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A CIDADE DE SO. PAULO NO SCULO XX .,
SO PAULO TRANSFORMA-SE EM METRPOLE INDUSTRIAL.
Os cinqen ta anos j decorridos, no sculo atual, foram assina-
lados por um fato novo, cujas origens remontam ltima dcada
do .oitocentism o: o surto indu strial, que veio transformar a "metr-
pole do caf" ou "a- capital dos fazendeiros" na dinmica e movi-
mentada
metrpole industrial
de nosso s dias.
De acrdo com os dados de Bandeira Jnior (1), foi o seguin-
te o crescimento das- indstrias paulistanas; no deco rrer do sculo
XIX:
Perodos
bricas
Antes de 188 0
1 6
De 1880 a 1889
1 6
De 1890 a 1894
2 1
De 1895 a 1901
3 9
9 2
Na verdade, nos ltim os 50 anos, importantes acontecimentos
mund iais vieram repercutir extraordinriamen te sbre a capital pau-
l ista, fazendo co m que ne la surgisse seu grand e parque indu strial:
a primeira Grande-Guerra (191 4-18 ), a cr ise econmica decorrente
do "crack" de 1929 e a ltima conflagrao mundial (1939-45) .
Os que escreveram sbre a cidade na primeira dcada do s-
culo XX sentiram, j, a importncia dessa nova funo urbana.
Manu el Bernrdes considerou So Paulo "una verdadera m etrpole
industrial y econmica dei Estado, y quizs de la Unin" (2) .
Pierre D enis classificou a cidade com o "un gros centre industriei"
(3) e Paul Wa lle, confessando sua su rpreza ante o inacreditvel de-
senvolvimento da indstria no Estado, afirma que la capitale est
devenue un important centre manufaturier, le second du Brsil
aprs Rio de Janeiro" (4) .
(1). BANDEIRA JNIOR (Antonio Francisco), A
Indstria no Estado de So
Paulo
em 1901, Tip. do "Dirio Oficial"", So Paulo, 1901.
BERNARDES (Manuel),
El Brasil su vida, su trabajo, su futuro,
pg. 193
Buenos-Aires, 1908.
. -- DENIS (Pierre), Le Brsil au XXe. sicle,
pg. 112. 4a. edio, Liv. Armand
Clin, Paris, 1911.
(4.).
WALLE. (PAUL),
Au Brsil
De
PUruguay au Rio So Francisco, pg.
160, Lib. Orientale s: Amricaine,. E. Guilmoto, Paris 1910.
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Uma srie de fatres, alm dos citados, se conjugaram para
ocasionar o desenvolvimento e o fortalecimento do parque indus-
trial paulistano: 1. a facilidade de obteno da energia eltrica,
que sennente nos ltimos anos veio a tornar-se escassa, criando um
problema ,angustiante; 2. a existncia de um m ercado consum idor
interno, que s trnouCada
veZ
m aior em virtude do crescim ento da
populao da cidade e do Estado; 3. o afluxo de capitais, tanto
estrangeiros corno naCionO i
s
:IpSsibilitairde o aparecimento de grafi
-
des inds trias; 4 ..a facilidade de, mo d e obra oper ria, a princpio
oriunda d a m assa imigrada, m ais tarde resultante da crise cafeeiro
de 1 929 -30 e do incessante xodo ds reas rurais; 5. a exlistncia
de um m ercado fornecedo r 'de Matrias prim as, dentro, do prprio
Estado (no que se refere ao algodo, notadamente) ou fora dle;
6. a importante rde
'transportes, que' tem na cidade de So
Paulo o seu fulcro (5)'.
Ao findar a' terceira dcda do presente sculo, So Paul
aparecia com o o m aior centro industr ial da A mrica do Su l. Possu
indo pouco menos de 2.000 estabelecimentos fabrs em 1918 (6)
t inha em 19 32 crca de 2.100 (7); mas, em 19 47, ste nmero ele-
vava-se a 12.000 (8) e, hoje pode ser calcUlado em 20.000, onde
exercem sua atividade nada m enos d '440 .000 . operrios e de' onde
sai mais da m etade da produ o industrial de todo o pas.
A "metrpole industrial", assim surgida, ainda no repousa
em bases m uito slidas: foi incremen tada por acontecimentos anor-
mais (como as duas Grandes-Guerras) e por situaes artificiais,
decorrentes da poltica protecionista; no conta com o necessrio
potencial de energia, capaz de atender s suas exigncias sempre
crescentes; precisa preocupar-se sempre com o problema de m a-
quinrios e com o fornecimento de certas matrias primas e ou-
tras fontes de energia; embora tenha diante de si amplas pers-
pectivas no que se refere aos 'mercados consumidores, sofre a.
concorrncia de ou tros centros industriais de destaqu e, desenvol;
vidos no interior do prprio Estado de So Paulo (9) .
(5). Consulte-se, sbre o assunto: PETRONE (Pa'squale). As I nds t r i a s pau l i s
,
' i s ta na s e os .fa t r es de sua expa nso, ' em BdIetim Paulista de Geografia ;
n.' 14, So Paulo, julho de 1953; e MONBEIG (Pierre), La
c r n i s sa n c e d e
la v i l le d e So Pa ul o,
pgs. 50-57, ed. do Institut et Revue de Geographi
Alpine, Grenoble. 1953.
(6) . Cf. PESTANA (Paulo Rangel) em A Cap i t a l .Pau l i s t a comemora nd o o
Centen io da I nd ependnci a, ed. Sociedade Editra Independncia, Sci
Paulo,1920.
Cf. QUEIROZ (Vitorino Seixas) e ARANTES JNIOR (Loureno),
Os
Municpios do Estado de So Paulo. Informaes interessantes, pgs. 107-108,
Diretoria de Publicidade Agrcola da Secretaria da Agricultura do Estado, So
Paulo, 1933. ..
Cf. BRAZIL (Raimundo Pereira).
So Pau l o, ra econ mi ca , pg.
204, Emp.
Grfica Revista
dos Tribunais , 'So Paulo, 1949.
(9) . Sbre o assunto, veja-se: JAMES (Preston),
B r a s i l ,
pgs. 150-151,
The
Odyssey' Press, New-York, 1946; MONBEIG(Pierre), obra' cit pgs. 52-57;
e
PETRONE. (PasqUale); obra cit.,. pg. 37.:
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Todavia, coube indstria paulistana o importante papel
de haver valorizado o
produto nacional, outrora sempre despre-
zado e preterido pelo produto estrangeiro, muitas vzes de qua-
lidade inferior. Coube-lhe, outrossim, aumentar o poderio eco-
nmico da cidade, fazer surgir "millionaires" mansions such as
the U.S. has not seen since the days of Carnegie and Frick" (10)
e, principalmente, influir poderosamente sbre a rea da cidade, sua
populao e a prpria paisagem urbana.
A EXPANSO INDUSTRIAL E SEUS REFLEXOS SBRE A CIDADE.
Quando se comparam as plantas da cidade de So Paulo re-
ferentes ltima dcada do sculo XIX com as que correspondem
s diversas etapas de sua vida no sculo atual (11), nota-se que
So Paulo expandiu-se em tdas as direes, mas que foi para
Oeste, para Leste e para o Sul que tal expanso verificou-se com
maior intensidade. Ora, exatamente em tais direes localizam-se
as mais importantes e caractersticas
reas industriais
da capi-
tal paulista .
No resta dvida que as principais reas industriais acom-
panham as
vias-frreas:
Brs, Belenzinho, Tatuap, Comendador
Erm,elindo e So Miguel Paulista, ao longo dos trilhos da "Central
do Brasil"; ainda o Brs, Pari, Mooca, Ipiranga, So Caetano do
Sul e Santo Andr, acompanhando a Santos-Jundia"; Barra Funda,
gua Bran ca, Lapa e O sasco, servidas tanto por esta via-frrea, como
pela "Sorocabana". Mas, inegvelmente, foi a funo industrial,
mais do que outro qualquer fatr, que ocasionou seu crescimento e
sua expanso em rea. O fato de terem as estradas de ferro apro-
veitado os vales, onde os terrenos podiam ser obtidos a baixos preos
por no serem apreciados como locais de residncia, atraiu a insta-
lao de estabelecimentos fabrs . Cresceu, dste modo, a rea ur-
City of Enterprise em Time (Edio latino-americana), pg. 20, New-York,
21 de ajeniro de 1952.
Consulte-se, principalmente:
Planta da Cidade de So Paulo, levantada e orga-
nizada pelo eng.. civil ALEXANDRE MARIANO COCOCI e LITIS FRU-
TUOSO DA COSTA, na escala de 1:20.000. edies de 1905 e 1913; Planta
Geral da Cidade de So Paulo.
organizada pela Comisso Geogrfica e Geol-
gica do Estado, sendo chefe o eng. Joo Pedro Cardoso, na escala de 1:20.000,
1914; Planta da Cidade de So Paulo, com todos os arrabaldes e terrenos arrua-
dos. executada por VALDOMIRO GONALVES. na
escala de 1:26.000,
1924;
Carta dos Excursionistas (1.a
seco), organizada pelo INSTITUTO AS-
TRONMICO E GEOGRFICO do Estado, na escala de 1:200.000, 1924,
reeditada em 1935;
Planta da Cidade de So Paulo e municpios circunvizinhos,
organizada pela Reparti'3.0 de Eletricidade da LIGTH AND POWER, na es-
cala de 1:40.000. 1926-27;
IVIepa Topogrfico do Municpio de So Paulo,
executado pela empresa SARA DO BRASIL, S.A., pelo mtodo Nistri de
aerofotogrametrla. nos escalas de 1:20.000 e 1:5.000, 1939;
Planta de So
Paulo,
por JOS CASTIGLIONE, na escala de 1:20:000, 1941; e.
Mapa
do Municpio e da Cidade de So Paulo, organizado
por L. STRINA 8s CIA.,
na escala de 1:20.000, 1944.
Revista
de
Histria ns. 21-22.
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banizada e as vrzeas do Tamanduate e do Tiet, naqueles trechos,.
deixaram de ficar ao abandono.
No s. O surto industrial ainda influiu sbre a cidade, con-
correndo para o
aumento da populao
(em virtude da crescente
necessidade de mo- de obra e impulsionado pela "miragem" que
vive a atrair, para a metrpole, a populao da zona rural e do inte-
rior, em geral) e, sobretudo, modificando a paisagem urbana e aca-
bando por concretizar a existncia do "Grande So Paulo".
No que se refere, paisagem urbana
cumpre observar que, em.
So Paulo, no se formaram reas tipicamente industriais, exclusi-
vamente ocupadas por fbricas. Sendo o parque industrial paulis-
tano caracterizado pelo predomnio de fbricas de tamanho mdio e-
pequeno, 4destinadas principalmente transformao, o que se pre-
sencia a intercalao de estabelecimentos fabrs no meio de re-
sidncias proletrias e, conseqentemente, o aparecimento de ver-.
dadeiros
bairros mixtos,
industriais e residenciais a um s tempo.
Dentro do permetro urbano em zonas como o Brs a Mooca
e o Belenzinho quase sempre trreas e sem nenhum jardim frente,.
geralmente geminadas (duas a duas quatro a quatro), tdas mais,
ou menos iguais, de estilo pobre ou indefinvel. Extendem-se assim,
em sua monotonia e em sua humildade, em filas interminveis, que
chegam a ocupar quarteires inteiros. No meio delas, porm, sur-
gem de quando em vez a pesada e caracterstica fachada de
UMa
fbrica ou, ento, pequenas oficinas ou fabriquetas. Estas so mui-.
to num erosas. aparecendo instaladas num a casa igual s dem ais. em
antigas garagens, em barraces ou simples telheiros, no fundo de
quintais. J as fbricas maiores se destacam, quando no por suas
chamins, pelo menos pela grande extenso de suas fachadas e seu
amplo porto de entrada.
A presena da ferrovia acrescenta novos elementos a essa
paisagem: so as passagens de nvel, com suas porteiras e peri-
dicos estrangulamentos' do trfego; so as estaes e os respectivos.
pteos de manobras, sempre movimentados e barulhentos; so cs
grandes armazens de mercadorias, alinhados ao longo das vias-fr-
reas; so as ruas de traado irregular, que muitas vzes no tem
saida.
Nas reas suburbanas, a paisagem bastante diferente. No-
ta-se uma diferenciao mais ntida entre a zona fabril e a zona re-
sidencial no se registra a mesma concentrao .do "habitat", apa-.
recendo as fbricas de maneira esparsa e ocupando reas muito
maiores, sem falar nos terrenos reservados para futuras amplia-
es. Surgem "vilas" operrias, que se instalam na prpria rea,
urbanizada ti at mesmo na zona rural.
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Estar
completo sse quadro correspondente paisagem
criada pela indstria na capital paulista? evidente qu e no, pois
preciso fazer um a referncia, pelo men os: ao borborinho das rua s,
que se intensifica nas horas de entrada e de sada nas fbricas, quan-
do, ao soar das sereias, um enxame d e homens, m ulheres e menores
enche as caladas, dando vida e movimento s ruas; aos variados
meios de transporte de que se utilizam os operrios bicicletas,
nibus, bondes, cam inhes arvorados em veculos para passageiros,
trens sub urbanos, tomados de assalto por essa pequena m ult ido
que an seia voltar para suas casa s; aos bares ou simples botequins,
que se instalam nesses bairro industriais, porque a freguesia
certa e numerosa; aos vendedores ambulantes, sobretudo de co-
m estveis, sem pre apreciados, em bora nem sem pre limpo s; e, final-
mente, ao padro de vida geralmente baixo da populao que ali
vive, que bem pode ser simbolizado pela imundcie das cala-
das, pelo aspecto desleado das crianas e pela sordidez das ha-
bitaes, muitas delas de carter coletivo, miserveis "cortios"
da grande metrpole.
Abrindo novas reas industriais na periferia da cidade, em
busca de terrenos de m enor preo e de maiores espaos, cond icio-
nad a quase sem pre pla proximidad e das vias-frreas, a expanso
industrial vem concorrendo para a formao e o fortalecimento
do que poderemos chamar o Grande So Paulo, a exemplo do que
se verifica com as maiores aglomeraes urbanas do planeta
Nova York, Londres, Paris, Berlim, Moscou ou Tquio. No caso
paulista, o fenm eno to palpvel e evidente qu e a prpria adm i-
nistrao pblica ter de lhe dar um a soluo adeqad a, dentro de
breve tempo.
O desm esurado crescimen to da cidade, com efeito, j no m ais
com porta um sistema a dm inistrativo, como o atualm ente existente.
Tudo parece indicar a necessidade de descentralizar a adm inistrao
m unicipal; e a criao de sub -prefeituras ou , mesm o, de prefeituras
subordinadas a um rgo ad ministrativo superior, parece ser a so-
luo mais adeqad a importncia do problem a.
O fenm eno, ainda em pleno processo, mas impulsionado por
fras irresistveis, consiste na aglutinao de ncleos prxim os pela
metrpole paulista. No se trata de um fato novo na evoluo da
cidade 'de So, Paulo: no passado, a Penha, a Freguezia do , a
Lapa, Pinheiros viveram, por muito tempo isolados da cidade mas
acabaram sendo alcanados pelos seus tentculos e confund iram -se
na m assa de seu s bairros perifricos. Nos casos citados foi a cidade
que chegou at les, envolvendo-os em sua trama. No momento
atual, porm , o que se presencia, algo de diferente e de propore s
muito maiores: trata-se de verdadeiros exemplos daquilo que os
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gegrafos franceses vm designando pelo nome de
conurbao
ou,
talvez melhor,
conurbanizao
(12) .
Na verdade, em trno da cidade de So Paulo e no presente
sculo, desenvolveram-se extraordinriamente alguns aglomerados
urbanos, como Santo Andr, So Caetano do Sul, Santo Amaro e
Osasco. Salvo Santo Amaro, cuja fundao remonta aos tempos
coloniais, todos les se formaram nos ltimos 60 anos; mas at
recentemente, permaneceram mais ou menos estagnados. Graas
notadamente ao desenvolvimento industrial, tais ncleos puzeram-
-se a crescer nos ltimos anos, em ritmo comparvel ao da metr-
pole se bem que em m enores propores; suas reas urbanizadas pas-
saram a expandir-se em direo cidade de So Paulo, ao mesmo
tempo que esta avanava tambm na direo daquelas. Hoje, pr-
ticamente j se encontraram essas "frentes" ex4pansionistas; e tudo
isso se deve notadamente s indstrias, instaladas simultneamente
tanto num como noutros.
Na direo a So Caetano do Sul e Santo Andr, a expanso de
So Paulo fz-se atravz dos bairros localizados margem direita d
Tamanduate (Vila Prudente, Vila Isolina, Vila Califrnia, etc. ) e
por intermdio da Estrada de So Caetano, que sai do Sacom .
Cumpre assinalar que o crescimento no se fz ao longo da via-fr-
rea, mas paralelamente, em terrenos mais elevados; que, junto
dela na vrzea, acham-se instalados muitos estabelecimentos fabris.
No rumo de Osasco
a expanso seguiu trs direes: da Lapa,
acompanhando a via-frrea, atravs de Domingos de Morais e Pre-
sidente Altino; do Alto da Lapa, seguindo pela margem do Pinhei-
ros, atravs da Vila Jaguar; e de Pinheiros, atravs do Butant,
acompanhando a Estrada de It.
Para
Santo Amaro,
o crescimento foi macio ,embora por meio
de caminhos diversos: seguindo a linha de bondes, atravs do Broo-
klyn Paulista; em, continuao Vila Mariana, por intermdio do Ja-
baquara; atravs da regio de Congonhas, por meio da Auto-Es-
trada; e pela atual avenida antiga Estrada de Santo Amaro.
Em conseqncia dessa insopitvel expanso (que se viu acom-
panhada por outra, em menor ritmo, partida dos pontos visados),
extensas reas rurais ou semi-rurais muitas vzes desocupadas,
existentes de permeio, foram sendo pouco a pouco urbanizadas
e
os "vazios" de outrora deixaram de existir, em muitos casos . Por
essa forma, trechos j pertencentes ao municpio de So Paulo e ou-
tros integrantes de municpios vizinhos de So Paulo e outros inte-
grantes de municpios vizinhos (como o caso de So Caetano do
(12). Consulte-se entre outros: SORRE (Max. ). Les Fonder nent s de Ia Ggr ap h i e
H u m a i n e , temo III (L'habitat), Liv. Armand Colin, Paris. 1952; E. GEORGE
(Pierre),
La Vi l la Le fa i t ur bei n tr avers e Monde,
ed. Pressas Universitai-
res de France, Paris. 1952.
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Sul e Santo Andr) passaram a integrar o. enorme aglomerado pau-
.
listano, que prevaleceu por ser maior
e por dispor de uma plurali-
dade funcional no conhecida em seus vizinhos. E o "Grande So
Paulo", mais do que antes, concretizou-se.
Tornase Interessante regi-trar que idnti - processo de "co-
nurbanizao" j se tinha verificado em relao a Santo Andr e So
Caetano do Sul; e o mesmo est, em vias de se realizar entre Santo
Andr e So Bernardo do Campo. Alis, compreendendo perfei-
tamente as identidades que os aproximam e no desejo de resolver
em comum determinados problemas, as autoridades municipais ds-
ses trs municpios constituiram uma espcie de "entente" o cha-
mado A . B . C . , que sintetiza os nomes dos trs santos patronmicos
daquelas cidades .
FISIONOMIA DA CIDADE NO PRIMEIRO QUARTEL 1)0 SCULO XX.
De tudo quanto deixamos escrito, no se conclua, porm, que
haja sido o desenvolvimento industrial o nico fator do crescimento
da cidade de So Paulo nos 50 anos decorridos do presente sculo.
Outros m uitos
fatres
tambm concorreram com sua parcela, parti
,
cularmente: o ininterrupto desenvolvimento econmico do Estado,
que lhe assegurou a liderana dentro do pas, neste particular; o
conseqente e paralelo desenvolvimento da funo comercial; e,
naturalmente, a preeminncia poltico-administrativa que a cidade,
por ser a capital, continuou a usufruir dentro das terras paulistas e,
mesmo, fora delas, num mbito cada vez mais vasto, que Preston
James soube fixar com muita fidelidade (13) . Tudo isso ressal-
tar do exame, que faremos a seguir, das grandes etapas dsse
crescimento e das respectivas caractersticas, marcadas de maneira
inegvel na fisioniomia da cidade.
Para Afonso A. de Freitas, que escreveu nos primeiros anos.
do sculo atual, So Paulo era "uma bela cidade", "muito comer-
ciante e industriosa" (14) . Seria certamente bonita, pois outra
fonte, menos suspeita, considerava-a uma das mais belas da Unio,
reconstruida e aumentada com apuro artstico a partir de 1890 (16).
Embora acentuando que nada tinha 'de pitoresco, como situao e
como aspecto, Paul Walle viu nela "une belle ville active et vivante"
(16) . J era, nessa primeira dcada do novecentismo, "a capital
econmica do Brasil", no dizer de Manuel Bernrdes (17)
Alm de
consider-la um grande centro industrial, Pierre Denis sentiu perfei-
._
JAMES (Preston, obra cit.. cap. V.
FREITAS (Afonso A. de.),
Geografia do Estado de So Paulo,
pg. 50, Esco-
las Profissionais Salesianas, So Paulo, 1906.
Cf.
Almanaque Brasileiro para o ano de
1907, ano V, pg. 181. ed. Guar-
nier, Rio.
WALLE (Paul), obra cit.,. pg., 151.
BERNARDES (MANUEL); obra cit.. pg. 202.
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tamen te sua fun o com ercial, pois era "avant tout une grande vil le
d?affaires", o "mercad o central de u m territrio ativo, onde a circu-
lao do dinheiro se faz rpida"; mas, percebeu nela a existncia de
um "mercado de ho men s", porque era o centro distr ibuidor de imi-
grantes para as regies cafeeiras, como tam bm constituia um foco
de atrao da mo d e obra precedente das zonas rurais; e deu o me-
recido valor sua funo cultural (19) . Finalmente, Marie R.
Wright definiu-a bem , quan do escreveu: "Co m o capital do E stado,
So Paulo o lugar de residncia de muitos homens pb licos e pol-
ticos de d estaque; como grande centro educacional, atrai um grande
nm ero de estudantes; e com o centro distribuidor das indstrias do
interior, a residncia de ricos e num erosos
c a p i t es d a i n d st r i a , de
So Paulo" (19 ), ao m esmo tempo qu e a classif icou com o "mod erna
metrpole" (20) .
"Extenden do-se desmesuradam ente sbre o planalto, So Paulo
traz, na deso rdem de sua estrutura, o trao de seu p recoce cresci-
m ento, embora ali reinem, a animao e o movimento de um a gran-
de cidade. Os bairros comerciais so ruidosos; o fechamento das
fbricas e dos escritrios enche as ruas de transeuntes escreveu
Pierre Denis (21) . Segundo le, no Brasil daquele tempo, So
Paulo e Rio de Janeiro eram as nicas cidades onde se podia encon-
trar um a m ultido. Por outro lado, impressionou-o a perfeita coeso
existente entre a cidade e o camp o, que se achavam estreitamen te
ligados por comuns intersses (22), observao de alto valor, pois
parece indicar que, sob certo aspecto, So Paulo continuava send o
a
capital dos fazendeiros .
Embora ficasse admirado com o prodigioso aumento de sua
prosperidade e de sua populao" e prognosticasse um a marcha sem-
pre ascendente, Paul Walle achou So Paulo uma cidade triste
e
sem
distraes: quando soavam 6 horas da tarde e o comrcio se
fechava, uma pesada solido descia sbre as ruas comerciais e
o
silncio tornava-se
to
profundo, como se a cidade tivesse sido
abandonada (23) .
L. A.
Gaffre anotou a existncia de bonitos bairros novos, com
ruas largas e opulentam ente arborisadas, "onde se sucediam inde-
finidam ente pequen as casas de estilo italiano, com balaustres, cor-
nijas, decoraes de estuque e estatuetas simblicas coloridas", em
que lees montavam guarda nas extremidades dos muros e as ja-
DENIS (Pierre ), obra cit., pg. 111 e 112-113.
WRIGHT (Marie Robinson),
The New Bhaz i l I t s resour ces and a t t ra c t ions
His t o r i ca l ,
descr ip t i ve and ndus t r i a l ,
pg. 207, 2.a edio, ed.
George
Barrie
8 z
Sons, Filadlfia,
1907.
WRIGHT (Marie Robinson), obra cit., pg. 213.
-- DENIS (Pierre), obra cit., pg.
112.
DENIS (Pierre), obra cit., pg. 112.
-- WALLE (Paul), obra cit.,
pgs.
151
e
155.
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nelas, largamente abertas, permitiam que os olhares indiscretos de-
vassasem seu interior. Extranhou a inexistncia de flres s janelas,
mas verificou que outras, mais belas e mais vivas, ali ficavam horas
-a fio: as mulheres paulistanas (24) ... Encantou-se ao penetrar na
intimidade do lar de uma das importantes famlias da poca e tes-
temunhou que a influncia da cultura francesa continuava a ser
total (25). Neste particular, George Clemenceau chegou a afirmar
que a cidade de So Paulo era to curiosamente francesa em al-
guns de seus aspectos que, no decorrer de tilda uma semana, es-
queceu-se le de que se achava no estrangeiro (26).
Sob a influncia de um entusiasmo certamente exagerado e
abusando dos adjetivos, Roberto Capri deixou-nos um retrato da
cidade, por volta de 1812: "A Capital essa cidade quase euro-
peia, tda coalhada de construes magnficas no belo estilo ita-
liano, tda cortada de ruas e avenidas, com fbricas por tda parte,
-edifcios pblicos suntuosos, uma vida larga e intensa, uma popula-
o j, quase de meio milho de habitantes"; tudo ali crescia ver-
tiginosamente e, "a par de todo sse avano material, a instruo
pblica, esmeradamente zelada e as artes e cincias florescem" (27).
`Oito anos mais tarde, cada vez mais entusiamado, considerou So
Paulo a "capital artstica" do Brasil (28). Entretanto, nem tdas
as impresses de viajantes estrangeiros que aqui estiveram foram to-
talmente favorveis; Ernst von Hesse-Wartegg, no primeiro de-
cnio deixou-nos as seguintes linhas sbre a cidade: "A primeira
impresso que obtive de So Paulo no longo trajeto da estao
atravz de suas ruas que sobem e descem me decepcionou bastante
e eu tive a sensao de que estava caminhando atravz de qualquer
das grandes cidades ido sul da Amrica do Norte, talvez Wilmington
ou Atlanta ou Louisville, mas no atravz do maravilhoso pas tro-
pical que o Brasil. E quando nas duas semanas seguintes fiquei
conhecendo mais de perto a cidade, e suas instituies, no consegui
mudar de opinio. So Paulo no uma cidde brasileira de
450.000 habitantes, mas urna cidade italiana de aproximadamente
100.000, uma portugusa de talvez 40.000, uma espanhola de igual
tamanho e uma pequena cidade
(Kleinstadt)
alem de mais ou me-
nos 10.000 habitantes, com poucas de suas vantagens, mas muitas
de suas desvantagens. Ainda h uns 5.000 srios, que szinhos pos-
suem trs jornais impressos em caracteres arbicos, alguns mil fran-
(24). GAFFRE (L.A.),
Vision du Brsil,
pgs. 151-153, ed. Aillaud, Alves a .
Cia.,
Paris, 1912.
(26). GAFFRE (L.A.), obra
cit., pgs. 198-200.
Cf.
So Paulo e seus homens
no
Centenrio, vol.
I, pg. 67, Emp. Publi-
blicidade Independncia Editra, So Paulo, 1922.
CAPRI (ROBERTO),
O Estado de So Paulo e seus Municpios.
pgs. 12-13,
Tip. Pocai & Weiss, So Paulo, 1913.
CAPRI (ROBERTO).
So Paulo, a Capital Artstica, na comemorao do Cen-
tenrio
So Paulo. 1922.
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ceses, russos, japoneses, poloneses turcos ainda inglses escandinavos,.
americanos em nmero desconhecido por falta de urna estatstica
fidedigna . O resto, provvelmente um tero do total, devia ser de
brasileiros" (29) .
A documentao cartogrfica da poca e as obras que pudemos
consultar fornecem-nos elementos suficientes para que possamos fi-
xar
a rea urbana,
na primeira dcada do sculo atual. Dois impor-
tantes blocos constituiam a cidade e o divisor entre ambas era repre-
sentado pela vrzea do Tamanduate. Tal separao apresentava-se,.
com maior nitidez, entre o Cambuci e a Mooca e na chamada Vrzea
do Carmo (atual Parque Dom. Pedro 11) . As duas reas interpene-
travam-se, porm, no Par e na Luz, embora atravs de nmero re-
duzido de ruas.
Esses d ois blocos form avam, ento, duas cidades distintas, com o
se fssem duas cidades gmeas; e s recentemente, na verdade, vie-
ram a u nir-se. De um lado, apareciam o velho centro e os bairros das
zonas Oest., Sudoeste e Sul; de outro lado, o Brs e
seus prolon-
gamentos no rumo de Leste (30) .
O
centro da cidade
continuava a ser presidido pelo tradicional
"Tringulo"
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137
construir "casas mais ou menos bonitas, mas sempre vastas e c-
modas" (34) . A Vila Cargueira Csar estava apenas arruada . O
conjunto com a av . So Joo e rua Vergueiro, passou a formar
primeira "circular" de So. Paulo (radial concntrica), que influiu
poderosamente na expanso da cidade pare o sul.
O bairro de
Higienpolis era,
sem nenhu ma d vida, nessa poca,
o mais elegante da cidade . Marie Wright, informa que ali muitos dos
milionrios paulistas tinham . "palatial homes, un surpassed in splendor
and lumury by the great mansions off Europe" (35) . Ponto de reu-
nio do que a cidade e o Estado possuiam de mais rico e de mais
distinto, diz Paul Walle, notabilizava-se pelo elevado nmero de
casas suntuosas, palacetes luxuosos e confortveis, embora alguns
deles fssem "d'un gout douteux, tout au moins bizarre" . . . (36) .
A
Avenida Paulista,
por sua vez, constituia algo de representa-
tivo daquela cidade que se tornava cada vez mais rica e mais prs-
pera. E os estrangeiros tambm se embasbaCavam diante dela.
Marie Wright chama-a de "magnificent" e considera "the most
beautiful boulevard of the capital" (37) . Manuel Bernrdes, clas-
sificando-a de "dilatada y vistosa", encantou-se com "el frescor um-
brio de sus alamedas e, principalmente, do belssimo panorama que
dela se descortinava, podendo ver a cidade "con su s treinta alam edas,
sus veinte plazas, sus cua renta y una a venidas, sus novecientas calles"
. E L . A . Gaffre, chamando-a de esplndida, diz que s po-
deria compar-la a "certaines avenues de New York. o la fantaisie
des millionnaires amricains encercle dans la verdure des grandes
arbres et la polychromie des parterres, leur palais aux elegantes
sculptures"; e f ica assom brado qu ando lhe vo indicando os principais
proprietrios daquelas residncias luxuosas: aqui, um grande nome
de velha estirpe lusitana; ali, um antigo vendedor ambulante, um.
"mascate" h, 25 anos atrs, transformado em grande senhor, des-
cendente talvez de velhos mercadores de Veneza ou de Gnova .. .
. Assim era So Paulo nesse como de sculo.
Na direo de leste, separado pela vrzea do Tamanduatel,
aparecia o bloco compacto do
Brs,
que se prolongava at s pro-
ximidades da estao da Mooca (na ento "So Paulo Railway")
e alcanava o Belenzinho . O Par j estava, prticamente, unido.
ao
Brs. A Avenida Rangel Pestana, unindo o centro da cidade e
ste populoS3 bairro, terminava no Largo da Concrdia, onde exis-
tia um mercado (40), e via-se prolongada pela Avenida da Inten-
(34 ) .
WALLE (Paul), obra cit., pg. 152.
(35) . WRIGHT (Marie Robinson), obra cit., pg. 212.
WALLE (Paul). obra
(
.it., pg. 152.
WRIGHT (Marie Robinson), obra cit., pg. 212.
BERNARDEZ (Manuel) obra cit., pg. 189.
GAFFRE (L
.A.), obra cit., pg. 159.
WRIGHT (Marie Robinson), obra cit., .pg. 212.
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dncia, no rumo da Penha . Em direo ao norte, para 'alm do
bairro da Luz, a Avenida Tiradentes, "bordejada em tda sua
tenso por habitaes elegantes e por jardins" (41), alcanava as
margens do Tiet e punha a cidade em contacto com a regio da
Cantareira, atravs de Sant'Ana.
O
Brs,
"immense quartier populaire et laborieux" passava,
ento, por importantes melhoramentos e preparava-se para rece-
ber os benefcios da iluminao eltrica e da pavimentao (42) .
Pode-se perceber, com relativa facilidade, quais eram, por
essa poca, os rumos provveis da expanso da cidade: na direo
de Oeste e de Noroeste, atravs da Avenida gua Branca e da rua
Itapicur (no trecho hoje denominado rua Turia), at o bairro
da gua Branca (de onde partia a estrada para a veneranda Fre-
guezia do ) e nascente Lapa; no rumo do Norte, atravs da rua
dos Voluntrios da Ptria, que ia ter ao pequenino ncleo de
Sant'Ana, margem direita do Tiet; em direo do Leste, atravs
da ento Avenida da Intendncia (atual Celso Garcia), em busca
do isolado e pequeno ncleo da Penha; no rumo de Sudoeste,
atravs de um simples caminho carroavel, de que resultou a. atual
avenida Rebouas, a qual alcanava a "Vila dos Pinheiros". J
arruados, embora pouco habitados e ainda isolados da cidade, apa-
reciam o Ipiranga e Vila Prudente.
Todavia, grandes
espaos vazios
continuavam a existir, sepa-
rando as zonas mais densamente ocupadas, em plena cidade. As-
sim acontecia no incio da rua Augusta e vizinhanas, no trecho
entre as ruas Santo Amaro e Frei Caneca, entre a Avenida Bri-
gadeiro Luis Antnio e a Liberdade, como tambm no Cambuc.
Correspondem a reas de topografia movimentada e irregular,
onde se situam as cabeceiras de ribeires afluentes da margem. es-
querda do Tamanduate (como o Lavaps, Anhangabau, Saracura,
etc. ). De um modo geral a cidade continua a formar blocos que
do a idia de vrias pequeninas cidades sucessivas e sucessiva-
mente agrupadas, dentro de um permetro constituido por uma
periferia instvel, dado que se expande de olhos vistos.
"So Paulo no uma grande cidade (Grossstadt), mas um
amontoado de pequenas cidades construidas uma ao lado da
outra e uma dentro da outra, um acidade que est em vias de se
transformar em cidade grande" (43) . Essa foi a impresso de
Hesse-Wartegg na poca. o mesmo autor que, mais adiante,
continua: "Tudo transpira o estado inacabado e a grandeza futura,
at os homens, pois as relaes sociais ainda so confusas, turvas,
. GAFFRE (L . A . ). obra cit., pg. 160.
GAFFRE (L . A . ), cbra cit., pg. 160.
. HESSE WARTEGG, obra cit., pg. 149.
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as guas ainda no clarificaram, os sedimentos ainda no se deposi-
taram, no fundo, as camadas ainda no se formaram" (44) .
Percebe-se, por outro lado. que dois fatres da natureza econ-
mica presidiram a expanso urbana: de um, lado, a riquesa prove-
niente do caf fazendo nascer as bairros residenciais finos; de outro
lado, o desenvolvimento industrial estimulando o crescimento dos
bairros da rea do Brs e vizinhanas.
Salvo sses bairros industriais e operrios, fixados na parte
baixa da cidade, os outros deram preferncia aos tpos das colinas
e aos espiges; neste particular, a Avenida Paulista pode ser con-
siderada um verdadeiro smbolo, pois se instalou exatamente no
Espigo Central, divisor das bacias do Tiet e Pinheiros.
O prprio vale do Anhangaba, em pleno centro da cidade,
continuava sem urbanizao, que s se completou na segunda d-
cada do sculo atual.
Dentro, ainda, da primeira dcada do sculo XX, registrou-
-se o que poderiamos denominar de
terceira fundao da cidade,
em virtude de razes idnticas s que levaram Simes de Paula a
referir-se a uma "segunda fundao" (44) . Na realidade, sob a
administrao dos prefeitos Antnio Prado e Raimundo Duprat,
passou a cidade por tais transformaes urbansticas e recebeu
tais melhoramentos, que somos levados a compar-los aos reali-
zados durante a presidncia de Joo Teodoro (46) . Tais fatos
justificam, por isso mesmo, as referncias lisonjeiras feitas pelos
estrangeiros que nos visitaram, por essa poca'.
Na verdade, ao mesmo tempo que Francisco Pereira Passos e
Osvaldo Cruz faziam aparecer um novo Rio de Janeiro, com amplas
vias pblicas e livre de endemias, um fato idntico se verificava
na
Paulicia: executaram-se vastas e custosas obras de saneamento,
sobretudo na vrzea do Tamanduate; canalizaram-se os rios e ri-
beires da ddade; garantiu-se, para a populao, melhor e maior
quan tidade d e gua potvel; rasgaram -se novas ruas e aven idas; ajar-
dinaram-se as praas e pavimen taram-se, da m elhor maneira possvel,
as ruas da parte principal da cidade . Disso tudo resultou uma nova
cidade de So Paulo, bem diversa daquela que nos havia legado o
.sculo XIX .
HESSE WARTEGG, cbra cit., pg. 151.
PAULA (E. Simes de),
Contribuio monogrfica para o estudo da segunda
fundao de So Paulo. So Paulo, 1936.
Ainda muito recentemente, escreveu o eng.. FRANCISCO PRESTES MAIA:
"Pode-se dizer que a cidade teve quatro surtos urbansticos de importncia cres-
cente. O primeiro, por volta de 1875, no govmo Joo Teodoro. O segundo,
no incio do sculo, na administrao Antnio Prado. O terceiro, envolvendo j
apre
civel transformao central, na administrao Duprat (1911). O quarto.
no perodo 1938-1945. quando foi tentada uma remodelao mais radical e sob
critrios gerais de coordenao" (em So Paulo,
lbum com fotografias colo-
ridas, de KURT P. KARFELD, ed. Melhoramentos, So Paulo, 1954).
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"Tal como a Capital Federal, escreveu Marie Wright, exata-
m ente nesse perodo , So Paulo transformou-se em poucos anos; e,
embora a mudana no tenha sido to rpida nein to radical como
no Rio, aparece com suficiente importncia para deixar sua marca
em muitos trechos do velho So Paulo imperial, o qual rpidamente
se transformou no moderno So Paulo republicano" (47) . Tanto
ela. como Manuel Bernrdes (48) e Paul Walle (49), fazem enco-
m isticas referncias ad m inistrao do
Conselheiro Antnio Prado,
que se prolongou por dez anos, partir de 1898. Alm de obras de
saneamento, que fizeram de So Paulo "una de las ciudades ms
sanas del mundo", (50) deve-se a le a abertura da Avenida Tira-
dentes, o aformoseamento do Largo de Paissand e o ajardinamento,
ainda hoje existente, da Praa da Repblica . Em 1905, recebeu uma
grandiosa ma nifestao popular e foi inau gurado seu bu sto em bron -
ze, na Cmara Municipal, para atestar aos vindouros o culto do De-
ver e a valorosa dedicao do administrador modlo" (51) .
Nos anos que se seguiram, at findar-se o primeiro quartel do
presente sculo, prosseguiu a expanso da cidade .
De incio, ampliou-se a rea do Belenzinho e da Mooca, graas
aos trs fatres conjugados: o desenvolvimento industrial, as corren-
tes imigratrias e a presena da via-frrea . Passou a ser inteiramen-
te ocupado o espigo de Vila Mariana, no Paraso. Na Avenida Pau-
lista, os vazios foram preenchidos e novos palacetes vieram atestar
o
progresso econmico da cidade. Os paulistanos continuavam a
dar preferncia aos trechos mais elevados . Ampliou-se o bairro das
Perdizes, que passou a se unir ao da gua Branca, embora por es-
treita faixa edificada . Tambm a Ponte Grande, graas Avenida.
Tiradentes, passou a integrar-se definitivamente na rea urbana . A
expanso da cidade no se fz, apenas, pelo aumento de seu per-
metro: adensou-se o casario nas reas j anteriormente ocupadas e,
sobretudo, foram preenchidos os claros at ento existentes no inte-
rior da cidade .
Escrevendo em 19 20, Roberto Capri caracter izou, com sua abun-
dante adjetivao, alguns dos logradouros da cidade: o Brs era "o
pulmo industrial" da metrpole; a Avenida de So Joo, "extensa
e borbulhante"; a Avenida Anglica, "quieta e suave"; a Avenida
Higienpolis, "aristocrata e grave, de construes solenes"; e a Ave-
nida Paulista, "Ampla, rende,-vous do povo chic, com seus palcios
fidalgos, com o Belvedere" . . . "onde, em gapes distintos, reune-se
WRIGHT (Marie Robinson), obra cit.. pg. 206.
EERNARDEZ (-Manuel), obra cit.. pgs.
179 e
194.
WALLE (Paul) obra cit., pg.
167.
BERNARDEZ (Manuel), obra cit., pg. 180.
Cf.
So Pau l o Mag az i ne
ano I, n. 2. pg. 43, So Paulo. 15 de junho de 1906..
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--- 141
a. nossa nobreza intelectual". A vida noturna seria intensa, girando
em trno dos teatros (Municipal, So Jos, :Sant'Ana, Colombo) e
nos "cinemas borbulhantes de gente" (Central, Royal, Avenida, Co-
lombo) (52).
Por volta de 1925, finalmente, pode ser assim delimitada a
rea urbana (53):
um bloco compactamente edificado, limitado ao Norte pe-
las vias-frreas, a Leste pelo vale do Anhangaba, a Oeste pelo vale
d Pacaemb e ao Sul pelo espigo da Avenida Paulista;
uma rea compactamente edificada, a Leste do Tamandua-
te, compreendendo o Brs, a Mooca e o Belenzinho, a qual cor-
tada em trs pontos por estradas de ferro;
uma rea pequena, porm populosa, situada na vrzea, ao
norte das linhas frreas, compreendendo o Bom Retiro, a Luz e
a Baixa Casa Verde;
uma rea a oeste do vale do Pacaemb, compreendendo
Perdizes, Vila Pompiea, gua Branca, Lapa e o incio do Alta da
Lapa;
uma zona de bairros novos, situados nas vizinhanas do
Tiet (margem esquerda) e da colina da Penha;
o Ipiranga, ento bairro-subrbio, instalado parte na vr-
zea e parte nas vertentes do Tamanduate;
uma zona irregular, nucleada pelo centro da cidade, en-
tre o vale do Anhangaba e a Aclimao;
a zona localizada a Sudeste do espigo da Avenida Pau-
lista, compreendendo Vila Cargueira Csar, Pinheiros, Vila Am-
rica e Jardim Amrica;
uma zona situada
ao
Sul .da Avenida Paulista, constituida
principalmente pela Vila Mariana;
uma pequena rea ao NOrite do Tiet, com o antigo ncleo
de Sant'Ana
Como se v, So Paulo era ainda uma cidade fracionada, cons
tituida por trechos edificados separados uns dos outros, ora por
obstculos naturais (como o caso das vrzeas e dos vales mais
escavados), ora pela presena das vias-frreas.
Exatamente nesse perodo, um novo elemento foi acrescen-
tado fisionomia da cidade; os
bairros-jardins, introduzidos a par-
tir de 1915 e multiplicados na terceira dcada do sculo. Viriam
'(52) . CAPRI (-Roberto),
So Paul o, a Ca? i t al Ar t st i ca, n a comemora o d o Cent en
r i o ,
So Paulo, 1922.
(53). Consulte-se
a Pla n t a d a Cida de d e So Pau lo ,
organizada por VALDOMIRO
GONALVES. So Paulo. a924 . Bruno Antnio Voci "Transporte co-
letivo na cidade de So Paulo".
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a tornar-se, mais tarde, alguns dos bairros mais elegantes e bonitos
da cidade atual, como o Jardim Amrica, o Jardim Europa e o
Pacaemb.
Coube
Companhia City,
de capitais ingleses, iniciar a cons
-
truo dos bairros-jardins em So Paulo, a partir de 1915. Antes
d
a primeira Grande-Guerra, comprou essa emprsa extensas reas
de terrenos nas zonas urbanas, investindo desde logo importantes
somas em obras de terraplanagem, arruamentos e pavimentao .
J em 1916, achava-se completamente arruado o Jardim Am-
rica; e outros se lhe seguiram: Jardim Europa, Pacaemb, Alto
da Lapa, Bairro Siciliano e Alto de Sant'Ana (54) .
O CRE SCIMENTO D E SO PAULO AT 1925 E OS PROBLEMAS
QUE ACARRETOU.
Como de se esperar, ao mesmo tempo que se processava a ex-
panso da rea urbana, nesse primeiro quartel do sculo XX, tinha
lugar o crescimento da populao paulistana .
No perodo focalizado, realizou-se apenas um recenseamento:
o de 1920, que deu para o municpio uma populao de 579.033
habitantes, o que significa que aumentou mais de duas vezes, numa
vintena, a exemplo do que j acontecera no perodo de 1870-90. No
entanto, o ritmo de crescimento foi menor que o da dcada final
do sculo XIX ,quando a populao quadruplicara, por haver sido
ste o perodo ureo da imigrao europia.
Afora aquela cifra da populao efetivamente recenseada, en-
contramos estimativas para vrios anos (55):
1 9 0 5
1 9 1 0
1 9 1 5
1 9 1 9
1 9 2 2
habitantes
3 0 0 . 0 0 0
3 7 5 . 0 0 0
4 7 2 . 0 0 0
5 2 6 . 0 0 0
6 3 7 . 0 0 0
Percebe-se, assim, que a cidade, teve um aumento mdio de
70.000 habitantes nos dois primeiros quinqunios, ao passo que
tal aumento passou a ser de 100.000 nos dois quinqunios se-
guintes. Explica-se o fato pelo declnio da imigrao, no decorrer
da primeira dcada do sculo, em virtude da sensvel diminuio
da entrada de italianos e dos numerosos retornos verificados. O
movimento imigratrio no Estado chegou a ser quase deficitrio:
SARAIVA (Amadeu de Barros).
As r ecent es cri aes ur ba n a s em So Pau l o,
em "Arquitetura no Brasil", vol. V. n.o 29, pgs. 176-181, Rio, Junho-julho de
1926.
Cf. PAULO RANGEL PESTANA, Em
So Pau l o, a Cap i t a l Ar t st i ca; na
comemer ao do cen t en i o.
1922; e EGAS (Eugnio),
Os Municpios
Pau .
l i s t a s
So Paulo, 1925.
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no perodo d 1900-1907, entraram 308.809 imigrantes e sairam
277.029 (56).
No terceiro quinqunio (1910-1915) novamente a imigrao
retomou seu antigo ritmo, graas resoluo da crise da imigra-
o italiana, melhoria da situao da lavoura cafeeira e ao cres-
cente desenvolvimento industrial. Eis algumas cifras (57):
Imigrantes
1910
40.478
1911
64.990
1912
101.947
1913
119.757
De qualquer maneira, pode-se afirmar que So Paulo alcan-
ara a populao de 800 .000 habitantes ao findar o primeiro quar-
tel do presente sculo, firmando cada vez mais sua bela posio de
segunda cidade brasileira e deixando longe, em sua marcha ascen-
cional, e.s1 demais capitais de Estado . J era a terceira cidade da
Amrica do Sul, ultrapassando Montevidu e Santiago do Chile;
alinhava-se ao lado de Roma e de Colnia (58) .
Essa bela posio no foi alcanada apenas pelo gnio pro-
gressista 'dos paulistas, sua habilidade prtica e seus enrgicos em-
preendimentos como pensava Marie Wright (59); ou porque
houvesse "something in the air of So Paulo which makes strong
and vigorous men", conforme a frase de Elihu Root. Tambm no
se deve exclusivamente contribuio do elemento estrangeiro,.
que continuou estrangeiro, que continuou a ser sempre num eroso na
cidade, embora em menores propores e no apenas italianos, como
no como do sculo; portuguses e espanhois vinham, frente das
correntes imigratrias, logo seguidos pelos italianos, e um elemento
novo apareceu o imigrante japons (61). Todos sses fatres,
a par da crescente prosperidade econmica, ento j assegurada
pelo binmio caf-indstria, concorreram para criar condies in-
teiramente favorveis ao
crescimento vegetativo.
Na verdade, em
todo o perodo que vimos focalizando, a taxa de natalidade , em
mdia duas vzes mais elevada que a da mortalidade.
De acrdo com os dados obtidos por Paulo Rangel Pestana
(60), assim se caracterizaram a natalidade e mortalidade na ca-
pital paulista, na primeira vintena do sculo :
Cf. AZEVEDO (Slvio Almeida), Imigrao e Colonizao no Estado de
So Paulo.
pg. 121, em Revista ao Arquivo Muniipal . vol. LXXV. So Paulo,.,
1941
Cf. AZEVEDO (Slvio Almeida), obra cit.. pgs. 126-127.
Cf. CAPRI (Roberto),
So Paulo, a Capital Artstica,
pg 34.
(59).. WRIGHT (Marie Rcbinson). obra cit., pg. 205;
Cf. WRIGHT (Marie Robinson), obra cit., pg. 205.
:
Cf. AZEVEDO (Slvio Almeida), obra cit., pgs. 120-127.
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4
4
Natalidade Mortalidade
Nascimentos
taxa
bitos
taxa
1900
8.684 36,02%
4.537
18,91%
1910 12.287
32,73"
6.246
16,64 "
1919 16.916
32,13"
9.995 18,96 "
A queda verificada no ano ide 1919 explica-se pelo elevado
coeficiente de mortalidade infantil, ento registrado, em virtude
da gripe, do sarampo, da escarlatina e da coqueluche, que se
fizeram sentir com desusado virulncia. Cumpre, ainda, assinalar
que a gripe espanhola, em 1918, fz 5.372 vtimas na capital pau-
lista (61) .
So Paulo continuava a ser uma
cidade cosmopolita.
Pre-
dominavam os europeus, um grande nmero dos quais e seus des-
cendentes tinham j um bom padro de vida (64) . De acrdo com
Paul Walle, com base nas cifras de natalidade e na nacionalidade dos
pais dos recm-nascidos, formariam, por volta de 1910, nada me-
nos de dois teros da populao da cidade (65) .
So Paulo deixara de ser "a cidade de italianos", que Alfredo
Moreira Pinto conhecera, em 1900 (66). Mas o elemento peninsu-
lar, como natural, continuava a representar um papel de muita
importncia, no apenas na massa da populao, como nas ativi-
dades urbanas e na prpria fisionomia da Paulicia (67) . A seu
lado, em sensvel minoria, apareciam os elementos ibricos, alm
de srio-libaneses e japoneses. Nos anos imediatamente posteriores
primeira Grande-.Guerra, novos contingentes chegaram,
,
insatis-
feitos com as conseqncias do aps-guerra: hngaros e povos do
Bltico. Tudo isso, sem falar nos elementos germnicos e anglo-
saxes. Pierre Denis admirou-se com a capacidade de assimila-
o do elemento aliengena por parte de So Paulo: "Por sua ati-
vidade e por sua energia, So Paulo tem um poder de absoro
relativo aos imigrados que no se encontra, no mesmo grau, em
nenhuma outra regio brasileira" (68).
De acrdo com. Roberto Capri, em 1912 os italianos eram pro-
prietrios de 32 milhes de ps de caf, produziam 425 .000 sacas
e possuiam 23.520 propriedades urbanas (69) .
E. CAPRI (Roberto), So Paulo, a Capital Artstica.
Cf. PESTANA (Paulo Rangel), em
So Paulo, a Capital Artstica.
WALLE (Paul), obra cit., pg. 174.
WALLE (Paul), obra cit., pg. 174.
PINTO (Alfredo Moreira), A
Cidade de So Paulo
em 1900 (Impresses de
viagem),
Imprensa Nacional, Rio, 1900.
Consulte-se as obras de M. BERNRDES. P. WALLE R. CAPRI, e DEBE
NEDETTI (E.) e SALMONI (A.).
architettura Italiana, San Paolo,
i
Instituto Cultural Italo-Brasileiro, S. Paulo, 1953.
DENIS (Pierre),
Amrique du Sud,
tmo XV, 1.1 parte. pg. 189. Liv. Ar-
mand Colo, Paris, 1927.
CAPRI (Roberto), O
Estado de So Paulo e seus Municpios,
pgs. 16-17
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145
A expanso da rea urbana e o crescimento demogrfico re-
-percutiram. naturalmente, no ritmo das
construes urbanas Na
-
primeira dcada do sculo, o nmero de prdios passou de 21.656,
em 1900,. para 32.914, em 1910, o que significa um aumento de
mais de 10.000 prdios, isto , crca de mil por ano. Ao terminar
.a segunda dcada ,o total j atingia qua se 60 .000 , o que corresponde
a um aumento trs vezes maior ao registrado no perodo anterior,
com a mdia anual de 3.000 prdios (70).
Eis uma estatstica expressiva, referente ao nmero de prdios
segundo os distritos (71).
1911
1918
S
1.128
1.434
Santa Ifignia
5..874
4.827
Consolao
5.885
4.710
Brs
8.058
5.365
Mooca
7.183
Santa C eclia 5.670
6.216
Bom Retiro
2.836
Liberdade
4.160
5.185
Bela Vista
3.874
Belenzinho
2.120 5.370
Vila Mariana
1.478
3.403
Cambuci
165
1.390
Lapa
2.221
Sant'Ana
651
1.707
Penha
353
478
TOTAIS
36.128
56.208
Atravs das prprias cifras e dos desmembramentos verificados
,
(em 1911, Mooca, Bom Retiro, Bela Vista e Lapa ainda no eram
'distritos autnomos), pode-se sentir o crescimento e a expanso da
cidade, impressionante em alguns setores, embora lento noutros.
Essas habitaes ofereciam contrastes chocantes. Perduravam,
ainda, muitas casas e uns poucos sobrados construidcs de taipa,
herana do passado. Na rea central, notavam-se j alguns prdios
altos, embora a maioria no tivesse mais do que um ou dois andares,
a exemplo dos que existem at hoje, sobretudo nas vizinhanas
da Praa da S . Datam dsse perodo o ajardinamento do vale do
.Anhangaba, c alargamento da rua Libero Badar e os melhora-
mentos introduzidos na Praa do Patriarca e na Praa Ramos de
Azevedo; ergueram-se os palacetes Prates, um dos quais ainda
resta, abrigando a Cmara Municipal. Canalizado o Tamanduate
(1914) e saneada a Vrzea do Carmo, surgiu ali o Parque Dom
Pedro II.
( 70) . Cf. PAULO R. PESTANA, loc . cit .
( 71 ) . Cf. PAULO R. PESTANA, nas obras publicadas por R . CAPRI .
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A CIDADE DE SO PAULO E SEUS SUBRBIOS
r f m e m b e
a
v
Guarulhos
Baguiriv
r .'
Osance
Perdizes ;
S
beiras
Liberade
Cambedi
piranga
Sank Amaro
RODOVIAS
ESTR DE FERRO
RIOS
C N L I S D O S
CUJI L ME tR 1 3
,
7
Ma ua
S.Bernardo
A deA
--- 146
Nos bairros, predom inavam as habitaes de aspectos m odestos,
de
um s pavimento, geralmente possuindo pores, dando direta-
mente para a rua e obedecendo a um estilo mais ou menos padroni-,
sado, sem ,nenhum encanto arquitetnico; assim eram as moradias
da
classe mdia e da populao operria, de que perduram nume-
rosos exemplos, notadamente na Bela Vista, em Vila Buarque, em
Santa Ifignia, na Barra Funda, no Bom Retiro e no Brs. Em
contraposio,.nos bairros aristocrticos predominavam as grandes,
manses senhoriais e os ricos palacetes dos milionrios do caf e
"capites da indstria" da Paulicia de ento; ainda hoje podemos
admir-los, embora alguns se encontrem em plena decadncia: as
fidalgas residncias de Elias Chaves (atual Palcio dos Campos.
Apud Aroldo de Azevedo,
Subrbios de So Paulo e suas funes.
Elseos) e do Conde de Prates, no bairro dos Campos Elseos;
a s .
admirveis
manses da Avenida Higienpolis, entre as quais se,
destacavam a "Vila Veridiana" (residncia do conselheiro Antnio
Prado) e o palacete do Conde lvares Penteado, onde hoje se acha
instalada a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; e tantas ou-
tras, construidas na Avenida Paulista.
Ao findar o primeiro quartel do sculo atual, So Paulo era,-
ainda, uma cidade baixa, que muito pouco crescera no sentido ver-
tical e s excepcionalmente conhecia prdios de seis e sete andares.
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147
A
ste propsito, so significativos
os dados num ricos que se
se-
guem
(72):
1911
1919
Prdios trreos
26.750
40.301
Prdios assobradad os
....
6.600
13.526
Prdias de um andar ....
7.619
4.531
Prdios de m ais de 1 andar
159
340
TOTAIS
36.128
56.208
Todavia, tais cifras atestam inequvocos
sinais do crescim ento
vertical que haveria de caracterizar o segundo quartel do sculo, em-
bora apenas no que concerne aos prdios assobradados e de mais de
um andar. Com
efeito, tal fato aparece melhor quando exam inados as
porcentagens:
1911
1919
Prdios trreos
74% 71%
Prdias assob radados
18%
24%
Prdios de um andar
7%
12%
Prdios de mais de um andar .
0,4% 0,6%
A maioria das novas construes, tanto as residncias finas com o
as da classe mdia, trazia a m arca da arquitetura italiana, em estilo
neo-clssico ou florel; e os prprios edifcios pblicos, construidos'
nessa poca, sofreram, como natural, essa influncia (73) . A
sse respeito eis o que nos diz Bartolotti: : "Os bairros elegantes
concentram-se em uma zona de luxuriante vegetao tropical es-
tupendamente combinada delicada flora das regies tropicais,
de ond e surgem elegantes
villini,
graciosos palacetes e m esmo so-
berbas
ville,
em um a variedade de cres
(tinte),.
e de formas argui-
tetnicas tais, que se a primeira vista do e im presso de um a con-
fuso
(izialdone)
de estilos demonstram todavia, um bom gsto ar-
tstico regra geral de marca
(d'intonazione)
italiana (74) .
O
Teatro Municipal,
por exgemplo, construido entre 19 08 e
19 11, foi arquitetado por Ram os de A zevedo com a colaborao de
D omiciano e C ludio Rossi. An tes disso, o mesmo escritrio de enge-
nharia havia con struido o edifcio da antiga
Escola Normal
(atual
Instituto de Educao "Caetano de Cam pos), inaugurado em 19 08 ,
dentro das linhas do neo-clssico italiano .
(72) Cf. PAULO RANGEL PESTANA em
O Esta do d e So Pau l o e seus Mu ni c
p i o s
(ed. de Roberto Capri, 1913), pg. 82; e
A Capi t a l Pau l is ta comemorando
o Centen io d a I nd epend nci a,
ed. em 1920.
Consulte-se, sbre o assunto, DEBENEDETTI (E.) e SALMONI (A.), obra
cit.
BARTOLOTTI, Damenico,
I I B r a s i l e Mer i d i ona l e .
Alberto Stock. Roma,
pg. 204.
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148
Muitos
problemas urbanos
tiveram feliz soluo durante essa'
fase ida evoluo da cidade; assim, a iluminao pblica particular;
a pavimentao, o servio de guas e esgotos, os transportes.
De incio, a maioria das ruas paulistanas
era iluminada
a gs,
embora a rea central
-
j conhecesse 'os benefcios da luz eltrica.
Semente a partir de 1922 registrOu-s expanso da iluminao
eltrica, no conjunto, da cidade . Da o aspecto algo provinciano e
tristonho que So Paulo apresentava noite, no decorrer de todo
sse perodo; da a importncia daquele personagem urbano, hoje
desaparecido o acendedor de lampees, que pontualmente a
Percorria ao anoitecer,
Em
1907, existiam na cidade 4.558 combustores de gs;
em
.
1915, ste nmero elevou-se para 9:396, o que correspondia
a dez vzes o de focos eltricos; e, em 1922, atingiu 10.031
(75) .
Smente a partir de 1916, a
Light
passou a fornecer luz
eltrica s vias pblicas; por isso mesmo, antes disso, era reduzi-
dissimo o nmero de focos eltricos (em 1914), apenas 846) .
Entretanto, j em 1920, sse total elevava-se a 2.153 e, dois anos
mais tarde, a 2:661, isto , menos de um quinto dos combustores
le gs. A partir de 1922 a expanso da luz eltrica prosseguiu
em marcha acelerada, substituindo a iluminao a gs, que veio
desaparecer pouco depois de 1930.
A iluminao eltrica deu vida nova cidade . Mesmo bair-
ros distantes viram-se beneficiados: o caso da gua Branca, Lapa,
Ipiranga e Penha que, j em 1912, possuiam alguns focos eltricos.
De um modo geral, dava-se preferncia ao centro da cidade, s ruas
dos m elhores bairros e aos locais de recreao. Em 19 15 , iluminou -se
0 Miradouro (Trianon) da Avenida Paulista; em 1916, todo o
"Tringulo", a esplanada do Teatro Municipal e os relgios p-
blicos passaram a ser iluminados por luz eltrica . Em 1918, a Ave-
nida Paulista recebeu novos focos e o mesmo benefcio extendeu-
se ao vale do Anhangaba, Bela Vista e ao Largo da Concrdia
(Brs) . Em 1922, chegou a vez do Jardim Amrica, de Sant'Ana e
cio
Ipiranga .
A pavimentao das ruas e praas recebeu um grande impul-
so na administrao do prefeito Antnio Prado, que elevou sse be-
nefcio a um total de um milho de m
2
, o que fez com que cada
habitante da cidade
passasse a dispo r de 5,40 m
2 , quando,
na m esni
poca, cada habitante de Buenos Aires s dispunha de 6,45 m
2
(76).
Utilizava-se o macadame e paraleppedos de granito . Em 1921,
(75).
Cf. EGAS (Eugnio),
Gale r i a dos Pr es i den t es do Esta do d e So Pau lo ,
vols.
II e III, So Paulo, 1927.
(76)., BRNARDEZ (Manuel), obra cit., pg. 194.
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1 4
9
a rea calada da- cidade tinha uma superfcie de 2.740.000 m'5'
(77).
O servio de guas e esgotos no conseguia alcanar o ritmo
acelerado do crescimento urbano. Foi tambm na primeira dcada
do sculo que a cidade pa,ssou a ser mais bem servida de gua;
graas utilizao de mananciais da Serra da Cantareira e do
rio Cotia. Todavia, registravam-se muito contrastes de um bairro
para outro, o mesmo acontecendo com a rde de esgotos.
Em 1905, 22.889 prdios eram abastecidos de gua, numa
rde total de 392.867 metros. Em 1908, tais cifras haviam pas-
sado, respectivamente, para 26.370 e 416.336.
No que se refere rde de esgotos, em 1903 existiam 20.074
prdios beneficiados; ao passo que, em 1908, ste nmero subir .
para 24.270, numa rde total de 874.548 metros. Por essa poca,
Vila Mariana, Perdizes, gua Branca, Lapa e Belenzinho no go-
savam dessa vantagem; Cambuci, Mooca, Bom Retiro, Barra Funda
e Higienpolis eram servidos de maneira incompleta .
Nos anos seguintes, a situao 'foi sempre melhorando, confor-
me se pode constatar. pelos dados, abaixo:
gua
Esgotos
1 9 1 1 4 4 9 . 7 9 3 1 . 1 4 4 . 3 0 0
1 9 1 6 1 9 1 7 . . . 5 9 8 . 4 1 4 1 . 6 5 7 . 6 4 4
1 9 2 2 6 6 0 . 8 9 9
1 9 1 1 5 5 . 5 0 2
3 2 . 4 4 4
1 9 1 8
4 8 . 8 1 5
1 9 2 1
5 3 . 8 7 5
Cumpre assinalar que, em 1912, foram concluidas as rdes de
esgotos das vertentes do Tamanduate em Vila Mariana e no Cam-
buci e iniciadas as rdes das Perdizes e de parte do Ipiranga que,
se concluiram em 1914. Em 1915, estavam terminadas as rdes
da Barra Funda e do Bom Retiro, dando-se incio s da gua Branca,
Lapa e Sant'Ana. Em fins de 1922, iniciaram-se os servios para o
prolongamento da rde de esgotos desde a Alameda Santos at
o Jardim Amrica e a Vila Cerqueira Csar (78).
Em relao aos transportes urbanos, as primeiras linhas de
bondes eltricos (de cujo servio era concessionria a
Light)
foram
inauguradas em 1900, pondo o centro da cidade em comunicao
com a Barra Funda, a Vila Buarque e o Bom Retiro; mas os bondes
. EGAS (Eugnio), s Municpios Paulistas, vol. 1, pg. 476.
. Cf. EGAS (Eugnio),
Galeria dos Presidentes do Estado de So Paulo.
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150
de trao animai e algumas linhas a vapor (para Santo Amaro e
pra a Cantareira) continuavam a servir a cidade (79). Durante
todo o perodo que vimos focalizando, entretanto, so os veculos de
trao animal que predominam no trfego urbano, particularmente
as pequenas carroas de duas rodas (largamente utilizadas no servio
de passageiros). Os automveis no passariam, ao findar o pri-
meiro qttartel do sculo, de pouco mais de 2.500.
A rigor, os primeiros bondes eltricos comearam a circular a
partir de 1897; mas, s depois de 1900 foi que se estabeleceram
as linhas de maior extenso.
Em1908, os bondes da
L i g h t
transportaram 24.981106 pas-
sageiros e o
ramway
da Cantareira conduziu 277.629. Dez anos
mais tarde, smbolo do crescimento demogrfico da cidade, os pri-
meiros transportaram 58.455.792 passageiros e o segundo
1730.941 Neste mesmo ano de 1918, assim se distribuiam os
automveis (80).
Particulares
.234
D e aluguel
586
D e carga
157
Em 1921 a
L i g h t
tinha em servio 407 bondes para passa-
geiros, havendo transportado nada menos de 103.938.584 pessoas,
o que realmente notvel, pois significa quase o dbro da cifra re-
gistrada trs anos antes. (81).
Muito expressiva a relao discriminada dos veculos urbanos,
mencionada por Eugnio Egas 82), que vamos aqui sintetizar de
acrdo com os respectivos grupos:
Veculos de trao animal:
Carroas
8.468
Aranhas
934
Carruagens
6 8
Carros de bois 5 7
Tlburis 4 9
Carretes 7
Trleis de stio 6
TOTAL
9.589
Veculos motorizados:
Cf.
Cin qent a a nos de
progresso com
So Pau l o
(1900-1950), publicao de
The So Paulo Tramway, Light and Power Co. Ltd.
Cf. A
Capi ta l Pau l i sta comemor an do o Centen io da Ind ependncia ,
dados de
PAULO R. PESTANA;
Cf. EGAS (Eugnio),
Os Muni cpi os Pau li sta s,
I, pg. 479.
Cf. EGAS (Eugnio),
Os Mun icpi os Pau li sta s,
I, pg. 477.
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151
Au tomveis particulares
2.380
Au tomveis aluguel ou carga
1.419
Motocicletas
278
TOTAL
c) Outros veculos:
4.077
Bicicletas
3.312
Carroas de mo
870
Barcas 3 1 1
Botes
133
Carros para entrro
1 5
Lanchas ou botes a vapor
1 0
Balsas
2
TOTAL
4.853
Isto significa que, num total de 18.519 veculos, mais de
-51% eram movidos por trao animal. Pormenores interessan-
tes h a registrar, neste particular: entre as carroas, 1.039 des-
tinavam-se ao transporte de po ou leite, 1.160 ao transporte de
lenha ou hortalias, e 45 ao de carne; entre as carruagens, 67 eram
'de aluguel e 65 tinham rodas de borracha; e entre os tlburis (ainda
os havia h vinte e cinco anos atrs ) 45 eram de aluguel. Note-se,
outrossim, o nmero elevado de aranhas e, naturalmente correspon-
dendo zona rural, os carros de bois e os trleis.
Os veculos motorizados correspondiam a smente 20% do
total. Quanto aos demais, observa-se que o nmero de bicicletas
era superior ao de automveis particulares e que no era despre-
svel o nmero dos que se destinavam navegao fluvial (num
total de 456).
O fenmeno que j se esboara na segunda meta
d'e do sculo
XIX, como conseqncia da expanso da rea urbana, acentuou-se
definitivamente no primeiro quartel .do sculo XX: a cidade passou
a possuir reas
f u n c i o n a i s
mais ou menos bem definidas.
O velho centro caracterizava-se inteiramente como
z ona c om er -
c i a l ,
sobretudo do comrcio varejista, ao mesmo tempo que o co-
mrcio atacadista passava a instalar-se nas vertentes do Tamandua-
te, junto colina histrica, e na prpria vrzea. Fora da, o comrcio
se desenvolveu nos bairros, em determinadas ruas ou constituindo
pequenos ncleos bem caracterizados.
No nos possvel examinar em detalhes a
f u n o c o m e r c i a l
da cidade, nessa poca, pois no teramos espao para tanto. Sendo
uma grande cidade, com 800.000 habitantes, dispunha de elevado
nmero de casas comerciais e, sobretudo um comrcio variadssimo,
perfeitamente altura de sua importncia.
A
enorme atividade co-
mercial da praa de So Paulo escrevia Marcelo Piza, em 1924
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152
centraliza boa parte do comrcio de exportao e grande parte do'
de importao, asSim como dirige a produo agrcola, pastoril e in--
dustrial do Estado" (83) .
Os trabalhos de Marcelo Piza (84) e Eugnio Egas (85) forne-
cem abundante material para o estudo dessa funo urbana, por
volta de 19 21-19 22. Limitarmos-emos a pr em destaque uns poucos
mas significativos aspectos da vida comercial d Paulicia, por essa
poca . provvel que existissem crca de 10.000 dasas de comr-
cio, das quais 292 dedicavam-se a artigos de importao. O abasteci-
mento alimentar era assegurado por 2.517 armazens de secos e mo-
lhados, 463 a ougues, 18 3 quitandas e casas de frutaS, 162 leiterias,
.
106 confeitarias e pastelarias', etc. Havia 198
barvoarias
183
lanharias, 219 casas de m veis, 51 3 de fazendas e arma rinho, 243 d e'
calados, 59 da fazendas, 67 de chapus para homens, 22 perfu-
marias, 36 casas de brinquedos, 86 joalherias, 32 relojoarias 62 pa-
plarias, 64 livrarias, 15 2 charutarias, 15 casas impo rtadoras de auto-
mveis, etc., alm das que forneciam artigos para a indstria e ma-
teriais de construo. Resta acrescentar a e)@istncia de 30 esta-
belecimentos bancrios.
zona industrial
da cidade, j tambm definida, encontrava-
-se localizada prinCipalmente nos bairros de vrzea, no longe das,
vias-frreas, como tivemos oportunidade de acentuar . Brs, Mooca
Belenzinho eram os mais caractersticos. Crca de 2.000 esta-
belecimentos fabris e 70.000 operrios definiam a vida industrial.
da Paulicia, ao findar o primeiro quartel do sculo.
Tambm no pretendemos estudar, nos pormenores, a
funo in-
dustrial da capital pau lista, nessa poca . A5
obras atrs
citadas
de.
Marcelo Piza e Eugnio Egas (86) contm, neste particular, minu-
ciosos informes. Julgamos necessrio, apenas, acentuar que as in-
dstrias txteis eram as mais importantes, no pelo nmero, mas-.
pela produo e mo de obra empregada: existiam 37 fbricas de
tecidos de algodo, 39 malharias, 8 fbricas de tecidos de sclaj
6
de tecidos de l,, 3 de tecidos de juta, que davam trabalho para
mais
de 20.000
operrios; e que tambm se destacavam: as f-
bricas de calados, num total de 83, as de chapus, num total de
36, as fundies, as de produtos qumicos, as serrarias, etc. Por'
outro lado, muito ativa continuava a ser a pequena indstria (609'
Sapateiros, 250 m arcene iros, 124 tintureiros, etc. ) .
Uma terceira rea funcional a
residencial
completava o qua--
dro urban o, sob sse aspecto. Prticamente afastada do velho centro,,,
PIZA
taria
(Marcelo),
Os Municpios do Estado de So Paulo,
pg. 257, e
d.
Secre-
da Agricultura do Estado de So Paulo,
1924.
PIZA (Marcelo),
Obra cit.
pgs.
257-258.
EGAS
(Eugnio),
Os Municpios Paulistas, I,
pgs. 480-481.
-(86).
PIZA
(Marcelo),
obra cit., pgs.
258-483.
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-- 153
aparecia bem caracterizada no restante da cidade, sob trplice.
modalidade a que j tivemos oportunidade de nos referir: os bairros.
da
classe mdia,
na periferia do centro e, ainda, em pontos mais-
ou menos afastados; os bairros
operrios,
localizados sobretudo nas
vizinhanas da zona industrial; e os bairros
aristocrticos,
desde os
Campos Elseos at Avenida Paulista e ao ento nascente jardim
Amrica. "Esta metrpole cuja descrio detalhada difcil, regue
rendo muito espao, pode dividir-se em trs zonas do centro co-
mercial, dos bairros elegantes e dos arrabaldes populares. O centro
com ercial constitudo pelas trs ruas principais 15 de N ovemb ro,
So Bento e Direita -- que formam o famoso tringulo no corao
da cidade. So os logradouros dos bancos, das principais casas co-
.merciais, das grandes confeitarias e casas de bebidas, das redaes
dos jornais, dos estabelecimentos de modas, - das joalherias, etc.,
do mundo elegante e daquele dos negcios, que, porm, no se con-'
fundem, o primeiro dominando sobretudo na Rua Direita, o segundo,
por seu lado, recolhendo-se prevalentemente na Rua 15 de No-
vembro.
Os bairros elegantes, onde aparecem
villini, palazzine, ville, de- -
monstram bom gsto artstico . So as grandes avenidas, primeira
entre tdas a Carlos de Campos, anteriormente Paulista, a ampla via
asfaltada e arborizada, em uma elevao maravilhosa, onde freqen-
temente escondem-se as luxuosas habitaes dos ricos paulistas, em
seguida, Campos Elseos, Brigadeiro Lus Antnio, Liberdade, Higie-
npolis, etc., tdas amplas com numerosas praas adornadas de
jardins floridos. Os bairros populares Brs, Bexiga, Cambuci -
localizam-se longe do centro, na zona dos mais importantes estabele-
cimentos comerciais, onde em conseqncia, concentra-se e desenro-
la-se .a vida do operariado" (87) .
sse rpido esquem a funcional da cidade, nos prim eiros 25 a nos
do presente sculo, f icaria incompleto se no f izssemos um a refern-
cia s chamadas
profisses liberais.
Os advogados continuavam
frente: crca de 500. Numerosos tambm eram os mdicos (410), .
os dentistas -- 320, os farmecuticos 220, os engenheiros civis e
arquitetos 176. Noutras profisses, destacavam-se pelo nmero:
barbeiros e cabeleiros 805, as parteiras 100, os fotgrafos
56, etc. (88) .
A CIDAD E D E SO PAULO NO SEGUNDO QUARTEL DO SCULO XX.
A partir da terceira dcada do sculo, atual, ningum poderia
ter nenhum a dvida a respeito da m archa ascencional da capital pau- -
BARDOLOTTI( Dm
nanico),
II Br4sile Mel
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28/44
.. 154
lista. Debalde a crise cafeira, que se seguiu ao crack da blsa de
Nova-York (1929), abalou em seus alicerces a economia paulista.
Debalde os acontecimentos polticos, como as revolues de 1924 e
1930 e a revoluo constitucionalista de 1932, alm das vicissitu
des que se lhes seguiram, convulsionaram e perturbaram a vida
da populao do Estado. Debalde a segunda Grande-Guerra
(1934-1945), em seus reflexos sbre o nosso pas, criou problemas
de tda espcie, para o seu comrcio e para sua atividade indus-
trial. Nada disso fo capaz de interromper 'ou, mesmo, arrefecer
o ritmo de crescimento e a expanso da metrpole paulista. As
estatsticas referentes a sse perodo do saltos de assombrar.
Aiimenta ininterruptamente sua populao, amplia-se cada vez mais
sua rea urbana, consolida-se sua posio na liderana econmica e
cultural do Estado e at do pas. Um espetculo ao mesmo tempo
admirvel e confortador.
Logo no incio do segundo quartel do sculo, Pierre Denis
afirmou que So Paulo "a men la marche en avant du jeune Br-
sil" (89). Pela mesma poca, o conde Carton de Wiart, depois de
acentuar que era a cidade que constituAa uma casa por hora, admi-
rou-se de sua atividade comercial e industrial, comparando-a, neste
particular, s cidades-cogumelos da Amrica do Norte; mas sentiu
nela o aspecto de uma cidade europia: fazia-lhe lembrar Lausanne,
pelos seus viadutos, e Manchester ou Lyon, por suas ruas Movimen-
tadas (90). "Dans les rues, pas de promeneurs, pas de feneurs"...
(91) .
Visitando-a na dcada de 1930-1940, um brasileiro da Amaz-
ni Virgnio Santa Rosa teve, diante dos olhos, um espetculo
que o levou, certamente. a pensar nas paragens onde nasceu "As
ruas extravasam gente como a torrente que deslisa na calha de
um vale . Subindo ou descendo, as correntes humanas que sulcam
as ruas e becos do Tringulo como que se dissolvem e quebram em
pontos fixos. Sbitamente como que desaparecem. tranquilizam-se
em remansos no Largo da S. Praa do Patriarca, Largo de Sci
Bento, Largo dos Correios ..." (92) Essa cidade, que faz lembrar
tda espcie de cidades e no entanto se parece com nenhuma. Tal-
vez nessa "Chicago sul-americana "j exteriormente se manifeste,
que entre o milho de habitantes que ela conta esto representados
todos os povos da
Europa e ainda alguns da Asia. Ao lado de arra-
nha-cus inacabados, cujas rendas futuras esto em discusso, ao
lado de maravilhosas avenidas com grandes palacetes, um bairro
(90). WIART (Conde Carton de),
Mes Vacant es ao Bril ,
pg. 107, ed. Descie
de Brouwer & Cia., Bruges, 1928.
,
(91). WIART (Conde Carton de), obra cit., pg. 109.
(92). ROSA (Virgnio Santa),
Paisagens do Br as i l ,
pg. 109.
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comercial apertado e quase asfixiado pelo trnsito e subrbios que
lembram quarteires proletrios em qualquer lugar do Mediterrneo
(93).
Escrevendo na mesma poca, Pierre Deffontaines foi sinttico,
mas vigorosamente exato: "So Paulo pertence, por excelncia,
famlia das
cidades de energia
(94) . E um norte-americano, pro-
fundaniente enraizado no pas Benjamim Hunnicutt cha-
mou-a de "cidade dinmica" (95) .
"No centro de So Paulo, no
Tringulo
afirmou Wolfgang
Harnisch a vida pulsa numa atividade e num ritmo pouco tropi-
cal. Nessas ruas estreitas, de edifcios altos, os homens correm e se
acotovelam como em qualquer capital da Europa . Nos seus ros-
tos vemos estampada a mesma expresso de fadiga e intensidade".
E
conclui: "Aqueles que andam pelas ruas, que olham e gritam e
vendem sentem que al est o centro de uma metrpole moderna,
internacional de uma cidade de comrcio e indstria" (96) . Den-
tro da mesma ordem de idias e referindo-se mesma poca, o ge-
neral Lima Figueiredo chamou So Paulo "a capital do progresso"
(97) .
So depoimentos valiosos porque, correspondendo todos les
mesma fase da evoluo da cidade, coincidem de maneira impres-
sionante, como se houvessem saido da mesma pena . Mais ainda:
foram escritos por homens cultos das mais diversas categorias ou
especialidades gegrafos, um diplomata, simples viajante, um
educador, uma alta patente do Exrcito; e sobretudo, de nacionali-
dade diferentes franceses, um norte-americano, um belga dois
'alemes, brasileiros de regies diversas.
Mas, afinal que tipo de cidade veio a se formar em trno do
ncleo quinhentista criado pelos padres da Companhia de Jess,
e sbre as bases, to mais amplas, da "capital dos fazendeiros"? Co-
mo caracterizar, em sua fisionomia urbana, o So Paulo surgido no
derradeiro meio sculo?
Poder ser comparado a uma cidade europia? ... Dois euro-
peus j citados um belga e um alemo afirmam que sim. Outro,
de nacionalidade suia Henry Valloton percebeu aspectos
londrinos na metrpole paulista, porque "pelas sete horas da noite,
. ULMANN (Hermann), Brasilinischer Sommer, Verlag Grenze und Aus-
land, Berlin pg. 67.
. DEFFONTAINES (Pierre),
Geografia Humana do Brasil, pg. 83, e4..
do Conselho Nr:ional de Geografia, Rio, 1940.
. HUNNICUTT (Benjamin H.)
Brazil Looks forward,
pg. 400, ed. do I,
B. G.E., Rio, 1945.
. HARNISCH (Wolfang Hoffmann),
O Brasil que eu vi
(Retrato de uma po-
tncia tropical), pgs. 75-76, traduo brasileira de Huberto Augusto, ed.
Melhoramentos, So Paulo.
. FIGUEIREDO
(Lima), Cidades e Sertes
(Pginas de Histria e geografia
do Brasil), pg. 13, vol. XL da Biblioteca Militar, Rio, 1941.
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quando mil reclames luminosos se acendem e alegram a cidade.
quando filas de empregados esperam os auto-onibus, -se levado a
pensar em Piccadilly Circus" (98) . Entretanto, uma francesa,
Claude Eylan, que a conheceu por volta de 1940, considerou-a "une
ville bien brsi lienne", nada sem elhante s cidades n orte-americanas,
apesar de seus arranha-cus; por certos aspectos de sua vida comer-
cial e por suas construes, seria quando muito uma cidade talo-
-americana (99) .
Todavia, j no pensam assim os norte-americanos que a tm
visitado, nos ltimos quinze anos: chega a impressionar a unanimi-
dade de suas opinies no sentido de que So Paulo faz lem brar, muito
fortemente, certas cidades dos Estados Unidos.
Das maiores cidades brasileiras diz Vera Kelsey exa-
tamente So Paulo a que menos atrativos oferece ao viajante norte-
-americano: "It so strongly resembles modern industrial cities in
the United Sstates that the Nohtr American is not impressed but
disappointed" ... (100) . Vai mais alm: o Tringulo lembraria
a baixa Nova-York e as avenidas largas dos bairros residenciais se-
riam uma reproduo de Buffalo, Minneapolis ou Los Angeles (101).
Dez anos mais tarde, bateu ainda uma vez na mesma tecla, com
igual segurana: "With its skyscraper-and-tall-chimney skyline, its
crowded, clamorous streets
y
i ts suburbs of luxurious hom es, So Pau-
lo resembles such cities as Chicago Los Angeles and Detroit"; e che-
gou a afirmar que os seus habitantes apresentam "a trait long con-
siderei peculiar to the North American"
(102).
Com a autoridade que ningum pode negar-lhe, por ser um ge-
grafo eminente e con hecer bastante a capital paulista, Preston Jam es
afirma que So Paulo, em sua recente evoluo,
transformou-se nu-
ma
cidade que, "to a greater and greater degree, has taken on all
the characteristics, good and bad, of its North American prototypes"
(103) .
"So Paulo a Chicago da Amrica do
Sul (104) ou "uma
espcie de Chicago tropical" (105) dizem outros norte-america-
nos. E a questo do desapontamento, que les sentem ao entrar em
VALLOTON (Henry),
Brsil, terce d amour et de beaut,
pg 162, Lib.
Payout, Lausanne, 1945.
EYLAN (Claude),
tapes Brsiliennes,
pgs. 166-167, Lib. Plon, Paris, 1940.
KELSEY (Vera),
Seven Keys to Brazil,
pg. 132, ed. Funk & Wagnalls Co.,
Nova-York, 1940.
KELSEY (Vera),
obra cit., pg. 132.
KELSEY (Vera),
Brazil in Capitals,
pg. 167, ed. Harper & Brothers Pub..
Nova-York, 1942.
JAMES (Preston),
Brazil,
pg. 149, ed. The Oe.yssey Press, Nova-York,
1942-46.
BROWN (Harriett McCune) e BAILEY (Helen Miller), Our
Latin Ame-
rican Neighbors,
pg. 388, ed. Houghton Mifflin Co., Boston 1944.
Em
City of Enterprise,
edio latino-americana do "Time", pg. 20, Nova-
.
-York, 21 de janeiro de 1952.
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15 . 7
.Contato com a metrpole paulista, de nov vem baila: "Coming
from beautiful Rio, the visitor may be disappointed in So Paulo,
for it looks a great deal like the industrial cities of the United Sta-
tes. Factories and skyscrapers, eletric signs, streets crowded with
traffic, all remind the North American of honre" (106) .
Tudo parece indicar, por conseguinte, que a cidade de So Pau-
lo assemelha-se a certas cidades dos Estados Unidos. Por outro
lado. forosamente, deve apresentar e realmente apresenta traos.
capazes de recordar algumas cidades europias; alm das semelhan-
as j apontadas, acaso no faz lembrar, sobretudo no velho centro
determinados trechos da cidade do Prto? Mas, indepentente de tudo
isso, como observou Claude Eylan, antes de mais nada uma cida-
de bem brasileira, na sua fisionomia urbana como no esprito de
seus habitantes, embora apresentado caractersticas que lhe so in-
teiramente prprias e sua originalidade.
a cidade dos muitos contrastes, com largas avenidas, de
trfego intenso, no meio de blocos compactos de arranha-cus,
como tambm das ruelas tranqilas, emolduradas de prdios an-
tigos, que fazem lembrar os tempos passados. . a cidade das
ladeiras e dos viadutos, a "metrpole internacional", a "cidade
cosmopolita" (107), a "cidade de energia", a "capital do progres-
so", a "grande oficina", e "capital industrial do Brasil" (108), a "ca-
pital de capital" (109), a "cidade dinmica" e a "city of homes"
(110), o grande centro cultural do pas, a "cidade que mais cresce
no Mundo" ...
Naturalmente, cumpre tentar encontrar uma explicao para
sse "fenmeno" urbano, que a capital paulista; e os fatres apa-
recein aos nossos olhos, ora de uma evidncia irretorquvel ora
m enos m arcantes em sua influncia .
Os
fatres de ordem econmica
devem ser citados em primeiro
lugar, porque a cidade de So Paulo bem um reflexo do admirvel
desenvolvimento econmico registrado dentro das fronteiras do
Estado e mesmo fora delas, nas reas de influncia paulista.
Com efeito, no decorrer do segundo quartel do sculo XX, o
Estado de So Paulo rasgou horizontes novos para sua economia:
abandonou a monocultura cafeeira, para transformar-se no maior
centro policultor do pas. Aps a crise de 1929-1930, prosseguiu a
marcha do caf no rumo de Oeste, com a abertura das frentes pio-
neiras no apenas no territrio paulista, mas tambm em o Norte
(106). BROWN (Harriett) e BAILEY (Helen),
ob ra c i t . , pg. 388.
. WIART (Conde Carton de), obra cit., pg. 109; e MAIA (Prertes), em
Introduo obra
So Pau l o
(lbum de fotografias em cres) de Kurt Peter
Karfelo'.
. VALLOTON (Henry), obra cit., pg. 161.
. KELSEY (Vera),
Seven Keys to Brazil, pg. 132.
4110) . HUNNICUTT (Benjamin H. ), obra cit., pg. 408.
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-158. .
do
Paran (111). Mas, paralelamente, teve incio o importante-
surto algodoeiro (sobretudo a partir de 1935), desenvolveu-se a
cultura canavieira e novas culturas vieram a surgir.
Aa m esmo tem po, a expanso das vias de comun icaes, parti-
:
cularm ente e mu ltiplicao e a melhoria das estradas de rodagem ,
:
puzeram a capital do Estado em contato direto com as reas produ-
toras do interior e levaram a influncia paulista at uma parte de
Minas Gerais, ao sul de Gois e de Mato Grosso, ao norte do Pa-
ran. O binrio So Paulo-Santos, mais do qu e nun ca, passou a co-
man dar tda uma vasta regio brasileira .
Acrescente-se, a tudo isso, o espantoso desenvolvimento do par
l
-
que i
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