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ESCRITOS DO MUNDO DE JANUS

UM PEQUENO MANUAL PARA A MINHA SUBMISSA Janus SW (originalmente publicado em http://janussw.blogspot.com)

"Se vc fosse escrever um pequeno manual para sua sub,quais seriam as

regras básicas e indispensáveis?" Diana

Abri um "formspring" para que as pessoas colocassem suas perguntas,

aquelas que a gente sempre tenta perguntar e nunca consegue e dentre elas,

minha querida Diana fez essa pergunta bastante interessante e gostaria de

expandir um pouco as considerações que fiz lá naquele espaço que continua

aberto à pergunta de todos.

Primeiramente, devo reconhecer que fazer um manual de regras é ter uma

visão completa do que se quer o que é muito complicado quando se refere a

relações. Obviamente, há um contexto ditado pela liturgia, esse elemento

constituinte do BDSM, seu eixo norteador, sua caracterização mas,

obviamente, que não esgota a "questão".

As regra ditadas pela liturgia são básicas, estão extremamente acessíveis e

astharoth, com menos experiência já domina seus princípios básicos. Fico

pensando como ir além, como dar conta dessa dinâmica, dessa construção

coletiva e gerar "regras" gerais que possam ser usadas por minha menina e

eventualmente por outros que se beneficiem do meu conhecimento que

compartilho com vocês e seguir aprendendo com as respostas que vocês

postarem?

Tem coisas que até parecem lugares comuns mas tornam-se fundamentais ao

menos na minha ótica. Vamos ao "Manual":

1. Seja honesto(a) com seu Dono(a)

Em uma sociedade onde ne sempre a verdade foi um requisito essencial, onde

falar o que se pensa faz com que você perca mais do que ganhe chega a ser uma

proposta ousada pedir para alguém, em posição de submissão, seja honesto(a)

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com o dominante, uma vez que nem sempre é permitido ao bottom expressar-se

como seria necessário.

Primeiramente e mais importante: qual relação queremos construir? Uma

submissão baseada na dominação tirânica, sufocante ou em alg0 mutuamente

construído, legitimado, acolhido e bem vivido? Particularmente, fiz opção pela

segunda e, confesso, que é mais difícil dar conta de uma relação que opõe o "só

eu falo" com o "meu(minha) sub fala, eu escuto e decido". Isso significa, na visão

de muitos, abrir mão de uma parcela do poder do dominante.

Sou o primeiro a dizer que talvez seja mesmo ou , então, poderia (deveria)

argumentar que o direito de decidir nunca saiu das mão do Top mas enriqueceu-se

por elementos e considerações vindas do bottom em interação, nunca em

superposição.

Não seria eu quem diria que a vontade do bottom deve sobrepor-se ao do Top mas

sou o primeiro a dizer que não ouvir o bottom pode significar não ter o domínio

legitimado, a sujeição que provoca o prazer e, portanto, tirando casos de

dependência extrema, conduzir à devoluções de coleira.

Ser honesto, na perspectiva do sub, deve ser o momento de expressão respeitosa

de seus anseios, dúvidas e temores, de uma demonstração que o bem estar do

Top nunca deixou de ser um dos objetivos do(a) sub e a confiança é um elemento

fundamental nas relações.

2. Lealdade, requisito indispensável

Ser leal não é deixar de discordar, não deixar de expressar suas opiniões, sempre

no foro e com o respeito necessário mas é ter em conta que honra, esse elemento

fundamental e tão fora de moda, é uma tônica nos relacionamentos e nesse em

especial.

Ser honrado é uma distinção a ser perseguida incensantemente e, muito mais do

que manter o bom conceito junto ao público, é ter clareza de que se fez todo o

possível para manter-se alto o nível e a auto-estima que provém da consciência do

dever (bem) cumprido , de poder manter a cabeça alta (mesmo para um sub) em

face de qualquer pessoa ou grupo, sempre merecendo a reputação que apenas os

melhores podem ter.

3. Convicção do que se é não se confunde com arrogância

A convicção do que se é, de suas falhas mas substancialmente de suas virtudes,

não significa, necessariamente, uma postura arrogante. A certeza daquilo que se é

só passa a ser arrogância no momento em que se sente que ninguém pode ser

mais valoroso do que nós mesmos e que somos a definição mais acaba de

perfeição. Fala sério!

Qual é a pessoa que racionalmente e com honestidade consigo mesma em algum

momento de sua vida? Da mesma forma que não há problema algum, também é

muito bom saber-se um aprendiz e falível em muita coisa, fazendo-nos pensar e

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repensar muito a nossa prática e, principalmente, os nossos valores.

Isso vale tanto para bottoms como para Tops sabendo-se da consequência dos

atos e estando pronto para arcar com o preço de nossas decisões.

4. Ninguém é obrigado a fazer o que ameace sua integridade física e mental

Será que isso vai criar polêmica? Gostaria de imaginar que não mas tenho certeza

que sim, haverá polêmica. Lealdade será sempre uma via de duas mãos: sim, o

bottom sempre terá de ser leal ao seu Dono(a) assim como encontrar no Top a

recíproca.

Haverá alguma diferença entre a crueldade pura e simples e o desinteresse do

Top por seu bottom? O que isso significa? Qual resultado se obtém? Onde o

próprio bottom chega com isso?

Acredito que o grande mérito da escravidão moderna praticada dentro do BDSM é

incluir a possibilidade de se ter em conta a dimensão humana do bottom, sua

história de vida, seus conceitos e princípios de vida que, longe de limitarem a ação

do Top, oferecem uma linha segura de ação que preservará não apenas sua

legitimidade enquanto detentor do poder mas também o torna uma pessoa

respeitada para seu bottom e para o meio onde vive.

5. BDSM não é uma democracia

Muitas pessoas, especialmente bottoms, têm a tendência de esquecer-se um fato

muito simples, o de que ao contrário de nossa sociedade, o BDSM não é uma

democracia onde todos têm voz com a mesmo "valor" , ao contrário , é uma

estrutura hierarquizada e colocada nos termos "eu mando, você obedece". Simples

assim.

Isso não significa que o Top não deva ouvir seu bottom e como dissemos no tópico

anterior isso torna-se um fator de grande utilidade para quem decide mas aí entra

algo que eu costumo chamar de "poder do príncipe" (maquiavélico assim mesmo),

o direito e até mesmo o dever de dar a última palavra, o que decide.

Respeitosamente, o bottom pode e deve encaminhar ao seu Top as suas questões

e demandas (conquanto tenha permissão para fazê-lo) mas deve entender que o

direito de voz que é dado não implica, necessariamente, em acatamento.

Se o que não foi acatado é essencial para a continuidade do serviço a única

solução é a devolução da coleira que é um recurso não apenas possível mas

desejável já que do bom serviço decorre o bom conceito do bottom para sim

mesmo (principalmente) e para o meio.

6. Ter postura, sempre.

O que é afinal um bottom de "postura"? Na minha visão a resposta tem duas

variáveis: 1. a do bottom que sabe o seu papel e o vive de forma litúrgica e

adequada aos princípios de seu Top e 2. sabe que desta postura decorrem seu

bom conceito primeiramente frente ao seu Top , para si mesmo e , finalmente, para

o meio onde exercita sua prática.

Isso passa por atitudes simples como pedir permissão para o Top para retirar-se ,

pelo motivo que seja, do lugar está até o relacionamento com outros dominantes e

subs que estejam no mesmo espaço, entre milhares de outras possíveis variáveis.

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Isso denota, como já disse, respeito consigo próprio e com seu Dono(a). Nada

mais importante do que isso.

7. Discrição

Poderia não ter criado esse tópico já que está contido no sexto mas gostaria de

dar um destaque especial à esse fator já que muitas vezes, da observação de

Tops e bottoms decorre que muitos bottoms não adotam uma postura discreta.

Esclareça-se que com discrição não desejo falar da anulação da personalidade e

das características mais espontâneas que elas podem conter. No entanto,

reflitamos: como submisso(a), como subordinado(a) à um Top não seria

conveniente uma postura discreta sem ser apagada, mantendo os princípios

litúrgicos que norteiam o BDSM?

Se quiserem pensar em termos "baunilha", diríamos que ser discreto é,

principalmente, um gesto de elegantemente seguir a etiqueta requerida em cada

espaço. Tenho dezenas de exemplos de subs, homens e mulheres que impõe-se

pela discrição, pela delicadeza e pelo tato no relacionamento público com seu Top,

atraindo a admiração e o respeito dos que os cercam.

8. Cuide de sua saúde física e mental

Como switcher tive oportunidade de entender o quanto é necessário que

estejamos com a saúde "em dia" tanto fisica como mentalmente. Servir é uma das

atividades mais exigentes que eu conheço dentro do BDSM, principalmente pelo

fato de exigir disponibilidade constante e imediata que , em tese, pode ocorrer a

qualquer momento da noite ou do dia.

Poderíamos servir sem ter condições físicas para suportar as demandas sejam

elas quais forem? É pouco provável e isso talvez seja tão frustrante ao bottom

como ao Top.

Manter, portanto, as condições de saúde física e mental adequadas vêm em abono

do próprio bottom e orgulho para seu Top evitando que esse último tenha

preocupações excessivas com algo que poderia ser cuidado pela sua peça.

9. Obediência, Devoção, Lealdade

Sobre lealdade já tivemos oportunidade de conversar mas gostaria de ressaltar

outros dois fatores que considero indispensáveis e importantes de serem firmados

nesse artigo: obediência e devoção.

Obediência poderia falar por si mesma mas é bom que se ressalte não haver

limites para a obediência devida a um Top por seu bottom. A palavra do Dono(a) é

lei para o(a) sub, obviamente enquanto ele(a) se sinta respeitado(a) enquanto

pessoa que é.

No fim da história, o resumo é simples: se tem alguma objeção à ordem dada,

peça para ser ouvido(a) e, em sendo, apresente respeitosamente suas objeções

com a consciência que pode ou não ser atendido.

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Em não sendo ouvido ou não sendo atendido, ressalto, repito, reitero, em havendo

qualquer ameça significativa à saúde física ou mental e essas condições

perdurarem, a devolução da coleira não é só uma direito mas como um dever para

si próprio e nenhum bottom deve hesitar em fazê-lo por mais doloroso que seja.

A devoção é uma condição essencial para que a submissão aconteça. A

admiração é um fator essencial para colocar-se de joelhos, ao menos de forma

voluntária como é no caso do BDSM. Fora da coação, da força, pessoalmente não

consigo conceber nenhuma submissão duradoura que não seja baseada na forte

percepção que o Top de fato o é, está acima de todos e acima do bottom, posição

que lhe é conferida pela legitimação de seu domínio e pelo bottom não ter outra

alternativa senão a irrestrita obediência.

10. Estude, troque idéias, pense e repense sua prática

Tirando alguns princípios básicos, raramente apresento algum objeção às

disposições e atos de alguns Tops mas, particularmente, não sou contrário ao

contato de minha sub com outras pessoas do meio, independentemente de sua

posição, obviamente, sempre respeitosamente de lado a lado.

Leituras de artigos de boas fontes, pessoas com atuação no meio e de

competência reconhecida são alimentos importantes para uma boa prática BDSM.

A supervisão da leitura deve ser feita cuidadosamente pelo Top e os pontos de

discordância e de conflito com as práticas eleitas devem ser esclarecidos e

monitorados.

Bem, esses são alguns itens básicos e que me ocorrem nesse momento e que

para mim norteiam uma prática BDSM intensa e prazerosa para todos. Quanto

mais vivemos, mais aprendemos e a lista aumenta.... Logo faço a revisão!