UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA
Ana Claudia Galerane
o TRABALHO PEDAGOGICO EM SERIES INICIAIS
COM A CRIAN(A DISLEXICA
CUIitiba
2004
Ana Claudia Galerane
o TRABALHO PEDAGOGICO EM SERIES INICIAIS
COM A CRIAN<;::AD1SLEXICA
Trabalho de Conclusao de CUfSO aprescntado ao CUfSOde Pedagogia, Faculdade de Cicncias Humanas, Lctras cArIes da Universidadc Tuiuli do Parana como requisitoparcial para a obtenc;c')o do grau de Licenciado emPedagogia.
Orientadora: Proft. Dra. Marti Dockham Lemke
Curitiba
2004
.j~; UniVel~sidadeTuiuti do ParanaFACULDADE DE ClENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Curso de Pedagogia
TERMO DE APROVA<;:AO
NOME DO ALUNO: ANA CLAUDIA GALERANE
TITULO: 0 trabalho pedagogico em series iniciais com a crianr;adis/exica.
TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO APROVADO COMO REQUISITO PARCIAL
PARA A OBTEN<;:AO DO GRAU DE LlCENCIADO EM PEDAGOG lA, DO CURSO DE
PEDAGOGIA DA FACULDADE DE ClENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES, DA
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA.
MEMBROS DA COMISSAO AVALIADORA:
, c~re4. 'Q::::-£~PROF(Vr-iARUDOCKHORN LEMKE
PROF(.). NEYBAN~:EIA DA SILVA aSILDA MARIA BORGES FERREIRA~~
DATA: 14/12/2004
MEDIA: -lQ-L~-=l
CURITIBA - PARANA
2004
Agrade90 em primeiro lugar ao Altissimo
Deus, que me aben90a grandiosamente.
Aos meus pais e meu namorado pelo
incentivo que deram ao longo deste
trabalho.
A minha Olientadora pela dedica9ao.
A todas as pessoas que colaboraram
atenciosamente comigo.
SUMARIO
RESUMO ..
1 JNTRODUCAO ...... 7
2 DISLEXTA: CONCEITOS, ETTOLOGTAS, CARACTERlSTTCAS E
CLASSIFICACOES ..
2.1 HISTORlCO DO CONCEITO DE DlSLEXIA. .
2.2 A DlFERENCA ENTRE DlSLEXIA E ATRASO SIMPLES NA AQUISTCAO DA
LEITURA E ESCRlT A
....... 9
....9
2.5.1 Dislexia de negligencia .
..... 14
..16
..... 20
... 24
. 25
..... 25
..... 26
.......... 27
..... 28
................ 28
2.3 ETlOLOGlAS.. . .
2.4 CARACTERTSTTCAS DA DlSLEXIA.... ...
2.5 CLASSIFICACOES DE DlSLEXIA .
2.5.2 Dislexia atencional
2.53 Leitura letra-a-Ietra
2.5.4 Leitura nao-semiintica
2.5.5 Dislexia de superficie ..
2.5.6 Dislexia fonol6gica
2.5.7 Dislexia profunda ...
2.5.8 Dislexia. visual
2.5.9 Dislexia auditiva
. 29
......... 30
.... 30
3 0 TRABALHO COM A CRlAN<;:A QUE APRESENTA DIFICULDADES DE
APRENDIZAG EM ...
3.1 0 PAPEL DA ESCOLA.
3.20 PAPEL DA FAMIUA......... .
3.3 0 PROCESSO DE REEDUCA<;:AO DO DISLl~:XICO
....32
...32
.... 34
..... 35
4 ENTREVIST A COM PROFISSIONAIS.. . 38
4.1 RELATO DE UM PROSSISSIONAL NA AREA DE FONOAUDIOLOGIA 38
4.2 EXPERI.ENCIAS DO PROFESSOR DE UMA CRIANCA DISLEXICA
ANEXO A ENTREVIST A COM 0 FONOAUDIOLOGO
ANEXO B ENTREVISTA COM 0 PROFESSOR. H ••
ANEXO C L.CB ESCREVE COMO SE LE OS NUMEROS
ANEXO 0 L.CB ESCREVE COMO SE LE OS NUMEROS ..
ANEXO E DESENHO SOBRE AS BRINCADEIRAS QUE L.CB MAIS GOST A
ANEXO F DESENHO ARTISTICO... ...
ANEXO G TEXTO ESCRITO POR L.CB
.... 40
..... 42
..... 45
..46
. 47
. 49
......... 50
. 51
......... 52
. 53
........... 54
..... 55
5 ANALISE DO PROBLEMA ...
6 PROPOSTAS PARA TRABALHAR COM A CRIAN<;:A orSLItXICA
7 CONCLUSAO ..
REFERENCIAS ...
ANEXOS ....
ANEXO H DITADO DE PALAVRAS .....
..... 56
. 56
. 57ANEXO 1 PERGUNTAS RESPONDIDAS EM CLASSE PELAS CRlAN<;:AS ..
RESUMO
o objeto deste trabalho e analisar 0 papel do professor no trabalho pedag6gico emseries illiciais com a crianya diagnosticada como dislexica, bem como pesquisar eesclarecer a diferenya entre disturbio de aprendizagem e atraso simples na aquisiyao deleitura e escrita. A abrangencia deste tema vem ao encontro da necessidade de maioraproful1damento 110que tange a problematica da atuayao do professor com crianyasdislexicas em saia de aula. Aborda conceitos, etioiogias, caracteristicas, classificayoesbem como 0 papel da familia e da escola com a crianya que possui este diagn6stico. Asfontes utilizadas sao levalltamellto e estudo sobre 0 referencial te6rico do asswlto, eanalise do trabalho de profissionais realizado com a clianya dislexica em sala de aula.o pape] do professor no trabalho em sala de aula com a clianya dislexica efundamental para que esta supere suas dificuldades. POI'em pode-se perceber que osprofess ores nao estao sabendo como agir depois do diagn6stico, onde os professoresnao apLicam atividades escritas as crianyas, sendo que estas respondem muito bern asquestoes orais. Com isso, estes professores cada vez mais estao afastando as crian9asdo contato com a escI1ta bem como 0 da leitnra.
Palavras-chave: papel do professor; trabaLho pedag6gico; dislexia.
7
1 INTRODUc;::Ao
o presente Trabalho de Conclusao de Curso aborda 0 tema Dislexia e
especificamente analisa 0 papel do professor, em series iniciais, com a clianya
dislexica. A abrangencia deste tema vern ao encontro da necessidade de maior
aprofundamento no que tange a problematica da atuayaO do professor com crianyas
dislexicas em sala de aula.
o desenvolvimento da crianya com dislexia e 1l00mal, ate entrar na escola. No
entanto, pode urn problema de base cognitiva emergir nos momentos iniciais da
aprendizagem da leitura e da escrita, na sala de aula. Urn destes problemas e a dislexia
que pode prejudicar bastante 0 desenvolvimento da leitura e escrita na crianya
Neste trabalho, procura-se esclarecer 0 seguinte problema: Qual e 0 t:rabaLhodo
professor que atua em series iniciais, no desenvolvimento do trabaUlOpedagogico com
a clianya que possui 0 diagnostico de dislexia?
Considera-se que 0 preparo da maioria dos professores em sua formayao, nao e
suficiente para 0 t:rabalho com crianyas dislexicas. Os cursos de licenciatura, hoje em
dia oferecern e abordam muitos temas que ultrapassam as teorias de aprendizagem,
mas em seus cWTiculos, quase nao abordam conteudos que auxiliam como identificar e
trabalhar com clianyas dislexicas e ate mesmo com qualquer outro disturbio de
aprendizagem, e deixam de lade estes topicos tao impOitantes. E a consequencia dessa
desinfollnayaO de muitos professores no conllecimento de alguns distill·bios de
aprendizagem, entre os quais a dislexia, faz com que 0 atendimento pedagogico nao
seja desenvolvido a contento (MARTINS, 2004).
8
Com isso, a importiincia dessa pesquisa esta na busca em compreender como e
o processo de ensino e aprendizagem das crianyas com dislexia, tendo um professor
preparado para este tipo de situayao ou nao.
Assim, este trabalho de Conclusao de Curso procura contTibuir com sugestoes
para 0 professor tTabalbar com a crianya dislexica em sala de aula.
A pesquisa tern como objetivos as seguintes quest5es: em plimeiro lugar,
analisar 0 papel do professor no traballlO pedag6gico com a crianya diagnosticada
como dislexica; em segundo, pesquisar e esclarecer a diferenya entre disturbio de
aprendizagem e atraso simples na aquisiyao de leitura e escrita.
Os procedimentos foram estudo de referencial te6rico sobre os temas, e analise
do trabaLho de profissionais realizado com a crianya dislexica em sala de aula. Nos
capitulos 2 e 3 desenvolvem-se os estudos bibliograficos, no capitulo 4 faz-se 0 relato
das entrevistas com os profissionais investigados e no capitulo 5 analisa-se 0
problema. Com base nesses fWldamentos, interpretou-se 0 trabaUlO pedag6gico
desenvolvido com essas crianyas, a concepyao e encaminhamentos realizados para a
melhOIia da aprendizagem delas.
9
2 DISLEXIA: CONCEITOS, ETIOLOGIAS E CARACTERiSTICAS
2.1 HISTORICO DO CONCElTO DE DlSLEXlA
Muitos casas de dificuldades de aprendizado tern sido estudados dmante longos
periodos de pesquisa cientifica, por diferentes profissiol1ais das areas da Educayao e da
Saude resultando l1a elaborayao de diferentes traballlOs e na publicayao de muitos
livros sobre 0 assunto. Cerca de 10 a 15% da populayao mundiaJ e dislexica, sendo que
os mel1inos sao atingidos em maior proporyao que as menllas, pois a cada 100
dislexicos 66 sao homens e 44 mulheres (HUSTON, 2004).
Hoffer (apud HUSTON, 2004) afirma que "pode relacionar mais de 100
diferentes nomes, que dao r6tulos ao dislexico ... " Mas duas sao as designayoes mais
usadas para nomear essas dificuldades: Dificuldades de Aprendizado e Dislexia.
Os telmos Disturbio de "Deficit de Atenyao" e "Disrurbio de Deficit de Atenyao
com Hiperatividade" tem sido muito usados, i.nclusive qUaJldo associados it Dislexia.
o telmo Dislexia e preferencialmente usado entre profissionais, entre os
dislexicos e tambern pelos famiLiares dos dislexicos devido ao pr6prio significado
dil·etivo do prefixo "dys", do grego, significando imperfeito como disful1yao, isto e,
uma fllllyao anormal ou prejudicada; e "lexia", tambem do grego, referente ao uso de
palavras, mas nao somente em leitma. E palavras significam comunicayao atraves da
Linguagem; em leitura, sun, mas tanlbem na escrita, na fala, na linguagem receptiva.
Palavras que, na escola, sao usadas em todo ensino, como na matemlitica, ciencias,
estudos sociais ou em qualquer outra atividade.
10
No seculo XVIX , Pingle Morgan, medico ingles, atendeu LUnmenino de 14
anos que Ihe declarou nao compreender 0 que tilLha,que apesar de ter inteligencia, nao
conseguia ler e escrever. Por este garoto tao brilhante apresentar uma incapacidade
para ler, sua dificuldade foi qualificada de "cegueira verbal congenita" (Morgan apud
HOUT; ESTLENNE, 2001, p. 18).
Morgan relatou 0 caso do menino em uma calia ao British Medical Jomal de
1896 onde 0 ofialmologista Hinshelwood interessou-se pelo caso do menllo, e em
1917, publicou uma monografia reJatando vitrios casos de clianyas inteligentes e bem-
dotadas, as quais tambern tinham extrema dificuldade para ler e escrever, entao
classificou estes casos como "disturbio disIexico" (HOUT; ESTlENNE, 2001).
Hout e Estienne (2001) colocam tambem que por volta de 1900 surgiu outra
cOlTente, fonnada por educadores e pedagogos, que acolhe com ceticismo as
concepyoes medicas da dislexia. Hit duvidas sobre a hip6tese cerebral do deficit, que
evoca uma especie de doenya por seu carater congenito, incw·itvel.
Por outro lado, os autores afinnam que esses educadores terao que se
responsabilizar pel a pedagogia deficititria, um ambiente defeituoso, com falta de
motivayao, onde os dislexicos representariam apenas uma forma extrema de atraso de
leitura.
A Samuel Torrey Orton, wn neuropsiquiatra e nemopatologista americana na
Filadelfia, deve-se 11 instalayao definitiva da dislexia na hist6ria medica. Depois de
examinar cerca de tres mil dislexicos de todas as idades, entre 1920 e 1940, Olion
utiliza a expressao word blindness (cegueira verbal), mas destacando sempre que, com
exceyao da leitura, a percepyao visuoespacial das clianyas parecia excelente, por isso
11
pas sou a considerar 0 telIDo "transtornos especificos de leitura" (HOUT; ESTIENNE,
2001).
Na Ew·opa, sob 0 impulso de Mac Donald CIitchley, especialmente, 0 carater
il1esperado da dislexia e seu aparecimento em crianyas inteligentes e normais sao
especificados sob os auspicios da Word Federation of Neurology (1968). Surgiu wna
definiyao operacional da dislexia:
transtorno da aprendizagem da leitura que ocorre apesar de uma inteligencianornmJ, da ausencia de problemas scnsoriais ou neurol6gicos. de umainstrul'30 escolar adequada, de oportunidadcs socioculturais suficientes;alem disso, depende de uma perturbal'ao de aptidees cognitivasfundamentais, muitas vezes de origem constitucionaL (HOUT; ESTIENNE,2001 p.20)
Ja nos Estados Unidos, a dislexia foi reconhecida em 1960 como transtorno
especifico das aprendizagens da lingua escrita, em 1970, foi aprovada a lei n°· 91.230,
it qual se acrescentou, em 1978 wn paragrafo sobre 0 direito it educayao para todas as
clianyas com necessidades educativas especiais (HOUT; ESTfENNE, 200]).
Condemarim e Blomquist (1989), afiIlllaJn que, 0 teIlllO dislexia e apljcavel a
uma situayao na qual a clianya e incapaz de ler com a mesma facilidade com a qual
leem seus iguais, apesar de possuir uma inteligencia nOlIDal, saude e 6rgaos sensOliais
intactos, liberdade emocional, motivayao e incentivos nOimais, bern como instruyao
adequada.
Garcia (1998), define a dislexia como 0 deficit no desenvolvirnento do
reconhecimento e compreensao dos textos escritos, que surge por volta dos sete anos
de idade.
12
Outra definiyao e que a dislexia e urn t:ranstorno, urna perturbayao, urna
dificuldade estavel, isto e, duradow·a ou parcial e, pOliando, temporaria, do processo
de leitura que se manifesta na illsuficiencia para assimilar os simbolos gnificos da
linguagem (MARTINS, 2001).
Segundo Jean Dubois (aplid MARTiNS, 2002), a dislexia e um defeito de
aprendizagem da leitura earacterizado por dificuldades na conespondeneia entre
si.l11bolos graficos, as vezes mal reconhecidos; e fonemas, muitas vezes, mal
identificados.
o autor eitado afirma ainda, que a dislexia interessa de modo preponderante
tanto a diserimillayao fOlletica quanto ao reconhecimento dos SigtlOSgraficos ou a
transformayao dos signos escritos em SigtlOSverbais.
Na visao de Drouet (2001), a dislexia e urn conjunto de disturbios
new·opsicol6gicos apresentados no proeesso de aprendizagem, revelando-se por
dificuldades em leitura e escrita, ou seja, em extrair um Sigtlificado dos sinais gt·aficos,
sem que haja qualquer deficieneia inteleetual.
A dislexia, como dificuldade de aprendizagem, verificada na educayao escolar e
urn disturbio de leitura e de escrita que OCOlTena educayao infantil e no ensino
fundamental. Em geral, a crianya tern dificuldade em aprender a ler e escrever e,
espeeial.l11ente, em escrever conetamente sem en·os de OliOf,'Tafia,mesmo tendo 0
Quociente de [nteligencia (Q.l) acima da media (MARTINS, 2002).
Massi (2004), afuma que a bibliogt·afia ellvolvida com 0 aSStmto parece estar
um poueo confusa no que tern sido considerado dislexia como wn disrurbio de
13
aprendizagem. A autora ainda comenta que a mesma tenninologia - dislexia - e usada
pela literatura para diagnosticar sujeitos afasicos adultos, vftimas de les5es cerebrais.
De acordo com a Associav3o Brasileira de Dislexia, em 1994, a definiv30
utilizada pela International Dyslexia Association seria a seguinte:
Dislexia e um dos muitos distllrbios de aprendizagem. Eo wn distltrbioespecifico da linguagem, de origem constitucional, caracterizado peladificuldade em dccodificar palavras simples. Mostra lima insllficiencia noprocesso fonologico. Essas dificuldades de decodificar palavras simples naosao esperadas em relaC;ao it idade. Apesar de submetida a instruC;aoconvencional, adequada inteligencia, oportunidade socio-cultural e naopossuir distllrbios cognitivos e sensoria is fundamentais, a crianC;afalha noprocesso de aquisiC;ao da lingllagem. A dislexia e apresentada em variasformas de dificuldades com diferentes formas de linguagem, freqiientementeincluidos problemas de leitura, em aquisic;ao e capacidade de escrever esoletrar (aplld MASSI, 2004, p. 22 ).
Enfim, pode-se defmir a dislexia como urn transtomo especifico de linguagem,
que impede a crianva de ler e compreender com a mesma facilidade com que 0 fazem
as crianvas da mesma faixa etaria, independentemente de qualquer causa intelectual,
cultural ou emocional.
Apresenta-se a seguir a diferenva entre disuu'bio de aprendizagem e ah'aso
simples na leitura.
14
2.2 A DlFEREN<;::A ENTRE DISLEXLA E ATRASO SIMPLES NA
AQUlSI<;::AODA LEITURA E ESCRITA
Quase todas as clianyas, em sua fase de aprendizagem, tem no geral suas
dificuldades onde algumas sao passageiras e outras demoram mais para serem
superadas .
As dificuldades podem surgir em qualquer idade, mas isto nao sif,>nificaque a
crianya nao seja inteligente para outras aprendizagens, pois seu atraso e somente na
leitura. Ha tambem as dificuldades com a ortografia, a qual muitas pessoas podem
apresentar este atraso que, geralmente acompanha a de leitura, 0 que e compreensivel
por serem habi lidades relacionadas. Na dislexia estas dificuldades pellllanecem ate a
idade adulta (DROUET, 2001).
As dificuldades ocasionadas por estes atrasos sao passageiras, mas geram
muitos "enganos" nos diagn6sticos das mesmas, pois quando se repetem
freqiientemente alguns tipos de eITOS,os profissionais acabam confundindo a dislexia
verdadeira com os atrasos simples de leitura no inicio da aprendizagem, onde a crianya
Ie de fOl1lla deficitaria, porem compativel com suas capacidades intelectuais, 0 que e
extremamente normal no processo de aquisiyao da leitura. Se forem consideradas as
quantificayoes de dados e a idade dos transtomos, tais equivocos desaparecem
(J-fOUT; ESTLENNE, 2001).
De acordo com Massi, 2004, p. 11:
a questiio esta relacionada com situa~oes que podem representarinstabi1idades pr6prias de um processo de elabora~iio de novos
15
conhecimentos yiyenciado no ambito escoiar. Todayia, tais situa<;oesacabampor sofrer os efeitos de uma 110<;aOpatoiogizadora, na medida em que saocompreendidas a partir de llll1 racioci11io ciinieo reiacionado a quadrosafasicos.
Neste contexto, pessoas afasicas, sao aquelas que tiveram a1guma lesao
cerebral como por exemplo, acidente cerebra-vascular entre outras lesoes onde
passamos tambem a nomear como dislexia adquirida.
Pereira (1995), coloca que a dislexia tambem nao se deve confundir com as
dificuldades devidas a imaturidade illtelectual ou afetiva associadas 1I0rmalmente it
uma escolruizayao precoce. Ha criterios pedag6gicos que s6 autorizam a aplicayao do
conceito aos casos em que ha um atraso de leitura, ap6s dois anos it idade e ao nivel
escolru·, pois quando 0 defasamento e inferior a dois anos, esta dificuldade
provavelmente sera passageira e recuperavel.
A dislexia verdadeira, nao se conige espontaneamente e necessita de urn
processo reeducador, com especialistas da area. As dificuldades ou dislexia natural
como cita Jimenez apud (CfNEL, 2001 p. 19) sao apresentadas pelo aluno no inicio da
aprendizagem e sao conigidas espontaneamente junto ao auxilio do professor.
Segwldo Massi (2004), e preciso que seja elltendido que e absolutamellte
nOimal 0 individuo cometer enos, trocas de letras, substituiyoes, acrescimos, entre
oulros, no processo da aquisiyao da escrila, e em hip6tese a1guma deve-se
diagnosticar 0 que nao se sabe.
De acordo com a mesma autora :
16
a partir do entendimento de que a construs:ao da escrita implica um trabalho,em lim processo de am\lises e reflexoes constantes, e possivel afinnar qllcaprcnder a escrever significa cometer, de inicio, muitos "erros" decorrentesde diferentes hip6teses lanvadas sobre 0 material escrito. Essas diferenteship6tcses - resumidamcntc apresentadas - sao dependentes da rclas:iiosingular que cada aprendiz, de fom'la unica, estabelece com a oralidade, coma escrita, entre ambas e, tambem, com 0 outro que participa desse processo(MASSI, 2004, p.63).
Cabe ressaltar aiuda, que "tendo em vista que dados singulares sinaJizam
diferenc;:as individuais, as quais nos levam a compreender que nem todas as clianc;:as
seguem 0 mesmo percmso na apropriaC;:30da escrita" (MASSI, p.63).
Assim, podedamos dizer que todo dislex.ico e um mau leit~r, mas nem todo
mau leitor e dislex.ico. Uma ma leitura nao deve ser lIma pista final para 0
reconhecimento do mau leitor, mas e uma pista preciosa para 0 diagn6stico do
dislex.ico, desde que n30 seja precocemente.
Discutem-se a seguir os diversos estudos sobre as possiveis causas etiologias
da dislex.ia.
2.3 ETIOLOGIAS
Durante muito tempo, diversas teorias tern side desenvolvidas para
compreender as causas das dificuldades com a leitura e a escrita. As etiologias da
sindrome dislex.ica sao de diversas ordens e dependem do enfoque ou analise do
investigador. Muitas das conclusoes das causas da dislexia resultam de estudos
comparativos entre dislex.icos e leitores qlIe nao posslIem dificlIldades.
17
Deno·e as hip6teses levantadas, destacam-se as dificuldades: disrurbio
visuoespacial, disturbio fonol6gico, dificuldades com 0 estabelecimento de
representayoes fonol6gicas precisas na mem6ria de longo prazo, ou ainda, a
dificuldade na percepyao involuntaria e nao consciente dos sons da fala
(CAPOYlLLA; CAPOYlLLA , 2000).
Rout e Estienne (2001), colocam que entre os fatores deficitruios causais da
dislex.ia constam-se: disturbios instrurnentais, os quais abrangem principalmente os
disrurbios visuo-espaciais e temporais; deficit metaLingi.iistico; disrurbios nemol6gicos
e codificayao fonol6gica defeituosa.
POl·em,nern todos os estudos conseguiram identificar disrurbios visuo-espaciais
nos dislexicos, pois alguns estudos falharam em identificar diferenyas significativas na
organizayao visuo-espacial eno·e leitores proficientes e leitores com dificuldades.
Sendo assim, os disrurbios de organizayao visuoespacial que celtos dislex.icos
apresentam, nao tern natureza causal (CAPOYILLA; CAPO VILLA , 2000).
Nos anos 70, estudos comeyaram a enfatizar a impOltiincia do processamento
fonol6gico para a leitw·a e escrita, passando assim, 0 foco visual para 0 verbal. Smgiu
entao uma nova hip6tese de que as crianyas com dificuJdades de leitw·a e escrita
nao apresentavam wn disrurbio geral de processamento de infonnayao, mas sim urn
disrurbio especifico referente it infOimayao fonol6gica (CAPOYILLA; CAPOYILLA ,
2000).
Por volta dos anos 80, os estudos apresentaram progressos iniciando urn debate
sobre a natmeza dos disrurbios, a evidencia encontrada enfatizou que os bons leitores
desempenhavam melhor que os maus leitores em tarefas que requeriam a recuperayao
18
de itens fonologicamente simi lares, ou seja, palavras que rimam; tais resultados foram
obtidos apenas quando os estimulos us ados eram ern urn grande llIunero, suficiente
para sobrecalTegar a memoria de trabalho. POltanto, os disturbios de processamento
apresentados pel os maus leitores, nao pareciam ser especificamente fonologicos, pois
pareciam estar relacionados a sequencia de estirnulos, 0 que sugere um disturbio de
processamento temporal (GERBER, apud CAPOVlLLA; CAPOVILLA, 2000).
Share (apud CAPOVTLLA; CAPOVILLA 2000) sugere que os dismrbios de
consciencia fonologica, memoria de trabalho e acesso lexico em crianyas com
problemas de leitura e esclita estao ligados a dificuldades mais gerais de
processamento fonologico. Inclui-se neste, a percepyao e discriminayao da fala,
nomeayao e memoria verbal.
Nwna tentativa de estabelecer relayoes entre todos esses dismrbios, Share
(aplld CAPOVILLA; CAPO VILLA 2000) sugere ainda, que wna dificuldade de
processanlento temporal pode subjazer todos eles. Esta hipotese de Share tern sido
conoborada por uma selie de estudos e achados experimentais. Tais estudos sugerem
que urn disturbio mais global subjaz as dificuldades em todos os aspectos lingiiisticos
do processamento de informayao baseado na fala, incluindo a perCepyaO, a nomeayao,
a repetiyao, 0 armazenamento, a recuperayao e 0 acesso a infolTnayao. 0 dismrbio
fonologico selia conseqiiencia de um disturbio temporal mais geral, independente de
sua natureza ser verbal ou nao-verbal, explica-se nesta hipotese, as dificuldades
fonologicas, especialmente nos dislexicos que apresentam tambem dificuldades com 0
processamento visual temporal.
19
Foram apresentados diversos fatores de natureza psicomotora na origem das
dificuJdades de aprendizagem na leitw·a, entre eles a motricidade geral, a orientayao
direita-esquerda, a percepyao temporal, a organizayao perceptiva, 0 esquema corporal
ou a lateralidade. Porem as evidencias empilicas dao muito pouco apoio a
possibilidade de que esse tipo de fatores ocupe al!,'UIllpapel na origem das dificuJdades
de aprendizagemna leitura (BERNARDO; ERRASTI apud GARCiA, \998).
Segwldo NlCO (2000), a dislexia nao e 0 resuJtado de ma aJfabetizayao,
desatenyao, desmotivayao, condiyao s6cio-econ6mica ou baixa inteligencia. Ela e uma
condiyao hereditaria com alterayoes geneticas, apresentando ainda alterayoes no
padrao neurol6gico.
A presenya de tantas teorias diferentes e as vezes contradit6rias sobre as
possiveis causas das dificuldades de consciencia fonol6gica e de leitura e esclita e
devida, em grande parte, a complexidade da area. Existem abundantes evidencias de
uma cOITelayao positiva entre habilidades de leitw·a, esclita, consciencia fonol6gica e
outras habilidades. Porem ail1da pennanecem em aberto as questoes sobre as causas
das dificuldades apresentadas pelos dislexicos (CAPO VILLA; CAPOVILLA, 2000).
A respeito dos estudos diversos sobre as causas da dislexia, Massi (2004),
defende que apesar de se ter apresentado uma selie de hip6teses na tentativa de
explicitar as causas da dislexia como um disturbio especifico de aprendizagem, os
estudiosos nao chegaram a nerulUma conclusao, pOIianto essas explicayoes nao passam
de meras suposiyoes.
A autora ainda afuma que:
20
diante de lim cenario etiol6gico tao diverso e contradit6rio, antes deconceber a crian~a como portadora de lim disrurbio, e imprescindivelcomprcender 0 trajeto tri[hado por cia para se apropriar da linguagem escrita,bem como os efeitos de pn\ticas discursivas que circundam esse trajeto(MASSI, 2004, p.18).
No pr6ximo item, discutem-se as caracteristicas dislexicas.
2.4 CARACTERiSTICAS DA DlSLEXLA
Clianyas dislexicas apresentam combinayoes de sintomas, em intensidade de
n.iveis que variam entre 0 sutil ao severo, de modo absolutamente pessoal. Em algumas
delas hit urn numero maior de SiJltomas e sillais que podem se agravar com 0 decolTer
do processo de crescimento da crianya; em out:ras, sao observadas somente algwnas
caracteIisticas.
Quando os sinais aparecem apenas enquanto a clianya e pequena, ou algWlS
desses sintomas manifestam-se somente algWJlas vezes, nao significa que a clianya
possa ser dislexica, pois hit crianyas que se desenvolvem mais lentamente no seu
processo de aprendizado do que clianyas de sua idade.
SegWJdo Condemarin e Blomquist (1989, p.22), "a caracteristica mais
marcante do dislexico, seu sintoma mais not6rio e a acumulayao e persistencia de seus
erros ao ler e escrever".
EntTe os sintomas possiveis que 0 individuo comeya a apresentar logo no
inicio da illIallCia, Condemarim e Blomquist (1989) afumam:
atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatiJlhar, sentar e andar;
21
atraso ou deficiencia na aquisiyao da fala, desde 0 balbucio it pronullcia de
palavras;
parece dificiJ para essa clianya entender 0 que esta ouvindo;
suscetibilidade a alergias e a infecyoes;
tendencia it hiper ou a hipo-atividade motora;
dificuldades de adaptayao nos primeiros anos escola.res.
Ao illgressar na escola, comeyam aparecer diversas dificuldades. Analisando a
leitura oral de um dislexico revela-se as seguil1tes:
confusao entre letras, silaba ou palavras com diferenyas sutis de gratia: a-o; c-o;
e-c; f-t; h-n; i-j; m;n; v-u.
confusao entre let:ras, silabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente
orientayao no espayo: b-d; b-p; b-q; d-b; d-q; n-u; w-n; a-e.
confusiio entre len·as que possuem um ponto de alticulayao comum, e cujos
sons sao acusticamente proximos: d-t; j-x; c-g; m-b-p; v-f.
conversoes parciais ou totais de silabas ou palavras: me-em; sol-los; som-mos;
sal-las; pal-pia.
substituiyao de palavras por outras de esn·utura mais ou men os similar ou
criayao de palavras, porem com diferente significado: soltou/salvou; eraJficava.
contanlinayoes de sons. Ex: menino - menlllano.
adiyoes ou omissoes de sons, silabas ou palavras: fanlOSO-fa1l1a;casa-casaco.
repetiyoes de silabas, palavras ou frases.
pular uma linha, ren·oceder para a linlla anterior e perder a linJla ao ler.
22
excessivas fixa«oes de olho na linha.
soletrao;;ao defeituosa: reconhece let:ras isoladamente, pOl·em sem poder
organ.izar a palavra como urn todo, ou entao Ie a palavra silaba por silaba, ou
ainda Ie 0 texto palavra por palavra.
problemas de compreensao.
leitura e escrita em espelho em casos excepcionais.
ilegibilidade e lentidao para realizar os deveres;
em varios casos, e mais facil bern t:ransmiti.r0 que sabe atraves de exames orais;
Jolmson; Myklebust apud CONDEMARIM; BLOMQUIST (1989), afumam
que as caracteristicas na leitura dos dislexicos, raramente, apresentam-se isoladamente,
sendo acompanhadas por outras perturba«oes que alteram a aprendizagem, as mais
comuns sao:
desliga-se facilmente, entrando "no mundo da lua" perdendo-se no espao;;oe no
tempo; sempre perde ou esquece seus peltences;
embora alguns sejam atletas, outros mal conseguem chutar, jogar ou apanhar
uma bola;
tern grande imagi.nao;;aoe criatividade;
confunde direita-esquerda, em cima-embaixo; na frente-at:ras; sendo comum
apresentar lateralidade cruzada;
dificuldade para ler as horas, para sequencias como dia, mes e esta«ao do ano,
bem como lembrar delas;
23
dificuldade em aritmetica basica ou em matematica mais avanyada;
e capaz de caIculos aritmeticos, mas nao resolve problemas matematicos ou
algeblicos; embora resolva calculo algebrico mental mente, nao elabora calculo
3litmetico;
dificuldades p31'a andar de bicicleta, para abotoar, p31'a amaIT31'0 cordao dos
sapatos;
manter 0 equiliblio e exercicios fisicos sao extTemamente dificeis para muitos
dislexicos;
Na maioria das vezes, os problemas emocionais aparecem no dislexico depois
de seus tiacassos escolares. As crianyas dislexicas tendem a exibir um quadro mais ou
menos tipico, com vmiayoes de wn paciente para outro, cujas reayoes caracteristicas
seliam:
atitudes depressivas frente as dificuldades, pois, mostra-se triste, deprimido,
preocupado,
atitude agressiva dimlte do professor e colegas de classe revelaJ1do relacho,
hostilidade, negativismo.
diminuiyao da auto estima, assim, evita situayoes de competiyao e de
aprendizagem.
Na visao de Massi (2004), muitas afirmayoes sao equivocadas a respeito dos
sintomas da dislexia dando-nos a impressao de que a escrita e urn espelho da fala,
24
ocolTendo a prutir disto, tantas trocas e omissoes ou acrescimos de let:ras nas palaVl'as,
que sao denominados como caracteristicas dislexicas.
Cagliari aplid MASSI (2004, p.73) afilma que: "apesar de 0 nosso sistema de
escrita ter um compromisso direto com os sons da lingua, a relayao entre as letras e os
sons da fala nao e pareada".
No pr6ximo item, discute-se as diversas classificayoes da dislexia.
2.5 CLASSIFICA<;OES DE DTSLEXIA
Basicamente, sao apresentados dois quadros diferentes de dislexia: a dislexia
adquirida e a dislexia especifica de evoluyao.
A dislexia adquilida e um disturbio que se caracteriza pel a incapacidade de ler
ou deteliorayao da funyao de ler, resultante de um acidente vascular cerebral ou
traumatismo cerebral. Foi estudada no fmal do seculo XIX por neurologistas, mas as
pesquisas comeyarrun a ser realizadas a prutir da decada de 70 (ELLIS,1995).
Quando os neuropsieol6gicos eognitivos investigaram a dislexia adquirida,sua abordagem nao c tanto perguntar que parte do eerebro esta danifieadaem que fomla de transtomo da leitura, mas indagar que parte ou partes doproeesso nomlal de Icitura foram dallifieadas ou perdidas (ELLIS, 1995p.47).
A dislexia especifica de evoluyao refere-se a distitrbios de leitura e de esclita
que OCOITemno decolTer das selies iniciais. Ela e especifica pOI'que se b'ata apenas de
dificuldades apenas na leitura e esclita e de evoluyao porque estas dificuldades podem
25
aumentar ou nao confOime a idade (DOMINONI, 1996).
Os principais padr6es de disfun~ao na leitw'a podem ser divididos em dislexias
perifericas e centrais. Nas dislexias perifericas, os disturbios oconem na analise visual
ou no reconhecimento das palavras (Moraes apud CAPO VILLA; CAPO VILLA, 2000
p.28).
Podemos nomear pOl' dislexias pelifelicas a dislexia de negligencia, dislexia
atencional e leitura letra-a-letra (ELLIS, 1995).
2.5.1 Dislexia de neg1igencia
Os disturbios tambem estao no sistema de analise visual, oconendo enos
sistematicamente em certas partes da palavra, geralmente na parte inicial.
(CAPOYILLA; CAPOYILLA, 2000).
Flude (apud ELLIS, 1995) relata que wna paciente que sofrera um acidente
cerebra-vascular que afetara 0 lado direito do seu cerebra apresentou dificuldades,
contudo, essa paciente ja tinha problemas com a leitura. Assim, sua capacidade para
falar e compreender as palavTas nao estava afetada, pois e 0 lado esquerdo do cerebro
que cont:rola 0 usa da linguagem e as dificuldades apresentadas pela paciente ap6s 0
acidente provavelmente eram as mesmas que ela ja possuia.
2.5.2 Dislexia atencional
26
Consiste em dificuldade de codificayao das letras nas palaVl-as, podendo haver
migrayoes de letras na mesma palaVl"a e dificuldades em distinguir qual e a con-eta
posiyao em que uma dete1111inadaletra ocupa na palaVl-a_Os disturbios da dislexia
atencionaI sao bastante observados quando hit ill11grande numero de palaVl"asou lel:ras,
dificultando 0 processamento de infOimayoes (CAPOVILLA; CAPOVlLLA, 2000)_
De acordo com Ellis, (1995 p_ 49), "uma vez que acabamos de auibuir a
dislexia a um u-anst01110da atenyao, pode ser bastante esu-anho encontrmmos a
pr6xima variedade de dislexia adquirida chamada de dislexia de atenyao"_ A autora
tambem afinna que a diferenya enu-e os leitores nOimais e os dislexicos atencionais, e
que estes cometem os erros mesmo quando e proporcionado um tempo ilimitado para a
leitura das palaVl-as,no caso destes leitores, 0 processo de atenyao e deficiente_
2 _5_3 Leitura letra-a-Ietra
Capovilla e Capovilla (2000), afumaIn que, neste tipo de dislexia, hit disturbios
no reconhecimento das palaVl-as,ou seja, no processamento das mesmas_ A leitura s6 e
feita ap6s a soleu-ayao de cada leu-a individualmente, quanta mais longa e a palaVl-a,
mais tempo leva-se para identificit-Ia_ Hit tambem uma grande dificuldade em ler
palaVl-as escritas em leu-a cursiva, pois a separayao das leu-as enu-e elas nao e
facilmente visive1.
Embora 0 reconhecimento das palaVl-as seja lento e propenso a e\TOS, 0
individuo Ie palaVl-as inegulares com 0 mesmo sucesso ern que Ie palavras regulares
(ELLIS, 1995)_
27
As dislexias centrais sao tun agrupamento de transtoll1os que, alem de estar
drulificado 0 sistema de analise visual, como nas dislexias perifericas, resulta em
dificuldades que afetam a compreensao e a comunicayao de palavras esclitas
(SHALLICE; WARRINGTON apud ELLIS, 1995 p. 48).
Nas dislexias centrais, os disturbios OCOITemem componentes das rotas
fonol6gicas' e rotas lexicais2 Quando ha apenas uma rota apresentando dismrbi os,
denomina-se sindrome de componente unico, entre estas estao as dislexias fonol6gicas
e mOifemicas. Quando ambas as rotas apresentam problemas, as dislexias sao
denominadas de sindrome de componentes multiplos onde estao incluidas as dislexias
profundas e superficiais (CAPOVILLA; CAPO VILLA, 2000).
Como ja falamos, alem das dislexias perifericas ha tambern as dislexias
centrais, dislexia profunda.
2.5.4 Leitura nao-semantica
Existe tun deficit no componente do sentido das Palavras e da interpretayao das
sentenyas e dos enunciados.
1 Rotas fonol6gicas: A rota fonol6gica e a que permite a leitura de lextos, segmentando-os, por for<;a damctalinguagem, em seus componentes (panigrafos, periodos, orac;5es, [rases, sintagmas, paJavras, morfcm3s),como tambem em siJabas ou em sons da raJa. (CAPO VILLA; CAPOVlLLA, 2000).
2 Ralas lexicais: E uma rota global e ll1uito r{lpida j::l que pennite 0 reconhecimcnto global da palavra e Suapronunciac;ao imediata scm necessidade de analisar as signos (significante e significado) que a comp6cm(CAPO VILLA; CAPO VILLA, 2000).
28
Segundo Ellis (1995), 0 individuo e capaz de ler palavras regulares e irregulares
em voz alta, pOI'ema compreensao destas palavras e muito escassa, pois apresenta um
prejuizo semantico. Contudo preserva as conex5es entre 0 sistema de anitbse visual e 0
nivel de fonema.
2.5.5 Dislexia de sllperficie
CapoviJla e Capovilla (2000), colocam que hit serios distlirbios na rota lexical
e algum disturbio na rota fonol6gica. Hit u.ma tendencia em nao diferenciar a dislexia
superficial da dislexia mOIfemica, pois os en-os demonstram efeito de regularidade e
ausencia de efeito de lexica1idade.
Ellis (I 995, p. 51), afinna que "os dislexicos de superficie mostram um alto
uso do procedimento sublex.ical' ao lerem em voz alta, isto e, na conversao de let:ra-
som, usando a via que conecta 0 sistema de am\]ise visual ao nivel do fonema ".
2.5.6 Dislexia fonol6gica
Apresenta dificuldades na leitura pela rota fonol6gica, port311\:Oa rota lexical e
preferencialmente usada.
3 Procedirncnlo Sublcxical: as palavras de baixa frcqticncia tendem a ser !idas ulilizando-se a mcdiw.;aofonol6gica na mcdida em que os sujcitos m10 possuem representac;oes ortognlficas destas palavras estocadas namemoria, pais cslas representa~Oes sao farmadas a partir de exposi~oes rcpetidas as palavms cscritas (
lmll). M- '--1).
29
A leitura de pseudopalavras' e de palavras desconhecidas e problemittica, porem
as palavras familiares sao lidas 1I01l11almenteindependente do niunero de letras e
silabas, pois sao observados os efeitos de lexicalidade e freqiH~ncia. A dislexia
fonol6gica representa 67% dos quadros dos dislexicos (CAPOVTLLA; CAPOVTLLA,
2000).
2.5.7 Dislexia profunda
Hit selios distUrbios no processo de conversao grafema-fonema e algum
disrurbio na rota lexical. A leitura e extremamente prejudicada ocorrendo diversos
en·os semanticos
(CAPOYILLA; CAPOYILLA, 2000).
Ellis (1995), coloca que a incapacidade de ler nao-palavras em voz alta faz
com que os dislexicos profundos percam a capacidade para a conversao sublexical da
leu·a para 0 som. Como os dislexicos fonol6gicos, os profundos tambem consideram as
pseudopaJavras viltualmente impossiveis de serem lidas.
De acordo com Hout e Estielme, (2001, p. 116).
a incapacidade dessas criaJl(;as dislexicas profundas de ler niio-palavras,cxclui nelas a utiliza~iio do c6digo fonol6gico; clltrctanto, tal aptidiio paracxtrair lim scntido para as palavras fora do contexto atesta que utilizam umavia de identifical'iio, mas tambem comprova sua ineficiencia parcial.
., Pscudopalavras: palavras scm scnlido; ralsas palavras (MARTINS, 2003).
30
Ha autores que colocam outras c1assiticac;:oes sendo, dislexia visual e dislexia
auditiva. Ja os autores Capovilla e Capovilla (2000), associ am a dislexia visual como
peliferica. Estes te1ll10Snao se tratam de deticiencias na visao ou na audic;:ao,mas de
pelturbac;:oes psiconeurol6gicas, responsaveis pelas percepc;:oes visuais e auditivas
defeituosas ou comprometidas (CINEL, 2001 p. 22).
2.5.8 Dislexia visual
Consiste em disrurbios no sistema de percepc;:aovisual das palavras, intelfelindo
no processo de leitura. Os erros de leitura mostram wna semeJhanc;:a visual entre a
escrita da palavra pronw1ciada e da palavra alvo (CAPOVlLLA, CAPOVlLLA, 2000).
Acredita-se que a dislexia visual e uma disfunc;:ao com origem no sistema
nervoso central, caracteliza-se como urn dos disturbios que frequentemente, il1telferem
na habilidade para leitura, e proveniente da deticiencia da percepc;:ao visual
apresentada por crianc;:as que enxergam os textos e as palavras, mas nao os
compreendem (ClNEL, 2000).
2.5.9 Dislexia auditiva
Caracteriza-se tambbn como urn dos disturbios que intelfere na fala e na
leitura, a clianc;:a ouve, mas nao distingue semelhanc;:as e diferenc;:as entre sons; nao
disClimina sons em palavras e nao divide palavras em silabas (C1NEL, 2000).
31
No proximo capitulo sen! discutido a t:rabalho com a crian"a que apresenta
dificuJdades de aprendizagem.
32
3 0 TRABALHO COM A CRIAN(A QUE APRESENTADlFICULDADES DE APRENDlZAGEM
3.1 0 PAPEL DA ESCOLA
Segundo Martins (2003), a escola precisa devolver it cIianya a competencia
metalingilistica, ou seja, descrever quaJquer sistema de significayao de wna linguagem
e com isso sent. cumprido 0 papel de desenvolver a capacidade do educando de ler para
aprender, de escrever para aprender, de aprender a aprender. RevelaT que a lingua Ii:
hist6rica, que seu alfabeto tern origem grega, tern illfluencia hebraica, tern marcas dos
signos semiticos e traz tambem as marcas pictogritficas de hier6glifos egipcios, Ii: de
extrema impOltilncia para 0 reconhecimento das letras, para decodificayao, primeira
etapa da leitura proficiente.
A hist61ia das letras do alfabeto devem fundamentar as aulas de lingua matema
na educayao infantil e no ensino fundamentaL Deste modo, 0 professor e a familia
perceberao com maior facilidade, quando 0 processo escritor da crianya estiver
associ ado it urn quadro da deficiencia lingiiistica.
o autor ainda afilma, que as clianyas precisarn aprender essas illfOlmayoes da
linguagem, da leitma e da escrita com clareza e de fOlma prazerosa, llidica, pois Ii: nas
escolas, com bons professores, que aprenderao que essas infollllayoes Ihes darao
habilidade para a leitma e para a vida fora da escola.
33
Nesta mesma direyao Drouet, (200 l, p. 155), ressalta que "para ensinar as
criallyas com disturbios de aprendizagem, e preciso conhecer os processos
educacionais". A autora comenta ainda, que a alfabetizayao das clianyas est'!
ocolTendo cada vez mais cedo prejudicando-as, pois com isso os adultos sem
con.hecimento acreditam estar acelerando 0 desenvolvimento das mesmas.
Calafange (2004), afiJma que, muitas vezes os pais e os professores nao sabem
o que fazer com a crianya que esta apresentruldo dificuldades de aprendizagem e com
isso acabam sem querer atingindo-a e ferindo sua auto-estima perante aos demais.
Deste modo, os educadores precisam buscar por conta propria, infOlmayoes
necessarias pru·a que este quadro se modifique. E necessario ter 0 compromisso e
buscar novas fOlmas de aprendizagem e novos progrrunas e processos de ensino que
possam colaborar pru·a estas clianyas pelmanecerem no mundo das leb·as, ajudando-as
a sobreviver denb·o deste unico modele de escola que se nos apresenta.
ConfOlme CiJlel (2001, p. 21), "ao professor, cabe conhecer a dificuldade,
verificar se 0 problema e eventual ou persistente, e encaminhar a quem de direito,
depois de constatar a penTIaJlencia da situayao".
Conforme Martins (2003), al/:,rumasescolas ainda nao respondem com eficacia
ao desafio de traballlar com as necessidades educacionais das criaJlyas com as
dificuldades de linguagem, pois muitos ainda sem querer desenvolvem metodos que ao
inves de ajudar acabam atrapalhando 0 processo de leitura e esclita. Alem disto 0
professor precisa estar atento pru·a distinguir se estas dificuldades sao passagei.ras ou
nao.
Massi (2004), ressalta que os elTos dos altmos que estao aprendendo a escrita
34
sao tornados por profissionais vinculados ao ensino como sintomas de distiLrbios ou
incapacidades, pois desconsideram 0 processo de interaQao bem como a sua hist6ria de
vida e sua hist6ria de relaQao com a escrita que esta sendo apreendida.
Apresenta-se a seguir 0 papel da familia e sua impOltiincia no trabalho com a
crianQa dislexica
3.20PAPELDAFAMILIA
As familias tem um impOltante papel na f01l113Qaoescolar de seus filhos. Desse
modo, e necessario qlle os pais estimulem os sells filhos desde pequenos a buscarem
conhecimentos para 0 processo de aqllisiQao da leitura e esclita. Aos filhos, com
dificuldades na leitura e esclita, os pais podem abru' a gram atica, na palte relativa it
fonologia, ever 0 qlladro das consoantes da lingua portugllesa (MARTINS, 2003).
Os pais precisam 1I1t:rapassaros Iimites da culpabilidade e enfrentar, junto com
sells fiLhos, sllas dificuldades, e mostrar que 0 amor por eles nao ex.iste em funQao de
suas notas escolares. Essa e uma associaQ30 muito perigosa, pois quando os pais
comeQam a reclamar que a escola nao tem dado apoio aos sells filhos com dificuldades
na leitura e escrita, os filhos sentem-se culpados desta situaQao (CALAFANGE, 2004).
Discute-se a seguu', 0 processo de reeducaQ30 do dislexico.
35
33 0 PROCESSO DE REEDUCAC;:AODO DISLEXICO
A dislexia e uma barreu·a no processo de aquisiyao da leitma e na esclita, por
isso, e necessario que se faya um trabalho de reeducayao Iingliistica com estas
crianyas, a fim de fonnar a consciencia fonol6gica e amenizar estes obstaculos.
A reeducayao do dislexico e empregada no senti do de lima atividade planejada
com 0 objetivo de ajudar 0 Ieitor inabil a se tomar um leitor habil, sendo feita nos
casos em que a clianya nao levou adiante 0 seu processo de alfabetizayao (CUBA DOS
SANTOS, apud DOMINONT, 1996).
Para Condemarin e Blomquist, 0 objetivo principal da reeducayao e solucionar
as dificuldades localizadas no diagn6stico que impedel11 0 desenvolvimento nonnal do
processo da leitma. Segundo os mesmos autores "existe uma grande variedade de
tecnicas terapeuticas para as dificuldades de aprendizagem de leitma da crianya
dislexicas" (1986, p. 26).
Os auto res ail1da afirmam, que para a crianya ler com eficiencia, e necessario
dominru· as tecl1icas de reconIlecimento das palavras. Este reconhecimento implica
preferentemente dominio dos elementos foneticos e estrutmais das palavras, regras de
acentuayao, silabayao e aquisiyao de um amplo vocabulalio visual. A partir disto, a
crianya vai dominaJ1do os aspectos relacionados com a compreensao do conteudo lido,
adquirindo habitos eficientes e adequando sua velocidade segundo 0 grau e prop6sito
da leitura.
Para ter bons resultados no tratamento, e necessario que 0 reeducador, ou seja, a
pessoa que se dedica a conigir as dificuldades das clianyas no processo de leitw-a e
36
escrita, esteja preparado e tel' sempre pOI'base, 0 conhecimento sobre 0 quadro clinjco
da ilislexia. E indispensavel tambem que conheya as diversas tecnicas que pode
reCOITercom pretensao a levar 0 aluno a superar suas dificuldades (DOMINON],
1996).
E importante tambem, 0 reeducador tel' uma boa relayao com a crianya, e esta
deve a.!:,>ircom reciprocidade, pois este e um fator significativo para que a cIianya se
recupere, pOltanto e preciso haver muita dedicayao por pmte de ambos os lados. 0
reeducador tambem nao pode se deixar levar pela mlsiedade da familia e pela
descrenya por pmte das pessoas que rodeiam a crianya. Vale ressaltar que 0 processo
de reeducayao e lento e alem do reeducador, e necessaria a presenya de um psic610go
que pode cooperar junto com os pais no caso da nao aceitayao do iliagn6stico e um
fonoaudi610go que auxilia os alunos em diversos casos. 0 reeducador ira orientar os
pais para 0 auxilio nas praticas do cotidiano, anotando as maiores dificuldades da
crianya (DOMlNONl, 1996).
Este metodo de reeducayao e chmnado taIllbem por Pmtlexia, construido pela
educadora inglesa PaIllela Kvilekval a paltir de 1968. 0 programa apresenta cinco
Iliveis de reeducayao baseado na consciellcia fonol6gica e lIa fOlletica propicimldo a
cliallya a leitma e esclita cOlTetas, pois as crianyas dislexicas possuem UI11problema de
decodificayao, ou seja, nao reconhece as letras (JORNAL DO PROFESSOR, 2004).
o sucesso na reeducayao de lUn dislexico esta baseado numa terapia
multisensorial, ou seja, aprender pelo uso de todos os senti dos, combinando sempre a
visao, a auiliyao e 0 tato para ajuda-lo a IeI' e solet:rar cOlTetamente as palavras. 0
dislexico precisa olhm· atentamente, ouvir atentamente, atentm· aos movimentos da
37
mao quando escreve e prestar atenyaO aos movimentos da boca quando fala. Assim
sendo, a crial1l;:adis lexica associani a f0ll11a escrita de wna letra tanto com seu som
como com os movimentos da mao para escreve-Ia. 0 aprendizado deve ser feito de
fonna sistematica e cwnulativa. Sendo ainda cada caso lun caso especifico, devem ser
levadas em considerayao as particularidades de cada Wl1 (NICO, 2000).
No proximo capitulo apresentam-se as entrevistas com profissionais que atuarn
com Crial1yaSque possuem 0 diagnostico de dislexia.
38
4 ENTREVISTA COM PROFISSIONAIS
Ap6s 0 estudo do referencial te6rico sobre 0 assunto abordado neste trabalho,
foram realizadas as entrevistas com profissionais que atuam no trabalho com criallyas
que possuem 0 diagn6stico de dislexia. 0 roteiro das pesquisas foi elaborado a partir
da bibliografia exposta e com pergwltas abeltas.
o contato com 0 fonoaudi610go deu-se aU'aves de wna indicayao de um colega
do profissional.
o conhecimento do caso de L.C.S foi por meio do contato com lima funcionaria
da escola onde a crianya estuda. A fllncionaria intermediou 0 contato com 0 professor.
No pr6ximo item, apresenta-se 0 relato de lim profissional na area de
fonoaudiologia.
4.1 RELATO DE UM PROFISSIONAL NA AREA DE
FONOAUDlOLOGIA
A ent:revista com 0 fonoaudi610go (ver anexo A) foi realizada na clinica de
fonoaudiologia onde u·abalha. Ele relatou 0 u'abalho que e desenvolvido na clinica
com crianyas "ditas dislhicas", e que utiliza 0 tenTIOditas dislexicas porque na clinica
os profissionais estao desenvolvendo pesquisas que identificam a ouu'a face da
dislexia, ou seja, ha necessidade de revisao sobre os conceitos que se faz sobre a
39
dislexia e que esta nao pode ser vinculada a illll disturbio de aprendizagem, mas que
faz palte do processo de aquisir;:ao da leitura e escrita.
Quando foi question ado sobre 0 diagn6stico destas clianr;:as, 0 profissional
comentou que nao e possivel diagnosticar todas as pessoas que tem dificuldades na
leitura e escrita como sendo dislexicas, pois e necessario levar em conta a !list6ria da
pessoa bern como analisar se ela esta em processo de leitma e escrita ou nao. Sobre os
estudos das diversas causas da dislexia, 0 fonoaudi610go afill110Uque sao bastante
cont:radit6rias e que nao tern como saber a causa de uma coisa que nao se pode
considerar patol6gica.
A respeito das caracteristicas dislexicas, ele afilma que trocas de let:ras,
omissoes, confusoes na escrita e leitura e normal para a crianr;:a que esta em processo
de construr;:ao da linguagem, e comenta que a esclita nao e 0 espelho da fala, pOitanto
o que vale e 0 que a clianr;:a expressou.
o profissional desenvolve pesquisas e afinna que na clillica fonoaudi610ga onde
atua, atende clianr;:as cujos professores acham que elas nao estao respondendo ao
esperado pel a escola e por isso, sao percebidas como dislexicas. A idade das crianr;:as
atendidas varia entre sete e treze aI10S
Ainda, em relar;:ao ao trabalho pedag6gico com a CriaIlr;:a dislexica, 0
fonoaudi610go afml10u que, pelo fate da dislexia nao ser de origem genetica nao enecessil.lio fazer avaliar;:oes orais em sala de aula, pois a clianr;:a precisa ter wn grande
contato com a lingua gem escrita e nao ser afastada desta.
Relata-se a seguir a entrevista com 0 professor de wna clianr;:a dislexica.
40
4.2 EXPERIENCIAS DO PROFESSOR DE UMA CRlANC;A DISLEXICA
Segundo 0 relato do professor de LCB (ver anexo B),uma men ina de 11 anos
que esta cursando a 2" s6ie pela segunda vez, comeyou a apresentar dificuldades logo
no inicio do ingresso a escola. Na epoca L.C.B estudava na cidade de Matinhos onde
repetiu duas vezes a I" serie.
Sua familia mudou-se para Curitiba onde a aluna passou a estudru· no CentTo de
Educayao Integral Pedro Dallabona, nesta escola a aluna repetiu a 2" serie, a prutir
deste momenta a escola procw·ou os pais para ter um parecer.
A menina foi encanunhada para wn psicopedagogo, pois como ela era muito
ansiosa, acharam que poderia ser hiperativa, mas os exames nao detectaram a
hiperatividade. Apos algum tempo, encaminharam-na para um Centro de
Fonoaudiologia, pois perceberam que era bem mais f:'Lcilpara LCB falru· do que
escrever. (ver anexo C e D). No decolTer das investigayoes 0 pai comentou que sua
mae, ou seja, a avo patema de LCB. e dislexica. Oepois das avaliayoes que foram de
nivel mental, motor, emocional, sensorial alem de avaliayoes pedagogicas, veio 0
diagnostico.
Apos 0 diagnostico, 0 professor de L.CB procurou um fonoaudiologo que
atendeu a menina para aprofundar mais seus conhecimentos sobre 0 que e a dislexia e
como pro ceder na metodologia com essa aluna. 0 fonoaudiologo deu-lhe algumas
sugestoes de trabalho.
A partir deste momento, 0 professor passou a realizar divers as avaliayoes
oralmente com a aluna. 0 professor relatou que a aluna interpreta muito bem os textos
41
na oralidade, bern como efetua contas e problemas matematicos simples, tendo
tambem um lado aItistico e perceptivo muito bom (ver anexos E e F). Ainda sobre suas
caracteristicas, 0 professor afilmou que L.C.S telmina suas taI·efas (algumas orais) e
ainda se oferece para ajudar as outras crianyas, 0 seu problema e apenas na leitw·a e na
escrita (ver anexos G, H e I). 0 professor ainda completou "sem olhar os cademos,
pode-se afumar que ela e a primeira da classe".
Contudo, 0 professor afuma que e preciso estar atento antes de diagnosticar
uma criallya pois e llonnal dificuldades 1.10 inicio da alfabetizayao.
A seguir aIlalisa-se 0 problema deste Trabalho de Conclusao de Curso.
42
5 ANALISE DO PROBLEMA
Segundo autores pesquisados, a dislexia e urn disrurbio de leitura e esclita que
se manifesta fOltemente por volta dos sete e oito alios de idade, quando a pessoa nao
consegue compreender 0 que esta esclito, na.o identificando os simbolos e alguns
fonemas independente de sua intelectualidade, bern como aspectos socirus e
emocionais. Neste contexto hit excec,:aode Massi (2004), que afim1a que a bibliografia
sobre 0 assunto parece estar urn pouco confusa no que tern sido considerado dislexia
como um disturbio de aprendizagem. Massi runda comenta que a terminologia
"ilislexja" e usada pela literatura para diagnosticar sujeitos afasicos adultos, vitirnas de
lesoes cerebrais, e crianc,:asque estao se apropriando da Iinguagem escrita.
o fonoalldi610go entTevistado afilmou que ha necessidade de revisao sobre os
conceitos que se faz it dislexja.
Contudo, todos os autores afinnam a necessidade de observar a faixa etaria que
as clianc,:as comec,:ama apresentar as dificuldades, pois nem todas estas sao sin6nimos
de disrurbios, podendo valias pessoas confundir 0 atraso de leitura, no inicio da
escolmidade, algumas vezes precocemente, corn a dislexia e fazer um diagn6stico
precoce e dllvidoso.
Os profissionrus entrevistados relatam que e preciso estar atento, pois e nonnal
a escrita espelhada e tTOcas de len'as na fase da alfabetizac,:ao. Alem disso, algumas
clianc,:as demoram mais do que oun'as para compreenderem a linguagem, e tambem
isto e 1100mal.
43
Em relayao aos fatores que causam a dislexia, autores colocam seus diversos
estudos realizados, nas quais as causas variam desde a hereditariedade ate fatores de
natureza psicomotora, gerando algumas cont:radiyoes entre os autores. No entanto,
mesmo ap6s anos de estudos etiol6gicos, os pesquisadores nao chegaram ai.nda a Wlla
conclusao defmida. Por existir WIl cellario Illuito diverso e contradit6rio, e
considenlvel que essas explicayoes nao passem apenas de suposiyoes.
o fonoaudi610go comentou que os estudos sobre as diversas causas nao foram
esclarecidos, e com isso geram muitas contrariedades. 0 profissional afinnou que nao
tem como saber a causa de algo que nao se pode considerar patol6gico.
o professor de L.C.B sugeriu que a causa da menina ser dislexica poderia ser a
hereditariedade, pois a av6 da crianya e considerada dislexica.
Os autores tambem afilmam que as caracteristicas da dislexia valiam de pessoa
para pessoa e comeyam logo nos primeiros meses de vida, atingem a crianya na
escolaridade e ap6s os fracassos escolares, problemas emocionais podem aparecer.
POI'em discorda-se de alguns sintomas que geram 0 equivoco que a escrita e um
espeLho da fala, considerando t:rocas e omissoes ou acrescimos de letras nas palavras,
que sao denomi.nados como caracteristicas dislexicas.
o fonoaudi610go afUlnou que trocas de letras, omissoes, confusoes na escrita e
leitura e absolutamente nOlmal para a crianya que esta em processo de construyao da
linguagem, ressaltando que a escrita nao e 0 espelho da fala, pOltal1to 0 que vale e 0
que a crianya expressou.
o professor afilmou que e possivel discordar que sao todos os casos que
apresentam todas caracteristicas citadas, pois L.C.B uma crianya de doze anos, se as
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pessoas nao observassem os seus cademos, podeliam afumar que ela era a plimeira da
classe. Afinal parece que a dislexia e apenas um disturbio de leitura onde a crianya nao
Ie com a mesma facilidade quanto seus demais colegas, independentemente da sua
intelectuabdade. Pode haver casos com tais caracteri sticas, mas nao se pode
generalizar. Quanto it lateralidade, 0 professor ressalta que a maioria das crianyas
pode confundir "direita e esquerda" ate os nove anos, aprox.i.madamente.
Os autores salientam que a escola e a familia tem um papel fWldamental na vida
dos dislex.icos, a familia nao precisa sentir-se culpada e a escola precisa desenvolver
wna fonna prazerosa e ludica para ensinar a crianya. Ha autores que afumam que
algwnas escolas e professores nao estao sendo eficazes em suas atitudes. Estao
descompromissados com a educayao, rotulam e aceitam qualquer dificnldade como wn
distUrbio de aprendizagem.
o fonoaudi610go relatou em entrevista que, pelo fato da dislexia nao ser de
origem patol6gica, nao e necessario fazer avaliayoes orais em sala de aula, pois a
crianya precisa ter wn grande contato com a linguagem escrita e nao ser afastada desta.
o professor aflll.ll0U que 0 seu metoda de trabalhar com L.C.B e a oralidade.
Relatou ainda que e mais facil para a crianya falar do que escrever. As tarefas escritas
aplicadas it crianya nao sao consideradas como avaliayao de carater somat6rio.
Apresenta-se no pr6ximo capitulo sugest5es para trabalhar com a clianya
dislexica.
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6 PROPOSTAS PARA TRABALHAR COM A CRIAN(::A DISLEXICA
A pattiI' do exposto nos capitulos anteliores pode-se afumat' que pat'a ser
desenvolvido urn trabalho pedag6gico com a cliatwa dislexica em sala de aula, que
atinja os objetivos de ensinar a ler e a escrever, sugere-se que:
o professor deve utilizar diferentes tipos de atividades, para tTabalhar com a
crian<;a nao somente a oralidade, pois esta se afastani mais ainda da leitura e
escrita;
deve deixar 0 aluno fazer suas tarefas calmamente, ele precisa de mais tempo
que as outras crian<;as pat'a realizar suas tarefas;
oferecer valios tipos de exercicios para a crian<;a;
mostmr seus enos, mas nao exagerat', pois se todo enD for conigido em urna
detelminada li<;aopode deixar a crian<;a com complexo de inferioridade, 0 que
impOita e 0 que ele quis passar;
procurar jogos que desenvolvatn 0 aprendizado da crian<;a trabalhando 0 ludico;
estiJ11ulara crian<;a a IeI' e a escrever cad a vez mais.
criar situa<;oes em que 0 aluno demonstre suas habilidades em outras areas.
procurat' descobrir e trabalbar com os interesses da crianr;a.
quanto mais contato com as palavras, meLhor para a clianr;a.
46
7 CONCLUsAo
Nesta pesquisa realizada, foi possivel perceber que os professores nao podem
diagnosticar a dislexia com facilidade em qualquer aluno. [{oje em dia algwls
profissionais ainda possuem falta de conhecimento sobre a teoria para tratar de tais
problemas de aprendizagem. Com isto podem inconer em enganos, pois clianyas que
apresentam algwna dificuldade em sala sao consideradas como dislexico.
Conclui-se que 0 processo de aquisiyao da linguagem e lento e precisa de tempo
para a criallya adaptar-se. Algllmas demoram mais para aprender, outras men os, mas
nao e pOI' isso que 0 professor precisa encamin.har para tratamento especial todas as
crianyas que h~emou escrevem mal. E preciso ter antes de tudo, conhecimento sobre a
Ilistolia da cliaIlya, analisar sua idade, entre out:ras vlUiaveis.
o papel do professor no t:rabaJho em saJa de aula com a clianya dislexica e
fundamental para que esta supere suas dificuldades. POI'em, pode-se perceber que os
professores estao tendo dificuldades em agir depois do diagnostico. Par isso, estes
professores cada vez mais estao afastando as crianyas do contato com a escrita, bem
como da leitura. Vale ressaltar que para superar uma dificuldade, e necessluio induzir
a crilUlya a ter contato com a linguagem e nao afasta-Ia de tudo. Pode-se tambem
afirmar que 0 dislex.ico geralmente e inteligente como outras clianyas de sua idade, 0
seu problema e apenas na leitura e na escrita. POItanto, a dislexia deve ser alvo de um
processo psicopedag6gico e nao de um t:ratamento.
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REFERENCIAS
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ANEXOS
ANEXOA
ENTREVTSTA COM o FONOAUDIOLOGO
I. Na sua opiniao, quais os testes que realmente podem diagnosticar um
fracasso no aprendizado da leitura?
2. 0 que pode causar a dislexia?
3. Voce concorda com as caracteristicas da dislexia?
4. Voce atende crianyas com dificuldades de aprendizado? Com que
idade?
5. As crianyas com essas dificuldades podem superar suas dificuldades
de aprendizado ao crescer?
6. Qual e a melhor maneira para ensinar a clianya com dificuldades na
leitura e escrita?
50
51
ANEXOB
ENTREVTSTA COM 0 PROFESSOR
Nome (iniciais da clianya): L.C.B
Jdade: II anos
Serie: 2" serie
Hist6rico da crianya
I. Com que idade a crianya comeyou a apresentar problemas? Em que selie
estava?
2. QuaI 0 procedimento tornado em relayao ao problema? Para quem a clianya foi
encaminhada?
3. Qual foi a atitude dos pais?
4. Qual e 0 trabaUlOproposto para as clianyas que apresentam este disrurbio?
5. Como e feito este trabalho? Como a clianya reage?
6. Quais as caracteristicas que a crianya tern? Voce concorda com 0 que os autores
escrevem?
7. Tern outro caso de diagn6stico de dislexia na familia de L.C.B?
ANEXOC
L.C.B ESCREVE COMO SE LE OS NUMEROS
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ANEXOD
53
L.C.B ESCREVE COMO SE LE OS NUMEROS
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S4
ANEXOE
DESENHO SOBRE AS BRINCADElRAS QUE L.C.B MAIS GOSTA
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~
ss
ANEXOF
~ ( /f~~\
DESENHO ARTiSTICO
.';!·i;..•., •••.
-,'\o~ •••
I5_·'~~' .,
56
ANEXOG
TEXTO ESCRITO POR L.C.B
.B.BLeo (~BB};;~'O:.J)~nL1Nm~~3aD\/E:lt clflMllD_li.f.fE ~j{o __c...1'!1aI'£[fJNItf)8u5flc;.C AM£l 8ST{(ofi:' ~ OUQ<Dftll
E 9.uL5.[=-JV1A~{Jv1t-:--;) -' - ...::~~~:~'~~~/:-'_ -_
ANEXOH
DIT ADO DE PALA VRAS
jffio :: _I'V
-UU6FUFCJj (fJ12 fjIf) .:=
Cf}US)~ =-CA u)<jfj-:.VtJTibo ::.r/fr;irr:;CC(;UMtLo:fVJf}uj=-c/!;;u=.~
..
l\'\Uff:c..AfltlVA=-0(1 bf!!.JIUJtfJ-CitftPf::
I'I\tL/lWClfj :::::fl' 00..::
~AR()/~ __- _. '''',-VIOL-
57
ANEXO I
PERGUNT AS RESPONDIDAS PELAS CRlANCAS