennis, Poecilotriccus senex e
Polioptila paraensis.
2) Raras e com distribuições localizadas na margem sul do Amazonas:
Antrostomus sericocaudatus, Phaethornis rupurumii, Discosura longicaudus,
Polythmus theresiae, Cercomacra manu, Conopophaga melanogaster,
Pachyramphus surinamus e Conopias parvus.
3) Cinegéticas: Tinamus tao, T. major, Penelope pileata, Aburria cujubi e
Pauxi tuberosa.
Algumas das espécies da categoria 2 são encontradas fora da Amazônia, mas também em distribuições localizadas, como A. sericocaudatus e D. longicauda. Outras, como P.
theresiae e C. manu são especialistas em ambientes pontuais (no caso citado, campinas e tabocais, respectivamente). Além dessas espécies, vários táxons de distribuição ampla na Amazônia devem ser divididos em várias espécies de distribuição restrita a um ou poucos interflúvios em breve, o que aumentará a lista de espécies de interesse conservacionista consideravelmente. Tal é o caso de Campylorhamphus procurvoides, Lepidocolaptes
albolineatus, Megascops usta, dentre outras. Ao todo, 225 espécimes de 103 espécies foram coletados na Resex Arapiuns (Anexo 2). O número de espécies registradas nesse trabalho é semelhante ao de outros trabalhos realizados no interflúvio Tapajós-Madeira (Santos et al., 2011; Oren e Parker III, 1997; Aleixo e Poletto, 2007; Dantas et al., 2011; Whittaker, 2008), o que indica que a Resex Arapiuns é uma área importante para a conservação da avifauna local. A presença de predadores de topo de cadeia (Harpia harpyja, Morphnus gujanensis, Spizaetus ornatus) e de aves cinegéticas de grande porte (Mitu tuberosa, Tinamus tao, Aburria cujubi) reforça essa impressão.
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CONCLUSÕES A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns abriga uma comunidade de aves bastante significativa do interflúvio Madeira-Tapajós, incluindo predadores de topo de cadeia e espécies cinegéticas de grande porte. Importantíssima é a presença, também, de espécies ameaçadas de extinção, entre elas Neomorphus squamiger, um grande cuculídeo terrícola restrito a uma área pequena na Amazônia brasileira, do qual se conhece muito pouco, havendo poucas peles em museus e poucas avistagens em seu ambiente natural. a Resex Tapajós-Arapiuns funciona, portanto, como uma importante unidade de conservação para esses táxons. A lista de espécies, apesar de ser muito boa para o curto período de trabalho, ainda está incompleta. Recomenda-se a continuação desses estudos, para que se façam registros adicionais, e se tenha uma ideia melhor da real composição da avifauna da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aleixo, A.; F. Poletto. 2007. Birds of an open vegetation enclave in southern Brazilian
Amazonia. The Wilson Journal of Ornithology 119 (4): 610-630. Borges, S.H.; J.M.C. Silva. 2012. A New Area of Endemism for Amazonian Birds
in the Rio Negro Basin. The Wilson Journal of Ornithology 124(1): 15-23. Dantas, S.M.; M.S. Faccio; M.F. Lima. 2011. Avifaunal inventory of the Floresta
Nacional de Pau-Rosa, Maues, state of Amazonas, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 154-166.
Oren, D. C. and Parker III, T. A. 1997. Avifauna of the Tapajos National Park and vicinity, Amazonian Brazil. Ornithological Monographs48: 493-525.
Santos, M.P.D.; A. Aleixo; F.M. d’Horta; C.E.B. Portes. 2011. Avifauna of the Juruti Region, Pará, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 134-153.
Silva, J. M. C., A . B. Rylands, G. A. B. da Fonseca. 2005. O destino das áreas de endemismo da Amazônia. Megadiversidade 1: 124-131.
Whittaker, A. 2009. Pousada Rio Roosevelt: a provisional avifaunal inventory in southwestern Amazonian Brazil, with information on life history, new distributional data and comments on taxonomy. Cotinga 31: 20-43.
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ANEXO 1 Lista das aves registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante os inventários de 2011 e 2012, por localidade.
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Tinamiformes Huxley, 1872 Tinamidae Gray, 1840 Tinamus tao Temminck, 1815 azulona ● ● [Tinamus major (Gmelin, 1789)]a inhambu-de-cabeça-vermelha ● Tinamus guttatus Pelzeln, 1863 inhambu-galinha ● ● Crypturellus cinereus (Gmelin, 1789) inhambu-preto ● ● ● ● Crypturellus soui (Hermann, 1783) tururim ● ● ● ● Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) jaó ● Crypturellus strigulosus (Temminck, 1815) inhambu-relógio ● ● ● Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789) inhambu-anhangá ● ● ● ● Anseriformes Linnaeus, 1758 Anatidae Leach, 1820 Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) asa-branca ● Galliformes Linnaeus, 1758 Cracidae Rafinesque, 1815 Ortalis guttata (Spix, 1825)
aracuã ● ●
Penelope sp. b ● ● Penelope pileata Wagler, 1830 jacupiranga ● Aburria cujubi (Pelzeln, 1858) cujubi ● ● Pauxi tuberosa (Spix, 1825) mutum-cavalo ● Odontophoridae Gould, 1844 Odontophorus gujanensis (Gmelin, 1789) uru-corcovado ● ● ● Suliformes Sharpe, 1891 Anhingidae Reichenbach, 1849 Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) biguatinga ●
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Pelecaniformes Sharpe, 1891 Ardeidae Leach, 1820
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) socó-boi ● Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) savacu ● Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca-grande ● Threskiornithidae Poche, 1904 Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) coró-coró ● ● Cathartiformes Seebohm, 1890 Cathartidae Lafresnaye, 1839 Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-de-cabeça-vermelha ● ● Cathartes burrovianus Cassin, 1845 urubu-de-cabeça-amarela ● Cathartes melambrotus Wetmore, 1964 urubu-da-mata ● ● ● ● Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta ● ● ● Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) urubu-rei ● ● Accipitriformes Bonaparte, 1831 Pandionidae Bonaparte, 1854 Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758) águia-pescadora ● Accipitridae Vigors, 1824 Leptodon cayanensis (Latham, 1790) gavião-de-cabeça-cinza ● Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758) gavião-tesoura ● ● ● Harpagus bidentatus (Latham, 1790) gavião-ripina ● Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) sovi ● ● Busarellus nigricollis (Latham, 1790) gavião-belo ● Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) gavião-caramujeiro ● [Accipiter bicolor (Vieillot, 1817)] gavião-bombachinha-grande ● Leucopternis kuhli Bonaparte, 1850 gavião-vaqueiro ● ● Pseudastur albicollis (Latham, 1790) gavião-branco ● ●
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Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788) gavião-preto ● ● Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó ● ● Buteo nitidus (Latham, 1790) gavião-pedrês ● Buteo brachyurus Vieillot, 1816 gavião-de-cauda-curta ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Morphnus guianensis (Daudin, 1800) uiraçu-falso Harpia harpyja (Linnaeus, 1758) gavião-real ● Spizaetus tyrannus (Wied, 1820) gavião-pega-macaco ● Spizaetus ornatus (Daudin, 1800) gavião-de-penacho ● ● ● Falconiformes Bonaparte, 1831 Falconidae Leach, 1820 Daptrius ater Vieillot, 1816 gavião-de-anta ● ● Ibycter americanus (Boddaert, 1783) gralhão ● ● ● Caracara plancus (Miller, 1777) caracará ● Milvago chimachima (Vieillot, 1816) carrapateiro ● ● Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) acauã ● ● ● Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817) falcão-caburé ● ● ● ● Micrastur mintoni Whittaker, 2002 falcão-críptico ● ● ● Micrastur mirandollei (Schlegel, 1862) tanatau ● ● Micrastur semitorquatus (Vieillot, 1817) falcão-relógio ● ● ● Falco rufigularis Daudin, 1800 cauré ● Gruiformes Bonaparte, 1854 Psophiidae Bonaparte, 1831 Psophia viridis Spix, 1825 jacamim-de-costas-verdes ● ● ● Rallidae Rafinesque, 1815 Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes ● ● Laterallus viridis (Statius Muller, 1776) sanã-castanha ● Porzana albicollis (Vieillot, 1819) sanã-carijó ● Heliornithidae Gray, 1840
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Heliornis fulica (Boddaert, 1783) picaparra ● Charadriiformes Huxley, 1867 Charadriidae Leach, 1820 Vanellus cayanus (Latham, 1790) batuíra-de-esporão ● Charadrius collaris Vieillot, 1818 batuíra-de-coleira ● Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã ● Sternidae Vigors, 1825 Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) trinta-réis-grande ● ● Columbiformes Latham, 1790 Columbidae Leach, 1820 Columbina passerina (Linnaeus, 1758) rolinha-cinzenta ● ● [Columbina minuta (Linnaeus, 1766)] rolinha-de-asa-canela ● Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa ● ● Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886) pararu-azul ● Patagioenas speciosa (Gmelin, 1789) pomba-trocal ● ● Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) pomba-galega ● ● ● Patagioenas plumbea (Vieillot, 1818) pomba-amargosa ● ● ● Patagioenas subvinacea (Lawrence, 1868) pomba-botafogo ● ● ● Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) pomba-de-bando ● Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu ● ● Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) juriti-gemedeira ● ● ● Geotrygon montana (Linnaeus, 1758) pariri ● Psittaciformes Wagler, 1830 Psittacidae Rafinesque, 1815 Ara macao (Linnaeus, 1758) araracanga ● Ara chloropterus Gray, 1859 arara-vermelha-grande ● ● Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783) maracanã-do-buriti ● ● ●
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Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) periquitão-maracanã ● ● Aratinga aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei ● Pyrrhura perlata (Spix, 1824) tiriba-de-barriga-vermelha ● Pyrrhura amazonum Hellmayr, 1906 tiriba-de-hellmayr ● ● ● Brotogeris chrysoptera (Linnaeus, 1766) periquito-de-asa-dourada ● ● ● ● Touit purpuratus (Gmelin, 1788) apuim-de-costas-azuis ● Pyrilia vulturina (Kuhl, 1820) curica-urubu ● ● Pionus menstruus (Linnaeus, 1766) maitaca-de-cabeça-azul ● ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Pionus fuscus (Statius Muller, 1776) maitaca-roxa ● ● ● ● Amazona farinosa (Boddaert, 1783) papagaio-moleiro ● ● ● ● Amazona amazonica (Linnaeus, 1766) curica ● Amazona autumnalis (Linnaeus, 1758) papagaio-diadema ● Amazona ochrocephala (Gmelin, 1788) papagaio-campeiro ● ● ● ● Deroptyus accipitrinus (Linnaeus, 1758) anacã ● ● ● Cuculiformes Wagler, 1830 Cuculidae Leach, 1820 Coccycua minuta (Vieillot, 1817) chincoã-pequeno ● Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato ● ● ● ● Piaya melanogaster (Vieillot, 1817) chincoã-de-bico-vermelho ● ● Crotophaga major Gmelin, 1788 anu-coroca ● ● Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto ● ● ● Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci ● Neomorphus squamiger Todd, 1925 jacu-estalo-escamoso ● Strigiformes Wagler, 1830 Strigidae Leach, 1820 Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato ● ● ● Megascops usta (Sclater, 1858) corujinha-relógio ● ● ● ● Lophostrix cristata (Daudin, 1800) coruja-de-crista ● ●
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Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790) murucututu ● ● Strix sp. ● ● Glaucidium hardyi Vielliard, 1990 caburé-da-amazônia ● ● ● ● Caprimulgiformes Ridgway, 1881 Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius aethereus (Wied, 1820) mãe-da-lua-parda ● Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) mãe-da-lua ● ● ● Nyctibius bracteatus Gould, 1846 urutau-ferrugem ● ● Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctiphrynus ocellatus (Tschudi, 1844) bacurau-ocelado ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Antrostomus rufus (Boddaert, 1783) joão-corta-pau ● Antrostomus sericocaudatus Cassin, 1849 bacurau-rabo-de-seda ● ● ● Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789) tuju ● ● ● Hydropsalis leucopyga (Spix, 1825) bacurau-de-cauda-barrada ● Hydropsalis nigrescens (Cabanis, 1848) bacurau-de-lajeado ● ● Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789) bacurau ● ● ● Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) bacurau-tesoura ● Chordeiles acutipennis (Hermann, 1783) bacurau-de-asa-fina ● Apodiformes Peters, 1940 Apodidae Olphe-Galliard, 1887 [Chaetura spinicaudus (Temminck, 1839)] andorinhão-de-sobre-branco ● ● Chaetura cinereiventris Sclater, 1862 andorinhão-de-sobre-cinzento ● Chaetura brachyura (Jardine, 1846) andorinhão-de-rabo-curto ● ● Tachornis squamata (Cassin, 1853) andorinhão-do-buriti ● Panyptila cayennensis (Gmelin, 1789) andorinhão-estofador ● ● ● Trochilidae Vigors, 1825 Phaethornis rupurumii Boucard, 1892 rabo-branco-do-rupununi ● Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758) rabo-branco-rubro ● ● ● ●
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Phaethornis malaris (Nordmann, 1835) besourão-de-bico-grande ● ● ● Campylopterus largipennis (Boddaert, 1783) asa-de-sabre-cinza ● Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) beija-flor-de-veste-preta ● [Topaza pella (Linnaeus, 1758)] beija-flor-brilho-de-fogo ● Discosura longicaudus (Gmelin, 1788) bandeirinha ● Chlorostilbon notatus (Reich, 1793) beija-flor-de-garganta-azul ● Thalurania furcata (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura-verde ● ● ● ● Polytmus theresiae (Da Silva Maia, 1843) beija-flor-verde ● Heliomaster longirostris (Audebert & Vieillot, 1801)
bico-reto-cinzento ● Trogoniformes A. O. U., 1886 Trogonidae Lesson, 1828
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Trogon melanurus Swainson, 1838 surucuá-de-cauda-preta ● ● ● ● Trogon viridis Linnaeus, 1766 surucuá-grande-de-barriga-amarela ● ● ● ● Trogon ramonianus Deville & DesMurs, 1849 surucuá-pequeno ● ● ● Trogon curucui Linnaeus, 1766 surucuá-de-barriga-vermelha ● ● ● Trogon rufus Gmelin, 1788 surucuá-de-barriga-amarela ● ● ● ● Coraciiformes Forbes, 1844 Alcedinidae Rafinesque, 1815 Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) martim-pescador-grande ● ● ● Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde ● ● ● ● Chloroceryle aenea (Pallas, 1764) martinho ● Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) martim-pescador-pequeno ● Momotidae Gray, 1840 Baryphthengus martii (Spix, 1824) juruva-ruiva ● ● Momotus momota (Linnaeus, 1766) udu-de-coroa-azul ● ● ● ● Galbuliformes Fürbringer, 1888 Galbulidae Vigors, 1825
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Galbula cyanicollis Cassin, 1851 ariramba-da-mata ● ● ● Galbula leucogastra Vieillot, 1817 ariramba-bronzeada ● ● ● Galbula dea (Linnaeus, 1758) ariramba-do-paraíso ● ● ● Jacamerops aureus (Statius Muller, 1776) jacamaraçu ● ● ● ● Bucconidae Horsfield, 1821 Notharchus hyperrhynchus (Sclater, 1856) macuru-de-testa-branca ● ● ● ● Notharchus tectus (Boddaert, 1783) macuru-pintado ● ● ● ● Bucco tamatia Gmelin, 1788 rapazinho-carijó ● ● ● Bucco capensis Linnaeus, 1766 rapazinho-de-colar ● ● ● Malacoptila rufa (Spix, 1824) barbudo-de-pescoço-ferrugem ● ● ● Nonnula [rubecula] (Spix, 1824) macuru ● ● Monasa morphoeus (Hahn & Küster, 1823) chora-chuva-de-cara-branca ● ● ● ● Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) Urubuzinho ● ● ● Piciformes Meyer & Wolf, 1810
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Capitonidae Bonaparte, 1838 Capito brunneipectus Chapman, 1921 capitão-de-peito-marrom ● ● ● ● Ramphastidae Vigors, 1825 Ramphastos tucanus Linnaeus, 1758 tucano-grande-de-papo-branco ● ● ● ● Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823 tucano-de-bico-preto ● ● ● ● Selenidera gouldii (Natterer, 1837) saripoca-de-gould ● ● Pteroglossus bitorquatus Vigors, 1826 araçari-de-pescoço-vermelho ● ● ● Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) araçari-de-bico-branco ● ● ● ● Picidae Leach, 1820 Picumnus aurifrons Pelzeln, 1870 pica-pau-anão-dourado ● ● ● Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783) benedito-de-testa-vermelha ● ● ● ● Veniliornis affinis (Swainson, 1821) picapauzinho-avermelhado ● ● ● ● Piculus flavigula (Boddaert, 1783) pica-pau-bufador ● ● ● ● Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818) pica-pau-dourado-escuro ●
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Celeus grammicus (Natterer & Malherbe, 1845) picapauzinho-chocolate ● ● Celeus elegans (Statius Muller, 1776) pica-pau-chocolate ● ● Celeus flavus (Statius Muller, 1776) pica-pau-amarelo ● ● ● ● Celeus torquatus (Boddaert, 1783) pica-pau-de-coleira ● ● ● Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) pica-pau-de-banda-branca ● ● Campephilus rubricollis (Boddaert, 1783) pica-pau-de-barriga-vermelha ● ● ● Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) pica-pau-de-topete-vermelho ● ● ● Passeriformes Linnaeus, 1758 Thamnophilidae Swainson, 1824 Terenura spodioptila Sclater & Salvin, 1881 zidedê-de-asa-cinza ● ● Myrmornis torquata (Boddaert, 1783) pinto-do-mato-carijó ● ● Microrhopias quixensis (Cornalia, 1849) papa-formiga-de-bando ● ● ● ● Myrmeciza ferruginea (Statius Muller, 1776) formigueiro-ferrugem ● Myrmeciza atrothorax (Boddaert, 1783) formigueiro-de-peito-preto ● ● Epinecrophylla leucophthalma (Pelzeln, 1868) choquinha-de-olho-branco ● ● ● Epinecrophylla ornata (Sclater, 1853) choquinha-ornada ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Myrmotherula brachyura (Hermann, 1783) choquinha-miúda ● ● ● ● Myrmotherula sclateri Snethlage, 1912 choquinha-de-garganta-amarela ● ● ● ● Myrmotherula multostriata Sclater, 1858 choquinha-estriada-da-amazônia ● Myrmotherula hauxwelli (Sclater, 1857) choquinha-de-garganta-clara ● ● ● ● Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817) choquinha-de-flanco-branco ● ● ● Myrmotherula longipennis Pelzeln, 1868 choquinha-de-asa-comprida ● ● ● Myrmotherula iheringi Snethlage, 1914 choquinha-de-ihering ● ● Myrmotherula menetriesii (d'Orbigny, 1837) choquinha-de-garganta-cinza ● ● ● Formicivora grisea (Boddaert, 1783) papa-formiga-pardo ● Thamnomanes saturninus (Pelzeln, 1878) uirapuru-selado ● ● ● ● Thamnomanes caesius (Temminck, 1820) ipecuá ● ● ● ● [Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764)] choca-barrada ●
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Thamnophilus schistaceus d'Orbigny, 1835 choca-de-olho-vermelho ● ● ● ● Thamnophilus stictocephalus Pelzeln, 1868 choca-de-natterer ● ● ● Thamnophilus aethiops Sclater, 1858 choca-lisa ● ● ● ● Thamnophilus amazonicus Sclater, 1858 choca-canela ● Cymbilaimus lineatus (Leach, 1814) papa-formiga-barrado ● ● ● ● Taraba major (Vieillot, 1816) choró-boi ● ● ● Sclateria naevia (Gmelin, 1788) papa-formiga-do-igarapé ● ● ● ● Hylophylax punctulatus (Des Murs, 1856) guarda-várzea ● ● ● Myrmoborus myotherinus (Spix, 1825) formigueiro-de-cara-preta ● ● ● ● Cercomacra cinerascens (Sclater, 1857) chororó-pocuá ● ● ● ● Cercomacra nigrescens (Cabanis & Heine, 1859) chororó-negro ● ● ● ● Cercomacra manu Fitzpatrick & Willard, 1990 chororó-de-manu ● Hypocnemis striata (Spix, 1825) cantador-estriado ● ● ● ● Willisornis poecilinotus (Cabanis, 1847) rendadinho ● ● ● Phlegopsis nigromaculata (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
mãe-de-taoca ● ● ● ● Phlegopsis borbae Hellmayr, 1907 mãe-de-taoca-dourada ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Rhegmatorhina berlepschi (Snethlage, 1907) mãe-de-taoca-arlequim ● ● Conopophagidae Sclater & Salvin, 1873 Conopophaga melanogaster Ménétriès, 1835 chupa-dente-grande ● Grallariidae Sclater & Salvin, 1873 Grallaria varia (Boddaert, 1783) tovacuçu ● ● ● Hylopezus whittakeri Carneiro et al. 2012 torom-carijó ● ● Hylopezus berlepschi (Hellmayr, 1903) torom-torom ● Myrmothera campanisona (Hermann, 1783) tovaca-patinho ● ● ● ● Rhinocryptidae Wetmore, 1930 (1837) Liosceles thoracicus (Sclater, 1865) corneteiro-da-mata ●
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Formicariidae Gray, 1840 Formicarius colma Boddaert, 1783 galinha-do-mato ● ● ● ● Formicarius analis (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
pinto-do-mato-de-cara-preta ● ● ● Scleruridae Swainson, 1827 Sclerurus mexicanus Sclater, 1857 vira-folha-de-peito-vermelho ● ● Sclerurus rufigularis Pelzeln, 1868 vira-folha-de-bico-curto ● ● Sclerurus caudacutus (Vieillot, 1816) vira-folha-pardo ● ● Dendrocolaptidae Gray, 1840 Dendrocincla fuliginosa (Vieillot, 1818) arapaçu-pardo ● ● ● Dendrocincla merula (Lichtenstein, 1829) arapaçu-da-taoca ● ● Deconychura longicauda (Pelzeln, 1868) arapaçu-rabudo ● ● ● Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) arapaçu-verde ● ● ● ● Certhiasomus stictolaemus (Pelzeln, 1868) arapaçu-de-garganta-pintada ● Glyphorynchus spirurus (Vieillot, 1819) arapaçu-de-bico-de-cunha ● ● ● ● Xiphorhynchus ocellatus (Spix, 1824) arapaçu-ocelado ● ● ● ● Xiphorhynchus spixii (Lesson, 1830) arapaçu-de-spix Xiphorhynchus obsoletus (Lichtenstein, 1820) arapaçu-riscado ● ● Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820) arapaçu-de-garganta-amarela ● ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Campylorhamphus procurvoides (Lafresnaye, 1850)
arapaçu-de-bico-curvo ● ● Dendroplex picus (Gmelin, 1788) arapaçu-de-bico-branco ● ● ● Lepidocolaptes albolineatus (Lafresnaye, 1845) arapaçu-de-listras-brancas ● ● ● ● Dendrocolaptes certhia (Boddaert, 1783) arapaçu-barrado ● ● ● ● Dendrocolaptes hoffmannsi Hellmayr, 1909 arapaçu-marrom ● ● ● Xiphocolaptes promeropirhynchus (Lesson, 1840)
arapaçu-vermelho ● ● ● ●
59
Hylexetastes uniformisHellmayr, 1909 arapaçu-uniforme ● ● ● ● Furnariidae Gray, 1840 Xenops minutus (Sparrman, 1788) bico-virado-miúdo ● ● ● Berlepschia rikeri (Ridgway, 1886) limpa-folha-do-buriti ● Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) casaca-de-couro-da-lama ● Ancistrops strigilatus (Spix, 1825) limpa-folha-picanço ● ● Automolus ochrolaemus (Tschudi, 1844) barranqueiro-camurça ● ● ● Philydor ruficaudatum (d'Orbigny & Lafresnaye, 1838)
limpa-folha-de-cauda-ruiva ● Philydor erythrocercum (Pelzeln, 1859) limpa-folha-de-sobre-ruivo ● ● ● Philydor erythropterum (Sclater, 1856) limpa-folha-de-asa-castanha ● ● Philydor pyrrhodes (Cabanis, 1848) limpa-folha-vermelho ● ● Synallaxis rutilans Temminck, 1823 joão-teneném-castanho ● ● Pipridae Rafinesque, 1815 Tyranneutes stolzmanni (Hellmayr, 1906) uirapuruzinho ● ● ● ● Pipra rubrocapilla Temminck, 1821 cabeça-encarnada ● ● ● ● Lepidothrix nattereri (Sclater, 1865) uirapuru-de-chapéu-branco ● ● ● ● Manacus manacus (Linnaeus, 1766) rendeira ● Heterocercus linteatus (Strickland, 1850) coroa-de-fogo ● Machaeropterus pyrocephalus (Sclater, 1852) uirapuru-cigarra ● Tityridae Gray, 1840 Onychorhynchus coronatus (Statius Muller, maria-leque ● ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã 1776) Terenotriccus erythrurus (Cabanis, 1847) papa-moscas-uirapuru ● ● ● ● Myiobius barbatus (Gmelin, 1789) assanhadinho ● ● Schiffornis turdina (Wied, 1831) flautim-marrom ● ● ● ● Laniocera hypopyrra (Vieillot, 1817) chorona-cinza ● ● ● Tityra semifasciata (Spix, 1825) Masked Tityra ●
60
Pachyramphus rufus (Boddaert, 1783) caneleiro-cinzento ● Pachyramphus castaneus (Jardine & Selby, 1827)
caneleiro ● Pachyramphus marginatus (Lichtenstein, 1823) caneleiro-bordado ● ● ● ● Pachyramphus surinamus (Linnaeus, 1766) caneleiro-da-guiana ● ● Pachyramphus minor (Lesson, 1830) caneleiro-pequeno ● ● ● ● Cotingidae Bonaparte, 1849 Lipaugus vociferans (Wied, 1820) cricrió ● ● ● ● Xipholena lamellipennis (Lafresnaye, 1839) anambé-de-rabo-branco ● ● Phoenicircus carnifex (Linnaeus, 1758) saurá-de-pescoço-preto ● ● ● Incertae sedis Platyrinchus saturatus Salvin & Godman, 1882 patinho-escuro ● ● Platyrinchus platyrhynchos (Gmelin, 1788) patinho-de-coroa-branca ● ● ● Piprites chloris (Temminck, 1822) papinho-amarelo ● ● ● Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907 Mionectes macconnelli (Chubb, 1919) abre-asa-da-mata ● ● Corythopis torquatus (Tschudi, 1844) estalador-do-norte ● ● Rhynchocyclus olivaceus (Temminck, 1820) bico-chato-grande ● ● ● Tolmomyias assimilis (Pelzeln, 1868) bico-chato-da-copa ● ● Tolmomyias poliocephalus (Taczanowski, 1884) bico-chato-de-cabeça-cinza ● ● ● ● Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) bico-chato-amarelo ● ● Todirostrum maculatum (Desmarest, 1806) ferreirinho-estriado ● Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Todirostrum chrysocrotaphum Strickland, 1850 ferreirinho-de-sobrancelha ● ● ● Poecilotriccus senex (Pelzeln, 1868) maria-do-madeira ● Myiornis ecaudatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
61
caçula ● ● ● ● Hemitriccus minor (Snethlage, 1907) maria-sebinha ● ● ● ● Hemitriccus minimus (Todd, 1925) maria-mirim ● ● ● Tyrannidae Vigors, 1825 Zimmerius gracilipes (Sclater & Salvin, 1868) poiaeiro-de-pata-fina ● ● ● ● Ornithion inerme Hartlaub, 1853 poiaeiro-de-sobrancelha ● ● ● ● Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) risadinha ● ● ● Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de-barriga-amarela ● ● Myiopagis gaimardii (d'Orbigny, 1839) maria-pechim ● ● ● ● Myiopagis caniceps (Swainson, 1835) guaracava-cinzenta ● ● ● Tyrannulus elatus (Latham, 1790) maria-te-viu ● ● ● ● Phaeomyias murina (Spix, 1825) bagageiro ● ● Attila cinnamomeus (Gmelin, 1789) tinguaçu-ferrugem ● Attila spadiceus (Gmelin, 1789) capitão-de-saíra-amarelo ● ● ● ● Legatus leucophaius (Vieillot, 1818) bem-te-vi-pirata ● ● Ramphotrigon ruficauda (Spix, 1825) bico-chato-de-rabo-vermelho ● ● ● ● Myiarchus tuberculifer (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
maria-cavaleira-pequena ● ● ● ● Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira ● ● ● Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado ● ● ● Rhytipterna simplex (Lichtenstein, 1823) vissiá ● ● ● ● Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi ● ● ● ● Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823) bentevizinho-do-brejo ● ● ● Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) bem-te-vi-rajado ● ● ● Tyrannopsis sulphurea (Spix, 1825) suiriri-de-garganta-rajada ● Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei ● Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) bentevizinho-de-asa-ferrugínea ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Myiozetetes luteiventris (Sclater, 1858) bem-te-vi-barulhento ● ● ●
62
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri ● ● ● ● Griseotyrannus aurantioatrocristatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
peitica-de-chapéu-preto ● Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica ● ● ● Conopias trivirgatus (Wied, 1831) bem-te-vi-pequeno ● ● ● ● Conopias parvus (Pelzeln, 1868) bem-te-vi-da-copa ● ● ● ● Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868) enferrujado ● Contopus nigrescens (Sclater & Salvin, 1880) piui-preto ● ● Vireonidae Swainson, 1837 Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari ● ● ● Vireolanius leucotis (Swainson, 1838) assobiador-do-castanhal ● ● ● Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) juruviara ● ● ● ● Hylophilus semicinereus Sclater & Salvin, 1867 verdinho-da-várzea ● ● ● Hylophilus muscicapinus Sclater & Salvin, 1873 vite-vite-camurça ● ● ● ● Hylophilus ochraceiceps Sclater, 1860 vite-vite-uirapuru ● ● ● Hirundinidae Rafinesque, 1815 Atticora fasciata (Gmelin, 1789) peitoril ● Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora ● Progne chalybea (Gmelin, 1789) andorinha-doméstica-grande ● ● Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio ● ● Hirundo rustica Linnaeus, 1758 andorinha-de-bando ● Troglodytidae Swainson, 1831 Microcerculus marginatus (Sclater, 1855) uirapuru-veado ● ● ● Odontorchilus cinereus (Pelzeln, 1868) cambaxirra-cinzenta ● ● Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra ● ● ● Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831) catatau ● Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838) garrinchão-pai-avô ● ● ● ● Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845) garrinchão-de-barriga-vermelha ● ● ●
Famílias e Espécies Nome em português Localidades
63
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Cyphorhinus arada (Hermann, 1783) uirapuru-verdadeiro ● Polioptilidae Baird, 1858 Ramphocaenus melanurus Vieillot, 1819 bico-assovelado ● ● Polioptila paraensis Todd, 1937 balança-rabo-paraense ● Turdidae Rafinesque, 1815 Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco ● Turdus albicollis Vieillot, 1818 sabiá-coleira ● ● ● Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye, 1838 Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica ● ● Thraupidae Cabanis, 1847 Saltator grossus (Linnaeus, 1766) bico-encarnado ● ● ● Saltator maximus (Statius Muller, 1776) tempera-viola ● ● Lamprospiza melanoleuca (Vieillot, 1817) pipira-de-bico-vermelho ● ● ● ● Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) pipira-vermelha ● ● ● ● Lanio cristatus (Linnaeus, 1766) tiê-galo ● ● ● ● Lanio versicolor (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) pipira-de-asa-branca ● ● Lanio surinamus (Linnaeus, 1766) tem-tem-de-topete-ferrugíneo ● Tangara chilensis (Vigors, 1832) sete-cores-da-amazônia ● Tangara velia (Linnaeus, 1758) saíra-diamante ● ● Tangara episcopus (Linnaeus, 1766) sanhaçu-da-amazônia ● Tangara palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro ● ● Paroaria gularis (Linnaeus, 1766) cardeal-da-amazônia ● Cyanicterus cyanicterus (Vieillot, 1819) pipira-azul ● Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) saí-azul ● Cyanerpes nitidus (Hartlaub, 1847) saí-de-bico-curto ● Cyanerpes caeruleus (Linnaeus, 1758) saí-de-perna-amarela ● ● ● Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) saíra-beija-flor ● Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) saíra-de-papo-preto ● ●
64
Emberizidae Vigors, 1825 Famílias e Espécies Nome em português Localidades
Nova Canaã Alto Mentai Tucumatuba Capixauã Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo ● Ammodramus aurifrons (Spix, 1825) cigarrinha-do-campo ● Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu ● ● ● Cardinalidae Ridgway, 1901 Habia rubica (Vieillot, 1817) tiê-do-mato-grosso ● ● ● Granatellus pelzelni Sclater, 1865 polícia-do-mato ● ● Caryothraustes canadensis (Linnaeus, 1766) furriel ● ● ● ● Cyanoloxia cyanoides (Lafresnaye, 1847) azulão-da-amazônia ● ● ● ● Icteridae Vigors, 1825 Psarocolius viridis (Statius Muller, 1776) japu-verde ● ● ● ● Psarocolius decumanus (Pallas, 1769) japu ● [Psarocolius bifasciatus (Spix, 1824)] japuaçu ● Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) guaxe ● Cacicus cela (Linnaeus, 1758) xexéu ● ● ● ● Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) encontro ● ● Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna ● Molothrus oryzivorus (Gmelin, 1788) iraúna-grande ● ● Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) vira-bosta ● Sturnella militaris (Linnaeus, 1758) polícia-inglesa-do-norte ● Fringillidae Leach, 1820 Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim ● Euphonia rufiventris (Vieillot, 1819) gaturamo-do-norte ●
a Espécies ou epítetos específicos entre colchetes referem-se a táxon cuja presença na Resex Tapajós-Arapiuns não pode ser verificada com absoluta certeza em função de condições não ideais de detecção visual e/ou auditivas. b As letras sp. seguidas por um gênero indicam a presença de uma espécie distinta para o gênero em questão na área de estudo, mas cuja identificação a nível específico não pode ainda ser feita com segurança.
65
ANEXO 2 Espécimes coletados na Resex Tapajós-Arapiuns. Os número de tombo são aqueles da
Coleção Ornitológica Fernando C. Novaes do Museu Paraense Emílio Goeldi.
n. de coleção Espécie Localidade
72300 Nyctibius bracteatus Nova Canaã
72301 Nyctibius bracteatus Nova Canaã
72302 Geotrygon montana Alto Mentai
72303 Geotrygon montana Alto Mentai
72304 Geotrygon montana Alto Mentai
72305 Campylopterus largipennis Alto Mentai
72306 Campylopterus largipennis Alto Mentai
72307 Heliomaster longirostris Alto Mentai
72308 Micrastur ruficollis Alto Mentai
72309 Piculus flavigula Alto Mentai
72310 Galbula dea Alto Mentai
72311 Galbula cyanicollis Nova Canaã
72312 Jacamerops aureus Nova Canaã
72313 Trogon rufus Nova Canaã
72314 Ramphastos vitellinus Nova Canaã
72315 Malacoptila rufa Alto Mentai
72316 Malacoptila rufa Nova Canaã
72317 Bucco capensis Nova Canaã
72318 Lepidocolates albolineatus Nova Canaã
72319 Xiphorhynchus ocellatus Nova Canaã
72320 Xiphorhynchus ocellatus Nova Canaã
72321 Glyphorynchus spirurus Nova Canaã
72322 Dendrocincla merula Nova Canaã
72323 Dendrocincla merula Nova Canaã
72324 Dendrocincla merula Nova Canaã
72325 Dendrocincla merula Alto Mentai
72326 Dendrocincla merula Alto Mentai
72327 Sittasomus griseicapillus Alto Mentai
72328 Sittasomus griseicapillus Alto Mentai
66
72329 Dendrocolaptes certhia Alto Mentai
72330 Dendrocolaptes certhia Alto Mentai
72331 Ancistrops strigilatus Alto Mentai
72332 Dendrocolaptes hoffmannsi Alto Mentai
72333 Hylexetastes uniformis Nova Canaã
72334 Hylexetastes uniformis Nova Canaã
72335 Hylexetastes uniformis Nova Canaã
72336 Myrmotherula brachyura Nova Canaã
n. de coleção Espécie Localidade
72337 Myrmotherula menetriesii Nova Canaã
72338 Myrmotherula menetriesii Alto Mentai
72339 Myrmotherula iheringi Alto Mentai
72340 Myrmotherula longipennis Alto Mentai
72341 Myrmotherula axillaris Alto Mentai
72342 Myrmotherula axillaris Alto Mentai
72343 Myrmotherula axillaris Alto Mentai
72344 Microrhopias quixensis Alto Mentai
72345 Thamnomanes saturninus Nova Canaã
72346 Thamnomanes saturninus Alto Mentai
72347 Thamnomanes caesius Alto Mentai
72348 Thamnophilus schistaceus Alto Mentai
72349 Willisornis poecilinotus Alto Mentai
72350 Willisornis poecilinotus Alto Mentai
72351 Willisornis poecilinotus Alto Mentai
72352 Phlegopsis nigromaculata Nova Canaã
72353 Formicarius colma Nova Canaã
72354 Formicarius colma Alto Mentai
72355 Formicarius colma Alto Mentai
72356 Conopophaga melanogaster Alto Mentai
72357 Thamnophilus aethiops Alto Mentai
72358 Thamnomanes caesius Alto Mentai
72359 Myrmotherula longipennis Alto Mentai
67
72360 Sclerurus caudacutus Alto Mentai
72361 Sclerurus rufigularis Alto Mentai
72362 Sclerurus rufigularis Alto Mentai
72363 Sclerurus rufigularis Alto Mentai
72364 Sclerurus caudacutus Nova Canaã
72365 Terenotriccus erythrurus Nova Canaã
72366 Terenotriccus erythrurus Nova Canaã
72367 Hemitriccus minor Nova Canaã
72368 Hemitriccus minor Nova Canaã
72369 Hemitriccus minor Alto Mentai
72370 Hemitriccus minor Alto Mentai
72371 Hemitriccus minor Alto Mentai
72372 Zimmerius gracilipes Alto Mentai
72373 Tolmomyias assimilis Alto Mentai
72374 Onychorhynchus coronatus Alto Mentai
72375 Onychorhynchus coronatus Nova Canaã
72376 Rhynchocyclus olivaceus Nova Canaã
72377 Myiobius barbatus Nova Canaã
n. de coleção Espécie Localidade
72378 Attila spadiceus Nova Canaã
72379 Conopias parvus Nova Canaã
72380 Conopias trivirgatus Alto Mentai
72381 Legatus leucophaius Alto Mentai
72382 Phoenicircus carnifex Alto Mentai
72383 Phoenicircus carnifex Alto Mentai
72384 Lepidothrix nattereri Alto Mentai
72385 Lepidothrix nattereri Alto Mentai
72386 Lepidothrix nattereri Alto Mentai
72387 Pipra rubrocapilla Alto Mentai
72388 Pipra rubrocapilla Nova Canaã
72389 Lepidothrix nattereri Nova Canaã
72390 Lipaugus vociferans Nova Canaã
68
72391 Schiffornis turdina Nova Canaã
72392 Schiffornis turdina Nova Canaã
72393 Lepidothrix nattereri Nova Canaã
72394 Schiffornis turdina Alto Mentai
72395 Hylophilus muscicapinus Alto Mentai
72396 Hylophilus semicinereus Nova Canaã
72397 Hylophilus ochraceiceps Nova Canaã
72398 Lanio versicolor Nova Canaã
72399 Lanio versicolor Nova Canaã
72400 Habia rubica Nova Canaã
72401 Habia rubica Nova Canaã
72402 Habia rubica Nova Canaã
72403 Habia rubica Nova Canaã
72404 Habia rubica Nova Canaã
72405 Turdus albicollis Alto Mentai
72406 Hemithraupis guira Alto Mentai
72407 Tangara velia Alto Mentai
72408 Cyanoloxia cyanoides Alto Mentai
72409 Cyanoloxia cyanoides Alto Mentai
72410 Cyanoloxia cyanoides Alto Mentai
74094 Megascops usta Tucumatuba
74095 Trogon viridis Tucumatuba
74096 Megascops usta Tucumatuba
74097 Megascops usta Tucumatuba
74098 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
74099 Phlegopsis nigromaculata Tucumatuba
74100 Thalurania furcata Tucumatuba
74101 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
n. de coleção Espécie Localidade
74102 Xiphorhynchus ocellatus Tucumatuba
74103 Pipra rubrocapilla Tucumatuba
74104 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
69
74105 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
74106 Dendrocincla fuliginosa Tucumatuba
74107 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
74108 Dendrocolaptes hoffmannsi Tucumatuba
74109 Pachyramphus marginatus Tucumatuba
74110 Glyphorynchus spirurus Tucumatuba
74111 Leptotila rufaxilla Tucumatuba
74112 Lepidothrix nattereri Tucumatuba
74113 Onychorhynchus coronatus Tucumatuba
74114 Onychorhynchus coronatus Tucumatuba
74115 Xenops minutus Tucumatuba
74116 Lepidothrix nattereri Tucumatuba
74117 Deconychura longicauda Tucumatuba
74118 Conopias parvus Tucumatuba
74119 Pipra rubrocapilla Tucumatuba
74120 Epinecrophylla leucophthalma Tucumatuba
74121 Lepidothrix nattereri Tucumatuba
74122 Thamnophilus aethiops Tucumatuba
74123 Thamnomanes caesius Tucumatuba
74124 Thamnomanes caesius Tucumatuba
74125 Thamnomanes caesius Tucumatuba
74126 Pipra rubrocapilla Tucumatuba
74127 Pipra rubrocapilla Tucumatuba
74128 Rhegmatorhina berlepschi Tucumatuba
74129 Habia rubica Tucumatuba
74130 Myrmotherula longipennis Tucumatuba
74131 Lepidothrix nattereri Tucumatuba
74132 Thamnomanes saturninus Tucumatuba
74133 Hylexetastes uniformis Tucumatuba
74134 Hylexetastes uniformis Tucumatuba
74135 Hylophilus muscicapinus Tucumatuba
74136 Celeus flavus Tucumatuba
70
74137 Micrastur mintoni Tucumatuba
74138 Habia rubica Capixauã
74139 Phaethornis rupurumii Capixauã
74140 Rhytipterna simplex Capixauã
74141 Trogon viridis Capixauã
74142 Pseudastur albicollis Capixauã
n. de coleção Espécie Localidade
74143 Myiodynastes maculatus Capixauã
74144 Thalurania furcata Capixauã
74145 Caryothraustes canadensis Capixauã
74146 Caryothraustes canadensis Capixauã
74147 Caryothraustes canadensis Capixauã
74148 Conopias parvus Capixauã
74149 Hemitriccus minor Capixauã
74150 Myiopagis gaimardii Capixauã
74151 Thamnophilus stictocephalus Capixauã
74152 Pteroglossus aracari Capixauã
74153 Attila spadiceus Capixauã
74154 Pipra rubrocapilla Capixauã
74155 Thalurania furcata Capixauã
74156 Campephilus melanoleucos Capixauã
74157 Formicivora grisea Capixauã
74158 Hylophilus muscicapinus Capixauã
74159 Myiarchus tyrannulus Capixauã
74160 Pipra rubrocapilla Capixauã
74161 Cyanerpes cyaneus Capixauã
74162 Tyranneutes stolzmanni Capixauã
74163 Hemitriccus minor Capixauã
74164 Tolmomyias poliocephalus Capixauã
74165 Griseotyrannus aurantioatrocristatus Capixauã
74166 Xiphorhynchus ocellatus Capixauã
74167 Xiphorhynchus ocellatus Capixauã
71
74168 Habia rubica Capixauã
74169 Formicarius colma Capixauã
74170 Myiobius barbatus Capixauã
74171 Thamnomanes saturninus Capixauã
74172 Myrmoborus myotherinus Capixauã
74173 Myrmoborus myotherinus Capixauã
74174 Thalurania furcata Capixauã
74175 Thamnophilus aethiops Capixauã
74176 Thamnomanes saturninus Capixauã
74177 Lathrotriccus euleri Capixauã
74178 Hypocnemis implicata Capixauã
74179 Hypocnemis striata Capixauã
74180 Hypocnemis striata Capixauã
74181 Schiffornis turdina Capixauã
74182 Zenaida auriculata Capixauã
74183 Galbula cyanicollis Capixauã
n. de coleção Espécie Localidade
74184 Sturnella militaris Capixauã
74185 Tapera naevia Capixauã
74186 Phlegopsis nigromaculata Capixauã
74187 Phlegopsis nigromaculata Capixauã
74188 Phlegopsis nigromaculata Capixauã
74189 Rhynchocyclus olivaceus Capixauã
74190 Piculus flavigula Capixauã
74191 Piculus flavigula Capixauã
74192 Myrmotherula axillaris Capixauã
74193 Myrmotherula axillaris Capixauã
74194 Thamnophilus aethiops Capixauã
74195 Onychorhynchus coronatus Capixauã
74196 Piculus flavigula Capixauã
74197 Lanio cristatus Capixauã
74198 Xiphocolaptes promeropirhynchus Capixauã
72
74199 Microrhopias quixensis Capixauã
74200 Glaucidium hardyi Capixauã
74201 Megascops choliba Capixauã
74202 Manacus manacus Capixauã
74203 Formicivora grisea Capixauã
74204 Phaethornis rupurumii Capixauã
74205 Thamnophilus stictocephalus Capixauã
74206 Thamnophilus stictocephalus Capixauã
74207 Myiozetetes cayanensis Capixauã
73
RELATÓRIO 3
Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns
André LuisRavetta
INTRODUÇÃO O conhecimento da riqueza biológica e da dinâmica de comunidades forma a base para o desenvolvimento do manejo e conservação da biodiversidade. Nas florestas tropicais, especialmente na região Neotropical, tais características são superlativas. Como maior floresta tropical do planeta, a Amazônia abriga uma diversidade biológica imensa, caracterizada por alto índice de endemismo e uma biogeografia extremamente complexa (Mittermeier et al., 2002). Em relação aos mamíferos, uma compilação de dados da literatura realizada por Mittermeier et al. (2002) indica que a Amazônia abriga aproximadamente 430 espécies de mamíferos, com cerca de 170 espécies endêmicas para a região. Além disso, é provável que esse número chegue próximo de 500 espécies, através da análise regional de informações mais precisas de distribuição, das revisões sistemáticas de vários grupos em andamento e da descoberta de novas espécies em estudos de campo (Peres, 2005; Rylands & Mittermeier, 2009). Especificamente para a Amazônia brasileira, Silva et al. (2004) estimaram 311 espécies de mamíferos divididos em: 22 marsupiais, 11 xenartros, 124 morcegos, 57 primatas, 16 carnívoros, dois cetáceos, cinco ungulados, um sirênio, 72 roedores e um lagomorfo. É importante ressaltar que esses números estão defasados, especialmente para cetáceos e sirênios, já identificados atualmente com 18 e duas espécies, respectivamente, cujo conhecimento aumentou significativamente nos últimos anos (Siciliano et al., 2008; Silva Júnior et al., 2010). Vários estudos na Amazônia têm demonstrado os efeitos das principais formas de pressão antrópica, como fragmentação, exploração madeireira e caça, sobre a abundância e densidade populacional da fauna de mamíferos, principalmente em primatas e mamíferos terrestres de médio e grande porte (Freese et al., 1982; Johns & Skorupa, 1987; Rylands & Keuroghlian, 1988; Lopes & Ferrari, 2000; Peres & Dolman, 2000; Peres, 2001; Ferrari et al., 2003; Peres et al., 2003; Michalski & Peres, 2005). Em geral, mamíferos de grande porte sofrem maior pressão de caça e apresentam um recrutamento mais lento do que espécies menores do mesmo grupo (Robinson & Redford, 1986). Isso acarreta em acentuada fragilidade desses mamíferos, que são os mais afetados pela atividade cinegética e pela escassez de recursos alimentares decorrentes de outras alterações antrópicas e com maior probabilidade de extinção (Bodmer et al., 1997). Hipótese semelhante é suportada pelos resultados de Robinson & Redford (1986) em relação à densidade populacional das espécies. Determinada pelo tamanho corporal e dieta, espécies de grande porte ocorrem em densidades menores que espécies de pequeno porte, assim como as espécies consideradas “especialistas” - com dieta restrita - que ocorrem em densidades menores que as espécies “generalistas”, que aceitam um amplo cardápio alimentar. Todavia, os mamíferos de médio e grande porte representam uma parcela significativa da biomassa de mamíferos neotropicais, embora menos diversos que os grupos de mamíferos voadores (morcegos) e de pequeno porte (roedores e marsupiais). Peres & Lake (2003) realizaram uma extensa análise de como a acessibilidade é uma questão crucial para a manutenção de populações saudáveis de vertebrados florestais na
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Amazônia brasileira. Utilizando estimativas de abundância obtidas com levantamentos populacionais, estes autores encontraram correlações positivas entre a abundância local de espécies mais caçadas de vertebrados e a distância da matriz de acesso. Inversamente, espécies de vertebrados não caçados apresentaram correlação negativa entre a abundância local e a distância da matriz de acesso. Com isso, confirmaram uma forte tendência na depleção de espécies cinegéticas pela pressão de caça num raio de até seis quilômetros da matriz de acesso. Embora tenham encontrado diferenças significativas entre espécies e entre diferentes categorias de unidades de conservação, em geral, a ocupação humana e a facilidade de acesso parecem ser determinantes na abundância da fauna de vertebrados preferidos entre os caçadores.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
O inventário foi realizado em duas etapas na Resex Tapajós-Arapiuns. A primeira compreendeu uma expedição em junho de 2011 para os rios Arapiuns e Maró, aonde foram amostradas as comunidades de Alto Mentai e Nova Canaã respectivamente, e a segunda foi realizada entre março e abril de 2012 nas comunidades de Boim (Quem Dizia) e Capixauã localizadas a margem esquerda do rio Tapajós. A escolha dessas comunidades como áreas de amostragem foi previamente decidida em conselho, e norteada para contemplar os principais tipos de vegetação reconhecidos na área da Resex. Para a realização dos levantamentos foram utilizadas trilhas existentes na floresta utilizadas pelos comunitários para extrativismo, com exceção de Capixauã, aonde a trilha foi aberta exclusivamente para o levantamento. A extensão das trilhas variou de 2 a 5 km para permitir o deslocamento do pesquisador e a instalação de armadilhas de captura, como armadilhas fotográficas. Quando presentes, ramais de exploração madeireira e caminhos dos moradores também foram utilizados para a procura de rastros dos mamíferos terrestres.
Coleta de Dados
O inventário de foi realizado através de Avaliação Ecológica Rápida – AER ou RAP –
Rapid Assesment Program em inglês, como é mais conhecido. Assim, foi estipulado um esforço amostral de cinco dias de coleta de dados em cada um dos quatro pontos escolhidos, totalizando 20 dias de amostragem nas duas expedições que compreenderam o inventário biótico.
Levantamento Populacional por Transecção Linear – Censos
O levantamento por transecção linear é um método padronizado utilizado em muitos estudos de populações de mamíferos (Brockelman & Ali, 1987; Cullen & Rudran, 2006), principalmente para aqueles que envolvem os primatas. O método consiste em percorrer cuidadosamente a trilha/transecção a uma velocidade constante de 1,5 km/h aproximadamente, registrando a presença de mamíferos. A cada encontro, é registrado:
• Hora e localização na transecção; • Tipo de detecção do encontro (auditivo ou visual); • Espécie;
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• Ângulo do encontro em relação à trilha; • Distância observador-animal (entre o observador na trilha até o local do encontro); • Distância perpendicular animal-trilha (entre o local do encontro e a trilha); • Altura do primeiro animal avistado em relação ao solo (para espécies arbóreas); • Tamanho do grupo (para espécies sociais); • Composição sexo-etária do grupo (macho ou fêmea; adulto, imaturo ou filhote); • Comportamento do primeiro animal avistado (deslocamento, forrageio, fuga, etc.); • Outras informações relevantes (item alimentar consumido, espécie associada, etc.).
O método foi aplicado tanto no turno da manhã (7:00 as 11:00h), como no turno da tarde (15:30 as 18:00h), utilizando-se um binóculo 8x40 para auxiliar na observação. As medidas foram tomadas com um medidor digital a laser (rangerfinder) e uma bússola de campo. Para o registro dos dados referentes a um encontro (inclusive a composição do grupo, no caso de espécies sociais), foi estipulado um tempo máximo de 10 minutos. No caso em que mais de uma espécie seja avistada no mesmo local, independente se elas estiverem associadas ou não, é registrado um encontro para cada espécie, considerando o primeiro animal avistado de cada uma. No entanto, encontros ocasionais com animais durante o percurso entre as trilhas também foram considerados para as estimativas de abundância, quando houve certeza da independência desses registros. Entre os pressupostos metodológicos da transecção linear, Burnham et al. (1980) recomendam que todos os encontros sejam eventos independentes, que os animais sejam detectados antes de fugirem, e que todos os animais localizados em cima da trilha sejam sempre registrados, além das medidas que devem ser tomadas com precisão adequada.
Armadilhamento Fotográfico – camera-trap
Nesse método, dez armadilhas foram instaladas nos sítios de amostragem, distando no mínimo 300 metros entre si. Quando presentes, estradas e ramais de acesso para exploração madeireira foram aproveitados para a instalação das câmeras para a captura fotográfica dos animais, durante cinco dias de amostragem. O método consiste na utilização de um sistema passivo composto por câmera fotográfica automática comum acoplada em um dispositivo de disparo por sensor infravermelho que detecta movimentos e calor. Esses sistemas ou armadilhas fotográficas são instalados no campo para registrar a presença das espécies de interesse, como mamíferos terrestres de médio e grande porte (Tomas & Miranda, 2003). Em seguida, é feita uma triagem das fotos para quantificar os registros que correspondem ao mesmo animal e, sempre que possível, identificar o sexo e classe etária dos indivíduos fotografados. A identificação dos animais fotografados é feitas por análise cautelosa das imagens. Porém, a identificação individual dos animais fotografados depende da presença de sinais naturais ou adquiridos na pelagem, como mutilações e cicatrizes, e da interpretação de padrões de manchas na pelagem para algumas espécies, até a diferenciação de peculiaridades na morfologia externa. Em áreas de floresta na região Neotropical, o emprego desta metodologia tem sido utilizado para a realização de levantamentos da comunidade de mamíferos (Trolle, 2003; Srbek-Araujo & Chiarello, 2005, 2007). O levantamento por transecção linear é mais adequado para espécies de hábitos diurnos, enquanto o uso de armadilhas fotográficas representa uma ótima alternativa para registrar espécies de hábitos crepusculares e noturnos, o que contribui para complementar o levantamento de mamíferos e gerar maior robustez na lista de espécies.
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Levantamento de Vestígios
Em muitos casos, a presença de mamíferos pode ser detectada apenas por meio de vestígios (pegadas, fezes, tocas, carcaças, crânios, marcas de garras, vocalizações e odores), através de sinais visuais, auditivos e olfativos (Wemmer et al., 1996). Durante os deslocamentos para as áreas de amostragem e realização dos censos, todos os vestígios foram registrados em caderneta de campo, fotografados com escala métrica e coletados, no caso de carcaças, crânios e fezes. O registro de vocalizações foi realizado somente quando a identificação da espécie era garantida, e um novo registro de uma mesma espécie somente foi validado quando detectado em direção distinta ao registro de vocalização anterior, ou em uma distância considerável, superior a 300 metros, nestes casos, assumindo se tratar de outro animal ou grupo, como é o caso dos primatas. Informações de espécies através da identificação de vestígios dos animais constituem uma alternativa bastante proveitosa para enriquecer a lista de espécies e os levantamentos populacionais. Através de encontros com rastros de mamíferos, é feita a identificação e coleta dos vestígios para confirmar a presença de uma dada espécie em uma área, e até obter dados sobre a sua abundância local (Wemmer et al., 1996; Riordan, 1998). A identificação de pegadas pode gerar informações sobre a presença de filhotes, enquanto a triagem de fezes fornece evidências da relação entre predadorpresa, podendo caracterizar a ocorrência de duas ou mais espécies em uma única amostra. As coletas de carcaças, crânios, peles e pelos são importantes para o registro de espécies pouco avistadas.
Análise Estatística
Os dados foram analisados utilizando-se um índice de frequência de registros. O índice de abundância usado para censos é a taxa de encontro, geralmente expressada como o número de registros por dez quilômetros de percurso, que é calculada pela fórmula: T =(ni / l) . 10
Onde: ni é o número de registros da espécie i, e l é o percurso total do levantamento em quilômetros. A taxa de encontro fornece a estimativa mais objetiva de abundância de uma espécie para comparações entre sítios de estudo, principalmente quando o número de registros é insuficiente para o cálculo de estimativas confiáveis de densidade populacional (Ferrari et al., 2002). Em geral, o encontro se refere às observações de animais visualizados durante os levantamentos, porém nesse inventário foram acrescentados os registros de vestígios para o cálculo do índice, devido ao grande volume de informação obtida por esse tipo de registro.
RESULTADOS Riqueza
. Em um total de 25 dias de campo foram percorridos aproximadamente 90 km de caminhadas pela mata, que resultaram no registro de 27 espécies de médios e grandes mamíferos através de visualizações, rastros e vocalizações. Entre as áreas amostradas, Boim apresentou a maior riqueza com 24 espécies, seguido por Capixauã e Nova Canaã com 15 e 14 espécies respectivamente e por Alto Mentai com 11 espécies (Figura 1).
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fazendas amostradas no Polo de Tomé-Açu.
As 27 espécies registradas estão distribuídas em 16 famílias e sete ordens, sendo as ordens Primates (macacos) e Rodentia (ratos, cutia, paca e esquilos) as mais diversas com 6 espécies, seguidas pelas ordens Cingulata (tatus), Carnivora (gatos e jupará) e Artiodactyla (veados e porcos) com 4 espécies, Pilosa (preguiças e tamanduás) com 2 espécies, e Perissodactyla com apenas uma espécie, a anta – Tapirus terrestris (Tabela 1). A classificação apresentada aqui segue publicação recente da atualização da Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil, que compilou diversas publicações entre descrição de novas espécies, revisões taxonômicas, e filogenia molecular, que contribuíram tanto para o crescimento do número de espécies conhecidas quanto para o rearranjo da classificação taxonômica de alguns grupos (Paglia et al., 2012).
Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns.
ESPÉCIE NOME VULGAR REGISTRO FAZENDA
ORDEM CINGULATA (4 espécies)
Família Dasypodidae 01 Cabassous unicinctus tatu-rabo-de-couro A, R Capixauã
02 Dasypus kappleri tatu-quinze-quilos R Boim
03 Dasypus novemcinctus tatu-galinha R Boim, Capixauã
04 Priodontes maximus tatu-canastra R Boim, N. Canaã
ORDEM PILOSA (2 espécies)
Família Bradypodidae 05 Bradypus tridactylus preguiça-bentinho
Família Myrmecophagidae
A Boim
06 Tamandua tetradactyla mambira A, R Boim, Capixauã, N. Canaã
ORDEM PRIMATES (6espécies)
Família Callitrichidae
Figura 1 . Riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande porte entre as
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Alto Mentai Boim Capixauã Nova Canaã
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pé
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07 Mico humeralifer souim-preto
Família Cebidae
A, V Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
08 Cebus albifrons cairara A Boim 09 Sapajus apella macaco-prego
Família Pithecidae
A, V Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
10 Callicebus hoffmannsi zogue-zogue A, V Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã
11 Pithecia cf irrorata parauacu
Família Atelidae
A Boim, Capixauã
12 Alouatta nigerrima guariba-preta A, R, V Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
ORDEM CARNIVORA (4 espécies)
Família Procyonidae 13 Potus flavus jupará
Família Felidae
A Alto Mentai
14 Leopardus pardalis jaguatirica R Boim, N. Canaã
15 Puma concolor suçuarana R Alto Mentai, Boim, N. Canaã
16 Panthera onca onça-pintada R Boim, N. Canaã
ORDEM PERISSODACTYLA (1 espécie)
Família Tapiridae 17 Tapirus terrestris Anta R Boim
ORDEM ARTIODACTYLA (4 espécies)
Família Tayassuidae 18 Pecari tajacu catitu A, R Boim, Capixauã, N.
Canaã 19 Tayassu pecari queixada
Família Cervidae
R Boim, Alto Mentai
20 Mazama americana veado-mateiro A, R Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
21 Mazama nemorivaga veado-fuboca A, R Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã
ORDEM RODENTIA (6 espécies)
Família Sciuridae
22 Guerlinguetus aestuans quatipuru A Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
23 Microsciurus flaviventer quatipuruzinho A Boim, Capixauã 24 Sciurus spadiceus quatipuru-vermelho
Família Cuniculidae
A, R, V Boim, Capixauã
25 Cuniculus paca paca
Família Dasyproctidae
R Boim
26 Dasyprocta aff agouti cutia
Família Echimydae
A, R, V Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
27 Dactylomys dactylinus rato-toró V Alto Mentai
Legenda: A - avistamento; R - rastro (fezes, marca de garras, pegada, ninho, toca); V - vocalização.
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Abundância
Em relação à abundância dos mamíferos, houve uma variação significativa entre as áreas amostradas, com as comunidades de Capixauã e Boim apresentando as maiores abundâncias, com 40% e 29% dos registros respectivamente, seguidas pela comunidade Nova Canaã com 17% e Alto Mentai com apenas 14%, representando juntas apenas 31% do total de registros do inventário (Figura 2). Vale ressaltar que as espécies foram registradas através da aplicação do método de transecção linear, que permite a obtenção de estimativas de abundância através do cálculo da taxa de encontro. Além disso, dez espécies foram detectadas apenas através de vestígios, que neste trabalho foram incluídos nos cálculos de abundância, através da triagem dos vestígios para garantir a independência dos registros. Com apenas cinco dias de amostragem em cada área, as armadilhas fotográficas não registraram animais em número significativo para qualquer tipo de análise. Pelo contrário, o curto período de amostragem resultou apenas em alguns poucos registros de espécies bastante comuns como as cutias, tatus-galinhas e um veado fuboca, além de algumas aves de sub-bosque com os inhambus da família Tinamidae e duas espécies de cracídeos, o mutum-castanheira – Mitu tuberosa, e o jacu-peba – Penelope jacuguacu.
amostradas na Resex Tapajós-Arapiuns.
O índice de abundância utilizado é o cálculo de uma taxa obtida pelo número de registros de cada espécie sobre a distância percorrida nos levantamentos, que foi recalculada com o acréscimo dos registros de rastros e vestígios dos mamíferos com identificação confirmada. Portanto, o esforço total do levantamento corresponde aos encontros com indivíduos solitários ou grupo de animais durante o deslocamento, somado ao número de registros de rastros e vestígios identificados durante o trabalho. A cutia – Dasyprocta aff agouti foi a espécie mais abundante, seguida pelo zoguezogue – Callicebus hoffmannsi, pelo souim – Mico humeralifer, pela guariba - Alouatta nigerrima, pelo macaco-prego – Sapajus apella e peloveado mateiro – Mazama americana (Tabela 2).
Figura 2 . Abundância de mamíferos de médio e grande porte entre as áreas
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Alto Mentai Boim Capixauã Nova Canaã
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Tabela 2. Índice de abundância obtido para as espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante o inventário de fauna.
ESPÉCIES TAXA DE REGISTRO / 10KM PERCORRIDOS
Alto Mentai Boim Capixauã Nova Canaã
Cabassous unicinctus - - 1,76 -
Dasypus kappleri - 0,33 - -
Dasypus novemcinctus - 0,33 2,35 -
Priodontes maximus - - - 0,44
Tamandua tetradactyla - 0,67 0,59 0,44
Mico humeralifer 0,41 - 5,88 1,33
Cebus albifrons - 0,33 - -
Sapajus apella 0,41 1,33 1,76 0,89
Callicebus hoffmannsi 1,22 0,33 8,24 0,89 Pithecia „cf‟ irrorata - 0,67 0,59 -
Alouatta nigerrima 2,45 1,33 0,59 0,89
Potus flavus 0,41 - - -
Leopardus pardalis - - - 0,44
Puma concolor 0,41 - - 0,44
Panthera onca - 0,33 - 0,89
Pecari tajacu - 1,00 0,59 0,44
Tayassu pecari 0,41 - - -
Mazama americana 0,41 1,33 2,94 0,89
Mazama nemorivaga 0,41 - 1,18 0,44
Guerlinguetus aestuans 0,41 - 0,71 0,89
Microsciurus flaviventer - - 0,59 -
Sciurus spadiceus - 0,33 1,76 -
Dasyprocta „aff‟ agouti 2,04 7,33 8,82 3,11
Dactylomys dactylinus 0,41 - - -
TOTAL DE ESPÉCIES 8,98 15,67 37,65 12,44
Apesar de algumas espécies não serem registradas em todas as áreas, não significa que elas não ocorram em um determinado local, como é o caso dos tatus, da preguiça e da paca principalmente. Embora essas espécies tenham sido registradas no máximo em duas áreas, a ocorrência delas é praticamente certa nas outras comunidades amostradas, por se tratarem de espécies muito comuns que ocorrem em praticamente todos os ambientes terrestres e apresentam uma alta abundância, sendo consideradas espécies generalistas.
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Espécies Ameaçadas e Endêmicas
Apenas quatro espécies constam nas listas oficiais da fauna ameaçada de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012), embora nenhuma delas esteja classificada na categoria de ameaçada ou em perigo (EN, em inglês). Entre elas, as duas espécies de onças, o tatu canastra e a anta, todas classificadas nas categorias de “Vulnerável” e “Próximo de Ameaça” (Tabela 3).
Tabela 3. Estado de conservação das espécies registradas para a região que figuram nas listas oficiais das espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012).
NOME CIENTÍFICO NOME VULGAR MMA, 2003 SEMA, 2007 IUCN, 2012
Panthera onca onça-pintada - VU NT
Puma concolor suçuarana - VU -
Priodontes maximus tatu-canastra VU VU VU
Tapirus terrestris anta - - VU
Legenda:CR: Criticamente em perigo; EN - Em Perigo; VU - Vulnerável; NT - Próximo de Ameaça.
A suçuarana (Puma concolor) foi a espécie com maior ocorrência, não sendo registrada apenas na comunidade de Capixauã, enquanto a onça-pintada (Panthera onca), o tatu-canastra (Priodontes maximus) e a anta (Tapirus terrrestris) foram registrados apenas nas comunidade de Boim e Nova Canaã. Embora a presença dessas espécies tenha sido confirmada somente através de vestígios, esses são relativamente fáceis de serem identificados. Assim, dados de presença e abundância podem ser obtidos mesmo que esses animais não sejam avistados. Com três registros cada, a onça-pintada (Panthera onca) e a suçuarana (Puma concolor) são espécies de felinos de grande porte na qual suas presenças atestam de certa forma, a boa integridade do ambiente quanto a sua diversidade biológica, por se tratarem de predadores de topo de cadeia e possuir uma alta demanda alimentar. O tatu-canastra (Priodontes maximus) foi registrado em três ocasiões por meio de vestígios. Embora esse número não desperte muita atenção, ele é significativo porque além de ser a maior espécie de tatu, pesando em média 30 kg, é um animal solitário e relativamente raro no bioma amazônico. Por outro lado chama a atenção a anta (Tapirus terrestris) com apenas um registro durante o monitoramento. Apesar de ser um animal de grande porte que possui um recrutamento muito lento e ocupa grande área de vida, era esperada uma maior abundância dessa espécie por ser relativamente comum na floresta amazônica. Exatamente pelas características citadas acima, provavelmente a espécie sofre forte pressão de caça na Resex e talvez por isso, sua abundância seja baixa dentro da unidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa breve comparação entre as áreas amostradas, merece destaque as diferenças encontradas quanto à riqueza e abundância das espécies. O maior número de espécies registradas para Boim, provavelmente deve-se em função do isolamento da área amostrada. Localizada a aproximadamente a 40 km de distância da comunidade que fica
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na margem do rio Tapajós, a localidade Quem Dizia aonde foi implantada a trilha e o acampamento, apresenta menor pressão de caça em relação aos outros três pontos de coleta que foram realizados mais próximos das respectivas comunidades de Alto Mentai, Capixauã e Nova Canaã. Com isso, era esperado também o mesmo padrão de abundância devido ao nível de pressão de caça. No entanto, a comunidade Capixauã que apresentou a maior abundância de mamíferos, parece sofrer forte pressão de caça, tanto por seus moradores como pela comunidade vizinha devido à proximidade entre elas. Contudo, boa parte da floresta encontrada em Capixauã é composta de vegetação secundária, através de ações de exploração madeireira, fogo e corte raso ao longo do tempo. Tais características parecem favorecer o adensamento de algumas espécies de primatas como o zogue-zogue – Callicebus hoffmannsi e o souim-preto – Mico humeralifer, além da cutia – Dasyprocta
leporina. Enquanto as duas espécies de primatas parecem ser favorecidas por uma maior incidência de luz em vegetações secundárias devido à abertura do dossel, que proporciona maior abundância de insetos que compõem um item importante na dieta dessas espécies, a cutia é atraída pela alta densidade de palmeiras nesses ambientes, como o babaçu e caranaí, que oferecem frutos em abundância para essa espécie de roedor. Além disso, essas três espécies são de pequeno e médio porte e apresentam altas taxas reprodutivas e um rápido recrutamento. Por outro lado, a ausência de espécies de grande porte em algumas das áreas, como os ungulados (veados, porcos e anta) também é em função da pressão de caça e integridade dos ambientes de floresta. Se por um lado a vegetação secundária favorece o adensamento de algumas espécies pela maior abundância de insetos, por outro pode prejudicar a permanência de outros pela menor disponibilidade de recursos, principalmente aquelas que são altamente frugívoras. Outra característica importante dos ungulados, como exemplo, é a baixa taxa reprodutiva e o lento recrutamento, que dificulta o repovoamento das espécies desse grupo em áreas com forte pressão de caça, levando-as a declínios populacionais severos próximos de extinção local. Contudo, com as impressões obtidas nesse inventário, é necessário um planejamento que vise o manejo de caça na área da Resex para que essa atividade de subsistência permaneça sustentável em longo prazo. Conforme é previsto em plano de manejo, o zoneamento ecológico de uma área pode oferecer um ordenamento territorial que busque a gestão participativa dos comunitários para o uso adequado da terra e dos recursos naturais renováveis, atrelado à conservação da diversidade biológica.
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Glossário
Avistamento: registro de um animal através do encontro visual com o mesmo;
Cinegética: relativo à caça. Espécie cinegética é aquela que é caçada;
Cosmopolita: relativo à ampla distribuição geográfica, que ocorre em muitos lugares e ambientes, contrário de endêmica;
Dossel: relativo à copa das árvores, estrato superior da floresta;
Endêmica: que é encontrada somente em determinado habitat, bioma ou região;
Especialista: que apresenta características específicas de comportamento, dieta e preferência de habitat;
Ombrófila: relativo à sombra. Floresta ombrófila é aquela que proporciona sombra;
Transecção: seção feita através de um eixo longitudinal, seção transversal. Trilha reta;
Ungulados: designação genérica para os mamíferos que possuem casco como veados,
porcos e anta. Não faz parte da classificação científica atual;
Vestígio: registro indireto de um animal ou espécie, como rastros, pegadas, fezes, carcaças, ossos, crânio, tocas, vocalização;
Vulnerável: terceira categoria do nível de ameaça de extinção de uma espécie. Abaixo dos níveis „Ameaçada‟ e „Criticamente Ameaçada‟. Uma espécie é
classificada como Vulnerável quando em condições de alto risco de extinção
na natureza.
86
RELATÓRIO 4
MCT/MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
RELATÓRIO CONSOLIDADO DAS EXPEDIÇÕES À RESEX TAPAJÓS-
ARAPIUNS, MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA ─ HERPETOFAUNA
Equipe Técnica
Dra. Teresa Cristina Sauer de Avila Pires Dr. Marinus Steven Hoogmoed M.Sc. Annelise Batista D´Angiolella M.Sc. Ariane Auxiliadora Araújo Silva M.Sc. Jerriane Oliveira Gomes M.Sc. Marcélia Basto da Silva M.Sc. Marcelo José Sturaro Victor Tasso Gomes Ferreira
• Comunidade Nova Canaã, Rio Maró,
Expedições
12/06/2011 a 26/06/2011 (rio Arapiuns):
• Comunidade Alto Mentai, Igarapé Mentai, bacia do Rio Arapiuns
28/03/2012 a 12/04/2012 (rio Tapajós) • Comunidade Capixauã, Lago Capixauã
• Localidade Tucumatuba
Licença SISBIO: 28936 (1-3)
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1. INTRODUÇÃO
Em todo o território brasileiro conhecem-se 875 espécies de anfíbios (847 anuros, 1 salamandra [Caudata], 27 gimnofionas) e 721 espécies de répteis (36 quelônios, 6 jacarés, 241 lagartos, 67 anfisbenas, 371 serpentes), segundo a lista (atualizada até março de 2010) da
Sociedade Brasileira de Herpetologia
(http://sbherpetologia.org.br/checklist/checklist_brasil.asp). Para a parte brasileira da Amazônia, Avila-Pires et al. (2007) registraram 232 anfíbios (221 anuros, 2 salamandras, 9 gimnofionas) e 273 répteis (16 quelônios, 4 jacarés, 94 lagartos, 10 anfisbenas, 149 serpentes). Esses números já são maiores atualmente, mas permitem dar uma idéia aproximada da diversidade conhecida do grupo. Vale ressaltar o caso das salamandras, onde uma única espécie está descrita até o momento para o Brasil (na Amazônia), mas atualmente já se sabe da existência de pelo menos quatro espécies na Amazônia brasileira (objeto de uma dissertação de mestrado [Brcko, 2011], ainda em processo de publicação). Considerando apenas o estado do Pará, são conhecidos 149 espécies de anfíbios (136 anuros, uma salamandra [Caudata], 12 gimnofionas) e 256 espécies de répteis (20 quelônios, 4 jacarés, 77 lagartos, 10 anfisbenas, 145 serpentes), segundo compilação recente do Museu Paraense Emílio Goeldi (a ser disponibilizada em sua página institucional em breve).
A distribuição dos lagartos na Amazônia indica grupos faunísticos distintos na região das Guianas (que corresponde à área de endemismo [AE] Guiana, como indicada por Silva et al., 2005), no oeste da Amazônia (AE Imeri, Napo e Inambari), sudoeste da Amazônia (equivalente predominantemente à AE Inambari) e algumas espécies com distribuição restrita ao sul do rio Amazonas ou a partes dessas áreas (p.ex., Enyalius leechii distribui-se nas AE Belém, Xingu, Tapajós e Rondônia, Anolis
phyllorhinus e Leposoma osvaldoi na AE Rondônia, Gonatodes tapajonicus na AE Tapajós, e Stenocercus dumerilii na AE Belém). O rio Negro efetivamente parece constituir uma barreira biogeográfica importante, enquanto ao sul do rio Amazonas há uma transição faunística especialmente na faixa entre os rios Purus e Tapajós (Avila-Pires, 1995; Avila-Pires et al., 2009). Para as serpentes ainda não há estudos biogeográficos abrangentes mas é evidente que, da mesma forma que para os lagartos, os rios não atuam tanto como divisores de fauna, como ocorre para aves e primatas. No caso dos jacarés, as quatro espécies que ocorrem na Amazônia têm ampla distribuição. Em quelônios algumas espécies amazônicas têm distribuição mais restrita, aparentemente por questões ecológicas (p.ex., Podocnemis erythrocephala e Peltocephalus dumerilianus são encontradas em rios de água preta, Podonemis
sextuberculata em rios de água clara – Vogt et al., 2001).
No caso dos anfíbios, análises biogeográficas apresentam ainda muitos problemas, tendo em vista que a taxonomia de vários grupos está mal resolvida. Isso não permite se ter uma idéia de padrões gerais na Amazônia, mas são conhecidas espécies de distribuição restrita. Aquelas relacionadas à área-foco do presente estudo serão consideradas em mais detalhe nesse relatório.
Considerando-se o conhecimento atual, especialmente relacionado aos lagartos, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, situada no interflúvio Madeira-Tapajós, deve apresentar uma herpetofauna relacionada principalmente à do sudeste amazônico, com alguns elementos da Amazônia ocidental e alguns aparentemente restritos à AE Rondônia.
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O presente relatório tem por finalidade apresentar informações acerca da herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Município de Santarém, PA, tendo como base expedições a quatro localidades da RESEX e dados secundários abrangendo especialmente parte dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, no interflúvio Madeira-Tapajós. Das quatro localidades visitadas, duas localizam-se no lado oeste da reserva (rio Arapiuns), duas no lado leste (rio Tapajós). Três das localidades apresentam cobertura florestal, enquanto na Comunidade Capixauã foi inventariado também um enclave de vegetação aberta aí existente.
2. OBJETIVOS:
2.1. OBJETIVO GERAL
Conhecer a herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Município de Santarém, Pará, de forma a subsidiar o Plano de Manejo da UC.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Determinar a composição e riqueza de espécies da herpetofauna da RESEX
Tapajós-Arapiuns;
• Evidenciar espécies da herpetofauna que tenham importância para a conservação;
• Relacionar as espécies da herpetofauna encontradas na RESEX Tapajós-
Arapiuns que sejam vulneráveis ou ameaçadas de extinção e aquelas
endêmicas;
• Identificar áreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção
especial e/ou estudos mais aprofundados;
• Fornecer informações biológicas que possam subsidiar o plano de manejo e o
monitoramento da área em relação às ações antrópicas.
3. MÉTODOS
3.1. DADOS SECUNDÁRIOS
Foram utilizados (1) dados dos arquivos da Coleção Herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, de espécimes procedentes dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, especialmente no interflúvio Madeira-Tapajós, confirmando-se a identificação dos exemplares quando necessário; (2) documento “Mapeamento e diagnóstico da biodiversidade do Parque Nacional da Amazônia e das Florestas
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Nacionais de Itaituba I e II: subsídios para a elaboração dos planos de manejo”; (3) a literatura herpetológica especializada.
3.2. DADOS PRIMÁRIOS
Os métodos de amostragem foram similares para cada uma das quatro localidades amostradas. Dois métodos de coleta foram empregados: coleta ativa, tanto diurna como noturna, e armadilhas de interceptação e queda (pitfalls). Foram instalados 16 pitfalls por localidade, distando cerca de 100 m entre si, os quais foram vistoriados uma vez por dia. Cada pitfall constou de quatro baldes de 60L separados por 8m de lona plástica. Na localidade de Capixauã, onde existe uma área de cerrado, metade dos pitfalls foi colocado na área de cerrado, a outra metade em área de floresta (perturbada). Foram registrados dados de habitat (coleta ativa e pitfall), microhabitat, hora de coleta e observações comportamentais, se pertinente (coleta ativa). Além disso, considerou-se também os exemplares obtidos por encontro ocasional, tanto pela equipe de herpetologia como por outras equipes.
Os indivíduos coletados foram sacrificados com anestésico, medidos e pesados, fixados em formol 4% e preservados em álcool 70%. Parte dos indivíduos foi registrada fotograficamente em vida ou previamente à fixação. Antes da fixação foi retirada uma amostra de tecido (músculo ou fígado) e preservada em álcool absoluto para futuros estudos moleculares. Todos os indivíduos coletados e as amostras de tecido estão depositados na coleção herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (ainda em processo de registro). Os indivíduos foram identificados de forma preliminar no campo, com a identificação final feita em laboratório, com o auxílio da literatura especializada e de comparação com exemplares da coleção. Para cada localidade apresentamos as espécies registradas, a composição por grupos taxonômicos e a distribuição por habitat, quando pertinente. Esses dados, assim como uma curva de acumulação de espécies, são apresentados também para o conjunto total de dados. Para identificar elementos da herpetofauna de interesse para a conservação foram consideradas as listas de espécies ameaçadas da IUCN (WWW.iucnredlist.org), nacional (http://www.mma.gov.br/estruturas/179/_arquivos/179_05122008034002.pdf) e do Pará (http://www.sema.pa.gov.br/interna.php?idconteudocoluna=2283). Identificou-se também os elementos constantes da CITES (http://www.cites.org/eng/resources/species. html), que indicam possível interesse para exportação (legal ou ilegal). Espécies conhecidas por serem ou terem sido utilizadas na alimentação, em termos regionais ou locais (estes a partir de conversas com os moradores) são também mencionadas.
3.3. NOMENCLATURA CIENTIFICA
A fim de facilitar comparações com documentos e publicações anteriores, utilzou-se uma nomenclatura conservadora, evitando-se nomes científicos ainda controversos ou muito novos, sugeridos em substituição a nomes já existentes.
90
4. RESULTADOS
Foram registradas, nas quatro áreas, 97 espécies de anfíbios e répteis, dos quais 36 anfíbios – todos Anura – e 61 répteis – 23 lagartos, 32 serpentes, 5 quelônios e uma espécie de jacaré (Fig. 1). Anfíbios e lagartos são os grupos mais diversificados em
termos de famílias, cujas proporções são mostradas na Fig. 2 e 3, respectivamente.
Fig. 1 – Distribuição proporcional dos anfíbios e principais grupos de répteis registrados nas expedições à RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referemse ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
Fig. 2 – Distribuição proporcional
das famílias de anfíbios registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referem-se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
Na segunda expedição as principais adições deveram-se (1) a espécies de ambiente de cerrado, representado apenas, dentre as localidades amostradas, em Capixauã; e (2) a serpentes, grupo que requer longos períodos de amostragem. É provável também que amostragens durante o período das chuvas, especialmente na fase inicial, ocasione um aumento no número de espécies de anfíbios.
Anfíbios 36
Lagartos 21
Anfisbena s (2)
Serpentes (32)
Quelônios (5)
Jacarés (1)
Bufonidae (5)
Dendroba tidae (1)
Hylidae (19)
Leptodact ylidae (10)
Microhylid ae (1)
91
O acréscimo de exemplares e espécies foi contabilizado por dia de amostragem. A primeira expedição (localidades Alto Mentai e Nova Canaã) contabilizou 73 espécies e 492 exemplares, com a segunda expedição (localidades Capixauã e Tucumatuba) esses números aumentaram para 97 espécies e 928 exemplares.
As quatro áreas diferiram quanto ao número de espécies encontradas, variando de 40 em Capixauã a 56 em Alto Mentai. Essas diferenças são em parte resultantes da amostragem incompleta, mas em parte refletem diferenças reais, devidas a ambientes distintos que se refletem nas espécies neles presentes. A Tabela 1 apresenta a lista de espécies, comparando as quatro áreas e a Tabela 2 mostra um resumo por grupos.
4 Fig. - nas registros quatro os todas considerando espécies, de cumulativa Curva
0
20
40
60
80
100
120
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
No
.
cu
m
ula
tiv
o
de
es
pé
cie
No. cumulativo de exemplares
A curva cumulativa de espécies do conjun to das quatro expedições (Fig. 4 ) ainda não
Amphisbaenid ae (2) Gekkonidae
(1) Phyllodactylid
ae (1)
Sphaerodactyl idae (3)
Polychrotidae (4)
Tropiduridae (3)
Scincidae (1)
Gymnophthal midae (5)
Teiidae (3)
Fig. 3 – Distribuição proporcional das famílias de lagartos (e anfisbenas) registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós - Arapiuns. Os números entre parêntesis referem - se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
92
Tabela 1 – Lista das espécies registradas durante as expedições de junho de 2011 e marçoabril de 2012, indicando as áreas onde foram encontradas. Algumas espécies, que serão comentadas no texto, não foram identificadas, necessitando mais estudos.
Taxon Alto
Mentai Nova
Canaã Capixauã Tucumatuba
AMPHIBIA
Bufonidae
Bufo castaneoticus X X X X
Bufo granulosus * X
Bufo gr. margaritifer X X X
Bufo marinus X X X
Rhaebo guttatus X
Dendrobatidae
Allobates femoralis X X X Hylidae
Hyla boans X X X
Hyla cinerascens X X X
Hyla geographica X X X
Hyla leucocheilus X X
Hyla wavrini X
Hyla sp. 1 X X
Hyla sp. 2 X
Osteocephalus leprieuri X
Osteocephalus oophagus X X X
Osteocephalus taurinus X
Osteocephalus sp. Grande cinza X X X
Osteocephalus sp. Peq. X
Phrynohyas sp. nov. X
Phyllomedusa vaillanti X X
Scinax garbei X
Scinax nebulosa X
Scinax sp. 1(coxas pretas) X
Scinax sp. 2 X
Scinax 3 ("gr. ruber") X
Leptodactylidae
Adenomera andreae X X X X
Adenomera "brown" X X X
Engystomops paraensis X
Leptodactylus fuscus * X
Leptodactylus paraensis X X
Leptodactylus pentadactylus X X
Leptodactylus petersii X X
Leptodactylus mystaceus X
93
Leptodactylus rhodomystax X X X
Pristimantis fenestratus X X X
Microhylidae
Chiasmocleis bassleri
REPTILIA
X
Squamata - Lagartos e Anfisbenas
Amphisbaenidae Amphisbaena alba X
Bronia brasiliana X X
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia ** X Gymnophthalmidae
Bachia flavescens X X
Cercosaura sp. X X X
Iphisa elegans X X X X
Leposoma osvaldoi X X X
Leposoma percarinatum X
Phyllodactylidae
Thecadactylus rapicauda X X X X
Polychrotidae
Anolis auratus * X
Anolis fuscoauratus X X X
Anolis tandai X X X X
Polychrus marmoratus X
Scincidae
Mabuya nigropunctata X X X
Sphaerodactylidae
Coleodactylus amazonicus X X X X
Gonatodes humeralis X X X X
Pseudogonatodes guianensis X X X
Teiidae
Ameiva ameiva X X X X
Cnemidophorus lemniscatus * X X X
Crocodilurus amazonicus ?***
Kentropyx calcarata X X X
Tropiduridae
Plica plica X X
Plica umbra X X X X
Uranoscodon superciliosus
Squamata - Serpentes
X
X
94
Anomalepidae
Leptotyphlops albifrons X
Typhlopidae
Typhlops brongersmianus X
Boidae
Boa constrictor X Corallus batesi X
Corallus hortulanus X X X
Epicrates cenchria X
Eunectes murinus X Colubridae
Apostolepis pymi X
Atractus snethlageae X
Chironius exoletus X
Chironius fuscus X
Drymoluber dichrous X
Helicops angulatus X X
Hydrops martii X
Imantodes cenchoa X X
Leptodeira annulata X
Leptophis ahaetulla X X
Liophis reginae semilineatus X X
Mastigodryas boddaerti X X X
Oxybelis aeneus X
Oxybelis fulgidus X
Oxyrhopus formosus X
Pseudoboa coronata X
Pseudoboa neuwiedii X X
Pseustes sulphureus X
Siphlophis compressus X
Tantilla melanocephala X X X
Xenoxybelis boulengeri X
Elapidae
Micrurus hemprichii X X X
Viperidae
Bothrops atrox X X X X
Crotalus durissus * X
Lachesis muta
Chelonia
X
Bataguridae
Rhinoclemmys punctularia X
Podocnemididae
95
Podocnemis expansa X
Pdodocnemis unifilis X
Peltocephalus dumeriliana X X
Testudinidae
Chelonoidis carbonaria Crocodylia
X
X
Alligatoridae
Paleosuchus trigonatus X X * Espécies restritas a áreas abertas. ** Espécie introduzida, restrita a ambientes antrópicos. *** Presença na área indicada por moradores (seriam comuns no verão, com as águas mais baixas). Tendo em vista não termos confirmado sua presença a espécie não foi computada nas análises aqui apresentadas. Tabela 2 – Número de espécies registrada por grupo e por área amostrada.
Alto Nova Capixauã Tucumatuba
Mentai Canaã
Anfíbios 19 18 13 21 Lagartos 17 14 12 16 Anfisbenas 1 0 2 0 Serpentes 17 11 11 8 Quelônios 2 3 2 1 Jacarés 0 0 1 1 TOTAL 56 45 40 48
As diferenças na quantidade de espécies encontradas em cada área reflete apenas parcialmente as diferenças entre as áreas. Olhando-se a composição das espécies, observa-se que apenas em torno da metade das espécies são comuns entre as áreas quando comparadas duas a duas. Isso pode ser visto na Tabela 3. Como esperado, tendo em vista a presença de vegetação de cerrado em Capixauã, que abriga espécies ausentes em áreas florestadas (marcadas com * na Tabela 1), essa área foi a que apresentou o menor índice de similaridade com as demais. Outro fator ambiental que influencia a ocorrência de espécies é a presença de corpos d’água em uma área – várias espécies de anfíbios, especialmente da família Hylidae, são encontradas na vegetação aquática ou na margem de lagos e a presença desse ambiente é essencial para encontrar essas espécies. Assim, parte das diferenças observadas é devida à heterogeneidade ambiental. Em alguns casos é bem clara a relação entre as características ambientais e a ocorrência de algumas espécies, em outros casos isso não é tão evidente. Alguns desses casos são apontados no item a seguir. Tabela 3 – Comparação entre as quatro áreas amostradas quanto à composição da herpetofauna. A diagonal apresenta o número de espécies em cada área, os números abaixo da diagonal representam o número de espécies comuns a cada par de áreas, e os números acima da diagonal indicam o “coeficiente de similaridade biogeográfica”
96
(Duellman, 1990), calculado pela fórmula 2C/(N1+N2), onde C = número de espécies comuns e N = número de espécies em cada uma das duas áreas.
Alto Nova Capixauã Tucumatuba
Mentai Canaã
Alto Mentai 56 0,55 0,42 0,60 Nova Canaã 28 45 0,45 0,58 Capixauã 20 19 40 0,41 Tucumatuba 31 27 18 48
A abundância relativa das espécies, obtida considerando o número de exemplares amostrados por espécie, variou entre as áreas (Fig. 5). Considerando apenas as espécies representadas por 10 ou mais indivíduos em uma área, apenas Adenomera andreae aparece nas listas das quatro localidades amostradas. Bufo castaneoticus, Gonatodes
humeralis e Coleodactylus amazonicus aparecem em três das listas, enquanto Ameiva
ameiva e Anolis tandai aparecem em duas das listas. Isso reforça a idéia de que há uma heterogeneidade espacial na área que se reflete na distribuição e abundância da fauna. Entre as espécies encontradas no área de RESEX Tapajós-Artapiuns algumas se destacam por sua distribuição ou por aparentemente representarem novas espécies:
97
98
Os sapos do grupo Bufo margaritifer formam um grupo extenso com taxonomia mal resolvida. Bufo margaritifer foi ilustrado por Seba (1734) e formalmente descrito por Laurenti (1768), parecendo estar restrita à área das Guianas. Na àrea de Tapajós-Arapiuns ocorrem duas espécies desse grupo, uma grande, provavelmente nova, com tamanho total até 85 mm, focinho pontiagudo, crestas craniais bem desenvolvidas, sem protuberância óssea na articulação da mandíbula e uma linha lateral de tubérculos cônicos. Esses carateres morfológicos já são visíveis em exemplares jovens. A outra espécie, Bufo castaneoticus, tem tamanho menor, chegando apenas a 45 mm, focinho mais redondo, crestas craniais ausentes e uma linha lateral de tubérculos pouco elevados e arredondados. No campo essas diferenças são difíceis de verificar e por isso todos os exemplares encontrados desse grupo foram coletados, para se ter uma idéia fiel de sua riqueza. As espécies ocorrem em sintopia na serapilheira da floresta de terra firme. Provavelmente há diferenças no modo de reprodução, mas isso não pôde ser observado porque as coletas foram feitas fora da estação de reprodução da maioria das anfíbios anuros. De B. castaneoticus sabemos que ele se reproduz nos ouriços-de-castanha caídos e vazios, que são encontrados com água, e provavelmente em outros pequenos recipientes naturais de água encontrados na floresta. A espécie maior provavelmente se reproduz em poças ou áreas alagadas. As diferenças em riqueza dessas duas espécies foram marcantes. A espécie grande não foi encontrada na área de Capixauã (com ambientes de cerrado e floresta alterada), em Alto Mentai apenas três exemplares foram encontrados, em Tucumatuba sete exemplares, e em Nova Canaã 43 exemplares. Em comparação, B. castaneoticus foi encontrado em todas as localidades amostradas: quatro em Capixauã, 29 em Tucumatuba, 37 em Alto Mentai e 25 em Nova Canaã. É possível que haja uma relação entre os números observados: quando o
Anfíbios
Bufonidae
99
número de B. castaneoticus é alto, o da espécie maior é menor, e quando o numero da espécie grande é alto o número de B. castaneoticus é menor.
Hylidae A perereca Hyla leucocheila foi descrito por Caramaschi & Niemeyer (2003), a
partir de exemplares procedentes de Mato Grosso (Aripuanã and Apiacás) e Rondônia (Nova Colina), ao longo da zona de contato entre cerrado e floresta amazônica. Pansonato et al. (2011) registraram a espécie para o norte de Mato Grosso e detalhes sobre o canto nupcial. Em 2008 a espécie foi encontrada também em Juruti e após no PARNA Amazônia, ambas localidades no Pará (material depositado no MPEG). Na área da RESEX Tapajós-Arapiuns ela foi encontrada nas localidades Alto Mentai e Tucumatuba. Possivelmente a espécie foi ouvida em Nova Canaã, num açaizal, mas esse canto não pôde ser registrado. As áreas onde a espécie foi encontrada são de floresta de terra firme, mas em Alto Mentai um exemplar foi encontrado numa área de capoeira, outro ao lado de um igarapé. Os exemplares de Tucumatuba foram encontrados perto de um igarapé. Esses registros de H. leucocheila no Pará, já próximo ao Rio Amazonas, aumentam bastante a distribuição dessa espécie, que pode representar um elemento da fauna restrita à área de endemismo Rondônia (entre os rios Madeira e Tapajós).
Foram encontradas algumas outras espécies de Hylidae que sem duvida são novas para a ciência. Encontramos duas espécies pequenas (tamanho ~25 mm) de Hyla (pertencente a um grupo conhecido como “Dendropsophus”), que parecem novas. Uma delas tem duas manchas brancas debaixo dos olhos e é conhecida de outros lugares da Amazônia, sob diferentes nomes (errados). A outra é cinza a marrom, com manchas pretas irregulares no dorso (ausente em alguns indivíduos). Foi encontrada em Alto Mentai e em Tucumatuba, e o material coletado forma uma boa série para uma descrição. Também foram obtidas amostras de tecido para pesquisa de DNA.
Uma espécie de Osteocephalus (tamanho 76 mm) com íris amarela (não raiada) e dorso marrom ou cinza com uma marca em forma de “X”, não concorda com as espécies conhecidas da área (O. taurinus, O. leprieuri, O. inframaculata, O cabrerai) e muito provavelmente representa um novo taxon. Exemplares foram coletados em Tucumatuba (4) e Nova Canaã (2). Essa espécie também foi coletada no PARNA Amazônia e em Juruti (material na coleção do MPEG). Um exemplar pequeno de Osteocephalus, coletado em Alto Mentai, pode ser mais uma espécie nova, ou um jovem de O. oophagus.
Os exemplares de Hyla geographica coletados em Capixauã, Tucumatuba e Alto Mentai mostram um desenho nos flancos e nas coxas que difere do padrão conhecido ao norte do Rio Amazonas. Pode ser um indício de se tratar de uma outra espécie, mas é algo ainda a ser investigado.
Na localidade de Capixauã, Hyla boans e Hyla wavrini foram encontradas no mesmo ambiente, em área alagada, sobre árvores, o que não é usual. Esse ambiente costuma ser mais propício para H. wavrini, enquanto H. boans é encontrada em floresta de terra firme, ao lado de igarapés (Hoogmoed, 1990). Em Nova Canaã e Alto Mentai H. boans efetivamente foi encontrada nesse ambiente (enquanto H. wavrini não foi registrada).
Um exemplar pequeno (26 mm) de uma espécie de Scinax, com íris laranja vivo e parte posterior das coxas preto uniforme (sem manchas amarelas como nas espécies
100
do grupo) foi encontrado em Novo Canaã e provavelmente representa uma nova espécie.
Em Alto Mentai foi encontrado um exemplar de Phrynohyas, menor que outros Phrynohyas da região e com manchas pretas na barriga. Esse exemplar não concorda com as espécies de Phrynohyas conhecidas da região (P. typhonius, P. coriacea, P.
resinifictrix) e parece que já está em processo de descrição por um pesquisador do Rio de Janeiro, comm base em material procedente de Juruti, PA.
Leptodactylidae Em toda a Amazônia pequenos sapos da serapilheira do gênero Adenomera são
muito comuns e caem em pitfalls em grande quantidade. A área de RESEX Tapajos-Arapiuns não foi exceção. Para toda a Amazônia brasileira são conhecidas apenas três especies: A. andreae, que ocorre em todas as áreas florestadas, A. hylaedactyla em áreas abertas (savanas) e A. heyeri, apenas conhecido no Brasil de uma localidade perto da fronteira com a Guyana (AvilaPires et al., 2010). No Peru foi demonstrada a existência de espécies cripticas e simpátricas, reconhecidas com base na vocalização. Estudos para Brasil ainda são incipientes. A espécie A. andreae é muito variável, com pelo menos tres padrões de coloração: cinza com manchas pretas irregulares, marrom com duas bandas largas dorsolaterais claras e marrom com linha sacral e linhas dorsolaterais laranja. Em Nova Canãa, Alto Mentai e Tucumatuba encontramos exemplares de A. andreae com padrão differente e tentamos descobrir se se trata de mais um padrão ou se estamos com mais uma espécie. As amostras de tecido para estudos moleculares podem ajudar a resolver essa questão.
Kentropyx calcarata é um lagarto heliófilo encontrado comumente junto a troncos caídos e margem de igarapés. Ameiva ameiva é outro lagarto heliófilo, da mesma família, igualmente encontrado em clareiras na floresta, mas que suporta níveis de insolação muito maiores, vivendo também em ambientes de vegetação aberta. Dentro da floresta K. calcarata usualmente é visto com mais frequência, mas as duas espécies podem ser encontradas na mesma área. Em Nova Canaã, avistamos em várias (pequenas e médias) clareiras naturais na floresta A. ameiva. Em nenhuma delas vimos
Lagartos
Gymnophthalmidae Cercosaura sp. é um lagarto de serapilheira que tem semelhanças com C. ocellata, mas que provavelmente representa uma espécie não descrita. Temos também exemplares de Juruti, PA, que já vinha sendo estudado. O grupo como um todo está sendo revisado como parte de uma tese de doutorado, onde esperamos definir o status taxonômico desses exemplares.
Sphaerodactylidae Pseudogonatodes guianensis é um pequeno lagarto encontrado em ambientes úmidos junto à serapilheira e base de árvores e palmeiras, na floresta. Sua amostragem costuma ser ocasional, entre zero a alguns indivíduos por expedição. A captura, todos em pitfalls, de 19 exemplares na localidade de Tucumatuba foi excepcional. Nas demais localidades visitadas, três exemplares foram obtidos em Alto Mentai e um em Nova Canaã.
Teiidae
101
K. calcarata (nenhum indivíduo foi avistado ou coletado). Mesmo junto a um igarapé, com tronco e galhos caídos, local aparentemente ideal para K. calcarata, só foi avistado um subadulto de A. ameiva, que é também muito comum na própria comunidade. Em Alto Mentai apenas um indivíduo de K. calcarata foi coletado. Já nas localidades do lado do rio Tapajós, mais indivíduos foram amostrados. Não temos explicação para a ausência / raridade de K. calcarata em parte da RESEX, algo muito pouco usual na área de ocorrência da espécie (Amazônia oriental).
Espécies vulneráveis ou ameaçadas de extinção
Nenhuma das espécies presentes na RESEX Tapajós-Arapiuns encontra-se na lista estadual ou nacional de espécies ameaçadas de extinção. O quelônio Podocnemis
unifilis é classificado como vulnerável pela IUCN, sendo a única espécie em alguma categoria de ameaça. O anexo II da CITES lista espécies cujo tráfico internacional deve ser regulado. Nesse caso não necessariamente a espécie está ameaçada. Das espécies registradas na RESEX Tapajós-Arapiuns encontram-se listados o jacaré (Paleosuchus triogonatus), os quelônios Peltocaphalus dumeriliana, Podocnemis spp. e Chelonoidis carbonária; as serpentes Boidae (todas) e o viperídeo Crotalus durissus; e o lagarto Crocodylurusamazonicus, possivelmente presente na UC (assim como os do gênero Tupinambis e Iguana iguana). Entre os anfíbios, o anexo II inclui todos os Dendrobatidae, o que inclui Allobates femoralis.
Possíveis endêmicos do interflúvio Madeira–Tapajós
a. Hyla leucocheila
b. Cercosaura sp.
c. Não registrado, mas de possível ocorrência – Anolis phyllorhinus
Àreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção especial e/ou estudos mais aprofundados
Os enclaves de cerrado amazônicos apresentam uma fauna própria, adaptada à vegetação aberta, não encontrada nas áreas de floresta. Como são áreas com ocorrência pontual na região, a fauna dessas áreas formam populações isoladas, com grande chance de apresentarem diferenças genéticas razoáveis entre si. Ao mesmo tempo, esses ambientes são usualmente frágeis e facilmente sujeitos a sofrerem alterações. Por esses motivos, alguns desses enclaves na UC deveriam ser integralmente protegidos. Da mesma forma, trechos das diferentes fitofisionomias de floresta deveriam ser identificados como áreas de preservação ou primitivas, para que preservem o conjunto total da fauna e flora aí presentes.
Considerando que há muitas comunidades na RESEX, que ocupam predominantemente as áreas mais periféricas, a indicação dos moradores de deixar como áreas de menor impacto o centro da UC é pertinente, desde que observados alguns cuidados:
• Incluir as nascentes dos cursos de água;
102
• Proteger alguns trechos à beira dos rios, incluindo algumas praias/ambientes
arenosos, que abrigam alguns animais próprios (e.g., Crocodilurus,
Uranoscodon, Podocnemis unifilis, Cnemidophorus, etc.);
• Proteger áreas abertas naturais que ainda mantenham a vegetação natural em
razoável estado de conservação;
• Definir com os moradores planos de manejo para os organismos que utilizam,
como a árvore que usam para construir canoas e remos (que fazem inclusive
para vender); animais de consumo, como tracajá, cabeçuda e jabuti (sugestão:
tamanho mínimo para consumo após ao menos dois períodos reprodutivos); e
outros produtos da floresta que utilizam ou venham a utilizar.
REFERÊNCIAS
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AVILA-PIRES, T.C.S.; VITT, L.J.; SARTORIUS, S.S. & ZANI, P.A. 2009. Squamata (Reptilia) from four sites in southern Amazonia, with a biogeographic analysis of Amazonian lizards. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, 4 (2): 99-118.
AVILA-PIRES, T.C.S., HOOGMOED, M.S. & ROCHA, W.A. 2010 Notes on the Vertebrates of northern Pará, Brazil: a forgotten part of the Guianan Region, I. Herpetofauna. Notas sobre os vertebrados do norte do Pará, Brasil: uma parte esquecida da Região das Guianas, I. Herpetofauna. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 5(1): 13-112.
BRCKO, I.C. 2011. Taxonomia do gênero Bolitoglossa Duméril, Bibron &
Duméril, 1854 (Caudata: Plethodontidae) na Amazônia brasileira. Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Zoologia UFPA-MPEG.
CARAMASCHI, U. & NIEMEYER, H. 2003. New species of the Hyla albopunctata
group from Central Brazil (Amphibia, Anura, Hylidae). Boletim do Museu Nacional, Zoologia, 504: 1–8.
HOOGMOED, M.S. 1990. Resurrection of Hyla wavrini Parker (Amphibia: Anura: Hylidae), a gladiator frog from northern South America. Zoologische Mededelingen Leiden 64(6): 71- 93.
103
DUELLMAN, W.E. 1990. Herpetofaunas in Neotropical rainforests: comparative composition, history, and resource use. In: A.H. Gentry (Ed.), Four Neotropical Rainforests. New Haven: Yale University Press: 455-505.
PANSONATO, R.W., AVILA, R.A., KAWASHITA-RIBEIRO & D.H. MORAIS, 2011. Advertisement call and new distribution records of Hypsiboas leucocheilus (Anura: Hylidae). Salamandra 47(1): 55-58.
SEBA, A., 1734. Locupletissimi rerum naturalium thesauri accurata descriptio, et iconibus artificiossissimis expressio, per universam physiceps historiam. Vol. I: 1-212. J. Wetstenius, G. Smith, J. Waesbergius, Amsterdam.
SILVA, J.M.C., RYLANDS, A.B., SILVA-JUNIOR, J.S., GASCON, C. & FONSECA, G.A.B. 2005. Primate diversity patterns and their conservation in Amazonia. In: A. Purvis, J.L. Gittleman, T. Brooks (Org.). Phylogeny and Conservation. Cambridge: Cambridge University Press, 2005, v. 10: 337-364.
VOGT, R.C., G.M. MOREIRA & A.C.O.C. DUARTE. 2001. Biodiversidade de répteis do bioma Floresta Amazônica e ações prioritárias para sua conservação. Pp. 89-96 in: A. Veríssimo, A. Moreira, D. Sawyer, I. Santos & L.P. Pinto (Orgs.), Biodiversidade na Amazônia Brasileira. Avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Estação Liberdade : Instituto Sócio-Ambiental.
104
RELATÓRIO 5
RELATÓRIO DE EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA
LEVANTAMENTO RÁPIDO DA QUIROPTEROFAUNA NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
2011-2012
EQUIPE:
Ana Albernaz – Museu Paraense Emílio Goeldi
Luís Reginaldo Ribeiro Rodrigues – Universidade Federal do Oeste do Pará
Anderson Jose Baía Gomes – Universidade Federal do
Pará Rafaela Fatima Soares da Silva – Museu Paraense
Emílio Goeldi
Willam Oliveira da Silva – Universidade Federal do Pará
105
INTRODUÇÃO
Os morcegos são os únicos mamíferos voadores e constituem a segunda maior ordem da classe Mammalia, a Ordem Chiroptera. Atualmente, são conhecidas mais de 1.000 espécies de morcegos, que se classificam em dois grupos principais: a subordem Megachiroptera e a subordem Microchiroptera. Os megaquirópteros, também conhecidos como raposas voadoras, ocorrem na África, Ásia e Oceania, sem representados por uma única família (Pteropodidae). Os microquirópteros, por sua vez, são encontrados no mundo inteiro, com exceção da Antártida, e compreendem 17 famílias (Findley, 1995).
A mastofauna brasileira inclui 12 Ordens e 701 espécies. O grupo mais especioso é o dos roedores com 34,7% das espécies, seguido pelos morcegos que perfazem 24,8%, representando 174 espécies, 65 gêneros e nove famílias (Paglia et al. 2012). Com base nestes números, o Brasil é o segundo país com maior diversidade de morcegos, superado apenas pela Colômbia, com 178 espécies (Bernard et al. 2010).
Os estudos sobre a quiropterofauna brasileira tem se intensificado nos últimos 15 anos, entretanto, menos de 10% do território nacional pode ser considerado minimamente amostrado e nenhum dos biomas pode ser considerado bem estudado quanto à quiropterofauna. A situação do bioma Amazônia é considerada crítica, visto que menos de 25% da região já recebeu estudos sobre quirópteros (Bernard et al. 2010).
Além disso, nota-se que a maioria dos estudos foram concentrados em sítios próximos de centros urbanos (Manaus, Belém, Macapá e Santarém) e ao longo de alguns rios de fácil navegabilidade, o que torna deficiente a representatividade dos dados disponíveis para essa enorme região, que abriga vasta heterogeneidade de habitats, tais como a floresta tropical chuvosa densa e ambientes mais secos, como manchas de cerrados e campinaranas, além de florestas inundáveis sazonalmente.
Uma compilação recente da lista de quirópteros da Amazônia brasileira registra 146 espécies de 64 gêneros e nove famílias (Bernard et al. 2011). A família Phyllostomidae é a mais rica com 80 espécies, seguida por Molossidae (24 sp.), Vespertilionidae (16sp.), Emballonuridae (16 sp.), Mormoopidae (3 sp.), Thyropteridae (3 sp.),
Noctilionidae (2 sp.), Natalidae e Furipteridae com apenas uma espécie cada. O Pará é o estado amazônico com o maior número de espécies registradas (120), porém o nível de conhecimento sobre a quiropterofauna paraense ainda é considerado deficiente e, pelo menos, duas áreas são indicadas como prioritárias para receber estudos de inventário biológico: o sul do Pará e a porção noroeste da calha norte paraense (Bernard et al. 2011).
Na região oeste do Pará, mesorregião onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns, vários sítios já foram estudados e servirão de base de conhecimento para comparação com os dados obtidos no presente estudo. Entre eles, o Parque Nacional da Amazônia com 42 espécies (Reis & Schubart 1979; Mok et al. 1982; Marques 1985; Rodrigues – dados não publicados); a FLONA Tapajós com 55 espécies (Castro-Arellano et al. 2007) e a região de Alter-do-Chão, Santarém com 70 espécies (Bernard & Fenton, 2002).
Os morcegos desempenham inúmeros papéis na regulação dos ecossistemas tropicais, pois sua notável diversidade de adaptações morfológicas e hábitos alimentares lhes permite a utilização dos mais variados nichos em relação de interdependência com o meio (Miretzki, 2003). A ecologia alimentar dos morcegos provê informações extremamente úteis para o entendimento dos mecanismos de partilha de recursos que regulam as relações tróficas, e que são responsáveis pela alta diversidade deste grupo nas regiões tropicais (Passos et al. 2003).
106
Nos trópicos, os morcegos que se alimentam de frutas e néctar desempenham um papel vital na sobrevivência das florestas pluviais. Ao comerem as frutas, os morcegos espalham suas sementes, à medida que voam e fazem a digestão. Os morcegos que se alimentam de néctar polinizam muitas plantas de valor nutritivo ou econômico, muitas plantas que produzem frutos de importância na agricultura, como caju, figo, banana, manga e outras, dependem dos morcegos para polinização e dispersão de suas sementes. A dispersão de sementes por morcegos frugívoros contribui para o estabelecimento de muitas espécies de plantas pioneiras, auxiliando os mecanismos de regeneração e sucessão secundária em áreas tropicais (Passos et. al. 2003).
À medida que partilham os recursos, em especial os alimentares, os quirópteros influenciam a dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como
dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de populações animais. Por suas características ecológicas este grupo pode ser útil como indicador de alteração no ambiente na identificação dos processos biológicos envolvidos na perda ou transformação do habitat natural (Bianconi et al. 2004).
METODOLOGIA
SÍTIOS DE ANMOSTRAGEM
Os locais de coleta de morcegos foram estabelecidos em parcelas previamente determinadas nos transectos de 5 km construídos para este estudo, nas localidades de Nova Canaã, Alto Mentai, Boim e Capixauã. As parcelas consistiram de trilhas em linha reta de 250 metros, abertas em posição ortogonal ao transecto e espaçadas a cada 1000 metros. Eventualmente, algumas amostras foram coletadas em locais fora do transecto/parcela, com o objetivo de se amostrar micro-habitat específico, tal como área alagada e igarapé, ou em abrigos, tais como ocos de árvores. No quadro 1 abaixo estão indicados os locais de coleta de quirópteros na Resex Tapajós-Arapiuns.
Quadro 1: Sítios de coleta de quirópteros na Resex Tapajós Arapiuns.
Sítio Acrônimo Coordenadas (GPS)
Nova Canaã, Igarapé Inhambu Pt Santarém, PA
NC-1 S 03° 10’ 11.3’’ – W 55° 49’ 01.3’’
Com. Nova Canaã,
arapé Inhambu Pt 02, Santarém, PA
NC-2 S 03° 09’ 28.7’’ – W 55° 49’ 31.1’’
Com. Alto Mentai, Pt 01,
Santarém, PA
107
Alto Mentai, Pt 02 (Vila Alto Mentai)Santarém, PA
AM-2 S 02° 47’ 27.0’’ – W 55° 36’ 01.8’’
Com. Boim, Igarapé
quem dizia Pt 01, Sant, PA
BO-1 S 03° 05’ 37.0’’ – W 55° 32’ 08.3’’
Com. Boim, Igarapé
quem dizia Pt 02, Sant, PA
BO-2 S 03° 06’ 26.3’’ – W 55° 31’ 42.8’’
Com. Capixauã, Pt 01,
Santarém, PA
CP-1 S 02° 36’ 44.5’’ – W 55° 11’ 31.5’’
Técnicas de coleta e esforço amostral
As coletas foram realizadas com o uso de redes de neblina medindo 12m x
2,5m. As redes foram instaladas ao nível do solo, em arranjo linear contínuo, acompanhando a trajetória da parcela. Normalmente, o arranjo era composto por 12 redes que eram abertas ao anoitecer (18:00h) e fechadas à meia-noite, sendo vistoriadas em intervalos de 15 a 30 minutos.
Adicionalmente, algumas coletas foram realizadas por busca ativa em abrigos diurnos para complementação do inventário. Tais buscas foram realizadas no período da manhã, nas proximidades do transecto principal ou em abrigos relatados por moradores locais. A captura em abrigos consistiu de cercar o abrigo com rede de neblina e depois afugentar os morcegos em direção à rede. Este procedimento foi realizado por pelo menos duas pessoas, mas não se padronizou o esforço empregado, por este motivo o cálculo de esforço amostral foi baseado apenas na técnica de rede de neblina. A unidade de esforço amostral adotada neste estudo foi a Hora.Rede (H.R), ou seja, uma H.R equivale a uma rede de 12m x 2,5m aberta por uma hora.
Triagem e registro de dados biológicos
Os morcegos capturados foram removidos das redes e colocados individualmente em sacos de pano. Ao longo dos intervalos de vistoria das redes, os animais foram analisados para obtenção dos seguintes dados: hora da captura, peso, sexo, faixa etária, estado reprodutivo, comprimento do antebraço e identificação taxonômica. Quando possível o animal era fotografado. Após a tomada dos dados, os morcegos foram soltos no mesmo local da coleta, exceto alguns espécimes, principalmente, aqueles cuja identificação era duvidosa, que foram coletados como vouchers para posterior confirmação taxonômica e para compor coleção de referência. Para a identificação adotou-se as chaves dicotômicas publicadas por Lim & Engstrom (2001) e Gardner (2007).
108
Os espécimes coletados foram preparados por via úmida, fixados em formol
10% e conservados em Etanol 70%, recebendo etiqueta de campo seriada com o acrônimo RSTA (Resex Tapajós-Arapiuns). A coleção foi partilhada entre as instituições Museu Paraense Emilio Goeldi e Universidade Federal do Oeste do Pará, conforme instrui a licença SISBIO (N° 332801). Sub amostras de tecido dos espécimes coletados foram preservadas para futuros estudos genéticos.
Análise dos dados
Cada evento de captura foi assumido como um registro individual. A abundância relativa foi obtida pela razão entre o número de capturas de cada espécie pelo número total de morcegos capturados. A eficiência do inventário foi estimada pelo Índice de capturas (IC) dado pela razão entre o número de capturas pelo esforço amostral, e também pela razão entre o número de espécies pelo número de capturas, e pela razão entre o número de espécies pelo esforço amostral. A análise da curva acumulativa de espécies foi usada para se avaliar e estimar a riqueza local pelo método não paramétrico Jackknife de 2ª ordem. Este estimador calcula a riqueza local somando-se a riqueza observada a um parâmetro calculado a partir do número de espécies raras e do número de amostras, conforme a equação abaixo (Cowell & Coddington, 1994):
Sest = Sobs + [L(2n-3) / n - M(n-2)2 / n(n-1)]
Ond:
Sest = riqueza estimada
Sobs = riqueza observada
L = número de espécies que ocorrem em somente uma amostra
M = número de espécies que ocorrem em somente duas amostras
n = número de amostras
Este método de estimativa de riqueza foi preferido por reduzir o viés das estimativas e por não requerer uma amostragem extraordinária para revelar resultados confiáveis (Cowell & Coddington, 1994; Tomaz & Zortéa, 2008). A estimativa de riqueza foi calculada com auxílio do programa EstimateS versão8 (Cowell, 2006).
Nesta análise, por se tratar de um estudo de levantamento rápido inicial com baixa amostragem de um grupo altamente diversificado na área de estudo, optou-se
por agrupar as sub amostras das diferentes localidades, desconsiderando-se também
aqui os registros obtidos de capturas em abrigos.
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RESULTADOS
Foram realizadas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna na área da RESEX Tapajós Arapiuns. A primeira ocorreu do dia 14 a 23 de junho de 2011 e a segunda do dia 30 de março a 11 de abril de 2012, que resultaram em 16 sessões noturnas de coletas com redes de neblina e três sessões diurnas de busca direta em abrigo. No total foram capturados 267 morcegos, dos quais 254 foram obtidos em redes de neblina armadas à 30cm do nível do solo, enquanto que 13 foram capturados diretamente em abrigos diurnos. Os registros de capturas em abrigos foram desconsiderados para o cálculo de esforço amostral e análise comparativa entre sítios.
O esforço amostral compreendeu 1066 (H.R), que foi distribuído em 402 (H.R) na primeira campanha e 664 (H.R) na segunda, resultando em 72 e 182 capturas de morcegos, respectivamente. A síntese do esforço amostral por localidade e respectivos índices de eficiência do inventário são mostrados no Quadro 2.
Foram registradas 32 espécies de morcegos representativas de quatro famílias e 24 gêneros (Quadro 3). A maioria delas (27) foi amostrada por rede de neblina enquanto que, oito espécies foram amostradas por busca em abrigo. Destas, cinco foram obtidas exclusivamente por esta técnica. A família Phyllostomidae foi a mais representada com 26 espécies, seguida por Emballonuridae (3 espécies), Molossidae (2 espécies) e Furipteridae (1 espécie). Carollia perspicillata foi a espécie predominante com quase 60% dos registros, seguida por Artibeus obscurus (6%). Sete espécies foram registradas pela captura de um único exemplar (Figura 1).
A curva acumulativa de espécies é mostrada na Figura 2 e evidencia uma leve tendência a estabilização a partir da vigésima quinta espécie. A riqueza estimada pelo método Jacknife de 2ª ordem indicou 32 espécies. Embora tenha ocorrido variação no sucesso de capturas entre as duas campanhas, e entre os locais de coleta, não foram observadas acentuadas variações do número de espécies (Figuras 3).
110
Quadro 2: Números de capturas, espécies, esforço amostral e índices de eficiência do inventário por sítio de coleta de morcegos da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Sítio Captura Esforço Índice de Captura Espécies Esp/Capt
NC-1
NC-2
AM-1
BO-1
BO-2
CP-1
CP-2
24 216 0,11 12 0,50
23 42 0,55 5 0,22
25 144 0,17 9 0,36
12 216 0,06 7 0,58
14 144 0,10 7 0,50
93 192 0,48 13 0,14
63 112 0,56 8
0,13
254 1066 0,24 27 0,11
Total
111
Quadro 3: Lista de espécies de morcegos registradas na Resex Tapajós-Arapiuns
Família/Espécie
Abundância Método Categoria Trófica n Relativa (%)
5 1,87 1;2 1 0,37 2 2 0,75 1;2
1 0,37 2
2 0,75 2 1 0,37 2
5 1,87 1 2 0,75 1 2 0,75 1 3 1,12 1
16 5,99 1 4 1,50 1 4 1,50 1 1 0,37 1
159 59,55 1 2 0,75 1 2 0,75 1 1 0,37 1 2 0,75 1 4 1,50 1;2 5 1,87 1 2 0,75 2 1 0,37 1 2 0,75 1 8 3,00 1 7 2,62 1 2 0,75 1 5 1,87 1 4 1,50 1 1 0,37 1 9 3,37 1 2 0,75 1
Família Emballonuridae Cormura brevirostris
Peropteryx macrotis
Saccopteryx bilineata Família Furipteridae Furipterus horrens Família Molossidae Molossops sp.
Molossus sp. Família Phyllostomidae Artibeus cinereus
Artibeus concolor
Artibeus gnomus Artibeus lituratus
Artibeus obscurus
Artibeus planirostris
Carollia brevicauda
Carollia cf benkeithi
Carollia perspicillata
Carollia sp.
Chiroderma villosum
Chrotopterus auritus
Desmodus rotundus
Lonchophylla thomasi Lophostoma silvicolum
Micronycteris schimidtorum
Mimon crenulatum
Phylloderma stenops
Phyllostomus elongatus
Rhinophylla fischerae
Rhinophylla pumilio Tonatia saurophila
Trachops cirrhosus
Trinycteris nicefori
Uroderma bilobatum Vampyriscus bidens
IA IA IA
IA
IA IA
FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU CAR HEM NEC
IF IF IF IF IF
FRU FRU
IF CAR
IF FRU FRU
112
Trinycteris nicefori
Mimon crenulatum
Chrotopterus auritus
Carollia cf benkeithi
Vampyriscus bidens
Rhinophylla pumilio
Phylloderma stenops
Micronycteris schimidtorum
Desmodus rotundus
Chiroderma villosum
Carollia sp.
Artibeus gnomus
Artibeus concolor
Artibeus lituratus
Trachops cirrhosus
Lonchophylla thomasi
Carollia brevicauda
Artibeus planirostris
Tonatia saurophila
Lophostoma silvicolum
Artibeus cinereus
Rhinophylla fischerae
Phyllostomus elongatus
Uroderma bilobatum
Artibeus obscurus
Carollia perspicillata
0 10 20 30 40 50 60 70
Abundância Relativa (%)
Figura 1: Abundância relativa entre espécies da Família Phyllostomidae. Em destaque a espécie predominante Carollia perspicillata (Foto).
113
Esp
éci
es
35
30
25
20
15
10
5
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Noites de coleta (72 H.R)
Figura 2: Curva acumulativa de espécies de morcegos da Resex Tapajós Arapiuns gerada a partir de dados de rede neblina. As linhas tracejadas indicam os intervalos de confiança a 95%.
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Camp 1 Camp 2
Capturas
Espécies
Figura 3: Capturas e número de espécies de morcegos registrados por redes de neblina nas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna da Resex Tapajos Arapiuns.
114
DISCUSSÃO
De acordo com as compilações mais recentes, 120 espécies de morcegos possuem registro de ocorrência no estado do Pará (Bernard et al. 2011). Na região oeste do Pará, estudos de longo prazo demonstraram elevada diversidade da quiropterofauna local em áreas preservadas, como a FLONA Tapajós (55 espécies) e Alter-do-Chão (70 espécies) (Castro-Arellano et al. 2007; Bernard & Fenton, 2002). No presente estudo relatamos 32 espécies na Resex Tapajós Arapiuns, o que interpretamos como uma parte da diversidade local desta UC. Com base no conhecimento das comunidades de morcegos de outras áreas da região oeste do Pará e razoável sugerir que na Resex Tapajós Arapiuns podem ocorrer de 55 a 70 espécies. Levantamentos rápidos da biodiversidade, tais como no presente estudo, geralmente resultam numa amostragem parcial da diversidade local de um sítio, entretanto, são muito valiosos no sentido de gerar informações prioritárias para subsidiar planos de conservação e avançar o conhecimento sobre a biodiversidade concorrendo inclusive para a descoberta de novas espécies (Alonso et al. 2001).
Tradicionalmente, a estratégia de estudo da quiropterofauna no bioma
Amazônia é caracterizada por estudos de longo prazo realizados em sítios próximos aos grandes centros urbanos, havendo portanto, poucos estudos de levantamento rápido publicados. Martins et al (2006), por exemplo, relata dados obtidos em três UC’s do estado do Amapá. Quando comparados aos resultados obtidos na Resex Tapajós Arapiuns nota-se que devido ao maior esforço amostral aplicado no presente estudo, o índice de capturas foi menor (0,24 morcegos/rede.hora), entretanto, não se observou acentuada variação nos índices espécies/captura (0,11) e espécies/esforço (0,03). Em termos de eficiência do inventário, os resultados indicam maior semelhança com o estudo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (AP), que embora tenha registrado 19 espécies, mostrou índices de captura e espécies/esforço de 0,27 e 0,04, respectivamente.
A predominância de espécies da família Phyllostomidae é um padrão comum em áreas de floresta da região neotropical, além disso, este grupo parece ser mais suscetível a capturas por redes de neblina (Voss & Emmons, 1996; Simmons & Voss, 1998; Sampaio, et al. 2003). Da mesma forma, a dominância de Carollia
perspicillata é um padrão comum e tem sido observado em outras áreas do bioma Amazônia (Bernard & Fenton, 2002; Castro-Arellano et al. 2007; Sampaio et al. 2003). É interessante notar que a segunda espécie mais abundante, Artibeus obscurus, foi cerca de 10 vezes menos abundante que C. perspicillata. Tal magnitude de variação da abundancia destas duas espécies já foi reportada em áreas de fragmentos florestais do projeto PDBFF, nas proximidades de Manaus (Sampaio et al. 2003). Castro-Arellano et
115
al (2007) demonstraram que C. perspicillata é uma espécie sensível que diminui em abundância em resposta ao corte seletivo de baixo impacto. A conversão de florestas maduras em áreas de plantio também provoca alteração do nível de abundância em C. perspicillata, assim como em outros filostomídeos (Willig et al. 2007).
A elevada abundância de Carollia perspicillata observada no presente
estudo da Resex Tapajós Arapiuns pode ser explicada por efeito de alteração do hábitat em pelo menos dois dos sítios de amostragem, pois uma análise da distribuição de capturas desta espécie revelou que 123 indivíduos, equivalente a 77,3% do total capturado, foram registrados na localidade de Capixauã. Quando acrescentamos os dados de uma noite de coleta (17/06/2011) realizada em um ponto próximo a localidade de Nova Canaã, o número de indivíduos subiu para 142 (89,3%). De fato, é importante mencionar que abundância de C. perspicillata nestas áreas certamente é maior, visto que em duas noites de coleta na localidade de Capixauã, cerca de 80 indivíduos desta espécie foram soltos sem terem sido registrados no livro de campo. Tal medida foi tomada para se evitar o risco de mortalidade aos animais quando se coloca vários indivíduos no mesmo saco de pano e, também para possibilitar a continuidade do trabalho de campo. Ambos os pontos de coleta nas localidades de Nova Canaã e Capixauã foram alocados em áreas de mata secundária, próximas da Vila e de roçados usados pelos moradores locais, portanto, trata-se de ambientes alterados (Figura 5).
Similarmente, ficou evidente que a maior variação do número de
capturas entre as duas campanhas e entre os locais de amostragem, sem haver grande variação do numero de espécies (Figuras 3 e 4) deve-se a alta taxa de capturas da espécie Carollia perspicillata.
O monitoramento da fauna de quirópteros da Resex Tapajós Arapiuns
deve ser recomendado em estudos futuros que visem o licenciamento e autorização de atividades potencialmente danosa ao meio ambiente nesta Unidade de Conservação. Alterações da estrutura de habitats florestais são evidentes nas proximidades das vilas e possivelmente já demonstram efeitos na estrutura e composição das assembleias de morcegos nestas áreas. Estudos adicionais são necessários para revelar com maior
116
precisão a riqueza de espécies, assim como a estrutura das assembleias e os padrões ecológicos do grupo em áreas naturais e alteradas dentro da Unidade.
Figura 5: Aspectos da vegetação no ponto 2 de coleta de morcegos na Comunidade Nova Canaã, Resex Tapajós Arapiuns. Local de alta abundância de Carollia perspicillata.
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121
RELATÓRIO 6
RELATORIO PLANTAS
RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
COOPERAÇÃO:
MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI
CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL
APOIO:
ICMBIO
ASSOCIAÇÃO TAPAJOARA
EQUIPE:
Ana Luisa Albernaz - Coordenação
Jerriane Oliveira Gomes – Responsável pelos levantamentos em Nova Canaã e Alto Mentai
Angelo Dourado – Responsável pelos levantamentos em Quem Dizia e Capixauã
Carlos da Silva Rosario (Carlito) - Parabotânico responsável pela identificação das plantas em Nova Canaã e Alto Mentai
Carlos Alberto Santos da Silva (Beleza) – Parabotânico responsável das plantas em Quem Dizia e Capixauã
Um representante da Associação Tapajoara em cada local de amostragem (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã)
122
Introdução
As Reservas Extrativistas (RESEX) são Unidades de Conservação de Uso Sustentável e têm como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Seus principal instrumento de gestão é o Plano de Utilização da Unidade, que deve incluir um zoneamento (divisão da UC em zonas com diferentes intensidades e tipos de usos).
De acordo com o último plano de utilização elaborado para a RESEX Tapajós-Arapiuns, a UC foi criada, por demanda das comunidades locais, em 1998 (Carvalho-Jr. 2008). Conforme este documento, os principais conflitos existentes na área, e que levaram à demanda para a criação, estavam relacionados à exploração de madeira por empresas privadas e à retirada de seixos no rio Arapiuns. Ainda de acordo com o documento, o primeiro plano de utilização para a RESEX foi feito em 1999, e estabeleceu a forma de uso dos recursos da RESEX. O primeiro zoneamento da Unidade foi feito em 2003. Esses instrumentos de gestão foram ambos atualizados em 2008. As razões para a definição de cada uma das zonas não é explicada em detalhe no documento de atualização e os documentos mais antigos não estão disponíveis.
No que diz respeito ao uso dos recursos da RESEX, a extração de recursos vegetais é permitida dentro dos lotes pertencentes aos comunitários, que aparentemente podem ocupar as zonas I (Habitacional, agrícola e Manejo Florestal Comunitário) e II (Zona de Manejo Florestal comunitário). Na zona I as regras para o uso não são claras, mas na zona II a extração deve ocorrer mediante a aprovação de Planos de Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo Comunitário (PMFS) e com a anuência do Conselho Deliberativo da UC (Carvalho-Jr. 2008). A zona III é destinada à conservação e não deve ser utilizada para o extrativismo. Há ainda uma zona de amortecimento de 10 km no entorno da RESEX, para a qual as regras de uso deveriam ser definidas pelo então IBAMA.
Do ponto de vista teórico, é importante que as zonas de proteção integral em UCs de uso sustentável sejam representativas da biodiversidade local. Tal representatividade asseguraria o papel da Unidade como parte do sistema de áreas protegidas do País. Além disso, o manejo de espécies de interesse econômico requer que sejam mantidas tanto populações viáveis dessas espécies como a variabilidade genética dos estoques. Nesse sentido, as zonas de proteção integral podem representar uma reserva estratégica importante para a o futuro manejo das espécies de valor comercial da UC. Em síntese, as zonas de proteção integral devem ser consideradas parte integral da estratégia de manejo da unidade e não devem ser alocadas para essas zonas apenas áreas que não são de interesse para o extrativismo.
De acordo com o Plano de Uso, a principal atividade econômica dos moradores é a agricultura em pequena escala. O Plano indica que tanto para a melhoria da qualidade de vida da população como para assegurar a conservação da UC seria importante realizar inventários dos recursos vegetais na área da RESEX com vistas a avaliar o potencial para a exploração de recursos madeireiros e outros recursos vegetais não-madeireiros.
O presente relatório é fruto de uma cooperação entre o Museu Paraense Emilio Goeldi e a Conservação Internacional do Brasil, que, com o apoio do ICMBIO e dos moradores da RESEX, teve como objetivo realizar levantamentos de plantas arbóreas na RESEX. Foram visitadas 4 áreas e aqui são apresentados resultados quanto à composição de
123
gêneros e espécies, o potencial econômico das espécies madeireiras e o “status” de conservação das áreas visitadas.
Métodos
Foram feitos levantamentos de plantas nas quatro localidades indicadas nas reuniões de planejamento como viáveis em termos de acesso e logística: Nova Canaã, Alto Mentai, Quem
Dizia e Capixauã. Em cada uma dessas localidades foram amostradas 10 parcelas de 20 x 50 m (0,1 ha), totalizando 4 hectares de levantamentos (figura 1). Das 40 parcelas amostradas, 36 foram em floresta e 4 em formação savânica, localmente conhecida como “campo”. Em cada parcela, as plantas com mais de 5 cm de DAP foram identificadas, foi medido o DAP e estimadas a altura do fuste e altura total. Os nomes válidos foram verificados e atualizados utilizando-se as bases de dados digitais MOBOT-TROPICOS http://www.tropicos.org/e a Lista de espécies da Flora Brasileira http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/. Para analisar a suficiência do esforço foi utilizado o estimador empírico de Burham & Overton (1979).
Atualmente considera-se que a maximização da representatividade das áreas protegidas pode ser obtida pela aplicação do conceito de complementaridade, em que é considerado mais importante assegurar a proteção de áreas que possuam diferentes conjuntos de espécies do que apenas priorizar áreas com alta riqueza, nas quais as espécies muitas vezes são as mesmas. Com isso, teoricamente, áreas distintas floristicamente, ou seja, com baixa similaridade em relação às demais, tem um valor alto para conservação. Com o objetivo de analisar a dissimilaridade florística entre as amostras, foi utilizado o índice de Bray-Curtis e a técnica de ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS).
Como a RESEX é uma unidade de uso sustentável, espera-se que a utilização dos seus recursos seja feita de forma a permitir a recuperação dos estoques e a sua utilização por gerações futuras. Como a área já foi explorada para a produção de madeira antes de se tornar protegida e a exploração desse recurso é permitida às populações residentes, para subsidiar ações de manejo das espécies de interesse madeireiro foi analisada a densidade e a estrutura de tamanho de algumas espécies madeireiras entre as de maior valor comercial.
124
Figura 1. Mapa da RESEX com tipos de vegetação do mapa do RADAM 1:250.000 e indicando as áreas (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã) onde amostras botânicas foram realizadas.
Resultados
Nas 40 parcelas amostradas, foram registrados 3785 indivíduos, pertencentes a 62 famílias, 198 gêneros e 471 espécies (Anexo 1). Nos períodos das expedições para a realização dos levantamentos (junho/2011 e março de 2012) as plantas estavam estéreis e a identificação foi feita apenas com base em caracteres vegetativos. Apesar algumas plantas de terem sido coletadas para comparação em herbário e aprimoramento das identificações feitas em campo, como o material estava estéril não foram depositadas exsicatas em herbário. Nessas condições, a identificação específica envolve um alto grau de incerteza. A identificação dos gêneros é mais confiável, e, por isso, embora a lista de espécies seja apresentada, as identificações devem ser consideradas incertas e as análises serão apresentadas para os gêneros. Cabe mencionar que a correlação a riqueza
Alto Mentai
Nova Canaã
Quem Dizia
Capixauã
125
de espécies e de gêneros para as parcelas amostradas foi de 0,971, indicando que os gêneros neste caso são bons preditores para a riqueza encontrada em cada local.
A estimativa obtida para o número de gêneros foi de 238 e para espécies de 618, indicando que a amostra para os gêneros incluiu cerca de 85% dos gêneros esperados para a RESEX e cerca de 75% das espécies.
As parcelas em formação savânica tiveram em geral menor riqueza, sendo que das quatro parcelas nesse ambiente em uma foi registrado apenas um gênero (Byrsonima), enquanto na que apresentou maior riqueza foram registrados 6 gêneros (Byrsonima, Himatanthus, Guatteria, Matayba, Tapirira e Xylopia). Para as parcelas em formação florestal a riqueza genérica variou de 24 a 51. Apesar da menor riqueza, as parcelas em formação savânica foram floristicamente distintas das parcelas de floresta, apresentando tanto baixa similaridade em relação às parcelas de floresta (figura 2), como espécies que ocorreram exclusivamente nessas áreas (como Xylopia aromatica, Bowdichia
virgilioides e Byrsonima crassifolia), reforçando seu valor para conservação.
Além da maior riqueza por parcela, as parcelas em floresta tiveram maior variabilidade entre si do que as parcelas em áreas de campo (figura 2). Os principais gêneros associados à diferenciação entre as parcelas de floresta foram Jacaranda, Casearia e Siparuna, relacionadas ao extremo negativo da dimensão 2 da ordenação e Protium, Pouteria e Tetragastris, relacionadas aos maiores valores da dimensão 2. Seriam necessários dados geofísicos (como topografia, solos, umidade dos solos) mais refinados que os disponíveis para explicar essas variações.
DIMENSION 1
Figura 2. Ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico utilizando índice de dissimilaridade de Bray-Curtis para os gêneros de plantas identificados nas 40 parcelas do levantamento botânico. A primeira dimensão revela a diferenciação entre as
-3.5 -2.0 -0.5 1.0 -0.80
-0.15
0.50
P38 P3 7 P39 P40
P24
P25 2 3 P
P3 0 P22
P36
P26
20 P
P16
P31
P33
P17
P21
P15
P29
18 P
P11
P28
P13
P4 P8
P12 4 P1 P5 P1
P32
P 7
P34
P6
19 P P3 P9
0 1 P P2
P27
P35
D I M E N S I O N
2
126
parcelas de floresta (parcelas P1 a P36) e as de savana (parcelas P37 a P40), enquanto a dimensão 2 revela o maior espalhamento das parcelas de floresta e maior coesão das parcelas em savana.
As espécies madeireiras de maior valor comercial (Bagassa guianensis, Dinizia
excelsa, Dipteryx odorata, Goupia glabra, Handroanthis serratifolius, Hymenaea
courbaril e Manilkara huberi) e tiveram baixa abundância (< 1 ind/ha), indivíduos predominantemente de pequeno porte (DAP < 40 cm) ou ambos (Tabela 1). Entre as espécies de valor comercial, a jarana (Lecythislúrida), que tem um valor intermediário, foi a que apresentou maior densidade de indivíduos e indivíduos de porte relativamente maior. A seringueira (Hevea brasiliensis), sem valor madeireiro mas com alto potencial para o extrativismo, também ocorreu em baixa densidade nas áreas amostradas e apresentou apenas indivíduos de pequeno porte (Tabela 1).
Espécies pioneiras, como Cecropia spp. (13 parcelas), Bellucia spp. (7 parcelas) e Miconia spp. (21 parcelas) foram frequentes nas parcelas de floresta, onde apresentaram também abundância relativamente alta (Cecropia= 74, Bellucia= 39, Miconia= 71), indicando um nível de perturbação alto nas áreas visitadas.
Tabela 1. Abundância e diâmetros à altura do peito (DAP) médios. Mínimos e máximos para algumas espécies de valor madeireiro alto e médio.
Espécie Nome comum N DAP (média em cm)
DAP min
DAP max
Bagassa guianensis Aubl. tatajuba 1 83.12 - -
Bertholletia excelsa Bonpl. castanha-do-Pará 2 174.45 165.6 183.3
Dinizia excelsa Ducke angelim-vermelho 2 15.2 8.6 21.8
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd. cumaru 6 30.46 5.7 64
Goupia glabra Aubl. cupiuba 8 27.53 6.7 59
Handroanthus serratifolius (Vahl) S. O. Grose ipê amarelo 4 24.96 6.2 43.3
Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg. seringueira 2 10.83 7.6 14
Hymenaea courbaril L. jatobá ou jutaí-açu 8 33.43 7 49.5
Hymenaea parvifolia Huber jutaí-mirim 6 39.36 15.1 66.9
Hymenolobium petraeum Ducke angelim-pedra 4 37.54 31.8 42.4
Lecythis idatimon Aubl. mata-matá 8 14.49 5.4 24.2
Lecythis lurida (Miers) S.A. Mori jarana 14 40.08 14.2 75.2
Lecythis pisonis Cambess. sapucaia 2 23.49 12.4 34.6
Manilkara amazonica (Huber) A. Chev. maparajuba 8 10.42 5.3 27.4
Manilkara huberi (Ducke) A. Chev. maçaranduba 8 32.18 7.6 69.7
Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez itauba 16 39.24 10 114.8
Minquartia guianensis Aubl. acariquara 9 20.01 5.7 34.2
127
Ocotea spp. louro 54 21.18 4.9 82
Simarouba amara Aubl. marupá 1 5.41 - -
Discussão
A principal dificuldade na amostragem de plantas é a identificação correta dos indivíduos. Embora a identificação em campo, com base em caracteres vegetativos como folhagem, tipo da casca, tipo da raiz, cor da madeira, existência de látex, etc, seja um bom começo, a identificação precisa só pode ser feita com base em material fértil. Dessa forma, levantamentos rápidos, envolvendo grandes equipes, como o presente, quase nunca fornecem um resultado muito preciso para as plantas. O ideal para se obter uma lista mais confiável e completa de uma determinada área é coletar plantas oportunisticamente ao longo do tempo, quando as plantas estão florindo ou frutificando. Como a RESEX é uma área ocupada por diversas comunidades, as quais aparentemente têm interesse no manejo da área, seria importante desenvolver treinamentos junto às comunidades para que elas pudessem coletar e armazenar amostras de forma correta, e então encaminhá-las a instituições acadêmicas para identificação e catalogação. Esta seria a forma mais vantajosa, em termos de custos e benefícios, para se chegar a uma listagem mais precisa da flora da UC.
O número de gêneros e espécies encontrados na RESEX Tapajós-Arapiuns está dentro do esperado para florestas da região, e os levantamentos realizados, embora ainda não completos, foram capazes de registrar uma boa parcela da diversidade de plantas arbóreas da área. As ressalvas são a identificação não muito precisa e que nem todos os ambientes da RESEX foram amostrados. A inclusão de outros ambientes, como igapós e outras tipologias florestais, poderia acrescentar novos táxons à lista.
Entre os ambientes amostrados, as savanas possuem características únicas, que justificam a proteção de parte delas em zonas de proteção integral, o que não ocorre atualmente. Parte da baixa riqueza se deve a que os levantamentos incluíram apenas indivíduos de porte arbóreo. As savanas possuem poucas árvores e normalmente a maior riqueza esperada nesses ambientes seria de arbustos e ervas.
Entre as florestas, houve variação na composição florística entre ambientes, cujas causas devem ser investigadas em maior detalhe, para possível reformulação das zonas de proteção da UC. Apesar do mapa do RADAM indicar uma tipologia florestal diferente na área amostrada na região do Alto Mentai em relação à das demais localidades amostradas, as composição florística daquela área não foi claramente distinta das demais.
A densidade de espécies de interesse econômico foi relativamente baixa, havendo poucos indivíduos ou apenas indivíduos de pequeno porte das espécies encontradas. Não é possível saber se essa é uma realidade para toda a RESEX ou uma característica das áreas amostradas, escolhidas, entre outras características, pela relativa facilidade de acesso. As áreas amostradas mostravam outros indícios de antropização, como alta abundância e alta frequência de espécies pioneiras. De fato, todas as áreas amostradas estavam dentro da zona definida como Zona I, que é a de uso mais intensivo. Seria importante analisar a extensão da antropização na RESEX e se há áreas com menor antropização e/ou maior abundância de espécies de valor comercial, madeireiro ou não-madeireiro. Tal análise ajudaria a traçar uma estratégia apropriada para o manejo do
128
recurso, tanto dentro da própria Zona I, que é a mais acessível aos moradores, como nas demais zonas. Manejo aqui é considerado em sua definição ampla, que inclui tanto o planejamento da exploração como o da conservação do recurso, com vistas a manter populações viáveis e a variabilidade genética das populações das espécies de interesse econômico.
Recomendações
• Promover treinamentos para os moradores para coleta de material fértil e encaminhar amostras a coleções biológicas
• Analisar a extensão da antropização na RESEX e o potencial para o extrativismo em áreas menos antropizadas
• Promover levantamentos da flora em outros ambientes e Zonas de uso da RESEX, tanto para aprimorar os conhecimentos sobre a biodiversidade da área como para definir melhores estratégias de manejo dos recursos florestais.
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Carvalho-Jr, E. (Coordenador). 2008. Plano de Manejo Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Diponível em http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-deconservacao/biomas-brasileiros/amazonia/unidades-de-conservacao-amazonia/2045resex-tapajos-arapiuns.html. Acessado em 08/06/2012
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- ANEXO 4 - MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS
NATURAIS DA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
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CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL
PROJETO CORREDOR TAPAJÓS - ABACAXIS
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX
TAPAJÓS-ARAPIUNS
Jarine Rodrigues Reis
Organização e Redação
Santarém e Aveiro, setembro de 2011
RESEX Tapajós - Arapiuns, Comunidade Vila Franca – 21/06/2011 Foto: Luis Barbosa / CI - Brasil
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MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
Realização As atividades descritas neste relatório foram realizadas pela parceria
Conservação Internacional-CI, Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns-Tapajoara e Instituto Chico Mendes de Conservação da BiodiversidadeICMBio.
Equipe da Expedição Jarine Rodrigues Reis
Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação da Socioeconomia
Caroline Yoshida Kawakami
Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação de Turismo e Assistente de Campo
Luis Claudio Fernandes Barbosa
Conservação Internacional Coordenador de Planejamento Territorial
Leônidas Bentes Farias
Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Presidente
Dinael Cardoso dos Anjos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara
Segundo Secretário Executivo
Elke Maria Melo Vasconcelos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara
Segunda Tesoureira
Fotos Dinael Cardoso dos Anjos,
Caroline Yoshida Kawakami, Jarine Rodrigues Reis e
Luís Barbosa
Responsável pelo Relatório Jarine Rodrigues Reis
Santarém e Aveiro/Pará, setembro de 2011.
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Índice
1. Introdução e Contextualização 2. Objetivo
3. Procedimentos Metodologicos 4.1. Solos 4.2. Extrativismo 4.3. Caça 4.4. Recursos pesqueiros 4.5. Recursos hídricos 4.6. Uso público para a atividade de turismo 4.6.1. Diagnóstico da atual situação 4.6.2. Dificuldades apresentadas 4.6.3. Potencialidades averiguadas 4.6.3. Visão das agências 4.6.4. Visão da Secretaria de Turismo 4.6.5. Desafios
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Lista de Tabelas:
Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados
Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada
Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda
Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra
Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio
Tabela 06: Atividade comercial por sistema de plantio e percentual de uso da fitofisionomia utilizada para plantio em relação ao número citações
Tabela 07: Espaços de uso familiar ou coletivo por calha de rio
Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações
Tabela 09: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Arapiuns
Tabela 10: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Tapajós
Tabela 11: Percentual de problemas enfrentados pelas comunidades no extrativismo madeireiro em relação as citações
Tabela 12: Medidas de resoluções de problemas envolvendo o extrativismo madeireiro adotadas por algumas comunidades da RESEX
Tabela 13: Potencial madeireiro para manejo em médio prazo nas duas calhas de rio em relação as citações
Tabela 14: Percentual dos benefícios atribuídos aos produtos não madeireiros em relação as citações
Tabela 15: Percentual dos produtos que é comercializado dentro da RESEX em relação as citações
Tabela 16: Principais produtos e seu uso por parte das comunidades da RESEX
Tabela 17: Percentual dos problemas relacionados com extrativismo não madeireiro em relação as citações
Tabela 18: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns
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Tabela 19: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns
Tabela 20: Percentual dos principais produtos potenciais para manejo em relação as citações
Tabela 21: Percentual de benefícios atribuídos ao uso de fauna silvestre em relação as citações
Tabela 22: Percentual dos principais problemas enfrentados pelos comunitários com a atividade de caça em relação as citações
Tabela 23: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Arapiuns
Tabela 24: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Tapajós
Tabela 25: Percentual de animais caçados em relação as áreas de caça identificadas
Tabela 26: Regras próprias de pesca de algumas comunidades da RESEX
Tabela 27: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Arapiuns
Tabela 28: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Tapajós
Tabela 29: Regiões de uso público identificadas na RESEX
Tabela 30: Síntese do resultado do diagnóstico com os operadores de turismo
Lista de Fotos:
Foto da Capa: RESEX Tapajós-Arapiuns, Comunidade Vila Franca – 21/06/2011
Foto 01: Material de construção das habitações do projeto de reforma agrária
Foto 02: As habitações do projeto de reforma agrária do INCRA sendo construídas
na comunidade Nova Vista
Foto 03: O alojamento de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá
Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de
andiroba de Porto Rico (b)
Foto 05: Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba em Prainha do Maró
Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c)
Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b)
Foto 09: O uso do “tipiti” ainda empregado no processamento de farinha de
mandioca nas comunidades da RESEX Tapajós – Arapiuns
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MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX
TAPAJÓS-ARAPIUNS
1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO
A Amazônia tem um histórico de ocupação humana marcado pela presença de populações tradicionais, indígenas de diferentes etnias, e pela migração dos soldados da borracha, garimpeiros, colonos e empreendedores das atividades madeireira, agropecuária e mineradora.
Na fronteira entre os estados do Pará e Amazonas, entre os rios Tapajós no estado do Pará e rio Abacaxis no estado do Amazonas encontra-se 9,8 milhões de hectares de floresta amazônica que conectam diversos ecossistemas e garante o fluxo gênico necessário a existência de diversas espécies endêmicas. Hoje esta região abrange oito municípios incluindo a totalidade do município de Juruti e parte dos municípios Santarém, Aveiro e Itaituba, no Pará, e de Boa Vista do Ramos, Parintins, Barreirinha e Maués, no Amazonas.
A iniciativa de pensá-la como um Corredor da Biodiversidade iniciou em 2007, quando a Conservação Internacional do Brasil estabeleceu uma parceria com a ALCOA ALUMÌNIO visando aportar investimentos nas oportunidades de conservação existentes nesta região. Atualmente 44,5% da área total desta região está protegida por cinco Unidades de Conservação e uma (1) Terra Indígena. O projeto Corredor Tapajós-Abacaxis previu apoio a conservação desta região por meio de quatro componentes: (i) implementação das Áreas Protegidas; (ii) desenvolvimento de capacidades locais em planejamento e gestão de projetos em conservação e práticas de educação ambiental; (iii) implementação de bolsas de pesquisa em conservação; e (iv) elaboração de um Plano de Ação para a Conservação do Corredor Tapajós-Abacaxis (CI-Brasil, 2011).
Em 2009 a Conservação Internacional, por meio do projeto Corredor TapajósAbacaxis, passou a apoiar a implementação da RESEX Tapajós-Arapiuns, apoiando a capacitação do Conselho Deliberativo, além da complementação de informações que subsidiarão a elaboração do Plano de Manejo, como o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais e inventários de biodiversidade.
O uso de recursos naturais pelas populações locais apresenta-se como de grande importância para a geração de ocupação e renda. Dessa forma, há a necessidade urgente de informações gerais sobre o uso desses recursos e principalmente práticas viáveis de manejo (MOREIRA, 2005).
Para obtermos os dados do padrão de uso de recursos naturais na RESEX Tapajós-Arapiuns, foi necessária a aplicação do mapeamento participativo.
O mapeamento participativo de uso dos recursos naturais consiste numa metodologia que serve para espacializar, através do emprego de imagens Landsat e ferramentas de SIG (Sistema de Informação Geográfica), informações georreferenciadas da área de estudo sobre a o uso de recursos naturais pelas populações locais e onde estão localizados de forma mais eficiente e rápida.
2. OBJETIVO
O objetivo central deste documento é apresentar o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns com a participação dos atores diretamente abrangidos no processo de gestão da unidade de conservação para uma compreensão da dinâmica de uso do espaço territorial pelos moradores e usuários, para a elaboração do Plano de Manejo da RESEX Tapajós-Arapiuns, focando no levantamento e sistematização de informações que subsidiarão a sua elaboração.
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Especificamente o mapeamento participativo associado a outros questionamentos tem os seguintes objetivos:
• Visualização espacial do uso de recursos naturais, ocorrência, período e época de coleta (sazonalidade), quantidade explorada, problema no acesso e uso desses recursos, utilização e classificação por parte utilizada, fornecido pela percepção das comunidades a respeito do meio ambiente;
• Distribuição das atividades comerciais realizadas como agricultura, pecuária, extrativismo, pesca e turismo, das espécies animais e vegetais utilizadas comercialmente ou para subsistência.
O processo de construção de um mapa e as discussões agregadas a ele fornece uma base de análise sobre a qualidade ambiental e social da área.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Constituem procedimentos metodológicos centrais do mapeamento: oficinas comunitárias e entrevistas com operadores de turismo.
3.1. Oficinas comunitárias
Construída junto com representantes da Associação Tapajoara e ICMBio, a proposta das oficinas foi formar grupos de comunidade divididos por regiões que agregam comunidades vizinhas, com áreas de uso próximas e/ou sobrepostas, conforme figura 01. Cada oficina foi realizada com cerca de quatro representantes de cada comunidade, escolhidos por aptidões relacionadas as quatro atividades a serem mapeadas (agricultura, pesca, caça e extrativismo).
Foram coletadas e espacializadas informações a respeito da dinâmica de uso de recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns nas oficinas pré agendadas, como especificada acima e utilizado recursos como imagens do satélite LandSat (escala predominante de 1:35.000) da área adjacente das comunidades, e formulários de pesquisa semiestruturada.
Os formulários de pesquisa semiestruturada foram utilizados como apoio a complementação de dados do mapeamento tais como, a intensidade e periodicidade do uso, levantamento de atividades econômicas potenciais para o manejo de recursos naturais, além da caracterização da infra-estrutura comunitária.
Os dados percentuais apresentados neste relatório foram calculados através da relação das informações obtidas nas oficinas comunitárias cruzando com o número de vezes que essa informação foi citada pelo total de comunidades entrevistadas ou de grupos trabalhados. Por exemplo, na tabela 06 de atividade comercial por sistema de plantio foi calculado o percentual de uso da fitofisionomia utilizada para o plantio em relação ao número de vezes que cada opção de fitofisionomia foi citada nas oficinas.
Com o uso de canetas permanentes nas imagens foram identificadas as diferentes atividades iniciando com a identificação dos corpos d’água de referência das comunidades e a partir delas foram desenhados os polígonos que indicam a área de uso direto e indireto dos recursos naturais com as diferentes cores de canetas.
Com os polígonos desenhados e identificados na imagem LandSat, foi feito uma fotografia em alta resolução, para posterior digitalização no ArcGis.
As imagens georreferenciadas e digitalizadas foram associadas ao banco de dados
com informações, coletadas nas oficinas comunitárias, de pressão e freqüência e na pesca ainda o esforço de captura. O cruzamento das informações dos polígonos gerou mapas de intensidade de uso das atividades pesquisadas na área da RESEX.
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3.2. Entrevistas com operadores de turismo
Foram realizadas junto a operadores de turismo de Santarém e da Vila de Alter do Chão, pré-identificados pelas comunidades e outros informantes qualificados da RESEX Tapajós-Arapiuns.
A partir das informações coletadas em campo sobre o uso público turístico da UC, os operadores de turismo complementaram as informações, identificando a intensidade e o potencial de ecoturismodos sítios turísticos identificados por polígonos pré-mapeados, além de propor diretrizes para o ordenamento do uso-público da RESEX TapajósArapiuns.
4. RESULTADOS
A RESEX é tangenciada pelos rios Tapajós e Arapiuns e alguns de seus afluentes, rio Maró e rio Inambú (que formam a bacia do rio Arapiuns), onde estão localizadas as comunidades e vilas. Para a realização das oficinas as comunidades foram mobilizadas com apoio da Associação Tapajoara. As oficinas foram realizadas em comunidades pólos centrais com as comunidades vizinha para a elaboração do mapeamento.
Foram aplicados os formulários num conjunto de 68 comunidades, 44 comunidades na calha do rio Tapajós e 24 comunidades na calha do rio Arapiuns, Maró e Inambú. No total foram entrevistadas 208 pessoas com idade média de 44,9 anos, divididos em 19 oficinas comunitárias.
Os grupos comunitários foram selecionados de acordo com a proximidade geográfica e social. Essa divisão foi feita com auxílio de membros da Associação Tapajoara e técnicos da equipe de trabalho.
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acordo com a tabela 01. Os informantes foram selecionados de acordo com a representatividade ou conhecimento da área e das atividades desenvolvidas pelos moradores/usuários da RESEX. A divisão foi estabelecida da seguinte forma:
Figura 0 1 : Grupos comunitários trabalhados nas oficinas comunitárias , numerados de
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Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados.
Rio Grupo Comunidades
Arapiuns
1 Vila Franca, Vila Anã, Raposa e São Miguel
2 Tucumã, Nova Sociedade, Aminã, Aningalzinho e Arapiranga
3 Nova Canaã e Porto Rico
4 Prainha do Maró e Vista Alegre
5 Mentae, Alto Mentae, Cachoeirinha, Vila Nova e Pascoal
6 Piquiá, Braço Grande e São Pedro
7 São José I, Atrocal e Nova Vista
Tapajós
8 Escrivão, Camarão e Pinhel
9 Samaúma, Andurú e Cametá
10 Nova Vista, Tucumatuba e Nuquini
11 São Tomé, Pau-da-Letra, Rosário e Boim
12 Santo Amaro, Jatequara, Jauarituba, Paraná-Pixuna e Jaca
13 Paricatuba, Surucuá, Muratuba, Vista Alegre do Muratuba e Mirixituba
14 Parauá, Retiro e Mangal
15 Cabeceira do Amorim, Pajurá e Limãotuba
16 Vila Amorim, Cabeceira do Ukena, Enseada Amorim e Mapirizinho
17 Vista Alegre do Capixauã, Suruacá, Novo Progresso e Capixauã
18 Solimões, Pedra Branca, Carão e Anumã
19 Maripá, Santi e Curipatá
Quanto a categorização do uso dos recursos, será dividido em cinco tópicos principais:
• Solo – abordado a agricultura, a criação de animais e a distribuição espacial das comunidades em relação a características e infraestrutura de uso coletivo e de acesso aos benefícios básicos como a educação e a saúde;
• Extrativismo – tratado da área de uso dos recursos madeireiros e não madeireiros, destinados a comercialização ou uso para a subsistência, dificuldade ou benefícios gerados;
• Caça – apresentado as áreas utilizadas para a atividade de caça, as espécies animais caçadas, os benefícios atribuídos e as dificuldades para conseguir o recurso;
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• Recursos pesqueiros – debatido sobre a atividade de pesca em suas várias formas, seja de alimentação ou comercialização, seja regras ou problemas enfrentados;
• Recursos hídricos – tratado de como está sendo percebidas as mudanças nos corpos d’água, quais os motivos de tais mudanças e problemas ocasionados pela sazonalidade dos rios e lagos.
• Uso público para a atividade de turismo - análise do uso público como finalidade o turismo com diagnóstico da situação atual, dificuldades apresentadas, as potencialidades para o turismo, visões das agências e da Secretaria de Turismo de Santarém e os desafios para a atividade na região.
4.1. Solo
A população da RESEX, de acordo com os dados coletados está dividida em 68 comunidades, localizadas as margens dos rios Tapajós e Arapiuns e, em algumas, no interior da reserva. Segundo os dados obtidos em campo foi verificado que a principal forma de uso do solo na RESEX Tapajós-Arapiuns se dá através da agricultura. Essa atividade também é a principal fonte de geração de renda para as famílias ribeirinhas.
4.1.1. Agricultura
Existe uma diferença nas áreas de atividade de agricultura das comunidades nas duas calhas de rio. Nas comunidades da bacia do rio Arapiuns muitas famílias possuem uma área denominada “colônia” (63,4%). A colônia é uma área de plantio de culturas perenes e uma parte destinada a culturas sazonais (roçados). Normalmente essa área fica afastada do núcleo da comunidade.
No rio Tapajós, as comunidades fazem seu plantio em áreas simples de roçado mais próximo as casas, poucas as famílias que possuem colônia (20,5%), prática que era bastante comum no passado.
Identificado através de imagem de satélite, as áreas de modificação antrópica da vegetação na área da RESEX, pode ser identificada como possíveis áreas de agricultura, tanto roçados quanto colônias.
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Parte dessa área pode não está sendo mais utilizada atualmente, mas, como o sistema de plantio é feito por rodízio de capoeiras, as áreas encontram-se sem cobertura florestal primaria ou secundária.
O roçado com 67,6% é o local principal de plantio comercial das famílias nas comunidades da RESEX, seguido do quintal com 26,0% e entre os criadores de gado 4,1% da atividade comercial vem do pasto. Algumas famílias fazem suas atividades de agricultura comercial na mata e nas margens de igarapé para o plantio de banana (1,2%, cada).
No roçado, essas famílias fazem basicamente o plantio de mandioca e macaxeira para o processamento de farinha, feijão, cará, além do milho plantado para alimentação da família e também dos animais.
Figura 0 2 : Áreas de ação antrópicas identificadas na RESE X Tapajós - Arapiuns.
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Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada.
Rio Grupos N° de comunidades Principais Atividades N° de
produtores
Arapiuns/Tapajós 1 3 farinha de mandioca 31
Arapiuns/Tapajós 1 2 jerimum 7
Arapiuns/Tapajós 1 2 milho 5
Arapiuns/Tapajós 1 2 melancia 4
Arapiuns 2 5 farinha de mandioca 126
Arapiuns 2 2 milho 25
Arapiuns 2 2 macaxeira 18
Arapiuns 2 1 cará 10
Arapiuns 2 2 mel 9
Inambú 3 2 farinha de mandioca 35
Maró 4 2 farinha de mandioca 65
Maró 4 2 tapioca 4
Maró 4 2 milho 2
Mentae/Arapiuns 5 5 farinha de mandioca 92
Mentae/Arapiuns 5 3 banana 3
Mentae/Arapiuns 5 2 cacau 2
Mentae/Arapiuns 5 2 açaí 2
Arapiuns 6 e 7 6 farinha de mandioca 220
Arapiuns 6 e 7 4 milho 4
Arapiuns 6 2 pimenta do reino 2
Tapajós 8 a 14 23 farinha de mandioca 663
Tapajós 9, 10 e 14 7 milho 23
Tapajós 10 e 12 4 feijão 27
Tapajós 10 e 11 5 banana 9
Tapajós 11 1 laranja 20
Tapajós 11 1 cupuaçu 7
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Amorim 15 2 farinha de mandioca 82
Amorim 16 1 cupuaçu 3
Amorim/Tapajós 16 4 farinha de mandioca 110
Amorim/Tapajós 16 3 milho 8
Capixauã/Tapajós 17 3 farinha de mandioca 111
Anumã/Tapajós 18 4 farinha de mandioca 106
Anumã/Tapajós 18 2 laranja 21
Anumã/Tapajós 18 1 banana 20
Anumã/Tapajós 18 1 maracujá 20
Maripá/Tapajós 19 1 farinha de mandioca 32
Cerca de 2.000 famílias da RESEX são agricultores comerciais, sendo a farinha o principal produto agrícola comercial e a base da alimentação familiar, seguido pela criação de gado bovino (cerca de 170 criadores). Muitos dos criadores de gado possuem apenas o “boi de carreto”, animal destinado ao transporte da produção familiar.
As áreas de plantio, como os roçados, variam de tamanho, sendo o menor com 0,05 ha e o maior chegando a 6 ha e uma média de 1,72 e desvio padrão de 1,2. Porque embora a máxima e a mínima sejam tão diferentes foi muito comum encontrar áreas entre 1 e 2 ha.
Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda.
Atividade Arapiuns Tapajós
Abacate 40% 50%
Abacaxi - 50%
Açaí 90% 80%
Arroz 50% 10 - 50%
Banana 25 - 90% 2 - 99%
Batata - 25%
Biju - 80 - 90%
Café 95 - 100% -
Cajú 80% -
Caldo de cana - 50%
Cará 10 - 60% 10 - 50%
Coco - 20 - 80%
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Cupuaçu 40% 10 - 80%
Curuá - 100%
Farinha de mandioca 50 - 95% 20 - 95%
Feijão 50 - 80% 20 - 75%
Fruta pão 50% -
Jerimum 50% 25 - 50%
Laranja 5 - 75% 40%
Macaxeira 50 - 80% -
Mel 100% -
Melancia 80% 50%
Milho 30 - 70% 5 a 100%
Muruci 80% 50%
Tangerina - 50%
Tapioca - 80 - 100%
Tucupi - 90 - 100%
Pimenta do reino 100% -
Urucum 50 - 100% 100%
Na agricultura, o percentual que é comercializado, pode variar de 2% (banana plantada no quintal) a 100% da produção, sendo a mínima praticamente atividade de subsistência, e a máxima não tirando nem o excedente para consumo. A média de comercialização da produção é de 60% sendo que o desvio padrão é de 0,25.
O rendimento da produção pode variar de acordo com alguns fatores. O mais importante é a mão de obra, quando a família é grande a produção é grande, por possuir muita mão de obra para o trabalho no processamento da farinha. Outro fator é o tamanho da área de plantio, podendo variar até 6 ha como apresentado anteriormente.
Na RESEX a variação do rendimento da produção de farinha variou de 20 reais a R$ 1.050,00 para o processamento mensal. Mas a média é de R$ 412,79 sendo que esse valor pode variar também de acordo com a “lei da oferta e procura”, pois o saco de farinha pode variar de R$ 30,00 a R$ 80,00 dependendo da disponibilidade do mercado e a estação climática.
Outros produtos que apresentaram maior rendimento foram café e a pimenta do reino, para a comunidade de Piquiá e o cupuaçu na comunidade São Pedro.
156
Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra.
Produtos Referência min
máx Unid Med. Maior safra Valor
(R$) Unid. Med.
Abacate dúzia 48,00 12 dúzias
Abacaxi unid - - Arroz
saco
300,00 safra
Banana cacho 60,00 30 cachos
mês 500,00 safra
Batata 0,50 1,25 kg - -
Beiju 7,00 12,00 cento 70,00 milheiro
Café 0,50 1,10 kg 2.200,00 2000kg
Cará 0,25 2,00 kg 600,00 safra
Coco 0,30 1,00 unid 90,00 300 unid
Cupuaçu 0,30 1,50 unid 1.000,00 milheiro
Farinha 30,00 80,00 saco 1.050,00 mês
Feijão kg 720,00 80 kg
Fruta pão
unid 100,00 100 unid
Boi kg - -
Jerimum 0,50 4,00 unid 500,00 50 kg
Laranja 8,00 15,00 cento 60,00 6 centos
Macaxeira 1,00 1,20 kg 700,00 safra
Melancia 2,00 10,00 unid 500,00 safra
Milho 0,60 1,00 kg 740,00 safra
Pimenta do reino 7,00 10,00 kg 4.900,00 700kg
Porco 5,00 8,00 kg 150,00 porco vivo
Tapioca (farinha e goma) 1,00 2,50 kg 45,00 30 kg
Tucupi 1,00 4,00 litro 80,00 40 litros
Urucum 1,70 2,50 kg 125,00 semana
O escoamento da produção pode ter até dez destinos diferentes dependendo da localização da comunidade. Santarém é o destino mais comum onde 43,5% da produção é escoada seguido pela venda direta na comunidade com 42,0%. Um destino rentável é a venda na vila de Alter do Chão, onde os produtores conseguem o preço máximo pelo saco de farinha (70 reais). Outros destinos menos expressivos são: Marreteiros (3,7%), a venda na região em outras comunidades (3,3%), Aveiro (2,2%), Itaituba, Parintins, EMATEC e colônia Jacamim (0,4%, cada).
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Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio.
Rio Atividade Local
Arapiuns
Abacate Comunidade
Açaí Santarém
Arroz Nas comunidades vizinhas
Banana Santarém, comunidade e comunidades vizinhas
Café Santarém
Cajú Santarém
Cará Comunidade e comunidades vizinhas
Cupuaçu Santarém e comunidade
Farinha de mandioca Santarém, marreteiros, comunidade e comunidades vizinhas
Feijão Santarém e comunidades vizinhas
Fruta pão Comunidade
Jerimum Comunidade
Laranja Comunidade
Macaxeira Santarém e comunidade
Mel Santarém
Melancia Nas comunidades vizinhas
Milho Santarém, comunidade e comunidades vizinhas
Muruci Santarém
Pimenta do reino Santarém
Urucum Santarém
Tapajós
Abacate Santarém
Abacaxi Santarém e comunidade
Açaí Santarém e comunidade
Arroz Comunidade
Banana Santarém e comunidade
Batata Comunidade
Biju Santarém, Alter do Chão e comunidade
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4.1.2. Infraestrutura
A RESEX Tapajós-Arapiuns está na fase final do projeto de reforma agrária do INCRA, então poucas comunidades ainda não estão com suas habitações prontas. Como na comunidade Vista Alegre, onde o material foi entreguem, mas ainda não foram
Como o processo de implantação do projeto de reforma agrária foi feito por etapas, tem algumas comunidades que estão no processo de construção das habitações (foto 02) e outras comunidades ainda não receberam as casas, como as comunidades do rio
comunidade Nova Vista.
Além das moradias e áreas de plantio, o uso do solo se dá através das instalações de infraestruturas das comunidades como, as sedes e galpões comunitários, igrejas, escolas, postos de saúde, campos de futebol e telefones públicos (tab.01). Outra instalação encontrada apenas na comunidade Maripá foi o chamado “chapéu de palha” (foto 03) que neste caso é o local destinado ao alojamento de turistas que vêem à comunidade para pernoitar quantos dias for acordado com os comunitários responsáveis pela atividade turística local.
Inambu (Nova Canaã, Porto Rico e Prainha do Maró) .
Foto 02: As habitações do p rojeto de r eforma a grária do INCRA sendo construídas na
construídas (foto 01).
Foto 01: Material d e construção das habitações do p rojeto de r eforma a grári a .
159
tem um número reduzido em relação ao tamanho das comunidades presentes na bacia do rio Arapiuns. Em quase todas as comunidades tem escolas, apenas Porto Rico não possui, mas devido a proximidade da comunidade Nova Canaã, as crianças se deslocam diariamente para estudar na comunidade vizinha.
O acesso a saúde também é reduzido nas comunidades do rio Tapajós, apenas sete postos de saúde onde alguns se encontram fechados. Embora as facilidades de acesso aos centros urbanos de Santarém e Aveiro minimizem o problema. Mas, a educação é mais restrita que na bacia do rio Arapiuns, muitas comunidades não possuem escolas, fazendo com que as crianças e adolescentes saiam de suas residências e passem a morar com familiares em comunidades maiores ou até mesmo em Santarém.
Outra alternativa se encontra no atendimento promovido pela Projeto Saúde & Alegria, com sede em Santarém, que em parceria com as prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro conta com o barco Abaré, uma unidade móvel de saúde, financiada pelo Terre des Hommes da Holanda, que atende aproximadamente 2.785 famílias ou 15.000 beneficiários de 73 comunidades nas duas margens do rio Tapajós, promovendo o acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina. Por este motivo o barco ganhou o nome de Abaré - sugerido pelos próprios comunitários – que, em tupi, significa o amigo cuidador. (SAÚDE & ALEGRIA, 2011)
Esta iniciativa se tornou referência para o Ministério da Saúde, mas as comunidades ainda carecem de melhorias por parte do serviço público na questão da saúde, seja de forma preventiva ou emergencial.
Foto 03: O alojamento de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá.
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As sedes e galpões comunitários são espaço destinado para reuniões, festas, trabalhos coletivos (puxirum) e encontros. As comunidades mais isoladas e as menores não possuem sede, diferente das maiores e mais próximas dos pólos urbanos, que possuem até mais de uma sede (foto 04).
Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de andiroba de Porto Rico (b).
Existem dois galpões de beneficiamento de óleo de andiroba na RESEX TapajósArapiuns, um na comunidade Porto Rico, localizado no rio Inambú e outro na comunidade Prainha do Maró, situado no rio Maró.
Ambos não estão funcionando, sendo que o primeiro (foto 04-b) continua completo com todos os equipamentos desde sua instalação. O segundo galpão já não possui as ferramentas e equipamentos completos (foto 05).
As igrejas são outra forma de uso e ocupação do solo. Algumas comunidades possuem mais de uma igreja, sendo que existem quatro diferentes religiões presentes dentro da RESEX. A religião católica
Foto 05 : Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba em Prainha do Maró.
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é a mais expressiva com 70% das igrejas construídas na área da reserva, seguida pela Igreja da Paz (46%), Assembléia de Deus (39%) e Igreja de Deus (12%).
Na comunidade Tucumã, existem três igrejas e já tem mais uma em construção. Nas comunidades Nuquinim e Boim, a igreja está em reforma, mas já está sendo utilizada para as missas, reuniões e encontros da igreja.
Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c).
Existem muitas escolas na RESEX (58), algumas de ensino médio (24) e até um curso de nível superior em parceria com faculdade particular de Santarém (comunidade Parauá), mas quase todas as comunidades que possuem escola possuem escola de ensino fundamental.
As comunidades que não possuem escola utilizam as escolas das comunidades vizinhas, sendo que quando a escola só possui até o ensino fundamental, as crianças e jovens do ensino médio ou vão estudar na capital Santarém ou se mudam para comunidades maiores para concluir os estudos.
Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b).
Postos de saúde são bem difíceis de encontrar nas comunidades, mas existem 12 postos espalhados pela RESEX, alguns existem e funcionam de forma precária como em Vila Franca. O de Vila Anã foi destruído na grande cheia de 2009 e até agora não foi reconstruído.
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Uma instalação coletiva que simboliza momentos festivos nas comunidades são os campos de futebol. Cerca de 30 comunidades possuem mais de um campo, e em quatro comunidades é dividido por gênero, campo masculino e campo feminino. Na comunidade de Nova Canaã é proibida a prática de esportes como o futebol, e por essa razão não existe campo, nem participam dos torneios. Os torneios são práticas comuns entre comunidades, realizados uma vez por ano em cada comunidade, os “donos da casa” organizam e recebem os times das comunidades vizinhas sendo sempre finalizado com uma festa de comemoração para o campeão do torneio.
Os telefones públicos também são um problema nas comunidades da RESEX.
Muitas das comunidades não possuem os chamados “orelhões”, e em muitas comunidades que possuem, não funcionam.
Embora algumas comunidades que ficam mais próximas a Santarém já possuem telefonia móvel (celular) com dificuldades de sinal em alguns lugares, ou como na comunidade Santo Amaro que possui celular comunitário. Outras comunidades já possuem telefones residenciais (fixo), como em São Pedro que já existem oito residências com telefonia fixa.
4.1.3. Áreas Indígenas
Outro assunto abordado nas oficinas comunitárias foi a questão indígena, pois, na região onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns existem muitos índios ressurgidos1
No rio Arapiuns, dentro da RESEX foi encontrado primeiramente duas comunidades/ aldeias
de várias etnias e com processos de identificação de Terras Indígenas em várias fases de demarcação. Na área da RESEX são sete processos, com cinco grupos identificados e mapeados, apenas um ainda não protocolado na Funai, todos os outros com laudo antropológico e sem levantamento fundiário.
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1 Apesar de esse fenômeno dos índios resistentes ou ressurgidos, ser inicialmente mais ligado à região nordeste do país, hoje tem casos expressivos na Amazônia. Um dos exemplos fica no baixo rio Tapajós, onde até há pouco tempo se dizia não mais existirem índios e, hoje, há mais de seis mil indígenas, pertencentes há mais de cinco povos, lutando dinâmica e criativamente pela sua terra e reconhecimento étnico (Heck et al., 2005). 2 Entende-se por comunidade/aldeia o agrupamento populacional que em parte ou na totalidade de seus moradores declaram-se ou são reconhecidos como indígenas.
(Braço Grande e Nova Vista) da etnia Arapiun, que possuem processo de delimitação juntamente com a etnia Cumaruara e Tupinamba de quatro comunidades/aldeias no lago do Amorim
Foto 0 8 : P osto de saúde da comunidade Anumã.
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(Limãotuba, Cabeceira do Amorim, Brinco das Moças e Pajurá), localizados no rio Tapajós formando o primeiro grupo mapeado (fig. 00).
Outro processo de comunidades/aldeias que fazem ligação entre os dois rios são os índios Tupaiu de Vista Alegre do Capixauã que fica no rio Tapajós, Aminã e Aningalzinho estão localizados no rio Arapiuns (grupo 2).
Figura 0 3 : Grupos de comunidades/aldeias mapeados na área da RESEX .
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Ao sul da Reserva o grupo 3 possui dois pedidos de demarcação na mesma área feitos por duas etnias, os Mundurukus-Cara Preta e os Maitapu que ambas estão localizadas em três comunidades/aldeias: Pinhel, Camarão e Escrivão.
O grupo 4 das comunidades/aldeias Jaca, Paraná-Pixuna, Jauarituba, Santo Amaro, Mirixituba, Vista Alegre e Muratuba, também possuem dois pedidos de demarcação da mesma etnia (Tupinamba).O único pedido que ainda não possui processo é o pedido do grupo 5 das etnias Arara Vermelha, Cobra Grande, Jaraqui, Arapiun e Tapajó que vivem no extremo norte da RESEX, nas comunidades/aldeias de Arapiranga, São Miguel e Nova Pedreira que fica na outra margem do Arapiuns, fora da RESEX.
No total são 774 pessoas que se declaram e se reconhecem como índio em 31 comunidades/aldeias dentro dos limites da RESEX Tapajós-Arapiuns.
4.2. Extrativismo
O extrativismo se baseia na exploração dos recursos vegetais da floresta, como extrativismo madeireiro e extrativismo não madeireiro.
O mapa abaixo apresenta as áreas de coleta de madeira na RESEX TapajósArapiuns, com a intensidade de uso pelos moradores da UC.
No total foram identificados 223.327 ha de área utilizada para extrativismo madeireiro, isso representa 33,1% da área da UC. Dessa área total de uso para o extrativismo madeireiro, a área de intensidade baixa foi a mais representativa com 15% da área da UC, totalizando 101.273 ha e 45,3% da área utilizada para a atividade. A atividade extrativista de madeira vai diminuindo ao modo que a intensidade de uso vai aumentando, sendo que a média baixa é a segunda maior intensidade com 12,13% (81.812 ha) da área da RESEX e 36,6% da área utilizada para a atividade. Com 31.690 ha da UC (4,7%), a média alta intensidade utiliza 14,2% da área que é destinada ao extrativismo madeireiro. E por fim a alta intensidade ocupa apenas 8.552 ha (1,3%) da RESEX e 3,8% da área de uso.
Essa área que corresponde a atividade de extrativismo madeireiro acontece mais concentrada perto de igarapés e ramais localizados no interior da RESEX. Isso ocorre pela falta de transporte para retirada da madeira do interior da floresta até a área de seu processamento.
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Figura 03: Intensidade de uso madeireiro na RESEX Tapajós-Arapiuns. No extrativismo madeireiro foram encontrados alguns usos atribuídos a atividade que, ainda não está regulamentada por plano de manejo madeireiro, mas a atividade gera benefícios e está temporariamente autorizada com prévio licenciamento pelo órgão gestor da Unidade. Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações.
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