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O USO DE MAPAS CONCEITUAIS COMO INSTRUMENTO DE
AVALIAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA: UM ESTUDO A PARTIR DO
TEMA AS LEIS DE NEWTON
*Maria Helena Carvalho da Costa1
Gilvan Mendonça Silva2
Tiago Nery Ribeiro3
Eixo temático: Educação e Ensino de Ciências Exatas e Biológica
RESUMO
O uso de mapas conceituais como instrumento de ensino pode promover grandes contribuições para o processo de ensino-aprendizagem. A teoria que fundamenta os mapas conceituais é a teoria de Novak, que subjaz a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel. Este trabalho se propõe em analisar os mapas conceituais referente ao conteúdo Leis de Newton, confeccionados por alunos do ensino médio da rede pública de Itabaiana/ SE. Esta pesquisa está focalizada na análise através da taxonomia topológica de Novak e Cañas (2006), na qual classificam os Mapas Conceituais em níveis de 0 a 6. Observamos, a partir da análise dos mapas, que 76% do total desses, apresentavam todas as palavras de ligação, com duas ou mais ramificações, porém predominam conceitos com explicações longas, o que podemos classificar de acordo com a taxonomia empregada como nível 2. Palavras-chaves: mapas conceituais, aprendizagem significativa, ensino de Física. ABSTRACT The use of concept maps as a teaching tool can make great contributions to the teaching-learning process. The theory underlying concept maps is Novak's theory, which underlies the theory of Meaningful Learning of Ausubel. This paper aims to examine the conceptual maps regarding the content of Newton's Laws, made by high school students from public Itabaiana / SE. This research is focused on the analysis by topological taxonomy Novak and Cañas (2006), which classify the concept maps at levels 0-6. Observed from the analysis of maps, that 76% of the total, had all the words in connection with two or more branches, but with long explanations predominate concepts, which we classify according to the taxonomy used to level 2.
Keywords: concept maps, meaningful learning, physics teaching. INTRODUÇÃO
O mapa conceitual nasce como elemento motivador do ensino-aprendizagem, tendo
como principal característica a sua reutilização como recurso digital. Desse modo, o ensino de
física necessita ser contextualizado, priorizando temas de interesse dos alunos para que
possam aprender de maneira significativa criando o gosto pelo conteúdo num processo
contínuo de aprendizagem. A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel, junto com os
mapas conceituais propostos por Novak contribuem bastante para o processo de ensino-
aprendizagem, onde os conhecimentos prévios dos alunos que Ausubel chama de subsunçores
devem ser usados como âncoras com o novo conhecimento apresentado com a ferramenta
mapa conceitual.
Segundo Ausubel: “O fator isolado que mais influencia a aprendizagem é aquilo que o
aluno já sabe, determine isso e ensine de acordo”. (AUSUBEL, 2000 apud MOREIRA, 2009,
P.23).
Este trabalho se justifica por ser a avaliação da aprendizagem um dos elementos mais
complexos de ser analisado na educação, sobretudo com as atuais metodologias de avaliação
que priorizam uma aprendizagem mecanicista no Ensino de Física, propiciando aos alunos
uso de técnicas matemáticas, ou simplesmente “fórmulas” para decorar sem nenhuma relação
com o cotidiano destes, ou seja, o principal objetivo é conseguir a aprovação em exames
deixando-os desmotivados e desinteressados pela disciplina.
Esta pesquisa tem como objetivo analisar os mapas conceituais confeccionados por
alunos do 1º do ensino Médio do Colégio Estadual Murilo Braga no município de
Itabaiana/SE no âmbito da disciplina de física especificamente com o conteúdo Leis de
Newton, onde os mesmos não tinham o conhecimento desta ferramenta. Demonstrando que os
mesmos podem ser utilizados como ferramenta de avaliação, e que o uso de novas
ferramentas de ensino auxilia bastante no processo de ensino aprendizagem despertando cada
vez mais a curiosidade dos alunos.
A partir das características dos mapas foi feita uma análise através da taxonomia
topológica de Novak e Cañas (2006), na qual classificam os Mapas Conceituais em níveis de
0 a 6.
Os mapas conceituais constituem uma importante ferramenta na avaliação da
aprendizagem, pois a partir deles pode-se identificar se os conceitos abordados em sala foram
assimilados de maneira significativa ou não pelos alunos.
MARCO TEÓRICO
Mapas conceituais são diagramas que indicam relações entre conceitos e podem ser
usados nas aulas para diversas finalidades: técnica didática, recurso de aprendizagem, meio de
avaliação.
A teoria que fundamenta aos mapas conceituais é a teoria de educação de Novak, que
subjaz a Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel.
A aprendizagem significativa envolve a aquisição de novos conhecimentos, e na
concepção de Ausubel (Ausubel et al., 1980; Ausubel, 2003) para que ela aconteça em relação
a um determinado conteúdo são necessárias três condições: o material instrucional seja
potencialmente significativo com o conteúdo estruturado de maneira lógica (de fácil
entendimento); a existência de conhecimento reunido e relacionável na mente do aprendiz
com o novo conteúdo; e a motivação e disposição do aprendiz em relacionar o novo
conhecimento com aquele já existente em sua estrutura cognitiva, e essa interação ocorre
através do processo da diferenciação progressiva. E esses conceitos relacionáveis já existentes
na estrutura cognitiva são chamados de subsunçores; ou conceitos âncora.
Novas ideias e informações podem ser aprendidas e retidas na medida em que conceitos, ideias ou proposições relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcione, dessa forma, como “ancoradouro” para novas ideias, conceitos ou proposições. (MOREIRA, 2009, P.28).
Na diferenciação progressiva o educando é capaz de atribuir novos significados aos
conceitos mais abrangentes, e em seguida relaciona as novas ideias com outros conceitos cada
vez mais diferenciados expandindo cada vez mais o seu conhecimento. E a reconciliação
integrativa estabelece relações entre conceitos, ideias e proposições contidas na estrutura
cognitiva do aprendiz, produzindo assim uma reorganização na estrutura cognitiva.
Os Mapas conceituais podem seguir um modelo hierárquico com conceitos mais
inclusivos no topo, conceitos subordinados intermediários e conceitos mais específicos na
parte inferior relacionado um com o outro. As relações entre os conceitos são explicitadas
através de palavras de ligação nas linhas que unem os conceitos. Podendo unir dois ou mais
conceitos, conectados por palavras de ligação criando uma unidade semântica, a que
chamamos de proposição. As proposições são uma característica particular dos mapas
conceituais.
O mapa conceitual é uma técnica flexível, podendo ser usado para diversas
finalidades: técnica didática, recurso de aprendizagem, meio de avaliação;
De acordo com Novak:
Os mapas conceituais não só contribuem para que os estudantes a identificarem os conceitos chaves e suas relações, o que por sua vez os ajudará a interpretar os acontecimentos e objetos que observam. (NOVAK, 2006, P.64).
Segundo Novak (2006), Os mapas conceituais podem ser usados como um
instrumento que se aplica a todas as áreas do ensino e da aprendizagem escolar. Constituem-
se importantes acessórios em atividades diversificadas, como: de aprender um novo assunto;
auxilia a manter a relação entre conceitos chaves; ajuda a captação dos conceitos e a
aprendizagem; permitindo a visualização dos conceitos chave resumindo suas inter-relações,
proporcionando maior autonomia para desenvolver a aprendizagem de maneira significativa.
Os mapas conceituais proporcionam grandes vantagens no âmbito da educação, pois
podem ser utilizados como ferramenta para a avaliação da aprendizagem. De acordo com
Moreira o uso de mapa conceitual como instrumento de avaliação da aprendizagem consegue
expressar o que o aluno atribui como conhecimento, organizando as informações do conteúdo
através de conceitos unindo as relações. E o professor avaliará e observará as informações
contidas no mapa conceitual confeccionado pelos alunos, e se o aluno não adquirir o foco
esperado o professor deverá atuar mediador orientando o aluno de maneira correta.
METODOLOGIA E ANÁLISE DE PESQUISA
O estudo foi desenvolvido em aulas de Estágio Supervisionado em Ensino de Física
IV, onde os estagiários utilizaram mapas conceituais como parte da avaliação referente ao
conteúdo de Leis de Newton no Colégio Estadual Murilo Braga da rede pública de ensino do
município de Itabaiana/SE.
Os mapas conceituais foram o principal instrumento de avaliação do conteúdo,
complementados com as observações de sala de aula dos professores/estagiários, durante os
encontros com os alunos. Lembrando que os mesmos nunca trabalharam anteriormente com
confecção dos mapas conceituais.
A turma era composta por vinte e cinco alunos e cada aluno confeccionou um mapa,
portanto foram analisados vinte e cinco mapas, referentes ao conteúdo Leis de Newton. A
montagem dos mesmos se deu após a leitura da apostila, vídeo, discussões, simulações,
exercícios, problemas e mapa conceitual referente ao conteúdo proposto pelo professor
estagiário. A elaboração dos mapas foi feita individualmente como objetivo de constatar a
heterogeneidade de conceitos.
Estes mapas foram analisados através da taxonomia topológica de Novak e Cañas
(2006), na qual classificam os Mapas Conceituais em níveis de 0 a 6 esquematizados na tabela
abaixo:
TAXONOMIA TOPOLÓGICA
Nível 0 a) Predomina explicações longas sobre
conceitos b) Sem palavras de enlace c) Linear (0-1 pontos de ramificações)
Nível 4
a) Sem explicações longas
b) Não faltam palavras de enlace c) Ramificações altas (5-6 pontos de
ramificações) d) 3 ou mais níveis de hierarquia
Nível 1
a)Predomina explicações longas sobre conceitos b) Falta a metade ou mais das palavras
ligação
c) Linear (0-1pontos de ramificação)
Nível 5
a) Sem explicações longas b) Não faltam palavras de enlace c) Ramificações altas (5 - 6 pontos de
ramificações) d) 3 o mais níveis de hierarquia e) De 1 - 2ligação cruzada
Nível 2 a) Predominam conceitos sobre
explicações longas b) Falta menos da metade das palavras de
enlace c) Ramificações baixas (2 pontos de
ramificações)
Nível 6
a) Sem explicações longas b) Não faltam palavras de enlace c) Ramificações muito altas (7 ou mais
pontos de ramificações) d) 3 ou mais níveis de hierarquia e) Mais de 2ligações cruzadas
Nível 3
a) Sem explicações longas b) Não faltam palavras de enlace c) Ramificações médias (3-4 pontos de
ramificações) d) Menos de três níveis de hierarquia
TABELA 01: Taxonomia topológica de CAÑAS, A. J. NOVAK, J.D. (2006).
Dos vinte e cinco mapas conceituais analisados apenas 16% do total se encontra no
nível 3 segundo a taxonomia topológica de Novak e Cañas, isso se justifica por conterem
todas as palavras de enlace não exibirem explicações longas, apresentarem ramificações
médias (3-4 pontos de ramificações) e menos de três níveis de hierarquia. A figura 1 e 2
mostram dois mapas classificados nesse nível.
Figura1: mapa conceitual confeccionado por alunos que se encontra no nível 3.
Figura 2: mapa conceitual confeccionado por alunos que se encontra no nível 3.
Dentro dos mapas coletados 76% desses encontra-se no nível 2, pois predominam
conceitos sobre explicações longas, falta menos da metade das palavras de enlace e contem
ramificações baixas (2 pontos de ramificações). A figura 3 mostra um mapa classificado neste
nível. Os demais mapas se encontram respectivamente no nível 0 e 1, observe a figura 4 e 5.
Figura 4: mapa conceitual que se encontra no nível 1 .
Figura 5: mapa conceitual que se encontra no nível 0.
No início das aulas foi observado que os alunos sentiram dificuldades na construção
dos mapas, por ser uma ferramenta que nunca tinha sido trabalhada anteriormente, mas com o
decorrer das aulas eles foram percebendo que a ferramenta auxilia bastante na aprendizagem e
com isso tomaram gosto pela mesma e passaram a ter menor dificuldade na construção dos
mapas conceituais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Mapas Conceituais mostrou-se que pode ser um instrumento valioso de avaliação
no ensino de física, pois através deles foi possível identificar se os conceitos abordados em
sala foram assimilados de maneira significativa. A introdução de novas estratégias de
avaliação no contexto escolar pode proporcionar benefícios aos estudantes no processo
ensino-aprendizagem.
As reflexões sobre os Mapas nos fazem considerar a necessidade de mudar a prática de
sala de aula, em atividades que promovam o interesse e a participação dos alunos percebendo
a motivação desses e construindo com os mesmos conceitos e conhecimentos significativos.
Esperamos chamar a atenção da comunidade acadêmica para a utilização do mapa
conceitual como instrumento a favor da aprendizagem, na busca de uma avaliação que seja
formativa, permitindo assim ao professor retroceder e redirecionar todo o processo de ensino
e aprendizagem.
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