CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM MATEMÁTICA E COMPUTACIONAL
EMARANHAMENTO EM SISTEMAS DE
PARTÍCULAS IDÊNTICAS: MÉTODO DA
DESSIMETRIZAÇÃO DA BASE E ESTADOS
MAXIMAMENTE EMARANHADOS
HELEN BARRETO LARA
Orientador: Prof. Dr. Giancarlo Queiroz Pellegrino
CEFET-MG
BELO HORIZONTE
FEVEREIRO DE 2019
HELEN BARRETO LARA
EMARANHAMENTO EM SISTEMAS DE PARTÍCULAS
IDÊNTICAS: MÉTODO DA DESSIMETRIZAÇÃO DA BASE E
ESTADOS MAXIMAMENTE EMARANHADOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduaçãoem Modelagem Matemática e Computacional do CentroFederal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, comorequisito parcial para a obtenção do título de Mestre emModelagem Matemática e Computacional.
Área de concentração: Modelagem Matemática eComputacional
Linha de pesquisa: Métodos Matemáticos Aplicados
Orientador: Prof. Dr. Giancarlo Queiroz PellegrinoCEFET-MG
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM MATEMÁTICA E COMPUTACIONAL
BELO HORIZONTE
FEVEREIRO DE 2019
ii
Elaboração da ficha catalográfica pela Biblioteca-Campus II / CEFET-MG
Lara, Helen BarretoL318e Emaranhamento em sistemas de partículas idênticas: método da
dessimetrização da base e estados maximamente emaranhados / Helen Barreto Lara. – 2019.
39 f.
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Modelagem Matemática e Computacional.
Orientador: Giancarlo Queiroz Pelegrino.Dissertação (mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais.
1. Emaranhamento quântico – Teses. 2. Teoria quântica – Teses.3. Simetria (Física) – Teses. 4. Entropia – Matemática – Teses. I. Pelegrino, Giancarlo Queiroz. II. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. III. Título.
CDD 530.1201
Agradecimentos
A gratidão é o primeiro dos sentimentos que me tomam ao finalizar este trabalho, cujas
poucas palavras que aqui me cabem não lhe fazem jus. De modo que expresso um agrade-
cimento singelo a todos que me fizeram ser. A gratidão verdadeiramente profunda vai nos
olhares, nos abraços e na saudade que compõem o tempo.
Agradeço, assim, a meus pais, Enrique e Sarah, por nunca deixarem de incentivar nem
mesmo as mais inocentes brincadeiras de uma criança que sonhava ser cientista. Agradeço
a minha irmã, Karen, pelo companheirismo em cada momento, desde nossa nostálgica
infância até a recente vida adulta.
Agradeço a meu parceiro da vida toda, Deyvid. Meu grande amor, sou grata pela presença
inefável, pelo carinho e pelo cuidado de cada dia.
Agradeço a meus amigos, Laissa, Carla, Weslley, Leonardo e a tantos mais que contribuí-
ram com ideias iluminadas nos desafios matemáticos e conceituais que por vezes eram
assombrosos.
Agradeço ao meu orientador e grande amigo, gian, pela paciência, pela gentileza e pela
elegância tão tempestivas, próprias de quem encontrou a beleza da existência. Obrigada
por me ensinar a prestar atenção nas pessoas.
Agradeço, em especial, a meu querido Jesus, pelo presente da vida.
iv
“Mas a existência ainda nos fascina, tantossão os lugares onde nasce. Um jogo de purasforças que se toca de joelhos, com espanto.
Palavras roçam ainda o inefável, asas...E, de pedra palpitante, a sempre nova músicaergue no espaço inapto a sua divina casa.”
(Rilke, II:10, Sonetos a Orfeu)
v
Resumo
O fenômeno quântico do emaranhamento em sistemas de partículas idênticas ainda é motivo
de discussões e divergências na comunidade acadêmica, tanto no que diz respeito à sua
interpretação física e experimental, quanto em relação à maneira correta de se quantificá-
lo. Por outro lado, sua correta compreensão é fundamental para o desenvolvimento de
tecnologias baseadas em criptografia, computação e informação quânticas, medições de
alta precisão, entre outras. Aqui, propõe-se um método simples, que lança mão da descrição
baseada em partículas (primeira quantização), intuitivamente chamado de dessimetrização
da base do espaço de Hilbert, que mostrou-se eficaz no cálculo do emaranhamento por
meio do traço parcial do operador densidade, de maneira semelhante ao caso de partículas
distinguíveis. Além disso, o trabalho também desenvolve um método para gerar estados
maximamente emaranhados, que funciona para sistemas bipartidos idênticos e distinguíveis
de dimensão finita, com igual importância para o desenvolvimento de tecnologias associadas
ao fenômeno do emaranhamento quântico.
Palavras-chave: Emaranhamento, Partículas Idênticas, Estados maximamente emaranha-
dos.
vi
Abstract
Entanglement phenomenon in identical particle systems still is a subject of discussions
and divergences among the academic community, both with respect to its physical and
experimental interpretations, as well as to the correct manner of quantifying it. On the other
hand, its correct comprehension is fundamental for the development of technologies based
on quantum cryptography, computation and information, high precision measurements, and
more. Here, a simple method is proposed, which resorts to the particle-based description
(first quantization), intuitively called desymmetrization of the Hilbert space basis, and which
showed itself to be successful in calculating entanglement by means of the partial trace of
the density operator, just as for distinguishable particles. Furthermore, this work additionally
develops a method for generating maximally entangled states, which functions for either
identical or distinguishable bipartite systems with finite dimension, being also important for
the development of technologies associated with quantum entanglement phenomenon.
Keywords: Entanglement. Identical Particles. Maximally entangled states.
vii
Sumário
1 – Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 – Fundamentação Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1 Emaranhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1.1 Medida de emaranhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.1.2 Estados maximamente emaranhados em dimensão d . . . . . . . . 10
2.2 Identidade de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 – Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1 Dessimetrização da base do espaço de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.2 Geração de base de estados maximamente emaranhados . . . . . . . . . . 17
4 – Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.1 Dessimetrização em sistemas distinguíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.2 Dessimetrização em sistemas idênticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.3 Discussão dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5 – Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
viii
Capítulo 1
Introdução
O emaranhamento quântico está entre os fenômenos mais importantes e intrigantes da
mecânica quântica. Em 1935, Schrödinger apresentou-o como sendo “não um, mas o traço
característico da mecânica quântica, que reforça sua completa separação das linhas de
pensamento clássico”. Trata-se de uma consequência do princípio da superposição que
rege o espaço de estados da teoria quântica (SCHRÖDINGER, 1935; COHEN-TANNOUDJI;
DIU; LALOË, 1973a).
Essa ideia foi o cerne do trabalho de Einstein, Podolsky e Rosen (EPR) (EINSTEIN; PO-
DOLSKY; ROSEN, 1935), que criticaram a teoria quântica com base na suposta perda de
localidade devido ao colapso instantâneo da função de onda de um sistema emaranhado
quando submetido a uma medição. Eles defendiam que não era a medição que levava o
sistema a um determinado estado quântico, mas que o sistema já estava naquele estado
desde o princípio, mas a teoria quântica não poderia determiná-lo, por ser incompleta. A
partir de então, várias teorias de variáveis ocultas surgiram com o objetivo de “completar” a
teoria quântica. Nos anos 1960, John Bell resolveu o paradoxo EPR, como ficou conhecido
o trabalho de 1935, mostrando que qualquer teoria de variável oculta local seria incom-
patível com a mecânica quântica. O Teorema de Bell (BELL, 1964) acabou levantando
novas possibilidades em relação à não localidade na natureza e, alguns anos mais tarde, o
experimento de Aspect, Grangier e Roger corroborou a não localidade quântica (ASPECT;
GRANGIER; ROGER, 1982). Recentemente, outros experimentos, mais precisos inclusive,
comprovaram a incompatibilidade da mecânica quântica com a desigualdade de Bell, como
por exemplo o de Weihs et al. (1998) (GRIFFITHS, 2011).
Desde o final do século XX, inúmeros trabalhos foram desenvolvidos no sentido de se
compreender melhor o emaranhamento quântico (HORODECKI et al., 2009). Ademais, os
estudos em torno do emaranhamento quântico são inerentemente interdisciplinares, uma vez
que são fundamentais em toda a teoria da informação quântica (LO; SPILLER; POPESCU,
1998), sendo o fenômeno indispensável para a implementação de algoritmos quânticos
1
(LANYON et al., 2007) e para a criptografia quântica (EKERT, 1991; BALACHANDRAN et
al., 2013). Entretanto, em muitos desses casos, os sistemas envolvidos são constituídos por
partes indistinguíveis, como acontece com os próprios qubits, além de pontos quânticos
(ARTUSO; BRYANT, 2013) e átomos ultrafrios (BENATTI; FLOREANINI; MARZOLINO,
2011), o que traz certa complexidade ao problema do emaranhamento.
De fato, quando os sistemas são compostos por partes idênticas, a teoria quântica exige que
o postulado da simetrização seja aplicado, segundo o qual os vetores (kets) que descrevem
um estado físico só podem ser, conforme a natureza das partes idênticas, ou completamente
simétricos ou completamente antissimétricos em relação à permutação dos símbolos que
descrevem essas partes. Kets simétricos descrevem sistemas formados por bósons e,
antissimétricos, sistemas formados por férmions. Essa construção está em acordo com o
princípio da exclusão de Pauli, para o qual a função de onda fermiônica é nula caso as
partes encontrem-se no mesmo estado (COHEN-TANNOUDJI; DIU; LALOË, 1973b).
A exigência da simetrização do estado físico que descreve um sistema de partes indistin-
guíveis traz implicações importantes para o cálculo e, até mesmo, para a interpretação
do significado físico do emaranhamento. De imediato, a própria ideia do traço parcial do
operador densidade é complexa, uma vez que esta operação atribui um operador densidade
reduzido para cada parte do sistema, podendo, equivocadamente, dar-se a impressão de
que a cada parte é atribuído um estado específico (GHIRARDI; MARINATTO; WEBER,
2002; GHIRARDI; MARINATTO, 2004; GHIRARDI; MARINATTO, 2005).
Ao longo das últimas décadas, pesquisadores vêm buscando melhor compreensão sobre
o emaranhamento de partículas idênticas, desde sua investigação experimental (FURU-
SAWA et al., 1998; HORODECKI et al., 2003), passando por teorias para sua quantificação
(BALACHANDRAN et al., 2013; LOFRANCO; COMPAGNO, 2016; SCIARA; LOFRANCO;
COMPAGNO, 2017; BENATTI; FLOREANINI; TITIMBO, 2014; SHI, 2003; GHIRARDI; MARI-
NATTO, 2005) e chegando a aplicações práticas do fenômeno, como em experimentos com
condensados de Bose-Einstein (SØRENSEN et al., 2001), espectroscopia de alta precisão
(BOLLINGER et al., 1996; BENATTI; FLOREANINI; MARZOLINO, 2010) e magnetismo
quântico (BRITTON et al., 2012).
As soluções propostas até aqui vão desde a álgebra de operadores (observáveis) (BENATTI;
FLOREANINI; MARZOLINO, 2010), bem como a construção Gelfand–Naimark–Segal
(GNS), que substitui o traço parcial pela noção de “restrição de um estado a uma su-
bálgebra” (BALACHANDRAN et al., 2013), chegando até à recente descrição de sistemas
idênticos sem rotulação das partes, levando em conta a sobreposição espacial entre os
subsistemas e propondo um aspecto de universalidade para a decomposição de Schmidt
(LOFRANCO; COMPAGNO, 2016; SCIARA; LOFRANCO; COMPAGNO, 2017).
2
Além desses, alguns trabalhos lançaram mão da primeira abordagem, com álgebra de
operadores, e incluíram a parte espacial como uma partição do espaço de Hilbert global,
mostrando não haver emaranhamento para medidas locais de sistemas de spins espaci-
almente separados, mesmo se eles forem idênticos (CUNDEN et al., 2014). Finalmente,
alguns critérios gerais para definir se um estado puro de um sistema composto por partes
idênticas é emaranhado (ou não) são estabelecidos, na tentativa de se explicar algumas
questões “embaraçosas” que surgem quando se trabalha com partes indistinguíveis, como
a ideia de que estados não emaranhados são impossíveis para sistemas de partes idênticas
devido ao postulado da simetrização (GHIRARDI; MARINATTO, 2005).
Essas abordagens mostram-se, de algum modo, bem sucedidas em fornecer medidas do
emaranhamento de um sistema, ou em determinar se ele existe ou não. Entretanto, em
alguns pontos, elas apresentam resultados contraditórios, mostrando que a discussão em
torno do emaranhamento de partículas idênticas ainda é um objeto de pesquisa em aberto.
Deste modo, este trabalho propõe uma abordagem alternativa, que acaba reproduzindo
alguns dos resultados encontrados pelos autores supracitados, mas utilizando conceitos
físicos e matemáticos mais simples.
Neste sentido, o método aqui proposto é intuitivamente chamado de dessimetrização da
base do espaço de Hilbert, que será detalhado adiante. Em suma, o procedimento consiste
em tomar-se o estado global (anti)simétrico e reescrevê-lo em uma base não simétrica,
conservando a (anti)simetrização como uma restrição nos coeficientes associados a esses
estados de base. Formalmente, esse vetor continua representando o mesmo estado físico
de antes, mas em uma base não simetrizada. Matematicamente, esse novo vetor é como
qualquer outro vetor que descreve um sistema de partes distinguíveis e a entropia de
emaranhamento pode ser calculada como de costume.
Outrossim, este trabalho propõe um método para se gerar estados maximamente ema-
ranhados, tanto para sistemas bipartidos idênticos como para distinguíveis, em qualquer
dimensão finita. Essa é uma necessidade recorrente em algumas aplicações, como no
caso de algoritmos, protocolos e códigos para correção de erros da computação quântica
de dois níveis, generalizada para espaços de Hilbert com dimensão arbitrária. A grande
vantagem dos sistemas com dimensões d maiores do que dois (qudits) é que menos subsis-
temas precisam ser acoplados para obter-se espaços de Hilbert com uma dada dimensão
(KARIMIPOUR; BAHRAMINASAB; BAGHERINEZHAD, 2002). Um exemplo prático é a
generalização da porta XOR atuando em um espaço de Hilbert de dimensão arbitrária, que
torna possível a execução de tarefas como teletransporte quântico e purificação de estados
quânticos (LANYON et al., 2009; ALBER et al., 2000; YOU-BANG, 2007).
Alguns métodos para a geração de bases de Bell generalizadas são propostos (SYCH;
LEUCHS, 2009; BENNETT et al., 1993; ALBER et al., 2000). Sych e Leuchs (2009) propõem
3
uma simplificação, representando esses estados por meio de matrizes, as quais os autores
reivindicam serem mais convenientes em relação às propriedades de emaranhamento. Por
outro lado, eles limitam-se a espaços cujas dimensões são potências de 2, de modo a
não perder a propriedade da (anti)simetria. Bennett et al. (1993) por sua vez constroem
uma base generalizada semelhante à de Sych e Leuchs (2009), porém mais adequada aos
trabalhos com teleporte quântico. Recentemente Alber et al. (2000) procuraram gerar uma
base de Bell generalizada por meio da transformada de Fourier e da generalização da porta
XOR quântica para espaços de Hilbert de dimensões maiores.
As propostas apresentam resultados relevantes, posto que parecem cumprir as propriedades
dos estados de Bell. Contudo, as abordagens são relativamente limitadas no que diz respeito,
por exemplo, à aplicabilidade para partículas idênticas ou mesmo para subsistemas com
dimensão d qualquer, desde que finita. Assim, o método aqui proposto mostra-se eficaz em
cumprir todas as propriedades para a criação de bases de Bell em qualquer dimensão finita,
compreendendo também casos de partículas idênticas ou distinguíveis, além de utilizar-se
de um aparato matemático simples e acessível.
Em síntese, a proposta parte de uma base para o espaço de Hilbert ordenada conve-
nientemente e, em seguida, escrita de forma matricial. Um grupo de vetores é coletado
seguindo-se as diagonais secundárias dessa matriz de base e cada grupo fornece uma
sobreposição maximamente emaranhada dos vetores que o compõem. A permutação dos
sinais positivo e negativo nas sobreposições e a normalização dos estados completam a
construção de uma base ortonormal maximamente emaranhada para o espaço de Hilbert.
Finalmente, ambos os objetos deste estudo entremeiam-se, visto que a dessimetrização
da base do espaço de Hilbert faz-se necessária para a geração de estados maximamente
emaranhados para sistemas idênticos e também é utilizada para verificar que os estados
gerados apresentam, de fato, emaranhamento máximo, tanto para o caso de partes idênticas
quanto para distinguíveis.
Em vista disso, este trabalho organiza-se da seguinte maneira: o capítulo 2 traz uma
revisão dos principais conceitos necessários ao desenvolvimento de ambos os métodos
propostos; o capítulo 3 apresenta estes métodos de modo detalhado, sendo o pináculo desta
dissertação; o capítulo 4 discorre sobre algumas aplicações dos métodos, em comparação
com abordagens encontradas no atual estado da arte aqui referenciado; finalmente, o
capítulo 5 encerra este trabalho com perspectivas para continuidade das pesquisas.
4
Capítulo 2
Fundamentação Teórica
A estrutura deste trabalho sustenta-se sobre dois pilares conceituais, a saber, o fenômeno
do emaranhamento e o problema da identidade de partículas, para os quais segue-se uma
breve explanação, seguida da apresentação das principais noções físicas e ferramentas
matemáticas necessárias para o desenvolvimento desta pesquisa.
2.1 Emaranhamento
Se um sistema quântico é multipartido (composto por n partes), um estado global, isto
é, um estado que descreva o sistema como um todo, pode ser descrito por um vetor |ψ〉no espaço de Hilbert H = H1 ⊗H2 ⊗ · · · ⊗Hn, em que Hi é o espaço de Hilbert de
cada parte i. Assim, para o caso mais simples de um sistema bipartido (n = 2), é possível
construir-se um estado global |ψ〉 = |ϕ, χ〉, em que o subsistema A encontra-se no estado
|ϕ〉 e o subsistema B encontra-se no estado |χ〉. Neste caso, |ψ〉 é dito um estado produto
(ou separável).
Embora à primeira vista possa soar contraintuitivo, é possível construir-se um estado global|ψ〉 ∈ H que não é um produto tensorial dos estados de cada subsistema, chamadoemaranhado ou entrelaçado. Um exemplo, ainda para o caso do sistema bipartido de doisníveis, seria a superposição 1√
2 (|ϕ, χ〉 − |χ, ϕ〉), que em termos de polarização de spin éconhecido como estado singleto. O estado singleto é um dos estados chamados estadosde Bell. Juntamente com os três estados simétricos que formam o sistema tripleto, esseconjunto de vetores constitui uma base para o espaço de Hilbert para um sistema bipartidode dois níveis chamada base de Bell,{ 1√
2(|ϕ, χ〉 − |χ, ϕ〉) , 1√
2(|ϕ, χ〉+ |χ, ϕ〉) , 1√
2(|ϕ,ϕ〉 − |χ, χ〉) , 1√
2(|ϕ,ϕ〉+ |χ, χ〉)
}. (1)
Nestes casos, não é possível atribuir-se um estado puro para cada subsistema indivi-
dualmente, mesmo que os subsistemas estejam espacialmente distantes um do outro
(AUDRETSCH, 2007).
5
Esse é o conceito chave do paradoxo EPR (EINSTEIN; PODOLSKY; ROSEN, 1935). De
fato, ainda com o exemplo acima, caso uma medição fosse realizada no subsistema A
e o resultado fosse |ϕ〉, seria possível afirmar, com certeza e instantaneamente, que o
subsistema B encontrar-se-ia no estado |χ〉, devido ao colapso da função de onda para o
estado |ψ〉 = |ϕ, χ〉 da superposição, o que infringiria o suposto princípio da localidade de
Einstein.
Contudo, a partir dos trabalhos de Bell (1964) e Aspect, Grangier e Roger (1982), o emara-
nhamento passou a ser investigado tanto à procura de uma melhor compreensão teórica do
fenômeno, quanto em busca de sua utilização para o desenvolvimento de tecnologias antes
inalcançáveis dentro dos limites clássicos. Este foi o berço da teoria quântica da informação,
responsável por desenvolver o método hoje consolidado para a medição do emaranhamento
em sistemas bipartidos com dimensão finita, preparados em estados puros, por meio da
entropia de von Neumann (AUDRETSCH, 2007).
2.1.1 Medida de emaranhamento
A priori, os estados quânticos serão descritos por meio de operadores densidade, úteis
para calcular quantidades de interesse sobre o sistema global ou parte dele. Assim, para
um estado quântico puro1 normalizado |ψ (t)〉 em um espaço de Hilbert HM de dimensão
M , define-se o operador densidade ρ (t) ≡ |ψ (t)〉 〈ψ (t)|, com as seguintes propriedades:
1. ρ (t) é semipositivo: 〈ϕ |ρ (t)| ϕ〉 ≥ 0,∀ |ϕ〉 ∈HM (logo, hermiteano: ρ (t)† = ρ (t));
2. tr [ρ (t)] = 1;
3. ρ (t)2 = ρ (t).
O operador densidade é suficiente para se descrever completamente um estado quântico.
O valor médio de um observável A é calculado como:
〈A〉 (t) = tr {Aρ (t)} = tr {ρ (t)A}
e as probabilidades P (an) de se obter os diferentes resultados (autovalores) an em uma
medição do observável A em um instante t são:
P (an) = tr {Pnρ (t)} ,
onde Pn é o projetor sobre o subespaço associado a an (COHEN-TANNOUDJI; DIU; LALOË,
1973b; AUDRETSCH, 2007).
1Estados de mistura estatística não serão abordados neste trabalho.
6
No caso de sistemas bipartidos, em que o espaço de estados H do sistema global é
construído a partir do produto tensorial dos espaços de cada subsistema, o operador
densidade ρ age sobre o espaço global. Assim, faz-se necessário construir, a partir de ρ,
operadores densidade reduzidos que agem sobre os espaços de estado de cada subsistema
e permitem fazer previsões sobre medições realizadas apenas em um dos subsistemas
individualmente. A construção dos operadores densidade reduzidos sobre o subsistema A
ou B dá-se por meio da operação de traço parcial em relação a B ou A, respectivamente.
Isso quer dizer que, dado o subsistema A, cujo espaço de estados é denotado por H A de
base{∣∣∣unA⟩}, o operador ρA é obtido pela operação de traço parcial sobre B:
ρA = trB ρ,
definindo ρA pelos elementos de matriz:⟨un
A |ρA|un′A⟩
=∑p
(⟨un
A∣∣∣ ⟨vpB∣∣∣) ρ (∣∣∣un′
A⟩ ∣∣∣vpB⟩) , (2)
onde{∣∣∣vpB⟩} denota uma base para o espaço H B, referente ao subsistema B.
Idem para o subsistema B, cujo operador densidade reduzido é:
ρB = trA ρ,
com elementos de matriz⟨vpB |ρB| vp′
B⟩
=∑n
(⟨un
A∣∣∣ ⟨vpB∣∣∣) ρ (∣∣∣unA⟩ ∣∣∣vp′
B⟩).
Tem-se que:
trρ = trA (trB ρ) = trB (trA ρ) ,
de modo que ρA e ρB também têm traço igual a 1. A positividade de ρA e de ρB decorre
da positividade de ρ. Já a idempotência do operador densidade reduzido nem sempre se
verifica e, em geral, ρ2A 6= ρA. Este fato ilustra a impossibilidade de se atribuir estados puros
específicos aos subsistemas, caso o estado global seja emaranhado.
Tomando-se o observável O que age no espaço H A e sendo O = O ⊗ 1B seu prolonga-
mento em H , pode-se mostrar que⟨O⟩
= tr {ρAO)} ,
de modo que o operador densidade reduzido ρA é usado para calcular todos os valores
médios⟨O⟩
como se o sistema A estivesse isolado e tivesse ρA como operador densidade
(COHEN-TANNOUDJI; DIU; LALOË, 1973b; AUDRETSCH, 2007).
Aqui vale ressaltar a vantagem em se usar operadores densidade para descrever o estado
de um sistema, em substituição aos vetores de estado. Mesmo para o caso de estados
7
emaranhados, em que o estado global não pode ser escrito como um produto de estados de
cada subsistema, é possível calcular-se qualquer previsão física sobre os subsistemas por
meio da operação de traço parcial, que permite escrever operadores densidade para cada
subsistema, ainda que não seja possível escrever seus estados como vetores (COHEN-
TANNOUDJI; DIU; LALOË, 1973b).
O operador densidade reduzido será a principal ferramenta para o cálculo da entropia de
von Neumann, conceito fundamental para a teoria da informação quântica e para medir-se
emaranhamento. Mas antes de introduzir a entropia de von Neumann propriamente, cabe
aqui uma elucidação sobre a entropia de Shannon, utilizada na teoria da informação clássica
(AUDRETSCH, 2007).
A entropia é um conceito termodinâmico que diz respeito ao nível de desordem de um
sistema e a mecânica estatística (clássica ou quântica) lança mão deste conceito para
descrever misturas estatísticas. Em 1948, Claude Shannon utilizou a entropia para propor
uma medida de informação, ou de incerteza na transmissão de informações, em seu trabalho
sobre a teoria matemática da comunicação (SHANNON, 1948). Grosso modo, tomando-se
um conjunto de N diferentes caracteres, é possível escrever Zn diferentes sequências de n
caracteres com ni repetições de cada caracter xi, sendo que
Zn = n!n1!n2! ...nN ! ,
com∑Ni=1 ni = n. No caso de textos ou mesmo mensagens, em que n e ni são grandes,
a fórmula de Stirling log(n! ) ∼ n log n − n pode ser usada para obter-se o logaritmo do
número Zn:
logZn = n log n− n−N∑i=1
(ni log ni − ni).
Sendo pi a probabilidade de ocorrência de um caracter xi, então a frequência de ocorrência
de cada caracter é ni = npi. Assim, fazendo-se pi = nin
, tem-se
logZn = −nN∑i=1
pi log pi.
Por fim, para calcular uma média por caracter do número logZn, divide-se logZn por n e
obtém-se a entropia de Shannon
E(p) ≡ limn→∞
1n
logZn = −N∑i=1
pi log pi ≥ 0
da distribuição de probabilidades p↔ {pi, i = 1, ..., N}.
A entropia de Shannon tem grande importância para a teoria da informação clássica, em que
cada símbolo ou caracter é unicamente distinto dos outros e não se altera no processo de
leitura ou de transmissão da informação. Na teoria da informação quântica, essas premissas
8
eventualmente falham. Para o caso de sistemas quânticos, John von Neumann desenvolveu
uma teoria de medida em que a assim chamada entropia de von Neumann tem um papel
semelhante ao da entropia de Shannon para sistemas clássicos (AUDRETSCH, 2007).
von Neumann utilizava a descrição dos estados quânticos por meio do operador densidade.
Dessa forma, se a cada caracter xi fosse associado um estado quântico |ψi〉, com probabili-
dade pi de acontecer em uma sequência de caracteres transmitidos, a mistura estatística
desses estados teria como operador densidade
ρ =N∑i=1
pi |ψi〉 〈ψi|. (3)
A leitura das informações é feita por meio de um observável detector de caracteres D, cujos
autoestados {|dm〉 ,m = 1, ..., d} formam uma base ortonormal para Hd. Em uma medição
de D, a probabilidade de obter-se o autovalor dm é representada por p (dm) (AUDRETSCH,
2007).
Como a sequência de caracteres introduzida é clássica, sua entropia de Shannon é denotada
por E(p). Da mesma forma, a sequência de resultados medidos, isto é, o recebimento da
mensagem, também é clássica e sua entropia de Shannon é denotada por E (p (D)). Se
o sistema quântico é escolhido de modo que a dimensão d seja igual a N (o número total
de caracteres disponíveis), então é possível que cada autoestado |di〉 corresponda a um
caracter xi, isto é, |ψi〉, da equação 3, é idenfificado como |ψi〉 = |di〉 (AUDRETSCH, 2007).
Ora, a decomposição espectral do operador densidade é dada por:
ρ =d∑
m=1λm |m〉 〈m|, 〈m | m′〉 = δmm′ ,
sendo |m〉 seus autovetores e λm seus autovalores. Assim, pode-se reescrever ρ em termos
de |di〉:
ρ =N∑i
pi |di〉 〈di| =N∑i
λi |i〉 〈i|,
ou seja, neste caso, pi = λi e |di〉 = |i〉. Como, para as medidas, o valor di está associado
a cada xi univocamente, todas as probabilidades do problema têm distribuições iguais:
os autovalores de ρ (p (di) = pi = λi) e então E (p) = E (p (D)). Com isso, pode-se
associar ao operador densidade da mistura estatística — portanto, ao estado quântico —
uma entropia quântica S(λ)
= E (p), sendo
S(λ)
= −d∑i=1
λi log λi ≥ 0. (4)
Por meio da decomposição espectral de ρ pode-se reescrever a Equação (4) como:
S (ρ) ≡ −tr [ρ log ρ] .
9
S (ρ) é a entropia de von Neumann para o operador densidade ρ. De maneira geral, pode-se
calcular a entropia de von Neumann para qualquer operador densidade, inclusive para os
operadores reduzidos (AUDRETSCH, 2007).
Dado que a entropia de von Neumann, calculada para um operador densidade reduzido,
fornece uma medida da falta de informação sobre o subsistema, ela é tomada com uma
medida do emaranhamento do sistema global preparado em um estado puro. Quando o
estado global pode ser escrito como um produto tensorial de estados oriundos de cada
subsistema separadamente, a entropia vale zero, isto é, todas as informações sobre cada
subsistema individual são conhecidas. Por outro lado, se o estado global não pode ser
escrito como um produto tensorial de estados oriundos de cada subsistema separadamente,
existe uma falta de informação sobre os vetores de estado dos subsistemas individuais e
a entropia é diferente de zero. Para os estados de Bell (Equação (1)) especificamente, a
entropia do estado reduzido tem seu valor máximo, a saber logN , e por isso são chamados
estados maximamente emaranhados (AUDRETSCH, 2007).
Aqui cabe uma breve explicação a respeito do valor máximo da entropia. No contexto da
teoria da informação quântica, os sistemas utilizados são, a priori, de dois níveis (os qubits).
Desta forma, normalmente utiliza-se o logaritmo na base 2 para o cálculo da entropia e,
nesse caso, seu valor máximo é 1, isto é, log2(2) = 1. No caso de sistemas de mais níveis,
poder-se-ia utilizar para cada caso a base do logaritmo igual à dimensão do subsistema.
Entretanto, essa abordagem é desnecessária, já que as mudanças na base do logaritmo
apenas alteram seu valor por um fator de escala. Assim, como opção de linguagem, sempre
que o logaritmo for utilizado neste texto, considera-se por padrão que log refere-se ao
logaritmo de base 2.
2.1.2 Estados maximamente emaranhados em dimensão d
Alguns métodos para a geração de bases generalizadas de estados de Bell (estados
maximamente emaranhados) foram propostos nas últimas décadas (SYCH; LEUCHS, 2009;
BENNETT et al., 1993; ALBER et al., 2000). Sych e Leuchs (2009) apresentam duas
maneiras óbvias para a construção das bases de Bell. A primeira parte do princípio de que
um estado do tipo |ψ+〉 = 1√d
∑d−1k=0 |k, k〉 já é uma generalização natural, para dimensão d,
do estado de Bell simétrico usual, i.e. d = 2: |Ψ+〉 = 1√2 (|0, 0〉+ |1, 1〉). A partir deste estado,
toda a base maximamente emaranhada é formada aplicando-se transformações unitárias
locais a ele. A segunda maneira parte da necessidade, em alguns casos, de gerar-se estados
de Bell antissimétricos. Neste cenário, segue-se para uma generalização do estado singleto
|Ψ−〉 = 1√2 (|0, 1〉 − |1, 0〉), dada pelo estado |ψ−〉 = 1√
2j+1∑jm=−j (−1)j−m |m,−m〉, de um
sistema bipartido de spins individuais j = N/2 e spin total nulo, em que N = d− 1 para um
sistema d−dimensional. Vale citar que, na segunda abordagem, é possível gerar-se tanto
10
estados simétricos, com valor de N par, quanto antissimétricos, com valor de N ímpar.
Neste ponto, é importante salientar as propriedades dos estados de Bell (Equação (1)), a
saber (SYCH; LEUCHS, 2009):
1. Estados de Bell possuem entropia máxima log(d);
2. Estados de Bell formam uma base ortonormal para o espaço de Hilbert do sistema
que descrevem;
3. Estados de Bell são, necessariamente, ou simétricos ou antissimétricos em relação à
permutação dos índices que descrevem os subsistemas;
4. Estados de Bell antissimétricos necessariamente fornecem correlações exclusivas
rotacionalmente invariantes perfeitas.
A quarta propriedade diz que a probabilidade de se obter um mesmo valor v em medições
idênticas de ambos os subsistemas é nula, qualquer que seja o estado |v〉 : P(v) =tr(Pvρ) = tr(|v〉 〈v|⊗|ψ−〉 〈ψ−|) = 0 .2
Baseando-se nessa segunda proposta, Sych e Leuchs (2009) aventam uma simplificação,
representando esses estados por meio de matrizes. Entretanto, eles limitam-se a espaços
cujas dimensões são potências de 2, de modo a não perder a propriedade da (anti)simetria.
Bennett et al. (1993) por sua vez constroem uma base generalizada semelhante à de
Sych e Leuchs (2009), porém mais adequada aos trabalhos com teleporte quântico, a
saber, dada pelos estados |ψmn〉 = 1√d
∑d−1k=0 e
i 2πdmk |k, k − n〉. A abordagem de Alber et al.
(2000) é um pouco mais complicada, construída por meio da transformada de Fourier e da
generalização da porta XOR quântica para espaços de Hilbert de dimensões maiores. Não
cabe aqui esmiuçá-la, posto que é muito específica para os trabalhos com portas lógicas
quânticas. À vista disso, ainda há espaço para a proposição de métodos que gerem estados
maximamente emaranhados para qualquer dimensão finita e, se possível, que incorporem
os casos de sistemas compostos por partes idênticas ou não.
2.2 Identidade de partículas
Duas ou mais partículas são chamadas idênticas quando todas as suas propriedades
intrínsecas são as mesmas. Partículas idênticas são ditas indistinguíveis quando nenhuma
medida é capaz de distinguir uma partícula da outra. Considerando, como exemplo, a
2Observe-se que a antissimetria ocorre apenas para subsistemas de dimensão d par, quando a parteespacial não é considerada.
11
situação em que duas partículas idênticas inicialmente afastadas uma da outra aproximam-
se e voltam a se afastar, as funções de onda que definem o estado de cada partícula
podem se sobrepor durante a aproximação e, ao realizar-se uma medição sobre o sistema
após o novo afastamento, é impossível saber-se a qual das partículas referem-se os dados
medidos. Esta é uma instância na qual se manifesta a chamada degenerescência de troca,
em que diferentes vetores do espaço de Hilbert do sistema podem ser escolhidos para
descrever uma mesma situação física e em que o cálculo de probabilidades, feitos segundo
os postulados da teoria, depende do vetor escolhido, gerando ambiguidades nas predições.
Uma maneira de se resolver este problema consiste na adoção de um novo postulado, de
simetrização, para a teoria: os estados físicos de um sistema de partículas idênticas estão
restritos a um dentre dois subespaços do espaço de Hilbert H = HS⊕
HAS global; ou são
vetores simétricos ou são vetores antissimétricos sob a troca dos índices que descrevem
as partículas. Partículas descritas por vetores simétricos de HS são denominadas bósons
e partículas descritas por vetores antissimétricos de HAS são denominadas férmions.
Assim, nos sistemas de partículas idênticas, apenas determinados estados físicos são
possíveis, de acordo com o tipo de partículas envolvidas. No caso de bósons, apenas
estados completamente simétricos são permitidos, enquanto para férmions, os estados
precisam ser completamente antissimétricos. Além disso, todos os observáveis devem ser
invariantes sob a permutação dos índices das partículas. (HEISENBERG, 1927; DIRAC,
1926; LEWIS, 1930; WIGNER, 1997; MESSIAH; GREENBERG, 1964; COHEN-TANNOUDJI;
DIU; LALOË, 1973b).
Deste modo, quando um sistema bipartido é constituído por partes indistinguíveis, um
estado do tipo |ψ〉 = |ϕ, χ〉 é ambíguo, pois não é possível dizer se o subsistema A
encontra-se no estado |ϕ〉 e o subsistema B encontra-se no estado |χ〉 ou o contrário,
uma vez que nenhuma medição é capaz de distinguir o subsistema A do subsistema B.
Assim, a descrição correta, nesse caso, seria a superposição de ambas as possibilidades:
|ψ〉 = 1√2 (|ϕ, χ〉 ± |χ, ϕ〉), isto é, a possibilidade de o subsistema A estar no estado |ϕ〉
ou |χ〉 e vice-versa para o subsistema B (COHEN-TANNOUDJI; DIU; LALOË, 1973b;
GRIFFITHS, 2011).
Com a adoção do postulado da simetrização, quando o sistema global é composto por
subsistemas idênticos, algumas dificuldades manifestam-se no que se refere a emaranha-
mento. Primeiramente em relação ao próprio postulado da simetrização: os estados do
sistema global devem ser (anti)simétricos com relação à troca dos estados individuais dos
subsistemas. Por conseguinte, eles tomam a forma de estados de Bell.
Como ilustração, o sistema de dois férmions idênticos, por antissimetrização, estaria sempre
emaranhado, o que não corresponde a alguns resultados observados, por exemplo no caso
em que a separação espacial é muito grande. Por outro lado, sistemas de bósons idênticos
12
admitiriam estados simetrizados e fatorados, como o estado |ϕ, ϕ〉. Isso quer dizer que qual-
quer sistema bipartido de férmions idênticos estará sempre emaranhado? Neste caso, por
que não se constroem mecanismos de teleporte com base nesse emaranhamento “natural”
dos férmions? Este questionamento associa-se às diferentes medidas de emaranhamento
propostas e constitui um dos pontos de investigação deste projeto.
De outra perspectiva, como a dimensão do espaço de Hilbert dos vetores de estado foi
reduzida e não é mais 3 d× d, como medir emaranhamento, pela entropia de von Neumann,
por exemplo, uma vez que está comprometida a noção de um operador densidade reduzido
agindo sobre o espaço de Hilbert de uma partícula de dimensão d e obtido via operação
traço parcial realizada sobre os vetores do espaço da outra, também de dimensão d?
Estas e outras questões relacionadas ao emaranhamento de partículas idênticas ainda
levantam controvérsias na comunidade acadêmica e são assunto de trabalhos de pesquisa
recentemente publicados (BENATTI; FLOREANINI; MARZOLINO, 2010; BALACHANDRAN
et al., 2013; BENATTI; FLOREANINI; TITIMBO, 2014; LOFRANCO; COMPAGNO, 2016).
Os esforços do presente trabalho direcionam-se no mesmo sentido, propondo um método
para o cálculo do emaranhamento em sistemas bipartidos de partes idênticas que seja
adequado às exigências da teoria quântica.
3No caso de dois spins idênticos S, a dimensão do espaço de Hilbert não é (2S + 1)(2S + 1); de fato,tem-se dimensões (2S + 1)(S + 1) no caso bosônico e (2S + 1)S no caso fermiônico.
13
Capítulo 3
Metodologia
Neste trabalho, um sistema bipartido de dimensão finita será modelado como um sistema
de dois pseudospins S1 e S2, referentes às primeira e segunda partes (subsistemas) do
sistema global, respectivamente. A partir dessa escolha, é possível descrever qualquer
subsistema de d níveis tomando-se valores (semi)inteiros de spin adequados. Se S1 6= S2,
os subsistemas são considerados distinguíveis. Se S1 = S2, os subsistemas podem ser
tratados como idênticos ou distinguíveis, de acordo com a necessidade de simulação (este
seria o caso, por exemplo, da simulação de um sistema global com dois subsistemas de dois
níveis, i.e. S1 = S2 = 12 , composto por partículas que diferem em massa ou em qualquer
outra característica intrínseca, como sistema próton-elétron, elétron-pósitron, entre outros).
Em primeiro lugar, apresenta-se o método da dessimetrização da base do espaço de Hilbert
para medir-se o emaranhamento de sistemas compostos por partes idênticas. Em seguida,
o método para se gerar estados maximamente emaranhados é desenvolvido.
3.1 Dessimetrização da base do espaço de Hilbert
Uma das principais críticas relacionadas à definição correta de estados quânticos globais
para duas partículas (ou subsistemas) idênticas é a falta de sentido em atribuir-se rótulos
para especificar qual partícula (subsistema) está em cada estado individual. Uma descrição
alternativa é definir um estado quântico global “holístico”∣∣∣ϕ, ζ⟩ (LOFRANCO; COMPAGNO,
2016; SCIARA; LOFRANCO; COMPAGNO, 2017), no qual os rótulos ϕ e ζ significam
apenas que existe uma partícula no estado individual |ϕ〉 e outra no estado individual |ζ〉,sem especificar qual partícula está em cada estado.
Neste trabalho, dá-se um passo atrás e toma-se como estado global genérico de duas
partículas, satisfazendo-se o postulado da simetrização, o estado
||ϕζ〉〉 ≡ 1N
(|ϕζ〉+ ε |ζϕ〉) , (5)
em que |ϕζ〉 = |ϕ〉 ⊗ |ζ〉, exatamente como aparece na maioria dos livros de mecânica
14
quântica (COHEN-TANNOUDJI; DIU; LALOË, 1973b), com ε = +1 para bósons e ε = −1para férmions, sendo N a constante de normalização apropriada. O princípio da exclusão
de Pauli para férmions é levado em conta automaticamente. Cabe reforçar que a rotulagem
na Equação (5) é meramente operacional, já que nenhuma medição é capaz de distinguir
as partículas. Em especial, tomam-se vetores de estado de uma partícula ortonormalizados
|ϕ〉 e |ζ〉, de modo que, no caso bosônico, N = 2 se ϕ = ζ e N =√
2 se ϕ 6= ζ e, no caso
fermiônico, N =√
2, o que fornece ||ϕζ〉〉 na Equação (5) também normalizado.
Além disso, utiliza-se a base ortonormal para uma partícula, dada por {|ψk〉}dk=1, para
subsistemas d-dimensionais. Em um primeiro momento, considera-se que as duas partículas
(subsistemas) têm a mesma parte espacial e, com essa suposição, |ψk〉 ≡ |k〉 é dado pelo
número quântico k = 1, 2 . . . , d. Sobreposições da parte espacial nulas ou parciais serão
comentadas na discussão dos resultados (cap. 4).
Um estado quântico global |ψ〉 pode ser, então, escrito como
|ψ〉 =d∑
k1=1
d∑k2=d
c(k1, k2)||k1k2〉〉
nesta base de estados (anti)simétricos {||k1k2〉〉}, onde d = k1 no caso de bósons e
d = k1 + 1 no caso de férmions.
O principal objetivo é reescrever o estado global |ψ〉 em uma base de estados não simétricos
{|k1k2〉; k1, k2 = 1, 2, . . . , d} como sendo
|ψ〉 =d∑
k1=1
d∑k2=1
g(k1, k2) (|k1k2〉) ,
em que os coeficientes g são todos definidos usando-se os coeficientes c dados para
k1 ≤ k2, com g(k2, k1) = εg(k1, k2) = ε√2c(k1, k2) caso k1 6= k2, e g(k, k) = c(k, k) (com
c(k, k) sempre zero para férmions). Vale notar que |ψ〉 se mantém (anti)simétrico — a
(anti)simetrização aparece como uma restrição nos coeficientes dos vetores não simétricos
da base — e todas as consequências da indistinguibilidade são mantidas nesta proposta.
Este processo é chamado aqui dessimetrização dos estados da base global. Como um
simples exemplo, o estado
|ψ〉 = a||1 2〉〉+ b||2 2〉〉
é reescrito como
|ψ〉 = a√2|1 2〉+ b |2 2〉+ ε
a√2|2 1〉 .
Em suma, o método consiste em quatro etapas:
i Ordenar uma base {|m1m2〉} para o espaço de Hilbert global. Para cada autovalor
crescente m1 de S1z, m2 passa analogamente por todos os seus valores permitidos,
15
dependendo de S1 e S2 serem distinguíveis ou idênticos. Por exemplo, se S1 = S2 = 1e os subsistemas são tratados como distinguíveis, a base tem (2S1 + 1)(2S2 + 1) = 9elementos ordenados:
{|−1 − 1〉 , |−1 0〉 , |−1 1〉 , |0 − 1〉 , |0 0〉 , |0 1〉 , |1 − 1〉 , |1 0〉 , |1 1〉} .
Mas se os subsistemas são tratados como idênticos bosônicos, a base passa a ter
(2S1 + 1)(S2 + 1) = 6 elementos ordenados:{|−1 − 1〉 , 1√
2(|−1 0〉+ |0 − 1〉) , 1√
2(|−1 1〉+ |1 − 1〉) ,
|0 0〉 , 1√2
(|0 1〉+ |1 0〉) , |1 1〉}
;
ii Escrever o estado global (anti)simétrico como combinação linear dos elementos da base
construída no passo anterior. Seguindo o exemplo anterior, para o caso de subsistemas
idênticos, um estado |ψ 〉 seria representado pela sêxtupla (c1, c2, c3, c4, c5, c6), em
que ci é o coeficiente associado ao i−ésimo estado da base;
iii Escrever o estado |ψ 〉 (anti)simétrico em uma nova forma∣∣∣ψ⟩, utilizando-se a base de
estados não simétricos, preservando os coeficientes e sinais associados a cada estado
(anti)simétrico da base original. Ainda em continuação ao exemplo anterior,∣∣∣ψ⟩ seria
representado pela nônupla
∣∣∣ψ⟩ :(c1,
c2√2,c3√
2,c2√
2, c4,
c5√2,c3√
2,c5√
2, c6
);
iv Construir a matriz do operador densidade global como ρ =∣∣∣ψ⟩ ⟨ψ | , obtendo o operador
densidade reduzido, e calcular a entropia de von Neumann para todos os casos —
não idênticos, idênticos, bosônicos ou fermiônicos — da mesma maneira como é
normalmente realizada para subsistemas distinguíveis.
O postulado da simetrização, que normalmente é utilizado como uma forma de se evitar que
estados globais não físicos e consequentes inconsistências, como a degenerescência de
troca, apareçam, implica a redução da dimensão do espaço de Hilbert global de dim H =d2 para dim H(A)S = 1
2d(d+ ε). O processo de dessimetrização não altera essa situação,
uma vez que qualquer observável é também simétrico em relação aos rótulos utilizados aqui
e o operador paridade comuta com qualquer Hamiltoniano simétrico. O espaço de Hilbert
pode, então, ser decomposto em H = HAS ⊕HS, uma soma direta dos subespaços
(anti)simetrizados. Ao lidar com sistemas bosônicos, apenas HS é populado; por outro lado,
se o caso for fermiônico, todos os processos físicos acontecem em HAS. Neste sentido, o
espaço de Hilbert é tomado como se fosse d2-dimensional, mas tendo em mente que os
16
chamados estados não físicos nunca são acessados e tudo acontece no subespaço de
Hilbert 12d(d+ ε)-dimensional apropriado.
Este simples procedimento permite trabalhar as definições usuais de operadores densidade
e densidade reduzido, bem como a da entropia de von Neumann e a da decomposição
de Schmidt, justamente da mesma forma em que essas noções são estabelecidas para
partículas (subsistemas) distinguíveis, sendo que as matrizes densidade e densidade
reduzida resultantes aparecem como de ordem d2 × d2 e d× d, respectivamente. Observe-
se que, com isso, o operador densidade reduzido mostra-se como operador que atua
corretamente sobre o espaço d−dimensional de um dos subsistemas. Um último, mas
também notável, ponto a se mencionar é que esta proposta acaba sendo aplicável a
qualquer sistema bipartido, com subsistemas de qualquer dimensão d finita (qudits), sejam
os subsistemas idênticos ou não.
3.2 Geração de base de estados maximamente emaranha-
dos
Dado um sistema bipartido de dimensão finita, modelado como um sistema de dois pseu-
dospins S1 e S2, à geração de base de estados maximamente emaranhados para esse
sistema são postuladas as seguintes restrições:
• Os estados devem formar uma base ortonormal para o espaço de Hilbert global do
sistema;
• Cada vetor da base original deve aparecer em uma única combinação linear, a menos
de troca de sinais, dentre aquelas que geram os vetores da nova base;
• Os estados da nova base devem apresentar todos os autovalores do menor operador
Sz, sem repetição.
Estas restrições não são impostas pela natureza física do problema, mas são úteis na busca
pela base de estados maximamente emaranhados mais simples.
Antes de ir além, algumas observações devem ser destacadas. Primeiramente, devido à
decomposição de Schmidt, o menor spin deve determinar o máximo do emaranhamento,
isto é, a entropia máxima será log da menor dimensão entre os subsistemas (AUDRETSCH,
2007). Por causa disso, S1 é axiomaticamente definido como o menor spin, de modo que
os algoritmos de simulação sempre gerem os estados corretos. Em segundo lugar, se os
subsistemas são idênticos, os estados resultantes devem ser (anti)simétricos. E finalmente,
a normalização é feita do mesmo modo em todos os casos, simplesmente multiplicando por
17
1√N
os vetores coletados, em que N é o número de parcelas que compõem os vetores da
nova base.
Dois exemplos serão propostos para melhor esclarecer o método.
Exemplo 1: S1 = S2 = 1
Base (com 3 valores, ou símbolos: -1, 0 1):
{|−1 − 1〉 , |−1 0〉 , |−1 1〉 , |0 − 1〉 , |0 0〉 , |0 1〉 , |1 − 1〉 , |1 0〉 , |1 1〉}
Forma matricial 3× 3 e coleta dos grupos de vetores (cada cor indica um grupo):
Exemplo 1a: distinguíveis (dim H = 9)
Base ortonormal maximamente emaranhada:
1√3{[ |−1 − 1〉 ± (| 0 1 〉+ | 1 0 〉) ] ,
[ |−1 − 1〉 − | 0 1 〉+ | 1 0 〉 ] ,
[ | 0 0 〉 ± (|−1 1 〉+ | 1 − 1〉) ] ,
[ | 0 0 〉 − |−1 1 〉+ | 1 − 1〉 ] ,
[ | 1 1 〉 ± (|−1 0 〉+ | 0 − 1〉) ] ,
[ | 1 1 〉 − |−1 0 〉+ | 0 − 1〉 ]}.
Exemplo 1b: bósons idênticos (dimHS = 6)
Base ortonormal maximamente emaranhada:
1√3{[ |−1 − 1〉 ± (| 0 1 〉+ | 1 0 〉) ] ,
[ | 0 0 〉 ± (|−1 1 〉+ | 1 − 1〉) ] ,
[ | 1 1 〉 ± (|−1 0 〉+ | 0 − 1〉) ]}.
Exemplo 1c: férmions idênticos (dimHAS = 3)
18
Base ortonormal maximamente emaranhada:
1√2{(| 0 1 〉 − | 1 0 〉) ,
(|−1 1 〉 − | 1 − 1〉) ,
(|−1 0 〉 − | 0 − 1〉)}.
Exemplo 2: S1 = 1 e S2 = 32 (distinguíveis, dimH = 12)
Base (com 3 valores de S1 e 4 valores de S2):
{|−1 − 3/2〉 , |−1 − 1/2〉 , |−1 1/2〉 , |−1 3/2〉 ,
| 0 − 3/2〉 , | 0 − 1/2〉 , |0 1/2〉 , |0 3/2〉 ,
| 1 − 3/2〉 , | 1 − 1/2〉 , |1 1/2〉 , |1 3/2〉}.
Forma matricial 3× 4 e coleta dos grupos de vetores:
Base ortonormal maximamente emaranhada:
1√3{|−1 1/2〉+ |0 − 1/2〉+ |1 − 3/2〉 , |−1 1/2〉 ± [|0 − 1/2〉 − |1 − 3/2〉] ,
|−1 3/2〉+ |0 1/2〉+ |1 − 1/2〉 , |−1 3/2〉 ± [|0 1/2〉 − |1 − 1/2〉] ,
|−1 − 3/2〉+ |0 3/2〉+ |1 1/2〉 , |−1 − 3/2〉 ± [|0 3/2〉 − |1 1/2〉] ,
|−1 − 1/2〉+ |0 − 3/2〉+ |1 3/2〉 , |−1 − 1/2〉 ± [|0 − 3/2〉 − |1 3/2〉]}.
Sumariamente, o método proposto consta de cinco etapas:
i Ordenar a base inicial da mesma forma que a etapa i do método da dessimetrização,
mas sempre em um formato não simétrico, mesmo quando os sistemas são idênticos
(neste caso, deve-se dessimetrizar e, em seguida, ordená-la). É importante que quando
S1 6= S2, deve-se sempre atribuir a S1 o menor valor de spin;
ii Reescrever a base em forma matricial, replicando as primeiras n− 1 colunas, com n
sendo o número de linhas da matriz;
iii Coletar grupos de vetores seguindo as diagonais secundárias da matriz;
iv Compor uma sobreposição com os vetores de cada grupo e permutar sinais de mais e
menos de modo a completar uma base ortogonal para o espaço de Hilbert;
19
v Normalizar a base.
Seguindo o método para um sistema bipartido de qualquer dimensão finita, seja idêntico ou
não, a base gerada sempre será ortonormal e maximamente emaranhada. De fato, pela
construção dos estados a partir das diagonais secundárias, cada estado |ψ〉 formado por
uma dessas diagonais dá lugar a um operador densidade ρ = |ψ〉 〈ψ|. Na matriz de ρ,
cada ket |m1m2〉 que aparece no estado |ψ〉, por sua vez, dá lugar ao (m1 + S1 + 1)-ésimo
bloco, diagonal, de ordem (2S2 + 1)× (2S2 + 1), com todos os elementos nulos1, exceto o
elemento bii = 12S1+1 na posição i = m2 + S2 + 1.
Assim, o operador densidade reduzido, soma desses blocos, mostra-se, por construção,
como
evidenciando que |ψ〉 é maximamente emaranhado.
1A matriz de ρ = |ψ〉 〈ψ| pode apresentar outros elementos não nulos, mas fora dos blocos que contribuempara o operador densidade reduzido ρ(2).
20
Capítulo 4
Resultados
Abaixo, seguem-se dois exemplos que ilustram os resultados do capítulo anterior, evidenci-
ando sua simplicidade e aplicabilidade. Primeiramente, apresentam-se os métodos para
sistemas distinguíveis, para verificação de resultados já conhecidos e como teste do bom
funcionamento dos modelos. Em seguida, exemplos para sistemas idênticos são detalhados,
de modo que os procedimentos executados fiquem claros e reprodutíveis para o leitor inte-
ressado. Por fim, algumas aplicações são discutidas em comparação com outros resultados
encontrados em trabalhos semelhantes.
4.1 Dessimetrização em sistemas distinguíveis
Como primeiros exemplos de aplicação do método de dessimetrização da base do espaço de
Hilbert global, modela-se um sistema bipartido de dimensão finita como sendo constituído
por dois pseudospins S1 e S2. Qualquer subsistema de d níveis pode ser reescrito na
forma spinorial com a escolha adequada do valor (semi-)inteiro para os spins e, então,
dois spins são suficientes para tratar o caso em que dois qudits estão no mesmo sítio.
Subsequentemente seguem algumas situações. Em cada caso, tomam-se os seguintes
passos. Escolhe-se um estado quântico |ψ〉 que é reescrito em uma base dessimetrizada
como explicado anteriormente, obtendo-se∣∣∣ψ⟩; calcula-se o operador densidade global
ρ =∣∣∣ψ⟩ ⟨ψ∣∣∣ e toma-se seu traço parcial ρ2 = ∑S1
m1=−S1 〈m1 |ρ|m1〉 para uma base de
estados não simétricos {|m1〉 ⊗ |m2〉}; em seguida, a entropia de von Neumann é obtida
como S(ρ) = −∑i λi log λi, onde λi são os autovalores do operador densidade reduzido
ρ2.
A título de simplificação, considera-se aqui um caso de spin pequeno, valendo 1 por exemplo.
Pode-se considerar ambos os spins S1 e S2 com o mesmo valor e ainda assim tratar o
problema como de partículas distinguíveis; para spin de valor 1, poder-se-ia dizer que
trata-se um bóson de 3 níveis interagindo com um férmion de 3 níveis, ou outras partículas
21
de mesmo spin, mas com demais características intrínsecas diferentes.
Para spin igual a 1, ordena-se a base de estados |m1 m2〉 não simétricos (NS) da seguinte
maneira:
{|−1 − 1〉 , |−1 0〉 , |−1 1〉 , |0 − 1〉 , |0 0〉 , |0 1〉 , |1 − 1〉 , |1 0〉 , |1 1〉} . (6)
Tomando-se um estado |ψ〉 qualquer, normalizado, escrito como combinação linear dos
vetores dessa base |ψ〉 = ∑(2S1+1)(2S2+1)i=1 ci |m1m2〉, constrói-se o operador densidade
global ρ =∣∣∣ψ⟩ ⟨ψ∣∣∣. Neste caso, |ψ〉 =
∣∣∣ψ⟩, já que o estado global para sistema de partes
distinguíveis já é não simétrico. Assim, a matriz do operador densidade global toma a
seguinte forma:
.
A operação do traço parcial sobre o subsistema (1) resultará em um operador densidade
reduzido ρ2, cujos elementos de matriz serão, neste caso, somatórios com três elementos,
conforme a Equação (2) do capítulo 2. Assim, o operador reduzido é, na verdade, uma soma
de três matrizes quadradas de ordem 3 (a dimensão do subsistema (2)) que aparecem
ordenadas dentro do próprio operador densidade global, se a ordenação da base for mantida
a mesma desde o início. Essa operação fica mais simples observando-a diretamente na
matriz do operador densidade global:
22
.
Assim, o operador densidade reduzido ρ2 é construído da seguinte forma:
.
A partir de então, diagonaliza-se o operador densidade reduzido e calcula-se a entropia de
von Neumann como medida do emaranhamento entre as duas partes do sistema global.
São apresentados os resultados para dois estados do tipo produto |ψProd.1 e 2〉 (não ema-
ranhado) e dois estados do tipo emaranhados |ψEmar.1 e 2〉. Estes estados são definidos, a
partir da base (6), como
|ψProd.1〉 = |−1− 1〉 ,
|ψProd.2〉 = 1√2
(|−1 0〉+ |−1 1〉) ,
|ψEmar.1〉 = 1√3
(|−1− 1〉+ |0 0〉+ |1 1〉) ,
|ψEmar.2〉 = 1√2
(|−1 0〉+ |0 1〉) ,
cujas matrizes de ρ2NS diagonalizadas ficam, respectivamente,
ρ2NSdiagProd.1= ρ2NSdiagProd.2
=
0 0 00 0 00 0 1
,
23
ρ2NSdiagEmar.1=
1/3 0 00 1/3 00 0 1/3
.
ρ2NSdiagEmar.2=
0 0 00 1/2 00 0 1/2
.
No caso dos estados do tipo produto, o operador densidade reduzido mostrou um autovalor
igual a 1 e um autovalor duplamente degenerado igual a zero, de modo que a entropia
calculada foi nula. No caso do estado emaranhado 1, o operador densidade reduzido
mostrou apenas um autovalor triplamente degenerado igual a 1/3, de modo que a entropia
calculada foi máxima, isto é, log(3). No caso do estado emaranhado 2, o operador densidade
reduzido mostrou um autovalor nulo e um autovalor duplamente degenerado igual a 1/2, de
modo que a entropia calculada foi intermediária, isto é, log(2). Os resultados são condizentes
com os previstos para cada situação.
Antes de apresentar o caso de partes idênticas, é relevante exemplificar também o caso de
partes distinguíveis com spins distintos, de modo que as dimensões dos subsistemas não
são as mesmas. Para tanto, tome-se, por exemplo, S1 = 1 e S2 = 3/2. Ordena-se a base
não simetrizada (NS) da seguinte maneira:
{|−1 − 3/2〉 , |−1 − 1/2〉 , |−1 1/2〉 , |−1 3/2〉 , |0 − 3/2〉 , |0 − 1/2〉 ,
|0 1/2〉 , |0 3/2〉 , |1 − 3/2〉 , |1 − 1/2〉 , |1 1/2〉 , |1 3/2〉}.(7)
Semelhantemente ao caso anterior, a matriz do operador densidade global toma a seguinte
forma:
.
Da mesma forma, a operação do traço parcial sobre o subsistema (1) resultará em um
operador densidade reduzido ρ2, cujos elementos de matriz serão, neste caso, somatórios
24
com três elementos, conforme a Equação (2) do capítulo 2. Assim, o operador reduzido é,
na verdade, uma soma de três matrizes quadradas de ordem 4 (a dimensão do subsistema
(2)) que aparecem ordenadas dentro do próprio operador densidade global, se a ordenação
da base for mantida a mesma desde o início. Essa operação fica mais simples observando-a
diretamente na matriz do operador densidade global:
.
Assim, o operador densidade reduzido ρ2 é construído da seguinte forma:
.
A partir de então, diagonaliza-se o operador densidade reduzido e calcula-se a entropia de
von Neumann como medida do emaranhamento entre as duas partes do sistema global.
São apresentados os resultados para um estado do tipo produto |ψProd.〉 (não emaranhado)
e um estado maximamente emaranhado |ψMax〉. Estes estados são definidos, a partir da
base (7), como
|ψProd.〉 = |−1− 3/2〉 ; |ψMax〉 = 1√3
(|−1 3/2〉+ |0 1/2〉+ |1 − 1/2〉) ,
cujas matrizes de ρ2NS diagonalizadas ficam, respectivamente,
ρ2NSdiagProd.=
0 0 0 00 0 0 00 0 0 00 0 0 1
, ρ2NSdiagMax.=
0 0 0 00 1/3 0 00 0 1/3 00 0 0 1/3
.
25
No caso do estado do tipo produto, o operador densidade reduzido mostrou um autovalor
igual a 1 e um autovalor triplamente degenerado igual a zero, de modo que a entropia
calculada foi nula. No caso do estado maximamente emaranhado, o operador densidade
reduzido mostrou um autovalor igual a zero e um autovalor triplamente degenerado igual a
1/3, de modo que a entropia calculada foi máxima, isto é, log(3). Neste caso, o autovalor
nulo não implica em perda para o emaranhamento máximo, devido à diferença na dimen-
são dos subsistemas. De acordo com a decomposição de Schmidt, a entropia máxima é
dada conforme a menor entre as dimensões dos subsistemas. Ambos os resultados são
condizentes com os previstos para cada situação.
Nesse último exemplo, não é possível gerar o estado de Bell mais trivial do tipo |ψ+〉 =1√d
∑d−1k=0 |k, k〉, devido à própria estrutura dimensional do problema. O estado maximamente
emaranhado foi gerado, então, por meio do método proposto no capítulo anterior que, além
de realmente fornecer estados não separáveis em forma de produto vetorial, ainda são,
conforme resultado, de fato estados cujos estados reduzidos possuem entropia máxima.
Para o mesmo exemplo, os demais estados maximamente emaranhados são gerados
conforme Exemplo 2, da seção 3.2, formando uma base maximamente emaranhada para o
sistema em questão:1√3{|−1 1/2〉+ |0 − 1/2〉+ |1 − 3/2〉 , |−1 1/2〉 − |0 − 1/2〉+ |1 − 3/2〉 ,
|−1 1/2〉+ |0 − 1/2〉 − |1 − 3/2〉 , |−1 3/2〉+ |0 1/2〉+ |1 − 1/2〉 ,
|−1 3/2〉 − |0 1/2〉+ |1 − 1/2〉 , |−1 3/2〉+ |0 1/2〉 − |1 − 1/2〉 ,
|−1 − 3/2〉+ |0 3/2〉+ |1 1/2〉 , |−1 − 3/2〉 − |0 3/2〉+ |1 1/2〉 ,
|−1 − 3/2〉+ |0 3/2〉 − |1 1/2〉 , |−1 − 1/2〉+ |0 − 3/2〉+ |1 3/2〉 ,
|−1 − 1/2〉 − |0 − 3/2〉+ |1 3/2〉 , |−1 − 1/2〉+ |0 − 3/2〉 − |1 3/2〉}.
4.2 Dessimetrização em sistemas idênticos
Para o caso de sistemas idênticos, os valores de S1 e S2 são sempre iguais. A seguir, o
método da dessimetrização é aplicado primeiramente para um sistema bosônico e, em
seguida, para um sistema fermiônico. Assim, para a aplicação bosônica, toma-se o caso de
dois bósons idênticos de 3 níveis, isto é, S1 = S2 = 1.
A base de estados simétricos (S) é ordenada da seguinte maneira:
{|−1 − 1〉 , 1√2
(|−1 0〉+ |0 − 1〉) , 1√2
(|−1 1〉+ |1 − 1〉) ,
|0 0〉 , 1√2
(|0 1〉+ |1 0〉) , |1 1〉}.(8)
Tomando-se um estado |ψ〉 qualquer, normalizado, escrito como combinação linear dos
vetores dessa base, antes de construir-se o operador densidade global, reescreve-se
26
este estado como combinação linear dos vetores da base de estados dessimetrizada
correspondente, isto é, se
|ψ〉 = c1 |−1− 1〉+ c2
[1√2
(|−1 0〉+ |0− 1〉)]
+
+c3
[1√2
(|−1 1〉+ |1− 1〉)]
+ c4 |0 0〉+
+c5
[1√2
(|0 1〉+ |1 0〉)]
+ c6 |1 1〉 ,
reescreve-se este estado como sendo:∣∣∣ψ⟩ = c1 |−1− 1〉+ c21√2|−1 0〉+ c3
1√2|−1 1〉+
+c21√2|0− 1〉+ c4 |0 0〉+ c5
1√2|0 1〉+
+c31√2|1− 1〉+ c5
1√2|1 0〉+ c6 |1 1〉 .
A matriz do operador densidade global toma a seguinte forma:
.
A operação do traço parcial sobre o subsistema (1) resultará em um operador densidade
reduzido ρ2, cujos elementos de matriz serão, neste caso, somatórios com três elementos,
conforme a Equação (2) do capítulo 2. Assim, o operador reduzido é, na verdade, uma soma
de três matrizes quadradas de ordem 3 (a dimensão do subsistema (2)) que aparecem
ordenadas dentro do próprio operador densidade global, se a ordenação da base for mantida
27
a mesma desde o início. Essa operação fica mais simples observando-a diretamente na
matriz do operador densidade global:
.
Assim, o operador densidade reduzido ρ2 é construído da seguinte forma:
.
A partir de então, diagonaliza-se o operador densidade reduzido e calcula-se a entropia de
von Neumann como medida do emaranhamento entre as duas partes do sistema global.
Para este caso bosônico, foram simulados um estado do tipo produto |ψProd.〉 (não emara-
nhado) e um estado maximamente emaranhado |ψMax.〉. Estes estados são definidos, a
partir da base (8), como
|ψProd.〉 = |−1− 1〉 , |ψMax.〉 = 1√3
(|−1− 1〉+ |0 0〉+ |1 1〉) ,
cujas matrizes de ρ2NS diagonalizadas ficam, respectivamente,
ρ2NSdiagProd.=
0 0 00 0 00 0 1
,
28
ρ2NSdiagMax.=
1/3 0 00 1/3 00 0 1/3
.
No caso do estado do tipo produto, o operador densidade reduzido mostrou um autovalor
igual a 1 e um autovalor duplamente degenerado igual a zero, de modo que a entropia
calculada foi nula. No caso do estado maximamente emaranhado, o operador densidade
reduzido mostrou um autovalor triplamente degenerado igual a 1/3, de modo que a entropia
calculada foi máxima, isto é, log(3). Nota-se que, a princípio, os resultados condizem com o
que se espera no caso tradicional de partículas distinguíveis, mas levando-se em conta a
exigência da simetrização do estado global. Estes resultados apontam para a eficácia do
método proposto para o caso bosônico.
Os demais estados maximamente emaranhados são gerados conforme o Exemplo 1b, da
seção 3.2, formando uma base de estdos maximamente emaranhados para o sistema em
questão:
1√3{[ |−1 − 1〉 ± (|0 1 〉+ |1 0 〉) ] ,
[ |0 0 〉 ± (|−1 1 〉+ |1 − 1〉) ] ,
[ |1 1 〉 ± (|−1 0 〉+ |0 − 1〉) ]}.
Agora, na situação fermiônica, aparecem algumas sutilezas que devem ser observadas
cuidadosamente. Tome-se, por exemplo, um sistema fermiônico idêntico de 4 níveis, i. e.,
S1 = S2 = 3/2. A base de estados antissimétricos (AS) é ordenada da seguinte maneira:
1√2{(|−3/2 − 1/2〉 − |−1/2 − 3/2〉) , (|−3/2 1/2〉 − |1/2 − 3/2〉) ,
(|−3/2 3/2〉 − |3/2 − 3/2〉) , (|−1/2 1/2〉 − |1/2 − 1/2〉) ,
(|−1/2 3/2〉 − |3/2 − 1/2〉) , (|1/2 3/2〉 − |3/2 1/2〉)}.
(9)
Tomando-se um estado |ψ〉 qualquer, normalizado, escrito como combinação linear dos
vetores dessa base, antes de construir-se o operador densidade global, reescreve-se
este estado como combinação linear dos vetores da base de estados dessimetrizada
correspondente, isto é, se
|ψ〉 = c1√2
(|−3/2 − 1/2〉 − |−1/2 − 3/2〉) + c2√2
(|−3/2 1/2〉 − |1/2 − 3/2〉) +c3√
2(|−3/2 3/2〉 − |3/2 − 3/2〉) + c4√
2(|−1/2 1/2〉 − |1/2 − 1/2〉) +
c5√2
(|−1/2 3/2〉 − |3/2 − 1/2〉) + c6√2
(|1/2 3/2〉 − |3/2 1/2〉) ,
29
reescreve-se este estado como sendo∣∣∣ψ⟩ = 0 |−3/2 − 3/2〉 + c1√2|−3/2 − 1/2〉 + c2√
2|−3/2 1/2〉 + c3√
2|−3/2 3/2〉
− c1√2|−1/2 − 3/2〉 + 0 |−1/2 − 1/2〉 + c4√
2|−1/2 1/2〉 + c5√
2|−1/2 3/2〉
− c2√2|1/2 − 3/2〉 − c4√
2|1/2 − 1/2〉 + 0 |1/2 1/2〉 + c6√
2|1/2 3/2〉
− c3√2|3/2 − 3/2〉 − c5√
2|3/2 − 1/2〉 − c6√
2|3/2 1/2〉 + 0 |3/2 3/2〉 .
A matriz do operador densidade global toma a seguinte forma:
.
A operação do traço parcial sobre o subsistema (1) resultará em um operador densidade
reduzido ρ2, cujos elementos de matriz serão, neste caso, somatórios com quatro elementos,
conforme a Equação 2. Assim, o operador reduzido é, na verdade, uma soma de quatro
matrizes quadradas de ordem 4 (a dimensão do subsistema (2)) que aparecem ordenadas
dentro do próprio operador densidade global, se a ordenação da base for mantida a mesma
desde o início. Essa operação fica mais simples observando-a diretamente na matriz do
operador densidade global:
.
30
Assim, o operador densidade reduzido ρ2 é construído da seguinte forma:
.
A partir de então diagonaliza-se o operador densidade reduzido e calcula-se a entropia de
von Neumann como medida do emaranhamento entre as duas partes do sistema global.
Para este caso fermiônico, foram simulados um estado minimamente emaranhado |ψMin.〉e um estado maximamente emaranhado |ψMax.〉. Estes estados são definidos, a partir da
base (9), como
|ψMin.〉 = 1√2
(|−3/2 − 1/2〉 − |−1/2 − 3/2〉) ,
|ψMax.〉 = 1√4
(|−3/2 3/2〉 − |3/2 − 3/2〉+ |−1/2 1/2〉 − |1/2 − 1/2〉) ,
cujas matrizes de ρ2NS diagonalizadas ficam, respectivamente,
ρ2NSdiagMin.=
0 0 0 00 0 0 00 0 1/2 00 0 0 1/2
,
ρ2NSdiagMax.=
1/4 0 0 00 1/4 0 00 0 1/4 00 0 0 1/4
.
No caso fermiônico, considerando que ambas as partes do sistema global encontram-se
no mesmo sítio, portanto com parte espacial simétrica, não é possível acessar estados
com parte spinorial do tipo |i, i〉, devido ao princípio da exclusão de Pauli. Assim, todos
os estados possíveis possuem parte spinorial do tipo 1√2 (|i, j〉 − |j, i〉) ou combinações
lineares destes. Desta forma, não é possível obter-se estados globais do tipo produto para
sistemas fermiônicos no mesmo sítio. Por outro lado, ao tomar-se apenas um estado da
base em sua forma antissimétrica, obtém-se estados de entropia mínima, mas positiva,
decorrente apenas da identidade das partículas.
No caso do estado minimamente emaranhado, o operador densidade reduzido mostrou
um autovalor duplamente degenerado igual a 0 e um autovalor duplamente degenerado
31
igual a 1/2, de modo que a entropia calculada foi log(2). No caso do estado maximamente
emaranhado, o operador densidade reduzido mostrou um autovalor quadruplamente dege-
nerado igual a 1/4, de modo que a entropia calculada foi máxima, isto é, log(4). Nota-se que,
embora o caso fermiônico apresente algumas sutilezas que serão discutidas posteriormente,
é possível entender que os resultados condizem com o que se espera no caso tradicional
de partículas distinguíveis, mas levando-se em conta a exigência da simetrização do estado
global. Estes resultados também apontam para a eficácia do método proposto para o caso
fermiônico.
Os demais estados maximamente emaranhados são gerados conforme o Exemplo 1c, da
seção 3.2, formando uma base de estados maximamente emaranhados para o sistema em
questão:
1√4{ [ (|−3/2 3/2 〉 − | 3/2 − 3/2 〉)± (|−1/2 1/2 〉 − | 1/2 − 1/2 〉) ] ,
[ (|−1/2 3/2 〉 − | 3/2 − 1/2 〉)± (|−3/2 1/2 〉 − | 1/2 − 3/2 〉) ] ,
[ (|−3/2 − 1/2 〉 − | −1/2 − 3/2 〉)± (| 1/2 3/2 〉 − | 3/2 1/2 〉) ]} .
4.3 Discussão dos resultados
É importante destacar a sutileza envolvida no trabalho com sistemas fermiônicos, conforme
discutido pela comunidade acadêmica (LOFRANCO; COMPAGNO, 2016; GHIRARDI; MA-
RINATTO, 2005; SCIARA; LOFRANCO; COMPAGNO, 2017), a saber, o fato de que, em
princípio, sistemas fermiônicos estariam sempre emaranhados. Ora, é preciso atentar-se
ao fato de que, desde o início, este trabalho adotou a premissa de que ambas as partes
encontram-se no mesmo sítio, ou em outras palavras, a sobreposição espacial das funções
de onda de cada parte é completa. Neste caso, a parte espacial do problema é simétrica.
Combinando-a com a uma parte spinorial antissimétrica, de fato, resulta em estado global
antissimétrico emaranhado.
Por outro lado, no caso de as partes serem preparadas desde o início sem sobreposição
espacial, é natural considerar que o estado minimamente emaranhado é, na verdade, um
estado não emaranhado, embora não possa ser separado na forma de produto levando-se
em conta apenas a representação spinorial, conforme indicado por Ghirardi e Marinatto
(2005).
Para o caso bosônico, que admite partículas no mesmo estado, a parte espacial simétrica
(sobreposição espacial total das funções de onda) combinada à parte spinorial simétrica
dos estados gerados por combinações lineares dos estados da base do tipo |k, k〉 resultam
em estados globais não emaranhados.
Recentemente, Sciara, LoFranco e Compagno (2017) propuseram um método para medir-
32
se o emaranhamento em sistemas compostos por partes idênticas e, em uma de suas
aplicações, chegaram à decomposição de Schmidt para um estado |Ψφ〉 de dois qutrits
bosônicos idênticos no mesmo sítio dado por
|Ψφ〉 = cosφ ˜|e1, e2〉+ sinφ ˜|e1, e3〉,
em que {|e1〉 , |e2〉 , |e3〉} é a base para cada qutrit e a parte espacial foi omitida para
simplificação. Eles obtiveram a seguinte matriz para o operador densidade reduzido:
ρ = 12
1 0 00 cos2 φ sinφ cosφ0 sinφ cosφ sin2 φ
,
com um autovalor igual a zero e um autovalor duplamente degenerado igual a 1/2. Utilizando
a definição e a notação adotadas aqui, |Ψφ〉 pode ser reescrito como |ψ〉 = cosφ||−1 0〉〉+sinφ||−1 1〉〉, que seria reescrito em uma base dessimetrizada como∣∣∣ψ⟩ = 0 |−1 − 1〉+ cosφ 1√
2|−1 0〉+ sinφ 1√
2|−1 1〉+ cosφ 1√
2|0 − 1〉+
0 |0 0〉+ 0 1√2|0 1〉+ sinφ 1√
2|1 − 1〉+ 0 1√
2|1 0〉+ 0 |1 1〉 ,
cuja matriz densidade reduzida é
ρS(2) =
0 + 1
2 cos2 φ+ 12 sin2 φ 0 + 0 + 0 0 + 0 + 0
0 + 0 + 0 12 cos2 φ+ 0 + 0 1
2 cosφ sinφ+ 0 + 00 + 0 + 0 1
2 sinφ cosφ+ 0 + 0 12 sin2 φ+ 0 + 0
;
a mesma encontrada pelos autores. Da mesma forma, a diagonalização do operador
densidade reduzido resulta em um autovalor nulo e um autovalor duplamente degenerado
igual a 1/2, correspondente a um estado emaranhado. Assim, o método aqui proposto
mostra concordância com outras propostas, com a vantagem de ser aplicável a qualquer
dimensão finita e para qualquer caso de identidade ou não das partes.
Outra vantagem desse método é que, assim como no caso de sistemas distinguíveis, o
estado global do sistema de partes idênticas mostra-se emaranhado ou não, indepen-
dentemente da base utilizada para gerar-se o espaço de Hilbert. Este não é o caso dos
trabalhos de Balachandran et al. (2013) e Benatti, Floreanini e Titimbo (2014), em que o
emaranhamento pode ou não manifestar-se, a depender da configuração do espaço de
Hilbert escolhida para restringir os estados às subálgebras.
Um ponto interessante do trabalho de LoFranco e Compagno (2016) é a possibilidade
de trabalhar-se com sobreposição espacial parcial ou nula, em que a localidade torna-
se importante para a realização de medições em cada subsistema. Embora o método
33
da dessimetrização aqui proposto tenha sido aplicado apenas ao caso de sobreposição
espacial total (toma-se como premissa que os subsistemas encontram-se sempre no mesmo
sítio), espera-se que seja também possível simular casos de sobreposição parcial (ou nula),
sendo necessária apenas uma representação dos estados globais que inclua o parâmetro
espacial. Essa expansão é uma das recomendações para trabalhos futuros, além de outras
possibilidades a serem apresentadas no capítulo seguinte.
34
Capítulo 5
Conclusão
O principal resultado deste trabalho talvez tenha sido a revelação de um método não apenas
eficaz, mas também matematicamente simples, de fácil implementação computacional, para
o cálculo do emaranhamento em sistemas bipartidos constituídos por partes idênticas de
dimensão finita.
A própria maneira como a base é ordenada acaba levando a uma estrutura matricial diagonal
por blocos para o operador densidade global que, quando somados, resultam no operador
densidade reduzido utilizado para o cálculo do emaranhamento. Essa estrutura mantém-se,
mesmo para o caso de partículas distinguíveis e de subsistemas de dimensões diferentes
entre si. Também nestes casos, a disposição dos blocos diagonais se manifesta, tornando o
procedimento do traço parcial simples e rápido, e permitindo a simulação de dimensões da
ordem de algumas dezenas em apenas alguns segundos.
Da mesma forma, a proposta para a geração de estados maximamente emaranhados
resultou em um método matricial simples e de ampla aplicabilidade no que diz respeito às
dimensões e à natureza das partes do sistema.
Os métodos foram confrontados com outras soluções encontradas na literatura e em
publicações científicas recentes, tendo mostrado resultados coerentes e em acordo com
aquelas soluções. Em especial, o método da dessimetrização da base do espaço de
Hilbert global para a construção de operadores densidade reduzidos, mesmo no caso de
partes idênticas, mostrou-se, de certa forma, intuitivo, não sendo necessário recorrer a
abordagens mais complicadas como segunda quantização ou subálgebra de operadores,
opções tomadas em trabalhos citados anteriormente.
A simplicidade dos métodos é seu ponto de maior interesse, uma vez que se utilizam apenas
das ideias básicas da mecânica quântica, além de viabilizar aplicações diversificadas
conforme o interesse de cada situação e de exigir menos recursos computacionais.
35
Ademais, este trabalho desvela perspectivas para pesquisas futuras, dado que muitos dos
desafios na utilização do fenômeno do emaranhamento como ferramenta tecnológica ainda
dependem da correta interpretação do significado físico dos estados emaranhados, bem
como da sua produção experimental.
Uma recomendação importante para futuros trabalhos é a inclusão da parte espacial na
descrição dos estados, conforme discutido no capítulo anterior, em vistas de se englobar
casos em que a sobreposição espacial dos subsistemas é parcial ou nula. Nesses casos, a
localidade passa a ter um papel importante nas medições realizadas sobre cada subsis-
tema. Além disso, a ampliação do método para tratar estados globais não puros (misturas
estatísticas) é desejável para simular sistemas mais elaborados.
Especificamente em relação às partículas idênticas, muitos apostam na capacidade real de
se aproveitar o emaranhamento gerado simplesmente pela (anti)simetrização, embora ainda
se encontrem trabalhos mais céticos a esse respeito, entendendo tal emaranhamento como
tão somente um artifício matemático, sem implicações físicas. De uma forma ou de outra,
pesquisas ousadas, inclusive experimentais, vêm sendo propostas a cada dia e trabalhos
em linhas mais operacionais, como este aqui proposto, são importantes para fornecer bases
conceituais e metodológicas para essas pesquisas.
36
Referências
ALBER, G. et al. Generalized quantum XOR-gate for quantum teleportation and statepurification in arbitrary dimensional Hilbert spaces. arXiv preprint quant-ph/0008022, 2000.Citado 4 vezes nas páginas 3, 4, 10 e 11.
ARTUSO, R. D.; BRYANT, G. W. Quantum dot–quantum dot interactions mediated by ametal nanoparticle: Towards a fully quantum model. Physical Review B, APS, v. 87, n. 12,p. 125423, 2013. Citado na página 2.
ASPECT, A.; GRANGIER, P.; ROGER, G. Experimental realization of Einstein-Podolsky-Rosen-Bohm Gedankenexperiment: a new violation of Bell’s inequalities. Physical ReviewLetters, APS, v. 49, n. 2, p. 91, 1982. Citado 2 vezes nas páginas 1 e 6.
AUDRETSCH, J. Entangled systems: new directions in quantum physics. [S.l.]: JohnWiley & Sons, 2007. Citado 7 vezes nas páginas 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 17.
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