Cristologia
O Verbo Divino se fez carne
e habitou entre nós.
Jo 1,14
Introdução
Neste módulo é fundamental esta pergunta na medida em queestudar cristologia é aprofundar-se na pessoa de Jesus Cristo, Filhoamantíssimo de Deus e nosso Salvador. Nesta breve compilação não énosso objetivo esgotar todos os temas da mencionada disciplina, maslançar pistas que elucidem o conhecimento dos leitores.
Não há dúvida que os temas sobre a pessoa de Jesus,juntamente com o tratado sobre a Trindade, exigem muitospressupostos teológicos e compreensões que, por vezes, não serãoesmiuçadas em nosso trabalho, pois demandaria um trabalhominucioso e exaustivo que fugiria do intuito do curso. Contudo,queremos fomentar, dentro do possível, o conhecimento teológicosobre Jesus que favoreça ao leitor maior intimidade e amor ao SenhorJesus, nosso Redentor e razão pelo qual nos chamamos cristãos. Porisso, temos como pressuposto básico e mais fundamental a férecebida da Igreja como depósito e dom, a qual nenhum fiel pode“abrir mão”.
“Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis
que eu sou?Simão Pedro respondeu:
Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”
(Mateus 16, 15-16)
Cremos que conhecer mais aJesus Cristo favorece o cristão emtodos os âmbitos: espiritual, doutrinal;mas, especialmente, na sua identidadecomo seguidor e continuador da vida eobra do Filho eterno de Deusencarnado, feito homem para nossaSalvação. Isso deve ser o motivadorpor excelência do nosso estudo.Aprofundarmo-nos no conhecimentosobre o Cristo é mergulharmos noMistério da nossa Salvação.
Por isso, nosso modulo sobreCristologia será do seguinte modo eterá os seguintes temas:
➢ Aspectos introdutórios da Cristologia;
➢ A questão histórica sobre Jesus de Nazaré;
➢ Jesus Salvador e Filho do Homem: a Redenção realizada por Cristo na Cruz;
➢ As sete heresias cristológicas.
Aspectos
introdutórios da
Cristologia
Os artigos fundamentais da nossa fé, especialmente no
que se refere a Jesus, está disposto no símbolo apostólico
(Credo) da seguinte forma:
[Creio] E em Jesus Cristo, seu único Filho Nosso Senhor, que foi
concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,
desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu
aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e mortos.
Baseando-nos nisso, que poderíamos dizer como o
pressuposto mais básico de nossa fé, devemos considerar um
mergulho ainda maior em outros aspectos que podem estar
implícitos nestes artigos ou mesmo não. Por isso, nosso intento
será em, mesmo que brevemente, sublinhar alguns aspectos:
Aspectos
introdutórios
O que é Cristologia?
A Cristologia é o estudo sobreJesus Cristo, é um tratado central dateologia sendo que Jesus Cristo é orevelador do Pai e do Espírito Santo. Oconteúdo deste tratado pode ser divididoem duas partes: O estudo da pessoa deCristo como tal, o qual se procuraaprofundar o mistério da encarnação doVerbo, ou seja, a união Hipostática e suaspropriedades (a graça de Jesus Cristo, aciência e a consciência de Jesus, a suavontade, a sua liberdade, as açõesTeândricas). O estudo da obra salvífica deJesus ou a soteriologia, que compreendea vida pública a morte, a ressurreição, aascensão de Cristo e o Pentecostes comoevento salvíficos.
Ao estudar a cristologia podemos seguir dois métodos: o daCristologia Ascendente que parte do aspecto humano de Jesus,particularmente da figura do servo de YHWH, obediente até a morte e querecebe o título de Kyrios após a sua ressurreição. Nesta metodologia não senega a divindade de Jesus e o método da Cristologia Descendente o qualparte da divindade de Jesus considerando-o Deus feito homem. Afirma a suapré-existência, o seu nascimento humano no seio da Virgem Maria, que viveuneste mundo como homem em tudo menos no pecado e que por fim voltou aoPai fazendo sua humanidade ressuscitada compartilhar com a glória de Deus.
Na cristologia ascendente (de baixo para cima) temos algunstrechos bíblicos fundamentais como: Fl 2,6- 11 (Jesus feito homem obedienteaté a morte de cruz, 9 morto e ressuscitado e proclamado como o Senhor).Também todos os discursos dos apóstolos no livro Atos de Apóstolos noscapítulos 1-5. A cristologia descendente (de cima para baixo) refere-se aoLogos que no princípio existia voltado para o Pai, como Deus, e que se fezcarne vindo habitar entre nós. Alguns trechos de São Paulo servem de basepara fundamentar este método, como por exemplo: 1Cor 1,30; 2,8; Rm 9,4.
Ambas com suas próprias metodologias quando permaneceramapenas nas suas visões, deram origens a algumas heresias a respeito deJesus Cristo tal como o Nestorianismo tendo como representante Nestório(+451) o qual enfatizou tanto a humanidade de Jesus que passou a ensinarque existiam duas natureza nele; a natureza humana e a natureza divina. Anatureza divina com seu eu divino estaria unida à natureza humana com oseu eu humano. A outra heresia foi chamada de Monofisismo, estaencabeçada por Dióscoro de Alexandria e por Eutiques de Constantinoplaque enfatizaram a divindade de Jesus e só admitiram nele apenas a naturezadivina; esta para eles teria absorvido a natureza humana de modo que neleestava somente uma aparência de sua divindade.
Ambas as heresias foram condenadas sendo que a primeira peloConcílio de Éfeso em 431 e a segunda pelo Concílio de Calcedônia em 451.Naturalmente a Igreja afirmou que Jesus Cristo é o homem perfeito, nascidoda Virgem Maria e Filho Divino de Deus que realizou a salvação dahumanidade.
Dois métodos: Cristologia ascendente e
Cristologia descendente
As palavras Natureza e Pessoa normalmente sãomotivo de grandes embaraços na cabeça de muitos.Costumeiramente, elas são usadas de forma indistintas e noque tange as doutrinas sobre Cristo e sobre a Trindade, estemau uso pode criar graves erros, como aqueles queaconteceram na antiguidade cristã, especialmente nas“disputas” sobre Cristo.
Quando falamos em Natureza no âmbito dacristologia, estamos nos referindo que Cristo Jesus, VerboEterno, possui em si duas naturezas: humana e divina. Istosignifica dizer que ele é verdadeiro Deus e verdadeirohomem com tudo que isso contém, exceto o pecado. Jesussempre teve uma natureza divina, a qual recebeu do Pai porcomunicação (João 5.26). Afirmamos que Jesus éeternamente divino (João 1,1-3) e possui todos os atributosde Deus (Colossenses 2.9). No entanto, por ocasião daencarnação, Jesus assumiu a natureza humana parasempre, sem deixar de lado Sua natureza divina (Filipenses2.6-7). Desse modo, Jesus é plenamente humano (1Timóteo 2.5).
Também admitimos que Jesus Cristo é umaPessoa divina. A Pessoa do Filho foi gerada pelo Pai naeternidade, como um segundo modo de subsistência naessência da Trindade (Provérbios 8,22-26; Miquéias 5,2;João 1,18). A crença de que Jesus é uma só Pessoa divinadeve ser afirmada contra a heresia nestoriana, segundo aqual “haveria duas pessoas, em Jesus - uma divina e outrahumana - unidas entre si por um vinculo afetivo ou moral”, econtra as heresias unicistas, que negam a distinção pessoaldo Filho em relação ao Pai. O fato de Jesus ser uma únicaPessoa significa que a Segunda Pessoa da Trindade é osujeito de todas as ações de Cristo, mesmo aquelas feitasem razão de Sua humanidade. É por isso que se pode dizercorretamente que Deus morreu na cruz (Atos 20,28; 1Coríntios 2,8) ou que Maria é mãe de Deus (Isaías 9,6;Mateus 1,23; Lucas 2,11; Romanos 9,5).
Duas palavras importantes:
Pessoa e Natureza
O termo técnico “união hipostática" é usado em teologia
para se referir à forma como Deus e a humanidade estão unidos
em Jesus Cristo. Não é possível, porém, entender o mistério
dessa união sem antes entender um outro mistério: o da
Encarnação. Existem duas naturezas: humana e divina. Entre
uma e outra há um abismo, uma distância intransponível entre o
homem e Deus. Tal distância já existia antes do pecado original,
e este somente a aumentou. A distância entre Criador e criatura
faz parte da natureza das coisas. Deus veio ao encontro do
homem. No entanto, pelo fato de Deus ser uma realidade tão
portentosa, magnífica e poderosa não poderia simplesmente
“aparecer", pois isso seria insuportável para a humanidade. A
Sua glória é tamanha que se ela se manifestasse plenamente as
criaturas se diluiriam em Deus. Não seria possível ao homem
suportar tão grande majestade. Deus resolveu esse problema se
encarnando no seio de Maria. Uma das pessoas da Santíssima
Trindade (o Filho) se fez homem, de tal forma que em Jesus
Cristo a humanidade e a divindade estão unidas numa espécie
de casamento. A analogia é perfeita, pois naquele, os dois se
tornam uma só carne, mas as duas realidades continuam
distintas. Os que estavam infinitamente separados, em Jesus,
agora estão unidos, mas não de modo que a humanidade
desapareça. Ela permanece.
União hipostática
A palavra “hipóstases" em grego é
usada para designar “pessoa";
porém, é mais forte que o termo
latino “persona", pois recorda que
se trata de uma relação
substancial. Assim, a união entre
Deus e o homem não se dá de
forma acidental, como se Deus
assumisse a humanidade como
uma pessoa coloca
acidentalmente brincos, peruca,
chapéu, cachecol… Não. A
humanidade de Cristo tem como
substrato a pessoa do Verbo
Eterno. Não se trata de uma união
acidental, portanto, mas
substancial. Desse modo, existe
um só Filho: Deus e homem ao
mesmo tempo.
A Encarnação de Deus é a Encarnação do Filho, não do Pai,
nem do Espírito Santo. Não obstante, a Encarnação foi obra de
toda a Trindade. Por isso, na Sagrada Escritura, às vezes se
atribui a Deus Pai (Hb 10, 5; Ga 4, 4), ou ao próprio Filho (Flp 2, 7), ou ao Espírito Santo (Lc 1, 35; Mt 1, 20). Fica assim enfatizado que a obra da Encarnação foi um ato único, comum às três Pessoas
divinas. Santo Agostinho explicava que “o fato de que Maria
concebesse e desse à luz é obra da Trindade, uma vez que as obras da Trindade são inseparáveis". Trata-
se, com efeito, de uma ação divina ad extra, cujos efeitos estão fora de Deus, nas criaturas, pois
são obra das três Pessoas conjuntamente, já que o Ser divino
é uno e único, que é o próprio poder infinito de Deus
(cf.. Catecismo, 258).
.
O mistério da Encarnação
A Encarnação do Verbo não afeta a liberdade divina, pois Deus podia ter
decidido que o Verbo não se encarnasse, ou que se encarnasse outra Pessoa divina. Porém, dizer que Deus é infinitamente livre
não significa que suas decisões sejam arbitrárias, nem negar que o amor seja a razão do seu agir. Por isso, os teólogos
costumam buscar as razões de conveniência que se podem vislumbrar nas
diversas decisões divinas, tal como se manifestam na atual economia da salvação.
Eles procuram, tão-somente, salientar a maravilhosa sabedoria e coerência que existem em toda obra divina, não uma
eventual necessidade de Deus.
São muitos os nomes e títulos atribuídos
a Cristo por teólogos e autores
espirituais ao longo dos séculos. Uns
são emprestados do Antigo Testamento,
outros do Novo. Alguns são usados e
aceitos pelo próprio Jesus; outros lhe
foram aplicados pela Igreja do decorrer
dos séculos. Veremos aqui os mais
importantes e mais conhecidos.
Alguns nomes dados ao Filho
Eterno de Deus, Jesus Cristo
JESUSEm hebraico, Jesus quer dizer “Deus salva”. Quando
da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo
tempo, a sua identidade e a sua missão. Uma vez que “só Deus pode perdoar os pecados” (Mc 2, 7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem,
“salvará o seu povo dos seus pecados”(Mt 1, 21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de
salvação em favor dos homens.
Nesta história da salvação, Deus não Se contenta com libertar Israel “da casa da escravidão” (Dt 5, 6),
fazendo-o sair do Egito. Salvou-o também dos seus pecados. Porque o pecado é sempre uma ofensa feita a Deus, só Ele é que pode absolvê-lo. É por isso que
Israel, tomando cada vez mais consciência da universalidade do pecado, só poderá procurar a
salvação na invocação do nome do Deus Redentor.
O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa do seu Filho feito
homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. Ele é o único nome divino que traz a
salvação e pode desde agora ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação, de tal modo que «não existe debaixo do céu outro nome,
dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos» (At 4, l2).
O nome de Jesus está no centro da oração cristã. Todas as orações litúrgicas se concluem com a
fórmula “per Dominum nostrum Jesum Christum – por nosso Senhor Jesus Cristo”. A Ave-Maria culmina nas palavras “e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. A oração-do-coração dos Orientais, chamada “oração a Jesus”, diz: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador”. E muitos cristãos
morrem, como Santa Joana d'Arc, tendo nos lábios apenas uma palavra: “Jesus”.
CRISTO
Cristo vem da tradução grega do termo hebraico
«Messias», que quer dizer «ungido». Só se torna nome
próprio de Jesus porque Ele cumpre perfeitamente a
missão divina que tal nome significa. Com efeito, em
Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que
Lhe eram consagrados para uma missão d'Ele
dimanada. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em
raros casos, dos profetas. Este devia ser, por
excelência, o caso do Messias, que Deus enviaria para
estabelecer definitivamente o seu Reino. O Messias
devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, ao mesmo
tempo como rei e sacerdote, mas também como profeta.
Jesus realizou a expectativa messiânica de Israel na sua
tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus
como sendo o do Messias prometido a Israel: “nasceu-
vos hoje, na cidade de David, um salvador que é Cristo,
Senhor”(Lc 2, 11). Desde a origem, Ele é “Aquele que o
Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10, 36),
concebido como “santo” no seio virginal de Maria. José
foi convidado por Deus a “levar para sua casa Maria, sua
esposa”, grávida d'«Aquele que nela foi gerado pelo
poder do Espírito Santo» (Mt 1, 20), para que Jesus,
“chamado Cristo”, nascesse da esposa de José, na
descendência messiânica de Davi (Mt 1, 16) .
A consagração messiânica de Jesus manifesta a sua
missão divina.
FILHO DE DEUSFilho de Deus, no Antigo Testamento, é um título
dado aos anjos, ao povo eleito aos filhos de Israel e aos seus reis. Nestes casos, significa
uma filiação adoptiva, que estabelece entre Deus e a sua criatura relações de particular intimidade.
Quando o Rei-Messias prometido é chamado «filho de Deus», isso não implica
necessariamente, segundo o sentido literal de tais textos, que Ele seja mais que um simples ser
humano. Os que assim designaram Jesus, enquanto Messias de Israel, talvez não tenham
querido dizer mais.
Os evangelhos referem, em dois momentos solenes, no batismo e na transfiguração de
Cristo, a voz do Pai, que O designa como seu “filho muito-amado”. Jesus designa-Se a Si
próprio como “o Filho único de Deus” (Jo 3, 16), afirmando por este título a sua preexistência
eterna. E exige a fé «no nome do Filho único de Deus» (Jo 3, 18). Esta profissão de fé cristã
aparece já na exclamação do centurião diante de Jesus crucificado: “Verdadeiramente, este
homem era o Filho de Deus!” (Mc 15, 39); porque somente no Mistério Pascal o crente pode dar pleno significado ao título de “Filho de Deus”.
É depois da ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece no poder da sua humanidade
glorificada: “Segundo o Espírito santificante, pela sua ressurreição de entre os mortos, Ele foi
estabelecido como Filho de Deus em poder” (Rm 1, 4) (62). E os Apóstolos poderão confessar: “Nós vimos a sua glória, glória que
Lhe vem do Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 14).
FILHO DO HOMEMEste é um dos mais fascinantes títulos dados a
Jesus e talvez o que é mais frequentemente mal-interpretado. Devido ao fato de que a Igreja
confessa a dupla natureza de Jesus, que ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus,
e porque a Bíblia descreve Jesus como Filho do Homem e Filho de Deus, é tentador concluir que
Filho do Homem refere-se à humanidade de Jesus e Filho de Deus refere-se à sua divindade. Esse, entretanto, não é exatamente o caso. Embora o título, Filho do Homem, inclua um elemento de
humanidade, sua referência primária é à natureza divina de Jesus. O título, Filho de Deus, também
inclui uma referência à divindade, mas sua ênfase primária é sobre a obediência de Jesus como filho.
Este título, Filho do Homem, tem ainda mais importância quando compreendemos que, embora esteja em terceiro lugar (bem embaixo na lista), em termos de frequência de uso no Novo Testamento (atrás de Cristo e Senhor), está em primeiro lugar (com uma grande margem) nos títulos que Jesus usava para referir-se a si próprio. Filho do Homem
é a designação mais favorita de Jesus para si mesmo.
A importância deste título é tirada da sua ligação com o uso que Daniel fez dele no Antigo
Testamento (Dn 7). Ali, Filho do Homem claramente referia-se a um ser celestial que agia como um Juiz
cósmico. Nos lábios de Jesus o título não é um exercício de falsa humildade, mas uma ousada
reivindicação de autoridade divina. Jesus alegou, por exemplo, que o Filho do Homem tinha
autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10), uma prerrogativa divina, e era Senhor do sábado
(Mc 2.28).
LOGOSNenhum título de Jesus despertou mais
intenso interesse filosófico e teológico nos
primeiros três séculos do que o
títulos Logos. O Logos era central no
desenvolvimento da Cristologia da Igreja
Primitiva. O prólogo do Evangelho de João é
crucial para este entendimento cristológico
do Logos. João escreve: “No princípio era o
Verbo (Logos), e o Verbo (Logos) estava com
Deus, e o Verbo (Logos) era Deus” (Jo 1.1).
Nesta passagem notável, o Logos é tanto
distinto de Deus (“estava com Deus”), quanto
identificado com Deus (“era Deus”). Este
paradoxo teve grande influência no
desenvolvimento da doutrina da Trindade, em
que o Logos é visto como a Segunda Pessoa
da Trindade. Ele difere em pessoa do Pai,
mas é um em essência com o Pai.
SENHORNa tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés,
YHWH, é traduzido por “Kyrios” (“Senhor”). Senhor torna-se, desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo
Testamento utiliza o título de “Senhor”, tanto para o Pai como também – e aí é que está a novidade – para
Jesus, assim reconhecido como sendo Ele próprio Deus .
O próprio Jesus veladamente atribui a Si mesmo este título, quando discute com os fariseus sobre o sentido do Salmo 110, e também, de modo explícito, ao dirigir-Se aos Apóstolos. Ao longo de toda a vida pública, os seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as
doenças, sobre os demónios, sobre a morte e o pecado, demonstravam a sua soberania divina.
Muitíssimas vezes, nos evangelhos, aparecem pessoas que se dirigem a Jesus chamando-lhe
“Senhor”. Este título exprime o respeito e a confiança dos que se aproximam de Jesus e d'Ele esperam
socorro e cura. Pronunciado sob a moção do Espírito Santo, exprime o reconhecimento do Mistério divino
de Jesus. No encontro com Jesus ressuscitado, transforma-se em adoração: “Meu Senhor e meu
Deus” (Jo 20, 28). Assume então uma conotação de amor e afeição, que vai ficar como típica da tradição
cristã: “E o Senhor!” (Jo 21, 7).
Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio, que o poder, a honra e a glória, devidos a
Deus Pai, também são devidos a Jesus, porque Ele é “de condição divina” (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta
soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na sua glória.
Jesus histórico e o Cristo da Fé
Jesus de Nazaré continua sendo uma presença inelutável na consciência cultural do Ocidente e do mundo inteiro. Mesmo quem lhe recusa assentimento religioso,
não escapa ao fascínio exercido, se não por sua pessoa, então pelo menos pelo lugar que ele ocupa na história e a importância que, de bom ou de mau grado, lhe é reconhecida. Esse fascínio se traduz no desejo de saber o que Jesus de fato andou fazendo, prescindindo daquilo que seus seguidores fizeram dele. Que é que Jesus de
fato andou fazendo? – essa é a questão do Jesus histórico. Para responder a essa pergunta, lança-se mão dos recursos que a historiografia desenvolveu através dos
séculos e que nos tempos modernos se chamam “a crítica histórica”.
Rudolf Bultmann e a Teologia liberal
Um dos teólogos mais influentes do século XX,
Rudolf Bultmann (1884-1976) se destacou com seus escritos históricos e
interpretativos sobre o Novo Testamento. Segundo Bultmann, a tarefa da
teologia é a de descobrir um “conceptualismo”, cujos
termos pudessem aproximar a mensagem do Novo
Testamento a cosmovisão moderna.
De acordo com Bultmann, “a concepção do universo do Novo Testamento é mítica”.
Uma questão derivada da anterior é a relação entre o Jesus de carne e ossos e o Jesus místico
(espiritual) adorado pelos cristãos, o que o filósofo e historiador Albert Schweitzer
denominou de “o tremendo fosso”. Existe realmente alguma relação entre o Jesus histórico
e o Cristo da fé? Porventura seriam o mesmo? A historicidade de Jesus é reconhecida
universalmente hoje em dia, tanto pelos cristãos como pelos críticos da fé cristã. Nenhum estudioso sério duvida da existência do
carpinteiro de Nazaré. A discussão, entretanto, centraliza-se na sua identidade.
Para alguns críticos, os cristãos teriam alterado a imagem de Jesus, um camponês galileu,
atribuindo-lhe uma identidade divina que o próprio Jesus nunca teria reclamado para si.
Como um rabino obscuro, e, possivelmente, um operador de curas, poderia ter-se transformado num objeto de adoração de milhões de pessoas
em todo o mundo?
A imagem de Jesus que resulta dessa investigação chama-se “o
Jesus histórico”. A figura histórica de Jesus deve ser distinguida do
“Cristo da fé”. Essa distinção não é a mesma que a distinção entre o Jesus terrestre e o Cristo ressuscitado, elevado na glória de Deus. O Cristo da fé, o
Jesus proclamado messias e Filho de Deus pela fé de seus
seguidores, inclui ambas as figuras do Jesus terrestre e do Senhor da
glória. Os evangelhos não nos apresentam o Jesus procurado
pelos historiadores críticos, mas o Jesus da “narrativa da fé”, um
Jesus apresentado de modo que creiamos que ele é o messias e
Filho de Deus e, nesta fé, acedamos à vida eterna
(Mc 1,1; Jo 20,31).Historiografia x Apologética
Desde que Rudolf Bultmann decretou que não se pode crer na ressurreição depois da lâmpada elétrica, o número de interpretações malucas que surgiram sobre a
Pessoa de Cristo é algo que não está no gibi. Imagina-se de tudo: Jesus marxista, Jesus operário, hippie, camarada e tutti quanti.
Essa tendência mais ou menos crítica de se desconfigurar o rosto tradicional de Jesus acentuou-se, segundo o Papa Bento XVI, a partir dos anos 50: Cristo seria apenas uma invenção da comunidade primitiva, não tendo nada que ver com a
salvação e a remissão dos pecados. Jesus, em tese, seria apenas um revolucionário à sua maneira, um reformador
social. Alguém que viera contestar o status quo, abrindo caminho para as futuras revoluções do povo judeu e, por conseguinte, do "Povo de Deus".
Todavia, bem observa o Papa Emérito, "quem lê várias destas reconstruções, umas ao lado das outras, pode rapidamente verificar que elas são muito mais fotografias
dos autores e dos seus ideais do que reposição de um ícone, entretanto tornado confuso”.
Quem começa negando a Igreja termina negando Deus. O bem da verdade, são homens que perderam a fé e que, cada vez mais, se submetem ao dogma do
mundo moderno, no qual Deus não tem importância nem espaço. Eles se renderam à proposta racionalista, à pompa do criticismo.
Nesse desafio, esconde-se a hipocrisia de quem, querendo assumir o lugar de Deus, põe-se a derrubá-Lo de Seu trono, como uma
pedra de tropeço, "um estorvo", "porque os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens" (Cf. Mt 16, 22). Assim, Jesus torna-se
uma figura "pouco plausível, remota, obscura e esquisita, alguém que falava numa língua estranha e que morreu há muito tempo",
não tendo mais nada a nos dizer ou ensinar.
O Cristo desenhado por esses teólogos inspira pouquíssima devoção. Nele não se encontra a beleza do transcendente, mas a máscara das ideologias, que, em última
análise, não passam de sistemas derivados de programas destrutivos.
E se Cristo deixa de ser divino para ser tão somente político, também o seu culto deixa de ser a participação no seu Sacríficio da Cruz - em que o fiel presta sua adoração, contrição e ação de graças - para se converter num passatempo
ou, pior ainda, numa convenção de facções ideológicas.
Na base de tudo encontra-se um ateísmo politizado que transforma a teologia em um campo de ação: não há motivo para se cultuar Deus, para prestar-lhe nossa
devoção; o homem deve ser o seu princípio, meio e fim, o homem deve se autocultuar.
Esse progressismo adolescente, ao qual o Papa Francisco já lançou duras condenações, transgride a fidelidade; "essa gente, movida pelo espírito do mundo, negociou a própria identidade, negociou a pertença a um povo, um povo que Deus
ama tanto, que Deus quer como seu povo”.
Ser fiel ao ministério de Jesus tal como está descrito no Evangelho e, obviamente, no
Magistério da Igreja não significa acreditar em “algo mítico, que pode ao mesmo tempo
significar tudo e nada”; é precisamente o contrário, é lançar-se com firmeza à única certeza que dá sentido à nossa existência, significa olhar para o crucificado, no qual encontramos "a própria bondade de Deus,
que se dá nas nossas mãos, que se entrega a nós e que, por assim dizer, suporta conosco todo o horror da história". Cristo, portanto, mais do que nos dar bem-estar, conforto e
paz, veio fazer algo muito maior: Ele veio nos trazer Deus!
IMPORTANTE!O drama da ruptura entre o Cristo da fé e o Jesus histórico nos traz sérios problemas na
medida em que desassociar uma realidade da outra é criar um colapso na identidade dos cristãos, além de gerar certa desconfiança sobre a personalidade de Jesus de Nazaré, querendo torná-lo um “mito” religioso ou
simples homem totalmente esvaziado de seu sentido transcendente.
O anúncio de Jesus crucificado, o escândalo de sua cruz, é modo mais eloquente de testemunhar que não pregamos uma fabula sobre um homem, mas
pregamos Deus que mergulhou na história dos homens até o extremo da Encarnação e da Cruz.
A Redenção realizada por
Cristo na Cruz
Neste formação nossa proposta não é tanto comentar os títulos
atribuídos a Jesus de Salvador e Filho do Homem, mas sublinhar a relação
entre salvação e filiação divina, isto é, o Salvador dos homens é o Filho
benditíssimo do Pai. Com isso, fica evidente a ligação entre a realidade
salvífica da Cruz e a Filiação divina de Jesus de Nazaré. Com efeito, a obra
operada da Salvação tem como instrumento e ponto culminante no mistério
da Cruz, mesmo que todos os atos de Jesus sejam salvadores.
Tópicos da formação:
➢O sentido geral da Cruz de Cristo
➢ A Cruz revela a misericórdia e justiça de Deus em Jesus Cristo
➢A Cruz e sua realização histórica
➢Sacrifício e Redenção
➢Os efeitos da Cruz
➢Corredimir com Cristo
a. Algumas premissas:❖O mistério da Cruz se enquadra no marco geral do
projeto de Deus e da vinda de Jesus ao mundo.
❖O sentido da criação é dado por sua finalidade
sobrenatural, que consiste na união com Deus.
Entretanto, o pecado alterou profundamente a
ordem da criação.
❖ A vinda de Jesus Cristo ao mundo tem como
finalidade “reimplantar “no mundo o projeto de
Deus e conduzi-lo eficazmente ao seu destino de
união com Ele. Para isso, Jesus, verdadeira Cabeça
do gênero humano, assumiu toda a realidade
humana degradada pelo pecado, fê-la sua, e a
ofereceu filialmente ao Pai.
❖ Jesus Cristo restituiu a cada relação e situação
humana seu verdadeiro sentido, em dependência de
Deus Pai. Cada acontecimento e cada etapa da
vida de Cristo tem uma finalidade específica em
ordem a este objetivo salvador.
B. Aplicação ao mistério da Cruz
A finalidade própria do mistério daCruz é cancelar o pecado do mundo (cfr. Jo 1,29), algo absolutamente necessário para quese possa realizar a união filial com Deus. Estaunião é, como já dissemos, o objetivo último doplano de Deus (cfr. Rm 8, 28-30). Jesuscancela o pecado do mundo carregando-osobre seus ombros e anulando-o na justiça deseu santo coração. Nisto consisteessencialmente o mistério da Cruz.
a) Carregou nossos pecados.
b) Eliminou o pecado em sua entrega: masCristo não se limitou a carregar nossospecados, mas também os 'destruiu', oseliminou. Pois carregou com os sofrimentosna justiça filial, na união obediente eamorosa para com seu Pai Deus e najustiça inocente, de quem ama o pecador,ainda que este não o mereça: de quembusca perdoar as ofensas por amor (cfr.Lc 22,42; 23,34). Ofereceu ao Pai seussofrimentos e sua morte em nosso favor,para nosso perdão: “em suas chagasfomos curados" (Is 53,5).
❖ O Fruto da Cruz é, portanto, a eliminação do pecado e Salvação. Deste fruto se apropria o homem através dos sacramentos (sobretudo da
Confissão sacramental) e se apropriará definitivamente depois desta vida, se foi fiel a Deus. Da Cruz procede a possibilidade para
todos os homens de viver afastados do pecado e de integrar os sofrimentos e a morte ao
próprio caminho da santidade.
❖ Deus quis salvar o mundo pelo caminho da Cruz, mas não porque ame a dor ou o
sofrimento, pois Deus só ama o bem e o fazer o bem. Não quis a Cruz com uma vontade
incondicionada, como quer, por exemplo, que existam as criaturas, mas a quis praeviso
peccato, sobre o pressuposto do pecado. Há Cruz porque existe o pecado. Mas também
porque existe o Amor. A Cruz é fruto do amor de Deus ante o pecado dos homens.
Concretamente,
a Cruz revela a misericórdia e a justiça de Deus:
✓ a) A misericórdia. A Sagrada Escritura refere com frequência que o Pai entregou seu Filho às mãos dos pecadores (cfr. Mt 26,54), que não poupou o se próprio Filho.A entrega manifesta mais que qualquer outro gesto da história da salvação o amor do Pai para com os homens e sua misericórdia.
✓ b) A Cruz nos revela também a Justiça de Deus. Esta não consiste tanto em fazer pagar o homem pelo pecado, mas, mais propriamente, em devolver ao homem o caminho da verdade e do bem, restaurando os bens que o pecado havia destruído. A fidelidade, a obediência e o amor de Cristo para com seu Pai Deus; a generosidade, a caridade e o perdão de Jesus a seus irmãos os homens; sua veracidade, sua justiça e inocência, mantidas e afirmadas na hora de sua paixão e de sua morte, cumprem esta função: esvaziam o pecado de sua força condenatória e abrem nossos corações à santidade e à justiça, pois se entrega por nós. Deus nos livra de nossos pecados pela via da justiça, pela justiça de Cristo.
Como fruto do sacrifício de Cristo e pela presença de sua força salvadora, podemos sempre comportar-nos como filhos de Deus, qualquer que seja a situação
que estejamos atravessando.
Cristo “nos assumiu na perdição do nosso pecado” CIC 603
Na realização da tarefa que o Pai lhe havia encomendado, encontrou a oposição das autoridades religiosas de Israel, que consideravam Jesus um impostor. De modo que “alguns chefes de Israel acusaram Jesus de agir contra a Lei, contra o templo de Jerusalém, e em particular contra a fé no Deus único, porque Ele se proclamava Filho de Deus. Por isso, O entregaram a Pilatos, para que O condenasse à morte." (Compêndio, 113).
Os que condenaram Jesus pecaram ao rechaçar a Verdade que é Cristo. Na verdade, todo pecado é um desprezo de Jesus e da verdade que Ele nos trouxe da parte de Deus. Neste sentido, todo pecado encontra lugar na Paixão de Jesus. “A paixão e a morte de Jesus não podem ser imputadas indistintamente nem a todos os judeus então vivos, nem aos outros judeus que depois viveram no tempo e no espaço. Cada pecador, isto é, cada homem, é realmente causa e instrumento dos sofrimentos do Redentor, e culpa maior têm aqueles, sobretudo se são cristãos, que mais frequentemente caem no pecado ou se deleitam nos vícios" (Compêndio, 117).
Jesus, um preso politico condenado por ser subversivo
x Jesus que entrega sua vida para a salvação.
Jesus morreu por nossos pecados (cfr. Rm 4,25), para livrar-nos deles e resgatar-nos da escravidão que o pecado introduz na vida humana. A Sagrada Escritura diz que a paixão e morte de Cristo são:
a) Sacrifício de aliança, isto é, a nova forma de união de Deus com os homens que havia sido profetizada pelos profetas. O Novo Pacto é a aliança selada no corpo de Cristo entregue por nós e em seu sangue derramado por nós;
b) Sacrifício de expiação: valor de expiação, isto é, de limpeza e purificação do pecado;
c) Sacrifício de propiciação e de reparação pelos pecados: Sua entrega fez justiça e satisfez o amor paterno de Deus que havíamos rechaçado desde o início da história;
d) Ato de redenção e libertação dos homens: Jesus pagou nossa liberdade com o preço de seu sangue, isto é, de seus sofrimentos e de sua morte (cfr. 1 P 1,18). Mereceu com sua entrega nossa salvação para incorporar-nos ao reino dos céus: “Ele nos livrou do poder das trevas e nos transladou ao Reino do Filho de seu amor, no qual temos a redenção: o perdão dos pecados." (Col1,13-14).
Concílio de Trento
✓ O principal efeito da Cruz é eliminar o pecado e tudo aquilo que se opõe à união do homem com Deus.
✓ A Cruz, além de cancelar os pecados, nos livra também do diabo, que dirige ocultamente a trama do pecado, e da morte eterna. O diabo nada pode contra quem está unido a Cristo (cfr. Rm 8,31-39) e a morte deixa de ser separação eterna de Deus, e permanece apenas como porta de acesso ao destino último (cfr. 1 Cor 15,55-56).
✓ Removidos todos estes obstáculos, a Cruz abre para a humanidade o caminho da salvação, a possibilidade universal da graça.
✓ Junto com sua Ressurreição e sua gloriosa Exaltação, a Cruz é causa da justificação do homem, isto é, não só da eliminação do pecado e dos demais obstáculos, mas também da infusão da vida nova (a graça de Cristo que santifica a alma). Cada sacramento é um modo diverso de participar na Páscoa de Cristo e de apropriar-se da salvação que dela provém. Concretamente, o Batismo livra-nos da morte introduzida pelo pecado original e nos permite viver a vida nova do Ressuscitado.
✓ Toda graça de salvação dada aos homens provém de sua vida e, em particular, de seu mistério pascal.
Como acabamos de dizer, a Redenção realizada por
Cristo na Cruz é universal, estende-se a todo o gênero humano.
Mas é preciso que chegue a aplicar-se a cada um os frutos e os
méritos da Paixão e Morte de Cristo, principalmente por meio da
fé e dos sacramentos.
Nosso Senhor Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e
os homens (cfr. 1 Tm 2,5). Mas Deus Pai quis que fôssemos não só
redimidos, mas também “associados ao Mistério Pascal” (cfr.
Catecismo, 618). Chama-nos a tomar sua Cruz e a segui-lo (cfr.
Mt 16,24), porque Ele “sofreu por nós deixando-nos exemplo
para que sigamos suas pegadas" (1 Pd 2,21).
É o «amor até ao fim» que confere ao sacrifício de Cristo o valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação. Ele
conheceu-nos e amou-nos a todos no oferecimento da sua vida . «O amor de Cristo nos pressiona, ao pensarmos que
um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram» (2 Cor 5, 14).
Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tornar
sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência, em Cristo, da pessoa divina do Filho, que ultrapassa e ao mesmo
tempo abrange todas as pessoas humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o seu
sacrifício redentor por todos.
Praeconium Paschale
As sete heresias cristológicas
A palavra “heresia” é um termo muito usado, mas o seu
significado não é tão conhecido pela maioria das pessoas.
✓ Essa palavra tem origem grega (haíresis) e significa “opção”, “escolha”.
✓ No latim, heresia (haeresis) significa “opinião”, “sistema”, “doutrina”. Na literatura grega tardia, o termo significa “a escolha de um sistema” ou “escola de filósofos”.
✓ Na Teologia, a palavra heresia é, geralmente, definida como uma doutrina contrária aos dogmas de uma igreja ou de uma religião.
✓ Na Igreja Católica, a palavra heresia está presente desde o início de sua história, mas empregada em sentido diferente da compreensão que temos hoje.
O que é Heresia ?
Para conter as heresias, ao longo de sua história, a Igreja combateu os vários desvios de doutrina, e, recentemente, formulou uma definição, que diferencia as várias formas de negação da fé:
“A incredulidade é o desprezo da verdade revelada ou a recusa voluntária de lhe prestar assentimento. A ‘heresia
é a negação pertinaz, depois de recebido o batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma; apostasia é o repúdio total da fé cristã; cisma é a recusa da sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da
Igreja que lhe estão sujeitos’”.
(Catecismo da Igreja Católica, 2089; Código de Direito Canônico, cânon 751).
Atualmente, heresia é a negação, por parte de alguém batizado, de alguma verdade de fé da Igreja Católica, ou seja, escolhe-se a verdade que se quer crer e nega-se aquela em que não se quer acreditar.
➢Se o batizado afasta-se totalmente da fé cristã católica, é apóstata.
➢E se o batizado nega obediência ao Papa ou aos membros da Igreja aos quais está sujeito, é cismático.
Esses são erros graves, penalizados com excomunhão automática: “o apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunhão latae sententiae” (Código de Direito Canônico, cânon 1364 – § 1).
Se um cristão negar alguma verdade na qual deve crer, com fé divina e católica, ou duvidar de alguma verdade, será considerado herege.
As Heresias Cristológicas
“Quem dizem os homens que eu sou?”
Mc 8,27-38
Após verificar que o Filho de Deus é verdadeiro Deus com o Pai e o Espírito Santo,a atenção dos teólogos devia voltar-se mais detidamente para a questão: comoJesus pode ser autêntico Deus e autêntico homem? Como se relacionam entre si aDivindade e a humanidade de Jesus? A resposta a estas perguntas exigiu grandeesforço por parte dos estudiosos.Eis as sete heresias cristológicas:
➢ Docetismo: dizia que Jesus não tinha um corpo real;
➢ Adocionismo: dizia que Jesus era filho adotivo de Deus;
➢ Arianismo: dizia que Jesus era inferior ao Pai;
➢ Apolinarismo: dizia que Jesus não tinha alma racional humana;
➢ Nestorianismo: dizia que, em Jesus, havia duas pessoas;
➢ Monofisismo: dizia que Cristo tinha uma só natureza;
➢ Monotelismo: dizia que Jesus não tinha vontade humana, ou o “querer humano”.
Vamos agora comentar cada uma:
As primeiras heresias
Docetismo
Surgiu no final do primeiro século. Ensinava que Jesus não teve um corpo
real, mas um corpo aparente. Cristo teria descido do Céu e passado pelo
seio de Maria, sem que tivesse recebido a mínima partícula de corpo de mãe.
Por isso, Jesus parecia um homem, mas não o era. Segundo essa doutrina, a
morte e ressurreição do Senhor teriam sido também “aparentes”, uma vez que
seu corpo não era real.Os docetas diziam que acreditavam no Mistério da encarnação de Jesus e na
Virgindade de Maria, mas eram “moralistas”. Para eles, o corpo
humano estava intimamente ligado ao pecado. Era coisa indigna do filho de
Deus.
Adocionismo
Paulo de Samósata, bispo de Antioquiaensinou uma heresia chamada
adocionismo. Para ele, Jesus não passava de um ser humano. Deus teria
iluminado Jesus de maneira extraordinária. Então, Jesus foi sendo
aperfeiçoado progressivamente até atingir o grau da divindade. Aí Cristo se
tornou Filho de Deus. Mas Filho de Deus por “adoção”, não por natureza. Para os adocionistas, Cristo não teve uma existência eterna como o Pai. Ele
começou a existir. Nessa ocasião, o Papa São Félix escreveu o seguinte: “Nossa fé na Encarnação é a que nos transmitiram
os apóstolos:”
Cremos que Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, é o Verbo, o Filho eterno de Deus
E não um simples homem elevado por Deus a semelhante honra, e diferente de Deus.
O Verbo, Deus Perfeito, fez-se homem perfeito, ao encarnar-se no seio da Virgem.
O “arianismo” surgiu no ano 318, fundado por Ario, sacerdote de Alexandria. Ensinava que Jesus era “semelhante” ao Pai, e não Deus como o Pai, pois Cristo havia dito: ”O Pai
é maior do que eu” (Jo 14, 28).
Ário interpretou essas e outras frases de maneira absoluta, e fora do seu contexto bíblico. Na verdade, Cristo disse: “O Pai é maior do que eu”. Mas Ele estava referindo-se à sua condição humana, como “servidor” do Pai na Redenção da humanidade. Não fazendo essa distinção, Ário passou a ensinar que Jesus era uma criatura, e não Deus,
como o Pai Criador. Tal seita espalhou-se rapidamente, até mesmo entre padres e bispos. Santo Atanásio foi o primeiro a defender a fé cristã. Isso aconteceu no ano 325, no concílio de Nicéia (1º Concílio Ecumênico). O Concílio acrescentou, ao símbolo dos
Apóstolos, algumas afirmações sobre a divindade de Cristo.
Arianismo
“Deus de Deus, Luz da Luz,Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.Por Ele todas as coisas foram feitas,
E, por nós, homens, e por nossa salvação, desceu dos Céus.”Concílio de Niceia, 325.
Vimos aí uma palavra muito importante na profissão da nossa fé. É apalavra grega “oμooυσιoζ” (omooúsius), que significa “consubstancial”. Querdizer que Jesus tem a mesma substância divina do Pai, o mesmo Ser do Pai, amesma natureza divina. É Deus como o Pai. O evangelho afirma:
“No princípio era o Verbo e o Verbo estava em DeusE o Verbo era Deus.
No princípio, Ele estava com Deus.Tudo foi feito por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito de tudo o que existe”.
Jo 1,1-3
O arianismo foi uma das piores heresias. De fato, se Cristo não fosseDeus, a sua morte na cruz não teria poder de salvar a humanidade, pois só Deuspode nos salvar. Ainda hoje temos algumas seitas modernas que negam adivindade de Jesus.
No início do século IV, em Laodicéia, na Ásia
Menor, o bispo Apolinário, ensinava que Jesus Cristo não possuía alma racional humana. A Pessoa divina do Filho de Deus supria a falta
de uma alma humana em Jesus Cristo. Apolinário era moralista, como os docetas
(problemas com o Mistério da Encarnação). Dizia que a alma humana era pecaminosa. E
Jesus, por ser filho de Deus, era impecável. Por isso, não podia ter alma humana. Esta viria a
“manchar” a divindade de Cristo.O primeiro a denunciar tal heresia foi Santo Atanásio, seguido por São Basílio e pelo Papa São
Dâmaso. A seita foi condenada no concílio de Constantinopla, em 381 (2º concílio ecumênico).
Nesse concílio, Atanásio disse a famosa frase: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, isto é, “Onde está
Pedro, aí está a Igreja”.
Apolinarismo
NESTORIANISMO
De 422 a 432, Nestório foi bispo deConstantinopla. Dado que Jesus tem duasnaturezas (humana e divina), ele achou que emCristo havia também duas pessoas: uma Pessoahumana unida à Pessoa divina. Segundo seupensamento, umas coisas eram feitas por Jesus-Deus e outras por Jesus-Homem. Partindo daí,Nestório passou a ensinar que Maria não seria Mãede Deus, mas apenas Mãe de Jesus-Homem.Contra essa heresia, levantou-se São Cirilo, bispode Alexandria. O erro estava nisto: Jesus tem duasnaturezas, mas uma só pessoa. A natureza humanaé assumida pela Pessoa Divina do Filho de Deus.Essa união chama-se união “hipostática”.
No concílio de Éfeso, 431 (3º concílioEcumênico), a Igreja declarou que Maria é a Mãede Deus, porque é Mãe de Jesus Cristo que é Deus.Afirmou também:
“Maria é Mãe de Deus, não porque Jesus tivesse tirado dela a sua natureza divina, mas porque é dela que Jesus formou o
seu corpo sagrado, dotado de uma alma racional”.
Eutiques, monge de Constantinopla, ensinava que, em Jesus, a natureza divina “absorveu a
natureza humana. Era como se Jesus tivesse só a natureza divina. Sua heresia chamou-se
monofisismo, que significa uma só natureza. Vem de “μoυoζ” (mono=um) e de “φυσιζ”
(phisis), que significa uma só natureza. Para o monofisismo, em Cristo existia somente a
natureza divina. Portanto, negava o valor e a autenticidade dos atos humanos de Jesus Cristo. Em 450, reuniram-se 600 bispos no concílio de Calcedônia (4º Concílio Ecumênico), em que
ficou definido que, em Cristo, há uma só Pessoa, na qual existem duas naturezas “sem confusão e
sem mudança, sem divisão e sem separação”.
Monofisismo: dizia que, em Cristo, havia uma só natureza
“Jesus Cristo é perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma
racional e de um corpo, consubstancial a nós segundo a humanidade, semelhante a nós em tudo, com exceção do pecado (Hb 4,15), gerado do Pai
antes de todos os séculos segundo a sua divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a
humanidade”.
O Concílio de Calcedônia
definiu:
O monotelismo, também chamado monotelitismo,
foi ensinado pelo Patriarca Sérgio. Vem de “μoυoζ” (mono= um) e de “τελησιζ”, que significa vontade.
Portanto, o monotelismo significa “uma só vontade”. Ensinava que, em Cristo, havia somente a
vontade divina. Desaparecia, assim, o “querer humano” de Jesus.
Sérgio, bispo de Constantinopla, quis encontrar uma fórmula de reconciliação entre os monofisistas (que afirmavam haver uma só natureza em Cristo) e
os católicos fiéis (que afirmavam haver duas naturezas em Cristo). Então disse que, em Cristo havia duas naturezas, mas uma só vontade. Tal
doutrina pareceu ser uma fórmula de intermediária entre os contrários. Então, o imperador, Heráclito,
decretou o monotelismo “doutrina oficial do Estado”. Quem não aceitasse seria punido.
Monotelismo: em Cristo havia uma só vontade.
O Papa são Martinho foi à primeira vítima. Em 19-6-649, embarcava prisioneiro para Constantinopla. Algemado e com vestes reduzidas, foi conduzidos pelas ruas da cidade, sob vaia dos monotelistas. Em março de 655 seguiu para o exílio, na ilha de Quersoneso, por ordem do Imperador Constante II. Aí veio a falecer, no mesmo ano, tendo passado frio e fome.
Em 681, com o terceiro concílio de Constantinopla, foi encerrada a questão. Era o Papa Santo Agaton. Ficou definido que Jesus tem vontade divina e a vontade humana, tal qual o Papa São Martinho havia ensinado no Sínodo de Latrão, no ano 649.
“Nem separado, nem dividido em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho Unigênito, o Deus- Verbo,
Senhor Jesus Cristo; e, assim como tem duas naturezas unidas sem con-fusão [inconfuse], tem também duas
vontades naturais [duas naturalesvolutantes], a divina e a humana, e
duas operações naturais[et duas naturales operationes], a divina e a
humana, em perfeita e íntegra harmonia [in adprobatione perfecta et indiminuta]. Ele é verdadeiramente perfeito Deus e verdadeiramente
perfeito [completo] homem, o mesmo e único Senhor Nosso e
Deus, Jesus Cristo, que quer e opera, como Deus e como homem [divine et
humane], nossa salvação (...). ”
Símbolo de Calcedônia
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